Cultivo da boa música

10
Cidade BBBBBB x luxo Cultura BBBBBBBBBBBBBBBBBB Estilo de vida Arte e qualidade de vida Projeto Laboratorial – N o 16 – Dezembro/2012 – UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto Construção BBBB B movimenta economia Negócios

description

Reportagem sobre a história da segunda orquestra mais antiga do país em atividade ininterrupta, Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto.

Transcript of Cultivo da boa música

Page 1: Cultivo da boa música

Cidade

BBBBBB x luxoCultura

BBBBBBBBBBBBBBBBBBEstilo de vida

Arte e qualidade de vida

Projeto Laboratorial – No 16 – Dezembro/2012 – UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto

ConstruçãoBBBB Bmovimenta economia

Negócios

Page 2: Cultivo da boa música

EDITORIAL

Paixão e Compromisso

A revista Vida Urbana é o projeto de encerramento do cur-so de Jornalismo da Universidade de Ribeirão Preto e já, há alguns anos, vem cumprindo o objetivo de finalizar es-

se processo de aprendizado e experiência de forma brilhante. Escolhemos a mídia revista para esse momento por en-

tendermos que se trata do mais sofisticado suporte para vei-culação de notícias.

Sendo assim, durante o processo de produção das maté-rias, agora publicadas on-line, os alunos concluintes têm a rara oportunidade de, ainda na Universidade, entrarem em contato com o que se convencionou chamar reportagens interpretati-vas ou dissertativas.

Abordando temas que se referem exclusivamente à co-munidade em que vivem, trabalham e estudam, ou seja, a re-gião de Ribeirão Preto, os jovens repórteres podem, no caso de uma revista, se aprofundar em questões que não seriam con-templadas numa notícia ou mesmo reportagem de jornal, TV ou internet.

Isso porque essa é a mídia que permite alargar e vertica-lizar o foco do tema tratado, discutindo-o e analisando-o, atra-vés das fontes apropriadas. Trata-se, portanto, do ponto mais alto da função jornalística - aquele que exige rigor na apuração, adequação e beleza textual, além de uma noção estética mais abrangente no projeto gráfico.

Esse ano, a edição de Vida Urbana mais uma vez de-monstra que os formandos de uma no-va turma de Jornalismo da Unaerp estão prontos para ingressarem no mercado com as ferramentas técnicas necessá-rias, mas, mais que isso, com o com-promisso e a paixão que todo bom jor-nalista deve ter pelo ofício de informar e integrar sua comunidade.

Foto capa: André Paterlini

EXPEDIENTE

Reitora da UNAERP:Profa. Elmara Lucia de Oliveira Bonini

Coordenadores do Curso de Comunicação Social:Habilitação em Jornalismo

Profa. Me. Flávia Cortese Martelli Habilitação em Publicidade e Propaganda

Prof. Me. João de Assis Soares

Professores responsáveis:Carmen Cagno– Pauta, reportagem, redação e ediçãoDaniel do Carmo– Projeto gráfico, arte e editoraçãoElivanete Zupollini Barbi– Pauta, reportagem, redação e edição

Reportagem, Fotografia, diagramação e editoraçãoBruna ZanutoCarol StrabelliCélia SantosCláudia KoisumiDaniele LongoFlávio CoelhoFrancieli SpadariJoanna PrataLarissa CostaLeandro MartinsLuara GalachoLucas MartinsLucas MoreiraLuiz EduardoMariana NaborNatália DovigoRogério Moroti

A Revista Vida Urbana é uma produção laboratorial da 8a. Etapa do Curso de Jornalismo da UNAERP – Universidade de Ribeirão Preto.

