Critica o Filme Carlota Joaquina
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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS- UEG
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE FORMOSA
DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA
ACADÊMICO: JOAQUIM TELES DE FARIA
CURSO: LICENCIATURA EM HISTÓRIA
DATA: 03/ABRIL/2012
DISCIPLINA: HISTORIOGRAFIA BRASILEIRA
CRÌTICA
TÍTULO DO FILME: CARLOTA JOAQUINA, PRINCESA DO BRASIL
(Brasil 1995) DIREÇÃO: Carla Camurati. ELENCO: Marieta Severo, Marco
Nanini, Ludmila Dayer, Maria Fernanda, Marcos Palmeira, Antonio Abujamra,
Vera Holtz, Ney Latorraca. Duração: 100 min.
1. Introdução
Filme que procura retratar a vida de D. João e sua esposa D. Carlota Joaquina,
desde o casamento até a vinda para o Brasil e retorno a Portugal após treze anos de
permanências nas terras brasílicas.
D. João, segundo filho da rainha Maria I, que por sua insanidade veio a ser
conhecido como, a Louca. Veio a tornar-se príncipe regente e em seguida rei de
Portugal, após a morte de seu primeiro irmão, D. José, adquirindo então o título de D.
João VI. Casou-se com a princesa espanhola Carlota Joaquina a primeira filha do rei
Espanhol Carlos 4º com Dona Maria Luísa de Bourbon, ela nasceu a 25 de abril de 1775
na cidade de Aranjuez. Aos dez anos contrai matrimônio, por meio de procuração, com
o príncipe português O casamento de ambos deu-se por interesse das duas famílias, que
ambicionavam um acordo entre os dois países e assim alcançar a união das coroas e
reinos ibéricos.
Carlota Joaquim ganhou fama de que era uma pessoa que se não atendia aos
padrões de beleza de seu tempo, era feia desde o nascimento, mulher de gênio muito
forte e extremamente impositiva quando tratava de seus caprichos e vontades. Para
escapar ao cerco das tropas napoleônicas em 1807, o casal transfere às pressas a casa
real para o Brasil, no Rio de Janeiro, onde a família real vive até 1920 durante 13 anos,
até que regressam a Portugal. A vida na colônia vai fazer aumentar em muito os
desentendimentos entre Carlota e D. João VI.
2. Caras e caricaturas
O filme apresenta uma imagem já cristalizada na historiografia da família real, tanto no
contexto português que precede a fuga das tropas napoleônicas com a ajuda inglesa,
para o Brasil, quanto em relação à permanência da família real no Brasil.
Assim, apresenta a cara da princesa do Brasil com o semblante de uma mulher
truculenta e cobiçosa, que usando de truques e artimanhas tentou mandar em seu
esposo. Dona de um humor que variava muito dava se a extravagantes caprichos e cenas
mandava castigar com chicotadas os que não dobravam os joelhos quando ela passava
com sua comitiva. Uma mulher que é marcada pelos caprichos, de voraz apetite sexual
mantém vários amantes, conspiradora contra o seu esposo a quem acha um banana e a
quem deseja subverter o trono e o poder.
O príncipe é retratado como um débil mental, um embasbacado, incapaz e dopado por
uma overdose de frango. A imagem de D. João é tão caricata com fulcro na
historiografia que pinta o português apático e submisso á corte, que sua aparência é bem
próxima a de um doente mental, um mentecapto que só em lances fugidios tem alguma
ação de sanidade e percepção da realidade que o rodeia.
O Brasil em sua tropicalidade de sensualidade e cores forte, Hora é retratado como um
zoológico de muitas espécies e cores, Hora como um grande festim de insanos e
desvairados. O antilusitanísmo da colônia é reforçado pela presença de personagens que
diz em frases e cenas de ódio a família real e sua chegada ao país.
O filme procura demonstrar como o casal D. João e Dona Carlota Joaquina, foram
imortalizados na história, ele como um rei apático administrador e político e aficionado
comedor de galináceos, a viver uma espécie de sonho e torpor e ela como uma devassa,
louca e obcecada, de humor doentio e manias inadequadas á dignidade real. Não que as
realezas não praticassem nada do que a história atribui a Carlota Joaquina, mas a
publicidade e inconveniência de suas ações é que as tornam tão indignas ou impróprias
e até escandalosas.
