CRDA- CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚBIOS DE … · sua maneira e dentro de seus limites. Quando o...

65
CRDA- CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚBIOS DE APRENDIZAGEM CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATU SENSO EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM MARIA DE LOURDES ALVES VIEIRA ENSINAR & APRENDER: DIDÁTICA E FILOSOFIA NO UNIVERSO DOS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM São Paulo 2009

Transcript of CRDA- CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚBIOS DE … · sua maneira e dentro de seus limites. Quando o...

CRDA- CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚBIOS DE APRENDIZAGEM

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATU

SENSO EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

MARIA DE LOURDES ALVES VIEIRA

ENSINAR & APRENDER: DIDÁTICA E FILOSOFIA NO

UNIVERSO DOS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM

São Paulo

2009

2

CRDA- CENTRO DE REFÊRENCIA EM DISTÚBIOS DE APRENDIZAGEM

CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO LATU

SENSO EM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM

MARIA DE LOURDES ALVES VIEIRA

ENSINAR & APRENDER: DIDÁTICA E FILOSOFIA NO

UNIVERSO DOS DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM

Monografia apresentada como parte dos requisitos para a aprovação no curso de Especialização Latu Senso em Distúrbios de aprendizagem e submetida ao Centro de Referência em Distúrbios de Aprendizagem - CRDA, sob orientação da Profa.Ms. Lucilla da Silveira Leite Pimentel.

3

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus professores que, com paciência e sabedoria

conduziram-me ao mundo amplo do Conhecimento.

Agradeço a minha orientadora Professora Ms Lucilla, que me ajudou a

concretizar minhas ideias a respeito de como ajudar o aluno com

Distúrbio de Aprendizagem.

Agradeço a Deus por todas as minhas conquista.

4

A educação é um processo social, é desenvolvimento.

Não é a preparação para a vida, é a própria vida.

John Dewey

5

RESUMO

O presente trabalho enfatiza a importância de uma Didática

renovadora, centrada nos princípios filosóficos e didáticos de Sócrates,

Platão e Aristóteles. O professor que acredita na renovação do ensino,

acredita nas práticas pedagógicas adequadas à realidade do aluno com

Distúrbios de Aprendizagem, propiciando-lhe condições básicas para uma

reflexão, para uma investigação. Tornando-o um indivíduo crítico o

capacitará a enfrentar uma sociedade que exclui quem infelizmente não

consegue aprender.

Palavras – chave: Didática – Filosofia – Professor – Aluno -

Distúrbios de Aprendizagem.

6

ABSTRACT

The following research emphasizes the importance of an

innovative way of teaching based on Socrates, Plato, Aristotle

philosophical and didactic principles.

The teacher, who believes in teaching innovation, also believes in

pedagogic methods which help students with learning problems and

provides them basic conditions to become reflective people.

Bling a thoughtful individual, these students will be able to face a

society that, unfortunately, excludes those who have special educational

needs.

Keywords: Didactic – Philosophical – Teacher – Students - Special

educational needs.

7

SUMÁRIO

Introdução ............................................................................................... 9

Capítulo I: Didática / Filosofia – Uma completando a outra .............. 15

1. Grécia Antiga/ A Didática dos três sábios. ...........................................15

2. Os profissionais do Ensino....................................................................19

3. O aluno como Centro ...........................................................................20

4. Método Ativo.........................................................................................22

Capítulo II: Didática / Filosofia – Os distúrbios . ...................... ...........25

1. O Universo dos distúrbios – Como ensinar – Como Aprender............ 25

2. Que estratégia usar? ........................................................................... 27

Capítulo III: – Os filósofos antigos- Exemplos de Aplicação

Didática ................................................................................................ 32

1. Sócrates...............................................................................................32

2. Platão...................................................................................................33

3. Aristóteles........................................................................................... 34

4. A importância da Didática e da Filosofia ao ensinar os alunos com

Distúrbios de

Aprendizagem......................................................................................... 35

Capítulo IV: Universo dos Distúrbios : o aluno com dificuldade .... 39

1. Aluno com dificuldade ........................................................................ 39

2. Dislexia ................................................................................................ 41

8

3. Hiperatividade ..................................................................................... 44

4. TDAH .................................................................................................. 46

Capítulo V: Professor – Aluno e Didática/ Filosofia ........................ 49

1. O aluno................................................................................................49

2. O Professor ....................................................................................... 50

Considerações Finais ...........................................................................59 Referências .......................................................................................... 63

9

INTRODUÇÃO

Com frequência usamos expressões como: “meu aluno não

aprende”, “pense um pouco e você resolverá o problema”, “tenha mais

atenção e pense no que faz”, “não sei mais como ensinar esse aluno”,

“não adianta, ele não aprende”.

Quando se afirma, “pense um pouco e resolverá o problema” ou

“pense no que faz”, talvez queira-se referir a um pensamento capaz de

ordenar, organizar dados e aplicá-los a novas experiências. Referir-se a

um pensar sobre o pensar, a um pensar reflexivo que não avalia, mas é

capaz de transformar, que não ordena, mas projeta para uma vida melhor.

Apropriar-se da Filosofia é tirar proveito das vantagens que a lógica

oferece quando aliada a uma didática essencialmente voltada ao diálogo

e ao pensamento.

No cotidiano escolar, na maior parte das vezes, os procedimentos

de ensino são selecionados sem critérios definidos, criticamente, sem que

se reflita claramente sobre o sentido e o significado de cada um deles.

Ocorre que nem sempre as propostas pedagógicas são assumidas com

clara consciência esquecendo-se muitas vezes daqueles que precisam de

atenção maior. O professor é o elo entre a verdade científica e o aluno,

cabendo-lhe empregar uma didática renovadora que propicie a reflexão, a

discussão em sala de aula, uma didática libertadora valorizando o diálogo

e o aluno com distúrbio.

10

Didática, a arte de ensinar, porque também não dizer a arte de

pensar, amenizando assim o sofrimento de quem é possuidor de um dos

distúrbios de aprendizagem.

A atividade de aprender se sobrepõe à atividade de ensinar. E,

ensinar era, ainda é, o que sabem fazer melhor, no sistema educacional,

tanto os profissionais quanto as organizações de educação. É uma

mudança sutil, ainda não plenamente entendida.

Quem ensinava bem supunha que educava bem, mas o educador

hoje tem outro papel. Educar não se esgota mais nas atividades de

ensinar coisas, de fazer lições. Educar tornou-se um processo complexo

de combinar atividades capazes de motivar o aprendizado, de fazer

refletir. E o aprendizado é essencialmente uma atividade de cada pessoa,

seja criança, seja adolescente ou adulto.

Os alunos desse “sistema” têm cada vez mais dificuldades de

abrir suas potencialidades individuais para ouvir lições, receber

informações, saber fatos históricos, refletir sobre o que é correto ou que é

errado.

Modificar procedimentos em sala de aula é medida urgente e

necessária, haja vista que essas medidas atenderão as necessidades de

todos os alunos numa mesma sala. Não apenas os que “aprendem

diferente” serão beneficiados. Vale aqui lembrar, que Aprender é um

direito de todos os alunos.

11

Quando o método tradicional de aprendizagem não atende às

necessidades acadêmicas do aluno, falta ao educador a informação

específica que o tornará capaz de diagnosticar uma situação-problema.

Tentar resolvê-lo supondo ser preguiça, lentidão ou “simples” falta de

atenção ou, ainda de interesse, estará certamente contribuindo para que

este aluno perca sua primeira chance de ter suas dificuldades “assistidas

e trabalhadas”, dentro do próprio sistema educacional, que é onde se

espera a competência para o diagnóstico precoce das dificuldades

pertinentes à Aprendizagem Acadêmica, pertinentes, portanto, à Escola.

O professor, muitas vezes, torna-se um reprodutor passivo de

mecanismos tradicionais, por comodismo ou formação deficitária, de

forma consciente ou não, daí a importância da formação continuada dos

profissionais docentes. O aluno desmotivado acostuma “correr atrás” das

notas.

A tarefa pedagógica que poderia nos ajudar a sair do labirinto do

“ensinar” para o campo aberto do “aprender” seria a tarefa de ajustar

essas questões radicais a programas e modalidades de processos

educativos.

Trocaríamos, então, a pressa de ter que “ensinar” a criança ou

jovem pela disposição de ouvi-los e entendê-los. Uma didática em que o

aluno com distúrbios de aprendizagem, exercita seu raciocínio, aprende a

buscar, questiona e investiga, expressa seus próprios pensamentos, vai

12

enfrentar o Mundo com mais confiança, romperá os quadros do mundo

para lançar-se ao infinito e se encontrar como um Ser inserido na

sociedade em que vive.

Que tal um retorno à boa maiêutica socrática? Perguntar e ouvir?

Ou então, como Aristóteles gostava de ensinar: caminhando. Fácil não

será principalmente em um país como o nosso, mas também não adianta

nada ficarmos patinando nas nossas insolúveis dificuldades.

