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Cultura se faz com C Campo Limpo Um livrorreportagem sobre a cultura popular no Campo Limpo Ana Carolina Rodrigues e Raquel Consorte

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Cultura se faz com C

Campo LimpoUm livrorreportagem sobre a cultura popular no Campo Limpo

Ana Carolina Rodrigues e Raquel Consorte

Nasci jornalista, o amor pela profi ssão surgiu quando eu nem sabia bem o que era jornalismo. Sou vegetariana, sagitariana e acredito no poder transformador que a edu-cação pode ter.

“Alienado é o poder, não o jovem.” Marcelo Rubens Paiva.

Ana Carolina Rodrigues, 22 anos, jornalista.

Entrei nessa profissão sem querer, e fui me apaixonando pelas palavras, pela luta e pela justiça. Ainda não sei qual será o meu caminho, mas vou seguir escrevendo. Prefiro toddy ao tédio, já dizia Cazuza.

Raquel Consorte, 24 anos, jornalista.

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Sumário

CapaServiçoSumárioAgradecimentosQuem somos e por que estamos no Campo Limpo -------------------------------------------------------------------------03Parte da História começa aqui ----------------------------------------------------------------------------------------------------12História Cultural do Campo Limpo -----------------------------------------------------------------------------------------------18Coletivos --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------20Escola de Notícias --------------------------------------------------------------------------------------------------------------------30Casa da Mulher ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------41Sarau do Binho ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------52Bar do Mutcho ------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------62Quem movimenta o Campo Limpo ---------------------------------------------------------------------------------------------70Festcal -----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------84

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Quem somose por que estamos no

Campo Limpo?Autoras: Ana Rodrigues e Raquel ConsorteOrientador: Marcos Antônio ZibordiFotos: Ana Rodrigues, Sheila Signário, Rogério Gonzaga e Will CavagnolliRevisão: Carolina Peres e Marcos Antônio ZibordiProjeto Gráfico, Diagramação e Capa: Carolina Peres e Emmanuele CalistoTratamento de imagens: Emmanuele CalistoImpressão: Ativa Online

Histórias que secruzam

Durante a viagem de mu-dança para São Paulo, o mineirinho nascido em Salinas, norte de Minas Gerais, com apenas 14 anos, tem dois sonhos na cabeça: Trabalhar com futebol, em uma rádio AM, e morar na Avenida Paulista. Vista pela televisão, a Aveni-da Paulista parece tão atraente e perfeita, outro mundo, um mundo do qual Tony sempre quis fazer par-te. O sonho de trabalhar em rádio, na área de esportes, veio da paixão pelo futebol e apesar de ser Minei-ro e estar de mudança para Sampa City, ele é flamenguista fanático. Desde que chegou em São Paulo, Tony sempre morou na região do Campo Limpo, lugar que

amou assim que conheceu. É como se ele tivesse nascido pra ser daqui. Além do Flamengo, o Campo Limpo é sua outra paixão. A primeira coisa de que ele se lembra quando che-gou aqui, foi um peixinho pintado na parede de um prédio que pare-cia uma escola; Peixinho colorido, encantador. Assim que a família se in-stalou, Tony tratou logo de procurar saber o que realmente era o prédio do peixinho. Apesar de parecer uma escola, era diferente, tinha um ar de liberdade, plantas, brinquedos, mãos coloridas nas paredes, tudo parecia chamá-lo para lá. Ao entrar, foi informado de que se tratava de uma Organização Não-Governa-mental chamada Projeto Arrastão. Lá, além de creche, eram ofereci-dos cursos para jovens em algumas

áreas como comunicação, artes e empreendedorismo. O garoto que tinha como sonho ser comunicador passou a ser aluno da ONG. Integrante da turma de jornalismo e rádio, ele se adaptou muito bem ao ambiente do Arrastão, tão bem que ao ter-minar sua formação e perceber ali a oportunidade de realizar alguns de seus sonhos (que a essa altura já haviam aumentado, assim como seu repertório e sua paixão pela co-municação), iniciou a faculdade de jornalismo e logo foi convidado a integrar o corpo de educadores do Arrastão. Foi aí que nossas histórias se cruzaram.

Me chamo Ana Carolina e estou escrevendo este livro-reportagem, que também é um Tra-balho de Conclusão de Curso, com minhas grandes amigas e por providência do destino, também colegas de sala, Raquel Consorte e Viviane Trajano. Tenho 22 anos e assim como Tony, também tinha 14 quando conheci o projeto Arrastão. Sempre morei em Taboão da Serra, Município que faz divisa com Campo Limpo, distrito de São Paulo. Prestes a entrar no Ensino Médio, começaram minhas inquietudes para saber o que eu ia fazer da vida. O jornalismo sempre me intrigou, chamou atenção, então comecei a ler mais sobre a profissão, ainda com outra opção em mente, a pedagogia. Sempre acreditei no poder da educação, mas não a que recebi na escola. Desde aquela época, pensava que a educação, quando utilizada de forma correta, poderia transformar vidas. Mesmo sem muito repertório — afinal, meus pais mal haviam estudado e na época o acesso à internet não era tão fácil para mim — comecei a ler sobre Paulo Freire e me apaixonei. Ainda em dúvida sobre o que queria cursar, conversei com uma amiga que, apesar de ter a minha idade, parecia ser 50 anos mais madura. Aquela história do repertório que mencionei. O nome dela, Amanda, uma princesa de tão linda. Esses dias achei uma foto antiga nossa; Comparando com hoje, eu melhorei e ela continua linda. Amanda falou sobre uma ONG que oferecia cursos na área de comunicação; Ela tinha começa-do e gostou, mas começou a trabalhar, teve que parar. Disse-me para ir lá e procurar por um tal de Tony, para eu ver se gostava mesmo de jornalismo e entender de verdade o que é. Então eu fui. Para minha surpresa e decepção, todas as vagas do jornalismo estavam preenchidas; Havia vagas apenas para um curso de gas-tronomia e uma oficina de audiovisual que, na época, eu nem sabia o que era. Foi interessante ver o tal professor de audiovisual explicando o curso para minha mãe: Acho que en-tendi mais ou menos; Ela, com certeza, não. Um pouco chateada, mas esperançosa, comecei a assistir às aulas e para a minha surpresa, adorei. O educador era o Daniel, um cara completamente descolado — aprendi muito com ele, noções de fotografia, ele indicou muitos filmes e textos. A maioria eu não entendia na época, não por ele, que até esclarecia muito bem as coisas, mas é de novo a questão do repertório. Na faculdade, tive contato novamente com alguns desses textos e os entendi melhor. Daniel ensinou também muitas lições que levei para a vida.

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Mesmo não fazendo parte da turma do jor-nalismo no Arrastão, as atividades integravam todo mundo. Fiz vários amigos e acabei esbar-rando com Tony. Falei da Amanda. Falamos sobre ela. Ficamos amigos. A experiência que tive foi uma das mais importantes da minha vida. Além

de descobrir o que podia ser o jornalis-mo, além dos tios Bonner e Fátima, encontrei va-lores e ideologias que nem sabia que existiam, e que hoje fazem parte de mim. Infelizmente, a cobrança para que eu ajudasse financeiramente em casa foi aumentando e assim como a Amanda, tive que sair do Arrastão para trabalhar. Foi realmente difícil deixar para trás uma ponte que me levaria ao meu sonho. Mas como nem tudo é perfeito, comecei a trabalhar em uma fundação da Universidade de São Paulo (USP). Apesar de ter “aban-donado” por um tempo meu sonho, na Fundação aprendi muita coisa e amadureci. E é com o salário que recebo dela que pago a faculdade de jornalismo. Sim, eu escolhi mesmo o jornalismo. Sem pensar nas consequências. Sem ouvir as críticas. Só pela paixão. Escolhi sim o jornalismo, ou ele me escolheu — ainda estou refletindo sobre essa questão. Talvez eu me ar-rependa.

Ana Rodrigues durante atividade de fotografia no Projeto Arrastão. Nesta atividade o grupo reproduziu a foto de Paula Saldanha. Foto: Rodrigo Negão

Mesmo não trabalhando na área duran-te quase todo o curso, nunca pensei em desistir, apesar de me irritar, diversas vezes, principal-mente quando via alguns colegas completamente descomprometidos, que conseguiam vagas boas porque tinham QI — o famoso “Quem Indica”. Isso me levava a refletir se para ser jornalista é preciso ser realmente competente, ou basta ter um con-tato íntimo com alguém. Em meio as minhas cri-ses existenciais e quase três anos depois de eu ter saído do Arrastão, recebi um e-mail que me deu uma injeção de esperança. Era de Tony Marlon, perguntando como eu estava e me fazendo um convite para ajudá-lo em seu novo projeto, o Es-cola de Notícias (EDN). Passei então a escrever uma coluna para o site do EDN, contando o meu dia a dia como es-tudante de jornalismo. E fomos mantendo conta-to, até que ele me chamou para trabalhar em um projeto que é um “braço” do EDN, um jornal local do Campo Limpo, chamado Jornal Viver Campo Limpo. Estamos mantendo essa parceria desde maio de 2013, parceria que despertou de novo em mim a paixão avassaladora pela profissão de jornalista.

