CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO...

35
CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN 1 - INTRODUÇÃO o levantamento geológico apresentado integra-se no estudo geológico da região ocidental do Algarve, iniciado em Agosto de 1969, com a cartografia geológica da região de Lagos. Durante os meses de Março e Agosto do presente ano foi-me possível continuar o rderido levantamento tendo não traba- lhado na região de Lagos mas em toda a faixa que se estende de Sagres a Alvor. A base topográfica utilizada foi o conjunto das seguintes cartas topográficas dos Serviços Cartográficos do Exér- cito (escala 1/ 25000): n .O 593 - Bensafrim n.O 594 - Mexilhoeira Grande n. O 601- Vila do Bispo n. O 602 - Lagos n.O 603 - Portimão n .O 609 - Sagres. O 'Presente trabalho ideia sucinta dos levantamentos rea- lizados durante o ano de 1970, aos quais posso juntar algumas (*) Trabalho realizado no âmbito do Projecto de Investigação - Estudo Geo- l ógico do Alga/·ve Ocidelltal, do Centro de Estudos de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa (L A. c.).

Transcript of CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO...

Page 1: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*)

POR

R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

1 - INTRODUÇÃO

o levantamento geológico apresentado integra-se no estudo geológico da região ocidental do Algarve, iniciado em Agosto de 1969, com a cartografia geológica da região de Lagos.

Durante os meses de Março e Agosto do presente ano foi-me possível continuar o rderido levantamento tendo não só traba­lhado na região de Lagos mas em toda a faixa que se estende de Sagres a Alvor. A base topográfica utilizada foi o conjunto das seguintes cartas topográficas dos Serviços Cartográficos do Exér­cito (escala 1/ 25000):

n .O 593 - Bensafrim n.O 594 - Mexilhoeira Grande n.O 601- Vila do Bispo n.O 602 - Lagos n.O 603 - Portimão n .O 609 - Sagres.

O 'Presente trabalho dá ideia sucinta dos levantamentos rea­lizados durante o ano de 1970, aos quais posso juntar algumas

( *) Trabalho realizado no âmbito do Projecto de Investigação - Estudo Geo­lógico do Alga/·ve Ocidelltal, do Centro de Estudos de Geologia da Faculdade de Ciências de Lisboa (L A. c.).

SGP
Referência bibliográfica
Boletim da Sociedade Geológica de Portugal, Vol. XVII, Fasc. II-III, 1971.
Page 2: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

das conclusões que me foi dado atingir pelo estudo dos cortes estratigráficos levantados em 1969.

Se bem que a cartografia tenha incidido sobre todas as for­mações geológicas, apresenta-se, apenas, o estudo pormenorizado do Jurássico inferior e médio.

* * *

A região percorrida e quase totalmente cartografada durante o presente ano tem como limite oeste e sul a linha de costa. A norte a cartografia estendeu-se até ao limite Reciano-Carbónico o qual passa pelas povoações de Vüa do Bispo, Raposeira, Figueira, Budens, Barão de S. João, Bensafrim e Arão. A leste atingiram-se as povoações de Alvor, Monte de Alvor e Mexilhoeira Grande.

Como agregados populacionais mais importantes situam-se na região, além de Lagos e Vila do Bispo, sedes de concelho, Sagres, Raposeira, Budens, Bensafrim, Odiáxere, Alvore Mexilhoeira Grande.

Na orla litoral localizam-se bastantes praias que, ou se ani­nham nos recortes das rochas, abertos pelo mar (casos de Arma­ção Nova, Tonel, Belixe, Mareta, Bal'eeira, Ingrina, Salema, Burgau, Porto de Mós, Piedade, Dona Ana), ou se situam em zonas mais ou menos desabrigadas, perto da foz de algumas ribei­ras a que se encontram associadas aluviões modernas e ar.eias (praia's do Martinhal, de Lagos, da Meia-Praia e de Alvor).

2 - GEOMORFOLOGIA

A reglao percorrida é formada, essencialmente, do ponto de vista geológico, por duas regiões distintas, uma de constituição xistenta, outra de constituição essencialmente calcária, a que cor­respondem características geomorfológicas particulares.

A região xis tenta, situada imediatamente a norte da orla ceno-meso·zóica, apresenta-se sulcada por vales mais ou menos profundos que lhe dão características de relevo vigoroso. No conjunto a zona compõe-se duma série de cabeços de formas arredondadas e suaves, cobertos por vegetação rasteira. Apenas na

Page 3: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

'41

reg1ao da Lagoa de Budens ela se encontra aplanada e coberta por extensa formação arenosa.

A região calcária tanto a oeste (cabo .de S. Vicente) como a leste (Odiáxere-Alvor) · encontra-se coberta por formações are­nosas, possuindo relevo muito pouco vigoroso. No entanto, no contacto com as margas hetangianas, destacam-se alguns rele­vos importantes constituídos pelas dolomias do Sinemuriano. Estas dolomias vão dar origem a uma série de elevações que se pro­longam de Barão de S. João até Colinas Verdes.

3 - ESTRATIGRAFIA ·

Além de numerosas rochas eruptivas, existem, na reglao estu­dada, formações sedimentares cujas idades vão desde o Quater­nário Moderno até o Carbónico.

MODERNO

A) AREIAS

Com esta convenção são representadas as areias de praia do litoral, localmente pouco desenvolvidas (praias do Belixe, Tonel, Mareta, Baleeira, Martinhal, Barranco, Ingrina, Zavial). A costa desde Lagos a Alvor é formada por uma faixa de areias cuja largura varia entre 250 a 400 metros, na qual se localizam as praias de Lagos, Meia-Praia e Alvor.

a) ALUVIÕES

Constituem-nas, em geral areias e cascalheiras, podendo observar-se ao longo de grande número de linhas da água, for­mando, às vezes, manchas de grande extensão. Formações deste tipo encontram-se ao longo dos vales do rio Alvor e das ribeiras de Bensafrim, de Odiáxere, do Arão, do Farelo, da Torre, de Vale Barão e de Almadena.

Todos estes terrenos são aproveitados para a instalação de campos agrícolas.

Page 4: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

142

A') DEPÓSITOS DE FUNDO DE VALE

Os vales de algumas ribeiras alargam em certos pontos e üs fundos planos são cobertos por película mais ou menos espessa não só de calhaus rolados provenientes de pequenos depó­sitos de terraço, do Carbónico e do Reciano, mas também de mate­rial argilo-arenoso . Encontram-se formações deste tipO' ao longo dos vales das ribeiras de Bensafrim, da Sabrosa e da Sinceira e dos afluentes da margem direita desta última.

PLISTOCENICO

DEPÓSITOS DE TERRAÇO

Os depósitos de terraços ocupam área importante entre a povoação de Odiáxere e a foz da ribeira do mesmo nome.

São formações constituídas por leitos espessos de calhaus rolados (em geral, de xistos e grauvaques), de tamanho variável, com intercalações argila-arenosas. Os elementos encontram-se ora mais ou menos soltos, ora consolidados por cimento argiloso.

Embora os depósitos referidos tenham sofrido a acção da erosão, às vezes acentuada, reconhecem-se diferentes níveis.

Q4) DEPÓSITOS DE TERRAÇO DE 5-15 m

Este nível de terraço é o mais vulgarmente representado ­Monte do Augusto, Monte do Corte Real, Beiradas, Alfarrobeira, Odiáxere ,e Descampadinho. Este último afloramento é atraves­sado pela estrada de Odiáxere-Mexilhoeira Grande.

