Crônicas Intimistas

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Ano XXXI Nº 382 junho de 2021 Enéas Athanázio A crônica é um gênero literário consi derado leve, o que não significa que seja fácil. Nela, o autor tem as ante- nas ligadas para captar os temos “cronicáveis”, fiapos de vida às vezes mínimos, para trans- formá-los em belas páginas literárias. Rubem Braga chegou a usar o voo de uma borboleti- nha amarela, no centro do Rio, para produzir uma de suas mais belas crônicas. Raquel Naveira, escritora prolífera e atu- ante nos periódicos destinados às letras, em seu livro “Leque Aberto” (Editora Penalux – S. Paulo – 2020) buscou caminhos diferentes e criativos nas crônicas que reuniu no volume. Tomando como ponto de partida velho leque encontrado nos guardados da mãe, distribuiu os textos em capítulos que melhor represen- tam seu conteúdo: abre-se o leque, as hastes do leque, a renda do leque, os adornos do le- que, fecha-se o leque, o mofo do leque e epílo- go. Nas crônicas ela aborda os mais variados temas, inclusive filosóficos, psicológicos, his- tóricos e outros, revelando-se sempre uma es- critora erudita e bem informada nos mais diver- sos campos do conhecimento. Confesso que li o livro de ponta a ponta, contrariando a regra que aprendi de que a crônica deve ser lida uma a uma para bem saborear e reter seu conteú- do. Chamou minha atenção em particular, nes- te livro, o caráter intimista de muitas crônicas, escritas com franqueza e sinceridade, como se a autora desejasse fazer confissões íntimas, revelar o que vai no fundo de sua alma, talvez procurando livrar-se de pensamentos pesados à maneira de quem se submete à psicanálise e, deitada no divã, coloca-os para fora. Por ou- tro lado, é constante a busca do autoconheci- mento. No correr da leitura começam a despontar os agrados e desagrados da cronista. A vaida- de avulta entre estas. “Vaidade de vaidades! É tudo vaidade! – escreveu o rei Salomão, por ela lembrado. E prossegue: “Confessemos o quan- to somos vaidosos. O nosso cuidado exagera- do com a aparência. O desejo de atrair admira- ção e elogios. A necessidade de ter a própria existência reconhecida.” Por desagradável que seja, a vaidade está em toda parte e os que “se acham e têm certeza” são cada vez mais nu- merosos. Em outra passagem a autora confessa que é tomada do mesmo ímpeto deambulatório de Lima Barreto que palmilhava sem cansaço as ruas cariocas. Andar é um de seus prazeres. “Sou da estirpe dos andarilhos, – escreveu ela Crônicas Intimistas mais a presença do divino em nós e no outro. É preciso clamar para que as cascas sejam reti- radas e voltemos a ter compaixão. Livremo-nos desse mal bruto, que nos cega e nos dá as- pecto de leões. Que caiam as escamas e co- gumelos de nossos olhos. Que possamos ver.” Para não me estender além do razoável, registro alguns pensamentos esparsos da cro- nista. “O teatro e a peste são benfazejos por- que fazem cair as máscaras e põem a desco- berto o quanto somos pobres, miseráveis e nus” (p. 106). “E eu me encontrei com Ricardo Reis, no Rio de Janeiro, certa vez. Assim, este en- saio é um delírio, um labirinto, um novelo, uma teia” (p. 148) “Às vezes, como Clícia, penso que carrego um fardo enorme. Meu corpo se curva e retorce como um girassol amargurado. De repente, quando vejo o sol lá no alto, abro-me em pétalas, ergo a face cansada e me entrego como oferta viva, pura, alma sedenta de luz” (p. 151) “Essas figuras preocupadas com a pouca comida são a representação da fome. Nos lugares com fome de ética, o povo padece fome” (p. 154) “Sentimo-nos sensíveis às mais diversas causas, choramos, empunhamos ban- deiras, enquanto milhares de seres humanos morrem de forme ao nosso lado e não verte- mos sequer uma lágrima por eles” (p. 156). “Não creio em felicidade. Tenho alegria, força, bom ânimo e escrevo” (p. 194) “Peço a vocês, meus queridos, que não me cremem. Que não destruam esse corpo que os amou, que gerou filhos e poemas, que se quebrou como vaso de barro em vários pontos. Cubram-me com um vestido de mangas longas e pintem meus lábi- os” (p. 200) “Somos sobreviventes quando con- tinuamos vivos, depois de uma situação desas- trosa” (p. 213). Não quero encerrar sem uma palavra so- bre o poema “Jardim Fechado”, uma beleza envolta em suave sensualidade onde tudo é dito sem usar as palavras para dizê-lo. Seriam des- necessárias (pp. 186/188). Comentar o livro de Raquel Naveira é um desafio. Cada viés dele justificaria uma análi- se. Respingo aqui estas mal traçadas para que sobre ele não reine o silêncio neste cantão de praia. Deixo no ar uma pergunta: a cronista é pessimista ou realista? Com a palavra o leitor. E assim se fecha o leque. - dos peregrinos, dos forasteiros. Ando bem e rapidamente pelas vias do tempo. Sinto-me sempre estrangeira. Não caibo aqui, mesmo sendo minha terra, mesmo sendo meu desti- no. E avanço, adianto-me com o peito para a frente, navego estendendo velas brancas. Não posso parar. Parar não paro.” Faz-me lembrar de Neruda, que sonhava em percorrer todas as estradas do mundo. Mais adiante ela confessa que se fosse flor seria uma margarida. Depois navega com a margarida nas lembranças de criança, nas len- das, nos fatos da vida, nas línguas, nas artes. A beleza da flor e seu significado. E conclui: “Be- leza e bondade encantam e mudam as circuns- tâncias difíceis (ainda acredito nisso).” Considerando a avassaladora presença do mal e a brutalidade reinante nos dias de hoje a autora escreve uma página dura mas realista. “Estamos leprosos, cheios de feridas emocio- nais que nos isolam do convívio com nossos semelhantes. A lepra penetra as raízes nervo- sas e faz com que não tenhamos mais sensi- bilidade. Estamos cativos de nossos erros imundos, negando a verdade. Não sentimos Enéas Athanázio é escritor, crítico, advogado, professor, Promotor de Justiça aposentado, ensaísta, cronista, biógrafo e membro do Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina e da Associação Nacional de Escritores.

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Ano XXXI Nº 382 junho de 2021

Enéas Athanázio

A crônica é um gênero literário considerado leve, o que não significa queseja fácil. Nela, o autor tem as ante-

nas ligadas para captar os temos “cronicáveis”,fiapos de vida às vezes mínimos, para trans-formá-los em belas páginas literárias. RubemBraga chegou a usar o voo de uma borboleti-nha amarela, no centro do Rio, para produziruma de suas mais belas crônicas.