Av. Costábile Romano, 2201Ribeirão Preto – SPFone: (16) 3603-6716

2012

Page 3: Cultivo da boa música
Page 4: Cultivo da boa música

12 VIDA URBANA [8a ETAPA 2012]

Luzes acessas no teatro. O público chega. Aos poucos cada um vai tomando o seu lugar, não só na plateia, mas no palco também. Em meio aos cumprimentos, encontros entre amigos, músico a músico vai se posicionando para afinar seus ins-trumentos. As notas se misturam buscando a perfeição em cada som. Toca o ter-ceiro sinal. As luzes da plateia dimi-nuem, ao mesmo tempo em que o palco fica claro. O spalla se posicio-na para afinar a orquestra e logo em seguida volta para a primeira fileira dos violinos. Maestro entra. Pú-blico aplaude. É exatamento is-so o que acontece há 74 anos. A Orquestra Sinfônica de Ribei-rão Preto começa a tocar. Apro-veite este espetáculo!

História

O Cultivo da Boa Música

TexTo e FoTos: Bruna ZanuTo

Page 5: Cultivo da boa música

12 VIDA URBANA [8a ETAPA 2012]

Luzes acessas no teatro. O público chega. Aos poucos cada um vai tomando o seu lugar, não só na plateia, mas no palco também. Em meio aos cumprimentos, encontros entre amigos, músico a músico vai se posicionando para afinar seus ins-trumentos. As notas se misturam buscando a perfeição em cada som. Toca o ter-ceiro sinal. As luzes da plateia dimi-nuem, ao mesmo tempo em que o palco fica claro. O spalla se posicio-na para afinar a orquestra e logo em seguida volta para a primeira fileira dos violinos. Maestro entra. Pú-blico aplaude. É exatamento is-so o que acontece há 74 anos. A Orquestra Sinfônica de Ribei-rão Preto começa a tocar. Apro-veite este espetáculo!

História

O Cultivo da Boa Música

TexTo e FoTos: Bruna ZanuTo

13VIDA URBANA[8a ETAPA 2012]

O dia 23 de maio de 1938, marcou o sur-gimento da associação que é responsá-vel por uma das orquestras mais anti-

gas do Brasil, a Associação Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto, também conhecida pela sigla OSRP. Já uma senhora, a Sinfônica de Ribeirão é considerada a segunda orquestra mais antiga do país em atividade ininterrupta, perdendo só para a Orquestra do Teatro Municipal do Rio de Janeiro. Mas, segundo a responsável pelo Arquivo Histórico da OSRP, a musicista Gisele Haddad, existem fortes indí-cios de que na realidade, a Orquestra de Ribeirão seja

a mais antiga em atividades ininterruptas. Isso por-que a orquestra carioca existe desde 1909, mas pode ter interrompido suas ativida-des em algum período. “É necessário um estudo minucioso sobre a história de to-das as orquestras brasileiras do início do

século XX para se averiguar esse assun-to”. Gisele explica que muitas delas que-rem o título de mais antiga e se apresen-tam como tal, mesmo sem comprovação por meio de documentos. “Posso citar a Orquestra de Recife, de 1930, e de Porto Alegre, do ano de 1950”.

O documento que comprovaria ser a sinfônica da “Califórnia Bra-sileira” a mais antiga do país é um programa de concerto, pertencen-te ao arquivo pessoal de Luiz Bal-do, do segundo festival da Sociedade Cultural Artística de Ribeirão Preto,

Orquestra Sinfônica de Ribeirão Preto apresenta o 4° concerto, no ano de 1939 comemora os 156 da cidade

realizado em 1929, que mantinha a conhecida Orches-tra Synphonica de Ribeirão Preto, e que também seria a mesma orquestra que inaugurou o Theatro Pedro II, na década de 30. “Isso quer dizer que a orquestra é mais an-tiga que a associação que a mantém. A associação tem 74 anos, mas a orquestra tem 83”, explica.

Seja a mais antiga ou não, quem começou esta histó-ria foi Max Bartsch (veja box na página XX). Violinista alemão e tocador de cítara, ele foi o principal fundador da OSRP e o primeiro presidente da Orquestra. Junto com ele, vários amantes da música erudita, estrangeiros ou não, batalharam para a manutenção e existência da orquestra. Sem sede própria, os ensaios eram realizados na casa do próprio Max e de alguns integrantes da ins-tituição. Passados alguns anos, os encontros aconteciam no subsolo do Pedro II, no período da noite. Isso por-que todos os músicos trabalhavam durante o dia. Embora exaustos e atrasados devido aos seus ofícios, não havia motivo para desânimo.