Q3) DEPÓSITOS DE TERRAÇO DE 20-25 m

Este nível de terraço está representado apenas na zona de Odiáxere-Alfarrobeira. A povoação de Odiáxere assenta mesmo sobre ele. Três outros pequenos testemunhos são visíveis a sul de Cotifo de Cima.

Page 5: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

Q2) DEPÓSITOS DE TERRAÇO DE 40- 50 m

Apenas dois retalhos deste nível de terraço foram obser­vados, um na ribeira da Machada, a SW do Vale da Amoreira, e o segundo, 500 metros a NNW de Cotifo de Baixo.

PLIOCENICO

P) PLIOCÉNICO INDIFERENCIADO

A superfície dos grandes afloramentos mesozolCOS e miocé­nicosestá coberta por retalhos dispersos de sedimentos de origem continental, cuja importância e extensão vão crescendo à medida que nos deslocamos para leste. Tais formações são atribuíveis ao Pliocénico.

São depósitos de areias e cascalheira:s constituídos por peque­nos calhaus mal rolados, às vezes angulosos, de quartzo, xisto, grauvaque, calcário, sem fósseis , dispostos descrdenadamente no meio duma pasta argilo-arenosa geralmente avermelhada.

,Em dois afloramentos verifiquei enriquecimentos importantes dos níveis argilosos maS com carácter local - no Pinheiral e entre a Lagoa do Bordoal e o vértice geodésico do Mosqueiro, locais onde são exploradas estas argilas.

Tais depósitos podem dividir-se em três grupos :

- um, de GOtas compreendidas entr.e 5 e 30 metros e que engloba os afloramentos de Albardeira - Meia-Praia - Monte do Augusto, de Mexilhoeira Grande à Quinta da Rocha, de Alvor à Penina e de Descampadinho a Eiras Velhas.

- outro, de cotas compreendidas entre 40 e 70 metros que engloba os afloramentos do Vale de Agrão, de Barão de S. Miguel, de Barão de S. João, àe Matos Brancos ao Monte do Judeu, de Louzeira, da Pedra Amarela, de Lagos - Ponta da Piedade ­Porto de Mós e o último, de grande extensão, do Sargaçal a Alfarrobeira e do Pinheiral ao Monte do Sequeira.

Page 6: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

'44

- o terceiro grupo engloba quatro afloramentos entre 120 e 140 metros, situados no meio de xistos e g,rauvaques carbónicos: um grande afloramento em forma de L que se estende de Charneca à Lagoa de Budens e desta ao vértice geodésico do Mosqueiro (continuando-se certamente para oeste e noroeste) e três pequenos afloramentos que se localizam respectivamente a norte de Areeiro, no Vale Marreiros e na zona do vértice geodé­sico Esteveira 2. 0

MIOCÉNICO

Os afloramentos miocénicos encontram-se bastante desenvol­vidos na região de Porto de Mós - Ponta da 'Piedade - Lagos -S. João, onde aparecem parcialmente cobertos pelas areias pliocé­nicas vermelhas. A cidade de Lagos assenta, mesmo, em grande parte, sobre estas formações. Este grande afloramento é depois interrompido pelas aluviões da ribeira de Bensafrim; para leste apenas é visível a pequena ' mancha que termina na Quinta da Cardeira.

Estas formações reaparecem na Quinta da Rocha, na mar­gem direita do rio Alvor. A povoação de Alvor também se encontra ,em parte assente ,em tais fürmações que, para leste, aumentam de importância constituindo a pitoresca -linha de arribas até ao sul de Ferragudo.

Para o interior .foi possível cartografar pequenos aflora­mentos miocénicos não só ao longo da linha do caminho de ferro de Portimão-Lagos mas também ao longo da estrada que une as duas cidades.

M VIIV ) HELVECIANO

O estudo das faunas encerradas por estes calcários e luma­chelas permitiu concluir tratar-se de formações a atribuir ao Hel­v:eciano Vlc e Vb.

Assim, VEIGA FERREIRA (19)1] , que estudou os Pectinídeos da r,egião de Lagos, pôde identificar as seguintes espécies: Pecten cristato-costatus .SACCO, P. kochi LOCCARü, Chlamys maa'otis

Page 7: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

J45

SOWERBY, C. catalaunica ALMERA & BoFFILL e C. latissima varo nodosiformis DE SERRES do Helveciano Vb e Chlamys tournali DE SERRES e C. scabriuscula MATHERON do Helveciano VF.

O mesmo autor, na Praia da Rocha e Portimão, identificou ainda outras espécies, cujo conjunto englobou no Helveciano VIC: Pecten subarcuatus TOURNOUER, P. fuchsi FONTANNES, P. crista­to-costatus SACCO, Chlamys solarium LAMARCK, C. .aff. calaritana MENEGHINI, C. tournali DE SERRES, C. scabriuscula MATH. e C. catalaunica ALM. & BOFF.

Pelas suas semelhanças litológica e faunística o afloramento do Cerro da Canela [R. B. ROCHA 1969J é de atribuir igualmente ao Helveciano.

G . ZBYSZEWSKI (1948J estudou alguns afloramentos mio­cénicos da região de Bensafrim (Corte do Bispo, Corte do Manuel Alves e Corte da Medronheira) e concluiu pela atribuição de tais formações ao Hel veciano médio ou 'Superior. Este estudo per­mitiu ainda concluir que a transgressão marinha do Vindobo­niano se estendeu muito mais para o interior do que se pensava até à data e é possível que esta transgressão tenha sido determi­nada pela actuação de uma fase orogénica alpina que, no Maciço Hespérico, teria provocado movimentos epirogénicos. O aumento da erosão, originado por este fado, deve ter-se feito sentir na orla algarvia e assim pode-se explicar o limite bastante irregular entre as lumachelas mio cénicas e as areias grosseiras pliocénicas.

CRETÁCICO

N a continuação para leste, da cartografia iniciada em 1969, apenas me ,foi dado observar o grande afloramento cretácico que se estende desde Telheiro a Vale da Lama com orien­tação aproximadamente SW-NE. Estas formações, em grande parte cobertas por depósitos pliocénicos, são atravessadas por várias (?) chaminés basálticas.

Estratigràficamente parece dever atribuir-se tal coniunto a C~ e C3 [R. B. ROCHA, 1969J.

Para complemento de descrição já feita sobre o Cretácico posso acrescentar ,duas observações novas. Na praia de Porto de

Page 8: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

Mós o contacto do Cretácico com o Miocénico faz-se por meio de falha, que se percebe sobre o terreno até à região sitúada entre a Quinta da Ameijeira e o Rosal. Para norte e noroeste é dincil de seguir o contacto, dada a existência de campos abun­dantemente remexidos por trabalhos agrícolas.

Na praia do Canavi~l, a leste dePorto de Mós, é bem visí­vel, na arriba, o contacto Cretácico-Miocénico onde se verifica o paralelismo de estratificação dos dois sistemas.

JURÁSSICO

Como já tive a oportunidade de referir, a cartografia do Jurássico é bastante difícil, em virtude de apenas . na linha de costa haver a possibilidade de efectuar cortes estratigráficos pre­cisos. No interior da região estudada a quase inexistência de pedreiras e estradas recentes não permite o estudo pormeno­rizado destas formações.

Assim, após uma visão de conjunto de todos os afloramentos jurássicos, fàcilmente percebi que apenas após conhecer bem a escala estratigráfica da região de Sagres me seria possível conti­nuar o seu estudo para leste. Nesta ordem de ideias iniciei o estudo aturado desta região que, salvo pequenos pormenores, está prà­ticamente terminado. De salientar que, vista a extensão das for­mações presentes, foi minha preocupação dedicar-me apenas ao Liássico e ao Dogger, deixando para estudo ulterior o Malm .

