Crise e Recuperação Da Carne de Frango_2006_07

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VALOR ECONOMICO – 23/02/2006 Propagação da gripe das aves já reduz preço da soja Alda do Amaral Rocha e Cibelle Bouças De São Paulo A disseminação do vírus letal da gripe das aves em países da Europa contaminou os preços da soja e do milho no mercado internacional. O problema é mais evidente no mercado de soja, onde as cotações recuaram 3,34% desde o início do mês na bolsa de Chicago. Mas os preços do milho caíram 1,9% apenas no pregão de ontem, conforme o Valor Data. A pressão vem da expectativa de redução da produção de frango na Europa em razão da queda no consumo. Na Itália, a demanda diminuiu 50% nas últimas semanas. Menos frango significa menor demanda por ração, produzida basicamente a partir de milho e soja. Analistas estimam que no segmento de soja, carro-chefe das exportações brasileiras do agronegócio, o consumo mundial de farelo poderá cair até 8% em 2006. Neste mês, a desvalorização do derivado alcança 5,38% em Chicago. No porto de Paranaguá (PR), segunda principal saída dos embarques brasileiros, há previsões que apontam preço médio do farelo de US$ 190 no primeiro semestre, ante US$ 212 em igual período de 2005. Para produtores e exportadores brasileiros de soja, o novo fator de pressão sobre as cotações turva de vez o horizonte. Em campanha aberta por renegociação de dívidas e ajuda do governo para sustentar preços, o setor vem de uma crise de liquidez aprofundada pelo câmbio em 2005 e já tinha poucas esperanças de retomar a pujança do início da década. Com a crise, a área plantada com o grão recuou 5% na safra atual (2005/06) e, no ano passado, a renda agrícola ("da porteira para dentro") foi R$ 7,35 bilhões menor que em 2004. As exportações de grão, farelo e óleo caíram 5,7%, para US$ 10,048 bilhões. A cadeia produtiva do milho encara crise de liquidez semelhante, mas está menos exposta às oscilações das cotações internacionais pelo fato de o país exportar pouco. Folha de São Paulo – 15/03/2006

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Análise de situação de crise que passou o mercado brasileiro na gripe aviária.

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VALOR ECONOMICO – 23/02/2006

Propagação da gripe das aves já reduz preço da sojaAlda do Amaral Rocha e Cibelle Bouças De São Paulo

A disseminação do vírus letal da gripe das aves em países da Europa contaminou os preços da soja e do milho no mercado internacional. O problema é mais evidente no mercado de soja, onde as cotações recuaram 3,34% desde o início do mês na bolsa de Chicago. Mas os preços do milho caíram 1,9% apenas no pregão de ontem, conforme o Valor Data.

A pressão vem da expectativa de redução da produção de frango na Europa em razão da queda no consumo. Na Itália, a demanda diminuiu 50% nas últimas semanas. Menos frango significa menor demanda por ração, produzida basicamente a partir de milho e soja.

Analistas estimam que no segmento de soja, carro-chefe das exportações brasileiras do agronegócio, o consumo mundial de farelo poderá cair até 8% em 2006. Neste mês, a desvalorização do derivado alcança 5,38% em Chicago. No porto de Paranaguá (PR), segunda principal saída dos embarques brasileiros, há previsões que apontam preço médio do farelo de US$ 190 no primeiro semestre, ante US$ 212 em igual período de 2005.

Para produtores e exportadores brasileiros de soja, o novo fator de pressão sobre as cotações turva de vez o horizonte. Em campanha aberta por renegociação de dívidas e ajuda do governo para sustentar preços, o setor vem de uma crise de liquidez aprofundada pelo câmbio em 2005 e já tinha poucas esperanças de retomar a pujança do início da década.

Com a crise, a área plantada com o grão recuou 5% na safra atual (2005/06) e, no ano passado, a renda agrícola ("da porteira para dentro") foi R$ 7,35 bilhões menor que em 2004. As exportações de grão, farelo e óleo caíram 5,7%, para US$ 10,048 bilhões.

