Convergência e memória: jornalismo, contexto e história

download Convergência e memória: jornalismo, contexto e história

of 14

description

Artigo do professor Marcos Palácios publicada na revista Matrizes

Transcript of Convergência e memória: jornalismo, contexto e história

  • 37

    RESUMONunca em tempos histricos nossa sociedade esteve to envolvida e ocupada em pro-cessos de produo de memria; nunca o estoque de memria social esteve to fcil e rapidamente disponvel, e nunca esteve o jornalismo enquanto prtica social to centralmente localizado em meio a tudo isso. Partindo dessa tese, e no contexto das mdias digitais, este ensaio explora as recentes transformaes nas relaes entre Memria e Jornalismo, tanto no que diz respeito concepo do Jornalismo enquanto um repositrio de memria para a produo de relatos histricos, quanto no que diz respeito aos padres do trabalho de Memria acionados na prpria produo dos textos jornalsticos.Palavras-chave: jornalismo, memria, histria, convergncia

    ABSTRACTNever before was our society so wrapped and occupied in processes of production of memory; the stock of social memory was never before so easily and quickly available and never before has journalism as a social practice been so centrally located amid this accelerated process of production and preservation of memory. Starting from these ideas, and within the context of digital media, this essay explores recent transformations in the relationship between Memory and Journalism, both as it concerns journalism as a repository of memory for the production of historical works, as in terms of changing patterns and eff ects of the work of memory operated in the production of journalistic texts.Keywords: journalism, memory, history, convergence

    M A R C O S P A L A C I O S *

    Convergncia e memria: jornalismo, contexto e histria1Convergence and memory: journalism, context and history

    1. Uma verso preliminar deste texto foi apresentada no Ier. Congreso de Ciberperiodismo y Web 2.0, Bilbao, novembro 2009. Disponvel em: < http://ciberpebi.wordpress.com/ediciones-anteriores-2/>. Acesso em 5 ago. 2010.

    * Jornalista profissional e Ph.D. em Sociologia pela University of Liverpool. Professor titular de Jornalismo na Faculdade de Comunicao da Universidade Federal da Bahia. Atualmente na Universidade da Beira Interior (Portugal) como professor catedrtico visitante.

  • 38 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50

    El engao y su descubrimiento nos hacenver que tambin el pasado es instable y

    movedizo, que ni siquiera lo que pareceya fi rme y a salvo en l es de una vez ni

    es para siempre, que lo que fue est tambinintegrado por lo que no fue, y que lo que

    no f ue an puede ser(Javier Maras, Discurso do Prmio

    Rmulo Gallegos, 1995)

    Pode parecer paradoxal, nos dias que (es)correm, propor-se como tema de elaborao acadmica questes relacionadas com Memria, Histria e Contexto. Paradoxal em um duplo sentido. Por um lado e partindo-se apenas do senso comum e da vox populi

    dito, repetido e tido por sabido que jornalismo no tem memria e que o jornal de ontem s serve para embrulhar peixe. Por outro lado e levando-se em conta o tom que povoa e domina ultimamente os debates acadmicos , igualmente voz corrente que vivemos em tempos lquidos, que passamos

    ... da fase slida da modernidade para a lquida ou seja, para uma condio em que as organizaes sociais (...) no podem mais manter sua forma por muito tempo (nem se espera que o faam), pois se decompem e se dissolvem mais rpido que o tempo que leva para mold-las e, uma vez reorganizadas, para que se estabeleam (Bauman, 2007: 7).

    Ou seja, agora tudo que era estvel e slido no se contenta mais com apenas desmanchar-se no ar (Marx, 1848: 29), mas se liquefaz e escorre ina-pelavelmente por entre nossos dedos.

    E afi rma-se, ademais, para ainda mais paradoxal tornar o nosso intuito neste texto, que velocidade, e no durao o que importa [pois] com a velo-cidade certa se pode consumir toda a eternidade do presente contnuo da vida terrena (Bauman, 2007: 15). Em tempos lquidos, nos quais importa velocidade e no durao, onde fi ca a Memria? Em uma contemporaneidade caracterizada como presente contnuo, no estaria o jornalismo, mais que nunca, condenado a ser a crnica de uma Atualidade para a qual importa pouco ou nada o passado e para a qual o futuro, quando existe, passa a ser uma questo de fazer render o Acontecimento, transmutado em Notcia, at quando possa durar o interesse pblico e at quando possam ser mantidos em alta os ndices de audincia?

