Conversa no Píer - janeiro 2016

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Conversa no Píer é uma publicação da Clínica Literária – notícias, editora e serviços – ANO IV Janeiro, 2016 Demanda ao Ministério Desenv. Indústria e Comércio Exterior: equiparação com os carros antigos. Importar?! Clássicos Entrevista Thom Dammrich, presidente NMMA, USA, e Eduardo Colunna, presidente ACOBAR – Assoc. Construtores de Barcos e seus Suplementos: INDÚSTRIA NÁUTICA, terra à vista ou miragem? Cairu III - Roberto Geyer

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1 - A obra viva de arte naval o veleiro Cairu III. 2 - Veleiros Clássicos, vale pedir ao ministro para importar? 3 - A indústria náutica, entrevista Thomas Dammrich, presidente da NMMA (USA) e Eduardo Colunna, presidente ACOBAR

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Conversa no Píer é uma publicação da Clínica Literária – notícias, editora e serviços – ANO IV Janeiro, 2016

Demanda ao Ministério

Desenv. Indústria e Comércio

Exterior: equiparação com os

carros antigos.

Importar?!

Clássicos

Entrevista Thom Dammrich,

presidente NMMA, USA, e Eduardo

Colunna, presidente ACOBAR –

Assoc. Construtores de Barcos e seus

Suplementos:

INDÚSTRIA NÁUTICA, terra à vista ou

miragem?

Cairu III - Roberto Geyer

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índice

Editorial Barcos clássicos no Brasil em permanente descompasso Página 3

Cairu III, a quarta geração de um clássico brasileiro Veleiro clássico de madeira, do escritório americano Sparkman & Stephens construído no Brasil em 1954, entrando na quarta geração de proprietários. Página 7

Sr. Ministro, os barcos existem a milênios antes dos automóveis Demanda ao Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio:

equiparação com os carros antigos.

Página 11

Indústria náutica, terra à vista ou miragem? Entrevista Thomas Dammrich, presidente NMMA, USA, e Eduardo Colunna, presidente ACOBAR – Assoc. Construtores de Barcos e seus Suplementos Página 19

Conversa no Píer

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Editorial

Barcos

Clássicos no Brasil em permanente descompasso

Embora o Brasil seja contemporâneo dos Estados Unidos, pelas respectivas

independências declaradas, o primeiro rebento brasileiro independente veio ao

mundo quando já havia três gerações de semelhantes americanos livres da coroa. E,

em 46 anos, entre 1776 e 1822, a América avançou mais de um século a nossa

frente aumentando a cada década esta distância de avanço, econômico – incluindo a

independência de fato e qualidade de vida.

É a partir desta relação temporal de desenvolvimento e pela porta dos

Clássicos que a Conversa no Píer resolveu falar sobre a indústria náutica.

“Por que uma portaria do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio

Exterior (MDIC) privilegia carros antigos e não inclui barcos? Queremos

equiparação.”

Foi a pergunta e a demanda que Roberto Geyer e Rommel Castro, dois iatistas

conhecidos da comunidade náutica brasileira, diletantes e interessados em

fomentar o mercado e atividades recreativas e esportivas náuticas, levaram àquele

escalão federal.

Mesmo tendo sido descoberto pelo mar (não poderia ter sido de outra forma), o

iatismo no Brasil soltou suas amarras somente no início dos anos 1900, novamente

quatro décadas após ter o iatismo debutado nos Estados Unidos. E foi Leopoldo

Geyer, avô do atual herdeiro e comandante do Cairu III, Roberto Geyer, destacado

nas páginas seguintes da Conversa no Píer, que fundou o primeiro Iate Clube no Rio

Grande do Sul, veja-se, três décadas após a fundação do primeiro Iate Clube

Brasileiro, com este nome mesmo, em Niterói, Rio de Janeiro. Nosso descompasso

tacanho não só pulula em contraste com outros países, mas também internamente,

de região para região, de classe social para classe social – aqui um abismo

intransponível...

Apesar da inevitável acidez, temos inspirações em indivíduos, de várias áreas

da atuação humana, para acreditar em bons ventos a nosso favor; um exemplo é

Torben Grael, maior medalhista olímpico brasileiro e maior medalhista

mundial de vela. Gentilmente, ele nos atendeu pessoalmente, e deu seu aval à

iniciativa de estimular o fomento aos barcos clássicos. Seu irmão não menos

vencedor, Lars Grael também pontou seu apoio conceitual, por email.

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Esta edição da Conversa no Píer quer promover a discussão sobre o status

quo do leque náutico, esporte e lazer aquáticos, indústria da vela e dos barcos a

motor, das embarcações a remo e artefatos individuais. Nos referimos a todo o

espectro de mercado nos ambientes marinhos, estuários a corredeiras, lagos e

represas. Incluindo a tendência de condomínios e shopping centers com marina.

