Revista Rolling Stone

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EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO 8 ANOS A chegada do novo disco do U2 reacende o debate: até quando será possível cobrar pela música ? A FRONTEIRA FINAL

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Redesign da publicação de outubro de 2014.

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EDIÇÃO ESPECIAL DE ANIVERSÁRIO 8 ANOS

A chegada do novo disco do U2 reacende o debate: até quando será possível cobrar pela música?

A F R O N T E I R A F I N A L

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SUMÁRIO

3 NACIONAL

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ESPECIAL

GREMLINS

HOT LIST

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NACIONAL

Ex-país do futuro, hoje o Brasil é a nação do presente: se não arrumar a casa, será soterrado por uma avalanche de

problemas progressos

Apesar de surpreendente no campo político, a eleição presidencial de 2014 repetiu o mesmo roteiro das anteriores e chegou à reta final sem que os candidatos tenham apresentado um plano pormenorizado de governo. Ao lon-go da campanha, o que se viu foi um desfile de propostas vagas, clichês feitos na medi-da para agradar gregos e troianos e muitas contradições. Sob pressão dos mais variados segmentos, os postulantes ao Palácio do Plan-alto trataram com descuido (ou simplesmente ignoraram) seus planos de governo.

por ANTONIO BURANI

Mas a partir do dia 1° de janeiro de 2015, uma quinta-feira, o próximo presidente terá pela frente um mosaico de decisões difíceis. Para ilustrar os desafios imediatos e as possi-bilidades de ação do novo governo, a Rolling Stone Brasil ouviu especialistas em diversas áreas e montou um quadro dos sete desafios capitais, com suas possíveis soluções.

Para enfrentar a crise financeira mundial de 2008, o gover-no brasileiro adotou uma série de medidas para estimular a economia. A estratégia foi cortar impostos sobre produtos como automóveis e materiais de construção, além de ampli-ar e facilitar o acesso ao crédito para as pessoas de baixa ren-da. A expectativa para o próximo ano é de que o país registre um crescimento reduzido, apesar de estar com o mercado de trabalho aquecido. O problema da equação é que a taxa de in-vestimento está baixa. Isso significa que a indústria não está conseguindo seguir o mesmo ritmo do consumo. Para piorar, os preços das commodities subiram no mercado internacional. Em suma, criou-se o ambiente propício para a inflação: mais gen-te querendo comprar do que produto disponível no mercado. É consenso entre os especialistas (e candidatos) que é preci-so manter a taxa de inflação na meta de 4,5% ao ano. Para isso, existem dois caminhos possíveis: aumentar os investimentos na economia, ampliar o mercado doméstico e expandir os investi-mentos em infraestrutura. O outro é a geração de um superávit primário para reduzir as dívidas líquida e bruta do país em com-paração ao Produto Interno Bruto (PIB). Nesse cenário, seria necessário adotar limites para a relação entre gasto público e PIB.

1 INFLAÇÃO “A inflação recente que tem batido mais forte é no setor de serviços. Basicamente, serviço é mão de obra. Ou seja: salário. O salário dos trabalhadores nos últimos anos vem subindo de forma recorrente. Isso bate muito forte na inflação, principal-mente no IPCA [Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo], cujo quinto maior peso é a empregada doméstica”, pontua o especialista. Ele reconhece que o próximo presi-dente terá que decidir por “escolhas difíceis”, como criar re-gimes alternativos de emprego que incidam necessariamente na CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas). Isso ajudaria na atração de mais investimentos, o que levaria a indústria a produzir na mesma velocidade do consumo. Outra medida – bastante controversa – para combater a inflação seria redu-zir o acesso ao crédito. Mas há quem discorde. “Economistas não entendem de economia popular”, rebate Renato Meire-lles, presidente do instituto Data Popular, especializado em aferir as demandas e opiniões da classe média brasileira. “O crédito é aquilo que se paga a mais para ter hoje o que você só teria amanhã. Não existe economia nenhuma do mundo que tenha crescido sem oferecer crédito para a população.