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Mais perto de algum lugar: Campo Limpo Os momentos que passei no Campo Limpo, apesar de poucos, foram especiais. A memória corre solta quando me recordo dos amigos, das risadas e das noites que passei naquele bairro. Eu ainda era bem menina quando fui ao Campo Limpo pela primeira vez. Tinha apenas treze anos e lembro direitinho da sensação de liberdade que era andar de ônibus sozinha com as minhas amigas por São Paulo. Durante todo o trajeto do ônibus pela Estrada do Campo Limpo a surpresa era estar perto de algum lugar que eu desconhecia, sem medo de nada. Mas o tempo passou, passaram-se dez anos e ainda são muitas as lembranças. Diferente da Ana, autora do texto anterior, eu não tive contato íntimo com o bairro, nem tive essa vivência cultural e social que ela ainda mantém com a região. Porém, pude conhecer pessoas que até hoje me acompanham, em lem-branças ou pela vida.

Uma delas foi o Rodrigo, ou Animal, como era conhecido. Ele era vocalista da Banda OG, e morava na Rua Onésio Garcia, no Campo Limpo — as iniciais da rua deram nome à banda. Eu e ele tivemos uma grande amizade, junto com minhas amigas Mariana, Juliana e Cintia. Todas as sextas-feiras íamos à sua casa passar a madrugada ouvindo música, as-sistindo filme e conversando. O Pedro Terra e o Michel, também faziam parte dessa turma, assim como o Diogo, o Kadu, o Luiz e o Sérgio. Naque-la época, o bairro já mantinha uma grande estrutura cultural, com bandas locais e festas juninas. Por exemplo, na Onésio Garcia, no mês de junho a banda OG organizava uma Festa Junina para arrecadar fundos à Igreja.

MENINO ALEGRE, DE BOM CORAçãO, O Rodrigo fez parte de um momento da minha vida que dá muita saudade. Em 2007, ele faleceu em um acidente de carro e infelizmente deixou em nossos corações uma ausência eterna. Depois de quase 7 anos, quando visito o Campo Limpo lem-bro-me com carinho de sua casa, de sua ri-sada inconfundível, dos meninos e de tan-tas histórias que vivemos na sala de sua

casa. Ao produzir este livro-reportagem junto com a Ana e a Viviane, tive a opor-tunidade de relembrar um pouco des-

sa história, da minha história, coisas que eu já nem lembrava mais, e minhas memórias vieram nova-

mente à cabeça. 98

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As lembranças vão surgindo e as histórias se confundem, como um filme que você assiste e gosta muito, mas passa um tempo sem ver de novo. Lembro-me de amores, de amigos, de bares e de festas. Um dia eu até quis morar no Campo Limpo, só para ficar mais perto dos meus amigos e do que eu chamava de “civilização”. Atualmente, todos os dias eu entro no ônibus da linha Terminal Campo Limpo em direção a algum lugar; Parece que este ônibus vai para todas as partes do mundo; Onde quer que você esteja, se estiver perdido, não se desespere: Pare em um ponto, que logo passará o Terminal Campo limpo. Sempre brinco com meu colega de sala, o Bruno Ricardo, e digo que ele é privilegiado, pois o ônibus que ele pega pas-

sa em todos os lugares. Eu não me surpreenderia se visse um Terminal Campo Limpo com destino a Madagascar.

Raquel Consorte e Rodrigo Gomes, ou Animal, em foto no Campo Limpo.

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Parte da história CoMeça aQui

Imagine que em um dia qualquer você acordasse como em um pesadelo e se desse con-ta de que estava em plena Ditadura Militar e a partir de então fizessem parte do seu dia a dia a censura, a perseguição política, a supressão de direitos constitucionais e a repressão àqueles que são contrários ao regime. E se não bastasse o peso de tudo isso, esse caos duraria mais do que um pesadelo, muito mais: foram duas décadas de repressão real no Brasil, entre 1964 e 1984.

Foram vinte anos tendo como companhia o medo, até mesmo de sorrir, afinal, este simples ato poderia ser considerado um crime. Nessa época, os presidentes deixaram de ser escolhidos pelo povo e a presidên-cia foi assumida por generais do Exército. O primeiro foi o General Castello Branco, seguido de Arthur Costa e Silva, depois Emílio Médici, Ernesto

Geisel e João Batista Figueiredo. Esses mandantes anularam os nossos direitos. No campo artístico, a repressão faz com que os artistas, especialmente os músicos, criem estratégias para se expressar, daí a enorme quantidade de mensagens subliminares nas letras. Passa a ser produzida a música de protesto, até onde fosse permitido. Principalmente após a pub-licação do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), no final de 1968, que dava totais poderes ao governo e retirava dos cidadãos todos os direitos, muitos cantores, compositores, atores e jornalistas foram “convidados” a deixar o Brasil. A repressão à produção cultural perseguia qualquer ideia que pu-desse ser interpretada como contrária ao regime, mesmo que não tivesse conteúdo diretamente político. Ou melhor: quase toda manifestação adquiria tom político e os militares foram capazes de prender, sequestrar, torturar e exilar artistas e intelectuais.

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No começo da década de 1980, um dos sinais de mudança foi dado também pela músi-ca, mas agora por uma nova geração de jovens que faziam rock com roupagem bem diferente dos precursores Gil, Caetano e tantos outros novos baianos. Agora eles vinham, por exemplo, de Brasília, de onde saiu o principal grupo do gênero, Legião Urbana.

Com sucessos como “Que país é este?”, o vocalista e líder da banda, Renato Russo, traduzia o sentimento de indignação que os brasileiros sentiam. Na mesma capital federal surgia o Capital Inicial, com “Independência”, e Cazuza, com a sua canção “Brasil”, em que reivindicava escancaradamente a identidade de um país que precisava mostrar a sua cara. No campo político, o movimento das Diretas Já, em 1984, foi um sinal de que os brasileiros ainda tinham voz ativa para pressionar pela Emenda Dante de Oliveira, que devolvia o direito de escolher pelo voto direto e secreto o Presidente da República. Para a infelicidade do povo e a feli-cidade dos políticos, a Câmara dos Deputados não a aceitou e Tancredo Neves assumiu o cargo de Presidente ainda de forma indireta. Porém, 39 dias após ser eleito, ele ficou doente e faleceu; quem assumiu o cargo foi o vice José Sarney. Mesmo com tantas reviravoltas entre o fim definitivo da Ditadura e a democracia plena, o país aprovou a Constituição de 1988 e conseguiu apagar muitos rastros de uma época tão autoritária.

Um dos momentos mais marcantes dessa história recente do Brasil foram as eleições de 1989, em que pela primeira e única vez, 21 candidatos concorreram ao cargo de Presidente da República, sinal claro da ansiedade por eleição direta. Com o apoio da mídia, Collor ganhou as eleições. Mas a “Era Collor” só durou dois anos; o Presidente sofreu um impeachment e foi afastado do cargo.

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A década de 1990, do avanço glob-al neoliberal e do plano Real no Brasil, que es-tabilizou a economia, gestou também um novo estilo musical na periferia de São Paulo, de-nominado rap, abreviação

de “ritmo e poesia” e identificado com os prob-lemas sociais. O Racionais MC’s, principal grupo do gênero no País, lança o seu primeiro disco, Pânico na Zona Sul e não d e m o r o u para novas vozes aparecerem nesse cenário, como Thaíde e, já nos anos 2000, Z’África Bra-sil, além de um dos grandes dançarinos de break do país, Marcelinho Back Spin, ambos da região de que trata este livro-reportagem, o Campo Limpo.

Ainda no campo artístico, o cinema renascia após o boicote de Collor às agências de fomento e em 1994 comemoramos a indicação ao Oscar do filme “O Quatrilho”, de Fábio Barreto.

Nos bairros da periferia paulistana, as mudanças sociais, econômicas e culturais eram sentidas e vividas assim como no restante do País. O distrito do Campo Limpo ganhava novos “guerrilheiros”, que lutariam por um lugar melhor, mesmo sendo conhecido como um dos mais perigosos do Estado. Como já cantava o Racionais, até no lixão nasce flor. Assim era o Campo Limpo, região cheia de histórias para se ter orgulho de conhecer. Hoje ele é um dos maiores distritos da cidade de São Paulo e fazem parte dele, além do bairro Campo Limpo, Capão Re-dondo e Valo Velho. Nesses locais da Zona Sul, todos os dias trabalhadores acordam cedo e par-tem para o Terminal Campo Limpo para pegar ônibus. Depois que esses ônibus dão a partida, cada uma dessas pessoas perde-se no meio de outras que vão entrando em cada ponto em que o coletivo parar. Ali se mesclam raças, sexos, adultos e crianças, jovens e idosos. E o que provavelmente muitos não sabem é que no Campo Limpo acontecem vári-os movimentos sociais e culturais e, de uma forma geral, o termo e a função das tradicionais

Organizações Não-Governamentais vem sendo aposentado — o tempo em que na comunidade tinha somente as ONGs atuando já passou. O que está em alta são os empreendimentos realizados diretamente pelos moradores. A comunidade está preocupada com o crescimen-to do Distrito, com os valores sociais, culturais, educacionais, econômicos e tantos outros que afetam diretamente sua vida. São Jornalistas, administradores, donas de casa e crianças que ajudam e se voluntariam para atuar dentro dos coletivos que se formam. Trata-se de um fenômeno que está acontecendo no Campo Limpo. Essas e outras ini-ciativas serão narradas neste livro-reportagem, em uma tentativa de retratar as iniciativas con-temporâneas que transformam o lugar. Se o Campo Limpo fosse uma cidade seria a 29º maior do Brasil. 16 17

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Linha do Tempo

1960 – Construção das igrejas: Igreja São Judas Tadeu e Igreja São José Operário;

1963 – Chegada da primeira linha de ônibus na região;

1980 – Crescimento imobiliário;

1989 – O Papa João Paulo II escolhe o Campo Limpo para sediar a nova Catedral Sagrada Família.

