Cordel Digital

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Cordel que fala sobre a evolução da própria Literatura de Cordel e sua adaptação aos tempos modernos.

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Cárlisson Galdino nasceu em 1981 no município de Arapiraca, Alagoas, sendo Membro Efetivo da Academia Arapiraquense de Letras e Artes (ACALA) desde 2006, com a cadeira de número 37, do patrono João Ribeiro Lima.

Poeta, contista e romancista, possui um livro de poesias publicado em papel, além de dois romances, duas novelas, diversos contos e poesias publicados na Internet, em seu sítio pessoal: http://www.carlissongaldino.com.br/.

Como cordelista, iniciou publicando o Cordel do Software Livre, que foi distribuído para divulgação dos ideais desse movimento social.

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Bacharel em Ciência da Computação pela Universidade Federal de Alagoas, onde hoje trabalha, é defensor do Software Livre e mantém alguns projetos próprios. Presidente do GUSLA – Grupo de Usuários de Software Livre de Arapiraca.

Literatura de cordel é um tipo de poesia popular especialmente no Nordeste brasileiro. Tradição de Portugal, os livretos deste tipo de poesia eram vendidos em feiras, pendurados em barbante (ou cordel).

O Cordel Digital é escrito em setilhas (estrofe de sete versos), em redondilhas maiores (sete sílabas poéticas), estilo este que é bem tradicional entre os cordéis.

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Cordel D ig ital

Meus amigos, com licençaVou falar da realidadeDesses dias de hoje em diaDo que fez a humanidadeDesbravando com bravuraA mata da LiteraturaVeja quanta novidade

Houve um tempo muito antigoQue poeta tinha ideiaDe escrever histórias longasFosse o leão da NemeiaOdisseu e suas doresOu grandes navegadoresEra a tal da epopeia

Elas eram poesiasEnormes de se cantarDescrevendo uma históriaQue tentavam registrarEra, eu sei o que digo,Um costume mais antigoQue se possa imaginar

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Foi assim com o HomeroQue dos deuses recebeuDom sublime lá na GréciaE desse jeito escreveuVersos que são ouro e joiaNarrando a Guerra de TroiaE a jornada de Odisseu

Depois, entre os portuguesesComo em outras naçõesRessurgiu num certo diaOutro poeta dos bonsFeito pra narrar o dramaNo mar, de Vasco da GamaEra Luis Vas de Camões

Desse modo, todo povoViu poeta inteligenteTalentoso e inspiradoFalando pra toda genteGrandes fatos dos que viuE assim, cá no BrasilNão ia ser diferente

No Brasil, esse trabalhoCoerente e genialDe romancear em versosTem lugar especialNo Nordeste da naçãoVivo em uma tradiçãoTrazida de Portugal

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Falando muitas verdadesContra rei e coronelOu fazendo o povo rirSó de pegar no papelHá livros que são achadosEm um cordão penduradosLevam nome de cordel

São livretos bem pequenosMas grandes em seu talentoTrazendo pra nós notíciasOu um bom divertimentoPequenos com poesiaPendurados, quem diria?Em feiras, no movimento

Tem mulher que virou bichoTem medroso e assombraçãoTem disputa de viola,De goela e muniçãoTem relato corajosoDo inferno endoidando todoQuando chegou Lampião

Você encontra pelas feirasDo Nordeste brasileiroSempre muitas opçõesVersos narram por inteiroDramas e atualidadesCom mentiras ou verdadesSempre por pouco dinheiro

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Hoje já não há mais tantoMas antigamente haviaPra vender esses cordeisQue são pura poesiaArtista com emoçãoE uma viola na mãoNarravam em cantoria

Mas o tempo foi passandoTudo passa nessa vidaE essa tradição da genteTão antiga e tão bonitaCom as gerações mudandoPouco a pouco foi minguandoHoje está quase esquecida