3 Melhorar as condições nesse campo passa pelo investimento em medidas preventivas e pelo olhar atento ao sistema de saneamentoVedete da campanha presidencial da presidente Dilma Rous-seff (PT), o programa Mais Médicos, carro-chefe do atual governo no campo da saúde, representa uma pequena fração dos desafios a serem enfrentados nessa área pelo próximo governante. Os especialistas convergem na ideia de que é preciso ampliar a rede de unidades de Pronto Atendimento (UPAs) para atendimento de emergências de baixa e média gravidade e aumentar a rede de atendimento especializado. Mas isso não é tudo. “Além do aumento de recursos para a área, uma segunda questão é promover mudanças gerenci-ais na saúde, com mais ações preventivas de educação para tirar a pressão do sistema”, opina o cientista político Claú-dio Couto, da FGV. Em paralelo, diz ele, é preciso melhorar o sistema de saneamento e as condições sanitárias em geral. “Isso tem um impacto brutal na saúde”, conclui o sociólogo.

SAÚDE

2 A própria presidente Dilma Rousseff já reconheceu mais de uma vez que o volume de investimentos em infraestrutura no país ainda está aquém do necessário. A grande questão em 2015 será como ampliar as aplicações em estradas, ferrovias e hidrovi-as sem criar uma bomba-relógio nos gastos públicos. Afinal, um dos remédios para conter a inflação é reduzir os gastos. Para se ter uma ideia da dimensão dos volumes de recursos necessários para fazer a produção industrial e agrícola brasileira fluir, a Con-federação Nacional dos Transportes (CNT) elaborou um plano de investimentos que prevê a necessidade de injeção de R$ 987 bilhões em dois mil projetos. A entidade avalia que estão em mal estado de conservação 63,8% dos 96,7 mil quilômetros de rodo-vias federais e estaduais do Brasil. Só 10% estariam em ótimo es-tado. Para os especialistas do setor, a saída para essa conta fechar se resume a três letras: PPP, sigla para Parcerias Público-Privadas.

INFRAESTRUTURA

“As obras são muito caras. É preciso abrir mais o mercado para as empresas privadas atuarem”, avalia Cesário Ramalho, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), a mais im-portante organização do setor. “A presidente Dilma demorou para entender isso e resistiu muito. Quis impor determinadas margens de lucro. A burocracia hoje é muito grande. O próx-imo presidente precisa desafogar os portos do sul e, com isso, dar velocidade para as cargas. O Porto de Santos, por exemp-lo, está extremamente congestionado.” Para o cientista políti-co Rafael Cortez, da consultoria Tendência, a “receita” para a infraestrutura só pode ser uma: “Reforçar a concessão dos serviços públicos para a iniciativa privada. Falta espaço fiscal para o governo fazer diretamente as obras, mas o governo que-ria estabelecer um patamar de lucratividade [para as empresas]”.

Os números mostram que os dois têm razão. Entre 2012 e 2013, a parte do financiamento privado nos investimentos em infraestrutura foi de 0,22% do PIB (Produto Interno Bruto) para 0,33%. É muito pouco para dar conta de tan-tas demandas. “É preciso mudar as regras [das concessões] para torná-las mais atrativas”, avalia Cortez. “É preci-so acabar com o preconceito contra a iniciativa privada.” O economista André Perfeito advoga em favor da mesma tese. “O Brasil precisa se abrir para o capital”, afirma. Um dos entraves, porém, é o alto nível das taxas de juros. “Se o governo não gastar tanto, os juros caem. Se os juros caem, a iniciativa privada pode fazer”, ele pontua. A precariedade das estradas, a sobrecarga dos portos e a falta de uma malha ferroviária re-sultam em desperdício. Um bom exemplo é a soja. Segundo a Confederação da Agricultura Pecuária do Brasil, há um des-perdício de até 13% de soja durante o transporte até os portos.

