Controlo de Qualidade Na Indústria de Calçado
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Controlo de Qualidade
na Indústria de Calçado
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Formador: Alberto Pereira UFCD: 7524 - Defeitos e Controlo de Qualidade
Dezembro 2014
1.1 - Introdução
Muitas empresas debatem-se hoje com problemas resultantes de:
- Dificuldades de penetração nos mercados, por venderem produtos que, na
realidade, não satisfazem as expectativas dos clientes e utilizadores.
- Ocuparem uma parte significativa da sua capacidade produtiva na
substituição, reciclagem e re-inspecção de produtos não-conformes, com o
consequente aumento de custos e redução das margens de comercialização.
As “perdas” (em euros) correspondentes, chegam a atingir 10% a 30% do
seu volume de negócios.
As não-conformidades originam custos que tornam o produto final mais caro
e, num mundo de competitividade, como aquele em que se vive actualmente,
é necessário saber minimizá-los!
A experiência mostra que os aumentos de rentabilidade obtidos através de
adequados programas de melhoria da qualidade, excedem largamente os
que se obtêm através de outras estratégias económicas comparáveis.
É, portanto, fundamental para a empresa, que seja implementado um sistema
de gestão da qualidade, que permita dar uma resposta a estes desafios,
aumentando a sua competitividade no mercado.
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Dezembro 2014
1.2 - Definição
QUALIDADE – Grau de satisfação de requisitos dado por um conjunto de
características intrínsecas.
Qualquer que seja o produto que adquiramos, é sempre na expectativa que vá de
encontro aos nossos desejos e que cumpra as funções para as quais o escolhemos
durante um período de tempo esperado.
Para nós, como consumidores, a qualidade de um produto é sempre medida pela
satisfação que a sua utilização nos dá.
Do lado dos fabricantes, os produtos têm necessariamente que assegurar a
satisfação das necessidades dos consumidores e ser rentável na sua realização.
Podemos assim visualizar a qualidade, como sendo um ponto móvel, resultante do
equilíbrio entre diversos vectores: as pressões do consumidor sobre o vendedor, e
deste sobre o produtor, provocando uma constante procura de melhoramentos na
concepção do modelo, na escolha dos materiais, no controlo do fabrico e na
apresentação.
A diferença entre a satisfação e o custo representa o valor atribuído pelo
consumidor ao produto em apreciação. Esta diferença pode ser positiva ou
negativa.
Quanto maior for esta diferença (positiva), ou seja:
satisfação > custo = O cliente volta a comprar
Pelo contrário, se a diferença for negativa, ou seja:
satisfação < custo = O cliente dificilmente volta a comprar.
Qualidade
Aptidão ao Uso
Satisfação do consumidor e do produtor
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1.3 - Funções e Responsabilidades
Outrora, no tempo em que a artesania tinha significativo peso, o artesão
concentrava em si, as tarefas de definir os seus produtos, adquirir as
matérias-primas, transformá-las segundo os seus próprios métodos e
meios, e finalmente vendê-los: isto é, ele fazia tudo.
Com a revolução industrial, as coisas modificaram-se no sentido de uma
“especialização” de tarefas, a QUALIDADE é uma tarefa de TODOS e de
TODAS as FUNÇÕES na Empresa, a cada uma das quais cabe uma parte
na responsabilidade por aquela.
Figura 1 - Atribuição de Funções e Responsabilidades
Cada um de vós tem uma quota parte na responsabilidade pela qualidade do produto final !
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Nestas condições, cabe às várias funções da empresa, adiante indicadas,
embora não exaustivamente, algumas linhas de acção e
responsabilidade para a obtenção da qualidade:
- Função Comercial / Marketing
a) Identificar de modo claro e objectivo, as necessidades do
cliente/consumidor.
b) Transmitir essas necessidades, de modo preciso, através da
definição clara das características funcionais do produto.
c) Acompanhar a evolução dos níveis de qualidade da concorrência,
assim como a reacção do mercado ao comportamento em uso dos
produtos da empresa, bem como o grau de satisfação dos
consumidores.
- Função Estudos
a) Efectuar todos os estudos e ensaios necessários à especificação
técnica do produto.
b) Traduzir essas especificações através do C.E.T. (Caderno de
Encargos Técnico) para que a fabricação disponha de todos os
dados necessários para a correcta realização do produto.
- Função Compras
a) Transmitir, claramente, aos fornecedores as exigências qualitativas
dos materiais a aprovisionar.
b) Seleccionar os fornecedores.
c) Dialogar com os fornecedores que interessam à Empresa, sempre
que ocorram desvios ou insatisfações.
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- Função Armazenagem
a) Apenas dar entrada aos materiais que estejam em conformidade
com as especificações.
b) Manter e manusear os diferentes materiais para que as suas
características não sejam adulteradas.
- Função Fabricação
a) A partir do C.E.T. deverá escolher/definir os métodos ou processos
a seguir para que a realização em qualidade seja assegurada.
b) Utilizar apenas matérias-primas cuja qualidade esteja conforme.
c) Identificar e separar todos os produtos que ao longo do fabrico se
revelem com não-conformidades.
d) Aplicar acções correctivas no fabrico de produtos que surjam com
não-conformidades.
- Função Pessoal
Seleccionar as pessoas com um perfil adequado a cada uma das
funções.
- Função Contabilidade
Assegurar um sistema contabilístico que permita a identificação
dos chamados custos da qualidade e da não qualidade.
- Função Manutenção
Manter o equipamento em condições de funcionamento e afinação
para que não dêem origem a não-conformidades e, quando estas
ocorram por causas ligadas àquele, providenciar as necessárias
acções correctivas.
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1.4 - Como se exprime a Qualidade de um sapato
A definição de qualidade de um sapato envolve um conjunto de diversos factores. Não
podemos comparar a qualidade de um sapato, à de um simples aparelho ou ferramenta.
Para além do seu aspecto funcional, o lugar que ocupa na harmonia de vestir (moda), a
que ter também em conta a forma como ele influencia a pessoa que o usa (conforto).
O progresso leva a que o consumidor esteja melhor informado e tenha um nível de vida
melhor, logo torna-se mais exigente e tem um maior poder de compra. Ou seja, ele está
disposto a pagar “bom dinheiro” se a qualidade o justificar.
No entanto devido à pressão do mercado, acentua-se a complexidade e diversidade de
produtos.
