CULTIVO DE TOMATE EM ESTUFA É OpçÃO...

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CULTIVO DE TOMATE EM ESTUFA É OpçÃO INTERESSANTE Carlos Heisser .Junior Doutor, engenheiro agrícola e pesquisador da Embrapa Clima Temperado [email protected] ~ tilização de estufas, que a prin- cípio tinha outro objetivo, que ão o agrícola, mostrou, com o tempo, sua importância principalmente para o sistema brasileiro de horticultu- ra. Além disso, as estufas trouxeram ou- tras técnicas que alavancaram a produção nacional, ampliando e incrementando a qualidade e a produtividade dos cultivos. Acreditava-se que a técnica seria mais adequada para a região sul do Brasil, vis- to que a mudança das condições ambien- tais, como temperatura, permitiria a pro- dução de hortaliças no inverno. Na época, a orientação era de que se podia cultivar durante todo o ano qual- quer hortaliça em qualquer região.Assim, a unidade da Embrapa Clima Tempera- do iniciou seus trabalhos de pesquisa nes- ta área e a equipe verificou que a orienta- ção correta não seria essa. Foi introduzido o fator econômico na indicação da técnica, que verificou que a melhor orientação seria buscar as épocas de melhor preço para a colheita no novo ambiente. Ou seja, o novo indicador de época de produção seria orientado pela variação do preço do produto buscando sempre abastecer o mercado em épocas de desabastecimento, que normalmente são as que apresentam melhor preço. li li"~ Para o tomateiro No caso do tomateiro, a figura 01 mostra a variação de preço da CEASA de Goiás, que é praticamente a mesma em todo o Brasil, pois a CEASA de São Paulo é a central que determina o preço ~ CAMPO & NEGÓCIOS -;miHM-1 AGOSTO 2015 nacional, por ser este Estado o maior pro- dutor e consumidor da hortaliça. O gráfico mostra que no período de janeiro a junho o preço é maior do que a média anual (valor acima de 100) e que somente volta a ficar acima de 100 no fim do ano. Esta variação de- ve-se ao fato de que nos meses de ve- rão as chuvas normais no Estado de São Paulo são abundantes, dificultan- do a produção e, por consequência, au- mentando o preço. Baseado na ideia de rentabilidade da técnica é que foi verificado que a cultura que proporcionava a maior rentabilida- de ao produtor era o tomateiro. Vários estudos foram feitos com esta cultura, como: tipos de ambiente e suas modifi- cações nos parâmetros meteorológicos, cultivares, épocas de semeadura, mane- jos fitotécnicos e fitossanitários, irriga- ção, fisiologia, dentre outros. Baseados nestes estudos foram fei- tas algumas orientações sobre a técnica, para cultivo do tomate, que acreditamos serem válidas até hoje: Figura 01. Variação do índice sazonal de preços da CEASA-GO baseado nos preços dos anos de 1999 a 2006. 140 130 120 110 100 90 80 70 60 cn O C> ~ o, Q) 'O eu c O N eu cn Q) U 'O C jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez ("Fonte: Machado, A.G.; Figueiredo, R.S.; Silva Júnior, R.P.da,2008). " Informações Econômicas, Sp,v.38, n.1, jan. 2008. meses

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CULTIVO DE TOMATEEM ESTUFA É OpçÃOINTERESSANTECarlos Heisser .JuniorDoutor, engenheiro agrícola e pesquisador daEmbrapa Clima [email protected]

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tilização de estufas, que a prin-cípio tinha outro objetivo, queão o agrícola, mostrou, com o

tempo, sua importância principalmentepara o sistema brasileiro de horticultu-ra. Além disso, as estufas trouxeram ou-tras técnicas que alavancaram a produçãonacional, ampliando e incrementando aqualidade e a produtividade dos cultivos.

Acreditava-se que a técnica seria maisadequada para a região sul do Brasil, vis-to que a mudança das condições ambien-tais, como temperatura, permitiria a pro-dução de hortaliças no inverno.

Na época, a orientação era de que sepodia cultivar durante todo o ano qual-quer hortaliça em qualquer região.Assim,a unidade da Embrapa Clima Tempera-do iniciou seus trabalhos de pesquisa nes-ta área e a equipe verificou que a orienta-ção correta não seria essa.

Foi introduzido o fator econômico naindicação da técnica, que verificou que amelhor orientação seria buscar as épocasde melhor preço para a colheita no novoambiente. Ou seja, o novo indicador deépoca de produção seria orientado pelavariação do preço do produto buscandosempre abastecer o mercado em épocas dedesabastecimento, que normalmente sãoas que apresentam melhor preço.

