Santo Antnio deGois, GO

dezembro, 2001

Autor

40

ISSN 1678-9636

Alberto Batados Santos

Engenheiro Agrnomo,Doutor, Embrapa

Arroz e Feijo,Caixa postal

179, 75375-000Santo Antnio de

Gois, GO.

Cultivo da Soca de Arroz Irrigado

Importncia da soca

O uso sustentvel das vrzeas compreende a utilizao de sistemasde cultivos mltiplos, produzindo duas a trs safras por anona mesma rea. Conseqentemente, uma segunda colheita de arroz,atravs do cultivo da soca, pode ser uma das primeiras alternativasviveis para aumentar a produtividade de gros em regiestropicais, visto que esta a espcie mais adaptada ao ecossistemavrzea.

Em um dado sistema de produo, como o do arroz irrigado, amelhoria pode ser alcanada mediante o aumento da produo porunidade de rea, com maior relao benefcio/custo, ou pelamanuteno do nvel da produtividade com reduo do custo deproduo.

A soca de arroz oferece oportunidade para aumentar a produo degros por unidade de rea cultivada pois apresenta menor duraode crescimento que um novo cultivo. A sua importncia como umaalternativa para aumentar a produo sem acrescer a rea decultivo e com menor custo de produo deve ser enfatizada.

No Brasil, embora no se disponha de levantamentos especficosquanto rea envolvida no cultivo da soca, presume-se que vriosprodutores, em diferentes regies do Pas, conhecem e utilizameste sistema de produo, em pequenas reas, para aumentara renda familiar. Mais recentemente, esta prtica tem sidoexperimentada em regies tropicais, principalmente no Estado doTocantins (Figura 1), onde tem despertado grande interesse dosprodutores, em decorrncia da obteno de relao benefcio/custo

Fig.1. rea de cultivo da soca de arroz irrigado no Estado do Tocantins

2 Cultivo da Soca de Arroz Irrigado

mais favorvel; em reas melhorconduzidas tm-se obtido 22 sacas de 60kg ha-1, com um custo de produoequivalente a cinco sacas. No entanto,resultados de pesquisa tm mostrado que,com o uso de tecnologia, possvel obterprodutividades mais expressivas, o quetem estimulado o uso desta prtica emreas extensivas.

Fatores que Afetam oPotencial Produtivo da SocaPlanejamento

Para obter xito no cultivo da soca necessrio um planejamento do sistema deproduo de arroz, compreendendo desdeo estabelecimento da cultura principal ata segunda colheita. Altas produtividadesde gros das culturas somente seroobtidas se a cultivar, as prticas culturaise o ambiente estiverem adequadamenteassociados. Para isto, so definidas aspocas de plantio que possibilitam cultivar expressar maior potencialprodutivo na cultura principal e na soca.

Deve-se explorar a soca de gentipos comreconhecida capacidade produtiva nasduas colheitas. Como a soca representaum percentual da produtividade da culturaprincipal, interessante que para o seucultivo sejam selecionadas,preferencialmente, aquelas reas maisprodutivas.

Cultivar

As cultivares comportam-sediferentemente em relao produo e origem dos perfilhos na soca e,conseqentemente, ao seu potencialprodutivo. Algumas desenvolvem perfilhosem todos os ns do colmo, enquantooutras formam perfilhos apenas nos nsinferiores. A emisso de perfilhos se d

inicialmente nos ns mais altos do colmocortado. A durao do ciclo da soca,tambm, est associada posio doperfilho no colmo: quanto mais basal for,maior ser seu ciclo. Algumas cultivares,como a Metica 1, podem apresentar altaprodutividade na cultura principal e noserm produtivas na soca, enquantooutras, como a Formoso e a Epagri 108,tm alto potencial produtivo nos doiscultivos.

As cultivares precoces podem comportar-semelhor que as de ciclo mdio emregies onde as condies climticas solimitantes ao desenvolvimento da soca.Entretanto, sob condies favorveis, ascultivares de ciclo mdio apresentammaior produo biolgica que as de ciclocurto, tanto na cultura principal quanto nasoca.

