CONTRADIÇÕES NA CENA INDIE DA ROLLING STONE

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TCC I – Trabalho de Conclusão de Curso I Universidade Federal de Santa Maria Centro de Educação Superior Norte – RS Departamento de Ciências da Comunicação Curso de Comunicação Social – Jornalismo 04 a 08 de Janeiro de 2010 1 CESNORS Centro de Educação Superior Norte - RS CONTRADIÇÕES NA CENA INDIE DA ROLLING STONE GUSTAVO FAREZIN Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo como requisito para aprovação na Disciplina de TCC I, sob orientação do Prof. Carlos André Echenique Dominguez e avaliação dos seguintes docentes: Prof. Carlos André Echenique Dominguez Universidade Federal de Santa Maria Orientador Prof. Caroline Casali Universidade Federal de Santa Maria Prof. Luis Fernando Rabello Borges Universidade Federal de Santa Maria Prof. José Antônio Meira da Rocha Universidade Federal de Santa Maria (Suplente) Frederico Westphalen, 6 de Janeiro de 2010

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CONTRADIÇÕES NA CENA INDIE DA ROLLING STONE

GUSTAVO FAREZIN

Artigo científico apresentado ao Curso de Comunicação Social – Jornalismo como requisito para aprovação na Disciplina de TCC I, sob orientação do Prof. Carlos André Echenique Dominguez e avaliação dos seguintes docentes:

Prof. Carlos André Echenique Dominguez Universidade Federal de Santa Maria

Orientador

Prof. Caroline Casali Universidade Federal de Santa Maria

Prof. Luis Fernando Rabello Borges Universidade Federal de Santa Maria

Prof. José Antônio Meira da Rocha

Universidade Federal de Santa Maria (Suplente)

Frederico Westphalen, 6 de Janeiro de 2010

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Contradições na Cena Indie da Rolling Stone

RESUMO

Este trabalho de pesquisa tem o objetivo de analisar os discursos jornalísticos das notícias da revista Rolling Stone para com a cena musical Indie.

Esta cena é, originalmente, um contexto cultural urbano de rock alternativo. Com seu aparecimento no mainstream, ela ganha visibilidade nas páginas das revistas especilizadas e assim começam a aparecer outras características (independente) e bandas de diferentes gêneros musicais. Na Rolling Stone, notamos em nossa análise uma grande variedade de bandas encaixadas nesta cena dentro dos discursos culturais presentes na publicação.

Tendo em vista que a definição da cena Indie está em voga, notamos a necessidade da análise do discurso dos textos presentes nesta revista que é a principal formadora de opinião do meio musical pop/rock. PALAVRAS-CHAVE: Estereótipos; Rock; Rolling Stone; Indie; Análise de Discurso. INTRODUÇÃO

Esta pesquisa tem o objetivo de demonstrar a existência de contradições discursivas

adotadas pela revista Rolling Stone (RS) no tratamento de conteúdos sobre música na revista,

colocando em debate a definição o que é a cena Indie nas doze primeiras edições da revista no

Brasil, desde outubro de 2006 até setembro de 2007. Este trabalho nasceu com o propósito de

analisar a rotulagem de bandas na RS. Notamos, porém, que existe uma confusão com as

denominações indie, ao analisarmos fielmente origem desta cena.

A importância social, econômica, política e cultural do fenômeno que estamos

investigando é tanto para as bandas que fazem parte desta cena quanto para o público específico

que consome este produto cultural.

“'Você pode teorizar o quanto quiser sobre o rock and roll, mas ele é essencialmente uma

coisa não intelectual. É música e só!’ Jann Wenner, editor-fundador da revista Rolling Stone”

(FRIEDLANDER, 2002, contracapa). Contrariando a sentença de Wenner, tentaremos tornar o

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rock and roll um objeto teórico dentro do universo da comunicação e do jornalismo em revista.

Este estilo irreverente de música é o mais popular deste século. Começou nos anos 50 como uma

cultura alternativa, invadiu as casas das famílias e mudou o jeito de se ouvir a música, tornando-

se assim uma dualidade chamada pop/rock. Pop, por que é visto como uma mercadoria produzida

sob pressão para se ajustar à indústria do disco e rock por que possui raízes musicais e líricas

derivadas de sua era clássica. (FRIEDLANDER 2002, p. 12).

Em sua gênese tudo parecia mais simples, pois “a canção significava o que o artista dizia”

(FRIEDLANDER 2002, p. 18). Posteriormente, os estudiosos decidiram que analisar a música é

um trabalho que deveria ser visto no contexto da história pessoal do artista e da relação da música

com a sociedade que o cercava (ou o contexto social). O significado da canção, deste modo, seria

diferente dependendo de quem a estivesse escutando, além disso, a imagem e atuação no palco

poderiam ser mais significativas que as letras. Para alguns ouvintes, a música servia apenas de

fundo, mas para outros, como os grupos subculturais da contracultura dos anos 60, os punks dos

anos 70 ou os metaleiros dos anos 80, “os quais estão inseridos em um gênero musical particular

e para quem a música oferece um conhecimento significativo e identidade” (FRIEDLANDER

2002, p. 17), a música tornou-se uma espécie de ideologia.

Originalmente pertencente a um contexto cultural urbano de rock, a cena indie surgiu sob

influências variadas. A característica mais notável é a atitude “faça você mesmo”, herdada dos

punks.

Os principais marcos identificáveis e divisórios da história do rock são: primeiro 1954-1955 – a explosão rock’n’roll clássico; segundo 1963-1964 – a invasão inglesa; terceiro 1967 – 1972 – a era de ouro (o amadurecimento sincrônico de artistas de vários gêneros, incluindo a primeira invasão inglesa, o soul, o som de San Francisco e a ascensão dos reis da guitarra); quatro, 1968-1969 – a explosão do hard rock; e quinto, 1975 – 1977 – a explosão do punk. (FRIEDLANDER: 2002 p. 18).