1950 – Região com muitas fazendas, ainda pouco valorizada como um bairro; 1958 – Chegada da energia

elétrica;

1968 – Calcamento das primeiras ruas 1970 – A população começa a

emigrar para a região (explosão);

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Coletivos

Você sabe o que é cultura?

Não é de se surpreender que a palavra cultura signifique cultivar. A cultura é um hábito, por isso precisamos cultiva-lo, assim como a educação. Precisamos compreender que todo conhecimento, seja por meio das artes, de crenças ou cos-tumes, chegam até a gente através da busca. Se nós não buscarmos esse algo a mais, nunca vamos entender porque hoje ter cultura é tão importante e valioso em nossa sociedade.

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Essa pequena palavra trás com ela um grande conjunto de ideais e comportamentos. Em cada país encontramos uma cultura diferente, que são influenciadas por diversos valores. Por exemplo, a cultura bra-sileira é definida pela boa disposição e alegria, se refletindo também na música, como o ritmo do samba. Então seria a cultura uma herança so-

cial da humanidade? Provavelmente, pois até hoje a cultura é formada por vários fatores, sempre em desenvolvimento. É por esses motivos, que a cultura na região do distrito do Cam-po Limpo, nos chamou a atenção para escrever esse livro-reportagem. É um desses lugares que hoje encontramos diversas formas de mani-festações culturais, integrada por adolescentes e jovens. Mas também existe muita gente experiente, com cabelos brancos e rugas embaixo dos olhos.

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É por esses motivos, que a cultura na região do distrito do Campo Lim-po, nos chamou a atenção para escrever esse livro-reportagem. É um desses lugares que hoje encontramos diversas formas de manifestações culturais, integrada por adolescentes e jovens. Mas também existe muita gente expe-riente, com cabelos brancos e rugas embaixo dos olhos.

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Em nossa primeira visita ao Campo Limpo, o CITA foi lugar que conhecemos, e lá vimos um pouco do que a cultura fez por aqueles jovens. Não bastou andar muito para notarmos que quase ao lado do Terminal Campo Lim-po, um dos maiores terminais de ônibus de São Paulo, muitas pessoas não fazem a mínima noção do que acontece a

poucos metros dali. Durante a caminhada para o CITA, percebemos os olhares curiosos se per-guntando o que fazíamos “chegando” com câmera e papéis nas mãos, enquan-to elas seguiam em direção ao centro. A resposta deveria ser: “perto da gente tem mais história e valor do que imaginamos”.

Esse era só o primeiro de muitos locais e iniciativas que fazem a cultura no Campo Limpo.

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escola de Notícias

Ao entrar no CITA – Centro de Investigação Teatral Artemanha, noto na entrada que além de um centro cultural, o lugar também é uma casa com as sedes dos coletivos: Instituto Escola de Notícias, Bando Trapos, Ateliê Populart, Maracatu Ouro do Congo e Tropeiros da Arte, além de três outras moradoras espe-ciais, Shakira, Madonna e Demi, os vira-latas que acompanham o dia a dia do Centro. O CITA é um galpão simples, onde os coletivos ocuparam e fizeram suas sedes. Enquanto um abre os portões, outro está varren-do o corredor, alguns ainda acordando adentram o ambiente trazendo grandes sonhos nas costas.

1º turma da escola de comunicação comunitária durante atividade no Cita.

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Já dentro da sede do Escola de Notícias, encontramos Karol Coelho, uma menina simpáti-ca e gentil, aquele tipo de pessoa que a gente pensa que só encontra em novelas, funcionária

com alma de voluntária, pronta a ajudar. Ela é uma das organizadoras do Es-cola de Notícias, junto com Tony Marlon, que já chega pedindo desculpas pelo atraso, pois precisou ir ao banco sacar dinheiro para carregar o bilhete único. Tony lidera inúmeros jovens dis-postos a aprender. O Escola de Notícias surgiu de um sonho do Tony de poder levar aos jovens muito mais do que um aprendizado tradicional, como o das faculdades, e sim, algo que vá além das técnicas, a ponto da metodologia ter sido considerada, em pesquisa realizado pelo jornal Folha de S. Paulo, como inovadora e possível de ser aplicada em outras iniciativas. Os cursos de jornalismo impres-so, fotografia, audiovisual, criação gráfica e edição de som, fazem parte do currículo da escola

comunitária. Durante um ano, jovens de escolas públicas e particulares do Campo Limpo podem aprender os primeiros passos de profissões que podem abraçar no futuro. Para esses colaboradores do EDN não basta só a formação; no final do curso, os jovens também poderão atuar dentro da produtora, fazendo parte da equipe – “produtora” é mais um dos nomes que o Escola de Notícias recebe.

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Tony explica que o EDN é uma produtora na área de formação de público, ou seja, as empresas podem contratar a escola para a formação de pessoas, desde crianças de 8 e 9 anos, como já foi feito, até educadores de mais de 50 anos. Ou as organizações podem contratar o EDN para fazer mobilização comunitária. Tony dá o exemplo da Fundação Telefônica, que os contratou para gravação de vídeos, e depois eles puderam entrar no bairro para realizar um trabalho social. Com isso, ele caracteriza o EDN como uma “empresa social”, ou seja, os lucros são revertidos para pagamento das despesas e reinvestimento no projeto, como por exemplo a Escola de Comunicação Comunitária, também gratuita. Além dessas ações, outra vertente é o Jornal Viver Campo Limpo, cuja editora de conteúdo é Ana Rodrigues, uma das autoras deste livro-reportagem. Esse jornal publica notícias da região do Campo Lim-po – parte do conteúdo é produzido (texto e fotos) pelos alunos da Escola de Comunicação Comunitária,

que inclusive recebem pelo trabalho como forma de incentivo. Tony defende que os projetos não sejam identificados com chavões comuns a este tipo de iniciativa, como chamar os alunos de “jovens carentes em situação de risco social”. Para nós, que estamos de longe desse universo atuante do qual Tony, Karol e outros participam, é apaixonante ver pessoas engajadas para atuar no lugar em que moram. Importante notar o seguinte: muito mais do que um pequeno espaço geográfico onde pessoas desenvolvem projetos comunitários, a ideia principal é começar pela mudança do pensamento desses jovens. Tony pode não perceber, mas com seu jeito de menino faz com o que eu e outras pessoas criemos ambições parecidas com as dele. Talvez exista um pouco de Tony em cada um de nós.

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Os envolvidos com o Ateliê Popularte tem uma história conturbada de nômades pela região. As

articulações informais começaram no Sarau do Binho, iniciativa literária reconhecida por grandes projetos culturais e meios artísticos. Os artistas precisavam de um local para produzir, expor e guardar obras e materiais. Das discussões surgiu a articulação de criar um espaço e, dela, eles se juntaram e se escreveram no programa VAI, Programa de Valorização de Iniciativas Culturais, em 2011. O projeto foi aprovado e, com os recursos, os artistas alugaram um espaço dentro da Fábrica de Criatividade, no Capão Redondo. A Fábrica é um espaço que incentiva a produção de ideias, que estimula pelo lúdico e democratiza a cultura, tornan-do acessível a todos toda forma de arte.

O Ateliê Popularte ficou por um ano dentro da Fábrica de Criatividade. Para manter o es-paço, além do aluguel, também era preciso a ajuda de voluntários; pior: o valor do aluguel triplicou, impos-sibilitando o Ateliê Popularte de continuar naquele espaço. Com uma iniciativa tão viva, a verdade é que ainda falta um espaço próprio. Com idas e vindas, o Popularte hoje mantém suas atividades no CEU Capão Redondo. Onde hoje buscam além de um espaço, incentivar e integrar as crianças e ado-lescente que estudam no CEU a aprender os métodos de arte usados por eles no Ateliê, nas aulas tradi-

cionais de Educação Artísti-ca. Dentro do Ateliê o artista pode compartilhar técnicas de produção, mate-riais, adquirir conhecimento acerca da arte. Além disso, o Popularte promove encon-tros, debates, workshops e vivências para artistas.

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Casa da Mulher Não muito longe do CITA, que fica no centro do Campo Limpo, no bairro vizinho, Jardim Maria Sampaio, outra iniciativa é emblemática da força da organização popular na região. Saímos de um local que respira comunicação para outro em que os direitos da mulher são a preocupação principal.

Estamos falando da União Popular de Mulheres do Campo Lim-po, cuja atividade nos revelou que o ser humano ainda precisa evoluir muito para chegar a um terço do que queremos ser um dia, ou o que buscamos que nossos filhos sejam. Quem nos apresentou à casa foi Aline Maria Mendes, de 30 anos, uma das colaboradoras e articuladoras, também da equipe

do Ateliê Popularte. Ela tem traços fortes, pele bem morena; os cabelos que antes eram compridos, como nos contou em entrevista, hoje trazem a austeridade de um corte “Joãozinho”; e um olhar profundo, que mostra mais do que palavras podem nos ensinar. Como Aline explicou, a Casa da Mulher é um guarda-chuva que engloba outros projetos, como a União Popular de Mulheres, o Banco União Sampaio e a Agência Popular de Cultura Solano Trindade, todos relacionados aos moradores do Campo Limpo, Capão Redondo e Valo Velho. Da casa simples saem financiamentos para desenvolver os seus empreendimentos financeiros, sociais, culturais e literários.