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NACIONAL

A reforma política é um item que costuma aparecer com in-tensidade na agenda eleitoral e no primeiro ano dos gover-nos eleitos. Por falta de consenso entre os partidos políticos, as propostas inevitavelmente caem na gaveta dos gabinetes, onde repousam até a eleição seguinte. Para o próximo pres-idente tirar a reforma do papel, será preciso construir consen-sos. “O ideal é começar pelos pontos com menos resistência, como a cláusula de barreiras”, afirma David Fleisher, da UnB. Pelo dispositivo da cláusula de barreira – ou de desempenho –, só os partidos que atingirem o mínimo de 5% do total de votos para a Câmara dos Deputados teriam direito à atuação parlamen-tar em qualquer Casa Legislativa – Senado, Câmara, Assembleias e Câmaras Municipais, além do direito a uma distribuição maior do Fundo Partidário (99% dos recursos entre os partidos que al-cançarem os 5%, e 1% entre os restantes) e do tempo da Propa-ganda Partidária na TV. Outra proposta que conta com a simpa-tia dos partidos é o fim do financiamento privado de campanha.

4 REFORMA POLÍTICA

Isso significa que todos os candidatos receberiam recur-sos públicos condizentes com o tamanho do partido para fazer campanha. Para Cláudio Couto, da FGV, a adoção desse mecanismo de forma isolada não resolveria o prob-lema do caixa dois, quando as campanhas usam recursos não contabilizados junto à Justiça Eleitoral. “Acabar com o financiamento privado não resolve o problema. Meu re-ceio é abrir espaço para o financiamento privado ilegal. É preciso impor limite e algum tipo de restrição”, pontua. Para o cientista político Jairo Nicolau, professor da UERJ e especialista em sistemas eleitorais, o financia-mento público exclusivo embute alguns riscos. “O pri-meiro risco é afastar os partidos ainda mais da socie-dade. O segundo é que seja aberta mais uma avenida paraa corrupção”, afirmou em arti-go publicado no jornal O Estado de S. Paulo.

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5 Maior controle das fronteiras e mais in-vestimentos na capacitação da Polícia Feder-al são algumas das propostas apoiadas por especialistas.Embora o policiamento das cidades seja uma atribuição dos estados, cabe ao Governo Federal a complexa tarefa de articu-lar as frentes de segurança, cuidar das fronteiras (que hoje es-tão abertas à entrada indiscriminada de drogas, o que alimen-ta o tráfico; o que, por sua vez, alimenta um ciclo interminável de violência) e administrar a Polícia Federal (responsável pelo desbaratamento das máfias que parasitam a máquina pública). Além disso, é papel do presidente posicionar suas forças no Congresso e na sociedade para promover mudanças na legis-lação que levem à redução da criminalidade. “O desafio básico do próximo presidente é a redução da violência, já que o Brasil está entre os países mais violentos do mundo em várias categori-as”, afirma o coronel José Vicente da Silva Filho, ex-consultor do Banco Mundial e ex-secretário nacional de segurança pública do Governo Federal. “Uma ótima ideia seria criar o Ministério da Segurança Pública, que teria mais status para negociar com os estados a articulação e a coordenação de ações nacionais. Essa pasta agregaria a Polícia Federal, Rodoviária, a Secretaria Nacio-nal Antidrogas e o Departamento Nacional de Trânsito”, opina. Silva conta que quando estava no governo, ele não podia con-versar diretamente com os governadores sem antes falar com o ministro da Justiça. “A gente ficava disputando agenda”, revela.

SEGURANÇA PÚBLICA

“Outra medida seria criar o Sistema Único de Segurança Pública para haver integração nacional com todos os estados, o que não acontece hoje”, diz o sociólogo Aldo Fornazieri, di-retor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Pau-lo (ESP). Há ainda a necessidade urgente da ampliação do in-vestimento em capacitação e qualificação de policiais federais e estaduais e agentes de segurança pública. “A Polícia Federal tem metade do efetivo que precisa ter”, afirma Silva. Fora isso, o ex-secretário nacional de segurança advoga que o governo precisa apresentar um “pacote legislativo” para endurecer as leis, que, segundo ele, “estão muito frágeis para conter o crime”. Um terceiro ponto importante é o controle das fronteiras, que hoje é feito de maneira precária. “É preciso instalar estruturas mil-itares, radares e colocar aviões nas fronteiras. As Forças Armadas hoje não têm recursos para cuidar de áreas tão extensas”, Silva enumera. Durante a campanha, os principais candidatos prome-teram priorizar a presença do Estado em territórios vulneráveis.