A palavra indie é uma gíria criada pelos britânicos nos anos 80 para batizar os artistas que

se comportavam e faziam músicas alternativas. A atitude de gravar independentemente de

grandes gravadoras, surgida recentemente, automaticamente tornou as bandas desse nicho

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undergrounds1 e alternativos, pois quem gravava individualmente possuia estas características.

Então, ao julgar de indie, um artista, significa dizer que ele é ou underground ou alternativo ou

independente.

Para se ter uma ideia, a música alternativa é mais velha e mais próxima de nós do que

parece:

Ao mesmo tempo em que a música pop das paradas de sucesso dominava o mainstream musical americano em meados dos anos 50, os jovens tinham a oportunidade de escutar uma nova e vibrante música underground chamada Rock and Roll. Esta música se desdobrou em duas gerações. (FRIEDLANDER 2002, p. 23).

O rock and roll, portanto, nasceu Indie, mas ao desenvolver-se e ficar conhecido no

mainstream2, perdeu o rótulo.

Quanto ao que significa ser alternativo para a época em que a música é concebida,

Friedlander aponta para a questão “enxergar o que é não ser alternativo”. Para avaliarmos se o

comportamento, músicas, letras e vestimentas, contêm elementos alternativos é importante

percebermos se isto é normal para o período - o contexto social. “O clássico dos Rolling Stones,

Let’s Spend the Night Togheter, por exemplo, foi polêmico em 1967, mas teria sido uma

blasfêmia em 1957, e ainda, passaria despercebido em 1977”. (FRIEDLANDER 2002, p. 20).

O marco do nascimento3 da cena indie no mainstream foi o álbum Is This It, de 2001, da

banda norte americana The Strokes. Os Strokes alcançaram grande sucesso comercial lançando-se

diretamente para gravadoras de grande porte, embora a identidade alternativa deles não se

1Underground ("subterrâneo", em inglês) é uma expressão usada para designar um ambiente cultural que foge dos

padrões comerciais, dos modismos e que está fora da mídia. Muito conhecido como Movimento Underground ou Cena Underground. (http://pt.wikipedia.org/wiki/Underground, acesso em 11/12/09).

2Mainstream (em português corrente principal) é o pensamento corrente da maioria da população. Este termo é

muito utilizado relacionado às artes em geral (música, literatura, etc). Algo que é comum ou usual; algo que é familiar às massas; algo que está disponível ao público geral; algo a que tem laços comerciais; (http://pt.wikipedia.org/wiki/Mainstream, acesso em 11/12/09). 3Aqui nasce o grande paradoxo Indie/Pop. Como pode ser alternativo, aquilo que está numa revista Pop?

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perdesse. O comportamento, vestimenta e letras continuaram alternativos, isto fez com que a

banda, mesmo com o sucesso de público e grande repercussão na mídia, fosse considerada indie.

Há uma grande diferença, segundo Friedlander (2002, p.. 21) entre sucesso artístico e sucesso

comercial, que ele chama de Status Roseburg4.

Além disso, para descobrir o efeito que a música causa na pessoa Friedlander (2002, p..

18) criou um “modelo anatomicamente perfeito”, em uma estrutura de boneco dividida em:

“Cérebro (intelectual), Coração (emocional), Genitália (sexual), Pés (dança/movimento)”, para

saber o efeito da música rock nas pessoas.5

REFERENCIAL TEÓRICO

Para falarmos da revista Rolling Stone é necessário que mergulhemos no seu contexto

discursivo e jornalístico. A Rolling Stone é a revista de crítica musical mais popular do planeta.

Jann Wenner, fundou-a em 1967 para ser uma revista dedicada à contracultura hippie da década,

com o tempo e a evolução das comunicações e logísticas, Jann fez dela uma revista pop. A

Rolling Stone traz em seu conteúdo o jornalismo cultural, nome que recebe a especialização da

4“Roseburg, uma cidade no oeste de Oregon, tinha aproximadamente 20mil habitantes e uma estação de rádio que tocava as

músicas de maior sucesso nas paradas durante os anos 60. Nós elaboramos uma hipótese que, se uma canção fosse tocada na rádio Roseburg, ela teria penetrado suficientemente no mercado comercial para estar disponível para os ouvintes e compradores do resto dos Estados dos Unidos. Artistas de rock clássico, como Elvis, alcançaram o status Roseburg; grandes do rhythm and blues (R&B), como Big Joe Turner, não. A cantora soul Aretha Franklin conseguiu entrar nas paradas de música popular (branca); seu colega intérprete de soul Solomon Burke nem chegou perto.”(FRIEDLANDER 2002, p. 21)

5“Considerando os três maiores grupos da invasão inglesa: Beatles, Rolling Stone e Who. Meus alunos diriam que os Beatles e o

Who apelam à cabeça e ao coração – mesmo que eles não soem muito parecidos. Os Stones apelam à genitália e aos pés. O que você acha? Tente isto com outros artistas”(FRIEDLANDER 2002, p. 18).

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profissão jornalística nos fatos relacionados à cultura, como por exemplo, a música. Cultura,

segundo DeFleur e Ball-Rockeach (1993, p. 20), significa um conceito desenvolvido de acordo

com a necessidade do homem: “A confecção de ferramentas e uso do fogo por nossos primitivos

ancestrais definitivamente separam-nos de outros animais da época. Um dia, a civilização

humana como a conhecemos brotaria dessa base elementar”. A música, talvez não tenha sido uma

ferramenta de sobrevivência para algum povo, mas ela nasceu de uma necessidade de expressão

do homem ao longo do tempo.

