Controle Do Processo de Pasteurização Em Cerveja Envasada
description
Transcript of Controle Do Processo de Pasteurização Em Cerveja Envasada
-
MINISTRIO DA EDUCAO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENGENHARIA MECNICA
ELABORAO DE UM MODELO PARA O CONTROLE DO PROCESSO DE
PASTEURIZAO EM CERVEJA ENVASADA (IN-PACKAGE)
por
Daniel Horacio Girotti Fontana
Dissertao para obteno do Ttulo de
Mestre em Engenharia
Porto Alegre, Junho de 2009
-
ELABORAO DE UM MODELO PARA O CONTROLE DO PROCESSO DE
PASTEURIZAO EM CERVEJA ENVASADA (IN-PACKAGE)
por
Daniel Horacio Girotti Fontana
Engenheiro Mecnico
Dissertao submetida ao Corpo Docente do Programa de Ps-Graduao em Engenharia
Mecnica, PROMEC, da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
como parte dos requisitos necessrios para a obteno do ttulo de
Mestre em Engenharia
rea de concentrao: Fenmenos de Transporte
Orientador: Prof. Dr. Paulo Smith Schneider
Comisso de Avaliao:
Prof. Dr. . Ligia S. Damasceno Ferreira Marzack, PPGEQ/UFRGS
Prof. Dra. Adriane Prisco Petry, PROMEC/UFRGS
Prof. Dr. Francis Henrique Ramos Frana, PROMEC/UFRGS
Prof. Dr. Horacio Antnio Vielmo
Coordenador do PROMEC
Porto Alegre, Junho de 2009
-
iii
AGRADECIMENTOS
O presente trabalho foi realizado. sob a orientao do Prof. Dr. Paulo Smith Schneider, a quem
expresso minha sincera gratido por toda sua orientao, compreenso e ajuda para a superao
das dificuldades encontradas durante a execuo deste trabalho
Agradeo Ariane Soraia, to especial na minha vida, pela cumplicidade e amor que sempre
recebi e que sem sua ajuda este trabalho no existiria.
Agradeo aos meus pais, Horacio e Mabel, por tudo que fizeram por mim, de forma
incondicional.
Ziemann-Liess Mquinas e Equipamentos Ltda., que lanou o desafio que foi a base deste
trabalho e pelos todos os apoios recebidos para que eu pudesse executar o mestrado. Agradeo
em especial aos engenheiros Nilson Bolgenhagen, Marcus Gerhardt, Eleandro Tomasi e Luis
Fernando Klein.
Aos colegas do LETA e do GESTE, pelo companheirismo e auxlio. Agradeo de forma especial
ao colega Marco Lovatto, pelo auxlio na resoluo das simulaes computacionais.
Ao Centro Nacional de Supercomputao (CESUP/RS), pela disponibilidade dos recursos
computacionais utilizados neste trabalho.
UFRGS onde, por meio do PROMEC, me disponibilizou esta valiosa oportunidade e por todos
os recursos que me foram colocados disposio.
-
iv
RESUMO
A pasteurizao um processo trmico de tratamento de alimentos, sendo amplamente
difundido na indstria de bebidas. ela que prov ao produto sua durabilidade dentro dos
padres adequados ao consumo humano. Suas aes tambm tm impacto direto nas
propriedades organolpticas e estabilidade qumica do produto.
Os produtos geralmente so pasteurizados em equipamentos de grandes dimenses,
chamados de tneis pasteurizadores. Nestes equipamentos, os alimentos so pasteurizados no
sistema in-package, ou seja, j envasados, de forma a eliminar os microorganismos presentes
tambm no vasilhame.
Este trabalho tem por objetivo a investigao dos fenmenos de transferncia de calor
que ocorrem na pasteurizao de cerveja engarrafada bem como a elaborao de um modelo
analtico visando permitir um controle do processo trmico. Para a obteno dos valores dos
coeficientes de troca trmica global foi projetada e construda uma bancada de testes que permite
recriar as mesmas condies existentes nas mquinas reais.
Com esta bancada so obtidos resultados que permitem analisar os coeficientes globais de
transferncia de calor e estudadas suas relaes com a massa e geometria do vasilhame em
estudo. Estes coeficientes alimentam um modelo analtico proposto que possa ser facilmente
implementado de forma a consolidar o sistema de controle do processo de pasteurizao.
Os coeficientes obtidos atingem uma boa confiabilidade do modelo para este caso em
estudo alm de permitir um conhecimento mais profundo sobre o processo trmico e seu
comportamento fluidodinmico.
De forma a consolidar o pressente trabalho, simulaes numricas so realizadas para
permitir a uma visualizao mais clara das caractersticas de processo atravs os campos de
temperatura e velocidade, para comprovao das observaes efetuadas nos estudos
experimentais.
O modelo proposto de transferncia de calor para o controle do processo, com seus
coeficientes, juntamente com o equacionamento da intensidade de pasteurizao, permitiram a
construo de uma mquina onde os resultados deste estudo so utilizados, atingindo uma
eficincia de processo da ordem de 95%, suficiente para a consolidao da soluo junto ao
mercado.
-
v
ABSTRACT
Formulation of a Model for Controlling the Pasteurization Process of Bottled Beer (IN-
PACKAGE)
Pasteurization is one of the most important processes applied in drinking industry. It is
the process that provides the product the needed durability in order to ensure a secure
consumption for human beings. The effects of pasteurization also affect the organoleptic
properties of the products and its chemical stability.
The products are pasteurized in large equipments called tunnel pasteurizers, and the
process is also called in-package pasteurization. That means that the product is processed already
bottled, in order to eliminate the microorganisms that may be present in the bottle.
This work has the purpose to investigate the physical phenomenas that occurs during
beer pasteurization, and to elaborate an analytical model that describes the thermal problem. In
order to acquire the global heat transfer coefficients, as the analysis of the thermal resistances
involved, it is designed and constructed an analysis machine that creates all the conditions that
can be found in real machines.
With this analysis machine, it is obtained the results of the global heat transfer
coefficients, and it relations with the mass and the geometry aspect ratio of the bottle. The
coefficients will be implemented in the model proposed in order to allow the creation of a
pasteurization control system that can be programmed for a real machine, today not featured in
the machines offered in the Brazilian market
The obtained coefficients ensures a good reliability of the model for this special purpose
as also allows a depth knowledge of the thermal and fluid-dynamic process, for future studies
that can be developed in the area.
For the consolidation of the proposed model, investigations are performed using
numerical methods for a complete observation of the most important features that has influence
in the process.
This work enabled the construction of a real machine with pasteurization process control,
using the model together with the obtained heat transfer coefficients. Some results of measures
made at this machine are presented, showing that it can ensure a efficiency of 95%. This result
turns to be good enough in order to approve the machine for operations in the domestic market.
-
vi
NDICE DE FIGURAS
Figura Pag.
2.1 Morte trmica dos microorganismos a uma dada temperatura.............................. 18
2.2 Curva de Sobrevivncia Trmica (Sevilla 2004)................................................... 19
2.3 Dependncia da curva de sobrevivncia trmica com a temperatura.................... 21
2.4 Curva de Resistncia Trmica................................................................................ 22
2.5 Comportamento da taxa de ganho das Unidades de Pasteurizao........................ 25
2.6 Vista lateral esquemtica de um Pasteurizador de Cestos tipo Gasquet................ 26
2.7 Vista superior esquemtica de um Pasteurizador de Cestos tipo Gasquet............. 27
2.8 Pasteurizador de cestos tipo americano.................................................................. 28
2.9 Diagrama de pasteurizador tipo tnel de Barry-Wehmiller (Clerk 1958).............. 29
2.10 Esquema bsico do movimento da garrafa (sistema walking beams)................ 29
2.11 Apoios fixos e apoios mveis que permitem o avano das garrafas...................... 30
2.12 Cilindros atuadores do movimento descrito na figura 2.10................................... 30
2.13 Movimentao dos pistes e o movimento relativo da garrafa.............................. 31
2.14 Parte frontal de um tnel pasteurizador em ao inoxidvel, com acionamento
por motoredutores planetrios................................................................................ 32
2.15 Esteira transportadora, com eixo e engrenagens de acionamento (Intralox Co
2008)...................................................................................................................... 33
2.16 Vasilhames passando por um pasteurizador tipo tnel construdo em ao inox e
com esteira transportadora (cortesia de Ziemann-Liess Ltda.).............................. 33
2.17 Vista frontal esquemtica de um tnel com sua rea inferior utilizada como
tanque..................................................................................................................... 34
2.18 Vista frontal esquemtica de um tnel utilizando reservatrio de gua quente..... 35
2.19 Planta esquemtica de envase de cerveja............................................................... 36
2.20 Vista geral de uma linha de envase de cerveja....................................................... 36
3.1 Zonas de processo de um tnel pasteurizador. Receita para 16UP........................ 40
3.2 Esquema bsico do processo de transferncia de calor.......................................... 40
3.3 Variao da energia interna dada pelo balano da entrada e sada das taxas de
calor........................................................................................................................ 43
3.4 Formulao de clculo da temperatura de todas as garrafas em um tnel
pasteurizador.......................................................................................................... 46
-
vii
Figura Pag.