No caso específico do calçado, essa diversidade é bastante grande e heterogénea. Assim
temos ao nosso dispor:
- Calçado de cidade
- Calçado de trabalho
- Calçado de cerimónia
- Calçado de desporto
- Calçado de laser (de praia, de repouso, etc.)
- Calçado ortopédico
A qualidade do calçado é então: diversa, relativa, em parte subjectiva e largamente
evolutiva, ligada ao género de vida e aos costumes.
Qual a noção de qualidade no caso do calçado ?
Definição: A qualidade de um sapato é a capacidade que ele tem de satisfazer as
exigências do consumidor no que se refere às características de natureza funcional e
estética.
Dedução: Como as condições exigidas pelos consumidores são diferentes, visto
dependerem da espécie de calçado e do uso a que se destina, a noção de qualidade tem de
diferir também. Por outras palavras: sapatos de tipos diferentes devem corresponder
também a condições de qualidade diferentes.
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1.5 - O Controlo de Qualidade
A palavra controle está invariavelmente ligada à noção de delimitar,
verificar, vigiar qualquer acção ou acontecimento.
Controle de Qualidade será portanto um conjunto de técnicas e
actividades de carácter operacional com o objectivo monitorizar os
processos e eliminar as causas de não-conformidades em todas as fases
do ciclo de vida do produto de modo a atingir a eficácia económica.
Este tema, tem no fabrico do calçado, um significado bastante
particular, e isto por diversas razões bem conhecidas. A primeira é que
para fabricar um sapato utiliza-se como principal matéria-prima um
produto natural: o couro, cuja utilização exige bastante “savoir-faire”
(saber-fazer) e experiência, devido às diferenças de propriedades e de
estrutura que se apresentam no seio de uma só pele.
Além disso é preciso ter em conta que para fabricar um sapato são
necessárias aproximadamente 150 operações diferentes, sendo um
certo número delas efectuadas à mão. Isto significa que no capítulo do
fabrico de calçado dependemos em grande medida da formação, da
experiência e da fiabilidade dos operadores.
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De qualquer modo o Controle de Qualidade deve actuar durante todo o
ciclo de vida do produto. Quer seja prevenindo quer seja corrigindo.
Uso Fabrico
Aprovisionamento
Projecto
ou Modelação
Estudo de
Mercado QUALIDADE
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1.5.1 - Estudo de Mercado
Compete ao sector de Estudos de Mercado determinar as
necessidades dos consumidores/utilizadores.
Essas necessidades são “canalizadas” para um gabinete de projecto
(Modelação) que dará “corpo” ao produto, de maneira a este que possa
conter as características fundamentais que respondam às necessidades
evidenciadas pelo mercado.
Não fará sentido, por exemplo, que o sector de estudos de mercado
indique botas forradas com pêlo, como produto para ser vendido no sul
da Europa ou no norte de África; estas regiões, de temperaturas médias
elevadas, não são mercado para produtos vendáveis em zonas frias
como a Europa do Norte.
É importante efectuar permanentemente uma análise das exigências de
qualidade do mercado, pois elas vão variando ao longo do tempo, e o
êxito das vendas numa empresa depende de uma adaptação oportuna
do produto ao mercado.
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1.5.2 - Projecto
É nesta fase que nasce:
- A sua definição
- As especificações
- Os planos
- Os materiais
- Os meios e os métodos
- O protótipo (amostra)
Digamos pois que é nesta fase que se concebe, define e executa uma
peça-tipo do produto a industrializar.
A totalidade das características qualitativas, no caso do calçado, reparte-
se sob três vertentes:
- Morfológicas – Todas as características que têm a ver com Dimensões
e Proporções
- Estruturais – As características que têm a ver com o Estado Físico e
constituição Química das matérias-primas
- Funcionais – Conforto (dimensional e higiénico), comodidade,
durabilidade, resistência, reparabilidade, etc.
As quais terão que ser tidas em linha de conta desde o início do ciclo de
vida do produto.
Pode-se concluir então que a fase de projecto (modelação) é de vital
importância, pois é aqui que se começa a definir em profundidade a
qualidade do produto final: o sapato.
Projecto / Modelação
- Escolha e definição das matérias-primas
- Escolha da forma
- Confecção das amostras
- Caderno de encargos técnicos
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1.5.2.1 - Escolha e definição das matérias-primas
A qualidade do sapato dependerá da qualidade dos materiais utilizados
no seu fabrico.
Se quisermos assegurar a qualidade de maneira durável e um preço
interessante, é necessário planificá-la e orientá-la; começa aqui na
escolha dos materiais apropriados.
Na indústria do calçado a matéria-prima mais utilizada são as peles
curtidas (couro), para além deste utilizam-se vários componentes, entre
os quais sobressaem as solas.
A qualidade de um couro é a capacidade que este tem de satisfazer as
exigências do fabricante de calçado e do consumidor no que se refere
às características de natureza química, mecânica e estética. Destas
últimas fazem parte o aspecto da flor, a espessura, a uniformidade, a côr
e o brilho.
Como as condições exigidas pelos fabricantes e pelos consumidores são
diferentes, visto dependerem do tipo de calçado e do uso a que se
destina, a noção de qualidade tem também de diferir. Por outras
palavras: a couros de tipos diferentes, devem corresponder também a
condições de qualidade diferentes.
Por conseguinte nem sequer é possível estabelecer normas genéricas
de qualidade para pelarias. As condições exigidas de uma pele para
sapatos de moda de senhora, são diferentes das de uma pele para
calçado de trabalho.
É possível dividir os defeitos das peles em dois grupos: defeitos do
próprio couro (fundamentados na sua estrutura ou composição
química) e defeitos da tintura e do acabamento.
a) Defeitos do próprio couro
- Resistência estrutural insuficiente - Esta manifesta-se pela pouca
resistência ao rasgamento progressivo ou pela pouca resistência
nas zonas dos cravados da costura.
- Resistência insuficiente ao esforço repetido de flexão - As
rupturas dão-se principalmente nas dobras provenientes do
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caminhar. A causa da ruptura é com frequência a falta de gordura
na camada média do couro. Mas também se a fibra do couro não
estiver suficientemente aberta, a resistência às flexões
permanentes pode ser influenciada desfavoravelmente.
- Distensibilidade da flor - Se a distensibilidade da flor for inferior
à do resto do couro, produzem-se rupturas da flor durante a
montagem das gáspeas sobre as formas, e também durante o uso
do sapato. A pele com a flor solta tem também tendência a
romper-se pela flor durante o uso.
- Permeabilidade à água - Devem ser o mais impermeáveis
possíveis à água no sentido exterior-interior (o couro não é
completamente impermeável, a não ser se for submetido a um
tratamento especial).