Refletir sobre isso já seria um bom começo, pois, o objetivo geral

de um professor é que o aluno com distúrbio desenvolva a habilidade de

resolver seus problemas sem traumas e que assimile o conhecimento a

sua maneira e dentro de seus limites.

Quando o professor assumir uma conduta comum, uma

metodologia com procedimentos didáticos mais dialéticos, espontâneos e

filosóficos estará conduzindo o aluno com distúrbio à aprendizagem

menos exaustiva e desanimadora.

OBJETIVOS

O objetivo deste trabalho é aplicação de uma didática de cunho

filosófico para ampliar o conhecimento do aluno que apresenta Distúrbios

de Aprendizagem.

METODOLOGIA

13

Para a elaboração desta monografia foi feita pesquisa

bibliográfica, a respeito do tema com ênfase nas teorias de Matthew

Lipman.

Apresentação desta pesquisa se dá em cinco capítulos. O

primeiro capítulo Didática/Filosofia – Uma completando a outra , trata

da junção entre Didática e Filosofia trazendo a posição de filósofos

clássicos, bem como o aluno ponto central do processo de ensino-

aprendizagem.

No segundo capítulo Didática / Filosofia – Os distúrbios , são

apresentados os distúrbios mais comuns de aprendizagem encontrados

em sala de aula. Os filósofos antigos – Exemplos de Aplicação

Didática corresponde ao terceiro capítulo, no qual são apresentados

Sócrates, Platão e Aristóteles em uma referência aos Distúrbios de

Aprendizagem.

Capítulo quarto, Universo dos Distúrbios: o aluno com

dificuldade apresenta os distúrbios: dislexia, hiperatividade e TDAH.

Essa monografia se encerra com o capítulo cinco, Professor –

Aluno e Didática / Filosofia, momento em que se aborda mais

especificamente sobre aluno e o professor.

14

Os filósofos Pré-socráticos, apesar de suas teorias parecerem

ridículas, hoje em dia, merecem crédito por terem se afastado das

explicações primitivas de deuses e demônios para explicar a natureza e a

realidade. Seus esforços construíram o caminho para o método Científico.

15

CAPÍTULO I

DIDÁTICA e FILOSOFIA - UMA COMPLETANDO A OUTRA .

Foi na Grécia antiga com os três mais influentes e renovadores

pensadores que a arte de ensinar começou a dar sinais de vida. A

didática que usavam para ensinar ajudava seus discípulos a conceberem

suas próprias ideias. Aprendiam principalmente a questionar e formular

hipóteses tornando-os mais críticos confiantes. O aluno com distúrbio de

aprendizagem que aprende com uma didática que propicie a reflexão,

uma didática mais dialética conseguirá render muito melhor do que

aprendesse no método tradicional.

1. GRÉCIA ANTIGA / A DIDÁTICA DOS TRÊS SÁBIOS

Sócrates filosofava. Platão resolveu dissertar sobre Filosofia. É

claro que Platão filosofava também. Todavia, com o platonismo nasceu a

Filosofia como uma busca metodológica de critérios de distinção entre o

real e o aparente.

Mas, afinal o que é Filosofia? O que é Didática? Filosofia é

formada pelas palavras gregas “philo e sophia” que significa amor à

O pensamento é como águia que só alça vôo nos espaços vazios do

desconhecido. Pensar é voar sobre o que não sabe. Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas

certas. Rubem Alves

16

sabedoria. Assim, a Filosofia indica um estado de espírito, o da pessoa

que ama, isto é, deseja o conhecimento, o estima, o procura e o respeita.

Entretanto, podemos também defini-la como uma investigação sobre o

que faz nos enganarmos e trocar o real pelo aparente.

A Didática, ou a “arte de ensinar” como aprendemos e como é

definida nos dicionários, na verdade é a teoria e prática do ensino.

No processo de ensino e de aprendizagem, em qualquer contexto

em que se esteja inserido, é necessário que se conheçam as categorias

que integram este processo como elementos fundamentais para um

melhor aproveitamento da aprendizagem.

"Era uma vez uma tribo pré-histórica que se alimentava de carne de

tigres de dentes de sabre. A educação nesta tribo baseava-se em ensinar a caçar

tigres de dentes de sabre, porque disto dependia a sobrevivência de todos. Os

mais velhos eram os responsáveis pela tarefa educativa. Passado algum tempo

os tigres de dentes de sabre extinguiram-se. Criou-se um impasse: o apego à

tradição dos mais velhos exigia que se continuasse a ensinar a caçar tigres de

dentes de sabre; os mais jovens clamavam por uma reforma no ensino. O

impasse perdurou por muito tempo. Mais precisamente até um dia que, por

falta de alimento, a tribo extinguiu-se também."

Esta lenda de autor desconhecido vem bem a calhar com o nosso

processo de educação. O professor não precisa ficar preso às regras

antigas da Educação. É necessário renovar sua didática, suas

17

estratégias, principalmente em relação ao aluno com distúrbio de

aprendizagem. O professor sabe não pelo raciocínio, mas por uma

sensação intensa e imediata que precisa evitar um comportamento que,

se adotado por todos tornaria impossível auxiliar a vida em sociedade do

seu aluno com distúrbio de aprendizagem.

Como diz o velho ditado: “Quando o aluno estiver pronto, o mestre

surgirá”. A Grécia antiga talvez estivesse pronta para levantar o cetro da

Didática nos ensinamentos filosóficos.

O mundo antigo havia se tornando um lugar eticamente arbitrário,

repleto de relativismo moral e de uma ausência de consideração pelas

Verdades Eternas. Quando Sócrates apareceu em cena, essa figura

ateniense dinâmica e controversa passou toda a sua vida na praça

pública envolvendo-se em diálogos com os jovens de Atenas. Seu método

singular de propor questões a sua platéia e extrair respostas é chamado

de Diálogo Socrático. Essa forma de perguntas e respostas, bem como o

debate de pontos de vista opostos é chamado dialética. Ele se imaginava

como uma “parteira” de idéias. Sua função não seria então a de originar

pensamentos profundos, mas a de mante-los. Sócrates nunca punha a

pena no papiro, tudo que temos são os registros e sua interpretação

provenientes de Platão. Interrogava seus interlocutores sobre aquilo que

pensavam, investigava e com habilidade de raciocínio, procurava

evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas a cada

resposta. O modelo de investigação socrática tinha um caráter purificador

18

porque levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e

ignorância, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências.

Platão deu continuidade ao legado de seu mestre Sócrates.

Ampliou com suas próprias teorias e criou “A Caverna”, mito que tinha

como intuído ilustrar como a maioria das pessoas vive com um véu sobre

seus olhos. Fundou uma escola de Filosofia um tanto genérica chamada

“Academia”.

Aristóteles discordava de seu mestre Platão, criou sua própria

academia “Liceu” e tinha como costume de caminhar enquanto ensinava

filosofia. Os aprendizes e o mestre tornaram-se conhecidos como

peripatéticos, que significa que ”aprendem caminhando”.

Apresentando as três tendências filosóficas de interpretação

didática, cabe filosoficamente ao professor qual delas o orientará em seu

trabalho. Como aplicar em suas estratégias para desvendar a

transformação educacional de seu aluno com distúrbios de aprendizagem.

O que não podemos é ficar sem nenhuma delas, pois quando o

professor não transforma não conseguirá ajudar seu aluno.

Desde a infância a escola, o professor exerce seu papel sobre o

aluno. Essa pratica escolar que perpassa a vida do aluno com distúrbio de

aprendizagem, da infância à maturidade, deixa sua marca indelével na

personalidade de cada um.

19

O professor é um orientador e um catalisador, nada impede que

ele se ponha a serviço do seu aluno, sem transformá-lo em “objeto” mas

sim como um ser pensante e transformador.

2. OS PROFISSIONAIS DO ENSINO

Os profissionais do ensino como agentes educacionais ficam

perdidos entre suas responsabilidades tradicionais e suas dificuldades

atuais. Buscam equilibrar desempenhos para obter resultados sem a

tranqüilidade de poder refletir e se situar na complexidade desse mundo

em transformação alucinante.

O aluno, ávido por novas experiências, fica perdido e

deslumbrado com tudo que brilha e gira ao seu redor, desde os games

mais inocentes até as drogas mais violentas. Ele tem que assimilar

informações e moldar comportamentos numa sociedade cujos valores

ainda é incapaz de avaliar.

Estão todos correndo, correndo sem saber bem para onde, e qual

“didática”, que “pedagogia” vá adotar para contribuir na elaboração de um

processo educativo que humaniza, seja inclusivo, construtor de

identidades individuais e sociais, de vivências tranqüilas, mas

significativas? Esta questão cabe às escolas se mostram como

“inclusivas” ao receberem crianças com dificuldades de aprendizagem.

