Curso Básico de Teologia - MANUAL DOS ALUNOS (CASSIUS RIBEIRO)

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Manual de Doutrinas Bíblicas

Curso Básico de

Teologia

Curso Básico de Teologia

PREFÁCIO

Este manual visa todos os cristãos que têm fome e sede de conhecer com maior

profundidade as doutrinas centrais da Palavra de Deus.

Tentei tornar este manual compreensível para àqueles que estão a iniciar a

caminhada de fé. Evitei utilizar termos técnicos sem antes explicá-los.

Apesar da leitura poder ser efectuada separadamente, para uma melhor

compreensão, exorta-se a todos usuários o método de estudo sistemático.

Creio que é dever de todo cristão e estou convencido de que a grande maioria será

capaz de entender com clareza e profundidade as doutrinas bíblicas.

Desejo a todos os que venham a usufruir deste manual, bênçãos em nome do

Senhor, e que este mecanismo possa lhes dar entendimento e transformar vidas

para honra do Senhor.

Creio que existe ainda muita esperança de que a igreja alcance compreensão

doutrinária mais profunda, mais pura e vença velhas barreiras, até mesmo aquelas

que têm persistido por séculos. Jesus está em constante trabalho visando

aperfeiçoar a sua igreja a fim de “a apresentar a si mesmo Igreja gloriosa, sem

mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém santa e sem defeito” (Ef. 5:27) e

tem dado dons para equipar a igreja “até que cheguemos à unidade da fé e do pleno

conhecimento do Filho de Deus” (Ef. 4:13).

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METODOLOGIA DE APRESENTAÇÃO E TRABALHOS

Será apresentado de modo sistemático as doutrinas bíblicas segundo a declaração

de fé baptista e convicções pessoais.

A metodologia de apresentação consistirá sempre com base bíblica clara para cada

doutrina, explicação clarificada de cada doutrina, aplicação à vida cristã centrada

no mundo evangélico. Cada capítulo será constituído nesse padrão.

Em relação ao método de trabalho científico, será exigido a cada usuário uma

interacção com cada capítulo. Cada participante deverá vir preparado para as

aulas.

Objectivos

1. Levar os alunos a uma maior compreensão das doutrinas centrais da Bíblia.

2. Analisar com profundidade as questões que envolvem a fé cristã.

3. Produzir um pensamento crítico das diversas doutrinas à luz da Bíblia e

aplicá-las à vida pessoal.

Trabalhos

1. Responder a todas perguntas no final de cada capítulo (ver manual) e as

que o professor apresentar em aula.

2. O aluno deverá apresentar em aula alguns trabalhos escritos que serão

previamente solicitados pelo professor. Estes trabalhos consistirão em

resumo de uma ou mais doutrinas sugeridas (ou acordadas) pelo professor

e aplicação à vida prática. O objectivo não é só adquirir conhecimento

bíblico, mas sim aplicá-lo ao dia-a-dia.

3. O aluno fará dois exames. Um no meio e outro no final do curso.

Avaliação

1. Perguntas – 20%

2. Trabalho Escrito e Apresentação – 30 %

3. Exames – 40 %

4. Leituras – 10%

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I. INTRODUÇÃO À DOUTRINAS BÍBLICAS

A. O que são doutrinas bíblicas?

Neste manual a palavra doutrina bíblica será entendida da seguinte maneira: “Uma

doutrina bíblica é o que a Bíblia como um todo ensina-nos hoje acerca de um tópico

específico”.

As doutrinas entendidas dessa maneira podem ser bem amplas ou bem restritas.

Podemos falar em “doutrina de Deus” como uma categoria maior incluindo uma

síntese de tudo o que a Bíblia ensina hoje acerca de Deus. Uma doutrina como essa

poderia ser excepcionalmente extensa. Por outro lado, podemos também falar de

um modo mais restrito na doutrina da eternidade de Deus ou na sua Trindade.

O manual é dividido em 5secções principais ou 5 doutrinas centrais e algumas

considerações sobre a Doutrina da Igreja:

1. Doutrina da Palavra de Deus.

2. Doutrina de Deus.

3. Doutrina do Homem.

4. Doutrina de Cristo e do Espírito Santo.

5. Doutrina da Redenção.

6. Doutrina da Igreja.

7. Escatologia (Resenha Escatológica)

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B. Porque os cristãos devem estudar teologia?

Creio que todos devem envolver-se no processo pelo qual Deus tem-se revelado

através dos tempos. Entender a revelação do seu amor, da sua justiça para com a

humanidade, etc.

A razão básica para o estudo teológico é aperfeiçoar a mente do homem para um

melhor entendimento da revelação bíblica. Jesus disse: “Portanto, ide, fazei

discípulos de todos os povos, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito

Santo, ensinando-os a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado…” (Mt.

28:19-20).

A tarefa de cumprir a grande comissão inclui, não só a evangelização, mas também

o ensino. O ensino com base em tudo o que Jesus ensinou e ordenou. Num sentido

mais amplo, é ensinar o que a Bíblia toda diz hoje. É necessário compilar e resumir

todas as passagens das Escrituras sobre um assunto específico.

C. Benefícios do estudo teológico para a vida.

Embora a razão do estudo teológico seja um meio de obedecer o mandamento do

nosso Senhor, existem outros benefícios específicos decorrentes do seu estudo.

Primeiramente, vencer pressupostos errados. Por haver pecados em nosso coração

e porque temos conhecimento incompleto da Bíblia, todos nós de vez em quando

resistimos ou recusamo-nos a aceitar os ensinamentos da Escritura Sagrada.

Segundo, estudar teologia ajuda-nos a ser capazes de tomar decisões melhores

mais tarde, sobre novas questões doutrinárias que possam surgir.

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Enfrentar questões ou controvérsias. O estudo teológico capacita-nos a responder

de maneira apropriada e responsável a essas questões. O estudo da teologia visa

ensinar de maneira prática os ensinos bíblicos.

Terceiro, o estudo ajudará no crescimento cristão. Quando mais conhecemos a

respeito de Deus, a respeito de sua Palavra, a respeito de seu relacionamento com

o mundo e com a humanidade, maior será a nossa confiança nele, mais plenamente

o louvaremos e mais prontamente obedeceremos a ele. Estudar teologia nos fará

crentes mais maduros.

De facto, toda a Escritura conecta a sã doutrina com a maturidade na vida cristã.

Paulo escreve a Tito dizendo que a sua obra enquanto apóstolo é de “levar os

eleitos de Deus à fé e ao conhecimento da verdade que conduz à piedade” (Tt. 1:1).

Já que foi falado de estudar com responsabilidade a teologia, será necessário

clarificar esse método. Devemos estudar teologia com espírito de oração. A própria

Bíblia diz no Salmo 119:18: “Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da

tua lei”. Assim quando estudamos teologia devemos em primeiro lugar pedir e

buscar entendimento na fonte de toda a sabedoria. Estudar teologia é uma

actividade espiritual da qual precisamos da ajuda do Espírito Santo de Deus. Paulo

escreve em 1 Coríntios 2:14 que “quem não tem o Espírito não aceita as coisas que

vêm do Espírito de Deus, pois lhes são loucura; e não é capaz de entendê-las, porque

elas são discernidas espiritualmente”.

Não importa quão inteligente e capaz seja o aluno, se ele não continuar a suplicar a

Deus para dar-lhe mente que entenda e o coração humilde para crer, se o aluno

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não mantiver o relacionamento pessoal e íntimo com o Senhor, os ensinos da

Escritura serão entendidos erroneamente, ele não crerá neles, erros doutrinários

aparecerão.

Devemos estudar teologia com humildade. Pedro diz: “Sejam todos humildes uns

para com os outros, porque Deus se opõe aos orgulhosos, mas concede graça aos

humildes” (1Pe. 5:5). O estudo teológico realizado correctamente não levará ao

conhecimento que traz orgulho, mas para a humildade e amor pelos outros. Essa é

a última razão aqui apresentada para estudar teologia. Ajudar os outros.

Precisamos ser agradecido por Deus ter colocado mestres na igreja. Devemos

permitir que pessoas com o dom espiritual do ensino ajudem outros ao

entendimento das Escrituras Sagradas.

Perguntas Para Reflexão

1. Defina o que é doutrina bíblica e a importância delas para sua vida e

ministério da igreja.

2. Mencione as razões importantes para estudar teologia, e explique o porque

delas serem importantes.

3. Apresente três atitudes ou actividades que devem caracterizar ou

acompanhar o estudo teológico.

4. Elabore uma Ideia Central do Texto (ICT) da grande comissão

(Mt. 28:19-20).

5. A luz da definição do que é doutrina bíblica, o que iremos fazer com as 7

doutrinas que estudaremos?

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II. A DOUTRINA DA PALAVRA DE DEUS:

1. Autoridade e a Inerrância da Bíblia

Já afirmamos no capítulo 1 que a teologia ensina que a Bíblia é a orientação de

Deus para os homens e a sua vontade revelada. Tentarei responder algumas

perguntas comuns, mas que ao mesmo tempo são complexas:

Como sabemos que a Bíblia é a Palavra de Deus?

Há erros na Bíblia?

Para responder será necessário compreender o que a Bíblia diz e ensina acerca de

si mesma. Os principais ensinos da Bíblia a respeito de si própria podem ser

classificados em quatro características: 1) a autoridade da Escritura; 2) a clareza

da Escritura; 3) a necessidade da Escritura; 4) a suficiência da Escritura.

Em relação a primeira característica, a maioria dos cristãos concorda que a Bíblia é

a autoridade máxima. Mas exactamente em que sentido ela afirma ser nossa

autoridade? E como podemos nos convencer de que as declarações da Escritura de

que ela é a Palavra de Deus são verdadeiras? Vamos responder a essas perguntas

nesse capítulo.

1. Explicação e Base Bíblica

A autoridade da Escritura significa que todas as palavras da Escritura são palavras

de Deus de tal modo que descrer ou desobedecer a qualquer palavra da Escritura é

descrer ou desobedecer a Deus. Essa definição pode ser examinada em várias partes.

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A. Todas as palavras na Escritura são palavras de Deus.

Primeiramente isso é o que a Bíblia declara sobre si própria. Existem

frequentes declarações nela de que todas as palavras da Escritura são palavras de

Deus. No Antigo Testamento (AT) isso é muitas vezes visto na frase introdutória

“Assim diz o Senhor”que aparece centenas de vezes.

No mundo do AT, essa frase era identificada na forma de “assim diz o rei…”, que era

usada para prefaciar o édito de um rei aos seus súbditos; um édito que não poderia

ser desafiado ou questionado, mas simplesmente deveria ser obedecido. Portanto,

quando os profetas diziam “Assim diz o Senhor”, afirmam ser mensageiros do

soberano Rei de Israel, a saber, o próprio Deus, e estão a declarar que as suas

palavras são palavras plenas de autoridade de Deus.