4.1 Fluxograma da bancada construda........................................................................ 52
4.2 Vista lateral do prottipo........................................................................................ 53
4.3 Garrafas em testes (piso inferior)........................................................................... 54
4.4 Bico de spray, para cone cheio com ngulo de abertura de 60............................. 54
4.5 Bombas: de gua quente, de gua fria e bomba principal...................................... 55
4.6 Tela do sistema de controle da bancada do pasteurizador..................................... 56
4.7 Termgrafo para medio da temperatura no vasilhame....................................... 57
4.8 Montagem da sonda em um vasilhame de 600ml.................................................. 58
5.1 Curva de aquecimento do vasilhame (medida no cold spot).................................. 61
5.2 Valores do fator f ao longo do teste 1................................................................... 62
5.3 Teste 1 - Resultados do modelo terico, utilizando valores de f ......................... 63
5.4 Variao de f com a temperatura do banho TS.............................................................................. 63
5.5 Curva de aquecimento para o Teste 2 (tempo de 200s por patamar)..................... 65
5.6 Curva de aquecimento para o Teste 3 (tempo de 280s por patamar)..................... 65
5.7 Curva de aquecimento para o Teste 4 (tempo de 360s por patamar)..................... 66
5.8 Variao de f com a temperatura do banho TS.................................................... 66
5.9 Teste 2 - Resultados do modelo terico, utilizando valores de f ........................ 67
5.10 Teste 3 - Resultados do modelo terico, utilizando valores de f ......................... 68
5.11 Teste 4 - Resultados do modelo terico, utilizando valores de f ......................... 68
5.12 Variao de f com a temperatura do banho TS.............................................................................. 70
5.13 Teste 5 - Resultados do modelo terico, utilizando valores de f ......................... 71
5.14 Teste 6 - Resultados do modelo terico, utilizando valores de f ......................... 71
5.15 Valores do fator exponencial f ao longo do teste de resfriamento......................... 73
5.16 Teste Resfriamento - Resultados do modelo terico com valores de f ............... 74
5.17 Fator f - Regies caractersticas.......................................................................... 75
6.1 Modelo auxiliar, compreendendo o (a) vidro e o fluido e (b) modelo com a
geometria original do vasilhame............................................................................ 80
6.2 Contato do fundo de um vasilhame de cerveja com esteira transportadora........... 81
6.3 Esquema bsico das condies de contorno do problema auxiliar........................ 82
-
viii
Figura Pag.
6.4 Interface entre malha no-estruturada tetradica e malha prismtica (a) Modelo
auxiliar, compreendendo o vidro e o fluido e (b) modelo somente fluido............. 88
6.5 Malhas utilizadas (a) Modelo auxiliar, compreendendo o vidro e o fluido e (b)
modelo com a geometria original do vasilhame, somente fluido........................... 89
6.6 Resultados da temperatura interna do vidro. Temperatura externa de 40C
(313K).................................................................................................................... 90
6.7 Mdia da temperatura interna do casco de vidro com aproximao polinomial.... 90
6.8 Evoluo do campo de temperatura: (a) em t = 0s, (b) em t = 20s, (c) em t = 60s
e (d) em t = 120s..................................................................................................... 91
6.9 Evoluo do campo de temperatura corte transversal a 20mm do fundo, em t
= 0s, (b) em t = 20s, (c) em t = 60s e (d) em t = 120s............................................ 92
6.10 Evoluo do campo de temperatura: (a) em t = 150s, (b) em t = 200s, (c) em t =
250s e (d) em t = 300s............................................................................................ 93
6.11 Pontos selecionados para anlise........................................................................... 94
6.12 Evoluo temporal da temperatura para os pontos do eixo da garrafa.................. 94
6.13 Resultados de Engelman e Sani (1983) para diversos pontos da garrafa............... 95
6.14 Evoluo temporal da temperatura para os pontos em outras posies radiais..... 95
6.15 Linhas de corrente: (a) t = 10s, (b) t = 20s, (c) t = 30s, (d) t = 40s........................ 96
6.16 Linhas de corrente: (a) t = 60s, (b) t = 100s, (c) t = 120s, (d) t = 150s.................. 97
6.17 Comparativo entre TCS obtido numericamente com resultados experimentais...... 98
7.1 Viso geral do tnel pasteurizador nacional com controle de processo................. 101
7.2 Vista superior e lateral da mquina........................................................................ 101
7.3 Comparativo de curva obtida em mquina real com modelo utilizado.................. 103
7.4 Outro exemplo de comparativo de curva medida com curva do modelo utilizado 104
7.5 Tela da IHM mostrando o processo em cada ponto da mquina. Escala da
esquerda referente a temperatura (C) e escala da direita referente as UPs......... 105
-
ix
NDICE DE TABELAS
Tabela Pag.
2.1 Faixas de pH relativas s taxas de reproduo dos microorganismos (Gava 1998) 17
3.1 Dados do exemplo de demonstrao do controle de UP......................................... 47
5.1 Valores Utilizados no Teste 1.................................................................................. 60
5.2 Resultados do Teste 1.............................................................................................. 62
5.3 Anlise de Desvios do Teste 1................................................................................. 64
5.4 Valores para os Testes de aquecimento 2, 3 e 4...................................................... 64
5.5 Resultados do Teste 2, 3 e 4.................................................................................... 67
5.6 Anlise de Desvios dos Testes 2, 3 e 4.................................................................... 69
5.7 Valores para os Teste de aquecimento 5 e 6............................................................ 69
5.8 Resultados do Teste 5 e 6........................................................................................ 70
5.9 Anlise de Desvios dos Testes 5 e 6........................................................................ 72
5.10 Valores do Teste de resfriamento............................................................................ 72
5.11 Resultados do Teste de Resfriamento..................................................................... 73
5.12 Anlise de Desvios do Teste de Resfriamento........................................................ 74
5.13 Fator Exponencial Mdio para vasilhame de 600ml............................................... 75
5.14 Propriedades para o Vasilhame de 600ml............................................................... 77
5.15 Coeficiente global de transferncia de calor para vasilhame de 600ml.................. 77
6.1 Informaes das malhas utilizadas.......................................................................... 89
6.2 Funo de Temperatura Interna Obtida no Caso Auxiliar....................................... 91
6.3 Coordenadas dos pontos de anlise, da figura 6.11................................................. 94
6.4 Desvios entre o modelo numrico e o modelo fsico usando f ............................. 99
7.1 Dados de processo do pasteurizador........................................................................ 102
7.2 Resultados da medio mostrada na figura 7.3....................................................... 103
7.3 Eficincia do tnel pasteurizador Teresina/PI...................................................... 104
-
x
LISTA DE SMBOLOS
N Nmero de microrganismos....................................................... [ ]
t Tempo........................................................................................ [s]
K Constante de morte trmica....................................................... [1/s]
D Tempo de reduo decimal........................................................ [s]
Ea Energia de ativao da reao.................................................... [J]
R Constante universal dos gases.................................................... [ /kJ kmol K ]
T Temperatura................................................................................ [C]
K Fator pr-exponencial................................................................. [1/s]
D Fator pr-exponencial (baseado no tempo D)............................ [1/s]
Z Fator de resistncia trmica........................................................ [ ]
L ndice de letalidade................................................................... [ ]
UP Unidade de pasteurizao.......................................................... [UP]
E Energia interna........................................................................... [J]
q Taxa de calor.............................................................................. [W]
U Coeficiente global mdio de transferncia de calor................... [ 2/W m K ]
A rea............................................................................................ [m2]
CP Calor especfico.......................................................................... [ /J kg K ]
V Volume....................................................................................... [m3]
f Fator constante de tempo de transferncia de calor................... [s]
LNu Nmero de Nusselt mdio.......................................................... [ ]
RaL Nmero de Rayleigh................................................................... [ ]
Gr Nmero de Grashof.................................................................... [ ]
Pr Nmero de Prandtl..................................................................... [ ]
g Acelerao gravitacional............................................................ [m/s2]
L Comprimento caracterstico....................................................... [m]
m Massa......................................................................................... [kg]
z Coordenada espacial.................................................................. [m]
r Coordenada espacial.................................................................. [m]
gen Gerao interna de energia......................................................... [J/m3]
v Velocidade................................................................................. [m/s]
H Altura do vasilhame................................................................... [m]
-
xi
Dia Dimetro do vasilhame.............................................................. [m]
k Condutividade trmica.............................................................. [W/mK]
LETRAS GREGAS
Peso especfico.......................................................................... [ 3/kg m ]
Viscosidade cinemtica............................................................. [m2/s]
Difusividade trmica................................................................. [m2/s]
Viscosidade dinmica................................................................ [ /kg m s ]
Coeficiente de expanso trmica................................................ [1/K]
Coordenada espacial................................................................... [rad]
SUB-NDICES
REF Referncia
RED Reduzido
CS Ponto frio (cold spot)
S Banho (spray)
CT Contato
liq Referente ao lquido
vas Referente ao vasilhame
F Fluido
V Vidro
SIST Referente ao sistema vidro-cerveja
-
xii
NDICE
1. INTRODUO ....................................................................................................................... 1
1.1 MOTIVAO ............................................................................................................................................. 2
1.2 REVISO BIBLIOGRFICA .................................................................................................................... 4
1.3 ESCOPO E ORGANIZAO DESTE TRABALHO ................................................................................ 8
2. PASTEURIZAO ............................................................................................................... 10
2.1 SOBRE A PASTEURIZAO ................................................................................................................. 10
2.2 PRINCIPAIS FATORES INFLUENTES .................................................................................................. 12
2.3 PRINCIPAIS MICROORGANISMOS A SEREM ATACADOS PELA PASTEURIZAO ................ 13
2.4 CONSEQNCIAS DE UMA M PASTEURIZAO ........................................................................ 16
2.5 CINTICA DA MORTE TRMICA DE MICROORGANISMOS ......................................................... 17
2.6 HISTRICO SOBRE MQUINAS DE PASTEURIZAO .................................................................. 25
3. APRESENTAO DO PROBLEMA .................................................................................. 39
3.1 MODELAGEM FSICA SIMPLIFICADA CONTROLE PROPOSTO ................................................ 42
3.2 FORMA DE APLICAO PARA O CONTROLE ................................................................................. 45
4. METODOLOGIA .................................................................................................................. 51
4.1 O PROJETO EXPERIMENTAL ............................................................................................................... 51
5. RESULTADOS EXPERIMENTAIS ..................................................................................... 59
5.1 PLANEJAMENTO DOS TESTES ............................................................................................................ 59
5.2 EXECUO DOS TESTES ..................................................................................................................... 60
5.3 TESTE DE AQUECIMENTO ................................................................................................................... 60
5.4 TESTE DE AQUECIMENTO VERIFICAO DA DEPENDNCIA COM O TEMPO .................... 64
5.5 TESTES DE AQUECIMENTO CONSOLIDAO DOS VALORES DE f ..................................... 69
5.6 TESTES DE RESFRIAMENTO ............................................................................................................... 72
5.7 DISCUSSO SOBRE OS RESULTADOS EXPERIMENTAIS .............................................................. 74
6. ESTUDOS NUMRICOS ..................................................................................................... 79
6.1 ESTRATGIA UTILIZADA .................................................................................................................... 79
6.2 MODELAGEM MATEMTICA Problema Auxiliar ............................................................................ 81
6.3 MODELAGEM MATEMTICA Problema Fluido ............................................................................... 87
6.4 MALHAS UTILIZADAS .......................................................................................................................... 87
6.5 O PROBLEMA AUXILIAR ..................................................................................................................... 89
6.6 RESULTADOS ......................................................................................................................................... 91
-
xiii
7. A MQUINA REAL ............................................................................................................. 99
7.1 PASTEURIZADOR COM CONTROLE DE UP ...................................................................................... 99
7.2 MEDIES DE PROCESSO ................................................................................................................. 101
8. CONCLUSO ..................................................................................................................... 105
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ........................................................................................ 108
-
1
1. INTRODUO
A indstria alimentcia est cada vez mais exigindo equipamentos que aliem grandes
volumes de produo com alta preciso nos processos. Estas exigncias fazem com que
equipamentos que operam em uma linha de produo tenham que garantir altos ndices de
rentabilidade, garantindo processos com estreitas margens de tolerncia.