Fato que exige reflexão por parte de cada instituição. Deve-se refletir

20

levando em consideração que, para um trabalho dessa natureza

acontecer satisfatoriamente, exigem-se algumas condições básicas, tais

como: tempo, etapas didáticas e situações apropriadas para o

acolhimento dessas “especificidades”. Essas escolas, no entanto,

preferem, na maioria das vezes, esperar que o aluno seja capaz de se

adequar à forma tradicional de ensino.

Dentro desse quadro, esse aluno, com dificuldades de

aprendizagem, certamente permanecerá na mesma estância de

aprendizagem caso não receba de seu professor alguma orientação

específica às suas necessidades acadêmicas. Por sua vez, esse

professor, também não terá condições de orientá-lo se desconhecer os

devidos procedimentos a serem adotados, a fim de que essas

dificuldades sejam superadas. A falta desse apoio “poderá” levá-lo ao

acúmulo de frustrações que, consequentemente, causarão sérios

prejuízos à vida acadêmica, social e afetiva de qualquer aluno. Sabemos,

por outro lado, que muitas escolas, ainda não oferecem condições

satisfatórias para o desenvolvimento de um “trabalho específico” que

atenda às dificuldades de cada aluno.

3. O ALUNO COMO CENTRO

O aluno só aprende na medida em que aquilo que é ensinado é

significativo para ele, é compreendido como capaz de satisfazer suas

necessidades. Desta forma, passa-se a entender que todos os programas

21

de ensino devem ter as necessidades do aluno no contexto do mundo em

que vive como ponto de partida para que sejam alcançados os objetivos

educacionais mais gerais. Na escola faz-se uso de muitos problemas e

questões principalmente a de transmitir conteúdos. Todo conteúdo parece

mais fácil de aprender quando seu ensino é inspirado em uma Didática

mais aberta, mais criativa, mais investigativa e reflexiva. Na verdade

aprender bem algum conteúdo é o mesmo que aprender com o mesmo

espírito de descoberta que prevaleceu quando foi descoberto ou no

mesmo espírito de invenção de quando foi inventado. Assim sendo o

aluno com distúrbio de aprendizagem vai trabalhar avidamente qualquer

conteúdo que lhe será imposto.

A aprendizagem depende basicamente da motivação. Muitas

vezes o que se chama de dificuldade de aprendizagem é basicamente

"dificuldade de ensino". É sabido que cada indivíduo aprende de uma

forma diferente, conforme seu canal perceptivo preferencial. Quando o

que lhe é ensinado não o motiva suficientemente, então a compreensão

ou o aprendizado não se completa.

A massificação do ensino tem contribuído muito para o

aparecimento e aumento dos "distúrbios de aprendizagem".

Quando a aprendizagem não se desenvolve conforme o esperado

para a criança, para os pais e para a escola ocorre a "dificuldade de

aprendizagem". E antes que a "bola de neve" se desenvolva é necessário

22

a identificação do problema, esforço, compreensão, colaboração e

flexibilização de todas as partes envolvidas no processo: criança, pais,

professores e orientadores. Agora quando o professor coloca em prática

uma didática mais filosófica mais reflexiva dando a oportunidade para que

o aluno com distúrbio de aprendizagem manifeste livremente seus

sentimentos emoções e que desabroche suas potencialidades despertará

nele o prazer em ter a autonomia e ser feliz. O que se vê normalmente é

aluno desestimulado, achando-se “burro”, a escola o pressionando e a

família insatisfeita.

4. MÉTODOS ATIVOS

O aluno aprende de forma mais rápida e duradoura quando

aprende fazendo. Por isso muitos profissionais do ensino propuseram a

transformação dos métodos empregados na escola. O aluno deve deixar

de ser um simples ouvinte passivo que, se limitar a repetir o que o

professor disse. Muito mais do que isso, o aluno deve ter uma

participação ativa, fazer experimentos, pesquisas, procurar ele próprio as

respostas para os problemas escolares, que seriam ligados à sua vida

cotidiana, tendo como meta construir o próprio conhecimento. A

importância do conhecimento é imensa. É o espanto, a surpresa perante

o novo que desencadeia nossa atividade intelectual. Como seres

racionais impõem-se a nós a necessidade de entender e de ter uma

explicação. Negar respostas, negar o conhecimento ao aluno só porque

23

possui uma dificuldade em entender, é desrespeitá-lo em sua própria

natureza. A ignorância é talvez a raiz de todos os outros males (até

mesmo dos Distúrbios de Aprendizagem), porque fere o aluno no que lhe

é mais específico: a racionalidade. Daí a gravidade social do descaso

pela Educação: a grande injustiça social impedindo-o de melhorar as

condições de vida escolar e social. Com a desinformação não há

crescimento humano possível.

A tarefa pedagógica que poderia nos ajudar a sair do labirinto do

ensinar para o campo aberto do aprender seria a tarefa de ajustar essas

questões radicais a programas e modalidades de processos educativos.

Trocaríamos, então, a pressa de ter que “ensinar” o aluno pela disposição

de ouvi-lo e entendê-lo. Como já relatou aqui, caberia a dialética

socrática, o parto das idéias? Ou então as caminhadas de Aristóteles pela

escola? Ou o mito da Caverna de Platão para que os alunos abram os

olhos para a construção do conhecimento?

Enfim, se aprofundássemos nossos diálogos no questionamento

de quem somos, onde estamos e o que queremos, talvez educássemos

melhor. Uma Didática mais dirigida à reflexão, pelas questões

fundamentais da vida onde o aluno com distúrbio de aprendizagem

descobrisse as habilidades para racionar, comunicar suas opiniões, iria

ajudá-lo a deixar de lado a sina de ser tachado como o aluno que “não

24

aprende”, “o aluno que não para”, “o aluno que não pensa e nem presta

atenção”.

Portanto, o diálogo filosófico representa uma experiência

intelectual compartilhada na qual o aluno isolado é transformado num

aluno investigador, apto a se expressar sucintamente, porque não tem

que se preocupar com as formalidades de livros ou estilísticas da escrita.

Numa Didática mais filosófica o aluno com distúrbio de aprendizagem

gradualmente desenvolverá a confiança em sua capacidade de manobrar

neste e novo meio ao mesmo tempo, irá adquirir a prática na escrita.

Nas perspectivas de ensino e de aprendizagem nos distúrbios de

aprendizagem, o objetivo deverá permitir ao aluno a apropriação de

formas e de modos de entendimento que lhe possibilitam a coerência

consistente e universal de análise e compreensão dos Conhecimentos, do

seu Distúrbio e do Mundo em que vive.

25

CAPÍTULO IICAPÍTULO IICAPÍTULO IICAPÍTULO II

DIDÁTICA E FILOSOFIA – OS DISTÚRBIOS DE

APRENDIZAGEM

Na fase do desenvolvimento escolar os distúrbios podem ser

notados com mais clareza. O professor, agente insubstituível do ensino

necessita ter noção como auxiliar o aluno com distúrbio, como motivá-lo,

como respeitar sua individualidade e de como incluí-lo no meio social para

que possa ser feliz.

1. UNIVERSO DOS DISTÚRBIOS: COMO ENSINAR – COMO

APRENDER

Aluno inquieto com distúrbios de aprendizagem no ensino

fundamental é um problema cada vez mais comum. Começa com queixas

de professores e de coordenadores escolares e, depois de o problema

chegar à família, vem o diagnóstico médico: dislexia, hiperatividade,

A coisa mais bela que o homem pode experimentar é o sentido do mistério. E a fonte de toda verdadeira arte e de toda verdadeira ciência. Quem nunca experimentou essa sensação. Saber que aquilo, que para nós é impenetrável, existe realmente e se manifesta com a mais alta sabedoria e a mais radiante beleza.

Albert Einstein

26

transtorno de déficit de atenção ou outro problema relacionado ao

universo dos distúrbios.

Existem muitas possibilidades de um aluno superar histórias de

fracasso escolar por meio da adoção de práticas pedagógicas adequadas.

A escola muitas vezes, transfere a responsabilidade à família. A criança é

estigmatizada, o que lhe acarreta muitos outros problemas, inclusive de

auto-estima, pois acredita que suas dificuldades de aprendizagem são

conseqüências de suas limitações pessoais.

Muito aluno apresenta dificuldades de convivência, que gera

problemas de sociabilidade, relacionamento, comportamento e o

insucesso profissional.

O ponto de partida da mudança a ser empreendida na educação

seria uma revisão radical na didática aplicada em sala de aula. Assim, o

árido texto didático teria de dar lugar a materiais mais agradáveis, que tanto

mostrassem como comunicassem o que é o pensar uma disciplina; cada

disciplina teria de ser apresentada aos alunos como algo a ser descoberto

e a ser apropriado por eles mesmos e não como algo estranho e

intimidador; as habilidades cognitivas inerentes a cada matéria teriam de

ser explícitas e cultivadas em cada uma delas; e a sala de aula teria de se

devotar ao raciocínio, à investigação, à auto-avaliação, convertendo-se

numa comunidade de investigação. Em outros termos, a solução para os

problemas do ensino e, por extensão, também da sociedade, seria

reorganizá-lo. Afinal, se o objetivo principal é promover uma educação

27

para o pensar de modo a formar indivíduos racionais, e se as graves

circunstâncias do mundo atual decorrem, justamente, de um sistema de

ensino ultrapassado e incapaz de atingir esse objetivo; então uma

educação organizada com base nos princípios do referido programa deve

produzir circunstâncias de vida mais adequadas e, conseqüentemente,

uma humanidade mais racional.

