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Universidade Federal de Mato Grosso Faculdade de Engenharia e Tecnologia Departamento de Engenharia Elétrica
Controladores de Demanda Trabalho de Conclusão Curso
Acadêmico
Henrique Matheus
Orientador Mario K . Kawaphara
Cuiabá -MT Outubro de 2003
Universidade Federal de Mato Grosso Faculdade de Engenharia e Tecnologia Departamento de Engenharia Elétrica
Controladores de Demanda Trabalho de Conclusão Curso
“Com isso as indústrias precisam de meios para controlar essa variável, já que a multa pela ultrapassagem da demanda (tipicamente três vezes maior do que a tarifa normal) muitas vezes não justifica a produção extra conseguida”
O autor
Cuiabá -MT Outubro de 2003
Sumário
1. INTRODUÇÃO 4
2. OBJETIVO 4
3. DEMANDA 5
3.1. Demanda versus Consumo 6
3.2. O Controlador de Demanda. 8
3.3. A comunicação entre o Controlador e o Medidor da Concessionária 9 3.3.1. Comunicação Serial 9
3.3.1.1. Taxa de Transferência (Baud Rate) 9 3.3.1.2. Transmissão Assíncrona versus Transmissão Síncrona 10
3.3.2. Protocolo 12
3.4. Métodos de controle 14 3.4.1. Janela móvel 14 3.4.2. Retas de Carga ou Retas Inclinadas 15 3.4.3. Preditivo Adaptativo 16
4. O CONTROLADOR IMPLEMENTADO 17
4.1. Materiais Utilizados 17
4.2. Metodologia 18
4.3. Simulações 23
4.4. Possibilidades de melhoria. 28
5. CONTROLADORES COMERCIAIS 28
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS 29
7. REFERÊNCIAS. 31
1. Introdução
Segundo Costa e Silva (2003), os estudos realizados nos anos oitenta,
constatam que o perfil de comportamento do consumo ao longo do dia encontra-
se vinculado aos hábitos do consumidor e às características próprias do
mercado de cada região. Foi também caracterizado que o sistema elétrico
brasileiro, em quase sua totalidade, possui geração por meio de hidroelétricas.
Portanto, o maior potencial de geração concentra-se no período chuvoso.
Baseando-se nestas características originou-se, em 1982, a nova
Estrutura Tarifaria Horo-sazonal. Em que as tarifas tem valores diferenciados
segundo: horários do dia e períodos do ano.
Nessa nova estrutura tarifária, hoje na forma da Resolução da ANEEL nº
456 de 29 de novembro de 2000, também está inclusa a tarifação sobre a
demanda, que na tarifa de energia elétrica representa a estrutura de geração e
transmissão que a concessionária disponibiliza para o consumidor
respondendo tipicamente por 20% desta, representando portanto, um insumo
significativo.
Com isso as indústrias precisam de meios para controlar essa variável,
já que a multa pela ultrapassagem da demanda (tipicamente três vezes maior
do que a tarifa normal) muitas vezes não justifica a produção extra conseguida.
Foi aí que começaram a surgir os primeiros controladores de demanda, que
são os equipamentos destinados a monitorar e controlar essa variável,
ajudando as indústrias a serem mais competitivas no mercado.
2. Objetivo
Vista a necessidade do controle da demanda, este trabalho visa o
estudo, através da implementação de um controlador de demanda, das
principais características e especificidades desses equipamentos.
Pág.4
3. Demanda
De acordo com a resolução 456 de 29 de novembro de 2000, Art. 2°, §
VIII: “Demanda: média das potências elétricas ativas ou reativas, solicitadas ao
sistema elétrico pela parcela da carga instalada em operação na unidade
consumidora, durante um intervalo de tempo especificado”.
No Brasil o intervalo de tempo (período de integração) é de 15 minutos,
portanto, em um mês teremos: 30 dias x 24 horas / 15 minutos = 2880
intervalos.
“Em termos de medição temos os métodos de medição
síncrona e assíncrona. O método de medição síncrona é aquele
utilizado por todas as concessionárias brasileiras e pela maioria
dos países medindo a energia ativa num determinado intervalo de
tempo que pode variar de 15 à 60 minutos na maioria dos casos.
... Na prática o que se faz é integrar os pulsos de energia dentro
deste intervalo, por isso chamado de intervalo de integração,
obtendo o que chamamos de demanda de energia ativa, ou seja,
a demanda é a energia média consumida em cada intervalo de 15
minutos não existindo plenamente antes do fechamento do
intervalo.
Na maioria dos casos a concessionária fatura pelos
maiores valores registrados nos períodos de fora-ponta e ponta
ou pelos valores contratados, os que forem maiores.