- Resistência ao suor - A resistência ao suor é insuficiente em
muitos couros. Um couro curtido ao crómio, é o que se revela
mais resistente ao suor.
- Taninos livres - Um teor excessivo em taninos livres, glucose, sais
solúveis na água ou também substâncias gordas, dá lugar a
manchas desagradáveis.
b) Defeitos da tintura e do acabamento
- Fixação insuficiente dos corantes - A fixação insuficiente dos
corantes dá lugar a numerosas não-conformidades:
Em sapatos não forrados as meias são manchadas pelo cabedal,
em sapatos forrados a tinta do forro desbota. Especialmente em
couro de anilina, um humedecimento parcial com água, provoca
manchas circulares.
- Solidez do acabamento - Se um couro apresentar insuficiência
numa ou em algumas das seguintes propriedades de solidez,
certamente que se deve contar com reclamações:
Resistência à fricção
Aderência ao couro
Flexibilidade
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Resistência ao calor
Solidez à luz
Resistência aos dissolventes
Não será no entanto a pele a única matéria-prima a ter em conta para a
obtenção de uma boa qualidade; há que também ter em atenção os
outros componentes (palmilhas, solas, linhas, contrafortes, etc.), isto é,
devemos assegurar-nos da qualidade óptima global.
Assim:
- Os cortes devem:
- Ser permeáveis ao vapor de água no sentido interior-exterior
- Fixar os constituintes ácidos e básicos do suor
- Ser impermeáveis à água no sentido exterior-interior
- Ser suficientemente maleáveis para “enluvar” o pé, mas
suficientemente rijos para os suportar e proteger
- Ser bons isolamentos térmicos, tanto contra o frio como contra o
calor
- As palmilhas devem:
- Fixar os constituintes ácidos e básicos do suor
- Oferecer resistência ao atrito seco e húmido
- Ser flexíveis para não incomodar o pé ao andar, mas firmes para
oferecerem uma boa “cama” ao pé e mantê-lo firme.
- As solas devem:
- Ser impermeáveis à água no sentido exterior-interior
- Ser resistentes à abrasão (desgaste)
- Ser resistentes à flexão repetida
- Ser aderentes sobre superfícies lisas, molhadas ou oleadas
- Ser flexíveis para não incomodar o pé ao andar, mas rígidas para
proteger a planta do pé contra as irregularidades do solo
- Ser leves
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ENSAIOS LABORATORIAIS
Ao fazer a selecção dos materiais deve-se ter em atenção se as
propriedades destes estão de acordo com o tipo de calçado a fabricar.
Só é possível fazer uma comparação objectiva entre propriedades que
possam ser medidas e expressas em números. Portanto, necessitamos
de métodos que nos permitam medir as propriedades do couro e dos
restantes componentes - Métodos de Ensaio.
Um Laboratório minimamente equipado deverá permitir fazer os
seguintes ensaios:
i) sobre materiais para cortes e forros
- Resistência ao rasgamento
- Resistência à flexão
- Resistência à fricção
- Aderência do acabamento
- Permeabilidade à água e ao vapor de água
- Carga e alongamento na rotura
ii) sobre solas e palmilhas
- Densidade
- Dureza
- Resistência ao rasgamento
- Resistência à abrasão
- Resistência à flexão
- Carga e alongamento na rotura
iii) sobre calçado acabado
- Adesão sola/corte
- Resistência à flexão
- Permeabilidade à água
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1.5.2.2 - Escolha da Forma
O objectivo principal de um fabricante de calçado é o de realizar ao
mesmo tempo um artigo estético e calçante. Para isto, ele necessita
antes de tudo, obter uma forma que contenha uma repartição do
volume compatível com a moda, mas que esteja igualmente adaptada
às dimensões do pé que o vai calçar.
Certamente que é um erro supor que podemos fabricar sapatos que vão
servir a todos os pés. É necessário, não só encontrar um compromisso
óptimo, mas também ter em conta as necessidades ortopédicas.
Embora o aspecto de moda sofra múltiplas mudanças de uma colecção
para outra, o mesmo já não se passa no que diz respeito ao pé do
consumidor, cuja evolução é bastante mais lenta no tempo. Assim é
lógico analisar o seu contorno.
É esta a razão pela qual, ao longo destes últimos trinta anos, numerosos
Centros de Investigação, assim como fabricantes de calçado, têm
estudado as características podológicas da sua população nacional,
estudos esses que permitem ao fabricante adaptar a sua produção ao
mercado que deseja abastecer.
1.5.2.3 - Confecção das Amostras
Como já vimos a fase de modelação tem muita influência sobre a qualidade
do sapato e a confecção da amostra é um importante banco de ensaio de
vários factores:
Conforto – Permite analisar aspectos como a abertura do peito do pé, super
espessura das sobreposições, rigidez das costuras, altura da taloeira,
afastamento dos talões ao nível do tornozelo, colocação de uma testeira
dura, etc.
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Estudo dos métodos de fabrico, é de crucial importância quer na
racionalização económica do fabrico, quer no conforto higiénico do pé: não é
indiferente por exemplo, que o forro seja colado por meio de um filme
contínuo de cola, ou apenas colado por pontos.
O “bom andar” constitui um factor importante entre o conjunto de
parâmetros que determinam a qualidade do sapato, entendendo por bom
andar, o uso mais cómodo possível dos elementos que constituem o sapato.
Se tivermos em conta todos os pontos até agora mencionados, um sapato
pode ser qualificado de produto de marca, e ganhar assim uma clientela
segura e fiel.
No entanto há que ter sempre em atenção, que quaisquer que sejam as
decisões tomadas anteriormente, a amostra definitiva irá servir de padrão de
qualidade para avaliação do produto a fornecer. Como tal, o calçado a
entregar, terá que ter as mesmas características físicas e estéticas da amostra.
Convém referir que a execução de um bom protótipo (amostra), não significa
a boa industrialização do mesmo. Assim, e antes que se dê inicio à produção,
convém executar a chamada “série zero” ou “série de ensaio”, que consiste
numa pequena quantidade de pares, cujo o objectivo é de detectar eventuais
pontos fracos da industrialização, e proceder à sua correcção.
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1.5.2.4 - Caderno de Encargos Técnico
Definição - Peça escrita de um projecto, onde se fixam todas as regras e
condições que o fabricante e/ou fornecedor deve seguir na execução e/ou
fornecimento de determinado produto.