2. QUE ESTRATÉGIA USAR?

O aluno com qualquer um desses distúrbios frequentemente

apresentará problemas já citados provocando muitas vezes rótulos e

esquivos dos colegas e dos professores, a despeito de um grande

contingente de possuir o privilégio de uma inteligência superior.

Os professores, agentes insubstituíveis do ensino, devem

obrigatoriamente ser capacitados nesses distúrbios, além disso, precisam

ter o apoio irrestrito da escola.

O professor precisará tornar o processo de aprendizado o mais

concreto e visual possível, com instruções curtas e objetivas. Ajudá-lo a

aprender a pensar por si mesmo. Guiar uma discussão reflexiva em sala

de aula, criando o hábito de ouvir e refletir, evitando enfatizar os fracassos

do aluno ou comparar seu desempenho ao dos outros.

Trabalhar em grupo é uma estratégia que significa explorar sempre

o significado do que o aluno está dizendo, propor que a sala de aula se

converta em uma comunidade de investigação, no qual o aluno e

28

professor possam conversar como pessoas e como membros da mesma

comunidade, possam ler juntos, apossar-se de ideias conjuntamente,

construir sobre a idéia dos outros; também possam pensar

independentemente, procurar razões para seus pontos de vista. Explorar

suas pressuposições, visualizar suas descobertas.

O conhecimento deve ser vivenciado pelo aluno para que seja

realmente verdadeiro. Tendo ou não tendo distúrbios de aprendizagem, a

educação voltada para a reflexão, diálogo e acima de tudo, para o

exercício pleno da cidadania persuadirá o aluno a enxergar os demais

colegas como seres pensantes e importantes para o seu crescimento

humano, social e moral.

Conseguir com que o aluno com distúrbio consiga se envolver num

diálogo reflexivo é uma “arte” a arte de bem ensinar: Didática. O modo

como o professor ajuda o aluno que está com dificuldade de se expressar,

de não encontrar as palavras certas é um desafio, pois muito aluno com

TDAH só consegue consolidar as informações com o recurso da

repetição. Outros têm dificuldade para recuperar uma informação

apreendida e armazenada em sua memória de longo prazo. Numa

estratégia válida é dar instruções curtas e objetivas, se necessário por

escrito ajuda a codificação da memória verbal. No caso da dislexia é um

distúrbio neurológico que compromete a aquisição da linguagem, mais

especificamente da leitura, podendo manifestar-se na escrita, o professor

apoiando-se na sua prática de ensino, possibilitará que o grupo discuta o

29

texto permitindo ao aluno fazer a sua própria reflexão, centrado no

modelo socrático de investigação já explicado no capítulo.

Tratando-se agora de um aluno com dislexia por exclusão pode-

se dizer que o mesmo não é portador de deficiência nem mental, físicas,

auditiva, visuais ou múltiplas e não é um aluno de alto risco. Um aluno

não é disléxico porque teve seu desenvolvimento comprometido em

decorrência de fatores como gestação inadequada, alimentação imprópria

ou nascimento prematuro. A dislexia tem um componente genético,

exceto em caso de acidente cérebro-vascular (AVC). Ser disléxico faz

parte da condição humana.

. O disléxico pode sim ser um portador de altas habilidades. O ser

é talentoso na arte, música, teatro, esportes, mecânica, vendas, comércio,

desenho, construção e engenharia. Não se descarta ainda que venha a

apresentar uma capacidade intelectual singular, criativo, produtivo e líder.

A educação é obra transformadora, criadora. Ora, para criar é

necessário mudar, transgredir, modificar a ordem existente.

São inúmeros os professores que jamais se preocupam com um

fato terrível: suas aulas consistem na aceitação passiva de explicações já

prontas, ofertadas pelas várias ideologias do meio social. Se apenas

aceitam as fórmulas prontas, estão alienando o aluno que vai perder o

direito de pensar por si.

30

Numa didática mais competente e filosófica resultará um ensino

com mais qualidades porque, o aluno vai será convidado a construir seu

próprio raciocínio. É estimulado a pensar e assimilará o conhecimento

maximinizando as oportunidades que surgirão. Toda matéria parece ser

mais fácil de aprender quando seu ensino é inspirado pelo espírito aberto,

crítico e principalmente o de dar oportunidade a quem mais precisa que

são os portadores de Distúrbios da Aprendizagem.

Ensinar é colocar-se em questão, reafirmar-se constantemente em

relação ao humano, em vista do mais humano para o homem.

Aprender é o que há de mais divino para que o humano se torne

Humanidade. Ao nascer, o ser humano é associável. A cada geração, a

sociedade deve começar da estaca zero. A Educação cria um novo ser,

transforma cada ser “não social” em ser social. É necessário que o aluno

com distúrbio de aprendizagem descubra uma nova identidade ao entrar

na escola. Desde os primeiros minutos na escola, esse aluno é analisado,

julgado, avaliado em relação aos outros e, portanto, desde os primeiros

minutos, lhe é conferido o status de aluno “com problemas”. Cabe a ele

agora explorar essa nova identidade por meio das linguagens, das

representações dos colegas e dos professores com a dialética complexa

do ensinar-aprender.

O professor precisa, antes de tudo, dominar bem um campo de

conhecimento, depois, familiarizar-se gradualmente com a maneira como

esses conhecimentos teóricos podem ser transmitidos ao aluno com

31

distúrbio de aprendizagem. Neste caso, uma didática de valorizar o que o

aluno sabe para fortalecer sua auto-estima. Mostrar-lhe o quanto ele é

bom em tarefas nas quais tem habilidade e incentivá-lo a desenvolver

outras nas quais ele não é tão bom, é fundamental.

32

CAPÍTULO III

.

OS FILÓSOFOS ANTIGOS - EXEMPLOS DE APLICAÇÀO DIDÁTI CA.

Sem que pudessem imaginar os três pensadores desenvolveram

uma didática surpreendente que ainda hoje está tão presente na vida do

professor que quer modificar sua didática e suas estratégias.

1. SOCRÁTES

“Ele supõe saber alguma coisa e não sabe, enquanto eu, se não sei, tampouco suponho saber.

Parece que sou um pouco mais sábio que ele exatamente por não supor que saiba o que não sei”.

Sócrates

O homem que sabia perguntar com o seu método singular de

propor questões e depois esboçar respostas, fazia com que os indivíduos

pensassem por conta própria. Essa sua didática é chamada de Diálogo

Socrático. A forma de pergunta e resposta e o debate lógico de oposições

de pontos de vista é chamado dialética.

Segundo James Mannion(2004), Sócrates serviu como um

treinador e um mentor para os jovens de Atenas. Seus diálogos faziam

com que seus interlocutores se contorcessem com um profundo

desconforto intelectual. O filósofo era perito em mostrar suas idéias

33

passando-se por tolo, ou mais exatamente, fazia com que o indagado

descobrisse por si só.

Ele se imaginava como uma “parteira” de idéias. Em outras

palavras, ele buscava a Verdade com letras maiúsculas. Sua filosofia era

desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses

diálogos eram divididos em dois momentos básicos: a ironia e a

maiêutica. A ironia era a interrogação e a maiêutica era o instante em

que Sócrates ajudava seus discípulos a conceberem suas próprias

ideias.

Sócrates conversava com todos, fossem velhos ou moços, nobres

ou escravos, partia sempre do pressuposto “só sei que nada sei”, ponto

de partida para procurar o saber.

2. PLATÀO

Os males não cessarão para os homens antes que a raça dos puros e autênticos

filósofos chegue ao podes.

Platão

Das aparências ao mundo das ideias perfeitas. Gilberto Cotrin

(2000) relata que um dos aspectos mais importantes da filosofia de Platão

é a sua teoria das ideias, com a qual procurava explicar como se

desenvolve o conhecimento humano. Segundo ele, o processo de

conhecimento ocorre por meio da passagem progressiva do mundo das

34

sombras e aparência para o mundo das ideias e essências. A missão e os

objetivos estavam centrados na alegoria presente no seu texto, onde a

maioria das pessoas vive acorrentada em uma caverna escura, iluminada

apenas por uma grande fogueira atrás delas. Esses homens poderiam

somente enxergar sombras de si mesmos, a maioria era desprovida de

imaginação. Um dia, um dos prisioneiros foge e é emerso para a luz do

dia. Essa didática platônica para atingir o conhecimento autêntico é a

dialética . Somente quando saímos do mundo sensível e atingimos o

mundo racional das ideias é que alcançamos também o domínio do ser

absoluto, eterno e imutável. Fora do mundo das ideias, tudo o que

captamos através dos nossos sentidos possui apenas uma parte do ser

ideal. O mundo sensível, portanto, é um mundo de seres incompletos e

imperfeitos.

