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1 LÍNGUA PORTUGUESA Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 01 a 06. A vírgula não foi feita para humilhar ninguém Era Borjalino Ferraz e perdeu o primeiro emprego na Prefeitura de Macajuba por coisas de pontuação. Certa vez, o diretor do Serviço de Obras chamou o amanuense para uma conversa de fim de expediente. E aconselhativo: — Seu Borjalino, tenha cuidado com as vírgulas. Desse jeito, o amigo acaba com o estoque e a comarca não tem dinheiro para comprar vírgulas novas. Fez outros ofícios, semeou vírgulas empenadas por todos os lados e acabou despedido. Como era sujeito de brio, tomou aulas de gramática, de modo a colocar as vírgulas em seus devidos lugares. Estudou e progrediu. Mais do que isso, saiu das páginas da gramática escrevendo bonito, com rendilhados no estilo. Cravava vírgulas e crases como um ourives crava pedras. O que fazia o coletor federal Zozó Laranjeira apurar os óculos e dizer com orgulho: — Não tem como o Borjalino para uma vírgula e mesmo para uma crase. Nem o presidente da República! E assim, um porco-espinho de vírgulas e crases, Borjalino foi trabalhar, como escriturário, na Divisão de Rendas de São Miguel do Cupim. Ficou logo encarregado dos ofícios, não só por ter prática de escrever como pela fama de virgulista. Mas, com dois meses de caneta, era despedido. O encarregado das rendas, sujeito sem vírgulas e sem crase, foi franco: — Seu Borjalino, sua competência é demais para repartição tão miúda. O amigo é um homem de instrução. É um dicionário. Quando o contribuinte recebe um ofício de sua lavra, cuida que é ordem de prisão. O Coronel Balduíno dos Santos quase teve um sopro no coração ao ler uma peça saída de sua caneta. Pensou que fosse ofensa, pelo que passou um telegrama desaforado ao Senhor Governador do Estado. Veja bem! O Senhor Governador. E por colocar bem as vírgulas e citar Nabucodonosor em ofício de pequena corretagem, o esplêndido Borjalino foi colocado à disposição do olho da rua. Com uma citação no Diário Oficial e duas gramáticas debaixo do braço. José Cândido de Carvalho. Porque Lulu Bergantim não atravessou o Rubicon. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971. 01. A habilidade de Borjalino em pontuar corretamente um texto é expressa em: a) “Cravava vírgulas e crases como um ourives crava pedras.” b) “Era Borjalino Ferraz e perdeu o primeiro emprego na Prefeitura de Macajuba por coisas de pontuação.” c) “Quando o contribuinte recebe um ofício de sua lavra, cuida que é ordem de prisão.” d) “Fez outros ofícios, semeou vírgulas empenadas por todos os lados e acabou despedido.” e) “Desse jeito, o amigo acaba com o estoque e a comarca não tem dinheiro para comprar vírgulas novas.” Resolução: Por apresentar uma comparação entre o ofício de Borjalino e o de um ourives (pessoa que confecciona artefatos em ouro e prata), o trecho evidencia a habilidade da personagem em usar corretamente a pontuação. Alternativa A 02. De acordo com o texto, pode-se afirmar que o motivo da segunda demissão de Borjalino foi: a) O conhecimento gramatical de que dispunha o funcionário era inferior à sua habilidade para redigir textos. b) Ele empregava termos inadequados ao estilo dos textos requeridos. c) O funcionário não era capacitado para escrever, por isso, não era compreendido pelos leitores menos cultos. d) A pontuação deficiente somada à sua incapacidade de redigir bons textos. e) Ele não sabia pontuar corretamente, embora se fizesse compreender plenamente. Resolução: A idéia de que Borjalino usava termos inadequados ao estilo dos textos dele requeridos fica evidente no seguinte trecho da fala do encarregado das rendas: Quando o contribuinte recebe um ofício de sua lavra, cuida que é ordem de prisão. Alternativa B 03. “Pensou que fosse ofensa, pelo que passou um telegrama desaforado ao Senhor Governador do Estado.” O sentido do termo grifado repete-se em: a) “...Fez outros ofícios, semeou vírgulas empenadas por todos os lados e acabou despedido.” b) “...o diretor do Serviço de Obras chamou o amanuense para uma conversa de fim de expediente.” CPV ibmecnov2007 Prova REsolvida – IBMEC – 04/ novembro/2007 – (Manhã) CPV conquista 70% das vagas do ibmec (junho/2007)

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LÍNGUA PORTUGUESA

Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 01 a 06.