Condies climticas

Os elementos meteorolgicos que maisinfluenciam a produtividade so atemperatura do ar, a radiao solar, aprecipitao pluvial e o fotoperodo. Entreos fatores do ambiente que afetam ocrescimento e desenvolvimento dasplantas de arroz, a temperatura e a luz tmsido relatadas como os de maior influnciano comportamento da soca,particularmente o perfilhamento.

A temperatura apresenta valores crticos,tanto baixo quanto alto, dependendo dafase da cultura, mas, no geral,temperaturas abaixo de 20C e acima de30C so prejudiciais. As temperaturascrticas variam com a cultivar, com suadurao, com o estdio dedesenvolvimento da planta e com asprticas culturais.

O requerimento das exigncias trmicasvaria com as fases de crescimento da

3Cultivo da Soca de Arroz Irrigado

planta. O parmetro graus-dia reflete oacmulo dirio de energia que se situaacima da condio mnima e abaixo damxima exigida pela planta. A socanecessita, aproximadamente, do mesmoacmulo de energia exigido pela fasevegetativa da cultura principal, quecorresponde a cerca de 50% da somatrmica total.

Manejo da cultura principalO sucesso do cultivo da soca determinado, em grande parte, pelasprticas empregadas na cultura principal,tais como, a poca e o sistema de plantio,o manejo de fertilizantes e o modo decolheita. As prticas culturais que afetam ocrescimento da planta na culturaprincipal, afetam tambm o crescimento dasoca. Contudo, as cultivares respondem,na soca, diferentemente com respeito aomanejo empregado na cultura principal.

poca de plantio

pocas diferentes de semeadura ou detransplantio expem as plantas da culturaprincipal e da soca a diferentescomprimentos do dia, temperaturas econdies de luz que, por sua vez,influenciam o comportamento da soca. Adefinio das pocas de plantio se baseiano conhecimento das condies climticaspreponderantes na regio e nadisponibilidade de gua para irrigao.

Nas condies do Norte Fluminense, RJ, eno mdio e baixo vale do Itaja e litoralnorte do Estado de Santa Catarina a pocade semeadura de setembro foi a quepropiciou a maior produtividade de gros nasoca.

Para a regio de Goinia, GO, os perodosmais favorveis ao cultivo da soca, foi deagosto a outubro. Nesta regio, o duplo

cultivo de arroz pode ser invivel, pois acolheita do primeiro cultivo e a semeadurado segundo coincidem com perodos dealta precipitao pluvial. Entretanto, ocultivo intensivo das vrzeas pode serobtido com a soca de arroz irrigado. NasRegies Norte e Nordeste, o arroz pode sercultivado durante todo o ano, portanto apoca de semeadura no limita o cultivo dasoca.

Sistema de plantio

A semeadura direta, em solo seco oumido, e o transplantio constituem os doissistemas de plantio de arroz. Uma dasvantagens da semeadura direta no cultivoda soca, em comparao ao transplantio, o maior nmero de plantas por rea. Comisso, poucos colmos so necessrios paraproduzir um grande nmero de perfilhos nasoca.

Independentemente do sistema de plantio,uma populao adequada da plantas umpr-requisito para uma soca produtiva.

Manejo de fertilizantes

A fertilidade do solo afeta direta ouindiretamente o crescimento e a produode gros da soca de arroz. O nitrognio e ofsforo afetam o crescimento da soca,pois promovem o perfilhamento e odesenvolvimento das razes,respectivamente. A dose, a poca e omodo de aplicao de nitrognio alteram aeficincia de sua utilizao pelas plantasda cultura principal e da soca.

Para se ter um sistema produtivo nas duascolheitas, as doses, pocas e modos deaplicao da adubao da cultura principaldevem ser baseados nos resultados daanlise de solo, conforme asrecomendaes para a cultura de arrozirrigado.