Instituição sem fins lucrativos, a Orquestra de Ribei-rão existiu e persistiu com a ajuda de sócios e patrocina-dores, sendo que no início a maioria dos associados eram os próprios músicos. Nos primeiros anos, os instrumen-tistas não eram assalariados, tocavam pelo amor à músi-ca, e para se manter exerciam suas profissões que garan-tiam a renda da família.

A Orquestra viveu a sua pior crise durante a Segunda Guerra Mundial. No ano de 1945, quase fechou as por-tas por falta de dinheiro para sua manutenção. Naquela época, não havia leis de incentivo à cultura, como a atu-al Lei Rouanet, criada em 23 de dezembro de 1991, que hoje mantém grande parte da receita da Sinfônica.

Page 6: Cultivo da boa música

14 VIDA URBANA [8a ETAPA 2012]

História

Nós três sempre estivemos juntos: eu, o Bogdan e a clarineta

A situação política e financeira na antiga União Soviética foi uma das responsáveis pela vinda de russos, búl-garos e ucranianos para a OSRP na década de 90, que acabou agregando qualidade e profissionalismo. O clari-netista ucraniano Bogdan Dragan, 40 anos, começou os estudos da clarine-ta aos 10. Ele ficou sabendo da audi-ção da orquestra ribeirão-pretana por intermédio de um amigo. Montou um vídeo e foi convidado a mudar-se para

o Brasil em 1998, na época em que o regente era Roberto Minczuk. Casado e pai de uma menina, Sofia Dragan, ele resolveu fugir da crise que impera-va na Ucrânia, e veio para o país do samba. “Minha rotina nos primeiros dias se resumia em tomar banho frio a cada 10 minutos e estudar o portu-guês”, conta o clarinetista.

Já sua esposa, Snizhana Drahan, veio para o Brasil um ano depois. Professora e regente de coro, ela diz que gostava de canto desde muito ce-do. Nascida em família de músicos,

““

Som doestrangeiro

Durante muitos anos os ensaios da Orquestra foram nômades. Sem sede própria, os encontros aconte-ciam na casa dos músicos e diretores, ou no subsolo do Pedro II. Depois de muito esforço, a Sociedade Musical conquistou uma sede, que era apenas uma sala, instalada no prédio Diede-richsen. Mas a alegria durou pouco. Não havia recursos suficientes para o pagamento do aluguel.

Novamente sem um local fixo para ensaios, a OSRP lançou o “Livro de Ouro dos Sócios Beneméritos”. Este livro consistia na assinatura de sócios e a quantia doada por eles, sendo a primeira a da Sinhá Junqueira, com a doação de 20 mil cruzeiros. Essa foi uma das razões para que a Sinhá te-nha sido intitulada Sócia Benémerita da Sinfônica de Ribeirão. Mas o amor pela instituição não parou por aí. Em 1950, ela doou um valioso terreno de 1.320 metros quadrados, localizado na Avenida Francisco Junqueira, pa-ra ser construída uma sede.

No entando, não foi erguida a sede nesse terreno, mas o valor adquirido com sua venda, possibilitou a compra de um imóvel localizado na Rua São Sebastião 1.002 que desde 1958 é a sede da Orquestra. Este espaço trouxe muita alegria para a associação, mas também traz histórias inusitadas.

O prédio em que abriga a orques-tra é considerado, por alguns, como mal-assombrado e guarda lendas co-mo, por exemplo, a luz vermelha no forro que nunca se apaga. José Maria Lopes trabalha na Sinfônica há 32 anos e atua como trombonista há 26. Ele conta que já presenciou cenas inexplicáveis dentro do prédio. “Por várias vezes, eu ficava aqui sozinho até tarde estudando e presenciei por-

ta se abrindo sozinha, sem ven-to e sem ninguém. E também tem uma luz no teto que não desaparece”. A tão temida luz no teto aparece por uma fres-ta entre as placas de madeira no forro. A cobertura já passou por reformas e ninguém nunca conseguiu encontrar essa luz, que não se apaga desde a cons-trução deste prédio.

