ALIMENTOS DE ORIGEM ANIMAL: CARNES BOVINA, SUÍNA, CAPRINA, AVES, PESCADOS
Contribuição para o estudo da raça caprina Serranator... · 4 RESUMO Foram utilizados registos...
Transcript of Contribuição para o estudo da raça caprina Serranator... · 4 RESUMO Foram utilizados registos...
Contribuição para o estudo da raça
caprina Serrana
Vítor Paulo de Sousa Lopes
Relatório apresentada à Escola Superior Agrária de Bragança para
obtenção do Grau de Mestre em Tecnologias da Ciência Animal
Orientador
Professor Doutor Alfredo Jorge Costa Teixeira
Co-orientador
Mestre Francisco José Sá Pereira
Bragança
2013
2
Dedico este trabalho aos meus pais e irmão
3
Agradecimentos
Não posso deixar de expressar o meu reconhecimento a todas as pessoas que de
alguma forma contribuíram para que a realização deste trabalho fosse possível.
Ao Professor Doutor Alfredo Jorge Costa Teixeira por ter acreditado em mim, e
se dispor de imediato a me acompanhar e orientar.
Ao Mestre Francisco José Sá Pereira pela disponibilidade, amizade e dedicação
com que me orientou, fornecendo-me todos os seus conhecimentos essenciais à
elaboração deste trabalho.
Aos meus pais e irmão por todo a dedicação, esforço e carinho que
transmitiram ao longo destes anos todos.
Aos meus restantes familiares pela amizade, carinho, disponibilidade e
incentivo.
A todos os meus amigos que estiverem presentes no decorrer deste árduo
percurso académico e aos restantes me acompanharam ao longo destes anos.
Ao Sr. Presidente Arménio Adérito Vaz e toda a direcção da ANCRAS pela
oportunidade e experiencia que transmitiram no decorrer do estagio.
A todos os meus colegas e amigos técnicos da ANCRAS por toda ajuda,
preocupação e experiencia que foram transmitindo ao longo do ano.
E a todos, que directa e indirectamente contribuíram para a realização deste
projecto, o meu muito obrigado.
4
RESUMO
Foram utilizados registos reprodutivos e produtivos da raça caprina Serrana
entre 2002 e 2012, com objectivo de caracterizar e avaliar as potencialidades da raça
caprina Serrana.
O estudo incidiu sobre criadores com caprinos inscritos no livro genealógico
desta raça, para a elaboração do estudo foram criados 4 grupos, consoante a dimensão,
ecótipo e localização; GRUPO I (Rebanhos ecótipo Ribatejano), GRUPO II (Rebanhos
ecótipo Serra), GRUPO III (Rebanhos ecótipo Jarmelista) e o GRUPO IV (Rebanhos
ecótipo Transmontano) a fim de calcular e comparar a evolução de diversos parâmetros
produtivos e reprodutivos ao longo da última década (2002-2012).
Foram calculados a taxa de fertilidade anual, intervalo entre partos, idade media
ao primeiro parto, taxa de prolificidade, peso vivo aos 30 e 70 dias, produção leiteira
normalizada aos 150 dias e duração da lactação para todos os grupos, para a fertilidade
anual, o grupo I (Rebanhos ecótipo Ribatejano) e grupo III (Rebanhos ecótipo
Jarmelista) possuem taxas de fertilidade anual entre os 95% e 100% no grupo II
(Rebanhos ecótipo Serra) e grupo IV (Rebanhos ecótipo Transmontano), as taxas de
fertilidade anual são de 138%.
Para a média do intervalo entre partos, os grupos I (Rebanhos ecótipo
Ribatejano) e III (Rebanhos ecótipo Jarmelista) possuem intervalos entre partos acima
dos 350 dias. Os grupos II (Rebanhos ecótipo Serra) e IV (Rebanhos ecótipo
Transmontano) possuem intervalos entre partos inferiores a 275 dias.
A idade media ao primeiro parto nos grupos II (Rebanhos ecótipo Serra) e IV
(Rebanhos ecótipo Transmontano) é de 14 meses, os grupos I (Rebanhos ecótipo
Ribatejano) e III (Rebanhos ecótipo Jarmelista) é de 17 meses.
A taxa de prolificidade para o grupo II (Rebanhos ecótipo Serra), III (Rebanhos
ecótipo Jarmelista) e IV (Rebanhos ecótipo Transmontano) possuem valores
ligeiramente abaixo (1,5) comparados com o grupo I (Rebanhos ecótipo Ribatejano) na
qual a média da taxa de prolificidade é de 1,7 para este grupo.
5
No que diz respeito o peso aos 30 dias, o grupo I (Rebanhos ecótipo Ribatejano)
(média de 7 kg) apresenta diferenças significativas em relação ao grupo III (Rebanhos
ecótipo Jarmelista) (média de 6,5 kg) e grupo IV (Rebanhos ecótipo Transmontano),
para o grupo IV (Rebanhos ecótipo Transmontano) o peso aos 30 dias é em média de
5,7 kg.
Para o peso aos 70 dias, não existem diferenças significativas entre o grupo I
(Rebanhos ecótipo Ribatejano) (média 10,8 kg) e III (Rebanhos ecótipo Jarmelista)
(média 10,5 kg), mas que estas se verificam quando comparamos com o grupo IV
(Rebanhos ecótipo Transmontano) (média 9,8 kg).
Na produção leiteira normalizada aos 150 dias, o grupo I (Rebanhos ecótipo
Ribatejano), a média da PN150D é de 297 litros. Para o grupo III (Rebanhos ecótipo
Jarmelista), verifica-se que as produções são de 224 litros. Para o Grupo IV (Rebanhos
ecótipo Transmontano), verificamos uma diminuição contínua no decorrer dos anos, a
produção máxima é atingida em 2003 com 167 litros, nos últimos cinco anos a média da
PN150D é de 110 litros aproximadamente, o grupo II (Rebanhos ecótipo Serra) só nos
anos de 2011 e 2012 existem registos que demonstram que a média para este grupo é de
115 litros.
Para a duração da lactação, o grupo I (Rebanhos ecótipo Ribatejano) apresenta
lactações com a duração media superior a 200 dias. Para o grupo III (Rebanhos ecótipo
Jarmelista), as durações das lactações são relativamente inferiores comparadas com o
grupo I, a duração média para este grupo é de aproximadamente 175 dias, por ultimo o
grupo II (Rebanhos ecótipo Serra) e IV (Rebanhos ecótipo Transmontano) são os
grupos que apresentam lactações mais baixas, a duração em média é de 145 e 160 dias
respectivamente.
6
ABSTRAT
Were used records reproductive and productive of the goat's breed “Serrana”
between 2002 and 2012, with the aim of characterizing and evaluating the potential of
goat's breed “Serrana”.
The study focused on farmers with goats entered in the studbook of the breed, to
develop this study were created four groups, depending on the size, location and
ecotype; GROUP I (herds's ecotype Ribatejano), group II (herds's ecotype Serra), group
III (herds's ecotype Jarmelista) and Group IV (herds's ecotype Transmontano) to
calculate and compare the evolution of various productive and reproductive parameters
over the last decade (2002-2012).
Were calculated the annual rate of fertility, calving interval, mean age at first
calving, rate of prolificacy, weight at 30 and 70 days, milk production normalized at
150 days and duration of lactation for all groups, to annual fertility, group I (herds's
ecotype Ribatejano) and group III (herds's ecotype Jarmelista) have annual fertility rates
among 95% and 100% in group II (herds's ecotype Serra) and group IV (herds's ecotype
Transmontano), fertility rates annual are 138%.
For the average calving interval, GI (herds's ecotype Ribatejano) and III (herds's
ecotype Jarmelista) have calving intervals above 350 days. Groups II (herds's ecotype
Serra) and IV (herds's ecotype Transmontano) have birth intervals of less than 275 days.
The average age at first calving in groups II (herds's ecotype Serra) and IV
(herds's ecotype Transmontano) round on average 14 months, the groups I (herds's
ecotype Ribatejano) and III (herds's ecotype Jarmelista) is approximately 17 months.
The prolificacy rate for group II (herds's ecotype Serra), III (herds's ecotype
Jarmelista) and IV (herds's ecotype Transmontano) have values slightly below (1,5)
compared with group I (herds's ecotype Ribatejano) in which the average rate
prolificacy is 1,7 for this group.
7
Regarding the weight at 30 days in group I (herds's ecotype Ribatejano) (average
of 7 kg) shows significant differences compared to group III (herds's ecotype
Jarmelista) (mean 6,5 kg) and group IV (herds's ecotype Transmontano) for group IV
(herds's ecotype Transmontano) the P30 is on average 5,7 kg .
For weight at 70 days, there are no significant differences between group I
(herds's ecotype Ribatejano) (mean 10,8 kg) and III (herds's ecotype Jarmelista) (mean
10,5 kg), but these differences occur when compared with group IV (herds's ecotype
Transmontano) (average 9,8).
In the standard milk production at 150 days, group I (herds's ecotype
Ribatejano), the average of PN150D is 297 liters. Group III (herds's ecotype Jarmelista),
it is found that the production are 224 liters. To Group IV (herds's ecotype
Transmontano), we find a continuous decrease over the years, the maximum production
is reached in 2003 with 167 liters, in the last five years the average of PN150D is
approximately 110 liters, group II (herds's ecotype Serra) only in the years 2011 and
2012 there are records that show that the average for this group is 115 liters.
For the duration of lactation, group I (herds's ecotype Ribatejano) presents
lactations with average length exceeding 200 days. For group III (herds's ecotype
Jarmelista), the durations of lactation are relatively lower compared to group I, the
average for this group is approximately 175 days, for the last group II (herds's ecotype
Serra) and IV (herds's ecotype Transmontano) are the groups with lower duration of
lactation, the length is on average of 145 and 160 days, respectively.
8
Índice Quadros
Pág.
QUADRO I- Censo mundial de gado caprino por áreas geográficas (2002-2011)….. 16
QUADRO II- Efectivo caprino nos principais países Europeus…………………….. 17
QUADRO III- Estrutura e distribuição regional do efectivo caprino (2010-2011)…. 19
QUADRO IV- Resumo das características reprodutivas raça Serrana………………. 25
QUADRO V- Média do efectivo por grupo………………………………………….. 43
9
Índice Figuras
Pág.
FIGURA I- Distribuição do efectivo Serrano……………………………………….. 22
FIGURA II- Macho Ecótipo Transmontano………………………………………... 23
FIGURA III- Ecótipo Serra…………………………………………………………. 23
FIGURA IV- Ecótipo Ribatejano…………………………………………………… 23
FIGURA V- Ecótipo Jarmelista…………………………………………………….. 23
FIGURA VI- Rebanho Ecótipo Transmontano…………………………………….. 29
FIGURA VII- Rebanho Ecótipo Serra……………………………………………… 30
FIGURA VIII- Rebanho Ecótipo Ribatejano………………………………………. 31
10
Índice Gráficos
Pág.