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Para o tomateiro

No caso do tomateiro, a figura 01mostra a variação de preço da CEASAde Goiás, que é praticamente a mesmaem todo o Brasil, pois a CEASA de SãoPaulo é a central que determina o preço

~ CAMPO & NEGÓCIOS -;miHM-1 AGOSTO 2015

nacional, por ser este Estado o maior pro-dutor e consumidor da hortaliça.

O gráfico mostra que no períodode janeiro a junho o preço é maior doque a média anual (valor acima de 100)e que somente volta a ficar acima de100 no fim do ano. Esta variação de-ve-se ao fato de que nos meses de ve-rão as chuvas normais no Estado deSão Paulo são abundantes, dificultan-do a produção e, por consequência, au-mentando o preço.

Baseado na ideia de rentabilidade datécnica é que foi verificado que a culturaque proporcionava a maior rentabilida-de ao produtor era o tomateiro. Váriosestudos foram feitos com esta cultura,como: tipos de ambiente e suas modifi-cações nos parâmetros meteorológicos,cultivares, épocas de semeadura, mane-jos fitotécnicos e fitossanitários, irriga-ção, fisiologia, dentre outros.

Baseados nestes estudos foram fei-tas algumas orientações sobre a técnica,

para cultivo do tomate, que acreditamosserem válidas até hoje:

Figura 01. Variação do índice sazonal de preços da CEASA-GObaseado nos preços dos anos de 1999 a 2006.

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("Fonte: Machado, A.G.; Figueiredo, R.S.; Silva Júnior, R.P.da,2008). " Informações Econômicas, Sp,v.38, n.1, jan. 2008.

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Modelos de estufas e construção

Praticamente todos os modelos deestufas são adequados e promovem asmesmas transformações ambientais aotomateiro, desde que tenham área deventilação adequada, construídos em lo-cal bem ventilado e não tenham obstá-culos que o sombreiem, principalmentenas primeiras horas da manhã.

É preciso, ainda, que o filme seja bemtensionado. É bom lembrar que as estru-turas simples à base de madeira exigemmenor investimento inicial, mas com otempo tendem a ter custo maior do queas de aço, industriais. Ainda, é importan-te ressaltar que o sombreamento do cul-tivo deve ser evitado sempre que possível.

Manejo da estufa

Foi verificado que o manejo corretoda estufa envolve retirar a umidade de seuinterior por meio da ventilação. A indica-ção mais simples do manejo é ventilar omáximo possível o interior, e somente fe-char as cortinas durante períodos de ventoforte, que possam danificar as plantas, oumolhá-Ias se estiver chovendo.

A ideia de se aquecer o ambiente nãoé correta, visto que o gasto energéticode uma estrutura dessas é muito gran-de e os ganhos de temperatura durantea noite (quando ocorrem temperaturas

ESTUFAS

mais baixas) é praticamente nulo. Veri-fica-se que o maior benefício da estufaé a proteção da cultura. Por outro lado,o aquecimento (que pode acontecer du-rante o dia) não traz grandes benefícios.

Fitossanidade

Que doenças fúngicas criptogâmicascomo Phytophthora, Alternaria e Botry-tis são importantes no período de baixastemperaturas e alta umidade, e que oí-dio (Erísiphe) é importante no períodomais seco já é sabido por todos.

As pragas, como pulgões e ácaros,são muito ocorrentes e se não houvertela nas laterais, as moscas e mariposasdevem ser monitoradas. É importantelembrar, ainda, que o cultivo seguido nosolo permite o rápido desenvolvimentode nematoides no perfil.

Não se recomendam cultivos muitolongos devido à maior pressão de inó-culos e também à maior necessidade deprodutos químicos para o controle fi-tossani tário.

Épocas de semeadura

Para o Sul do Brasil as melhores épo-cas de semeadura do tomate são os me-ses de dezembro e julho, para colher noperíodo de maior preço, mas recomenda--se que as mudas não sejam produzidas

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no mesmo ambiente dos frutos.É recomendada a realização de dois

cultivos ao ano, para que os ciclos cultu-rais não se tornem muito longos e paraevitar colheitas em épocas de preço mui-to baixo.Também foi definida a densida-de de plantio, verificando que as densi-dades elevadas reduzem a produtividadepor planta, mas mantêm a medida porárea, resultado da competição por luzdentro do ambiente entre plantas.