Raquel Naveira, escritora prolífera e atu-ante nos periódicos destinados às letras, emseu livro “Leque Aberto” (Editora Penalux – S.Paulo – 2020) buscou caminhos diferentes ecriativos nas crônicas que reuniu no volume.Tomando como ponto de partida velho lequeencontrado nos guardados da mãe, distribuiuos textos em capítulos que melhor represen-tam seu conteúdo: abre-se o leque, as hastesdo leque, a renda do leque, os adornos do le-que, fecha-se o leque, o mofo do leque e epílo-go. Nas crônicas ela aborda os mais variadostemas, inclusive filosóficos, psicológicos, his-tóricos e outros, revelando-se sempre uma es-critora erudita e bem informada nos mais diver-sos campos do conhecimento. Confesso que lio livro de ponta a ponta, contrariando a regraque aprendi de que a crônica deve ser lida umaa uma para bem saborear e reter seu conteú-do.

Chamou minha atenção em particular, nes-te livro, o caráter intimista de muitas crônicas,escritas com franqueza e sinceridade, como sea autora desejasse fazer confissões íntimas,revelar o que vai no fundo de sua alma, talvezprocurando livrar-se de pensamentos pesadosà maneira de quem se submete à psicanálisee, deitada no divã, coloca-os para fora. Por ou-tro lado, é constante a busca do autoconheci-mento.

No correr da leitura começam a despontaros agrados e desagrados da cronista. A vaida-de avulta entre estas. “Vaidade de vaidades! Étudo vaidade! – escreveu o rei Salomão, por elalembrado. E prossegue: “Confessemos o quan-to somos vaidosos. O nosso cuidado exagera-do com a aparência. O desejo de atrair admira-ção e elogios. A necessidade de ter a própriaexistência reconhecida.” Por desagradável queseja, a vaidade está em toda parte e os que “seacham e têm certeza” são cada vez mais nu-merosos.

Em outra passagem a autora confessa queé tomada do mesmo ímpeto deambulatório deLima Barreto que palmilhava sem cansaço asruas cariocas. Andar é um de seus prazeres.“Sou da estirpe dos andarilhos, – escreveu ela

Crônicas Intimistasmais a presença do divino em nós e no outro. Épreciso clamar para que as cascas sejam reti-radas e voltemos a ter compaixão. Livremo-nosdesse mal bruto, que nos cega e nos dá as-pecto de leões. Que caiam as escamas e co-gumelos de nossos olhos. Que possamos ver.”

Para não me estender além do razoável,registro alguns pensamentos esparsos da cro-nista. “O teatro e a peste são benfazejos por-que fazem cair as máscaras e põem a desco-berto o quanto somos pobres, miseráveis e nus”(p. 106). “E eu me encontrei com Ricardo Reis,no Rio de Janeiro, certa vez. Assim, este en-saio é um delírio, um labirinto, um novelo, umateia” (p. 148) “Às vezes, como Clícia, penso quecarrego um fardo enorme. Meu corpo se curvae retorce como um girassol amargurado. Derepente, quando vejo o sol lá no alto, abro-meem pétalas, ergo a face cansada e me entregocomo oferta viva, pura, alma sedenta de luz”(p. 151) “Essas figuras preocupadas com apouca comida são a representação da fome.Nos lugares com fome de ética, o povo padecefome” (p. 154) “Sentimo-nos sensíveis às maisdiversas causas, choramos, empunhamos ban-deiras, enquanto milhares de seres humanosmorrem de forme ao nosso lado e não verte-mos sequer uma lágrima por eles” (p. 156).“Não creio em felicidade. Tenho alegria, força,bom ânimo e escrevo” (p. 194) “Peço a vocês,meus queridos, que não me cremem. Que nãodestruam esse corpo que os amou, que geroufilhos e poemas, que se quebrou como vaso debarro em vários pontos. Cubram-me com umvestido de mangas longas e pintem meus lábi-os” (p. 200) “Somos sobreviventes quando con-tinuamos vivos, depois de uma situação desas-trosa” (p. 213).

Não quero encerrar sem uma palavra so-bre o poema “Jardim Fechado”, uma belezaenvolta em suave sensualidade onde tudo é ditosem usar as palavras para dizê-lo. Seriam des-necessárias (pp. 186/188).

Comentar o livro de Raquel Naveira é umdesafio. Cada viés dele justificaria uma análi-se. Respingo aqui estas mal traçadas para quesobre ele não reine o silêncio neste cantão depraia.

Deixo no ar uma pergunta: a cronista épessimista ou realista? Com a palavra o leitor.

E assim se fecha o leque.

- dos peregrinos, dos forasteiros. Ando bem erapidamente pelas vias do tempo. Sinto-mesempre estrangeira. Não caibo aqui, mesmosendo minha terra, mesmo sendo meu desti-no. E avanço, adianto-me com o peito para afrente, navego estendendo velas brancas. Nãoposso parar. Parar não paro.” Faz-me lembrarde Neruda, que sonhava em percorrer todas asestradas do mundo.

Mais adiante ela confessa que se fosse florseria uma margarida. Depois navega com amargarida nas lembranças de criança, nas len-das, nos fatos da vida, nas línguas, nas artes. Abeleza da flor e seu significado. E conclui: “Be-leza e bondade encantam e mudam as circuns-tâncias difíceis (ainda acredito nisso).”

Considerando a avassaladora presença domal e a brutalidade reinante nos dias de hoje aautora escreve uma página dura mas realista.“Estamos leprosos, cheios de feridas emocio-nais que nos isolam do convívio com nossossemelhantes. A lepra penetra as raízes nervo-sas e faz com que não tenhamos mais sensi-bilidade. Estamos cativos de nossos errosimundos, negando a verdade. Não sentimos

Enéas Athanázio é escritor, crítico,advogado, professor, Promotor de Justiçaaposentado, ensaísta, cronista, biógrafo e

membro do Instituto Histórico eGeográfico de Santa Catarina e daAssociação Nacional de Escritores.

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Página 2 - junho de 2021

Revisão

Aulas Particulares

Profa. SoniaAdal da Costa

Cel.: (11) [email protected]

Um vírus invisível ameaçatodo o Planeta. Atravésda tv, assistimos ao so-

frimento de chineses, italianos, es-panhóis e outros povos. Não interes-sa, agora, saber quem é o pai dacriança. Milhões de pessoas estãomorrendo.

Pensar em nacionalismos oureligiões, neste momento, não adi-antará nada. Todo discurso, nestesentido, é o absurdo dos absurdos,uma vez que o vírus vem derruban-do fronteiras [fortemente militariza-das, muradas ou não].

Neste momento, em que nosencontramos em quarentena, minhaesposa, eu e nosso totó, reforçamosnossas barricadas, enquanto, vez ououtra, lemos, escrevemos e ouvimosmúsicas. Qualquer semelhança com“O dia em que a Terra parou”, deRaul Seixas, é mera semelhança.Maluco beleza? Profeta do apoca-lipse? Não importa. O baiano deixouuma obra em que devemos mergu-lhar, para revermos nossos concei-tos, pois “é lá no tronco que está ocoringa do baralho”.