No caso específico do calçado o Caderno de Encargos Técnico deve conter:
1. - Identificação do Modelo (desenho, fotografia, nome, etc.)
2. - Materiais consumidos e respectivas quantidades por par
3. - Especificações técnicas dos materiais (espessuras, cores,
características físicas e químicas)
4. - Gamas operatórias de fabrico
5. - Tempos das operações
6. -Fichas de instruções (documento destinado a identificar e
consciencializar o operador das diversas operações a realizar bem
como dos cuidados especiais a ter em conta).
O documento 3 destina-se ao sector de compras e ao controle de qualidade,
enquanto que o documento 6 se destina aos diversos operadores e/ou
encarregados de sector.
Como vimos, a definição da qualidade de um produto compõe-se de diversos
factores. Sempre que um deles corresponda a um mau valor, o produto será
de qualidade insuficiente.
A QUALIDADE NASCE ANTES DO FABRICO
Definido o produto e o respectivo grau de qualidade, agora há que fabricar
de acordo com os padrões de qualidade estabelecidos.
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1.5.3 - Aprovisionamento
Para fabricar de acordo com os padrões estabelecidos, necessitamos de
matérias-primas de acordo com o definido no Caderno de Encargos Técnico.
E aqui entram em função o aprovisionamento e a recepção técnica de
matérias-primas.
1.5.3.1 - Compras
Compete ao serviço de compras:
a) Transmitir, claramente, aos fornecedores as exigências qualitativas dos materiais a
aprovisionar.
Com base nas especificações das matérias-primas elaboradas durante a fase de
projecto, o sector de compras deve informar o fornecedor dos seguintes elementos:
- Tipo de matéria-prima
- Quantidade
- Prazo de entrega
- Características físicas e químicas
- Tolerâncias
- Níveis de Qualidade exigidos
- Características a ter especial atenção
- Amostra padrão
b) Seleccionar os fornecedores capazes de satisfazerem os níveis de qualidade
especificados.
b1 - Através de auditorias ao sistema de qualidade
b2 - Através do histórico da recepção de fornecimentos anteriores, sob o ponto de vista de:
b2.1 - Número de lotes não-conformes
b2.2 - Demérito de um dado lote ou de um conjunto de lotes
b2.3 - Percentagem de rejeição do fabrico de uma dada matéria-prima, apesar de ter
sido dado o O.K. na recepção
b2.4 - Percentagem da devolução do cliente e/ou consumidor
b2.5 - Respeito pelos prazos de entrega
c) Dialogar com os fornecedores que interessam à empresa, sempre que ocorram
não-conformidades, de forma a esgotar todas as possibilidades de melhorias,
tendentes a uma plena confiança e satisfação.
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1.5.3.2 - Armazenagem
Compete a este serviço:
a) Apenas dar entrada aos materiais que estejam em conformidade com as
especificações.
a1- O conhecimento dos materiais a adquirir ao exterior é condição prévia para
a recepção técnica das matérias-primas que deve ser assegurada pelo
Controlo de Qualidade. Esta informação pode ser expressa de variadas
formas:
Por amostras-padrão
Por desenho
Por norma ou especificação
Através do Caderno de Encargos Técnico
a2- Definição dos meios e métodos de controlo de qualidade:
Exemplo:
Na inspecção de uma pele curtida, diferentes meios e métodos são utilizados
conforme as características em análise.
- Visual para manchas e golpes
- Medidor de espessuras para determinação da espessura das peles
- Aparelhos laboratoriais (Dinamómetros, flexómetros, etc.)
- Pé quadrado, para determinar áreas afectadas por defeitos.
a3 - Planos de Inspecção e Ensaio
É um documento que expressa basicamente as condições em que se efectuam
as acções de inspecção ou ensaio.
O Plano de Inspecção e Ensaio deve ser elaborado produto a produto, código a
código, ou então a uma família de produtos similares, segundo a seguinte
metodologia:
A que área ou secção de intervenção a que diz respeito
A que produto se refere
Características a controlar
Meios e métodos de controlo a utilizar
Níveis de qualidade exigidos
Tipo de amostragem
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Exemplo de um Plano de Inspecção e Ensaio para um tipo de pele:
Controle de Qualidade Nº
Plano de Inspecção e Ensaio -----
Artigo:
Mezze Aerobic Preto
Tipo de Controle: Amostragem utilizando a tabela MIL STD 105 D
Procedimento Todas as não-conformidades devem ser contabilizados pela área que ocupam ( através de medição com o pé
quadrado) e registados numa pauta de controle.
Critérios de aceitação / rejeição A área total não-conforme não deverá ser superior a 4% da área total analisada, caso contrário, o lote de pele deve
ser rejeitado
Características a analisar Especificações Meios ou Métodos - Espessura entre 15 e 16 linhas Medir c/ o tira-linhas
- Côr, tonalidades diferentes Não devem existir Visual, comparação c/ amostra
- Manchas « Visual
- Marcas de molas « Visual
- Uniformidade do poro Igual à amostra Visual, comparação c/ amostra
- Corpo do material Igual à amostra Visual, comparação c/ amostra
- Cicatrizes Não devem existir Visual
- Flor partida « «
- Engelhas « «
- Golpes de esfola « «
Possíveis testes Resultados a obter Amostra - Resistência à gota de água - Não deve apresentar manchas de
sais ou empolamento
- Resistência do acabamento
à fricção
- Grau 3 na escala dos cinzentos
- Resistência do acabamento
à flexão
- a seco 50 000 ( nº de flexões em
- a húmido 10 000 que apenas se
toleram ligeiras
fissuras superficiais)
- Resistência ao desbota-
mento
- Grau 3 na escala dos cinzentos
- Resistência ao rasgamento - 10 kgf ( mínimo )
Emitida em : ____/____/____ Por :___________________________________
CENTRO
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a4- Classificação qualitativa de lotes
a4.1- Classificam-se os lotes em quatro graus que resultam da
decisão sobre o seu estado qualitativo
Grau Decisão
1 Aprovado
2 Aceite sob condição
3 Aceite para Triagem
4 Rejeitado
Esta classificação, além de nos dar a qualificação do fornecimento,
serve ao mesmo tempo para classificar o fornecedor.
