Contra-manual para câmeras inteligentes: vigilância, tecnologia e percepção (Fernanda Bruno)

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 BRUNO, F. Contramanual para câmeras inteligentes: vigilância, tecnologia e percepção. Galaxia (São Paulo, Online), n. 24, p. 47-63, dez. 2012. 47 Contramanual para câmeras inteligentes: vigilância, tecnologia e percepção Fernanda Bruno Resumo: O artigo realiza um breve mapeamento dos sistemas de videovigilância chamados “inteligentes”. T ais sistemas são programados para detecçã o automatizada e em tempo real de e prevenir eventos indesejáveis. T rês aspectos serão focalizados: 1) O regime de visibilidade em curso, atento à captura de irregularidades; 2) O tipo de categorização dos corpos vigente nestes sistemas, voltado para a superfície da conduta humana; 3) A temporalidade destas câmeras, cujo caráter proativo pretende antever e intervir em eventos futuros. Compreendendo a videovigilância inteligente como um sistema sociotécnico, ressaltam-se procedimento s e de contramanual do dispositivo aqui em foco. Palavras-chave : tecnologia; videovigilância; controle; percepção; imagem Abstract : Counter-manual for intelligent cameras: surveillance, technolo gy and perception -  This paper carries out a brief mapping of the so-called intelligent video surveillance systems. These systems are programmed to accomplish real time automated detection of situations prevent undesirable events. Three aspects are focused in this cartography. 1) Its regime of systems, who generally act s at the surface level of human conduct; 3) The temporality of smart cameras, especially its proactive dimension that intends to foresee and intervene in future events. T he present analysis considers the intelligent video surveillance as a sociotechnical counter-manual of the device focused in this paper. Keywords: technology; video surveillance; control; perception; image

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O artigo realiza um breve mapeamento dos sistemas de videovigilância chamados “inteligentes”.

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    n. 24, p. 47-63, dez. 2012.47

    Contramanual para cmeras inteligentes: vigilncia, tecnologia e percepo

    Fernanda Bruno

    Resumo: O artigo realiza um breve mapeamento dos sistemas de videovigilncia chamados inteligentes. Tais sistemas so programados para deteco automatizada e em tempo real de ZP[\HsLZJVUZPKLYHKHZPYYLN\SHYLZLV\Z\ZWLP[HZLTHTIPLU[LZLZWLJxJVZKLTVKVHWYL]LYe prevenir eventos indesejveis. Trs aspectos sero focalizados: 1) O regime de visibilidade em curso, atento captura de irregularidades; 2) O tipo de categorizao dos corpos vigente nestes sistemas, voltado para a superfcie da conduta humana; 3) A temporalidade destas cmeras, cujo carter proativo pretende antever e intervir em eventos futuros. Compreendendo a videovigilncia inteligente como um sistema sociotcnico, ressaltam-se procedimentos e KPZJ\YZVZX\LPKLU[PJHTUqVHWLUHZVM\UJPVUHTLU[VKLZ[LHWHYH[VTHZ[HTItTVZTVKVZLZWLJxJVZKLJVU[YVSLL]PNPSoUJPHULSLPTWSPJHKVZ5LZ[LZLU[PKVLZ[L[L_[Vt\THLZWtJPLde contramanual do dispositivo aqui em foco.

    Palavras-chave: tecnologia; videovigilncia; controle; percepo; imagem

    Abstract: Counter-manual for intelligent cameras: surveillance, technology and perception - This paper carries out a brief mapping of the so-called intelligent video surveillance systems. These systems are programmed to accomplish real time automated detection of situations JVUZPKLYLK PYYLN\SHY HUKVY Z\ZWPJPV\Z PU ZWLJPJ LU]PYVUTLU[Z PU VYKLY [V WYLKPJ[ HUKprevent undesirable events. Three aspects are focused in this cartography. 1) Its regime of ]PZPIPSP[ `^ OPJOWYPVYP[PaLZ[OLJHW[\YLVMPYYLN\SHYP[PLZ;OL[`WLVMWYVSPUNIVKPLZPU[OLZLsystems, who generally acts at the surface level of human conduct; 3) The temporality of smart cameras, especially its proactive dimension that intends to foresee and intervene in future events. The present analysis considers the intelligent video surveillance as a sociotechnical Z`Z[LTHUKOPNOSPNO[ZWYHJ[PJLZHUKKPZJV\YZLZ[OH[PKLU[PLZUV[Q\Z[P[ZTVKLVMVWLYH[PVUHZ^LSSZWLJPJ^H`ZVML_LYJPZPUNJVU[YVSHUKZ\Y]LPSSHUJL;OLYLMVYL[OPZWHWLYPZHZVY[VMcounter-manual of the device focused in this paper.

    Keywords: technology; video surveillance; control; perception; image

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    Instruction manuals for life: in the commodity society,

    the instruction manual is the only record of theory.