Na casa, as artes nas paredes chamam a atenção, as mensagens prendem os olhos, e o tempo inteiro fazem refletir. São rostos sofridos e alegres em pin-turas e grafites. O projeto inicial da Casa da Mulher era voltado para os direitos das mesmas. Mas hoje a entidade também pro-move reuniões para a comunidade como o Movimento de Moradia, aos finais de semana. A sede também alfabetiza jovens e adultos através do Movimento de Alfabetização de Jovens e Adultos (MOVA), e oferece cursos à comu-nidade sobre cultura africana, no momento estudam religiões afro-brasileiras. Além desses projetos que acontecem dentro da sede, eles têm outros fora, como Os Núcleos de Convivência dos Idosos, que hoje junta 200 idosos, e o CDCM, Centro de Defesa e Convivência da Mulher, ape-nas para as mulheres que sofrem violência domésti-ca. Ocorrem reuniões em que essas mulheres são en-caminhadas para centros médicos de apoio da região. Esses projetos são o que Aline considera “linha de frente” da União. A União Popular de Mulheres (UPM) surgiu há mais de trinta anos, com o intuito de apoiar umas às outras nas necessidades do dia a dia. “Eram mulheres migrantes, vivendo em uma região pouco desenvolvida e com poucos recursos. Trocavam roupas das crianças, alimentos, se viravam,” conta Aline Maria, que faz parte da equipe da UPM.

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Essas mulheres eram, em suas maioria, migrantes nordestinas; vieram para São Paulo acompan-hadas de seus maridos e filhos, seduzidas pelo auge da industrialização do Brasil, entre as décadas de 1950 e 1980, quando a migração nordestina para a região Sudeste, em especial para São Paulo e Rio de Janeiro, foi ,ais intensa, tornando as capitais destes Estados grandes polos de atração. Essa união das mulheres foi crescendo de tal forma que elas começaram a se organizar, reivindi-cando do poder público, atenção para os graves problemas que estavam surgindo, como verminoses, desnutrição e mortalidade infantil. Mas toda essa organização foi dissolvida pelo Regime Militar. Só em 8 de março de 1987, dia internacional das mulheres, elas conseguiram retomar a organização que foi então nomeada União Popular de Mulheres do Campo Limpo e Adjacências. A fundadora e Presidente da Organização é a Neide de Fátima Martins Abati, hoje com 74 anos.

Atualmente, um dos pontos de atuação mais fortes refere-se à articulação entre economia e cultura, como, por exemplo, as atividades de artesanato para terceira idade iniciadas em 2005 após serem contempla-dos pelo Edital do Programa Cultura Viva. A sustentação econômica de projetos como esse tem explicação: é o Banco União Sampaio, de caráter comunitário, surgido em 2009 – é um dos cinco surgidos da parceria em Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENES-MTE), Instituto Palmas (ligado ao banco Palmas, primeiro banco comunitário com moeda social no Brasil) e Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares da USP (ITCP-USP).

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Neide de Fátima Martins abati

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Banco união Sampaio e agência Popular Solano Trindade

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O Banco união Sampaio é um dos 57 bancos comunitários do Brasil. Ele tem sua própria moe-da, a Moeda Sampaio, registrada no Banco Central, e que pode ser trocada por real. No banco são oferecidas linhas de crédito para a comunidade, como Crédito Puxadinho, para construções, e Crédi-to de Apoio Cultural. A análise de crédito é diferenciada: a equipe do banco visita a casa do solicitante e analisa sua

situação social por vários critérios. “Se o marido espanca a mulher, por exemplo, nós não iremos emprestar o dinheiro pra ele. A pessoa tem que ajudar da maneira mais simples que seja no desenvolvimento da comunidade,” explica Aline. O Banco não tem lucro com os empréstimos, não são cobrados juros, só se por algum motivo acontecerem atrasos, mas tudo pode ser negociado. O objetivo é ajudar no desenvolvimento comu-nitário, ou seja, são serviços financeiros e bancários gerenciados pela comunidade, fazendo com que estes serviços além de mais acessíveis sejam um instrumento de organização e estímulo ao desen-volvimento local. Os trabalhadores do banco são moradores da região, o que torna o atendimento bem mais humano e diferenciado. A equipe da administração do Banco União Sampaio é formada por jovens articulados com as dinâmicas culturais da área. A experiência destes jovens com a cultura os levou à criação de uma linha de crédito voltada a produções culturais locais.

Moeda Sampaio.Foto: Jornal Folha de S.Paulo

Depois da criação desta linha de crédito cultural, uma rede foi criada para articular a troca de contatos e serviços ligados a produções culturais; esta rede, além do Campo Limpo, já ganhou espaço em vários outros

bairros da zona sul. ApesAr de todA A Ação e mobilizAção em torno do bAnco, seu fundo ficou limitAdo diAnte dA demAndA de crédito. Além da falta de recur-sos, também são necessárias mais linhas de crédito para desenvolver arranjos baseados na economia da cultura. Diante deste dilema, foi criada a Agência Popular Solano Trindade.

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A Agência realiza fomento e capta recursos para o fundo do Banco União Sampaio. O projeto teve fomento inicial do Programa VAI (Programa da Secretaria Municipal de Cultura de SP para fomen-to a projetos culturais de jovens nas periferias) e posteriormente recursos do Prêmio Economia

Viva. Atualmente a Agência tem cerca de 200 coletivos de arte e cultura cadastrados na zona sul e nos outros pontos da cidade. 50 51

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os Frutos do Sarau do Binho

Abriremos este capítulo falando do Sarau do Binho, que foi definido por muitos dos nossos entrevistados, como um dos pilares

deste “panelão” cultural que se tornou o Campo Limpo.

Sarau do Binho

“Uma andorinha só não faz verão, mas pode acordar o bando todo.” - Binho Eram três e vinte cinco da tarde, chegamos mais de meia hora antes do horário marcado com o Binho; Sem jeito de chamar, demos um tempo na rua, a en-trevista era na casa dele, ficamos com medo de atrapalhar o almoço ou algo do tipo. Esperamos uns vintes minutos. Toquei a campainha. Binho abriu a porta e veio todo sorridente, com um potinho de so-bremesa nas mãos, abriu o portão e nos recebeu cheio de brincadeiras. En-tramos, lá estavam Suzi, a esposa do Binho e o Mutcho, um grande amigo dele, que acabou se tornando mais um de nossos personagens.Fomos conversar na cozinha, e o que era para ser uma entrevista acabou virando uma agradável roda de conversa. Binho começou a contar sua história e a do Sarau, mas era sempre interrompido por Mutcho, que se lembrava de detalhes importantes e Binho se esquecia de contar.

Comecei a entrevista perguntando a Binho de onde ele veio, e ele me respondeu de forma séria e direta: “Não sei, eu ainda, estou buscando a resposta certa, ainda não sei de onde eu vim”. Natural do Campo Limpo, Binho conta que tudo começou com um bar que ele montou para contribuir com a renda da família. Neste bar eles faziam a noite da vela, todas as segundas-feiras à noite: to-cavam apenas vinis. E foi nos intervalos para trocar o lado dos discos de Pink Floyd, Led Zeppelin, Milton Nascimento e Ravi Shankar que surgiram os pedidos para declamar poesias.Foi em uma noite da Vela em meio a conversas sobre poesia que surgiu a ideia de colocar poesia

nos postes, a Postesia. “Isso foi por volta de 1995, eu já escrevia algumas poesias. Depois vieram as eleições e nós tirávamos as placas dos políticos e as pintávamos, escrevía-mos as poesias e devolvíamos no lugar. Eu escrevia trechos de poesias minhas, na épo-

ca eu ainda não conhecia outros poetas, então as poesias eram todas de minha autoria, às vezes assinava, às vezes não, e o movimento foi pegando.”

Para Binho, a Postesia como foi chamado o movimento, foi um embrião do Sarau do Binho. Eles espalhavam as placas pelo Campo Limpo, Santo Amaro,

Pinheiros, Butantã. Aos poucos, pessoas de outros movimentos culturais iam atrás deles, e assim outras pessoas começaram a participar, escrever suas

poesias e espalhar pelos postes da cidade. O movimento foi crescendo e acontecendo durante os anos de 1997 e 1998, quando surgiu também a Postura. A Postura, assim como a Postesia, eram feitas nas placas de políticos, mas nestes eles faziam pinturas, como se fossem telas, que pas-savam pelo mesmo processo, depois eram devolvidas aos postes. Binho comentou que um de seus parceiros, que ajudou muito nesse movimen-to, foi o Mutcho. Para Binho, o Sarau é fruto desses dois movimentos. Em 1999, Binho lançou seu primeiro livro, o Postesia: nele estavam justamente as frases que ele usava no postes.