Além disso, é muitas vezes dito que Deus fala “por meio” do profeta (1Rs. 14:18;

16:23, 34; Zc. 7:7, 12). O AT revela que as palavras que os profetas falavam

referem-se às palavras que o próprio Deus falou. Portanto desobedecer ou descrer

nas palavras dos profetas é desobedecer e descrer o próprio Deus (Dt. 18:19;

1 Sm. 10:8; 13:13-14; 1 Rs. 20:35-36).

Esse versículos em si, não afirmam que todas as palavras do AT são palavras de

Deus, porque em si mesmos estão se referindo somente a secções específicas de

palavras faladas ou escritas no AT.

Por força acumulativa dessas palavras, incluindo as centenas de passagens que

começam com “Assim diz o Senhor”, deve ficar demonstrado que dentro do AT

temos registos escritos de palavras que são consideradas as próprias palavras de

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Deus. Essas constituem largas porções do AT. Porém quando percebemos que

todas as palavras que faziam parte do “Livro da Lei de Deus” ou do “Livro da

Aliança” foram consideradas palavras de Deus, vemos que a totalidade do AT

afirma essa espécie de autoridade (Êx. 24:7; Dt. 29:21; Js. 24:26; 2 Rs. 23:2-3).

No Novo Testamento (NT), várias passagens indicam que todas as palavras escritas

no AT são consideradas palavras de Deus (2Tm. 3:16). Paulo afirma ao Timóteo

que todos os escritos do AT são inspirados por Deus. Essa inspiração deve ser

entendida como metáfora de falar as palavras da Escritura. Esse versículo (dessa

maneira) afirma brevemente o que era evidente em muitas passagens do AT: os

escritos do AT são considerados Palavra de Deus em forma escrita. Deus é que

falou (e ainda fala) cada palavra do AT, embora tenha utilizado agentes humanos

para registar essas palavras.

O teólogo MIllard J. Erickson escreve sobre a inspiração: “Entendemos que a

Inspiração das Escrituras revela a influência sobrenatural do Espírito Santo sobre os

autores das Escrituras, que converteu seus escritos em um registo de revelação ou

que faz com que seus escritos sejam realmente a Palavra de Deus.1”

O apóstolo Pedro também dá indicação similar do carácter dos escritos do AT

como Palavra de Deus (2 Pe. 1:21). Falando das profecias da Escritura (v.20), que

significa ao menos as Escrituras do AT às quais Pedro encoraja seus leitores a

prestarem atenção cuidadosa (v.19), Pedro diz que nenhuma dessas profecias

jamais “teve origem na vontade humana”, mas que “homens falaram da parte de

deus, impelidos pelo Espírito Santo”.

1 Erickson MIllard, Introdução à Teologia Sistemática, p. 67.

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É importante ressaltar que não é a intenção de Pedro negar completamente o papel

da volição/estilo ou da personalidade humana ao escrever a Escritura (ele diz que

homens “falaram”), mas, em vez disso, sua intenção foi dizer que a fonte suprema

de cada profecia não foi decisão do homem a respeito do que ele queria escrever,

mas, antes a acção do Espírito Santo na vida do profeta, cumprida de modos não

especificados aqui, ou de facto, em nenhuma parte da Bíblia.

Mas será que o apóstolo Paulo quando escreve que toda a Escritura é

inspirada/soprada por Deus em 2 Tm. 3:16, está a referir-se somente ao AT? Como

aplicar a verdade desse versículo aos escritos do NT?

Em dois lugares do NT vemos que os escritos também são considerados/chamados

de “Escritura” juntamente com os escritos do AT. Em 2 Pe. 3:15-16, Pedro diz:

“Tenham em mente que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como

também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu, com a sabedoria que Deus lhe

deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes

assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os

ignorantes e instáveis torcem, como também o fazem com as demais Escrituras, para

a própria destruição deles”.

Pedro assume não somente a consciência da existência de cartas escritas de Paulo,

mas também a disposição de classificar equivalentemente “todas as suas [de Paulo]

cartas” com “as demais Escrituras”. Isso é uma indicação clara de que muito cedo na

história da igreja todas as cartas de Paulo foram consideradas Palavras de Deus em

forma escrita no mesmo sentido que os textos escritos do AT.

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Semelhantemente, em 1 Tm. 5:18, Paulo escreve: “…pois a Escritura diz: Não

amordace o boi enquanto está debulhando o cereal…, e o trabalho merece o seu

salário”. A primeira citação vem de Dt. 25:4, mas a segunda não ocorre em nenhum

lugar do AT. É, ao contrário, uma citação que se encontra em Lc. 10:7. Paulo

menciona a Timóteo as palavras de Jesus no evangelho de Lucas e a chama de

“Escritura”.

Ficamos convencidos das declarações da Bíblia de ser a Palavra de Deus à

medida que a lemos. Uma coisa é afirmar que a Bíblia alega ser as palavras de

Deus, outra coisa é ser convencido de que essa alegação é verdadeira. Nossa

convicção suprema de que as palavras da Bíblia são palavras de Deus vem somente

quando o Espírito Santo fala em e por meio das palavras da Bíblia ao nosso coração

e nos dá a certeza interior de que essas são as palavras do Criador para nós. Sem a

obra do Espírito Santo de Deus, a pessoa nunca receberá ou aceitará a verdade de

que as palavras da Bíblia são de facto as Palavras de Deus.

Leia Jo. 10:27 e relacione com a acção do Espírito Santo.

Uma outra verdade que favorece o argumento deste manual - de que toda a Bíblia

é a Palavra de Deus, consiste no impacto que essas “Escrituras”proporcionam em

vidas através dos séculos. Profecias que foram cumpridas centenas de anos depois;

palavras que continuam a transformar vidas e conceitos ao longo da história

humana; por meio delas pessoas têm encontrado a salvação. Todos esses

argumentos são úteis para nós e removem obstáculos que poderiam, de outra

forma, aparecer no caminho de nossa fé na Escritura.

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[Neste momento responda: Diante de uma sociedade totalmente secularizada e

relativista, como entregar essa mensagem absolutista de que a Bíblia contém

verdades absolutas em todos os aspectos relacionados a Deus. (Ex1. A Bíblia é

absolutamente escrita por homens, porém é a Palavra de Deus; Ex2. A Bíblia

é a autoridade única e verdadeiramente suprema, e que outras afirmações

competidoras de autoridade suprema são falsas).]

“Deus falou” não significa ditado de Deus como único meio de comunicação.

Nesse momento é necessária uma palavra de advertência. O facto de que todas as

palavras da Escritura são Palavras de Deus não devem nos levar a pensar que Deus

ditou cada palavra da Escritura aos autores humanos.

Quando dizemos que todas as palavras da Bíblia são Palavras de Deus, estamos a

falar a respeito do resultado do processo que trouxe a Escritura à existência. O

processo consiste na condução divina ao resultado ou à maneira pela qual Deus

agiu a fim de assegurar o resultado que Ele pretendia. Deve ser enfatizado que a

Bíblia não fala de um único tipo processo ou de uma única maneira pela qual Deus

comunicou aos autores bíblicos o que Ele queria que fosse dito. De facto, há

indicação de uma grande variedade de processos que Deus utilizou para conseguir

o resultado desejado. Cito alguns exemplos de ditados que são mencionados

explicitamente na Escritura Sagrada. Vejamos:

Quando o apóstolo João viu o Senhor ressurrecto na visão na ilha de Patmos (Ap.

2:1, 8, 12 “Ao anjo da igreja em… escreve…”). Reparem que Jesus diz a João o que

escrever e ele escreve as palavras que Jesus lhe disse.

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Porém em outras secções da Escritura, tal ditado directo de Deus não é certamente

a maneira pela qual as palavras das Escrituras vieram à existência. O autor de

Hebreus diz que Deus falou pelos pais, pelos profetas “de muitas e várias maneiras”

(Hb. 1:1). De outro lado temos a pesquisa histórica e minuciosa que o evangelista

Lucas fez para escrever seu evangelho. Ele diz: “Muitos já se dedicaram a elaborar

um relato dos factos que se cumpriram entre nós, conforme foram transmitidos por

aqueles que desde o princípio foram testemunhas oculares e servos da palavra. Eu

mesmo investiguei tudo cuidadosamente, desde o começo, e decidi escrever-te um

relato ordenado, ó excelentíssimo Teófilo…” (Lc. 1:1-3).

O processo de Lucas claramente não é ditado. Ele conversou com pessoas que

testemunharam os factos e obteve dados históricos de maneira que pudesse

escrever sua narrativa precisa da vida e dos ensinos de Jesus. Fez a pesquisa

histórica de maneira completa, ouvindo relatos de muitas testemunhas oculares e

avaliando sua evidência cuidadosamente.

Esses processos (ditado e pesquisa histórica) revelam ou melhor indicam os meios

pelos quais Deus comunicou com seus autores humanos. Porém são apenas

exemplos, pois em alguns casos as Escrituras falam de sonhos, visões ou de ouvir a

voz do Senhor; outros homens que estiveram com Jesus e ouviram seus ensinos,

cuja lembranças dessas palavras e acções tornaram-se completamente “precisas”,

pela operação do Espírito Santo, à medida que Ele as trazia à memória. (Jo. 14:26).

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B. A Veracidade da Escritura

Deus não pode mentir ou falar falsamente. A essência da autoridade da

Escritura Sagrada é a sua capacidade de compelir-nos a crer e a obedecer-lhe,

tornando tal crença e obediência equivalentes a crer e a obedecer ao próprio Deus.

Porque as coisas são assim, é necessário considerar a veracidade da Escritura, pois,

se pensamos que algumas partes dela não são verdadeiras, naturalmente não

seremos capazes de crer plenamente nela. É preciso avaliar o carácter das Palavras

de Deus a aplicá-los ao carácter das palavras da Escritura. Tito 1:2 declara que

“Deus que não mente”. Porque Deus não mente, suas palavras são verdadeiramente

confiáveis. Hb. 6:18, menciona duas coisas imutáveis (o juramento e a promessa de

Deus) “nas quais é impossível que Deus minta”. O autor não somente diz que Deus

não mente, mas que é impossível para Ele mentir.

Portanto, todas as palavras da Escritura são completamente verdadeiras e

sem erro em qualquer parte. Partindo do princípio de que A Bíblia são Palavras

de Deus, e visto que Deus não pode mentir ou falar falsamente, é correcto concluir

que não há nada inverosímil (inacreditável) e num nenhum erro em qualquer parte

das palavras da Escritura. Ela própria afirma que “as palavras do Senhor são puras,

como prata purificada num forno, sete vezes refinada” (Sl. 12:6). Uma figura vívida é

usada pelo salmista para falar da indissolúvel pureza das Palavras de Deus; não

existe imperfeição nelas. “Cada palavra de Deus é comprovadamente pura; Ele é um

escudo para quem Nele se refugia” (Pr. 30:5). Essas passagens não dizem apenas

que algumas palavras são puras, mas todas elas. Outros textos apontam para a

natureza das Palavras de Deus. Elas “são eternas” (cf. Sl. 119:89; Mt. 24:35).