Ambiciosa pauta.

O mega evento de marketing patenteado das olimpíadas, que adquire

concessões e comercializa lotes da cidade sede a ponto de limitar até palavras de

nosso vernáculo e suas acepções demandando autorizações prévias e pagamento de

royalties para uso, é um momento ideal, talvez, para se atrair os holofotes para

essas questões.

Não fosse este evento, entretanto, é seguro afirmar que estamos atrasados,

descompassados, e a Conversa no Píer chama a atenção para alguns dados

estatísticos e de mercado que nos chegam da América do Norte e Europa:

Do Canadá, dados da indústria náutica de recreio mostram um crescimento

de 3.8 % passando de 2 bilhões de dólares em 2015. Isso num país que, por causa do

clima, pode desfrutar de barcos 6 meses por ano, apenas.

Dos USA, Thomas Dammrich, presidente da National Marine Manufacturer

Association (NMMA), nos disse por telefone que é preciso “se sentir confortável

com o desconforto”, paradoxalmente reagindo a uma potencial ameaça à mão de

obra tradicional pela tecnologia ALM (Additive Layer Manufacturing), impressão 3D,

também na indústria náutica.

Enquanto isso, no Brasil, está se desenhando um cenário de eventos

diversificados de feiras e exposições, e isso é muito bom, mas os dados estatísticos

de mercado disponíveis são esparsos e não residem numa mesma base e

metodologia, prejudicando qualquer projeção empreendedora séria. Ouvimos

Eduardo Colunna, presidente da ACOBAR – Associação de Construtores de Barcos e

seus Implementos, e ele chorou sobre a mão de obra e taxações, entre outros

problemas recorrentes...

Nessas condições, o ambiente de negócios no setor náutico, assim como nos

demais do Brasil, estão sempre permeáveis a oportunistas, ou imediatistas.

Sofremos diariamente a pressão por realizações a curto prazo, que nos levam à

prática do “puxadinho e inacabado” em quase tudo, incluindo as relações

interpessoais; nos debatemos entre uma herança de diferenças de classes e

idiossincrasias, preconceitos e “burguesismos”, não raramente revelados

cruelmente por arrogâncias e vaidades.

Fora as macaquices de adaptação de flutuantes em trio elétrico para “raves”

náuticas, com tudo o que uma ancoragem uma vez virgem e pura não foi

originariamente desenhada, pela natureza (a fauna e a flora marinhas

reclamam, inaudíveis, pois não falam a nossa língua).

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Essas insanidades florescem com voracidade, enquanto empreendimentos de

condomínios com marina patinam em processos de aprovação; esta tendência

merece mais atenção.

Quem gosta mesmo da vida num barco agradece, quem gosta de investir em

imóveis e ter mais lucro, não vai reclamar.

Um cenário devastado permanentemente, mas a boa notícia é que temos

know-how de desconforto, e, no nosso caso, o remédio não é nos acostumarmos,

muito pelo contrário.

Acredito que contemplar um barco clássico com olhos e a mente serenos oportuniza

o ritmo ideal para acertar o passo das coisas da náutica, do mar. Daí a escolha deste

viés, para então atacar os demais assuntos.

Bem-vindo a bordo

Luís Peazê

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Cairu Geyer III Uma obra de arte marítima, o Cairu III, é o terceiro veleiro clássico de madeira construído pela

família gaúcha Geyer, com projetos encomendados ao escritório americano Sparkman &

Stephens.

Roberto Geyer, comandante do Cairu III, disse à

Conversa no Píer que construirá, em breve, um

barquinho clássico de 2 metros para introduzir

seu neto à vela. O netinho de Roberto é, desta

forma, a quinta geração de membros da família

Geyer fazendo a incursão no mundo da vela.

Classicamente falando, é mais de um século de

história.

Tudo começou no limiar dos anos 1900, no Rio

Grande do Sul, quando o avô de Roberto,

Leopoldo Geyer, hoje em dia nome de uma

regata nacional, resolveu trocar um terreno no alto de um morro, em Porto

Alegre, por uma faixa de terra ao longo do Rio Guaíba, inaugurar um iate clube

– o Veleiros do Sul – e construir barcos, para correr regatas.

A mídia especializada brasileira, incluindo os blogs, está repleta de narrativas

sobre a história da construção de barcos clássicos no Brasil.

De ouvido, de píer em píer, colhendo relatos em blogs e edições

comemorativas de revistas, a Conversa no Píer chegou à feliz conclusão de que

falar dos barcos clássicos, como o Cairu III, de modo abrangente e conclusivo é

possível, mas somente escrevendo um livro, de arte.

Oportuno lembrar que, que o Cairu III foi construído (1953/54), quando os

métodos de construção naval, seus projetos de hidrodinâmica e planos vélicos

já iniciavam uma escalada de sofisticação em busca incessante de

performance, especialmente para barcos de regata. Por exemplo, foi o Cap.