.o Malm encontra-se 1argamente representado na reglao <:le Sagres e as suas formações mais importantes são as dolomias que dão origem às penínsulas de Sagres 'e da Atalaia-Baleeira, as quais énquadram a enseada de Sagres.

·Estas dolomias, de cor que varia entre o cinzento e o violeta, são muito compactas e devem ter espessura que varia entre 40 e 50 metros. Elas continuam para leste, cons­tituindo as ilhotas do Martinhal, toda a zona . entre a praia dos

Page 9: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

147

Rebolinhos, a foz do Benaçoitão e o vértice geodésico de Re­gqengo, e a costa desde a praia de João Vaz à praia do Zavial. Dois outros pequenos afloramentos situam-se na Pedreira de Burgau e entre a Salema e a Boca do Rio. Para norte de Sagres existem dois afloramentos: um que se estende desde a praia da Cilheta até Relvinhae o segundo que forma o sinclinal do Forte do Belixe.

Entr'e estas dolomias e o Caloviano é possível verem-.$,e outras formações, atribuíveis também ao N,t:a1m.

Assim, no Forte do Belixe, entre as doIam ias e os calcários calovianos há um conjunto de calcários com restos de Crinóides e Belemnites a que se sobrepõe um calcário oolítico (?).

A narre da falha que, na praia da Cilheta, põe em contacto anormal o Malm e o Calovianoexiste uma série que, de cima para baixo, e a partir das dolomias, apresenta: calcário gresoso com Net'inea sp.; calcário litográfico; calcário com pisolitos de algas e gasterópodes vários; calcário compacto com Ostt'ea sp ., gasterópodes, briozoários e polipeiros e, novamente, um calcário litográfico. Este conjunto tem cerca de 20 a 25 metros de espes­sura. A sul da referida falha o Caloviano é encimado por calcário compacto branco, às v·ez·es róseo, muito alterado no cimo da arriba, formado por oolitos de 1,5 mm de diâmetro e por fragmentos espáticos provenientes de crinóides e de radíolas de ounço Cp. CHOFFAT, 1887}.

!;) CALOVIANO

Três afloramentos r:epresentameste andar na região de Sagres. O primeiro que se estende da parte leste da praia da Mareta até à praia da Baleeira e que é encimado pelas dolomias do Malm em ligeira discordância angular; o segundo na praia da Cilheta, e o terceiro na base do sinclinal do Forte do Belixe, afundado nas formações do Liássico inferior, com as quais contacta por falha.

Dos três, o mais importante é o primeiro, onde parece estar representado todo o conjunto do Caloviano existente na região. Tal conjunto, se bem que ainda não tenha estudado a totalidade

Page 10: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

dos fósseis colhidos, parece não passar além do Caloviano médio. Para tal conclusão reporto-me à existência nos níveis superiores do Caloviano de Kosmoceratidae, Hecticoceras (Hecticoceras) sp., H. (Lunuloceras) sp. e Reineckeia (Reineckeites) sp .. Tal conjunto parece mesmo não ultrapassar a zona de Jason, isto é, a parte média do Caloviano médio.

Na praia da Mareta a sucessão, a partir das dolomias do Jurássico superior, é a seguinte:

M. 25

M.24

- conglomerado de pátina vermelha acastanhada, formado por ele~entos de calcário margoso e de cor amarelada, de 4 a 8 cm, ligados por cimento margoso e ferruginoso ......... 0,50 m. Perisphinctidae, Calliphyiloceras (H olco phylloceras) mediterl"a­neum. (NEUMAYR) , Phylloceras sp. , abundante, Sowerbyceras tortisulcatum (D'ORBIGNY),

GrOSSOU1JfÍa sp., Belemnites (Hib.olithes) hastatus (BLAINVILLE),

Belemnites sp., dente de Orthacodus (= Sphenodus) (?) sp.

- calcário margoso, compacto, de cor amarelada, em bancos de 0,50 a 1 metro, com algumas intercalações margosas de pequena importân-CIa ................ . ...... ........ . . .......... . 50/ 60 fi.

Kosmocel"as sp., P eris phinctidae, Nautilus sp., Calli phylloceras (FI olco phylloceras) mediter­

raneum (NEUMAYR) , Sowerbyceras tortisulcatum (D'ORBIGNY),

Belemnites (Hibolithes) hastatus (BLAINVILLE) ,

Belenmites sp ., eguinóides irregulares, Bositra buchi (ROEMER) .

Page 11: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

149

Neste mesmo conjunto, nas praias da Baleeira e da Cilheta, colheram-se, além dos exemplares acima citados:

M.23

T aramelliceras sp ., Chanasia sp. , II ecticoceras sp., Aptychus sp., Reineckeia (Rehmannia) sp. , radíolas de equinóides

- alternância de margas amareladas, em bancos de 0,80 m, com calcários margosos da mesma cor, em bancos de 0,50 m .... .. .. .......... .. . 10 m

mesma fauna de M. 24.

M. 22/ 21 - alternância de margas amareladas, em bancos de 1 m, com calcários margosos da mesma cor, mas pátina esbranquiçada, em bancos de 0,40 m 12 m.

Bositra buchi (ROEMER) , abundante, mesma fauna que M . 24.

Segue-se zona ligeiramente mascarada pela intrusão de 3 fi lões basálticos mas o corte parece ser contínuo.

'. M . 19 / 11 ~ alternância de grandes leitos de margas de cor

verde acinzentada, com leitos centimétricos de calcário castanho ,avermelhado, rico de Vexillum. N as margas são abundantes gesso em peque­nos cristais e limonite e pirite em pequenos nódulos . São abundantes os fósseis limoniti-zados . ......... . .. ....... . ........... .. ........ 14/ 15 m.

Macrocephalites (Macrocephalites) sp. )uv., núcleos,

Perisphinctidae, Calliphyllocet'as (Holcophylloceras) medite1'­

raneurn (NEUMAYR) , abundante, Phylloceras antecedens POMPECKJ , abundante,

Page 12: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

_1~5~

Phylloceras sp. , abundante, Pafapatoceras sp. Oppelia sp., RhynchoteuthiJ sp., Bositt'a buchi (ROEMER), abundante, lamelibrânquios, moldes internos, gasterópodes, moldes internos, BalanocrinuJ pe-ntagonalis GOLDFUSS, B. pustulosus LORIOL, B. cE. subtel'es (MUNSTER) , Eugeniact'Í1-zus cal')'ophvllatuJ (SCHLOTHEIM» Belemnites (Hibolithes) hastatus (BLAIN-

VILLE) , BelemniteJ sp.

M. 10b - margas acinzent.adas onde continuam a aparecer cristais de gesso e nódulos de limonite e pirite. A fauna é idêntica a M. 16/ 11 ........... 3,30 m.

MacrocephaliteJ (Macl'ocephaliteJ) sp. )uv. , núcleos,

P eris p h in ctidae, Calliphylloceras (Holcophyllocel'as) meditel'-

raneum (NEUMAYR), abundante, Phylloceras sp., abundante, Bositra buc hi (ROEMER), Balanoc1"inus cE. subtel'es (MUNSTER) , Belemnites sp. , Dolichocrinus aberrans LORIOL.

