CORAL Relatório do Primeiro Semestre de 2004 · Na realidade, vemos o Coral como um espaço, antes...

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CORAL Diante de um projeto que trata de Mitos e Lendas, o que se passa por nossa cabeça ao começarmos mais um ano de Coral? Cla- ro, aprender a cantar, respirar, pulsar em conjunto e sentir o som que somos capazes de fazer com nossas vozes, além de con- quistarmos o imenso prazer que a música nos oferece. Mas onde está o Mito? Essa é a nossa pesquisa deste ano e talvez melhor do que termos respostas, possamos refletir sobre alguns pontos ainda tão recorren- tes em nossa cultura. Será que Coral é uma coisa feita por pessoas sérias, sem alegria, que estão sempre preocupadas em “não errar”, antes de ter prazer no que fazem? Será que é coisa apenas para gente que “tem voz” ou que “já sabe cantar”? Será que é ativ idade apenas voltada para os Deuses antes do que para os iguais? Ou mesmo que é coisa de privilegiados inatingíveis em sua virtude aos olhos de uma platéia reprimida? Na realidade, vemos o Coral como um espaço, antes de mais nada, de des - mistificação da música. Um lugar de encon- tro e descoberta, de possibilidades pessoais de desenvolvimento, de conscientização do espaço público, da existência do outro, da construção paulatina de uma ação conjunta e solidária. A possibilidade de ajudar (quarta- série com o seu repertório já conhecido) e ser ajudado (os “calourinhos” da terceira- série). A possibilidade de retribuir essa ajuda oportunamente. A obrigatoriedade da atividade para todos os alunos é justamente o que abre a possibili- dade de desfazer qualquer idéia preconceituo- sa, mistificada, do que seja uma atividade mu- sical como um Coral. E é por estas razões que, a cada ano, estamos por um lado reeditando músicas antigas e por outro acrescentando novas músicas, associadas ao Projeto do ano em curso. As músicas escolhidas, por enquan- to, para 2004, são “Estampas Eucalol” de Hélio Contreiras e “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, de Raul Seixas, que tratam de diversos pers o- nagens míticos, e que foram arranjadas com a idéia de oferecerem também a possibilidade de explorar outros elementos como palmas e uma idéia teatral condutora que dê um outro sentido à mera execução correta de uma música. Mito é ideal e distante, inatingív el. O Coral da Sá Pereira é o que é: vivo, pulsante, imperfeito, um quase caos nutrido pela efervescência de quase cinqüenta crianças em cada turno. Hete- rogêneo, em constante processo e capaz de nos dar um imenso prazer. Projeto: Flávia Lobão Matemática: Andréa Nívea Inglês: Gabriela A. Irigoyen Expressão Corporal: Ana Cecília P Guimarães Educação Física : Carla Cristina Soares Música: Manoela Marinho Rego Teatro: Rodrigo Maia Artes: Sabrina Romeiro Tribo: Anselmo Carvalho Orientação: Maria Cecília J. A. Moura Coordenação e Direção : Maria Teresa J. A. Moura e Maria Cecília J. A. Moura Relatório do Primeiro Semestre de 2004 Ensino Fundamental Rua Capistrano de Abreu, 29 - Botafogo Tel 535-2434 Rua Cesário Alvim, 15 - Humaitá Tel 3239-0950 www.sapereira.com.br / [email protected] TRIBO Escutar e ouvir. Duas faces da mesma moeda. Duas formas que só existem juntas. Ouvir é acreditar. Só ouve quem acredita em quem fala. E aí começa a complicação. A fala tem se proliferado além dos ouvidos. Tem pairado como um ruído de fundo. Pode ou não ser verdadeira. Pode ou não ter vera- Começamos a tribo buscando o ouvir. Pri- meiro uma música quase inaudível, depois o silêncio, depois os outros. Os menores, pri- meira e segundas séries, se deliciam com a existência de um espaço onde possam recla- mar, trazer suas insatisfações, suas insegu- ranças, seus protestos. Os maiores já se preocupam mais em estabelecer suas opini- ões, dar sugestões. Mas a verdade é que cidade. Pode ou não ter a fé de quem a pro- fere. Aos políticos já foi dado o direito de dizer o que quiserem quando em campanha. Aos pais o direito de falar e acreditar que não vão ser ouvidos. Aos professores o de solicitar sem a certeza de que vão ser aten- didos. É nesse ambiente que reclamamos que as crianças não ouvem. Mas não será a fala que está vazia? Quarta Série Tarde Ana de Amorim Freitas / Bárbara Tavares Fonseca / Bruna Rocha de Salles Abreu / Carolina Vieira Schiller / Dala Mila Carvalho Colo Urrutia Cruces / Isabel Bonzi Benevides / João Amaral Serra / João Costa Quintella / Julia Gamarski Graneiro / Juliana Franco Pimentel / Laura Mineiro Teixeira / Luiza Teixeira Botner / Maria Clara Reis Nucci / Maria Gabriela Luiz Correa / Maria Lima de Oliveira / Mariana Minuscoli Vianna / Nina Alves de Alencar Zur / Nina Vianna / Patricia Monteiro de Castro / Paula Muricy L0uzeiro / Pedro de Milita Pizarro Drummond / Pedro Durao Duprat Pereira / Perola Braune Franck da Rocha