3. ARISTÓTELES

O ser se exprime de muitos modos, mas nenhum modo exprime o ser. O ser se diz em

vários sentidos

Aristóteles

Do nascimento da lógica à ordenação do Universo. Segundo

James Mannion (2004) , Aristóteles define o homem como ser racional e

considera a atividade racional, o ato de pensar, como a essência humana.

Para ele ser feliz o homem deve viver de acordo com sua essência, isto é,

35

de acordo com a sua razão, a sua consciência reflexiva. E, orientado os

seus atos para uma conduta ética, a razão o conduzirá a pratica da

virtude , ou seja, o meio-termo, a justa medida de equilíbrio entre o

excesso e a falta de um atributo qualquer.

Esse filósofo via a arte como meio de expandir e idealizar a

realidade, lutando em nosso modo humano limitado para alcançar o Ideal.

Ele considerava a arte um elemento dignificante e não um desperdício de

tempo. Acreditava que a comédia auxilia os homens a ver o absurdo

humano, e suas tolices e tragédias, no sentido clássico, permitiam que a

audiência atingisse a cartase, ou seja, uma resposta emocional

purificadora dentro dos seguros confins do anfiteatro grego. Observar a

humanidade representava em todo o seu esplendor e estupidez tinha um

efeito terapêutico, de acordo com o filósofo.

4. A IMPORTÂNCIA DA DIDÁTICA E DA FILOSOFIA AO ENS INAR

ALUNOS COM DISTÚRBIOS DE APRENDIZAGEM.

A didática é a disciplina que ordena e estrutura teorias e praticas

em função do ensino, isto é, está a serviço do trabalho profissional do

professor e, por isso, é a disciplina-chave da profissionalidade do

professor. (Libâneo,1998c:55-56).

Na verdade, a Didática é a teoria prática do ensino. Ela agrupa

organicamente os conteúdos das demais disciplinas. (Libâneo, 1991:11).

36

.

Sendo assim, a didática é a investigação da melhor maneira de

repassar o aprendizado ao aluno.

O “vocábulo” Didática, segundo Jacqueline Russ, deriva da

expressão grega Τεχνή διδακτική (techné didaktiké), que se traduz por

arte ou técnica de ensinar. Enquanto adjetivo derivado de um verbo, o

vocábulo referido origina-se do termo διδάςκω (didásko) cuja formação

lingüística - note-se a presença do grupo σκ (sk) dos verbos incoativos -

indica a característica de realização lenta através do tempo, própria do

processo de instruir.

A didática para assumir um papel significativo na formação do

educador não poderá reduzir-se e dedicar-se somente ao ensino de

meios e mecanismos pelos quais desenvolver um processo de ensino-

aprendizagem. Deverá ser um modo crítico de desenvolver uma prática

educativa forjadora de um projeto histórico, que não será feito tão

somente pelo educador, mas por ele conjuntamente com o aluno.

A didática deve servir como mecanismo de tradução prática, no

exercício educativo, de decisões filosóficas - políticas e epistemológicas

de um projeto histórico de desenvolvimento do povo. Ao exercer seu

papel específico estará apresentando-se como o mecanismo tradutor de

posturas teóricas em práticas educativas.

Uma vez suposto que a habilidade do pensar é o ingrediente que

falta na educação, não é novidade que muitos professores sintam-se

37

pressionados e ressentidos por não saberem como lidar com os alunos

com Distúrbios de Aprendizagem.

Tradicionalmente, a educação é entendida como uma iniciação à

Cultura, porém nunca foi capaz de satisfazer o desafio que leva ao

caminho para compreender uma educação plena. O aluno com Distúrbio

de Aprendizagem precisa entender o porquê das regras, de limites e

deixá-lo equipar-se com ferramentas da reflexão dentro do contexto de

investigação o “parto das ideias” descobrindo um mundo mais real, fora

das sombras da caverna.

Conseguir que o aluno com distúrbio se envolva num diálogo

filosófico é uma arte, é a Didática em que predomina a interação

professor-aluno.

O “aluno problema” geralmente fica situado em meio a um

verdadeiro tiroteio dos pais, professores, colegas e outros parentes. Tal

situação deve ser a todo custo invertida para que todas as energias sejam

gastas para um fim comum, o bem-estar e a boa educação desse aluno.

Uma didática com teor mais filosófico vai facilitar o aluno com

distúrbio de aprendizagem a explorar a linguagem e a buscar uma

coerência de pensamentos. Ajudará o aluno a formular opiniões, definir e

analisar alternativas e orquestrar uma discussão em grupo ou não. Como

o aluno com distúrbio de aprendizagem está sempre sensível aos

38

fracassos com uma didática voltada ao diálogo, reflexão, a valorização do

Ser, poderá desenvolver a confiança e com o êxito ficará mais satisfeito.

Quando a Filosofia surgiu na Grécia, no século VI a.C, onde as

pessoas começaram a pensar sobre o pensamento, a conhecer a si

mesmo, os próprios filósofos desenvolveram uma didática com a qual o

aluno sabia qual era realmente o seu objetivo na vida sem ser criticado.

Os filósofos envolviam as pessoas nas conversações explorando as mais

variadas possibilidades de ser feliz. O professor que orientar seu aluno a

pensar, a dialogar a se conhecer e entender seu distúrbio estará

ajudando-o a elevar seu sentimento de auto-estima e a sua segurança

para avaliar suas decisões e mudar o seu comportamento.

39

CAPÍTULO IV

O UNIVERSO DOS DISTÚRBIOS - O ALUNO COM

DIFICULDADES

Quando uma criança ingressa na escola, sua primeira tarefa

explícita é aprender a ler e a escrever. Embora se espere que a criança

aprenda muitas outras coisas em seu primeiro ano de escola, muitas

vezes isso não acontece. Surgem as dificuldades e os obstáculos que

terão que enfrentar. Um desses obstáculos são os distúrbios de

aprendizagem.

1. O ALUNO COM DIFICULDADES

É difícil aprender verdadeiramente, ou seja, aprender e

compreender, assimilar o conhecimento, deixar-se transformar pelo que

aprendemos.

Para Terezinha Nunes, aprender é difícil para todo mundo, e

aquele que afirma o contrário, questiona a organização do trabalho,

prioriza a sua dimensão lúdica que fala de motivação e interesse,

enquadramento, pedagogia e didática, não fazem mais que colocar em

foco as circunstâncias ou condições da aprendizagem; entretanto, não

aborda em nenhum aspecto o ato de aprender, que é solitário e difícil por

definição.

40

Antes de tudo, é preciso esclarecer que dificuldade não significa

necessariamente algo penoso, desagradável.

Se partirmos do princípio de que dificuldade de aprender está

relacionada à situação do aluno ou é inerente a ela, a expressão “aluno

com dificuldade” pode ser considerada um pleonasmo. Na verdade, essa

expressão deve ser usada especificamente para se referir aos alunos

“com grandes dificuldades”. Onde começa a “grande dificuldade”?

Em linguagem corrente, Terezinha Nunes designa com o nome

genérico de dificuldades escolares de aprendizagem todo o conjunto

complexo de noções, avaliações, comportamentos e até mesmo

características próprias do aluno.

De fato, nossa cultura escolar e, mais particularmente, a cultura

pedagógica costumam invocar esses esquemas muito topológicos que

incentivam a representação de divisões rígidas (os bons alunos/os maus

alunos; os colegas perigosos/ os colegas não perigosos; as escolas

sensíveis/ as escolas insensíveis), estimulando assim a formação de

ideologias e ou até de políticas.

Atualmente, discute-se a possibilidade de manter o aluno “no

centro do sistema educativo”, mas ao que parece, o aluno, quer seja

colocado no “centro”, quer na “periferia”, é sempre representado pela

distância compreendida entre sua realidade pessoal, aquilo que ele é, e

um outro lugar ideal; ele é representado pelo intervalo que existe entre a

41

aparência do que ele é e a aparência do que ele não é. Ele é uma

diferença.

A dificuldade de aprendizagem seria de certa forma, a unidade de

medida dessa diferença (em termos de desempenho, de competências)

dessa distância. A dificuldade se manifesta quando, em sua trajetória ele

encontra obstáculos.

Se usarmos a lógica, poderemos afirmar que não existe aluno

com dificuldades em si, mas sim aluno com dificuldades para atingir por

algum motivo alguns objetivos.

Algumas dificuldades de aprendizagem podem estar relacionadas

ao ritmo escolar. O aluno é o “autor de sua aprendizagem” e o ritmo de

cada um deve ser respeitado. Pode-se dizer que um aluno é pouco

motivado porque sua mente está em outro lugar, é instável, não fica

quieto, é agitado. A expressão aluno não motivado expressa basicamente

a decepção de um professor que não soube motivar. Os modelos

didáticos tradicionais vigoram hoje em dia no contexto escolar. Modelos

que tornam mais difícil ainda a vida escolar de um aluno portador de

algum dos distúrbios de aprendizagem que veremos a seguir.