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Mais que proteção

Baseado na proteção cultural exerci-da pelas estufas, pode-se dizer que o seuuso na produção de hortaliças tem reco-mendação favorávelpara todas as regiões,principalmente para o tomateiro, que émuito suscetível a um grande número dedoenças e tem na redução da áplicaçãode agrotóxicos seu principal benefício.

A produtividade mantida pelo conjun-to de técnicasde manejo cultural tem mos-

~ CAMPO & NEGÓCIOS I;Si«mUMI AGOSTO 2015

trado que épossívelatingir asmais elevadasproduções,principalmente se forem usadasvariedades de grande potencial.

Mesmo com os avanços de todo osistema de produção, acreditamos que amelhor orientação para opção de utili-zação da técnica é a econômica, e qual-quer que seja o objetivo da produção, aanálise econômica é fundamental. Comisso, queremos dizer que, se for rentá-vel a opção de produção, ela é válida in-dependente do tipo de uso do ambien-te protegido com as estufas.

Quando usar

A indicação do uso de estufas é: "sefor rentável seu uso, é recomendado".Mas pormenorizando, seria para prote-ger o tomate de chuvas, ventos, granizo,reduzir o uso de químicos para prote-ção fitossanitária, melhorar a qualida-de, aumentar a produtividade, manter avida útil de folhas, aumentar a velocidadede crescimento das plantas, viabilizar aaplicação de outras técnicas de produção,como fertirrigação, irrigação localizada,

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montagem de sistemas hidropônicos, re-dução da incidência de pragas, pulveri-zações, controle biológico, dentre outras.

Dicas

Com relação aos cuidados na hora deinvestir nesta técnica, estão: conhecer osistema de produção da cultura, ter ex-periência de cultivo, saber o que produ-zir em ambientes como esses,estar cienteque nem sempre os modelos mais bara-tos de construção são os de menor custo,e que sua utilização não permite cultivode todas as espécies em todos os lugaresem qualquer condição de clima.

Pode-se dizer, também, que, além daexperiência, a dedicação, o cuidado e ocapricho na produção são essenciais parater sucesso no empreendimento.

Sem solo

Outra técnica que tem mostradogrande desenvolvimento no sistema deprodução de hortaliças é o cultivo forade solo. Este modo de produzir tem so-

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BRASILEIRODE HIDROPONIA

Data limite para submissão de trabalhos: 06/07/2015

Por ser de alio valor agregado, atomaticullura responde bem ao

cultivo protegido

lucionado a necessidade dos produtoresem manter mais fatores envolvidos naprodução agrícola sob controle.

Estes sistemas de cultivo fora do solopodem ser com ou sem o uso de substra-to,mas sempre baseados no fornecimentodos nutrientes solúveisde forma controla-da juntamente com a água de irrigação.Otipo de substrato pode ser inerte (ou qua-se), ou com parte do material orgânico.

Podem ser com a circulação da so-lução nutritiva em circuito fechado ouaberto, ou seja, com recuperação da so-lução nutriente drenada ou não. Tam-bém existem variações nos recipientesde suporte do substrato ou das plantas.

Em calhas ou em vasos, o sistema ébaseado no fornecimento da quantidadede nutrientes e de oxigênio dissolvido naágua circulante ou nos espaços aéreos dosubstrato que suporta as plantas e retéma umidade junto às raízes das plantas.

Os sistemas de produção fora do solotambém vierampara resolverum problemaque é sério dentro dos ambientes de pro-dução em estufas plásticas, que são as do-enças do solo.Muitas destas doenças in-viabilizama produção no solo,como o casoda murcha bacteriana (Ralstonia solanace-arum), do Sclerotium, da Sclerotinea e do

X ENCONTRO e 11SIMPÓSIO

Verticillium, além dos nematoides.Uma maneira de resolver este pro-

blema é cultivar em condições artificiais,visto que muitas vezes a desinfecção dosolo ou sua esterilização se torna invi-ável economicamente. As dificuldadesde adoção desta técnica são a necessi-dade de um local protegido com estu-fas plásticas, que não permite a entrada

de água no sistema, e outra é o conheci-mento sobre fertilização e manutençãodas condições químicas da solução ade-quadas (de pH e condutividade elétri-ca) para a planta.

Depois de controlar estas variáveis, oprodutor terá plenas condições de obtero máximo das plantas sem a ocorrênciade deficiências nutricionais .•

17 e 18 I SETEMBRO I 2015FlORIANÓPOLlS I SC

I INSCRiÇÕES: IWWW.ENCONTROHIDROPONIA.COM.BRC [email protected]

48 4052.8089

..•

.~•. v.1

Rea/ização