    Harun Farocki

    No cruzamento da histria da tcnica e dos processos sociais, certos aparelhos ga-

    nham um estatuto emblemtico. Emblemas de uma cultura, um tempo, um regime

    KLJVUOLJPTLU[V6\HPUKHKLWYVJLZZVZTHPZLZWLJxJVZ!\TTVKVKHZLUZPIPSPKHKL\THVWLYHsqVKHJVNUPsqV\THKPUoTPJHJVYWVYHSL[J(MV[VNYHHLVJPULTHWHYHJP[HYKVPZL_LTWSVZTHPVYLZZqVYLJVYYLU[LTLU[LL]VJHKVZJVTVLTISLTHZKL\THZtYPLKLaspectos da modernidade seus modelos de percepo, de memria, de observao etc.

    +LKPJVTLULZ[L[L_[VH\TKLZZLZHWHYLSOVZLTISLTm[PJVZTHZKL[PWVWHY[PJ\SHYWVPZVZL\LZ[H[\[VL_LTWSHYtWYVISLTm[PJV6HWHYLSOVLTX\LZ[qVtHJOHTHKH[LYJLPYHgerao das tecnologias de videovigilncia1, ou videovigilncia inteligente, cuja pecu-

    liaridade o monitoramento automatizado de comportamentos. Na maioria dos casos,

    pretende-se que tais cmeras reconheam e diferenciem padres regulares de conduta

    e ocupao do espao, tidos como seguros, e padres irregulares, categorizados como

    suspeitos, perigosos ou simplesmente no funcionais. As smart cameras operam atravs de

    softwares2X\LS[YHTLHUHSPZHTHZPTHNLUZZLN\UKVHSNVYP[TVZX\LYLZZHS[HTPUKP]xK\VZobjetos, atitudes que devem ser o foco de ateno da cena, conforme as aplicaes

    WYLKLUPKHZUVZPZ[LTH

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    Fig.1. Imagem de portflio da Vision Systems, apresentando as utilidades

    da videovigilncia inteligente (http://bit.ly/q5YS1z).

    Por que o carter emblemtico das smart cameras problemtico? Primeiro, porque

    aquilo de que so emblema menos um estado de coisas do que o ideal de uma lgica e

    uma retrica a um s tempo comercial e securitria. Segundo, porque tal aparelho est em

    ]PHZKLZLYKPM\UKPKVZP[\HUKVZLLU[YLVWYLZLU[LLVM\[\YVWY}_PTVLU[YLHYLHSPKHKLLHJsqV;LYJLPYVWVYX\LHWYVTL[PKHLJmJPHKVHWHYLSOVYLWV\ZHZVIYLHKLULNHsqVKHZ\HPULJPvUJPHV\TLZTVKHZ\HPTWVZZPIPSPKHKL

    A condio liminar deste aparelho precisamente o que interessa, pois o seu

    carter emblemtico-problemtico permite visualizar com mais clareza as disputas e

    controvrsias que o atravessam3. Trata-se de um sistema sociotcnico (LATOUR, 2006)

    que atualiza prticas, discursos, atores e dinmicas prprias vigilncia e ao controle

    dos corpos e comportamentos nos espaos geridos e protegidos das sociedades contem-

    WVYoULHZ5V\[YVZ[LYTVZHPUKHX\LLZ[L[L_[VMVJHSPaLVWYVNYHTHKLZ[H[LJUVSVNPHPZ[V, aquilo que as suas redes de produo promovem como suas qualidades, a anlise

    deste programa est atenta s suas ambiguidades, brechas, disfunes, bem como s suas

    tenses com as outras redes que constituem o diagrama em que este programa se atualiza.

    Supe-se que o programa de uma tecnologia no coincide com o diagrama ao qual ela

    pertence (BIGO, 2009; DELEUZE, 1980, 1986), de modo que a anlise do primeiro deve

    [VYUHY]PZx]LSLSLTLU[VZX\LJVTWLTVZLN\UKViULZ[LZLU[PKVX\LV[L_[VKL]LZLY]PYcomo um contramanual, no qual se l a um s tempo as funcionalidades do programa e

    as relaes de fora presentes no diagrama: suas declaradas qualidades e seus perigos;

    Z\HS}NPJHKLM\UJPVUHTLU[VLVZJVUP[VZX\LHH[YH]LZZHT"Z\HHSLNHKHLJmJPHLZ\HZfalhas; suas aes e as tticas ou crticas que se lhe opem.

    3 Tomar os objetos tcnicos como atores (actantes) numa rede de controvrsias, em lugar de instrumentos neutros, fechados sobre si mesmos, implica voltar a ateno no apenas para as suas funcionalidades, mas para a rede sociotcnica que o faz agir de certa maneira. Esta perspectiva inspira-se nos trabalhos de Bruno Latour e de outros autores do programa conhecido como teoria ator-rede (cf. LATOUR, 2006; CALLON; LASCOUMES; BARTHE, 2001).