A vírgula não foi feita para humilhar ninguém

Era Borjalino Ferraz e perdeu o primeiro emprego naPrefeitura de Macajuba por coisas de pontuação. Certa vez,o diretor do Serviço de Obras chamou o amanuense parauma conversa de fim de expediente. E aconselhativo:

— Seu Borjalino, tenha cuidado com as vírgulas.Desse jeito, o amigo acaba com o estoque e a comarca nãotem dinheiro para comprar vírgulas novas.

Fez outros ofícios, semeou vírgulas empenadas por todosos lados e acabou despedido. Como era sujeito de brio, tomouaulas de gramática, de modo a colocar as vírgulas em seusdevidos lugares. Estudou e progrediu. Mais do que isso, saiudas páginas da gramática escrevendo bonito, comrendilhados no estilo. Cravava vírgulas e crases como umourives crava pedras. O que fazia o coletor federal ZozóLaranjeira apurar os óculos e dizer com orgulho:

— Não tem como o Borjalino para uma vírgula e mesmopara uma crase. Nem o presidente da República!

E assim, um porco-espinho de vírgulas e crases, Borjalinofoi trabalhar, como escriturário, na Divisão de Rendas deSão Miguel do Cupim. Ficou logo encarregado dos ofícios,não só por ter prática de escrever como pela fama devirgulista. Mas, com dois meses de caneta, era despedido.O encarregado das rendas, sujeito sem vírgulas e sem crase,foi franco:

— Seu Borjalino, sua competência é demais pararepartição tão miúda. O amigo é um homem de instrução.É um dicionário. Quando o contribuinte recebe um ofício desua lavra, cuida que é ordem de prisão. O Coronel Balduínodos Santos quase teve um sopro no coração ao ler uma peçasaída de sua caneta. Pensou que fosse ofensa, pelo que passouum telegrama desaforado ao Senhor Governador do Estado.Veja bem! O Senhor Governador.

E por colocar bem as vírgulas e citar Nabucodonosor emofício de pequena corretagem, o esplêndido Borjalino foicolocado à disposição do olho da rua. Com uma citação noDiário Oficial e duas gramáticas debaixo do braço.

José Cândido de Carvalho. Porque Lulu Bergantim não atravessouo Rubicon. Rio de Janeiro: José Olympio, 1971.

01. A habilidade de Borjalino em pontuar corretamente um texto éexpressa em:

a) “Cravava vírgulas e crases como um ourives crava pedras.”b) “Era Borjalino Ferraz e perdeu o primeiro emprego na

Prefeitura de Macajuba por coisas de pontuação.”c) “Quando o contribuinte recebe um ofício de sua lavra, cuida

que é ordem de prisão.”d) “Fez outros ofícios, semeou vírgulas empenadas por todos

os lados e acabou despedido.”e) “Desse jeito, o amigo acaba com o estoque e a comarca

não tem dinheiro para comprar vírgulas novas.”

Resolução: Por apresentar uma comparação entre o ofício deBorjalino e o de um ourives (pessoa que confecciona artefatos emouro e prata), o trecho evidencia a habilidade da personagem emusar corretamente a pontuação. Alternativa A

02. De acordo com o texto, pode-se afirmar que o motivo dasegunda demissão de Borjalino foi:

a) O conhecimento gramatical de que dispunha o funcionárioera inferior à sua habilidade para redigir textos.

b) Ele empregava termos inadequados ao estilo dos textosrequeridos.

c) O funcionário não era capacitado para escrever, por isso,não era compreendido pelos leitores menos cultos.

d) A pontuação deficiente somada à sua incapacidade deredigir bons textos.

e) Ele não sabia pontuar corretamente, embora se fizessecompreender plenamente.