A cada início do intervalo de integração o consumo é
zerado dando início a uma nova contagem. Se ao final do
intervalo o valor médio de fechamento for superior ao limite
permitido o usuário arcará com pesadas multas por
ultrapassagem. Neste ponto é interessante frisar que poderão
ocorrer picos de potência dentro do intervalo de integração desde
que os mesmos não levem à ultrapassagem da demanda. Ao
contrário do que muitos apregoam são os picos de demanda
(média das potências) que não podemos permitir e não os picos
de potência instantânea, normais para a produção, principalmente
Pág.5
em processos onde existem grandes variações de carga durante
curtos períodos de tempo.”(Suppa e Terada)
O método de medição assíncrono será tratado no decorrer do trabalho.
3.1. Demanda versus Consumo Muitas vezes os consumidores confundem os valores de demanda e
consumo numa tarifa de energia elétrica, prejudicando seus custos e
ressaltando o importante papel conscientizador que o Engenheiro Eletricista
deve exercer.
A demanda, como dito anteriormente, representa a estrutura de geração
e transmissão da energia elétrica que a concessionária disponibiliza ao
consumidor. Ela é disponibilizada perante contrato com a concessionária, onde
esta se responsabiliza em manter essa estrutura de fornecimento e o
consumidor, por sua vez, compromete-se a pagar por essa estrutura, usando-a
ou não, e ele também não deve ultrapassar os valores contratados podendo
ser cobradas multas pesadas, caso isso ocorra.
Já o consumo representa a quantidade de energia ativa consumida.
Comparando com um sistema mecânico, a demanda representa o quão
rápido um trabalho foi executado (potência) e o consumo representa o trabalho
executado. Portanto, para um mesmo consumo, podemos ter demandas
diferentes.
Pág.6
Figura 1- Tarifa de Energia com Ultrapassagem de Demanda. A demanda representa 23,48% da tarifa.
Figura 2-Tarifa sem ultrapassagem da demanda. A demanda representa 10,71% da tarifa.
Pág.7
Figura 3-Tarifa com demanda má dimensionada. A demanda representa 53,15% da tarifa.
3.2. O Controlador de Demanda. O controlador de demanda é o equipamento destinado a monitorar e
controlar a variável demanda de forma precisa e, de preferência, com a menor
interferência no processo produtivo, já que para que ele realize o controle é
necessário que este faça a retirada de alguma carga, com intuito de manter a
demanda daquele intervalo dentro de valores aceitáveis.
“Um Controlador de Demanda necessita medir
corretamente para poder controlar. Em termos globais a
informação para controle deverá vir do medidor da concessionária
pois lá estão os sinais de controle além das variáveis a serem
controladas, liberadas pela mesma através de solicitação padrão.
Logo o Controlador de Demanda deverá estar conectado a este
medidor recebendo as mesmas informações da concessionária e
baseado nestas realizar suas ações sobre as cargas passíveis de
serem controladas. Uma vez recebendo os sinais da
concessionária o Controlador de Demanda passará a verificar
dentro de cada período de integração a necessidade de se retirar
ou não alguma carga elétrica da instalação afim de que a
demanda global se mantenha, dentro deste intervalo, abaixo dos
Pág.8
limites de controle pré estabelecidos (os quais na maioria das
vezes são os valores de contrato junto à concessionária com ou
sem as tolerâncias permitidas).
Voltando à atuação do Controlador de Demanda não
havendo tendência de ultrapassagem da demanda ele não
atuará. Caso contrário ele poderá atuar e quando a demanda
diminuir ele terá que repor (ou pelo menos liberar para uso) de
forma automática as cargas antes retiradas...”(www.gestal.com)
3.3. A comunicação entre o Controlador e o Medidor da Concessionária
O controlador de demanda se comunica com os medidores das
concessionárias, através da saída serial do usuário, disponível em todos os
medidores eletrônicos. Sua comunicação é padronizada pela NBR 14522
“Intercâmbio de informações para sistemas de medição de energia elétrica –
Padronização”
3.3.1. Comunicação Serial A maioria das mensagens digitais são mais longas que alguns poucos
bits. Por não ser prático nem econômico transferir todos os bits de uma
mensagem simultaneamente, a mensagem é quebrada em partes menores e
transmitida seqüencialmente. A transmissão bit-serial converte a mensagem
em um bit por vez através de um canal. Cada bit representa uma parte da
mensagem. Os bits individuais são então rearranjados no destino para compor
a mensagem original. Em geral, um canal irá passar apenas um bit por vez. A
transmissão bit-serial é normalmente chamada de transmissão serial, e é o
método de comunicação escolhido por diversos periféricos de computadores.