Exemplo:
Imagine-se o fornecedor X, que durante o ano anterior, efectuou 21
fornecimentos de matéria-prima, fornecimentos esses que
obtiveram a seguinte classificação na recepção:
Quantidade de
Fornecimentos
Pontuação ou
demérito
Classificação
15 1 Aprovados
3 5 Aceites sob condição
2 30 Aceites para triagem
1 100 Rejeitados
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Formador: Alberto Pereira UFCD: 7524 - Defeitos e Controlo de Qualidade
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Fórmula para calcular o Índice de Qualidade do Fornecedor:
tosfornecimendetotalQtd
pontuaçãorespectivatosfornecimenQtdFQI
.
.101...
21
100130253115101... FQI
05,9101... FQI
95,91... FQI
Calculado o I.Q. do fornecedor, faz-se a sua classificação com base numa
tabela do género da seguinte:
I.Q. do Fornecedor Classe Caracterização do Fornecedor
96 - 100 A Qualificado sem limitações
90 - 96 B Apto, mas necessita de melhorias
< 90 C Inapto e necessitando de grandes
alterações
A decisão sobre o fornecedor x seria de continuidade mas a melhorar a
qualidade.
b) Compete também à função armazenagem, manter e manusear os diferentes
materiais de maneira a que as suas características não sejam adulteradas.
Assim, e de um modo geral, os stocks devem estar permanentemente em rotação,
isto é, as matérias-primas a sair, deverão estar catalogadas e armazenadas de tal
ordem, de que sejam as que estão à mais tempo armazenadas.
No caso específico do calçado, os armazéns devem conter o menos possível de
claridade, devido ao efeito nocivo das radiações ultravioletas sobre a descoloração
dos materiais.
Devem manter uma humidade relativa na ordem dos 50%, devido ao problema da
secagem das peles ou pelo contrário, excesso de humidade.
O armazém de colas (separado do corpo da fábrica) não deve suportar
temperaturas nem inferiores a 10ºC, nem superiores a 30ºC.
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Formador: Alberto Pereira UFCD: 7524 - Defeitos e Controlo de Qualidade
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1.5.4.1. O Auto-Controlo
Como já vimos até aqui, a qualidade dos produtos é extremamente
importante para o sucesso da empresa.
Hoje em dia a oferta de produtos é maior que a procura, a concorrência é tão
grande que leva a que as exigências de qualidade sejam cada vez maiores.
Para fabricar um sapato são necessárias (em média) 150 operações diferentes,
sendo que uma boa parte delas são efectuadas à mão.
Isto significa que no fabrico de calçado, para se obter Qualidade é
fundamental a “Consciência de Qualidade” de todos os intervenientes.
A “Consciência de Qualidade” também conhecida como auto-controlo, é no
fundo a consciencialização e motivação de todos os elementos de uma
empresa (e de cada um) para uma execução correcta das suas tarefas, com
responsabilidade. Ou seja:
Fazer sempre bem feito!
Esta é sem dúvida a melhor “receita” para se conseguir melhorar a qualidade
em qualquer empresa, no entanto, e apesar de parecer uma receita fácil, nem
todos a põe em prática. As razões para este facto poderão ser várias:
Desmotivação
Absentismo
Personalidade de cada individuo
…
Acções de formação orientadas para temas como a sensibilização para a
qualidade, motivação, comunicação, são uma boa ferramenta e em algumas
empresas têm dado bons resultados neste capítulo.
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1.5.4.2 - Controle ao longo do fabrico
Como referido no ponto anterior, o auto-controlo é muito eficaz mas nem todos o
praticam, pelo menos de uma forma sistemática, no entanto a garantia da qualidade
é fundamental para qualquer empresa.
Responsáveis de algumas empresas de calçado, quando confrontados com a
questão:
“Como é que garante a Qualidade na sua empresa?”, tornam por resposta:
“Na minha empresa, todos os sapatos são controlados antes de serem embalados”.
O controlo final do produto tem como objectivo evitar o envio para o cliente de
produtos não-conformes. No entanto, quando realizado isoladamente (só no final
da produção), é muito pouco eficiente em termos de organização e gestão da
qualidade, pois nesta altura já não há muito a fazer, o calçado já está acabado, o
tempo necessário para a reparação será muito maior e, como consequência, os
custos de reparação também serão.
As empresas já não podem continuar a olhar a função qualidade como sendo uma
tarefa exclusiva do inspector que está no final da linha de acabamento a verificar os
sapatos antes de os embalar.
A função Qualidade tem que ser algo mais abrangente.
A obtenção da Qualidade é uma responsabilidade de todos!
Torna-se então necessário adoptar determinados procedimentos e implementar
outros pontos controle ao longo de todo o ciclo de fabrico do sapato de maneira a
que se previnam e detectem eventuais não-conformidades o mais cedo possível de
modo a minimizar os custos de reparação ou substituição.
As soluções a adoptar para melhorar a qualidade de uma empresa, dependem da
dimensão e tipo de organização existente na mesma.
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Analisemos agora os vários sectores de fabrico e, de uma forma genérica,
analisemos como devem estar organizados:
A - CORTE
Na secção de corte devem existir dois postos de controlo.
- No primeiro faz-se o controle da pele prevista, que vai ser distribuída aos
cortadores, quanto à sua qualidade, espessura, estrutura e côr, e aspecto, em
relação com a amostra pedida. Se estas diferenças não forem descobertas
antes do corte, poderão acarretar problemas consideráveis.
- No final do corte, todas as peças cortadas devem ser submetidas a um
controle minucioso; controla-se tudo, particularmente o corte de pares certos
de peças e os defeitos de pele. As peças que não estão bem cortadas, são
enviadas ao cortador que as cortou.
Uma vez que o couro não é um material uniforme, é necessário cortar as
diversas partes da gáspea segundo um método determinado e consoante a
estrutura da pele, prestando-se especial atenção à elasticidade da pele em
várias direcções. A falta de uniformidade numa mesma pele e as diferenças
existentes entre as peles de um lote, constituem o inconveniente principal do
couro em relação ao material sintético.
A par da avaliação das diferenças locais da distensibilidade da pele, é
importante saber qual a distensibilidade média, ou digamos antes, “geral”, da
pele em questão, pois que dela dependem a colocação dos moldes de corte
de um sapato, e daí o aproveitamento racional da pele.
No corte, existe uma possibilidade interessante de melhorar a qualidade da
secção, assim como de economias financeiras, graças aos “prémios de
aproveitamento de material”. Ao inverso, as peças do sapato mal cortadas,
são descontadas no prémio; deste modo se estimula o fabrico do produto
com qualidade.
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B - COSTURA
As não-conformidades que afectam a qualidade são susceptíveis de se
produzirem em grande número na fase de costura, face à multiplicidade das
operações que são efectuadas.