4 Cultivo da Soca de Arroz Irrigado

20 cm

Safras Varivel Mdia

Sistema de colheita

Outra preocupao no planejamento com a colheita da cultura principal,especialmente, quanto poca, altura decorte e aos equipamentos das colhedoras.Deve-se evitar o passeio desnecessriode colhedoras e graneleiros, para nodanificar excessivamente as plantas dearroz, pois a rea pisoteada pela esteira dacolhedora pode corresponder a at 38%da total cultivada. O estdio de maturaoda cultura principal por ocasio da colheitaafeta diferentemente a soca de cultivaresde arroz. A melhor poca de colheita dacultura principal para um bom cultivo dasoca quando os seus colmos esto aindaverdejantes. Atraso na colheita da culturaprincipal reduz a durao de crescimentoda soca.

A altura de corte das plantas determina onmero de gemas teis para operfilhamento e a origem dos perfilhos dasoca. Os efeitos da altura de corte sobre ovigor da soca so variveis, dependendo

da cultivar usada. Algumas cultivaresapresentam maior nmero de perfilhos nosns superiores, outras nos ns da base,no sendo afetadas pela altura de corte.

Menor altura de corte das plantas dacultura principal alonga o ciclo da soca e,aliada poca tardia de colheita, podepropiciar o seu crescimento em condiesclimticas menos favorveis, afetando aprodutividade, especialmente de gentiposde ciclo mdio. A maioria dos estudosmostra que as maiores respostas foramobtidas com alturas de corte de 20 a30 cm. Em condies de lavoura, os colmoscortados muito rentes ao solo podempermanecer submersos por longo perodo,especialmente nas reas com nivelamentoimperfeito, o que causa o seu apodrecimen-to, impossibilitando o perfilhamento.

A colheita da cultura principal realizadacom colhedoras equipadas com picador depalha (Figura 2) propicia, na soca, maiorprodutividade e rendimento de gros

Fig.2. Soca de arroz irrigado onde a colheita principal foi realizada com colhedora equipada com picador de palha.

5Cultivo da Soca de Arroz Irrigado

Fig.3. Soca de arroz irrigado onde a colheita principal foi realizada com colhedora sem picador de palha.

inteiros que a feita sem picador (Figura 3).O sistema de colheita influenciasubstancialmente o comportamento dasoca, tanto no que se refere produtividade quanto a qualidade doproduto colhido, pois a leira de palha quese forma sobre os colmos remanescentesda cultura principal dificulta o crescimentodos perfilhos e favorece a ocorrncia dedoenas. Com isso, o uso do picador depalha fundamental.

Manejo da soca

Prticas culturais que promovam umarpida e uniforme brotao soespecialmente importantes. Dentre asempregadas no cultivo da soca, queafetam o comportamento da planta dearroz, destacam-se a fertilizaonitrogenada, o manejo de gua e os tratosfitossanitrios.

Fertilizao nitrogenada

Dentre os nutrientes, o nitrognio oelemento que maior resposta tem

proporcionado soca de arroz.Quantidades adequadas de fsforo e depotssio aplicadas na cultura principal tmpropiciado aumento significativo naprodutividade da soca, mostrando, comisso, que ainda se encontram disponveispara o crescimento e desenvolvimento.

Inmeros estudos demonstram que aaplicao de nitrognio aumenta aprodutividade da soca e que as cultivaresdiferem em sua resposta. De modogeral, as cultivares com maior capacidadede produo na soca so mais responsivas aofertilizante. O nitrognio deve seraplicado logo aps a colheita da culturaprincipal (Figura 4), pois, assim, obtm-seuma brotao mais rpida e perfilhos maissadios, o que incrementa a produtividade.