A camada M. 10b deve constituir a base do Caloviano (zona de Macrocephalus). Os exemplares de Macf.Ocephalites são peque­nos núdeos piritosos e o seu pequeno tamanho não permite a clas­sificação até à espécie. A costilhação permite identificá-los como verdadeiros Mac1"ocephaliteJ - costilhas finas e apertadas. Foi feita a comparação com exemplares do mesmo tamanho de M. (Macrocephalites) , M . (Dolike-phalites) e M. (Kamptokepha­fites) não havendo dúvidas quanto à atribuição ao primeiro destes subgéneros. Os últimos exemplares aparecem na camada

Page 13: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

M. 16 pelo que podemos pensar estar já na base da zona de Koe­nigi. O estudo de novas faunas recolhidas este ano permitirá confirmar tais suposições e datar com precisão a ,camada M. 25.

R I J~ I Jf.) BATONIANO, BA]OCIANO, AALENIANO (?)

Englobei neste conjunto todas as formaçÕ'es compreendidas entre a camada. M. lOb da Mareta e o Toarciano inferior bem datado da praia de Armação Nova e da Ponta dos Altos.

Nestas formações, cujo estudo paleontológico não está ainda terminado, conhecem-se bem alguns níveis mas a inexistência de bons cortes dificulta a sua compreensão.

O conjunto Batoniano-Bajociano superior é ainda visível na praia da Mareta, onde a sucessão do corte descrito para o Calo­viano apresenta, de cima para baixo:

M. lOa - calcário compacto, castanho avermelhado, com Vexillum ...................... .. ....... ... ........ 0,06 m

M . 10 - margas acinzentadas com cristais de gesso e peque­nos fósseis piritosos. A fauna é pràticamente ine-xistente na metade inferior da camada .. . ... 15 m.

Perisphinctidae, Garantiana (Hemigafantia) sp., Hecticocefas (PfohectiC/Jcet'as) sp., Calliph,rlloceras (H olco phylloceras) mediterra-

neum (NEUMAYR), abundante, Phylloceras antecedens ' POMPECK], abundante, Phyllocel'as sp., abundante, Bositra buchi (ROEMER), abundante, Ba1anocrinus pentagona1is GOLDFUSS, Belemnites sp.

M. 9/ 4 - alternância de margas acinzentadas com aspecto folhetado, em bancos espessos, com calcários mar­gosos amarelados em leitos cada vez mais ,espessos para a base. Nas margas há pequenos nódulos de

Page 14: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

pmte (já limonitizados) mas a fauna pmtosa é inexistente. Nos bancos calcários são ahundantes impDessões de talos de algas (?) que CHOFFAT

(1887) classificou como TctOnurus procerus 11,20 m Cancello phycus sp., Bositra buchi (ROEMER), abundante.

M. 3 - calcário arenoso granular, amarelo-claro, muito diaclasado, com veios de calcite preenchendo as diaclases, com alguns nódulos ferruginosos, rico de impressões de talos de .algas (?). No topo individualiza-se um banco compacto organodetrí-tico ..... . ............................... ............. 10 m .

Norrnannites (Itimaites) rnackenzii prorectus (?) WESTERMAN,

Ph,ylloceras sp., Lobosphinctes (?) sp., Perisphinctidae, Cancellophycus sp., Nannolytoceras gr. t1'ipartiturn (RASPAIL).

M . 2 - calcário organodetrítico compacto, de cor creme, rico de crinóides ................................. 0,40 m.

M. 1 - br,echa recifal com dementas calcários diversos (calcário oolítico, calcário com corais) muito fossi-lífera ....................... . .... .. ...... . . . ...... 1,40 m.

Belernnites sp., Nerinea sp., Pleurotornaria sp., Cerithium sp., crinóides, equinóides, polipeiros.

No centro da praia, à esquerda do ponto onde foi feito o corte, aflora um belo recife de corais constituído por dois grandes bl-ocos que se encontram totalmente separados um do outro. No

Page 15: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

153

bloco da esquerda pode ver-se que os dois metros inferiores de M. 3 se ajustam às irregularidades do recife preenchendo não só grandes caneluras verticais que o recif.e apresenta, mas também constituindo pequenas bolsadas dentro dele. No outro bloco éa brecha que se ajusta às irregularidades do recife.

O recife é ainda visível na nova estrada de acesso à praia, junto a dois antigos fornos de cal aí existentes, onde é recoberto pelas margas acinzentadas de M. 10. De salientar o desnível de cerca de 10 metros entre este afloramento e o da praia.

Na camada M. 10 a inexistência de Macrocephalites (Macro­cephalites) sp. e o aparecimento de G. (Hemigat'antia) sp. e H. (Pt"Ohecticoceras) sp. permite afirmar que estamos já em pre­sença do Batoniano superior, zona de Re.trocostatum. Esta f.auna oferece afinidades incontestáveis com as das regiões mais bem conhecidas de França. Infelizmente os fósseis obtidos são, regra geral, de pequenas dimensões pelo que é difkil o estudo porme­norizado. Do ponto de vista paleoecológico o conjunto da fauna testemunha um meio de depósito pouco oxigena,do [C. STURANI & G. PAVIA, 1968). Com efeito predominam as formas plantó­nicas [Bositra buchi (ROEMER) ] e nectónicas (amonites e Bele­mites) enquanto que os representantes bentónicos (ln o cet'a­mus, Pleurotomaria) são muito raros, se se abstrair dos organis­mos a que se devem as impressões helicoidais conhecidas sob o nome de Can'Cellophycus.

A presença de fauna quase exclusivamente piritosa a que se associam a abundância de gesso e de nódulos já limonitizados são também factores a favor da hipótese da riqueza em SH2 das águas em que vivia tal associação de fauna.

Dada a pobreza de macrofósseis nas camadas M. 9 a M. 4 é difícil saber onde passa o limite Batoniano-Bajociano. O meu colega G . MANUPELLA pensa que existe uma falha entre M. 10 .e M. 9 e inclui na série os calcários oolíticos, abundantes na região, que ele considera batonianos pela pr.esença de Proto­peneroplis stt-iata WEYNSCH. Se bem que concorde coma exis­tência de tal falha, considero-a de menor importância. Penso que urge fazer o estudo pormenorizado da micro fauna de todos estes calcários oolíticos e pisolíticos pois . só ele poderá fornecer ele­mentos capazes de esclarecer o problema.

Page 16: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

154

A camada M.3 é atribuída ao Bajociano superior (base da zona de Subfurcatum) contràriamente ao que pensavam P. CHOFFAT [1887) e J. PRATSCH [1958]. Com efeito a associação de No.,.­mannites (ltinsaites) sp. com Perisphinctidae permite tal con­clusão como já o tivera oportunidade de fazer G . PAVIA [1969J ao estudar a bioestratigrafia do Bajoci.ano do corte de Chaudon (Digne).

G. PAVIA & C. STURANI [1968J fazem passar a base da zona de Subfurcatum abaixo do nível onde coexistem os primeiros repre­sentantes da superfamília Perisphinctaceae com os últimos repre­sentantes dos géneros T eloceras, Stem mato c eras e N ormannites (J.tinsaites). No corte da praia da Mareta é possível assinalar esta coexistência mas é impossível observar o que s.e passaria nas cama­das inferiores, as quais aqui são constituídas pelo recife citado.

O recife da praia da Mareta encontra-se assim datado supe­riormente como ante-Bajociano superior. O limite inferior é des­conhecido até à data e apenas posso dizer que ele será pós-Toar­ciano inferior.