Na contemporaneidade, a comunicação evoluiu a ponto de alcançar indivíduos de todo o

planeta. Mas antes disto, surgiu a chamada cultura de massa que é uma manifestação cultural

produzida para o conjunto das camadas mais numerosas da população e veiculada através dos

meios de comunicação de massa ou mídia: Internet, tv, rádio, jornal impresso, revista. Foi no

tempo da Segunda Guerra Mundial, que os alemães Theodor Adorno e Max Horkheimer, em seu

livro A Dialética do Esclarecimento escreveram que a mídia americana não se voltava apenas

para suprir as horas de lazer ou dar informações aos seus ouvintes ou espectadores, mas fazia

parte do que chamaram de Indústria Cultural: a cultura de massa pensada e vendida segundo o

sistema capitalista. Portanto, no nível de Indústria Cultural, como diz Sodré (1996, p. 22), “a

cultura passa a servir cada vez mais à reprodução ampliada das relações capitalistas”.

A Rolling Stone é um meio de comunicação de massa que produz produtos culturais. Por

isso possui características discursivas adequadas a este meio. As primeiras ideias sobre discurso

segundo Sodré (1996) são da época de Platão. Para Sodré (1993, p. 13) a retórica significa a

habilidade de “argumentar com eloqüência no espaço público, de bem dizer, com o objetivo de

persuadir os cidadãos”. Os filósofos e sofistas discutiam os problemas que a boa e a má retórica

desencadeavam na sociedade. Essa discussão não era apenas um mero jogo acadêmico, “mas um

embate em torno de posições sociais diferentes quanto a problemas centrais na vida grega”.

Platão, então definiu as astúcias e dissimulações como “má retórica” e a técnica de pensar o

comum de “boa retórica”. Mas Sócrates mostrou-se preocupado com uso indevido delas:

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O que preocupa Platão é o perigo da falsidade inerente ao ilusionismo do discurso (apate), ensejado pela retórica. Por isso, no Górgias, onde Sócrates discute e ironiza os pontos de vista dos interlocutores, aparece uma condenação radical da arte retórica, apresentada como um conhecimento adulatório, vazio e eticamente inútil: ‘A retórica está para a justiça como a culinária está para a medicina. (SODRÉ 1996, p. 14.).

Todo o discurso, como por exemplo o texto jornalístico da Rolling Stone, tem a sua

dualidade. Pode ter uma boa ou uma má retórica.

O texto da Rolling Stone é muito parecido com os cadernos de cultura dos jornais, a não

ser por resgatar um tipo de jornalismo aprofundado, em uma espécie de jornalismo e literatura,

que os jornais não conseguem acompanhar devido à pressão do tempo de fechamento das edições

diárias. Segundo Vilas Boas (1996, p. 71) os leitores procuram nas revistas por “textos elegantes

e sedutores, pela fotografia e o design moderno”. Numa revista, a frase criativa de abertura do

texto substitui o lead dos jornais, pois existe uma preocupação em prender o leitor ao texto. Então

surge o empenho em produzir uma capa com os atrativos de uma embalagem e não apenas um

julgamento de importância jornalística. (VILAS BOAS, 1996, p. 72).

A interpretação é outra das características do jornalismo de revista, onde se dá

profundidade a determinado ponto de um fato: “Em jornalismo, submeter os dados recolhidos a

uma seleção crítica e depois transformá-los em matéria significa interpretar” (VILAS BOAS,

1996, p. 77). Mas o leitor de revista possui papel de interpretador também, a leitura do texto da

revista pelo leitor e a sua reação, ou seja, o produto final possui uma especificidade nas revistas.

“O texto interpretativo não pode ser obtido pela digestão de seu conteúdo. É preciso permitir que

o leitor o interprete”. (VILAS BOAS 1996, p. 78 apud BELTRÃO 1976, p. 54).

Como a Rolling Stone trata enfaticamente de música, ela faz parte do grupo de revistas

especializadas e temáticas. Portanto, possui um posicionamento editorial pensado segundo seu

publico alvo, os fãs de música. Por exemplo, as expressões populares (jargões, neologismos,

coloquialismos etc.) e vocabulários de grupos, como o exemplo “cinéfilos” que Vilas Boas

encontrou, empregado na Revista Veja ou Folha, para os fãs de cinema:

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Os ‘cinéfilos’, leitores de Veja ou Folha, abocanham neologismos e, às vezes, até se arriscam a propagar por aí certos ‘pedantismos estilísticos’ que, mesmo não dizendo muito, se encaixam perfeitamente no gosto do leitor fiel.[...] Cativo, o leitor de um caderno cultural é uma espécie de discípulo da linguagem utilizada pelo jornal para determinado assunto que envolva arte, lazer e comportamento. (VILAS BOAS, 1996, p. 97).

Maingueneau (1997) aborda um conceito que revela características semelhantes e com

efeitos maiores. Esse efeito chama-se, segundo ele, Script:

Tomar um avião’, do ponto de vista do passageiro, supõe a compra de um bilhete, a deslocação do ao aeroporto, o despachar da bagagem, etc. Para compreender um enunciado tão banal como ‘Fiquei no aeroporto. O meu visto estava caducado’, é preciso saber que antes de embarcar num avião, se passa pela alfândega, onde se mostra um passaporte sobre o qual deve ser registado um visto cuja validade é limitada no tempo, etc. (MAINGUENEAU 1997, p. 89-90)

Para analisar a revista, optamos pela Análise de Discurso como ferramenta para melhor

compreender os enunciados e como o conteúdo da Rolling Stone se posiciona. Existem variadas

definições para Análise de Discurso, mas Maingueneau (1997, p. 13) aponta para uma linha de

pensamento importante para nosso trabalho, em que o principal é o “lugar social”, ou seja, o

contexto. Com efeito, a revista Rolling Stone é o “lugar social” e os campos onde serão

abordados os determinados assuntos são definidos pelo contexto das matérias e, principalmente,

pelo local onde estão inseridas estas matérias na revista. Temos que ter em mente que a tessitura

de sentido tem relação com o local onde a matéria se encontra na revista.