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CORAL Diante de um projeto que trata de Mitos e

Lendas, o que se passa por nossa cabeça ao começarmos mais um ano de Coral? Cla-ro, aprender a cantar, respirar, pulsar em conjunto e sentir o som que somos capazes de fazer com nossas vozes, além de con-quistarmos o imenso prazer que a música nos oferece. Mas onde está o Mito?

Essa é a nossa pesquisa deste ano e talvez melhor do que termos respostas, possamos refletir sobre alguns pontos ainda tão recorren-tes em nossa cultura. Será que Coral é uma coisa feita por pessoas sérias, sem alegria, que estão sempre preocupadas em “não errar”, antes de ter prazer no que fazem? Será que é coisa apenas para gente que “tem voz” ou que “já sabe cantar”? Será que é ativ idade apenas voltada para os Deuses antes do que para os

iguais? Ou mesmo que é coisa de privilegiados inatingíveis em sua virtude aos olhos de uma platéia reprimida?

Na realidade, vemos o Coral como um espaço, antes de mais nada, de des-mistificação da música. Um lugar de encon-tro e descoberta, de possibilidades pessoais de desenvolvimento, de conscientização do espaço público, da existência do outro, da construção paulatina de uma ação conjunta e solidária. A possibilidade de ajudar (quarta-série com o seu repertório já conhecido) e ser ajudado (os “calourinhos” da terceira-série). A possibilidade de retribuir essa ajuda oportunamente.

A obrigatoriedade da atividade para todos os alunos é justamente o que abre a possibili-dade de desfazer qualquer idéia preconceituo-sa, mistificada, do que seja uma atividade mu-

sical como um Coral. E é por estas razões que, a cada ano, estamos por um lado reeditando músicas antigas e por outro acrescentando novas músicas, associadas ao Projeto do ano em curso. As músicas escolhidas, por enquan-to, para 2004, são “Estampas Eucalol” de Hélio Contreiras e “Eu Nasci Há Dez Mil Anos Atrás”, de Raul Seixas, que tratam de diversos perso-nagens míticos, e que foram arranjadas com a idéia de oferecerem também a possibilidade de explorar outros elementos como palmas e uma idéia teatral condutora que dê um outro sentido à mera execução correta de uma música. Mito é ideal e distante, inatingív el. O Coral da Sá Pereira é o que é: vivo, pulsante, imperfeito, um quase caos nutrido pela efervescência de quase cinqüenta crianças em cada turno. Hete-rogêneo, em constante processo e capaz de nos dar um imenso prazer.

Projeto: Flávia Lobão Matemática: Andréa Nívea Inglês: Gabriela A. Irigoyen Expressão Corporal: Ana Cecília P Guimarães Educação Física: Carla Cristina Soares Música: Manoela Marinho Rego Teatro: Rodrigo Maia Artes: Sabrina Romeiro Tribo: Anselmo Carvalho

Orientação: Maria Cecília J. A. Moura Coordenação e Direção : Maria Teresa J. A. Moura e Maria Cecília J. A. Moura

Relatório do Primeiro Semestre de 2004 Ensino Fundamental

Rua Capistrano de Abreu, 29 - Botafogo Tel 535-2434

Rua Cesário Alvim, 15 - Humaitá Tel 3239-0950 www.sapereira.com.br / [email protected]

TRIBO Escutar e ouvir. Duas faces da mesma

moeda. Duas formas que só existem juntas. Ouvir é acreditar. Só ouve quem acredita

em quem fala. E aí começa a complicação. A fala tem se proliferado além dos ouvidos. Tem pairado como um ruído de fundo. Pode ou não ser verdadeira. Pode ou não ter vera-

Começamos a tribo buscando o ouvir. Pri-meiro uma música quase inaudível, depois o silêncio, depois os outros. Os menores, pri-meira e segundas séries, se deliciam com a existência de um espaço onde possam recla-mar, trazer suas insatisfações, suas insegu-ranças, seus protestos. Os maiores já se preocupam mais em estabelecer suas opini-ões, dar sugestões. Mas a verdade é que

cidade. Pode ou não ter a fé de quem a pro-fere. Aos políticos já foi dado o direito de dizer o que quiserem quando em campanha. Aos pais o direito de falar e acreditar que não vão ser ouvidos. Aos professores o de solicitar sem a certeza de que vão ser aten-didos. É nesse ambiente que reclamamos que as crianças não ouvem. Mas não será a fala que está vazia?