Nat. Herreshoff, na virada daquele século, vizinho dos sócios Sparkman &

Stephens, quem criou o método de construir os cascos emborcados, para

facilitar a circulação dos carpinteiros e acesso as suas curvas... Os veleiros de

três ou mais mastros, de então, os tall ships, utilizados para transportar

pessoas e carga, perdiam lugar para as embarcações a motor e passavam a ser

utilizados para lazer e competição.

O Cairu III resultou de uma pequena adaptação encomendada de um desenho

do escritório Sparkman & Stephens, que havia expandido sua operação para

outras áreas industriais, inclusive atendendo encomendas da Marinha de

Guerra dos Estados Unidos, como o projeto de anfíbios.

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Construção assinada por Roberto Funk, em Porto Alegre, quando Roberto

Geyer tinha 9 anos de idade, o Cairu III vem fazendo história, desde a

participação assídua nas regatas anuais dos Clássicos, que forjam cada vez mais

a presença no calendário anual de eventos náuticos, a vitórias em regatas

internacionais e travessias de longo curso. Já navegou até o Caribe, em 1972,

de Grenada até St Thomas. Participou da Regata Buenos Aires Rio, de 1962.

Participou da Regata Buenos Aires/Mar del Plata/Punta Del Este, em 1966.

Regata Salvador Rio 1969. Inúmeras Regatas Santos Rio, desde 1962. Cruzeiro

até Abrolhos e Porto Seguro na Bahia. Vencedor da Regata Montevidéu/Rio

Grande/Porto Alegre de 1962.

Convém lembrar que o iatismo é uma invenção inglesa, atribuída ao Rei Carlos

II (século XVII) atraído por embarcações rápidas que ele conheceu durante o

exílio na Holanda. Desde então, surgiram as demandas de projetos arrojados

que desafiam os limites de ângulo de orça, estabilidade, leveza e otimização

de materiais, incluindo o desenho e tecidos de velas e acessórios, cabos,

poleames e uma infinidade de coisas – todas ultra úteis, pois em um barco é

proibido o supérfluo. 8

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A começar pela linguagem que deve ser tão específica quanto a direção de

onde o vento sopra. Quem já teve a oportunidade de ler Victor Hugo, Os

Trabalhadores do Mar, pôde apreender uma noção da complexidade desta

linguagem, não por acaso necessária.

No modo de ver deste observador apaixonado, as formas de um barco clássico

não são masculinas; são românticas e poéticas, se quisermos superar os limites

da retórica. Pois, não há quem não admire as curvas do Cairu III e seus

contemporâneos e similares. A propósito, para quem não seja do métier, barco

em inglês é tratado no feminino, assim como o mar, em francês.

Cairu III e os clássicos é uma conversa de píer sem fim.

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Visite página no Blog Sparkman & Stephens

Mas você pode, também, velejar nesta obra de arte naval, tendo como skipper o próprio Capitão Geyer. A plataforma GetMyBoat lhe possibilita fazer contato do o veleiro e arranjar um cruzeiro ao pôr do sol na Baía da Guanabara, ou uma esticada até Búzios ou Angra dos Reis e Parati.

Veja as fotos da cabine nesse Link do Cairu III no Facebook

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Memorial Descritico do Cairu lll

Projeto de Sparkman & Stephens

Ano do projeto 1954

Lançado em 1960

Desenho nº 1463

Armação em Yole (dois mastros)

Comprimento total 47' 6"

Comprimento Linha D'água 32' 6"

Boca (largura) 12' 2"

Calado 1,4 M

Deslocamento 14 ton

Lastro de chumbo 7.550 lbs

Área de velas 1.092 pes quadrados

Licenciado para 14 tripulantes

Casco construido nas madeiras de Cedro e

Cabreúva

Mastro construídos em Spruce

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Seu Ministro, os barcos existem a milênios antes dos automóveis.

Por Luís Peazê

Se a ordem de solução dos maiores problemas do homem sobre a terra fosse linear, antes

da educação, deveríamos resolver a habitação, mas antes disso a saúde, e antes desta a

alimentação... Voltaríamos, assim, para o tempo das cavernas. Contudo, o

desenvolvimento humano segue um curso fractal, aparentemente desordenado. Isto

posto, em plena crise econômica e de gestão criminosa da coisa pública, é saudável sim

promover o debate sobre o incentivo à importação de barcos clássicos. Com algumas

ressaltava, a meu ver.

A construção, reparo e conservação, uso e comercialização de barcos é potencialmente

geradora de empregos e fomento à indústria e comércio tanto quanto outros setores tais

como o da construção civil. Somem-se os itens de materiais e peças, métodos e

tecnologias, vemos uma complexidade e alta demanda de variada especialização na

indústria que permeia os barcos de lazer e esportes, tem-se um oceano de oportunidades

de negócios, empregos, e opções e turismo e lazer. Os americanos e os europeus já

sabem disso a bastante tempo, porque os brasileiros ainda não sabem?

