Criação tipográfica experimental: o processo de construção de um tipo sem serifa
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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDOFACULDADE DE ARTES E COMUNICAÇÃO
Marcos Vinícius Duda Bonatto
CRIAÇÃO TIPOGRÁFICA EXPERIMENTAL: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM TIPO SEM
SERIFA
Passo Fundo
2012
Marcos Vinícius Duda Bonatto
CRIAÇÃO TIPOGRÁFICA EXPERIMENTAL: O PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DE UM TIPO SEM
SERIFA
Monografia apresentada ao curso de Publicidade e Propaganda, da Faculdade de Artes e Comunicação, da Universidade de Passo Fundo, como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Publicidade e Propaganda, sob a orientação do Prof. Thomas Germano Battesini Teixeira.
Passo Fundo
2012
Agradeço primeiramente ao professor orientador Thomas Germano Battesini Teixeira pela orientação e auxílio neste trabalho. Agradeço também ao professor Benami Bacaltchuk pela ajuda prévia na definição do tema, antes mesmo do semestre começar. Saúdo também Grace Priscila Paiva e minha família, por conviverem com um gago (sei que não é fácil).
RESUMO
O objetivo deste trabalho é exemplificar o processo de criação de um tipo sem serifa de caráter experimental com base em pesquisa bibliográfica, com finalidade de aumentar o conhecimento sobre o tema e servir de referência para futuros projetos. A pesquisa bibliográfica é desenvolvida visando obtenção de conteúdo base para a concepção do tipo experimental. Para isso estuda-se história, nomenclatura, anatomia tipográfica, processos metodológicos e assuntos específicos da criação de tipos. Os dados coletados são utilizados para a criação funcional de uma tipografia, composta por letras minúsculas, maiúsculas, números e pontuação, em um arquivo Open Type para possibilitar o uso de ligaturas latinas e também seu uso em sistemas operacionais. Seu processo é exemplificado por meio de imagens geradas pelo autor. A metodologia criativa seguida possui sete fases, que vão do briefing até a avaliação do processo de criação. Esta monografia está divida em duas partes. A parte teórica contempla a conceituação, história e características, focando nas letras sem serifa. Logo depois se apresenta a parte prática, com explicação da metodologia criativa e geração da tipografia experimental.
Palavras-chave: Tipografia. Processo criativo. Design de tipos. Tipo sem serifa. Experimento.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..........................................................................................................................8
1. TIPOGRAFIA..........................................................................................................10
1.1. Conceituação tipografia............................................................................................10
1.2. A importância da tipografia na comunicação...........................................................12
2. HISTÓRIA DA ESCRITA E DA TIPOGRAFIA....................................................15
2.1. Primórdios da escrita................................................................................................15
2.2. Império Romano e Idade Média...............................................................................17
2.3. Renascença e início da prensa..................................................................................19
2.4. Industrialização e tipografia desvencilhada da escrita.............................................21
2.5. Letras sem serifa, William Caslon IV e Akzidenz Grotesk.....................................23
2.6. A propaganda influencia a tipografia.......................................................................24
2.7. Século XX................................................................................................................25
2.7.1. Arts and Crafts..........................................................................................................25
2.7.2. Art Nouveau.............................................................................................................26
2.7.3. Futurismo..................................................................................................................27
2.7.4. Dadaísmo..................................................................................................................28
2.7.5. Bauhaus....................................................................................................................29
2.7.6. De Stijl......................................................................................................................30
2.7.7. Construtivismo.........................................................................................................31
2.7.8. Die Neue Typographie.............................................................................................32
2.7.9. Escola Suíça.............................................................................................................33
2.7.10. Tipos Helvetica e Univers........................................................................................34
2.8. Revolução digital......................................................................................................36
3. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS TIPOS.........................................................38
3.1. Linha de base e altura-de-x......................................................................................38
3.2. Tamanho...................................................................................................................39
3.3. Largura.....................................................................................................................39
3.4. Caixa-alta e caixa-baixa...........................................................................................40
3.5. Anatomia tipográfica................................................................................................41
3.5.1. Eixo, ascendente e descendente................................................................................41
3.5.2. Traço, braços, pernas, ligação..................................................................................42
3.5.3. Espinha, olho, ombro e bojo.....................................................................................43
3.5.4. Serifas, junções, terminais........................................................................................44
3.5.5. Vértices: apex, crotch e vertex.................................................................................45
3.5.6. Espaço eme e ene.....................................................................................................45
3.6. Espacejamento..........................................................................................................46
3.7. Kerning.....................................................................................................................47
3.8. Tracking....................................................................................................................49
3.9. Ligaturas...................................................................................................................49
3.10. Famílias de tipos.......................................................................................................50
3.11. Identificação e classificação de tipos.......................................................................52
3.11.1. Letra romana, barroca e romântica...........................................................................52
3.11.2. Letra realista, modernista geométrica e pós-modernista..........................................54
3.12. Algarismos de texto e titulares.................................................................................55
3.13. Símbolos não alfabéticos e diacríticos.....................................................................56
3.14. Formatos de tipos.....................................................................................................57
3.15. Introdução ao design de tipos...................................................................................58
3.15.1. Proporções horizontais e verticais............................................................................59
3.15.2. Design opticamente correto de círculos, triângulos e quadrados.............................59
3.15.3. Design de linhas em intersecções.............................................................................60
3.15.4. Tipo para uso em tamanhos diferentes.....................................................................61
4. DESIGN DE TIPOS.................................................................................................62
4.1. Método no projeto de design....................................................................................62
4.2. Definição do problema.............................................................................................63
4.3. Pesquisa....................................................................................................................64
4.4. Geração de ideias......................................................................................................65
4.5. Prototipagem............................................................................................................66
4.6. Seleção......................................................................................................................67
4.7. Implementação.........................................................................................................68
4.7.1. Rascunhos.................................................................................................................69
4.7.2. Digitalização.............................................................................................................71
4.7.2.1. Caixa-baixa e caixa-alta...........................................................................................72
4.7.2.2. Algarismos................................................................................................................75
4.7.2.3. Sinais diacríticos e caracteres não alfabéticos..........................................................76
4.7.3. Espacejamento e kerning..........................................................................................77
4.7.4. Ligaturas...................................................................................................................79
4.7.5. Testes........................................................................................................................80
4.7.6. Muvuca.....................................................................................................................81
4.8. Aprendizado.............................................................................................................82
CONCLUSÃO..........................................................................................................................83
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................85
ANEXO A – Anatomia tipográfica...........................................................................................87
ANEXO B – Lista de pares de kerning.....................................................................................88
ANEXO C – Teste de Kerning.................................................................................................91
ANEXO D – Briefing para a produção do tipo experimental...................................................93
ANEXO E – Idea Board...........................................................................................................94
ANEXO F – Rascunhos do tipo experimental..........................................................................95
ANEXO G – Digitalização das letras.......................................................................................96
ANEXO H – Método de espacejamento de Walter Tracy........................................................97
ANEXO I – Construção do algarismo 3.................................................................................100
ANEXO J – Tipo experimental...............................................................................................101
ANEXO K – Testes de espacejamento...................................................................................102
8
INTRODUÇÃO
Cada mensagem escrita, impressa ou digital, independente de seu conteúdo, possui o
objetivo de comunicar uma mensagem. Essa mensagem fica mais fácil de ser lida e entendida,
além de ficar mais atraente, se a tipografia for executada de modo inteligente. Na publicidade,
assim como no design gráfico, é preciso criar anúncios, peças gráficas, cartazes, embalagens,
logotipos entre outras coisas que envolvem o conhecimento tipográfico. As características dos
tipos que compõem uma mensagem não são criadas ao acaso, cada letra conta uma história.
Cada letra possui uma forma particular de ser escrita, uma ferramenta, uma ideia e é
influenciada por fatores externos.
Com a criação da tipografia experimental, é possível explorar os princípios
tipográficos, criar formas novas e dar continuidade a um legado de milênios, que, se fosse
desprovido de experimentação, não teria se atualizado. Este trabalho é a porta de entrada para
o desenvolvimento de conhecimento acerca dos tipos sólido e importante para a concepção e
criação de elementos tipográficos que envolvam um projeto gráfico.
O objetivo geral deste trabalho, então, é criar um tipo regular sem serifa de caráter
experimental para aumentar o conhecimento acadêmico e técnico no assunto. Sua delimitação
compreende-se em criar o tipo regular sem serifa de caráter experimental, composto de letras
minúsculas, maiúsculas, algarismos e pontuação, exportado em um arquivo Open Type. Para
os objetivos específicos têm-se a revisão bibliográfica sobre conceituação, história,
características e design de tipos, a criação de uma tipografia experimental e, por fim, a
exemplificação do processo de criação tipográfica com base em roteiro metodológico.
A presente pesquisa foi desenvolvida em nível exploratório, com o intuito de
familiarizar-se com o tema tipografia. As pesquisas exploratórias são indicadas para
proporcionar visão do problema ou torná-lo mais específico. O procedimento técnico adotado
é o bibliográfico, utilizando-se de publicações (livros, sites, periódicos) para a obtenção de
dados relevantes, com exemplos que estimulem a compreensão. A pesquisa bibliográfica é
indispensável nos estudos históricos, pois dependendo da situação não há como conhecer seus
dados sem utilizar este tipo de procedimento.
Inicialmente, no primeiro capítulo, é conceituada a técnica da tipografia, assim como
design, direção de arte e outros termos que fazem parte deste universo. Além disso, é
explicada, com base bibliográfica, sua importância para a comunicação, levando em conta
9
áreas como criação de logotipos, publicidade, design e tipos para revistas ou jornais. O
segundo capítulo compõe-se da história da escrita e da tipografia, com ênfase para os tipos
não serifados, passando por movimentos artísticos e socioculturais até chegar aos dias de hoje.
O terceiro capítulo é destinado à conceituação e análise das partes que compõem um
tipo. Este visa estudar os elementos que formam as letras, assim como suas variações,
nomenclatura e introdução ao design de tipos, levando ao próximo capítulo. No quarto e
último capítulo, o processo de criação da tipografia experimental é exemplificado. A
metodologia criativa utilizada, assim como testes e outros conceitos importantes acerca dos
tipos são explicados nesta fase prática, e última, do trabalho.
10
1. TIPOGRAFIA
Neste capítulo é conceituada a técnica da tipografia e suas diferenças quanto a outras
formas de escrita, como caligrafia ou lettering. Além disso, a importância do estudo
tipográfico também é ressaltada, assim como alguns exemplos que melhoram o entendimento
dos conceitos e sua importância para atividades como publicidade ou design, envolvendo,
assim o design gráfico e a direção de arte.
1.1. Conceituação tipografia
Podendo não ser limitada apenas ao design gráfico1 ou à direção de arte2, a tipografia
está presente em nosso dia a dia. A Associação dos Designers Gráficos do Brasil define
tipografia como:
Arte e processo de criação e/ou utilização de símbolos relacionados aos caracteres ortográficos (letras) e para-ortográficos (algarismos, sinais de pontuação, etc.) para fins de reprodução, independente do modo como foram criados (à mão livre, por meios mecânicos) ou reproduzidos (impressos em papel ou gravados em um documento digital) (1998, p.102).
Os tipos são uma maneira de escrever a voz falada, porém mecanizada. Robert
Bringhurst (2011, p. 17) destaca sua importância ao afirmar que “a tipografia é o ofício que dá
forma visível e durável – e, portanto, existência independente – à linguagem visual humana”.
Emil Ruder (1992) argumenta que a habilidade de comunicar é a finalidade da tipografia.
Com isso, ele conclui, afirmando que um documento que não se pode ler é um documento que
não possui sentido.
1 ADG define como “Termo utilizado para definir, genericamente, a atividade de planejamento e projeto relativos a linguagem visual. Atividade que lida com a articulação de texto e imagem, podendo ser desenvolvida sobre os mais variados suportes e situações. Compreende as noções de projeto gráfico, identidade visual, projetos de sinalização, design editorial, entre outras” (ADG BRASIL, 1998, p.36).
2 Diretor de arte pode ser definido como “[...] Profissional responsável pela definição e orientação das linhas gerais de um projeto gráfico. [...] Profissional de criação especializado em desenvolver a linguagem visual e gráfica de peças publicitárias” (ADG BRASIL, 1998, p.37).
11
É possível a confusão entre tipografia e tipologia. Segundo a ADG Brasil (1998,
p.102), tipologia pertence à outra ciência distinta, a “taxionomia – ciência das classificações –
que se refere ao estudo das características, das diferenças entre objetos e seres vivos de toda a
espécie”, tornando-a uma área de estudo diferente da tipografia e, portanto, não deveria ser
utilizada como sinônimo.
Também se conceitua outras técnicas de escrita como caligrafia ou lettering. Segundo
Ferraz (apud FARIAS, 2010), caligrafia se vale pelo processo manual de escrita à mão livre,
enquanto o lettering é o processo manual de criação de letras a partir de desenhos. São
técnicas diferentes da tipografia, pois não possuem o objetivo de reproduzir os caracteres de
maneira mecânica e massificada.
Para se entender o que é tipo e fonte, precisa-se também entender o que é um
caractere. Segundo a ADG Brasil (1998, p. 23), caractere é “todo símbolo utilizado em texto;
incluindo os espaços entre as palavras (letras individuais, números, sinais de pontuação,
etc.)”. Para a classificação da palavra tipo, ADG Brasil consegue também definir, explicando
que tipo é um “desenho de letras e algarismos formando um conjunto regido por propriedades
visuais sistematizadas e consistentes” (1998, p.102).
Para a definição de fonte, Ellen Lupton (2010, tradução do autor) afirma ser o
mecanismo de entrega dos tipos, ou seja, o formato em que eles estarão disponíveis para
utilização. Para exemplificar: em sistemas digitais, o tipo é o desenho da letra e a fonte é o
formato do arquivo em que ela se encontra. Portanto, podem existir diversos formatos de
fonte para os mesmos tipos.
A ADG Brasil também conceitua família de fontes como sendo:
Conjunto de caracteres cujo desenho apresenta semelhantes características de construção; conjunto de fontes tipográficas (desenhos de letra) com as mesmas características fundamentais, independentemente da variação da espessura média de suas hastes (light, regular, bold.). Diz-se família tipográfica (1998, p.47).
Portanto, famílias de fontes são conjuntos de tipos com as mesmas características
fundamentais, que os tornam reconhecíveis, mas com variações de estilo entre eles.
12
Os tipos podem ser carregados de mensagens simbólicas. Segundo Karen Cheng
(2005, tradução do autor) alguns tipos representam, por exemplo, luxúria, estilos de
comportamento ou hierarquia social. Eles podem expressar emoção e personalidade de acordo
com a forma de suas letras. Sentimentos sombrios, por exemplo, são representados por pontas
afiadas e maior densidade em seu contorno. No contrário, sentimentos mais iluminados são
representados por caracteres mais delicados.
1.2. A importância da tipografia na comunicação
Segundo Erik Spiekermann (2011), o mundo está sempre à procura de novas maneiras
de se comunicar com indivíduos cada vez mais diferenciados. O que temos a dizer fica mais
fácil de ser entendido se aplicarmos a voz correta. Os tipos são a voz que liga o autor ao leitor.
Escolher o tipo certo para expressar a mensagem desejada é desafiador:
Escolher uma fonte específica para uma mensagem em particular pode ser divertido, mas também extremamente difícil. [...] Ao projetar a aparência visual de uma mensagem, você estará adicionando alguma interpretação a ela (SPIEKERMANN, 2011, p.103).
As características das letras não são criadas ao acaso. Elas devem ter sua função
especificada antes do projeto começar, pois são as características que ditam como as letras
serão lidas e que sensações vão transmitir. Baseado nisso, Ambrose e Harris (2009) afirmam
que a seleção da forma visual pode afetar significativamente a legibilidade da escrita e as
sensações do leitor em relação a ela. Variando entre formas claras, pesadas, fortes, de fácil
leitura, refinadas, etc., as letras podem ser neutras, assim como podem despertar paixões ou
representar movimentos artísticos, dependendo de como são construídas e utilizadas.
Erik Spiekermann (2011) também diz que quem observar uma mensagem impressa
será influenciado rapidamente por tudo na página, pois a avaliamos antes de ter lido. A
proximidade entre letras também dá sentido, assim como sua aparência. Spiekermann (2011)
13
exemplifica, dizendo que revistas podem aparentar um visual antiquado, conservador, clássico
ou arrojado, dependendo de sua tipografia, que pode ou não ser uma representação adequada
do conteúdo escrito.
Sobre o uso empresarial, Wheeler (2008, p.122) diz que uma marca3 eficaz não é
possível sem uma boa tipografia. As letras devem ter personalidade adequada e boa
legibilidade, harmonizando com elementos gráficos e o posicionamento da empresa, pois a
escolha dos tipos é crucial para a mensagem. Empresas são imediatamente reconhecidas
devido ao estilo tipográfico utilizado com inteligência em suas aplicações.
Uma marca pode possuir também seu próprio alfabeto institucional que, como explica
Fonseca (2008, p.139), “é a família tipográfica de uso padronizado para a forma escrita das
mensagens visuais da empresa”. Isso vai desde o logotipo, formulários, identificação de
prédios, embalagens, publicidade até os uniformes. Alguns programas de identidade usam
tipos já existentes, como a Volkswagen que utiliza a família Futura. Outros programas
desenvolvem uma fonte específica para a marca, tornando-a única.
Além disso, devem-se levar em conta os países em que a marca irá atuar, escolhendo
ou criando tipos que sejam adequados para todos os idiomas atuantes, possuindo acentos e
caracteres especiais, caso necessário:
Nem todo tipo é apropriado para todos os idiomas, o que também explica por que certos estilos de tipos são populares em determinados países e não necessariamente em outros. Alguns idiomas possuem muitos acentos, como o francês; alguns têm palavras muito longas, como alemão ou finlandês; outros usam palavras extremamente curtas, como os tabloides britânicos (SPIEKERMANN, 2011, p.13).
Wheeler (2008) continua, falando que muitos designers e fundidores de tipos4 criaram
milhares de fontes diferentes no curso da história. Por isso, é cada vez mais complicado
escolher qual delas utilizar. Algumas firmas consultoras de identidade possuem como rotina o
design de uma fonte personalizada para o cliente. Ellen Lupton (2010, tradução do autor) é
mais enfática em relação à identidade visual corporativa, dizendo que ela é composta por
3 Marca define-se como um “símbolo gráfico, logotipo ou combinação desses elementos, utilizado para identificar produtos ou serviços de um fornecedor/vendedor, e diferenciá-los dos demais concorrentes” (ADG BRASIL, 1998, p.71).
4 O processo de impressão de tipos móveis, segundo Fonseca (2008), requeria a fundição de cada peça (letra) separada para depois ser montada na prensa tipográfica. Os fundidores de tipos eram as pessoas que criavam e aperfeiçoavam estas peças.
14
elementos como cores, padrões, ícones, assinatura, logo e tipografia. Às vezes o logo da
empresa serve como base para a criação de um tipo próprio, assim como às vezes
profissionais de áreas diferentes (tipógrafos5, diretores de arte, designers) se juntam para criar
letras únicas para o cliente.
Spiekermann (2011) complementa, dizendo que projetar uma fonte para fins
específicos é uma atividade comum que vai além das corporações. A escolha da tipografia é
governada pelo conteúdo da mensagem, então pelo público-alvo e somente por último por
questões técnicas. Ele dá alguns exemplos de tipos especiais para listas telefônicas, pequenos
anúncios, jornais ou bíblias. E vai além, afirmando que podemos projetar tipos por causa de
restrições, como caracteres para impressoras de baixa resolução, celulares, monitores e
máquinas de escrever.