2. DISLEXIA

Dislexia é um transtorno genético e hereditário da linguagem, de

origem neurobiológica, que se caracteriza pela dificuldade de decodificar

42

o estímulo escrito ou o símbolo gráfico. A dislexia compromete a

capacidade de aprender a ler e escrever com correção e fluência e de

compreender um texto. Em diferentes graus, os portadores desse defeito

congênito não conseguem estabelecer a memória fonêmica, isto é,

associar os fonemas às letras.

A causa do distúrbio é uma alteração cromossômica hereditária, o

que explica a ocorrência em pessoas da mesma família. Pesquisas

recentes mostram que a dislexia pode estar relacionada com a produção

excessiva de testosterona pela mãe durante a gestação do aluno.

Sintomas

Os sintomas variam de acordo com os diferentes graus de

gravidade do distúrbio e tornam-se mais evidentes durante a fase da

alfabetização. Entre os mais comuns encontram-se as seguintes

dificuldades: 1) para ler, escrever e soletrar; 2) de entendimento do texto

escrito; 3) identificar fonemas associá-los às letras e reconhecer rimas e

alterações; 4) para decorar a tabuada, reconhecer símbolos e conceitos

matemáticos (discalculia); 5) ortográficas: troca de letras, inversão,

omissão ou acréscimo de letras e sílabas (disgrafia); 6) de organização

temporal, espacial e coordenação motora.

Diagnóstico

43

Segundo Marco Arruda (2006), o diagnóstico é feito por exclusão,

em geral por equipe multidisciplinar (médico, psicólogo, psicopedagogo,

fonoaudiólogo, neurologista). Antes de afirmar que uma pessoa é

disléxica, é preciso descartar a ocorrência de deficiências visuais e

auditivas, déficit de atenção, escolarização inadequada, problemas

emocionais, psicológicos e socioeconômicos.

Tratamento

Ainda não se conhece a cura para a dislexia. O tratamento exige

a participação de especialistas em várias áreas (pedagogia,

fonoaudiologia, psicologia, etc.) para ajudar o portador de dislexia a

superar seu distúrbio e auxiliá-lo a elaborar estratégias para bem viver.

Recomendações

Algumas dificuldades que as crianças podem apresentar

durante a alfabetização só ocorrem porque são pequenas e ainda não

estão prontas para iniciar o processo de leitura e escrita. Se a dificuldade

persistir, o aluno deve ser encaminhado para uma avaliação. O

diagnóstico de dislexia não significa que a criança seja menos inteligente;

44

significa apenas que é portadora de um distúrbio que pode ser corrigido

ou atenuado.

O tratamento da dislexia pressupõe um processo longo que

demanda persistência; portadores de dislexia devem dar preferência a

escolas preparadas para atender suas necessidades.

Há alunos cujo progresso na alfabetização é muito melhor do que

o esperado a partir da sua inteligência e, infelizmente, há aqueles cujo

progresso na aprendizagem da leitura é muito pior do que seria esperado.

O aluno dislexo pertence a esse segundo grupo, ou seja, é um

aluno cuja dificuldade na aprendizagem da leitura e da escrita são muito

maiores. Esse aluno embora com as mesmas oportunidades que os

outros alunos têm para aprender a ler, recebendo motivação adequada

mostra progresso na alfabetização.

3. HIPERATIVIDADE

A hiperatividade, denominada na medicina de desordem de

déficit de atenção , pode afetar crianças, adolescentes e até mesmo

alguns adultos. Os sintomas variam de brandos a graves e podem incluir

problemas de linguagem, memória e habilidades motoras. Embora a

criança hiperativa tenha muitas vezes uma inteligência normal ou acima

da média, o estado é caracterizado por problemas de aprendizado e

comportamento. Os professores e pais da criança hiperativa devem saber

45

lidar com a falta de atenção, impulsividade, instabilidade emocional. O

comportamento hiperativo pode estar relacionado a uma perda da visão

ou audição, a um problema de comunicação, como a incapacidade de

processar adequadamente os símbolos e idéias que surgem, estresse

emocional, convulsões ou distúrbios do sono. Também pode estar

relacionado à paralisia cerebral, intoxicação por chumbo, abuso de álcool

ou drogas na gravidez, reação a certos medicamentos ou alimentos e

complicações de parto, como privação de oxigênio ou traumas durante o

nascimento.

O aluno hiperativo tem dificuldade em prestar atenção e

aprender. Como é incapaz de filtrar estímulos, é facilmente distraído.

Pode falar muito, alto demais e em momentos inoportunos; está sempre

em movimento, fazendo algo e é incapaz de ficar quieto. É impulsivo. Não

se aquieta para olhar ou ouvir. Devido à sua energia, curiosidade e

necessidade de explorar surpreendente e aparentemente infinita é

propenso a se machucar e a quebrar e danificar coisas. O aluno

hiperativo tolera pouco as frustrações. Ele discute com os pais,

professores, adultos e amigos; faz birras e seu humor flutua rapidamente.

Esse aluno também tende a ser muito agarrado às pessoas. Precisa de

muita atenção e tranquilidade. É importante a compreensão dos pais de

filhos hiperativos.

46

Para o aluno hiperativo e sua família, uma ida a um parque de

diversão ou supermercado pode ser desastrosa. Há simplesmente muita

coisa acontecendo muito estímulo ao mesmo tempo. Apesar da

"dificuldade de aprendizado", é geralmente muito inteligente. Sabe que

determinados comportamentos não são aceitáveis. Mas, apesar do desejo

de agradar e de ser educado e contido, não consegue se controlar. Pode

ser frustrado, desanimado e envergonhado. Ele sabe que é inteligente,

mas não consegue desacelerar o sistema nervoso, a ponto de utilizar o

potencial mental. O aluno hiperativo muitas vezes sente-se isolado e

segregado dos colegas e não entende por que é tão diferente, fica

perturbado com suas próprias incapacidades. Sem conseguir concluir as

tarefas normais de um aluno na escola, no playground ou em casa, o

hiperativo pode sofrer de estresse, tristeza e baixa auto-estima. Segundo

Arruda um especialista em comportamento infantil pode distinguir entre o

aluno normalmente ativo e enérgico e aquele realmente hiperativo. O

aluno hiperativo, até mesmo os menores, pode correr, brincar e agitar-se

feliz durante horas sem cochilar, dormir ou demonstrar qualquer cansaço.

Durante a primeira ou a segunda consulta médica, o aluno hiperativo

pode ser comportar de forma quieta e educada.

4. TRANSTORNO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO E HIPERATIVIDAD E

Muito se fala atualmente sobre o TDAH. É grande o interesse, não

só da sociedade, como de pesquisadores, médicos, psicólogos e

47

educadores, devido aos prejuízos que sabidamente o transtorno de

déficit de atenção e hiperatividade costuma ocasionar na vida de seu

portador, que na grande parte das vezes desce, literalmente, o morro

abaixo, num looping negativo, do tipo espiral decrescente. Não é à toa

que, provavelmente, nenhum outro distúrbio tenha sido tão estudado nos

últimos tempos quanto o TDAH, que atinge cerca de 5 a 10% das

crianças em idade escolar, causando grande impacto na infância e na

juventude.

Sabe-se que o transtorno é caracterizado por sintomas de

desatenção, hiperatividade e impulsividade, é associado ao prejuízo das

funções executivas, característicos do TDAH, geralmente transformam a

vida do portador em um verdadeiro caos. O TDAH é reconhecido

oficialmente por todos os países e pela Organização Mundial da Saúde

(OMS). Em alguns países, como nos Estados Unidos, seus portadores

são protegidos pela lei quanto a receberem tratamento diferenciado na

escola. O TDAH é um transtorno neurobiológico, fundamentalmente de

causa genética, que aparece na infância e freqüentemente acompanha o

indivíduo por toda a sua vida. As pessoas que possuem o Transtorno de

déficit de atenção e/ou hiperatividade têm dificuldades em prestar

atenção, controlar suas emoções e as atividades excessivas. A falta de

atenção sustentada é um problema. Por exemplo, a pessoa não mantém

a atenção por muito tempo numa reunião, ao ler e ao escrever, parece

que está no mundo da lua, se distrai com qualquer estímulo externo e não

48

sabe em qual ponto parou para reiniciar, e em consequência muda de

atividade frequentemente, deixando as coisas por terminar. Também

perde muitos objetos por causa da sua desorganização. (Marco Arruda,

2006)

No Brasil, não há especialistas suficientes para o atendimento de

uma demanda estimada em três milhões de portadores do TDAH, daí a

importância de o pediatra assumir o desafio do diagnóstico e de seu

tratamento do TDAH e os órgãos competentes investirem em educação

médica continuada.