Zé, que é considerado “histó-ria viva” da Orquestra de 1980 até hoje, lembra também de fatos engraçados. “Teve um concerto no Teatro Municipal de Ribei-rão, onde os praticáveis estavam muito velhos, e no momento em que o maestro deu a entrada pa-ra os trombones, os três trombo-nistas caíram junto com os prati-cáveis”, explica ele gargalhando ao lembrar da história.

São muitas lendas e lembran-ças em meio às quais, a Orques-tra começou a se profissionalizar na década de 90, quando todos os colaboradores passaram a re-ceber salário, ter carteira assina-da e carga horária a ser cumpri-da. Consequentemente, deu-se o desenvolvimento técnico com a vinda de grandes maestros.

A Sinfônica teve vários ma-estros-titulares renomados como: Ignázio Stábile, Enrico Ziffer, Spartaco Rossi, Hércules Gume-rato, José Viegas Neto, Lutero Rodrigues, Marcos Pupo Noguei-ra, Jorge Salim, Roberto Min-czuk, Norton Morozowicz, Ma-theus Araújo, Marcos Arakaki e Cláudio Cruz. Além de ter si-do regida por maestros convida-dos e consagrados como João Car-los Martins, Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Filipe Lee, Gunter Neuhold e Ricardo Kanji.

Novo lar

Page 7: Cultivo da boa música

14 VIDA URBANA [8a ETAPA 2012]

História

Nós três sempre estivemos juntos: eu, o Bogdan e a clarineta

A situação política e financeira na antiga União Soviética foi uma das responsáveis pela vinda de russos, búl-garos e ucranianos para a OSRP na década de 90, que acabou agregando qualidade e profissionalismo. O clari-netista ucraniano Bogdan Dragan, 40 anos, começou os estudos da clarine-ta aos 10. Ele ficou sabendo da audi-ção da orquestra ribeirão-pretana por intermédio de um amigo. Montou um vídeo e foi convidado a mudar-se para

o Brasil em 1998, na época em que o regente era Roberto Minczuk. Casado e pai de uma menina, Sofia Dragan, ele resolveu fugir da crise que impera-va na Ucrânia, e veio para o país do samba. “Minha rotina nos primeiros dias se resumia em tomar banho frio a cada 10 minutos e estudar o portu-guês”, conta o clarinetista.

Já sua esposa, Snizhana Drahan, veio para o Brasil um ano depois. Professora e regente de coro, ela diz que gostava de canto desde muito ce-do. Nascida em família de músicos,

““

Som doestrangeiro

Durante muitos anos os ensaios da Orquestra foram nômades. Sem sede própria, os encontros aconte-ciam na casa dos músicos e diretores, ou no subsolo do Pedro II. Depois de muito esforço, a Sociedade Musical conquistou uma sede, que era apenas uma sala, instalada no prédio Diede-richsen. Mas a alegria durou pouco. Não havia recursos suficientes para o pagamento do aluguel.

Novamente sem um local fixo para ensaios, a OSRP lançou o “Livro de Ouro dos Sócios Beneméritos”. Este livro consistia na assinatura de sócios e a quantia doada por eles, sendo a primeira a da Sinhá Junqueira, com a doação de 20 mil cruzeiros. Essa foi uma das razões para que a Sinhá te-nha sido intitulada Sócia Benémerita da Sinfônica de Ribeirão. Mas o amor pela instituição não parou por aí. Em 1950, ela doou um valioso terreno de 1.320 metros quadrados, localizado na Avenida Francisco Junqueira, pa-ra ser construída uma sede.

No entando, não foi erguida a sede nesse terreno, mas o valor adquirido com sua venda, possibilitou a compra de um imóvel localizado na Rua São Sebastião 1.002 que desde 1958 é a sede da Orquestra. Este espaço trouxe muita alegria para a associação, mas também traz histórias inusitadas.