Escravizamos e exterminamospovos, calamos ou assassinamosopositores, poluímos solos, mares,rios, lagoas, lagos, mares e o ar,devastamos florestas, levamos vári-os animais à extinção. O lucro ime-diato e a economia estavam acimade tudo.

Neste momento em que o silên-cio e o desespero se misturam, emque todas as atividades desumanasse congelam, o Planeta se recuperada poluição e os animais em vias deextinção (agora em vias de extensão)se reproduzem e se multiplicam.

O projeto genocida, de extinçãodas populações indígenas, na Ama-zônia, pelo governo fascista, conti-nua em andamento.

“Certas canções que ouço” ca-bem tão bem dentro de mim, como amúsica Instant Karma, de John Len-non, aqui fragmentada. O ex-Beatle,também profético, já nos alertava:“O carma instantâneo vai pegarvocê, baterá direto na sua cara. Émelhor você se recompor. Em brevevocê estará morto. No que você es-tava pensando, rindo na cara doamor? O que diabos você pensa queé? Um superstar? Junte-se à raçahumana. É melhor você reconhecerseus irmãos”.

O DIA EM QUE A TERRA PAROUNelson Marzullo Tangerini Este é um grande momento

para ouvirmos a boa música, aque-la melodia, suave ou amarga, ondeos loucos, profetas ou mestres nosdeixaram mensagens inteligentes,belas e significativas. É um bommomento, também, para lermos ourelermos A peste, de Albert Camus.E para repensarmos sobre 2018,quando colocamos no poder umacavalgadura.

Portanto, não adiantará nadavocê ser branco, negro, amarelo,vermelho, aborígene, europeu, afri-cano, ocidental, oriental, irlandês,inglês, palestino, judeu, brasileiro,venezuelano, cristão [católico, orto-doxo ou protestante], muçulmano,budista, comunista ou capitalista. Nacanção We are all water, de YokoOno, a intrusa japonesa nos diz que“somos todos águas de diferentesrios” e “que um dia evaporaremosjuntos”.

Talvez, depois de tudo isto,depois desta grande tempestade,você continue ignorando o que eudisse, o que eu digo, o que eu di-rei: “Você dirá que sou um sonha-dor, mas eu não sou o único. Espe-ro que um dia vocês se juntem anós e o mundo será como um só”.Sonho meu? Sonho também deJohn, Gandhi e Martin Luther king.“Quando eu falava dessas coresmórbidas, quando eu falava destetemporal, você não escutou, vocênão quer acreditar. Mas isto é tãonormal”. Ou seja: “Eu avisei”. Euavisei que era fascismo. Eu aviseique uma inquisição poderia estar acaminho. A covid-19 mandou o mun-do parar. Mas deixou o Planeta gi-rando. E isto é um grande sinal deesperança.

Nelson Marzullo Tangerini éescritor, professor, jornalista [email protected]

Revendo correspondências comescritores(as) brasileiras, e lá se vão maisde 35 anos, a de Olga Savary, de março2015, me tocou pela grandeza de sua gene-rosidade. Olga nos deixou em 15/05 de 2020,vítima da covid-19. Escritora, poeta, contis-ta, romancista, crítica, ensaísta, tradutora ejornalista brasileira, Olga Savary, detentorade mais 50 prêmios nacionais e internacio-nais, com sua peculiar sensibilidade tinhasempre uma palavra de incentivo para oschamados novos escritores.

Conforme foto ao lado, Olga assim seexpressa: “Dino querido, agradeço a genti-leza do envio do seu livro Cem poemas, deágil e inteligente poesia. A poesia - assimmesmo com P maiúsculo, aprecia a sínte-se, pois o excesso de palavras muitas vezes a mata. Ela, a Poesia,precisa de silêncio entre as palavras. O silêncio, nela, é fundamental,enquanto que o excesso é discurso de político, que muito fala e nãosignifica nada. Caso queira, pode utilizar esta breve opinião...”

Como nunca a utilizei, o faço agora numa espécie de homenageme agradecimento a essa escritora humanista, que neste 15 de maio fazum ano de sua viagem para sempre.

Segue um poema de Olga que faz referência a palavra silêncio.Vale a pena conhecer a obra dessa generosa e talentosa escritora!

Acomodação do desejo III

Olga Savary

Deito-me com quem é livre à beira dos abismose estou perto do meu desejo.Depois do silêncio úmido dos lugares de pedra,dos lugares de água, dos regatos perdidos,lá onde morremos de um vago êxtase,de uma requintada barbárie estávamos morrendo,lá onde meus pés estavam na águae meu coração sob meus pés,se seguisses minhas pegadas e ao êxtase me seguissesaté morrermos, uma tal morte seria digna de ser morrida.Então morramos dessa breve morte lenta,cadenciada, rude, dessa morte lúdica.

O silêncio de OlgaDinovaldo Gilioli

Dinovaldo Gilioli é escritor e poeta. Tem 7 livros publicados.Dentre os quais: Cem poemas (editora da UFSC) eInventário de Auroras (Costelas Felinas editora).

OlgaSavary

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Página 3 - junho de 2021

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Há livros, peças teatraise filmes que são universais e propiciam refle-

xões sérias. A película francesa “OsSete Pecados Capitais” é uma obrafamosa, no cinema. Ela enfoca es-tes terríveis vícios humanos em setehistórias expressivas e atraentes.A narrativa sobre o ORGULHO ésutil e inteligente, a da GULA é cô-mica. O mais interessante, no en-tanto, é no final do filme. Após a sé-tima história, o narra-dor dirige-se ao públi-co, pedindo-lhe queainda não se vá, por-que existe o OITAVOPECADO CAPITAL.Sem mencioná-lo, eleinicia o último relato.Aparece um corredorescuro e uma portasuspeita. De repentesurge um tipo mal en-carado. Após, vão aparecendo ascriaturas menos esperadas, maisestranhas, e todas se dirigem parao mesmo lugar: uma menina ino-cente, um marinheiro, um velho, umladrão, um padre, uma prostituta. Aestas alturas, imaginam-se horro-res: orgias, crimes, aberrações,pedofilia, bestialidades. A câmeradesvela o mistério, mostrando ooutro lado. É um palco, um teatro,e todas aquelas personagens insó-litas são apenas atores. Este é ooitavo pecado capital: imaginar omal onde ele não existe. Isto é pró-prio dos seres humanos e a lição étão preciosa quanto o filme. Na vidae na literatura se vê que esta é umaverdade contundente. No filme Vic-tor-Vitória, o tema é explorado àexaustão. Na realidade, nada écomo se imagina; a teoria do ser edo parecer explicam muitos fatos.Relembro três episódios verídicos,como ilustração.