    Minha proposta neste texto buscar, seno demonstrar, ao menos sugerir que contrario sensu nunca em tempos histricos nossa sociedade esteve to

    Convergncia e memria: jornalismo, contexto e histria

  • Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50 39

    envolvida e ocupada em processos de produo de memria; nunca o estoque de memria social esteve to fcil e rapidamente disponvel, bem como o jor-nalismo to centralmente localizado em meio a tudo isso.

    Neste intento, vou naturalmente socorrer-me de vozes que me precederam, delas livremente apropriando-me e buscando produzir elos que conduzam se no a concluses amplamente aceitveis ao menos a profcuas dissenses.

    Para melhor organizao, o texto est estruturado em trs momentos: Antecedncias, Incidncias e Consequncias.

    ANTECEDNCIAS

    A comunicao humana um processo artifi cial. Baseia-se em artifcios, desco-bertas, ferramentas e instrumentos, a saber, em smbolos organizados em cdigos. Os homens comunicam-se uns com os outros de uma maneira no natural: na fala no so produzidos sons naturais como, por exemplo, no canto dos pssaros, e a escrita no um gesto natural, como a dana das abelhas (Flusser, 2007: 89).

    Igualmente artifi cial tornou-se nossa memria, desde o momento em que um ancestral nosso, em longnquo passado neoltico, riscou a pedra e pere-nizou os primeiros sinais indicativos de que ali estava em ao e habitando o mundo uma espcie animal que pretendia deixar marcas de sua existncia que sobrevivessem ao artfi ce que as lavrava.

    Tcnicas sucessivas, da pintura rupestre escrita e aos meios digitais e convergentes de nossa contemporaneidade, possibilitaram a externalizao da memria (Maldonado, 2007: 61-68), criando lugares de memria (Nora, 1993: 13) para alm das lembranas transmitidas oralmente e custodiadas pelos patriarcas e conselhos de ancios. No momento em que se concebe a hiptese de um futuro diferente do passado, d-se o rompimento com o mundo da tradio e das ordens eternizadas (Sodr, 2009: 22).

    Memria e Histria esto longe de ser sinnimos.

    A histria a reconstruo sempre problemtica e incompleta do que no existe mais [e] a memria um fenmeno sempre atual, um elo vivido no eterno presente; a histria, uma representao do passado (Sodr, 2009: 9). Os lugares de memria nascem e vivem do sentimento que no h memria espon-tnea, que preciso criar arquivos, que preciso manter aniversrios, organizar celebraes, pronunciar elogios fnebres, produzir atas, porque essas operaes no so naturais (Nora, 1993: 13).

    Assim, se a oposio entre Histria e Memria for aceita, percebe-se de imediato o duplo lugar ocupado pelo Jornalismo, desde a Modernidade: espao

    DOSSIConvergence and memory: journalism, context and history

  • 40 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50

    vivo de produo da Atualidade, lugar de agendamento imediato, e igualmente lugar de memria, produtor de repositrios de registros sistemticos do coti-diano, para posterior apropriao e (re)construo histrica. E, nesse sentido, pode ser to importante para a (re)construo histrica aquilo que se publica nos jornais e se diz no rdio e na TV, como aquilo que no se publica, que no se diz: o dito e o interdito.

    O jornalismo contemporneo tem suas razes na cidade, no fenmeno urbano moderno, representado pelas massivas movimentaes de coisas e pes-soas fomentadas pelo industrialismo (Hobsbawn, 1995). O jornal dirio passa a ocupar o lugar onde outrora estiveram o galo, o sino das igrejas e a posio do sol na abbada celeste na marcao do tempo da vida daqueles seres, desde ento urbanizados. (...) a ideia de um aqui e agora, ou seja, de espao e tempo entrecruzados, que preside singularizao do fato (Sodr, 2009: 26).

    A cidade teve um papel predominante na reestruturao geral do jornalismo. Em seus incios, o jornalismo ocupava a maior parte de suas edies com notas e documentos ofi ciais, ao passo que nos fi nais do sculo [XIX] descobriu a cidade como fonte de notcias. O mundo pblico deixou de limitar-se aos assuntos do governo ou do comrcio, para referir-se a todo fato que, na viso dos jornalistas, tinha interesse coletivo no seio de uma comunidade (Machado, 2000).

    E no alvorecer do sculo XX,

    o homem contemporneo, que via no crescimento das cidades um motivo per-manente de angstia exatamente pela perda de um controle sobre a realidade circundante, depositou sobre esse profi ssional [jornalista] (...) a misso de levar o fato aos ausentes (...) [a misso de] ser o olhar da prpria sociedade, angustiada com a velocidade da modernidade, que impedia de ver o que estava acontecendo sua volta (Enne, 2004: 112).