O prédio em que abriga a orques-tra é considerado, por alguns, como mal-assombrado e guarda lendas co-mo, por exemplo, a luz vermelha no forro que nunca se apaga. José Maria Lopes trabalha na Sinfônica há 32 anos e atua como trombonista há 26. Ele conta que já presenciou cenas inexplicáveis dentro do prédio. “Por várias vezes, eu ficava aqui sozinho até tarde estudando e presenciei por-

ta se abrindo sozinha, sem ven-to e sem ninguém. E também tem uma luz no teto que não desaparece”. A tão temida luz no teto aparece por uma fres-ta entre as placas de madeira no forro. A cobertura já passou por reformas e ninguém nunca conseguiu encontrar essa luz, que não se apaga desde a cons-trução deste prédio.

Zé, que é considerado “histó-ria viva” da Orquestra de 1980 até hoje, lembra também de fatos engraçados. “Teve um concerto no Teatro Municipal de Ribei-rão, onde os praticáveis estavam muito velhos, e no momento em que o maestro deu a entrada pa-ra os trombones, os três trombo-nistas caíram junto com os prati-cáveis”, explica ele gargalhando ao lembrar da história.

São muitas lendas e lembran-ças em meio às quais, a Orques-tra começou a se profissionalizar na década de 90, quando todos os colaboradores passaram a re-ceber salário, ter carteira assina-da e carga horária a ser cumpri-da. Consequentemente, deu-se o desenvolvimento técnico com a vinda de grandes maestros.

A Sinfônica teve vários ma-estros-titulares renomados como: Ignázio Stábile, Enrico Ziffer, Spartaco Rossi, Hércules Gume-rato, José Viegas Neto, Lutero Rodrigues, Marcos Pupo Noguei-ra, Jorge Salim, Roberto Min-czuk, Norton Morozowicz, Ma-theus Araújo, Marcos Arakaki e Cláudio Cruz. Além de ter si-do regida por maestros convida-dos e consagrados como João Car-los Martins, Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky, Filipe Lee, Gunter Neuhold e Ricardo Kanji.

Novo lar

15VIDA URBANA[8a ETAPA 2012]

Principal palco

Tanto o Theatro Pedro II quanto a Orquestra Sinfônica de Ribei-rão Preto são considerados patrimônios histórico-culturais da cidade. Ambos lutaram e ainda lutam muito pela sua sobrevivência. Inaugu-rado no dia 8 de outubro de 1930, com apresentação da Orchestra Synphonica de Ribeirão Preto, o Theatro é considerado o principal palco da OSRP.

O concerto de inauguração do Pedro II foi regido pelo maestro Ig-nacio Stabile, que apresentou a obra Il Guarany, de Carlos Gomes. Logo após as festividades, foi acordado que a Sinfônica de Ribeirão apresentaria seis concertos de gala anualmente, estreitando ainda mais os laços entre as duas instituições.

O Theatro foi durante muitos anos um dos espaços que os músi-cos da Sinfônica utilizavam para ensaiar. Isto aconteceu até o ano de 1980, quando pegou fogo e ficou 16 anos abandonado sob ruínas. No ano de 1996, o Pedro II finalmente foi reinaugurado, depois de anos de recuperação e restauração, e mais uma vez a Orquestra esteve pre-sente em uma data importante no seu palco preferido. Ali, foi a vez de Roberto Minczuk reger a mesma obra de Carlos Gomes que havia sido apresentada no concerto de 1930. Houve também a apresenta-ção da 9ª Sinfonia de Beethoven, sob a batuta de Isaac Karabtchevsky.

Anualmente, a Sinfônica apresenta um concerto de comemora-ção da reinauguração e do aniversário do Pedro II, além de apresen-tar mensalmente as séries Concertos Internacionais e Juventude Tem Concerto, arrancando longos aplausos do público e lotando as galerias.

Sinfônica de Ribeirão e o Theatro Pedro II comemoram os 156 da cidade

Sni, como é conhecida pe-los amigos, já regeu impor-tantes corais da Ucrânia e em 2008 criou a Escola de Canto Coral da OSRP, e ensaia três coros: lírico, de câmara e juvenil. Ela conta que para não perde-rem as raízes, as filhas So-fia (nascida na Ucrânia) e Caterina (nascida no Bra-sil), têm aulas de ucrania-no e russo toda semana, mas o idioma russo preva-lece no ambiente familiar.