Em toda a região para oeste de Lagos existe extenso aflora­mento de calcários de corais, de cor branca a rósea, fósseis de calcite, bem visíveis nas superfícies de erosão, rico de lame­librânquios, gasterópodes, Rhynchonella sp., T erebratula sp., radío­las e placas de equinóides, Belemnites sp. e crinóides . Tal conjunto considero-o como uma fácies lateral do recife da Mareta. Estes calcários dãeo origem a inúmeras pedreiras - Cerro Gordo, Monte do Rui Vaz, pedreira do Mestre João, Monte Judeu, Monte do Batista e Pedreiras (Portelas) - e no conjunto apresentam orien­tação WSW-ENE.

Inferiormente aos calcários de corais aparecem calcários oolí­ticos, calcários pisolíticos e calcários compactos onde os macro­fósseis são inexistentes. A microfauna ainda não foi estudada, mas foi nalgumas destas formações que G. MANUPELLA encontrou Protopen,eroplis striata WEYNSCH. que, segundo ele, permite atribuí-las ao Batoniano . Eis um dos problemas mais importan­tes a resolver para a compreensão da escala estratigráfica.

Estes calcários estendem-se de Sagres a Odiáx'ere numa faixa de espessura bastante variável que passa por Vale de Negra, Boieira, Arneiros, Louzeira e Figueiral.

Page 17: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

155

J~) TOARCIANO

o Toarciano incontestável, fossilífero , aflora em três regiões diferentes: na zona sul da baía de Armação Nova, em que cons­titui um compartimento afundado por falhas no meio das dolo­mias do Sinemuriano; na Ponta dos Altos, em que contacta a oeste com o Domeriano superior, em co.ncordância, e a teste por falha com os calcários oolíticos do Dogger inferior e na praia do Belixe em que contacta a oeste, por falha, com o Carixiano e Domeriano e a leste, também por falha, com os calcários oolí­ticos (?) do Dogger inferior.

O afloramento que permite estudo mais completo é o primeiro. Após uma zona em ·que devido a desligamentos das camadas calcárias se torna difícil faz.er um corte pormenorizado, observa-se, de cima para baixo.

BAN. 6 - calcário margoso amarelado, muito diaclasado em bancos constantes de 0,20 e 0 ,40 m 10 m.

Dactylioceras cE. semicelatum (SIMPSON), Paltarpites sp. , Beiemnites sp.

BAN. 5/ 4 - alternância de margas amareladas em grandes bancos com calcários margosos da mesméc cor, em bancos centimétricos e pouco frequentes 10 m.

Dactylioceras semicelatum (SIMPSON), Murleyiceras sp. , Nautilus sp., Belemnites sp., Chlamys (Aequipecten) prisca (SCHLOTHEIM), Pecten sp ., Harpax spinosus var. pectinoides (LAMARCK),

muito. abundante, Spiriferina tumida varo rupestris DESL. , Spit·ife1"ina rostrata (SCHLOTH.), Spiriferina alpina OPPEL, Lobothyris gr. punctata (SOWERBY) , Z eillefia comuta (SoWERBY),

Page 18: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

Pentacrinus juremis (QUENSTEDT) , frequente, Pentacl'inus subsulcatus (MUNSTER), fre­

quente.

BAN. 3 - calcário margoso branco rosado num único banco que serve de referência .. . .. . . . ... . ... ... 0,30 m.

BAN. 2 - alternância de margas esverdeadas e amareladas com bancos calcários creme, compactos par,a o topo ,e margosos para a base do conjunto 2,20 m.

Lytoceras sp. , CancellophYCttJ sp.,

'Chlamys ( Aequipecten) prisca (SCHLOTHEIM).

BAN. 1 - alternância de calcários compactos em bancos de 0,10 a 0,15 m com calcários margosos ama-relados de espessura idêntica .. . . . . ..... . . . . 20 m.

Na superfície terminal há : Dactylioceras cE. semicelatum (?) (SIMPSON),

Crenilytoceras cE. crenatum BUCK. ,

Phylloceras sp., Belemnites (Passaloteuthis) bt'uguierianus

D'ORBIGNY,

Belemnites sp ., Pecten (Pseudopecten) acuticosta LAMARCK,

Inferiormente existem também: Plicatula (Harpax) sp., Pecten sp ., Chlamys (Chlam,rs) textoria (SCHLOTHEIM),

Ctenostreon sp., Spondylus sp. , S piriterina sp. , formas lisas e costilhadas, Orthotoma sp.

De referir no conjunto da fauna a pobreza de cefalópodes e a extraordinária abundância de lamelibrânquios e crinóides; predominam pois formas que vivem fixas em águas pouco pro­fundas .

Page 19: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

157

o c.onjunt.o indica a base d.o T.oarcian.o inferi.or, zona de Semicelatum, contl'àriamente a.o que pensava J. PRATSCH (1958J que atribuiu estas formações a.o T.oarcian.o superi.or.

Na camada BAN. 1, que pela fáci.es é nitidamente d.ome­riana, a superfície terminal apresenta já .os primeiros fósseis t.oar­cianos. Ist.o mesm.o f.oi-n.os dad.o .observar [MOUTERDE, ROCHA & RUGET 1970J em Tomar e já R. MOUTERDE (1967J .o assinal.ou ao dizer «par sa lith.ol.ogie ce niveau (nível 1 da z.ona de Semi­celatum) se rattache généralement au D.omérien supérieur, mais sa faune est nettement toaróenne».

A interpretaçã.o feita p.or J. PRATSCH (1958J quant.o à idade a atribuir .a tais f.ormações parece-me insuficientemente funda­mentada. A presença de Dactylioceratidae situa-as n.o T.oarcian.o inferi.or (D. semic,e/atuum) .ou médi.o (D. commune) mas nunca n.o superi.or. Ele refere esta última mas eu só encontrei .a primeira. As dif.erenças entre as duas bem vis·íveis na c.ostilhaçã.o, ténue em D. semicelatum e bastante f.orteem D. commune, 't.orna dese­jávell que seja feita a revisã.o de tais exemplares.

Phylloceras sp. , L,ytoceras sp . e Nautilus sp. nada permi­tem dizer quant.o à idade. Lillia sp. nã.o é c.ontemporâneo de Dacty­liocet"as sp. Tr.ata-s:e provàvelmente dum exemplar de Hildaites sp. com grande zona umbilical.

Quant.o a.os lamelibrânquios apenas Chlamys (Aequipecten) prÍJca (SCHL.) tem val.orestratigráfic.o rdativo. N.o Liássico português esta espécie aparece sempre na base d.o T.oarciano infe­rior, zona de Semicelatum.

O c.onjunt.o de braquiópodes parece indicar também a base do T.oarciano inferior e nã.o .o superior. A determinaçã.o das Spi­f'iferina parece nã.o merecer grande c.onfiança pois S. angulata, S. walcotti e S. obtusa segundo Y. ALMERAs [1964J nã.o atingem o T.oarcian.o. Aliás .o género Spiriferina desaparece com .o fim d.o Toarcian.o inferior, .o que parece ser mais uma razão imp.or­tante para a minha nã.oc.onc.ordância c.om a atribuiçã.o destas f.ormações ao Toarcian.o superi.or.

Na P.onta d.os Altos e no praia d.o Belix:e a fauna é idêntica à encontrada na Baía de Armação Nova pelo que Ilhe atribuí a mesma idade. No primeir.o destes afl.oramentos uma sene de pequenas fracturas não permite corte complet.o. Na praia d.o

Page 20: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

Belixe a juntar a um conjunto de fracturas existem alguns escor­regamentos que mascaram o corte. A fauna porém, em ambos os casos, não deixa margem para dúvidas quanto à atribuição de tais formações ao Toarciano inferior.

n) DOMERIANO

o Domeriano aparece em três afloramentos na reglao de Sagres, não se conhecendo para leste qualquer outro afloramento.