Na indstria de bebidas, a indstria cervejeira uma das maiores e mais tradicionais do
setor e, talvez, a que envolva o maior nmero de processos, desde a manipulao da matria-
prima at os procedimentos de estoque do produto final.
A pasteurizao o ltimo processo ao qual a cerveja submetida. O processo segue a
mesma concepo inventada pelo cientista francs Louis Pasteur em 1864, quando ele
demonstrou que as doenas causadas pelo vinho eram oriundas da presena de microorganismos.
Estes microorganismos eram mortos quando aquecidos at uma temperatura de 55C (Ziemann-
Liess Ltda 1985). No caso da cerveja, a pasteurizao basicamente consiste em submeter cerveja
j envasada (in-package) a um aquecimento gradual at uma temperatura padro e assim mantida
por alguns minutos. Aps este perodo, ela submetida a um resfriamento gradual at a
temperatura ambiente, para armazenamento. A cerveja pasteurizada j envasada para tambm
efetuar uma eliminao dos microorganismos que podem estar no vasilhame, j que a maioria
dos vasilhames de cerveja do tipo retornvel.
Este processo ocorre em um equipamento de grandes dimenses denominado tnel
pasteurizador. Nestes tneis, os vasilhames sofrem diversos banhos, com temperaturas
diferentes, que promovem o aquecimento e o resfriamento gradual das garrafas.
A pasteurizao est assumindo cada vez mais um papel importante na qualidade e
produtividade das indstrias cervejeiras. Isto se deve-se ao fato dos tneis pasteurizadores
estarem encarregados em processar quantidades cada vez maiores de vasilhames, com
tolerncias cada vez menores em relao aos padres exigidos para o processo. Alm disto, as
mquinas devem trabalhar praticamente sem nenhuma interveno humana, exigindo um nvel
muito alto de automao e de confiabilidade.
Nas ltimas dcadas, as nicas mquinas disponveis no mercado que atendem a estas
exigncias so de origem estrangeira. Porm, o parque industrial das cervejarias ainda possui
dezenas de mquinas antigas (ou at mais novas, porm mais simples) que no tem um real
controle do processo de pasteurizao. Este maquinrio se mantm ativo devido ao alto custo das
mquinas importadas. A maior parte das mquinas encontradas apenas controla as temperaturas
-
2
dos banhos, seguindo um padro pr-estabelecido. Qualquer variao no funcionamento de uma
das mquinas da linha de envase ocasiona desvios na pasteurizao exigindo que grandes
quantidades de produtos sejam segregadas, de forma sistemtica, para anlise laboratorial.
Com este panorama caracterizado, a concepo de um modelo matemtico que possa ser
implementado em um software de controle destas mquinas, permitindo que a mesma possa
efetuar adequaes nos banhos em funo do nvel de pasteurizao dos vasilhames no seu
interior extremamente bem-vinda. Este modelo j levaria em conta as propriedades de cada
vasilhame e produto a ser processado, permitindo a visualizao da temperatura e nvel de
pasteurizao de cada vasilhame processado. Estes dados podem, assim, ser acompanhados na
tela de IHM (Interface Humano-Mquina) do pasteurizador.
Finalmente, com o modelo consolidado e com bom nvel de confiabilidade, fabricantes
nacionais de pasteurizadores poderiam aplic-lo e voltar a concorrer com os tneis
pasteurizadores importados.
1.1 MOTIVAO
Com a atual situao de dependncia do mercado externo, alm do relativo pouco estudo
acadmico direcionado aos fenmenos envolvidos no processo de pasteurizao de lquidos j
envasados, este trabalho visa prover resultados que permitam no apenas a compreenso dos
fenmenos envolvidos e suas grandezas, mas tambm uma soluo de curso prtico para sua
aplicao em programa de gerenciamento das mquinas pasteurizadores do tipo tnel.
O problema bsico recai na conduo de calor atravs do casco e na conseqente
conveco natural do fluido interno. Devido s pequenas dimenses do vasilhame e das
diferenas de temperatura entre o fluido envasado e a gua de cada banho, esguichada pelo tnel
(limitada pela resistncia ao choque trmico do material do casco), espera-se um comportamento
onde exista uma maior velocidade prxima s paredes e a maior parte do fluido dentro da
cavidade (o ncleo) relativamente estagnado e termicamente estratificado (Bejan 1995).
Estudos anteriores mostram que o escoamento se mantm dentro do regime laminar,
sendo que em processos longos, as velocidades caem rapidamente com a diminuio do
diferencial de temperatura, podendo chegar ao limite da conduo no fluido (Bejan, 1995; Patio
et al. 2001).
possvel a realizao de estudos experimentais para a obteno dos coeficientes globais
de transferncia de calor, com a medio da temperatura em pontos estratgicos para a
pasteurizao dentro do vasilhame, geralmente o eixo central do vasilhame (Brandon, et al.
-
3
1984; Gava, 1998; Larsen, 2006). Este procedimento relativamente simples para ser executado
em uma bancada e suficiente para poder calcular a intensidade da pasteurizao.
Deseja-se, ento, conhecer estes coeficientes e estud-los para as situaes mais comuns
que ocorrem no interior dos tneis para o vasilhame de vidro com capacidade para 600ml de
cerveja, j que o mais utilizado no mercado.
O vasilhame tambm deve ser analisado de forma a quantificar sua real influncia, tanto
como resistncia trmica para a transferncia do calor, bem como nos campos de velocidade
dentro do vasilhame, devido sua geometria. Lewicki (1983, 1984 e 1985) mostrou que as
relaes geomtricas do vasilhame podem afetar a estabilidade das condies da transferncia de
calor, j que sua forma altera as correntes convectivas.
Para uma medio confivel das temperaturas das paredes internas do vasilhame torna-se
difcil, j que as dimenses dos medidores de temperatura, por menores que sejam, podem
modificar substancialmente o regime de camada limite do ponto em questo, j que se presume
que esta camada limite possua uma pequena espessura.
Com a disponibilidade atual de poderosas ferramentas computacionais, estas
necessidades so supridas atravs da obteno de resultados de simulao numrica dos campos
de velocidade e distribuio de temperatura, validados atravs da comparao da temperatura de
alguns pontos do fluido com resultados experimentais. Desta forma, pode-se considerar uma boa
confiabilidade nos resultados numricos.
Esses resultados permitem ainda uma avaliao adequada da intensidade do tratamento
trmico na bebida, devendo-se conhecer o comportamento fluidodinmico e sua influncia na
distribuio de temperaturas no interior do vasilhame.
Com o conhecimento detalhado dos fenmenos envolvidos pode-se conhecer os efeitos
de cada parte do domnio envolvido, composto pelo vidro do vasilhame e pela cerveja, podendo
definir qual das partes possui uma maior influncia e o porqu disto. Isto leva a concluir a real
influncia da massa do vasilhame, por exemplo, no processo de transferncia de calor.
Uma compilao geral de pasteurizao de cerveja, juntamente com um entendimento
com maior profundidade dos fenmenos de transporte caractersticos do processo, sua
quantificao e organizao tambm so almejados para este trabalho.
-
4
1.2 REVISO BIBLIOGRFICA
At o incio da dcada de 80, uma grande quantidade de trabalhos experimentais e
tericos foi dirigida para estudos de pasteurizao de alimentos j embalados (in-packed).
Porm, a literatura em geral se aplica a alimentos slidos, sendo problemas puramente
condutivos. So relativamente poucos os trabalhos voltados a processo de pasteurizao, ou que
estudam transferncia de calor onde o contedo de uma cavidade lquido, como os de Lewicki
(1984 e 1985)
Destes poucos trabalhos, a grande maioria estudou lquidos contidos em latas. Neste caso,
o recipiente, alm de ser um material com alta condutividade, possui espessuras muito pequenas,
fazendo com que sua resistncia trmica possa ser desprezada, fazendo uma anlise da
conveco natural interna direta, simplificando muito o estudo.
Dos poucos trabalhos completos, utilizando vasilhames influentes no processo, que
fornecem resultados confiveis dos valores dos coeficientes de troca trmica global o de
Lewicki et al (1983, 1984 e 1985). O autor efetuou um estudo experimental em trs etapas
principais.