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As palavras de Deus são o padrão supremo de verdade. Em João Jesus ora ao

Pai: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo. 17:17). Reparem no

adjectivo que Jesus utiliza – Ele não diz “tua palavra é verdadeira”, mas sim, ela é a

verdade. A diferença é significativa, porque essa afirmação vinda do próprio Cristo

(enviado de Deus) encoraja-nos a pensar na Bíblia como ela sendo o padrão mais

elevado e final de verdade. A Bíblia é a Palavra de Deus, e a Palavra de Deus é a

definição do que verdadeiro e do não é verdadeiro: a Palavra de Deus, em si

mesma, é a verdade.

Assim, devemos pensar na Bíblia como o padrão último da verdade, o ponto de

referência pelo qual qualquer outra alegação de veracidade deve ser medida.

Conclui-se que a verdade é o que Deus diz ser a verdade. A sua Palavra é a verdade.

Essa verdade afecta a mente da sociedade pluralista em que vivemos. O pluralismo

é o pensamento de que cada pessoa tem uma perspectiva sobre a verdade que é

tão válida como a perspectiva de qualquer outra pessoa. De acordo com o

pluralismo não existe verdade absoluta; cada um tem as suas perspectivas e

expectativas em relação a verdade. Se acreditarmos que o pluralismo é verdadeiro,

então, a Bíblia não pode ser aquilo que ela declara ser: a palavras do único e

verdadeiro Deus, o criador e juiz de todo mundo.

Poderá algum facto novo contradizer a Bíblia? Poderá qualquer facto científico

ou histórico que venha a ser descoberto contradizer a Bíblia? Essa pergunta é

extremamente importante, porém devemos e podemos dizemos com confiança que

isso nunca acontecerá – é algo impossível. Se qualquer facto suposto for

descoberto que seja considerado contrário à Escritura, então (se entendemos a

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Escritura correctamente) tal facto deve ser falso, porque Deus, o autor da

Escritura, conhece todos os factos verdadeiros (passados, presentes e futuros).

Nenhum acontecimento inesperado aparecerá do qual Deus não tenha tido

conhecimento no passado e que não tenha levado em consideração quando “fez” a

Escritura. Cada facto verdadeiro é algo que Deus já conhecia desde toda a

eternidade e, portanto, não poderia contradizer as suas próprias palavras na

Escritura.

Essa verdade aponta para outra parte da Doutrina da Palavra de Deus. Até agora

vimos a sua autoridade e veracidade, porém reflectiremos acerca da sua

inerrância.

C. A Inerrância da Escritura.

O significado de inerrância. É extremamente importante esse tópico, porque hoje

muitos em círculos, a veracidade da Escritura tem sido questionada ou mesmo

abandonada.

Com a evidência dada acima a respeito da veracidade definimos o que é inerrância

bíblica: A inerrância da Escritura significa que ela nos seus manuscritos originais,

não afirma nada que seja contrário ao facto.

Em outras palavras significa dizer que a Bíblia sempre diz a verdade e que sempre

diz a verdade a respeito de todas as coisas de que trata. Com essa definição, não

estamos a dizer que a Bíblia comunica todos os factos que podem ser conhecidos

acerca de certo assunto, mas afirma que tudo o que diz acerca de qualquer assunto

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é verdade. Existem três posições correntes sobre a questão da inerrância.

Relataremos (não exaustivamente) cada um delas:

Inerrância Absoluta: sustenta que a Bíblia, inclui análises bem detalhadas de

assuntos científicos e históricos, é totalmente verdadeira. Transmite-se a

impressão de que os escritores bíblicos tinham a intenção de fornecer uma

qualidade considerável de dados científicos e históricos exactos.

Inerrância Plena: sustenta que a Bíblia é completamente verdadeira, porém o seu

objectivo principal não é prestar informações científicas e históricas (apesar de

mencionar muitos factos desses géneros), contudo todos os factos científicos e

históricos nela contido são verdadeiros.

Inerrância Limitada: considera a Bíblia como infalível em suas referências

doutrinárias à salvação. As referências científicas e históricas contidas na Bíblia

reflectem o entendimento da época em ela foi escrita. Os escritos estavam sujeitos

às limitações de seu tempo.

A importância da Inerrância. Porque a igreja deve se importar com ela?

Alguns afirmam que a inerrância é uma questão irrelevante ou dispersiva. Outros

dizem que inerrância é um termo negativo, e que seria muito melhor usar o termo

positivo para descrever a Bíblia. Outros afirmam que inerrância não é um conceito

bíblico, mas o erro na Bíblia é mais uma questão moral, espiritual do que

intelectual. “A inerrância nos desvia de assuntos importantes”. Tendo em vista essas

considerações seria melhor não pensar mais. Porém se formos confrontados com a

seguinte pergunta: “Se a Bíblia diz isso (…), posso acreditar verdadeiramente nela?”.

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Saber que ela é verdadeira é uma questão importante para nós no aspecto

teológico, histórico e epistemológico (espiritual).

Importância Teológica. Jesus, Paulo e outras grandes personalidades bíblicas

entendiam que detalhes das Escrituras possuíam autoridade e os usavam como tal.

Isso favorece a ideia de que a Bíblia é completamente inspirada por Deus, mesmo

na selecção de detalhes do texto. Vejamos algumas implicações: Se Deus é

omnisciente, Ele conhece todas as coisas, e não pode negar nem enganar-se a

respeito de um assunto ou outro. Se Ele é omnipotente, é capaz de influenciar os

escritores bíblicos, de tal maneira que nenhum erro seja introduzido no produto

final. E sendo um ser verdadeiro ou veraz (que diz somente a verdade), com

certeza desejará usar essas habilidades de um modo que os seres humanos não

sejam desorientados pelas Escrituras. Assim, nossa percepção de inspiração bíblica

implica logicamente a inerrância da mesma. Se porventura for provado que a Bíblia

não é totalmente confiável, nossa ideia de inspiração também ficará prejudicada.

Importância Histórica. Historicamente, a igreja tem se apegado à inerrância da

Bíblia. Embora até em tempos recentes, não se teria enunciado uma teoria

completa e precisa, sempre houve, ao longo dos tempos da história da igreja, uma

crença significativa acerca da inerrância.

Devemos notar ao longo dos tempos as consequências que (costumam afectar)

afectaram outras áreas da doutrina sempre que houve um abandono da inerrância

bíblica. Tais doutrinas que a igreja primitiva e a própria Bíblia sustenta, foram

afectadas pela negação da inerrância bíblica, tais como, a deidade (divindade) de

Cristo ou até mesmo a Trindade.

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Importância Epistemológica (Espiritual). A importância espiritual é simples: Se

consideramos que nosso fundamento para conhecer e manter qualquer proposição

teológica é o facto de que a Bíblia ensina, é da maior importância que a Bíblia se

prove fidedigna em toda as suas declarações. Caso seja concluído que certas

proposições (históricas ou científicas) ensinadas pela Bíblia não são verdadeiras,

as implicações para as proposições teológicas serão devastadoras. Ex: A Bíblia

ensina que Deus criou os céus e a terra. Se isso for negado pela ciência e receber

nosso crédito como sendo essa a verdade, e não o que a Bíblia diz, como estaria a

nossa fé, num Deus Criador? Essa questão deve ser respondida com grande

apreciação.

Por isso cremos que a Bíblia é a verdade absoluta, porque ela assim o diz. Cremos

que ela foi escrita por Deus usando homens sábios inspirados pelo Espírito Santo,

que revela toda a verdade aos corações dos homens quer no passado, no presente

e no futuro. Devemos ter em consideração que a Bíblia não tem a preocupação de

relatar tudo sobre a ciência ou factos históricos, contudo todos os que são

mencionados por ela, são verdadeiros e descritos com base no conhecimento

contextual de seu tempo. A igreja deve crer que a Bíblia é a única fonte de fé e

pr|tica, pois ela mesmo afirma ser útil para nós em tudo é “inspirada por Deus”

(2Tm. 3:16). Assim, ela é completamente pura (Sl. 12:6), perfeita (Sl. 119:96) e

verdadeira (Sl. 119:160). Cada palavra utilizada por Deus (pelos diversos meios já

relatados) deve ser considerada como tesouro valioso para nós, por isso Ele

mesmo advertiu a qualquer que retirasse ou acrescentasse algo à ela. (Dt. 4:2,

12:32; Ap. 22:18-19). Todas as palavras contidas nela fazem parte do propósito

restaurador de Deus.

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Perguntas para Reflexão

1. Defenda as seguintes afirmações:

a. “Todas as palavras na Escritura são palavras de Deus”. Explique sua

resposta.

b. “Todas as palavras contidas na Bíblia são verdadeiras”. Explique sua

resposta.

2. Defina com suas próprias palavras a Inerrância Bíblia.

3. Porque é importante crer que a Bíblia não contém erros?

4. Na tua opinião algum facto novo pode contradizer a Bíblia?

Versículo para Memorizar:

“Toda a Escritura divinamente inspirada, é proveitosa para ensinar, para

redarguir, para corrigir, para instruir em justiça.” (2 Tm. 3:16)

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2. Clareza e a Suficiência da Bíblia

A. Clareza

Somente os estudiosos da Bíblia podem entendê-la correctamente? Será que ela é

suficiente para conhecermos o que Deus quer que pensemos ou venhamos a fazer?

Para que propósito a Bíblia é necessária ao homem?

Depois de estudarmos a primeira parte da doutrina da Palavra de Deus

(autoridade e inerrância bíblica) voltamo-nos agora para outras duas

características da Escritura para completar a nossa reflexão a respeito do que a

Bíblia diz e ensina sobre si mesma.

1. Explicação e Base Bíblica

Qualquer pessoa que tenha começado ler a Bíblia com seriedade haverá de

perceber que algumas partes dela podem ser entendidas muito facilmente, ao

passo que outras partes parecem enigmáticas (misteriosas).

Na verdade, bem no início da história da igreja, Pedro já lembrava aos seus leitores

que algumas partes das epístolas de Paulo eram de difícil compreensão: “Como

igualmente o nosso amado irmão Paulo vos escreveu, segundo a sabedoria que lhe foi

dada, ao falar acerca destes assuntos, como de facto, costuma fazer em todas as suas

epístolas, nas quais há certas coisas difíceis de entender, que os ignorantes e instáveis

deturpam, como também deturpam as demais Escrituras, para a própria destruição

deles.” (2 Pe. 3:15-16). Com base nessa afirmação da própria Bíblia, precisamos

admitir que existem textos que serão difíceis de uma compreensão fácil.

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A clareza bíblica é definida da seguinte maneira: É a responsabilidade de todos os

crentes ler e compreender a mensagem bíblica segundo a mensagem original do

autor.

A Bíblia afirma diversas vezes a sua própria clareza. A Bíblia fala de sua clareza

e da responsabilidade dos crentes de ler e de entendê-la. Deus diz a Moisés para

que ele ensinasse o povo de Israel: “E esta palavra, que hoje te ordeno, estará no teu

coração; E as ensinarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e

andando pelo caminho, e deitando-te e levantando-te.” (Dt. 6:6-7). Ele esperava que

todas as pessoas de Israel fossem capazes de entender as palavras da Escritura o

suficiente para conseguir ensiná-las a seus filhos. Esse ensino não consistiria

meramente em memorização mecânica vazia de entendimento, porque o povo

devia discutir as palavras da Escritura durante suas actividades, quando estivesse

assentado em suas casas, ou ao deitar ou levantar. Deus esperava que todos entre o

seu povo conhecessem e fossem capazes de falar a respeito de sua Palavra com

devida aplicação a situações em comum na vida.