Tendo um dos sistemas de arrecadação de impos-tos mais complexos do mundo, o país se vê diante do impasse de viabilizar a simplificação das tributaçõesO gasto público vem crescendo no Brasil de forma consis-tente desde 1997. A principal consequência disso é o au-mento da carga tributária, que se tornou um dos principais gargalos à competitividade das empresas brasileiras. Além disso, o sistema tributário brasileiro é um dos mais com-plexos do mundo. Para reduzir os impostos, é preciso pri-meiro simplificar o caminho pelo qual eles são obtidos. Um dos maiores especialistas sobre o tema no Brasil, o econ-omista Paulo Rabello de Castro, coordenador do Movimen-to Brasil Eficiente, tem feito nas últimas eleições uma pre-gação junto aos postulantes presidenciais com uma proposta de reforma. O primeiro passo seria simplificar a estrutura tributária sem mexer na divisão da arrecadação, já que a carga tributária brasileira não teria como ser reduzida no curto pra-zo, devido à impossibilidade do governo de apertar as contas.

REFORMA TRIBUTÁRIA+

O jeito seria partir para uma simplificação fiscal. Em outras pa-lavras, seria o mesmo que empacotar diferentes tributos que hoje recaem sobre o mesmo gerador. O principal exemplo é o Impos-to sobre Circulação de Mercadorias (ICMS), que, pela proposta de Rabello, seria transformado em um imposto nacional. Esse imposto seria arrecadado de uma só vez e redistribuído auto-maticamente nas mesmas proporções a que cada estado ou mu-nicípio envolvido na transação tem direito hoje. Politicamente falando, a reforma tributária é um tema que surge com força no começo dos ovos governos, mas vai perdendo intensidade dev-ido à falta de consenso entre as partes envolvidas. “A reforma tributária é o tipo de mudança que requer uma ampla aliança com setores variados”, diz o cientista político Cláudio Couto..

Para diminuir a probabilidade de nomeações impru-dentes, uma possibilidade é a redução do número de par-tidos e o aumento de critérios na hora de distribuir cargos Um dos temas mais debatidos durante o processo eleitoral foi o desafio da governabilidade. Seja quem for o presidente eleito, ele terá que construir uma base de apoio no Congresso Nacional para governar. Pela tradição política brasileira, essa exigência é a senha para que ocorra a abertura de um leilão por cargos. “O presidente da República tem 25 mil cargos para negociar. Isso leva ao ‘toma lá, dá cá’ entre o governo e os partidos”, detalha o cientista político David Fleisher, da Universidade de Brasília (UnB). O resultado desse “loteamento” é a ocupação de cargos estratégicos do país por políticos sem nenhuma experiência na área e, geralmente, com ambiciosos projetos de poder. No en-tanto, não há um caminho fácil para a solução do problema. “É impossível governar sem o apoio dos partidos no Congresso Nacional.

GOVERNABILIDADE

O presidente que fizer isso será alvo de chantagem”, acred-ita o sociólogo Aldo Fornazieri, diretor da Fundação Esco-la de Sociologia e Política de São Paulo (ESP). A solução, se-gundo os especialistas, seria reduzir o número de partidos do Brasil. Hoje, existem 32 siglas em funcionamento. “Com a redução do número de partidos que atuam no Congresso, a negociação ficaria mais racional e menos custosa”, avalia For-nazieri. Fleisher complementa o raciocínio. “O ideal é que o presidente governe com uma coalizão menor e convoque os melhores quadros de cada partido. Quando presidente, Itam-ar Franco (PMDB) fez isso e governou sem moedas de troca.” Outra medida corajosa seria acabar com os ministérios ent-regues com “porteiras fechadas” – quando o partido beneficia-do recebe a prerrogativa de indicar 100% dos funcionários da pasta, do ministro ao porteiro. “O presidente precisa chamar para si a responsabilidade e usar critérios de competência..