    Juntamente com o declnio do mundo rural e a acelerada urbanizao industrialista, a memria cada vez mais se externalizava, medida que defi -nhavam os ltimos traos de um passado oral e campons e avanava a alfa-betizao universal (Jackson, 2005), delegando, defi nitivamente, ao texto, s imagens fotogrfi cas e ao nascente cinema, a tarefa de registrar, no plano pessoal e coletivo, o cotidiano de reis, burgueses e proletrios, legando testemunhos2 posteridade.

    Assim sendo, temos que dar razo (ao menos parcial e provisria) vox populi, quando afi rma que o jornalismo que conhecemos em nossa Contemporaneidade, com suas origens histricas na Modernidade, no tem memria. Tomando-se a questo por essa tica, o jornalismo memria em ato,

    2. Para uma excelente e muito atualizada

    discusso da questo do testemunho na sociedade

    miditica contempo-rnea, veja-se Frosh &

    Pinchevski (orgs.) (2009).

    Convergncia e memria: jornalismo, contexto e histria

  • Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50 41

    memria enraizada no concreto, no espao, na imagem, no objeto, atualidade singularizada, presente vivido e transformado em notcia que amanh ser passado relatado. Um passado relatado que, no incio, renovava-se a cada dia, e com o advento do rdio, da televiso e da web, tornou-se relato contnuo e ininterrupto, nas coberturas jornalsticas 24 x 73.

    E como a memria , por natureza, mltipla, coletiva, plural e indi-vidualizada, tantos passados relatados haver quantos forem os relatos registrados: convergentes, conflitantes, contraditrios, a despeito de toda e qualquer pretenso de objetivismo e imparcialidade das deontologias jor-nalsticas vigentes. Como todo passado, o passado construdo pela atividade jornalstica nada tem de consensual: trata-se, pelo contrrio, de universo de significados disputados conflitivamente (Appadurai, 1981), no existindo, portanto, harmonia de verses, nem tampouco histria definitiva, verso fechada e acabada de fatos histricos.

    Transmutado, no dia seguinte, em papel de embrulhar peixe, o jornal transforma-se tambm, para o olhar do historiador, em lugar de memria e vai ocupar seu espao passivo ao lado de tantos outros documentos, nas bibliotecas e hemerotecas, espera de quem dali seletivamente recolha e organize marcas e indcios para valendo-se dos valores e parmetros acadmicos e metodol-gicos vigentes (re)(a)presentar o passado como histria. Incorporada no relato histrico, a memria deixa de ser memria para ser provisria verdade: verdade histrica, que vai durar at a prxima apropriao, at a prxima interpretao.

    Mas ser que apenas como material para o historiador que a memria est presente no jornalismo, apenas como essa espcie de primeiro rascu-nho (Zelizer, 2008: 81) da Histria, aguardando por um olhar profi ssional que transforme esse rascunho em texto acabado, verso fi nal, em histria, na acepo disciplinar de um campo de estudos das Humanidades? Ser que tambm no executa o jornalismo, em sua prpria tessitura, em seu fazer-se, trabalhos de memria?

    Um olhar sobre o prprio processo do fazer jornalstico revela que, em inmeras ocasies, o recurso memria na produo dos contedos jornalsticos evidente. O acionamento da memria condio de produo em peas jornalsticas de carter comemorativo (aniversrios de eventos ou pessoas) e naqueles em que o fato presente est sinalizando um fim de trajetria, como nos obiturios, por exemplo. este, sempre, o caso em peas jornalsticas que marcam o fim de processos que se estenderam e foram (jornalisticamente) acompanhados ao longo de uma dada temporalidade, sejam tais processos a vida e a morte de um homem de qualidade (Musil, 1989) presidente, Papa ou monstro , seja a discusso e a aprovao de

    3. 24 horas por dia, sete dias por semana.

    DOSSIConvergence and memory: journalism, context and history

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

  • 42 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50

    um novo projeto de lei. Ainda mais evidente est o recurso memria nas reportagens-snteses, nas retrospectivas dos fatos marcantes do ano, inevitveis a cada final de dezembro, nas pginas dos jornais, nas telas das TVs, nos sites jornalsticos.

    Mas no apenas em obiturios e aniversrios o trabalho direto da me-mria se faz presente na produo dos textos jornalsticos. A memria entra em ao de maneira recorrente, de modo quase natural, na produo do relato da atualidade, seja como ponto de comparao do evento presente com eventos passados (sejam localizados em um passado recente ou mais remoto), como oportunidades de analogias, como convites nostalgia, ou mesmo atravs da apresentao do presente como elemento para desconstruir e tornar a construir, sob a luz de novos fatos, os acontecimentos do passado (Zelizer, 2008: 82).