Na época, o casal não pensou nas dificuldades e veio com duas malas. Andavam de bicicleta e achavam a vida uma maravilha. “Ho-je, eu não sei se eu faria tudo isso no-vamente. Mudar para um país que não conhecíamos, com criança pequena e sem segurança no empredo. É meio loucura”, explica a regente entre sor-risos e olhar de espanto. Bebê no colo, panelas, passeios de bicicleta e mui-tas cartas para a Ucrânia, foram assim os primeiros dias de Snizhana no no-vo país. E ela brinca com o marido: “Nós três sempre estivemos juntos: eu, o Bogdan e a clarineta”.

““ Minha

rotina nos primeiros dias se resumia em tomar banho frio a cada 10 minutos e estudar o português

Som doestrangeiro

Page 8: Cultivo da boa música

Seu filho, Vinícius Ferreira, 26 anos, resolveu seguir seus os pas-sos, e desde 2005 toca contrabaixo ao lado de seu maior mestre. “Come-cei a estudar contrabaixo em 2000 e meu pai foi o meu primeiro profes-sor”. Desde criança, Vinícius acom-panha o pai no trabalho, mas o en-contro com a música não foi amor à primeira vista. “Eu tinha 14 anos quando comecei a me interessar pela música. Foi quando a Orquestra fez uma montagem da Carmina Burana, de Carl Orff, e precisava de crianças para integrar o coro”.

Mesmo tendo feito musicalização em outros instrumentos, Vinícius não fugiu às raízes. Waltinho resume como é trabalhar ao lado do filho: “é como se estivesse em família, é o que muita gente quer”.

16 VIDA URBANA [8a ETAPA 2012]

Músico mais antigo da “casa”, devido aos seus 32 anos de

OSRP, Walter Ferreira, 56 anos, é o “patrimônio” da Orquestra. Ele já es-tudou outros instrumentos, até che-gar no que viria a ser o seu sustento nas últimas três décadas, o contrabai-xo. “Escolhi o contrabaixo pela bele-za do som, pois tem um som grave”, conta Waltinho. Antes de entrar na Sinfônica, ele já havia tocado muito

em bandas de música popular. Mas o seu gosto pela música orquestral falou mais alto. Natural de Barretos-SP, mudou-se a Ribeirão em 1975 e cin-co anos depois já fazia parte do naipe de contrabaixo da instituição.

Ele lembra que havia muitas brin-cadeiras entre os músicos, como por exemplo, soltar a cravelha dos ins-trumentos de corda para desafiná-los nos ensaios. “As vítimas eram esco-lhidas discretamente. Quando chegou a minha vez, todos riram do som que o contrabaixo desafinado provocou”.

Concordando com o trombonis-ta Zé Maria, ele ressalta a importân-cia da profissionalização que a Or-questra conquistou a partir de 1990 e comenta a chegada dos estrangei-ros. “A música é universal. A par-titura é a mesma em qualquer canto do mundo”. Ele também se recorda de uma das crises que enfrentou nas três décadas de trabalho na institui-ção. “Acredito que a pior que viven-ciei foi no ano de 92, quando teve a troca de moeda nacional. Tivémos que começar do zero”.

Tocando em família

Max BartschNascido em Nuremberg, na Alemanha, em 9 de abril de 1888, Max Bartsch se mudou

com sua família para o Brasil em 1910. No início, a família morou em uma fazenda em Jar-dinópolis-SP e em 1914 veio para Ribeirão Preto. Era jardineiro como seu pai, e no ano de 1920 foi contratado pela prefeitura da cidade, para cuidar do Horto Municipal. Hoje em dia, ninguém imagina que foi ele quem plantou as palmeiras das praças das Bandeiras e XV de Novembro. Depois de um tempo, Max foi convidado para trabalhar na Cervejaria Antarcti-ca, onde ficou durante 12 anos e conquistou o cargo de gerente. Mesmo sua família mudan-do-se para Taubaté-SP, ele permaneceu em Ribeirão, e se casou em 1922.