Quanto aos efeitos de sentidos que o emissor da Rolling Stone emprega no seu discurso,

Maingueneau (1997:12) ressalta que tudo começa, no Ato de Linguagem, “que é a menor unidade

que, pela linguagem, representa uma ação”, mas para que o texto tome sentido existem regras de

colaboração dos interlocutores. Existem, porém, atos de linguagem indiretos que formarão a

maior parte deste estudo. É o caso dos atos que deixam implícitos. Quando enunciamos, por

exemplo, sentados à mesa de jantar tomando café, a fala “tem açúcar?”, literalmente nossa

enunciação é uma pergunta, mas indica também um pedido (quero açúcar), o contexto faz toda a

diferença.

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Quanto à formação discursiva é necessário considerarmos que o texto da RS é

heterogêneo. Segundo Pinto (1999, p. 27), “todo o texto deve ser visto como híbrido quanto à sua

enunciação, no sentido de que ele é sempre um tecido de vozes”. Deste modo o emissor de um

enunciado põe em cena mais de um enunciado. Por exemplo: quando a Rolling Stone enunciou

“O fim da independência” (Rolling Stone, edição primeira, p. 19) ao fazer este enunciado, ela põe

em cena dois enunciadores. O E1 que acredita que a indie acabou e o E2 que defende a posição a

favor do fim da independência.

Para a análise, servirão de ferramentas os conectores, pressupostos e subentendidos de um

texto, pois eles têm o efeito de sentido que buscamos elucidar. Os conectores podem ser:

elementos adverbiais (entretanto, enfim...), conjunções coordenadas (e, pois...) ou subordinadas

(embora, porque...), essenciais para estabelecer a coesão em um texto. Os pressupostos são uma

das grandes formas de implícito também, segundo Maingueneau (1997: 83) “eles são definidos

com a ajuda de negação”. Assim, quando a Rolling Stone, enuncia “O fim da independência” diz

se que a proposição “A independência existia antes” está pressuposta, já que se pode inferir a

partir da proposição de que “A independência não teve seu fim”.

Os marcadores de pressuposição, segundo Maingueneau (1997, p. 83) são: 1. Marcadores

que indicam mudança ou permanência de estado, como ficar, começar a, passar a, deixar de,

continuar, etc. 2. Verbos denominados factivos: complementados pela enunciação de um fato

(verbos de estados psicológicos, lamentar, lastimar, sentir, saber, etc.) 3. Certos conectores

circunstanciais, especialmente quando a oração por eles introduzida vem anteposta: desde que,

antes que, depois que, etc.

O procedimento de ancoragem esboçado por Maingueneau possui o efeito de

referencialidade ou realidade e afastamento ou proximidade muito usado nas revistas para que o

discurso jornalístico revista torne-se imparcial.

O efeito de referencialidade se trata de ancorar o dito em: pessoas (testemunhos), espaços

geográficos conhecidos, datas, fatos históricos, fotografias, gráficos; e também o efeito de

afastamento, em que o sujeito escolhe fazer sua narrativa em terceira pessoa, construindo um

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narrador para que conte a história (dando a ilusão de estar longe). Citar fontes é colocar

distanciamento entre o dito e instância de enunciação e também através da forma impessoal do

verbo.

Os subentendidos serão a terceira e última ferramenta de efeito de sentido. Por exemplo,

quando o coenunciador (destinatário) lê na Rolling Stone: (A) “Programa de Indie” como título

de um texto sobre o show da banda de rock Radiohead e na segunda edição como capa (B) “O

futuro da música está nas mãos do Radiohead”, primeiramente o coenunciador constata que a

Radiohead é considerada uma banda indie pela RS (A) e posteriormente, (B) vai presumir que o

futuro da música está na cena indie, assim podemos definir os subentendidos.

ANÁLISES

Nas doze primeiras edições da RS do Brasil, encontramos dezenove referências à cena

Indie. Nove das referências estão na seção “Rock'n'Roll” (páginas iniciais da revista), quatro em

reportagens especiais (páginas nobres), três na seção “Acontece” (páginas finais), uma referência

em “Guia/Shows” (páginas finais), uma referência em “Indústria” (página inicial) e a última em

“MixmídiaINTERNET” (páginas intermediária).

Faremos o uso de uma Tabela de Referências Indie, onde serão armazenadas as

referências que poderão responder ao nosso problema de pesquisa.

Logo na sua primeira edição, há uma pequena seção chamada Cena Independente (p 127).

Esta matéria está dividida em duas partes, a primeira é sobre a banda Pelvs, onde encontramos o

seguinte fragmento de texto: “depois, houve um tempo em que essa mesma atitude [cantar em

inglês] passou a ser execrada e as bandas alternativas (tá bom, indies) descobriram a língua

pátria”. “Tá bom, indies” é um indicativo de fuga do rótulo, como se o autor estivesse se

segurando para não usar a palavra indie, mostrando assim um certo preconceito ou despreparo.

Ainda na primeira edição existe uma nota com o título “O Fim da Independência” (p. 19), que

fala da compra da independente Arsenal, pelo Grupo Universal, e com isto as bandas (CPM22,

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Ira!, NXZero, Hateen, Planta e Raiz, Tihuana, Leela e Supla) que gravavam com esta gravadora

indie passaram para a major. Na mesma edição, encontramos uma matéria sobre dados do

mercado alternativo segundo Gilberto Gil, com o título “Independência ou Morte” (p. 23).