Resolução: A idéia de que Borjalino usava termos inadequadosao estilo dos textos dele requeridos fica evidente no seguintetrecho da fala do encarregado das rendas: Quando o contribuinterecebe um ofício de sua lavra, cuida que é ordem de prisão.

Alternativa B

03. “Pensou que fosse ofensa, pelo que passou um telegramadesaforado ao Senhor Governador do Estado.” O sentido do termo grifado repete-se em:

a) “...Fez outros ofícios, semeou vírgulas empenadas portodos os lados e acabou despedido.”

b) “...o diretor do Serviço de Obras chamou o amanuensepara uma conversa de fim de expediente.”

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Prova REsolvida – IBMEC – 04/ novembro/2007 – (Manhã)

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c) “Borjalino foi trabalhar, como escriturário, na Divisão deRendas de São Miguel do Cupim.”

d) “...perdeu o primeiro emprego na Prefeitura de Macajubapor coisas de pontuação.”

e) “O Coronel Balduíno dos Santos quase teve um soprono coração ao ler uma peça saída de sua caneta.”

Resolução: A palavra "pelo" , no enunciado, equivale ,semanticamente, a "por" em "perdeu o primeiro empregona Prefeitura de Macajuba por coisas de pontuação"(=causa). Alternativa D

04. “Eles, os pobres desesperados, tinham a euforia defantoches.”

A vírgula foi empregada pela mesma razão que na frase acimaem:

a) “Desse jeito, o amigo acaba com o estoque e a comarcanão tem dinheiro para comprar vírgulas novas.”

b) “Fez outros ofícios, semeou vírgulas empenadas portodos os lados e acabou despedido.”

c) “Como era sujeito de brio, tomou aulas de gramática...”d) “Borjalino foi trabalhar, como escriturário, na Divisão de

Rendas de São Miguel do Cupim.”e) “O encarregado das rendas, sujeito sem vírgulas e sem

crase, foi franco...”

Resolução: No enunciado da questão, a expressão entrevírgulas "os pobres desesperados" funciona como apostoexplicativo do pronome "Ele", tal qual ocorre na alternativa E,na qual “sujeito sem vírgulas e sem crase” funciona como apostoexplicativo de “O encarregado das rendas”. Alternativa E

05. A crase foi empregada incorretamente em:

a) Cravava vírgulas e crases à maneira de um ourives.b) Ao chegar à casa, Borjalino percebeu que seu esforço

fora em vão.c) Agora o esplêndido funcionário estava à toa.d) Todos resistiam à sua erudição.e) Borjalino seguiu até à porta, abriu-a e saiu sem olhar para

trás.

Resolução: A questão faz referência a um dos casos especiaisdo emprego de acento grave indicativo de crase: diante dossubstantivos casa e terra, o acento grave é obrigatório apenasquando essas duas palavras aparecem especificadas, o quenão ocorre na alternativa B. Alternativa B

06. As orações grifadas nos períodos abaixo são,respectivamente:

“Como era sujeito de brio, tomou aulas de gramática...”,“Cravava vírgulas e crases como um ourives crava pedras.”

a) subordinada adverbial causal e subordinada adverbialcomparativa.

b) subordinada adverbial consecutiva e subordinadaadverbial conformativa.

c) subordinada adverbial consecutiva e subordinadaadverbial causal.

d) subordinada adverbial conformativa e subordinadaadverbial consecutiva.

e) subordinada adverbial comparativa e subordinadaadverbial causal.

Resolução: A oração "como era sujeito de brio" desempenhapapel sintático de adjunto adverbial de causa da oração "tomouaulas de gramática", devendo ser classificada, portanto, comooração subordinada adverbial causal. Já a oração "como umourives crava pedras", funciona como adjunto adverbial decomparação de "Cravava vírgulas e crases", classificando-se, assim,como oração subordinada adverbial comparativa.