3.3.1.1. Taxa de Transferência (Baud Rate)
A taxa de transferência refere-se a velocidade com que os dados são
enviados através de um canal e é medido em transições elétricas por segundo.
Pág.9
Na norma EIA232, ocorre uma transição de sinal por bit, e a taxa de
transferência e a taxa de bit (bit rate) são idênticas. Nesse caso, uma taxa de
9600 bauds corresponde a uma transferência de 9600 dados por segundo, ou
um período de aproximadamente, 104 ms (1/9600 s). Outro conceito é a
eficiência do canal de comunicação que é definido como o número de bits de
informação utilizável (dados) enviados através do canal por segundo. Ele não
inclui bits de sincronismo, formatação, e detecção de erro que podem ser
adicionados a informação antes da mensagem ser transmitida, e sempre será
no máximo igual a um.
3.3.1.2. Transmissão Assíncrona versus Transmissão Síncrona
Geralmente, dados serializados não são enviados de maneira uniforme
através de um canal. Ao invés disso, pacotes com informação regulares são
enviados seguidos de uma pausa. Os pacotes de dados binários são enviados
dessa maneira, possivelmente com comprimentos de pausa variável entre
pacotes, até que a mensagem tenha sido totalmente transmitida. O circuito
receptor dos dados deve saber o momento apropriado para ler os bits
individuais desse canal, saber exatamente quando um pacote começa e quanto
tempo decorre entre bits. Quando essa temporização for conhecida, o receptor
é dito estar sincronizado com o transmissor, e a transferência de dados precisa
torna-se possível. Falhas na manutenção do sincronismo durante a
transmissão irão causar a corrupção ou perda de dados.
Duas técnicas básicas são empregadas para garantir a sincronização
correta. Em sistemas síncronos, canais separados são usados para transmitir
dados e informação de tempo. O canal de temporização transmite pulsos de
clock para o receptor. Através da recepção de um pulso de clock, o receptor lê
o canal de dado e armazena o valor do bit encontrado naquele momento. O
canal de dados não é lido novamente até que o próximo pulso de clock chegue.
Como o transmissor é responsável pelos pulsos de dados e de temporização, o
receptor irá ler o canal de dados apenas quando comandado pelo transmissor,
e portanto a sincronização é garantida.
Pág.10
Em sistemas assíncronos, a informação trafega por um canal único. O
transmissor e o receptor devem ser configurados antecipadamente para que a
comunicação se estabeleça a contento. Um oscilador preciso no receptor irá
gerar um sinal de clock interno que é igual (ou muito próximo) ao do
transmissor. Para o protocolo serial mais comum, os dados são enviados em
pequenos pacotes de 10 ou 11 bits, dos quais 8 constituem a mensagem.
Quando o canal está em repouso, o sinal correspondente no canal tem um
nível lógico ‘1’. Um pacote de dados sempre começa com um nível lógico ‘0’
(start bit) para sinalizar ao receptor que um transmissão foi iniciada. O “start bit”
inicializa um temporizador interno no receptor avisando que a transmissão
começou e que serão necessários pulsos de clocks. Seguido do start bit, 8 bits
de dados de mensagem são enviados na taxa de transmissão especificada. O
pacote é concluído com os bits de paridade e de parada (“stop bit”).
O comprimento do pacote de dados é pequeno em sistemas assíncronos
para minimizar o risco do oscilador do transmissor e do receptor variar. Quando
osciladores a cristal são utilizados, a sincronização pode ser garantida sobre os
Pág.11
11 bits de período. A cada novo pacote enviado, o “start bit” reseta a
sincronização, portanto a pausa entre pacotes pode ser longa.
3.3.2. Protocolo
No capítulo 11 da NBR 14522 está a normalização para saída do
usuário, descrita abaixo:
A cada segundo cheio, o Registrador deve enviar um bloco pela saída
serial de usuário. A cada fim de intervalo de demanda, um bloco
correspondente a este momento de ser enviado três vezes consecutivas,
repetindo os mesmos dados, uma vez a cada segundo cheio;
Características da transmissão.
Velocidade: 110 Baud ± 3%
Tipo: Assíncrona
Modo: Monodirecional
Caracter: 1 start bit
8 bits de dado
1 a 2 stop bits
Tamanho do Bloco: 8 caracteres.
Tempo entre blocos: 1 segundo cheio
Correspondência lógica: Nivel lógico “1” corresponde a saída
desativada
Formatação dos campos:
Dados binários, exceto quando indicado.
Formatação dos blocos de dados:
Octeto 001: Bits 0 a 7: Número de segundos até o fim do intervalo de
demanda ativa atual LSB
Octeto 002: Bits 0 a 3: Número de segundos até o fim do intervalo de
demanda ativa atual MSB
Bit 4: Indicador de fatura. É complementado a cada
reposição de demanda.