    Contrariando o senso comum, um olhar mais atento e analtico s pginas de uma nica edio de um jornal revela que o trabalho de memria uma recorrncia na construo do retrato do presente, cotidianamente produzido pela atividade jornalstica em nossas sociedades. Revelar, empiricamente, como se processa esse trabalho de memria no interior das construes discursivas jornalsticas tarefa da anlise de discurso e da semitica; os mecanismos de enunciao e os ndices so mais que evidentes e esto disponveis para quem quiser l-los.

    INCIDNCIASO fl uxo contnuo de informao de Atualidade j estava conosco antes das redes telemticas. Foi o rdio (Hobsbawn, 1995: 190-197) inicialmente, mas princi-palmente a televiso logo depois que rompeu com a marcao jornalstica da temporalidade em bases de um dia a dia, em seu sentido mais literal. De chofre, de maneira abrupta, passamos de uma situao em que (por mais de cem anos), uma rao diria de realidade, uma seleo daquilo que os profi s-sionais da informao singularizavam em nosso entorno como aquilo que era preciso saber nos era servida, formatada como um jornal dirio, colocada mesa do caf da manh a cada 24 horas, para uma situao em que essa mes-ma realidade, essas marcas particulares de instantes factuais (Sodr, 2009: 26), jornalisticamente selecionadas e construdas, passaram a fl uir de maneira contnua e ininterrupta, ou quase.

    Com as redes telemticas e a Web em particular a continuidade do fl uxo se completa, estabelecendo, de modo defi nitivo, a midiavivncia da vida em tempo real.

    Convergncia e memria: jornalismo, contexto e histria

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

  • Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50 43

    A convergncia tecnolgica que atualmente multiplica as combinaes de forma-tos, linguagens e estticas, nas diversas telas, abre novos cenrios e possibilidades que, por sua vez, contribuem para facilitar outros modos de interao comuni-cativa s suas audincias (...) [e] as audincias vo deixando de ser apenas isso e vo se tornando usurias, produtoras e emissoras, uma vez que a interativ idade que as novas telas possibilitam ultrapassa a mera interao simblica entre elas, para situar as audincias (...) como possveis criadoras de seus prprios referentes e no apenas recriadoras simblicas de signifi cados ou interpretaes dos referentes produzidos e emitidos por outros atravs dessas telas (Orozco Gmez, 2009: 183-184).

    Estamos, portanto, em termos de Incidncias, frente a um fato de imensas propores, no que tange secular imobilidade das polaridades tradicionais: emissores e receptores. As redes e a web em particular inauguraram for-mas de comunicao ps-massivas (Lemos, 2007: 121-137), fazendo dos atos de consumir e produzir informao polos de alternncia e no, necessariamente, de permanncia.

    Alteram-se substancialmente as formas de perceber e ler o mundo.

    (...) a alta tecnologia tornou possvel percorrer, em alguns segundos, toda a gama de canais de televiso existentes, (...) qualquer criana pode congelar fotogramas e repetir um som ou trecho visual, como antes s se podiam reler trechos textuais; (...) a iluso teatral no nada em comparao com o que a tecnologia pode fazer em comerciais de televiso, inclusive contando uma histria dramtica em trinta segundos (Hobsbawn, 1995: 485).

    O mundo passou a fl uir no apenas de modo continuado, mas tam-bm em forma multilinear e personalizvel, nas muitas telas que compem o nosso contemporneo de mdias convergentes, mltiplas interfaces e plurivocalidades.

    Sinaliza-se porventura o fi m do jornalismo? Tendo tantas e to variadas possibilidades de informao simples distncia de um clic de mouse, tornando-nos no s consumidores mas tambm produtores de informao globalizada e em rede, podemos dispensar os intermedirios e determinar nossas prprias agendas, sem necessidade daqueles que a Modernidade erigiu como nossos principais fornecedores da informao de cada dia?

    Longe disso. H uma dcada j fi cava clara a iluso da possibilidade de tais descartes de intermediao:

    DOSSIConvergence and memory: journalism, context and history

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

  • 44 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50

    ... comunicao direta, sem mediaes, como uma mera performance tcnica. Isso apela para sonhos de liberdade individual, mas ilusrio. A Rede pode dar acesso a uma massa de informaes, mas ningum um cidado do mundo, querendo saber tudo, sobre tudo, no mundo inteiro. Quanto mais informao h, maior a necessidade de intermedirios jornalistas, arquivistas, editores etc que fi ltrem, organizem, priorizem. Ningum quer assumir o papel de editor-chefe a cada manh (Wolton, 1999)4.