Os barcos, entretanto, enfrentam um problema de difícil solução, porque estamos

acostumados a raciocinar numa ordem métrica e gregoriana; no primeiro dia a primeira

coisa, no segundo, a coisa seguinte e assim por diante. Desta forma, realmente, uma

casinha para morar e um prato de comida vem antes de um barco de lazer ou regata. Mas

seu Ministro, não se justifica uma portaria para incentivo de importação de carros com

mais de 30 anos, e não se privilegiar também os barcos clássicos. O senhor sabia que as

embarcações aquaviárias existem no mundo desde que se tem registro de nossa

existência? Os carros acabaram de chegar.

Os barcos transportam em sua história de usufruto e manejo uma vasta cultura, tão

densa e inspiradora quanto permanentemente atual, posto que a cada dia as tecnologias

de ponta mais avançadas do mundo fornecem insumos para a construção naval, desde

iates de luxo a pequenos barquinhos de lazer e esporte, incluindo os artefatos de uso

pessoal (i.e. pranchas a remo, canoas de plástico, kite surf, etc).

Nesse contexto, se for possível abarcar todas as nuances possíveis deste preâmbulo, Sr.

Ministro e demais autoridades com capacidade de influência e decisão, a importação de

barcos clássicos é um vetor positivo de desenvolvimento cultural, econômico – geradora

de mão de obra, atividade fabril e comercial e de qualidade de vida – através do esporte e

lazer.

http://www.getmyboat.com

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Iniciativa de Roberto Geyer e Rommel Castro

Se o Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio (MDIC) acatar a demanda

que estes dois iatistas empreenderam, por diletantismo, importar um barco com mais de

30 anos se equiparará com a importação de carros da mesma idade e para o mesmo

propósito, coleção e fins culturais. Porém, segundo os importadores de carros antigos,

incluindo agentes alfandegários especializados, não é nada fácil e rápido, e nem sempre

muito barato fazê-lo.

Nas páginas seguintes segue na íntegra a carta enviada ao Secretário Sr. Armando

Monteiro do MDIC, assinada por Roberto Geyer, “na qualidade de diretor da Associação

Brasileira de Veleiros Clássicos”. Rommel Castro, mantenedor de um perfil no Facebook

com o título ambicioso de “Conhecimento Náutico” pede que você acesse a página do

MDIC protocole o seu apoio, copie o número do protocolo e o poste em seu perfil. Eis o

link:

Conhecimento Náutico

Links sobre veleiros clássicos:

http://veleirosclassicosbrasileiros.blogspot.com.br/

http://murillonovaes.com/tag/veleiros-classicos/

A ressalva da Conversa no Píer

Tudo o que favorecer o esporte e lazer náutico, a Conversa no Píer apoia, pois o seu

slogan é “a vida com um barco é melhor”, seja nacional ou importado, antigo ou novo,

embora sejamos mais simpáticos aos modelos tradicionais de madeira...

Por outro lado, convenhamos, não só o caminho escolhido para ter sucesso com essa

demanda é tortuoso, quanto a iniciativa roubará esforço que poderia estar sendo

dispendido para projetos de restaurações domésticas.

Há um verdadeiro cemitério de barcos antigos; no sul, às margens do Rio Gravataí, Jacuí e

Guaíba, em arroios que desembocam na Lagoa dos Patos; canoas caiçaras no litoral sul de

São Paulo e norte e sul Fluminense; na Bahia, nordeste e norte e nos rios amazônicos há

um tesouro se perdendo no temp. E, até no quintal do Pólo Náutico da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, o caso de pelo menos dois belos exemplares das classes

Guanabara, ou Carioca (francamente, por ignorância mesmo este observador não sabe).

No Iate Clube de Ramos e no Iate Clube de Paquetá também se pode resgatar essas

fortunas do mar.

Aliás, este termo é utilizado pela Marinha do Brasil para coisas achadas ao acaso

perecendo no solo marinho... Algumas dessas fortunas já emergiram

milagrosamente das águas, passaram pelo pátio da Marinha de Guerra do Brasil e

acabaram sendo restauradas em iates clubes para uso particular...

A carta citada aqui, ao MDIC, não declara a sua personalidade jurídica, apenas

informa que a Associação de Veleiros Clássicos “integra” outra associação, a

ABVO – Associação de Veleiros de Oceano. E, no bojo de nossa ressalva, 12

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chamamos a atenção para o fato de a carta se referir apenas a “veleiros”, outra

possibilidade de dispendioso esforço, deixando de lado os demais tipos de embarcações

náuticas.