Mais frequente ainda, encontrarmos uma verdadeira legião de

alunos portadores de TDAH que perdem sua motivação pela escola e

pelo aprender, depois de tentativas inúteis de melhora do desempenho

escolar. A partir desse entendimento o professor poderá direcionar suas

aulas não para impor autoridade, mas para desenvolver o suporte para o

salto e a elevação cultural do seu aluno com um dos Distúrbios de

Aprendizagem. (Marco Arruda, 2006)

49

CAPÍTULO V

PROFESSOR – ALUNO E DIDÁTICA / FILOSOFIA

O professor não deve ensinar pensamentos, mas a pensar, não deve carregar seu

aprendiz, mas guiá-lo se quer que seja apto no futuro a caminhar por si próprio.

Immanuel Kant

1. O ALUNO

O aluno com Distúrbios de Aprendizagem frequentemente

apresenta problemas comportamentais e dificuldades de aprendizagem, a

despeito de um grande contingente ter o privilégio de uma inteligência

superior. A percepção dessa inteligência faz com que o professor tenha

dificuldades para entender o motivo do insucesso acadêmico e social

deste aluno. Se ocorrerem problemas comportamentais na escola eles

acabam provocando a criação de rótulos, posturas de esquiva dos

colegas e professores e, por fim, a exclusão.

Neste sentido, é fundamental o suporte escolar para o aluno com

Distúrbio de Aprendizagem. Seu perfil comportamental é especial e a

capacitação do professor permitirá o uso de estratégias especificas

bastante eficaz.

50

A escola, estação do conhecimento e porto seguro do aluno, ao

aceitar o desafio de reavaliar seus métodos, capacitará e dará suporte

aos professores para que inovem em estratégias dirigidas a esta clientela.

No entanto, a prática da grande maioria dessas estratégias

dependerá exclusivamente da motivação e criatividade do professor, de

seu empenho diferenciado justamente porque não se trata de um

estudante que se enquadra na média dos demais.

2. O PROFESSOR

Quem é o professor no processo educativo escolar?

Em geral, para ser professor numa escola, basta tomar um certo

conteúdo, prepará-lo para apresentá-lo ou dirigir o seu estudo; ir para

uma sala de aula, tomar conta de uma turma de alunos e efetivar o ritual

da docência: apresentação de conteúdos, controle dos alunos, avaliação

da aprendizagem. Enfim a atividade de docência virou rotina comum, sem

que se pergunte se ela interage ou não com decisões contínuas,

constantes e precisas, a partir de um conhecimento adequado nas

implicações do processo educativo na sociedade.

Na práxis pedagógica, o professor é aquele que, tendo adquirido

o nível de cultura necessário para o desempenho de sua atividade, dá

direção ao ensino e à aprendizagem. Ele assume o papel de mediador

entre o coletivo e o individual do aluno. Deve ser suficientemente

51

capacitado e habilitado para compreender o patamar dos alunos e

especificamente os com Distúrbios de Aprendizagem.

No decorrer da vida profissional, o professor verifica que o

relacionamento entre ele e o aluno mostra-se como fator primordial no

desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem, com destaque para

a questão da disciplina em sala de aula. Por outro lado, ambos parecem

divorciados: o professor sente dificuldade em estar se relacionando com o

aluno de forma aberta e conveniente; alguns são autoritários e

tradicionais, desejam que o aluno seja disciplinado, seguindo um currículo

pré-estabelecido.

Deveria haver um equilíbrio das duas partes: o aluno respeitando

o professor como autoridade em sala de aula e, o professor respeitando o

aluno como ser humano em processo crescimento e de aprendizagem,

formação de valores e construção de novos conhecimentos.

A ação do professor não poderá ser executada de qualquer forma.

Ela só poderá ser bem realizada se tiver um compromisso político que a

direcione: o bem estar do aluno, a inclusão no meio social e a motivação

para aprender a aprender.

É preciso um professor competente dotado de habilidades na

reformulação de sua didática. Adequá-la ao aluno com Distúrbio de

Aprendizagem.

52

Os manuais de Didática, em geral abordam e discutem três temas

básicos, que são as questões do planejamento, da execução e da

avaliação do ensino.

A Didática, como uma forma de ação humana a ação do ensino

não poderia, evidentemente, fugir do esquema racional, mas não

consegue dominar inteiramente o ato educativo; fica sempre um espaço

livre. E é justamente esse canteiro que deve ser cultivado, esse espaço

livre que o professor deve alargar. Mesmo numa educação da dominação,

guiada por uma pedagogia, muitas vezes, opressiva e exclusiva para o

aluno com Distúrbios de Aprendizagem, o professor ainda tem a chance

de plantar neste espaço a semente da libertação com uma didática mais

libertadora e reflexiva.

A tarefa do professor não é apenas ensinar ou transmitir

conhecimentos, é se modificar, reconhecer, portanto, em primeiro lugar,

os limites de seu aluno com Distúrbio de Aprendizagem.

Toda didática dos grandes filósofos já narrados não pode estar

ausente, eles podem-nos indicar pistas para avançar a exploração deste

imenso Universo da educação dos alunos com Distúrbios de

Aprendizagem.

O professor que modifica o meio elabora novas concepções do

mundo, aquele que não exclui o aluno com dificuldades, aquele dá

sentido e faz a história desse aluno, é com certeza um filósofo.

53

Uma Didática filosófica, não rejeita o risco de, por vezes,

embarcar na abundância de experiências novas, arrojadas atrevidas.

Aceitar o desafio de tentar outra maneira de ensinar o aluno com Distúrbio

de Aprendizagem, sair da dogmaticidade, dos chavões ajudaria o aluno a

crescer, pois seu crescimento também depende do estimulo e da sua

capacidade de invenção e criatividade.

A habilidade didática do professor de um aluno com Distúrbio de

Aprendizagem pode expressar sua capacidade de executar algumas das

seguintes tarefas abaixo:

a) Definir, pelo menos implicitamente, as metas

específicas a serem atingidas em cada aula. Tais

metas, que consistem nas conquistas intelectuais e

emocionais essenciais a serem alcançadas pelo aluno,

servirão como guia para orientar e programar as

atividades didáticas, ao mesmo tempo em que elas

próprias serão reavaliadas a partir dos resultados

conseguidos.

b) Elaborar uma representação dos

conhecimentos prévios dominados pelo aluno, sejam

eles espontâneos e científicos. Tal representação,

mesmo que qualitativa e superficial, deve incluir

54

também indícios das possibilidades efetivas do aluno,

tanto quanto ao aspecto cognitivo como ao afetivo.

c) Planejar o desenvolvimento das aulas, ou

seja, propor uma seqüência a priori de atividades

coerentes com diálogos, com reflexão, com a

representação das capacidades do aluno e com as

metas a serem atingidas; um dos pontos mais

importantes dessa seqüência será constituído pelas

avaliações produzidas, seja para obter informações

sobre o processo de aprendizagem do aluno, seja para

definir o conhecimento por ele adquirido. Este

planejamento, que diz respeito a um conjunto

significativo de aulas, deverá ser adaptado após cada

uma delas, tendo presente as atividades efetivamente

desenvolvidas e o resultado efetivamente alcançado.

d) Fazer com que o aluno dê a priori um

significado favorável à experiência didática. Isso

pressupõe a antecipação de um esquema afetivo capaz

de organizar significativamente o conjunto das

atividades propostas, mesmo daquelas que o aluno não

pode compreender completamente. Sem esse sentido a

priori dificilmente o processo de aprender continuará

55

vivo e eficiente, tornando-se, ao contrário, uma rotina a

ser executada com o mínimo de esforço, para o

professor e também para o aluno.

e) Conduzir as aulas de maneira eficaz,

adaptando continuamente o planejamento às respostas

concretas dos estudantes. Esta tarefa tem dois pontos

essenciais: de um lado reconhecer os sinais que o

aluno fornece ao longo das atividades, interpretando-os

como informações sobre o significado por ele atribuído

a cada atividade e sobre o correspondente grau de

envolvimento intelectual e emocional. Por outro lado

propor ações que tenham sentido para o aluno, ou seja,

que produzam uma ressonância quanto ao conteúdo

cognitivo e ao modo de desenvolvimento. Em outras

palavras o objeto de discussão deve ter ligações fortes

com o que o aluno já conhece e o modo de condução

deve constituir um progressivo desafio para o mesmo.

A competência do professor é uma soma bastante

equilibrada de conhecimento específico da disciplina e do

processo de aprendizagem. Dentro da concepção de ensino que

considera o aluno com Distúrbio de Aprendizagem o

protagonista da sua aprendizagem e o professor organizador e

56

orientador deste processo, o planejamento conseqüente e as

avaliações devem ser tomados como instrumentos de promoção

e de controle da aprendizagem.

O professor está garantido quando é capaz de apresentar

em sala de aula comportamentos coerentes com uma interação

dialógica contínua entre ele e seus estudantes:

1) Monitorar o progresso do aluno, interpretar o discurso e as

ações.