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O E S T A D O D A M Ú S I C AO novo disco do u2 marca a consolidaçãoi de uma era, mas a dúvida ainda existe, é chegado o dia em que a música nasce,

definitivamente, gratuita?

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O MAIOR LANÇAMENTO DE TODOS OS TEMPOS

Os bastidores do parto longo e doloroso - e da propagação impressionante - de Songs Os Innocence

ESPECIAL

Para algumas pessoas, foi a mais g randiosa estreia de umálbum em todos os tempos: no começo de setembro, o novo disco do U2, Songs of Innocence, apareceu de repente nas bibl iotecas de 500 milhões de usuários do iTunes.

‘ ’Uau, disse Bono no palco, durante a entrevista colet iva de im-prensa da Apple na qual a novidade foi anunciada. ‘ ’Isto é satis-fação imediata. Aconteceu mesmo?’ ’

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REVOLUCIONÁRIOTim Cook, da Apple,The Edge e

Bono no monento em que o disco do U@ chegou aopúblico.

O lançamento do disco pode ter sido quase instantâneo, mas o processo de gravação foi o mais longo do U2 – du-rante cinco anos, a banda gravou cerca de 100 músicas. Para aumentar a pressão, os integrantes estavam saindo do álbum No Line on the Horizon (2009), que gerou a turnê mais bem-sucedida de todos os tempos, mas teve mau desempenho comercial pelos padrões do quarteto. ‘’Pensei comigo mesmo: ‘Por que alguém precisaria de um novo disco do U2? Há muitos deles disponíveis’’, afir-ma Bono. ‘’Depois, quis fazer uma pergunta mais difícil:

‘‘Por que desejaríamos fazer um novo disco?’’ A banda começou a trabalhar com o produtor brian Burton, mais conhecido como Danger Mouse, e quase concluiu um ál-bum inteiro antes de começar tudo de novo. ‘’os experi-mentos daquela época foram desavergonhadamente livres e isentos de qualquer julgamento crítico’’, conta The Edge. ‘’À medida que as músicas foram ganhando foco, dava para ver que algumas qualidades características do nosso trabalho não estavam representadas no disco.’’ Um dos principais conselheiros dos integrantes nesse momento foi Jimmy Lovine, ex-chefe da Interscope Records. “Quando eles tocaram as músicas para mim da primeira vez, não ouvi faixas que incluiriam pes-soas que não são fãs do U2’’, ele diz. ‘’Ouvi letras e ide-ias que poderiam [atingir a quem não é fã], mas não canções.’’

Iovine aconselhou o grupo a cavar mais fundo.’’Fui direto com eles. Falei: ‘para fazer o álbum que querem, vocês tem de ir a um lugar onde não vivem agora. E isso machuca. É escuro e doloroso, mas é preciso ir até lá. Conseguem se colocar de volta onde estavam aos 25 ou 35 anos e o mundo vinha na direção de vocês a 150km por hora e vocês não davam a mínima, rapazes?’’Para chegar a esse ponto, Bono começou a compor canções sobre sua adolescência difícil em Dublin e as bandas que mudaram a vida dele, mais notavelmente The Clash e

Ramones. ‘’Voltei e comecei a ouvir tudo aquilo que nos fez começar uma banda de rock’’, afirma o vocalis-ta. ‘’Isso nos deu um motivo para existir novamente.’’ O resultado é o conjunto mais pessoal de canções que oU2 já lançou. ‘’Iris (Hold Me Close)’’ é uma trib-uto comovente à falecida mãe de Bono. ‘’Ela caiu no funeral do próprio pai e nunca mais falei com ela’’ ele relembra. ‘’Depois da tristeza, vem a raiva e canalizei isso para a música.’’ ‘’Song for Someone’’ é sobre se apaixonar pela esposa, Ali,que o cantor e compositor conheceu quando tinha apenas 13 anos, e ‘’Cedarwood Road’’ é uma lembrança da rua em que viveu durante a infância. ‘’O disco inteiro é sobre primeiras jornadas’’, diz Bom ‘’Geograficamente, espiritualmente, sexual-mente. E isso é difícil, mas fui até lá. Fomos até lá.’’