As outras matérias veiculadas falam de bandas que estão deixando a cena indie, como a

808Sex e as bandas da recém vendida Arsenal (p. 31).

O que concluímos nesta edição é a existência contraditória dos títulos “Independência ou

morte” e “O fim da Independência” que demonstram um discurso a favor da cena. Aquele

exprime a ideia de condição de vida ou morte e este uma sentença. Naquele a vida é a

independência (ser indie) e a morte é trabalhar com grandes gravadoras, logo as bandas que

deixaram a gravadora independente estão sentenciadas.

Na segunda edição, depois de considerar a cena indie “riquíssima e fragmentada”, a RS

exibe o grupo de rap chamado Função RHK (p. 29) como indie e que pode “mudar o rap

nacional”, mas isso vai acontecer por que eles não estão sozinhos, mas fazem parte de uma

família de rap indie chamada RZO. O diferencial deles está apenas nos “sons de pista, mas com a

ideia certa”. A RS usa a terceira pessoa ao opinar, utilizando o efeito de distanciamento. Na

página 115, o título “Depois daquele tango”, na seção Hermanos, indica que a cena indie está

invadindo a Argentina, advérbio “Depois” dá a ideia de “o que está por vir” em substituição da

cultura do tango. Novamente, um discurso a favor da cena indie.

Nas duas primeiras edições, a RS tem um discurso a favor da cena, mas com matérias

isoladas. Na edição três da revista não encontramos referência à cena indie. Já na quatro, apenas

uma e fraca referência No entanto, a partir da edição de número 5, a cena ganha bastante

visibilidade. Principalmente com a chamada na capa “A música que exportamos, mas não

ouvimos”. Esta reportagem de oito páginas (58/65) fala da turnê intercontinental das bandas

Cansei de Ser Sexy e Bonde do Rolê. A reportagem destaca o diferencial da cena indie brasileira:

“é a primeira vez que os balangandãs musicais para exportação não se chamam samba, bossa-

nova, tropicália e vem da classe-média”. Subtítulo da matéria aprova a cena indie:

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Cultuados no exterior e não tão bem vistos assim por aqui, novos artistas independentes mostram

um Brasil universal que vai muito além da excentricidade verde-amarela. O samba, nossa legítima

matéria-prima, agora divide espaço com o rock, o funk e o eletrônico para gringo ver – e isso é

muito bom.

A turnê destas bandas é tratada com sensacionalismo:

Você acreditaria se há uns dois anos eu lhe dissesse que em pouquíssimo tempo bandas ‘indie’

brasileiras, daquelas com trejeitos e manhas tipicamente paulistanos, seriam mundialmente

conhecidas e viveriam intermináveis turnês planeta afora? Aposto que não, eu também não

acreditaria.

Ponto marcante é a exposição da atitude punk “faça você mesmo” encontrada duas vezes

em formato de Box, ou seja, com maior visibilidade: “’Tem banda que só reclama que a gente dá

certo e ela não dá. Vai lá e trabalha, faz alguma coisa. Foi o que a gente fez’ provoca Ana do

CSS” e “’Liguei para o diretor, falei que não queria saber o que eu ia fazer, nem se iam pagar,

mas que queria ajudar, por que se é pra fazer, pelo amor de Deus, faça direito’, narra Eduardo,

dando de bandeja mais um exemplo do ‘faça você mesmo’ à moda pós-punk verde-amarela”.

Apesar das bandas terem contrato de gravação com a gravadora independente Subpop, em

nenhuma ocasião os artistas revelam que são indies. Na foto principal da matéria, porém, a banda

posa totalmente alternativa, com dedo no nariz, gestos estranhos com as mãos, passando uma

imagem de pessoas estranhas.

Na edição de número 6, a RS demonstra a cena indie numa reportagem especial

novamente. Escrita por jornalistas da RS dos EUA, a matéria tem sete páginas (76/81) com sete

bandas de estilos diferentes que eles consideram indies. Compilei os principais trechos que

indicam o comportamento e sonoridade das bandas segundo a RS:

The Shins: “Com disco no topo da paradas, os reis da cena independente norte-americana

colocam um pé inteiro no mainstream”; ‘As bandas indie estão cada vez mais populares porque

as pessoas estão cansadas de falsidade.’ Diz James Mercer, líder da banda.”;

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The Klaxons: “A sensação do rock inglês quer fazer você dançar”; “Rótulo de rave por

causa do suposto uso de drogas e shows que incluem luzes estroboscópicas”.

Cold War Kids: “Canções cabeça e shows como você nunca viu igual”; “Mistura de blues,

piano e new wave”.

The Decemberists: “’Não escrevo estas canções só para divertir pessoas... Preciso ter uma

relação com os personagens’ diz Colin Meloy, líder da banda”; “Surrealismo de contos de fadas

para conquistar as massas independentes”.

The Long Blondes: “Quatro bibliotecários e uma vendedora resgatam o glamour no rock”;

“Kate Jackson é a líder de rock mais desejada da Inglaterra”.

Grizzly Bear: “Os novos queridinhos da cena gay”; “Atrai gays e também heterossexuais

devido ao som chapante”.

The Hold Steady: “A melhor banda de bar do rock norte-americano”; “Nada de novo, mas

bem feito. Oscilam entre o indie e o mainstream”.