Enquanto redigíamos esta “conversa”, ouvimos de Montevidéu por telefone e trocas de

e-mails e sms, o skipper Átila Bohm, do famoso veleiro Atravida (ex WildFire by

Herreshoff, 1923) em plenos preparativos para a Regata de Clássicos de Punta Del Este.

Para surpresa nossa, e nos levando a refletir sobre o projeto de Robet Geyer e Rommel

Castro, Átila argumenta que: “(...) Como velejador sou entusiasta dos veleiros clássicos,

antes de trabalhar no Atrevida eu curtia os barcos de trabalho como Saveiro de feira,

canoa baiana, Saveiro de pena, bateira e bote do ceará. http://saveirodabahia.blogspot.com

Na fase barcos de regata, fiz um levantamento da história da BsAs/Rio. http://www.popa.com.br/_2012/CRONICAS/BsAs-Rio-1947_Atila-Bohm/BsAs%20-%20Rio%20(popa.com.br).htm

http://www.popa.com.br/_2012/CRONICAS/BsAs-Rio-1950_Atila-Bohm/

Quanto a importação de veleiros clássicos, eu acho que não tem sentido. O ideal seria

recuperar os clássicos brasileiros que estão apodrecendo antes de pensar em importar

barcos clássicos. “

Atrevida é talvez o veleiro em atividade mais rico em história e tripulantes famosos, como

chefes de Estado, Reis e Rainhas e artistas célebres tais como Elvis Presley e outros. Foi

um dos primeiros veleiros clássicos “importados” dos Estados Unidos, pela família

Fontoura (Biotônico), que utiliza a imagem do Jeca Tatu, para vender uma marca de

xarope. Esta relíquia ia afundando abandonado na Baía da Guanabara, arrolado em uma

complexa pendenga jurídica, quando o ex-Senador Gilberto Miranda adqiriu-o numa

barganha eo reintegrou ao cenário náutico, internacional. Foi restaurado

meticulosamente pelo estaleiro MCP Yacht, e parte por Wilson & Sons, com a

participação de iatistas conhecidos do meio, como Amilcar Rossi, um dos sócios

fundadores da Nautos. Nestes links abaixo um vídeo e a história do Atrevida.

Vídeo: http://www.mcpyachts.com.br/atrevida.swf

História: http://www.popa.com.br/imagens/08-05/amilcar/atrevida.htm

http://www.mcpyachts.com.br/reportagens/ainda-mais-atrevida-mcp-yachts.pdf

Um caso típico de veleiro clássico importado, e veleiro abrasileirado restaurado.

A Conversa no Píer aproveita para citar iniciativas tais como o Estaleiro Escola, em São

Luis, Maranhão, a escola de carpintaria naval no âmbito do Museu Oceanográfico e

Universidade Federal de Rio Grande, o Museu do Barco, em Santa Catarina, entre outros

de menor destaque e iniciativas individuais, espaços e esforços que deveriam receber

mais incentivos para “restaurar clássicos, importados ou não”.

http://www.getmyboat.com

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À SECRETARIA DE COMÉRCIO E SERVIÇOS DO MINISTÉRIO DE

DESENVOLVIMENTO DA INDÚSTRIA E COMÉRCIO

A/C do Ilustre Secretário Sr. Armando Monteiro

Prezado Senhor,

Na qualidade de diretor da Associação Brasileira de Veleiros Clássicos, eu,

Roberto Geyer, venho respeitosamente à presença de Vossa Senhoria expor o que se segue

para ao final requerer:

Inicialmente, saliento que a Portaria MDIC n°235, desse Ministério, autoriza

a importação de veículos antigos – com mais de 30 anos de fabricação – para fins culturais e

de coleção.

A razão de ser da aludida Portaria é deveras louvável, pois representa

inestimável préstimo à preservação da história que os veículos antigos, conservados com sua

especial originalidade, trazem consigo.

Pois bem. Na qualidade já anunciada de Diretor da Associação de Veleiros

Clássicos e, tendo em vista as razões que levaram VV. Sas. a editarem a aludida Portaria,

chegamos à forçosa conclusão de que, no que concerne aos Veleiros Clássicos, também com

mais de 30 anos de fabricação, tão razoável quanto justa seria a sua equiparação, elastecendo,

assim, o âmbito material da facilidade gerada pela Portaria também para os Veleiros Clássicos.

Veleiros Clássicos são mundialmente tão ou mais cultuados, possuindo, em

suas raízes, verdadeira arte, que é, inclusive, inerente à historia de nosso país. A transmissão

pelas gerações de todo esse arcabouço histórico, assim como ocorre nos automóveis, é o

propósito determinante da proteção e isenção aqui requerida como equiparação.