GRÁFICO I- Evolução do efectivo caprino em Portugal…………………………… 18
GRÁFICO II- Distribuição regional do efectivo caprino 2011…………………….. 19
GRÁFICO III- Evolução de efectivo Serrano inscrito no LG……………………… 36
GRÁFICO IV- Evolução do número de criadores activos no LG…………………... 37
GRÁFICO V- Evolução da taxa de fertilidade anual (%)…………………………… 44
GRÁFICO VI- Evolução das médias de intervalos entre partos (Dias)…………….. 45
GRÁFICO VII- Evolução da idade média ao 1º Parto……………………………… 46
GRÁFICO VIII- Evolução da taxa de prolificidade média por grupo……………… 47
GRÁFICO IX- Evolução da média do peso aos 30 dias……………………………. 49
GRÁFICO X- Evolução da média do peso aos 70 dias…………………………….. 50
GRÁFICO XI- Evolução da produção leiteira normalizada aso 150 dias………….. 51
GRÁFICO XII- Evolução da duração da lactação (Dias)………………………….. 52
11
Lista de abreviaturas e siglas
%- Percentagem (por cento)
ANCRAS- Associação Nacional de Caprinicultores da Raça Serrana
AND- Ácido desoxirribonucleico
DOP- Denominação de Origem Protegida
DGAV- Direcção Geral de Alimentação e Veterinária
FAO- Food and Agriculture Organization of the United Nations
FAOSTAT- Food and Agriculture Organization of the United Nations Statistics
GMD- Ganho Médio Diário
IGP- Indicação Geográfica Protegida
INE- Instituto Nacional de Estática
INRB- Instituto Nacional de Recursos Biológicos
Kg- Quilogramas
l- Litros
LG- Livro Genealógico
LG A- Livro Genealógico Adulto
P30- Peso Vivo aos 30 Dias de Idade
P70- Peso Vivo aos 70 Dias de Idade
PN150D- Produção Normalizada aos 150 Dias
12
Índice
Pág.
I – INTRODUÇÃO…………………………………………………………… 15
II - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA…………………………………….. 16
1 – CAPRINICULTURA………………………………………………… 16
1.1- A CAPRINICULTURA MUNDIAL……………………………. 16
1.2- CAPRINICULTURA NA EUROPA……………………………. 17
1.3- A CAPRINICULTURA EM PORTUGAL……………………… 18 1.4- ESTRUTURA E DISTRIBUIÇÃO DO EFECTIVO
CAPRINO NO TERRITÓRIO PORTUGUÊS………………….. 19
2– A CABRA……………………………………………………………….. 20
2.1- ORIGEM DA RAÇA CAPRINA SERRANA………………………. 21
2.2 – ÁREA GEOGRÁFICA…………………………………………….. 21
2.3 – CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS……………………….. 22
2.4 – PARÂMETROS REPRODUTIVOS………………………………. 24
2.4.1 – Idade à puberdade…………………………………….. 24
2.4.2- Fertilidade e Prolificidade……………………………… 25
2.5 – PARÂMETROS PRODUTIVOS……………………………………. 25
2.5.1 – Produção de Leite…………………………………….. 26
2.5.2– Factores que influenciam a produção leiteira………… 26
2.5.3 – Produção de Carne…………………………………..... 27
3-SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO……………………………………… 28
3.1- SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO NA RAÇA SERRANA………........ 29
13
4- PROGRAMA DE SELECÇÃO E MELHORAMENTO
GENÉTICO DA RAÇA SERRANA……………………………….... 31
III – MATERIAL E MÉTODOS……………………………………..... 34
1 – OBJECTIVOS DO TRABALHO………………………………….. 34
2– ACÇÕES DESENVOLVIDAS PELA ANCRAS……………...... 35
3– CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS EXPLORAÇÕES………. 36
3.1 – EVOLUÇÃO DO EFECTIVO CAPRINO SERRANO
INSCRITO NO LIVRO GENOLÓGICO ADULTO (LG A)………… 36
3.2 – EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE CRIADORES ACTIVOS
INSCRITOS NO LIVRO GENEALÓGICO………………………….. 37
3.3 – CARACTERIZAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES EM ESTUDO…. 38
4– RECOLHA DE DADOS EM ESTUDO…………………………... 41
5– METODOLOGIA UTILIZADA PARA O CÁLCULO DOS
PARÂMETROS REPRODUTIVOS E PRODUTIVOS………….. 41
5.1 - PARÂMETROS REPRODUTIVOS……………………………. 41
5.1.1- Fertilidade anual………………………………………. . 41
5.1.2-Prolificidade…………………………………………….. 41
5.2 - PARÂMETROS PRODUTIVOS………………………………... 42
5.2.1-Peso vivo dos cabritos aos 30 e 70 dias e ganho médio
diário (kg)……………………………………………………... 42
5.2.2-Duração da lactação (dias) e produção leiteira aos 150 dias
(litros)………………………………………………………….. 42
14
IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS………………………………………………………………… 43
1 – EFECTIVO CAPRINO TENDO POR BASE OS GRUPOS
ESTUDADOS……………………………………………………………… 43
2 – ÍNDICES REPRODUTIVOS DOS GRUPOS
EM ESTUDO……………………………………………………………… 43
2.1- TAXA DE FERTILIDADE ANUAL…………………………… 44
2.2- MÉDIAS DE INTERVALOS ENTRE PARTOS………………. 45
2.3- IDADE MÉDIA AO 1º PARTO………………………………… 46
2.4- TAXA DE PROLIFICIDADE…………………………………… 47
3 – ÍNDICES PRODUTIVOS DOS GRUPOS EM ESTUDO........ 48
3.1- CRESCIMENTO DOS CABRITOS…………………………….. 48
3.2- PESO AOS 30 E 70 DIAS……………………………………….. 48
3.2.1 Média do peso aos 30 dias………………………………. 49
3.2.2 Média do peso aos 70 dias………………………………. 50
3.3- PRODUÇÃO LEITEIRA NORMALIZADA AOS 150 DIAS
(PN150D)……………………………………………………………… 51
3.4- DURAÇÃO DA LACTAÇÃO………………………………….. 52
V – CONCLUSÃO…………………………………………………………… 54
VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS………………………. 56
15
I – INTRODUÇÃO
O efectivo da raça Serrana representa cerca de 45% do efectivo caprino nacional,
inscrito em Livros genealógicos, pelo que apresenta uma grande importância na
economia regional e nacional. O sistema de exploração actual, baseado no pastoreio de
percurso, proporciona aos animais uma alimentação diversa, o que contribui para a
obtenção de produtos de elevada qualidade.
Destes, destacamos os produtos com Denominação de Origem Protegida (DOP):
“Cabrito Transmontano” e “Queijo de Cabra Transmontano” e os produtos com
Indicação Geográfica Protegida (IGP); “Cabrito do Barroso”, “Cabrito do Caramulo”,
“Cabrito das Terras Altas do Minho” e “Cabrito da Beira”.
Desde 1986, o estado português, através da Direcção Geral de Veterinária, apoia
os planos de selecção das raças autóctones, tendo em vista melhorar a produtividade das
raças nacionais e, desta forma, aumentar a sua competitividade fase a raças exóticas. O
programa de selecção e de melhoramento tem permitido aumentar, apesar de forma
muito lenta, a produção das cabras de raça Serrana. Esta evolução lenta está,
necessariamente, associada aos estrangulamentos que a fileira enfrenta, nomeadamente
o sistema de produção extensivo e a reduzida capacidade de organização dos criadores.
O plano de melhoramento genético da raça Serrana é essencial para valorizar
esta raça e para a proteger da substituição por outras raças exóticas, teoricamente mais
produtivas. A ANCRAS tem interesse em desenvolver e implementar um plano de
selecção e de melhoramento atractivo para os produtores, que visem melhorar os
resultados económicos das suas explorações. De facto, estes têm um papel vital para o
processo de desenvolvimento da raça caprina Serrana, aceitando a introdução de novas
técnicas e tecnologias para que o progresso genético seja efectivo e mais rápido
(Pereira, 2012)
O sistema de recolha de dados é uma ferramenta essencial para o apoio à tomada
de decisões de maneio, bem como para o programa de selecção e de melhoramento
genético da raça. Assim este trabalho tem como principal objectivo o estudo geral da
raça caprina Serrana, bem como a sua área de dispersão, o modo como é explorado e
algumas das suas principais características e aptidões produtivas e reprodutivas e a sua
evolução, através da análise dos dados constantes na base de dados da raça.
16
II - REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
1 – CAPRINICULTURA
1.1 – A CAPRINICULTURA MUNDIAL
QUADRO I: Censo mundial de gado caprino por áreas geográficas (2002-2011)
Área
Geográfica América Europa Ásia África Oceânia
2002
(milhões de cabeças)
36 187 103 18 213 873 463 394 662 254 741 535 3 218 810
2005 37693 417 18 310 600 499 386 222 280 112 772 3 853 780
2008 37 507 527 17 818 678 516 924 635 301 221 954 3 618 341
2011 37 678 479 17 072 238 539 178 357 276 684 030 4 917 080 FONTE: FAOSTAT,2013
Observando o QUADRO I verificamos que no decorrer da última década
segundo os dados da FAOSTAT (Food and Agriculture Organization Corporate
Statistical Database), o continente detentor de maior efectivo caprino é a Ásia seguido
pela África. Observamos um crescimento de efectivo de aproximadamente 14,06%
(75 783 691 cabeças) em relação a Ásia desde 2002 a 2011. No que diz respeito a
Oceânia observa-se um crescimento de 34,54% (1 698 270 cabeças) desde 2002 até
2011, na Europa o efectivo tem diminuído no decorrer da última década com a perda de
aproximadamente 6,27% (1 141 635 cabeças) do efectivo em relação a 2002.
O continente Americano não tem sofrido alterações acentuadas no efectivo na
última década, o número de cabeças é regular desde inícios de 2005 até 2011 como
podemos verificar no QUADRO I, por último, o continente Africano apresenta um
crescimento acentuado de 15,44 % (46 480 419 cabeças) desde início de 2002 ate 2008,
de seguida apresenta um decréscimo de efectivo na ordem 8,15% (24 537 924 cabeças).