5 “Indivíduo versado na arte da tipografia, e que executa, ou dirige a execução, das operações conducentes à produção de impressos; mestre-impressor” (FERREIRA, 1999, p.1963).
15
2. HISTÓRIA DA ESCRITA E DA TIPOGRAFIA
A técnica da tipografia possui vários influenciadores. Influências tecnológicas,
artísticas ou filosóficas, por exemplo, moldaram a tipografia até os dias de hoje. Neste
capítulo, um panorama histórico é traçado, levando em conta épocas em que tipos sem serifa
foram amplamente utilizados e recomendados.
2.1. Primórdios da escrita
Não há um consenso geral de como a escrita ou a língua falada começa a se
desenvolver pelo mundo. Acredita-se, com base em Clair e Busic-Snyder (2009), que o
desenvolvimento da escrita tenha surgido pelos pictogramas6, onde desenhos simples eram
usados para exemplificar objetos. Porém, como Clair e Busic-Snyder (2009) afirmam, os
pictogramas eram apropriados para a representação de pessoas, lugares e objetos, mas não
eram eficientes com ideias, emoções e ações.
Por volta do ano 3200 a.C., os sumérios, que se situavam na região da Mesopotâmia,
desenvolvem a forma mais antiga de escrita conhecida, denominada cuneiforme. Segundo
Fonseca (2008), o alfabeto era constituído de uma mistura de logogramas e sílabas. O mesmo
autor conceitua estes dois atributos: “O logograma é um sinal que representa uma palavra ou
frase completa, e a sílaba simboliza certos sons” (p.17). Quando, mais tarde, os sumérios
foram conquistados pelos assírios, os conquistadores adotaram este tipo de escrita cuneiforme
como sua própria.
Acredita-se que os hieróglifos7 pictográficos egípcios tiveram início por volta de 3000
a.C. Neles, segundo Clair e Busic-Snyder (2009), o mesmo som fonético podia ser
representado por uma variedade muito grande de símbolos. Os egípcios nunca simplificaram o
sistema para a representação dos 24 sons fonéticos do seu idioma, invés disso deveria se
conhecer mais de 300 símbolos para que a leitura pudesse ser executada.
6 De acordo com Clair e Busic-Snyder, pictograma é um “símbolo que é usado para comunicar de forma completa uma mensagem simples sem usar palavras, tal como nos sinais de trânsito e na sinalização de portas de sanitários. Um pictograma pode ser usado como uma assinatura, e então é conhecido como uma marca diferenciadora que indica identidade, tal como um logotipo corporativo” (2009, p.371).
7 De acordo com Clair e Busic-Snyder, hieróglifo é o “nome do sistema de escrita desenvolvido no antigo Egito que usava pictogramas para representar palavras e sons” (2009, p.364).
16
Fonseca (2008) traça o fim definitivo dos hieróglifos como sendo no ano 400 d.C. Por
volta de 1500 a.C., os fenícios criam um alfabeto fonético consonantal (composto apenas por
consoantes) que acreditam ser base para o alfabeto utilizado atualmente no mundo ocidental:
Muitos pesquisadores concordam que por volta de 1500 a.C. a antiga Fenícia tinha estabelecido um alfabeto de 22 caracteres baseado na fonética. Acredita-se que este antigo alfabeto fenício foi a base dos alfabetos grego e romano e, por esse motivo, do alfabeto hoje utilizado em grande parte do mundo ocidental (CLAIR; BUSIC-SNYDER, 2009, p.21).
Figura 1 – Escrita cuneiforme8 e alfabeto fenício9, respectivamente.
Por utilizar menos símbolos para a escrita, ler tornou-se uma tarefa menos complicada,
possibilitando a alfabetização da população em geral. Por causa disso, segundo Clair e Busic-
Snyder (2009), o idioma fenício se espalhou pela região, influenciando vários outros
alfabetos, como o grego. Para a formulação de seu alfabeto, os gregos pegaram os 22
caracteres consonantais fenícios e os adaptaram para suas necessidades, transformando cinco
consoantes em vogais, chamadas de alfa, epsílon, iota, omícron e ipsílon.
Assim como os gregos utilizaram o alfabeto fenício, os romanos tomaram o alfabeto
grego para a criação do seu próprio sistema de escrita, em latim, com 21 letras. Fonseca
(2008) aponta os motivos de este alfabeto ter se proliferado por muitas partes do mundo:
8 A ESCRITA cuneiforme. Disponível em: <http://universodahistoria.blogspot.com.br/2010/07/escrita-cuneiforme.html>. Acesso em 12 set. 2012.
9 ALFABETO fenício: legado cultural para a humanidade. Disponível em <http://veiasdahistoria.blogspot.com.br/2011/07/alfabeto-fenicio-legado-cultural-para.html>. Acesso em 12 set. 2012.
17
É na forma romana e por intermédio do Império Romano que o alfabeto se espalhou por toda a Europa e por muitas partes do mundo como sistema de escrita. Com um sistema simples como esse e materiais de escrever portáteis como o papiro, os tabletes de madeira ou as folhas escritas, a correspondência se tornou um componente trivial da vida quotidiana. O alfabeto romano é considerado a versão mais antiga do alfabeto hoje usado (FONSECA, 2008, p.26).
Ainda segundo Fonseca (2008), um dos mais belos exemplos da utilização das letras
romanas está na inscrição da Coluna de Trajano, em Roma. As letras possuem o nome de
Capitalis Quadrata e mostram a introdução de serifas10, inexistentes nas letras anteriores.
Além da Capitalis, surgiram também a escrita Rústica (uma versão condensada11 da Capitalis)
e a letra cursiva12 romana (mais utilizada para o dia-a-dia).
Figura 2– Inscrição na Coluna de Trajano13.
2.2. Império Romano e Idade Média
Depois da queda do império romano, é estabelecido o feudalismo e o mundo entra na
Idade das Trevas. A igreja cristã romana emerge como uma força unificadora da Europa. E,
segundo Clair e Busic-Snyder (2009), são estabelecidos mosteiros isolados, onde o
aprendizado e as cópias de textos religiosos são limitados a determinadas áreas geográficas.
10 Segundo a ADG (1998, p.98), serifa é o “pequeno traço que aparece na extremidade das hastes de uma letra. Também chamado de remate ou filete”. Ver item 3.2, subitem 3.2.4.
11 Tipo condensado, de acordo com Clair e Busic-Snyder (2009, p.258) é o “tipo que foi comprimido ao longo do eixo horizontal, resultando em uma aparência alta e delgada; às vezes chamado de comprimido, um tipo condensado é mais alto do que largo”.
12 Segundo a ADG (1998, p.33) letra cursiva é o “desenho tipográfico que se assemelha à escrita manual [...]”.13 AS LETRAS dos romanos, 1. Disponível em: <http://tipografos.net/escrita/letra-dos-romanos-1.html>. Acesso em 12 set. 2012.
18
Nas terras celtas14 surge uma forma mais arredondada do alfabeto romano,
denominada uncial. Acredita-se, segundo Clair e Busic Snyder (2009), que estas letras são as
precursoras de nossas letras minúsculas. Elas economizavam espaço, eram mais rápidas de
serem escritas e mais fáceis de serem lidas justamente por possuir variações maiúsculas e
minúsculas, algo que ainda não existia.
No início da Idade Média (anos 500 e 750), as terras do império romano se repartem
em vários povos independentes, fazendo que o idioma latino evoluísse em dialetos regionais.
Quando Carlos Magno subiu ao poder, sua preocupação era com a arte e o ensino:
Em 768, o líder dos gauleses, Carlos Magno, emergiu como um poderoso chefe militar, ficando conhecido como um soberano que favoreceu o ensino e as artes. Ele decretou a adoção de todo o império de um estilo padronizado de escrita, estendido à maior parte da área que compreende a Europa dos dias modernos. Para tanto, nomeou um monge inglês, o estudioso Alcuin de York, incumbindo-lhe de supervisionar a cópia de muitos manuscritos antigos (FONSECA, 2008, p.34).
Ainda segundo Fonseca (2008), Alcuin, que era um monge treinado por celtas, cria um
estilo imperial de escrita, similar às unciais celtas, para ser adotado por todo o império. A letra
criada foi chamada de Carolíngia. Nas duas décadas que se seguiram, Alcuin refinou o estilo,
criando documentos considerados por Fonseca (2008) parte dos mais legíveis da história.
Após o declínio do império de Carlos Magno, surge outro tipo de escrita, o chamado
gótico. Clair e Busic-Snyder (2009, p.44) definem-no como “[...] angular e condensado; Eram
dominantes os traços verticais pesados, fazendo com que curvas desaparecessem.” Perde-se a
clareza da Carolíngia e a escrita fica conhecida como letra negra. Fonseca (2008) diz que os
caracteres são opressores e escuros, tornando a página extremamente carregada.
Fonseca (2008) ainda diz que os textos religiosos, que utilizavam o estilo gótico eram
os mais difundidos nesta época. Cria-se então uma relação entre estes dois fatores. Após
centenas de anos, as letras góticas ainda fornecem tonalidades religiosas. Muitos historiadores
também comparam este estilo às pontas das catedrais do mesmo período.
14 De acordo com Clair e Busic-Snyder (2009), as terras celtas referem-se à povos da Inglaterra, Irlanda, Escócia, País de Gales, Bretanha e várias outras terras gaulesas.
19
Figura 3 – Alfabeto uncial15, letra carolíngia16 e letras negras (góticas)17, respectivamente.
2.3. Renascença e início da prensa
A Renascença dura cerca de dois séculos, da metade dos anos 1400 até o final dos
anos 1600. De acordo com Fonseca (2008, p.43), “foi um período marcado pelo fascínio pela
arte, pelos artefatos, pela arquitetura, pela linguagem, enfim, pela cultura da Antiguidade
grega e romana”.
Em 1456, segundo Lupton (2010, tradução do autor), Gutenberg inventa a prensa
com tipos móveis e revoluciona o modo de compartilhar conhecimento. Não dependendo mais
de escribas para copiar documentos à mão livre, a impressão com tipos móveis possibilita a
disseminação em massa da informação pelo mundo Ocidental. Grandes quantidades de letras
agora são fundidas em moldes e montadas sob um equipamento que consegue imprimi-las no
papel e, depois que um livro era impresso, os tipos eram guardados e reutilizados em outras
impressões, pois são reutilizáveis.
Segundo Clair e Busic-Snyder (2009), a grande inovação foi ter criado caracteres
individuais reutilizáveis de metal, invés de fundir a página inteira em uma única peça. Era
possível combinar tipos necessários para criar o documento desejado e depois utilizar os
mesmos tipos para imprimir outro texto completamente diferente.
Anterior à Gutenberg, os chineses já imprimiam em massa. No ano 270, já existem
prensas funcionando na China, porém seu funcionamento consistia em blocos sólidos de
madeira com uma parte ou a página inteira entalhada:
15 CLAIR, Kate; BUSIC-SNYDER, Cynthia. Manual da Tipografia: a história, a técnica e a arte. 2.ed. Tradução Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookman, 2009.
16 CLAIR, Kate; BUSIC-SNYDER, Cynthia. Manual da Tipografia: a história, a técnica e a arte. 2.ed. Tradução Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookman, 2009.
17 BLACK Letter. Disponível em <http://bigamericannight.com/black-letter/>. Acesso em 12 set. 2012.
20
Por volta de 270 d.C., os chineses estavam fazendo cópias impressas de blocos de madeira gravados. Algumas áreas de um bloco sólido de madeira eram escavadas, deixando uma superfície elevada. Uma tinta à base d’água era passada sobre a superfície elevada e absorvida pelos grãos de madeira. Era então aplicada uma folha de papel sobre a superfície e esfregada para que a imagem fosse transferida do bloco de madeira para o papel. Às vezes vários blocos eram arranjados para imprimir uma única folha de papel, podendo ser entintados com diferentes cores (CLAIR; BUSIC-SNYDER, 2009, p.44).
Lupton (2010, tradução do autor) acredita que este método de impressão chinês se
provou pouco efetivo na China por causa do complicado alfabeto chinês. Enquanto este
alfabeto utiliza-se de milhares de caracteres para representar a fala, o alfabeto latino se resume
a um pequeno conjunto de letras que representam sons específicos da língua. Por ser menor e
depender de poucos elementos para a sua construção, as letras latinas são mais fáceis de
serem mecanizadas, possibilitando o avanço da impressão com tipos móveis.
Sobre a utilização do estilo tipográfico de Gutenberg, explica-se que as letras góticas
foram uma convenção utilizada para os manuscritos alemães quando a prensa se desenvolveu.
Segundo Fonseca (2008), a meta para Gutenberg era criar uma página que imitasse um
manuscrito (escrito em estilo gótico), pois na época não havia outra forma disponível de
escrever ou desenhar letras.
Quando a prensa vai para a Itália, os escribas humanistas rejeitam as letras góticas
(letras negras), pois elas não fecham com seu estilo artístico. Invés disso, utilizam o seu
próprio estilo de escrita, chamado de lettera antica18, mais característico ao movimento
renascentista da época:
A preferência da lettera antica fez parte do renascimento da arte clássica e literatura. Nicolas Jenson, um francês que aprendeu a imprimir na Alemanha, estabeleceu sua influente empresa de impressão em Veneza, por volta de 1469. Seus tipos combinavam as tradições góticas que ele conheceu na França e Alemanha, com o gosto italiano por formas mais redondas e claras. Estas são consideradas dentre os primeiros—e melhores—tipos romanos (LUPTON, 2010, p.15, tradução do autor).
18 “Significando ‘letra antiga’, acredita-se que seja a redescoberta de uma variação do estilo carolíngio, no século XV, quando foi renovada e mais tarde copiada pelos primeiros impressores” (CLAIR e BUSIC-SNYDER 2009, p.367).
21
Não demorou para que o caractere impresso se desvencilhasse da escrita. Por volta de
1530, um francês chamado Claude Garamond apresenta seus primeiros tipos em Paris. De
acordo com Clair e Busic-Snyder (2009), Garamond percebe o fato que a palavra impressa
depende de um substrato de metal, portanto suas letras deixam de imitar formas tradicionais
da escrita e tomam a direção de formas refinadas e acuradas.
Figura 4– Bíblia de Gutenberg19, composição de Nicolas Jenson20 e Adobe Garamond21, respectivamente.
2.4. Industrialização e tipografia desvencilhada da escrita
Começando no século XVII, segundo Clair e Busic-Snyder (2009), a mecanização faz
com que a produção de tipos cresça de forma rápida. Os mesmos autores (2009, p.69) ainda
afirmam que “[...] a tipografia transicionou desde caracteres de textos claros, práticos e
legíveis até as faces de tipos22 altamente ornamentadas que apareceram nos primeiros
anúncios de propaganda da era vitoriana”.
Erik Spiekermann (2011) nos dá um panorama geral sobre como a tipografia foi
influenciada pela escrita e suas ferramentas:
Dos mercadores mediterrâneos anotando em tabletes de argila, aos maçons romanos esculpindo letras na pedra, aos monges medievais empunhando penas sobre pergaminhos, o aspecto das letras sempre foi influenciado pelos instrumentos usados para escrevê-las. Há duzentos anos, a gravação em chapas de cobre alterou a
19 TECHNOLOGY Returns Gutenberg Bible to The Masses. Disponível em <http://www.dclab.com/ digital_gutenberg.asp>. Acesso em 12 set. 2012.
20 CLARIFICATION. Disponível em <http://www.noamberg.com/thesis/blowrg/?p=129>. Acesso em 12 set. 2012.21 GARAMOND 3. Disponível em <http://www.identifont.com/show?M5>. Acesso em 12 set. 2012.22 Face de tipo, ou typeface, segundo Clair e Busic-Snyder (2009, p.378), é o “design específico dos caracteres de um alfabeto, incluindo as
letras em caixa-alta e caixa-baixa, algarismos, símbolos, caracteres alternativos e pontuação em todos os tamanhos disponibilizados”.
22
aparência da tipografia, assim como o fizeram as tecnologias posteriores: o pantógrafo, as máquinas Monotype e Linotype, compositores de fotoletras, bitmaps digitais e fontes vetoriais (SPIEKERMANN, 2011, p.159).
A tipografia do século XVIII é influenciada por novos estilos de escrita à mão livre.
Segundo Lupton (2010, tradução do autor), impressores como William Caslon e John
Baskerville utilizam outras ferramentas para a escrita, possibilitando linhas mais finas e mais
contrastantes. Baskerville cria tipos cujo contraste entre linhas grossas e finas é extremo para
a época, causando estranhamento por parte dos leitores.
Na virada do século XVIII para o XIX, Giambattista Bodoni na Itália e Firmin Didot
na França compartilham o gosto de Baskerville para os extremos. Ainda segundo Lupton
(2010, tradução do autor), por causa de seu grande contraste entre traços grossos e finos,
serifas retas e eixo vertical, os tipos criados por eles são o portão de entrada para a tipografia
desarticulada da caligrafia. Este estilo foi chamado de moderno.
No século XIX foram usadas novas tecnologias, formas e aplicações do design gráfico.
Joaquim da Fonseca (2008) diz que a necessidade de comunicação de massa23 cria um
estímulo para utilização de cartazes, anúncios e publicações periódicas, criando uma
comunicação para a massa industrializada da época.
Figura 5 – Alfabetos de John Baskerville24, Giambattista Bodoni25 e Firmin Didot26, respectivamente.
23 Segundo o Dicionário Novo Aurélio (1999, p.517) comunicação de massa é a “comunicação social dirigida a uma ampla faixa de público, anônimo, disperso e heterogêneo, atingindo simultaneamente (ou a breve trecho) uma grande audiência, graças à utilização dos meios de comunicação de massa”.
24 MONOTYPE Baskerville. Disponível em <http://www.myfonts.com/fonts/bitstream/baskerville/>. Acesso em 12 set. 2012.
25 BODONI. Disponível em <http://www.myfonts.com/fonts/bitstream/atf-bodoni/>. Acesso em 12 de set. 2012.
26 DIDOT. Disponível em <http://www.myfonts.com/fonts/adobe/linotype-didot/>. Acesso em 12 set. 2012.
23
2.5. Letras sem serifa, William Caslon IV e Akzidenz Grotesk
As letras sem serifa também possuem sua própria jornada histórica. De acordo com
Bringhurst (2011), em Atenas e depois em Roma, as letras sem serifa não moduladas (com
pouca variação grosso-fino em seus traços) eram emblemas da república, enquanto as letras
moduladas, com serifas bilaterais, eram características escriturais do império. Essas
características também criaram uma conexão, também de acordo com Bringhurst (2011), entre
formas sem serifa e movimentos populistas ou democráticos, reaparecendo na Itália
renascentista e na Europa setentrional nos séculos XVIII e XIX.
Bringhurst explica também o surgimento dos primeiros tipos sem serifa, ou seja,
caracteres criados especialmente para a reprodução de modo industrial:
Os primeiros tipos sem serifa foram gravados no século 18, mas para outros alfabetos que não o latino. Um tipo de impressão latino sem serifa foi gravado para Valentin Haüy, em Paris, no ano de 1786 – mas o tipo de Haüy foi pensado para ser invisível. Seu propósito era ser aplicado em baixo-relevo, sem tinta, para que os cegos pudessem lê-lo com os dedos. O primeiro tipo latino sem serifa feito para quem podia ver, gravado por William Caslon IV em Londres em torno de 1812, baseou-se nas letras dos pintores de letreiros e tinha apenas maiúsculas. As fontes bicamerais (com caixa-alta e baixa) sem serifa aparentemente tiveram sua primeira gravação feita em Leipzig na década de 1820 (2011, p.278).
