Cultura de Paz. O que é? - Especial Jornal Página 20

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Paz No respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da não-violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação; No pleno respeito aos princípios de soberania, integridade territorial e independência política dos Estados e de não-ingerência nos assuntos que são, essencialmente, de jurisdição interna dos Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e o direito internacional; No pleno respeito e na promoção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais; No compromisso com a solução pacífica dos conflitos; Nos esforços para satisfazer as necessidades de desenvolvimento e proteção do meio-ambiente para as gerações presente e futuras; No respeito e promoção do direito ao desenvolvimento; No respeito e fomento à igualdade de direitos e oportunidades de mulheres e homens; No respeito e fomento ao direito de todas as pessoas à liberdade de expressão, opinião e informação; Na adesão aos princípios de liberdade, justiça, democracia, tolerância, solidariedade, cooperação, pluralismo, diversidade cultural, diálogo e entendimento em todos os níveis da sociedade e entre as nações; e animados por uma atmosfera nacional e internacional que favoreça a paz. Página 20 Rio Branco – Acre, DOMINGO, 15, e SEGUNDA-FEIRA, 16 de maio de 2011 Cultura A ONU definiu o conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida associados à cultura de paz na Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz, divulgada em 13 de setembro de 1999. Diversas instituições em todo o mundo aderiram a essa declaração e se empenham na concretização desses ideais. Uma Cultura de Paz é um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados: de O que é?

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A ONU definiu o conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida associados à cultura de paz na Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz, divulgada em 13 de setembro de 1999

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Paz

� No respeito à vida, no fim da violência e na promoção e prática da não-violência por meio da educação, do diálogo e da cooperação;

� No pleno respeito aos princípios de soberania, integridade territorial e independência política dos Estados e de não-ingerência nos assuntos que são, essencialmente, de jurisdição interna dos Estados, em conformidade com a Carta das Nações Unidas e o direito internacional;

� No pleno respeito e na promoção de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais; No compromisso com a solução pacífica dos conflitos;

� Nos esforços para satisfazer as necessidades de desenvolvimento e proteção do

meio-ambiente para as gerações presente e futuras;

� No respeito e promoção do direito ao desenvolvimento;

� No respeito e fomento à igualdade de direitos e oportunidades de mulheres e homens;

� No respeito e fomento ao direito de todas as pessoas à liberdade de expressão, opinião e informação;

� Na adesão aos princípios de liberdade, justiça, democracia, tolerância, solidariedade, cooperação, pluralismo, diversidade cultural, diálogo e entendimento em todos os níveis da sociedade e entre as nações; e animados por uma atmosfera nacional e internacional que favoreça a paz.

Página 20

Rio Branco – Acre, DOMINGO, 15, e SEGUNDA-FEIRA, 16 de maio de 2011

Cultura

A ONU definiu o conjunto de valores, atitudes, tradições,

comportamentos e estilos de vida associados à cultura de paz na Declaração e Programa de Ação sobre uma Cultura de Paz, divulgada em 13 de setembro de 1999. Diversas instituições em todo o mundo aderiram a essa declaração e se empenham na concretização desses ideais. Uma Cultura de Paz é um conjunto de valores, atitudes, tradições, comportamentos e estilos de vida baseados:

de

O que é?

Rio Branco – Acre, DOMINGO, 15, e SEGUNDA-FEIRA, 16 de maio de 20112 Página 20

ESPECIAL CULTURA DE PAZPERSONAGEM

�ONidES BONAccORSi [email protected]

José Datrino era um empresário de transportes no Rio de Janeiro. Em 1961, a alguns dias do Natal, houve um incêndio criminoso num circo em Nite-

rói, no qual morreram cerca de 500 pessoas, a maioria crianças. Datrino ficou profundamente chocado.

Depois, conforme relataria mais tarde, ouviu vozes ordenando-lhe que abandonasse a vida que levava até então e se dedicasse a consolar os parentes das víti-mas da tragédia. O episódio se confirmou por mais duas vezes. Considerou que se tratasse de um chama-do divino e o atendeu, procurando viver em gentileza e gratidão. Aí nasceu o Profeta Gentileza.

Comprou certa quantidade de vinho e foi, com seu caminhão, a Niterói. Lá, junto às barcas da traves-sia, distribuiu a bebida em copos de papel, anuncian-do: “Quem quiser, não precisa pagar nada, é só pedir ‘por gentileza’, é só dizer ‘agradecido’”.

Abandonou a família e todos os seus bens e se ins-talou por quatro anos no local do incêndio. Cercou-o e transformou-o num jardim cheio de flores. Colocou dois portões, um de entrada e outro de saída, com as inscrições: “Bem-vindo ao Paraíso da gentileza. En-tre, não fume, não diga palavras obscenas porque este local se tornou agora um campo santo”. E ali confor-tava todos que chegavam desesperados.

A partir de 1980, pinta, em preto, verde e amarelo com fundo branco, murais com mensagens de paz, amor e gentileza numa das principais entradas do Rio de Janeiro, ao longo de 56 pilastras do Viaduto do Caju – o lugar mais cinza, feio e sem vida da cidade – até a Rodoviária Novo Rio.