17
1.2 – CAPRINICULTURA NA EUROPA
QUADRO II: Efectivo caprino nos principais países Europeus
ÁREA GEOGRÁFICA 2002 2005 2008 2011
Portugal 561 000 475 000 433 000 412 700
Espanha 3 046 720 2 904 690 2 959 300 2 693 100
França 1 231 560 1 224 760 1 283 120 1 382 120
Reino Unido 74 784 92 000 92 000 85 000
Grécia 5 180 000 5 509 230 5 345 620 4 791 000
Itália 1 025 000 977 984 920 000 982 918
Alemanha 160 000 170 000 190 000 160 000
Holanda 232 000 300 000 355 000 380 350 FONTE: FAOSTAT,2013
Observando o QUADRO II, verificamos que a Grécia é o país detentor de maior
efectivo caprino, tendo apresentado decréscimo significativo nos últimos anos de 7,57%
(389 00 cabeças), a Espanha posiciona-se em segundo lugar apresentando também uma
queda acentuada de 11,61% (353 620 cabeças) do efectivo desde 2002 ate 2011.
A frança apresenta um crescimento de efectivo uniforme na última década na
ordem dos 10,90%, nos restantes países observam-se decréscimos contínuos do efectivo
a excepção da Holanda que nos últimos anos têm vindo a aumentar o efectivo caprino
na ordem dos 39% do efectivo em 2002.
Segundo a FAOSTAT, Portugal na última década tem vindo a perder grande número
do efectivo, como podemos observar no QUADRO II desde o início de 2002 ate 2011
apresenta um decréscimo na ordem dos 26,64% (148 300 cabeças) e a tendência futura
aponta para um decréscimo contínuo.
18
1.3 – A CAPRINICULTURA EM PORTUGAL
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (I.N.E,2013), a evolução do efectivo caprino
em Portugal desde 2002 até 2011 foi a seguinte:
Segundo os dados publicados pelo I.N.E, e no que se refere ao efectivo caprino,
o valor aproximado para 2002 é 561 000 cabeças, nos últimos anos como podemos
verificar no gráfico têm ocorrido um decréscimo contínuo de efectivo na ordem dos
2,5% anuais, no ano de 2011 o número de cabeças ronda os 412 700.
Segundo análise do GRÀFICO I em Portugal, o efectivo caprino tem diminuído
nas últimas décadas e a tendência futura aponta para um decréscimo contínuo. Em
relação ao número de caprinicultores a situação é igualmente preocupante pois o
número de pessoas que abandonam a actividade é maior do que seria desejável.
0
100000
200000
300000
400000
500000
600000
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011
Nº
An
imai
s
Ano
GRÁFICO I: Evoluçao do efectivo caprino em Portugal
FONTE: I.N.E,2011
19
1.4 – ESTRUTURA E DISTRIBUIÇÃO DO EFECTIVO CAPRINO NO
TERRITÓRIO PORTUGUÊS
QUADRO III: Estrutura e distribuição regional do efectivo caprino (2010-2011)
GRÁFICO II: Distribuição regional do efectivo caprino 2011
FONTE: Anuário Agrícola 2012
FONTE: Anuário Agrícola 2012
1000 Cabeças
20
Através da análise do QUADRO III e o GRÁFICO II, o Alentejo é a região mais
representativa, detendo 26,26% do efectivo em 2011. A beira interior aparece em
seguida com um peso 16,0%, o mesmo acontece em Trás-os-Montes (12,6%), Ribatejo
e Oeste (12,6%) e Beira Litoral (12,8%).
2 – A CABRA
Toda a história antiga, a mitologia, a arqueologia, estão cheias de referências à cabra
como animal companheiro e colaborador do Homem fazendo parte integrante da sua
existência e trajectória (Vieira de Sá,1978)
Para este autor, é controverso o verdadeiro berço da cabra pré-histórica, mas o facto
certo é o da existência, já nessa época de três troncos:
- O tronco asiático ou capra prisca ou falconeri
- O tronco europeu ou capra aegagrus
- O tronco africano ou capra nubiana
A classificação taxonómica dos animais da espécie caprina é a seguinte:
Classe: Mammalia; Ordem: Ungulata; Sub-ordem: Artiodactila; Família: Bovidae;
Sub-família: Ovinae; Género: Capra e Especie: Capra Hircus
No que diz respeito a Portugal, os caprinos domésticos descendem da cabra dos
Pirinéus pertencente ao tronco europeu “ capra pyrenaica” (Castello Branco,1986)
21
2.1- ORIGEM DA RAÇA CAPRINA SERRANA
A origem da raça caprina Serrana é particularmente difícil de determinar, tudo
indica que as raças caprinas portuguesas tenham tido a sua origem nos três tipos de
cabras selvagens do período quaternário. Ao longo do tempo e devido a ondas
migratórias das cabras selvagens através das cadeias montanhosas, estas cabras foram
sucedidas na Península Ibérica pela Capra pyrenaica (Fonseca,1988).
Aceita-se actualmente que a raça Serrana seja originária da Serra da Estrela e
proceda da Capra pyrenaica, ou cabra dos Pirinéus, pertencente ao tronco europeu e
antecessora das raças caprinas portuguesas e espanholas (Fonseca,1988).
2.2 – ÁREA GEOGRÁFICA
A raça Serrana é a mais representativa das raças caprinas portuguesas,
constituindo cerca de 45% do efectivo caprino nacional, sendo a sua área de dispersão,
mais de metade do território continental português (Almendra,1994).
Há muitos anos, da serra da Estrela a cabra Serrana expandiu-se em várias
direcções. Chegou a Trás-os-Montes, expandiu-se pelas Beiras, chegou até ao Ribatejo e
à Estremadura e à península de Setúbal. Seleccionada pelo gosto do caprinicultor e
adaptada ao clima e geografia de cada região “nasceram” os quatro ecótipos:
Transmontano, Jarmelista, da Serra e Ribatejano. Destes, o da Serra está em vias de
extinção existindo ainda alguns animais dispersos em rebanhos de ovelhas na Serra da
Estrela (Almendra,1994).
22
FIGURA I: Distribuição do efectivo Serrano
Encontra-se praticamente em todo o país, considerando-se uma raça com
enormes potencialidades produtivas e com muitas possibilidades de expansão, devido a
sua apreciada capacidade de adaptação ao meio, índices produtivos e reprodutivos muito
satisfatórios em sistemas de exploração extensivos (Almendra, 1996).
2.3 – CARACTERÍSTICAS MORFOLÓGICAS
A raça Serrana encontra-se completamente adaptada ao meio onde esta inserida,
principalmente por ser uma raça de animais bastante rústicos. O protótipo racial, que
consta do Regulamento do Registo Zootécnico da raça (Artigo 6º), é o seguinte:
-Aspecto Geral: Estatura mediana, aptidão predominantemente leiteira. É uma cabra de
estatura média, com uma altura de 64 cm na cernelha.
-Pelagem: É a única raça caprina autóctone de pelos compridos. A pelagem pode ser
preta (ecótipo da Serra e Ribatejano), castanha escura (ecótipo Ribatejano), castanha
(ecótipo Jarmelista) ou ruça (ecótipo Transmontano). Os cabos podem ser pretos
(ecótipos da Serra e Transmontano) ou castanhos (ecótipos Jarmelista e Ribatejano). As
cabras do Jarmelo apresentam duas listas na face de cor castanha mais clara que a
pelagem; nas ribatejanas estas listas podem aparecer ou não. A pelagem pode-se ainda
apresentar castanha/amarela nas regiões do abdómen e orelhas.
FONTE: Ruralbit, 2013
23
-Cabeça: grande, comprida, de perfil subcôncavo, frente ampla e ligeiramente
abaulada; face triangular; chanfro largo, rectilíneo e com depressão na união com o
frontal, focinho fino; boca pequena e lábios finos; orelhas relativamente curtas e
horizontais, cornos de secção triangular, rugosos, dirigidos para trás em forma de sabre,
com hastes paralelas ou divergentes, ou ligeiramente dirigidas para trás, divergentes ou
espiraladas.
-Pescoço: Comprido, mal musculado, bordos rectilíneos com ou sem brincos.
FIGURA II: Macho Ecótipo Transmontano
FIGURA III: Ecótipo Serra
FIGURA IV: Ecótipo Ribatejano FIGURA V: Ecótipo Jarmelista
Fonte: ANCRAS,2012 Fonte: ANCRAS,2012
Fonte: ANCRAS,2012 Fonte: ANCRAS,2012
24
-Tronco: Linha dorso-lombar quase direita ou ligeiramente oblíqua, dorso e rins
descarnados e rectilíneos; garupa descaída, cauda curta e arrebitada. Tronco
ligeiramente arqueado; abdómen desenvolvido;
-Úbere: Bem desenvolvido, globoso, por vezes pendente de fundo de saco; tetos
pequenos e cónicos dirigidos para a frente ou levemente para os lados.
-Membros: Finos, resistentes, com unhas pequenas e rijas.
(Artigo 2º)
O livro Genealógico da raça caprina Serrana, tem por fim assegurar a pureza
desta raça, concorrer para o seu progresso zootécnico e favorecer a difusão de bons
reprodutores
2.4 – PARÂMETROS REPRODUTIVOS
A reprodução influi consideravelmente nas produções pecuárias e
consequentemente na economia das explorações.
As cabras são animais poliéstricos que durante a época reprodutiva manifestam
comportamento de cio em intervalos regulares, apresentando o ciclo éstrico uma
duração média de 21 dias, com manifestações de cio e sinais mais evidentes dessa fase
reprodutiva durante 1 a 2 dias (Russel e Mowlem,1988).
São feitas referências á cabra Serrana como sendo uma poliéstrica permanente
(Almendra,1996), embora outros (Mascarenhas et al.,1993 e 1995) afirmem que esta
apresenta um período de anestro estacional desde final de Janeiro a Maio.
2.4.1 – Idade à puberdade
A puberdade é a idade à qual os animais atingem o estatuto adulto, adquirindo a
capacidade de se reproduzirem. Nas espécies sazonais, como a cabra, esta idade varia
segundo a época de nascimento, pois está sujeita á acção inibidora ou estimulante do
25
fotoperíodo (Land,1978 cit. Pr Mascarenhas, 1988). Para o mesmo autor as chibas
nascidas no Outono e princípio do Inverno atingem a puberdade durante o Verão ou
Outono seguintes, enquanto as chibas nascidas no fim do Inverno e na Primavera só
atingem a maturidade sexual geralmente no segundo Outono.
2.4.2- Fertilidade e Prolificidade
A fertilidade, entendida como a capacidade de produzir descendência com boa
vitalidade, a prolificidade exprime o número de crias viáveis em cada parto, dependem
em grande escala de factores intrínsecos ao animal. Do peso dos factores intrínsecos
resulta a diferença de fertilidade entre espécies, raças e indivíduos (Simões, 1984).