A cadeia produtiva do milho encara crise de liquidez semelhante, mas está menos exposta às oscilações das cotações internacionais pelo fato de o país exportar pouco.

Folha de São Paulo – 15/03/2006

EPIDEMIA

Setor busca se ajustar à queda das exportações em razão da gripe aviária, que elevou oferta interna e reduziu preços

Avicultor corta 25% da produção de frango

FERNANDO ITOKAZUDA SUCURSAL DE BRASÍLIA A avicultura brasileira decidiu reduzir em 25% a produção de carne de

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frango depois da desaceleração nas exportações causada pela retração do consumo, principalmente na Europa, diante da ocorrência de gripe aviária.A Abef (Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Frango) divulgou ontem que as exportações do produto em fevereiro somaram 198,8 mil toneladas, queda de 8% ante o mesmo mês de 2005. A receita foi de US$ 244,2 milhões, aumento de 6% em relação a fevereiro de 2005 e redução de 13% sobre janeiro.Um reflexo na queda das exportações é o excesso da oferta interna. Com isso, os preços caíram -em uma semana, a redução foi de 15% para o produtor, e, no último ano, de 32%- e o consumo aumentou."Essa redução no volume exportado representa que 50 mil toneladas deixaram de ser vendidas", disse o presidente-executivo da Abef, Ricardo Gonçalves.Na semana passada, o Ministério da Agricultura já havia divulgado dados sobre a queda na venda de carne de frango ao exterior.Segundo avaliação da Abef, a tendência de retração nas exportações deve prosseguir pelos próximos dois ou três meses, já que no mundo todo deixaram de ser consumidas de 150 mil a 200 mil toneladas no mês passado."O setor se reuniu em fevereiro e decidiu reduzir a produção em 15%, e agora, no início do mês, o percentual subiu para 25%", afirmou Gonçalves.A decisão, porém, demora 45 dias para ter efeito, período do ciclo produtivo do setor.Apesar das perspectivas de desaceleração das exportações nos próximos meses, a Abef diz que espera igualar os resultados de 2005: exportações de 2,8 milhões de toneladas e US$ 3,5 bilhões."Vamos esperar os resultados de março para verificar se é necessário revermos nossas previsões", disse o presidente da Abef, que ontem teve reunião na Agricultura para discutir o plano de prevenção contra a gripe aviária."No ano passado, o consumo foi de 35,4 kg por habitante. O consumo até agora sinaliza 42 kg por habitante em 2006", afirmou o vice-presidente técnico científico da UBA (União Brasileira de Avicultura), Ariel Mendes.

Folha de São Paulo - 18/04/06

AVICULTURA

Redução de 19% no alojamento de pintos eleva cotação interna em 50%, mas valor ainda fica abaixo dos custos

