"Corte nas famílias" a gosto da maioria
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3NOTÍCIAS DE VILA REAL
Quarta-Feira, 29 de Dezembro de 2010DESTAQUE
O orçamento muni-
cipal para o ano de
2011 foi aprovado pela
maioria social-demo-
crata, mas ‘choveram’
críticas por parte da
oposição. A bancada
socialista absteve-se,
com excepção de um
presidente de Junta, e
os restantes partidos
da oposição votaram
contra o documento
que rege as contas do
município.
Para o presidente do
Município de Vila Real,
Manuel Martins, “este orça-
mento é muito rigoroso
e com grandes preocupa-
ções de contenção da des-
pesa”. “Pusemos a saúde
financeira à frente da polí-
tica”, garantiu o autar-
ca. Mas foram as críticas
dos partidos da oposição
que acabaram por marcar
a Assembleia Municipal
(AM). O Partido Socialista
(PS) considerou que este é
“um mau orçamento” para
Vila Real. “Abstivemo-nos
não porque concordemos
com aquilo que é plas-
mado neste documen-
to mas porque quisemos
demonstrar ao executivo
que estamos disponíveis
para conversar”, afirmou
o porta-voz do PS, Rodri-
go Sá.
O deputado do CDS-
PP, Jorge Pinho, acusou o
presidente da Câmara de
não ouvir os partidos da
oposição antes de levar o
orçamento a votação na
AM. “A lei é muito clara,
o estatuto do direito de
oposição prevê que o exe-
cutivo e, neste caso o pre-
sidente, nos chame para
darmos o nosso contribu-
to”, sublinhou o respon-
sável. Por não terem sido
ouvidos, o CDS-PP e os
restantes partidos vota-
ram contra o orçamen-
to por considerarem ile-
gal a votação do docu-
mento na AM. As despe-
sas com “estudos, parece-
res, projectos e consulta-
doria”, que vão aumentar
43,6 por cento em rela-
ção ao último orçamen-
to, mereceram o destaque
pela negativa por parte
dos partidos da oposição.
As verbas atribuídas a esta
parcela passaram de 440
mil euros, em 2008, para
632 mil euros, em 2011.
Os “prémios, condeco-
rações e ofertas” também
foram apontados como
gastos não essenciais pela
oposição, mas em 2011
vão ter um aumento de
165 por cento, passan-
do de 38,8 mil euros para
102,7 mil euros. Também
a rubrica da publicidade
vai sofrer um aumento de
187 por cento, de 66 mil
euros para 196 mil euros.
O corte de 33 por cento no
apoio às instituições sem
fins lucrativos, que pres-
tam serviços ligados às
famílias, e o aumento de
20 por cento nas despesas
com as empresas muni-
cipais e intermunicipais,
foram também apontados
como falhas graves deste
orçamento.
Para Manuel Martins,
“o que poderá falhar é
naquilo que virá do Esta-
do, ou seja, nas transfe-
rências no âmbito da Lei
das Finanças Locais”. “Este
ano levamos uma rastei-
ra a meio do ano o que
nos criou dificuldades em
termos de dívida”, revelou
o autarca. Manuel Martins
admite que “se não hou-
ver mais rasteiras”, a câma-
ra vila-realense voltará a
ter “finanças saudáveis
e preparadas para possí-
vel investimento em 2012
e 2013”. Quanto às ver-
bas atribuídas aos “estu-
dos, pareceres, projectos
e consultadoria”, o presi-
dente da Câmara reme-
teu a explicação para o
mês de Fevereiro. “Estes
632 mil euros têm a ver
com o Articular e o Douro
Alliance, que estão garan-
tidos pelos fundos comu-
nitários, e que envolvem
vários projectos que exi-
gem pareceres, elabora-
ção dos projectos, análise,
entre outros”, revelou.
Direito de
oposiçãoAntes da AM e a pro-
pósito da votação do orça-
mento, o CDS-PP fez che-
gar um requerimento ao
presidente da Assembleia
Municipal, Pedro Passos
Coelho, onde solicitou que
o documento não fosse a
votação dado que não foi
tido em conta o estatuto
do direito de oposição, o
que constitui uma ilegali-
dade, na opinião do CDS-
PP. “A lei é muito clara,
o estatuto do direito de
oposição prevê que todos
os partidos da oposição
sejam consultados para
dar opiniões e apresentar
as suas propostas sobre
o orçamento”, sublinhou
Jorge Pinho, do CDS-PP,
lembrando que quando o
documento chega à AM
“já está fechado”.