A música sempre fez parte da vida de Max Bartsch. Desde jovem, ele estudava música na Alemanha. Chegou a tocar violão, violino, mas preferia a cítara. Em 1928, criou o Quinte-to Max. Nos anos 30, também participou do Jazz Band Cassino Antartica. Em 1938, fundou

História

Page 9: Cultivo da boa música

Seu filho, Vinícius Ferreira, 26 anos, resolveu seguir seus os pas-sos, e desde 2005 toca contrabaixo ao lado de seu maior mestre. “Come-cei a estudar contrabaixo em 2000 e meu pai foi o meu primeiro profes-sor”. Desde criança, Vinícius acom-panha o pai no trabalho, mas o en-contro com a música não foi amor à primeira vista. “Eu tinha 14 anos quando comecei a me interessar pela música. Foi quando a Orquestra fez uma montagem da Carmina Burana, de Carl Orff, e precisava de crianças para integrar o coro”.

Mesmo tendo feito musicalização em outros instrumentos, Vinícius não fugiu às raízes. Waltinho resume como é trabalhar ao lado do filho: “é como se estivesse em família, é o que muita gente quer”.

16 VIDA URBANA [8a ETAPA 2012]

Músico mais antigo da “casa”, devido aos seus 32 anos de

OSRP, Walter Ferreira, 56 anos, é o “patrimônio” da Orquestra. Ele já es-tudou outros instrumentos, até che-gar no que viria a ser o seu sustento nas últimas três décadas, o contrabai-xo. “Escolhi o contrabaixo pela bele-za do som, pois tem um som grave”, conta Waltinho. Antes de entrar na Sinfônica, ele já havia tocado muito

em bandas de música popular. Mas o seu gosto pela música orquestral falou mais alto. Natural de Barretos-SP, mudou-se a Ribeirão em 1975 e cin-co anos depois já fazia parte do naipe de contrabaixo da instituição.

Ele lembra que havia muitas brin-cadeiras entre os músicos, como por exemplo, soltar a cravelha dos ins-trumentos de corda para desafiná-los nos ensaios. “As vítimas eram esco-lhidas discretamente. Quando chegou a minha vez, todos riram do som que o contrabaixo desafinado provocou”.

Concordando com o trombonis-ta Zé Maria, ele ressalta a importân-cia da profissionalização que a Or-questra conquistou a partir de 1990 e comenta a chegada dos estrangei-ros. “A música é universal. A par-titura é a mesma em qualquer canto do mundo”. Ele também se recorda de uma das crises que enfrentou nas três décadas de trabalho na institui-ção. “Acredito que a pior que viven-ciei foi no ano de 92, quando teve a troca de moeda nacional. Tivémos que começar do zero”.

Tocando em família

Max BartschNascido em Nuremberg, na Alemanha, em 9 de abril de 1888, Max Bartsch se mudou

com sua família para o Brasil em 1910. No início, a família morou em uma fazenda em Jar-dinópolis-SP e em 1914 veio para Ribeirão Preto. Era jardineiro como seu pai, e no ano de 1920 foi contratado pela prefeitura da cidade, para cuidar do Horto Municipal. Hoje em dia, ninguém imagina que foi ele quem plantou as palmeiras das praças das Bandeiras e XV de Novembro. Depois de um tempo, Max foi convidado para trabalhar na Cervejaria Antarcti-ca, onde ficou durante 12 anos e conquistou o cargo de gerente. Mesmo sua família mudan-do-se para Taubaté-SP, ele permaneceu em Ribeirão, e se casou em 1922.

A música sempre fez parte da vida de Max Bartsch. Desde jovem, ele estudava música na Alemanha. Chegou a tocar violão, violino, mas preferia a cítara. Em 1928, criou o Quinte-to Max. Nos anos 30, também participou do Jazz Band Cassino Antartica. Em 1938, fundou

História

17VIDA URBANA[8a ETAPA 2012]

Arquivo histórico Filho da orquestra

“Assisto os concertos da Or-questra de Ribeirão desde a mi-nha infância. Meu tio-avô Au-gusto Seabra teve uma longa história nesta orquestra. Foi violista, violinista e spalla por muitos anos. Portanto, deci-di ser músico por volta dos 15 anos, inspirado não só pela fa-mília, mas também pelo Juven-tude Tem Concerto. E não te-nho medo de afirmar que sou filho daqueles maravilhosos do-mingos de manhã”. Quem con-ta esta história é Lucas Galon, ex-violista da OSRP, atual co-ordenador pedagógico e profes-sor dos projetos socioeducati-vos da Sinfônica.