Preço do frango sobe com menor produção

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MAURO ZAFALONDA REDAÇÃO O corte na produção do setor avícola começa a refletir nos preços do frango. O setor já está com corte próximo de 20% no alojamento de pintos e o quilo da ave viva é negociado a R$ 1,05 nas granjas paulistas. Esse é o quarto aumento no mês e o frango vivo acumula alta de 50% em abril.Em outras épocas, esse aumento seria um alívio para o setor, mas na situação atual a alta nem repõe os custos de produção. Para cada R$ 1,05 por quilo que o setor recebe atualmente pelo frango vivo, gasta pelo menos R$ 1,20 para a produção, segundo cálculos de proprietários de granjas.Para ao menos repor os custos de produção, o preço da ave viva deveria subir ainda 15%. Érico Pozzer, presidente da APA (Associação Paulista de Avicultura), diz que os preços vão continuar subindo e podem até voltar ao pico de R$ 1,60 registrado em setembro do ano passado. "Esse mercado é muito sensível."Pozzer diz, no entanto, que essas oscilações bruscas de preços não são boas nem para os produtores nem para os consumidores.O presidente da APA espera que o consumidor e os institutos de pesquisa de preços se lembrem de que o R$ 0,99 pago pelo quilo há algumas semanas nos supermercados era um preço completamente irreal e só ocorreu devido ao excesso de oferta.De "salvador" a "vilão"Ao retornar aos valores normais de R$ 2,30 a R$ 2,50 por quilo nos supermercados, o frango pode passar de "salvador" -porque esteve a R$ 0,99- a "vilão", segundo Pozzer. "Isso tudo confunde o consumidor", acrescenta ele.A queda brusca de preços ocorreu por culpa do próprio setor, que produzia 10% a mais do que a demanda, segundo o presidente da APA. Com o ajuste atual da produção, "os preços devem voltar ao normal e, se tudo correr bem, o setor vai sair do vermelho". Essa saída do vermelho, no entanto, só deve ocorrer no ano que vem, na avaliação dele.Para Pozzer, a reposição de preços é essencial para o setor. Caso contrário, todas as pequenas e médias empresas vão sair do setor. Se isso ocorrer, o consumidor deve pagar "caro" mais tarde com a concentração do setor.José Carlos Teixeira, analista do setor avícola, também prevê a recuperação dos preços. "Só não sei precisar quando", afirma. Segundo ele, o quadro de oferta de frango a partir de agora vai ser bem diferente do de há alguns meses.No início do alastramento da gripe aviária por vários países, os exportadores brasileiros tinham estoques para 60 dias e o mercado externo para outros 30. A redução da demanda externa forçou a colocação desse produto no mercado interno, derrubando os preços.

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CortesO setor de avicultura fechou o ano passado com o alojamento mensal de 414 milhões de pintos. E iniciou este ano com 408 milhões. Em março, o alojamento já era de apenas 345 milhões, 15,4% a menos do que em janeiro.Para este mês, a previsão é de 330 milhões. Se esse número for confirmado, a redução já será de 19% no ano, afirma Pozzer, margem próxima da previsão de 20% a 25% estipulada pelo setor.Esses novos números de alojamento já começam a refletir nos preços da ave viva nas granjas, melhorando os valores recebidos pelos produtores -que chegaram a receber apenas R$ 0,70 por quilo no mês passado."Ainda é difícil, no entanto, uma análise do mercado externo, que continua sob o efeito do impacto da gripe aviária", diz Teixeira. O europeu, por exemplo, é muito exigente e tem mais alternativas de consumo, diz ele.Já para Pozzer, "a poeira está baixando no mercado externo e se não ocorrer nenhum fato novo, o consumo volta a melhorar". Na média, segundo ele, a queda de consumo na Europa é de 10% a 15% atualmente. Há três meses, essa queda chegava a 70%, diz o presidente da APA.Teixeira diz que os números da exportação brasileira refletem essa queda de consumo.Em fevereiro de 2005, os brasileiros colocaram 216 mil toneladas de carne de frango no mercado externo. No mesmo mês deste ano, as exportações recuaram para 199 mil toneladas.

Valor Econômico

Boa demanda européia revigora exportadores de carne de frango

Vanessa Jurgenfeld

28/02/2007

Bem diferente do cenário do ano passado, quando o temor com a gripe aviária na Europa resultou em redução do abate de aves nas agroindústrias brasileiras, 2007 começa com forte demanda internacional por carne de frango. E foram justamente os europeus que voltaram a comprar com mais intensidade do Brasil. A maior demanda ocorre não apenas porque o consumidor está mais informado sobre a doença, mas também por conta dos recentes registros de focos de gripe aviaria em outros países fornecedores, sobretudo da Ásia. O cenário mais otimista já se reflete na adoção de terceiros turnos em algumas unidades, em investimentos em novas plantas de abate na região Sul e em contratações.