Pág.12
Bit 5: Indicador de intervalo reativo. É complementado
a cada fim de intervalo de consumo reativo.
Bit 6: Se igual a 1, indica que os pulsos de energia
reativa capacitiva estão sendo computados para
cálculo de UFER e DMCR.
Bit 7: Se igual a 1, indica que os pulsos de energia
reativa indutiva estão sendo computados para
cálculo de UFER e DMCR.
Octeto 003: Bits 0 a 3: Segmento horo-sazonal atual:
0001 – ponta
0010 – fora da ponta.
1000 – reservado
Bits 4 a 5 Tipo de tarifa
00 – Azul
01 – Verde
10 – Irrigantes
11 – Outras
Bit 6: Não usado
Bit 7: Se igual a 1, tarifa de reativos ativada.
Octeto 004: Bits 0 a 7: Número de pulsos de energia ativa desde o início
do intervalo de demanda ativa atual LSB.
Octeto 005: Bits 0 a 6: Número de pulsos de energia ativa desde o início
do intervalo de demanda ativa atual MSB.
Bit 7: Não usado.
Octeto 006: Bits 0 a 7: Número de pulsos de energia reativa desde o
início do intervalo de demanda ativa atual LSB
Octeto 007: Bits 0 a 6: Número de pulsos de energia reativa desde o
início do intervalo de demanda ativa atual MSB
Bit 7: Não usado
Octeto 008: Bits 0 a 7: Complemento do “ou exclusivo”dos octetos
anteriores.
Pág.13
3.4. Métodos de controle O método de controle do controlador de demanda define a estratégia
que este irá utilizar para monitorar e controlar a demanda. É, portanto, sua
componente mais importante, afinal é o método de controle quem determina a
maior ou menor precisão do controlador e o grau de interferência que o
controlador irá imprimir ao processo produtivo.
3.4.1. Janela móvel
O chamado algoritmo da janela móvel, inventado no final da década de
70, para uso nos primeiros controladores microprocessados, nada mais é que
um processamento "first-in first-out" (o primeiro que entra é o primeiro que sai),
onde a janela de 15 minutos é dividida em compartimentos. Em cada
compartimento são armazenados o total de pulsos de energia contados no
correspondente período de tempo. Para exemplificar facilmente, diremos que
este compartimento é de 1 minuto. Então, a cada minuto, o controlador
descarta o número de pulsos contados há 16 minutos atrás, e acrescenta o
número de pulsos contados no último minuto.
Figura 4- Método de controle por Janela Móvel
A figura 4 ilustra este tipo de algoritmo. A Demanda Projetada, neste
sistema, nada mais é que a demanda média dos últimos 15 minutos,
independentemente do fato de estarmos no início, no meio ou no fim do
intervalo de integração de 15 minutos. Trata-se de um algoritmo assíncrono em
relação à medição da concessionária, que utiliza o pulso de sincronismo
apenas para o armazenamento dos valores na memória de massa do
controlador. A Demanda Projetada pelo algoritmo da janela móvel reflete o que
ocorreu no passado, e não, a tendência da demanda para o futuro, ou para o
final do intervalo de 15 minutos atual.
Pág.14
“...A janela móvel na verdade é um filtro de média móvel que
“caminha” a cada período de atuação do controlador trazendo
consigo todo o histórico (inércia) do período de integração
anterior. Em outras palavras, antes de entrar num novo período
de integração visto pela concessionária, mas não por este
método, a medição por janela móvel traz consigo um valor médio
acumulado do período imediatamente anterior ao invés de entrar
“zerado” como o faz o método de medição síncrona. Este fato por
si só impede qualquer tipo de otimização do consumo dentro do
intervalo de integração e portanto da própria demanda...” (Suppa
e Terada)
3.4.2. Retas de Carga ou Retas Inclinadas
Em meados da década de 80, surgiram os algoritmos chamados de reta
de carga. A grosso modo, eram algoritmos que faziam uma "regra de três" com
o número de pulsos acumulado no intervalo, o tempo transcorrido, o tempo
total do intervalo (15 minutos), para chegar à Demanda Projetada. Este
algoritmo é síncrono à medição da concessionária, pois não considera valores
do intervalo anterior na projeção do intervalo atual. Entretanto, apresenta
grandes erros no início de cada intervalo.
Figura 5- Método de controle por Reta de Carga ou Retas Inclinadas
Pág.15
A figura 5 mostra o funcionamento prático do algoritmo reta de carga.
