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Ao contrário do que muitos dizem, Cuba, Coreia do Norte e Venezuela não são socialistas. O governo de Nicolás Maduro na Venezuela, que conta com o apoio do PT aqui no Brasil, se reivindica representante do “socialismo do século XXI”. Só não consegue explicar como “socialistas” poderiam compor um governo que joga os trabalhadores na fome e na miséria. A pobreza já atinge 81,8% da população venezuelana. Por lá, o trabalhador ou sobrevive de migalhas ou foge do país. Engenheiros venezuelanos estão vindo ao norte do Brasil para limpar privadas e, nas fronteiras, mulheres passaram a se prostituir para alimentar suas famílias. Enquanto isso, parasitas que se instalaram no governo seguem enriquecendo. A VENEZUELA SOBREVIVE DE PETRÓLEO A Venezuela é um país que faz divisa com o Brasil na Floresta Amazônica e que contém as maiores reservas petrolíferas do mundo. Desde 1999 está sob o comando do mesmo partido, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), primeiro sob a presidência de Hugo Chávez, agora sob a ditadura de Maduro. Trata-se de um Estado em crise: o país enfrenta um caos econômico. Os salários são comidos pela inflação: só no ano passado, o preço das mercadorias aumentou 8 vezes. Mais de um quarto dos jovens venezuelanos estão desempregados. Faltam comida e produtos de higiene básica, a energia é cortada diariamente e só recebem cestas- básicas aqueles filiados ao PSUV. A fome levou a subnutrição dos trabalhadores a atingir média de 9 kg a menos por pessoa. Este cenário é agravado pela dependência econômica da exportação de petróleo. Com a queda do preço do barril, a Venezuela foi pro buraco. Primeiro, com o dinheiro do povo, o PSUV “comprou” empresas petrolíferas; depois, deu a burocratas o poder de administração delas os enriquecendo como nunca. Sua grande justificativa era a de que transferir a gestão dessas empresas seria uma medida para se lutar contra o imperialismo dos Estados Unidos. Discordamos: basta ver a relação comercial calorosa que as duas nações mantêm. Os EUA são o principal destino das exportações venezuelanas, ocupando 43% das exportações. E o amor é recíproco: 30% das importações da Venezuela são de origem norte-americana. O governo Maduro, na verdade, intensifica a dependência econômica com os EUA e enriquece a burguesia internacional. MADURO É UM DITADOR Toda essa crise se expressa no plano político. Diante de uma economia fragilizada e de um projeto desmoralizado, o governo Maduro assume o caráter de uma ditadura, atacando as liberdades democráticas dia após dia. Persegue a quem o faz oposição (sejam da esquerda, sejam da direita), de maneira que já são mais de 3500 presos políticos e 120 mortos. Há censura na mídia e nas redes sociais, e existem relatos de tortura de manifestantes por um exército que responde diretamente a Maduro. Por meio das ferramentas do Estado e do incentivo à criação de grupos armados formados por cidadãos comuns, sem vínculo com o exército ou a polícia, mas que obedecem diretamente aos chavistas, o governo tem cumprido a função de bloquear a organização popular. Protestos e greves são proibidos e eleições para sindicatos e entidades políticas são barradas. As instituições do Estado, como o congresso, a justiça, as forças armadas, já não funcionam normalmente no país: as eleições regionais já foram adiadas três vezes e o judiciário é totalmente controlado por Maduro. Não existe mais parlamento na Venezuela por que o Tribunal Superior decidiu destituir todos os parlamentares. O governo o substituiu por uma assembleia constituinte. Apenas seus apoiadores puderam concorrer às cadeiras que decidirão a nova Constituição venezuelana – no fim das contas, o poder está totalmente nas mãos de Maduro. O caráter de classe do governo, portanto, nos parece claro: Maduro esmaga a classe trabalhadora, seus instrumentos de organização e suas condições de vida, privilegiando seus negócios bilionários de compra e venda de petróleo no mercado internacional. O socialismo, ao contrário de tudo isso, é um modo de produção em que a economia é comandada democraticamente pelos trabalhadores, de baixo para cima. Socialismo não é luxo para alguns e lixo para os pobres, como o que vemos hoje em dia, mas um mundo em que a riqueza é distribuída entre todos os que trabalham. A VENEZUELA NAO E SOCIALISTA! TERRITORIO LIVRE NÚMERO 48 | OUTUBRO 2017 | JORNAL DA JUVENTUDE DA ORGANIZAÇÃO TRANSIÇÃO SOCIALISTA É O SEGUINTE Nós do TERRITÓRIO LIVRE defendemos que é possível sim mudar toda essa miséria. Nos organizamos, estudamos o que a escola e a universidade não nos ensinam, pensamos por nós mesmos. Apoiamos hoje a luta dos trabalhadores, porque mais tarde os trabalhadores seremos nós. Encontre o TL: territoriolivre.org [email protected] fb.com/tlivre Cresce o desemprego, o custo de vida e a vontade de gritar BASTA!