Alternativa A

A Lagartixa

A lagartixa ao sol ardente viveE fazendo verão o corpo espicha:O clarão de teus olhos me dá vida,Tu és o sol e eu sou a lagartixa.Amo-te como o vinho e como o sono,Tu és meu copo e amoroso leito...Mas teu néctar de amor jamais se esgota,Travesseiro não há como teu peito.Posso agora viver: para coroasNão preciso no prado colher flores;Engrinaldo melhor a minha fronteNas rosas mais gentis de teus amores.Vale todo um harém a minha bela,Em fazer-me ditoso ela capricha...Vivo ao sol de seus olhos namorados,Como ao sol de verão a lagartixa.

Álvares de Azevedo. "Poesias completas"

07. Álvares de Azevedo, autor do poema acima, é um dosprincipais representantes da segunda geração doRomantismo brasileiro.

Levando-se em conta as características dessa geração e otexto acima, assinale a alternativa incorreta.

a) Esse poema ironiza e mesmo parodia as convenções daestética romântica.

b) A caracterização do amante (“lagartixa”) e da amada(“clarão”, “sol”, “vinho”, “sono”, “copo”, “leito”, “néctarde amor”) cria uma atmosfera positiva, bem humorada,expressando a harmonia entre os amantes.

c) A imagem da lagartixa, prosaica e esdrúxula, por contrasteàs imagens líricas, gera estranheza e comicidade ao texto.

d) A melancolia, o ar sombrio e fúnebre, marcas da poéticada segunda geração romântica, estão presentes no poema“A Lagartixa”.

e) A pieguice amorosa, temática freqüente na estéticaromântica, está ausente nesse poema.

Resolução: A alternativa D está incorreta porque o poema éuma paródia do próprio ideário romântico. Desse modo, amelancolia e a atmosfera sombria, tipicamente byronianas sãorepudiadas pelo autor. A lagartixa é a apologia da plenitudeamorosa, revestida de elementos prosaicos e cômicos.

Alternativa D

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08. Levando-se em conta o emprego da crase no trecho “...nãoobedecia à minha mãe”, no último quadrinho da tirinha:

é lingüisticamente adequado afirmar que ela é:

a) necessária, pois nela ocorre a fusão de preposição “a”com pronome demonstrativo “a” e está diante depalavra feminina.

b) inadequada, uma vez que o verbo “obedecer” étransitivo direto e não admite preposição.

c) facultativa, pois, embora complete um verbo transitivoindireto, com preposição obrigatória, está diante de umpronome possessivo feminino.

d) obrigatória, por conter a junção da preposição “a” comartigo feminino “a” anteposta a um pronome.

e) incorreta, porque, independentemente do fato de ocorrera fusão de preposição com artigo, nunca ocorre crasediante de pronomes.

Resolução: Abordando o mesmo tópico da questão 5, estatrata de outro caso particular relativo ao emprego de acentograve indicativo de crase: diante de pronomes possessivosfemininos, o acento é facultativo. Alternativa C

Utilize o texto abaixo para responder aos testes de 09 a 11.

Quando era obrigatório parecer feliz

Toda a sociedade extrai a matéria de seus sonhos de algumlugar. Durante anos, este lugar foi a Inglaterra, encarnadanuma loura de olhar bovino. Lá, em junho de 1981, Lady Dise casava num conto de fadas. A cerimônia foi assistida por1 milhão de espectadores. Em 1995, como qualquer plebéia,ela confidenciava a espectadores atônitos que seu casamentoia mal. Um ano depois se divorciava e, em 1997, numa noiteem Paris, apagava-se. Morreu aos 36 anos, dos quaisdezesseis foram vividos na telinha.