Quarta Série Tarde Ana de Amorim Freitas / Bárbara Tavares Fonseca / Bruna Rocha de Salles Abreu / Carolina Vieira Schiller / Dala Mila Carvalho Colo Urrutia Cruces /

Isabel Bonzi Benevides / João Amaral Serra / João Costa Quintella / Julia Gamarski Graneiro / Juliana Franco Pimentel / Laura Mineiro Teixeira / Luiza Teixeira Botner / Maria Clara Reis Nucci / Maria Gabriela Luiz Correa / Maria Lima de Oliveira / Mariana Minuscoli Vianna /

Nina Alves de Alencar Zur / Nina Vianna / Patricia Monteiro de Castro / Paula Muricy L0uzeiro / Pedro de Milita Pizarro Drummond / Pedro Durao Duprat Pereira / Perola Braune Franck da Rocha

que exige esforço para nos reafirmarmos como seres humanos não partidos diante das incontáveis polarizações, já velhas co-nhecidas nossas – a dicotomia razão/emoção nos parece exemplar – que conhe-cemos com o corpo inteiro. O pensamento mítico, quando cuidamos para que não seja simplesmente escolarizado, nos traz esta possibilidade, pode ser reconhecido e valori-zado na vida cotidiana, preenchendo as tan-tas lacunas deixadas pela racionalidade, dando sentido à vida, à arte, à existência, à própria condição humana, enfim, nos conv i-dando a uma relação mais afetiva e poética com o mundo e também mais humilde posto que nos faz revelar a insuficiência do conhe-cimento científico para tratar sozinho dos problemas epistemológicos, filosóficos e éti-cos, afinal, “a razão, meus senhores, é uma excelente coisa, é verdade; mas a razão não é mais do que a razão e só satisfaz a capac i-dade humana de raciocinar, ao passo que a vontade é a manifestação da vida total, de toda a vida humana, inclusive da ra-zão.” (Dostoievski) Apostamos que deste contato com o pensamento mítico, podere-mos sair mais ricos – porque mais novos do que antes, mais arejados, mais delicados e, até, mais cheios de esperança.

Optamos por marcar o início desta cami-nhada com um romance, um clássico, um livro eterno “que nunca terminou de dizer aquilo que tinha para dizer.” (Calvino): O VE-LHO E O MAR. Isto porque consideramos importante oportunizar, incentivar, este pri-meiro encontro com os clássicos, fazer o convite. Apostamos que a lembrança pode-rá ficar para vida e que as crianças possam revisitá-los, tornando-os diferentes a cada vez. Em sua definição, Zelita Seabra nos diz “o mito é a tentativa de dizer o indizível”. A experiência da leitura, o conhecimento do velho, sua relação com o menino, reciproca-mente cuidadosa e delicada, sua grandios i-dade e força num contexto de extrema po-breza, fragilidade física, ou diante da imens i-dão do mar, também beiraram o indizível. Poderia ter sido derrotado fisicamente mas jamais vencido em sua moral. Foi esta expe-riência sublime que, em especial, pretendía-mos refletir com as crianças. Compreende-mos que um livro é uma força que atua so-bre outras forças, produzindo efeitos varia-dos. Obviamente que as compreensões, sentimentos, pensamentos, e até envolv i-

ouvir é muito difícil. Provavelmente porque estamos prenhes de discursos vazios e sem sentido. Essa meia hora que mescla a medi-tação e o diálogo completamente desprendi-do de qualquer objetivo que não o diálogo, mas organizado é, às vezes, um tempo cur-tíssimo, às vezes enorme. Pode-se conse-guir falar e ouvir muito e muitas vezes não se falou nem ouviu nada. É um exercício sem fim.

Se dá algum resultado, o tempo tem dito. Mas poderíamos cuidar de filtrar mais a nos-sa fala. Dizer só aquilo em que acreditamos verdadeiramente. Precisaríamos tentar não proibir o que não podemos garantir que fica-rá proibido. Não dizer nãos que virarão sim pela, às vezes simples, às vezes insuportá-vel, insistência, que pode virar especialidade nas nossas crianças.

Precisamos, adultos que se propõem a coloborar na sua educação, sermos parcei-ros em uma fé verdadeira na verdade de cada um, única condição para que falando sejamos escutados, e ouvindo sejamos aco-lhedores.