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Os eventos no bar sempre aconteciam na segunda-feira, desde a época das noites da vela até começar a acontecer o Sarau. A segun-da foi escolhida, pois é um dia em que as pessoas não costumam sair, então, quem frequentava, era quem realmente tinha interesse nos en-contros, um público mais segmentado, diferente do que costuma sair aos finais de semana. Além disso, a segunda-feira era o dia mais tran-quilo no bar. Os saraus, que na época nem eram chamados assim por Binho, começaram a acontecer esporadicamente. “Tinha a noite da Vela e nós fazíamos o sarau a cada dois, quatro, seis meses, não era nada fixo e nem chamávamos de sarau. Quem veio forte com essa ideia de Sarau foi o Marco Pezão e o Sergio Vaz, quando criaram a Cooperifa, isso em 2001.” Nesta época, também estava acontecendo no bar um movimento forte com o pessoal do reggae, o que contribuiu para agregar mais às pessoas ligadas a arte. Lá começaram a aparecer integrantes do movimento Hip Hop, das Artes Plásticas, e usando a expressão que o próprio Binho usou, isso foi criando um caldo cultural, todos os movimentos pop-ulares locais criados pós-ditadura militar, como os Racionais MC´s, que eclodiram o movimento hip hop e contribuíram para essa explosão cultural no Campo Limpo. O boca a boca fez do Bar do Binho um ponto de encontro para quem gostava das artes, e a segunda, que era o dia mais tranquilo do

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Alguns anos atrás... Era uma segunda-feira qualquer, de um mês qualquer de 2008, e a minha rotina da semana começava. Fui pra escola, contando as horas pra que a aula aca-

basse logo, pra eu correr pro Arrastão. A aula acabou, corri pra casa, troquei de roupa, e voltei para o Arrastão, pois deixava para comer lá, a comida era ótima. O Léo chamou no portão. Ele é meu melhor amigo, eu fazia audiovisual, e ele gastronomia, descíamos juntos para o curso. Na aula descobri que teríamos que gravar o Sarau do Binho daquele dia, eu morria de vontade de conhecer, meu amigo Kenny sempre me dizia o quanto era legal. Meu pai nunca me deixava participar, porque já começava meio tarde, e eu só tinha 15 anos naquela época. Aquela atividade era o pretexto perfeito pra que eu pudesse finalmente ir. Peguei a autorização, corri pra casa. Fiz meu pai assinar. Lembro que ele me deu dez reais para gastar lá e me senti rica. Encontrei o Kenny na frente do Arrastão e fomos caminhando até o bar.

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Quando chegamos, parecia que eu estava vendo o céu. Não era bem como eu imaginava, era melhor. Aquele lugar tinha uma energia, uma mística, que me fazia tão bem. Aquelas pessoas tinham um brilho no olhar. As pessoas declamavam poemas e parecia tudo tão normal. Alguns diziam palavras que eu nem imaginava o que significavam, mas mesmo assim eu parecia entender. Aquela noite foi uma das mais bonitas da minha vida. Era tanta gente lá que tomava a rua, o lugar era de esquina, e quem passasse via aquele mutirão lindo. Lá eu voltei mais algumas vezes, não tantas como eu gostaria, mas todas elas foram mágicas.

O Sarau do Binho funcionava como uma agenda cultural, o pessoal ia na segunda e ficava sabendo de tudo o que ia acontecer no resto da semana, e assim foi, todas segundas de todas as semanas, até 2011 quando o bar foi fechado por “falta de alvará”. Muitos debates e conversas sobre os problemas sociais da região aconteciam no Sarau do Binho, que a esta altura já era bem famoso e se tornara um pilar da cultura na periferia de São Paulo. Muitos de-bates, movimentos e reivindicações foram pensados e divulgados ali. O Sarau do Binho nunca apoiou nenhum partido ou candidato político, diferente dos outros bares da região, nenhum deles fechado por falta de alvará. O local era o único por ali sem nenhuma placa, banner ou muro pintado que demonstrasse apoio ou militância a partido, a não ser o povo, e foi fechado.

Após o fechamento do bar, foi escrito o texto Na esquina de Campo Limpo com New Orleans

(texto da orelha do livro Antologia Poética do Sarau do Binho)David da Silva

“Toda terça-feira eu encontrava Thelonius Monk e outros monstros da música instrumental no bar (do Sarau) do Binho. Eles me esperavam sentados sobre as cordas das guitarras do Pedro Arnt e do Adriano Matos. Música de primeira logo no segundo dia útil da semana. As quatro notas cromáticas aumentadas em colcheias na canção Blue Monk me davam combustível para os outros seis dias.

Pelas paredes do boteco ain-da ecoavam os versos declama-dos na noite anterior. Restava um pouco de palavras não di-tas nos fundos das garrafas que haviam destilado as emoções do sarau na lua passada. Aquele bar no encontro da Rua Avelino Lemos com a Rua Coronel Sou- za Ferraz não nos dava a menor chance de um mal começo semanal. Da segunda-feira ficavam poemas sobre paralelepípedos orvalhados. O melhor da poesia local em viva voz. Da noite seguinte, a audição dos gênios do jazz. Canções macadamizadas. Era ali onde Campo Limpo fazia esquina com New Orleans.Primeira vez que pus os pés no (bar do) Sarau do Binho um verso do poeta Luan Luando ricocheteou pelas quinas das mesas, sumiu zunindo pela rua. E até hoje reboa entre as costelas que me gradeiam o coração.

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Quem diz que sarau poético pode respirar longe dos balcões, aprendeu nada com a literatura universal. Reunião literária em bares das quebradas da Grande Sampa não corre risco de repetir aquele sarau dos Villains Bonhommes em 2 de março de 1872, quando aos berros de “merde!” Arthur Rimbaud interrompeu um colega que recitava – se bem que eu não questionaria uma crítica intestinal de poeta do porte de Rimbaud...O enleio das palavras com as garrafas incomoda inquilinos do poder. Não à toa, ao atacar a Inglaterra em agosto de 1940, Hitler mandou seus aviões da Luftwaffe bombardearem seis cervejarias e nada menos que 1.300 pubs de Londres.

O bar do Binho foi fechado por perseguição política camuflada de problema com documentação. De cer-ta forma o desfecho desfavorável aliviou-nos a alma. Era constrangedor vê-lo às voltas com as exigências kafkianas da Subprefeitura. As portas de aço baixadas serviram de trampolim para uma itinerância poética que muito agrada aos sarau-sistas – incorrigíveis batedores de pernas.A intolerância burocrática municipal não conseguiu provocar a diáspora literária no Sarau do Binho.Os criadores de versos e demais artistas da geografia poética fundada por Robinson Padial trazem tatuada no espíri-to a mensagem que Thelonius Monk deixou no seu Blue Monk: tudo é questão de tentativa e erro, perdas e ganhos. Encontrar um lugar ao sol não vem de maneira fácil.

Trial and error, loss and gain. Finding your one place in the sun Doesn’t come the easy way.”

Em julho de 2013, foi lançado o livro Sarau do Binho, com textos, crônicas e poemas de muitas pessoas, que ao longo dos 17 anos, ajudaram a construir a história do sarau. O livro conta com mais de 270 textos - o texto citado acima faz parte dele. A partir do fechamento do bar do Binho, o sarau passou a ser itinerante, acontecendo esporadicamente na Praça do Campo Limpo, no Espaço Cita, No Espaço Encena, e no Espaço Clariô, onde hoje é feito mensalmente. Binho conta que as itinerâncias serviram para levar o público do sarau a conhecer outros lugares e movimentos. Hoje, apesar da data fixa feito no espaço Clariô, o Sarau acon-tece em diversos lugares, às vezes todos os dias. Binho conta que a manifestação acabou perdendo um pouco a força, por não ser mais semanal. Como o Sarau funcionava como uma agenda cultural da semana, essa comunicação foi quebrada, o que afetou outros mov-imentos, ou, digamos, “ramificações” do Sarau do Binho. “O Sarau como está sendo feito hoje fica um pouco como evento, a for-mação de público que fizemos leva tempo pra ser feita, não é de uma hora para outra”. Binho diz que em um movimento como esse você faz produção e formação de público ao mesmo tempo. “Você é criador e expectador. É interessante isso, porque muitas vezes você tem apenas o expectador”. Ele finalizando dizendo que a importân-cia do Sarau é que você vai buscando expressar o seu interior, com-partilhando com os outros e ao mesmo tempo buscando o divino. “O Sarau estimula a busca pelo divino dentro de nós e do divino que existe em cada um.” Antes de finalizar a nossa entrevista, ele lembra que não haveria Sarau do Binho sem a Suzi, ela está por trás de tudo, é a produção o que segura essa mágica que acontece há tantos anos. “O Sarau do Binho era o lugar onde tinha mais gente boa por metro quadrado”, diz Mutcho sorrindo. 61

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Bar do Mutcho“A verdade sobre o Brasil é verdadeira. A história que é mentira”, disse Joni Mutcho também poeta e dono de um dos pedacinhos do Sarau do Binho.

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Joni Moura Costa, o Mutcho, tem 49 anos e veio de Araçatuba, interior de São Paulo em 1978. Desde en-tão vive no Campo Limpo, onde começou aos poucos a construir a sua história cultural no Jardim Helga. Mutcho tem um bar, que ele mesmo denominou como uma das extensões do Sarau do Binho, onde ele promove sarau, ensaios musicais e encontros com frequentadores do Sarau do Binho, sempre rodeado de muita música popular brasileira e poesia. A nossa história com o Mutcho começou com a visita que fizemos à casa do Binho, onde o encontramos tomando um café. Tivemos então a oportunidade de conversar com dois dos impotantes pilares da cultura no Campo Limpo, e descobrimos como é extensa a lista de pessoas que ajudam a manter esse caldo cultural. Como aquela tarde era do Binho, conversamos um pouco com o outro convidado e ficamos de ir no dia seguinte ao seu bar, onde haveria um sarau. No dia seguinte, como prometido, estávamos a caminho do Bar do Mutcho. Pegamos no Terminal Campo Limpo o ônibus com sentido ao Jardim Helga e pedimos para o cobrador nos avisar quando chegasse no ponto do Mercado do Tião. Durante a viagem, um simpático menino perguntou se estávamos indo ao Bar do Mutcho, e dissemos que sim. Ele nos ajudou e disse que seria o próximo ponto depois que ele descesse. Seguimos a sua orientação e demos sinal, logo que desembarcamos do ônibus, uma menina nos indicou que o Bar era logo ali na frente, pois nos viu um pouco perdidas. A primeira impressão do Bar do Mutcho é de um grande museu de coisas antigas e sem uso que ele foi pegando durante a sua vida. Mas a história é bem diferente. Mutcho diz que o bar é o avesso do vazio, é cheio de cores e lembranças dos momentos que aconteceram em sua vida, sem contar os presentes que ganhou. Cada coisa tem um significado, outras significam algo para outras pessoas, como as fantasias de carnaval. Ele diz que o seu bar é um pedacinho do Sarau do Binho e que muitos objetos ele pegou do lixo.