Para além do casamento real, a década de 80 assistiu amudanças importantes. O comércio viveu um boom nunca visto.Só se falava em globalização financeira, enquanto McDonaldse outras marcas se difundiam planeta afora.Mas a mundialização foi também um "longe mais perto".A CNN foi criada em 1980. No campo dos comportamentosfemininos, os sonhos igualmente se amplificavam: ganhardinheiro, tornar-se uma estrela, ser bela e feliz eternamente.Mas sempre sem esforço. A agenda das mulheres cresceu: elastinham que se mostrar plenas, bastar-se, tinham que "existir",enfim. Esta felicidade sob medida se encarnava na publicidadee na mídia. Nas sociedades industrializadas, ser feliz se tornouo "único bem supremo", diria Aristóteles. Uma tal sede deviver se exprimia num credo: "se dar prazer". A ditadura dafelicidade a qualquer preço estigmatizava as infelizes.

Espírito do tempoA princesa embarcou no seu tempo. Juntou a receita de ser feliz

com a potência mobilizadora da telinha. Ela mais queria se dar aver do que a conhecer. Por meio da televisão, ela dividia com todoo mundo as suas emoções. Mas por trás do olhar bovino ela tambémentendeu que ninguém nascia sedutora.

Não bastava ter um corpo e colocá-lo em ação. Era precisotransformá-lo num catálogo de signos. Ela usou todos os recursos-roupas, maquilagem, festas — para promover a fotogenia desua sedução. Sua vida íntima se transformou num fundo decomércio: fotos na ginástica, gravações com amantes, intimidadedevassada. Mas também se erigiu em campeã de filantropiaaudiovisual, lutando contra a Aids e a lepra ou contra as minasnos campos de Angola e da Bósnia.A adúltera dava lugar à santa. Num jogo de montagens narcíssicas,ela celebrava a tal felicidade obrigatória. Mas os anos 80 embutiamum outro sucesso: o da depressão. Mais e mais esse sofrimento setornava comum. E ela mergulhou no problema. Tornou-se bulímica.Tentou o suicídio. Enquanto isso, deixava a mídia resolver seusproblemas de alcova. Famintos, os espectadores colhiam cadamigalha deste misto de sonho e interdito. O fim de Diana, debaixoda ponte d'Alma, lhe permitiu um último recurso televisivo: umamissa universal transmitida por quarenta canais. Outros cultos sesucederam: peregrinação, flores no palácio de Kensington e, porque não, a fundação do "Diana Land". Detalhe: só 10% dosrendimentos desse mausoléu museu se dirigem a obras de caridade.

Na era da sociedade de massas, a princesa de massas virouum produto no mercado de mitos. Mistura de Sissi traída, deMarilyn suicida e de James Dean, morto ao volante, Dianapreencheu o papel de uma mulher presa nas armadilhas do seutempo. Como só era boa em piano e esportes e não gostava deestudar, teve poucas chances de olhar com recuo para si mesma.Preferiu ser sonho a ser verdade. Na mesma época, morreu Teresade Calcutá. Uma outra mulher do mesmo tempo, só que acimadas religiões midiáticas. Alguém se lembra?

Mary Del Priore, in: http://www1.folha.uol.com.br/fsp/mundo/ft0109200717.htm, acesso em 15/09/2007

09. Considerando-se o seu conhecimento de mundo e as idéiasdo texto, pode-se inferir corretamente que:a) As grandes conquistas femininas ocorreram na década de

80, e empresas norte-americanas como McDonalds e CNNforam as principais responsáveis por difundir as mudançasdo comportamento das mulheres.

b) Nas sociedades industrializadas, a mídia e a publicidadecriaram fórmulas eficientes para “vender” a idéia de que afelicidade pode ser obtida sem grandes esforços.

c) A autora critica o modo como a mídia transformou Lady Diem mito: valorizando apenas certos traços docomportamento da princesa, tais como a atuação em açõesfilantrópicas em detrimento de condutas imorais como atraição e a tentativa de suicídio.

d) É possível identificar a orientação argumentativa do textopor meio da seleção lexical. Palavras e expressões como“olhar bovino”, “potência mobilizadora da telinha”,montagens narcíssicas” reforçam a idéia de que a princesaDiana tornou-se ícone de beleza, fama e fotogenia.

e) Sissi, Marilyn Monroe e James Dean são mencionados notexto apenas porque, assim como a princesa Diana, morreramtragicamente no auge de suas carreiras e se eternizaram comosímbolos de juventude, beleza, sucesso e felicidade.