O tom deste texto pode parecer estranho aos que estão acostumados com nossos relatórios. Mas carrega um pouco das preo-cupações que temos compartilhado com nossas crianças e entre a equipe pedagógi-ca. Preocupações que têm tomado algum espaço no que temos pensado sobre o como educá-las e orientá-las para a vida, tarefas em que somos parceiros, famílias e escola.

PROJETO Tudo, aliás, é a ponta de um mistério.

Inclusive, os fatos. Ou a ausência deles. Duvida? Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo... se nun-ca atentou nisso, é porque vivemos, de modo incorrigível, distraídos das coisas mais importantes.

Primeiras Estórias Guimarães Rosa

Os autores citados vêm ao nosso encon-tro para nos ajudar a dizer, com mais beleza, desse nosso desafio em aproximar as crian-ças das muitas idéias sugeridas quando lhes dizemos que nos ocuparemos de catar so-nhos... Desafio porque, desta vez, especial-mente, não se trata apenas de adequar os conteúdos, pensar os eixos temáticos, pro-blematizar... Não! Há algo de mais íntimo, profundo, de mais arriscado até. Ao tratar-mos de sonhos, mitos, lendas, heróis, imagi-nações, fantasias, crenças, pluralidade de explicações, nossa possessão de nós mes-mos, nossa identidade, estarão, certamente, mais vulneráveis. A realidade deixa de se apresentar completamente esclarecida, dan-do vez às contradições e mistérios. Desafio porque os limites realidade-imaginação são, na prática, mais tênues do que nos fizeram, historicamente, acreditar. Desafio porque as verdades/explicações absolutizadas, cristali-zadas, impostas, têm nos fixado e as crian-ças já apresentam certa resistência às inter-pretações múltiplas e variadas. Desafio por-

EDUCAÇÃO FÍSICA Começamos o semestre resgatando as

regras de convivência. Trabalhamos com alguns jogos e esportes

já conhecidos pelas crianças como pique-bandeira, queimado, câmbio, futebol, hande-bol, basquetebol e as competições por equi-pes (contestes), sempre buscando uma mai-or integração e socialização entre as crian-ças, modificando regras como agente moti-v ador, ora facilitando, ora aumentando a complexidade do jogo, dependendo do de-sempenho e competência do grupo.

As crianças mostraram-se muito ansiosas pelo grande torneio, que realizamos no ano passado, que teve várias modalidades de jogos, torcida, grito de guerra, questões para serem respondidas. Tudo isso foi realizado em dois dias de mobilização total de toda a escola e engajamento das crianças. Para atender aos anseios de nossos alunos, já estamos nos organizando para a grande O-limpíada Sá Pereira, no segundo semestre. Aproveitamos o fato de ser o ano das Olim-píadas e, portanto um momento significativo para aprender mais e, dessa forma, estabe-lecer novos links com o assunto, contribuin-do cada vez mais para a generalização des-se conhecimento.

MÚSICA Começamos o ano nos preparando para o

bloco da escola. As aulas viraram animados ensaios para o nosso carnaval, onde as cri-anças tocaram instrumentos de percussão e cantaram. O tempo foi curto, mas deu para falar um pouco sobre os instrumentos que

compõem a bateria das escolas de samba. No retorno às aulas, começamos as ativ i-

dades de música com jogos e brincadeiras musicais. Depois dessa iniciação, buscando uma parceria com as aulas de Projeto e ins-pirados pela leitura do livro “O velho e o mar”, trouxemos a música de Dorival Cay m-mi, que está completando 90 anos, para ser apreciada. Ouvimos um pouco de sua obra e, depois de uma votação, escolhemos a canção “Marcha dos pescadores” para ser trabalhada. Para o arranjo dessa música contamos com tambor, agogô, clave, caxixi, percussões de efeito, flautas e metalofones. A complexidade do arranjo exigiu das crian-ças concentração e coordenação, possibili-tando a vivência de noções de dinâmica, textura e forma, além do desafio de cantar e tocar simultaneamente. As crianças foram incentivadas a atentar para “trama sonora” formada pelo som de cada instrumento, en-tendendo, assim, que os sons se relacionam e que é necessário ouvir o colega para ga-rantir a unidade do arranjo. Esse trabalho foi apresentado na festa pedagógica. No segun-do semestre aprofundaremos o estudo do pandeiro e as noções de escrita e leitura mu-sical no pentagrama.

possa parecer. As crianças levantaram algu-mas representações do nosso mundo e al-guns símbolos criados pela humanidade: “A fotografia também é representação!” Em se-guida, fizeram uma interpretação do livro O Velho e o Mar com recorte e colagem de revistas e jornais. Adotando uma prática de apropriação de imagens, estabeleceram re-lações de significação diferentes daquelas habitualmente conhecidas entre os objetos, imagens e seus usos.