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    O percurso aqui traado, contudo, to breve quanto incompleto. No apenas

    KLP_HTVZKLMVYHHZWLJ[VZYLSL]HU[LZJVTVUVZTHU[LTVZUHZ\WLYMxJPLKVZWYVJLZZVZanalisados, sem os devidos mergulhos que tais temas mereceriam. Assim, este contramanual

    [HTItTWVKLZLYSPKVJVTV\THJHY[VNYHHWYLSPTPUHYKH]PKLV]PNPSoUJPHPU[LSPNLU[Lque mapeia os seus traos mais proeminentes em trs domnios. Inicialmente, destaca o

    regime de visibilidade presente nesta tecnologia de vigilncia, suas ordenaes do visvel,

    especialmente da percepo e da ateno. Em seguida, mostra que este regime vai de par

    com um modo de conhecimento e ao sobre os corpos dos indivduos que geralmente

    H[\HUVUx]LSZ\WLYJPHSKHJVUK\[H7VYTKLZ[HJHH[LTWVYHSPKHKLKVHWHYLSOVVUKLvigora uma vigilncia que se pretende proativa e que idealmente conjuga o tempo real

    da viso e da ao a uma memria de ndices que projeta um futuro a ser controlado.

    Os trs traos mencionados so visados em sua atualidade, na sua pertinncia ao pre-

    sente e nos seus contrastes com nosso passado recente, retomado seja em suas tecnologias

    disciplinares de vigilncia e gesto da ateno e da percepo, seja em seus dispositivos

    KLWYVK\sqVKLPTHNLUZKVJVYWV7HYHSLSHTLU[L[YLJOVZKLSTLZKVYLHSPaHKVY/HY\U-HYVJRP"ZLYqVL]VJHKVZWYVISLTH[PaHUKVJVUL_LZLU[YLVHWHYLSOVHX\Pem questo e outras mquinas de viso.

    Primeiro plano: visibilidade (o que perceber e ao que estar atento).

    O que uma smart camera v ou percebe? Ou ainda, que regime de visibilidade

    colocado em obra por essa videovigilncia que se proclama inteligente? Um dos ar-

    gumentos recorrentes nas pesquisas e indstrias que projetam tais artefatos o de que

    eles superariam as limitaes perceptivas e atencionais presentes no monitoramento dos

    sistemas convencionais de videovigilncia. A ateno humana seria limitada para lidar

    com o volume e a monotonia de tais imagens. Aps apenas 20 minutos de atividade, a

    H[LUsqVKHTHPVYPHKVZPUKP]xK\VZJHPYPHH\TUx]LSHIHP_VKVHJLP[m]LSWHYH\TTV-UP[VYHTLU[VLJPLU[L/(47(7

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    e nisso residiria a sua inteligncia. Ou seja, no se trata apenas de capturar, transmitir

    LHYX\P]HYPTHNLUZTHZKLPU[LYWYL[HYZLN\UKVJH[LNVYPHZWYLKLUPKHZVX\Lt]PZ[Vnuma cena. Neste sentido, o sistema incorpora de modo automatizado e pr-programado

    M\UsLZJVNUP[P]HZTHPZLZWLJPJHTLU[LWLYJLW[P]HZLH[LUJPVUHPZ(TmX\PUHKL]PZqVno simula apenas o olho, mas as faculdades de seleo e anlise do que se v.

    Fig.2. Imagem de video promocional da smart camera(YJOLYZO O[[W!^^ ^T`HYJOLYZOJVT

    ;VTLTVZVL_LTWSVKV+,;,9Detection of Events for Threat Evaluation and Recog-nition), voltado para detectar e reportar padres de movimento no usuais de pedestres e

    ]LxJ\SVZLTmYLHZL_[LYUHZ7HYHX\L[HSZPZ[LTHM\UJPVULtWYLJPZVX\LLSLKPMLYLUJPLVZobjetos da cena (pedestres e veculos), assim como os padres usuais e no usuais de mo-

    vimento de cada um deles, de modo a reconhecer ameaas. Segundo relatrio de pesquisa

    469,33(:"7(=30+0:";:0(4@9;A0:V+,;,9[LTKLTVUZ[YHKVv_P[VLTKL[LJ[HYos seguintes padres de movimento, tidos pelo sistema como potencialmente alarmantes

    LTJLY[HZmYLHZL_[LYUHZJVTVLZ[HJPVUHTLU[VZ!]LxJ\SVZLTHS[H]LSVJPKHKLPU]HZqVdo pavimento/rea de pedestres, pedestres correndo, padro M (pedestres caminhando

    em forma de serpentina) e mltiplos veculos simultneos entrando por diferentes vias. Ao

    detectar tais ameaas potencias, o sistema faz soar o sinal de alarme no campo atencional

    do vigilante, permitindo uma interveno no momento ou antes do incidente previsto.

    5LZ[HKLSLNHsqV3(;6

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    o dos operadores de videovigilncia, mas tambm o das sociedades contemporneas

    emNLYHStWYLJPZVS[YHYVX\LtYLSL]HU[L5LZ[LZ ZPZ[LTHZ Z} ]HSL ZLY ]PZ[V V X\L t PYYLN\SHY JHUKV H YLN\SHYPKHKL KVZ

    movimentos dos corpos no pano de fundo da percepo. Mas preciso acrescentar: o

    irregular ndice de ameaa ou suspeita. E ainda, a irregularidade em questo no se

    confunde mais com os focos dos regimes disciplinares, que liam sob o desvio comporta-

    mental, uma alma anormal. Aqui, o desvio ndice de um risco iminente, de uma ao

    indesejada ou ameaadora, no importando tanto as motivaes ou traos psicolgicos

    que subjazem ao.