O melhor de Hagar, o Horrível, Dick Brownw, L&PM

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Resolução: O enunciado da ques tão sugere que ocandidato infira uma conclusão relacionando o conteúdoabordado pelo texto à sua vivência e experiência .Reconhecer, pelo texto, que a mídia e a publicidade sãoativas produtoras de mecanismos eficientes de valorizaçãoda idéia de que a felicidade pode ser alcançada sem maioresesforços levaria à escolha da alternativa correta.

Alternativa B

10. Considere as afirmações abaixo.

I. Em “... foi assistida por 1 milhão de espectadores”,ocorre uma transgressão à norma culta, uma vez queverbos transitivos indiretos (como é o caso de “assistir”no sentido de “ver”) não admitem voz passiva.

II. Números percentuais e fracionários exigem o verbo nosingular, como nomes coletivos que são. Por isso, em“só 10% dos rendimentos desse mausoléu-museu sedirigem a obras de caridade”, há um erro deconcordância verbal.

III. Na passagem “Era preciso transformá-lo num catálogode signos”, o pronome pessoal oblíquo é objeto diretoe refere-se à palavra “corpo”.

Está(ão) correta(s):

a) I, II e III.b) Apenas I.c) Apenas II.d) Apenas II e III.e) Apenas I e III.

Resolução: A assertiva I deve ser considerada correta, já que osverbos transitivos indiretos (à exceção de obedecer/desobedecer)não admitem formação de voz passiva, segundo a norma culta.A assertiva II deve ser considerada incorreta, porque o sujeitocujo núcleo é uma porcentagem seguida de substantivo plural,exige concordância do verbo de acordo com esse último.Finalmente, a assertiva III deve ser considerada correta, visto queos pronomes oblíquos o/os/a/as (e suas variações -lo/la/los/las,no/na/nos/nas) desempenham função de objeto direto dos verbosaos quais se ligam; o objeto direto, no caso, -lo, refere-se à palavracorpo, evitando, assim, a repetição desta. Alternativa E

11. Assinale a alternativa que apresenta paráfrase adequadado trecho abaixo.

“Como só era boa em piano e esportes e não gostava deestudar, teve poucas chances de olhar com recuo para simesma.”

a) Embora tivesse poucas chances de olhar com recuopara si mesma, era boa em piano e esportes e não gostavade estudar.

b) Apesar de só ser boa em piano e esportes e de nãogostar de estudar, teve poucas chances de olhar comrecuo para si mesma.

c) Teve poucas chances de olhar com recuo para si mesma,porque só era boa em piano e esportes e não gostavade estudar.

d) Só era boa em piano e esportes e não gostava de estudar,portanto, teve poucas chances de olhar com recuo parasi mesma.

e) À medida que só era boa em piano e esportes e nãogostava de estudar, teve poucas chances de olhar comrecuo para si mesma.

Resolução: A alternativa C registra a oração subordinadaadverbial causal "porque só era boa em piano e esportes e nãogostava de estudar", de mesma função sintática que aapresentada no enunciado "Como só era boa em piano e esportese não gostava de estudar", evidenciando exata correspondênciasintático-semântica. Alternativa C

12. Leia as sentenças abaixo.• Ele considerou _________, na atual circunstância, as

medidas que ela sugeria.• _________ soluções mais adequadas para a violência

crescente em nossa cidade?• Já _________ vários meses que a Lei Anti-Seqüestro está

em discussão nos principais jornais do país.• Peço enviar _________ a cópia do documento.A alternativa cujas palavras, respectivamente, preenchemcorretamente as lacunas é:a) inútil, haverá, faz, em anexob) inúteis, haverão, faz, anexoc) inúteis, haverão, fazem, anexad) inútil, haverá, fazem, anexae) inúteis, haverá, faz, anexaResolução: A questão trata especificamente de concordânciaverbal, como no caso do verbo haver (=existir), impessoal einvariável, sempre utilizado na 3ª. pessoa do singular enominal, como no caso do adjetivo anexo, variável em gêneroe número de acordo com o substantivo que caracterize.