Nossa conclusão sobre esta reportagem é que a cena indie contempla várias cenas. Na

banda The Shins encontramos um grupo de rock que preza por autenticidade (cena Rock); The

Klaxons, uma mistura de rock e rave, uma cena dançante (cena Rock/Rave); Na Cold War Kids,

boa música e letras cabeças (Blues, Piano e New Wave); The Decemberists uma cena mais

introspectiva, o que denota um público que gosta de literatura (cena surrealista/teatro); The Long

Blondes, pessoas com empregos bem normais (bibliotecários) resgatando o glamour do rock

(Glam Rock); Grizzly Bear, indie gay e som para quem curte drogas alucinógenas (cena Gay e

Hippies) e The Hold Steady, pra quem curte bares e rock despretensioso (cena Rock).

O sensacionalismo entra em vigor novamente nesta edição, quando eles abordam que

bibliotecários, ou seja, trabalhadores comuns estão resgatando o glamour no rock, indicando que

um leitor qualquer pode ser realmente pop, assim como o título da matéria é uma ascensão

‘Quero ser grande’.

Na edição de número 7, temos a inclusão de outro gênero musical na página 16, seção

R&R, com o título “Na Vanguarda” (que significa “na frente”) e subtítulo ”Trilíngue, melódico e

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favorito da cena indie, o Vanguart planeja os próximos passos”, a banda cuiabense Vanguart,

ganha visibilidade como “banda da cena indie brasileira mais famosa” incorporando o gênero folk

norte-americano.

A edição de número 8 demonstra duas matérias isoladas novamente. Na seção R&R, p.ina

28, com título ”Fora de Cena” e subtítulo “Sueco e indie, José González assume gosto pela

MPB”, mostra um homem filho de argentinos que cresceu escutando música latina e brasileira,

mas vive na Suécia. “‘Comecei a tocar violão influenciado por Silvio Rodriguez, Caetano

Veloso, Chico Buarque e João Gilberto’ diz González”. “Aprendeu os primeiros acordes tirando

canções dos Beatles e clássicos da bossa nova e depois se dedicou ao violão clássico e teve

bandas de rock. ‘Acho que a mistura do aprendizado do violão com o indie norte-americano me

trouxe para onde estou hoje’”. Na p.ina 29, da mesma edição, está a banda Pato Fu sob o título

“Controle Total” e subtítulo “Pato Fu mantém a independência em álbum delicado e feito em

casa”. Segundo a Rolling Stone, o Pato Fu está “abrindo mão da estrutura logística de uma

gravadora em troca de liberdade artística”. “Sai tudo do nosso bolso”, diz a vocalista Fernanda

Takai, “Faça você mesmo” mais uma vez. Temos, portanto, na RS oito, duas bandas que estão

entrando na cena indie: o Pato Fu saindo pop/rock, e o José Gonzalez, que estava “fora de cena”.

Na edição de número 9, sob o pretensioso título “Os novos escolhidos” e subtítulo

“Nomes de peso da cena independente, eles sempre passaram longe do mainstream. Hoje,

ganham reconhecimento por seus discos, atitudes e performances em festivais pelo mundo.

Conheça as apostas internacionais da Rolling Stone”.

As bandas e os principais trechos de cada matéria são os seguintes:

Feist: “Celebrada por famosos, cantora canadense troca gritos da adolescência pela

sutileza”; ‘Parei de tocar e disse: vocês podem têm que me dizer como é que conhecem essa

música. Alguns gritaram LimeWire(software para download de músicas). Percebi que não estava

começando do zero’. (cena pop/rock)

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Peter, Bjorn and John: “Trio sueco ganha fama no tapa”; “Para negar a reputação pacata e

sociável da Escandinávia”; “Mas, quando sobe ao palco, a banda se despe de toda a produção e se

revela um trio pop afinado”. (cena pop/rock)

Andrew Bird: “Cantor, multiinstrumentista e fazendeiro, ele assobia e compõe enquanto

trabalho no campo”; “Bird consquistou fãs fiéis, ajudado em parte por esses shows solo, durante

os quais se alternava no violão, violino e microfone” (folk/country)

Regina Spektor: “Nascida na Rússia e queridinha dos Strokes, ela brilha com doces

melodias”; “Vive feliz em um mundo surreal”; “Piano e voz.” (pop/surrealista)

Deerhof: “Trio relembra Torre de babel com música minimalista”; “Intensidade e pop de

vanguarda”; “Turnê pelos EUA e Europa com o Radiohead”. (rock)

Elvis Perkins: “Filho do astro de psicose usa passado trágico como inspiração para estreia

como cantor”.(pop/rock)

Explosions in the Sky: “Quarteto da terra de Bush cria rock instrumental imponente”;

“Apesar de serem fruto do Texas, os caras do Explosions têm pouco interesse pelos principais

produtos de exportação do estado: futebol e George W. Bush.”; ‘Não misturamos política e

música’. Diz Munaf Rayani, guitarrista da banda.”(rock instrumental)

Rodrigo y Gabriela: “Heróis da guitarra saem das ruas direto parar o sucesso indie.”; “As

músicas cruzam as fronteiras do rock, do clássico e do folk, mas nunca diga que o som deles

parece flamenco ‘Eu adoro flamenco, mas não queremos ser rotulados assim’ diz Rodrigo

Sanchez”. (folk/metal instrumental)

Of Montreal: “O vocalista exorciza a Britney Spears que carrega no coração”; “Mistura

teatralidade espacial de David Bowie com o hedonismo sexual de Prince”; (cena pop)

No palco, Barnes (líder) consegue exercitar seus músculos criativos ainda mais: os shows da Of

Montreal apresentam esquetes cômicos, confete, vídeos e mais trocas de roupa do que uma

apresentação de Madonna. O público, fiel, absorve tudo com prazer. Um show recente em Lãs

Vegas, com censura de 21 anos, deu a Barnes a oportunidade de ir um mais longe: apresentar-se

sem roupa.