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O Bar do Mutcho é um lugar pequeno, deve ter 20 metros², nesse ambiente tem um pequeno banheiro, e um sofá de madeira, com o estofado branco. As paredes do lugar são cheias de pinturas, grafites e fotografias. Tam-bém estão penduradas no alto um par de luvas de boxe da época em que Mutcho praticava a luta. O que chama a atenção logo de cara é a estante cheia de livros que ele tem dentro do lugar, sobre a qual ele diz que boa parte

veio do Sarau do Binho e dos vizinhos que contribuem para a sua pequena biblioteca. “Alguns trazem os livros, outros levam, fazemos uma troca, como em uma biblioteca.”

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O seu bar também é repleto de instrumentos musicais e vinis, que denota que a música é o grande forte ali. Tem atabaque, percussão, bateria, guitarra e tambor, entre outros instrumentos que nem conhecemos. É um pouco de tudo e bem brasileiro, você se sente em casa e esquece que apesar de tudo isso, é apenas um bar. E

atrás ainda acomoda uma pequena cozinha e uma geladeira, e claro, a plaquinha dizendo que “Pinga com limão e mel é apenas R$ 2,00”. Passado algum tempo falando com Mutcho na presença de dois amigos estavam no bar, chegou o querido Luan Luando, poeta da Zona Sul. Ele mora ali perto e visita o Bar do Mutcho frequentemente, quando não está nos saraus e em festivais de teatro, Luan está com o Mutcho. O que logo percebemos é que todos se conhecem, se não intimamente, pelo menos de vista. Assim como também já ficamos conhecidas entre eles, que nos receberam muito bem, como se fôssemos amigas de longa data.

Com tantas coisas penduradas pelo Bar, pergun-tamos se teria alguma que o remetia a uma história en-graçada. Mutcho apontou um pano de prato, todo sujo e

rasgado e deu risada. Disse que uma vez um dos vizinhos trouxe um bolo que a esposa fez e o embrulhou neste pano, e pediu que ele tivesse muito cuidado com o pano de prato da patroa. Mutcho muito cuidadoso contou que esque-ceu de devolver, e que o vizinho voltou algumas vezes atrás do bendito pano. Então ele resolveu procurá-lo, e o encon-trou dentro do fogão cheio de óleo de cozinha e rasgado. Ele disse que ainda tentou lavar, mas que não deu certo, e com tanta vergonha de devolver, não pensou duas vezes e pendurou no bar. Outra boa história que ele nos contou foi que o Bar promove um Festival de Contos infantis para as crianças, que é sempre bem frequentado, principalmente por eles, os pequenos do Jardim Helga. O tempo foi passando rapidamente enquanto con-versávamos, e começou a chover. Como precisávamos ain-da ir ao FESTCAL, que já estaria acontecendo, fomos finali-zando a nossa conversa naquele singelo Bar do Mutcho. Ele muito agradecido com a visita nos convidou a voltar mais vezes e participar do Sarau, que por causa da chuva, talvez não acontecesse naquele dia de nossa visita.

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Olhamos cada parte do bar e vimos que ali tem a história não só da cultura do Campo Limpo, mas a de muitas pessoas. Fotografias expostas do fotógrafo Rogério Gonzaga, outras da Rayssa, sobrinha do Binho. O bar também foi sede do lançamento do livro de Carolzinha, amiga de Mutcho que levou o conto “Pensamentos Estúpidos”. Também já fizeram uma amostra de fotografia, além do teatro de rua e do Bloco das Cores comandado pela Velha Guarda do Helga, e idealizado pelo Mutcho. Hoje uma das vontades que Mutcho tem é de escrever um livro reunindo as suas poesias e as histórias de seu bar no Jardim Helga. E, além de ser uma pessoa essencial para contar a história da cultura no Campo Limpo, ele ainda escreve poesias, e uma delas foi parar no livro de seu velho amigo Binho, a qual ele pediu que abrisse essa entrevista.

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Nesse capítulo, mostraremos pessoas que fazem o movimento cultural

acontecer no distrito do Campo Limpo. Fize-mos várias visitas e andanças pelo local, em

meio a tantos encontros as pautas simplesmente surgiram. É impossível fazer um passeio pelo

Campo Limpo e não surgir uma pauta, ainda mais se tratando de cultura.

Nós conhecemos as pessoas, os lugares onde trabalham e onde passam a maior parte de

seu tempo e idealizam os seus sonhos. Foi assim, andando por lá que encontramos Aline Maria, ideal-

izadora do Ateliê Popularte, Luan Luando, o poeta, Rogério Gonzaga, o fotógrafo,

entre out- ras figuras, que terão sua história e suas ações, que ajudam a movimentar esse

caldo cultural do Campo limpo, contados aqui. 

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Quem movimentao Campo Limpo

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Conversas sobre mulheres, cultura e ideias

“Como antenas que captam os ru-mores do mundo, penso que percebe-mos o que passa pelo imaginário co-letivo e transformamos esta enorme quantidade de informação em arte”, disse o artista plástico Deneir, de Majé – RJ.

Aline Maria é uma negra de cabelos curtos, o seu rosto é expressivo e acompanha a delicadeza do tom de sua voz, e sua luta é para mostrar a força que a mulher tem na sociedade.Foi ainda na infância que Aline Maria Cardoso desenvolveu um senso crítico para lidar com os problemas pelos quais a sua escola passava. Mui-tas vezes faltavam professores, ou aconteciam brigas entre alunos, e ela via que ninguém fazia nada a respeito. Percebeu, então, que podia faz-er alguma coisa e foi planejando em sua cabeça o que só alcançaria dali a alguns anos. Quando terminou o Ensino Médio fez o Magistério (para habilitar-se à profissão de professora) e o de Es-

pecialista em Educação (para dar aula em Edu-cação Infantil e no Ensino Fundamental).

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Aline já era uma mulher e, como professora, perce-beu que a educação estava falha e faltava muito para as escolas. Os alunos precisavam de uma base. Após

alguns anos lecionando, desenvolveu a sua própria metodologia para sair desse sistema formal e

falho. Ela diz que o que a motivou a fazer as coisas acontecerem em sua vida, foi a sua ne-

cessidade interior de trabalhar com algo de verdade e da forma que ela pensava ser o melhor caminho a ser seguido. Em 2008, sua vida mudou totalmente, ela começou a tra-balhar em projetos sociais, onde conheceu algumas das organi-

zações populares do Capão Redondo. O seu trabalho era acompan-har o desenvolvimento das famílias que eram beneficiadas por esses projetos. Foi uma mudança significativa, ela realmente achou o seu

lugar no mundo e teve a certeza de que depois de anos tentando, conseguiria fazer algo pelas pessoas, além de lecionar.

Atualmente, Aline se equlibra nos três pilares principais de sua vida: o seu filho, a União Popular de Mul-heres e o Ateliê Popularte. A pequena casa que é a sede da UPM é um lugar simples e confortável. Para ela, fazer parte desses dois projetos é uma honra, pois ambas as entidades são carregadas de valores políticos e sociais. “Na UPM eu ajudo mulheres, famílias e crianças que sofrem violência doméstica, além dos projetos voltados para a melhor idade”.  Ao longo da entrevista, foi em sua resposta sobre acontecimentos marcantes em seu trabalho que ela demonstrou fragilidade na voz. “É difícil citar um só acontecimento, pois são muitos. Todos os dias eu fico tocada, chocada, feliz, desapontada e triste. Porém, o que sempre me abala, é a violência sofrida por essas mulheres que procuram a UPM”.

Com apenas 30 anos, Aline Maria nos mostra como é grande e abrangente o que faz pelas pessoas do Campo Limpo e adjacências. Os seus dias são corridos e mesmo assim ela não se arrepende. Como qualquer mulher ela possui sonhos, uma família em crescimento, e precisa de tempo para poder cuidar se cuidar. Porém, quando o assunto é cultura, ela deixa qualquer “futilidade” de lado. Aline diz que não é só o Campo Limpo, mas toda a Zona Sul de São Paulo traz essa efervescência de projetos e coletivos culturais. Os bairros mais populosos como o Campo Limpo, Capão Redon-do, Capela do Socorro e Parelheiros, são alguns dos locais que mantém atividades voltadas para a cultura e ao

mesmo tempo os que menos possuem fundos e equipamentos para a realização. Ela acredita que por causa de algumas iniciativas da secretaria de Cultura, como o Programa VAI, eles conseguem manter e contribuir para que os projetos culturais tenham visibilidade e que cada dia ganhem mais força para continuar a crescer e ajudar esses jovens a criarem princípios e responsabilidades.

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Fotografando a rotina da cultura

“Você não fotografa com sua máquina. Você fotografa com toda sua cultura”, disse Sebastião Sal-gado, fotógrafo.