Portanto, as primeiras letras sem serifa destinadas à impressão em massa eram uma
tentativa de criar um alfabeto para deficientes visuais, porém o autor não comenta sobre sua
eficácia. 26 anos depois, William Caslon IV cria o primeiro tipo não serifado visível dando
início a uma nova fase da tipografia. Por causa da novidade, segundo Clair e Busic-Snyder
(2009, p.78) os tipos não serifados “foram denominados Grotescos na Europa e Góticos na
América, porque muitos acharam que essas letras tinham uma aparência bárbara e estranha”.
As inovações tecnológicas da revolução industrial possibilitam a substituição de
prensas manuais por prensas a vapor. Ainda assim, segundo Joaquim da Fonseca (2008), cada
letra deveria ser criada manualmente. Para facilitar isso, surgem máquinas de composição
tipográfica, como a Linotype, em 1886, e a Monotype, em 1887.
24
Figura 6 – Tipo de William Caslon IV27, introduzindo a forma não serifada visível.
A maioria dos tipos sem serifa do século XIX (1801–1900), de acordo com Bringhurst
(2011), são escuros, grosseiros e fechados: lembranças culturais da Revolução Industrial. O
tipo Akzidenz Grotesk (ou Odd-job Sanserif, em inglês), editado pela fundição Berthold em
1898, também segundo Bringhurst (2011), é o ancestral do tipo Franklin Gothic (1903) e da
Helvetica (1952). De acordo com Claudio Rocha (2005), a Akzidenz reforçava a tese que um
tipo não precisaria ser uniforme para ser legível e atraente, pois eram justamente as diferenças
internas entre as letras que proporcionavam legibilidade.
Figura 7 – Tipo Akzidenz Grotesk BQ Regular28.
2.6. A propaganda influencia a tipografia
Em 1820, segundo Clair e Busic-Snyder (2009), começam a surgir tipos decorativos
ou display (especiais para títulos). A revolução industrial estava em alta e, por causa da
grande necessidade de venda do setor manufatureiro, elevou-se a importância dos anúncios
publicitários. Quem veiculava anúncios tinha objetivo de chamar atenção para seus produtos e
serviços. Por causa disso, tipos inusitados aparecem para serem usados em qualquer tipo de
material da época. Grandes variações de fontes tornam-se importantes para espalhar
mensagens sobre novos produtos.
27 ROCHA, Claudio. Projeto Tipográfico: análise e produção de fontes digitais. 3.ed. São Paulo: Edições Rosari, 2005.28
AKZIDENZ Grotesk BQ Regular. Disponível em <http://www.myfonts.com/fonts/berthold/akzidenz-grotesk-bq/regular/>. Acesso em 7 nov. 2012.
25
Nesta época utilizam-se tipos de madeira para conseguir reproduzir as letras
exageradas, como confirma Joaquim da Fonseca:
Os tipos de madeira foram uma solução para a propaganda de dimensões muito grandes, como cartazes, títulos de anúncios ou vitrines. Em vez de ser feitos em metal, esses tipos eram recortados em madeira, perpendicularmente à fibra. Tendo peso e custo menores, bem como maior facilidade de reprodução, os tipos de madeira eram usados em corpos que começavam com 2,5cm de altura, atingindo tamanhos tão grandes quanto 2m de altura (2008, p.58).
Anteriormente, segundo Clair e Busic Snyder (2009), as mudanças na tipografia foram
orientadas pelos instrumentos, materiais e pela tecnologia utilizada e presente na época.
Porém, quem orientou o design de tipos neste período foi a indústria manufatureira,
impulsionada pela revolução industrial.
2.7. Século XX
Clair e Busic-Snyder (2009) traçam um panorama histórico do começo do século XX:
inovações significativas são introduzidas na ciência e tecnologia. Nos anos 1900, a luz elétrica
torna-se uma alterativa à iluminação a gás. É feita a primeira transmissão de rádio da
Inglaterra aos EUA. O avião é inventado e Henry Ford fabrica seus primeiros carros. Neste
século, vários movimentos artísticos surgem em diferentes lugares do mundo e em diferentes
épocas. Os movimentos mais relevantes são explicados neste capítulo.
2.7.1. Arts and Crafts
Segundo Jonathan Raimes e Lakshmi Bhaskaran (2007), o movimento Arts and Crafts
surge em 1861 na Inglaterra como um contraponto à Revolução Industrial, defendendo o
design e o ofício da tipografia. A principal figura britânica é William Morris, que cria a
Kelmscott Press, famosa por suas tapeçarias, vitrais, projetos de interiores e estampas
26
baseadas em flores e natureza. Nos EUA, a principal figura artística, segundo Jonathan
Raimes e Lakshmi Bhaskaran (2007), é Gustav Strickley, que faz florescer o movimento
americano entre 1890 e 1914.
Joaquim da Fonseca (2008, p.63) complementa dizendo que o movimento Arts and
Crafts “foi caracterizado pela revivência da riqueza dos estilos góticos medievais, com a
intenção de proporcionar ao homem comum objetos feitos à mão, produzidos com arte e bom
gosto”. Como os artefatos são feitos artesanalmente, geram um custo maior de venda,
limitando a compra às classes mais altas da sociedade britânica.
Figura 8 – Livro Geoffrey Chaucer29 impresso pela Kelmscott Press.
2.7.2. Art Nouveau
Os anos 1880 até a Primeira Guerra Mundial, segundo Fonseca (2008), são
caracterizados pela Art Nouveau, um estilo de arte ornamental, com linhas orgânicas e
fluentes, inspiradas na natureza. Produzem uma tipografia conhecida pelo seu desenho
peculiar, como a Arnold Böcklin ou a Artistik. Jonathan Raimes e Lakshmi Bhaskaran (2007)
argumentam que esse movimento abrange várias áreas artísticas, como arquitetura, interiores
e design de produtos, utilizando formas naturais para criar desenhos foliáceos e orgânicos.
29 WILLIAM Morris. Disponível em <http://tipografos.net/blowups/KelmscottPressChaucer.htm>. Acesso em 12 set. 2012.
27
Figura 9 – Arnold Böcklin30.
2.7.3. Futurismo
Joaquim da Fonseca (2008, p.64) afirma que os futuristas buscam a “glorificação dos
aspectos do mundo moderno, como a velocidade, os automóveis e os aeroplanos”. Jonathan
Raimes e Lakshmi Bhaskaran nos dão um panorama da visão tipográfica deste movimento, a
partir do escritor do Manifesto Futurista: Filippo Tommaso Marinetti:
Marinetti defendia o conceito de “arquitetura tipográfica” para “redobrar a força expressiva das palavras”. Isso consistia em composições visualmente chamativas, usando textos em fontes múltiplas dispostas na página em diferentes direções e diversos tamanhos, cores sobrepostas e espaçamento entre letras. Para demonstrar seu entusiasmo pela tecnologia de forma ainda mais explícita, Marinetti, às vezes, usava chapas metálicas para encadernar seus livros (2007, p.72).
O movimento futurista, portanto, torna a arte mais experimental, utilizando vários
tamanhos e distorções para criar composições diferentes e chamativas. O movimento acredita
que as letras possuem uma expressão própria e são elementos que, conforme sua disposição
na página, comunicam uma mensagem visual, além da textual.
30 FONSECA, Joaquim; Tipografia e Design Gráfico: design e produção gráfica de impressos e livros. Porto Alegre: Bookman, 2008.
28
Figura 10 – F. T. Marinetti: Montagne + Vallate + Strade x Joffre (1915) 31.
2.7.4. Dadaísmo
O dadaísmo rejeita a organização do tipo dentro da página e, segundo Clair e Busic-
Snyder (2009), utiliza os tipos como meio de expressão. Os dadaístas criam layouts32
rejeitando a formalidade horizontal e vertical, compostos diretamente na máquina de
impressão. Acreditam que o caos causado por esse meio de composição intuitiva justifica o
sentido da época (anos 1920). Clair e Busic-Snyder (2009, p.97) dizem que o “niilismo
filosófico e a angústia existencial entre os sobreviventes da guerra eram combinados com as
cicatrizes físicas e psicológicas deixadas pelo conflito”.
Figura 11 – Pôster "Little Dada Soirée" de Kurt Schwitters e Theo van Doesburg, 192333.
31 F. T. MARINETTI, “Montagne + Vallate + Strade x Joffre”. Disponível em <http://www.flickr.com/photos/laurapopdesign/32963386 85/>. Acesso em 12 set. 2012.
32 “Peça produzida artesanalmente para a visualização e interpretação de um projeto. Instrumento de depuração do próprio projeto, quando destinado ao cliente, deve simular, da melhor forma possível, o produto final” (ADG BRASIL, 1998, p.67). 33
RAIMES, Jonathan; BHASKARAN, Lakshmi. Design retrô: 100 anos de design gráfico. Tradução Claudio Carina. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007.
29
2.7.5. Bauhaus
A Bauhaus surge depois da Primeira Grande Guerra. A escola se preocupa muito mais
com a função do que com a beleza de suas criações:
A Bauhaus, por seu lado, rejeitava a relevância da “beleza como um conceito em favor do funcionalismo industrial”. Surgindo nos anos 1920 e 1930, esses estilos reapareceram nos anos 1970 e depois nos 1980. O movimento deflagrado pela Das Staaaliche Bauhaus Weimar – ou Bauhaus simplesmente, uma escola de design fundada em 1919 por Walter Gropius na cidade de Weimar, Alemanha, para pesquisa e ensino de arquitetura, design industrial, design gráfico, fotografia e tipografia – enfatizava extremamente as formas geométricas e o funcionalismo. As regras emitidas por essa escola na área tipográfica chegaram a estabelecer um estereótipo identificado como “tipografia Bauhaus” (FONSECA, 2008, p.68).
Moholy-Nagy, um dos participantes da escola, segundo Clair e Busic-Snyder (2009),
afirma que a tipografia deve ser elevada a um patamar mais alto na página. Ele acredita que se
conseguia tensão e contraste visual por meio da disposição dos tipos, mudando-os para
posições de ênfase e significado invés de serem apenas elementos decorativos. Além disso,
encoraja os estudantes a criarem tipos funcionais, sem qualquer decoração individual.
Joaquim da Fonseca (2008, p.68) complementa a importância da tipografia na
Bauhaus dizendo que “quase por definição, Bauhaus significa tipos sem serifa”. Depois cita
um exemplo clássico: o Futura, um tipo geométrico não serifado que causa grande revolução
na época, pois era contrário ao que estava se fazendo na Alemanha. A tipografia alemã era
composta usualmente por caracteres góticos e pesados, como a Fraktur. Portanto, a inserção
de um tipo sem serifa, limpo e universal, causou estranhamento nos leitores.
De acordo com Fonseca (2008), os internacionalistas da Bauhaus propõem um tipo
limpo, universal, sem serifas, enfatizando a utilização de letras minúsculas apenas. Na língua
alemã, o uso de maiúsculas é frequente, inclusive para designar substantivos e Herbert Bayer,
participante da escola, ainda segundo Fonseca (2008) questiona a utilização de dois alfabetos
para escrever a mesma língua.
30
Figura 12 – Tipo "Strum blond", criado por Herbert Bayer em 192534.
2.7.6. De Stijl
De Stijl, segundo Jonathan Raimes e Lakshmi Bhaskaran (2007), é fundado em 1917
pelo designer, pintor e escritor holandês Theo van Doesburg. O movimento rejeita a
extravagância em favor da economia, além de ser extremamente matemático, visando a
abstração total e geometria de seus elementos.
Clair e Busic-Snyder (2009) exemplificam tipograficamente, falando que Theo van
Doesburg desenvolve, em 1919, uma fonte tipográfica denominada An Alphabet. Esta fonte
segue a filosofia do movimento proposto por ele e, por isso, os caracteres são baseados
exclusivamente em um quadrado. As letras não possuem curvas ou diagonais, pois refletem
uma estética moderna e geométrica.
Figura 13 – An Alphabet: tipo criado por Theo van Doesburg em 191935.
34 HERBERT Bayer (1900 – 1985). Disponível em <http://tipografos.net/bauhaus/bayer.html>. Acesso em 15 set. 2012.35 LUPTON, Ellen; Thinking with type: a critical guide for designers, writers, editors & students. 2.ed. Princeton Architectural Press. Nova
York, 2010.
31
2.7.7.Construtivismo
O estilo construtivista é caracterizado por elementos simples, lineares e pela utilização
de planos angulosos, diagonais, segundo Clair e Busic-Snyder (2009). Raimes e Bhaskaran
(2007) contextualizam historicamente esse movimento:
Inspirado por um movimento soviético precedente (a vanguarda russa), o objetivo do construtivismo russo era unir a arte ao trabalho, criando um design utilitário que se relacionasse com a indústria e a propaganda e que “servisse” ao proletariado. Os construtivistas acreditavam que o design gráfico deveria privilegiar a legibilidade, baseando-se numa geometria e numa escrita simplificada de caracteres cirílicos, que seria mais acessível a um grupo de trabalhadores em sua maioria analfabetos (p.44).
El Lissitzky, segundo Clair e Busic-Snyder, “criou layouts tipográficos inovativos,
rompendo com os limites dos eixos verticais e horizontais das composições” (2009, p.100).
Raimes e Bhaskaran (2007) dizem que Lissitzky acredita que o quadrado era a fonte da
expressão criativa. Ele utiliza cores primárias e formas geométricas que flutuavam no espaço,
acreditando que essa linguagem iria ser compreendida universalmente.
Figura 14 – Cartaz "Bata nos brancos com a cunha vermelha", El Lissitzky, 192036.
2.7.8. Die Neue Typographie
36 RAIMES, Jonathan; BHASKARAN, Lakshmi. Design retrô: 100 anos de design gráfico. Tradução Claudio Carina. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007.
32
Jan Tschichold é um dos maiores expoentes do Die Neue Typographie (a nova
tipografia, em tradução livre) e um dos mais importantes designers gráficos do século XX,
segundo Jonathan Raimes e Lakshmi Bhaskaran (2007). Raimes e Bhaskaran falam sobre este
movimento artístico: “o estilo se desenvolveu na Europa, no período entre as duas guerras
mundiais e se caracterizava por tipos geométricos sem serifa e composições assimétricas
simplificadas” (2007, p.62), muito parecido com a Bauhaus. Clair e Busic-Snyder falam sobre
estas e outras influências de Tschichold, além de sua famosa obra A Nova Tipografia:
Influenciado pelos ideais de minimalismo da Bauhaus e do construtivismo, Tschichold explorou o uso de layouts assimétricos, diagonais e fontes tipográficas sem serifas, tudo claramente organizado dentro de uma malha estrutural. Enquanto lecionava em Munique sob a direção de Paul Renner, em 1928, ele codificou seus princípios tipográficos em A Nova Tipografia, destinado a uma audiência mais ampla de designers, impressores e desenhistas de letras. A decoração foi julgada desnecessária, e ele apresentou a idéia [sic] de que a comunicação clara devia ditar todas as decisões de layout. A cor dentro da composição era obtida pelo equilíbrio de fontes tipográficas sem serifas em variações de claro, negrito, condensadas e expandidas. O espaço branco era visto como um elemento integrante e essencial em qualquer layout (2009, p.101).
A Nova Tipografia é um movimento baseado em grids37 matemáticos. Os tipos
desempenham um papel neutro, por isso não devem ter embelezamentos desnecessários em
sua construção. Priorizava-se a comunicação funcional clara e sem distrações.
37 Trama ou malha modular que serve como base para construção de diagramas. Pode ser aplicado em relação à construção de um desenho como também em relação a uma diagramação (ADG BRASIL, 1998, p.54).
33
Figura 15 – Cartaz de cinema de Jan Tschichold "Die Frau ohne Namen. Zweiter Teil", 192738.
2.7.9. Escola Suíça
No final da Segunda Guerra Mundial, segundo Jonathan Raimes e Lakshmi Bhaskaran
(2007), um novo estilo surgiu na Alemanha e na Suíça. Chamado de “escola suíça” ou “estilo
tipográfico internacional” baseava-se na abordagem limpa, objetiva e funcional do design.
Acreditava-se que a tipografia não serifada expressava o espírito progressivo do movimento e
o uso de grades matemáticas (grids) fornecia a estrutura que alicerçava suas peças. Um dos
pioneiros do movimento, também segundo Raimes e Lakshmi, foi Max Bill: arquiteto, pintor
e designer que estudou na Bauhaus. Os tipos que ele utiliza são simples e descomplicados, em
geral, condensados e comprimidos.
Segundo Ellen Lupton, é justamente nessa época que o termo grid ficou amplamente
conhecido e aplicado:
Foi nessa época que o termo grid (Raster) tornou-se comumente aplicado no layout de páginas. Max Bill, Karl Gerstner, Josef Müller-Brockmann, Emil Ruder e outros, eram praticantes e teóricos do novo racionalismo que pretendia catalisar uma sociedade honesta e democrática. Rejeitando os clichês artísticos de auto expressão e intuição ignorante, eles aspiravam ao que Ruder dizia ser “uma beleza fascinante e fria” (2010, p.165, tradução do autor).
38 RAIMES, Jonathan; BHASKARAN, Lakshmi. Design retrô: 100 anos de design gráfico. Tradução Claudio Carina. São Paulo: Editora Senac São Paulo, 2007.
34
Os internacionalistas acreditam que suas peças deveriam ser limpas, claras, objetivas,
sem a sua interpretação pessoal do assunto. Acreditava-se em uma comunicação universal,
por isso a utilização de tipos sem serifa neutros, sem detalhes estilísticos que evidenciassem
um país ou uma região.
Figura 16 – Cartazes de Max Bill, Herbert Matter e Theo Ballmer, respectivamente39.
2.7.10. Tipos Helvetica e Univers
A popularidade da Helvetica atingiu um nível extremo, segundo Clair e Busic-Snyder
(2009), seu uso compreende-se desde sinalizações rodoviárias até embalagens de alimentos e
rótulos de etiquetas. Ela é desenhada em 1956 por Max Miedinger, de acordo com Bringhurst
(2011), e é uma revisão suíça do tipo Akzidenz Grotesk. A Helvetica, primeiramente, foi
lançada com o nome de Haas Grotesk e depois rebatizada como Neue Haas Grotesk para,
enfim, ser chamada de Helvetica. Claudio Rocha escreve um resumo desta história:
Na década de 1950, Eduard Hoffmann, diretor da typefoundry suíça Haas’sche Schriftgiesserei AG, decidiu produzir um tipo para concorrer com a Folio (da Bauer) e a Akzidenz Gortesk (sic) (da Berthold). Ao invés de contratar um desenhista, pediu aos puncionistas da empresa que desenvolvessem, do dia para a noite, um tipo sem serifa. Cada um deles recebeu a incumbência de produzir alguns caracteres, aleatoriamente. O resultado não satisfez completamente a Hoffmann, mas o tipo foi para o mercado assim mesmo. Pouco tempo depois, o suíço Max Miedinger, um funcionário do departamento de vendas da Haas, foi chamado por Hoffmann para refazer os desenhos dos caracteres, sob sua direção e, em 1956, o tipo foi relançado
39 TERROR, Diogo. Lessons From Swiss Style Graphic Design. Disponível em <http://www.smashing magazine.com/2009/07/17/lessons-from-swiss-style-graphic-design/>. Acesso em 13 set. 2012.
35
com o nome Neue Haas Grotesk. Em 1961, a typefoundry alemã D. Stempel AG, subsidiária da Linotype, foi licenciada para produzir matrizes para a linotipo e o tipo foi novamente relançado, agora no mercado internacional. O nome escolhido foi Helvetica, mais adequado aos consumidores de língua inglesa (2005, p.129).