Estávamos em 1960. O bairroSumarezinho não existia e diantedo Colégio Estadual “Alberto San-tos Dumont” havia mato alto; nemsinal de casas – só aquele prédioenorme, perto do matagal. Eramonze horas da noite. Acabada aaula, desci para o ponto de ônibus,sob a luz do primeiro poste. De re-pente surge uma mulher assusta-da, que se aproxima e me interpelacom medo: – Posso ficar aqui com

O OITAVO PECADO CAPITAL

A leitura de peças literárias, produzidas por JoãoBarcellos, trazem sem-

pre o novo para um painel crítico.Li o primeiro rascunho (para elesempre o definitivo) baseado numafrase que ele escutou em Embu dasArtes após uma palestra que ali pro-feriu. E, em plena pandemia, enga-jou-se aos assuntos rotineiros so-ciais e societários para nos daruma visão, não a do Brasil ´profun-do´, mas da profundidade abissalem que o Brasil se encontra com ahistória própria de suas gentes.

Em cada capítulo e em cadaparte do romance, ele inicia comum poema e uma brevíssima apre-sentação das origens do espaçourbano que tomou para cenário, noBrasil e em outros países.

Ele pegou aquela frase escu-tada num restaurante e transfor-mou-a em porta de entrada paraexplicar como um notório narcotra-ficante se camuflou numa socieda-de de poetas e filósofos para, logo,abrir a porta completamente e pos-sibilitar-nos a descoberta do sub-mundo que nos aterroriza social etecnologicamente (leia-se milíciase ´internet´), entre amores e ódios,submissões de gênero em ´frater-nidades´ que pregam o ódio.

Direcionada a todos os públi-cos, porque trata da sociedadecomo tal, o romance foi intitulado´Chicote Artificial´ por ter a ação,nem sempre social e republicana,das corporações ´digitais´ comoimagem a perpassar todos os qua-dros e cenários imaginados ou pin-çados da realidade. João Barcellos

CHICOTE ARTIFICIALO Romancevocê? Estou horrorizada: Você viu,

viu? Ali daquele casarão (ela apon-ta para o Colégio), daquele breu,está saindo um monte de homens!E eles vêm vindo nesta direção!

Tentei acalmá-la, explicandoque ali era uma escola e que o“montão de homens” eram alunosque se dirigiam para casa. Ela meolhou incrédula, cheia de dúvidase afastou-se. Eu devia estar man-comunada com aquele antro deperdição...

O outro aconteceu em plenodia. Eu lecionava emJardinópolis e davacarona diária a três co-legas, uma moça edois professores. Eu apegava primeiro, porquestão de localiza-ção geográfica e osdois nos esperavam naAv. Jerônimo Gonçal-ves, com a GeneralOsório. Certa manhã,

ouvi de alguém que estava em umbar, defronte nosso ponto de encon-tro: – Eu não sei não! Aí tem coisa!Todas as manhãs estas duas pa-ram o carro, os dois homens en-tram com um ar esquisito e os qua-tro somem, só Deus sabe paraonde!

Mudam-se as terras, os paí-ses, os costumes, mas os sereshumanos são sempre os mesmos.O terceiro depoimento foi uma pas-sagem amarga, na Europa, em1958. Eu tentava atravessar a fron-teira da Espanha e ir para a Fran-ça, onde estudava. Por inexperiên-cia (ou fatalismo?) fiquei sem di-nheiro e com problema de passa-porte vencido. Enfrentei um mar dedesconfiança, passei fome e frio(nevava, era dezembro) e apenasum sacerdote ajudou-me, sem pe-dir explicações. Grande lição! Maso sacerdote católico espanhol éuma exceção.

O comum, o geral, é um duvi-dar do outro e às vezes até de sipróprio. Essa é uma das causasprincipais de ser o oitavo pecadocapital o mais cometido pelos se-res humanos. Tudo são complexi-dades que fazem da existência um“happening” constante e do ho-mem, um estranho ator nos palcosda vida.

Ely Vieitez Lisboa

Ely Vieitez Lisboa é escritora.E-mail: [email protected]

Mário G. Castro

conseguiu formular a mistura finacom uma filosofia de crítica cons-trutiva poeticamente estabelecida.Já tinha lido algo parecido em Wal-ter Scott e em Ernest Hemingway,mas não com esta intensidade psi-cológica que choca e revolta. Maisuma vez, João Barcellos surge napraça literária com uma preciosi-dade. ´Chicote Artificial´ é um ro-mance da nossa era, da nossa ida-de e com os nossos problemassociais e corporativos, entre a mu-lher que tenta ser e o homem quea domina e nela se ´percebe´ se-nhor dos tempos e das gerações.

CASTRO, Mário G. de éFotojornalista e Serigrafista.

Rio de Janeiro, 2021.

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Página 4 - junho de 2021

Manchetes em Versos

Capa e o projeto gráfico de Xavier

Prefácio de Raquel Naveira

Sebo Brandão:https://www.estantevirtual.com.br/brandaojr/rosani-abou-adal-manchetes-em-versos-1920679020

Rosani Abou Adal

Adelto Gonçalves

Cagiano, uma poesia moldada de desespero

IObservatório do caos (São

Paulo, Editora Patuá), livro de poe-sias de Ronaldo Cagiano, publica-do em 2016, é uma continuação doinventário lírico de uma trajetória li-terária que, a rigor, começou comPalavra engajada, publicado em1989, e havia sido rastreada até Osol nas feridas, de 2012, obra já desua estada de dez anos na cidadede São Paulo, depois de uma tra-jetória de 28 anos em Brasília.

Em 2016, porém, o autor seaposentou após uma larga carrei-ra como advogado de um bancoestatal, transferindo-se para Portu-gal, depois de algumas experiênci-as pessoais traumáticas nas ruasde São Paulo, em busca de um lu-gar que oferecesse paz ao cidadão.Talvez por isso este livro já mostrealgumas das influências literáriasque o poeta sofreu em solo portu-guês, o que está mais acentuadoainda nos quatro livros que publi-cou depois de estabilizado em ter-ras lusas.

Como observa o poeta, ensa-ísta e crítico literário português Vic-tor Oliveira Mateus no ensaio “So-ciedade e ética na poesia de Ro-naldo Cagiano”, que abre o livro àguisa de prefácio, esta obra cons-titui “um olhar meticuloso e argutonão só sobre o homem nas suasmundividências, mas também so-bre a sociedade que o cerca e queao poeta se mostra recorrentemen-te como um território polimorfo, ar-diloso e que, o mais das vezes,ameaça aquilo que no ser humanofaz dele algo singular e único nes-te planeta em que fomos chama-dos a estar”.