QUADRO IV: Resumo das características reprodutivas raça Serrana
Parâmetros Reprodutivos Valor
Taxa de fertilidade
Taxa de prolificidade
Taxa de fecundidade
90-95%
170-180%
150-160%
Fonte: Adaptado ANCRAS,2001
A fertilidade ao parto deve aproximar-se, sempre que possível, aos 100%. A
selecção é muito importante para se obter uma alta prolificidade, já que o nascimento de
um grande número de crias é um dos aspectos que mais pode contribuir para o avanço
do melhoramento genético dos rebanhos. Os partos gemelares favorecem uma maior
produtividade, no entanto é fundamental que se garanta a sobrevivência e o
desenvolvimento ponderal das crias, o que implica uma análise das condições do
ambiente. A fertilidade e a prolificidade são influenciadas significativamente pelo
ambiente, pelo genótipo e pela ordem de parto (Simões, 1996).
2.5 – PARÂMETROS PRODUTIVOS
A aptidão da raça caprina Serrana é mista (leite/carne). A importância leiteira
varia em função da região e ecótipo, como se sabe os preços dos produtos influenciam
directamente o objectivo de produção da exploração caprina.
26
2.5.1 – Produção de Leite
De ponto de vista quantitativo, a produção mundial de leite de cabra tem uma
importância reduzida, no entanto, do ponto de vista qualitativo, tem um papel muito
destacado por duas razões: a maior parte destes leites é transformada em produtos de
alto valor acrescentado, principalmente queijos, de tal forma que nas economias de
subsistência, a produção de leite de cabra é uma das principais fontes de proteína animal
(Buxade,1996).
A raça caprina Serrana é de fácil maneio e com elevada capacidade de adaptação
ao meio envolvente, possui grandes potencialidades genéticas de boa produtora de leite,
mesmo em condições de alimento escasso. Na produção de leite desta raça encontra-se
grandes variações, o que reflecte por um lado a variabilidade genética da raça e por
outro, o sistema de produção tradicional, dependente da região da exploração
(Almendra,1996)
2.5.2 – Factores que influenciam a produção leiteira
Segundo Sá (1990), existem vários factores que influenciam a produção de leite,
podendo assim estes, serem de várias naturezas:
- Natureza alimentar
- Natureza sexual
-Duração da lactação
-Numero de lactações
-Período da Lactação
Para este autor, estes factores estão intimamente ligados, e nunca poderão ser
dissociados.
Quanto a primeira, a lactação é o resultado do parto que deve ser numa época
que garanta a produção de erva, que possa não só alimentar a cabra em produção, como
os cabritos que a pouco a pouco vão entrando nos hábitos de ruminante, exigindo uma
erva de qualidade. São assim dois factores associados pela própria natureza,
considerando que sendo as cobrições feitas no Outono, as parições vêm a efectuar-se no
início da Primavera, quando os pastos começam a reverdecer (Sá,1990).
27
Sales (1978), diz ainda que a alimentação para além de influir na quantidade de
leite produzida, é factor determinante na sua composição e qualidade, em primeiro lugar
devido à quantidade de água contida nos alimentos e por outro lado, devido às
propriedades especiais dos alimentos que a constituem. Com uma alimentação seca, o
leite que dá o animal é pouco abundante, do qual a gordura se separa com dificuldade,
se alimentação for ao contrário, excessivamente húmida, a cabra dá mais leite, mas este
contem menos gordura (Sales,1978).
Quanto á duração da lactação, se a cobrição for muito tardia as parições vêm a
efectuar-se muito tarde, resultando daí que a aproximação do período de seca leva a
queda da produção e consequentemente a duração da lactação, com prejuízo grave para
as quantidades produzidas no total da lactação. Por essa razão, a antecipação da
cobrição pode alargar consideravelmente o período de lactação, mas neste caso será
necessário prever a existência de bons fenos e silagem para o momento das parições que
vêm a efectuar-se em pleno Inverno, e daí penúria absoluta de pastos.
Os desvios entre as parições antecipadas e as muito tardias podem levar a
diferenças de 80 dias, ou seja, cerca de 250 dias para 170 dias de duração, o que pode
significar diferenças de produção (Sá,1990).
O número de lactações também tem grande influência na produção. Na
primeira lactação a produção é geralmente menor, sobe na 2ª e 3ª lactação, mantendo-se
idêntica na 4ª e muitas vezes na 5ª, a partir da qual a produção começa a baixar muito
acentuadamente (Sá,1990).
No que se refere ao período de lactação, Sá (1990) diz que após a parição, a
produção sobe no 1º mês, mantendo-se a esse nível nos dois meses seguintes, para
depois decrescer mais ou menos rapidamente conforme a qualidade leiteira da cabra e
outros factores que já foram anteriormente referidos.
2.5.3 – Produção de Carne
Em relação á produção de carne, a principal fonte é proveniente do cabrito, com
30 a 60 dias de idade e com 6 a 10 kg de peso vivo, correspondendo a um peso limpo de
3,5kg a 6,5kg. O rendimento de carcaça dos cabritos situa-se entre 58-65%, para o
28
rendimento de carcaça dos adultos obtém-se valores entre 40-42%. O crescimento dos
cabritos varia em função do ecótipo e região, apresentando valores de ganhos médios
diários entre 90 a 120 g/dia em sistemas extensivo tradicional (Almendra,1996).
Jardim (1987) refere, para que um cabrito produza carne saborosa, é necessário
que mame pelo menos durante um mês, pois antes dá um produto insipido e gelatinoso.
A melhor carne é a do cabrito entre dois e três meses de idade, nesta altura já comeu
pasto tenro e alimentos concentrados após o aleitamento, assim a carne é mais macia,
suculenta e saborosa.
A procura de carne de cabrito mostra-se sazonal em diversas regiões do país,
influenciando os preços, que atingem os seus picos mais altos em períodos festivos,
associados às celebrações religiosas como o Natal e Páscoa. No entanto noutras regiões,
a carne de cabrito é servida á mesa nos restaurantes em qualquer época do ano como
produto gourmet (Bernades,2003).
Em Portugal, como forma de valorizar o cabrito das raças autóctones, sendo um
produto tradicional promoveu-se a certificação do cabrito como denominação de
origem, com objectivo de responder á procura de produtos com qualidade assente em
factores naturais, uma vez que muitos consumidores começam a procurar produtos de
qualidade, preferindo pagar pela qualidade ligada a uma origem e um “saber fazer”
naturalmente e historicamente conhecidos (DGDR,2002).
3 – SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO
A espécie caprina de todas as espécies pecuárias é a que mais tem resistido à
absorção pelos métodos civilizados de coexistência e produção que tanto tem
influenciado a vaca, o porco a avicultura e ate a ovelha ou coelho.
A cabra dotada de um apetite devorador e de uma mobilidade acrobática quase
inconcebível, é contudo, um animal dócil, sociável e pacífico, susceptível de uma
conduta irrepreensível, sempre que o criador adopte para com ela critérios civilizados de
convivência (Sá, 1990).
Segundo o mesmo autor, na adopção correcta do sistema de exploração da cabra,
reside o problema mais sensível do seu enquadramento económico, ecológico-agrícola e
29
silvícola. Para esta opção é necessário contar com diversas hipóteses, como sejam, a
existência de baldios, de terras de charneca e matas, de pastagens herbáceas e outras
fontes de alimentação grosseira, devendo ter-se em conta as reais necessidades
alimentares dos animais, as quais, seja qual for o sistema seguido, terão de ser satisfeitas
e dar respostas às capacidades produtivas que se desejam alcançar.
3.1 – SISTEMAS DE EXPLORAÇÃO NA RAÇA SERRANA
Os sistemas de produção variam em função da região em que a cabra serrana é
explorada e dentro de cada região variam em função das condições edafo – climáticas
(montanha, vales sub-montanos, planalto, etc.), da tradição de exploração local e da
valorização monetária dos produtos e da sua facilidade de comercialização (Monteiro et
al.,2005).
Podemos, no entanto dizer, em traços gerais, que o sistema de produção é o
extensivo tradicional na região de Trás-os-Montes, sem cobrições controladas, com
partos ao longo do ano e por vezes a mesma cabra a parir duas vezes por ano, fazendo
um percurso diário na procura de alimento, por montes e vales, sem suplementação
alimentar nas corriças. No inverno podem recorrer a ferrãs. Os cabritos são criados
exclusivamente com o leite materno e são abatidos por volta das seis a oito semanas
(Monteiro et al.,2005)
FIGURA VI: Rebanho Ecótipo Transmontano.
Fonte: ANCRAS
30
O ecótipo Jarmelista e Serra são explorados de uma forma extensiva melhorada,
é utilizada a cobrição controlada por monta natural, apresentando um parto anual,
normalmente na época de Setembro/Outubro, com percurso em zonas de montanha, mas
em que existe um grau de suplementação alimentar na corriça (DGAV,2012).
FIGURA VII: Rebanho Ecótipo Serra.
Estas, na sua generalidade, são como as corriças em Trás-os-Montes, tradicionais, em
pedra (aqui de granito além de xisto) com fraca luminosidade e arejamento. Os cabritos
são criados exclusivamente com o leite materno e são abatidos por volta das quatro a
oito semanas (Tuna,1989).
As cabras Serranas Ribatejanas percorrem terrenos de melhor qualidade
aproveitando os subprodutos de diversas culturas. É utilizada a cobrição controlada por
monta natural, apresentam um parto anual, normalmente na época de Setembro/Outubro
e são suplementadas na corriça. O sistema pode-se considerar como extensivo
melhorado, possuindo o cabreiro terrenos de apascentação próprios ou arrendados. Os
cabritos são criados exclusivamente com o leite materno e são abatidos por volta das
quatro a oito semanas. As instalações na região do Ribatejo são de uma forma geral
aproveitamentos de instalações já existentes, com melhores condições de luminosidade
e arejamento em relação às outras duas regiões, possuindo muitas delas salas de ordenha
mecânica (DGAV,2012).
Fonte: ANCRAS
31
FIGURA VIII: Rebanho Ecótipo Ribatejano
4 – PROGRAMA DE SELECÇÃO E MELHORAMENTO
GENÉTICO DA RAÇA SERRANA
Esta espécie animal possui um atributo de enorme importância ao conseguir
sobreviver e ainda produzir em regiões de climas adversos. É razão fundamental da sua
boa resposta à intensificação, pois se consegue produzir em sistemas de exploração em
que as carências alimentares predominam e o maneio reprodutivo é incorrecto e
desajustado às disponibilidades alimentares e necessidades fisiológicas, quando se
melhora globalmente o sistema de produção é natural que a capacidade produtiva do
animal se manifeste, com um aumento significativo da produção (Cardigos,2001).
Os caprinos apresentam uma elevada eficiência na produção de leite que associada
ao elevado valor nutritivo e dietético do leite e do queijo, tem incentivado a
intensificação das explorações de caprinos (Cardigos,2001).