A primeira (Lewicki, et al, 1983) avaliou quais so os reais fatores que influenciam na
transferncia de calor em vasilhames submetidos aos banhos de um tnel pasteurizador. O autor
demonstrou que os tneis pasteurizadores possuem banhos com vazes muito altas. A
transferncia de calor entre a gua do banho e os vasilhames no afetada com a diminuio
destas vazes, at um ponto limite onde, abaixo deste, a eficincia de troca trmica cai
severamente. Assim, fica demonstrado que como h pouco conhecimento dos fenmenos de
transferncia de calor (pelo domnio destes valores pelos fabricantes das mquinas), os tneis so
providos de bombas com altas vazes, o que garantem que os banhos esto acima deste ponto
limite.
A segunda parte de seu trabalho (Lewicki, 1984), o autor obteve alguns coeficientes
globais de transferncia de calor e avaliou-se seu comportamento em relao razo geomtrica
de alguns vasilhames e em relao ao tempo de processo. O autor instalou sensores de
temperatura em diversos pontos de vasilhames com diferentes razo de aspecto (relao
dimetro/altura), inclusive nas paredes interna e externa dos vasilhames. Os resultados
confirmaram diversas observaes, tais como as inrcias no aquecimento dos vasilhames
maiores, sendo que estes possuem um coeficiente global de transferncia de calor
substancialmente menor do que os menores vasilhames, permitindo que possa se estabelecer
correlaes entre eles.
-
5
Na etapa final do seu estudo (Lewicki, 1985) so realizados estudos estatsticos da
distribuio dos valores dos coeficientes globais de transferncia de calor em diferentes pontos
de diferentes vasilhames, alcanando uma compilao extensa de dados do processo de
transferncia de calor no interior dos vasilhames de uma forma experimental, j que no foi
aplicado nenhum mtodo numrico ou um estudo especfico do comportamento fluidodinmico.
Nos estudos de Lewicki, o prprio autor admite que a instrumentao aplicada pode gerar
interferncias significativas no processo. Por exemplo, os sensores de temperatura instalados na
parede interna dos cascos podem ser maiores do que a camada limite, impedindo a aceitao dos
valores como precisos. Porm, estes estudos ajudaram a entender a participao de cada
componente do problema. Por exemplo, foi obtido que a resistncia da conveco forada
externa cerca de vinte vezes menor do que a da conveco natural interna na garrafa, para
banhos feitos com esguichos com alta presso.
A partir da segunda metade da dcada de oitenta, encontram-se uma presena muito
maior de trabalhos que tratam da conveco natural em fluidos em cavidades, inclusive alguns
com a aplicao da pasteurizao com vasilhames de vidro. Esta evoluo pode ser atribuda ao
incio das aplicaes dos mtodos computacionais.
Um dos primeiros trabalhos que aplica estudos de CFD ao problema da pasteurizao o
de Engelman e Sani (1983). Os autores efetuaram um estudo transiente da transferncia de calor
em um vasilhame de vidro contendo cerveja que aquecido, a partir de uma temperatura inicial,
com uma temperatura externa constante. Foi utilizado um algoritmo prprio, obtendo resultados
que representam bem observaes experimentais, porm apenas de forma qualitativa. Porm, seu
foco direcionado para o mtodo de soluo numrica, deixando a preciso da simulao para
com o processo de pasteurizao em segundo plano. Isto sugerido nitidamente pela sua
condio de contorno para simular a variao de temperatura da parede interna, onde os autores
utilizaram uma condio de regime permanente para a transferncia de calor pelo vidro,
adaptando a lei de Fourier de para , mesmo o vidro no sendo uma dimenso
pequena suficiente para ser considerada infinitesimal.
Um estudo mais atual, e que corrige a situao encontrada em Engelman e Sani, o
trabalho de Patio et al. (2001), onde tambm foi simulado o fluido contido em um vasilhame de
vidro sujeito a um aquecimento dentro de um tnel pasteurizador. A diferena bsica que neste
trabalho os autores tentaram calcular a temperatura interna do vasilhame, estimando um
coeficiente de conveco natural interna e obtendo a desejada temperatura pela condio de
contorno = ( ). O processo foi simulado com um cdigo comercial e a
estimativa de h confirmada com a comparao com um resultado experimental, obtido do
-
6
trabalho de Navarro e Lacoa (1998). Porm o trabalho de Patio mostra apenas o comportamento
fluidodinmico e distribuio de temperatura para apenas um caso de aquecimento.
Larsen (2006) efetuou um estudo muito semelhante ao de Patio (2001), porm aplicou a
hiptese de desprezar a influncia do vasilhame, j que o foco de seu estudo foi baseado na
utilizao de latas de alumnio com cerveja no seu interior. Um dos resultados obtidos por
Larsen que, ao se considerar as variaes nas propriedades em funo da temperatura,
vasilhames aquecidos a um mesmo diferencial de temperatura (T) inicial podem possuir
velocidades de aquecimento ligeiramente diferentes, dependendo do patamar que este diferencial
se aplica, ou seja, uma lata submetida a um T = 20C com temperatura inicial de 10C
levemente mais lenta do que uma lata sob o mesmo T, porm com temperatura inicial de 20C.
Porm, a diferena, mesmo comprovada em diferentes casos, pode ser desprezada.
Kannan e Sandaka (2008) efetuaram um estudo da transferncia de calor em fluidos
submetidos ao processo de pasteurizao em latas. Mesmo possuindo a hiptese de desprezar a
resistncia e a massa do vasilhame (que, de fato, muito pequena se comparada massa do
fluido) os autores efetuaram uma formulao de uma relao para o nmero de Nusselt mdio do
processo, associando-o a diferentes razes de aspecto de envases cilndricos feitos de alumnio.
Os resultados foram comprovados com algumas observaes experimentais. O trabalho tambm
identifica a existncia de uma regio inicial, onde o coeficiente de transferncia de calor pela
conveco interna dominante, mas que rapidamente decai e o problema tende a ser difusivo-
dominante em tempos maiores (relacionados com nmero de Fourier). As correlaes de Nusselt
apresentadas so dividias para a regio advectivo-dominante e difusivo-dominante.
Varma e Kannan (2006) realizaram um trabalho para diferentes geometrias de envase.
Simulaes numricas foram realizadas para diferentes razes de aspecto em recipientes
cilndricos e cnicos visando otimizar a transferncia de calor apenas pela variao de geometria.
A hiptese de desprezar a influncia do vasilhame tambm adotada. O estudo numrico adotou
o aquecimento dos vasilhames a uma temperatura externa constante, com anlise em diferentes
pontos em seu interior. Os resultados demonstraram que vasilhames cnicos possuem uma taxa
de aquecimento muito mais rpido do que o cilindro no seu ponto mais frio, podendo auxiliar em
uma futura evoluo do padro de vasilhames atualmente utilizado pela indstria. Porm, hoje
existe toda uma estrutura envolvida para os atuais vasilhames, tanto de alumnio quanto de vidro,
dificultando uma mudana rpida na forma dos mesmos.
Kurian et al. (2009) estudou o efeito do aquecimento de fluido em uma cavidade
inclinada (desprezando-se novamente o vasilhame). Muitas vezes ocorre a presena de algum
vasilhame que entra em um tnel pasteurizador tombado, ou inclinado (apoiado em outros
-
7
vasilhames). Os autores realizaram estudos numricos para avaliar como se d o aquecimento
nestes vasilhames. Os resultados mostraram que o aquecimento muito mais rpido nos
vasilhames tombados, j que a conveco natural se d em uma altura muito menor. O mesmo
acontece com os vasilhames inclinados, porm surgem regies de estagnao (recirculaes) que
fazem com que, mesmo em tempos maiores, seja muito difcil a uniformizao da temperatura e,
conseqentemente, dos efeitos da pasteurizao. Os resultados tambm incluem a variao do
nmero de Nusselt com o grau de inclinao desde 0 (vasilhame em p) at 90 (vasilhame
deitado).
Yang e Rao (1998) realizaram um estudo com amido de milho dissolvido em gua que
deve ser pasteurizada. Porm, no aquecimento, o contedo tende a possuir um aumento
considervel em sua viscosidade aparente, chegando a atingir um estado gelatinoso. O trabalho
estudou o problema numericamente estabelecendo o comportamento reolgico do contedo no
processo de pasteurizao. Resultados mostraram uma pequena conveco natural logo
interrompida e um problema condutivo se instaura. Um modelo terico foi proposto pelos
autores de forma a simular a pasteurizao na protena de milho dissolvida, j que este produto
um dos mais utilizados na indstria de alimentos.
No Brasil, poucos trabalhos so encontrados na rea. O trabalho de Dilay, et al. (2005)
efetua um estudo termodinmico de tneis pasteurizadores. Mesmo no possuindo o foco da
transferncia de calor nos vasilhames em si, efetuou um balano de energia dentro do complexo
sistema de banhos do tnel, efetuando sugestes para a otimizao dos equipamentos.
No campo dos trabalhos analticos, geralmente se recai em situaes padres da
literatura. O trabalho de Sparrow e Prakash (1981) efetuou estudos tericos de fluidos em
cavidades totalmente fechadas com conveco forada externa e conveco natural interna, em
regime permanente. Este um problema clssico, encontrado na maioria da literatura, como em
Bejan (1995) e Burmeister (1993).
Outros estudos na rea tambm podem ser citados. Os processos de aquecimento e
resfriamentos na pasteurizao foram estudados por Brandon, et al. (1984), analisando-se o o
campo de temperaturas dentro de uma lata, com grandes gradientes na direo radial e uma
posterior uniformizao do campo de temperaturas, no decorrer do processo. O trabalho de Horn,
et al. (1997) descreveu um modelo para conveco transiente e mostrou a importncia na seleo
do ponto correto para medio da pasteurizao, para diferentes geometrias de vasilhames.
Zheng e Amano (1999) utilizaram dois mtodos para descrever o processo: o LPM (Lumped
Parameter Method), o qual descreve o processo como um todo (inclusive partes da mquina,
como tubos e trocadores de calor), alm do CFD (Computational Fluid Dynamics), empregando
-
8
o mtodo dos volumes finitos para calcular as transferncias de calor entre a mquina e os
vasilhames.