Recolher imagens impressas para uma composição diferente do desenho possibili-tou uma reflexão sobre o significado das re-presentações em diferentes contextos, ação na qual quem está criando intervem na idéia inicial que a imagem expressa, tomando consciência desse processo através da apre-ciação das suas criações e de seus colegas.

TEATRO Começamos o semestre aprendendo vá-

rios jogos de regras, necessários para o en-tendimento da cena. Os jogos visam estimu-lar atitude, solidariedade, respeito, entre ou-tros aspectos. São eles: João e Joana, Gato e Rato, Congela, Máscara, Jogo do Passo... Jogos que já nos ajudaram e vêm nos auxili-ando, cada vez mais, a estar em cena de-monstrando desembaraço e maior possibili-dade de comunicação.

Em seguida, através dos povos e países presentes na música composta para o carna-val “Tem Grego, tem Japonês, Indiano, Ára-be, Índio, Africano, Egípcio, Celta, Chinês”, demos início aos jogos dramáticos, que en-volveram a escolha de um lugar, um perso-nagem e uma situação para serem vivencia-das em um esquete.

A partir do momento em que instalamos a cena, introduzimos o exercício de Criação de Histórias, com o tema vinculado ao projeto desfrutando de uma autoria coletiva. Con-quistamos, aí, uma passagem ao mundo das histórias fantásticas, com toda a sorte de acontecimentos. Grandes aventuras e emo-ções, sempre com muita imaginação.

Para entrarmos nesse mundo fantástico utilizamos como estímulo uma poesia que conta uma lenda da praia dos Lençóis do Maranhão, intitulada “O Rei Que Mora no Mar', de Ferreira Gullar. Este rico material deu origem a pequenas histórias criadas pe-las crianças a partir do exercício de imagina-ção ativa. Durante o processo das aulas-ensaio criamos, então, o conto ‘Histórias do Povo Encantado’. Uma livre adaptação inspi-rada na poesia de Ferreira Gullar. Ainda a-proveitamos o trabalho desenvolvido nas aulas de música “Minha Jangada” de Dorival Caymmi, para finalizar a apresentação.

EXPRESSÃO CORPORAL Foram ricas, intensas e produtivas as expe-

riências corporais vivenciadas no semestre. A turma compreendeu bem as propostas de um trabalho que já pode ser desenvolvido de ma-neira subjetiva, buscando mais qualidade na movimentação. Depois da folia do samba, no bloco de carnaval, começamos o semestre aprendendo algumas dinâmicas que tinham como desafio coordenar a respiração e o mov i-mento corporal. Uma delas era de inspirar em dois segundos, segurar o fôlego em um, expi-rar em dois e agüentar sem fôlego um, tentan-do sincronizar o ritmo da respiração com todos os amigos da roda. Em outro exercício, as cri-anças tentaram sincronizar a inspiração de um colega em repouso, com a ação na expiração do outro e vice-e-versa. Foi estimulante e de-safiador encontrar o ritmo comum da respira-ção da dupla.

Fizemos variados aquecimentos no chão, em círculos, em diagonais com cruzamentos, utilizando as quatro paredes da sala e apro-veitando as idéias de movimentos vindas do grupo. Trabalhamos muito com composição, criação de movimentos, suas possíveis ev o-luções e com a memória corporal. Para isso, cada um lembrava de alguns movimentos criados, trocava com o outro sua experiência e então, trabalhavam juntos, decidindo man-ter ou alternar ações, movendo-se em segui-da ou simultaneamente e assim por diante, refletindo sobre as possibilidades estéticas, trabalhando qualidades de força e leveza, ritmo, continuidade, rupturas, etc.

O mar, tanto o de Caymi como o de “O Velho e o Mar” foram inspirações para dife-rentes improvisações nas aulas. Depois de ouvirmos o som vindo de dentro de uma con-cha, experimentamos as qualidades de mo-v imento das ondas batendo, serenas ou agi-tadas, com o corpo em movimentos circula-res. Em grupos, utilizando as idéias de cada um, inspiradas nos improvisos individuais, foram montadas seqüências para a criação de uma dança. Filmamos esse trabalho, tro-camos experiências apreciando, comentan-do e reproduzindo os movimentos de cada grupo. Depois aproveitamos essas idéias para a elaboração da coreografia apresenta-da na Festa Pedagógica, com músicas de Dorival Caymmi cantadas por Olívia Hime.

Inovamos este ano ensaiando uma qua-drilha que foi incrementada com o trançado de um colorido Pau de Fitas para a festa cai-pira.

ozônio, foi muito do que tratamos e, para essa discussão, os jornais foram fontes fun-damentais.