Uma análise mais atenciosa da figura mostra que a tendência de
ultrapassagem da demanda máxima se iniciou no instante t1, tendo sido
detectada pelo algoritmo apenas no instante t2. Isto ocorre tanto quando a
demanda sobe, como quando ela cai. A demora na tomada de decisões é o
principal defeito deste algoritmo.
3.4.3. Preditivo Adaptativo
O controle preditivo adaptativo é uma variante do controle por retas
inclinadas, porém, de complexididade maior, permite um melhor grau de
otimização do controle da demanda, com menor interferência no processo.
O termo adaptativo significa que a função de controle se adapta às
mudanças do processo e no caso do controle de demanda significa que as
prioridades de atuação sobre as cargas podem variar automaticamente de
acordo com as condições do processo, impedindo que o controlador penalize
primeiro sempre uma mesma carga.
A parte preditiva utiliza medição sincronizada com a concessionária,
integrando os pulsos recebidos a partir do instante zero (chegada do
sincronismo) e trabalhando sempre com a projeção da demanda dentro do
intervalo de integração e com o conhecimento prévio do valor da potência da
carga, podendo ainda operar de forma adaptativa.
É muito importante ressaltar que dentro do método de controle preditivo
temos diversas variantes, que traduzem em mais ou menos eficiência em termos
de otimização da freqüência de chaveamento das cargas elétricas.
A parte adaptativa se caracteriza por prioridades de atuações sobre as
cargas controláveis, que se alteram automaticamente durante o período de
integração em função de uma variável elétrica ou de processo (demanda média,
consumo, temperatura, pressão, vazão, etc.) ou em função de uma condição
operacional qualquer configurada pelo usuário em tempo real. Com este recurso
é possível alterar dinamicamente as prioridades sobre as cargas controláveis em
função de mudanças na linha de produção ou ainda visando atuar
Pág.16
prioritariamente sobre as cargas que pertençam ao setor responsável pela
tendência de ultrapassagem de sua própria demanda setorial.
Considerando uma instalação com três setores distintos, cada qual com
suas cargas elétricas associadas e suas demandas setoriais próprias, além da
demanda global de contrato. E utilizando-se um controlador de demanda com
um método de controle por janela móvel ou retas inclinadas as prioridades de
atuação seriam fixas penalizando sempre as mesmas cargas prioritariamente,
mesmo que estas não fossem responsáveis naquele momento pela tendência de
ultrapassagem da demanda global de contrato. Com o recurso de adaptação o
controlador irá atuar prioritariamente sobre as cargas pertencentes ao setor
responsável pela tendência de ultrapassagem de sua própria demanda de
controle setorial, e não sobre as cargas de outro setor que estaria atuando
dentro dos seus limites pré configurados.
Supondo outra instalação com três fornos elétricos com a mesma
potência nominal. Utilizando-se um controlador de demanda sem um controle
adaptativo, as prioridades de atuação seriam fixas penalizando sempre um
determinado forno prioritariamente, mesmo se este estivesse numa condição
proibitiva de ser atuado, como na fase de aquecimento. Com o recurso de
adaptação o controlador irá atuar prioritariamente sobre o forno que estivesse na
melhor condição de processo, como na fase de estabilização, e não sobre
aquele na rampa de aquecimento.
4. O Controlador Implementado
Os equipamentos e linguagens escolhidos para implementação do
Controlador de Demanda deste trabalho foram escolhidos com base na
disponibilidade desses equipamentos na Faculdade de Engenharia Elétrica, e
na experiência do autor.
4.1. Materiais Utilizados
O equipamento escolhido para implementação do controlador de
demanda foi o Controlador Lógico Programável (CLP) modelo MPC 4004 da
Pág.17
marca Atos Automação Industrial. A linguagem utilizada foi a linguagem ladder
ou diagrama de contatos.
Lista dos Materiais:
Item Descrição Quantidade
01 Bastidor de 06 passos 01
02 CPU 4004.5E 01
03 Fonte chaveada para alimentação
4004.40
01
04 IHM 4x20 01
As cargas e o medidor para ligação ao controlador foram implementadas
através de simulação através de um micro computador IBM-PC® com software
desenvolvido em linguagem Borland Delphi®.
4.2. Metodologia O controlador foi implementado com base no algoritmo reta de carga,
como apresentado na figura 3. Nesse exemplo o software utiliza como
referência uma demanda de 150kW e uma banda de controle de 20kW, 160kW
para o limite superior e 140 kW para o limite inferior. O ponto 1, na figura 6,
indica a ultrapassagem do limite superior, momento em que as cargas
começam a ser desligadas, até que a demanda projetada retorne para dentro
da faixa de controle. O ponto 2, na figura 6, indica a passagem da demanda
projetada pelo limite inferior, momento em que o controlador começa a religar
as cargas. Caso a demanda projetada esteja dentro da faixa de controle, não
há atuação sobre as cargas. O objetivo do controlador é que a demanda no
momento do fechamento esteja dentro da faixa de controle.