Kumar e Bhattacharya (1991) simularam a conveco natural dentro do casco durante
processos de pasteurizao e esterilizao, resolvendo as equaes de conservao de massa,
momentum e energia utilizando-se tambm do mtodo dos elementos finitos. No seu trabalho,
foi mostrado que o ponto de menor temperatura no vasilhame geralmente se encontra em uma
regio entre 10 e 12% da altura do vasilhame, a partir do seu fundo, o que est de acordo com os
padres de medio da pasteurizao pelas cervejarias.
1.3 ESCOPO E ORGANIZAO DESTE TRABALHO
De forma a facilitar a leitura e entendimento do trabalho, apresentado um breve
comentrio da estrutura do trabalho.
No captulo 1 apresentada a motivao da realizao deste trabalho bem como uma
reviso bibliogrfica englobando uma srie de trabalhos publicados sobre a pasteurizao de
produtos alimentcios j envasados, tanto no mbito computacional como experimental.
O captulo 2 descreve os fundamentos do processo de pasteurizao, desde seu
significado fsico-qumico, at o modelo matemtico para sua quantificao. Tambm
apresentado um histrico das mquinas pasteurizadoras de bebidas utilizadas na histria da
indstria cervejeira, bem como as caractersticas das mquinas atuais mais avanadas.
O captulo 3 onde est apresentado o problema a ser estudado. Neste captulo o
problema posto e discutido, levantando-se os principais fatores que o influenciam. Hipteses
preliminares so apresentadas e discutidas de forma a obter o modelo simplificado do
aquecimento dos vasilhames. A partir deste modelo introduzido o fator de correlao f o qual
permitir obter o coeficiente de transferncia global de calor do processo.
O captulo 4 mostra a metodologia que ser utilizada de forma a se obter o fator de
correlao para um determinado vasilhame. O fator ser basicamente obtido atravs de
experimentos laboratoriais com auxlio de uma bancada que reproduz as condies existentes em
pasteurizadores reais.
O captulo 5 mostra os resultados obtidos nos testes experimentais. Estes resultados so
analisados visando a obteno de um padro dos fatores de correlao, em funo do vasilhame
utilizado. Estes fatores alimentam o modelo terico, proposto no Captulo 3, e os resultados
calculados por este modelo so comparados com os resultados experimentais, visando o
-
9
fechamento deste equacionamento, o qual dever permitir calcular a temperatura e nvel de
pasteurizao de um vasilhame em qualquer ponto do processo.
O captulo 6 apresenta um estudo numrico para o aquecimento de um vasilhame, com o
objetivo de estudar a distribuio de temperaturas no seu interior, bem como analisar o
comportamento fluidodinmico e intensidade das correntes de conveco natural que se formam
em seu interior. Estas simulaes so realizadas atravs da utilizao de um cdigo comercial.
Algumas hipteses especiais so introduzidas no modelo numrico. Assim, para garantir que os
dados obtidos nestas simulaes possam ser considerados vlidos, alguns dos resultados
numricos so comparados com resultados experimentais.
O captulo 7 consolida as informaes obtidas para a formulao do modelo simplificado
e mostra o mesmo em funcionamento em uma mquina real, como comprovao prtica, tanto
qualitativa como quantitativa, dos resultados obtidos. So apresentadas as caractersticas
adotadas na mquina de forma a garantir um controle de pasteurizao adequado, bem como os
principais sistemas de controle e instrumentao que auxiliam o modelo a calcular o processo
com a preciso necessria.
Resultados do modelo simplificado e os valores dos coeficientes de correlao obtidos
so comparados com as curvas de pasteurizao obtidas na mquina real para a comprovao
efetiva dos resultados.
O captulo 8 apresenta os comentrios finais sobre o estudo realizado, de forma a analisar
se os objetivos foram atingidos, bem como apresentar sugestes para a otimizao do processo,
visando melhoria contnua das mquinas com controle de processo (focando a reduo dos
custos de produo e operao), alm de propor estudos futuros para complementar os resultados
aqui obtido, utilizando-se do modelo terico proposto.
-
10
2. PASTEURIZAO
Neste captulo so apresentados os fundamentos do processo de pasteurizao, desde seu
significado fsico-qumico, at o modelo matemtico para sua quantificao. Este estudo tem por
objetivo apresentar a real influncia da temperatura no controle microbiolgico. Esta associao
parte primordial deste trabalho, visto que todo o estudo de engenharia aplicado baseia-se nesta
relao.
Tambm apresentado um histrico das mquinas pasteurizadoras de bebidas utilizadas
na histria da indstria cervejeira, bem como as caractersticas das mquinas atuais mais
avanadas.
2.1 SOBRE A PASTEURIZAO
Pasteurizao a tcnica baseada em usar temperaturas elevadas com a finalidade de pelo
menos desativar alguns microrganismos, ou mesmo elimin-los e, com isso, controlar o nvel de
atividade bacteriolgico nos produtos, sem alterar profundamente suas propriedades (Sevilla
2004).
A pasteurizao consiste na aplicao de temperaturas e tempos relativamente baixos,
conseguindo um prolongamento moderado da vida til do produto em troca mantendo uma boa
conservao do seu valor nutritivo e das qualidades organolpticas do mesmo. um tratamento
trmico suave, em contraposio com a esterilizao, que um tratamento muito mais intenso.
Esta ltima tem por finalidade a eliminao completa dos microrganismos presentes nos
produtos, causando, como efeito colateral, uma profunda alterao em suas propriedades.
A pasteurizao deve promover a eliminao dos microorganismos patgenos, porm
apenas diminui os microorganismos alterantes, fazendo com que o processo confira ao produto
um efeito limitado. O processo possui diferentes objetivos dependendo do alimento que sofre o
processo (Gava 1998):
em alimentos cidos, como sucos de fruta, produz uma boa estabilizao j que o meio
cido impede a proliferao de microorganismos esporulados (os mais resistentes ao
trmica), respeitando as propriedades do alimento;
-
11
em alimentos pouco cidos, sendo o exemplo mais importante o leite, a pasteurizao
consegue a destruio da flora patgena e uma reduo da alterante, conseguindo um
produto de curta durao que deve ser conservado refrigerado, mas que possui
caractersticas muito prximas do leite cru.
A pasteurizao utilizada em grande parte dos produtos industrializados. Deve-se a
Louis Pasteur, cientista francs (1822-1895) que sistematizou, em sua poca, boa parte das
tcnicas sobre fermentao e controle de microrganismos (Ziemann-Liess Ltda 1985).
Nesta poca, a indstria vincola francesa se encontrava em crise devido a contaminaes
desconhecidas de seus produtos, causadas por lvedos e bactrias estranhas ao processo
fermentativo normal dos mostos de vinho. As primeiras aplicaes prticas das teorias de Pasteur
resolveram o problema. Seus resultados foram confirmados com o teste realizado no
carregamento de vinho do veleiro La Sibylle. A embarcao percorreu todo o globo e, no final da
viagem, notou-se que o produto no tinha se deteriorado.
Em 1870, Pasteur aplicou seu mtodo pela primeira vez na cerveja, tambm com
excelentes resultados. Pouco tempo depois, as cervejarias europias passaram a adotar a
pasteurizao como um processo padro em sua linha de produo. A pioneira neste quesito foi a
cervejaria Tuborg, de Copenhague. Ainda na dcada de 1880, houve a adoo deste processo
pela primeira vez pelas cervejarias na Amrica (Ziemann-Liess Ltda 1985).
Inicialmente os equipamentos eram rudimentares, usando cubas que, preenchidas com
garrafas e gua, permitiam a entrada de vapor por baixo. As prprias garrafas seguravam suas
rolhas com arames. Este processo tambm se estendeu a outros ramos da indstria alimentcia,
cada um aplicando-o da melhor forma para cada microrganismo presente em cada produto.
Nas ltimas dcadas, a evoluo ocorreu de forma mais intensa, graas ao crescimento da
bioqumica e pelo surgimento de instrumentos de pesquisa cada vez mais sofisticados, como o
microscpio eletrnico. As clulas comearam a ser profundamente analisadas. Assim, o efeito
da pasteurizao sobre estes elementos passou a ser mais bem explicado e compreendido.
O metabolismo da clula, isto , a srie de reaes qumicas no interior da clula por
meio das quais ela se alimenta e com isso ela pode sobreviver e se reproduzir, feito por reaes
enzimticos atravs dos chamados catalisadores biolgicos (constitudos de protenas). Estas
protenas, por sua vez, revelaram a presena de cidos complexos, como RNA e DNA, chamados
de portadores de vida, sempre constituintes de estruturas celulares mais complexas chamadas
nucleoprotenas (Ziemann-Liess Ltda, 1985 e Varnam e Sutherland, 1994).
-
12
Em cada uma delas residem sries de diferentes reaes, possuindo inclusive os
caracteres hereditrios das clulas, nos genes e cromossomas. Assim, o primeiro passo da
pasteurizao atuar sobre a estabilizao destas protenas, principalmente as secundrias,
tercirias e quaternrias: o que se convencionou chamar de desnaturao protica. Ao se atingir
a temperatura adequada do processo da pasteurizao, estes componentes sofrem em primeiro
lugar.
Outra atividade celular fundamental atingida pelo processo a respirao celular. A
respirao realizada atravs de processos fermentativos (reaes oxidativas) que permitem a
absoro de energia necessria manuteno da clula. Estas reaes ocorrem no nvel das
mitocndrias, componentes celulares sensveis a temperatura, pH, etc. (Ziemann-Liess Ltda,
1985 e Varnam e Sutherland, 1994). Esse processo oxidativo uma atividade vegetativa da
clula, que, por se sensvel temperatura, pode ser afetada tambm pela pasteurizao.
Tambm bastante conhecida a atuao das clulas sobre os acares, carboidratos,
gorduras e aminocidos, dando como resultado cido lctico e pirvico, dependendo apenas da
maior ou menor quantidade de oxignio presente no processo. Os carboidratos tambm so
destrudos pela aplicao da temperatura, diminuindo a quantidade de alimento para a clula.