Em 1983, segundo Claudio Rocha (2005), a Helvetica foi lançada em uma nova
versão, a Neue Helvetica. Essa versão foi revisada, com objetivo de melhorar a legibilidade e
melhorar o espacejamento e o alinhamento entre os caracteres. Rocha (2005) também
argumenta que este tipo virou símbolo da Escola Suíça, pois é limpo e universal, deixando o
estilo individual do designer de lado.
O tipo Univers, de acordo com Clair e Busic-Snyder (2009), é desenhado por Adrian
Frutiger entre 1954 e 1957. Os caracteres possuem origem, segundo Claudio Rocha (2005),
em exercícios feitos em 1949, quando Adrian tinha 21 anos e era estudante da Escola de Artes
e Ofícios de Zurique. Além de desenhar os tipos, ele inventa um sistema numérico para
classificar as 21 variações de peso40 e estilo41 dentro da família tipográfica, pois, ainda
segundo Claudio Rocha (2005), é mais fácil para alcançar o mercado internacional, evitando a
grande confusão na nomenclatura dos tipos. A versão regular, ficando no centro da grade,
recebe o número 55.
Figura 17 – Tipo Helvetica com algumas variações de peso, lançado pela Linotype em 200042.
Segundo Clair e Busic-Snyder (2009), à medida que os caracteres se tornam mais
espessos, o número da fonte se torna maior (Univers 75) e, à medida que eles se tornam mais
finos, o número torna-se menor (Univers 45). O peso muda em 10 dígitos em uma escala de
40 Variações na espessura dos traços dos caracteres. Uma família de fontes pode incluir pesos light, book, bold, etc. Ver item 3.10.41 Condensado, expandido, itálico, etc. Ver item 3.10.42 HELVETICA. Disponível em <http://www.myfonts.com/fonts/linotype/helvetica/>. Acesso em 7 nov. 2012.
36
45, 55, 65 e 75. Os números pares são os caracteres itálicos e os ímpares os regulares. Há
também, de acordo com Clair e Busic-Snyder (2009) variações condensadas e expandidas,
mostradas em uma escala horizontal, porém com variações no segundo dígito, indo do número
3 (mais expandida), para o número 9 (mais condensada).
As letras sem serifa alcançaram enorme importância no Século XX. Segundo Fonseca
(2008), a mais conhecida delas é justamente a Helvetica. Outras letras incluem a Univers
(1952), Arial (1990–1992) e a Frutiger (1975). Algumas letras sem serifa possuem mais
contraste e um design humanístico, como a Gill Sans.
Figura 18 – Relações entre pesos e estilos da Univers43.
2.8. Revolução digital
A expansão dos computadores pessoais transforma o design gráfico no final dos anos
1980 e início dos anos 1990. A Apple revoluciona as indústrias de tipo quando lança seu
computador de uso amigável. Designers começam explorar a tecnologia, dando mais ênfase
na experimentação estética do que na legibilidade.
Zuzana Licko é um nome exponencial na experimentação digital da época. Segundo
Lupton (2010, tradução do autor), em 1985, Zuzana desenha letras que exploram a baixa
qualidade de equipamentos digitais primitivos. Invés de criar com base na tipografia
tradicional, ela cria com base nas limitações digitais. A tecnologia nos anos 1990 possibilita 43
ROCHA, Claudio. Projeto Tipográfico: análise e produção de fontes digitais. 3.ed. São Paulo: Edições Rosari, 2005.
37
qualquer pessoa que possua um equipamento ser um tipógrafo. Fonseca explica:
O controle proporcionado pelos programas de software sobre a tipografia e a utilização de programas de criação de fontes digitais, como Illustrator, o FreeHand, o Photoshop e o Fontographer, entre outros, deu lugar ao aparecimento de milhares de fontes tipográficas novas. (2008, p.73).
Joaquim da Fonseca (apud LICKO, 2008) acredita que a função da tipografia no
século XXI continua a mesma, comunicar.
A função primária do tipo permanece sendo a comunicação – e a comunicação é uma necessidade básica de nossa cultura. Para que se entendam entre si, os seres humanos requerem uma informação organizada, desde o layout da página até a forma do texto e a gramática do texto. Acredito que, à medida que a troca de informação se torna um requisito para a idade da informação de amanhã, o que nos espera são meios de expressão tipográfica altamente sofisticados e organizados (2008, p.75–76).
A informação está cada vez mais sendo exibida, armazenada e acessada na forma
digital. Assim, o design na tela ganha uma nova importância, pois a informação vista nela já é
a informação final. E esta informação deve ser organizada para que o entendimento e a troca
da mesma sejam possíveis.
Figura 19 – Alguns tipos de Zuzana Licko: Lo-Res44 (1985-2001), Lunatix45 (1988), Narly46 (1993).
44 LO RES. Disponível em <http://www.myfonts.com/fonts/emigre/lo-res/>. Acesso em 13 set. 2012.45
LUNATIX. Disponível em <http://www.myfonts.com/fonts/emigre/lunatix/>. Acesso em 13 set. 2012.46
NARLY. Disponível em <http://www.myfonts.com/fonts/emigre/narly/>. Acesso em 13 set. 2012.
38
3. CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS TIPOS
Nesta seção, os caracteres que compõem um alfabeto tipográfico são explicados e
exemplificados com base na pesquisa bibliográfica. Com estas informações, constrói-se um
tipo próprio. A construção do tipo experimental será mostrada no próximo capítulo.
3.1. Linha de base e altura-de-x
Clair e Busic-Snyder (2009, p.355) conceituam linha de base, ou baseline, como sendo
“a linha reta horizontal invisível ou imaginária na qual são alinhadas ou assentadas as serifas e
terminais inferiores”. A altura-de-x, segundo a Associação de Designers Gráficos do Brasil
(1998, p.11), é a “medida que vai da linha de base até o ponto mais alto da letra x de caixa
baixa.”
Figura 20 – Altura-de-x, linha de base, ascendentes, descendentes e linha das maiúsculas47.
Segundo Claudio Rocha (2005), a altura-de-x não é a mesma para todas as fontes. Por
exemplo, tipos do mesmo tamanho em pontos podem ter diferentes alturas-de-x, tornando o
corpo de uma letra maior que a outra.
Fonseca (2008) exemplifica melhor, dizendo que letras com ascendentes48 ou
descendentes49 muito extensas parecem menores que outras quando estão compostas no
47 DESIGN para CSSers – Tipografia, parte II. Disponível em <http://www.luli.com.br/2008/04/07/design-para-cssers-tipografia-parte-iii/>. Acesso em 25 set. 2012.
48 Ascendente, segundo Claudio Rocha (2005), é a parte que se prolonga acima da altura-de-x nas letras b, d, f, k, l e t.49 Descendente, segundo Rocha (2005) é a parte que se prolonga para baixo da linha de base das letras g, j, p, q, y e às vezes J.
39
mesmo corpo em caixa-baixa. Então, algumas letras ocupam mais espaço do que outras em
tipos diferentes. Isso pode ser conferido na imagem abaixo:
Figura 21 – Fontes Garamond e Arial compostas em tamanho de corpo de 24 pontos (Arial tem letras maiores) 50.
3.2. Tamanho
As letras possuem medidas horizontais e verticais que variam de um tipo para outro.
Essas medidas influenciam as proporções do alfabeto e, consequentemente, influem em sua
legibilidade, características e usabilidade.
Segundo Ellen Lupton (2010, tradução do autor), tentativas de uniformizar as medidas
dos tipos começam no século XVIII. A medida usada hoje é o sistema de pontos. Um ponto
(1pt) é igual a 1/72 polegada ou 0,35 milímetros. Doze pontos (12pt) são iguais a uma pica
(1p). Tipografia também pode ser medida em polegadas, milímetros ou pixels51.
O corpo do tipo, segundo Fonseca (2008, p.94), “é a medida da altura, em pontos,
calculada do alto da ascendente até a base da descendente da letra, mais certa quantidade de
espaço acima e abaixo, para impedir que as letras compostas em linhas subsequentes toquem
umas nas outras”. A abreviação da altura do corpo de tipo, também segundo Fonseca (2008),
é a letra c. Portanto, c9 significa que o corpo de letra tem 9 pontos de altura e assim por
diante: c12, c13, c15, etc.
3.3. Largura
Uma letra também tem sua medida horizontal. Segundo Ellen Lupton (2010, tradução
do autor), a largura da letra é a própria letra mais seu espaço lateral que a protege dos outros
50 FONSECA, Joaquim; Tipografia e Design Gráfico: design e produção gráfica de impressos e livros. Porto Alegre: Bookman, 2008.51 Segundo a ADG, pixel é “abreviação de picture element. Elemento mínimo utilizado por hardwares e softwares, e impressoras, para construção de imagens e letras” (1998, p.85)
40
caracteres, chamados de sidebearings. Isso é importante para as proporções do tipo. Há tipos
com espaços curtos e letras curtas, assim como há tipos com espaços largos e letras largas
(estilos condensados e estendidos).
Ainda segundo Lupton (2010, tradução do autor), há como distorcer fontes
digitalmente para que se pareçam mais largas, porém isso não é recomendado, pois irá
distorcer as letras, forçando seus elementos finos a se tornarem pesados e vice-versa. É
melhor escolher tipos projetados originalmente com proporções mais estendidas ou mais
condensadas, se for este o efeito desejado.
3.4. Caixa-alta e caixa-baixa
Segundo Clair e Busic-Snyder (2009), as modernas formas de letras têm herança das
inscrições romanas dos anos 50 – 120 d.C. As primeiras escritas latinas foram influenciadas
por estas formas e, com o passar do tempo, evoluíram com influência das letras carolíngias e
unciais. É por volta do século IX e século X que as letras caixa-baixa (minúsculas) começam
a se desenvolver.
Clair e Busic-Snyder comentam sobre como os textos eram escritos antigamente e
discorrem sobre o alfabeto moderno:
Os textos escritos manualmente pareciam-se com letras de imprensa até que os estudiosos mudaram a forma de escrever, usando letras capitais e pequenas bem como a escrita com letras mais oblíquas, conectadas umas com as outras. Gradualmente a escrita foi se tornando mais adaptada à rapidez permitida por novos instrumentos de escrever. [...] No final do século XVI, as antigas formas de letras capitais romanas e gregas tinham se transformado nas 26 letras que conhecemos hoje, tanto em caixa-alta como em caixa-baixa. [...] O alfabeto latino moderno consiste de 52 letras, incluindo caixa-alta e caixa-baixa, mais 10 algarismos, marcas de pontuação e uma variedade de outros símbolos como &, % e @ (2009, p.152).
Os caracteres caixa-baixa e caixa-alta são chamados assim em virtude da caixa de
tipos de metal utilizada por impressores gráficos. Segundo Joaquim da Fonseca (2008, p.86),
a caixa é “uma bandeja de madeira ou metal dividida em compartimentos ou caixotins de
vários tamanhos, nos quais são distribuídos os diferentes caracteres de uma fonte de tipos”.
41
A parte alta das caixas, ainda segundo Joaquim (2008) contém as letras maiúsculas
(também chamadas de versais ou capitais), a maior parte dos caracteres especiais e, às vezes,
maiúsculas pequenas (versaletes). A parte baixa da caixa contém as letras minúsculas, os
espaços, os algarismos e os sinais mais usados. Desse modo, por ficarem em cima, maiúsculas
são chamadas de caixa-alta e, por ficarem embaixo, minúsculas são chamadas de caixa-baixa.
Figura 22 – Caixa tipográfica52.
3.5. Anatomia tipográfica
Empregar a nomenclatura correta é vital na comunicação técnica. Segundo Claudio
Rocha (2005, p.38), “é necessário construir um vocabulário tipográfico, com os termos que
identificam as partes das letras. Não são muitos os nomes e a maioria tem significado óbvio”.
Para ver a imagem completa da anatomia tipográfica, consulte o anexo A.
3.5.1. Eixo, ascendente e descendente
O eixo, segundo Claudio Rocha (2005) é o ângulo de inclinação característico de letras
como b, c, e, g, o, p e q.
52 INICIAÇÃO à tipografia. Disponível em <https://sites.google.com/a/essr.net/tipografia-na-soares-dos-reis/a-iniciao>. Acesso em 14 nov. 2012
42
O eixo definido pela inclinação resultante da escrita manual é chamado de eixo humanista (da época do renascimento) e o eixo vertical é conhecido como eixo racionalista. Não deve ser confundido com slope, que é uma variação de itálico, onde não há alteração do desenho original de uma fonte regular, apenas a inclinação dos caracteres originais para criar o efeito italizado. Geralmente as fontes que utilizam esse recurso são conhecidas com o nome oblique (ROCHA, 2005, p.39).
Ascendente, ainda segundo Claudio Rocha, é a parte que se prolonga acima da altura-
de-x nas letras b, d, f, k, l e t. Descendente é a parte que se prolonga para baixo da linha de
base das letras g, j, p, q, y e às vezes J.
Figura 23 – Descendente (23b), ascendente (26) e eixo (28), respectivamente53.
3.5.2. Traço, braços, pernas, ligação
O peso da fonte depende do tipo e da espessura do traço, também Segundo Clair e
Busic-Snyder (2009), o traço ultrafino (ou traço cabelo) se refere ao peso mais leve, enquanto
que o traço da haste54 refere-se ao peso maior ou traço principal da forma da letra.
O braço (barra), ainda segundo Clair e Busic-Snyder (2009), é o traço horizontal que
conecta dois outros traços em um caractere, como acontece nas letras A e H. A perna é a parte
da letra que se estende para baixo em menos de 90º, como nas letras R e K. Além da perna, há
também a cauda, presente na letra Q.
A barra cruzada é um traço horizontal que fica no meio de um traço no caractere, mas
fica livre em uma extremidade, como acontece no F, ou em ambos os lados, como no t.
53 TIPOGRAPHY isn’t secundary – part 2. Disponível em <http://pessoa.fct.unl.pt/p110371/nuno/2007/03/11/tipography-isnt-secundary-part-2/>. Acesso em 7 nov. 2012
54 Ver Anexo A, número 3.
43
Ligação (ou link), também segundo Clair e Busic-Snyder (p.160, 2009) “é o termo para o
traço que conecta o bojo e a volta de um g em caixa-baixa”.
Figura 24 – Braços horizontais (A, F), ligação (g), braços horizontais (E) e angulares (Y, K), perna do R, cauda do Q e perna do K55.
3.5.3. Espinha, olho, ombro e bojo
Espinha, segundo Clair e Busic-Snyder (2009), é a curva dupla encontrada na letra S.
O olho, segundo Joaquim da Fonseca (2008), é a pequena área fechada que aparece em letras
como o O, no alto do e, no P, ou no p.
O ombro é o traço curvo encontrado nas letras h, j, u, m e n. Também segundo Clair e
Busic-Snyder (2009, p. 160), “o peso dessa área do traço é cuidadosamente refinado para criar
uma mudança sutil, e a forma do ombro determina a aparência redonda, oval ou quadrada a
uma fonte”. O bojo, ou barriga, segundo Fonseca (2008), é o traço que circunda o olho da
letra. Estão presentes nas partes redondas de letras como B, D, P, R ou a parte superior do g.
Figura 25 – Espinha (S), olho (a, em preto), ombro (h, m, n) e bojo (b, em preto)56.
55 CLAIR, Kate; BUSIC-SNYDER, Cynthia. Manual da Tipografia: a história, a técnica e a arte. 2.ed. Tradução Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookman, 2009.
56 CLAIR, Kate; BUSIC-SNYDER, Cynthia. Manual da Tipografia: a história, a técnica e a arte. 2.ed. Tradução Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookman, 2009.
44
3.5.4. Serifas, junções, terminais
O nome serifa, segundo Joaquim da Fonseca (2008), provém do termo holandês
schreef, que significa “linha fina na escrita”. Serifas são pequenas linhas horizontais e
verticais que dão acabamento ao final dos traços das letras. Ainda segundo Joaquim da
Fonseca (2008, p.85), as serifas “melhoram a legibilidade porque conduzem o olho do leitor
ao longo da linha de tipos, formando linhas óticas paralelas que agem como um trilho
imaginário”. Erik Spiekermann (2011) dá um contraponto em questões de legibilidade,
dizendo que, no norte da Europa, usava-se por padrão as letras góticas densas, escuras e
pesadas. No entanto, as pessoas as liam com facilidade, pois já estavam habituadas a elas.
“Outros tipos também eram perfeitamente legíveis há 500 anos, mas são difíceis de ler por
qualquer um hoje em dia. Isso está relacionado às percepções culturais e não às propriedades
físicas desses tipos” (p.29). Portanto, segundo Spiekermann (2011) lemos melhor aquilo em
que treinamos nossos olhos a ler.
A junção, também chamada de filete, segundo Clair e Busic-Snyder (2009) é a curva
de transação entre o traço e a serifa de uma letra. Ela não é essencial, porém às vezes é
incluída, baseando-se na decisão estética do designer. O terminal é o final de um traço com
alguma espécie de tratamento diferente de uma serifa. Segundo Clair e Busic-Snyder (apud
LIEBERMAN, 2009), ele pode ser côncavo, reto, cortado, agudo, grave, em gancho,
pontiagudo, convexo ou ostentado.
Figura 26 – Junção do X, serifa retangular do X e terminal do F com formato de bico de pássaro57.
57 CLAIR, Kate; BUSIC-SNYDER, Cynthia. Manual da Tipografia: a história, a técnica e a arte. 2.ed. Tradução Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookman, 2009.
45
3.5.5. Vértices: apex, crotch e vertex
O vértice de uma letra é formado quando há a junção de dois traços em ângulo.
Segundo Clair e Busic-Snyder (2009), há três formas distintas de vértices: apex, crotch e
vertex. O vértice apex se estende acima da letra maiúscula, de forma a parecer que possui a
mesma altura que as outras letras. Há vértices apex pontiagudos, arredondados, cortados,
côncavos e achatados.
O vértice em crotch, ainda segundo Clair e Busic-Snyder (2009, p.162), refere-se “ao
espaço interior criado pela junção de dois traços em ângulo, como nas letras K, M, N, X, Z”.
O vertex é o inverso do apex. Clair e Busic-Snyder (2009) argumentam que este vértice
forma-se pela junção de dois traços inclinados para baixo e pode ser achatado, cortado,
pontiagudo e arredondado, como nas letras V e W.
Figura 27 – Vértice Apex achatado, pontiagudo, estendido, côncavo, redondo, respectivamente58.
3.5.6. Espaço eme e ene
O espaço eme, ou em space ou em square é uma importante medida tipográfica, que
dará base para outras medidas do tipo. Segundo Claudio Rocha, o espaço eme é:
A unidade de medida relativa a um dado corpo de letra. A largura de um Eme é igual ao corpo do tipo que está sendo medido. Por exemplo, um Espaço Eme é de 12pt (doze pontos). O nome é derivado da largura da letra M, a mais larga do alfabeto, na maior parte dos tipos (2005, p.39).
58 CLAIR, Kate; BUSIC-SNYDER, Cynthia. Manual da Tipografia: a história, a técnica e a arte. 2.ed. Tradução Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookman, 2009.
46
Gavin Ambrose e Paul Harris (2009) complementam Claudio Rocha, dizendo que a
medida eme é utilizada como uma constante em que é possível se basear outras medidas da
fonte. Essa medida também é utilizada para fazer recuos de parágrafo, definir um
espaçamento fixo, além de criar travessões eme (—) e ene (–) (metade de um eme).