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"Neste início de ano, houve uma virada no mercado que nem podíamos imaginar. Há forte demanda internacional, a produção está acelerada em todas as indústrias e o preço está em alta nos mercados interno e externo", afirma Roberto Kaefer, presidente da Globoaves. Segundo ele, o cenário é bem diferente de 2006, quando a empresa "jogou matrizes fora". Hoje, diz, "há procura por pintinhos de um dia que não estamos conseguindo atender". Um dos principais setores de atuação da empresa é o fornecimento de pintos de um dia para engorda nas granjas que fornecem frangos às agroindústrias.

Embora no total de janeiro, segundo dados da Abef - entidade que reúne exportadores -, a indústria de frangos tenha exportado 2,19% menos do que em janeiro de 2006, a compra dos europeus subiu significativamente, 31,52%. Para atender a esse aumento da demanda internacional, a Sadia prepara para até agosto um terceiro turno em sua fábrica de Concórdia, com contratação de 120 pessoas e investimentos da ordem de R$ 50 milhões na unidade. Já a Seara, controlada pela americana Cargill ,iniciou nos últimos dias o terceiro turno na cidade de Seara, onde outras 120 pessoas já foram contratadas.

Segundo o presidente da Federação dos Trabalhadores da Indústria de Alimentação do Rio Grande do Sul, Darci Rocha, empresas como a Avipal, no Rio Grande do Sul, que ainda não retomaram o terceiro turno, estão ampliando o número de horas extras, depois de terem recontratado boa parte dos demitidos. "Os trabalhadores estão sendo chamados para trabalhar aos fins de semana desde o fim do ano", reforça Marcelino da Rosa, do sindicato dos trabalhadores da região de Montenegro (RS), onde estão plantas de outra grande empresa do ramo, a Doux Frangosul. Segundo ele, a companhia pediu aval para a matriz francesa para em 60 dias iniciar o terceiro turno na unidade de aves. A Frangosul não se pronunciou.

"O mercado se abriu para o Brasil, país que não apresentou a gripe aviária", afirma Ronaldo Müller, diretor regional de produção da Sadia para Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Müller, no entanto, pondera que é necessário cautela, porque no início do ano passado também havia otimismo e o mercado foi surpreendido pela queda de consumo na Europa e acabou com um estoque alto de produção e preço do quilo do frango ao produtor abaixo de R$ 1. "Temos ainda uma lição de casa importante para fazer. Não estamos livre da doença. Não se pode desenhar um cenário muito cor-de-rosa", afirma ele.

Conforme Flávio Médici, diretor comercial da Macedo, os consumidores europeus estão mais acostumados com os noticiários sobre a doença e entendem melhor o assunto, por isso voltaram a consumir. A Macedo, que teve queda de 40% da produção no ano passado, já recuperou metade da queda. "Há uma sensível melhora no mercado. Neste ano devemos recuperar a margem de lucro", diz. A situação contrasta com o período ruim, vivido no primeiro semestre de 2006 (a partir de março), quando as indústrias brasileiras de aves demitiram, deram férias coletivas e reduziram a produção. A Seara, por exemplo, demitiu cerca de 300 pessoas em Santa Catarina; a Avipal fechou turno no Rio Grande do Sul, granjas de todas as indústrias tiveram aumento do tempo de vazio sanitário e

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boa parte do segmento deu férias coletivas, como ocorreu com Perdigão, Avipal e Coopercentral Aurora.

O atual otimismo, em alguns casos, tem levado ao aumento de capacidade. A Coopercentral Aurora tirou da gaveta projetos de investimentos que envolvem a área avícola, como a construção de uma nova unidade de abates em Maravilha, no oeste catarinense, para ampliar em 30% sua produção de frangos. Já a Globoaves está investindo na compra de pequenos frigoríficos em São Paulo e Espírito Santo.

Apesar da melhora na demanda, entretanto, existem dois fatores que podem impedir, de acordo com os empresários, um aumento de rentabilidade. São os casos da alta do preço do milho no mercado mundial e a maior valorização do real em relação ao dólar. Entre os dois, o milho preocupa menos por conta da forte produção nacional do grão.