Nessa conformidade, informo a Vossa Senhoria que o movimento de Veleiros

Clássicos tem tido crescimento galopante nos últimos anos em todo o Mundo. No Brasil, desde

do ano de 2006, vêm sendo promovidas regatas esportivas e encontros culturais, ocorrendo

debates sobre a preservação da originalidade, e troca de experiências entre os amantes dessas

relíquias – assim como ocorre com os apaixonados pelos veículos antigos.

Juntamente com a preservação do interesse da história dos Veleiros, a

requerida equiparação trará benefícios outros, a saber: o incentivo ao esporte do iatismo e à

tradição náutica, bem como o desenvolvimento da carpintaria naval, com atividades de reparos

de casco e mastreação; fabricação de peças e ferragens de reposição, acabamento e pintura

de cascos e, ainda, o significativo aumento da demanda sobre a indústria de serviços, como

marinas e serviços afins.

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O despertar do interesse pela prática do iatismo, e o conhecimento da

história da Vela perenizada nessas relíquias náuticas possuem incontestável ligação.

Substancialmente, também esse valioso préstimo surgirá com a almejada equiparação.

Nesse sentido, é expressivo assinalar que, com a valorização do uso de

Veleiros Clássicos, há a viabilização do esporte de iatismo a um custo baixo, trazendo para

as raias muitas novas tripulações e, como dito, incentivando esse esporte – que é olímpico,

frise-se.

A fim de revelar a imperiosa ajuda a esse esporte, é interessante traçar um

paralelo com outros países. Para isso, cabe observar que, nos países de hemisfério norte, o

investimento na cultura náutica é de vulto, sabedores que são das conseqüências positivas

já salientadas acima.

Paradoxalmente, porém, no Brasil, um país que foi descoberto pelo

mar, possuidor de umas das maiores costas do mundo, de clima absolutamente favorável,

estamos cada vez menos preocupados em desenvolver a cultura náutica, para que se gere e

circule bens e serviços inerentes, bem como se crie e aumente a identidade da população

brasileira com o mar que nos cerca.

Assim, e tendo em vista que a portaria acima mencionada, visando o

incentivo à nossa cultura, isenta os colecionadores do pagamento de imposto para

importação de um carro antigo, acreditamos que a equiparação da mesma, isentando

também a importação barcos antigos, barcos a vela, e veleiros clássicos com mais de trinta

anos de fabricação, traria grandes benefícios ao nosso pais.

Por fim, informo que a Associação de Veleiros Clássicos integra a

ABVO – Associação de Veleiros de Oceano -, hoje presidida pelo Iatista Lars Grael e,

tendo como Vice Comodoro Torben Grael, Medalistas Olímpicos e também proprietários

de duas relíquias da vela, sendo um veleiro construído em 1929 e outro em 1910, sendo

este, talvez, o veleiro mais antigo em operação no Brasil.

Diante de todo o exposto, a Associação de Veleiros Clássicos vêm,

através da presente, requerer seja estendida à importação de Barcos antigo, barcos a vela,

e Veleiros Clássicos, à mesma isenção concedida aos demais veículos antigos na Portaria

MDIC nº 235.

É o que espera, atenciosamente,

Roberto Geyer

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Rommel Castro, restaurador do primeiro barquinho, da classe Snipe, em que o medalhista olímpico Lars Grael

velejou em 1973, em Brasília.

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http://www.miamiboatshow.com/

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Indústria Náutica, terra à vista ou miragem

A Conversa no Píer conversou com o presidente da NMMA (Associação

Nacional da Indústria Náutica, dos Estados Unidos), Thomas Dammrich, após

tomar conhecimento de dados estatísticos oficiais do Canadá e dos EUA sobre

o setor. Números inimagináveis, no Brasil. Mas a motivação para entrevistá-lo

partiu de suas declarações, publicadas

recentemente, sobre “manter-se confortável

no desconforto” e “as tendências

tecnológicas estão deixando para trás

pessoas que não se especializam”, ou mais

ainda “nosso (USA) sistema de taxação

interna não estimula a percolação da nossa

indústria”.

Um panorama da indústria náutica dos

Estados Unidos lançaria alguma luz para o

mesmo setor no Brasil?

De São Paulo, Eduardo Colunna, presidente da

ACOBAR – Associação Brasileira dos Construtores

de Barcos e seus Implementos também nos

atendeu, com grande simpatia, e não deixou dúvida

à questão. Obtivemos respostas objetivas também

de outras fontes, mas vamos aos fatos:

No Canadá, o setor cresceu 3.8% no último ano

fiscal atingindo 2 bilhões de dólares, considerando

em torno de 6 meses apenas de atividade náutica

por ano, por causa do inverno rigoroso. Nos Estados

Unidos, a massa de dados oficiais do relatório de

351 páginas da indústria náutica de recreio (que

engloba embarcações, motores, peças e acessórios

para watercrafts e artefatos pessoais) foi resumido

na primeira interação de Thomas Dammrich, por

telefone, de Chicago: “Após 2011, saindo da crise, o

faturamento do setor nos EUA vem crescendo, hoje

somos sem dúvida o maior mercado do mundo,

crescemos 60%, estamos indo bem, mas queremos

melhorar, temos muito espaço ainda”; “Para o

Brasil (respondendo uma pergunta feita mais

adiante, na conversa) exportamos em 2014 em torno de US$560

milhões; ...que eu saiba, para o Boat Show de Miami, empresas

brasileiras vem a Schaefer, apenas, ainda não tenho conhecimento de

outras”.