O primeiro situa-se entre Laginha e a Ponta dos Altos (a leste do forte do Belixe) , onde contacta, a oeste, com o Carixiano e a leste com o Toarciano. Nesta zona existe aliás o único corte contínuo . do Liássico da região, o qual vai do Sine­muriano ao Toarciano inferior. Aqui pode observar-se, a partir da base do Toarciano:

BEL. 13 - calcários amarelados em bancos regulares de 0,10 a 0,15 m ... .................. .. .... ... 6/ 7 m.

Argutarpites (?) sp.

BEL. 12 - calcários brancos, de fractura conchoidal, em bancos pouco espessos . ...... ...... . .......... 5 m.

Belernnites sp.

BEL. 11/ 7 - calcários finamente cristalinos de pátina acinzen­tada, com raros nódulos de sílex para a base e com a superfície dos bancos bastante irregu-lar .... ..... . . . ..... . ...... . ............. ... ....... 5 m.

Pfotogfammo ceras celebratum (FUCINI) ,

Protogrammoceras sp., Fucinicefas isseli (Fuc.) , Pecten (Pseudopecten) acuticosta LAMARCK,

Pecten sp. , Gibbirhynchia sp. , Rhynchonella sp. , T erebratula sp. , Belemnites sp. , crinóides .

Page 21: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

159

Dada a ligeira inclinação das camadas, e o facto de ser necessário efectuar o corte junto à arriba é possível que a espes­sura das camadas peque por defeito.

A fauna de Pwtogrammoceras sp. e Fuciniceras sp. per­mite afirmar que nos encontramos em presença do Domeriano inferior. No Domeriano superior só me foi possível, até à data, colher um exemplar de Argutarpites sp. De salientar que o conjunto BEL. 13 deve corresponder ao conjunto BAN, 1 mas aqui a formação é muito menos espessa e muito menos fossilífera.

A camada BEL. 13 deve corresponder à zona de Spinatum mas até à data ninguém colheu exemplares de Pleuroce'ras sp. no Algarve. O conjunto BEL. 11 a BEL. 7 pertence à zona de Marga~ ritatus, horizonte de Protogrammocet'as lusitanicum. A camada BEL. 12 dada a sua pobreza é de localização estratigráfica duvi­dosa. Topo de Margaritatus? Base de Spin atum ? Qualquer das hipóteses parece possível.

O Domeriano aflora, ainda, no topo da arriba da praia do Belixe. Estas formações são essencialmente calcárias mas não foi feito o corte pormenorizado. De notar nestas formações a abundância relativa de Gibbirhynchia sp . e de uma Spiriferina cos­tilhada que me parece poder-se atribuir a S. oxyptera BUVIGNIER, Não encontrei neste afloramento qualquer amonite.

O último afloramento domeriano é o da parte sul da baía de Armação Nova, mais propriamente a camada BAN. 1. Se bem que não tenha encontrado nestas formações fósseis típicos do Dameriano superior, a existência de grandes Belemnites sp. e de grandes Pecte'n (Pseudopecten) acuticosta LAMARCK permite para­lelizá-las com as formações do D omeriano superior de Tomar e Alvaiázere.

1: ) CARIXIANO

o Carixiano apresenta-se, regra geral, formado por calcários brancos, mais ou menos margosos, contendo sílex ,em formas mais ou menos variadas. Os fóss,eis são frequentes, geralmente calcá­rios, salvo nalgumas bancadas mais duras onde são siliciosos. Acontece porém que os fósseis de amonites, os melhores para a

Page 22: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

I60

datagem destas formações , são pràticamente inexistentes. Com efeito só são conhecidos, até à data, neste conjunto, quatro amonites; duas referidas por P. CHOFFAT [1887) - Uptonia jamesoni (SOWERBY) e Aegoceras densinlodum (QUENSTEDT) - e duas por J. C. PRATSCH (1958J - «Derocefas» venm'ense (OPPEL) e «D.» d. submuticum (OPPEL).

Esta fauna permite datar tais formações como pertencentes ao Carixiano infe.rior a médio, Zonas de Jamesoni e Ibex.

O afloramento mais ocidental do Carixiano é o do Cabo de S. Vicente, contactando a leste, por falha, cam o Sinemuriano. Aqui, imediatamente a norte do farol, a sucessão de cima para baixo é a seguinte:

CSV. 6 - calcário branco em bancos de 0,15 a 0,50 m com nódulos de sílex e abundantes crinóides 10 m.

CSV. 5 - calcário margoso amarelado com nódulos de sílex, arredondados, e crinóides ............ .. . ...... 3/ 4 m

CSV. 4 - calcário com pacto . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .. 1 m

CSV. 3 - calcário margoso amarelado com crinóides, seme-lhante a CSV. 5 ................... .. . . .... .. .... 1,60 m

CSV. 2 - calcário dolomítico alternante com calcário mar­goso tenro em bancos menos desenvolvidos. Os nódulos siliciosos são mais abundantes nos calcá-rios dolomíticos .... ... ....................... 15/ 20 m

CSV. 1 - dolomia cinzenta, compacta, do Sinemuriano. Até ao nível da água . . .................................... . 20 m

A leste do forte do BeliXie também foi possível fazer um corte pormenorizado do Carixiano. Aqui observa-se:

BEL. 6 - calcário branco compacto, rico de crinóides e sec­ções de conchas várias, principalmente lamelibrân-quios . . E bom nível de referência .... ... .. ...... 1 m.

Page 23: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

161

BEL. 5 - calcário mais ou menos dolomítico :em bancos maci­ços, com grande abundância de sílex:' em bolas de 0,10 a 0,15 m de diâmetro .............. . 20/ 25 m.

Belemnites sp., crinóides.

BEL. 4 - calcários ligeiramente dolomíticos alternantes com calcários margosos amarelados ................ . 5/ 8 m.

Belemnites sp., ,crinóides.

BEL. 3 - mesma alternância de BEL. 4, mais fossilífera, existindo principalmente concha:s de lamelibrân-quIOS . . ...... . . . .. . ......... ... ... ........ . .... . ....... 5 m.

Pecten sp.

BEL. 2 - alternância de calcário branco em pequenos leitos com calcários margosos, sendo abundante o sílex de várias cores (rosado, avermelhado, negro) cerca

de 15 m.

BEL. 1 - dolomia -cinzenta, compacta, do Sinemuriano. Até ao nível da água .......... .. ........................... 5 m . .

o mais espectacular de todos os afloramentos de Carixiano situa-se na praia do Belixe. Aqui cerca de 3/ 4 da altura da arriba são formados por calcários brancos, às vezes ligeiramente dolo­míticos, em que abundam os nódulO's e leitos de sílex de vários tamanhos, cores e feitios. Existem também vários veios de sílex que cortam todO' o conjunto do Carixiano mas não atingem as camadas suprajacentes, que penso s,erem domerianas. Existe neste conjunto pequena fauna de lamelibrânquios, ainda não estudada, mas que não parece poder fO'rnecer novos elementos para a datagem destas fO'rmações.

O último afloramento destes calcários brancos compactos com nódulos de sílex aparece na região de Ferrel, a NE de Espi­che. A atribuição ao Carixiano deve-se apenas à semelhança litológica com os calcários do Cabo de S. Vicente uma vez que não foi encontrada qualquer fauna.

Page 24: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

162

De salientar -que o Carixiano na Andaluzia e por todo o Médio e Alto Atlas apresenta-se com a mesma fáóes que no Algarve e que em toda a série estratigráfica algarvia não se conhecem outras formações semelhantes.