Lucas cresceu em família de músicos. Como várias crian-ças que se tornaram músicos da própria Orquestra que assis-tiam, ele acompanhava o Juven-tude Tem Concerto, série men-sal da Sinfônica de Ribeirão que consiste em concertos gratuitos para crianças e jovens, e acon-tecem nas manhãs de domingo, desde 1996.

Quando questionado se gos-ta mais da parte artística-cultu-ral ou educacional da música, Lucas filosofa: “pode parecer uma resposta meio em ‘cima do muro’, mas acredito que as du-as estão tão relacionadas que as confundo”. Como o sonho de Max Bartsch, o cultivo da boa música educou, educa e educa-rá o povo, além de transformar um grande sonho em uma be-líssima melodia.

Ao longo dos seus 74 anos, a Or-questra Sinfônica de Ribeirão Pre-to foi colecionando histórias e docu-mentos importantes sobre a trajetória da música na cidade. O ex-maestro da OSRP, Marcos Pupo, que tam-bém era professor, orientou Gisele Haddad em seu projeto de pesquisa sobre a história da música em Ribei-rão e informou que na sede da Sinfô-nica poderia haver bastante material para o seu trabalho de mestrado. Co-mo a diretoria da época permitiu o li-vre acesso de Gisele à instituição ela teve uma ideia para retribuir a ajuda. “Pensei que tinha que fazer algo que retribuísse o meu acesso e a coleta de dados neste acervo e por isso eu deixava tudo mais organizado do que encontrava. Aí, em 2008, fui con-tratada como arquivista assistente”.

Quando a musicista entrou, mui-tas partituras e documentos estavam armazenados em salas úmidas e em-poeiradas. “Os funcionários mal sa-biam do que se tratava o material”, explica Gisele. O Arquivo Históri-co foi assim denominado por Myrian

Strambi, oboísta da Orquestra, fale-cida em 1989, logo após publicar o livro “50 anos de Orquestra Sinfôni-ca de Ribeirão Preto”, para comemo-ração do jubileu de ouro da Associa-ção Musical, no ano de 1988. “Para escrever o livro, ela organizou partes dos programas de concertos e outros documentos antigos”.

A responsável pelo Arquivo diz que há projeto para digitalização de todo o arquivo musical e histórico, além de ser aberto ao público. “A principal dificuldade é um espaço onde o material possa ser centrali-zado e armazenado de maneira cor-reta”, explica Gisele. Não há um cô-modo na sede que possa integrar as atividades de higienização, manuten-ção e armazenamento. “Enquanto is-to, fazemos o possível para atender estudantes e pesquisadores”.

O arquivo concentra muitos do-cumentos importantes (atas, fotos, DVDs, CDs, placas de homenagem, manuscritos de composições e ins-trumentos), como um programa de concerto em que a OSRP se apre-sentou em um banquete na cida-de de São Paulo, em 27 de abril de 1940, oferecido ao Presidente da República Getúlio Vargas, em co-memoração do segundo aniversá-rio do governo estadual de Adhe-mar de Barros. “Este programa têm a assinatura do próprio Getúlio e do Adhemar”, ressalta Gisele.

a Sociedade Musical de Ribeirão Preto, mantenedora da OSRP, da qual se tornou o primeiro presidente. No ano de 1970, fa-leceu em Ribeirão Preto, mas deixou um legado de música de qualidade, assim como ele defen-dia e fazia questão que estivesse impressa nos primeiros progra-mas de concertos “O cultivo da boa música educa o povo”.

“Os funcionários mal sabiam do que se tratava o material

Page 10: Cultivo da boa música