O mar teve destaque em “Conhecendo o mar”, assim denominamos uma série de arti-gos, textos informativos e científicos, curiosi-dades e até aventuras, relacionados ao mar. Também nos ocupamos de algumas de suas figuras mitológicas – Posêidon, Iemanjá, Ia-ra... – tratamos de localizar seus lugares de origem, dessa vez, lançando mão dos pró-prios mapas produzidos pela turma. “Água – uma das maravilhas da Terra” – assim a quar-ta-série batizou seu projeto, o que nos mostra que há muito mais por vir. A História do Brasil está intimamente relacionada ao mar, às gran-des navegações. Quem sabe, no próximo se-mestre, não embarcaremos com Cabral, Co-lombo, chegamos às Américas e mergulha-mos na história de nossa latinidade.

Dos materiais que temos disponíveis, podemos dizer que intensificaremos o traba-lho com a Literatura. Uma de nossas estraté-gias será a Cirandas de livros, e o caderno continuará sendo priorizado como espaço para registro do percurso.

Para terminar, gostaríamos de reafirmar nossa opção ao tratar, nas aulas de projeto, as disciplinas que sempre nos foram apre-sentadas de modo compartimentado, agora, de modo interdisciplinar, compreendendo interdisciplinaridade não simplesmente como sinônimo das práticas pedagógicas mas, sobretudo, como avanço epistemológico. E é Platão quem vem nos ajudar: “É a mais radi-cal maneira de aniquilar toda a argumenta-ção esta de separar cada coisa de todas as outras, pois a razão nos vem da ligação mú-tua entre as figuras.” Acessar as informa-ções sobre o mundo, fazer as articulações e organizações necessárias, perceber e con-ceber o contexto, o global (todo/partes), o multidimensional, o complexo, ampliar o con-ceito de ciência, concebendo e interpretando os fatos humanos numa forma outra que in-clui as dimensões ética e estética, têm sido a nossa grande preocupação, porque acredita-mos que “ensinar para a comunicação amo-rosa é o objetivo das línguas, transmitir o acumulado na observação da biosfera para melhorar a qualidade de vida das pessoas é o único sentido das Ciências, ser protagonis-ta do processo social é a razão maior do es-tudo da História” (Chico Alencar)

mento experimentados pelas crianças foram muito distintos. E é porque desejamos valori-zar essa diversidade que o livro deu o que dizer e também insistir para que fossem a-lém do entendimento do significado do texto, vivendo-o, é que nos veio a idéia de organi-zar o trabalho tendo em vista “AS INTER-PRETAÇÕES” - um momento especial onde comunicaríamos tudo aquilo que o livro nos mostrou. Poder assistir ao filme “O velho e o mar” nos trouxe uma animação e um colori-do especiais. Materializou parte do que tí-nhamos imaginado. As interpretações são variadas, vão das plásticas, a partir de pe-quenos fragmentos do livro, aos textos, pro-duzidos ao longo do estudo – poemas, a par-tir da idéia de “ser herói”; depoimentos sobre a experiência da leitura e do filme; pequenos registros/declarações das sensações que tivemos em nosso passeio, diante do mar – fomos também fotografá-lo – inspirados em Galeano e Neruda; elaboração de possíveis pensamentos para o velho Santiago, para esses textos tinham a exigência de adequá-los ao contexto, à vida de pescador, ao mar, ou seja, era preciso trazer o tempo, a pac i-ência, a solidão e o silêncio, e também a exigência de introduzir ao texto elementos da mitologia, com certa beleza poética – co-mo fez Ferreira Gullar, nos contando “O tou-ro que veio do mar.”

Um olhar sobre Cuba se fez necessário. Algumas crianças se mostraram curiosas para saber sobre Hemingway e sobre o am-biente que ele se propunha a revelar. Outras crianças, já visitantes de Cuba, tinham mui-tas coisas para contar/mostrar. Esta contex -tualização foi facilitada com o documentário “Minha escola em Cuba”, onde adolescentes cubanos nos apresentaram um pouco de seu país. Inevitável foi “aparecer” a figura de Che Guevara, já conhecida pela maioria da tur-ma. Mas, foi mesmo o filme “Diários de mo-tocicleta” que o revelou em sua generosida-de, honestidade e delicadeza, nos mostran-do a novidade de seu olhar e de suas per-guntas para o mundo. Importante foi poder conversar sobre a idéia de mito nesta acep-ção. Aos poucos vão podendo compreender que não queremos dizer sempre a mesma coisa quando tratamos de mitos.