A própria Bíblia capacita o homem ao entendimento. Até mesmo dos que

pensam ser “inexperientes”. “A lei do Senhor é perfeita, e refrigera a alma; o

testemunho do Senhor é fiel, e dá sabedoria aos simples.” (Sl. 19:7). Em outro texto

lemos que “A entrada das tuas palavras dá luz, dá entendimento aos simples.”

(Sl. 119:130). A palavra do Senhor é inteligível, tão clara que torna sábio a

qualquer tipo de pessoa. Nenhum crente deve pensar de si mesmo como se fosse

incapaz de ler a Escritura e de entendê-la suficientemente para tornar-se sábio por

meio dela.

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As qualidades morais e espirituais necessárias para o entendimento bíblico

correcto. Os autores do Novo Testamento (NT) frequentemente afirmam que a

capacidade de compreender a Escrituras é mais moral e espiritual do que

intelectual: “Ora, o homem natural não aceita as coisas do Espírito de Deus, porque

lhes são loucura; e não podem entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente”

(1Co. 2:14; cf., 1:18; 3:4; Jo. 7:17; 8:43).

Assim embora os autores do NT afirmem que a Bíblia em si está escrita claramente,

afirmam também que sua compreensão correcta depende sempre do Espírito

Santo.

Minha pergunta: Quando é que uma pessoa compreende bem as Escrituras

Sagradas? Segundo o apóstolo Tiago 1:19-27, obedecendo-as.

Definição de Clareza da Escritura: A Bíblia está escrita de tal modo que seus

ensinos são passíveis de ser entendidos por todos que a lêem procurando pela ajuda

de Deus e que estão desejosos de recebê-la.

Mas se a Bíblia é assim tão clara, porque muitas pessoas compreendem-na

erradamente? Existem ferramentas de interpretação de um texto que devem ser

levadas em consideração.

A Hermenêutica (grego hermeneuo) Bíblica é uma disciplina teológica que estuda os

métodos correctos de interpretação textual. Através da Exegese Bíblica (notem:

grego ex = ”tirar de”, ou “a partir de”; gese = texto) determinamos o que é que o

autor quis dizer à sua primeira audiência (a sua mensagem segundo os factores

históricos e literários da passagem e questões gramaticais e géneros). Porém a

preocupação deste manual não consiste em trabalhar os métodos interpretativos.

(Ex. Gn. 22:7-8)

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Portanto, à medida que as pessoas crescem na vida cristã, adquirindo mais

conhecimento da Escritura e conforme investem tempo, estudando-a, havendo de

entendê-la melhor. A doutrina da clareza da Escritura diz que “a Escritura é

passível de ser entendida”, não diz que todos a entenderão igualmente. Isso deve

encorajar os crentes nos estudos da Escritura tendo em consideração as

ferramentas necessárias para a sua interpretação e aplicação à vida cristã.

B. Suficiência da Escritura

Podemos definir suficiência da Escritura da seguinte maneira: Suficiência da

Escritura significa que ela contém todas as palavras de Deus revelando a sua vontade

para seu povo em cada época da história, e que agora ela contém tudo o que

precisamos que Deus nos dê orientação acerca da nossa salvação, para confiarmos

Nele perfeitamente e para Lhe obedecermos perfeitamente.

Essa definição enfatiza o facto de que é somente na Escritura que devemos

procurar as Palavras de Deus para nós. Ela também lembra-nos que Deus

considera o que nos tem dito na Bíblia como suficiente para nós e que devemos

regozijarmo-nos (alegrarmos grandemente) na grande revelação que Ele nos deu,

e ficando contentes com ela.

A explicação e apoio bíblico significativos para essa doutrina são encontrados nas

palavras de Paulo a Timóteo: “Porque desde criança conheces as Sagradas Letras,

que são capazes de torná-lo sábio para salvação mediante a fé em Cristo Jesus”

(2Tm. 3:15). O contexto revela que “as Sagradas Letras” significam as palavras

escritas na Escritura (3:16). Isso é a indicação de que as Palavras de Deus que

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temos na Escritura são todas as Palavras de Deus de que precisamos a fim de que

sejamos salvos; essas são capazes de tornarmo-nos s|bios “para a salvação”.

A suficiência da Escritura é importante para nossa vida cristã, porque capacita-nos

a concentrar nossa busca pelas palavras de Deus e nos livra da tarefa infindável de

pesquisar em todos os escritos dos cristãos por meio de toda a história. De modo

muito prático somos capazes de encontrar na Escritura toda a revelação de Deus

para nossa salvação.

A quantidade de Escritura dada foi o suficiente em cada período da história

redentora. A doutrina da suficiência da Escritura não implica simplesmente que

Deus não pode mais acrescentar palavras às que Ele já falou a seu povo. Ao

contrário, a doutrina implica que o homem não pode acrescentar, por iniciativa

própria, quaisquer palavras às que Deus já revelou.

Esse ponto é importante, porque ajuda-nos a entender como Deus poderia dizer a

seu povo que suas palavras lhes eram suficientes em muitos pontos diferentes da

história da redenção e como Ele poderia, não obstante, acrescer outras palavras

posteriormente. Por exemplo, Dt. 29:29, Moisés diz que “as coisas encobertas

pertencem ao Senhor, o nosso Deus, mas as reveladas pertencem a nós e aos nossos

filhos para sempre, para que sigamos todas as palavras desta lei”. Esse verso

lembra-nos que Deus sempre tomou a iniciativa de revelar-se a humanidade. Ele

decidiu o que revelar e o que não revelar. Em cada período da história, as coisas

que Deus revelou foram para o seu povo naquele determinado contexto, e eles

deveriam estudá-las, crer nelas e obedecê-las. Com o progresso posterior da

história da redenção, mais palavras de Deus foram acrescentadas, registando e

interpretando a história.

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A doutrina da suficiência da Escritura tem algumas aplicações práticas para a vida

cristã. Vejamos:

Encorajamento para buscar respostas na Bíblia. A doutrina deveria nos

encorajar na tentativa de descobrirmos o que Deus queria que pensássemos e que

fizéssemos, mas tendo o discernimento de que a Bíblia não terá respostas para

todas as coisas, pois existem coisas “encobertas que pertencem ao Senhor”, porém

quando analisamos a Bíblia devemos ter confiança que o nela está revelado é a

solução de Deus para a minha vida e orientação para o meu crescimento espiritual.

Advertência para não acrescentar nada à Escritura. A doutrina lembra-nos que

não devemos acrescentar ou retirar alguma coisa à Escritura e que também não

devemos considerar outro livro com igual importância. (Ex. o livro de Mórmon está

escrito que o livro deles é superior a qualquer outro livro na face da terra)

Encorajamento para satisfazer-nos com a Escritura. A suficiência da Escritura

lembra-nos de que em nosso ensino ético e doutrinário devemos enfatizar o que

ela enfatiza e satisfazermo-nos com o que Deus nos revela na Escritura.

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Resumo e Aplicação

A Escritura é clara no seu sentido principal para todos aqueles que as lêem com

busca sincera de Deus. Podemos ver a clareza na Palavra de Deus ao longo da

Bíblia, onde Deus fala de maneira a comunicar aos homens os termos da sua

salvação e o seu Reino. Elas deixam claro que quando uma pessoa não aceita nem

acredita nela, a culpa por isso não pode ser atribuída a uma suposta falta de clareza

dela, mas da própria pessoa que mantém uma mente e coração endurecido. A

clareza consiste na capacidade do Espírito Santo de dar a conhecer o sentido

natural e principal da Bíblia como um todo, isto é, a salvação e o Reino de Deus

cumpridos em Jesus Cristo. A interpretação correcta e responsável da Escritura

deve empregar ferramentas humanas para compreensão fiel do sentido original

dos autores bíblicos, e depois chegar ao seu sentido mais pleno à luz de Jesus. Por

isso o objectivo é compreender bem, proclamar e ensinar fielmente as Escrituras.

Por causa das Doutrinas, Clareza e Suficiência da Escritura, a Igreja de Cristo deve

ter confiança nas mesmas e comprometer-se ao seu papel fundamental em

proclamar a sua mensagem plena como parte da sua missão, e não deve desviar

desta responsabilidade principal por se dedicar mais a outras áreas menos

importantes.

Perguntas para Reflexão

1. Porque podemos dizer que a Escritura é clara? Explique.

2. Considerando a sua definição de Clareza da Escritura, responda: Porque

muitas pessoas entendem a Bíblia de modo errado? Explique.

3. Tendo em conta 2Pe. 3:15-16, como poderíamos explicar que a Bíblia é de

fácil entendimento e todos os homens são capazes de compreende-la?

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III. A DOUTRINA DE DEUS

1. O Carácter de Deus: Atributos “Incomunicáveis”

Após considerarmos as questões que envolvem a maneira pela qual Deus

comunica-se com seu povo através da Escritura Sagrada, nesse momento a nossa

reflexão passar-se-á pela pessoa de Deus.

Antes de referimo-nos ao carácter de Deus é necessário começar com uma

pergunta básica: Como sabemos que Deus existe? A resposta da pergunta não será

a ênfase deste capítulo, contudo a introdução das evidências da existência de Deus

nos proporcionará o fundamento útil para o estudo do carácter de Deus.

A. Existência de Deus

Primeiramente uma verdade deve ser dita. Todas as pessoas têm o senso interior

de Deus. Segundo, cremos na evidência que é encontrada na Escritura e na

natureza.

O senso interior que a humanidade tem de Deus. Todas as pessoas em todos os

lugares possuem o profundo senso interior de que Deus existe, de que elas são suas

criaturas e de que Ele é o Criador delas. Paulo diz que até os gentios conhecem

Deus, mas “não o glorificaram como Deus, nem lhe renderam graças” (Rm.1:21). Ele

diz que os ímpios (descrentes) “trocaram a verdade de Deus em mentira”

(Rm 1:25), sugerindo que eles rejeitaram de forma activa e intencional alguma

verdade que conheceram a respeito da existência e do carácter de Deus. Paulo diz

que “o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles”, e acrescenta: “porque

Deus lhes manifestou” (Rm. 1:19)

Todavia, a Escritura também reconhece que algumas pessoas negam esse sendo

interior de Deus e negam até que Ele existe. É o “tolo”, que diz no seu coração “não

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há Deus” (Sl.14:1; 53:1). É o ímpio que primeiro “amaldiçoa e insulta o Senhor” e,

então, cheio de presunção, cogita em seu coração: “não há lugar para Deus”

(Sl. 10:3-4). Essas passagens indicam tanto que o pecado conduz as pessoas a

pensar irracionalmente e as fazem negar a existência de Deus, como também, que

só quem pensa irracionalmente e está enganado poder| dizer: “Deus não existe”.