    Os novos modos de operao da economia contempornea, que fazem da ateno (Goldhaber, 1997) o produto verdadeiramente escasso em meio supe-rabundncia de informao, tornam ainda mais indispensveis as habilidades dos que fi ltram. E em novas bases que se processa a atividade de fi ltragem jornalstica neste mundo dos tempos reais.

    Em primeiro lugar, e como fato meditico mais importante, na web, dis-solvem-se (pelo menos para efeitos prticos) os limites de espao e/ou tempo que o jornalista tem sua disposio para a apresentao do material noticioso que produz.

    Trabalhando com bancos de dados alojados em mquinas de crescente capacidade de armazenamento e contando com a possibilidade do acesso assncrono por parte do usurio, bem como de alimentao (Atualizao Contnua) de tais bancos de dados por parte no s do produtor, mas tambm do usurio (Interatividade), alm do recurso sempre possvel da hiperlinkagem a outros bancos de dados (Hipertextualidade e Multimidialidade), o Jornalismo Online, para efeitos prti-cos, dispe de espao virtualmente ilimitado5, no que diz respeito quantidade de informao que pode ser produzida, recuperada, associada e colocada disposio do seu pblico-alvo. fundamental que se enfatize que se trata da primeira vez que isso ocorre na Histria do Jornalismo, uma vez que, em todos os suportes anteriores (impresso, rdio, TV), o jornalista era obrigado a conviver com rgidas limitaes de espao (que se traduzem em tempo, no caso do rdio e TV). Tais limitaes sempre constituram, evidentemente, um fator condicionante essencial nos processos de produo jornalstica em todos os suportes mediticos (Palacios, 2003: 24).

    A possibilidade de dispor de espao ilimitado para a apresentao do ma-terial noticioso a maior ruptura resultante do advento da web como suporte meditico para o jornalismo.

    Retomemos ento, nestas Incidncias, a questo da memria. Se fato que nem toda informao jornalismo e que a atividade jornalstica no se confunde (por suas especifi cidades tcnicas e pelos modos de sua insero no mundo do

    4 Traduo do autor.

    5 evidente que, fsicamente (limitaes

    de hardware/capacidade de utilizao dos usurios

    potenciais), os limites continuam existindo,

    mas para efeitos prticos da produo jornalstica eles desaparecem, tal a

    magnitude da quantidade de espao colocado dis-

    posio do produtor/dispo-nibilizador da informao.

    Convergncia e memria: jornalismo, contexto e histria

  • Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50 45

    trabalho e da produo) com o simples testemunho, igualmente fato que a comunicao rizomtica e a liberao do polo emissor multiplicaram a perder de vista os lugares de memria em rede, tornando cada usurio um potencial produtor de memrias, de testemunhos.

    evidente que pelo menos parte de tais registros sobrevivero a seus pro-dutores, como ao comunicador neoltico sobreviveram as marcas gravadas nas pedras ou as pinturas rupestres.

    evidente tambm que parte desses registros e testemunhos torna-dos pblicos a cada dia, disponibilizados na web por incontveis escribas annimos ou no, acabam por incorporar-se aos produtos jornalsticos con-temporneos, medida em que o jornalismo se torna mais aberto a uma certa plurivocalidade, a um certo teor conversacional. E no importa aqui que possam ser puramente comerciais e voltadas para a captura e fi deliza-o de audincias as motivaes que levam a esses movimentos de abertura, que possibilitam o incremento da participao do usurio no mbito dos produtos gerados pelas grandes empresas de comunicao (Palacios, 2009a). Com relao memria, possvel caracterizar-se tambm uma situao de continuidade do jornalismo em rede com relao a suportes anteriores. Os jornais impressos, desde longa data, mantm arquivos fsicos das suas edi-es passadas, abertos consulta do pblico e utilizados por seus editores e jornalistas no processo de produo de informao noticiosa. No jornalismo impresso moderno foi sempre comum a publicao de pesquisas, baseadas em informao de arquivo, que complementam, ampliam ou ilustram o material noticioso corrente. O mesmo ocorre com relao s emissoras de rdio e TV, que mantm arquivos sonoros e de imagem, eventualmente utilizados na produo de material noticioso de carter jornalstico ou documental. No entanto, na produo jornalstica em Rede, altera-se o lugar da documentao e da memria que, de complemento informativo, desloca-se para uma posio de fonte noticiosa direta (Machado, 2002: 63).