3.6. Espacejamento
Segundo Karen Cheng (2005, p.218, tradução do autor), o “espaço entre as letras é tão
importante – senão mais importante – do que as próprias formas das letras. Até os caracteres
mais belos podem ficar feios e ilegíveis, quando mal espacejados”. Ela continua, dizendo que
os caracteres são considerados bem espaçados quando grupos de letras formam uma mancha
regular de cinza, sem partes muito claras nem muito escuras.
Clair e Busic-Snyder (2009) complementam Karen Cheng, dizendo que o
espacejamento feito corretamente para aperfeiçoar a legibilidade é uma das tarefas mais
importantes do design tipográfico. O espacejamento correto, também segundo Clair e Busic-
Snyder (2009), envolve treinamento, prática e a aquisição de um sentimento intuitivo, que é
desenvolvido com o tempo59.
Cheng (2005, tradução do autor) argumenta que letras maiúsculas precisam de espaços
mais soltos do que letras minúsculas, pois os espaços negativos dentro das letras (counters)
são maiores do que os espaços das caixas-baixas. O tamanho em pontos utilizado também
afeta o espacejamento. Letras desenhadas para uso em texto (menor que 12pt) precisam de um
espacejamento maior do que as desenhadas para títulos, senão irão parecer muito grudadas
quando impressas e lidas.
Na página seguinte temos um exemplo de espacejamento com a palavra minimum.
Podemos ver na parte superior que a palavra está espacejada igualmente com
aproximadamente metade da largura do espaço em branco interior (counter) do n (15pts).
Essa medida é considerada como um espacejamento normal, nem muito largo nem muito
estreito. A palavra do meio está espacejada igualmente com a largura total do counter do n
(27pts) e, portanto, mais aberta. O exemplo inferior está espacejado desigualmente, causando
um problema de legibilidade, pois algumas letras estão muito próximas e algumas muito
longes em relação às outras.
59 No item 4.7.3 do capítulo 4 é apresentado um método de espacejamento de letras, publicado no livro Designing Type de Karen Cheng.
47
Figura 28 – Exemplo de espacejamento da palavra minimum no tipo Univers60.
Além do espacejamento entre letras, deve-se prestar atenção ao espaço entre palavras.
Segundo Clair e Busic-Snyder (2009), uma regra geral para isso é visualizar a largura do i em
caixa-baixa no espaço entre cada palavra. Com isso, pode-se concluir que o espaço entre
palavras também muda quando se usam fontes diferentes de tamanhos diferentes.
3.7. Kerning
Kerning, segundo o dicionário da ADG (1998, p.65) é o “ajuste de espaço entre letras,
par a par. É razoavelmente comum ser necessário alterar o espaço entre determinadas letras
para garantir uma uniformidade visual em todo o espacejamento entre letras de uma
composição”. Todas as letras recebem espacejamento entre elas, argumenta Claudio Rocha
(2005), porém há pares de letras que, devido ao seu modo de construção, precisam de
espacejamentos diferenciados, onde parte da uma letra deve avançar sobre o espaço da outra
para uma melhor composição. Isso é chamado de kerning.
A forma das letras, também segundo Claudio Rocha (2005), deve ser avaliada junto
com as áreas em branco que as circundam. A mancha de um bloco de texto está relacionada
com o equilíbrio entre os espaços em branco e os preenchidos pelas formas das letras. Rocha
(2005) também diz que os caracteres não devem ser analisados individualmente. O espaço
60 CHENG, Karen. Designing type. New Haven: Yale University Press, 2005.
48
destinado ao redor deles depende do tamanho e do desenho do caractere, portanto pode variar
de tipo para tipo.
Bringhurst (2011) continua, falando que o kerning de fontes digitais é feito usualmente
com tabelas de kerning (olhar Anexo B), que podem especificar em valores a redução ou o
aumento do espacejamento de cada par de letras, números ou símbolos. Exemplifica,
mostrando que espaços podem ser adicionados em combinações de letras como HH e tirados
de combinações como Ty para uma melhor harmonia textual:
As tabelas de kerning geralmente tiram espaço de combinações como Av, Aw, Ay, ‘A, ʽA, L’ e de todas as combinações nas quais o primeiro elemento é T,V,W ou Y e o segundo elemento é a, c, d, e, g, m, n, o, p, q, r, s, u, v, w, x, y ou z. Nem todas essas combinações ocorrem em inglês [ou português], mas qualquer sistema de kerning deveria acomodar nomes como Tchaikovsky, Tmolos, Tsimshian, Vásquez, Châteu d’Yquem e Ysaÿe (BRINGHURST, 2011, p.41).
Karen Cheng (2005, tradução do autor) complementa Bringhurst, exemplificando que
o par de letras Ty precisa de menor espaçamento, pois um espaço em branco muito grande
entre o traço diagonal do y e a haste horizontal do T pode atrapalhar a legibilidade. Isso é
exemplificado na imagem.
No topo da imagem, pode-se ver que o A está espaçado igualmente na palavra HAND,
porém muito solto na palavra AVAIL. Isso é corrigido na última coluna. Na linha do meio, o y
está espaçado igualmente na palavra Hybrid, porém em Type há um espaço em branco
desnecessário, que é corrigido na última coluna. Na terceira linha, o v está igualmente
espaçado em even, porém em evident as letras ficam muito juntas. Problema corrigido na
terceira coluna.
Figura 29 – Kerning na prática61.
61 CHENG, Karen. Designing type. New Haven: Yale University Press, 2005.
49
Para testar a qualidade dos pares de kerning em uma fonte, Eduardo Gomes Clauman
(apud CABARGA, 2011) propõe dois textos de teste, chamados de Kern King 1 e 2,
composto com os pares de letras mais problemáticos do alfabeto latino, nos quais é possível
ver se existem letras muito apertadas ou muito soltas. Os textos de teste estão transcritos no
Anexo C. Há também outros testes menores para se observar a qualidade dos pares. Estes
testes, junto com o Kern King são contemplados, na prática, no capítulo 4.
3.8. Tracking
Segundo Claudio Rocha (2005), não se deve confundir kerning com tracking.
Tracking é o aumento ou a diminuição do espaço por igual entre os caracteres de uma palavra
ou linha. Clair e Busic-Snyder definem tracking como:
Função de um software de aplicação que determina proporcionalmente o espacejamente (sic) entre caracteres como também o espacejamento entre palavras; o tracking pode ser ajustado com um número negativo para uma composição mais apertada, chamado então de diminuição ou aperto, ou pode ser ajustado para um número positivo ou com maior afastamento entre as letras (2009, p.378).
Portanto, o tracking aumenta ou diminui o espaçamento de todas as letras em uma
palavra ou linha de texto de forma igual. O kerning é utilizado para tratar do espaço letra a
letra, par a par, individualmente.
3.9. Ligaturas
Clair e Busic-Snyder (2009, p.366) conceituam ligatura como sendo “combinação de
dois ou mais caracteres que são unidos em uma só peça e que normalmente não estão
ligados”. Podemos exemplificar com base em Bringhurst (2011), que menciona o braço da
letra f como problemático quando seguido de letras como b, f, h, i, j, k, l, pontos de
50
interrogação, aspas e parênteses. É preciso um cuidado com estas sequências, pois o f poderá
se fundir com letras posteriores, causando problemas de legilidade e estrutura.
Boas fontes digitais, também segundo Bringhurst (2011), incluem as cinco ligaturas
latinas, que são ff, ffi, ffl, fi e fl. Muitas delas também possuem duas ligaturas escandinavas,
que são ffj e fj. Na imagem podemos perceber claramente a diferença entre usar um tipo com
ligaturas e o mesmo tipo sem ligaturas.
Figura 30 – Fonte Bembo com ligaturas (acima) e sem ligaturas (abaixo) 62.
3.10. Famílias de tipos
As famílias tipográficas compreendem-se em um conjunto de tipos com vários pesos e
variações que seguem as mesmas linhas estéticas e estruturais. A Associação dos Designers
Gráficos do Brasil consegue conceituar família tipográfica como sendo:
Conjunto de caracteres cujo desenho apresenta semelhantes características de construção; conjunto de fontes tipográficas (desenhos de letra) com as mesmas características fundamentais, independentemente da variação da espessura média de suas hastes (light, regular, bold). Diz-se família tipográfica (ADG BRASIL, 1998, p.47).
Geralmente, segundo Claudio Rocha (2005), novas fontes são lançadas ao mercado
apenas com variações básicas, como italic, regular e bold. Porém, é comum depois de um
62 BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução: André Stolarski. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011.
51
tempo, surgirem novos pesos e variações mais distantes, como versões sem serifa para tipos
serifados, small caps63, tipos monoespaçados64, etc.
Os tipos dentro de uma família, também segundo Rocha (2005) possuem variações de
peso, estilo e largura. Abaixo há uma imagem com uma lista de algumas variações que podem
ser criadas. Abaixo há também um exemplo prático da família tipográfica Myriad, distribuída
pela Adobe e criada por Carol Twombly e Robert Slimbach em 1922.
Figura 31 – Exemplo de algumas variações de peso e largura da família tipográfica Myriad65.
Figura 32 – Algumas variações de peso, largura e estilo que podem ser criadas em uma família tipográfica66.
63 Segundo Clair e Busic-Snyder (2009, p.376), small caps são “letras capitais menores desenhadas com aproximadamente 75% de altura da versão normal de uma fonte tipográfica, geralmente composta com a altura-de-x da fonte correspondente”.
64 Tipos monoespaçados, de acordo com Clair e Busic-Snyder (2009), ocorre quando cada caractere ocupa a mesma quantidade de espaço, alinhados verticalmente na página.
65 Do autor.66 ROCHA, Claudio. Projeto Tipográfico: análise e produção de fontes digitais. 3.ed. São Paulo: Edições Rosari, 2005 (editado pelo autor).
52
3.11. Identificação e classificação de tipos
Nesta seção será feita uma breve explicação de alguns estilos de tipos que circundam
nosso dia a dia, porém com mais ênfase para o estilo não serifado. Segundo Bringhurst
(2011), há muitos sistemas de classificação de tipos em uso, porém todos funcionam até certo
ponto e deixam muito a desejar. Clair e Busic-Snyder (2009) citam alguns métodos de
classificação utilizados, como o sistema Vox (1954), o sistema ATypl (1961), o sistema
British Standards (1965) e o sistema DIN (1964, 1998), que variam em complexidade e
definição. As autoras também argumentam que, mesmo quando há consenso entre os
sistemas, ainda há campo para a interpretação, podendo causar confusões.
A tipologia tipográfica, por ser uma ciência, usa-se de medições precisas e análises
minuciosas para classificação. Porém, tipos também pertencem ao âmbito da arte e participam
de sua história. Bringhurst (2011) utiliza este argumento para classificar os tipos de acordo
com campos artísticos e históricos: renascentista, barroco, neoclássico, romântico, etc.
3.11.1. Letra romana, barroca e romântica
De acordo com Bringhurst (2011), a letra romana compõe-se de hastes verticais, bojos
(barrigas) aproximadamente circulares, contraste e altura-de-x modestos, média variação entre
traços grossos e finos, serifas de topo bem definidas e inclinadas (nº 2), serifas de base
bilaterais abruptas, chatas ou levemente abertas (nº4), terminais abruptos produzidos com uma
pena (nº1 e nº5), e um eixo humanista (diagonal) consistente (nº3).
Figura 33 – Tipo romano67.
67 BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução: André Stolarski. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011 (editado pelo autor).
53
A tipografia barroca, também segundo Bringhurst (2011), assim como a pintura e a
música, possui várias formas contraditórias, como a grande variação de eixo entre uma letra e
outra (nos 3, 6, 7). Elas parecem mais modeladas e menos manuscritas, possuem maior
contraste, maior altura-de-x, aberturas geralmente reduzidas e suavização de terminais (nº2 e
nº4). Em algumas letras, os terminais possuem a forma de gota (nº1 e nº5).
Figura 34 – Tipografia barroca68.
Na letra romântica as formas da pena larga desaparecem, dando lugar para a pena
pontuda e flexível. Ainda de acordo com Bringhurst (2011), o eixo passa a ser racionalista
(nº1), com modulação abrupta do traço, serifas mais finas (nº2 e nº3) e endurecimento dos
terminais – de gota para círculo (nº4).
Figura 35 – Letra romântica69.
68 BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução: André Stolarski. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011 (editado pelo autor).
69 BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução: André Stolarski. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011 (editado pelo autor).
54
3.11.2. Letra realista, modernista geométrica e pós-modernista
As letras realistas são simples e francas, baseadas na escrita das pessoas. Segundo
Bringhurst (2011), as letras realistas, às vezes, têm a mesma forma básica das letras
românticas, mas a maior parte delas têm serifas pesadas ou não possuem serifa alguma. O
traço é homogêneo na maioria dos casos e a abertura é pequena.
Figura 36 – Letra realista70.
A maioria das fontes do modernismo geométrico busca a pureza plena. De acordo com
Bringhurst (2011), a maioria dos tipos não faz distinção entre o traço principal e a serifa, ou
serifas têm o mesmo peso dos traços ou nem sequer existem. As suas formas devem ser mais
matemáticas, baseadas em círculos e linhas, deixando de lado a escrita manual.
Figura 37 – Letra modernista geométrica71.
O modernismo do design de tipos tem como base o estudo da história, da anatomia e a
caligrafia. De acordo com Bringhurst (2011), as letras pós-modernas frequentemente
revisitam e recriam formas românticas e outras formas pré-modernas. Ele mesmo (2011,
70 BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução: André Stolarski. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011 (editado pelo autor).
71 BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução: André Stolarski. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011 (editado pelo autor).
55
p.150) conceitua os designers dessa época, comentando que “os designers pós-modernos –
que muitas vezes também foram designers modernos – provaram que é possível infundir nas
formas neoclássicas e românticas e no eixo racionalista uma genuína energia caligráfica”.
Há também as fontes pós-modernistas geométricas que, segundo Bringhurst (2011),
raramente se baseiam na linha do círculo puro e simples, mas quase sempre se baseiam em
formas mais estilizadas e assimétricas. Muitas fontes dessas devem suas formas a antigas
letras industriais, incluindo letras de máquina de escrever.
Figura 38 – Letra pós-moderna. Composta de eixo racionalista ou variável e serifas e terminais afiados (há muitos tipos de letras pós-modernas, este é um exemplo só) 72.
Figura 39 – Dois exemplos de fontes pós-modernas geométricas. Triplex Sans (acima) e Officina (abaixo) 73.
3.12. Algarismos de texto e titulares
As letras do nosso alfabeto foram refinadas e utilizadas pelos romanos. Porém, os
números que atualmente utilizamos são obras da Índia que, de acordo com Karen Cheng
(2005, tradução do autor), foram introduzidos na Europa pelos comerciantes que trocavam
72 BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução: André Stolarski. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011 (editado pelo autor).
73 BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico. Tradução: André Stolarski. 2ª ed. São Paulo: Cosac Naify, 2011 (editado pelo autor).
56
mercadorias com a Arábia. Por volta de 1500, o uso dos numerais arábicos (como são
chamados os números criados na Índia) era frequente na Europa.
Segundo Claudio Rocha, temos atualmente três variações de algarismos que podem ser
usados em textos:
Os algarismos apresentam uma variação chamada em inglês old style figures, hanging figures (pendurados) ou também text figures (algarismos de texto), ou seja, números alinhados pelo texto. Isso quer dizer que esses números têm hastes ascendentes e descendentes, sendo, portanto, conhecidos também como lowercase figures. Os números alinhados mais frequentes são conhecidos como lining figures, titling figures ou cap figures. Outra variação é a dos números small caps, alinhados pela altura-de-x (2005, p.66).
Enquanto Claudio Rocha nos dá a nomenclatura estrangeira, Bringhurst (2011) chama
os números old style de algarismos de texto ou elzevirianos74. Já os números alinhados com as
maiúsculas são chamados de algarismos titulares ou alinhados.
Figura 40 – Tipo Meta Plus (esquerda) com algarismos titulares (acima) e algarismos de texto (abaixo). Tipo Thorohand (direita superior) com algarismos titulares e fonte Dolly (direita inferior) com algarismos small caps (reparar como eles não possuem ascendentes nem descendentes, diferenciando-os dos algarismos de texto) 75.
3.13. Símbolos não alfabéticos e diacríticos
O tipógrafo precisa lidar com várias manchas, ondulações, hifens e pontos que andam
juntos como tipo. Bringhurst (2011, p.86) diz que “as marcas mais essenciais desse conjunto –
ponto, vírgula, parênteses e similares – são sinais que indicam pausas lógicas e entonação, de
um modo muito parecido com as pausas e as modulações em uma partitura”. Karen Cheng
(2005, tradução do autor) complementa, dizendo que a linguagem da pontuação continua a se
74 Elzevir, segundo Bringhurst (2011) é o nome de uma família holandesa que espalhou estes algarismos com comportamento de minúsculas nos séculos XV e XVI.
75 ROCHA, Claudio. Projeto Tipográfico: análise e produção de fontes digitais. 3.ed. São Paulo: Edições Rosari, 2005 (editado pelo autor).
57
desenvolver, mas seu propósito continua o mesmo: guiar mensagens e sentido. Portanto, o
design é bem sucedido quando ele completa este objetivo.
De acordo com Bringhurst (2011), uma fonte de tipos normal hoje contém
aproximadamente duas dúzias de formas, como ponto, vírgula, ponto e vírgula, aspas,
colchetes, parênteses, traços, etc. Inclui sinais diacríticos76, como acento agudo, circunflexo,
til, trema e outros. Também contém alguns símbolos comerciais e legais (@, #, $, %, etc.) e
alguns sinais aritméticos.
Ellen Lupton (2010, tradução do autor) afirma que pontuações bem desenhadas
carregam a essência do tipo em seus mínimos detalhes. Ela exemplifica, mostrando que a
pontuação do tipo Helvetica é um quadrado montado em uma curva, enquanto a Bodoni é
voluptuosa e, portanto, combinam com os outros caracteres tipográficos. Bringhurst (2011,
p.58) conclui: “Assim como as letras, eles diferem de um tipo para outro e de um período
histórico para outro – e diferem essencialmente do mesmo modo”.
Figura 41 – Caracteres não alfabéticos – Helvetica LT Bold (esquerda) e Bodoni Bold (direita) 77.
3.14. Formatos de tipos
No sistema digital, os tipos deixaram de ser objetos com propriedades físicas para
virarem sequências em código binário78, vistas em telas de computador. Para entender os
formatos de arquivos utilizados, é preciso entender alguns conceitos antes.
Segundo Claudio Rocha (2005), a reprodução de caracteres na tela é feita a partir do
armazenamento das informações bitmap79 e a reprodução dos caracteres na impressão é feita a
76 Segundo Ferreira (1999, p.1858), sinal diacrítico é “o sinal que se apõe a uma letra para dar-lhe novo valor, como cedilha, til, acentos, ou, nos alfabetos fonéticos, a um símbolo, para indicar as características de um som, tais como duração e articulação secundária”.
77 LUPTON, Ellen; Thinking with type: a critical guide for designers, writers, editors & students. 2.ed. Princeton Architectural Press. Nova York, 2010.
78 “Diz-se do código utilizado no sistema dos computadores; sistema numérico de base 2 que utiliza os dígitos 0 e 1” (ADG BRASIL,1998, p.16).
79 Bitmap, de acordo com a ADG Brasil (1998, p.17), é a “imagem gráfica computadorizada formada por pontos chamados pixels. Formato de arquivo (extensão .bmp) que, por exemplo, permite ao Windows exibir uma imagem consistentemente em diferentes dispositivos”.