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Resumo dos USA ref. 2014

• Gastos da indústria náutica: US$35.4

bilhões.

• Vendas no varejo: US$16.4 bilhões.

• Vendas de novos barcos, alta de 0.5%:

534.500 unidades.

• Importação de barcos: US$2.3 bilhões,

alta de 7.2% ; 794.174 unidades

• Exportação de barcos: $2.1 bilhões,

baixa de 0.6%; 208.532 unidades

• Americanos na água: 35.7% da

população adulta—87.3 milhões

• Estimativa de barcos registrados: 12

milhões.

• 95% dos barcos são abaixo de 26 pés

• Usuários da náutica essencialmente

classe média 71.5% dos Americanos com

renda anual menor do que US100.000.

Conversa no Píer – Clássicos importar? – Indústria náutica, terra à vista ou miragem – Janeiro 2016

Page 20: Conversa no Píer - janeiro 2016

Já aqui, no Brasil, Eduardo Colunna respondeu-nos a primeira pergunta assim:

“Em 2014, a indústria náutica faturou próximo de US$600 milhões, no ano

passado com o agravamento da crise e os nossos problemas de sempre,

faturamos a metade e não vemos o cenário melhorar”. Ou seja, importamos

mais, em dólares, só dos EUA, do que faturamos internamente.

De San Francisco, Bryan Petro, CIO da GetMyBoat (maior plataforma online do

mundo para compartilhamento de embarcações para charter, incluindo todo o

tipo de lazer e esporte aquático) destacou do relatório da NMMA e de seus

próprios levantamentos, números bem ilustrativos: os EUA possuem 12

milhões de embarcações de recreio registradas, 95% dos quais são abaixo de

26 pés; apenas 11% são veleiros, 63% são barcos a motor (incluindo PWC ou

jet ski) o restante são watercrafts de propulsão a remo. Isto é, se Agora, anote

aí: Bryan nos lembrou que a China possui menos de 3000 barcos registrados, e

a Índia 5000 – talvez o levantamento não tenha considerado as embarcações

fluviais tradicionais (e voadeiras clandestinas) daqueles países, e elas

definitivamente não são de recreio.

Eduardo Colunna ratificou que, “no Brasil, os barcos a motor ainda

correspondem a 90% do mercado, em relação aos veleiros”, daí talvez a

desculpa de eventos nacionais de marketing não privilegiarem a vela; um

equívoco, pois são esporte e lazer estes em que é possível, e economicamente

viável, a prática desde a infância, potencializando o mercado a médio e longo

prazos, assim como a geração de esportistas de alto desempenho. Sem falar

que é um sub setor que demanda mão de obra especializada específica,

representa o mercado da uma indústria significativa de equipamentos e

materiais, não justifica o desinteresse de promotores de eventos do “trade”.

Falta mão de obra Outro aspecto abordado na conversa com os dois dirigentes, foi com relação à mão de obra capacitada. Thom lembrou que “os novos métodos e novas tecnologias demandam cada vez mais a capacitação contínua da mão de obra, quem não acompanhar, ficará para trás, isso tem acontecido desde que a sociedade agrária foi substituída pela industrial, e hoje, a era da ´disrupção´, a palavra do momento, mais do que nunca, é preciso não só formar profissionais já com os novos métodos e para as novas tecnologias, é preciso criar novas profissões e substituir algumas obsoletas”. Thom citou as tecnologias ALM (Additive Layer Manufacturing), ou impressão 3D, que podem em breve eliminar estoques, alterar completamente a matriz de logística, e impactar nas demandas por mão de obra. Interessante citar que Thom assistiu numa feira internacional de barcos um expert da indústria aeronáutica, passar sua experiência com a tecnologia 3D. Isso demonstra que a interrelação de setores produtivos não é apenas uma realidade, da “disrupção”, é uma necessidade.