A disponibilidade de nitrognioimediatamente aps o corte das plantas importante na utilizao das reservas decarboidratos acumuladas na base do colmoe no crescimento da soca. A maiorresposta da soca (3518 kg ha-1) ocorre

6 Cultivo da Soca de Arroz Irrigado

Fig.4. Adubao nitrogenada na soca de arroz irrigado efetuada logo aps a colheita da cultura principal.

com a aplicao de 56 kg ha-1 de N (Figura 5).A produtividade mxima econmica foicalculada em 3518 kg ha-1, com uma doseeconmica de 53 kg ha-1.

Manejo de gua

Para o xito da soca necessrio ummanejo adequado da gua de irrigao,ainda que aproximadamente apenas 60%da gua normalmente exigida pela culturaprincipal seja requerida. O baixorequerimento de gua e a maior eficinciade seu uso so relatados como asprincipais vantagens do cultivo da soca.

O melhor desempenho da soca obtidoquando a inundao iniciada nove diasaps a colheita da cultura principal (Figura6) proporcionando uma economia de guade 14%. Desta forma, a soca tempotencial para aumentar a produtividadeonde o cultivo intensivo de arroz limitadopela falta de gua para irrigao.

Tratos fitossanitrios

Via de regra, a aplicao de fungicidaspode ser necessria para a obteno demaior produtividade e melhoria daqualidade dos gros da soca, dependendoda ocorrncia de condies climticasfavorveis ao desenvolvimento dedoenas.

Com o uso de fungicidas obtm-se menorpercentagem de manchas nos gros,causadas especialmente pelo fungoDreschslera oryzae, o que resulta emmaior rendimento de gros inteiros.

A soca, apesar de ser uma das garantiasde sobrevivncia da praga conhecida comobicheira da raiz do arroz (Oryzophagusoryzae) na entressafra, aparentemente nose apresenta favorvel ao desenvolvimentode populaes daninhas dessa espcie.Portanto, a necessidade de se fazer o seucontrole durante o cultivo da soca mostra-se bastante remota.

7Cultivo da Soca de Arroz Irrigado

Pr

odut

ivid

ade

(kg

ha-1)

Pr

odut

ivid

ade

(kg

ha-1) 4000

3000

2000

1000

0

Produtividade de gros na socaProdutividade mxima = 3335 kg/ha

Reincio da irrigao = 9 dias aps a colheita

0 10 20 30

DAC

C N A 8502

Fig.5. Resposta da soca de arroz irrigado fertilizao.

Fig.6. Resposta da soca de arroz irrigado poca deinundao.

4000

3000

2000

1000

0

Todo N na colheita1/2 do N na colheita + 1/2 25 DAC

Produtividade mxima fisiolgica=3518 ka/ha

0 30 60 90

Doses de N (kg ha-1)

C N A 8502

Concluses

O cultivo da soca pode se constituir numamaneira prtica para aumentar a produo dearroz por unidade de rea e de tempo. Possi-bilita aumentar a produtividade das vrzeastropicais com qualidade da produo, reduzira sazonalidade do uso de mquinas eimplementos, aumentar a ocupao da mo-de-obra rural e incrementar a renda lquidados produtores.

Referncias Bibliogrficas

CHAUHAN, J.S; VERGARA, B. S.; LOPEZ,F.S.S. Rice retooning. (IRRI Research PaperSeries, 102). Manila: IRRI, 1985. 19p.

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Exemplares desta edio podem ser adquiridos na:Embrapa Arroz e FeijoRodovia Goinia a Nova Veneza km 12 Zona RuralCaixa Postal 17975375-000 Santo Antnio de Gois, GOFone: (62) 533 2110Fax: (62) 533 2100E-mail: sac@cnpaf.embrapa.br

1a edio1a impresso (2001): 1.000 exemplares

Presidente: Carlos Agustin RavaSecretrio-Executivo: Luiz Roberto da SilvaMembros: Veridiano dos A. Cutrim

Cleber M. Guimares

Supervisor editorial: Marina A. Souza de OliveiraReviso de texto: Vera Maria Tietzmann SilvaTratamento das ilustraes: Dulce AbreuNormalizao bibliogrfica: Ana Lucia D. de FariaEditorao eletrnica: Dulce Abreu

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