O melhoramento genético é uma peça fundamental no aumento do rendimento dos
caprinicultores, pela via de intensificação; há que melhorar a qualidade e aumentar a
Fonte: ANCRAS
32
quantidade de leite produzido por animal, assegurando simultaneamente a manutenção
dessas características melhoradas, trabalhando em raça pura (Cardigos,2001).
Segundo Cardigos (2001), existem factores tecnológicos fundamentais que ao
serem melhoradas irão influir directa e positivamente no aumento do rendimento
económico das explorações, o desenvolvimento da produção caprina da raça Serrana
passa então pelos seguintes factores tecnológicos:
- Optimização dos recursos naturais;
- Base fisiológica e produtiva dos animais;
- Capacidade de adaptação ao meio;
- Sistema de produção
- Escolha do objectivo de produção;
- Melhoramento do ecossistema;
E ainda:
Pelo Melhoramento Genético Animal direccionado prioritariamente para a
qualidade e aumento da produção de leite, conformação dos úberes e tetos, instinto
maternal e Prolificidade, esta última devido à importância económica do cabrito no país.
O actual programa de conservação/melhoramento da raça serrana (2009-2013)
incide sobre um sistema de recolha, controlo e tratamento de registos genealógicos e
produtivos. Segundo o programa apresentado pela ANCRAS (Pereira,2009) para esse
mesmo período, a selecção e o melhoramento genético assentam-se em duas vertentes:
- Controlo individual da produção;
- Selecção de reprodutores com base no mérito genético, considerando-se diversas
vias de selecção (selecção pela ascendência, selecção individual e selecção pela
descendência)
A recolha de dados produtivos é efectuada a diferentes níveis, conforme os itens que se
seguem.
- Registos das produções das mães dos chibos e das filhas dos bodes em testagem
- Controlo individual da produção de leite
Máximo e Mínimo; produção Mamada; Ordenhada; Total; Duração de Lactação;
33
Produção Normalizada aos 150 e 210 dias; O controlo quantitativo da lactação será
obtido a partir do registo da produção diária (mediada em uma ou duas ordenhas), de 28
em 28 dias (com intervalo, aceitável entre os 26 e os 33 dias), e em que o 1º contraste
terá que ser efectuado, no máximo, 75 dias após a data do parto.
- Controlo individual do crescimento
Cálculo do peso ao nascimento, aos 30 dias e aos 70 dias ou abate para
consumo; o crescimento será obtido através do ganho médio diário (GMD) dos cabritos
mediante a realização de duas pesagens, sendo a 1º feita 30 dias e a 2º os 70 dias, com
um desvio padrão de 7 dias, nos casos que ocorrer o abate antes desta data.
Os dados genealógicos e produtivos são recolhidos no campo e introduzidos na
base de dados Ruralbit Genpro. Com base na informação obtida (contrastes leiteiros,
avaliação morfológica, genealogia,...) dos reprodutores (machos e fêmeas) identificados,
serão delineados sistemas de cobrição dirigida e/ou inseminação artificial, com vista à
produção de futuros reprodutores (machos e fêmeas). Será determinada a produção
leiteira das fêmeas na primeira lactação e criado um núcleo de machos para posterior
utilização num programa de inseminação artificial. Os dados produtivos e genealógicos
serão anualmente transferidos para a URGRMA/INRB, que procederá à avaliação
genética e remeterá os resultados à ANCRAS (ANCRAS/Pereira, 2009).
São realizados testes de ADN aos reprodutores e seus descendentes, de forma a
validar as paternidades. O programa poderá ser optimizado através da inclusão do Teste
de Descendência, na medida em que irá aumentar a precisão dos valores genéticos dos
animais seleccionados e estabelecer um maior número de ligações genéticas entre
explorações, mediante a técnica de inseminação artificial (ANCRAS/Pereira,2009).
34
III – MATERIAL E MÉTODOS
1 – OBJECTIVOS DO TRABALHO
Os animais da raça caprina Serrana têm desempenhado um importante papel na
fixação das populações ao meio rural, pois são a base da actividade agro-pecuária das
regiões onde se encontram. Essas regiões caracterizam-se por pequenas parcelas, de
difícil mecanização, solos de fraca aptidão agrícola ou uso exclusivo de floresta e ainda
terrenos compostos essencialmente por matos. Em Portugal, o efectivo caprino tem
diminuído nas últimas décadas e a tendência futura aponta para um decréscimo
contínuo. Em relação ao número de caprinicultores a situação é igualmente preocupante
pois o número de pessoas que abandonam a actividade é maior do que seria desejável.
Existe, portanto, um enquadramento definido por factores de natureza ambiental,
social, política e da própria espécie animal que apontam para a necessidade de manter,
fomentar e desenvolver a produção caprina.
Este trabalho tem como principal objectivo o estudo geral da raça caprina
Serrana, bem como a sua área de dispersão, o modo como é explorado e algumas das
suas principais características e aptidões produtivas e reprodutivas.
Para a elaboração do estudo serão criados 4 grupos, consoante a dimensão,
ecótipo e localização; GRUPO I (Rebanhos ecótipo Ribatejano), GRUPO II (Rebanhos
ecótipo Serra), GRUPO III (Rebanhos ecótipo Jarmelista) e o GRUPO IV (Rebanhos
ecótipo Transmontano) a fim de calcular e comparar a evolução dos seguintes
parâmetros produtivos e reprodutivos ao longo da última década (2002-2012):
-Taxa de fertilidade anual (%)
-Intervalo entre partos (dias)
-Idade media ao 1º parto (meses)
-Taxa de prolificidade (%)
-Peso vivo dos cabritos aos 30 e 70 dias (kg).
35
-Produção leiteira normalizada aos 150 dias (litros)
-Duração da lactação (dias)
Estes são parâmetros fundamentais em estudo, ao serem melhorados irão influir
directa e positivamente no aumento do rendimento económico das explorações,
contribuindo para a capitalização do caprinicultor e possibilitando-lhe a realização de
investimentos no sentido do melhoramento integrado da exploração caprina e da
optimização dos recursos naturais. Na elaboração do estudo será tido em conta outros
factores de ordem social, ambiental, política que poderá ter tido influências no
desenvolvimento da produção caprina em determinadas regiões.
2– ACÇÕES DESENVOLVIDAS PELA ANCRAS
A ANCRAS é uma entidade sem fins lucrativos fundada em 28 de Maio de
1990- DR nº20 de 24-01-1991, cujo objectivo principal é promover e dinamizar a
criação de gado caprino Serrano. No ano de 1994 foi-lhe aprovado por parte do Instituto
de Estruturas Agrárias e Desenvolvimento Rural, o programa de selecção e
melhoramento da raça serrana. Desde 1992, oficialmente reconhecida com entidade
gestora do livro genealógico d raça caprina Serrana a nível nacional.
A intervenção da ANCRAS junto dos seus associados é essencialmente o apoio
as suas explorações (inscrições dos animais no livro genealógico, controlo de
nascimentos, contrastes performance, contrastes leiteiros, melhoramento genético)
36
3– CARACTERIZAÇÃO GERAL DAS EXPLORAÇÕES
3.1 – EVOLUÇÃO DO EFECTIVO CAPRINO SERRANO INSCRITO NO
LIVRO GENOLÓGICO ADULTO (LG A)
GRÁFICO III: Evolução de efectivo Serrano inscrito no LG
Através da análise do GRÁFICO III, podemos verificar que desde o início da
criação do LG 1990 ate 1995 o número de animais inscritos aumentou de forma gradual,
no decorrer desse período a evolução das fêmeas inscritas é na ordem dos 86,63%
(15 200 animais), nos machos a evolução é na ordem dos 83,27% (413 animais).
No decorrer dos anos, desde 2000, o efectivo Serrano ate inícios de 2006 mante-
se estável, a partir desse ano os animais inscritos começam a sofrer decréscimos e
oscilação, de 2006 a 2008 ocorre um decréscimo acentuado para as fêmeas de 16,29%
(3 274 animais), os machos para esse mesmo período o decréscimo foi de 25% (303
animais).
Na transição 2008/2009 o efectivo consegue recuperar para números na ordem
dos 19 000 animais aproximadamente. Com a introdução do novo quadro comunitário
(2009) e consequentemente alterações nos diversos programas de melhoramento, o
efectivo Serrano sofre um decréscimo no período de 2009-2011 de 19,73% (3 382
animais) para as fêmeas e 20,56% (185 animais) para os machos. Actualmente em 2013
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
14000
16000
18000
20000
Nº
An
imai
s
Ano
Fêmeas
Machos
37
existem 18 301 fêmeas e 865 machos inscritos no LG A podemos verifica um acréscimo
acentuado no efectivo total nestes dois últimos anos.
3.2 – EVOLUÇÃO DO NÚMERO DE CRIADORES ACTIVOS INSCRITOS NO
LIVRO GENEALÓGICO
GRÁFICO IV: Evolução do número de criadores activos no LG
Como podemos visualizar no GRÁFICO IV, o número de criadores no decorrer
dos últimos anos tem sofrido algumas oscilações, desde a criação do LG ate o ano de
2000 o numero de criadores é de ordem crescente conseguindo atingir um máximo de
282 criadores com 282 explorações activas. No período de 2000 ate 2005 existe um
decréscimo bastante significativo de criadores para 229, mas por outro lado o número de
animais inscritos no LG A para o mesmo período (2000-2005), não sofrem grandes
perdas, isto deve-se ao facto que os criadores que foram desistindo do LG eram
indivíduos já com alguma idade e com números de efectivos muito reduzidos, por sua
vez os animais dos criadores que foram ficando desactivos no decorrer do tempo, alguns
foram transferidos para os criadores activos não afectado muito o numero total de
animais inscritos no LG para esse período (2000-2005).
0
50
100
150
200
250
300
1990 1995 2000 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013
Nº
Cri
ado
res
Ano
Criadores
38
Na transição dos anos 2008-2009 ocorre uma diminuição de número de criadores
inscritos no LG, em contrapartida para o período anteriormente referido, este é
acompanhado com um decréscimo acentuado do número de efectivo total inscrito no
LG, com a introdução de novos quadros comunitários referentes a ajudas, legislação
referente ao bem-estar animal, transformação e comercialização, as fileiras de produção
caprina sofreram problemas para a adaptação e cumprimento das diversas legislações
em vigor, levando para o abandono da actividade e decréscimo continuo do efectivo.
Nos últimos três anos (2010-2012) o número de criadores têm-se mantido
estável, actualmente existem 214 criadores activos, é de salientar que a idade média dos
criadores é muito elevada, cerca de 80% dos criadores possuem mais de 55 anos, a
longo prazo a situação é preocupante pois o número de pessoas que abandonarão a
actividade será maior do que seria desejável.