É o próprio Mateus quem tra-ça essas influências, ao perceberque o fazer poético de Cagiano seaproxima desde cedo da obra deFernando Pessoa e seu heterôni-mo Álvaro de Campos na maneiracomo busca se libertar dos para-digmas metafísicos. E se acentuana citação que ele faz de FlorbelaEspanca no poema “Viagem às vís-ceras do inacontecido”, que traztambém uma referência a um “bei-jo negado no espalhar das cinzasdo futuro no cais tenebroso desseTejo de tantas ausências”.

Outra presença emblemáticada literatura de língua portuguesaé a do moçambicano Mia Couto,com quem o autor estabelece umdiálogo direto com seus poemas ouversos, como observa Matheus emseu rico ensaio. No poema “Relei-tura de um poema de Mia Couto”,Cagiano diz: (...) Apenas agora /venci a escuridão dos silêncios / asisudez dos lutos / a ignomínia daslutas, / porque sua energia intocá-vel, / incendiou meus passos. / Si-gamos, amada minha, / de peitoaberto e alma desnuda / sobre avida /desnudando a vida.

O poema “Memória” traz tam-bém como epígrafe esta frase deMia Couto: “o tempo, esse animalque defeca memória”. Além disso,em sua preocupação em dialogarcom outros autores, Cagiano fazreferência a versos do poeta por-tuguês Gastão Cruz: Estou certo,ainda, / aprés versos de GastãoCruz / que na tritura / da moe(n)dados dias / o homem esfarelado /descansará do inútil abismo /deonde / a luta versátil e imponderá-vel / o luto perseverante e indolen-te / semearam seus ovos / & nosenredaram / em insondáveis cami-nhos.

Já em “Vão território”, a epígra-fe é um verso de outro poeta mo-çambicano, o jovem Amosse Mu-cavele: “a voz do rio seca torna-senum eterno guardador de silênci-os”. Nessa poesia, diz: (...) Corpoà deriva / tentando entender no ron-co das marés / o rude aprendizado/ da impalpável mudez da madru-gada, / onde esconde-se a enxún-dia da morte.

IIA exemplo de O sol das feri-

das, nesta obra o poeta faz, umavez mais, de seu ofício um diálogocom o cotidiano, procurando recu-perar imagens da infância, como nopoema “Trajeto” em que traz à tonaas lembranças do pai, que tinhacomo profissão a de barbeiro numacidade pequena, a Cataguases dosanos 60: A vida perdida / nos qui-lômetros de rostos / depuradoscom perícia / Ele desconhece Dé-dalus / não sabe como sair de seulabirinto, / Teseu acorrentado / comfígado de Prometeu / Na hora me-dida do almoço / os mesmos pas-

sos contados / o mesmo perfumede Água Velva / legitimando a roti-na insossa.

No poema que leva o título “Obarbeiro” faz outra homenagem aopai: De suas hábeis mãos / ele in-terroga as faces úmidas / no bai-lar da lâmina / desbasta o jardimde pelos / corrige / as voçorocasda pele. (...) artesanato de mãos /que nunca se fatigam / nem en-ferrujam: / máquina de vincar ros-tos / tão despidos de outros / en-cantos. As lembranças estão ain-da no poema “Resquícios” em quediz: Do pai / restou o olhar migrante/ perdido no vazio da casa / entresilêncios e vertigens / De carênci-as e não-diálogos / fez-se o ges-to-lâmina / que guardo junto com /a navalha espanhola, / única he-rança de estranho afeto.

São poemas em que o poetanão disfarça que procura seguirtambém os passos de outrosgrandes poetas brasileiros, comoManuel Bandeira e Carlos Drum-mond de Andrade, o que fica claroem “Poema em linha torta” em quediz: Ainda tenho medo / do cha-péu de meu avô / (mas eu nuncative avô) / de suas orelhas de aba-no / e seu silêncio antigo como otempo / (feito o silêncio de seu fi-lho). Um poema que é dedicadoao poeta uruguaio Leonardo Ga-ret, autor de O livro dos suicidas(Editora Letra Selvagem, Taubaté,2019), cujo texto de apresentaçãona edição brasileira foi Cagianoquem escreveu.

Outro tema que permanecenos poemas de Observatório docaos é a (má) relação do poetacom a religião – ou a ausênciadesta em sua vida, substituída peloculto à literatura e aos seus nomesuniversais. Feita e moldada de

desespero, sua poesia questionasempre o sentido da vida para con-cluir que “todas as manhãs / o soltraz um novo luto, versos que en-cerram o poema “Abismos”.

É o que se constata tambémem “...onde estava Ele” que come-ça com a repetição de versos quejá estavam no poema “Ad nauseam”de O sol nas feridas: ... quando Hi-tler avançou / com seus coturnos,seus chuveiros letais / seus cam-pos de concentração / sobre toda ahumanidade? Depois, o poeta enu-mera uma série de desastres emonstruosidades ocorridas no Bra-sil e no mundo e pergunta: (...) Ondeestá Deus? / cujo poder não exer-cita? cuja vontade não realiza? Cu-jas bênçãos nunca vêm? / Ondeestá Deus / que não faz nada? Per-guntas que, hoje, muitos ateístas emesmo muitos crentes repetem di-ante das perdas diárias de nume-rosas vidas ceifadas pela pandemiado coronavírus (covid-19).

IIINascido em 1961 na mítica ci-

dade de Cataguases, no interior deMinas Gerais, Ronaldo Cagiano éescritor, ensaísta e crítico literário.Embora vivendo há cinco anos emPortugal, mantém a ligação com aterra brasílica, publicando em diver-sos jornais e revistas do País e doexterior, dentre os quais Hoje emDia, de Belo Horizonte, Jornal deBrasília, Jornal Opção, de Goiânia,Correio Braziliense, O Estado de S.Paulo e Revista Cult, de São Pau-lo.

Estreou-se com o livro de poe-sias Palavra engajada (1989). Des-de então, publicou Colheita amar-ga & outras angústias (poesias,São Paulo, 1990), Exílio (poesia,São Paulo, 1990), Palavracesa (po-

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Página 5 - junho de 2021

Adelto Gonçalves é doutor emLetras na área de Literatura

Portuguesa pela Universidadede são Paulo e autor de

Gonzaga, um Poeta doIluminismo, Tomás Antônio

Gonzaga, Direito e Justiça emTerras d´El-Rei na São Paulo

Colonial, Os Vira-latas daMadrugada e O Reino, a Colôniae o Poder: o governo Lorena na

capitania de São Paulo 1788-1797, entre outros.

[email protected]

R$ 35,00 comsuplemento atualizado.