    Com as tecnologias digitais, as bases de dados (Barbosa & Mielniczuk, 2005) e a disponibilizao da informao em rede, os arquivos disponveis para o acionamento da memria, no momento da construo do discurso jornals-tico, tornam-se no somente acessveis e facilmente pesquisveis, mas tornam-se mltiplos. Antes da web, alguns jornais tinham melhores arquivos (mais completos, mais bem indexados) e portanto melhores condies de recurso memria na produo do texto sobre a Atualidade; agora, mais e mais arquivos vo sendo digitalizados, indexados, tornados pblicos e abertos, equalizando as condies de uso da memria, no s na produo, mas tambm na recep-o. O usurio fi nal pode tambm recorrer ao passado arquivado para, fcil e

    DOSSIConvergence and memory: journalism, context and history

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

    ValdirHighlight

  • 46 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50

    rapidamente, situar e contextualizar a Atualidade que lhe apresentada atravs do fl uxo miditico.

    CONSEQUNCIASEfeitos da digitalizao da informao, da multiplicao e sofi sticao das bases de dados, no que diz respeito memria, fazem-se sentir:

    a) Nas rotinas produtivas das redaes jornalsticas, com a crescente faci-lidade de consultas e apropriao de informaes em bases de dados internas e externas ao veculo, alargando as oportunidades de incorporao de informao memorialstica como elemento de criao de contexto e aprofundamento cobertura jornalstica;

    b) Nos modelos de negcios, com possveis incorporaes de elementos de memria como parte do negcio estabelecido para os jornais on-line, no apenas atravs dos modelos mais simples (e talvez j superados) de acesso seletivo e pago informao pregressa, mas principalmente com a criao de novos produtos com repercusses positivas no plano da atrao e fi delizao de audincias;

    c) Na produo de formas narrativas diferenciadas, com distintos modos de incorporao de memria (background, contexto, contraposio etc), em seus diferentes formatos (udio, vdeo, fotos, textos, fac-smiles etc);

    d) Nas formas de interao com o usurio, que passa a dispor de recursos para investigar, no prprio site do jornal, aspectos histricos em torno do mate-rial de Atualidade que lhe oferecido, bem como, eventualmente, personalizar sua memria em espaos do prprio site jornalstico que utiliza (Palacios, 2008), atravs de clipagens, criao de arquivos temticos personalizados ou utilizao de ferramentas de indexao on-line (Digg, Delicious, Flickr etc).

    A primeira consequncia a ser ressaltada refere-se potencializao do uso dos recursos de memria na estruturao do texto jornalstico e na sua edio. No somente tornou-se mais fcil para os jornalistas incorporarem elementos de memria na produo do texto (comparaes, analogias, nostalgia, descons-truo etc.), mas igualmente tornou-se praxe uma forma de edio que remete memria. Textos relacionados passam a ser indexados hipertextualmente (Leia mais; Veja tambm etc.), seja atravs de um trabalho de edio humana, seja por um processo (nem sempre bem-sucedido!) de associao automatizada, atravs de tags e palavras-chave dos textos estocados nos arquivos e bases de dados dos veculos.

    Salientamos, igualmente, a importncia das novas formas de interao entre o jornalismo e seus usurios. No limite mnimo, comentrios de leitores s notcias (potencializando enormemente as antigas Cartas do Leitor), bem como opinies deixadas em fruns ou sees criadas para abrigar contribuies

    Convergncia e memria: jornalismo, contexto e histria

    ValdirHighlight

    ValdirUnderline

    ValdirUnderline

    ValdirUnderline

    ValdirUnderline

    ValdirUnderline

  • Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50 47

    de jornalistas cidados passam a funcionar como uma espcie de Marginlia ao texto jornalstico, como outrora anotavam nas margens suas opinies e observaes os copistas dos antigos manuscritos (Jackson, 2001, esp. 81-100) e mais recentemente os leitores de livros em suas cpias impressas. Uma nova rea de interesse para o historiador deve abrir-se, portanto, a partir de tais inscries, que somam vozes de usurios e registram suas reaes aos textos originalmente produzidos pelos jornalistas.

    Alm disso, so cada vez mais comuns os especiais jornalsticos, reporta-gens de cunho memorialstico, usualmente comemorativas de datas e eventos histricos importantes, que produzem uma espcie de presentifi cao dos fatos, algumas vezes, inclusive narrando-os como se estivessem acontecendo na atua-lidade6. A recente comemorao dos 40 anos da ida do homem lua foi ocasio para um grande nmero de produes desse tipo, em jornais do mundo todo. Em alguns casos, experimentos mais radicais hibridizam textos jornalsticos e relatos de memrias vividas dos usurios, a partir da solicitao explcita de que o leitor que vivenciou os fatos deixe seu registro em sees de memrias dos leitores, que so especialmente criadas, com hibridizao de linguagens e presentifi cao do passado7.