Na vida do cristão, essa consciência interior de Deus torna-se mais forte e distinta.

Reconhecemo-Lo como nosso Pai celestial (Rm. 8:15); o Espírito Santo revela-nos

Jesus Cristo vivo no nosso coração (Fl. 3:8-10; Ef. 3:17; Jo. 14:23).

Crer na evidência da Escritura e da natureza. Além da consciência interior que

as pessoas possuem de Deus, que lhes dá o claro testemunho do facto de que Deus

existe, a clara evidência que a sua existência pode ser vista na Escritura e na

natureza. De facto a Bíblia inteira presume que Deus existe (mesmo no livro de

Ester onde o seu nome nunca aparece). O mundo também apresenta evidência

abundante da existência de Deus. Paulo diz que a natureza eterna de Deus assim

como a sua divindade “têm sido vistas claramente” desde a criação do mundo

(Rm. 1:20). Porém a mensagem clara na Escritura revela que o homem foi criado a

imagem de Deus, isto é possui o carácter de Deus.

Além da evidência vista na existência dos seres humanos, há excelente evidência

adicional na natureza da existência de Deus. A “chuva do céu e colheitas no tempo

certo”, assim como “um coração cheio de alegria” são mencionados por Paulo e

Barnabé como testemunho de Deus (Act. 14:17). David diz que “os céus

manifestam/declaram a glória de Deus e o firmamento anunciam as obras de suas

mãos” (Sl 19:1). Essas evidências validam a existência de Deus, ainda que muitos o

rejeitem.

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B. A Cognoscibilidade de Deus

Mesmo crendo que Deus existe, isso não noz diz se é possível realmente conhecer

Deus, nem nos diz quanto de Deus poder ser conhecido. Em muitas culturas é

totalmente aceitável professar a crença na existência de Deus, mas opiniões sobre

se alguém pode conhecer Deus são muito diversas. De agora em diante, vamos

elaborar essas questões que envolvem a Cognoscibilidade de Deus (as maneiras

que Deus se revela).

Não podemos nunca entender plenamente Deus. Como Deus é infinito e nós

finitos ou limitados, nunca poderemos entender Deus plenamente. Nesse sentido,

Deus é incompreensível, no sentido, de ser “incapaz de ser entendido plenamente”,

que é diferente de “ser incapaz de ser entendido”. Em suma, não podemos dizer que

Deus é incapaz de ser entendido, e sim que Ele não pode ser entendido

exaustivamente ou plenamente.

Salmo 145:3 diz: “Grande é o Senhor e digno de ser louvado; sua grandeza não tem

limites”. A grandeza de Deus est| além de qualquer pesquisa ou descoberta. Ele é

grande de mais para ser descoberto. Salmo 147:5 est| escrito: “Grande é o nosso

Soberano e tremendo é o seu poder; é impossível medir o seu entendimento”.

Leia Sl 139:6, 17; 1 Co. 2:10-11 Rm. 11:33 e relacione com a ideia acima.

Creio que em relação a Deus, por maior que seja o nosso entendimento, ele será

limitado, contudo isso não significa que porque não entendemos plenamente Ele

não seja verdadeiro.

Poderíamos perguntar quais os benefícios de crer em um Deus que não se pode

entender plenamente?

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Os benefícios dessa verdade de Deus (sua incompreensibilidade) têm aplicações

muito positivas para a nossa vida. Ela significa que nunca seremos capazes de

conhecer “demais” a respeito de Deus, pois nunca poderemos exaurir (esgotar) as

coisas que temos de aprender dele e, dessa maneira, nunca nos cansaremos de ter

prazer na descoberta da sua excelência e da grandeza de suas obras.

Todavia, podemos conhecer Deus verdadeiramente. Embora não possamos

conhecê-lo exaustivamente, podemos conhecer coisas sobre Deus que

correspondem a realidade. De facto, como já sabemos, a Escritura é verdadeira e

fala de Deus, por isso tudo o que a Escritura fala de Deus é verdadeiro. É correcto e

verdadeiro dizer que Deus é Amor (1Jo.4:8), é Luz (1 Jo. 1:5), é Espírito (Jo. 4:24), é

Justo (Rm. 3:26) e assim por diante. Isso não significa que entendemos tudo acerca

do seu amor, por exemplo. Mas mesmo com uma compreensão limitada, Ele é

verdadeiramente Amor. (Ex. tenho um filho de 11 anos e que o conheço muito,

porém não poso dizer que conheço todas as coisas acerca dele)

Algumas pessoas acreditam que não podemos conhecer Deus propriamente, mas

somente conhecer alguns factos a respeito Dele ou do que Ele faz. Outros dizem

que não podemos conhecer Deus como Ele é em si mesmo, mas somente o que Ele

nos revela. O que pensas sobre o assunto? Onde te posicionas? Leia Jr. 9:23-24;

Jo. 17:3, e reflicta.

O facto de que realmente conhecemos Deus é posteriormente demonstrado pela

percepção de que a riqueza da vida cristã inclui um relacionamento pessoal com

Deus. O cristão deve ter consciência de que é possível conhecê-lo, pois Ele habita

dentro do coração, e isso pode ser considerado a maior bênção da vida cristã.

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C. Introdução ao Estudo do Carácter de Deus: Os atributos de Deus.

Quando começamos a falar a respeito do carácter de Deus, percebemos que não

podemos dizer tudo o que a Bíblia nos ensina a respeito dessa matéria de uma só

vez. Precisamos de algum modo definir sobre quais aspectos do carácter de Deus

que iremos discutir primeiro e assim sucessivamente. Em outras palavras,

precisamos categorizar os atributos de Deus. Diversos métodos diferenciados têm

sido utilizados para categorizar os atributos de Deus. Nesse manual assumiremos a

seguinte terminologia: Atributos Incomunicáveis de Deus e Atributos

Comunicáveis de Deus. Iremos ao longo das lições explanar as questões que

envolvem esses atributos divinos. Porém, é preciso esclarecermos com base na

posição que assumimos até agora, isto é, mesmo os atributos comunicáveis de

Deus não podem ser completamente comunicável.

1. Atributos Incomunicáveis de Deus.

Independência. A independência de Deus é definida do seguinte modo: Deus não

precisa de nós ou do restante da criação para nada, todavia nós e o restante da

criação o glorificamos e com isso Lhe damos alegria. (Act. 17:24-25)

Muitas pessoas pensam que Deus criou os seres humanos porque estava solitário e

carente da companhia de outros. Se isso fosse verdade, certamente significaria que

Deus não é completamente independente de sua criação. Seria o mesmo dizer que

Deus precisou criar para se sentir completamente feliz e realizado.

Este atributo defende que Deus não existe em virtude da natureza e que Ele nunca

fora de alguma maneira criado ou veio à existência. Ele sempre existiu.

João em Ap. 4:11, diz que “todas as coisas tu criaste, por tua vontade vieram a existir

foram criadas”. Deus não depende de qualquer parte da criação para existir.

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Esse atributo também deve ser considerado na perspectiva de que toda a criação

glorifica a Deus e lhe dá muita alegria. Não podemos ter a concepção que a

Independência de Deus torna-nos insignificantes para Ele. Ele resolveu criar-nos

para a sua glória.

Imutabilidade. Podemos definir da seguinte maneira: Deus é imutável em seu ser,

perfeições, propósitos e promessas, todavia age e sente emoções; age e sente emoções

de modo diferente em resposta às diferentes situações.

Leia o Salmo 102 e veja o contraste entre o que podemos pensar em coisas que são

permanentes (céus, terra) e Deus.

A Escritura deixa claro que Deus existia antes de os céus e a terra serem criados, e

Ele existirá muito depois de serem destruídos. Deus causa mudança no universo,

mas em contrate com essa mudança, Ele é o mesmo (Ml. 3:16 “Eu não mudo”). “Os

planos de Deus permanecem para sempre, e os propósitos do seu coração, por todas

as gerações” (Sl. 33:11). Deus é imut|vel em suas promessas. Desde que tenha

prometido alguma coisa, certamente Ele não será infiel { sua promessa. “Deus não é

homem para que minta, nem filho de homem para que se arrependa. Acaso Ele fala, e

deixa de agir? Acaso promete, e deixa de cumprir?” (Nm. 23:19; 1Sm. 15:29).

Deus pode mudar de opinião? Todavia, quando falamos a respeito de Deus ser

imutável em seus propósitos, podemos recordar ocasiões na Escritura em que

Deus disse que julgaria seu povo e, então, por cauda da oração ou do

arrependimento (ou ambos), Deus “arrependeu-se” e não trouxe juízo como havia

dito que faria.

Exemplos desse tipo de retirada de ameaça de julgamento incluem a intervenção

bem-sucedida de Moisés na oração para evitar que seu povo fosse destruído

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(Êx. 32:9-14), o acréscimo a vida de Ezequias (Is. 38:1-6) ou a suspensão do

julgamento prometido sobre Nínive quando o polvo se arrependeu (Jn. 3:4-10).

Dê a sua opinião: Esses são casos em que os propósitos de realmente mudaram?

Creio que exemplos como esses devem todos ser entendidos como a verdadeira

expressão da atitude presente de Deus ou a sua intenção com respeito à situação

como ela existe naquele momento. Se a situação muda, então naturalmente a atitude

ou expressão da intenção de Deus também mudará. Isso é apenas dizer que Deus

responde diferentemente a diferentes situações. O exemplo do profeta Jonas

pregando na cidade de Nínive é útil para um melhor entendimento daquilo que

estou a dizer. Deus vê a impiedade de Nínive e envia Jonas para proclamar: “Daqui

a quarenta dias Nínive será destruída” (Jn. 3:4).

A possibilidade de que Deus pudesse suspender o juízo se o povo demonstrasse

arrependimento não é explicitamente mencionada na proclamação da mensagem

que está registada na Escritura, mas está naturalmente implícita naquela

advertência: o propósito de proclamar a advertência é produzir arrependimento.

Uma vez que as pessoas se arrependessem, a situação seria diferente, e Deus

respondeu diferentemente { situação mudada: “Tendo em vista o que eles fizeram e

como abandonaram os seus maus caminhos, Deus se arrependeu e não os destruiu

como tinha ameaçado” (Jn. 3:10).

Deus responde à nova situação de maneira diferente, no entanto permanece

imutável em seu ser e seus propósitos.

Para pensar: Se de facto Deus não respondesse diferentemente quando as pessoas

agissem diferentemente, então as acções das pessoas não fariam qualquer

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diferença para Deus, e Ele não seria o Deus Justo, Misericordioso que é retratado

pela Escritura. Ele é imutável em Seus atributos de justiça e misericórdia.

A importância da imutabilidade de Deus. O que aconteceria se Deus pudesse

mudar? Imagine em seu ser, perfeições, propósitos e promessas, e suas mudanças

poderiam ser para melhor ou para pior. O que poderia acontecer? Será que

poderíamos ter confiança plena Nele? Na Sua Palavra? (Ex. Jesus voltará para

governar o novo céu e a nova terra). Se acreditarmos que o nosso Deus é mutável, a

base da nossa fé começa a ruir, e o nosso entendimento do universo passa a

desmoronar-se.