Gentileza exerceu sua criativa pregação durante 35 anos. Anunciava que a “gentileza que é o remé-dio para todos os males”. Seus escritos resistiram até 1997, um ano depois de sua morte, quando ganharam uma camada de cal da companhia de limpeza urbana. Graças à mobilização pública organizada pelo proje-to Rio com Gentileza, a obra foi restaurada. A par-ceria entre a Universidade Federal Fluminense com empresas como a Rodoviária Novo Rio, interessada em revitalizar seu entorno, garantiram o sucesso da empreitada. A Secretaria de Estado da Cultura estuda uma maneira de fazer o tombamento das obras.

Em algum momento da sua pregação, Gentileza teceu uma analogia entre o circo em chamas e o mun-do sem amor, onde tudo acaba em destruição e vitima inocentes. Tocado pela compaixão, descobriu a chave de um mundo mais humanizado e usou sua expressão mais pessoal e criativa para disseminá-lo.

Profeta? Artista? Iluminado? Louco? Quem pode-rá abarcar, apenas com o intelecto, a dimensão de um ser humano? Parece que Gentileza era de tudo um pouco, com um resultado original e positivo.

Muito agradecidos.

Profeta Gentileza, uma flor de pessoa

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ESPECIAL CULTURA DE PAZPERSONAGEM

Profeta Gentileza, uma flor de pessoa

Gentileza(Marisa Monte)

Apagaram tudoPintaram tudo de cinzaA palavra no muroFicou coberta de tinta

Apagaram tudoPintaram tudo de cinzaSó ficou no muroTristeza e tinta fresca

Nós que passamos apressadosPelas ruas da cidadeMerecemos ler as letrasE as palavras de Gentileza

Por isso eu perguntoA você no mundoSe é mais inteligenteO livro ou a sabedoria

O mundo é uma escolaA vida é o circoAmor palavra que libertaJá dizia o Profeta

Curiosidades � Tendo sido criado no

campo, José Datrino apren-deu a amansar burros para o transporte de carga. Tempos depois, como profeta Genti-leza, dizia-se “amansador dos burros homens da cidade que não têm esclarecimento”;

�Gentileza tinha um código próprio de escrita, grafando muitas palavras de forma di-ferente da norma ortográfica. Amor com um “R” era amor material, “Amorrr” com três “R” significava que era um “R” do Pai, um “R” do filho e um “R” do Espírito Santo;

�Os painéis pintados pelo Profeta situam-se na altura de quem chega ao Rio de Janeiro de ônibus;

�Gentileza jamais dizia “obrigado”, pois entendia que a palavra vinha de “obri-gação”. Preferia dizer “agra-decido” e pedia sempre“por gentileza”, porque nos rela-cionamos “por amor” e não “por favor”;

� Chamava o capitalismo de “capetalismo”.

Homenagens � “Profeta Gentileza” hoje

é o nome da Praça da Rodo-viária, bem ao lado de sua arte restaurada, no Rio de Janeiro;

� Sua vida já deu origem a teses, filme e livros;

�Devido à sua influência, uma ong foi criada no Rio: “Rio de Gentileza”. Em Mi-randópolis, cidade onde mor-reu, foi criado o movimento “Gentileza gera Gentileza”;

� Em 2001, Joãosinho Trinta fez o enredo da escola de samba Grande Rio sobre o Profeta Gentileza;

�A homenagem mais fa-mosa é a música “Gentileza” de Marisa Monte. Mas tam-bém Gonzaguinha chegou a homenageá-lo com uma can-ção homônima, na década de 80;

� Em 2009, o Profeta foi interpretado em participação especial pelo ator Paulo José, na novela Caminho das Ín-dias.

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ESPECIAL CULTURA DE PAZ

“A cuLTuRA da paz é imperativa”, diz Boff

Divulgação

“...Precisamos abolir a palavra inimigo. É o medo que cria o inimigo. E exorcizamos o medo quando fazemos do distante um próximo e do próximo, um irmão e uma irmã. Afastamos o medo e o inimigo

quando começamos a dialogar… A nos conhecer… A nos aceitar… A nos respeitar… A nos amar… Enfim, numa palavra, a nos cuidar. Cuidar de nossas formas de convívio na paz, na solidariedade e na justiça. Cuidar de nosso meio ambiente para que seja um ambiente inteiro no qual seja possível o convívio

entre os diferentes. Cuidar de nossa querida e generosa Mãe Terra.” Boff in “Cultura da Paz”

“...Essa cultura patriarcal gestou a guerra como forma de resolução dos conflitos. Sobre essa vasta base se formou a cultura do capital, hoje globalizada; sua lógica é a competição e não a cooperação, por isso, gera

guerras econômicas e políticas e com isso desigualdades, injustiças e violências. Todas estas forças se articulam estruturalmente para consolidar a cultura da violência que nos desumaniza a todos. A essa cultura da violência há que se opor a cultura da paz. Hoje ela é imperativa.

É imperativa, porque as forças de destruição estão ameaçando, por todas as partes, o pacto social mínimo sem o qual regredimos a níveis de barbárie. É imperativa porque o potencial destrutivo já montado pode ameaçar toda a biosfera e impossibilitar a continuidade do projeto humano. Ou limitamos a violência e

fazemos prevalecer o projeto da paz ou conheceremos, no limite, o destino dos dinossauros.” Boff in “Manifesto pela Concórdia e pela Paz”

Boff: pensador da paz, justiça e meio ambiente

Leonardo Boff é teólo-go e filósofo brasileiro, es-critor e professor universi-tário, expoente da Teologia

da Libertação no Brasil. Foi membro da Ordem dos Franciscanos. É respeitado mundialmente pela sua his-

tória de defesa pelas causas sociais e atualmente debate também questões ambien-tais.