58
partir das informações outline80. Claudio Rocha (2005, p.22) também nos explica que os
formatos de tipos são “codificações específicas das descrições outline, desenvolvidas para
serem interpretadas pelos sistemas operacionais. Os formatos encontrados atualmente são o
True Type, o Post Script e o Open Type”.
O formato Post Script, de acordo com Joaquim da Fonseca (2008) é uma linguagem de
descrição de página orientada para o objeto, ou seja, trata imagens e fontes como objetos
geométricos, invés de bitmaps. O contorno de cada objeto está definido e seus tamanhos
podem ser mudados mediante comandos post scripts. Possui dois arquivos, um com as
informações de contorno para a impressora e outro com informações bitmaps para a tela.
O formato True Type, de acordo com Claudio Rocha (2005), foi desenvolvido pela
Apple e é diferente do Post Script porque utiliza apenas um arquivo. Este arquivo contém as
informações necessárias para ampliar cada caractere em qualquer tamanho, ou seja, contém as
instruções que descrevem suas formas em pontos e em curvas. Com um único arquivo,
segundo Joaquim da Fonseca (2008), é possível imprimir e mostrar caracteres na tela, pois
utilizam-se da mesma informação.
O formato Open Type, segundo Claudio Rocha (2005) é universal e foi desenvolvido
em conjunto pela Adobe e pela Microsoft, para impressão e visualização em tela. Esse
formato, que funciona tanto em Macs como em PCs, pode incluir mais de 65mil caracteres,
aumentando o suporte a alfabetos de diferentes linguagens, além de caracteres alternativos,
como ligaturas, caudais, etc.
3.15. Introdução ao design de tipos
De acordo com Clair e Busic-Snyder (2009, p.155), “o modo como o olho e o cérebro
humanos percebem, processam e interpretam a informação visual proporciona uma base
sólida para os fundamentos do design de tipos”. Emil Ruder (1992) complementa essa
afirmação falando que a nossa sensibilidade óptica e estética é superior à geométrica. Por isso
não se pode seguir apenas regras matemáticas rígidas na construção das letras.
80 Outline, segundo ADG Brasil (1998, p.80), é o “desenho da letra no qual apenas as linhas de contorno, tanto externo quanto interno, são definidas”.
59
3.15.1. Proporções horizontais e verticais
O cérebro humano, de acordo com Clair e Busic-Snyder (2009), interpreta os
elementos horizontais de forma diferente dos verticais. Isso deve ser levado em conta na hora
de criar tipos, reduzindo-se a espessura dos traços horizontais das letras, para que eles não
pareçam mais largos. Isso cria uma aparência de equilíbrio e peso uniforme que, embora não
seja matematicamente correta, estará correta para o olho humano.
Emil Ruder (1992) exemplifica na imagem, dizendo que a larga faixa horizontal
parece mais grossa do que a faixa colocada verticalmente. Outra ilusão que ele salienta é a do
quadrado e do círculo geométrico, cujas medidas horizontais parecem maiores que as
verticais. Para corrigir isso, deve-se diminuir suavemente a altura destas formas.
Figura 42 – Ilusões ópticas verticais e horizontais81.
3.15.2. Design opticamente correto de círculos, triângulos e quadrados
As formas geométricas círculo, triângulo e quadrado também são percebidas de modo
diferente pelo nosso cérebro. De acordo com as autoras Clair e Busic-Snyder (2009), os
quatro pontos de um quadrado servem de alicerce para as formas das letras E, T e L, porém o
quadrado sempre parece maior do que um triângulo ou um círculo equivalentes. As mesmas
autoras nos falam como podemos resolver este problema:
O quadrado sempre parece maior do que um triângulo ou círculo equivalentes. Devido a isso, caracteres redondos, tais como C ou O, estendem-se levemente abaixo da linha de base e levemente acima da linha de capitular [linha da maiúscula]. Letras pontiagudas ou triangulares como a letra A estendem-se levemente acima da linha de capitular, e aquelas como V e W estendem-se levemente abaixo da linha de base. Uma compreensão desses conceitos de design
81 RUDER, Emil. Manual de diseño tipográfico. Tradução Fernando Pereira Cavadas. México: Gustavo Gili, 1992 (editado pelo autor).
60
afetam o alinhamento dos tipos quando compostos ou sumarizados corretamente, especialmente em títulos ou em designs de logotipos (2009, p.156).
Podemos observar essa correção óptica no tipo Futura que, segundo Claudio Rocha
(2005), foi lançado em 1927 pela typefoundry82 alemã Bauer, com desenho de Paul Renner.
Na imagem se observa a letra V, com seu vértice vertex ligeiramente abaixo da linha de base,
assim como os vértices apex das letras W e A acima da linha da maiúscula. Também se pode
observar o O um pouco acima e abaixo destas linhas.
Figura 43 – Design opticamente correto83.
3.15.3. Design de linhas em intersecções
Onde duas linhas se intercedem em uma letra, sua junção, de acordo com Clair e
Busic-Snyder (2009), é percebida como mais pesada do que os traços individuais, causando
áreas mais escuras e desiguais, que irão prejudicar o resto do design. Para minimizar esse
efeito, é preciso afinar as formas nesse ponto específico.
Figura 44 – Exemplos de ajustes em junções no tipo Franklin Gothic84.
82 Empresa que fabrica e/ou comercializa fontes tipográficas.83 Do autor.84 Do autor.
61
3.15.4. Tipo para uso em tamanhos diferentes
O tipo de tamanho 4 tem preocupações de legibilidade diferentes do tipo tamanho 36.
De acordo com Clair e Busic-Snyder (2009), historicamente, designers de tipos refinaram três
versões diferentes de uma fonte em três pesos diferentes, a fim de acomodar as variações de
tamanho e manter a consistência visual e legibilidade. A primeira versão era feita para ser
usada nos tamanhos de corpo 4 até 14, a segunda nos tamanhos 16 até 36, e a terceira para
maiores que 36 pontos. Ellen Lupton (2010, p.41, tradução do autor) complementa Clair e
Busic-Snyder, falando que “alguns tipos que funcionam bem em tamanhos grandes parecem
muito frágeis quando reduzidos”.
Segundo Clair e Busic-Snyder (2009), a versão de corpo menor utilizava uma altura-
de-x levemente maior do que a versão para corpos maiores, pois essa altura-de-x melhorava a
legibilidade. As contraformas (counters), tais como o olho do e, eram aumentadas para não
entupir a prensa. A versão maior (para corpos maiores que 36 pontos) requere muito mais
atenção no refinamento, preocupando-se com as junções nas serifas, espessura nos traços e
ajustes ópticos.
Muitos tipos têm versões display, para legendas, para subtítulos, etc. Abaixo está um
exemplo do tipo Minion Pro. Em cinza delineado está a fonte Minion Pro Display e em preto
está a Minion Pro Regular. A diferença entre o peso do traço e no espaço das letras é notável.
Figura 45 – Minion Pro Display (delineado) e Minion Pro Regular (preto)85.
85 CLAIR, Kate; BUSIC-SNYDER, Cynthia. Manual da Tipografia: a história, a técnica e a arte. 2.ed. Tradução Joaquim da Fonseca. Porto Alegre: Bookman, 2009.
62
4. DESIGN DE TIPOS
Com base em uma metodologia criativa publicada por Ambrose e Harris (2010), este
capítulo utiliza-se deste método para explicar como é feita a criação de uma tipografia
experimental. As áreas abordadas são: definição do problema, pesquisa de referências,
geração de ideias, prototipagem, seleção, implementação e aprendizado.
A criação do tipo segue seu caráter experimental. Aurélio Buarque de Holanda
Ferreira (1999, p.862) diz que a experiência é o “ato ou efeito de experimentar(-se); [...]
Habilidade, perícia, prática, adquiridas com o exercício constante duma profissão, duma arte
ou ofício; Prova, demonstração, tentativa, ensaio”. A finalidade é a mesma que ele conceitua:
adquirir prática e habilidade por meio do exercício deste ofício.
4.1. Método no projeto de design
A pesquisa realizada neste trabalho não encontrou nenhum método projetado
especialmente para o design de fontes. Apenas metodologias de design como um todo foram
encontradas, fora alguns roteiros fracionados que não levam em conta o processo todo de
criação e sim uma parte do mesmo. Isso é explicado por Eduardo Clauman (apud FASSINA,
2011, p.117):
A dificuldade de se encontrar a resposta para a pergunta “como se desenha uma fonte?” sem dúvidas é reflexo direto da complexidade do tema, mas principalmente pelo simples fato de que talvez esta resposta não exista. Na investigação mais profunda do tema, nota-se que não há uma fórmula única que contemple todo o desenvolvimento de uma fonte – cada designer parece ter sua própria forma de direcionar seus esforços para a realização deste trabalho. O que realmente existe são algumas sugestões de caminhos que podem ser seguidos (mas que não são obrigatórios), principalmente por aqueles que ainda não tem muita familiaridade com o tema.
O método utilizado na criação tipográfica deste trabalho está presente no livro Design
Thinking de Paul Harris e Gavin Ambrose. Este método é o que se encaixa melhor na proposta
experimental deste trabalho e, segundo Harris e Ambrose (2010, tradução do autor), é
63
composto de sete passos: definição, pesquisa, geração de ideias, prototipagem, seleção,
implementação e aprendizado.
4.2. Definição do problema
O primeiro estágio compreende-se na definição do problema de design. Segundo
Ambrose e Harris (2010, tradução do autor) isso normalmente é feito com um briefing. O
briefing, segundo a ADG é um
resumo, série de referências fornecidas contendo informações sobre o produto ou o objeto a ser trabalhado, seu mercado e objetivos. O briefing sintetiza os objetivos a serem levados em conta para o desenvolvimento do trabalho. Muitas vezes o designer auxilia em sua delimitação (1998, p.18).
Com base nisso, é criado um briefing curto sobre o que deve ser produzido (Anexo D).
Nele se encontram algumas informações e requisitos que devem ser atendidos ao desenvolver
o tipo experimental. Com isso, pode-se, segundo Ambrose e Harris (2010, tradução do autor),
estabelecer o objetivo, os valores e as ideias do design.
O briefing foi criado com base em Ellen Lupton que fala sobre os primeiros passos em
se criar um tipo:
O primeiro passo para se desenhar um tipo é estabelecer um conceito básico. As letras serão serifadas ou não? Elas serão modulares ou orgânicas? Você irá construí-las geometricamente ou com base na escrita à mão? Você irá usá-las para títulos ou para textos? Você irá trabalhar com material histórico ou inventar os caracteres do nada? (2010, p.76, tradução do autor).
Nesta parte do processo, estas perguntas não se respondiam claramente. Sabia-se que o
tipo não teria serifas, que suas formas teriam base em outros tipos já existentes e não seriam
baseados na escrita manual. Porém, ainda não se sabia qual era o estilo de tipo a ser
produzido, pois no briefing isso não foi especificado. Esse passo só é definido no item 4.6,
levando em conta os esboços e os protótipos produzidos.
64
A criação não possui um objetivo comercial e sim pessoal. Com base em Karen Cheng
(2005, tradução do autor) podemos dizer que a criação tipográfica não é gerada
exclusivamente pelo marketing ou tecnologia. A vontade de criar pode ser pessoal, tornando-
se uma extensão dos conhecimentos históricos, culturais e intelectuais de seu criador.
4.3. Pesquisa
Depois que o briefing é definido, é necessário, de acordo com Ambrose e Harris
(2010, tradução do autor), pesquisar informações que podem ajudar no processo criativo e
geração de ideias. No caso deste trabalho, é pesquisado em primeiro lugar, de modo
bibliográfico, aspectos tipográficos importantes como anatomia, história, bibliografia,
tipógrafos, sua nomenclatura, etc.
Em segundo lugar, referências sobre o tipo produzido são coletadas, sejam da internet,
revistas, jornais, etc., todas formam o que Ambrose e Harris (2010, tradução do autor)
chamam de Ideas Board (quadro de ideias, tradução do autor). Este quadro, composto
exclusivamente de referências, serve de inspiração para a criação dos esboços do tipo e,
segundo Ambrose e Harris (2010, p.60, tradução do autor) a “inspiração é essencial em
qualquer atividade criativa e o design não é exceção. Inspiração é a chave para geração de
ideias excitantes e profissionais do design buscam inspiração em incontáveis fontes”. Para
conferir o Idea Board criado para o projeto, consulte o Anexo E.
Figura 46 – Alguns tipos para inspiração encontrados na internet, impressos e colados no Idea Board86.
86 Do autor.
65
4.4. Geração de ideias
Este estágio é designado para a criação de potenciais soluções. Segundo Ambrose e
Harris (2010, tradução do autor), designers utilizam diferentes métodos de geração de ideias,
tais como brainstorm, rascunho livre, adaptação de um design já existente, redação livre,
associação de figuras, mapas mentais, etc. No caso deste trabalho é utilizado apenas o
rascunho livre como modo de geração de alternativas.
Começa-se pelas letras a, e, g e o em caixa-baixa para estabelecer parâmetros
tipográficos como proporção e personalidade. Karen Cheng (2005, p.8, tradução do autor)
confirma que “muitos designers começam rascunhando algumas letras chave para estabelecer
as proporções e a personalidade da fonte. (as letras variam de tipo a tipo, mas geralmente, a
caixa-baixa a, e, g, n e o são bons pontos de partida.)”. Isso é importante, pois de acordo com
Ellen Lupton (2010, tradução do autor), todas as letras do alfabeto são distintas umas das
outras, porém compartilham de características básicas, como altura-de-x, largura do traço,
proporções, eixo e inclinação que dão uniformidade ao tipo.
Com base nisso, são feitos vários rascunhos livres, com o único objetivo de produzir.
Nesta fase não são feitos julgamentos acerca da qualidade estética e estrutural das letras, pois
o foco está em geração de alternativas. Por causa disso também, são testados vários tipos de
canetas e utensílios de escrita, sempre levando em consideração as características já
estabelecidas no briefing.
Figura 47 – Algumas imagens do processo criativo87.
87 Do autor.
66
4.5. Prototipagem
Segundo Ambrose e Harris (2010, tradução do autor), o processo de geração de ideias
cria uma variedade de possíveis soluções ao problema de design. Agora é hora de trabalhar
com as alternativas mais promissoras, que vão possibilitar testar alguns aspectos. Testam-se
algumas características específicas do design para que possa ser avaliada sua viabilidade,
dificuldade, qualidade, etc.
No caso das letras, os modelos selecionados são desenhados em uma malha
quadriculada, para facilitar seu desenho à mão, manter as proporções e facilitar também o
redesenho no computador. São testadas várias letras com tamanhos e proporções diferentes,
levando em conta os rascunhos feitos no capítulo anterior.
Figura 48 – Esboços do a, g e o, feitos em malha quadriculada88.
Conclui-se que as letras com características mais quadradas possuem um aspecto
diferente, ligeiramente ousado, moderno e sólido, além de serem mais rápidas de se desenhar
na malha e no computador. Essa observação influencia na hora da seleção dos protótipos e diz
qual estilo o projeto deve seguir.
88 Do autor.
67
Figura 49 – Testes com alguns esboços das letras a, e, g89.
4.6. Seleção
A parte da seleção, segundo Ambrose e Harris (2010, tradução do autor), é a parte que
uma das soluções propostas é escolhida para desenvolvimento. A decisão deve ser a que mais
se encaixa nas necessidades e atributos do briefing, atingindo os objetivos almejados.
[...] O design se acomoda nas necessidades e objetivos do briefing e irá comunicar de forma eficiente para o público-alvo, atingindo estes alvos? O design vencedor é normalmente o que melhor se encaixa no briefing, ou em uma parte significante dele. Pode não ser possível ou desejado atender todos os requisitos do briefing com um design único. Por exemplo, segmentações de mercado exigem cada vez mais soluções de design e marketing para diferentes segmentos (AMBROSE; HARRIS, 2010, p.24, tradução do autor).
Outros fatores, ainda de acordo com Ambrose e Harris (2010, tradução do autor),
como tempo e custo, também são relevantes para o processo de seleção. Isso deve ser
sinalizado no começo do trabalho e seguido até o final.
Nesta fase do projeto, é selecionado o estilo do tipo com base em suas características
estéticas e estruturais. Por ser mais fácil de desenhar no papel e no computador, o estilo
selecionado possui uma aparência mais quadrada, moderna e ligeiramente ousada, além de
possuir traços criados para dar uma impressão caligráfica. Fabio Haag (2010, p.1) explica as
implicações da utilização de ferramentas específicas na construção de tipos:
89 Do autor.
68
Existem dois grandes parâmetros a serem avaliados. Em primeiro lugar: cada letra carrega consigo a ferramenta com a qual ela foi escrita. A diferença mais evidente entre uma fonte como a Times e uma como a Helvetica é o contraste – a diferença de espessura entre os traços grossos e finos. O alto contraste presente na Times deriva dos traços executados com uma pena caligráfica, a principal ferramenta utilizada para a escrita até a invenção dos tipos móveis, por volta de 1500; seus traços carregam portanto uma rica herança clássica. No extremo oposto, fontes como a Helvetica, Univers e Arial possuem pouco contraste grosso/fino, distanciando-se do modelo caligráfico, clássico, nos parecendo então mais contemporâneas.
Ele continua, falando que construções de letras que fogem do modelo tradicional são
frequentemente vistas como contemporâneas. Também explica isso, mostrando uma imagem
em que várias fontes diferentes são sobrepostas, revelando áreas predominantes em qualquer
estilo de tipo, ou seja, áreas em comum no desenho das letras. Ainda segundo Haag (2010),
esta é a forma genérica que o nosso cérebro reconhece tais caracteres e, portanto, quanto mais
comum for a sua construção, mais tradicional vai ser o tipo e quanto mais diferente sua
construção, mais contemporâneo e ousado será.
Figura 50 – Áreas em comum em diferentes estilos de fonte e o estilo escolhido para o tipo experimental90.
4.7. Implementação
Nesta fase, entrega-se a solução para o briefing. Segundo Ambrose e Harris (2010,
tradução do autor), além de se preocupar em desenvolver as peças faltantes no projeto, deve-
se cuidar a implementação do mesmo. Como o tipo só será publicado após o término deste
trabalho, este ponto compreende-se apenas por fase de produção.
90 HAAG, Fabio. Basta uma letra para nos contar uma história. 1 dez. 2010. Disponível em < http://www.tiposdobrasil.com/blg/?p=1185>. Acesso em 7 set. 2012.
69
4.7.1. Rascunhos
De acordo com Karen Cheng (2010, tradução do autor), assim que o conceito é
definido, o resto dos caracteres são desenhados seguindo as características da letra aprovada.
Portanto, criam-se as letras no papel para depois passar para o computador e começar outro
estágio do desenvolvimento do tipo.
Constroem-se as letras com base no alfabeto latino bicameral. De acordo com Clair e
Busic-Snyder (2009), existem três tipos de alfabetos: alfabetos de consoantes (abjads),
alfabetos com vogais separadas de consoantes (nosso alfabeto) e os que as vogais são
indicadas pela modificação da forma das consoantes (chamados de abdugidas). Os alfabetos
bicamerais, segundo Bringhurst (2011), são a união de dois alfabetos e o alfabeto latino é um
exemplo disso. Ele tem uma caixa-alta e uma caixa-baixa unidas, fáceis de distinguir. Os
alfabetos unicamerais (árabe e hebraico) têm apenas uma caixa e os tricamerais possuem três
(caixa-alta, baixa e versaletes).