Isso é porque toda a nossa fé, esperança e conhecimento são, em última instância,

dependentes de uma pessoa que é infinitamente digna de confiança – porque Ele é

absoluto e eternamente imutável em seu ser, perfeições, propósitos e promessas.

Eternidade. A eternidade de Deus pode ser definida da seguinte maneira: Deus

não tem início, fim ou sucessão de momentos em seu próprio ser; Ele vê todo o tempo

de maneira vividamente igual, todavia vê os momentos no tempo e os actos no tempo.

Em outras palavras, Ele é infinito, ilimitado em todos os aspectos.

Deus é atemporal em seu próprio ser. O facto de que Deus não tem começo

nem fim é visto em Sl. 90:2: “Antes que nascessem os montes e de criares a terra e o

mundo, de eternidade a eternidade tu És Deus”. Em Ap. 1:8; cf. 4:8, encontramos a

expressão de facto que declara que Deus sempre existiu “Eu sou o Alfa e o Ómega,

diz o Senhor Deus, o que é, o que era e que há-de vir, o Todo-Poderoso”.

Leia Judas v. 25, e tire as suas conclusões sobre a eternidade de Deus.

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As passagens da Escritura de facto revelam que Deus sempre existiu, mesmo antes

de haver tempo. Para Ele tudo da sua existência est| sempre no “presente”, embora

reconheça que com nossa capacidade intelectual seja difícil de entender tal ideia, já

que ela refere-se a uma espécie de existência diferente da que experimentamos.

Deus vê todo o tempo de modo igualmente vívido. Lemos em Sl. 90:4: “De

facto, mil anos para ti são como o dia de ontem que passou, como as horas da noite”.

Pedro diz que para o Senhor “ mil anos são como um dia, e um dia como mil anos”

(2Pe. 3:8). Esses versículos nos ajudam a imaginar como Deus vê o tempo. De um

lado vê mil anos como o dia de ontem. Ele pode lembrar todos os eventos

detalhados de mil anos ao menos tão claramente como nós podemos lembrar dos

eventos vivenciados ontem. Quando percebemos que mil anos não implica que

Deus esquece-se de coisas que estão além de 1100 ou 1200 anos, mas, ao contrário,

que é aqui a expressão figurada de um vasto período de tempo. Enfim, toda a

história passada é vista por Deus com clareza e nitidez: todo o tempo desde a

criação é para Deus como se tivesse acontecido neste instante. Reflicta e

responda: Qual o significado da expressão” um dia é como mil anos”? Como Deus

se relaciona com o tempo?

Criação Vida de Nossos Juízo Era Vindoura

Cristo Dias Final

(Figura 1)

O relacionamento de Deus com o tempo

DEUS

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O diagrama antecipa a discussão seguinte, visto que ele indica que Deus conhece os

eventos no futuro, mesmo o futuro que infinitamente longo e eterno. Com respeito

ao futuro, Deus muitas vezes declara mediante os profetas ao VT que Ele é quem

conhece e que pode declarar os eventos futuros. Em Is. 46:9-10, lemos: “ Lembrem-

se das coisas passadas, das coisas muito antigas! Eu sou Deus, e não há nenhum

outro: Eu sou Deus, e não há nenhum como Eu. Desde o inicio faço conhecido o fim,

desde tempos remotos, o que virá. Digo: Me propósito permanecerá em pé, e farei

tudo o que me agrada”. Deus de alguma maneira (que foge a nossa capacidade de

raciocínio) permanece acima do tempo e é capaz de ver tudo como presente em

sua consciência.

Deus vê os eventos no tempo e age no tempo. Paulo escreve: “Mas, quando

chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido

debaixo da lei, a fim de redimir os que estavam sob a lei, para que o recebêssemos a

adopção de filhos” (Gl. 4:4-5). Deus observava claramente e sabia (sabe)

exactamente o que estava (está) a acontecer com os eventos da sua criação à

medida que eles ocorriam (ocorrem) no tempo.

Podemos dizer que Deus observava o progresso do tempo enquanto os eventos

ocorriam no tempo. Ele observava o progresso do tempo enquanto os eventos

ocorriam dentro de sua criação. Então no tempo certo (a plenitude do tempo), Ele

enviou Jesus Cristo ao mundo. Devemos, portanto, afirmar tanto que Deus não

possui secessão de momentos em seu próprio ser e vê toda a história de modo

vividamente igual, quanto que em sua criação vê o progresso dos eventos sobre o

tempo e age diferentemente em diferentes pontos do tempo.

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Em síntese, Ele é o Senhor que criou o tempo e que o governa e o usa para seus

propósitos. Deus pode agir no tempo porque Ele ó o Senhor do tempo.

Omnipresença. Exactamente como Deus é ilimitado ou infinito com relação ao

tempo, Ele também é ilimitado com a relação ao espaço. Isso significa que Ele pode

estar em todo espaço a todo tempo. Ele não tem tamanho ou dimensão espacial, e

está presente em cada ponto do espaço com a plenitude do seu ser, todavia Deus

age diferentemente em lugares diferentes. Leia Salmo 139:7-10 e veja o que ele

expressa. Deus está presente em todos os lugares, porém Ele também está próximo

da sua criação, “sou eu apenas Deus de perto, pergunta o Senhor, ‘ e não também em

Deus de longe? Poderá alguém esconder-se sem que eu o veja” (Jr. 23:23-24). Nada e

nem ninguém pode fugir da presença do Senhor. No Salmo 139, vemos que David

reconhece para onde ele se dirige, Deus lá está. Ele não está em parte, e sim,

plenamente.

Pergunta: Se Deus está em todo lugar, Ele também estará no inferno?

Deus pode estar presente para punir, suster ou abençoar. De facto a pergunta

acima é de grande valor teológico. O inferno é a ausência de Deus, assim como a

escuridão é a ausência da luz, ou o preto a ausência do branco? Essas dificuldades

são resolvidas quando percebemos que Deus está presente de modos diferentes

em diferentes lugares. Ele age diferentemente em diferentes lugares em sua

criação. Algumas vezes Ele está para punir (parece que assim é que Ele está

presente no inferno – Am. 9:1-4). Outras vezes Ele está para suster (Cl. 1:17);

presente para abençoar (Sl. 16:11). Em resumo, Deus está presente em toda parte

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do espaço com a totalidade do seu ser, mas age diferentemente em lugares

diferentes.

Unidade. A unidade de Deus é definida da seguinte maneira: Deus não é dividido

em partes, todavia vemos diferentes atributos de Deus enfatizados em tempos

diferentes. Quando reflectimos em atributos divinos temos que ter a consciência de

que a Escritura nunca considera atributos mais importantes dos que outros. A

Bíblia diz que “Deus é Luz” (1Jo. 1:5) e, pouco mais tarde, ela diz que “Deus é

Amor” (1Jo. 4:8). Não existe indicação alguma de que parte da sua constituição seja

luz e outra parte amor, ou que Ele seja parcialmente Luz e Amor. Nem devemos

pensar que Ele é mais Luz do que Amor. Segundo esse atributo incomunicável

(Unidade) dizemos que Deus é totalmente Luz, e totalmente Amor, totalmente

Justo, e assim por diante. Cada atributo de Deus que encontramos na Escritura é

verdadeiro em relação a todo o ser de Deus. Então, porque a Escritura fala desse

diferentes atributos? É provavelmente porque somos incapazes de captar todo o

carácter de Deus de uma só vez e precisamos aprender diferentes perspectivas

sobre Ele.

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Perguntas para Reflexão

1. Além da Bíblia, que evidência temos que Deus existe?

2. Como podemos conciliar a incompreensibilidade de Deus e o facto de que

podemos conhecê-lo verdadeiramente?

3. À luz da imutabilidade de Deus, o que a Escritura quer dizer quando fala de

Deus mudando de ideia?

4. O tempo tem efeito sobre Deus? Explique a sua resposta.

5. Na tua opinião qual atributo de Deus que é mais verdadeiro ou que é melhor

do que os outros atributos. Explique.

6. Faça uma pesquisa na internet sobre o “princípio da causalidade” e observe-

o a luz da revelação de Deus. Comente suas conclusões.

7. Qual a importância da imutabilidade de Deus?

8. Comente a frase “Se Deus est| presente em todo o lugar, Ele também está no

inferno”. Pelo menos 15 linhas.

Versículos para Memorizar

Salmo 90:1-2 “ (1) Senhor, tu tens sido o nosso refúgio, de geração em geração.

(2) Antes que os montes nascessem, ou que tu formasses a terra e o mundo, mesmo de

eternidade a eternidade, tu és Deus.”

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2. O Carácter de Deus: Atributos “Comunicáveis”

1. Explicação e Base Bíblica

Neste capítulo consideraremos os atributos de Deus que são “comunic|veis”, ou

mais partilhados connosco que os que foram mencionados no capítulo anterior.

Deve ser lembrado que essa divisão em atributos “incomunic|veis” e

“comunic|veis” não é uma classificação absoluta e existe algum espaço para

diferenças de opinião a respeito da redistribuição em categorias. Esse capítulo

dividirá os atributos “comunic|veis” de Deus em cinco categorias principais, com

os atributos individuais listados sob cada categoria, a saber: 2

A. Atributos que descrevem o ser Deus

1. Espiritualidade

B. Atributos Mentais

2. Conhecimento (omnisciência)

3. Sabedoria

4. Veracidade (fidelidade)

C. Atributos Morais

5. Bondade (misericórdia e graça)

6. Amor

7. Santidade

8. Rectidão (justiça)

9. Zelo

10. Ira

D. Atributos de Propósito

11. Vontade (liberdade)

12. Omnipotência (poder, soberania)

E. Atributos “Simples”

13. Perfeição

14. Bem-Aventurança

15. Beleza

2 A lista é razoavelmente completa, mas não abrange tudo o que a Bíblia diz a respeito do carácter de

Deus. Em razão de a excelência de Deus ser tão rica e plena, outros atributos além desse poderiam ser listados, e algum deles poderiam ser subdividos em outros atributos específicos.

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A. Atributos que descrevem o ser Deus

Espiritualidade. Muitas vezes as pessoas perguntam: “De que Deus é feito? Ser|

que é feito de carne e sangue como nós?” Certamente que não. “Então, qual o

material que forma o seu ser?” A resposta da Escritura é clara e revela que Deus é

“Espírito” (Jo. 4:24). Essa afirmação é feita por Jesus no contexto da conversa com a

mulher samaritana. O teor do diálogo está relacionado com o lugar de adoração a

Deus, e Jesus diz a mulher que a verdadeira adoração a Deus não exige que o

adorador esteja presente em Jerusalém ou Samaria (Jo. 4:21), pois a verdadeira

adoração diz respeito não ao lugar físico, mas à condição espiritual interior do

adorador.

Tendo em consideração tudo o que nós já aprendemos acerca de Deus, o que

significa esta frase: “Deus é Espírito” na tua opinião? (Ajuda – “Deus não est|

limitado a um lugar relacionado ao espaço. Ele não possui tamanhão ou

dimensão”).