3.3 – CARACTERIZAÇÃO DAS EXPLORAÇÕES EM ESTUDO
Para a elaboração do estudo, foram constituídos quatro grupos consoante a
dimensão, localização e ecótipo. Cada grupo é constituído por três criadores do mesmo
ecótipo, e os quais foram seleccionados com base na quantidade de registos
reprodutivos e produtivos tal como o antiguidade em que os registos foram feitos.
GRUPO I (Rebanhos ecótipo Ribatejano)
Os criadores que se enquadram neste grupo são:
CRIADOR 1:
- Nome: Paulo Jorge Madeira Montez
- Localização: Póvoa do Conde (Santarém)
- Nº Efectivo: 527 Fêmeas; 31 Machos
39
CRIADOR 2:
- Nome: António Maria
- Localização: Casal Novo da Barreira (Torres Vedras)
- Nº Efectivo: 144 Fêmeas; 8 Machos
CRIADOR 3:
- Nome: Américo Delgado Martins
- Localização: Vale das Ripas (Alcobaça)
- Nº Efectivo: 254 Fêmeas; 6 Machos
GRUPO II (Rebanhos ecótipo Serra)
Os criadores que se enquadram neste grupo são:
CRIADOR 1:
- Nome: Francisco Gonçalves Oliveira
- Localização: Unhais da Serra (Covilhã)
- Nº Efectivo: 61 Fêmeas; 2 Machos
CRIADOR 2:
- Nome: António Campos Galvão
- Localização: Unhais da Serra (Covilhã)
- Nº Efectivo: 168 Fêmeas; 7 Machos
GRUPO III (Rebanhos ecótipo Jarmelista)
Os criadores que se enquadram neste grupo são:
CRIADOR 1:
- Nome: António Gabriel Saraiva Direito
- Localização: Qª. Covão Santa Maria (Gouveia)
- Nº Efectivo: 112 Fêmeas; 5 Machos
40
CRIADOR 2:
- Nome: Manuel Antunes
- Localização: Carvalhal Meal (Guarda)
- Nº Efectivo: 91 Fêmeas; 3 Machos
CRIADOR 3:
- Nome: Abel Morais Martinho
- Localização: Videmonte (Guarda)
- Nº Efectivo: 175 Fêmeas; 5 Machos
GRUPO IV (Rebanhos ecótipo Transmontano)
Os criadores que se enquadram neste grupo são:
CRIADOR 1:
- Nome: Manuel dos Santos André Batista
- Localização: Sezulfe (Macedo de Cavaleiros)
- Nº Efectivo: 184 Fêmeas; 11 Machos
CRIADOR 2:
- Nome: Maria Soledade Teixeira
- Localização: Passos (Mirandela)
- Nº Efectivo: 130 Fêmeas; 5 Machos
CRIADOR 3:
- Nome: Jorge da Encarnação Cangueiro
- Localização: Vilariça (Mogadouro)
- Nº Efectivo: 125 Fêmeas; 5 Machos
41
4– RECOLHA DE DADOS EM ESTUDO
Foram utilizados registos das explorações anteriormente mencionadas, em estudo serão
considerados registos desse 2002 até 2012, os dados provem da base de dados Gen Pro
(Ruralbit), uma base de dados online na qual se encontra todos os dados referentes aos
registos zootécnicos do LG da raça Serrana.
5– METODOLOGIA UTILIZADA PARA O CÁLCULO DOS
PARÂMETROS REPRODUTIVOS E PRODUTIVOS
Todas as metodologias e resultados apresentados no trabalho, são obtidos através
de fórmulas que são criadas automaticamente na base de dados Gen Pro (Ruralbit), de
seguida apresenta-se as fórmulas que a base de dados utiliza para a obtenção dos
resultados.
5.1 - PARÂMETROS REPRODUTIVOS
5.1.1- Fertilidade anual
É a capacidade que um individuo tem, de até uma fase avançada da sua vida,
produzir descendência com boa vitalidade, em periocidade característica da espécie e no
intervalo de um ano.
5.1.2-Prolificidade
Exprime o número de crias viáveis produzidas em cada parto.
42
5.2 - PARÂMETROS PRODUTIVOS
5.2.1-Peso vivo dos cabritos aos 30 e 70 dias e ganho médio diário (kg).
O cálculo do GMD entre os 30 e os 70 dias é calculado através da seguinte fórmula:
5.2.2-Duração da lactação (dias) e produção leiteira aos 150 dias (litros)
Duração em dias em que o animal esta lactante, desde o início do parto ate o fim
da lactação, e a quantidade de litros de leite normalizada aos 150 dias.
43
IV – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS
RESULTADOS
1 – EFECTIVO CAPRINO TENDO POR BASE OS GRUPOS
ESTUDADOS
Como foi referido anteriormente, a divisão do efectivo caprino em quatro
grupos, teve como base as diferentes formas de maneio utilizadas por cada criador,
dimensão dos rebanhos, localização e ecótipo, e os quais foram seleccionados com base
na quantidade de registos reprodutivos e produtivos tal como o antiguidade em que os
registos foram feitos, isto para que o trabalho tenha como base de referencia padrões o
mais homogéneos possíveis.
Podemos observar no QUADRO V a média e o número de animais por grupo.
QUADRO V: Média do efectivo por grupo
GRUPO MÉDIA DO EFECTIVO
I (Ribatejano) 232.33
II (Serra) 119
III (Jarmelista) 130.33
IV (Transmontano) 153.33
Unidades: Nº de Animais
2 – ÍNDICES REPRODUTIVOS DOS GRUPOS EM ESTUDO
Para os quatro grupos em estudo, foram calculados parâmetros reprodutivos
como a taxa de fertilidade anual, intervalo entre partos, idade media ao 1º parto e a taxa
de prolificidade.
44
2.1- TAXA DE FERTILIDADE ANUAL
GRÁFICO V: Evolução da taxa de fertilidade anual (%)
Nota: Ecótipo Serra só possui registos desde 2011.
Como podemos visualizar no GRAFICO V, existem diferenças no que diz
respeito a taxa de fertilidade anual consoante o ecótipo, é de salientar que o grupo I
(Ecótipo Ribatejano) e grupo III (Ecótipo Jarmelista) possuem taxas de fertilidade entre
os 95% e 100%, relativamente inferiores comparadas com os restantes grupos, isto
deve-se ao facto de em estes dois ecótipos as cobrições serem controladas e
programadas, dai existirem intervalo entre partos (INTP) mais longos, afectando
directamente a taxa de fertilidade anual.
No grupo II (Ecótipo Serra) e grupo IV (Ecótipo Transmontano) os intervalos
entre partos são muito reduzidos, o que vai proporcionar taxas de fertilidade anual
acima dos 100%.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GRUPO I (RIBATEJANO) 105 100 100 100 96 94 95 96 98 99 105
GRUPO II (SERRA) 144 142
GRUPO III (JARMELISTA) 93 96 96 95 96 96 96 94 94 95 94
GRUPO IV (TRANSMONTANO) 143 137 136 130 132 132 131 133 138 138 140
0
20
40
60
80
100
120
140
160
Taxa
Fe
rtili
dad
e A
nu
al %
Ano
45
2.2- MÉDIAS DE INTERVALOS ENTRE PARTOS
GRÁFICO VI: Evolução das médias de intervalos entre partos (Dias)
Nota: Ecótipo Serra só possui registos desde 2011.
Na análise do gráfico anterior, verificamos que as taxas de fertilidade anuais
eram afectadas directamente com a duração dos intervalos entre partos, o GRÁFICO VI
demonstra as médias de intervalo entre partos dos diferentes grupos.
Como é notório, os grupos I (Ribatejano) e III (Jarmelista) possuem intervalos
entre partos acima dos 350 dias, o maneio reprodutivo em estes dois grupos, as
cobrições controladas associados a outros factores, proporcionam o aparecimento desta
diferença.
Os grupos II (Serra) e IV (Transmontano) possuem intervalos entre partos muito
reduzidos, as médias representadas nos GRÁFICO VI demonstram que os INTP na
maior parte dos anos, é inferior a 275 dias, no decorrer dos últimos anos não se
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GRUPO I (RIBATEJANO) 348 366 364 364 382 387 382 379 374 368 348
GRUPO II (SERRA) 254 252
GRUPO III (JARMELISTA) 380 382 384 385 381 381 382 388 387 385 388
GRUPO IV (TRANSMONTANO) 276 283 273 281 275 277 278 274 265 264 265
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
Inte
rval
o E
ntr
e p
arto
s (D
ias)
Ano
46
verificam grandes alterações para o aumento dos dias. Algumas das causas que
influenciam directamente os elevados valores de taxa de fertilidade anual, são as épocas
de cobrição que não são controladas proporcionado em alguns casos 2 partos por ano, o
mais comum em estes dois grupos e nos ecótipos a que estão associados é ocorreram 3
partos em cada dois anos.
2.3- IDADE MÉDIA AO 1º PARTO
GRÁFICO VII: Evolução da idade média ao 1º Parto
Nota: Ecótipo Serra só possui registos desde 2011.
As primíparas pelo facto de ainda estarem em crescimento durante a primeira
gestação e lactação, afecta directamente as produções, a idade a qual os animais são
cobertos e do 1º parto é muito importante. Nos grupos II (Serra) e IV (Transmontano)
podemos visualizar que a idade ao primeiro parto é em média 14 meses, é um valor
baixo comparado com os grupos I (Ribatejano) e III (Jarmelista).
Os animais para estes grupos (II e IV) são cobertos entre os 6 e 9 meses de
idade, são animais muito jovens e ainda estão na fase de crescimento, em alguns casos
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GRUPO I (RIBATEJANO) 17,2 17,4 16,4 17,8 18,2 19,3 19 19 17,9 19,2 18,4
GRUPO II (SERRA) 14,3 14,4
GRUPO III (JARMELISTA) 17,5 16,2 17,4 17,8 17,2 16,8 16,4 17,2 16,8 17,4 17,1
GRUPO IV (TRANSMONTANO) 14,6 14,8 13,2 14,2 13,6 13,8 14,6 14,2 15,1 14 14,2
0
5
10
15
20
25
Idad
e M
ed
ia 1
ª P
arto
(M
ese
s)
Ano
47
ocorrem partos com dificuldades, os animais nascem com anomalias, mortos e com
dificuldades de crescimento visto que as produções leiteiras são muito reduzidas, pelo
facto de ser a 1º lactação com produções baixas e pelo facto do ubere não estar
completamente desenvolvido.
Nos grupos I (Ribatejano) e III (Jarmelista), o facto de existirem cobrições
controladas, os animais são cobertos com aproximadamente 12 meses o que vai
proporcionar partos com mais de 17 meses de idade tirando benefícios tanto a nível
produtivo como reprodutivo.