2) Auxiliar o aluno a tomar consciência das modificações que

ocorrem ao longo de seu processo de aprendizagem e que seja

capaz de se conhecer melhor.

3) Orientar o aluno na elaboração de seus projetos e a promover

discussões abertas estimulando-o a levantar questões e a

exprimir suas dúvidas e suas dificuldades.

Uma primeira atividade diz respeito à discussão do conteúdo

científico implícito no uso dos instrumentos didáticos. Pode-se tratar de

um problema, de um texto histórico, de um experimento de laboratório, de

um filme didático; em qualquer caso, a discussão tem como objetivo

estratégico os professores perceberem que seus conhecimentos

científicos são limitados, desarticulados e mesclados com conhecimentos

de senso comum. A percepção de estar usando concepções

57

espontâneas, mesmo em problemas simples, torna para eles inadiável a

necessidade de uma reflexão mais profunda sobre o conteúdo

efetivamente dominado e sobre sua coerência. Com isso os professores

facilmente ficam motivados para analisarem o conteúdo de maneira

detalhada e modificarem sua relação com o mesmo, inclusive discutindo

as simplificações e aproximações necessárias para tornar os problemas

solúveis ou discutíveis para seus estudantes. O ponto importante a ser

salientado nesta atividade é sua finalidade: uma racionalização e a

compreensão de seus conhecimentos científicos que leve a uma

organização possível. Não podemos esquecer que, em geral, os

professores estão pouco disponíveis para uma problematização e

ampliação de seus conhecimentos. Entretanto nos parece que a

segurança progressivamente ganha pelos professores ao construir essa

nova organização, modifica esta tendência e abre, de fato, a possibilidade

de um novo tipo de controle sobre seu aluno de maneira a ouvi-lo e a

interagir com mais dialogicamente, “parto das ideias”.

Finalmente, uma maneira de fortalecer o desejo de o professor

modificar sua relação com o aluno consiste em discutir sua prática

didática no que diz respeito ao papel assumido pelo aluno. Duas formas

diferentes de auxílio e assessoria parecem interessantes e

complementares para modificar tanto a representação quanto a atitude

que o professor tem em relação a seu aluno com Distúrbio de

Aprendizagem. A primeira, mais simples, consiste numa auto-avaliação

58

própria dos professores sobre a relação deles, pondo em evidência os

detalhes que se referem ao relacionamento com o aluno.

Existe da parte do professor a preocupação em entender as

razões e motivações do aluno, e se este é considerado como ser

pensante, se é salientada a originalidade de seus caminhos de

aprendizagem ou simplesmente está sendo rotulado e abandonado.

Analisar as condições que oferece ao aluno. Dar a oportunidade para o

esclarecimento das dúvidas, estabelecendo momentos de reflexão e de

diálogos.

Após essa auto-avaliação, a meta do professor é perceber as

características de sua prática efetiva e as implicações da mesma no

estabelecimento de um clima favorável às mudanças de estratégias.

59

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A primeira condição para a valorização do homem e o

aproveitamento social de suas energias físicas, intelectuais e morais

reside na instrução e cabe à Escola transmitir a parte dessa instrução que

deve ser compartilhada por todos e formar os alicerces de qualquer

aprendizagem.

A Escola, além de alfabetizar a criança, precisa despertar nela a

consciência para as práticas, ideais de vida e valores sociais.

Muitas vezes, há um despreparo dos professores que esperam

classes homogêneas deparando-se com uma classe que apresenta

muitas diferenças entre si. É bem verdade que o professor aprende mais

em sua prática diária do que em sua preparação escolar – é fundamental

que dê um passo adiante – um diálogo sincero é o caminho indicado para

modificar a trajetória de crianças e adolescentes fadados ao insucesso.

Mas como ajudar esse aluno?

Não existe nada mais fatal para o pensamento que o ensino das respostas certas.

Para isso existem escolas: não para ensinar as respostas,

mas para ensinar as perguntas.

As respostas nos permitem andar sobre a terra firme.

Mas somente as perguntas nos permitem entrar pelo mar desconhecido.

Rubem Alves

60

Além das estratégias específicas a serem adotadas em sala de

aula para melhorar o desempenho, como sentá-lo na primeira fileira,

evitar enfatizar os fracassos, assegurar-se de que o aluno escutou e

entendeu as instruções e outras mais, o professor desenvolverá o cultivo

das habilidades de raciocínio, de investigação, de significação, de

formação de conceitos. Em suma elaborar uma didática voltada à

argumentação e à discussão que nunca se fecham numa resposta pronta

e acabada.

Assim como todos alunos com Distúrbio de Aprendizagem anseia

por uma vida repleta de experiências ricas e significativas. Ele quer

aprender, sofre quando não consegue. Sofre quando é chamada de

incapaz. Sofre também o professor, quando o aluno apresenta uma

conduta introspectiva, sem atenção e desmotivado.

Professor reflexivo, conscientizado no universo dos Distúrbios da

Aprendizagem, reformula sua didática, sua prática de ensino para auxiliar

o aluno

A superação das dificuldades de aprendizagem por meio de uma

didática mais filosófica será visível no decorrer do ano letivo pelo

professor e pelo próprio aluno.

Quem se dedica à Filosofia põe-se a procura do Homem, escuta o

que ele diz, observa o que ele faz e se interessa por sua palavra e ação.

Quem educa precisa da didática para transmitir os conhecimentos.

Didática com Filosofia no universo dos Distúrbios de Aprendizagem

61

tornará claro aos olhos de quem utilizá-la a certeza de novos horizontes

ao aluno com dificuldades na aprendizagem.

O professor deve crer na possibilidade da liberdade humana, na

alteração da forma de pensar e agir. Concretizar uma didática mais

filosófica para os alunos com distúrbios e, com certeza um grande

desafio.

Uma atitude de esperança foi pronunciada, uma esperança surge

do abismo das dificuldades em aprender em que a humanidade provocou

na História da Educação. Só depende de nós para que essa atitude

adentre a eternidade.

62

Quando os acontecimentos escapam ao teu domínio, e te arrastam para onde não quererias ir, o resultado é sempre surpreendente e enriquecedor. Forçado a desafios inesperados, vês brotar de ti forças e capacidades que

desconhecias; cresces por dentro; descobres luzes novas e uma nova dimensão de todas as coisas; aprendes que não estás só.

É como se alguém, com pena de ti, te conduzisse a um lugar maravilhoso onde nunca saberias chegar com os teus pequenos projectos.

Paulo Geraldo

63

REFERÊNCIAS

ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofando: introdução à Filosofia .

São Paulo: Editora Moderna, 1993.

ARRUDA, Marcos A. Levados da Breca . Ribeirão Preto: Instituto Glia,

2006.

BEARD, Rut César Coll. Psicologia da Educação . Porto Alegre: Artes

Médicas Sul, 1999.

Coll, César. Psicologia da Educação . Porto Alegre: Artes Médicas Sul,

1999.

COMÊNIO, João Amós. Didática Magna. Rio de Janeiro: Simões, 1954.

COTRIN, Gilberto. Fundamentos da Filosofia. São Paulo: Editora

Saraiva, 2000.

GADOTTI, Moacir. Educação e Poder . São Paulo: Cortez Editora, 2005.

GARCÍA, María Tereza. Necessidades educativas especiais: desde o

enfoque histórico-cultural . São Paulo: Linear B, 2004.

GIROUX, Henry A. Os Professores como Intelectuais. Rumo a uma

pedagogia crítica da aprendizagem . Porto Alegre: Artes Médicas, 1997.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática . São Paulo: Cortez, 1994.

LIPMAN, Matthew. Filosofia na sala de aula . São Paulo: Nova

Alexandria, 2001.

64

LOMONICO, Circe Ferreira. Psicopedagogia: teoria e prática. São

Paulo: Edicon, 2005.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Elementos para uma didática no contexto

de uma pedagogia para a transformação . São Paulo: Edições Loyola,

1984.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação. São Paulo: Cortez,

1994.

MANNION, James. O livro completo da Filosofia . São Paulo: Madras,

2004.

NUNES, Terezinha. Dificuldades na aprendizagem da leitura: Teoria e

Prática. São Paulo: Cortez, 2003.

PERRENOUD, Phillippe. A pedagogia na escola das diferenças.

Fragmentos de uma sociologia do fracasso. Porto Alegre: Artmed

Editora, 2001.

PERRENOUD, Phillippe. Pedagogia diferenciada: das intenções à

ação. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

PILETTI, Claudino. Filosofia e história da educação. São Paulo: Editora

Ática, 1997.

PILETTI, Nelson. Filosofia e história da educação. São Paulo: Editora

Ática, 1997.

RIOS, Terezinha. Ensinar e compreender. Por uma docência da

melhor qualidade. São Paulo: Cortez, 2008.

65

RUSS, Jacqueline. Dicionário de Filosofia. São Paulo: Editora Scipione,

1994.

SAVIANI, Demerval. Educação: do senso comum à consciência

filosófica. São Paulo: Cortez, 1983.