Encomendar [email protected]

O livro E EU SEIFAZER VERSOS?

autoria de LólaPrata, explica cercade 80 modalidades

poéticas.

esia, Brasília, 1994), O prazer daleitura, em parceria com JacintoGuerra (contos juvenis, EditoraThesaurus, Brasília, 1997), Pris-mas – literatura e outros temas (crí-tica literária, Editora Thesaurus,Brasília, 1997), Canção dentro danoite (poesia, Editora Thesaurus,Brasília, 1999), Espelho, espelhomeu, em parceria com Joilson Por-tocalvo (infanto-juvenil, Brasília,2000), Dezembro indigesto (contos,Brasília, 2001), primeiro lugar noconcurso Bolsa Brasília de Produ-ção Literária de 2001, Concertopara arranha-céus (contos, LGEEditora, Brasília, 2005), Dicionáriode pequenas solidões (contos, Lín-gua Geral, Rio de Janeiro, 2006),Moenda de silêncios (novela emparceria com Whisner Fraga, Do-bra Ideias, São Paulo, 2012), O solnas feridas (poesia, Editora Dobra,São Paulo, 2012), finalista do Prê-mio Portugal Telecom de 2013, eEles não moram mais aqui (con-tos, Editora Patuá, São Paulo,2016; Editora Gato Bravo, Lisboa,2018), terceiro lugar no Prêmio Ja-buti de 2016.

Depois de Observatório docaos, publicou ainda Diolindas, emparceria com Eltânia André (nove-la, Editora Penalux, São Paulo,2017), Os rios de mim (poesia,

Editora Urutau, Pontevedra, Espa-nha, 2018), O mundo sem expli-cação (poesia, Editora Coisas deLer, Lisboa, 2019), e Cartografia doabismo (poesia, Editora LaranjaOriginal, São Paulo, 2020). Orga-nizou as coletâneas Antologia doconto brasiliense (Projecto Edito-rial, Brasília, 2001), Poetas minei-ros em Brasília (Varanda Edições,Brasília, 2001) e Todas as gera-ções – O conto brasiliense con-temporâneo (LGE Editora, Brasília,2006).

Observatório do caos, deRonaldo Cagiano. São Paulo,

Editora Patuá, 180 págs.,R$ 38,00, 2016.

E-mail: [email protected]: www.editorapatua.com.br

div u

lga

ção

Ronaldo Cagiano

Leito do Tietê em agonia,último suspiro do rio.Suas margens renascementre dejetos e flores mortas.Suas águas, o esgoto humanohabitante do seu silêncio.Pausa para a despoluiçãodos governantes e políticos,a esperança do Tietêser um novo rioe renascer em um novo tempopuro, claro e transparente.

Menino peraltaque quer ser atletae de bicicletacomeça a sonhar.

Pedala ligeirotal como uma flechaque grande flecheirodispara no ar.

Sobre a bicicletaele é uma cascataque desce na encostade um lindo lugar.

Vai pela calçadavoando veloz;é pássaro, é peixeque sabe voar.

Assim o menino(barbatanas certas),de asas abertasvoando bem alto,se faz acrobata– atleta do ar.

VERTIGEMEvaldo Balbino

Evaldo Balbino é escritor, poetae professor da Universidade

Federal de Minas Gerais.E-mail:[email protected]

Esperançade Renascer

Rosani Abou Adal é jornalista,membro da Academia de Letrasde Campos do Jordão e vice-presidente do Sindicato dosEscritores do Estado de São

Paulo. www.poetarosani.com.br

Rosani Abou Adal

A vida me ensinouque a tristezase manifestaem várias tonalidades...às vezesse revela na voz do silêncio– voz soturnacarregada de pungênciaque invadea delicadeza de nosso ouvidocomo dói!

A VOZ DOSILÊNCIO

Raymundo Farias de Oliveira éescritor, poeta e procurador do

Estado aposentado.

Raymundo Farias de Oliveira

Page 6: Crônicas Intimistas

Página 6 - junho de 2021

Uma leitora do meu romance autobiográficoEu amo os dois, lan-

çado pela editora Novo Século, en-viou-me uma carta, na qual escre-veu:

“O senhor, no seu romance,narra que se apaixonou por ma jo-vem muito bonita, mas abandonou-a, depois de descobrir isto: elaamava também um primo. Amavaos dois, o senhor e ele, devido aeste conselho da mãe, repetidodezenas de vezes: minha filha, na-more sempre dois rapazes, pois seum escapar, você ficará garantidacom o outro.”

A leitora do meu romance quersaber se eu poderia morrer deamor, vítima de uma paixão. Res-pondo negativamente. Nunca sereicapaz de morrer por amor, pelo fatode ser um cerebral, dono segurodos meus sentimentos afetivos. Sógosto de quem gosta de mim. Segosto de uma pessoa e perceboque ela não gosta de mim, afasto-me logo dessa pessoa. É o meucérebro que controla as minhasemoções...

Prezada leitora do meu ro-mance Eu amo os dois, já disse erepito, se Deus, ao criar o homeme a mulher, colocou a cabeça aci-ma do coração, e não o contrário,foi para que ela, a cabeça, possacontrolar os nossos impulsos, os

Histórias verdadeirasdos que morrem por amor

Fernando Jorge é escritor,jornalista e autor do romanceEu amo os dois, lançado pela

Editora Novo Século.

Fernando Jorge nossos instintos, os nossos senti-mentos.

Admito, todavia: muitos sereshumanos podem morrer de amor,de paixão, de saudade. E não ape-nas por outro ser humano, mastambém até por um animal.

Eu tinha um amigo que mor-reu por causa do seu grande amorpor uma cadela. Durante anos elepasseava, todas as manhãs, comesse animal. Era uma cadela bela(rimou), de corpo grande, de pelosbem brancos. Ela o obedecia sem-pre. Se ele pedisse para ela abai-xar a cabeça, a cadela abaixava. Ese pedisse para se deitar, deitava-se: Cheguei a dizer a ele:

– Esta sua cadela parece seruma linda mulher que se apaixonoupor você. Até parece que você e elase casaram, são marido e espo-sa.

Contudo, aos poucos, umadoença foi consumindo a cadela.Emagrecia cada vez mais. Um ve-terinário avisou o meu amigo:

– Ela só tem mais três mesesde vida.

O meu amigo também foiemagrecendo cada vez mais. Per-deu oito quilos. E quando ela mor-reu, ele, também em pouco tem-po, morreu de amor, de saudade...

Dói-me a alma, já saudosa,dos versos que não compus;

foge a hora, desditosa,como bala de alcaçuz.

Na poesia dos meus versos,entre as estrelas e luas,há mil segredos imersos

nas imagens que são tuas.

Eu tive, a noite inteirinha,você no meu travesseiro;

quem me dera uma varinhao tornasse verdadeiro.

Vão troteando, galopeiras,as trovas pelos caminhos;

singram águas, pantaneiras,ganham asas, passarinhos.

In: Das Águas do Meu Telhado,

LivroArte, 1999.

Mão que descreve em CírculoOs Ciclos da vidaNa letra que ensinaE na palavra que encaminha.

No profundo de seu olharTraz água-fonteUma bênção…Fluindo a essênciaDa força,do amor e da purificaçãodo vir a ser.

Àgua, terra, fogo e ar.É árvore-evolução.