‘‘PODE SER GRANDE DEMAIS, MAS GOSTAMOS DE PENSAR GRANDE’’, DIZ GUY OSEARY, EMPRESÁRIO DO U2

O vocalista conta que Danger Mouse ajudous a banda a manter a simplicidade das coisas. ‘’Ele tem uma elegância natural e não se impressiona com fogos de artifício emocio-nais’’, afirma, acrescentando mais tarde: ‘’ Queríamos que o álbum tivesse músicas que se mantivessem bem quando tocadas ao violão ou piano, não dependendo das atmosferas de Edge, Adam e Larry ou da dinâmica de como tocar’’. O colaborador de longa data Flood, que trabalha com a ban-da desde The Joshua Tree (1987), estava à mão para jogar um ácido na água nos momentos certos, segundo o cantor e compositor. No último ano, enquanto Danger Mouse dava atenção para o duo dele, o Broken Bells, o U2 trouxxe o guru do OneRepublic, Ryan Tedder, e o produtor de Adele, Paul Epworth. ‘’Eles estavam igualmente viciados na noçã antiga de composição’’ revela Bono. ‘’São necessárias mui-tas pessoas parafazárias muitas pessoas para fazer um dis-co do U2. Sempre precisamos de todas as mãos à obra.’’ Com o final das gravações em vista, a banda se voltou para uma questão quase tão séria quanto: como gerar um grande impacto cultural no nível do U2 em um momento no qual as vendas de discos es-tão em baixa recorde e as rádios rock estão diminuindo.

‘’Queríamos alcançar o máximo de gente possível’’, relata o empresário do U2, Guy Oseary. ‘’Fizemos várias reuniões para ter idéias. A Apple tem centenas de milhões de contas do iTunes – dar o álbum de graça simplesmente faz sentido.’’ Há relatos de que a Apple aceitou pagar US$ 100 mil-hões ou mais em marketing,o que uma fonte próxima à banda acredita ser incorreto. ‘’não tenho idéia de onde tir-aram esse número. Acho que está errado’’ afirma. A quan-tia que a empresa pagou diretamente ao grupo continua sendo um segredo ainda maior (‘’Houve um pagamento feito à gravadora pela Apple’’ é tudo o que Oseary diz). Talvez previsivelmente, considerando que o álbum saiu para meio bilhão de pessoas, a reação a Songs of Inno-cence tem sido bastante variada - de encantamento e cu-riosidade (‘’nunca fui exatamente um grande fã, mas esse Songs of Innocence é bem massa’’, escreveu um usuário do Twitter) ao espanto (‘’ Ou alguém invadiu meu iTunes ou estou comprando discos do U2 enquanto durmo’’, postou outro) e até raiva. Depois do lançamento, a Apple recebeu tantas reclamações que disponibilizou uma fer-ramenta de software que permitia aos usuários apagar o álbum de suas contas no iCloud. Só que a equipe da banda aponta para o fato de que 17 dos discos do u2 apareceram no top 100 do iTunes nos dias seguintes ao lançamento digital. ‘’não há muito rock atualmente’’ afirma Lovine. ‘

O iTunes vai parar de dar o disco em 14 de outubro, quando a edição física chegar às lojas com faixas bônus e versões acústi-cas das músicas (que, segundo Bono, são para ‘’tentar pro-var o argumento’’ dele sobre a composição se sustentar sem grandes recursos sonoros). També há um sucessor, chamado Songs of Experience, em andamento, Bono diz que já ex-istem quase dez faixas separadas para ele. Bem no começo, ficou óbvio que estávamos trabalhando em dois álbuns difer-entes’’, conta The Edge. ‘’ A maioria das músicas inacabadas são dignas de fazer parte deSongs of Experience e algumas já são tão boas quanto ou melhores do que qualquer coisa em Songs of Innocence. Será lançado quando ficar pronto.’’Planos específicos para uma turnê não foram feitos, mas a ban-da deve pegar estrada no ano que vem. ‘’ A turnê ainda está na fase de planejamento’’, desconversa The Edge.’’ É cedo demais para descrever como será. Acho que começaremos pequeno. Com certeza não dá para ser maior do que a última turnê .’’Enquanto isso, ninguém da banda pede desculpas por mirar longe no lançamento de Songs of Innocence. ‘’A esta altura, 7% do planeta tem o álbum’’, lembra Oseary. ‘’Pode ser grande demais,mas gostamos de pensar grande.’’