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Ao contrário do que muitos dizem, Cuba, Coreia do Norte e Venezuela não são socialistas. O governo de Nicolás Maduro na Venezuela, que conta com o apoio do PT aqui no Brasil, se reivindica representante do “socialismo do século XXI”. Só não consegue explicar como “socialistas” poderiam compor um governo que joga os trabalhadores na fome e na miséria. A pobreza já atinge 81,8% da população venezuelana. Por lá, o trabalhador ou sobrevive de migalhas ou foge do país. Engenheiros venezuelanos estão vindo ao norte do Brasil para limpar privadas e, nas fronteiras, mulheres passaram a se prostituir para alimentar suas famílias. Enquanto isso, parasitas que se instalaram no governo seguem enriquecendo.

A VENEZUELA SOBREVIVE DE PETRÓLEOA Venezuela é um país que faz divisa com o Brasil na Floresta Amazônica e que contém as maiores reservas petrolíferas do mundo. Desde 1999 está sob o comando do mesmo partido, o PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela), primeiro sob a presidência de Hugo Chávez, agora sob a ditadura de Maduro.

Trata-se de um Estado em crise: o país enfrenta um caos econômico. Os salários são comidos pela inflação: só no ano passado, o preço das mercadorias aumentou 8 vezes. Mais de um quarto dos jovens venezuelanos estão desempregados. Faltam comida e produtos de higiene básica, a energia é cortada diariamente e só recebem cestas-básicas aqueles filiados ao PSUV. A fome levou a subnutrição dos trabalhadores a atingir média de 9 kg a menos por pessoa.

Este cenário é agravado pela dependência econômica da exportação de petróleo. Com a queda do preço do barril, a Venezuela foi pro buraco. Primeiro, com o dinheiro do povo, o PSUV “comprou” empresas petrolíferas; depois, deu a burocratas o poder de administração delas os enriquecendo como nunca. Sua grande justificativa era a de que transferir a gestão dessas empresas seria uma medida para se lutar contra o imperialismo dos Estados Unidos. Discordamos: basta ver a relação comercial calorosa que as duas nações mantêm. Os EUA são o principal destino das exportações venezuelanas, ocupando 43% das exportações. E o amor

é recíproco: 30% das importações da Venezuela são de origem norte-americana. O governo Maduro, na verdade, intensifica a dependência econômica com os EUA e enriquece a burguesia internacional.

MADURO É UM DITADORToda essa crise se expressa no plano político. Diante de uma economia fragilizada e de um projeto desmoralizado, o governo Maduro assume o caráter de uma ditadura, atacando as liberdades democráticas dia após dia. Persegue a quem o faz oposição (sejam da esquerda, sejam da direita), de maneira que já são mais de 3500 presos políticos e 120 mortos. Há censura na mídia e nas redes sociais, e existem relatos de tortura de manifestantes por um exército que responde diretamente a Maduro. Por meio das ferramentas do Estado e do incentivo à criação de grupos armados formados por cidadãos comuns, sem vínculo com o exército ou a polícia, mas que obedecem diretamente aos chavistas, o governo tem cumprido a função de bloquear a organização popular. Protestos e greves são proibidos e eleições para sindicatos e entidades políticas são barradas.

As instituições do Estado, como o congresso, a justiça, as forças armadas, já não funcionam normalmente no país: as eleições regionais já foram adiadas três vezes e o judiciário é totalmente controlado por Maduro. Não existe mais parlamento na Venezuela por que o Tribunal Superior decidiu destituir todos os parlamentares. O governo o substituiu por uma assembleia constituinte. Apenas seus apoiadores puderam concorrer às cadeiras que decidirão a nova Constituição venezuelana – no fim das contas, o poder está totalmente nas mãos de Maduro.

O caráter de classe do governo, portanto, nos parece claro: Maduro esmaga a classe trabalhadora, seus instrumentos de organização e suas condições de vida, privilegiando seus negócios bilionários de compra e venda de petróleo no mercado internacional.

O socialismo, ao contrário de tudo isso, é um modo de produção em que a economia é comandada democraticamente pelos trabalhadores, de baixo para cima. Socialismo não é luxo para alguns e lixo para os pobres, como o que vemos hoje em dia, mas um mundo em que a riqueza é distribuída entre todos os que trabalham.

A VENEZUELA NAO E SOCIALISTA!

TERRITORIO LIVRENúmero 48 | outubro 2017 | JorNal da JuveNtude da orgaNização traNsição socialista

É O SEgUINTENós do territÓrio livre defendemos que é possível sim mudar toda essa miséria. Nos organizamos, estudamos o que a escola e a universidade não nos ensinam, pensamos por nós mesmos. apoiamos hoje a luta dos trabalhadores, porque mais tarde os trabalhadores seremos nós.