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Assim ele concluiu: “A construção de barcos continua sendo uma indústria de alta demanda por mão de obra. Mas enquanto os novos métodos e tecnologias melhoram a indústria, a necessidade de mão de obra qualificada continua alta. Neste cenário combinado com o franco aquecimento de mercado, muitos fabricantes estão tendo problemas para encontrar trabalhadores, pois os EUA está próximo de atingir sua força de trabalho plena”. O extremo oposto do Brasil, neste caso em estado trágico. Por sua vez, no Brasil, Eduardo Colunna ecoou um lamento uníssono em outros setores da nossa economia: “a falta de mão de obra qualificada é um problema antigo e recorrente, insolúvel enquanto a política apenas assistencialista perdurar, bolsa disso bolsa daquilo sem infra estrutura e sem um sistema sólido de capacitação”. E foi mais além, “fica a cargo do empresário treinar, formar, especializar a mão de obra, e perder esse investimento intangível quando tem que demitir, por conta da constante retração da economia, do mercado, e as permanentes altas taxações e custos financeiros”. Ao tocar no lado humano, do consumidor e trabalhador, e lembrando da palavra em voga “disrupção” de paradigmas, provocada pela onda de aplicativos e prenúncio do fim dos banco-de-dados em provedores centralizados, quisemos saber tanto de Thom quanto de Eduardo, se a realidade da economia do compartilhamento, tais como UBBER e AIRBNB, segmento de transporte urbano e hospedagem, e o GetMyBoat e similares, na recreação náutica, impactam de que modo a indústria náutica. Foram unânimes em afirmar quase com as mesmas palavras que “qualquer ação ou novidade que levar as pessoas para a água, é positiva para a indústria náutica, até mesmo a compra e venda de barcos usados, a médio ou longo prazo sempre será benéfico, aliás ganham todos, a indústria, o varejo e o público em geral”. Este observador acrescentaria, sem exagero, melhora o IDH (traduzido particularmente como Qualidade de Vida) Falando nisso, a náutica está intimamente ligada ao setor de turismo, cuja indústria diversificada faturou em 2014, segundo a Braztoa – Associação Brazileira de Operadoras de Turismo, R$11,9 bilhões, um incremento de 6,7% em relação a 2013. Novamente, a interrelação (interdependência) de setores e segmentos, como o de transporte terrestre, aéreo e aquaviário (matriz modal), busca outro setor que explode, no bom sentido, as perspectivas; a indústria civil (e moveleira, entre outros), com a tendência de condomínios e shopping centers com o valor agregado das marinas, parques aquáticos e guarderias em seco. Aliás, a náutica vive ao avesso o “mistério de Tostines” (o biscoito que vende mais porque é fresquinho, ou é fresquinho porque vende mais); não tem mais marinas para barcos porque não aumenta o número de usuários de barcos, ou... Fato: potencial náutico brasileiro é uma demanda reprimida.

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Um dos estudos que nos chegou às mãos para esta matéria, trata a questão assim: “CARACTERÍSTICAS DO SETOR NÁUTICO BRASILEIRO No setor náutico, há necessidade de mão-de-obra especializada em marcenaria, mecânica, elétrica, laminação e acabamento em fibra de vidro, tapeçaria, pintura e hidráulica”.

Uma descrição no mínimo ginasial (isto mesmo, ultrapassada e insípida). A perspectiva otimista é que (opinião deste articulista) os empresários do setor, de um modo geral, estão bem atualizados acerca das tecnologias e metodologias dos mercados internacionais mais sofisticados; o capital humano de massa cinzenta nós temos; e, como em raros outros setores, os empresários da indústria náutica são entusiasmados consumidores de produtos desta indústria; o que está faltando, então? – Falta incentivo do governo (sempre que necessário), taxa cambial para importação e linhas de crédito? Antes disso, talvez esteja faltando uma agenda franca, objetiva, de curto, médio e longo prazo de interesse comum entre os “players”. Por fim, sem de longe esgotar a “conversa”, perguntamos ao Thom, como a NMMA obtém a fartura de informação e dados dos relatórios anuais, as estatísticas e, embora no volume distribuído gratuitamente aos membros daquela entidade e vendido por US1.800 a não membros são relatadas as várias fontes, ele resumiu que uma empresa fiduciária é contratada, para assegurar que os dados de cada colaborador, membro da NMMA, não seja revelado individualmente, e sim que se tornem parte de um todo para os demonstrativos apropriados, ferramental comum dos “players”. No Brasil não temos nada parecido. Temos alguns exemplos de trabalhos pseudo acadêmicos, contratados ocasionalmente, um deles citado anteriormente. Em tempos de olimpíadas, não fazemos uma corrida de revezamento com a “informação” (ouro para qualquer planejamento). Assim como não há uma ponte entre o ambiente de recreação e esporte e o ambiente industrial de comércio.

Nossos 7.000 km de costas navegáveis, nossa prateleira interior de lagos, represas e rios, onde cabem muito mais do que 70.000 embarcações, são um sinal de terra à vista, que insiste em parecer miragem.

Conversa no Píer – Clássicos importar? – Indústria náutica, terra à vista ou miragem – Janeiro 2016

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