Eis porque o controle de qualidade é particularmente importante neste
estado de fabrico.
São particularmente sensíveis:
o tamanho do ponto - costuras finas com pontos curtos, perfuram o
couro em furos muito juntos e enfraquecem-no bastante.
o tipo de costura - as costuras viradas, cosidas flor com flor e depois
viradas, ocasionam fortes dificuldades
tipo e diâmetro da agulha
tensão da linha
faceados
precisão dos cravados
observância dos pontos e traços de referência
De notar, que particularmente nesta secção, tem muita influência no controle
de qualidade, a escolha do tipo de organização.
Normalmente existem dois tipos de organizações que são utilizadas nas
secções de costura:
- o tipo distribuidor-operário-distribuidor
- o tipo distribuidor-operário-operário
Para efeitos de controlo de qualidade das diversas operações em
desenvolvimento na secção de costura, o tipo distribuidor-operário-
distribuidor, é mais eficaz, pois o sapato não passa à operação seguinte sem
primeiro ter passado pelo distribuidor que pode ser cumulativamente
controlador de qualidade.
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C - MONTAGEM
Na secção de montagem, encontram-se normalmente duas pessoas
encarregues do controle de qualidade.
Uma encontra-se logo após a operação de fechar a calcanheira. As
insuficiências devidas às operações de montagem, podem ainda ser
corrigidas, sem haver o incómodo da margem de montagem cardada. As
reparações minuciosas, tais como as rugas nos cortes, podem ser efectuadas
directamente por este controlador. Os sapatos com não-conformidades, tais
como o desvio da costura da calcanheira, e em que a correcção exige
bastante tempo, são passados para o encarregado, que os reenvia ao
responsável da não-conformidade, para a correcção.
O segundo controle tem lugar após a operação de desenformar. Neste caso,
além da verificação da posição exacta da sola, deve inspeccionar-se
atentamente o interior do sapato, não somente quanto às dobras do forro,
mas também verificar se os agrafos não estarão agarrados à palmilha de
montagem.
Facto a nunca esquecer são os problemas das colagens..
Neste campo há que ter em conta a:
A cola própria para os materiais a colar
A preparação das superfícies
A mistura do reticulante (caso esteja a utilizar cola de 2 componentes)
O tempo de secagem
A temperatura de reactivação
O valor e o modo de repartição da pressão
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D - ACABAMENTO
A finalizar o fabrico é necessário acabar os sapatos, isto é, aprontá-los para a venda.
Este trabalho consiste em eliminar manchas provenientes da fabricação, em retocar
o acabamento, em desfazer dobras a ferro quente, e por fim em avivar a pele com
creme, polimento ou vernizes.
É no final do acabamento que se encontra um dos principais postos de controlo
(uma vez que é o ultimo), é aqui que se separa o calçado que está conforme do que
não está.
Claro que para decidir se o sapato é vendável, ou se será considerado como refugo,
é necessário que o controlador se oriente por um padrão de qualidade.
O indivíduo que desempenha esta função deve ter um forte sentido de
responsabilidade e deverá dispor de alguma autoridade / autonomia para decidir.
Em algumas empresas verifica-se que os controladores estão subordinados ao
responsável pela produção, e este por sua vez, na maioria dos casos, tem como
principal preocupação a quantidade produzida, logo em alturas mais complicadas
tem tendência a exercer pressão sobre os controladores no sentido de estes
deixarem passar determinadas não-conformidades.
O trabalho dos controladores pode não ser coroado de êxito se não lhe
assegurarem um apoio eficaz. A qualidade é uma função que deve ser assumida
pela gestão de topo (patrão ou director), ou então deve ser nomeado um
responsável pela qualidade com a autoridade necessária para decidir as situações
mais complexas.
1.5.5 - Uso
As provas a que os sapatos estão sujeitos durante o uso, diferem muito de caso
para caso, consoante as suas múltiplas finalidades.
A função qualidade não acaba quando o sapato vai para o cliente, a empresa pode
intervir durante o uso, de que forma:
Dando assistência após venda
Dando formação ao cliente
Analisando e melhorando a qualidade com base nas reclamações e devoluções
O fabricante aprende muito com as reclamações; pode reconhecer deficiências
ocultas e repará-las. Certamente que para a próxima já não acontecerá o mesmo
problema.
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Técnicas de Controlo de Qualidade Bibliograficamente chega-se à conclusão que o controlo de qualidade é tão
remoto como o próprio homem. Já na idade da pedra, o homem se
preocupava em analisar e inspeccionar o resultado do seu trabalho, e era por
exemplo corrente, marcarem-se os potes de barro com um sinal significativo
da qualidade executada.
Mais recentemente e em especial com a produção em série, o controlo de
qualidade assume-se como uma ciência independente, fazendo hoje parte do
dia a dia do mundo empresarial.
2.1 - Noção de Controlo de Qualidade
A palavra Controlo está invariavelmente ligada à noção de delimitar, verificar,
vigiar qualquer acção ou acontecimento. Se a considerarmos sob uma óptica
industrial, o seu significado poderá ser:
- Manter as características dos produtos conforme definição inicial
- Manter despesas e receitas conforme o orçamento
- Cumprir metas do planeamento de produção
- Vigiar o absentismo
- Etc.
Esta série de actividades e outras, quando aplicadas à qualidade, denomina-
se CONTROLO DE QUALIDADE, que assim se pode definir como:
- Sistema que abrange todos os serviços e colaboradores de uma
empresa com o objectivo de definir e assegurar a qualidade
económica de um produto durante o período esperado.
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Logicamente que associada à noção de qualidade, está a noção de NÃO
CONFORMIDADE, que poderá ser definido como:
- Afastamento de uma característica da qualidade em relação ao
nível ou estado pretendido, que causa ao produto uma
incapacidade para satisfazer os requisitos de utilização normal.
Consoante a gravidade inerente a essa não conformidade, os mesmos
poderão ser classificados. Exemplo:
Classe 1 - Crítico (não conformidade que põe em causa a segurança ou saúde
do utilizador)
Classe 2 - Grave
Classe 3 - Menor
2.2 - Tipos de Controlo
Ao analisar as características de um produto, poderemos fazê-lo tendo em
atenção dois objectivos essenciais:
- A sua classificação em Bom ou Mau relativamente a um padrão ou
amostra-tipo.
- A medição dos valores da (s) característica (s) e a sua comparação
com os valores previamente fixados.
No primeiro caso temos o controlo por ATRIBUTOS, e no segundo, o controlo
por VARIÁVEIS.