ESPECIAL

OPINIÃO Acho mala receber coisa que não pedi. Mas acho engraça-do também essa celeuma com a distribuição que o U2fez, dentro de um contexto em que se exalta a propaganda à exaustão. De todo jeito, para eles é ótimo, só dá mais força para estratégia. Me sinto maltratada diariamente com todas invasões de que somos vitímas na internet. Propagandas di-recionadas, histórico gravado por empresas. Acho horrível ter uma conta de email e receber o aviso: ‘’Você escreveu a palavra anexo, mas não há anexo, deseja enviar mesmo assim?’’ Uma vez escrevi um texto chamado ‘’Estupros no teleatendimento’’. Na época, tive meu email bloquea-do por um mês, por ‘’desvio de conduta’’, depois estipu-laram um limite dos envios. Para mim, isso é uma grande invasão – preferia ter recebido o disco do U2 [risos]. Essa coisa de ‘’artista negociante’’ é sempre exaltada e, dentro desse pensamento, não seria o U2 a maior inspiração? Mas acredito também que exista um problema da opinião públi-ca com artista que fica rico, de uma maneira geral. Eu não gosto dessa coisa mercadológica exacerbada, mas quem curte deveria gostar [do lançamento de Songs of Innocence]

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30 ANOS DE GREMLINS As três décadas que nos separam do lançamento de “Gremlins” parecem irrelevantes. Tirando uma ou outra evidência tecnológica e estética de que a aventura pertence aos anos 80, o filme continua el-etrizante, divertido e levemente assustador. “Leve-mente” porque a intenção do diretor Joe Dante --aqui produzido por Steven Spielberg e trabalhando com um roteiro de Chris Columbus-- nunca foi fazer um filme de terror explícito. Com suas criaturas des-controladas e o carinho pelo cinema B, “Gremlins” é uma celebração da anarquia e da paixão pelo cinema. Na primeira metade dos a nos 80, misturar comédia e terror era um negócio mais e mais popular. Mistu-rar risadas e sustos não era novidade --”A Família Addams” já fazia isso na TV duas décadas antes. Este equilíbrio era um contraponto a produções do gênero igualmente populares, como “Sexta-Feira 13”, em que o medo vinha acompanhado de uma pil-ha de corpos. “A Hora do Pesadelo”, também lança-do em 1984, apostava em um humor negro extremo. A proposta de “Gremlins”, no entanto, era outra.hris Columbus concebeu a história inspirado no barulho constante que ratos faziam na escuridão de seu loft, emprestando o nome do termo cunha-do por soldados na Segunda Guerra Mundial que atribuiam a criaturinhas falhas mecânicas em aviões --Roald Dahl, autor de “Charlie e a Fábrica de Chocolate”, batizou um livro povoado por mon-stros anárquicos exatamente como “The Gremlins”

Steven Spielberg leu o roteiro e o comprou no ato, chamando Joe Dante para dirigir. Até então, a carreira de Dante estava associada à mais bem sucedida cópia de “Tubarão” que o cinema havia concebido: “Piranha”. Após dirigir “Grito de Horror”, filme com lobisonens que também se apoiava em humor negro, ele trabalhou ao lado de Spielberg, George Miller e John Landis em “Além da Imaginação - O Filme”. Nas mãos de outro diretor, o roteiro de “Gremlins” teria gerado uma aventura muito mais violenta e sombria. Dante limou as cenas mais pesadas e fez algo impensado: conferiu a seus mon-stros a personalidade de adolescentes bagunceiros que tocam o terror quando deixados sem supervisão. Não sem que antes eles surjam como criaturinhas fofinhas e adoráveis. É assim que o inventor Rand Peltzer (Hoyt Axton) compra, numa viagem a São Francisco, um mogwai. Peludo e fofinho, ele é o presente de Natal de seu filho, Billy (Zack Galli-gan, por quem Spielberg brigou para colocar no filme). Batizado de Gizmo, o mogwai logo se mos-tra um companheiro ideal, contanto que Billy siga três regras fundamentais: nunca expôr Gizmo à luz do Sol, nunca deixá-lo se molhar e, o mais im-portante, nunca o alimentar após a meia-noite. “O conceito era absurdo de ponta a pon-ta”, disse Dante recentemente em uma cele-bração das três décadas do filme. “Mas se você acreditasse nas regras, acreditaria no filme”