Mas o filme procura fundar seu roteiro nestes acontecimentos e frases que são atribuídas
ao casal real português D. João e Dona Carlota. A cada momento dentro do roteiro o
autor procura dar ênfase a frases e feitos historicamente afamados, tais qual a célebre
frase atribuída a D. João, ainda em Portugal durante o cerco das tropas napoleônicas,
“quando não se sabe o que fazer o melhor é não fazer nada”, ou ainda a frase
supostamente dita por D. João a seu filho Pedro, no Brasil quando de sua partida para
Portugal “Põe a coroa sobre a tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela”.
Ou ainda as sensualidade e mesmo o ódio e desprezo pelo Brasil por parte de Dona
Carlota, que se imortaliza na frase: “Desta terra não quero nem o pó”. Ou ainda a
constante imagem de D. João comendo coxas de galináceos. Todos os signos
imortalizados na historiografia acerca da Realeza lusitana. Mesmo a loucura da rainha
D. Maria é explorada no filme com excesso
No ano de 1816, após o falecimento de D. Maria lª, O príncipe é coroado rei e Dona
Carlota Joaquina é declarada rainha.
Imagens que se cristalizaram na memória histórica e mesmo no dito “senso comum” do
Brasil no que tange a imagem do português não só referente à família real, mas por
extensão a todos os portugueses. Assim é comum o ridicularizar do português em
anedotas e contos que o pintam como tolo e atrasado. Das imagens pintadas da família
real como um casal esdruxulo e caricato, nasce os pressupostos que fundam e sustenta o
ódio ao português, o antilusitanísmo.
No entanto, mesmo nos jargões célebres atribuídos a D. João e a Dona Carlota, é
possível ver sinais de outro discurso possível, embora apagado na caricatura eternizada
dos dois personagens. A tentativa de unificar as coroas ibéricas sob seu domínio
demonstra as habilidades politicas e ambições de uma rainha integrada com a realidade
que se informava e acompanhava a politica real e mundial, embora o filme a reduza a
uma rechaçada rainha, isolada em suas manias e crimes.
A sagacidade de D. João, desde sua regência em Portugal, quando ludibria as tropas
napoleônicas e transferem o reino para o Brasil. Mesmo sua capacidade demonstrada no
filme de não expor ao ridículo sua imagem, administrando os excessos de Dona Maria,
transferindo seus amantes e os cooptando ao séquito de seus fiéis servidores. A abertura
dos portos brasileiros, a fundação do banco do Brasil etc. São sinais de que o homem D.
João não era de fato um idiota e esfomeado que passava o dia a embalar-se sobre seu
próprio eixo, com um aspecto mentecapto e retardado, alienado do mundo e do reino.
Aos mais desavisados esta perspectiva passa morta no conjunto da obra cinematográfica
que corrobora a visão tradicional de Um rei apático e tolo e uma rainha maluca e
devassa, que não estavam aptos aos cargos e funções que exerciam. Somente com uma
abordagem inovadora de revisão dessa tradição da caricatura antilusitana que foi
construída ao longo da história e que ainda vigora com força é possível reler a história
da relação Brasil e Portugal e escrever uma história menos pejorativa e tendenciosa para
entrar mais profundamente nestes personagens históricos que até hoje são lidos e
descritos de uma perspectiva caricata.
O filme enquanto entretenimento é razoável enquanto discurso histórico é passível de
critica, mas é um meio novo de deixar a história acessível num veículo midiático que
pode colaborar com o ensino e o estudo da história, desde que não seja adotado como
discurso expressão da verdade, mas seja instrumento de construção de releituras de
leituras já feitas, com o proposito de contribuir com a discussão para adensá-la e
aprofunda-la. Pois o filme trabalha o tempo todo com caricaturas de personagens que
muito certamente eram mais complexos e completos do que se mostram no filme. Se a
história já os caricaturam em certa medida, o filme reforça essa imagem e maximiza a,
pois que não constroem um discurso diferente ou nem o sugere, se o cito nesta crítica,
não é por tê-lo percebido no filme, mas por tê-la apreendido nas leituras e discussões do
curso de História.