No coração-naturezaViveNo centroDo eixo da vidaÉ terra, é seiva a revivescerNo encantoDe seu sorriso afetuoso.

Araraquara, 18/3/21

TROVASDébora Novaes de Castro

Débora Novaes de Castro éescritora, poeta, professora,artista plástica e Mestre emComunicação e Semiótica -

Intersemiose na Literatura enas Artes, Puc-SP, 2004.

Mãe (Áurea Augusta

Fernandes de Camargo)

Roseli B. de Camargo

(Na data de sua passagemao mundo astral)

Roseli Batista de Camargo éescritora, coordenadora do

Curso de Letras - FESL Jaboti-cabal/ SP -, diretora do NúcleoDocente Estruturante. Mestraem Letras na área de EstudosLiterários e doutora em Estu-dos Literários, pela UNESP-

Araraquara.

Depósito em conta 19081-0- agência 0719-6 - Banco do Brasil

Envio de comprovante e endereço [email protected]

Tels.: (11) 97358-6255

Assinatura Anual: R$ 140,00

Semestral: R$ 70,00

Page 7: Crônicas Intimistas

Página 7 - junho de 2021

Débora Novaes de Castro

Antologias:

Trovas: DAS ÁGUAS DO MEU TELHADO

Poemas: II Antologia - 2008 - CANTO DO POETA Trovas: II Antologia - 2008 - ESPIRAL DE TROVAS

Haicais: II Antologia - 2008 - HAICAIS AO SOL

Poemas Devocionais: UM VASO NOVO...

Haicais: SOPRAR DAS AREIAS - ALJÒFARES - SEMENTES -CHÃO DE PITANGAS -100 HAICAIS BRASILEIROS

Poemas: GOTAS DE SOL - SONHO AZUL -MOMENTOS - CATAVENTO - SINFONIA DO INFINITO -

COLETÂNEA PRIMAVERA - AMARELINHA - MARES AFORA...

Opções de compra: 1.www.deboranovaesdecastro.com.br, LIVROS.2. E-mail: [email protected] 3. Correio: Rua Ática, 119

- ap. 122 - Jd. Brasil - São Paulo - SP - Cep 04634-040.

LivrosSe for sair, feche a porta, ficção, de

Hilda Mendonça, Scortecci Editora, São Pau-lo, 93 páginas.

ISBN: 978-85-366-5996-1.A autora é escritora, professora, poeta,

contista, romancista e pós-graduada em Li-teratura e em Ensino a Distância. Membroda Associação Nacional de Escritores emembro fundador da Academia Taguatin-guense de Letras e da Associação dos Es-critores de Passos e Região.

Segundo Ana Fátima Macedo, “Leituradeliciosa, instigante e que leva a várias re-flexões sobre a vida e as consequências eriscos das nossas escolhas.”

Livraria Asabeça:www.asabeca.com.br

O Jardim das Cordeirinhas, contosde Djanira Pio, RG Editores, São Paulo, 96páginas.

ISBN: 978-65-87604-28-2.A autora é escritora, poeta e profes-

sora. Seus trabalhos foram publicados naFrança, Portugal e Itália. Membro da Aca-demia Santarritense de Letras e da RE-BRA.

Segundo Cecy Barbosa Campos, Pre-sidente da Academia Juiz-forana de Letras,“É um livro de ficção, mas passa-nos aimpressão de que a autora se inspira emfatos e experiências e pessoas reais, fa-zendo uma combinação perfeita entre me-mória e imaginação.”

RG Editores: www.rgeditores.com.br

Trinta Navios, de Dimas Macedo,Sarau das Letras Editora Ltda., Mossoró(RN), 184 páginas.

ISBN: 978-65-86269-23-9.O autor é escritor, poeta, jurista, pro-

fessor, crítico, historiador, memorialista,editor, contista, cronista e membro daAcademia Cearense de Letras. Mestreem Direito pela Universidade Federal doCeará.

Segundo Edmilson Caminha, “Dife-rentemente de escritores que nunca vãoalém da navegação de cabotagem, Di-mas Macedo prova-se, com Trinta Navi-os, um capitão de longo curso, a velejartranquilo pelas águas da grande Litera-tura. Para a felicidade nossa, passagei-ros privilegiados de uma travessia aotermo da qual nunca seremos os mes-mos, pelo sentimento de que nos trona-mos pessoas melhores, para quem, de-pois da invenção de Gutemberg, não há

viagem mais bela, nem mais prazerosa, do que ler um bom livro.”Dimas Macedo: [email protected]

O Camafeu - Estórias destes e de re-motos tempos, contos de J. Ribeiro Neto,Editora Trevo, São Paulo, 180 páginas.

ISBN: 978-65-5810-01-7O autor é escritor, contista, romancista,

engenheiro e pós-graduado em Economia Apli-cada pela Universidade Federal de Sergipe.Atuou como conselheiro do CREA-SE. Autor deUmas Estórias, O Estigma do Casarão - roman-ce agraciado com o Prêmio MALBA TAHAN daUnião Brasileira de Escritores-RJ - e do roman-ce Leminiscata que foi agraciado com o Prê-mio AMANDO FONTES.

A obra reúne 26 contos. “Sarita, a espa-nhola, encharcou tudo aquilo em conhaque,aproximou uma vela acesa. Senti uma fisgadade angústia quando vi as chamas devorando

aquela mulher, a começar pelo meio do peito, onde ardia, em vermelhocrepitante, um imaginário camafeu. Mas de pé, mãos dadas, formando umcírculo com meus companheiros, eu me declarei livre de qualquer ligaçãocom Edelvânia.”

José Ribeiro Neto: [email protected]

Aron: Cinema nas Veias - Feldman,biografia, organizada por Cláudio Feldman,Santo André (SP), 184 páginas.

ISBN: 978-65-00-19203-2.Cláudio Feldman é escritor, poeta, fic-

cionista e professor aposentado de Língua& Literatura. Autor de 57 livros de poesia,ficção, humor, Literatura, infantil e teatro. Émembro da Academia de Letras do Brasil,em Brasília.

Aron Feldman, cineasta e fotógrafo,nasceu em Quatro Irmãos (RS), em 15 deDezembro de 1919. Faleceu em 20 de ju-nho de 1993, em Santo André (SP). Foi fun-dador e presidente do Foto-Cineclube deBauru. Dirigiu filmes mudos como Insônia(1958), Strip-Tease (1962) e Encanto deMorfeu (1963). Casqueiro foi o primeiro fil-me sonoro que dirigiu, em 1966. O últimofilme Afogados (1992) foi premiado no Japão.

A obra retrata a vida e obra de um artesão de imagens, o cineastaAron Feldman. Foi financiada pelo Fundo Municipal de Cultura de SantoAndré e Prefeitura de Santo André.