Na imagem abaixo há os primeiros desenhos do tipo (os rascunhos completos se
encontram no Anexo F). Como medida geral, utilizou-se um grid de 5x6, com as ascendentes
e descendentes duas unidades e meio acima da altura-de-x e abaixo da linha de base. As letras
do alfabeto latino não possuem o mesmo tamanho, então algumas medidas de largura foram
modificadas, variando de caractere a caractere. A adoção de uma medida geral serviu para
manter unidade e a proporção das letras dentro do alfabeto e elas foram mantidas durante todo
o processo. Não apenas lápis foi usado para a criação: testes com canetas de ponta chanfrada
também foram feitos para observar a fluidez caligráfica das letras.
Figura 51 – Rascunho de algumas letras em caixa-baixa e caixa-alta91.
91 Do autor.
70
Figura 52 – Alguns testes com as letras e números no papel vegetal e com canetas diferenciadas92.
Para a criação das letras também é adotado um roteiro que facilitou o processo.
Utiliza-se o esquema proposto por Fabio Lopez (2009) que separa as letras caixa-baixa de
acordo com sua similaridade construtiva e formal. Ele mostra quais letras possuem
similaridades construtivas, dando um caminho para a construção do resto do alfabeto. Por
exemplo: após desenhar o h, utiliza-se a mesma estrutura para desenhar o n, pois as duas
letras possuem semelhanças estruturais. Com o n criado, pode-se virá-lo verticalmente e
horizontalmente para começar a construção do u e assim por diante. Baseando-se nisso, é
possível desenhar todas as letras seguindo uma metodologia própria.
Figura 53 – Guia para criação do tipo93.
92 Do autor.
93 LOPEZ, Fábio. Tipografia, ordem e progresso. 5 jun. 2009. Disponível em < http://issuu.com/fabiolopez /docs/artigo_tupi5#download >. Acesso em 3 nov. 2012.
71
4.7.2. Digitalização
Para a digitalização utiliza-se um scanner, um programa de desenho vetorial (Adobe
Illustrator) e um programa específico para o desenho de fontes tipográficas (FontLab Studio).
Para a criação das letras no computador, utiliza-se, neste trabalho, gráficos vetorizados que,
segundo Clair e Busic-Snyder (2009, p.379) são a “representação de formas separadas como
linhas, polígonos e texto, bem como grupos de tais objetos. [...] É também mais fácil desenhar
um objeto em tamanhos diferentes e transformá-lo em outros sem preocupar-se com a
resolução da imagem e com os pixels”.
Mesmo o FontLab Studio sendo também um programa de desenho vetorial, utiliza-se
o Illustrator pelo motivo do autor já estar familiarizado com as suas ferramentas, tornando
mais fácil e rápido o processo de digitalização. Programas de desenho vetorial funcionam com
base em curvas Bézier. Philip B Meggs e Alston W. Purvis explicam como isso funciona:
As linhas curvas dos caracteres são formadas de curvas Bézier. Designadas pelo nome do matemático francês Pierre Bézier (1910-1999), que as inventou, são curvas variáveis geradas de formas matemática (diferentemente dos arcos, que têm curvatura uniforme), definidas por quatro pontos de controle. As curvas Bézier podem criar formas complexas com terminações suaves, tornando-as particularmente úteis para a criar letras e computação gráfica (2009, p.628).
Após digitalizar os rascunhos, é criado um novo documento no programa vetorial com
1000x1000px de tamanho. Neste documento, é criado um grid, dividindo-o em 20 partes
iguais, verticais e horizontais, para se assemelhar às medidas utilizadas no rascunho, também
marca-se as medidas da linha de base, altura-de-x, descentes e ascendentes. A largura da haste
das letras foi definida em 50px, enquanto que, no papel, a largura era de uma unidade de grid.
Começa-se desenhando as formas básicas no Illustrator para depois melhorá-las,
criando formas geométricas primeiro e, em segundo, formas mais orgânicas e fluidas. É
importante perceber que o rascunho, neste trabalho, serve apenas como uma guia, pois as
letras passam por diversas alterações até atingir sua versão final.
72
Figura 54 – Letra e com suas curvas Bézier e pontos de controle94.
4.7.2.1. Caixa-baixa e caixa-alta
Para o aperfeiçoamento das letras no computador, utilizou-se como base o livro
Designing Type de Karen Cheng, que possui um guia caractere por caractere, importante nesta
fase do processo. Enfatiza-se também que a parte de cima das letras delega mais atenção na
hora da criação, pois, de acordo com Cheng (2005, tradução do autor), o leitor reconhece
melhor esta parte, pois é ali que seu olho passa quando está lendo alguma mensagem. Para
algumas imagens do processo de digitalização, consulte o Anexo G.
Na imagem da próxima página é visto que as hastes das letras criadas
experimentalmente estão cortadas em um ângulo de 25° e os terminais em 65º (nº1),
sugerindo um ângulo caligráfico, como se fosse escrito com uma caneta de ponta chanfrada,
dando um ar mais humano à tipografia. Além disso, possuem variações grosso-fino (nº2),
presentes por todo o alfabeto. As junções das linhas foram ajustadas para melhorar a fluidez
nos caracteres (nº3). Também se pode reparar que o y possui um desenho mais caligráfico,
por causa de sua curva antes do terminal.
Linhas curvas foram colocadas um pouco acima da altura-de-x (nº5) e um pouco
abaixo da linha de base (nº4), seguindo o princípio do design opticamente correto de círculos,
triângulos e quadrados. As linhas horizontais foram estreitadas para que elas não pareçam
mais altas que as linhas verticais, mantendo a proporção correta.
94 Using Bezier curves effectively. Disponível em <http://typophile.com/node/37374>. Acesso em 7 nov. 2012.
73
Figura 55 – Elementos do tipo experimental95.
Para deixar a letra mais amigável, uma das alternativas é mudar seus terminais (nº6).
Fabio Haag (2010, p.1), em seu texto Basta uma letra para nos contar uma história, explica
essa mudança por meio de sua fonte criada para a empresa TUI:
As terminações – o acabamento nas extremidades das hastes das letras – podem ser considerados detalhes pequenos, porém, são essenciais para definir o tom de voz da tipografia. Nas fontes corporativas que projetamos para a TUI, a operadora de turismo líder na Europa, o briefing pedia uma fonte com um tom de voz amigável e convidativo, com uma sutil informalidade; no entanto, essa informalidade não poderia ser exagerada, a ponto da empresa parecer amadora e brincalhona. Assim, desenhamos terminações que não são nem planas nem totalmente redondas: um meio termo entre estes opostos, um meio termo entre estes conceitos.
Seguindo essa mesma lógica proposta por ele, os terminais foram desenhados com
mais informalidade, dando um ar de amizade (porém sem parecer infantil), para contrastar
com a rigidez quadrática de suas formas. E, por fim, as letras foram medidas para conferir
suas proporções e manter uma unidade por todo o tipo.
De acordo com Bringhurst (2011) podemos classificá-lo como pós-modernista, pois
revisita e recria formas românticas, possuindo características caligráficas, contraste grosso-
fino e eixo racionalista.
95 Do autor.
74
Figura 56 – Letras medidas em pixels96.
Segue-se o mesmo estilo nas letras caixa-alta, porém há algumas considerações a
fazer: a medida da altura dessas letras é pouco menor que a altura das ascendentes de caixa-
baixa e letras como J, Q, I, recebem tratamento diferenciado. O processo de criação também
se baseia em letras com características semelhantes. Por exemplo: letras como I, H, T, L, F, E
possuem as mesmas hastes e traços, apenas modificados e adaptados. O mesmo serve para C,
G, Q e O; U, V, W e A; K, X e Y; M, N e Z; D, B, R e P;
Segundo Karen Cheng (2005, tradução do autor), em muitas fontes, o I é representado
por apenas uma haste vertical. Isso pode ocasionar problemas quando o I maiúsculo vem antes
ou depois de uma letra como o l ou o número 1, por causa de suas semelhanças. Para resolver
isso, opta-se por desenhar o I com traços horizontais em seus terminais. Estes traços, ainda
segundo Cheng (2005, tradução do autor) não devem ser muito longos para não causar outros
problemas com os caracteres adjacentes.
O J e o Q são letras feitas com base na escrita caligráfica. O J maiúsculo com
descendente e a cauda do Q enfatizam a escrita por meio de um instrumento de ponta
chanfrada, combinando com o resto do alfabeto criado.
Figura 57 – Exemplo das letras J, Q e I97.
96 Do autor.97 Do autor.
75
Alguns pequenos testes nessa fase também são feitos: imprimem-se alguns caracteres
para verificar suas construções. Isso gerou algumas alterações nas letras, prontamente
corrigidas antes de passar para a próxima etapa.
Figura 58 – Tipos impressos e revisados98.
4.7.2.2. Algarismos
Os números são desenhados seguindo o mesmo estilo das letras. No caso deste
trabalho, apenas algarismos titulares foram desenhados e editados. Segundo Karen Cheng
(2005, tradução do autor), os caracteres devem ser criados um pouco abaixo da linha da
capitular, pois assim diminuem sua presença visual no texto, mantendo a harmonia visual sem
se destacar mais que as letras. Além disso, devem ser mais finos, também para diferenciação.
É importante ressaltar, segundo Cheng (2005, tradução do autor), que uma atenção
especial deve ser dada ao número 0 para que não fique muito parecido com a letra O. O
número é mais fino e mais estreito. O mesmo vale para o 1 não ficar parecido com o l, nesse
caso, a bandeira do número deve ser mais larga.
Para o número 4, ainda de acordo com Cheng (2005, tradução do autor), cria-se uma
versão com descendente, sugerindo um movimento caligráfico. Os algarismos 6 e 9 também
possuem hastes alongadas, aumentando a relação com a escrita manual. Para a visualização do
processo de construção do algarismo 3, consulte o Anexo I.
98 Do autor.
76
Também segundo Karen Cheng (2005, tradução do autor), o espaçamento dos
algarismos titulares se dá com base na medida de um ene (metade do tamanho do corpo do
tipo), tornando-os monoespaçados.
Figura 59 – Algarismos experimentais99.
4.7.2.3. Sinais diacríticos e caracteres não alfabéticos
Os sinais diacríticos também devem ser criados com base no estilo proposto pelo tipo
desenhado. Por causa do tempo de produção, a fonte criada neste trabalho possui apenas os
sinais utilizados na língua portuguesa, após a nova reforma ortográfica, que são á, à, â, ã, ç, é,
ê, í, ú, ó, ô e suas versões maiúsculas.
Nas versões caixa-baixa, segundo Karen Cheng (2005, tradução do autor), a parte final
dos acentos deve encostar-se à linha da capitular ou da ascendente, enquanto seu começo
simplesmente flutua sobre a letra acentuada. Já nas letras caixa-alta, deve-se diminuir este
espaço de flutuação para o acento não ficar muito longe da letra e economizar espaço.
Para um efeito caligráfico, desenha-se a cedilha com uma forma parecida com a
vírgula. Além de ser mais fácil de criar, segundo Karen Cheng (2005, tradução do autor), sua
legibilidade aumenta, pois não possui formas complexas que podem se congestionar.
Figura 60 – Diacríticos experimentais100.
99 Do autor.100 Do autor.
77
A pontuação, de acordo com Cheng (2005, tradução do autor), continua a se
desenvolver e novos sinais continuam sendo introduzidos nos alfabetos. Porém, seu propósito
continua o mesmo: organizar linhas de pensamento. Sinais de pontuação existem apenas para
guiar mensagens e sentido, segundo Cheng (2005, tradução do autor).
Neste trabalho são desenvolvidos alguns caracteres de pontuação comuns no dia-a-dia,
com base em Cheng (2005, tradução do autor) como o ponto final, dois pontos, ponto e
vírgula, vírgula, ponto de exclamação e interrogação, aspas, colchetes, parênteses, hífen (-),
travessões eme (–) e ene (—), reticências, underline (_) (linha abaixo), apóstrofe, asterisco,
ponto médio (·), bullet (•), barra diagonal (/) e barra diagonal invertida (\).
4.7.3. Espacejamento e kerning
Antes de ajustar o espaçamento e o kerning, é preciso passar todas as letras do
Illustrator para o FontLab Studio. Para isso, utiliza-se algumas dicas do próprio site do
FontLab101 e um tutorial postado no site YouTube102, explicando como esse processo é feito.
Primeiro ajusta-se as letras para se encaixarem em um quadrado de 1000 pixels e, com a régua
do programa zerada na linha de base da letra selecionada, se determina os valores da
ascendente, descendente, altura-de-x e letras maiúsculas. Depois disso, passa-se estes valores
para o FontLab Studio que irá criar réguas e facilitar a criação do tipo experimental.
Figura 61 – Medida da altura-de-x do tipo experimental103.
101 Disponível em <http://www.fontlab.com/contact-and-support/faq/faq-fontlab-typetool-mdash-glyph-drawing/>. Acesso em 1 nov. 2012.102 Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=C234uNmTJBU>. Acesso em 1 nov. 2012.103 Do autor.
78
A altura-de-x- fica com o tamanho (arredondado) de 536px. As outras medidas
arredondadas foram ascendente, com 775px, descendente, com -225px e maiúsculas com
739px. Após colocar os valores no programa, as letras são copiadas e coladas do Illustrator
para o FontLab Studio.
Figura 62 – Valores configurados no FontLab Studio e letra B copiada e colada para o programa104.
Há, de acordo com Cheng (2005, tradução do autor), dois componentes que ajustam o
espacejamento do tipo: o sidebearing da esquerda e o sidebearing da direita. Sidebearing,
ainda de acordo com Cheng (2005, tradução do autor), é o termo em inglês que significa a
distância do final da letra até o final do bloco em que elas eram fundidas, quando ainda se
utilizava este sistema. Atualmente, no mundo digital, sidebearings virtuais são facilmente
ajustados a qualquer tamanho.
Para o espacejamento do tipo, é seguido o roteiro proposto por Walter Tracy em seu
livro Letters of Credit: A View of Type Design, o qual está descrito no livro Designing Type,
de Karen Cheng, utilizado neste trabalho. O método se baseia nas letras H, O, n e o para
determinar o espaçamento de todas as outras letras e está descrito no Anexo H.
Figura 63 – Sidebearings do a, com medidas em pontos105.
104 Do autor.105 Do autor.
79
Na hora de espacejar, algumas palavras aleatórias são testadas e percebe-se que
algumas letras não estão em harmonia com o resto do tipo. Logo, ajusta-se elas no FontLab
Studio, pois o programa também é um editor vetorial. As letras A e D são ajustadas para
ficarem mais largas e as formas do q e d foram corrigidas (suas ascendentes e descendentes
estavam ao contrário).
Nesta hora também são ajustados os valores do espaço em branco. Karen Cheng
(2005, tradução do autor) diz que atualmente usa-se um pouco menos da medida do i (quase
meio ene ou um quarto de eme) para o espaçamento entre palavras. O espacejamento da
pontuação também é explicado pela autora, sendo que a vírgula, dois pontos, ponto e vírgula e
aspas simples são centrados em metade do espaço de um numeral (um quarto de eme). As
aspas duplas requerem um espacejamento maior, em virtude de sua largura. O ponto de
interrogação varia, mas tem-se como base a medida das aspas duplas. Para o espacejamento
do ponto de exclamação, se utiliza as medidas das aspas simples.
Após o espacejamento, ajusta-se o kerning do tipo com base no roteiro de pares de
kerning proposto por Bringhurst (2011) (Anexo B). Quase todos os pares de letras são
ajustados manualmente no FontLab Studio, dando um total de 812 pares.
4.7.4. Ligaturas
A criação funcional de ligaturas exige o uso de códigos de programação no programa
FontLab Studio. O conhecimento desta técnica se dá por meio de um tutorial106 no site
YouTube. Como ele explica, o primeiro passo é criar os caracteres, para depois, com base em
programação, especificar quando as ligaturas devem aparecer.
No tipo experimental foram criadas as ligaturas latinas que, segundo Bringhurst (2011)
compõem-se de ff, fi, ffi, fl e ffl. Após o seu desenho no Illustrator e depois sua colagem no
FontLab Studio é preciso escrever algumas linhas de código para que elas se tornem
funcionais em uma fonte Open Type. Como a ligatura ocupa um caractere só, é preciso dizer
ao programa para substituir sequências de letras como f + f ou f + l para o caractere da
ligatura ff ou fl. Para isso utiliza-se a seguinte programação:
106 FONT Lab – Ligatures HD. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=-ZeBabRQaAE>. Acesso em 1 nov. 2012.
80
Figura 64 – Programação de ligaturas107.
Feature determina qual ação será executada com a determinada programação. Cada
ação tem um nome específico, no caso, para se criar ligaturas utiliza-se a ação liga seguida de
um colchete aberto, anunciando seus componentes. Dentro dos colchetes coloca-se quais
sequências de caracteres serão substituídas por qual caractere. Portanto, depois do sub
(substitute, substituir, tradução do autor), escrevem-se os caracteres a serem substituídos,
separados por um espaço. E depois, no by (por, tradução do autor), coloca-se o caractere que
deverá aparecer quando estas letras forem digitadas na ordem programada.
No final, apenas fecha-se com colchetes, fecha-se a ação liga e salva-se a linha de
programação para começar a funcionar na fonte. O comando utilizado forma uma frase
Substitute f f by ff; (substituir f f por ff; tradução do autor), tornando-o simples e prático.
4.7.5. Testes
Para testar o espacejamento, Karen Cheng (2005, tradução do autor) recorre a dois
outros livros. O primeiro, de Stephen Moye, chamado Fontographer: Type by Design, nos dá
uma lista de teste, enquanto o segundo, de Emil Ruder, chamado Typography, a Texbook of
Design nos dá uma lista de palavras fáceis e difíceis de espacejar. A meta é manter um espaço
harmonioso entre as duas listas.
A imagem na página seguinte mostra o alfabeto experimental impresso e testado com
base nestes dois modelos e mais o modelo Kern King (Anexo C). Algumas alterações de
espacejamento e kerning são feitas nesta etapa. Para conferir em tamanho maior, consulte o
anexo K.
107 Do autor.
81
Figura 65 – Testes de espacejamento108.
4.7.6. Muvuca
O nome do tipo experimental é uma gíria brasileira que, de acordo com o Aurélio
Buarque de Holanda Ferreira (1998, p.1386), significa “desorganização, balbúrdia, bagunça”.
A palavra muvuca é unusual e tipicamente brasileira. Uma rápida pesquisa por sites
conhecidos de venda e download de tipos109 nos mostra que não existe uma fonte com este
nome ainda, tornando possível o destaque e o registro da mesma. É uma palavra forte,
simpática e agradável, dando uma impressão casual ao tipo.
Mas mais importante que isso, o nome ilustra sua construção. Ilustra a mistura entre
partes desenhadas com inspiração em linhas modernas, quadradas e contemporâneas, contra
108 Do autor.109 MyFonts < http://www.myfonts.com >, Dafont < http://www.dafont.com >, Fontsquirrel < http://www.fontsquirrel.com >, FontFont <
www.fontfont.com >, Dalton Maag < http://www.daltonmaag.com/ >, Just in Type < http://www.justintype.com.br/ >, Outras Fontes < www.outrasfontes.com >
82
partes desenhadas com base na escrita caligráfica, fluidas e orgânicas. Para conferir o alfabeto
criado experimentalmente, consulte o Anexo J.
4.8. Aprendizado
Essa é a última fase do método criativo. Após a publicação e veiculação de qualquer
trabalho, é importante interpretar seus resultados. Segundo Ambrose e Harris (2010, tradução
do autor), nesta fase deve-se entender o que funcionou bem e o que deu errado no processo,
além de saber o que o público achou do trabalho. Isso se torna uma oportunidade de
aprendizado para futuros projetos e facilita a produção de melhores soluções no futuro.