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The Fratellis: “Carreiro do trio escocês começou em um comercial de iPod.”; “The

Fratellis pode ser novidade nos EUA, mas a banda já foi classificada na Inglaterra como a mais

nova da lista de candidatos a próximo Oásis.”; “O álbum é uma carnificina de 13 faixas de letras

espertas, refrões que não fazem o menor sentido, e uma mistura alegre de metais com jeitão ska,

piano pop e acordes de guitarra punk que lembram vagamente o som dos Libertines”. (pop/rock)

Temos aqui a exploração do rótulo indie em uma matéria produzida na matriz norte-

americana da RS. Demonstra indies que ganharam reconhecimento no mainstream, segundo a

própria revista. Nesta matéria encontramos temos uma mulher explosiva na adolescência que

começa compor em silêncio agrada ao público e ganha popularidade devido ao Limewire.

Utilizando o gancho de pessoas públicas, as bandas Explosions in the Sky e Elvis Perkins ganham

notabilidade pela RS dos EUA. Of Montreal não parece nada Indie, na matéria nada com

independente está relacionado, está mais para pop, como Madonna ou Britney Spears. Peter,

Bjorn and John, ganhou notabilidade pelo fator geográfico-cultural da Escandinávia, que parecia

pacata. Rodrigo y Gabriela, dupla de bons músicos com influências que vão do trash metal até

música mexicana que resolvem convergir o que sabem para as ruas, desenvolvendo uma espécie

de “trash metal folk”. The Fratellis é uma banda de rock que, com ajuda do iPod, ficou

conhecido na Europa. Regina Spektor, apadrinhada pelos Strokes, faz um som pop de piano com

letras surrealistas. Assim como Deerhof, apadrinhado pelo Radiohead, que faz um som pop rock.

E Andrew Bird, aproxima-se do fazendeiro músico e do leitor comum.

Na edição de número 10, na página 24, com o título “Indies para sempre”, a RS julga

como indie os integrantes da banda Jesus and Mary Chain simplesmente pela postura blasé.

“Quando uma fã se aproxima, radiante, em seu vestido branco, os Reids dão um breve aceno sem

sorrir ou cumprimentar a moça. Nada estranho se a mulher em questão não fosse a própria

Scarlett Johansson”.

As matérias mais contraditórias das 12 edições estão localizadas nas RS dez e onze. A

primeira, na página 10, com o título “Mainstream Independente”, em que própria RS admite a

contradição com o subtítulo “Contrariando rótulos, a 10ª edição do Porão do Rock leva a Brasília

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uma estrutura de festival de grande porte”. Na RS onze, na página 118, com um grande título

“Festival Indie Rock” e subtítulo “São Paulo e Rio de Janeiro recebem festival indie só no nome”.

Estas matérias falam de um festival de bandas indie, mas com as estruturas e organização de um

grande show pop.

CONCLUSÃO

Constatamos, à luz de nossa análise e através da Tabela de Referências Indie que a

contraditória cena Indie da Rolling Stone é semelhante aos processos que sofreram, em outros

tempos, o rock’n’roll (na sua origem), o punk (anos 70) e o grunge (anos 90). Podemos explicar

este processo, em síntese, desta maneira: contextos culturais urbanos que eram alternativos e

fechados em si ao começarem a aparecer na mídia são explorados e rotulados a fim de vender as

bandas como um produto cultural de maior aceitação. Desta maneira a RS inclui bandas não

identificadas com públicos nesta cena mais visível.

Podemos notar certa imparcialidade por parte da RS nos discursos jornalísticos através do

procedimento de ancoragem e afastamento: os textos das matérias são terminados,

frequentemente, com a opinião dos artistas, não expondo assim, a opinião da revista. Algumas

vezes, escapam elogios como na matéria Made In Brazil. Porém, não podemos esquecer que o

local onde estão expostas as matérias na revista serve para contribuir com o significado final do

texto.

Como Indie e Pop são opções mercadológicas das bandas, ao incorporar estas bandas no

seu conteúdo, a RS está expondo-as como Pop, ou seja, comercial. O discurso jornalístico da RS

até poderia denotar um certo despreparo e falta de conhecimento especializado por parte dos

redatores da publicação, mas os fragmentos de texto extraídos da revista e, principalmente, o

local onde eles são encontrados indicam mais uma intenção de vender o produto cultural do que

de contribuir para o meio musical. A maior parte das referências estão localizadas na parte inicial

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da revista e nas reportagens especiais e não na parte alternativa da revista, como as seções finais e

a coluna “Cena Independente”.

Finalmente chegamos conclusão que o discurso jornalístico da RS é apenas um produto

cultural comercial e que este processo de exploração comercial pode ser definido como a “má

retórica” de Platão, pois ele acontece em detrimento das origens dos termos indie e pop, da

identidade das bandas e do papel informativo e cultural que esta revista deveria ter.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS VILAS BOAS, Sérgio. O estilo magazine: o texto em revista. São Paulo: Summus, 1996. – (Coleção novas buscas em comunicação; v. 52) SODRÉ, Muniz. Reinventando Cultura: a comunicação e seus produtos. Petrópolis, RJ: Vozes, 1996. PINTO, Milton José. Comunicação e discurso: introdução à análise de discursos. São Paulo: Hacker Editores, 1999. MAINGUENEAU, Dominique. Os termos-chave da análise do discurso. Lisboa: Gradiva, 1997. FRIEDLANDER, Paul. Rock and Roll: uma história social. Tradução de A. Costa. Rio de Janeiro: Record, 2002. DeFLEUR, Melvin; BALL-ROKEACH, Sandra. Teorias da Comunicação de Massa. Rio, Zahar, 1993. WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Underground >. Acesso em: 11/12/09 WIKIPÉDIA. Desenvolvido pela Wikimedia Foundation. Apresenta conteúdo enciclopédico. Disponível em: < http://pt.wikipedia.org/wiki/Mainstream >. Acesso em: 11/12/09

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ANEXO Tabela de Referências Indie

Títulos Subtítulos Referências Seção Bandas Gênero

musical Independência ou morte

Para Gilberto Gil, as gravadoras indie estão em alta. Ou não

Indie, Independência

Rock &roll (R&R)

RS 1, 23

CPM22, Ira!,

NXZero,

Hateen,

Planta e Raiz,

Tihuana,

Leela e Supla

Pop rock

O fim da independência

Independência Indústria RS 1, 19.