Deus também proíbe seu povo de pensar em seu ser como semelhante a qualquer

outra coisa na criação física. O segundo mandamento (Êx. 20:4) proíbe-nos de

adorar ou cultuar qualquer ídolo “imagem de qualquer coisa” no céu ou na terra.

Veja a atitude da cidade de Roma (Rm. 1:23-25). Apesar de defendermos que toda

a criação de certa maneira reflecte alguma coisa do Seu carácter, também devemos

afirmar que descrever Deus existindo de uma forma ou modo de ser que seja

semelhante a qualquer cosia na criação é pensar em Deus de modo horrivelmente

ilusório e cheio de desonra.

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Assim, Deus não possui um corpo físico, nem é feito de qualquer matéria que tenha

semelhança com a sua criação. Ele não é meramente energia ou pensamento. Ele é

Espírito, pois essa é a definição que Ele próprio Lhe atribui em Sua Palavra.

Poderíamos classificar esse atributo como um “incomunic|vel”, porém Deus nos

deu um espírito por intermédio do qual o adoramos (Jo. 4:24; 1Co. 14:14; Fp. 3:3),

pelo qual estamos unidos ao Espírito do Senhor (1Co. 6:17), com qual o Espírito

comunica-se connosco e testifica a nossa adopção na família de Deus (Rm. 8:16).

Portanto existe uma comunicação de Deus para nós de natureza espiritual que é

algo que pertence à nossa natureza (à sua imagem e semelhança).

B. Atributos Mentais

Conhecimento. O conhecimento de Deus pode ser definido como se segue: Deus

conhece plenamente a si mesmo e a todas as coisas reais e possíveis em um acto

simples e eterno.

Um dos amigos de Jó, Eliú diz que Deus é “perfeito em conhecimento” (Jó. 37:16), e

João diz que Deus “sabe todas as coisas” (1Jo. 3:20). A qualidade de conhecer todas

as coisas é chamada de omnisciência e, porque Deus conhece tudo, diz-se que Ele é

omnisciente. A definição acima diz que Ele conhece tudo de si mesmo. Este é um

facto que em si é espantoso, já que o próprio Deus é infinito ou ilimitado. Deus

conhece todas as coisas (1Co. 2:10-11). Isso significa que Ele conhece tudo acerca

do passado, presente e futuro, “pois nada lhe é oculto” (Hb. 4:13; cf. 2Cr. 16:9); nada

lhe surpreende.

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Podemos imaginar que Ele não necessita de pensar ou raciocinar para chegar a

qualquer conclusão, porque Ele conhece o fim desde o início, e nunca aprende e

esquece de alguma coisa (Sl. 90:4). Seu conhecimento nunca muda ou aumenta. Se

Ele tivesse que aprender alguma coisa, deixaria de ser omnisciente.

Sabedoria. Sabedoria de Deus significa que Ele sempre escolhe os melhores alvos e

os melhores meios para chegar a esses alvos. Essa definição vai além da ideia de

Deus conhecer todas as coisas e especifica que as decisões de Deus a respeito do

que Ele fará são sempre decisões sábias – isto é, elas sempre serão realizadas com

os melhores resultados (da perspectiva suprema de Deus) e produzirão os

resultados por meio dos melhores meios possíveis.

A Escritura afirma a sabedoria de Deus em geral em diversos lugares. Ele é

chamado o “único Deus sábio” (Rm. 16:27). Jó diz que a sabedoria de Deus é

“profunda” e que só Ele tem sabedoria plena e poder (cf. Jó. 12:13). A Sabedoria de

Deus é vista na criação (Sl. 104:24); Ele a revela de maneira individual (Rm. 8:28)

com a intenção de fazer o seu propósito progredir, para que o homem seja

moldado a imagem de Jesus (Rm. 8:29).

Apesar de ser um atributo “comunic|vel”, ela é parcialmente comunicada connosco

(Rm. 11:33). Podemos com confiança pedir sabedoria a Deus (Tg. 1:5). A sabedoria

concedida por Deus habilita-nos a viver de modo agradável a Deus. Essa sabedoria

está revelada em Sua Palavra Escrita (Sl. 19:7ss).

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Veracidade (fidelidade). Significa que Ele é o Deus verdadeiro e que todo o seu

conhecimento e palavras são verdadeiros e também o padrão final de verdade

(Jo. 17:3; cf. 1Jo. 5:20).

C. Atributos Morais

Bondade. A bondade de Deus significa que Ele é o padrão final do bem, e que tudo o

que Deus faz é digno de aprovação. Jesus disse: “não há ninguém que seja bom, a não

ser somente Deus” (Lc. 18:19). V|rios Salmos dizem: “O Senhor é bom”

(ex. Sl. 100:5). Tudo o que Deus fez é bom, isto é, digno de aprovação (Gn. 1:31).

A bondade de Deus está intimamente ligada a várias outras características de Sua

natureza. Por exemplo, sua misericórdia e graça podem ser vistas como atributos

separados, ou como atributos específicos da bondade de Deus. A misericórdia de

Deus significa a bondade de Deus para com os que estão em miséria e angústia. A

graça de Deus significa a bondade Dele para com quem merece somente a punição

(esse era o nosso caso – Rm. 3:23-24).

Amor. Significa que Ele se dá eternamente aos outros. Essa definição entende o

amor como dar a si mesmo para o benefício de outros. “Deus é Amor” (1Jo. 4:8). O

acto de Deus “dar-se a si mesmo por outros” revela a intensidade do Seu amor para

connosco (1Jo. 4:10; cf. Rm. 5:8)

Santidade. A santidade de Deus significa que Ele é separado do pecado e dedicado a

buscar a própria honra. Essa ideia é declarada em vários textos da Bíblia. A palavra

“santo” é extremamente utilizada para descrever a Deus e as coisas de Deus. Esse é

o padrão de relacionamento com Ele: “sede santos porque Eu Sou Santo” (Lv. 19:2).

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Rectidão (justiça). Em português esse dois termos possuem significados

diferentes, mas tanto no hebraico do VT como no grego NT é usada somente uma

palavra para descrevê-los. A rectidão significa que Deus sempre age de acordo com o

que é certo e Ele próprio é o padrão final do que é certo. Moisés ao fazer referência a

deus disse: “É Deus fiel, que não comete erros; justo e recto Ele é” (Dt. 32:4). Ele

mesmo refere-se a si mesmo dizendo: “Eu, o Senhor, falo a verdade; eu anuncio o

que é certo [recto] ” (Is. 45:19). Como resultado de sua rectidão, é necess|rio que

Ele trate as pessoas de acordo com o que elas merecem. Por isso, é necessário que

Ele puna o pecado. Ele enviou a Jesus e manifestou a Sua justiça sobre o pecado

(Rm. 3:25-26).

Veja se concorda com essa frase: “A justiça e a omnipotência são propriedades

de Deus que deveriam ser motivos de acções graças vindas da nossa parte para

com Ele”.

Escreva neste espaço se “Sim” ou se “Não”. Justifique a sua resposta e partilhe

na aula.

Zelo. Essa palavra tem o significado de estar profundamente comprometido em

buscar a honra e o bem-estar de alguém. Paulo diz ao Coríntios: “o zelo que tenho

por vós é um zelo que vem de Deus” (2Co. 11:2). Aqui o sentido é preocupação séria

que indica protecção. A Bíblia apresenta Deus como zeloso nesse sentido. Ele deu-

nos ordens para não nos dobrarmos diante de outros deuses “porque Eu, o Senhor,

o teu Deus, sou Deus zeloso…” (Êx. 20:5). Assim definimos Deus zeloso: O zelo divino

significa que Deus continuamente procura proteger a sua própria honra.

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Não é errado Deus procurar a sua própria honra, contudo, porque Ele merece

plenamente. Ele não dará a Sua glória e honra a outro ser (cf. Is. 48:11).

Ira. Pode causa surpresa em nós perceber com quanta frequência a Bíblia falar a

respeito da ira de Deus. No entanto, Deus ama tudo o que é justo e bom e tudo o

que conforma-se ao seu carácter moral. A ira de Deus manifesta-se contra o pecado

e está, portanto, intimamente ligada à santidade e justiça divina. A ira de Deus

significa que Ele odeia intensamente o pecado.

D. Atributos de Propósito

Vontade. É um atributo pelo qual Deus aprova e determina dar origem a cada acção

necessária para a existência e actividade de si próprio e de toda a criação. Essa

definição indica que a vontade de Deus tem a ver com a decisão e a aprovação de

coisas que Deus é e faz. Ela diz respeito às escolhas de Deus do que fazer e do que

não fazer.

Vontade de Deus em geral. Muitas vezes indica a vontade de Deus como

razão última e final de tudo o que acontece. Paulo refere-se a Deus como aquele

que “faz todas as coisas segundo o propósito de sua vontade” (Ef. 1:11). Existe um

aspecto da vontade de Deus, isto é, em parte Ele a revela, porém em outro, ela está

encoberta (Dt. 29:29).

Vontade Revelada de Deus. Contém seus mandamentos, preceitos para uma

vida moralmente enquadrada em seus padrões de moralidade. Nela, Deus declara a

Sua vontade para com seu povo, e ordena que a façamos.

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Vontade Secreta de Deus. Inclui os decretos ocultos, pelos quais Ele governa

o universo e determina tudo o que vai acontecer. Em geral, Ele não nos revela esses

decretos (excepto em algumas profecias de eventos futuros), de modo que seus

propósitos ou planos realmente são a vontade “secreta de Deus”. Não conseguimos

descobrir o que Ele decretou secretamente até que realmente os eventos

aconteçam. Cito algumas passagens que falam da vontade revelada e secreta de

Deus: (Mt. 6:10 – seja feita a tua vontade; Gn. 50:20 – me venderam ao Egipto,

porém Deus me preservou “neste texto vemos a vontade revelada de Deus aos

irmão de José. Seu desejo é que amassem a seu irmão. A vontade secreta era que,

na desobediência dos irmãos de José, o bem maior pudesse ser feito, quando José

fora vendido como escravo, indo parar no Egipto. Lá conquistou toda a autoridade

para que pudesse preservar sua vida e de sua família).

Algo necessita de clarificação aqui. Deus é livre, e não devemos tentar procurar

qualquer resposta mais definitiva para as acções de Deus na criação do que o facto

de que Ele desejou fazer algo e de que a sua vontade possui verdadeira liberdade.

Omnipotência. Significa que Deus é capaz de fazer toda a sua vontade. Não há

limites quanto ao poder de Deus em fazer o que Ele decide fazer (Gn. 18:14;

Jr. 32:27) e nada é demasiadamente difícil para Ele (Jr. 32:17; Mt. 19:26).

Responda: Na tua concepção existe alguma coisa que Deus não possa fazer?

Deus não pode desejar ou fazer algo que venha negar o seu próprio ser ou carácter.

Esta é a razão porque a definição de omnipotência é afirmada em termos da

capacidade de Deus de fazer “toda a santa vontade”. Não h| absolutamente nada

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que Deus não seja capaz de fazer, mas tudo o que Ele faz é coerente com o seu

carácter. Por exemplo, Deus não pode mentir (Tt. 1:2), não pode ser tentado pelo

mal (Tg. 1:13) e não pode negar-se a si mesmo (2Tm. 2:13). Embora o poder de

Deus seja infinito, o uso que Ele faz desse poder é qualificado por seus outros

atributos.