Ter os olhos voltados para um outro país acabou nos remetendo ao cenário do mun-do, estudar o mapa-múndi, continentes, paí-ses, fronteiras, linhas imaginárias, oceanos, relações políticas, de poder, acontecimentos históricos, dificuldades sociais, enfim, era necessário olhar para o planeta! Multiplicar as possibilidades nossas de cada dia, para a construção de um outro projeto mundial. Destruições, criações, guerras, aquecimento global, efeito estufa, buraco na camada de

MATEMÁTICA É sempre um misto de muitas sensações

diferentes a entrada na quarta série. Euforia, ansiedade, medo, curiosidade, alegria e uma saudade antecipada ficam evidentes nos mais simples gestos e falas. Ora estão con-centrados e bem dispostos para a produção, ora a brincadeira e o descompromisso ame-açam a qualidade das discussões e das ati-v idades coletivas. Tudo muito normal e pre-v isível.

De um modo geral, começam a ficar mais envolvidos com as propostas e vêm se esfor-çando para se comportar como co-responsáveis pelo andamento do trabalho. Si-nal de amadurecimento, marca desse tempo.

Logo no início do ano tratamos de obser-var o horário e a distribuição das aulas de Matemática ao longo da semana. É preciso que cada um identifique, para poder se pla-nejar de forma eficiente, que dias têm mais tarefas, quando há pouco ou muito tempo, que dias são mais folgados... Esse tipo de preocupação justifica-se se pensarmos que já na quarta série, mas principalmente a par-tir dela, a dinâmica escolar vai exigir uma rotina e uma organização cada vez maiores. Tem dado resultado nosso investimento.

Temos mais uma vez como companheiros o livro didático, as fichas e as apostilas que sistematizam e propõem uma variedade mai-or de tarefas. Mas, sem dúvida, é o caderno

o nosso maior aliado. Nele registramos gran-de parte das conversas e descobertas que acontecem em sala. Gostaríamos que aos poucos ele ocupasse um lugar de destaque e se tornasse um material de consulta. Estão aprendendo a fazer registros personalizados de cada discussão. Essa tarefa exige, além de autonomia de pensamento e capacidade de síntese, muita concentração.

Os jogos envolvendo as operações ainda são o ponto alto das aulas. É muito interes-sante vê-los colocando os conhecimentos que já possuem “em jogo”.

“Se a matemática é uma coleção de relações formais e estabelec idas, não há lugar para discutir(...) Mas se matemát i-cas são também idéias e produções dos alunos, geradas a partir de um problema, então pode haver lugar para o debate e a demonstração. Nesse debate, nas tentat i-vas de provar ou refutar, os alunos apren-dem a explicar suas idéias, socializam -nas e se formam, pouco a pouco, na arte de demonstrar.”

Aprender Matemática Resolvendo Problemas Block e Dávila,

Durante a maior parte do semestre nos concentramos em estudos sobre os núme-ros: conheceram os números primos, obser-varam relações numéricas como “ser múlti-plo de” e “ser divisor de” e experimentaram usar a potenciação como forma de expressar uma multiplicação de fatores repetidos. Re-

cuperamos a Apostila dos Quadradinhos – do ano passado – para representarmos grafi-camente números quadrados como 16, 25 e 64. “De quebra”, com malhas quadriculadas, fizemos atividades envolvendo os conceitos de área e perímetro.

Terminamos esse primeiro período inau-gurando o trabalho com decimais. Entender e operar com grandezas menores que a uni-dade são desafios que exigem abstração e reversibilidade operatória. A leitura, a escrita e as operações com quantias e medidas a-proximam as crianças desse campo numéri-co a ser explorado daqui para a frente. En-tender a função da vírgula vai ser fundamen-tal para a construção de todos os conceitos. Por enquanto só estamos utilizando a nota-ção decimal. Depois trabalharemos com a representação fracionária. Para exercitar os conhecimentos que estão sendo explorados, planejamos uma saída para compras “de verdade”, com direito a cálculo de gorjeta e troco. A idéia é transformar o conteúdo esco-lar em experiência real e, assim, torná-lo parte de um repertório significativo dos alu-nos, sempre possível de ser aplicado na so-lução de situações e problemas da vida.

Muitas idéias na cabeça e muito trabalho pela frente...

INGLÊS Baseada num grande respeito por todas

as línguas e formas de cultura, esta aborda-gem de ensino coloca o estudante no centro dos procedimentos didáticos, fazendo-o mo-bilizar diversos conhecimentos e capacida-des, além de despertar a curiosidade e o prazer de descobrir – não só novos dados lingüísticos – mas aspectos históricos e cul-turais dos usuários de outras línguas.

Com esse enfoque começamos o ano buscando estratégias que abordassem as-pectos culturais, históricos e também lingüís-ticos da língua inglesa e dos povos que se expressam através desse idioma.