No caso especifico da indústria do calçado, regra geral utiliza-se o controlo
por atributos, podendo-se definir ATRIBUTO, como uma característica
qualitativa não mensurável (que não se pode medir), sempre analisada em
relação a um padrão ou amostra-tipo.
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Exemplos:
- Sujidade
- Tonalidade da pele
- Costura deficiente
- Etc.
No controlo por atributos, não interessa quanto mede cada uma das
características do produto, mas sim se estão conformes ou não conformes.
2.3 - Tabelas de Amostragem
Quando se executa um controlo, é essencial que se tome o cuidado
necessário na colheita da AMOSTRA a analisar. As peças (unidades) que
constituirão a amostra, devem ser extraídas ao acaso de entre todas as
unidades que compõem o LOTE. Cada peça deve ser retirada de modo que
as outras tivessem a mesma probabilidade de ser escolhidas ou “pescadas”.
Temos portanto a noção de existência de:
UNIDADE----------LOTE-----------AMOSTRA
Convém antes de mais, definir um novo conceito que é o de NÍVEL DE
QUALIDADE.
Este pode ser definido como a indicação genérica do estado do desvio em
relação a um ideal ou a um nível de referência.
NÍVEL DE QUALIDADE ACEITÁVEL (N.Q.A.), é portanto a percentagem
máxima de unidades não conformes admissível, como média do processo.
Assim, se a percentagem média de não conformidades de um fabrico se
mantém abaixo do N.Q.A., diz-se que a qualidade obtida é admissível.
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O valor do N.Q.A. é estabelecido em comum acordo entre o fornecedor e o
produtor no caso das matérias-primas, e pelo fabricante no caso de controlo
do processo.
No caso de ser estipulado o valor de N.Q.A. abaixo ou igual a 10 (N.Q.A. 10),
o mesmo é considerado como o número máximo de peças não conformes
aceitáveis por 100 unidades.
No caso desse valor ser maior que 10, o N.Q.A. é o máximo não
conformidades aceitáveis por 100 unidades (cada peça pode ter mais que
uma não conformidade).
Geralmente o valor do N.Q.A. utilizado varia entre 0,4 e 4. Quanto mais baixo
for o valor do N.Q.A. mais rigoroso será o controlo.
Neste contexto, pode-se chegar ao ponto de estabelecer diferentes N.Q.A.
consoante a classe da não conformidade a controlar.
Para controlar um determinado lote, é necessário antes de mais saber qual
vai ser a quantidade da amostra.
Para isso existem tabelas, sendo as mais aplicadas, as MIL STD 105D
(MILITARY STANDARD 105D), que é uma norma editada pelo
Departamento de Defesa dos E.U.A.
Apesar da sua maior complexidade, estudaremos aqui apenas uma parte
dessas tabelas, ou seja o plano de amostragem simples para inspecção
normal.
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Assim, e para uso das tabelas, procede-se da seguinte forma:
1º - Determinação da dimensão do lote
2º - Utilização da tabela I para determinação do código para a
dimensão da amostra, e utilizando a “coluna II” do “Nível de
inspecção-geral”
3º - Em função do código determinado, do N.Q.A. exigido, e com a
ajuda da “tabela II-A”, determinamos a “dimensão da amostra” e os
“números de aceitação e rejeição”.
Exemplo de aplicação:
Temos de controlar um lote de 4000 pares de solas, em que o N.Q.A. (Nível
de Qualidade Aceitável) estabelecido com o fornecedor era de 1,5.
Pela tabela I, e para um lote de 4000 o código da dimensão é a letra “L”.
Passando agora à tabela II-A, vemos que para a letra”L”, corresponde uma
amostra de 200 (número de pares a controlar) a que corresponde para o
N.Q.A. de 1,5 os números de aceitação de 7 e de rejeição de 8 (aceita-se o
lote se encontrar até 7 pares de solas não conformes, e rejeita-se o lote se
encontrar 8 pares ou mais de solas não conformes.
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Outro exemplo:
N.Q.A. = 2,5
Lote = 250 Unidades
N (amostra) = 32 Unidades
Ac (aceitação) = 2
Re (rejeição) = 3
Este é portanto um dos métodos de controlo de qualidade bastante utilizado
essencialmente para controlo de grandes lotes quer de matérias-primas, quer
de produtos acabados.
N.Q.A.= 2,5
Lote
N = 250
Amostra
n = 32
Unidades
Defeituosas
< ou = 2
Aceite
> ou = 3
Rejeitado
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2.4 - Índice de Qualidade
Um outro método geralmente empregue para verificar até que ponto a
qualidade dos produtos fabricados por uma dada empresa, é aceitável
ou não, é através da determinação do Índice de Qualidade.
A fórmula de cálculo é a seguinte:
O valor do I.Q. é tanto maior e melhor quanto menor for o número de não
conformidades encontrados numa amostra, atingindo o seu valor máximo
(100) quando o número de não conformidades for zero.
Imaginemos que dada empresa tem como objectivo a fabricação de produtos
com um índice de qualidade igual ou superior a 98.
O controlo de qualidade a determinada hora do dia, vai verificar o nível de
qualidade do produto a sair da fabricação.
Perante um dado lote e com auxílio de tabelas de amostragem, vai
determinar o tamanho da amostra a controlar. Com base na amostra e na
tabela de ponderação, por exemplo:
Ponderação das não conformidades (pontuação)
Não conformidades graves 30
Não conformidades médias 10
Não conformidades pequenas 2
analisadaQuantidade
pontuaçao) respectiva desconformida(não100I.Q.
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Qtd. da amostra = 20 15 pares c/não conformidades menores
3 pares c/ não conformidades graves
2 pares c/ não conformidades críticas
Exemplo de cálculo:
I Q. . 10015 2 3 10 2 30
20
I Q. . 100120
20
I Q. . 94
Este valor está muito abaixo do valor previamente estabelecido (98).
Esta situação era sinónimo de que algo estava a correr mal, e teriam
que ser tomadas medidas adequadas.
Estes valores, registados diariamente em gráfico, vão-nos dando a
medida da qualidade de dada empresa, ou de dada secção de fabrico.
Indice de Qual idade
94
95
96
97
98
99
100
1 2 3 4 5 6 7 8 9
10 11 12 13 14 15
Dias
I.Q
.
Indice de Qualidade I.Q. desejado
38
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2.5 - Diagramas de Controlo
Permitem o registo dos resultados que vão sendo obtidos nas análises
de amostras sucessivas que se colhem do processo produtivo.