Podemos verificar que no grupo IV (Trasmontano) no decorrer da última década
não se verifica nenhuma melhoria para o aumento da idade ao 1º parto, os produtores
desse grupo continuam a não optar por sistemas de cobrições controladas, já o mesmo
não acontece para os grupos I (Ribatejano) e III (Jarmelista) nota-se um ligeiro aumento
no decorrer dos anos, os produtores optam por sistemas de cobrições controladas e
direccionados de forma a obter maior rendimento nas produções leiteiras.
2.4- TAXA DE PROLIFICIDADE
GRÁFICO VIII: Evolução da taxa de prolificidade média por grupo
Nota: Ecótipo Serra só possui desde 2011.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GRUPO I (RIBATEJANO) 1,6 1,7 1,6 1,7 1,7 1,7 1,8 1,6 1,6 1,7 1,6
GRUPO II (SERRA) 1,3 1,4
GRUPO III (JARMELISTA) 1,6 1,6 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,4 1,4 1,5 1,5
GRUPO IV(TRANSMONTANO)
1,5 1,6 1,6 1,6 1,6 1,7 1,6 1,6 1,6 1,6 1,6
0
0,2
0,4
0,6
0,8
1
1,2
1,4
1,6
1,8
2
Taxa
de
Pro
lific
idad
e
Ano
48
Fonseca (1988), refere para a cabra Serrana, uma taxa de prolificidade de 1,7,
pode-se considerar que para o grupo II (Serra), III (Jarmelista) e IV (Transmontano)
possuem valores ligeiramente abaixo do que nos referidos na bibliografia, para o grupo I
(Ribatejano) a média da taxa de prolificidade é de 1,7.
Também podemos verificar com a observação do GRÁFICO VIII, que não
existem grandes alterações significativas para o aumento da taxa de fertilidade nos
quatro grupos em estudo, no decorrer dos últimos anos tem-se mantido constante.
3 – ÍNDICES PRODUTIVOS DOS GRUPOS EM ESTUDO
3.1- CRESCIMENTO DOS CABRITOS
O crescimento é um conjunto de modificações de peso, forma, composição
anatómica e bioquímica, sendo fortemente marcado pelas condições ambientais
(alimentação, maneio, clima e outros) e outros mecanismos fisiológicos que lhe
permitirão adaptar-se (Vaz,1996)
Segundo Vaz (1996), o crescimento encontra-se dependente do tipo de parto,
peso ao nascimento, sexo, potencial genético do animal e nível de nutrição.
3.2- PESO AOS 30 E 70 DIAS
Apos o parto, o cabrito demora ainda um certo tempo sob dependência maternal
(aleitamento), pois ele passa de um tipo de alimentação de monogástrico ao de
ruminante, o que envolve por um lado atrasos no crescimento e por outro modificações
morfológicas e fisiológicas (Lizardo et al, 1988)
49
3.2.1 Média do peso aos 30 dias
GRÁFICO IX: Evolução da média do peso aos 30 dias
Nota: Ecótipo Serra não possui registos de P30.
Através da análise do GRÁFICO IX podemos concluir que o grupo I
(Ribatejano) apresenta diferenças significativas em relação ao grupo III (Jarmelista) e
grupo IV (Transmontano). No decorrer dos anos podemos verificar para o grupo I
(Ribatejano) e III (Jarmelista) oscilações muito pouco significativas mantendo-se de
forma estável nos últimos anos, o mesmo já não acontece para o grupo IV
(Transmontano) nos últimos anos o P30 tem diminuído dos 6kg para os 5kg. Este facto
poderá explicar-se pelas diferentes formas de maneio e dimensões das explorações entre
outros factores como alimentação, clima, época de parto. O número elevado de animais
do rebanho associado a pouca mão-de-obra e partos em simultâneo condiciona o
correcto acompanhamento das crias na amamentação, o que leva ao menor crescimento
corporal das mesmas.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GRUPO I (RIBATEJANO) 6,8 6,9 7,3 7,2 6,9 6,7 6,5 6,8 7 7,2 7,1
GRUPO II (SERRA)
GRUPO III (JARMELISTA) 6,5 6,1 6,5 5,9 6,7 5,9 6,8 6,7 6,5 6,8 6,7
GRUPO IV(TRANSMONTANO)
6,2 5,9 6 6 6 6 5,2 5,2 5,6 5,9 5,8
0
1
2
3
4
5
6
7
8
Pe
so a
os
30
dia
s (K
g)
Ano
50
3.2.2 Média do peso aos 70 dias
GRÁFICO X: Evolução da média do peso aos 70 dias
Nota: Grupo II (Serra) não possui registos de P70.
Nota: Grupo I (Ribatejano) só possui registos de P70 a partir 2006.
Nota: Grupo III (Jarmelista) só possui registos de P70 a partir de2007.
Da análise do GRÀFICO X, conclui-se que não existem diferenças significativas
entre o grupo I (Ribatejano) e III (Jarmelista), mas que estas se verificam quando
comparamos com o grupo IV (Transmontano).
Estes factos são o reflexo das diferenças existentes entre os quatro grupos,
diferenças essas que foram referidas aquando da apresentação dos resultados da média
do peso aos 30 dias, e a consequência da evolução desse peso até aos 70 dias.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GRUPO I (RIBATEJANO) 11,3 11 11,2 10,5 10,8 11 11,2
GRUPO II (SERRA)
GRUPO III (JARMELISTA) 10,7 11 10,8 10,8 10,9 11
GRUPO IV(TRANSMONTANO)
9,5 9,4 10,2 9,8 10,4 9,7 9,2 10 9,6 9,8 9,9
0
2
4
6
8
10
12
Pe
so a
os
70
dia
s (K
g)
Ano
51
3.3- PRODUÇÃO LEITEIRA NORMALIZADA AOS 150 DIAS (PN150D)
GRÁFICO XI: Evolução da produção leiteira normalizada aso 150 dias
Nota: Ecótipo Serra só possui registos desde 2011.
Na análise do GRÁFICO XI, podemos verificar que no grupo I (Ribatejano), a
média da PN150D tem diminuído progressivamente, atingindo produção mais baixa em
2009 com 270 litros. Para o grupo III (Jarmelista), verifica-se que as produções têm
aumentado desde 2002, em 2002 atingiu uma produção mínima de 136 litros, a
produção máxima decorreu durante o ano de 2006 com 244 litros, nos últimos cinco
anos a PN150D têm-se mantido na ordem dos 220 litros aproximadamente.
Para o Grupo IV (Transmontano), verificamos uma diminuição contínua no
decorrer dos anos, a produção máxima é atingida em 2003 com 167 litros, nos últimos
cinco anos a média da PN150D é de 110 litros aproximadamente, o grupo II (Serra) só
nos anos de 2011 e 2012 existem registos que demonstram que a média para este grupo
é de 115 litros.
Existem diversos factores que contribuem para que haja variações significantes
nas produções normalizadas aos 150 dias, as variações climatéricas de ano para ano
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GRUPO I (RIBATEJANO) 370 374 340 342 350 346 321 270 278 282 286
GRUPO II (SERRA) 116 114
GRUPO III (JARMELISTA) 136 191 194 200 244 197 183 220 233 217 215
GRUPO IV(TRANSMONTANO)
139 167 136 135 134 140 113 123 117 107 100
0
50
100
150
200
250
300
350
400
Pro
du
ção
Le
ite
(Li
tro
s)
Ano
52
exercem uma grande influência na produção leiteira. O tipo da alimentação, a selecção e
introdução de animais que é feita nos rebanhos proporcionam variações genéticas nas
populações.
O maneio reprodutivo influencia em grande escala as produções leiteiras, os
meses de parto, o número de partos, o tipo de parto são factores determinantes para a
duração da lactação e consequentemente para a quantidade de leite produzido.
A hora de ordenha e o número de ordenhas efectuadas no intervalo de 24 horas
também determina a quantidade de leite produzido e a duração da lactação, é de referir
que no início de 2002 os criadores do grupo em estudo, efectuavam na maior parte
deles, duas ordenhas diárias, pela manha e fim da tarde. Com o decorrer dos anos,
alguma idade que os criadores vão acumulando a falta de mão-de-obra, alguns deles
optaram por efectuar uma ordenha diária, influenciando as quantidade de leite
produzido, é notório para o grupo IV (Transmontano).
3.4- DURAÇÃO DA LACTAÇÃO
GRÁFICO XII: Evolução da duração da lactação (Dias)
Nota: Ecótipo Serra só possui registos desde 2011.
2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012
GRUPO I (RIBATEJANO) 205 231 206 199 202 243 220 234 210 195 199
GRUPO II (SERRA) 146 144
GRUPO III (JARMELISTA) 170 180 172 168 173 175 171 188 168 170 175
GRUPO IV(TRANSMONTANO)
168 158 160 161 168 165 159 160 162 161 167
0
50
100
150
200
250
300
Du
raçã
o d
a La
ctaç
ão (
Dia
s)
Ano
53
Segundo o GRÀFIVO XII, podemos visualizar diferenças significativas na
duração de dias da lactação dos diferentes grupos, o grupo I (Ribatejano) apresenta
lactações com a duração media superior a 200 dias, ao longo dos anos podemos
verificar que existem aumentos para a duração da lactação, o máximo foi alcançado em
2007 na qual a média do grupo apresentava lactações de 243 dias.
Para o grupo III (Jarmelista), as durações das lactações são relativamente
inferiores comparadas com o grupo I (Ribatejano), a duração média para este grupo é de
aproximadamente 175 dias, desde 2002 não existem grandes oscilações a duração
máxima é atingida no ano do 2009 com 188 dias, por ultimo o grupo II (Serra) e IV
(Transmontano) são os grupos que apresentam lactações mais baixas, a duração em
média é de 145 e 160 dias respectivamente, não existem grandes oscilações para estes
grupos, o número médio da duração da lactação tem-se mantido estável ao longo dos
anos.
A duração da lactação é muito influenciada pelas condições ambientais, maneio
reprodutivo, alimentação entre outros factores, a grande diferença dos grupos em
estudo, provém essencialmente das cobrições e épocas de parto em que ocorrem, no
grupo IV o facto de não existirem cobrições controladas, por vezes tardias, partos em
épocas não favoráveis vai afectar em grande escala a duração da lactação e as
quantidades produzidas no total, é de referir que o número de lactações também tem
grande influência na duração da lactação, principalmente nos animais primíparos e nos
animais com alguma idade.
54
V – CONCLUSÃO
Este trabalho foi realizado com intuito de melhor conhecer as potencialidades
dos diferentes ecótipos da cabra Serrana, avaliando os seus parâmetros reprodutivos e
produtivos, a evolução ao longo dos anos e tomar conhecimento do estado actual da
caprinicultura no país.