Encontre o TL: territoriolivre.org [email protected] fb.com/tlivre

Cresce o desemprego,o custo de vida ea vontade de gritar

BASTA!

O Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) foi criado no fim dos anos 90, como uma forma de financiar alunos no ensino superior privado. O dinheiro é emprestado pelo governo na forma de crédito aos estudantes e a dívida só é cobrada após o fim da graduação, quando teoricamente eles estariam empregados e poderiam “retornar o investimento”.

A FARSA DO FIESA propaganda do governo petista sempre mostrou o programa como uma oportunidade de formação de jovens para a inserção no mercado de trabalho, dando uma perspectiva de futuro para muitos deles. Mas isso não passava de uma farsa criada para abastecer os bolsos dos empresários e endividar os estudantes.

O Fies foi ampliado de maneira exorbitante pelo PT, às vésperas do estouro da crise no Brasil. Algumas mudanças facilitaram o acesso ao programa, que teve um crescimento expressivo: de 76 mil contratos ao final do governo Lula em 2010, passou a 733 mil em 2014, ano da reeleição de Dilma. No ano seguinte, vimos o aumento da inflação e do desemprego, que acertou em cheio principalmente a juventude. Desempregados e surpreendidos por uma conta que só chega um ano e meio depois da conclusão do curso, os formados pelo Fies estão atolados em dívidas.

A expansão desenfreada do Fies superou o quanto o governo tinha para gastar com esse programa. Hoje o orçamento dedicado ao Fies é maior do que o do Bolsa Família, o principal orgulho dos petistas. A liberação desse crédito sem fundo foi uma forma picareta de dar dinheiro do Estado para enriquecer empresários e transferir a conta para os jovens estudantes que só queriam melhores condições de emprego.

DESEMPREgADO E ENDIVIDADO COM UM DIPLOMA NA MÃOMais da metade dos estudantes que deveriam estar pagando as parcelas hoje não está conseguindo pagar. Além disso, a plataforma online do programa funciona muito mal (o próprio governo já teve que admitir isso!), fazendo com que muitos estudantes não consigam nem saber o quanto estão devendo.

É o caso do Leonardo, estudante de arquitetura na Universidade São Judas Tadeu. Ele nos explicou que entrou na faculdade em 2013 e não conseguiu fazer um dos aditamentos (atualização cadastral) que o fundo exige, pois o banco estava sem sistema, “desde então eu tento resolver o

Com toda essa manobra dos governos petistas, muitas faculdades privadas surgiram e cresceram nos últimos 10 anos. Grande parte delas formaram conglomerados empresariais. A Kroton, maior empresa de educação do mundo, é uma brasileira com receita líquida de R$ 5,2 bilhões anuais. Na prática, o papel do governo foi de garantir um fluxo constante e crescente de “clientes” para as faculdades privadas, incentivando com a oferta de crédito fácil um crescimento assombroso desse setor. Mais uma vez, o Estado foi um verdadeiro balcão de negócios, vendendo nossa vontade legítima de trabalhar com dignidade.

O número de contratos nas faculdades privadas firmados pelo Fies cresceu muito entre 2010 e 2014NO DE NOVOS CONTRATOS em milhares

Os custos do programa cresceu muito e ainda vamos pagar por ele por alguns anosGASTO ANUAL em bilhões de reais

FIES: DESEMPREgADO E ENDIVIDADO COM UM DIPLOMA NA MAO

problema sem sucesso e, no meio de toda essa burocracia, dois aditamentos estão atrasados e o valor que o Fies paga hoje ainda é o de 2016”. Pelo sistema do governo ele não consegue saber o tamanho da sua dívida, mas acredita que além do valor emprestado, terá de pagar juros à faculdade pelos atrasos. Para Leonardo, “o programa não é sustentável e não há preocupação com o estudante”.

Essa é mais uma armadilha pra jogar o trabalhador no buraco! Em vez da garantia de emprego prometida, os formados pelo Fies engrossam o caldo dos desempregados com diploma. A estudante Renata, que faz faculdade de Direito na PUC-SP, conta que escolheu o financiamento por não ter condição de pagar as mensalidades, “A principal vantagem foram os juros mais baixos e o prazo que me ofereceram para parcelar, o maior que tinham, de 15 anos”.

Ela é uma das muitas estudantes que teme não conseguir pagar as dívidas com o Fies: “tenho bastante receio, pois como terei que arcar com os custos, me preocupo se estarei empregada ao final da faculdade, com condições de me manter e pagar a dívida”. Essa é a realidade, não apenas de Renata, mas de boa parte dos jovens, que se deparam com um cenário de desemprego somado aos recentes ataques do governo aos direitos trabalhistas.