Pág.18
Figura 6-Crescimento da Demanda no Tempo. G
A demanda projetada é calculada ut
do simulador. Os dados enviados pelo
medidor da concessionária, o número d
horário (ponta ou fora da ponta) e o pulso
Os pulsos de energia ativa são cont
integralização e zerados a cada sincro
encontrada através da seguinte equação:
projDem Puls=
Onde:
Demproj → Demanda Projetada. Indica
o fechamento do intervalo.
Pulsos → Número de pulsos de ene
demanda.
Kdem → Constante de demanda defin
10demKK RTC RTP= × ×
Limite superior
a
r
Limite inferioráfico sim
ilizando
simulad
e pulsos
de sincr
abilizado
nismo. A
demos K×
o valor
rgia ativ
ida pela
400h kW⎡× ⎣
Demanda Projetad
Ponto 1
ulando d
as inform
or são,
de ene
onismo (
s dentr
projeç
da dema
a recebi
seguint
rot⎤⎦
Ponto 2
Faixa de controle
entro do software.
ações provenientes
a exemplo de um
rgia ativa, o posto
a cada 15 minutos).
o do intervalo da
ão da demanda é
nda caso ocorresse
dos no intervalo de
e equação:
Pág.19
Onde:
RTC → Relação do Transformador de Corrente
RTP → Relação do Transformador de Potencial
Kh → Valor que expressa a relação entre a energia registrada pelo medidor
e o valor correspondente na saída de pulsos do usuário, dado em
Wh/rot.
A constante 4 é devida a transformação de Kwh para Kw pois a
integralização é feita em intervalos de 15 min ou ¼ de hora.
A constante de demanda é informada ao controlador de demanda
através da IHM no menu de configuração. No caso deste trabalho a constante
de demanda vale:
1160 1 41000
0.64
kWKdem rotkWKdem rot
⎡ ⎤= × × × ⎣ ⎦
⎡ ⎤= ⎣ ⎦
Os valores das retas superior e inferior para comparação com a
demanda atual são calculados, segundo a segundo, dentro do controlador e
comparadas com a demanda projetada. As retas são geradas através das
seguintes equações:
[ ]
[ ]
max
min
900
900
superior
inferior
DemDem tempo Banda kW
DemDem tempo Banda kW
⎛ ⎞= × +⎜ ⎟⎝ ⎠⎛ ⎞= × −⎜ ⎟⎝ ⎠
Onde:
Demmáx, Demmin → Projeção da Demanda máxima (reta superior) e
mínima (reta inferior) respectivamente.
Dem → Demanda informada ao controlador de
demanda
Bandasuperior e Bandainferior → Definem a faixa de controle, ambas são
informadas ao controlador de demanda.
Tempo → Tempo em que se encontra o intervalo atual da
demanda em segundos.
Pág.20
A constante 900 é equivalente ao tempo total do intervalo que são 900s
ou 15min.
O software simulador faz o papel do medidor da concessionária e das
cargas, enviando os dados ao CLP através da porta de comunicação RS-232,
utilizando o protocolo de comunicação do CLP, APR 03 em anexo.
As cargas são programáveis e pode-se informar a potência em cv, o FP,
a tensão e o rendimento. Todas as cargas são consideradas trifásicas. As
seguintes equações são aplicadas:
[ ]
[ ][ ]
[ ]
( ) 7363
3
sen(arccos( )) 3
1000 36001000
cvPI A
V FP
P V I FP W
Q V I FP VArPW kWh
WtPulsosRTC RTP Kh
η×
=× × ×
= × × ×
= × × ×
=×
×=
× ×
Onde:
I → Corrente calculada para cada carga
P → Potência ativa calculada para cada carga
Q → Potência reativa calculada para cada carga
W → Energia ativa medida a cada segundo para cada carga
Wt → Energia ativa total medida a cada segundo
Pulsos→ Número de pulsos gerados naquele segundo
Os pulsos ativos enviados têm que ser números inteiros, então, a cada
segundo é enviado somente a parte inteira do pulso e o que sobra é somado
ao pulso do próximo segundo.
Pág.21
Figura 7-Tela do software simulador
Além de calcular as potências e as energias consumidas pelas cargas o
software permite a escolha do posto horário, essa informação faz com que o
controlador de demanda alterne entre as variáveis de controle, para os horários
de ponta e fora-de-ponta. A saída serial pode conter os dados para envio ao
CLP ou pode simular uma saída do usuário, como em um medidor real, e o
tempo base pode ser alterado a fim de aumentar a velocidade da simulação.