Ambrose e Harris (2010, tradução do autor) afirmam que essa fase não ocorre somente
no final do trabalho e sim por todo o processo de criação. Em cada passo do método deve-se
entender, mesmo que internamente, onde o projeto está, onde está indo, o que está
funcionando e o que não. Essa habilidade de aprender, segundo os autores, irá melhorar o
pensamento orientado para o design, auxiliando na hora de gerar peças bem sucedidas.
83
CONCLUSÃO
É grande o trabalho para se criar apenas um peso tipográfico. A criação envolve várias
etapas que devem ser seguidas metodicamente, com o objetivo de criar um desenho mais
harmonioso e com unidade. Este mesmo desenvolvimento do tipo sem serifas de caráter
experimental compõe-se de inúmeros detalhes e conhecimentos distintos que, aprendidos e
aprofundados, melhoram a concepção tipográfica futura.
No primeiro momento do trabalho foram conceituados seus componentes. A
conceituação neste caso é importante para se familiarizar com alguns itens que compõem o
assunto. Assim como a familiarização, a importância da tipografia em diversas áreas é
ressaltada, mostrando como é versátil e sério este tema.
Após a conceituação, foi constatado que os estilos, sejam artísticos ou tipográficos,
fazem parte de uma evolução experimental constante. Percebe-se que eles são influenciados
por diversos fatores externos distintos, de acordo com suas épocas. Pela história podemos
entender o início de algumas características tipográficas e, assim, continuar a evoluí-las.
O terceiro momento examina e identifica as partes que compõem um tipo, revelando
sua nomenclatura própria. Para fins acadêmicos e operacionais, utilizar um padrão de nomes
para características específicas das letras contribui para uma comunicação tipográfica mais
clara e específica. Famílias de tipos são destacadas, mostrando que a criação experimental
deste trabalho foi limitada a apenas um pequeno pedaço deste sistema de variações de estilo,
pesos e largura. Com isso, pode-se perceber que há uma longa jornada rumo à transformação
das letras proposta pelas famílias de tipo. Além disso, alguns conceitos de proporção,
espacejamento e formatos de arquivos, importantes e introdutórios para o design tipográfico,
são mostrados e exemplificados.
Na seção específica sobre design tipográfico foi definido o método criativo a ser
seguido. Também se percebeu que não há uma sequência de ações definida exclusivamente
para a criação de tipos, portanto, se apoiou nas metodologias orientadas para design em geral.
O método escolhido cria uma sequência lógica de ações que devem ser executadas em sua
ordem proposta com objetivo de chegar à melhor solução para o problema definido.
Neste momento compreendeu-se a complexidade da criação tipográfica. Foi preciso
executar várias ações diferentes e envolver conhecimentos distintos com o objetivo único de
se criar um tipo sem serifa. Outros assuntos específicos da criação, como tipos para a web ou
84
letras para fins muito particulares (celulares, impressão de baixa qualidade, monitores em
baixa resolução, etc.) não foram tratados neste trabalho em virtude de sua delimitação.
Outro ponto importante é a pouca bibliografia brasileira no assunto tipografia. A
pesquisa deste trabalho encontrou livros em português, porém poucos haviam sido escritos
por brasileiros. Outro problema é que alguns autores trazem pontos repetidos, não avançando
no assunto. Há fontes de conteúdo, em português, para assuntos como história da tipografia,
composição de tipos na página e características das letras. Porém, a criação tipográfica
específica sofre falhas bibliográficas. Não foi encontrada, nesta pesquisa, bibliografia
específica em versão brasileira, apenas em inglês. Há obras que falam um pouco sobre a
criação, porém superficialmente, dando a entender que não foi o foco principal dos autores.
Por outro lado, foi encontrado material brasileiro sobre criação de tipos em periódicos
e sites do gênero. Textos em inglês são fáceis de achar, porém, pelo que pode se observar, a
produção bibliográfica tipográfica brasileira está perdendo a timidez e este assunto está sendo
comentado e avaliado nestes meios.
Seguindo a proposta de estudo, o presente trabalho limitou-se a mostrar a produção
tipográfica sem serifa de modo experimental, com a finalidade de fomentar conhecimento e
mostrar o processo criativo com todas as suas etapas. O tipo criado será disponibilizado na
internet para quem quiser usar e analisar. Além disso, poderá no futuro ter variações de estilo,
peso e largura produzidas e publicadas. A tipografia criada é o primeiro contato do autor com
esta matéria, por isso seu caráter experimental.
Depois de publicada, uma fonte tipográfica pode ser usada em qualquer lugar. O tipo
criado especificamente para este trabalho se apresenta melhor em títulos e subtítulos por
conter detalhes que serão perdidos se utilizado em tamanhos pequenos. Além disso, possuem
um espaçamento mais apertado, adequado para tamanhos grandes.
Acredita-se que a tipografia é uma área ainda pouco explorada por estudantes de
publicidade e este trabalho poderá servir de inspiração. Por contemplar parte prática e parte
teórica, funciona como um ponto de partida para aqueles que desejam experimentar a criação
de tipos e se aventurar neste mundo.
Produzir um novo estilo tipográfico baseado no criado aqui é uma das maneiras de
continuar este trabalho. Uma versão itálica, assim como uma versão em negrito, exige estudo
histórico, resgatando suas origens e características, a fim de se familiarizar com este estilo de
letra. Outro problema que poderia ser resolvido seria a proposta de uma metodologia própria
para o design de tipos. É mostrado, com base bibliográfica, que este método pode ainda não
existir, deixando a linearidade da criação por parte do próprio desenhista tipográfico.
85
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86
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LUPTON, Ellen; Thinking with type: a critical guide for designers, writers, editors & students. 2.ed. Princeton Architectural Press. Nova York, 2010.
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WHEELER, Alina; Design de Identidade da Marca. Tradução Joaquim da Fonseca. 2.ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.
87
ANEXO A – Anatomia tipográfica
Fonte: Tipography isn’t secundary – part 2. Disponível em <http://pessoa.fct.unl.pt/p110371/nuno/category /typography/>. Acesso em 7 nov. 2012
1 / 4 / 15 – Serifa2 – Vértice Apex3 – Haste5 / 23 – Espora6 – Barriga / Bojo7 – Barra Horizontal8 – Terminal9 – Orelha10 – Link / Ligação11 – Loop / Bowl12 – Braço com terminal13 – Perna14 – Arco / Ombro16 – Terminal17 – Espinha18 – Cauda19 – Queixo20 – Garganta21 – Traço22 / 25 – Hairline / Traço Fino23b – Descendente24 – Crossbar / Barra cruzada 26 – Ascendente
27 – Olho28 – Stress / Eixo29 – Vértice Crotch30 – Terminal31 / 2 – Vértice Vertex32 – Ponto33 – Braço34 – Bandeira35 – Ligadura36 – Swash
88
ANEXO B – Lista de pares de kerning
Pares de kerning de letras maiúsculas com maiúsculas:
AC AG AO AQ AT AU AV AW AYBA BE BL BP BR BU BV BW BYCA CO CRDA DD DE DI DL DM DN DO DP DR DU DV DW DYEC EOFA FC FG FOGE GO GR GUHOIC IG IOJA JOKOLC LG LO LT LU LV LW LYMC MG MONC NG NOOA OB OD OE OF OH OI OK OL OM ON OP OR OT OU OV OW OX OYPA PE PL PO PP PU PYQURC RG RY RT RU RV RWSI SM ST SUTA TC TOUA UC UG UO USVA VC VG VO VSWA WC WG WOYA YC YO YSZO
Pares de kerning de letras maiúsculas com minúsculas:
Ac Ad Ae Ag Ao Ap Aq At Au Av Aw AyBb Bi Bk Bl Br Bu ByCa CrDaEu EvFa Fe Ff Fi Fo Fr Ft Fu FyGu
89
He Ho Hu HyIc Id Iq Io ItJa Je Jo JuKe Ko Ku Kv Kw KyLu LyMa Mc Md Me MoNu Na Ne Ni No NuOa Ob Oh Ok OlPa Pe PoRd Re Ro Rt RuSi Sp SuTa Tc Te Ti To Tr Ts Tu Tw TyUa Ug Um Un Up UsVa Ve Vi Vo Vr Vu VyWa Wd We Wi Wm Wr Wt Wu WyXa Xe Xo Xu XyYd Ye Yi Yp Yu Yv
Pares de kerning de letras maiúsculas com pontuações:
Apóstrofo – A' L' 'SAspas – A” L”Ponto final – B. C. D. F. J. N. O. P. S. T. U. V. W. Y.Vírgula – B, C, D, F, J, N, O, P, S, T, U, V, W, YPonto e vírgula – F; P; T; V; W; Y;Dois pontos – F: P: T: W: Y: V:Hífen – T- V- W- Y-
Pares de kerning de letras minúsculas com minúsculas:
ac ad ae ag af at au av aw ay apbl br bu byca ch ckda dc de dg do dt du dv dw dyea ei el em en ep er et eu ev ew eyfa fe ff fi fl foga ge gh gl go gghc hd he hg ho hp ht hu hv hw hyic id ie ig io ip it iu iv ja je jo juka kc kd ke kg ko
90
la lc ld le lf lg lo lp lq lu lv lw lyma mc md me mg mn mo mp mt mu mv mync nd ne ng no np nt nu nv nw nyob of oh oj ok ol om on op or ou ov ow ox oupa pl ph pi pp puqura rd re rg rk rl rm rn ro rq rr rt rv rysh st sutd ta te toua uc ud ue ug uo uq ut uv uw uyva vb vc vd ve vg vo vv vywa wx wd we wg wh woxa xe xoya yc yd ye yo
Pares de kerning de letras minúsculas com pontuações:
Apóstrofo – 'a 'e 'o 'd 'm 'r 's 't f' y' s' t'Ponto final – b. d. e. f. g. j. o. p. r. s. t. v. w. y.Vírgula – b, d, e, f, g, j, o, p, r, s, t, v, w, y,Hífen – r-
Pares de kerning de pontuações com pontuações:
'. ', .' ,' “” “' '”
91
ANEXO C – Teste de Kerning
- Kern King Parte 1: lynx tuft frogs, dolphins abduct by proxy the everawkward klutz, dud,
dummkopf, jinx snubnose filmgoer, orphan sgt. renfruw grudgek reyfus, md. sikh psych if
halt tympany jewelry sri heh! twyer vs jojo pneu fylfot alcaaba son of nonplussed halfbreed
bubbly playboy guggenheim daddy coccyx sgraffito effect, vacuum dirndle impossible
attempt to disvalue, muzzle the afghan czech czar and exninja, bob bixby dvorak wood
dhurrie savvy, dizzy eye aeon circumcision uvula scrungy picnic luxurious special type
carbohydrate ovoid adzuki kumquat bomb? afterglows gold girl pygmy gnome lb. ankhs acme
aggroupment akmed brouhha tv wt. ujjain ms. oz abacus mnemonics bhikku khaki bwana
aorta embolism vivid owls often kvetch otherwise, wysiwyg densfort wright you’ve absorbed
rhythm, put obstacle kyaks krieg kern wurst subject enmity equity coquet quorum pique tzetse
hepzibah sulfhydryl briefcase ajax ehler kafka fjord elfship halfdressed jugful eggcup
hummingbirds swingdevil bagpipe legwork reproachful hunchback archknave baghdad wejh
rijswijk rajbansi rajput ajdir okay weekday obfuscate subpoena liebknecht marcgravia ecbolic
arcticward dickcissel pincpinc boldface maidkin adjective adcraft adman dwarfness applejack
darkbrown kiln palzy always farmland flimflam unbossy nonlineal stepbrother lapdog stopgap
sx countdown basketball beaujolais vb. flowchart aztec lazy bozo syrup tarzan annoying dyke
yucky hawg gagzhukz cuzco squire when hiho mayhem nietzsche szasz gumdrop milk
emplotment ambidextrously lacquer byway ecclesiastes stubchen hobgoblins crabmill aqua
hawaii blvd. subquality byzantine empire debt obvious cervantes jekabzeel anecdote flicflac
mechanicville bedbug couldn‟t i’ve it’s they’ll they’d dpt. headquarter burkhardt xerxes
atkins govt. ebenezer lg. lhama amtrak amway fixity axmen quumbabda upjohn hrumpf.
- Kern King parte 2: Aaron Abraham Adam Aeneas Agfa Ahoy Aileen Akbar Alanon
Americanism Anglican Aorta April Fool’s Day Aqua Lung (Tm.) Arabic Ash Wednesday
Authorized Version AveMaria Away Axel Ay Aztec Bhutan Bill Bjorn Bk Btu. Bvart Bzonga
California Cb Cd Cervantes Chicago Clute City, Tx. Cmdr. Cnossus Coco Cracker State,
Georgia Cs Ct. Cwacker Cyrano David Debra Dharma Diane Djakarta Dm Dnepr Doris
Dudley Dwayne Dylan Dzerzhinsk Eames Ectomorph Eden Eerie Effingham, Il. Egypt Eiffel
Tower Eject Ekland Elmore Entreaty Eolian Epstein Equine Erasmus Eskimo Ethiopia
Europe Eva Ewan Exodus Jan van Eyck Ezra Fabian February Fhara Fifi Fjord Florida Fm
France Fs Ft. Fury Fyn Gabriel Gc Gdynia Gehrig Ghana Gilligan Karl Gjellerup Gk. Glen
92
Gm GnosisGp.E. Gregory Gs Gt. Br. Guinevere Gwathmey Gypsy Gzags Hebrew Hf Hg
Hileah Horace Hrdlicka Hsia Hts. Hubert Hwang Hai Hyacinth Hz. Iaccoca Ibsen Iceland
Idaho If Iggy Ihre Ijit Ike Iliad Immediate Innocent Ione Ipswitch Iquarus Ireland Island It Iud
Ivert Iwerks IxnayIy Jasper Jenks Jherry Jill Jm Jn Jorge Jr. Julie Kerry Kharma Kiki Klear
Koko Kruse Kusack Kylie Laboe Lb. Leslie Lhihane Llama Lorrie Lt. Lucy Lyle Madeira
Mechanic Mg. Minnie Morrie Mr. Ms.Mt. Music My Nanny Nellie Nillie Novocane Null
Nyack Oak Oblique Occarina Odd Oedipus Off Ogmane Ohio Oil Oj Oklahoma Olio Omni
Only Oops Opera Oqu Order Ostra Ottmar Out Ovum Ow Ox Oyster Oz Parade Pd. Pepe
Pfister Pg. Phil Pippi Pj Please Pneumonia Porridge Price Psalm Pt. Purple Pv Pw Pyre Qt.
Quincy Radio Rd. Red Rhea Right Rj Roche Rr Rs Rt. Rural Rwanda Ryder Sacrifice Series
Sgraffito Shirt Sister Skeet Slow Smore Snoop Soon Special Squire Sr St. Suzy Svelte Swiss
Sy Szach Td Teach There Title Total Trust Tsena Tulip Twice Tyler Tzean Ua Udder Ue Uf
Ugh Uh Ui Uk Ul Um Unkempt Uo Up Uq Ursula Use Utmost Uvula Uw Uxurious Uzßai
Valerie Velour Vh Vicky Volvo Vs Water Were Where With World Wt. Wulk Wyler Xavier
Xerox Xi Xylophone Yaboe Year Yipes Yo Ypsilant Ys Yu Zabar’s Zero Zhane Zizi Zorro
Zu Zy Don’t I’ll I’m I’se.
93
ANEXO D – Briefing para a produção do tipo experimental
Fonte: Do autor.
94
ANEXO E – Idea Board
Fonte: Do autor.
95
ANEXO F – Rascunhos do tipo experimental
Fonte: Do autor.
96
ANEXO G – Digitalização das letras
Fonte: Do autor.
97
ANEXO H – Método de espacejamento de Walter Tracy110
Espacejamento de letras maiúsculas:
1 – Começar definindo o espacejamento da letra H com um comprimento equivalente de 25%
a 50% do tamanho das distâncias entre as suas hastes. Fontes serifadas devem possuir um
maior comprimento visto o avanço das formas da serifa em relação às hastes (a medida deve
ser feita em relação à haste e não à serifa).
2 – Testar a harmonia e homogeneidade da palavra “HHHH” a fim de identificar se há
variação de cor causada pela quebra do ritmo, que pode ser percebida se a palavra tiver sua
forma muito fechada, ou muito aberta do ponto de vista do designer;
3 – A partir do momento que o espaço do H está definido, deve partir-se para letra O. O
espacejamento deve possuir um comprimento um pouco menor do que o da letra H.
4 – Testar a letra O através da composição da palavra “HOH”. A palavra composta deve
produzir uma forma homogênea e harmônica, caso isso não acontece, deve-se revisar o
tamanho do espacejamento. Se a palavra não produzir uma cor homogênea, se deve rever os
espaços externos da letra O;
5 – Testar mais uma vez a letra O através da composição da palavra “HHOOHH”. Novamente
a palavra deve manter uma cor homogênea. Se isso não acontecer deve-se revisar a letra O, e
em alguns casos é interessante também revisar o espacejamento da letra H.
6 – Quando o espacejamento das letras O e H estiverem definidos e revisados, pode-se definir
os das maiúsculas restantes como mostra a figura abaixo:
110 Adaptado de: CLAUMAN, Eduardo Gomes. Proposta de roteiro projetual para o design de tipos. 2011. Trabalho de conclusão de curso
– Curso de Graduação em Design Gráfico, Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, Santa Catarina, 2011.
98
Fonte: CHENG, Karen. Designing type. New Haven: Yale University Press, 2005.
1 – Espacejamento igual ao sidebearing do H.
2 – Espacejamento um pouco menor do que o sidebearing do H.
3 – Metade do sidebearing do H.
4 – Sidebearing mínimo
5 – Igual ao sidebearing do O
* – Deve ser ajustado visualmente
Espacejamento das letras minúsculas:
1 – Definir os espaços esquerdo e direito da letra n. O espaço direito deve ser um pouco
menor que o esquerdo, visto que a forma curva do ombro da letra n permite uma sensação
óptica de maior abertura. O espaço do lado esquerdo deve ter um comprimento equivalente de
25% a 50% da amplitude do espaço interno da letra.
2 – Testar o espaço externo da letra n através da composição da palavra “nnnn”. Ela deve
possuir cor homogênea e não pode ter uma forma final apertada ou aberta demais;
3 – Definir os espaços externos da letra o, sendo que o comprimento desses espaços deve ser
menor que o da letra n.
99
4 – Testar as letras através da composição da palavra “non”. A cor deve ser homogênea e a
forma final deve ser harmônica. Caso isso não aconteça, revise os espaços externos da letra o;
5 – Voltar a testar o espacejamento através da composição das palavras “nnonn”, “nnonon” e
“nnoonn”. Ajustar o espacejamento das letras o e n se necessário.
6 – A partir do momento em que a cor final das palavras compostas pelas letras o e n forem
satisfatórias, pode-se definir o espacejamento das demais letras como se pode ver na figura
abaixo:
Fonte: CHENG, Karen. Designing type. New Haven: Yale University Press, 2005.
1 – Espacejamento igual ao sidebearing esquerdo do n.
2 – Espacejamento igual ao sidebearing direito do n.
3 – Um pouco mais do que o sidebearing esquerdo do n.
4 – Sidebearing mínimo.
5 – Igual ao sidebearing do o.
6 – Um pouco menos do que o sidebearing do o.
* – Deve ser ajustado visualmente
100
ANEXO I – Construção do algarismo 3
Fonte: Do autor.
101
ANEXO J – Tipo experimental
Fonte: Do autor.
102
ANEXO K – Testes de espacejamento
Fonte: Do autor.