    *SHYVX\LH[HYLMHKLHNYHYPYYLN\SHYPKHKLZV\TLZTVKLHU[LJPWmSHZQmLZ[mWYLZLU[Lna videovigilncia convencional e em outras formas de inspeo. Entretanto, neste caso,

    a ateno ao irregular j est programada na prpria mquina de viso, tornando mais

    L_WSxJP[VV[PWVKLVYKLUHsqVKV]PZx]LSLTQVNV!\THVYKLUHsqVZVIH}[PJHKHZ\ZWLP[He que pretende se antecipar aos prprios eventos, como veremos adiante.

    Um modo peculiar de observao do cotidiano est presente. Sabemos o quanto

    podemos fazer corresponder modelos de vigilncia a regimes de visibilidade do cotidiano.

    Sabemos tambm que as tecnologias disciplinares tornam visvel todo um campo de aes

    JV[PKPHUHZX\LH[tLU[qVWHZZH]HHVSHYNVKVZPU]LZ[PTLU[VZKVWVKLY!NLZ[VZL_LYJxJPVZregulamentos, horrios. Muito se fala na escala panptica da vigilncia disciplinar, dei-

    _HUKVLTZLN\UKVWSHUV[VKH\THHUH[VTPHWVSx[PJHKVKL[HSOLX\LLZ[LUKLHVT\UKVlaico e ao indivduo comum o que j importava para a teologia e o ascetismo:

    a mstica do cotidiano a se associa disciplina do minsculo[...] A mincia dos

    regulamentos, o olhar esmiuante das inspees, o controle das mnimas parcelas da vida

    LKVJVYWVKHYqVLTIYL]LUVX\HKYVKHLZJVSHKVX\HY[LSKVOVZWP[HSV\KHVJPUHum contedo laicizado, uma racionalidade econmica ou tcnica a esse clculo mstico

    KVxUTVLKVPUUP[V-6

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    -PN,_LTWSVZKLZPSO\L[HZKV:PZ[LTH0590(]VS[HKVWHYHKL[LJsqV e segmentao de movimentos de pedestres (SHARMA; DAVIS, 2007).

    ,Z[HZPTHNLUZL]VJHTZLTT\P[VLZMVYsVHZJYVUVMV[VNYHHZKL4HYL `[YHaLUKV memria uma modernidade que, se valendo de investigaes similares s que susten-

    tam os aparelhos disciplinares, volta-se para o corpo em movimento visando ao mesmo

    [LTWVHWYLLUKLYLJHWHJP[HYHZ\HIPVTLJoUPJH,PZJVTV4HYL`KLULVWYVNYHTHKLsua Estao Fisiolgica:

    il sagit de dterminer la srie des actes qui se produisent dans la locomotion

    humaine avec ses di f frents types [], mesurer le t ravai l dpens

    chaque instant dans les diffrents actes de la locomotion, afin de chercher

    les conditions les plus favorables lutilisation de ce travail. (MAREY, 1894)

    -PN*YVUVMV[VNYHH,[PLUUL1\SLZ4HYL `

    Mas se em Marey a imagem implica um controle do tempo (cf. DOANE, 1996) de

    modo a decompor o movimento para ver o invisvel ou para conhecer e capacitar uma

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    economia muscular, os algoritmos das cmeras inteligentes analisam os movimentos dos

    corpos segundo outra gesto do tempo em que se articulam a deteco em tempo real e

    a antecipao de eventos futuros.

    -PNL5HWHY[LZ\WLYPVY*YVUVMV[VNYHHKL,14HYL` 5HWHY[LPUMLYPVYPTHNLTKLZVM[^HYLKLKL[LJsqV de movimento para sistemas de videovigilncia inteligente. (http://www.umiacs.umd.edu/~hismail/Motif_Outline.htm)

    Outro esquadrinhamento do visvel est em curso, com efeitos normativos prprios.

    Tais cmeras no se destinam tanto a instaurar uma normalidade no seio de populaes

    KLZ]PHU[LZJVTVLTJLY[HZPUZ[P[\PsLZWHU}W[PJHZTHZHU[LZHHNYHY\THMYH[\YHUHordem corrente. Permanece, contudo, a capitalizao dos corpos no sentido econmico

    de utilidade, com variaes nos focos de investimento: importa menos o corpo que em-

    prega a sua fora do que o corpo do usurio de servios e espaos, cujos padres de

    conduta interessam conhecer e coordenar. O desvio, j o dissemos, ndice de ameaa

    ou suspeita, mas o que est em foco antes a ao e no tanto o agente. Aqui no se

    trata de ver pontualmente nem de ver atravs, mas de reconhecer de modo automatizado

    LKL]LYHKPHU[L6Z[}WPJVZZLN\PU[LZL_WSVYHTJVTTHPZKL[HSOLZHJH[LNVYPaHsqVKVZcomportamentos e a temporalidade dessa vigilncia proativa.

