Convocacao_EXAME_CREMESP

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O QUE PENSAMOS SOBRE O EXAME DO CREMESP ? Já faz algum tempo que se observa na educação brasileira, principalmente no ensino superior e na educação médica, uma crise sem proporções. Medidas governamentais que atendem a interesses externos e que, consequentemente, sucateiam a nossa universidade são cada vez mais comuns e têm submetido a educação brasileira a uma dura e silenciosa caminhada rumo a sua completa precarização. A abertura desenfreada de escolas médicas no país, sobretudo no estado de São Paulo, sob a justificativa de que o problema da saúde brasileira é a falta de médicos; bem como a inexistência de um processo de avaliação continuado e efetivo dentro de todas as escolas médicas cria um processo de formação tecnicista e alienado, colocando na sociedade um profissional de saúde que não reflete sobre o seu próprio trabalho, mas sim um mero cumpridor de protocolos. Se uma escola de medicina recebe autorização do MEC para admitir alunos nos seus vestibulares, deveria significar que a mesma está apta a formar um profissional que seja capaz de não apenas usar protocolos, mas, para além deles, que saiba enxergar o paciente como um ser social, que não olhe apenas para um corpo, para uma doença, proporcionando, dessa forma, nas devidas condições de trabalho, atendimento integral e de qualidade à população. Contudo, observa-se que o MEC parece não cumprir bem sua função ou até cumpre, se analisarmos dentro da óptica de mercado, em que a importância do lucro de grandes empresários se sobrepõe a qualquer interesse da população. É dentro desse cenário que o CREMESP vem propor uma prova obrigatória aos recém-formados do curso de medicina do estado de São Paulo antes de conceder o CRM, acreditando, como já esclarecido pelo próprio Conselho, que este possa ser um protótipo de um futuro Exame da Ordem para a medicina. O Conselho tem como intuito impedir que “maus” médicos continuem a cometer erros e a prejudicar a população. Para quem lê parece até uma solução mágica, que resolverá pelo menos um (bastante grave, é preciso dizer) dos problemas enfrentados pela saúde no Brasil. Se estamos formando médicos ruins, então vamos testá-los antes de conceder-lhes o direito ao exercício da profissão para evitar o que se pode chamar de um mau exercício da profissão médica. Para desmistificar esta solução mágica, é preciso pegar uma lupa para se conseguir enxergar o que realmente está por trás dessa prova e entender, de fato, a situação que nossa educação vive. Faz-se necessário deixar claro que não é função do CREMESP definir a obrigatoriedade de um exame, é preciso, antes de mais nada, que isso seja amplamente discutido entre os estudantes e a sociedade, o que ainda não aconteceu. Dessa forma, o exame obrigatório constitui-se num embrião do que será um exame de ordem para exercício da Medicina, semelhante ao exame da OAB, realizado pelos advogados. O CAPS entende que o exame do CREMESP não tem a capacidade de avaliar amplamente o recém-formado, pois se trata de uma prova teórica realizada num único período, que não avalia habilidades práticas, essenciais para o bom exercício da profissão, e que uma prova de algumas horas de duração não pode avaliar 6 anos de estudos pelos quais o estudante passou. Além disso, o mau desempenho dos recém- formados não implica em qualquer planejamento de educação continuada e assistida ao indivíduo, senão a sua culpabilização e desrresponsabilização das instituições de ensino superior. O alto índice de reprovação, que já vem sendo observado nesses anos de avaliação não obrigatória, será uma grande alavanca para o mercado de cursinhos preparatórios, como ocorreu com os cursos que preparam para a prova da OAB. Além de uma fábrica de gerar dinheiro, esses

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Carta de convocação para Assembleia Geral dos Estudantes de Medicina da Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP pelo Centro Acadêmico Pirajá da Silva. Pauta: Exame do CREMESP

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O QUE PENSAMOS SOBRE O EXAME DO CREMESP? Já faz algum tempo que se observa na educação brasileira, principalmente no ensino superior e na educação médica, uma crise

sem proporções. Medidas governamentais que atendem a interesses externos e que, consequentemente, sucateiam a nossa

universidade são cada vez mais comuns e têm submetido a educação brasileira a uma dura e silenciosa caminhada rumo a sua

completa precarização.

A abertura desenfreada de escolas médicas no país, sobretudo no estado de São Paulo, sob a justificativa de que o problema

da saúde brasileira é a falta de médicos; bem como a inexistência de um processo de avaliação continuado e efetivo dentro

de todas as escolas médicas cria um processo de formação tecnicista e alienado, colocando na sociedade um profissional de

saúde que não reflete sobre o seu próprio trabalho, mas sim um mero cumpridor de protocolos.