Como temos duas aulas por semana, em uma delas trabalhamos os conteúdos espe-cíficos da língua inglesa para essa faixa etá-ria e na seguinte buscamos interconexões com o projeto institucional da escola. Dessa forma as crianças podem adquirir algumas habilidades e competências na utilização do Inglês como língua estrangeira e podem a-prender sobre ela e o seu contexto cultural.

Iniciamos o ano estudando sobre a ori -gem dos nomes dos dias da semana em in-

foram dados em homenagem a alguns deu-ses da mitologia nórdica: Tuesday (Tyr’s day), Wednesday (Wooden’s ou Oden’s day), Thursday (Thor’s day) e Friday (Freyja’s day). Ouvimos histórias sobre cada um desses deuses e seus animais, vimos ilustrações e os desenhamos.

Também descobrimos, no Atlas, onde fi-cam a Noruega, a Dinamarca e a Suécia – países que ocupam a região onde os vikings se concentravam. Assistimos a um video sobre a vida e a história dos vikings da série “O Homem” e ouvimos a Cavalgada das Val-quírias, de Wagner.

A turma se mostrou muito interessada e trouxe uma quantidade enorme de material para a sala de aula sobre os vikings. Pesqui-saram informações recolhidas da Internet e nos livros de casa. As informações trazidas para a escola foram muitas e diversas. As crianças, em grupos, tiveram que ler todo o material trazido e selecionar o que mais lhes pareceu interessante para compartilhar com todos.

Avaliamos que seria uma boa oportunida-de para que as crianças começassem a se familiarizar com o programa disponível na escola para colocar os seus trabalhos na internet. As crianças digitaram e diagrama-ram as informanções escolhidas juntamente com a foto de um desenho feito por eles pa-ra ilustrar o trabalho.

Buscando uma ponte com as aulas de Projeto e o que as crianças estavam vivenc i-ando sobre o “O Velho e o Mar” pensamos em aproveitar uma atividade desenvolvida nessas aulas – a descrição feita por eles, no

caderno, da animação “O velho e o mar” em apenas uma palavra. Listamos e traduzimos essas palavras para o inglês e o fizemos de uma forma bem artística, com muita cor e letras grandes para que pudéssemos fazer uma exposição junto com os trabalhos reali-zados em Projeto. Além de desenhá-las, brincamos com essas palavras através de mímica, palavras cruzadas e forca. Ainda embarcados em “O Velho e o Mar” ouvimos e brincamos com a versão em inglês da poe-sia “Ode al Mar” de Pablo Neruda – Ode to the Sea. Fazendo um exercício de listening comprehension – compreensão auditiva – em grupos tentamos reconhecer o máximo de palavras ao ouvir a poesia sendo narrada pelo ator Ralph Fiennes. Depois procuramos e encontramos essas palavras reconhecidas auditivamente na versão escrita. Termina-mos o semestre com cada grupo escolhendo uma parte da poesia para memorizá-la e a-presentamos para todas as turmas.

O conteúdo de língua inglesa que foi sele-cionado a partir do livro adotado – Hip Hip Hooray – para este primeiro semestre foi: obter e fornecer informações pessoais, per-guntar e informar: o que alguém vai fazer no dia seguinte (What is he/she going to do to-morrow? He/she is going to...); perguntar se alguém quer fazer algo e a responder de forma positiva, negativa ou em dúvida (Do you want to...? Sure.That sounds like fun./

No, sorry./ I don’t know. Maybe.); o que al-guém tem que fazer (What does he/she have to do? She/he has to...); convidar alguém para fazer algo utlizando Let’s... ; pedir para alguém esperar porque tem que fazer algo (Wait! I have to ...) e vocabulário básico de ações e atividades cotidianas.

ARTES Inspirados no tema Catando os Sonhos no

Velho e no Novo Mundo lembramos do mov i-mento Surrealista, já que sua temática procura valorizar o inconsciente, o sonho, trazendo-os para suas obras. Com a apreciação das Mado-na de Dali e Rafael, procuramos perceber as semelhanças e as diferenças dos elementos estéticos que as constituem.

Num segundo momento, apreciamos uma concha do mar e, em duplas, as crianças fizeram o desenho de observação com lápis pastel oleoso no papel canson. As conchas fizeram parte de uma composição pensada a partir de um jogo de criação coletiva que os surrealistas realizav am, “cadáver delicado”, onde cada participante escrevia o que vinha à mente sem os outros saberem. Para essa composição utilizamos a tinta guache na ela-boração de painéis.

Uma outra atividade mobilizadora foi a apreciação da obra de René Magritte, tam-bém surrealista. O artista critica a arte como representação do real, por mais próximo que