Hoje há poucos cantadoresPelas feiras do NordesteHá poucos cordéis à vendaA cultura poucos vesteMas buscando, é forçosoAchar um ou outro teimosoQue na tradição investe

Hoje se acha por aíOs clássicos do cordelE uns que por muitos anosEscondidos num papelCriaram força de repenteResolveram finalmenteMostrar a cara pro céu

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E hoje a gente olha pro mundoO mundo está tão mudadoTodos vivem na canseiraSe matando por trocadosNuma correria loucaE a leitura, que era poucaFoi ficando mais de lado

Com TV, rádio, InternetVideogame, academiaCelular, computadorGPS, foi-se o diaDe moleza na calçadaE nessa vida estressadaQuem tem tempo pra poesia?

Em tudo botou o dedoEssa TecnologiaDisco já virou CDPC encolheu, quem diria?Aumentando a qualidadeE hoje já é realidadeO que o cinema previa

Hoje todos têm acessoAo que só teria o reiTodos têm cartão de créditoCelular, pelo que eu seiCada um tem três o quatroTevezona virou quadroFilme se tornou blue-ray

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E tudo foi progredindoComo era o naturalE foram desencarnandoDo mundo materialNessa evolução danadaTão espiritualizada!Tudo agora é digital

Ninguém precisa de discoPra música simplesmenteConverte pra MP3.Jogo ou video facilmenteÉ só ter dispositivoPlayer ou PC. E com livro?Por que seria diferente?

Amazon entrou na dançaLançando o tal do KindleDepois a Apple com o iPadQue tanta gente acha lindoSony, Samsung e outras maisTêm produtos quase iguaisE muitos outros vem vindo

São notebooks pequenosPor tablets conhecidosPra navegar na InternetVer uns videos divertidosVer e-mail e conversarAgendar e calcularE também para ler livros

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Ou são, mesmo parecidos,Aparelhos diferentesFeitos só para ler livrosCom uma tela inteligentePara ler poesia ou crônicaA tal da tinta eletrônicaPra ser bom de ler pra gente

Pois, amigos, desse jeitoO livro, que era papelHoje está só na memóriaDe um aparelho "do céu"Tanto livro e saberVai num cartão SDQue a gente fica pinel

E se hoje já há dicionárioRomance, HQ, mangáColetânea, manualDe quase tudo já háSe tem lugar pra poesiaRevista, jornal e guiaO cordel não tem lugar?

O cordel tem que viverÉ um marco dessa genteTem o seu lugar cativoNo coração do viventeDo Nordeste brasileiroE assim do Brasil inteiroTalvez nem dele somente

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Poesia gigantescaÉ algo internacionalSe aqui temos cordelNoutros cantos, tem igualCada povo, com efeitoFaz, na sua língua, seu jeitoEssa tradição legal

E se hoje todos falamDa tal globalizaçãoPor que não vir o cordelDar sua parte da lição?Sair da feira do agrestePara entrar na InternetQual no céu foi Lampião?

É por isso, meus amigos- E não estranhem o fato -Que o cordel tem o direitoDe ter a turbina a jatoQue essa tecnologiaOferece e a poesiaCabe num livro abstrato

Hoje, nesses novos temposQue mudam nosso normalQuando a vida é correriaE o consumo é sem igualTudo aos poucos é mudadoQue fique aqui registradoO Cordel é Digital

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E se a mudança não paraE se tudo se misturaPra estar no mundo globalPreservando a culturaQuem sabe se alguém não criaDisk-cachaça, e um diaDownload de rapadura?

Nessa era tão modernaMarcada, pelo que sei,Pelo compartilhamentoQue todos podem ser reisQue a Arte humana tanto cresceQuando será que apareceUm repentista DJ?

E assim, meu caro amigoÉ chegado o momentoDe partir, já me vou indoGrato pelo acolhimentoAté um outro cordel!Boa sorte pra quem leuE bons compartilhamentos!

– Cárlisson Galdino

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