    Um novo gnero jornalstico em gestao? Deixo a questo para os especialistas.A clipagem digital outro aspecto emergente a ser considerado com res-

    peito a novos usos (ou potencializaes) da memria: arquivos pessoais de material jornalstico passam a ser facilmente construdos e instantaneamente recuperveis e socialmente compartilhados, seja em portais jornalsticos que oferecem tal recurso (como AOL, por exemplo), seja atravs de ferramentas de bookmarking social em redes de armazenamento e compartilhamento de informaes (como Delicious, Digg, Flickr etc.).

    Finalmente, seria importante ressaltar que a memria, enquanto dimenso produtora de contexto e aprofundamento no produto jornalstico, deveria tam-bm passar a ser uma das variveis a serem observadas e mensuradas quando nos referimos avaliao de qualidade em jornais na web. Trata-se de tarefa nova, com desafi os que comeam a partir da prpria necessidade de criao de instrumentos especfi cos para anlise dessa dimenso ou caracterstica do jornalismo na web, uma vez que o instrumental disponvel, tanto terico quanto emprico (questionrios, fi chas de avaliao, listagens de critrios etc.) tem sido, em sua grande maioria, criado e formatado para a anlise de sites em geral, e no para o jornalismo em particular (Palacios, 2009b).

    Podemos aceitar e por agora incorporar, talvez, a inquietante imagem do tempo lquido (Bauman, 2007), como uma caracterstica de nossa contem-poraneidade, que nos obriga, tal como a Alice in Wonderland, a correr com o

    6 Um exemplo desse tipo de reportagem em jornal brasileiro teve como objeto uma viagem Amaznia realizada pelo jornalista e escritor brasileiro Euclides da Cunha, em 1905. A descrio da viagem foi reapresentada, dia a dia, em linguagem presentificada (tempo presente), para comemorar o centenrio da morte do escritor, em um especial do jornal O Estado de S. Paulo na web. Disponvel em: . Acesso em 5 ago. 2010.

    DOSSIConvergence and memory: journalism, context and history

    7 Uma anlise de dois experimentos desse tipo, relacionados com datas co-memorativas da II Guerra Mundial (no site da BBC e da revista brasileira Veja) esto em Casadei, s/d.

  • 48 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50

    mximo de nossas foras para permanecer no mesmo lugar. Mas temos que aceitar tambm que, paradoxalmente, no escorrem pelo ralo os mltiplos registros destes tempos.

    Ou talvez no haja paradoxo algum, mas sim uma consequncia: a velo-cidade de nossos tempos de tal ordem de grandeza que nos sentimos compe-lidos a guardar as imagens do presente para uma visita posterior, num futuro mais calmo, que teimamos em sonhar que vir a existir. Tal e qual fazem os turistas ao clicar desesperadamente suas cmeras fotogrfi cas durante suas viagens, produzindo milhares de imagens que, muito provavelmente, fi caro esquecidas, porm estocadas, em algum HD ou carto de memria na volta das frias. Imagens que, diferentemente da perenidade das marcas nas pedras de nosso ancestral neoltico, ou mesmo dos lbuns fotogrfi cos de nossos pais, so tremendamente vulnerveis a apagamentos de todos os tipos, sejam os tecnolgicos, sejam os do esquecimento puro e simples, que to centralmente quanto a lembrana faz parte do trabalho da memria.

    REFERNCIASBAUMAN, Zygmunt. Vida Lquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.ENNE, Ana Lucia. Memria, identidade e imprensa em uma perspectiva relacional. In:

    Revista Fronteiras. VI (2), 102-116, Porto Alegre, julho/dezembro 2004.FLUSSER, Vilm. O que comunicao?. In: CARDOSO, Rafael (Org.). O Mundo

    Codificado: por uma filosofia do design e da comunicao. So Paulo: Cosac Naify, 2007.

    FROSH, Paul & PINCHEVSKI, Amit (Orgs.). Media Witnessing. Testimony in the age of mass communication. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2009.

    HOBSBAWN, Eric. A Era dos extremos: o breve sculo XX, 1914-1991. So Paulo: Companhia das Letras, 1995.

    _______. A era das revolues. 1789-1848. So Paulo: Paz e Terra, 25Edio, 2009.JACKSON, H. J. Marginalia Readers writing in books. New Haven and London: Yale

    University Press, 2001._______. Romantic Readers. The evidence of marginalia. New Haven and London: Yale

    University Press, 2005.MACHADO, Elias. La estrutura de la noticia en las redes digitales. Tese Doutoral.