Em resumo, a pasteurizao atua primeiro sobre os componentes mais importantes da
vida celular atravs da desnaturao protica (inativao dos microorganismos, impedindo sua
reproduo) e sobre a respirao celular (morte dos microorganismos).
2.2 PRINCIPAIS FATORES INFLUENTES
Se, por um lado, as temperaturas mais baixas limitadas apenas por seu aspecto
bacteriolgico dentro de um determinado tempo realizam uma boa pasteurizao, pode ento
parecer que temperaturas mais altas sejam a melhor soluo para o mesmo efeito bacteriolgico.
Dentro deste raciocnio, subindo cada vez mais a temperatura se obteria a mesma pasteurizao,
em um tempo menor. Este pensamento verdadeiro at certo ponto.
Focando sobre a cerveja, em altas temperaturas comeam a ocorrer outros fenmenos,
principalmente aceleradores de reaes qumicas e de processos fsico-qumicos, que podem
inutilizar o produto final. A pasteurizao permaneceria tambm ineficaz sobre os
microrganismos ditos termo-resistentes que suportam altas temperaturas, prximas da
esterilizao completa.
-
13
Visto que no objetivo da pasteurizao a eliminao completa dos microorganismos,
convm analisar os fatores para uma boa pasteurizao prejudicando o menos possvel o produto
a ser pasteurizado (Gava 1998):
Qualidade e quantidade dos microorganismos a destruir: com diferenas no s entre as
espcies, bem como entre as formas vegetativas e de resistncia (esporos). Deve-se saber
qual a resistncia trmica de cada grupo;
pH do produto: a acidez de um produto determina o processamento requerido. Em
alimentos com maior acidez, a pasteurizao pode ser mais suave, j que seu baixo pH j
elimina os esporos, no havendo a produo de toxinas;
Velocidade de penetrao do calor da periferia at o centro do vasilhame: influenciada
pela forma, tamanho, condutividade trmica do vasilhame e do produto. Ir determinar o
tempo que o vasilhame ir chegar at a temperatura desejada;
Temperatura e tempo de pasteurizao: quanto mais alta a temperatura ou mais longo o
tempo de pasteurizao, mais eficiente a destruio dos microorganismos. Porm, em
excesso, tambm mais eficiente a alterao do produto;
Temperatura inicial do produto: influi apenas no tempo que levar at o produto atingir
a temperatura de pasteurizao.
Estes itens devem ser estabelecidos para cada tipo de cerveja, tanto quantitativo quanto
qualitativamente, atravs de uma anlise bacteriolgica laboratorial. Com o conhecimento de
cada microrganismo, foi possvel determinar a temperatura que se chamou de letal porque a
partir deste patamar que os microrganismos so desativados em seu crescimento e
multiplicao. Buscou-se, ento, para cada microrganismo, sua temperatura letal.
2.3 PRINCIPAIS MICROORGANISMOS A SEREM ATACADOS PELA PASTEURIZAO
Como neste trabalho se esta estudando o fenmeno sobre a cerveja so apresentados os
principais microorganismos a serem atacados pela pasteurizao. Conhecendo estes
microorganismos, determina-se a temperatura padro de pasteurizao do produto. A relao de
-
14
microorganismos a serem atingidos avaliada partindo-se de cerveja com pH 4.4 e teor alcolico
de 3.2%, com mosto original de 10P (significa que 10% da massa da cerveja matria-prima),
tomando-se uma amostra de 10ml em um frasco de 15ml (esterilizado previamente) tudo
submergido em banho-maria de 10 a 15 minutos (Clerk 1958):
A) Lvedos destrudos a 50C
Saccharomyces cerevisiae lvedo puro de alta fermentao. As clulas novas so
redondas, ovais ou ovalides, tamanho de 3-7 x 4-14 micra. A temperatura limite para a
formao da clula de 30 a 40C. A temperatura tima para sua esporulao de 30C.
Saccharomyces carlsbergensis lvedo puro de baixa fermentao. As clulas novas so
ovais ou ovalides, de 3-5 x 7-10 micra.
Saccharomyces pastorianus lvedo silvestre. As clulas novas so ovais ou dilatadas 3-
7 x 4-15 micra. As temperaturas limite para a formao de clulas so de 0.5 a 34C. As
temperaturas para a formao de esporos esto nas zonas de 0.5 a 4C e 26.5 a 31.5C.
Esse lvedo silvestre perigoso, transmitindo um gosto desagradvel e amargo a d um
mau cheiro cerveja. Pode causar tambm turvao.
Hansenula anomala esse lvedo silvestre forma em pouco tempo uma delgada pelcula
cinza-opaca franzida. As clulas, tamanho 3-5 x 7-15 micra, tem forma de salsicha. O
microrganismo pode ser encontrado em fbricas de cerveja de baixa fermentao, em
quantidade reduzidas e inofensivas. A temperatura tima para a formao dos esporos,
em forma de cartucho, de 30C.
Mycoderma cerevisae lvedo silvestre. As clulas so ovais ou cilndricas, tamanho de
3-5 x 6.8 9.5 micra, apresentadas aos pares ou em correntes curtas. Esse lvedo forma
uma fina pelcula opaca lisa, que aparece nas adegas em tanques mal fechados. O
organismo atua sobre o lcool, porm no foram confirmadas influncias organolpticas
na cerveja, na cor ou no brilho.
Candida utilis lvedo silvestre produz grossas pelculas mucosas, inofensivas nas
cervejas de baixa fermentao.
-
15
B) Lvedos destrudos de 54-56C
Saccharomyces ellipsoideus lvedo de vinho, sendo silvestre para o cervejeiro. Clulas
elipsoidais, tamanho 3-6 x 6-11 micra. O lvedo forma uma pelcula e um anel sobre o
mosto. Na temperatura de 25C existe uma reduzida esporulao em aproximadamente
40 horas. Existem espcies que produzem at 17% de lcool.
Saccharomyces turbidans lvedo silvestre. As clulas novas so ligeiramente ovais ou
elipsoidais. A temperatura tima de esporulao de 29C. O lvedo pode causar
infeces perigosas nas cervejas de baixa fermentao, ocasiona turvao e mau sabor.
C) Bactrias destrudas a 50C
Pediococcus perniciosus e pediococcus sarcina ambos tipos so gram-positivos e
aparecem em forma de diplococcus e tetracoccus (sarcina) na cerveja, causando um sabor
desagradvel. As duas variveis anaerbias se desenvolvem facilmente no mosto e na
cerveja.
D) Bactrias destrudas a 54C
Acetobacter viscosum bactria causadora de viscosidade. Aparece mais nas cervejarias
de baixa fermentao.
Lactobacillus pastorianus bastonetes de cido lctico. So estreitos e Gram positivos. O
comprimento varia de 1-21 micra o bacilo aparece como unidade, aos pares ou em
correntes. O lactobacilo anaerobiano atua somente nas cervejas de alta fermentao,
transferindo um gosto repugnante ao ale.
E) Bactrias destrudas a 60C
Lactobacillus lindneri com as mesmas caractersticas do lactobacillus pastorianus.
Aparece unicamente em cervejarias de baixa fermentao, onde ocasiona turvao e mau
sabor na cerveja.
-
16
Em resumo, Clerk (1958) confirma que a 60C e durante 20 minutos de contato, criam-se
condies letais para os lvedos e bactrias, de uma forma geral. Por estas experincias, conclui-
se que no se acrescenta mais nada em termos de estabilidade biolgica para o produto trabalhar
com o pasteurizador em temperaturas mais altas que a indicada.
2.4 CONSEQNCIAS DE UMA M PASTEURIZAO
Quando um processo de pasteurizao no atingiu os requisitos mnimos para que seja
garantida a destruio dos microorganismos, diz-se que o produto sofreu uma subpasteurizao.
Porm, quando o produto permaneceu tempo demais na temperatura de pasteurizao, ou a
temperatura aplicada foi alta demais, se reconhece que o produto sofreu uma superpasteurizao.
Durante o processo de pasteurizao, a cerveja sempre sofre pequenas variaes de sabor,
aroma e cor. A cerveja tambm est mais sujeita alteraes em sua estabilidade coloidal (Clerk
1958), isto porque intrnseco bebida a presena de inmeras protenas na sua composio,
que possuem uma tendncia natural aglutinao. Por este motivo, so dosadas na cerveja
solues estabilizantes. Porm, superpasteurizaes fazem com que o oxignio que existe na
cerveja promova ou acelere reaes qumicas que quebrem esta estabilidade, alm da ocorrncia
de uma variao mais forte no sabor.
Cervejas mais aeradas tambm podem ter forte alterao de cor, tambm pelas reaes
com o oxignio. Alteraes de cor pronunciadas podem levar desconfiana do consumidor, j
que o produto no possui uma aparncia normal (Clerk 1958).
Outro fator a ser levado em conta a presso causada no interior do vasilhame devido
presena de gs carbnico. Os vasilhames so preenchidos sempre deixando um headspace
(espao livre) de 5 a 6% de seu volume. Em temperaturas muito altas ou se o vasilhame foi
preenchido com um volume maior, pode ocorrer a quebra do vasilhame no interior da mquina.
Quanto mais fria a temperatura inicial do produto, maior a rampa de aquecimento at
a temperatura de pasteurizao. Visando diminuir o tempo de aquecimento, pode-se pensar em
utilizar temperaturas mais altas do meio aquecedor (geralmente gua), o que pode provocar
choque trmico no vasilhame e sua conseqente quebra. O choque trmico deve ocorrer com um
valor que leve em conta o tipo do material e tamanho do vasilhame.
-
17
2.5 CINTICA DA MORTE TRMICA DE MICROORGANISMOS
As resistncias dos microorganismos causadores da deteriorao da bebida juntamente
com a velocidade da transferncia do calor no interior do vasilhame constituem os principais
fatores que determinam a durao de um processo trmico (Gava 1998).