    Segundo plano: saber (conhecer um corpo que passa).

    Muitas vezes, os enunciados mais esclarecedores acerca de mecanismos de controle

    so proferidos no pela crtica social, mas pelas prprias indstrias ou engenheiros que

    os projetam:

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    We care what you do, not who you are. We aim to analyze and model the behavior patterns

    of people and vehicles moving through the scene, rather than attempting to determine the

    identity of people [...] We are trying to automatically learn what typical activity patterns

    L_PZ[PU[OLTVUP[VYLKHYLHHUK[OLUOH]L[OLZ`Z[LTSVVRMVYH[`WPJHSWH[[LYUZ[OH[TH`signal a person of interestperhaps someone engaging in nefarious behavior or a person

    in need of help. (DAVIS, 2009)

    Nesta declarao, o idealizador de um sistema de videovigilncia inteligente descreve

    seu programa, que procede por anlise de comportamento e antecipao de situaes

    que permitam perseguir automaticamente na imagem um alvo suspeito ou em perigo.

    Que formao de saber est em jogo nesse monitoramento automatizado dos corpos

    em que o foco o comportamento, a ao, e no tanto o agente? Em que medida esse

    saber est atrelado aos regimes contemporneos de poder e controle? Aspectos impor-

    tantes das atuais formas de controle distncia (LIANOS; DOUGLAS, 2000) esto em

    jogo. Como se pde notar, os corpos so inspecionados em sua mobilidade cotidiana

    ZLTX\LZLPU[LYYVTWHZHS]VLTJHZVKLZ\ZWLP[HV\_VKVZKLZSVJHTLU[VZUVZLZWH-sVZ\YIHUVZ,UX\HU[VVZHWHYH[VZKPZJPWSPUHYLZWYLJPZH]HTWHYHYLJVUUHYVZJVYWVZV\PUZJYL]vSVZU\TZPZ[LTHWYLKLUPKVKLH[P]PKHKLZWHYHVIZLY]mSVZJVUOLJvSVZLUVYTHSPamSVZ[HPZZPZ[LTHZZLPU[LYLZZHTWLSVZ\_VZKVZJVYWVZTV]LU[LZUVJ\YZVKLsuas aes corriqueira (LYON, 2010).

    *VUK\aPYJVUK\[HZtVTVKVWVYL_JLSvUJPHKHZWYm[PJHZKLNV]LYUVX\LVYLZJLTna modernidade (FOUCAULT, 2004) e ganham hoje uma atualidade particular. Os sis-

    temas disciplinares envolviam anlises acuradas dos comportamentos e desempenhos,

    mas elas deveriam ser acompanhadas por toda uma tecnologia da alma, correlativa dos

    investimentos polticos no corpo. A arte de conduzir condutas nos espaos geridos con-

    temporneos focaliza diretamente, em sua forma ideal, a prpria ao4. Pretende, assim,

    integrar-se prpria dinmica das atividades dos indivduos, suas iniciativas e escolhas,

    misturando-se ao consumo de bens e servios, s prprias tecnologias de coordenao

    das escolhas individuais (ROSE, 2000; LIANOS, 2001).

    Paralelamente, toda uma cultura do risco e da segurana (GARLAND, 2001) perpassa

    a ordenao dos espaos, corpos e ambientes sociotcnicos contemporneos. No basta

    incitar a ao, preciso tambm prever e evitar todo comportamento que represente risco ou

    perigo. As funes de gesto, controle e segurana esto, assim, cada vez mais imbricadas.

    Todos estes elementos esto em alguma medida presentes nos sistemas de videovigi-

    lncia inteligente que, inclusive, pretendem ser polivalentes, monitorando e intervindo em

    4 O foco na ao e nos padres comportamentais para a construo de algoritmos capazes de antecipar eventos recorrente em outros dispositivos de controle no campo da sade, do crime, do trabalho, que atuam mais sobre a doena do que sobre o doente, o crime que o criminoso, a performance que a formao (DELEUZE, 1992; GARLAND, op. cit.).

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    JVTWVY[HTLU[VZLTVKVZKLVJ\WHsqVKLLZWHsVZJVTVZTHPZ]HYPHKVZUZ!JVUZ\TVcomrcio, gesto, segurana. Contagem de clientes, anlise de hbitos de consumo, de

    padres de movimento e locomoo, deteco de intruso em zonas controladas, detec-

    o de objetos abandonados e de comportamentos suspeitos, monitoramento e anlise

    KL\_VZKLWVW\SHsLZV\T\S[PKLZLZ[qVLU[YLZ\HZ]HYPHKHZHWSPJHsLZ,Z[LJHYm[LYpolivalente das smartJoTLYHZtL_WSxJP[VUVTH[LYPHSW\ISPJP[mYPVKLJLY[VZMHIYPJHU[LZ!