Pág.22
4.3. Simulações Abaixo foram colocados alguns resultados de simulações realizadas.
Cargas definidas no software:
Carga Potência (cv) Tensão FP Rendimento
01 30 380 0,90 0,92
02 40 380 0,90 0,92
03 50 380 0,90 0,92
04 75 380 0,90 0,92
05 75 380 0,90 0,92
06 200 380 0,90 0,92
Pág.23
Análise 1:
Com todas as cargas acionadas. Tempo total da simulação de 5h
Configurações feitas no Controlador de Demanda:
Demanda: 150 kW
Banda Superior: 10 KW
Banda Inferior: 10 kW
Tempo atuação das cargas: 30s
Resultados obtidos
Demanda Máxima 1: 153,16 kW
Demanda Máxima 2: 153,16kW
Demanda Máxima 3: 153,02 kW
Energia Total: 760,20 kWh
Demanda Média: 152,04 kW
Limite Superior
Limite Superior Projeção da Demanda
Figura 8-Gráfico da primeira simulação. Comportamento da demanda em um intervalo.
Pág.24
Análise 2:
Com as cinco primeiras cargas acionadas. Tempo total da simulação de 5h
Configurações feitas no Controlador de Demanda:
Demanda: 150 kW
Banda Superior: 10 KW
Banda Inferior: 10 kW
Tempo atuação das cargas: 30s
Demanda Máxima 1: 155,12 kW
Demanda Máxima 2: 148,31 kW
Demanda Máxima 3: 141,96 kW
Energia Total: 714,27k Wh
Demanda Média: 142,85 kW
Limite Superior
Limite Superior Projeção da Demanda
Figura 9-Gráfico da segunda simulação. Comportamento da demanda em um intervalo.
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Análise 3:
Com as cinco primeiras cargas acionadas. Tempo total da simulação de 5h
Configurações do Controlador de Demanda:
Demanda: 150 kW
Banda Superior: 15 KW
Banda Inferior: 10 kW
Tempo atuação das cargas: 60s
Demanda Máxima 1: 159,00 kW
Demanda Máxima 2: 152,63 kW
Demanda Máxima 3: 152,18 kW
Energia Total: 755,21 kWh
Demanda Média: 151,04 kW
Limite Superior
Limite Superior Projeção da Demanda
Figura 10-Gráfico da terceira simulação. Comportamento da demanda em um intervalo.
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Análise 4:
Com as quatro primeiras cargas acionadas. Tempo total da simulação de 5h
Configurações do Controlador de Demanda:
Demanda: 130 kW
Banda Superior: 5 KW
Banda Inferior: 20 kW
Tempo atuação das cargas: 20s
Demanda Máxima 1: 131,96 kW
Demanda Máxima 2: 131,96 kW
Demanda Máxima 3: 131,96 kW
Energia Total: 610,16 kWh
Demanda Média: 122,03 kW
Projeção da Demanda
Limite Superior
Limite Superior
Figura 11-Gráfico da quarta simulação. Comportamento da demanda em um intervalo.
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4.4. Possibilidades de melhoria.
O controlador implementado é dedicado somente ao controle de
demanda, mas, observando as informações que estão disponíveis nos
medidores das concessionárias, observa-se que é possível a inclusão do
controle do fator de potência através do chaveamento de bancos de
capacitores.
Além desses dois tipos de controle é possível, a exemplo de
controladores comerciais, a inclusão da programação horária das cargas,
escolhendo os horários em que as cargas serão habilitadas ou não, e nesse
sentido, implementar prioridades variáveis através dessa programação e do
rodízio das cargas ou através das entradas do CLP, recebendo informações
sobre grandezas do processo e escolhendo a carga que irá ter menor influência
na produção.
Outro item que pode ser desenvolvido é um outro método de controle, no
qual o controlador “sentiria” a tendência da ultrapassagem da demanda, como
no controle preditivo adaptativo, postergando o chaveamento das cargas até o
último momento.
5. Controladores comerciais
Os controladores de demanda disponíveis comercialmente normalmente
são de hardware dedicado, ou seja, o seu hardware é desenvolvido
especialmente para o controle de demanda. Dificilmente encontramos sistemas
abertos, utilizando como hardware, os CPs (Controladores Programáveis).
Além do controle de demanda, os sistemas comerciais também
disponibilizam o controle do fator de potência através do chaveamento de
bancos de capacitores e o controle de cargas através de programação horária.
Os métodos de controle utilizados são os mais diversos, desde janela
móvel até o controle preditivo adaptativo, alguns inclusive com vários métodos
de controle disponíveis para escolha num mesmo controlador.