    Barcelona: UAB, 2000._______. O Jornal Digital como Epicentro das Redes de Circulao de Notcias. In:

    Pauta Geral, ano 9, n.4. Salvador: Calandra, 2002.MARX, Karl. O Manifesto Comunista [1848]. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2002.MALDONADO, Toms. Memoria y conocimiento: sobre los destinos del saber en la

    perspectiva digital. Barcelona: Gedisa Editorial, 2007, p. 61-68.

    Convergncia e memria: jornalismo, contexto e histria

  • Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50 49

    MUSIL, Robert. O Homem sem Qualidades. So Paulo: Nova Fronteira, 1989.OROZCO GMEZ, Guillermo. In: BARBOSA, Marialva; FERNANDES, Marcio; J.DE

    MORAIS, Osvando (Orgs.). Comunicao, Educao e Cultura na era digital. So Paulo: Intercom, 2009.

    PALACIOS, Marcos. A Memria como critrio de aferio de qualidade no ciberjorna-lismo: alguns apontamentos. Comunicao apresentada no VI Encontro Nacional de Pesquisadores em Jornalismo, SBPJor, Universidade Metodista, So Bernardo, 2008.

    _______. Putting yet another idea under the Glocalization Umbrella: Reader Participation and Audience Communities as market strategies in globalized online journalism. In: First Bi-Lateral Brazil-South Africa Journalism Research Initiative (BSA-JRI) Initiative, 2009, Stellenbosch. 1st Brazil/South Africa Journalism Studies Workshop, Stellenbosch, 2009a.

    _______. La memoria como criterio de valoracin de calidad en el ciberperiodismo: al-gunas consideraciones. In: Profesional de la Informacin, v. 18, p. 270-276, Barcelona, 2009b

    SODR, Muniz.Tempo e Acontecimento. In: BARBOSA, Marialva; FERNANDES, Marcio; J. DE MORAIS, Osvando (Orgs.). Comunicao, Educao e Cultura na era digital. So Paulo: Intercom, 2009.

    Endereos eletrnicosBARBOSA, Suzana; MIELNICZUK, Luciana. Digital Journalism. Democratizing Social

    Memory. In: Brazilian Journalism Research, Vol.1, n. 2, semester 2, 2005. Disponvel em: . Acesso em: 03 set. 2009

    CASADEI, Eliza Bachega. Os novos lugares de memria na Internet: as prticas re-presentacionais do passado em um ambiente on-line, s/d. In: BOCC (Biblioteca Online de Cincias da Comunicao). Disponvel em: Acesso em: 03 set. 2009.

    GOLDHABER, Michael. The Attention Economy and the Net. In: First Monday, Volume 2, Number 4 - 7 April 1997. Disponvel em: . Acesso em: 05 set. 2009.

    LEMOS, Andr. Cidade e Mobilidade. Telefones Celulares, funes ps-massivas e territrios informacionais. In: Matrizes, Revista do Programa de Ps-Graduao em Cincias da Comunicao, ano 1, n.1, So Paulo: USP, 2007, pp.121-137. Disponvel em: . Acesso em: 05 set. 2009.

    NORA, Pierre. Entre Memria e Histria. A problemtica dos lugares. In: Projeto Histria. So Paulo: PUC, n. 10, pp. 07-28, dezembro de 1993, p.13. Disponvel em espanhol em: . Acesso em: 04/09/2009.

    DOSSIConvergence and memory: journalism, context and history

  • 50 MATRIZes Ano 4 N 1 jul./dez. 2010 - So Paulo - Brasil MARCOS PALACIOS p. 37-50

    PALACIOS, Marcos. Ruptura, Continuidade e Potencializao no Jornalismo Online; o lugar da Memria. In: MACHADO, Elias & PALACIOS, Marcos. Modelos do Jornalismo Digital. Salvador: Calandra, 2003. Disponvel em: . Acesso em: 03 set. 2009.

    WOLTON, Dominique. Internet is not a media. Dominique Wolton in conversation with Catherine Mallaval, Liberation, 20/21 March 1999.

    Disponvel em: . Acesso em: 3 set. 2009.

    ZELIZER, Barbie. Why memorys work on journalism does not reflect journalisms work on memory. In: Memory Studies 1, 79, Sage, 2008. Disponvel em: . Acesso em: 03 set. 2009.

    Artigo recebido em 5 de agosto e aprovado em 2 de setembro de 2010.

    Convergncia e memria: jornalismo, contexto e histria