Se uma escola de medicina recebe autorização do MEC para admitir alunos nos seus vestibulares, deveria significar que a

mesma está apta a formar um profissional que seja capaz de não apenas usar protocolos, mas, para além deles, que saiba

enxergar o paciente como um ser social, que não olhe apenas para um corpo, para uma doença, proporcionando, dessa forma,

nas devidas condições de trabalho, atendimento integral e de qualidade à população. Contudo, observa-se que o MEC parece

não cumprir bem sua função ou até cumpre, se analisarmos dentro da óptica de mercado, em que a importância do lucro de

grandes empresários se sobrepõe a qualquer interesse da população.

É dentro desse cenário que o CREMESP vem propor uma prova obrigatória aos recém-formados do curso de medicina do

estado de São Paulo antes de conceder o CRM, acreditando, como já esclarecido pelo próprio Conselho, que este possa ser um

protótipo de um futuro Exame da Ordem para a medicina. O Conselho tem como intuito impedir que “maus” médicos

continuem a cometer erros e a prejudicar a população. Para quem lê parece até uma solução mágica, que resolverá pelo menos

um (bastante grave, é preciso dizer) dos problemas enfrentados pela saúde no Brasil. Se estamos formando médicos ruins,

então vamos testá-los antes de conceder-lhes o direito ao exercício da profissão para evitar o que se pode chamar de um mau

exercício da profissão médica.

Para desmistificar esta solução mágica, é preciso pegar uma lupa para se conseguir enxergar o que realmente está por trás

dessa prova e entender, de fato, a situação que nossa educação vive.

Faz-se necessário deixar claro que não é função do CREMESP definir a

obrigatoriedade de um exame, é preciso, antes de mais nada, que isso

seja amplamente discutido entre os estudantes e a sociedade, o que

ainda não aconteceu. Dessa forma, o exame obrigatório constitui-se

num embrião do que será um exame de ordem para exercício da

Medicina, semelhante ao exame da OAB, realizado pelos advogados.

O CAPS entende que o exame do CREMESP não tem a capacidade de

avaliar amplamente o recém-formado, pois se trata de uma prova

teórica realizada num único período, que não avalia habilidades práticas,

essenciais para o bom exercício da profissão, e que uma prova de

algumas horas de duração não pode avaliar 6 anos de estudos pelos

quais o estudante passou. Além disso, o mau desempenho dos recém-

formados não implica em qualquer planejamento de educação

continuada e assistida ao indivíduo, senão a sua culpabilização e

desrresponsabilização das instituições de ensino superior.

O alto índice de reprovação, que já vem sendo observado nesses anos de

avaliação não obrigatória, será uma grande alavanca para o mercado de

cursinhos preparatórios, como ocorreu com os cursos que preparam

para a prova da OAB. Além de uma fábrica de gerar dinheiro, esses

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cursinhos não contribuirão de forma alguma para preencher os buracos na formação do aluno, senão treiná-lo para a realização

de uma prova.

A gestão do CAPS é terminantemente CONTRA a obrigatoriedade do Exame do CREMESP, pois acredita que cabe ao

Estado a oferta de cursos médicos de qualidade e 100% gratuitos, bem como a fiscalização pelo MEC dos cursos já existentes

como garantia da boa formação do profissional médico.

Não estamos nos colocando apenas contra uma avaliação, mas sim contra um modelo de educação médica que está

sendo proposto que não oferece uma plena formação ao individuo, e que só será reforçado pela proposta do CREMESP.

Assim, o Conselho acredita que sua prova vai contra essa lógica educacional já citada, mas muito ao contrário, ela só irá reforçá-

la.

O CAPS, por acreditar que o assunto deva ser amplamente discutido e difundido antes de tomar qualquer posicionamento que

represente todos os estudantes da Faculdade de Medicina de Botucatu, já vem realizando espaços para tornar este debate

próximo a todos. Podemos citar como grande exemplo a realização do Simpósio de Educação Médica, ainda que a discussão

tenha sido extremamente qualificada e profunda, infelizmente a participação, tanto de docentes como alunos, não se deu na

mesma direção.

Esperamos que todos reflitam sobre a importância do tema e participem ativamente dos próximos espaços. A luta não

pode se esgotar antes mesmo de começar!

VAI SE MANTER ALIENADO A TUDO ISSO?

VAI ENGOLIR MAIS UMA OBRIGATORIEDADE SEM NEM AO MENOS REFLETIR AO QUE ELA SE PROPÕE?

VAI ESPERAR QUE ESTE EXAME SE TORNE UM EXAME DE ORDEM PARA ENTÃO DISCUTI-LO?

NÃO? Então, participe:

ASSEMBLEIA do EXAME DO CREMESP Dia 10 de OUTUBRO

17h30 no Auditório da CENTRAL DE AULAS Gestão “A Rosa do Povo” – CAPS 2012