Cláudio Feldman: [email protected]

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Página 8 - junho de 2021

Notícias

Roberto Scarano

Trabalhista - Cível - Família

Advogado

OAB - SP 47239

R. Major Basílio, 441 - Cjs. 10 e 11 - Mooca - São PauloTel.: (11) 2601-2200 - [email protected]

Antonio Fernando de Fran-ceschi, escritor, poeta, jornalista,editor e crítico, faleceu no dia 31de maio em São Paulo. Nasceu emPirassununga (SP) em 1942. Exer-ceu o cargo de diretor do Museu deArte de São Paulo, de diretor-su-perintendente do Instituto MoreiraSalles e de editor responsável pe-los Cadernos de Literatura Brasi-leira editados pelo Instituto MoreiraSales. Foi agraciado com o PrêmioJabuti pelo livro Tarde revelada ecom o Troféu APCA, na categoriaPoesia, com Caminho das águas.Foi o criador da série O Escritor porEle Mesmo e dos Cadernos de Li-teratura Brasileira. Autor dos livrosde poemas Tarde revelada, Cami-nho das águas, Sal, Fractais, AOlho Nu e Sete suítes.

Cesar Augusto de Carvalholançou o livro de contos Históriasde Quem é expert que abriga tex-tos com o tema Muitos em um eUm escritor, Raul Seixas, Gilga-mesh e a imortalidade, entre outros.

A Associação Estadual deLivrarias do Rio de Janeiro ele-geu nova diretoria que será presi-dida por Danielle Paul, da LivrariaCastro Alves, de Araruama (RJ).

Isabel Cintra lançou o livroinfantil Corvo-Correio pela MazzaEdições. A obra também foi lança-da em Angola, em dezembro de2020.

Maíra Lot Micales lançou Li-vro de Colorir Caminho Suave pelaEditora Edipro.

A Literare Books Internatio-nal lançou o selo infantil LiterareKids. loja.literarebooks.com.br

Marco Lucchesi, presidenteda Academia Brasileira de Letras,participou de um colóquio interna-cional virtual, promovido pela Uni-versidade de Évora, de Portugal,sobre a obra do filósofo EduardoLourenço com a palestra “Eduar-do Lourenço: Guerra e Paz”.

Ignácio de Loyola Brandão,membro da Academia Brasileira deLetras e da Academia Paulista deLetras, é a personalidade da 63ªedição do Prêmio Jabuti que é pro-movido pela Câmara Brasileira doLivro.

Dante José Alexandre Cid,da Elsevier Editora Ltda., é o novopresidente do Instituto Pró-Livropara o biênio 2021- 2023. Ele exer-ce o cargo de Vice-Presidentepara Assuntos Administrativos doSindicato Nacional dos Editores deLivros. O Instituto, criado em 2006pela Associação Brasileira de Edi-tores e Produtores de Conteúdo eTecnologia Educacional, CâmaraBrasileira do Livro e Sindicato Na-cional dos Editores de Livros, temcomo objetivo transformar o Brasilem um país de leitores.www.prolivro.org.br

A 7ª Jornada de Pesquisa-dores da Fundação BibliotecaNacional, com o tema “Memória ePreservação Digital”, será realiza-da de 19 a 21 de outubro. Está con-firmada a presença do Diretor Téc-nico Biblioteca Nacional da Espa-nha José Luís Bueren Gómez-Ace-bo. https://www.bn.gov.br/jornada-pesquisadores

Alessandra Pontes Roscoelançou Na palma da Mão e O cra-vo, a rosa e o jasmim, infantojuve-nil, pela Editora Canguru do GrupoElementar.

Bernardo Brayner lançou oromance Bicho Geográfico, pelaEditora Cepe, com apoio do Fun-cultura. A obra é uma narrativa me-morial amparada por fotografias deálbum de família - uma espécie deálbum de fotografias antigas trans-formado pela lente da memória eda ficção.

A Universidade CandidoMendes promoveu live, comemo-rativa pelos 119 anos da instituição,no dia 2 de junho, com uma pales-tra virtual sobre os caminhos daeducação na pandemia, com a par-ticipação do Magnífico Reitor Can-dido Mendes de Almeida - membroda Academia Brasileira de Letras-, do ex-senador Cristovam Buar-que, do professor Cristiano Tebal-di e de pró-reitores da universida-de. O evento está disponível noYoutube da Universidade CandidoMendes. https://www.youtube.com/watch?v=lvRAAU5I6Y8

Dori Carvalho lançou o livrode crônicas Pequenas ConquistasPerdidas, pela Editora Valer, emuma live realizada no dia 22 demaio, no facebook. O livro foi con-templado com o Prêmio FelicianoLana – Secretaria de Estado daCultura/AM, pela Lei Aldir Blanc,com os projetos: Sangria – cd depoemas e com o livro de crônicasPequenas conquistas perdidas. Aobra reúne 45 crônicas que forampublicadas nos jornais de Manaus,a partir do ano 2000.

A Livraria Gato Sem Rabo,dirigida e idealizada por JohannaStein, reúne um acervo de obrasescritas por mulheres. Inauguradaem 14 de abril, está localizada naRua Amaral Gurgel, 338, em SãoPaulo (SP). (11) 99976-0011.

Almir Diniz, poeta, contista,cronista, jornalista e advogado,faleceu no dia 28 de maio em Ma-naus (AM). Nasceu em 6 de no-vembro de 1929, em Cambixe,município do Careiro - distrito domunicípio de Manaus. Membro daAcademia Amazonense de Letrase do Instituto Geográfico e Históri-co do Amazonas. Foi agraciadocom o Prêmio Esso de Reporta-gem Norte-Nordeste, com a maté-ria “Borracha: dinheiro, sangue emiséria”. Trabalhou nos jornais Fo-lha do Povo, O Combate, A Crítica,O Jornal e Diário da Tarde. Foi co-laborador do Linguagem Viva.Exerceu os cargos de prefeito mu-nicipal de Careiro (AM), de diretordo Departamento Estadual deTrânsito do Amazonas, de repre-sentante do Amazonas na Asso-ciação Brasileira de Municípios ede procurador judicial do Departa-mento de Estradas de Rodagem doAmazonas. Autor de Encontroscom a natureza, Caminhos daalma, Corpo de Mulher, Andançaspoéticas, Os Deuses, Floradas doCorpo, No Portal da Eternidade,Algemas de Ternura, Plumas Hu-manas (Vestiduras e Adornos fe-mininos), A Virgem de Taipa e ou-tros contos, O Mercador de So-nhos & Outros Contos, Pétalas ePenas, Melodia Pagã, Magia e Se-dução, Mulheres, entre outras im-portantes obras. Organizou O “Chádo Armando” em prosa e verso -Tributo ao Samaúma Armando deMenezes.

A Livraria Leitura inauguroumais uma loja no Shopping Interla-gos, em São Paulo.

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Almir Diniz

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Antonio Fernando de Franceschi

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