Andando pelos saraus da região do Campo Limpo encontramos Rogério Gonzaga, apaixonado por fotogra-fia e cultura popular. Nascido no distrito de Santo Amaro, zona Sul de São Paulo, lugar conhecido por ser um dos grandes centros comerciais da cidade, Rogério nos conta que já passou por muitas regiões da capital em seus 39 anos, mas foi a temporada no interior do Estado que o fez ser quem ele é hoje, um fotógrafo. A fotografia é uma paixão antiga, começou em 1995, mas naquela época Rogério ainda não fazia ideia do que ela repre-sentava em sua vida, pois as câmeras serviam para diversão.  “Eu gostava de fotografar tudo”. Na época ele cursava Publicidade e uma das disciplinas do curso era fotografia. Passaram-se algumas aulas e ele foi se apaixonando por aqueles pequenos objetos de lentes grandes e que podiam registrar qualquer coisa com um simples clique. Rogério então trancou o curso de Publicidade e se matriculou em um específico de fotografia, começando de fato sua história como fotógrafo.

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Em 2010 mudou-se para a COHAB Adventista, onde conheceu a Banda Poesia Samba Soul e passou a acompanhar a rotina dos músicos pela periferia de São Paulo. Aos poucos começou a se envolver com movi-mentos culturais e ficou conhecido. Hoje em dia fotografa a cena cultural da periferia de São Paulo, o que ele diz gostar e muito, e essa paixão só aumentou depois de começar a registrar os saraus. “Conheci os grupos de teatro, dança e alguns músicos. É tanta forma de arte junta que eu não conhecia, que hoje fico feliz de dizer que faço parte. Isso me fascina.” Continuamos com a nossa tarefa de entrevistar Rogério e saber mais de sua vida, e ele conta que a sua rotina é intensa, pois ele se divide em fotografar os shows da Banda Poesia Samba Soul, e as apresentações do Grupo Candearte e do Espaço Encena. Além disso trabalha na Agência Solano Trindade, e, claro, acompanha todos os saraus e movimentos artísticos que consegue, como o Praçarau, o Sarau Ambulante do Macedônia, o Sarau do Binho. Ah, ele ainda faz parte do coletivo Luta Popular e dos projetos TV DOC Capão e Tropeiros da Arte. E, incansável, Rogério está começando outro novo ciclo, prestes a realizar um de seus grandes sonhos, projeto de vida, como ele denomina: uma peça de teatro escrita e dirigida por ele, baseada na letra “Eduardo e

Mônica”, de Renato Russo. O nosso fotógrafo guarda grandes surpresas além de suas lentes focais. Como diz a música, quem irá dizer que não existe razão para as coisas feitas pelo coração?

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Luan Luando, o poeta da zona Sul!

“Não quero que as grandes ideiasmovam a grande massa,

quero que a grande massamova as grandes ideias”

disse o poeta Luan Luando.

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Depois de uma longa e agradável conversa com o Binho fomos até o Cita, onde mais tarde começaria uma apresentação do FESTICAL - Festival Nacional de Teatro do Campo Limpo, porém esta apresentação só aconteceria às 20h da noite e ainda eram 17h da tarde. Como não tínhamos muitas opções, resolvermos esperar, e com sorte, conseguirmos falar com dois dos grupos que estavam se preparando para participar do festival.

Enquanto conversávamos uma figura alegre e boa pinta adentrou o pequeno ambiente. A sala que é toda pintada de preto e com quadros e objetos bem coloridos mostrando que aquele lugar é voltado para o teatro. Esse cara boa pinta, seria o Luan Luando, o poeta, segundo o Binho autor do Best Seller da periferia. Finalizamos a nossa conversa com o grupo de teatro e circo Pato Mo-jado e esperamos enquanto o Luan dava boas vindas ao pessoal também. Quando eles terminaram a conversa e o chamamos de canto Luan ficou surpreso com a nossa presença, afinal já tínhamos marcados algumas vezes de nos encontrar, mas nunca dava certo. 81

Luan contou que sempre foi estimulado a escrever, pois os contos que sua mãe conta-va quando ele era pequeno já mexiam com a sua imaginação. “Minha mãe é baiana,

e ela me contava, os contos, a histórias da terra dela, aquilo despertava a minha imaginação, e eu viajava imaginando aquelas histórias.” Além das histórias que

a mãe de Luan contava, outra coisa que contribuiu para ele ir para as artes, eram alguns encontros que seus pais faziam na sua casa no Taboão da Serra. Eles rece-

biam amigos e discutiam música e cultura em divertidas tardes. Ele é filho de Dona Alzenir de Jesus e José Felício Meireles da Silva, é o caçula de

três irmãos.A sua história de amor com a arte começa quando ele tinha apenas

doze anos, e foi apresentado ao tetro. Quem o levou foi um amigo apelidado de Cabelo, que o convidou para conhecer e frequentar as aulas de teatro que a Escola Mu-nicipal Paulo Freire desenvolvia no

Campo Limpo, Luan aceitou, gostou e nunca mais largou o teatro. Ele foi se apaix-

onando mais pela arte dos palcos, e por volta do ano 2000 surgiu o Taboarte - um festival de teatro do Taboão da Ser-ra, em que ele e os outros grupos de teatro de vários esta-

dos se encontravam e trocavam ideias e experiências, mais ou menos parecidas com o que vemos hoje no FESTCAL.

Luan conquistou o seu sonho e escreveu um livro. A primeira obra intitulada de “O Manda Busca”, foi lançado com o apoio da Agência Solano Trindade e financiado pelo

Banco União Sampaio. Mas ele não parou por aí, depois veio “O Rélo” e por último o “Tá na Mão”. Atualmente, Luan se dedica aos seus próximos projetos: o livro que será no formato de micro contos e outro voltado ao público infantil. Hoje com vinte e cinco anos, conta com brilho no olhar que sobrevive da sua arte. E ele diz que de todos os versos que ele já escreveu, o que ele gostaria que colocássemos aqui para representá-lo, e que para ele representa a cultura na

periferia é “É noiz, depois de noiz é noiz de novo”.

A sua história de amor com a arte começa quando ele tinha apenas doze anos, e foi apresentado ao tetro. Quem o levou foi um amigo apelidado de Cabelo, que o con-vidou para conhecer e frequentar as aulas de teatro que a Escola Municipal Paulo Freire desenvolvia no Campo Limpo, Luan aceitou, gostou e nunca mais largou o teatro. Ele foi se apaixonando mais pela arte dos palcos, e por volta do ano 2000 surgiu o Taboarte - um festival de teatro do Taboão da Serra, em que ele e os outros grupos de teatro de vários estados se encontravam e trocavam ideias e experiências, mais ou menos parecidas com o que vemos hoje no FESTCAL. Foi o contato com o teatro que despertou Luan o prazer em ler livros e assim ele logo começou a escrever. Um dia Henrique, seu professor de históri, viu umas das poesias que ele escrevia e o convidou para conhecer um sarau, o conhecido Sarau do Binho. Henrique frequentava toda segunda-feira o “Sarau do Binho”, lugar onde as pessoas podiam expor ideias, declamar poemas, fazer música e teatro. Na época o Sarau acontecia No Bar do Binho, no Campo Limpo. Luan aceitou o convite e foi amor à primeira vista. Aos poucos, ele foi se encaixando entre as pessoas e sem perceber já estava declamando os seus poemas e participando assiduamente dos encontros. O tempo foi passando e Luan ficava cada vez mais conhecido entre as pessoas da periferia da Zona Sul, e com tanta coisa nova acon-tecendo, ele encontrava nas palavras um meio de expressar os seus sentimentos. Todos os dias, Luan publicava um poema novo em seu blog chamado de “Tutu Literário” e foi chamando a atenção das pessoas que estavam fora do seu universo. Foi a partir do blog que o jovem menino vindo da periferia foi chamado para participar do curso de Jovens Poetas, ministrado na Casa das Rosas, em São Paulo.

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FeSTCaL

Respeitável público, apresentamos o Festival Nacional de Teatro de Campo Limpo!

Em sua 9ª edição o FESTICAL mostra muito mais do que apenas teatro, esse grande festival que acon-tece desde 2006 no Campo Limpo, nos mostra a cumplicidade e o amor que os grupos de teatro tem pelo o que fazem – a arte.

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Para nós cobrir o Festival de Teatro foi um dos momentos mais importantes deste livro-reportagem. O evento começou no dia 21 de abril de 2014, com abertura na Cidade Tiradentes, zona leste de São Pau-

lo e teve o seu encerramento no dia 04 de maio no Campo Limpo. Ana e eu estávamos perto de entregar o livro para o nosso orientador Marcos Antônio Zibordi, mas não podíamos deixar de fora um dos eventos culturais mais importantes do calendário alternativo da cidade de São Paulo. Idealizado e promovido pela Trupe Artemanha, esse projeto é realizado em parceria com os coletivos artísticos do Espaço Cultural CITA, com a Prefeitura de São Paulo e o Pro-

grama de Incentivo à Cultura – VAI, entre tantos outros patro-cinadores. A necessidade de dialogar com os moradores do bairro tendo como o objetivo maior ocupar os espaços ociosos dessas pessoas, foi o que incentivou a Trupe Ar-

temanha a criar o Festival de Teatro de Grupos. O grande propósito era ampliar a rede de contatos deles com outros grupos alternativos de te-atro no País.