Atualmente, a palavra de ordem para os fabricantes de controladores de
demanda é a conectividade, e nesse sentido, eles vem desenvolvendo cada
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vez mais a conectividade com a Internet. E o Engenheiro ou Empresa de
Engenharia que trabalhe na área de consultoria pode, hoje, instalar
equipamentos para monitoramento e/ou controle da demanda em seus clientes
e confortavelmente visualizar as informações de demanda, chaveamento das
cargas e fatura através de um micro computador conectado a Internet.
6. Considerações Finais
“Afim de se obter o máximo aproveitamento da demanda
de energia ativa contratada junto à concessionária de energia
elétrica muitas vezes se necessita de um grau mínimo de
automatismo sobre as cargas da instalação através de um
controlador digital de baixo custo do tipo CLP (controlador
lógico programável).
Independente da plataforma de hardware utilizada o
método de controle (o qual depende diretamente do método de
medição) é que irá definir o índice deste aproveitamento
permitindo ao usuário otimizar ou não os valores de contrato
bem como o número de chaveamento das cargas controladas.”(
Suppa Terada)
Afinal, será que realmente é importante o uso de um controlador de
demanda?
Em uma análise prévia, podemos ver que cada caso tem que ser
analisado individualmente. Só para citar duas idéias, vamos pensar em um
processo industrial contínuo, veremos que a demanda é praticamente
constante, com pouca ou nenhuma variação durante o dia. Nesses casos, o
controlador de demanda pouco contribuiria para o controle da demanda,
porém, ele poderia servir como um sistema de monitoramento e dessa forma
auxiliar na escolha da demanda ótima a ser contratada e numa segunda fase
auxiliaria no controle dessa demanda, otimizando o sistema elétrico da
indústria.
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Já nas indústrias seriadas, como as que trabalham por encomenda, o
controlador de demanda é um item quase que obrigatório, afinal, não é viável
contratar a demanda de acordo com a carga instalada, mas as máquinas
poderão ser ligadas todas ao mesmo tempo, pois a indústria obedece aos
pedidos encomendados e a demanda medida poderia ficar muito acima do
contratado gerando multas elevadas na fatura de energia. Nesses casos, o
controlador faria o papel de um limitador de demanda, e com o uso dos
métodos mais modernos como o preditivo adaptativo, ele poderia fazer o
rodízio automático dessas máquinas ou variar a prioridade de acordo com
variáveis colhidas no próprio chão de fábrica ou vindas do nível administrativo.
Enfim, fazendo uma análise do que foi exposto nesse trabalho, é
possível perceber o nível atual da tecnologia nacional no que diz respeito ao
gerenciamento inteligente de energia elétrica, que hoje é um insumo importante
para indústria, influindo diretamente na produtividade e na capacidade de
competir com indústrias não só nacionais como internacionais. Além de
vislumbrar um ramo para atividade do Engenheiro Eletricista, que é a
consultoria nessa área.
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7. Referências.
Brasil, Resolução ANEEL nº 456 de 29 de novembro de 2000 .
ABNT/CB-03, NBR 14522, “Intercâmbio de informações para sistemas de
medição de energia elétrica – Padronização”,Rio de Janeiro, Maio, 2000
Atos Automação Industrial, Controlador Programável MPC 4004 WinSUP 2,
Ref. 3-0053.140, Manual Ver. 1.40, São Paulo, Julho, 2003.
Atos Automação Industrial, Conjunto de Instruções DWARE, Ref. 3-0002.160,
Manual Rev. 1.60 – São Paulo, Janeiro/2000.
Matcho, Salmanowitz, et all, Usando Delphi 2, O Guia de Referência mais
Completo, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1996.
ESB Medidores, Manual do Usuário ver.3.2, medidor eletrônico SAGA1000,
São Paulo, Junho/2002.
Gestal, Manual do Usuário Smart Box, São Paulo, 2003.
Costa J.M., Silva L.C. E.- UNIOESTE em Energia Elétrica – Tarifação, São
Paulo www.unioeste.br/agais/eletrica.html 20/10/2003.
Suppa M.R., TeradaM.I.- Artigo Comparativo entre métodos de controle de
demanda: qual o mais eficiente para o usuário nacional ?, São Paulo,
WWW.gestal.com.br 20/10/2003.
Como funciona um controlador de demanda ? Especialista on line–Site:
www.gestal.com 18/10/2003.
O que é controle preditivo adaptativo ? (Especialista on line –Site:
www.gestal.com 18/10/2003.
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Canzian, E., MINICURSO Comunicação Serial – RS232, CNZ Engenharia e
Informática. Cotia-SP, www.cnz.com.br, 26/10/2003.
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