    Fig.7. ObjectVideo (http://www.objectvideo.com/solutions/)

    As smart cameras e seus sensores vo de par, em certa medida, com os ambientes

    ditos inteligentes, que adicionam ao espao camadas informacionais, permitindo que

    LZ[LZZLQHTPU[LYWLSHKVZKLMVYTHJVU[L_[\HSWLSVWY}WYPVHTIPLU[LKLTVKVHPUJP[HYou inibir certas condutas (cf. MANOVICH7YVK\aZLHZZPT\TH[H_VUVTPHKHmovimentao cotidiana dos corpos nos espaos, permitindo planejar aes sobre eles.

    4HZUVX\LJVUZPZ[LLZZH[H_VUVTPH&:LHJVTWHYHYTVZHTt[VKVZTVKLYUVZKLJSHZZPJHsqVKLJHYHJ[LYxZ[PJHZJVYWVYHPZX\L[HTItT\ZH]HT[LJUVSVNPHZKL]PZqVJVTVHMV[VNYHHUV[HTVZX\LVZPU]LU[mYPVZKVZWHKYLZJVYWVYHPZMVJHSPaH]HT[YHsVZLKL[HSOLZLZWLJxJVZ)HZ[HSLTIYHYKVZJH[mSVNVZKL[PWVZKLVYLSOHWYVQL[HKVZWVY)LY[PSSVU ;HU[VSmX\HU[VHX\PZL[YH[HKVL_LYJxJPVKVWVKLYWVSx[PJVLJPLU[xJVZVIYLVZJVYWVZHWHY[PYKL\TZPZ[LTHKLJSHZZPJHsqVLHYX\P]VX\LJVU]LY[HHPTHNLTLTPUMVYTHsqVconvincente, permitindo a anlise de indcios e o reconhecimento de padres corporais,

    Z\HZUVYTHZLKLZ]PVZ ,U[YL[HU[VUV S\NHYKHZSLPYHZKLVYLSOHZKLKVZTxUPTVZLHU[LIYHsVZ HZ [H_VUVTPHZKH ]PKLV]PNPSoUJPH PU[LSPNLU[L JVU[HTJVTHSNVYP[TVZX\LYLWYLZLU[HTWHKYLZKLJVUK\[HLTV]PTLU[VU\TKHKVJVU[L_[V

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    -PNLZX\LYKH[HILSHKL[PWVZZPVNUTPJVZKL(SWOVUZL)LY[PSSVU4\ZtLKLZ*VSSLJ[PVUZ/PZ[VYPX\LZKLSH7YtMLJ[\YLKLPolice, s/d) (http://1.usa.gov/12I2Tb). direita, algoritmo de deteco de silhuetas (Sharma; Davis, 2007)(http://bit.ly/v66cnF).

    6\[YHKPMLYLUsHZPNUPJH[P]HJVUZPZ[LUHUHSPKHKLWYPTLPYHKLJHKH\TKVZZPZ[L-mas. Nas tipologias de que estamos tratando, j se viu, no se trata mais de diagnosticar

    uma personalidade criminosa sob a imagem e os detalhes corporais, mas de antever, na

    superfcie da imagem e nos movimentos dos corpos, um possvel crime ou incidente por

    vir. Num caso, o corpo-imagem ndice de algo que o subjaz ou o antecede; no outro,

    ele ndice de uma ao por vir.

    As diferenas entre estes modelos indicirios e suas respectivas temporalidades esto

    atreladas ao carter proativo da videovigilncia inteligente.

    Terceiro plano: temporalidade (ver adiante e agir antes).

    O ltimo trao em relevo no mapeamento delineado por este contramanual a

    temporalidade das cmeras inteligentes. Nas descries e propagandas do dispositivo, a

    primeira nfase dada ao tempo real do monitoramento, da deteco e da interveno

    UVZJVU[L_[VZ]PNPHKVZ6\ZLQHHStTKH[YHUZTPZZqVLVIZLY]HsqVLT[LTWVYLHS Qmpresentes na videovigilncia controlada por operadores humanos, os sistemas inteligentes

    efetuariam uma anlise automatizada e instantnea da cena vigiada, permitindo que

    X\HSX\LYPU[LY]LUsqVZLKvUVTVTLU[VTLZTVKVPUJPKLU[LHNYHKV:\WYPTLTZLLTtese, possveis delays ou retardos seja da percepo e ateno humanas, seja da ao no

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    momento oportuno. O tempo real almejado aqui no o da observao, da deteco

    V\KHHsqV[VTHKVZPZVSHKHTLU[LTHZVKHJVUL_qVX\HZLX\LPTLKPH[HLU[YLLZZLZ[YvZTVTLU[VZKPHJYUPJVZKPTPU\PUKVHVTm_PTVVPU[LY]HSVLU[YLLSLZ(PTHNLTj provida de um tempo real de observao agora almeja um tempo real de reao. O

    alcance deste presente continuamente desperto e ativo vincula-se tanto memria que

    lhe serve de parmetro quanto ao futuro nele projetado.