2.5.1 - Diagrama 100p
É um dos gráficos mais utilizados e permite-nos analisar a evolução da
percentagem de unidades não conformes que se vão obtendo num
processo fabril.
A sua determinação é feita com base na seguinte fórmula:
100p= x 100
Exemplo:
Nº de Amostra
Amostra Não
conformidades 100p
1 50 6 12%
2 50 3 6%
3 50 11 22%
4 50 1 2%
5 50 4 8%
6 50 3 6%
7 50 1 2%
8 50 5 10%
9 50 4 8%
10 50 1 2%
500 39
Percentagem média de não conformidades = 100 p
100 p = x 100
10039
500100 7 8%p ,
Nº de unidades não conformes Nº de unidades inspeccionadas
Total de unidades não conformes
Total de unidades analisadas inspeccionadas
1006
50100 12p
39
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As variações da percentagem de unidades não conformes podem ser devidas a:
- Comportamento do processo de fabrico que sofre alterações que são
consequência de lapsos do operador, desafinações, arranques de produção,
variação das características do lote de matérias-primas, etc.
O processo diz-se estável ou instável consoante as variações reveladas são pouco
importantes ou, como no caso oposto, sujeito a saltos bruscos nos valores das
percentagens de peças não conformes.
- Amostragem
Quando de um lote se extrai uma amostra de 25 peças a percentagem de não
conformidades não tem necessariamente de coincidir com a existente no lote.
Como se vê é normal que a percentagem de não conformidades varie ao longo do
tempo de analise. É necessário manter o processo sob controlo.
Como?
Vigiando a sua evolução com o objectivo de manter o processo estável e com um
nível de qualidade aceitável.
Quando as variações bruscas surgem, torna-se necessário identificar as suas causas,
para que se façam as correcções e que o processo de fabrico se estabilize e volte
assim às condições normais de funcionamento. É necessário estabelecer um limite
para que, sempre que essa linha seja ultrapassada, se afirme que no processo surgiu
algo de anormal; que tem de ser diagnosticado e anulado.
Fórmula do limite do controlo:
Lc pp p
n100 3
100 100 100( )
40
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Assim:
Percentagem média de não conformidades obtida (100 p ) = 7,8%
a quantidade da amostra foi : 50 unidades
Lc 7 8 37 8 100 7 8
50,
, ( , )
Lc 7 8 37 8 92 2
50,
, ,
Lc 7 8 3719 16
50,
,
Lc 7 8 3 14 3832, ,
Lc 7 8 3 3 79, ,
Lc 7 8 11 37, ,
Lc 19 17%,
Gráfico 100p - % de não conformidades
0%
5%
10%
15%
20%
25%
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Amostra nº
Per
cen
tag
em d
e n
ão
con
form
idad
es
Percentagem de não conformidades Média Limite de controlo
Como podemos concluir ao analisar o gráfico, o processo de fabrico
encontra-se fora de controlo, uma vez que o Lc foi ultrapassado numa das
amostras.
41
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2.5.2 - Diagrama U – não conformidades por unidade analisada
No diagrama de controlo estudado anteriormente utilizavam-se
parâmetros referentes a unidades não conformes ou pares não
conformes, por outro lado, no diagrama que vai estudar agora “U” vai-
se considerar apenas a quantidade de não conformidades (um par não
conforme pode ter mais do que uma não conformidade).
Para cada amostra, o cálculo deste parâmetro “U” será:
U
Exemplo:
Nº de Amostra Amostra Qtd não
conformidades U
1 50 8 0,16
2 50 4 0,08
3 50 16 0,32
4 50 1 0,02
5 50 6 0,12
6 50 4 0,08
7 50 3 0,06
8 50 5 0,1
9 50 7 0,14
10 50 2 0,04
500 56
Para determinar o número médio de não conformidades por unidade “U ” a
fórmula é a seguinte:
U
U56
5000 112,
Quantidade de unidades da amostra
Qtd. de não conformidades encontradas na amostra
U8
500 16,
Quantidade total de unidades inspeccionadas
Quantidade total de não conformidades encontrados
42
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Como no anterior diagrama podemos também calcular o Limite do controlo
do gráfico U para verificar se o processo de fabrico está sob controlo.
Para fazer o cálculo do Lc do diagrama U a fórmula é a seguinte:
Lc uu
n3
Assim:
Lc 0 112 30 112
50,
,
Lc 0 112 3 0 00224, ,
Lc 0 112 3 0 0473286, ,
Lc 0 112 0 142, ,
Lc 0 254,
Diagrama U - Não conformidades por Unidade
0
0,05
0,1
0,15
0,2
0,25
0,3
0,35
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10Amostra nº
Nã
o c
on
form
ida
des
po
r u
nid
ad
e
Qtd. de não conformidades por unidade Média Limite de Controlo
Podemos concluir também que o processo de fabrico se encontra fora de
controlo, pois mais uma vez o Limite foi ultrapassado.
43
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2.6 - Análise de Pareto
Pareto foi um economista italiano que há quase um século descobriu que há
grandes desvios ao que está estabelecido, e somente alguns elementos ou
factores são responsáveis pelas anomalias ou desvios detectados. Foi a partir
desta constatação que Pareto estabeleceu o chamado método de análise ABC
ou regra dos 20/80.
Segundo um princípio simples de após coligir informações sobre uma dada
população (em termos estatísticos), Pareto classificou os caracteres estudados
ou analisados segundo uma ordem decrescente da sua frequência de
aparição. Então sob a forma gráfica aparecem-nos por exemplo, os vários
tipos de não conformidades e por ordem decrescente da sua frequência.
A regra dos 20/80 diz-nos, por exemplo, que 80% do volume de negócios é
realizado à custa de somente 20% dos clientes efectivos. Dito doutro modo,
80% dos stocks (em valor) em matérias-primas são realizadas por somente
20% das referências ou tipos de material armazenados. Ainda de um modo
mais ligado à qualidade, 80% das não conformidades são provocados por
somente 20% das causas de não conformidades que os produtos
potencialmente contém.
Exemplo:
1 - Altura de trás incorrecta 5 - Sujidade 9 - Pregos ou agrafes por arrancar
2 - Sola torta ou incorrecta 6 - Cosido Blake Incorrecto 10 - Forros por apanhar na montagem
3 - Cardado à vista 7 - Colagem deficiente 11 - Cortes rebentados
4 - Mal centrado 8 - Biqueiras engelhadas 12 - Outros