J::a. ) SINEMURIANO

As dolomias e calcários dolomíticos do Liássico inferior são as camadas mais duras de toda a orla ceno-mesozóica, originando relevos bastante vigorosos. Estas formações, quase estéreis do ponto de vista paleontológico, são atribuíveis ao Sinemuriano pela sua semelhança litológica com formações idênticas situadas a norte do Tejo.

Constituem a quase totalidade da região do Cabo de S. Vicente, para norte, até à praia do Telheiro, estando em grande extensão recobertas por ·areias modernas e pliocénicas.

Para leste estas dolomias constituem os flancos de grande sinclinal de orientação WSW-ENE. O flanco norte estende-se de Vale do Boi à Ribeira de Odiáxere, onde uma falha de dir.ecção NW-SE faz desaparecer estas dolomias. O flanco sul estende-se de Salema a norte de Xenicate, onde aquelas desaparece'm sob as areias pliocénicas.

Em várias regiões (Pinheiral, Gaspar de Cima, Louzeira, Espargosa, Pedra Amarela, Salema) é possível observar-se, no limite destas dolomias com os calcários do Dogger inferior, a existência de inúmeros calhaus duma brecha conglomerática cujos elementos são, principalmente, de dolomias e calcários dolomíticos, unidos por cimento calcário. Estas formações nunca foram obser­vadas «in situ» mas penso tratar-se dum nível brechóide que existe no contacto.

JO HETANGIANO

As formações hetangianas pertencem à continuação da faixa de Figueira a Barão de S. João. Esta pequena faixa prolonga-se para leste passando por Bensafrim, Cotifo de Cima, Cotifo de Baixo, Barradas e Arão.

Page 25: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

No ,conjunto estas formações são essencialmente constituí­das por margas de cores variadas (esverdeada, esbranquiçada, avermelhada), sem macrofósseis, não gipsíferas, com algumas bancadas de dolomias ou calcários dolomíticos pouco compactos e com estratificação bem visível. Estas dolomias e calcários dolo­míticos são bast.ante diferentes dos sinemurianos, mais compactos e, normalmente, sem qualquer estratificação.

P. CHOFFAT (1887) assinala uma fauna muito rica neste complexo dolomítico, que, segundo ele, permite paralelizar este complexo com as camadas de Pereiros, datadas como hetangianas.

] frequente a existência dentro deste conjunto, de doleritos, que parecem formar espessa bancada no interior das margas. Pressupõe esta hipótese o alinhamento dos afloramentos dolerí­ticos entre Barão de S. João e Barão de S. Miguel.

n) ANDAR DOS GRÉS DE SILVES

Estas formações, consideradas como as maIS antigas forma­ções mesozóicas portuguesas, à medida que se caminha para leste vão aumentando de importância.

Estes grés vão reaparecer a oeste de Bensafrim e constituem estreito afloramento de orientação W-,E a WSW-ENE, quase contínuo, que passa por Castanheiro, Cotifo de Cima, Monte Ruivo, Cotifo de Baixo, Pedra Branca, Arão e Pegos Verdes, sempre com inclinação ligeira para sul, e assentes em discordância sobre os xistos carbónicos.

Cerca de 550 metros a oeste do cemitério de Bensafrim, no início dum caminho que desce do Vale da Amoreira para a Ribeira da Machada é possível fazer um corte que permite estudar a passagem de grés de Silves-Hetangiano. Aqui, a sucessão de cima para baixo, é a seguinte:

WBE 12 - alternância de margas de cores variadas, princi-palmente verdes e vermelhas ..................... ?

WBE. 11 -calcário dolomítico verde amarelado, muito dia­clasado com pátina cor de chocolate nas super-fícies de diaclasamento .................. .. . 0,10 m.

Page 26: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

WBE. 10 - alternância de margas avermelhadas e esverdea-das .................................................. 2 m.

WBE. 9 - calcário dolomítico idêntico a WBE. 11 0,10 m.

- WBE. 8 - alternância de margas avermelhadas e esverdea-das, com predominância das primeiras 4,20 m.

WBE. 7 - calcário dolomítico verde amarelado, muito dia­dasado, em bancos bem estratificados, com pátina igual à cor salvo nas superfícies. de diaclasamento onde é castanho-escura .. ........... . . 0,50/ 0,60 m.

WBE. 6 - margas vermelho-esverdeadas ....... . .... 0,40 m.

W ,BE. 5 - grés vermelhos ....................... .. ....... 0,50 m.

WBE. 4 - grés ligeiramente alterado, cor verde azeitona mas com tonalidades que variam do amarelo ao negro, pátina negra ........ .... ........ .. . . 0,50 m.

WBE. 3 - margas verde-claras com pátina esbranquiçada 0,15 m.

WBE. 2 - margas vermelho-escuras .................... 2/ 3 m.

WBE. 1 - grés vermelhos ................ ......... ...... ........ ?

Após o estudo da microfauna r.espectiva é possível que este corte forneça elementos preciosos para a compreensão do problema do limite Reciano-Hetangiano. A camada WBE. 7 parece ser já pertencente ao Hetangiano, enquanto que WBE. 5 parece de atribuir ao Reciano. Constituirão as margas WBE. 6 o nível de passagem ?Podemos utilizar o banco de grés WBE. 4, que é um bom banco de referência, como um nível do topo do Reciano? Apenas o estudo futuro de tal corte poderá ou não responder a tais interrogações.

Page 27: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

4 - ROCHAS ERUPTIVAS

As rochas eruptivas apresentam-se em chaminés e filões; os afloramentos dividem-se em dois grupos:

a) um de doleritos, localizados, regra geral, dentro das faixas hetangianas.

b) o segundo de basaltos, normalmente intrusivos nas forma­ções cretácicas, com grande diversidade, não só nas tex­turas como também na composição.

a) DOLERITOS (J)

À descrição feita anteriormente [R. B. ROCHA, 1969} apenas tenho a acrescentar a enumeração dos afloramentos cartografados no presente ano: Portela a Azoia, Fonte do Mar,anhão, Cotifo de Baixo, Cerro Pelado e Barradas.

(3) BASALTOS

Visto o estudo petrográfico destes basaltos estar a ser feito pelo meu colega A. PINTO COELHO limito-me igualmente a referir os afloramentos cartografados:

- Paraíso de Baixo, chaminé nos Grés de Silves; - Gaspar de Cima, chaminé nos calcários dolomíticos do

Sinemuriano; - Cruz da Pedra, filão (?) que atravessa os calcários dolo-

míticos do Sinemuriano; - Fonte Coberta, chaminé nos calcários cretácicos; - Atalaia Velha, dois filões nos calcários cretácicos; - Quinta da Queimada, Monte do Sequeira e Quinta das

Novas, chaminé (?) nos calcários cretácicos, parcialmente coberta pelas areias vermelhas do Pliocénico.

(1) 'Depois de escrito este trabalho foi cartografada uma chaminé dolerítica in trusiva nas lumachelas miocéni.cas, a Sul de Fi~eira.

Page 28: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

166

ROCHAS FILONIANAS

Quatro filões de rochas profundamente alteradas atravessam as formações mesozóicas entre Salema e a praia de Figueira mas só são visíveis nas arribas da costa.

5 - TECTÓNICA

As unidades estruturais de maior importância da região são:

a) dois afloramentos de margas hetangianas, de orientação NE-SW e ENE-WSW, constituindo uma delas um típico caso de pequeno vale tifónico.

b) um sinclinal de eixo NE-SW, cujo núcleo é constituído pelos calcários do Dogger inferior, parcialmente recober­tos por extensa mancha pliocénica, e cujos flancos são constituídos por calcários dolomíticos e dolomias do Sine­muriano e margas hetangianas. Este sindinal interrompe-se bruscamente, por falha, na r,egião, da ribeira de Odiáxere.