    A memria do dispositivo no simplesmente a da capacidade de registro. As cmeras

    inteligentes so dotadas de uma memria algortmica, que consiste no repertrio de padres

    que ela deve reconhecer como regulares ou irregulares. A memria serve assim de parmetro

    para a anlise da cena monitorada. Os arquivos gigantescos e humanamente insondveis

    da videovigilncia tornam-se, segundo os propositores deste sistema, uma memria til.

    A maior promessa deste arquivo inteligente no a de guardar e recuperar o passa-

    do, mas de antecipar e evitar eventos futuros indesejados, sobretudo quando a vigilncia

    visa segurana. O arquivo de padres deve servir de ndice do futuro. A interveno em

    tempo real , neste caso, uma ao no presente que deve evitar outra ao no futuro. Eis

    porque sugerimos falar de uma videovigilncia proativa, que deve se antecipar ao

    antevista e, neste caso, conjur-la.

    Retornamos ao tipo de indicialidade presente neste modelo de vigilncia. No se

    trata do ndice do passado, nem apenas do ndice do agora e da suposta evidncia prpria

    ao tempo real da transmisso e observao da imagem, mas tambm e principalmente do

    xUKPJLKL\THJVU[LJPTLU[VWVY]PY

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    suspeitos que servem de ndices de crimes ou infraes que ainda esto por vir e que

    talvez no venham a se realizar, mas que se efetivam como suspeitas no momento que

    so projetados, transformando os corpos-imagens em criminosos potenciais.

    Em sua forma ideal, tal gesto de possveis pretende agir antes do fato, antes da

    ao. Trata-se da iluso de transformar o porvir num futuro do pretrito (BIGO, op. cit.).

    Quando as smart cameras so voltadas para otimizar o uso de espaos, o consumo ou a

    LJPvUJPHKLZLY]PsVZLZZHJVSVUPaHsqVKVWYLZLU[LWLSHHU[LJPWHsqVKVM\[\YV[HS]Laseja menos ostensiva e no lugar de se tentar conjurar a ao indesejada, busca-se incitar

    JVUK\[HZKLZLQm]LPZLTJVU[L_[VZLZWLJxJVZ+L[VKHMVYTHLZVIYL[\KVUVJHZVKH]PNPSoUJPHWYVH[P]HJVTTZLJ\YP[mYPVVUHZJPTLU[VKHNLZ[qVKHWYVIHIPSPKHKLJVTVuma realidade possvel to vlida quanto a realidade presente coloca a problemtica do

    WVKLYU\TJVU[L_[VX\HSP[H[P]HTLU[LKPMLYLU[L"LSHVSPILYHKVSPTP[LKL\THYLMLYvUJPHao acontecimento [] (LIANOS, op. cit. p. 135).

    As cmeras inteligentes, combinando o tempo real, a anteviso e a proao, produzem

    um tipo de poder sobre os corpos, imagens e tempos orientados por uma indicialidade da

    suspeita e pela proatividade da vigilncia. Elas vm assim incrementar o j farto leque de

    KPZWVZP[P]VZWYLKP[P]VZLWYVH[P]VZJVTVVTVUP[VYHTLU[VKLKHKVZLHWLYSHNLTUVZmais diversos campos: consumo, sade, segurana, servios etc.

    Entretanto, todos esses atributos das smart cameras, vale advertir, no podem ser lidos

    como dados objetivos do aparelho, mas antes como seu sonho, seu ideal, sua retrica.

    Ainda em fase de prottipo, com algumas aplicaes em curso mas muito recentes para

    servirem de bHZLm]LSWHYHWLZX\PZHZ[HPZJoTLYHZLZ[qVLTLZ[HKVKLWYVTLZZH,[HS]LaLZZHZLQHHZ\HJHYHJ[LYxZ[PJHLZZLUJPHSHKHWYVTLZZHKL\THLJmJPHH\TZ}[LTWVsecuritria, administrativa e comercial fundada na automatizao de processos perceptivos,

    atencionais, preventivos. Certamente, uma vez em prtica na vida corrente, esses ideais

    encontram uma srie de falhas, rudos e resistncias. Ou seja, decerto no funcionaro

    como previsto, mas o curioso que a retrica de legitimao destes sistemas est tacita-

    TLU[LM\UKHKHZVIYL\THZ\ILJmJPHX\LQ\Z[PJHHWYPTVYHTLU[VZ[LJUVJPLU[xJVZZLTWYLWVY]PY(PTWVZZPIPSPKHKLKL[HSLJmJPHtKLULNHKHL[VKHMHSOHSLNP[PTH\THPUV]HsqVHPUKHWVYMHaLY3LTIYLTVZX\LLZ[HtH[LYJLPYHNLYHsqVKLPU]LZ[PTLU[VUHU-JLPYVWVSx[PJVL[LJUVJPLU[xJVUH]PKLV]PNPSoUJPHTHSNYHKVHZYLJVYYLU[LZWLZX\PZHZque atestam no haver nenhuma evidncia de que o uso da videovigilncia no espao

    urbano favorea a diminuio ou preveno de crimes. Torna-se mais claro o carter

    WYVISLTm[PJVKLZ[LHWHYLSOVILTJVTVHZ\HZP[\HsqVLU[YLHJsqVLHYLHSPKHKLVpresente e o futuro, a LJmJPHLHPULJmJPH

    A automatizao da percepo e da viso recorrente em diversos trabalhos de H.