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O que eles não teriam a mínima noção é que daria certo essa ideia e que movimen-taria grupos de várias cidades do Brasil a virem conhecer e participar do evento. O primeiro FESTCAL contou com a participação de 11 grupos da região e de outros municípios (Taboão da Serra, São Caetano do Sul e Poá). Ao todo foram 2.000 espectadores, o que deixou o

Artemanha bastante orgulhosos. No ano seguinte em 2007, o festival foi contemplado pelo Programa VAI – Valorização a Iniciativas Culturais, o que ajudou a ampliar o festival para a participação de 18 grupos de teatro, e tendo a máxima de 8.000 espectadores. O FESTCAL só cresceu de 2006 até agora no ano de 2014 em sua 9ª edição. Todos os anos a Trupe escolhe um grupo de teatro para homenagear, esse ano a homenagem fica para o Centro Cultural Arte em Construção - sede do grupo Pom-bas Urbanas. Uma das surpresas desse ano foi a Cia de Teatro e Circo Popular Pato Mojado. Sendo formado por quatro argentinos, vindos diretamente de Rosário, na Argentina para o Campo Limpo.

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FESTCAL – 22 de abril de 2014 Já havia se passado trinta minutos desde o início de nossa conversa com o Bando Trapos, os atores já estavam se preparando para a sua grande apresentação no segundo dia do Festival. Ouvimos algumas pes-soas do lado de fora da sala da Trupe chamando todos para o lado de fora do CITA para aguardar o começo da peça. Enquanto andávamos pelo lugar, passamos pelo pequeno palco em que eles se apresentariam: o chão feito de taco de madeira, envolto com arbustos e rosas amarelas e vermelhas artificiais dando toda volta, como se fossem uma tenda, me recordando a casa de Julieta, no aclamado romance de William Shakespeare. O público vai chegando aos poucos, a maioria são pessoas curiosas que estavam na praça, amigos como o poeta Luan Luando e a fotógrafa Sheila Signário e moradores da região. Fomos informados que a peça começaria em frente aos portões do CITA. De repente ouvimos na caixa de som colocada na frente do CITA os

barulhos de um circo e surge O Mephisto, nosso personagem principal. O ator muito sorridente, me lembrou o ator de comédia Paulo Gustavo, que brincou e interagiu com os espectadores, fazendo pirofagia e andando alegremente entre as pessoas. Logo após surge vindos da Praça do Campo Limpo um trio de moradores de rua, que tem a sua atenção voltada para o Mephisto, de-scobrimos que eles também são atores. A peça que tem duração de 50 minutos, perambulou todo o Cantinho de integração de Artes, e com to-dos os ambientes preparados para receber o público de mais ou menos 50 pessoas naquele primeiro momento.

Dessa Souza e sua filha Cecília.Foto de Will Cavagnolli

O ambiente fica mais intimista, escuro e com os atores fa-zendo música através de potes de vidros, aqueles famosos “aquários” e termina com Mephisto ao chão, sem saber o que fazer de sua vida e se sentindo injustiçado diante de seu

próprio espetáculo. Os três moradores de rua pedem para as pessoas saírem do am-biente e o deixarem sozinho. Novamente do lado de fora os moradores de rua dão continuidade a peça até que Mephisto volte e finalize o grande espetáculo com

música e cantoria. A única conclusão que poderíamos tirar desta noite, foi que assistimos a um grande espetáculo, feito por grandes atores em um lu-gar onde pouquíssimas pessoas en-trariam, mas que foi realizado com amor e alegria e aplaudido de pé por todos.

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“Pato Mojado” A Cia de Teatro e Circo Popular Pato Mojado, é formada por quatro integrantes, que são eles: Alejo Castillo, Chikito Cesar, Maria Franchi e Pedro Agustin.

Pato

Moj

ado

Festcal - 22/04Foto de Rogério Gonzaga

O nosso bate papo com o Pato Mojado foi diferente de tudo o que já fizemos, pois se tratava de argentinos. Teríamos que perguntar e conversar em castelhano com eles, o que pediria mais do que estávamos prontas a fazer, mas só contávamos com aquele momento, já que eles só se apresen-tariam no domingo dia 27 de abril, e já teríamos entregado o livro.

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Quem começou o assunto foi a única mulher que divide os palcos com os outros três integrantes. Maria Franchi é bastante inquieta, brinca com todos e olha aten-

tamente para as pessoas. Ela começa nos contando que o Pato Mojado surgiu com a necessidade de divulgar e redesco-

brir a arte de rua em suas variadas formas, como a inves-tigação com a maneira prática e teórica de levar o humor as

pessoas. Maria nos conta que o convite para participar do FESTCAL surgiu pela Artemanha que eles já conheciam por causa de outros festivais de teatros que eles participaram no Brasil, não sendo esta a primeira visita da trupe. Pedro toma a palavra e diz que eles estavam bastante contentes por estarem lá conosco, que a ideia do festival ser gratuito e mostrado a pessoas de diferentes classes sociais mos-tra que eles estão fazendo um bom trabalho. Perguntamos se isso para eles é normal na cidade deles,

Maria diz que não. “Em Rosário a política é diferente, e não temos como participar tanto dos eventos culturais. Mas gostamos muito quando acontece”.

A conversa durou cerca de 15 minutos, pois logo iria começar “Mephisto Injustiçado” e como eles estavam hospedados ali perto juntamente com os outros grupos vindos de outros estados e cidades de São Paulo, pre-cisavam comer e se trocar. A nossa emoção foi grande, pois tivemos a oportunidade de conhecer mais do que outro grupo de te-atro, e sim um pouco da cultura de outro

país. Um país que mesmo diferente do nosso, com pessoas diferentes, eles mantém um pouco do que vimos no FESTCAL, a humildade, a troca de cumplicidade e paixão pelo teatro de grupo e de rua.

Foto de Rogério Gonzaga

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Andressa Lima de Souza, a Dêssa, é natural de Carapicuíba, município de São Paulo, e hoje é a produtora do Bando Trapos, o grupo de teatro que se formou depois da mudança da Trupe Artemanha para a Paraíba. A história de Dêssa com a arte começa 2006. Ela começou a estudar música junto com seu irmão mais novo, mas precisou parar o curso pois estava se formando em Técnicas de Edificações. Com ambos os irmãos formados, em cursos diferentes, não foi problema para mesmo assim trabalharem juntos e retomar o sonho antigo – a músi-ca. Ela e seu irmão começaram a cantar em barzinhos da região onde moravam, o primeiro foi um em Barueri. A dupla começou a escrever as suas próprias letras, eles queriam mais do que apenas interpretar as canções de outros autores, queriam escrever o que viesse da alma, e não só ganhar dinheiro. Nesse período de transição eles conheceram pessoas na periferia da Zona Sul de São Paulo e começaram a se apresentar nos saraus locais. Dêssa conta que o seu irmão se encantou com a banda Preto Soul e acabou entrando para o grupo, mas ela não achou que fosse o momento de também segui-lo, porém cerca de um ano depois ela se rendeu e se tornou uma das integrantes da Preto Soul, e começou a se apresentar ao lado deles no Bar do Binho.

Nessa caminhada entre a música e a arte, Dêssa foi con-hecendo pessoas do teatro, até conhecer a Trupe Artemanha. Foi com o Artemanha que ela encontrou a sua verdadeira vo-cação. “Sempre quis fazer teatro segmentado e poder juntar música com o trabalho corporal”, contou Dêssa.

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Durante o tempo que passou com a Trupe Artemanha percebeu que gostava de ficar por de trás dos panos e não nos palcos, então foi convidada para ser assistente de produção, ficou por três meses e depois

passou a ser produtora da Trupe Artemanha de Investigação Teatral. “O Artemanha está de mudança para a Paraíba, pois o seu fundador, Luciano Santiago, se apaixonou pelo estado quando fez uma pesquisa

para o grupo. Com a mudança dele, resolvemos mudar o nome para Bando Trapos”, explicou. E para fechar a parceria do Artemanha com o Espaço CITA, o FESTCAL e o último evento que o grupo se apresenta como Trupe Artemanha. “Ainda é o mesmo coletivo, só mudamos o nome e a lingua-gem, está um pouco diferente. O Artemanha tinha um discurso político mais engajado, o nosso é cuidar de um espaço público, o CITA”. Ela diz que a política do Bando Trapos hoje é que eles fazem teatro para quem está perto, passeando na Praça do Campo Limpo ou de visita no CITA. A nossa produtora, é mãe de Cecília, uma garotinha linda e muita esperta, que como a mãe tem paixão pelo teatro e a música. Tivemos o prazer de encontrá-la pelo CITA, pois depois da escola a menina vai para lá ficar com Dêssa, ela é o mascote dos Trapos.

Dêssa e seu Bando Trapos!

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agradecimentos

Este livro é dedicado ao distrito do Campo Limpo e os seus movimentos culturais. Agradecemos ao Binho e sua esposa Suzy que nos receberam com muito carinho em sua casa. O Bar do Mutcho, o Tony Marlon nosso querido amigo que foi de grande ajuda em nosso trabalho de pesquisa, assim como o Escola de Notícias e o Jornal Viver Campo Limpo. Ao poeta Luan Luando, a União Popular de Mulheres o Banco União Sampaio. O jornalista Joseph Silva. Rogério Gonzaga que nos concedeu o uso das suas fotografias para ilustrar o nosso livrorreportagem e principalmente o nosso orientador e amigo Marcos Antônio Zibordi que nos ajudou do começo ao fim dessa nossa empreitada corrida que foi o Cultura se faz com C – Campo Limpo.

Ana Rodrigues e Raquel Consorte