Conforme descrito na seo 2.4, a destruio dos microorganismos pelo calor devida
coagulao de suas protenas e, especialmente, inativao dos sistemas enzimticos necessrios
ao metabolismo. Existe uma srie de fatores que influenciam na termo-resistncia dos principais
microorganismos, como levedura, mofos e formas vegetativas de algumas bactrias, dos quais
podem-se citar:
Do organismo: influenciam fatores como tipo dos organismos a ser atacado, nmero de
clulas ou esporos, condies de crescimento e idade;
Do ambiente: em geral, se pode dizer que para a pasteurizao convm trabalhar a altas
temperaturas e pH baixos. Com pH abaixo de 4.5 as bactrias no crescem, o que permite
que os tratamentos trmicos possam ser mais suaves. O pH neutro o que mais favorece
a resistncia trmica da maioria das bactrias. A combinao tempo-temperatura de
pasteurizao mantm uma estreita relao com o pH da bebida a ser processada (Tabela
2.1);
Tabela 2.1. Faixas de pH relativas s taxas de reproduo dos microorganismos (Gava 1998).
Intervalos de pH para o crescimento de distintos microrganismos
Intervalos de pH
Microrganismo Crescimento Crescimento timo
Bactrias 4.5 8.5 4.5 7.5
Fungos 3.0 8.5 5.0 7.0
Leveduras 2.5 8.5 4.0 5.0
Composio da Bebida: a composio da bebida tambm influncia na resistncia dos
organismos. Presena de sal, acar e gorduras parecem dar uma melhor proteo
trmica;
-
18
Natureza do Calor: o calor dito mido um agente bactericida mais potente que o calor
seco. de conhecimento que a transferncia de calor por um meio com certo grau de
umidade age na coagulao das protenas dos organismos, tendo se mostrado mais eficaz
que a transferncia por um meio seco, onde a morte por calor se d por um processo
oxidativo das clulas. Como em lquidos envasados, como a cerveja, o calor transmitido
pelo prprio lquido em processo, obtm-se a ocorrncia de morte trmica por aplicao
de calor mido.
2.5.1 Curva de Sobrevivncia Trmica
comprovado que a cintica da morte trmica pode ser ajustada para uma equao
diferencial de primeira ordem (Sevilla, 2004 e Buzrul, 2006):
D
dNK N
dt
(2.1)
onde N o nmero de microorganismos vivos, t o tempo de processo e KD a constante da
morte trmica de um dado organismo (ou conjunto de organismos) uma dada temperatura. A
Figura 2.1 mostra uma expresso grfica da equao (1):
Figura 2.1. Morte trmica dos microorganismos a uma dada temperatura.
Rearranjando os termos da equao (2.1):
DdN
K dtN
(2.2)
-
19
Integrando a equao (2.2) ao longo do tempo:
0 0
N N t t
DN N t
dNK dt
N
(2.3)
0
ln DN
K tN
(2.4)
onde N0 o nmero inicial de microorganismos presentes na bebida. KD invariante com o
tempo. Reescrevendo a equao (2.4) em funo de N, obtm-se:
0
DK tN N e
(2.5)
A literatura mostra que a morte trmica dos organismos possui comportamento similar a
um decaimento exponencial, assim a equao se ajuste bem ao processo (Sevilla 2004, Gava
1998 e Buzrul 2006).
Com a concepo logartmica dada pela equao (2.4), se pode traar a curva de
sobrevivncia trmica (Survivor Curve ou Thermal Destruction Curve). a representao
grfica que coloca na ordenada, em escala logartmica decimal, o nmero de clulas vivas N, e
na abscissa o tempo decorrido de processo:
Figura 2.2. Curva de Sobrevivncia Trmica (Sevilla 2004).
-
20
A inclinao da curva igual a 2,3DK . Este valor chamado de tempo de reduo
decimal D, que representa o tempo necessrio para que a populao de microorganismos se
reduza a 10% da populao inicial. Esta declividade encontrada na mudana de logaritmo
natural para logaritmo decimal na equao (2.4):
0100
log
loglog 10 2,3
e
D
e
N
N K tN
N
(2.6)
10
0
2,3log DN
K tN
(2.7)
Fazendo t D e 0 0,1N N , conforme definio do tempo de reduo decimal:
10log 0,12,3 2,3
D DK KD D
(2.8)
onde D a inclinao da reta na curva de destruio trmica da Figura 2.2.
2.5.2 Relao entre Constante de Morte Trmica e Temperatura
importante ressaltar que a constante de morte trmica KD depende dos fatores citados
anteriormente, como pH, tipo de organismo, composio da bebida, entre outros.
Porm, para um mesmo produto e conjunto de microorganismos, o fator KD possui forte
dependncia com a temperatura. Assim, quando se varia a temperatura de processo, tambm
varia a curva de sobrevivncia trmica, visto que em temperaturas maiores a velocidade de
destruio tende a ser maior. Este fenmeno mostrado na Figura 2.3.
-
21
Figura 2.3. Dependncia da curva de sobrevivncia trmica com a temperatura.
Pela definio de pasteurizao, se deduz que quanto maior a temperatura, maior a
intensidade do processo. Assim, a inclinao da curva aumenta com o aumento da temperatura.
A relao matemtica entre KD e a temperatura dada pela equao de Arrhenius (Clark 2002):
Ea
RTDK K e
(2.9)
A equao de Arrhenius relaciona a dependncia da velocidade de reaes qumicas com
a temperatura. Da equao (2.9), K um fator pr-exponencial e inclui fatores como freqncia
de colises das molculas, entre outros. Seu valor medido em laboratrio e possui a unidade de
1s . Ea a energia de ativao da reao e R a constante universal dos gases. Aplicando o
logaritmo natural na equao (2.9):
ln ln lnDEa
K KRT
(2.10)
Como a inclinao da curva de sobrevivncia trmica 2,3 DD K , pode-se escrever a
equao 2.10 como (Sevilla 2004):
2,3 2,3
ln ln lnEa
D D RT
(2.11)
-
22
2,3 2,3
ln ln lnEa
D D RT
(2.12)
2,3
ln ln2,3
EaD
RTD
(2.13)
Aplicando o exponencial na equao acima:
2,3
2,3
Ea Ea
RT RTDD e eD
D
(2.14)
Ea
RTD D e (2.15)
A equao (2.15) possui a mesma forma da equao de Arrhenius e tambm uma
relao de velocidade de reao qumica com a temperatura, porm escrita em funo do tempo
de reduo decimal. O fator D o mesmo fator pr-exponencial, porm aqui escrito e forma a
demonstrar que a equao est baseada no tempo D.
2.5.3 Curva de Resistncia Trmica
A Curva de Resistncia Trmica (Thermal Resistance Curve ou Phantom Death Time
Curve) reflete a resistncia relativa dos microorganismos a diferentes temperaturas.
Figura 2.4. Curva de Resistncia Trmica.
-
23
No eixo das ordenadas est a escala logartmica do tempo de reduo decimal D,
enquanto nas ordenadas est a temperatura. O fator z representa o nmero de graus Celsius que a
temperatura deve aumentar (em relao temperatura de referncia inicial - TREF) para que o
tempo D se reduza dcima parte do valor inicial (DRED). Do grfico acima, se estabelece que:
log log 1RED
REF
D D
T T z
(2.16)
Onde 1 z a inclinao da curva. Isolando D na equao 2.16, obtm-se:
log REF
RED
T TD
D z
(2.17)
10REFT T
zREDD D
(2.18)
A equao (2.18) e a equao (2.15) fornecem o comportamento completo do tempo de
reduo decimal D e permite relacionar a influncia das propriedades qumicas envolvidas com a
variao da temperatura de processo.
Porm, estes estudos se concentram no campo da microbiologia. Neste trabalho, o
importante a obteno de um fator que traduza de forma direta a intensidade da pasteurizao
em relao temperatura da bebida em questo. Para alcanar uma forma mais compacta,
reescreve-se a equao (2.18) da seguinte forma:
10REFT T
z
RED
DL
D
(2.19)
onde L o ndice de letalidade do processo trmico, ou seja, ao aumentar ou diminuir a
temperatura T (em relao temperatura de referncia), o quanto ir variar a velocidade da
reao qumica, representada na equao pela variao do tempo de reduo decimal.
O ndice de letalidade bastante utilizado em alimentos de forma geral, porm em
bebidas, como a cerveja, costuma-se utilizar a expresso Unidades de Pasteurizao (UP), que
pode ser escrita como:
-
24
10REFT T
zdUP
Ldt
(2.20)
Integrando a equao 2.20 em relao ao tempo, para uma temperatura constante:
10REFT T
zdUP dt
(2.21)
10REFT T
zUP t
(2.22)
Assim, a Unidade de Pasteurizao (UP) quantifica a ao do processo de pasteurizao
como funo da temperatura que est ocorrendo o processo e durante quanto tempo ele esta
ocorrendo. O ganho de UP pode ser alcanada atravs da aplicao de maiores temperaturas
(maior intensidade do processo) ou tempo de processamento maiores (maior tempo da ao
destrutiva).
As Unidades de Pasteurizao representam o processo de pasteurizao variando de
forma exponencial com a temperatura (pela equao cintica de primeira ordem apresentada e
pela equao de Arrhenius) e, como a concepo da UP logartmica, sua variao linear com
o tempo, conforme a curva de sobrevivncia trmica.
Conforme Clerk (1958), para a cerveja o valor de z de 6,94 e a temperatura de
referncia TREF de 60C (j que o microorganismo mais resistente atacado a 60C). Assim a
equao (2.22) fica:
60
6,9410
T
UP t
(2.23)
601,393TUP t (2.24)
As unidades de pasteurizao devem sempre ser medidas no ponto mais frio do lquido
no interior do vasilhame, pois, se neste ponto a quantidade de UP satisfeita, no restante do
lquido tambm estar. Na maioria dos documentos sobre pasteurizao, o ponto mais frio
chamado de Cold Spot. Assim, pode-se obter uma escrita final para a equao (2.24) da seguinte
forma:
60
1,393 CST
UP t
(2.25)
-
25
onde TCS a temperatura no ponto frio. A equao 2.25 trabalha com a temperatura T em graus
Celsius e o tempo t em minutos. Seu comportamento mostrado no grfico abaixo (com os
valores para cerveja):
Figura 2.5. Comportamento da taxa de ganho das Unidades de Pasteurizao (UP/min).