Alternativa E

13. Considere as afirmações sobre a tirinha abaixo: I. O humor da charge decorre da presença da ambigüidade

intencional no título, uma vez que a palavra “folha” podese referir à samambaia ou à contabilidade da empresa.

II. O recurso expressivo que produz efeito de humor é autilização da expressão “preencher o espaço vazio”,interpretada de modo inusitado pelo chefe.

III. Embora o uso do pronome oblíquo átono em posição inicialno período seja condenado pela gramática tradicionalportuguesa, é de uso consagrado oralmente no Brasil, comopode ser verificado pela fala do funcionário na charge.

IV. Se o funcionário optasse pelo tratamento “Vossa Senhoria”em vez de “senhor”, o verbo deveria ser alterado para “ireispreencher”.

http://www2.uol.com.br/angeli

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Está(ão) correta(s)

a) I, II, III e IV. b) Apenas I e II.c) Apenas III e IV. d) Apenas II e III.e) Apenas I e IV.

Resolução: A assertiva I deve ser considerada incorreta, já que nãohá ambigüidade no título da charge.A assertiva II deve ser considerada correta, porque a interpretaçãoda expressão "preencher o espaço vazio", atribuída ao chefe, provocaum efeito de humor a partir da ambigüidade que tal expressão encerra.Finalmente, a assertiva III deve ser também considerada correta,visto que a utilização de pronome oblíquo átono iniciando frases eorações é incorreta segundo a norma culta, ainda que seja plenamenteaceitável no contexto informal da oralidade. Alternativa D

Utilize o texto abaixo para responder aos testes 14 e 15.

Virgília?

Virgília? Mas então era a mesma senhora que alguns anosdepois? ... A mesma; era justamente a senhora, que em 1869devia assistir aos meus últimos dias, e que antes, muito antes,teve larga parte nas minhas mais íntimas sensações. Naqueletempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez amais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a maisvoluntariosa. Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza,entre as mocinhas do tempo, porque isto não é romance, em queo autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas eespinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rostonenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía dasmãos da natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, queo indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos dacriação. Era isto Virgília, e era clara, muito clara, faceira,ignorante, pueril, cheia de uns ímpetos misteriosos; muitapreguiça e alguma devoção, — devoção, ou talvez medo; creioque medo.

Aí tem o leitor, em poucas linhas, o retrato físico e moral da pessoaque devia influir mais tarde na minha vida e era aquilo com dezesseisanos. Tu que me lês, se ainda fores viva, quando estas páginas vierem àluz, — tu que me lês, Virgília amada, não reparas na diferença entre alinguagem de hoje e a que primeiro empreguei quando te vi? Crê queera tão sincero então como agora; a morte não me tornou rabugento,nem injusto.

— Mas, dirás tu, como é que podes assim discernir a verdadedaquele tempo, e exprimi-la depois de tantos anos? Ah! indiscreta! ah!ignorantona! Mas é isso mesmo que nos faz senhores da Terra, é essepoder de restaurar o passado, para tocar a instabilidade das nossasimpressões e a vaidade dos nossos afetos. Deixa lá dizer Pascal que ohomem é um caniço pensante. Não é uma errata pensante, isso sim.Cada estação da vida é uma edição, que corrige a anterior, e que serácorrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aosvermes.

Machado de Assis. Memórias Póstumas de Brás Cubas, 2 ed., São Paulo:FTD, 1992, p. 66-67. (Capítulo XXVII).