    Farocki. Em suas montagens, as imagens das cmeras-olho ou dos olhos-mquina pem

    em relao vrios domnios: a priso, o trabalho, a guerra, a administrao, o consumo.

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    Em Prison Images (FAROCKI, 2000), as cmeras monitoradas por olhos humanos que testemunham e controlam desde gestos de amor6 a brigas corporais, podendo culminar na morte dos corpos sob vigilncia7, do lugar a um sistema automatizado de monitoramento que no mais mostra corpos e gestos em detalhes, mas pontos na tela que rastreiam e PKLU[PJHTVZWYPZPVULPYVZUVLZWHsVWLUP[LUJPmYPV5VTLZTVSTL\TZPZ[LTHT\P[Vsimilar se suplementa a este, mas agora os pontos na tela so clientes de supermercado cujos padres de movimento so rastreados de modo a otimizar a oferta de produtos e consequentemente o consumo.

    -PN 0THNLTKVSTLPrison Images, de Harun Farocki (2000)

    Na srie de vdeos Eye-Machine (FAROCKI, 2001) a automatizao da viso e da ao atravessa vrios setores: o trabalho humano, a produo industrial, o corpo militar, a inter-veno e o olhar mdicos. As mquinas inicialmente cegas na realizao de suas tarefas tornam-se sensveis e reativas ao mundo no qual atuam, simulando tambm o trabalho visual, nos termos de Farocki. Nos ltimos trechos da srie 1, Farocki retorna s imagens utilizadas na Guerra do Iraque em 1991 e s imagens da produo civil automatizada:

    6 Em Prison ImagesVTVUP[VYHTLU[VWVY*-;=HNYHUVOVYmYPVKL]PZP[HKHWYPZqVVJVU[H[VLU[YLVJVYWVdo prisioneiro e o da sua amante, culminando na interrupo do encontro pelo carcereiro.

    7 5V[YHIHSOVTLUJPVUHKV-HYVJRPYL[VTHPTHNLUZKHZJoTLYHZKL]PNPSoUJPHKHWYPZqVKLZLN\YHUsHTm_PTHem Corcoran na Califrnia, onde os corpos dos prisioneiros eram simultaneamente visados por cmeras e por armas de fogo, autorizadas a atirar em caso de brigas. Nas imagens retomadas por Farocki, em que o ngulo de viso e o ngulo de tiro coincidem, uma briga no ptio da priso culmina na morte de um dos detentos.

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    Operational images, not propaganda / Not propaganda, yet an ad for intelligent machines / For machines performing their tasks no longer repetitively or blindly / but rather independently, autonomously./ Imagine a war of autonomous machines Wars without soldiers like factories without workers. [Imagens e legendas da srie Eye-Machine (FAROCKI, 2001)]

    Poderamos continuar a srie acima Imagine uma guerra de mquinas autnomas

    Guerras sem soldados como fbricas sem trabalhadores , transpondo-a ao nosso

    objeto. Imaginem uma vigilncia sem vigilantes ou at sem vigiados, uma vez que h aqui

    PUZWLsqVV\L_HTLJVTVTxUPTVKLPU]HZqVKV[LYYP[}YPVJVNUP[P]VLL_PZ[LUJPHSKVZindivduos8. Salvo quando algo vai mal ou fora do previsto. Nesta hora, aparecem vigilantes,

    vigiados e toda a rede de saberes, poderes e agentes humanos e no humanos que atuam

    neste monitoramento sutil da vida cotidiana (FOUCAULT, op. cit.; LATOUR, op. cit.).Curioso notar como entre as imagens retomadas por Farocki e as imagens dos sistemas

    de videovigilncia inteligente possvel ainda estabelecer outra srie de relaes com a automatizao da percepo e do trabalho. Se na indstria vemos a automatizao do trabalho, seja ele fsico ou visual, na gesto securitria e comercial dos espaos urbanos vemos no apenas o trabalho visual ser substitudo pela mquina, como o seu objeto ser tratado de modo muito similar ao controle automatizado da produo. O modo como as smart cameras observam os corpos nos espaos urbanos no muito distinto do modo como as mquinas inteligentes da indstria detectam e mesmo prevem irregularidades e acidentes indesejados na cadeia de produo.

    Neste novo programa, a videovigilncia busca se legitimar no tanto pelo domnio da prova do que se passou, mas pela promessa de intervir proativamente sobre o que ainda no ocorreu. Imaginem uma ao sem acontecimento. Este contramanual adverte, a um s [LTWVLWHYHKV_HSTLU[LWHYHHPTWVZZPIPSPKHKLLWHYHVWLYPNVWVSx[PJVKLZ[HWYVTLZZH

    Fernanda Bruno professora doutora do Programa de Ps-

    .YHK\HsqVLT*VT\UPJHsqVL*\S[\YHKH

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    Artigo recebido em julho e aprovado em setembro de 2012.