As direcções dominantes de falhas são N-S a NE-SW (Cabo de S. Vicente a Sagres. Burga:u, Vila do Bispo, Raposeira), NW-SE (Lagos, Odiáxere) e ENE-WSW (grande falha de Bur­gau a Xenicate). Estas falhas, que provocam às vezes rejeitas con­sideráveis, são bem visíveis por toda a costa mas seguem-se difi­cilmente para o interior uma vez que todos os terr'enos se apresentam consideràvelmente cultivados. Mesmo o estudo da fotografia aérea é dificultado por tal factor.

6-RÉSUMÉ

.on .trouv,era ici les données essentielles de la cartogmphie au 25000· de la région située entre Sagreset Alvor (Algarve occidental) ainsi qu'une étude préliminaire détaillée sur Ie Jurassique inférieur et moyen.

D'apresquelques coupes qui sont décrites dans la régi'On de Sagres­-Cap S. Vicente, iI m'a été possibled'établir les successions lithologiqu'e et chronostratigraphiqlle depuis le Sinémurien jUSqll' au Callovien.

Une importante faune de Spiriferina est citée pour la premier,e fois dans le Toarcien inférieur de la bai,e d' Armação Nova et dans le Domérien de la pI age de Belixe.

Page 29: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

La faune d'ammonites a permis de reconnaitre, dans des forrruvtio.ns considérées jusqu'ici COffime callovienn'es, la présence du Bajocien supérieur et du Bathonien en particulier rã la plage de Mareta. En cet endroit on a donc pu précis'er l'âge des petites coupoles récifales sous-jacentes recou­v,ertes par des couches datées tantôt du Bajocien supérieur tantôt du Bathonien.

7 - BIBLIOGRAFIA

ALMERAs, Y. (1964) -Brachiopodes du Lias et du Dogger. Doc. Lab, Géol. Fac. Sei. Lyon, n. O 5, 161 p.

CHOFFAT, P. (18"87) - Recherches sur les terrains secondaires au Sud du Sado. Comttn. Com. Trab. Geol., t. I, fase. II, pp. 222-312, 4 figs. Lisboa.

CARIOU, K, ELMI, S., MANGOLD, c., THIERRY, J., TINTANT, H. (1967) -La succession des faunes dans le CaIlovien français . Essais de corré­lati,on à l'écheIle de la Zone. Pré-tirage IIe Coloque dtl [urassiqtte, pp. l-56, 4 figs.

FERREIRA, O. V. (1951) - Os Pectinídeos do Miocénico do Algarve. Comun. Servo Geol. Portl/.gal, t. XXXII (1) , pp. 153-180, 3 quadros, 11 est. Lisboa.

MOUTERDE, R. (1967) - Le Lias du Portugal. Vue d'ensemble et divi­sion en Zones. Com. Servo Geol. Port., t. LII, pp. 209-226, 1 fig. Lisboa.

MOUTERDE, R. ; ROCHA, R. & RUGET, C. (1970) -Le Lias moyen et supérieur de la région de Tomar. Com . Servo Geol. Port., t. LV, no prelo, Lisboa.

PAVIA, G. (1969) -NouveHes données sur le Bajocien de Digne. Bol!. Soco Geol. Ital., n. O 88, pp. 445-451, 4 figs. Roma.

PRATSCH, J.-c. (1958) - Stratigraphisch-tektonische Untersuchungen im Mesozoikum von Algarve. Beihefte zum Geologischen [ahr., 30, 123 pp., 2 est., 14 figs. Hannover.

ROCHA, R. B. (1969) - Relatório do levantamento geológico da folha de , Lagos. Relat. inédito, pp. l -30, 7 fat.

STURANI, C. & PAVIA, G. (1968) -Étude biostratigraphique du Bajocien des chaines subalpines aux environs de Digne. Boll. Soco Geol. /tal. , n. O 87, pp. 305-316, 3 figs. Roma.

WESTERMAN, G. (1954) -Monogra:phie der Otoitidea (Ammonoidea). Beih. zum Geol. [ahr., 15, 364 pp., 149 figs., 33 ,est. , 5 quadros. HannoV'er.

ZBYSZEWSKI, G. (1948) -O Mi.océnico marinho da região. de Hensafrim (Algarve). BoI. SOCo Geol. Port. , vo1. VII, 11 pp., 1 quadro, 2 est. Porto.

Page 30: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

K B. ROCHA - Estudo da região do Cabo de S. Vicente - Alvor EST. I

Fig. 1 - Pormenor de marmitas de ero~âo nos glés de Silve5, a ceste de Bensafrim.

-Fig. 2 - Aspecto geral das dolomias do Malm na Pedreira de Burgau.

Page 31: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

R. B. R OCH A - Estudo da região do Cabo de S. Vicente - Alvor EsT. II

Fig. 3 - Aspecto geral do Cretácico da Senhora da Luz vendo-se, à di reita , a chaminé basáltica da Ponta das Ferrarias.

Page 32: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

R. B. ROCHA - Estudo da região do Cabo de S. Vicente - Alvor EST. III

fig. 5 - Aspecto da arriba da praia do Canavial, vendo· se a última camada cretaclca ao nível da praia e superiormente as areias vermelhas pliocénicas que cobrem as

lumachelas do Miocénico.

Page 33: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

R. B. ROCHA - Estudo da região do Cabo de S. T ~icente - Alvor E ST.

Fig. 7 - Pormenor da fotografia ante rior. Todas estas pequenas ilhas ~ão formadas por lumachelas do Miocénico.

Fig. 8 - Aspecto geral da chaminé basáltica da praia do Cais . De notar que o limite

Page 34: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

Falttll"o

FQnte Coberta

M

Srol.do

P M

Pedl'o .. ",.,.-_

ESCALA Ponta da Piedade

km

LEGENDA

A Areias

a Aluviões

A' Deposítos de funda de vole

03 Depósitos de terroço 20-25m

P Phocél'lico M MlOCil'llco C Crelaelto

~ 000<0" Ad Srnemuriono

IIIJ RoeM bêSICo

Limite 9tolO9:CO

~ ~:ec~:Od:S peOOor

- falho

_ Estrado

Esboço geológico da região , de Lagos - Odiáxere

Page 35: CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO … · CONTRIBUIÇAO PARA O ESTUDO GEOLÚGICO DA REGIAO DO CABO DE S. VICENTE-ALVOR(*) POR R. BORDALO DA ROCHA Bolseiro da INVOTAN

Cabo de S. Vicente

LEGENDA

P Pliocénica

J3-5 Malm

Caloviano

Limite geológico

Direcção e pendor

de camadas

Batoniano,Bojociano1Aaleniano

Toarciano

h Domeriono

J1e Corixiono

J1cd Sinemuriono

0"8'

- Falha

= Filão de rocha básica

__ Estrado

P

P

SERRO DAS CARDE IRAS

P

0"10'

ESBOÇ O

CABO DE

SERRO DAS PALMEIRAS

P

~.

+

0"12'

GEOLÓGICO DE

DA REGIAO

s. V I C E N TE SAGRES

S a g,. e.,.

P

NINES

fi>

IJO, IIhotes

J4 ~, do

Martinhal

Ponta do Baleeira

37"0'

ESCALA

I O RR ......... F3F31

km

0"12'

Bol. da Soco Geol. de Portugal, VoI. XVII, 19~