14. A respeito desse trecho do romance de Machado de Assis,pode-se afirmar que:

a) A descrição física e moral de Virgília feita pelo narradorem passagens como “muita preguiça e alguma devoção,— devoção ou talvez medo” se enquadra em um perfiltipicamente realista, apresentando comportamentos quefogem à idealização romântica da amada.

b) Observa-se que o narrador onisciente destaca a análisepsicológica das personagens e, a partir docomportamento delas, retrata a sociedade da época comisenção de crítica.

c) Embora seja uma obra tipicamente realista, nessecapítulo, o narrador apresenta o perfil das heroínasromânticas, dotadas de traços físicos e moraisencantadores, como “bonita”, “fresca”, “muito clara” e“cheia de uns ímpetos misteriosos”.

d) Carregado de efeitos de humor, esse capítulo apresentaum otimismo incomum na obra machadiana, já que onarrador revela sua esperança na raça humana, comopode ser comprovado na passagem: “cada estação davida é uma edição, que corrige a anterior, e que serácorrigida também, até a edição definitiva, que o editordá de graça aos vermes”.

e) O narrador explicita que pretende manter umcompromisso com a verdade ao retratar fielmente arealidade dos fatos.

Resolução: As afirmações do narrador-personagem BrásCubas, de que o seu texto "não é romance em que o autorsobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas eespinhas", bem como a do reconhecimento de que Virgíliatinha "muita preguiça", evidenciam a valorização deelementos realistas, afastando-se das virtudes físicas emorais tão caras aos autores românticos. Alternativa A

15. Observe o emprego do pronome oblíquo lhe em:

Não digo que já lhe coubesse a primazia da beleza, tambémnão digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ouespinha, não.

Assinale a alternativa correta.

a) Na primeira ocorrência, o lhe exerce a função de objetodireto; na segunda, de complemento nominal.

b) Em ambas as ocorrências, o lhe apresenta o mesmocomportamento sintático, expressando relação deposse.

c) Na segunda ocorrência, o lhe refere-se ao substantivo“rosto” e expressa relação de posse.

d) Em ambas as ocorrências, o lhe exerce a função sintáticade objeto indireto, pois se referem aos verbos.

e) Em ambas as ocorrências, o lhe apresenta a funçãosintática de complemento nominal.

Resolução: O segundo pronome oblíquo constante doenunciado da questão (-lhe) desempenha papel sintáticode adjunto adnominal do substantivo "rosto", possuindovalor de adjetivo possessivo e, portanto, exprimindo umarelação de posse com aquele. Alternativa C

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IBMEC – 04/11/2007 Seu pé direito nas melhores Faculdades

CPV ibmecnov2007

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COMENTÁRIO DA PROVA DE LÍNGUA PORTUGUESA

Gramática – Embora tenha apresentado questões muito bem elaboradas, a prova do IBMEC-novembro/2007 não ofereceu grandes desafios aoscandidatos, em termos de gramática.

A prova misturou diferentes gêneros textuais (charges, quadrinhos, prosa, crônica jornalística) e valorizou, principalmente, a competência deleitura e interpretação aliada ao uso prático dos conhecimentos gramaticais.

As questões enfatizaram, especialmente, a análise de orações em períodos compostos, a ocorrência de crase, a concordância e a regência, temasvastamente explorados nas aulas do CPV.

Literatura – As questões de Literatura destacaram duas das estéticas mais importantes na historiografia literária brasileira: o Romantismo e oRealismo. Embora o Realismo marque um importante momento de maturidade das Letras brasileiras, rompendo com um dos clichês temáticos tãopresentes na poesia e prosa românticas (a idealização da figura feminina), ambas as questões exploraram, na essência, essa mesma temática.

O poema de Álvares de Azevedo satiriza o amor impossível, assim como o excerto das Memórias Póstumas de Brás Cubas também reforça a críticaàs relações amorosas meramente platônicas.

Explorando aspectos relevantes das estéticas citadas, as questões, embora bem elaboradas, não apresentaram grande nível de dificuldade.

Vale observar que, ao contrário do que ocorreu com freqüência nos últimos exames do IBMEC, este não cobrou questões sobre o Pré-Modernismo.