No entanto, Passos
Coelho não terá dado
conhecimento do reque-
rimento aos grupos par-
lamentares. O próprio PS,
que faz parte do executivo
municipal, não teve qual-
quer conhecimento do
requerimento em causa.
“Avisámos o presidente da
Assembleia sob a forma
de requerimento desta
ilegalidade, comunicámos
ao presidente da Câma-
ra que tínhamos avisado
o presidente da Assem-
bleia, pedimos para reti-
rar o documento, fazer a
correcção ao documento
e voltar a trazer à votação,
mas o certo é que nada
disto foi feito e quando
chegámos à AM nenhum
partido da oposição sabia
de nada”, criticou.
Jorge Pinho considera
que Manuel Martins con-
fundiu a figura de presi-
dente da câmara com a
de presidente do Partido
Social Democrata (PSD), ao
levar o documento para o
partido sem dar conheci-
mento ao executivo. O PSD
chegou inclusive a prepa-
rar uma moção para levar
a votação na AM, mas que
acabou por ser retirada.
A oposição pediu acesso
à moção, que foi negado
por Passos Coelho. Para o
deputado do CDS-PP, esta
situação é “muito grave” e
constitui um “sério abuso
de poder”.
Abraão contra
orçamentoO presidente da Junta
de Freguesia de Nossa
Senhora, José Abraão, foi
o único elemento da ban-
cada socialista a votar con-
tra o orçamento, que con-
sidera ser “penalizador”
para Vila Real. “A coberto
de eventuais dificuldades
que depois o senhor pre-
sidente diz que não tem,
este orçamento acaba por
reduzir 100 mil euros no
apoio às escolas, penali-
zando mais algumas fre-
guesias em detrimen-
to de outras”, critica José
Abraão.
Segundo o presiden-
te de Junta, algumas fre-
guesias do PSD mantêm
os mesmos valores do ano
passado, enquanto as ver-
bas atribuídas à fregue-
sia de Nossa Senhora da
Conceição vão sofrer um
“corte de quase 40 por
cento, sem nenhuma justi-
ficação”. José Abraão lem-
bra que este corte surge
numa altura em que a fre-
guesia teve “um cresci-
mento de cerca de mais
uma dezena de salas de
aulas”. “Não é aceitável
que se penalizem as nos-
sas crianças e escolas em
100 mil euros quando há
cerca de 130 mil euros
para publicidade e para
fazer medalhas para atri-
buir a quem muito bem
entendem”, lamentou.
Ainda as CorridasOs gastos municipais
com o Circuito de Vila Real
continuam a ser alvo de
dúvidas e críticas por parte
da oposição. A deputada
do CDS-PP, Joana Rapa-
zote, voltou a questionar
o presidente da Câmara
sobre os custos das corri-
das. Já antes, na AM de 30
de Junho, o CDS-PP solici-
tou os relatórios de contas
dos eventos anteriores e
informações sobre a estra-
tégia para os anos seguin-
tes e sobre os gastos do
município. “O presidente
disse que não havia contas
a apresentar, porque os
parceiros é que eram res-
ponsáveis, mas agora vem
dizer que pode economi-
zar 500 mil euros, o que
significa que pelo menos
esta quantia foi gasta”,
sublinhou.
Manuel Martins afir-
mou que “o dinheiro tem
proveniência de várias
rubricas”. “Houve despe-
sas com a substituição de
rails, criação de passagens
para garagens, manu-
tenção de redes e tudo
junto chegou mesmo aos
500 mil euros”, revelou. O
autarca aproveitou para
afirmar que não acredita
no sucesso de uma even-
tual realização das Corri-
das em 2011, posição cri-
ticada pelo PS. “Estamos
contra esta tomada de
decisão unilateral de aca-
bar novamente com as
Corridas”, afirmou Rodri-
go Sá, que acredita que o
Circuito é, provavelmente,
a “única bandeira que Vila
Real tem a nível nacional e
internacional”.
Manuel Martins garan-
te que tem “os pés no
chão” e acredita mesmo
que “a maior parte das
pessoas não olharia com
bons olhos se houvesse
Corridas”. “Se queremos
internacionalizar o Circui-
to de Vila Real temos de
ter estrangeiros a correr,
que necessitam de apoios
de marcas e sponsors, mas
se toda a Europa está em
‘frangalhos’ em termos
económicos, alguém acre-
dita que venham cá corre-
dores estrangeiros”, ques-
tionou.Sandra Borges
DISCUSSÃO DUROU QUASE CINCO HORAS
Orçamento para 2011 aprovado em AM debaixo de chuva de críticas
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