Acidentalmente molhado, Gizmo se multiplica em outros mogwai, estes com personalidade mais violenta. E alimentados após a meia-noite, as cri-aturinhas passam de bichos felpudos a monstros de dentes afiados, que na noite de Natal tocam o terror, cabendo a Billy, sua quase namorada Kate (Phoebe Cates) e a Gizmo a tarefa de salvar a cidade. O perigo real dos gremlins, que matam e de-stroem em grande escala, encontrava um con-traponto em cenas absurdas, que os colocam dançando break num bar, zombando de canções de Natal ou reunidos num cinema assistindo a “Branca de Neve e os Sete Anões”. Ainda as-sim, o filme era uma experiência mais intensa do que as aventuras juvenis da época, fazendo com que vários pais saíssem da sessão com seus fil-hos apavorados --o clímax, com o monstro-chefe derretendo ao Sol, é mesmo de assustar! Ao lado de “Indiana Jones e o Templo da Per-dição”, lançado no mesmo ano, “Gremlins” foi responsável pela criação da restrição PG-13 no cinema norte-americano: nada tão violen-to que só adultos posam assistir, nem tão ino-cente que a pivetada possa conferir sem medo.“Gremlins”, ao fim das contas, foi um suces-so. Com um orçamento de US$ 11 mil-hões --mais do que Spielberg estava dis-posto a gastar, por sinal--, ele fechou 1984 como o quarto filme de maior bilheteria.

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HOT LISTNOSSAS MÚSICAS, DISCOS E VÍDEOS FAVORITOS DO MÊS

‘‘BOOTY’’ Jennifer Lopez e Iggy Azalea - Videoclipe. A moda das músicas sobre nádegas voluptuosas está durando. Jennifer Lopez, uma das mais tradicionais representantes do movimento, não poderia ficar de fora e lançou um clipe bas-tante centrado nessa parte do corpo ao lado de Iggy. Rivaliza com ‘‘Anaconda’’

de Nicki Minaj.

12‘‘WOULD YOU FIGHT FOR MY

LOVE’’ Jack White - Videoclipe. Um encon-tro entre ex-amantes ou uma possível nova

paixão em um balcão de bar? Fica a dúvida neste quase monocromático clipe de jack White.

‘‘ALMOST LIKE THE BLUES’’ Leon-ard Cohen - Áudio. A faixa de Popular Problems, disco de Cohen que chegou ao mercado no mês passado, explora

desespero, esperança pesar e alegria em uma letra que cita algumas tragédias da vida: ‘‘tortura, matanças, minhas re-senhas negativas’’. É Cohen, aos 80 anos, em um de seus auges criativos.

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54 ‘‘JOGOS VORAZES: A ESPERANÇA - PARTE 1- Trailer. Há bastante ação ao redor de Kat-niss (Jennifer Lawrence) no novo trailer da saga. Neste novo capítulo da melhor série entre a moda de filmes focados em heróis adolescentes, a jovem continua como símbolo da revolução dos rebeldes.

‘‘MAN ON THE RUN’’ Bush- Áudio. A volta do Bush, em 2011, pode não ter tido muito fôlego, mas a banda de Gavin

Rossdale parece retornar aos eixos neste novo single. “Man on the Run’’ faz lembrar dos tempos em que o grupo tinha seu lugar criativo entre os fãs orfãos do grunge, com faixas como ‘‘Machinehed’’.