2.6 HISTRICO SOBRE MQUINAS DE PASTEURIZAO
Desde o incio do sculo XX, j existiam formas de aquecer conjuntos de vasilhames de
bebidas e mant-los durante certo tempo na temperatura de pasteurizao (Clerk 1958).
Devido s limitaes impostas pelo vidro quanto sua resistncia ao choque trmico, os
vasilhames sempre devem passar por aquecimentos graduais at a temperatura de pasteurizao
e, depois do tempo de processo decorrido, devem ser resfriadas lentamente de forma a que no
final as garrafas estejam com nveis de temperatura que permitam seu manuseio pelos operadores
das mquinas.
Como no incio do sculo passado os nveis de produo industrial eram muito baixos em
comparao aos nveis atuais e grande parte das cervejas no eram pasteurizadas (j que grande
parte do consumo era local, no havendo necessidades de durabilidade em longos traslados ou
em estoques), as cervejarias utilizavam tanques de gua aquecidos por vapor.
Este mtodo se baseava na imerso dos vasilhames em tanques dotados de serpentinas de
vapor, que aqueciam a gua deste tanque de forma lenta at a temperatura de 60C e assim
mantidos por um perodo de aproximadamente 20 minutos. O resfriamento da gua do tanque
ocorria com a circulao de algum fluido refrigerante atravs da serpentina.
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
54 56 58 60 62 64
Taxa
de
Gan
ho
de
UP
/min
Temperatura (C)
-
26
Durante as primeiras cinco dcadas do sculo passado, as mquinas chamadas de
pasteurizadores de cestos eram as mais utilizadas e operavam com o conceito acima descrito.
Eram assim chamadas pois transportavam os vasilhames em cestos metlicos, similares s atuais
caixas de cerveja.
Havia, basicamente, dois tipos de pasteurizadores de cestos: o tipo Gasquet e o tipo
Americano (Clerk 1958).
A) Tipo Gasquet
A mquina Tipo Gasquet consiste em compartimentos separados por chapas defletoras,
por onde a gua circula graas a uma bomba, instalada na frente da mquina. Normalmente so
dez compartimentos, onde entre cada um h injeo de vapor em serpentinas de forma a aquecer
a gua quando esta passa para um novo compartimento. A Figura 2.6 ilustra esta situao.
Figura 2.6. Vista lateral esquemtica de um Pasteurizador de Cestos tipo Gasquet. As injees de
vapor nas serpentinas esto ilustradas pela tubulao A.
O funcionamento do processo da mquina bastante simples. Um primeiro lote de
garrafas imerso no compartimento 1. A bomba de recirculao faz com que a gua do
compartimento 1 passe para o 2 e, nesta passagem, tenha um ganho de temperatura pela
serpentina de vapor. As garrafas imersas no tanque 1 passam para o tanque 2, e um novo lote
abastece o tanque 1.
O processo acontece sucessivamente at o compartimentos 5 e 6, que possuem a
temperatura de pasteurizao e o tempo de imerso nestes tanques equivalem ao tempo de
pasteurizao.
O processo segue da mesma forma do tanque 7 at o 10 (Figura 2.7), porm nestes a gua
dos compartimentos passa por serpentinas de gua fria (ou fluido refrigerante) que ir permitir
-
27
um resfriamento gradual dos cestos de vasilhames. Os cestos so colocados em transportadores
metlicos e seu carregamento e descarregamento so manuais.
Figura 2.7. Vista superior esquemtica de um Pasteurizador tipo Gasquet. (A) injees de vapor
nas serpentinas; (B) injees de gua fria (ou fluido refrigerante); (C) bomba de recirculao.
B) Tipo Americano
Tambm conhecido como Pasteurizador Tipo Cesto Lquido, possui um sistema mais
simples, utilizado com maior freqncia por pequenas indstrias. Os cestos so simplesmente
suspensos em uma corrente sem fim, a qual carrega os cestos por diferentes compartimentos.
A mquina possui apenas trs compartimentos, sendo que apenas o compartimento
central aquecido at a temperatura de pasteurizao. Para obter um aquecimento e resfriamento
gradual, gua fria adicionada no compartimento de resfriamento (sada) na mesma proporo
do volume das garrafas nos cestos que saem da mquina. Este tanque est comunicado com o
compartimento de aquecimento (entrada), mantendo uma temperatura intermediria em ambos os
tanques. Aquecimento s aplicado para compensar as perdas do sistema.
O aquecimento e resfriamento no possuem vrios nveis de patamares, por isso, o
movimento da corrente transportadora lento, para que a garrafa no sofra choque trmico ao
entrar no compartimento temperatura de pasteurizao.
Nesta mquina, tambm o carregamento e descarregamento so manuais. Um desenho
esquemtico do processo do pasteurizador tipo americano mostrado na Figura 2.8.
-
28
Figura 2.8. Pasteurizador de cestos tipo americano. (1) Entrada da mquina; (2) Zona de
Pasteurizao; (3) Sada da mquina.
C) Pasteurizadores Tipo Tneis
Os pasteurizadores tipo Gasquet e tipo Americano foram descontinuados no incio da
dcada de 50. O conceito que os substituiu o pasteurizador tipo tnel. Basicamente, os
vasilhames (sem cestos) passam atravs de um longo tnel onde esguichada gua em seu
interior. A mquina possui diversos tanques (denominadas zonas) a diferentes temperaturas,
fazendo com que a gua de molhamento fornea ao processo aquecimento e resfriamento
gradual.
Este conceito permitiu a pasteurizao em grande escala, tornando-se o modelo
dominante em praticamente todas as cervejarias do mundo. Seu sucesso evidenciado at hoje,
pois o conceito bsico permanece o mesmo nas mquinas modernas. A Figura 2.9 mostra uma
ilustrao de um pasteurizador tipo tnel.
-
29
Figura 2.9. Diagrama de pasteurizador tipo tnel de Barry-Wehmiller (Clerk 1958).
Na Figura 2.9 mostrado que cada zona composta por um tanque com gua a uma
determinada temperatura e uma bomba que pressuriza a gua em um sistema de esguichos que
molham as garrafas. Esta gua, em contato direto com os vasilhames, garante-se o aquecimento e
um resfriamento gradual. Os tanques so aquecidos por injeo direta de vapor em cada tanque.
As primeiras mquinas possuam um controle manual da temperatura dos tanques, com
termmetros, onde os operadores da mquina dosavam mais ou menos vapor, conforme
necessrio.
A mquina que surgiu nos anos 50 foi concebida pela empresa Barry-Wehmiller, dos
Estados Unidos, depois lanada na Europa pela empresa alem Holstein-Kappert (Ziemann-Liess
Ltda 1985). Estas primeiras mquinas possuam alimentao e descarga automticas e eram
conduzidas atravs do tnel por um sistema conhecido como walking beams (conhecido
tambm como passo peregrino), conforme esquema da Figura 2.10 e 2.11.
Figura 2.10. Esquema bsico do movimento da garrafa - sistema walking beams (Ziemann-
Liess, 1985).
-
30
Atravs deste processo, a garrafa s pode se deslocar para frente. Para melhor
entendimento, a Figura 2.10 possui setas indicando os principais movimentos. Sua
movimentao sugere quatro posies:
1) Retorno: volta da barra mvel, sem tocar na garrafa;
2) Subida: suspendendo a garrafa;
3) Avano: deslocamento da garrafa frente (pela Figura 2.10, o avano de 120mm);
4) Descida: abaixando a garrafa at os apoios fixos.
Figura 2.11. Apoios fixos e apoios mveis para o avano das garrafas (Ziemann-Liess, 1985).
O acionamento do sistema realizado por uma unidade hidrulica, que bombeiam o
fluido para cilindros que executam o movimento do sistema. A unidade hidrulica est localizada
fora da mquina e se encarrega do bombeamento de leo atravs de motores eltricos ou
bombas. So quatro cilindros, dois de cada lado, montados na sada da mquina, conforme
Figura 2.12.
Figura 2.12. Cilindros atuadores do movimento descrito na Figura 2.10.
-
31
Da Figura 2.12, define-se a estrutura A de suporte das vigas mveis, B o tirante de
regulagem que efetua a subida e descida do sistema sobre o plano inclinado C. Esta figura
permite observar com maior clareza os quatro movimentos descritos. A seqncia dos
movimentos detalhada na Figura 2.13.
Figura 2.13. Movimentao dos pistes e o movimento relativo da garrafa.
Os primeiros tneis pasteurizadores sofriam de alguns males, especialmente quanto
durabilidade das chapas de ao carbono e da falta de preciso do controle de temperatura de cada
tanque. Alm disto, o sistema de walking beams tornava o equipamento excessivamente
-
32
pesado. Os pistes que impulsionam o sistema trabalham com cargas muito altas, o que gerava
tambm altos custos com manuteno.
D) Evoluo dos Pasteurizadores Tipo Tnel
Relativo construo mecnica, os pasteurizadores tipo tnel passaram por importantes
evolues. As duas mais importantes so a modificao do sistema de avano e o material de
construo da mquina.
Os atuais sistemas de avano dos vasilhames utilizam esteiras acionadas por engrenagens
acopladas a um eixo, acionado, por sua vez, por moto redutores. Este sistema, alm de aliviar
enormemente o peso da mquina, simplificou toda sua concepo mecnica, auxiliando tambm
na sua confiabilidade e reduzindo os custos com manuteno (ver Figura 2.14).
Figura 2.14. Parte frontal de um tnel pasteurizador em ao inoxidvel, com acionamento por
motoredutores planetrios (Ziemann-Liess Ltda).