Efectuado o estudo dos parâmetros reprodutivos nos diferentes grupos, podemos
concluir que os valores obtidos são inferiores aos referidos na bibliografia, para a
fertilidade anual, existem diferenças consoante o ecótipo, o grupo I (Ecótipo
Ribatejano) e grupo III (Ecótipo Jarmelista) possuem taxas de fertilidade anual entre os
95% e 100%, relativamente inferiores comparadas com os restantes grupos. No grupo II
(Ecótipo Serra) e grupo IV (Ecótipo Transmontano) os intervalos entre partos são muito
reduzidos, o que vai proporcionar taxas de fertilidade anual acima dos 100%.
Para a média do intervalo entre partos, os grupos I (Ecótipo Ribatejano) e III
(Ecótipo Jarmelista) possuem intervalos entre partos acima dos 350 dias. Os grupos II
(Ecótipo Serra) e IV (Ecótipo Transmontano) possuem intervalos entre partos muito
reduzidos, as médias representadas demonstram que os INTP na maior parte dos anos, é
inferior a 275 dias.
A idade media ao primeiro pato nos grupos II (Ecótipo Serra) e IV (Ecótipo
Transmontano) podemos concluir que ronda em média nos 14 meses, é um valor baixo
comparado com os grupos I (Ecótipo Ribatejano) e III (Ecótipo Jarmelista) que é de 17
meses aproximadamente.
A taxa de prolificidade pode-se considerar que para o grupo II (Ecótipo Serra),
III (Ecótipo Jarmelista) e IV (Ecótipo Transmontano) possuem valores ligeiramente
abaixo comparados com o grupo I (Ecótipo Ribatejano) na qual a média da taxa de
prolificidade é de 1,7 para este grupo.
No que diz respeito ao peso aos 30 dias podemos concluir que o grupo I (Ecótipo
Ribatejano) (média de 7 kg) apresenta diferenças significativas em relação ao grupo III
(Ecótipo Jarmelista) (média de 6,5 kg) e grupo IV (Ecótipo Transmontano), para o
grupo IV (Ecótipo Transmontano) o P30 é em média de 5,7 kg.
55
Para o peso aos 70 dias, conclui-se que não existem diferenças significativas
entre o grupo I (Ecótipo Ribatejano) (média 10,8 kg) e III (Ecótipo Jarmelista) (média
10,5 kg), mas que estas se verificam quando comparamos com o grupo IV (Ecótipo
Transmontano) (média 9,8 kg).
Na produção leiteira aos 150 dias, podemos concluir que no grupo I (Ecótipo
Ribatejano), a média da PN150D é de 297 litros. Para o grupo III (Ecótipo Jarmelista),
verifica-se que as produções são de com 224 litros. Para o Grupo IV (Ecótipo
Transmontano), verificamos uma diminuição contínua no decorrer dos anos, a produção
máxima é atingida em 2003 com 167 litros, nos últimos cinco anos a média da PN150D
é de 110 litros aproximadamente, o grupo II (Ecótipo Serra) só nos anos de 2011 e 2012
existem registos que demonstram que a média para este grupo é de 115 litros.
Para a duração da lactação podemos visualizar diferenças significativas na
duração de dias dos diferentes grupos, o grupo I (Ecótipo Ribatejano) apresenta
lactações com a duração media superior a 200 dias. Para o grupo III (Ecótipo
Jarmelista), as durações das lactações são relativamente inferiores comparadas com o
grupo I (Ecótipo Ribatejano), a duração média para este grupo é de aproximadamente
175 dias, por ultimo o grupo II (Ecótipo Serra) e IV (Ecótipo Transmontano) são os
grupos que apresentam lactações mais baixas, a duração em média é de 145 e 160 dias
respectivamente.
56
VI – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Almendra, L. 1994. Agricultura Transmontana. ANCRAS.
Almendra, Luís Filipe. 1991. Caprinos de Raça Serrana. ANCRAS.
Almendra, Luís. 1992. Agro-pecuária das raças autóctones contribui para o equilíbrio
rural.
Almendra, L.1996. A cabra Serrana Transmontana origem, caracterização da raça e
sistemas de produção. Sociedade Portuguesa e Ovinotecnia e Caprinotecnia, Colectânea
S.P.O.C, Volume 7.
Alarcão, C.1997. In Vida Rural.
ANCRAS.2000. Regulamento Português do Livro Genealógico da Raça Caprina
Serrana.
ANCRAS, Pereira, F.2009. Programa de Conservação / Melhoramento Genético
Animal 2009-2013.
ANCRAS. 2013. Base de dados do Livro Genealógico (Gen Pro-RURALBIT).
Barbosa, J.C; Teixeira, A. e Pereira, F.2006. Condições de realização da ordenha nas
explorações de caprinos de raça Serrana na região de Trás-os-Montes.
57
Belanger, J. 1990. Criação de cabras. Colecção Euroagro.
Bernades, M. M. C. 2003. Influências genéticas e ambientais na produção de leite e
carne na raça caprina Serrana.
Buxadé, C. 1996. El subsector ovino de leche a nível mundial. Producion Ovina. Tomo
VIII. Ediciones Mundiprensa Madrid
Cardigos, Leonel Rosa. 1981. Caracterização étnica das populações caprinas nacionais
e sistemas de maneio. In: SPO.
Cardigos, L. R. 1998. A cabra Serrana – Historia, efectivos e evolução do Registo
Zootécnico. S.P.O.C .Volume 8.
Carvalho, A.M.Q.2001. Projecto de valorização da cabra Serrana. Faculdade de
Medicina Veterinária, Lisboa.
Carrasco, A., 2000.Análise de Caracteres Produtivos e Reprodutivos em Ovinos da raça
Merina Preta. Relatório Final de Estágio da Licenciatura em Eng. Zootécnica.
Universidade de Évora.
C.C.R.A., 2001. Raças Autóctones próprias dos sistemas extensivos Ibéricos. Edição
comemorativa da 18ªOvibeja, Março.
DGV. 1987. Recursos Genéticos, Raças Autóctones, Espécies Ovina e Caprina.
Miranda do Vale. 1949. Zootecnia antiga.
58
DGAV. Pereira, F. 2013- Raças Autóctones Portuguesas.
D.G.D.R. 2002. Guia dos produtos de qualidade. Ministério da Agricultura, do
Desenvolvimento Rural e das Pecas.
Domingos, A.C.1996. Estudo do efeito do número de ordenhas na produção total de
leite em caprinos da raça Algarvia. Avaliação das performances reprodutivas e
produtivas da raça Algarvia. Engenheira Zootécnica. Universidade dos Açores.
FAOSTAT (Food and Agriculture Organization of the United Nations Statistics), 2013.
http://faostat.fao.org/ Visitado em 27-08-2013.
Fonseca, A.P.D.1995. Alguns conceitos e aspectos ligados aos sistemas de exploração
da cabra Serpentina. S.P.O.C Volume 6.
Fonseca, P.D.1988. Levantamento da Caprinicultura em Portugal. In II Jornadas de
Caprinicultura, Castelo Branco. S.P.O.
Fontes, C. A.M.A.1987. Recursos Genéticos- Raças Autóctones- Espécie Ovina e
Caprina.
Gabinete de Planeamento e Políticas (GPP/MAMAOT).Anuário Agrícola-2012.
INE (Instituto Nacional de Estatística), 2013. http://www.ine.pt, visitado em 27-08-2013.
59
Jardim, 1987. Criação de Caprinos. Biblioteca Rural.
Lizardo, R et al.1988. Aporte ao conhecimento das performances reprodutivas e
crescimento das raças Serpentina e Charnequeira. S.P.O.
Mascarenhas, R.2006. Melhoramento da eficiência reprodutiva em caprinos de raças
nacionais. Proceeding I Reunião Nacional de Caprinicultura. ESAB, Bragança.
Mascarenhas, R.1988. Caracteres reprodutivos da cabra Serrana, idade a puberdade,
actividade sexual sazonaria e controle hormonal da reprodução. In II Jornadas de
Caprinicultura, Castelo Branco.
Matos, C.A.P., 1986. Avaliação das Capacidades Produtivas e Reprodutivas das Raças
Ovinas Merino Branco e Campaniça. Relatório de Estágio. Universidade de Trás-os
Montes e Alto Douro, Vila Real.
Monteiro, D. O.; Mestre ,R.B; Fontes, A.S e Azevedo, J.T. 2005. A raça caprina
Serrana. Projecto Douro; formas complementares de valorização dos produtos
animais. U.T.A.D, Vila Real.
Neto, I; Almendra , L-1996. A cabra Serrana como geradora de produtos de qualidade.
S.P.O.C Volume 7.
Neves, A e Almendra, L. 1996. Estudo da produção leiteira da raça caprina Serrana
nos concelhos mais representativos do ecótipo transmontano em sistemas de produção
extensivos tradicionais. S.P.O.C.
60
Nunes, A., Osório, J.C., Cardellino, R.A., Ojeda, M.B, Guerreiro, J.L., 1996. Factores
ambientais que afectam o desempenho de cordeiros Ile de France, do desmame aos 60
dias pós desmame. Revista Brasileira de Agrociência. V. 2, nº2 : 93-98
Oliveira, L.D., 2007. Estudo da influência de factores genéticos e ambientais sobre as
características produtivas e reprodutivas num rebanho de bovinos Nelore. Dissertação
de Mestrado em Ciências Agrárias. Universidade de Brasília - Faculdade de Agronomia
e Medicina Veterinária, Brasília.
Pires,L.M.M.1990.Caracterização de um núcleo de cabras de raça Serrana.
Pereira, F. 2012. Estimativa dos componentes de variância da produção de leite diária
da cabra Serrana - Ecótipo Transmontano. Dissertação apresentada à Escola Superior
Agrária de Bragança para obtenção do Grau de Mestre em Tecnologias Animais.
Russel, A.J.F e Mowlen, A. 1988. Goats. In: UFAW handbook- Management and
Welfare of Farm Animals. 3th Edition, Bailliere Tindal.
Sá, F.V, 1990. A cabra- Da produção de leite a produção da natureza. Nova colecção
Técnica Agraria 2ª edição. Lisboa.
Sales, L.S. 1978. A cabra Produtiva- Métodos Modernos e práticos de criação e
exploração.
61
Sanchez.1983. Reproducion del ganado caprino.
Simões, J.M.C., 1984. Fisiologia da reprodução nos ungulados domésticos. Fundação
Calouste Gulbenkian. Lisboa.
Tuna, M. P.V. 1989. Caracterização de un núcleo de cabras Serranas variedade
Jarmelista.
Viera de Sá, F. 1978. A cabra. Clássica Editora. Lisboa.