808SEX Sexo, wasabi e electro dos pampas.

Artistas independentes

Acontece RS 1, 31.

808SEX EletroRock

Céu de Estrelas (FRAGMENTO DE TEXTO)

O fim de 2006 acrescenta a paulistana Céu ao time das cantoras brasileiras que são, para nossa sorte, a cara deste século.

Música independente

R&R RS 2, 13.

Céu Pop

Função RHK

Independente grupo quer mudar rap nacional

Independente Acontece RS 2, 29.

Função RHK Rap

Além do MySpace

Essencial para divulgação de novas bandas, maior comunidade musical da Internet dita

Independente Vem aí no futuro

Mixmídia Internet

RS 2, 41.

Los Pirata

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as regras, gera clones e dá pistas do que vem aí no futuro.

Depois daquele tango

Revelações indies argentinas entregam o jogo com Eps de covers

Indies Independente

HERMANOS

RS 2, 115.

Los Alamos Bicicletas

Rock

Lulina Amor e humor com sotaque recifense

Independente Acontece RS 4, 39.

Lulina Folk Regionalista

Made in

Brazil

Cultuados no exterior e não tão bem vistos assim por aqui, novos artistas independentes mostram um Brasil universal que vai muito além da excentricidade verde-amarela. O samba, nossa legítima matéria-prima, agora divide espaço com o rock, o funk e o eletrônico para gringo

Independentes Indie “Você acreditaria se há uns dois anos eu lhe dissesse que em pouquíssimo tempo bandas “indie” brasileiras, daquelas com trejeitos e manhas tipicamente paulistanos, seriam mundialmente conhecidas e viveriam intermináveis turnês planeta afora? Aposto

Especial RS 5, 58/65. Capa

Bonde do Role Cansei de ser Sexy

Funk, New Wave, Rave, EletroRock

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ver – e isso é muito bom.

que não, eu também não acreditaria.” BOX: “Em alguns países saímos do nicho do exótico e já despertamos outros interesses” Lenine. “A música que exportamos, mas não ouvimos”.

Quero ser grande

A era digital rompeu frágil linha que separava o alternativo do mainstream na música. Seja revolucionando gêneros, seja superando os obstáculos da cena, sete bandas independentes se tornam protagonistas de fábulas de rock’n’roll – e narram os primeiros capítulos de suas histórias

Indie Cena independente “Sensação do rock inglês” Massas “independentes”. Resgatam o glamour no rock. “Os novos queridinhos da cena gay”.

Especial RS 6, 76/81.

The Shins The Klaxons Cold War Kids The Decemberists The Long Blondes Grizzly Bear The Hold Steady

Rock Rave Surrealista Glam Rock Gay Hippie

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de sucesso.

Na Vanguarda

Trilíngue, melódico e favorito da cena indie, o Vanguart planeja os próximos passos.

Cena Indie R&R RS 7, 36.

Vanguart Folk

Fora de cena

Sueco e indie, José González assume gosto pela MPB.

Sueco e indie R&R RS 8, 28.

José González MPB

Controle Total

Pato Fu mantém a independência em álbum delicado e feito em casa

Mantém a independência

R&R RS 8, 29.

Pato Fu Rock

“Os novos escolhidos”

“Nomes de peso da cena independente, eles sempre passaram longe do mainstream. Hoje, ganham reconhecimento por seus discos, atitudes e performances em festivais pelo mundo. Conheça as apostas internacionais

Cena independente Candidatos a próximo “Oásis”. Comercial de iPod.”“. “Heróis da guitarra saem das ruas direto parar o sucesso indie.” Quarteto da terra de Bush Nascida na Rússia

Especial RS 9, 60/65.

Feist Peter, Bjorn and John Andrew Bird Regina Spektor Deerhof Elvis Perkins Explosions in the Sky Rodrigo y Gabriela Of Montreal The Fratellis

Pop Rock Folk Country Rock Instrumental Folk Metal Instrumental

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da Rolling Stone”.

Indies para sempre

Os bastidores da volta do Jesus and Mary Chain

“Mas a atitude pós-punk eles não abandonaram” Indies

R&R RS 10, 24.

Jesus and Mary Chain

Rock

Mainstream Independente

Contrariando rótulos, as 10ª edição do Porão do Rock leva a Brasília uma estrutura de festival de grande porte.

Mainstream independente Mark Ann, do Mudhoney, o menos indie entre os Indies.

R&R RS 10, 25.

Mudhoney Sepultura Angra Nação Zumbi Born a Lion BellRays Satan Dealers

Metal Grunge Mangue Beach

A banda que nunca existiu

Assumindo a independência e criando seu próprio padrão, o Autoramas alcança o topo do seu mundo – e não quer parar de crescer

Independência Especial RS 10, 82/86.

Autoramas Rock

Festival indie Rock

São Paulo e Rio de Janeiro recebem festival indie só no nome

Indie Guia /Shows

RS 11, 118.

Lucas Santtana, Hurtmold Seleção Natural Magic Numbers Mombojó

Pop Rock Instrumental

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