A medida que concluímos o nosso exame dos atributos divinos de propósito, é

apropriado perceber que Ele nos fez de tal modo que demonstramos em nossa vida

uma espécie de reflexo débil de cada um deles. Nós possuímos vontade, temos

poder (ainda que limitado): mental, espiritual, de persuasão, autoritário (família,

igreja, governo, etc.). Em todas as áreas, o uso do poder por caminhos que agradem

a Deus e estejam em harmonia com a sua vontade é algo que lhe traz glória, ao

mesmo tempo que lhe reflectem o carácter.

E. Atributos “Simples”

Perfeição. Perfeição divina significa que Deus possui todas as qualidades de modo

excelente e completo e não tem nenhuma falta de qualidades que sejam desejáveis

para Ele. Deus é perfeito (Mt. 5:48). Podemos concluir que seus atributos são todos

perfeitos.

Bem-aventurança. O termo significa feliz no sentido mais rico e pleno. A Escritura

dizem muitas vezes que “bem-aventurada” são as pessoas que andam nos

caminhos do Senhor. Todavia em Timóteo, Paulo chama a Deus de “bendigo e único

Soberano (1Tm. 6:15), e fala do glorioso evangelho do Deus bendito” (1Tm. 1:11).

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Por isso podemos definir bem-aventurança da seguinte maneira: A bem-

aventurança de Deus significa que Ele tem prazer plenamente em si próprio e no que

reflecte o seu carácter.

Beleza. A beleza de Deus é o atributo pelo qual Ele é a soma de todas as qualidades

desejáveis. Est| especificamente relacionado { “perfeição” de Deus (ver notas acima

sobre a perfeição de Deus). Ler Salmo 27:4 (tradução ARA).

Perguntas para Reflexão

Reflicta e responda:

1. Será que Deus pode aprender alguma coisa? Será que Ele pode ser

surpreendido? Na tua opinião como isso ajuda na tua posição em relação a

inerrância bíblica?

2. Existe alguma incoerência entre a ira de Deus e Seu amor? Explique.

3. Qual a diferença entre vontade secreta e vontade revelada?

4. Há limitações para o poder de Deus? Explique, usando a definição de um

dos seus atributos.

5. Existe alguma coisa que Deus não possa fazer?

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IV – A TRINDADE

Como pode Deus ser três pessoas e, todavia, um só Deus?

Os capítulos precedentes discutiram os muitos atributos de Deus. Mas se

entendêssemos somente esses atributos, de forma alguma entenderíamos Deus

correctamente, porque não teríamos entendido que Deus, na sua verdadeira

essência, sempre existiu como mais do que uma pessoa. De facto, Deus existe

“tripessoalmente”, sendo, todavia, um só Deus.

A doutrina da Trindade é uma das mais importantes da fé cristã. Estudar os

ensinos da Bíblia sobre a Trindade traz-nos grande luz a questão do que é o centro

de tudo o que procuramos em Deus: “O que é Deus em si mesmo?”. Aqui

aprendemos que si mesmo, em seu verdadeiro ser, Deus existe nas pessoas do Pai,

do Filho e do Espírito Santo, sendo, no entanto, um só Deus.

1. Explicação e Base Bíblica

Podemos definir a doutrina da Trindade da seguinte maneira: Deus existe

eternamente como três pessoas, Pai, Filho e Espírito Santo; cada pessoa é plenamente

Deus e há um só Deus.

A. A Doutrina da Trindade é revelada Progressivamente na Escritura

Revelação Parcial no AT. A palavra Trindade não é encontrada na Bíblia, embora

a ideia apresentada seja ensinada em muitos ligares. Trindade significa

“triunidade” ou “três-em-unidade”. Ela é usada para sintetizar o ensino da

Escritura de que Deus é três pessoas, porém um só Deus.

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As vezes as pessoas pensam que a doutrina da Trindade é encontrada somente no

NT. Mas se Deus desde sempre existe em três pessoas, seria surpreendente não

encontrar indicação alguma disso no AT. Embora a doutrina da Trindade não seja

explicitamente encontrada no AT, diversas passagens sugerem ou dão a entender

que Deus existe como mais de uma pessoa.

Por exemplo, segundo Gn. 1:26 “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a

nossa semelhança”. O que o verbo no plural “façamos” e o pronome no plural

“nossa” significam? Alguns têm sugerido que são plurais de majestade, formas

verbais de linguagem que um rei usaria ao dizer, por exemplo: “Estamos contentes

em ceder ao vosso pedido”. Contudo, no hebraico do AT, não h| quaisquer outros

exemplos de um monarca usando verbos no plural ou pronomes no plural

referindo-se a si mesmo ou usando o “plural majestade”. Outra sugestão é que Deus

estaria aqui a falar a anjos. Mas os anjos não participaram da criação do homem,

nem foi o homem criado à imagem e semelhança dos anjos, de maneira que essa

ideia não convence.

A melhor explicação, e a única sustentada quase unanimemente pelos pais da

igreja (primeiros séculos – refere-se a igreja primitiva) os teólogos mais antigos.

Para eles já no primeiro capítulo de Génesis existe a indicação de uma pluralidade

de pessoas no próprio Deus. Não que haja uma referência a quantas pessoas, e não

temos nada nesse texto que aborde uma completa doutrina da Trindade, mas fica

implícito que mais de uma pessoa esteja envolvida nesse texto. O mesmo pode ser

dito em Gn. 3:22; 11:7 e Is. 6:8.

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Além disso, h| passagens em que uma pessoa é chamada “Deus” ou “o Senhor” e ela

distingue-se de outra pessoa que também diz-se ser Deus. Em Sl. 45:6-7, o salmista

diz: “O meu trono, ó Deus, subsiste para todo sempre […] Amas a justiça e odeias a

iniquidade; por isso Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus companheiros

ungindo-te com óleo de alegria”. Aqui o Salmo vai além de simplesmente descrever

o que poderia ser verdadeiro sobre um rei terreno e chama esse rei de “Deus”

(v.6), cujo trono haveria de durar “para todo sempre”. Mas, então, ao descrever a

pessoa “Deus” ele diz que “Deus, o teu Deus, escolheu-te dentre os teus

companheiros” (v.7). Assim, duas pessoas separadas são chamadas “Deus”

(hebraico, elohim). Já no NT, o autor de Hebreu cita essa passagem, porém faz

aplicação a Cristo: “O teu trono, o Deus, subsiste para sempre” (Hb. 1:8).

De modo semelhante, no Sl. 110:1, David diz: “O Senhor disse ao meu Senhor: Senta-

te à minha direita até que eu faça dos teus inimigos um estrado para os teus pés”.

Jesus entende correctamente que David está a referir-se a duas pessoas separadas

chamando-as “Senhor” (Mt. 22:41-46), mas quem é o “Senhor” de David se não o

próprio Deus? Parafraseando essa frase na perspectiva do NT seria assim: “Deus

Pai disse a Deus Filho: Assenta-te à minha direita”. Porém, mesmo sem o ensino do

NT sobre a Trindade, parece claro que David estava cônscio (convicto) que é

característica de pessoas em Deus.

O profeta Isaías 63:10, referindo-se ao povo de Israel diz que eles “se revoltaram e

entristeceram o seu Espírito Santo”, certamente sugerindo tanto que o Espírito

Santo é distinto do próprio Deus.

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A revelação completa da Trindade no NT. Quando o NT começa, entramos na

história da vinda do Filho de Deus à terra. Seria de esperar que esse grande evento

fosse acompanhado pelo ensino mais explícito da natureza trinitária de Deus, e é o

que de facto encontramos. Antes de olhar para esse assunto em detalhes, podemos

simplesmente relacionar diversas passagens onde as três pessoas da Trindade são

reveladas juntas.

Quando Jesus foi baptizado, “…o céu se abriu, e Ele viu o Espírito de Deus descendo

como pomba e pousando sobre Ele. Então uma voz dos céus disse: Este é o meu Filho

amado, em quem me comprazo (agrado) ” (Mt. 3:16-17). Ao mesmo tempo temos os

três membros da Trindade executando actividades distintas. Deus Pai fala do céu;

Deus Filho é baptizado, e então ouve que o Pai fala do céu; e Deus Espírito Santo

desce do céu para pousar sobre Jesus e capacitá-lo para o ministério.

No final de seu ministério (Mt. 28:19), Jesus disse que seus discípulos deveriam

fazer “discípulos de todas as nações, baptizando-os em nome do Pai e do Filho e do

Espírito Santo”. Mas informações semelhantes ver saudações nas cartas de Paulo.

B. Três afirmações resumem o ensino bíblico

Em certo sentido, a doutrina da Trindade é um mistério que nunca seremos

capazes de entender plenamente. Contudo, podemos entender alguma de sua

verdade ao resumir o ensino da Escritura em três afirmações: (1) Deus é três

pessoas; (2) Cada pessoa é plenamente Deus; (3) Há um só Deus.

A secção seguinte desenvolverá cada uma dessas afirmações mais detalhadamente.

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Deus é três pessoas. Com essa afirmação conclui-se que o Pai não é o Filho; eles

são pessoas distintas. Significa também que o Pai não é o Espírito Santo, e que eles

são pessoas distintas. Significa que o Filho não é o Espírito Santo. Essas distinções

pessoais são vistas em várias passagens citadas na secção anterior assim como em

muitas passagens adicionais no NT. (Ler Jo. 1:1-2 cf. 9-18; Jo. 17:24; Hb. 7:25;

1Jo. 2:1). O Pai, Filho e Espírito são pessoas distintas (Jo. 14:26).

O Espírito Santo não é simplesmente uma “força” ou “poder” de Deus em operação

no mundo. Há evidências claras no NT que apontam o contrário.

Em primeiro lugar as passagens acima citadas apontam que o Espírito Santo tem

um relacionamento coordenado com o Pai e com Filho (Mt. 28:19; 1Co. 12:4-6).

Visto que o Pai e o Filho são ambos pessoas, a coordenação entre eles sugerem

fortemente que o Espírito Santo seja pessoa também. Outras actividades pessoas

são atribuídas ao Espírito Santo, como ensinar (Jo. 14:26), dar testemunho

(Jo. 15:26; Rm. 8:16), interceder ou orar a favor de outros (Rm. 8:26-27), sondar as

profundezas e conhecer os pensamentos de Deus (1Co. 2:10-11), desejar distribuir

certos dons consoante Sua Vontade (1Co. 12:11), etc.

Cada pessoa é plenamente Deus. Em acréscimo ao facto de que as três pessoas

serem distintas, o testemunho abundante da Escritura é que cada pessoa também é

plenamente Deus.

Primeiro, Deus é plenamente Deus. Isso fica evidente a partir do primeiro versículo

da Bíblia, no qual Deus criou os céus e a terra.

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Segundo, O Filho é plenamente Deus. Embora esse ponto vá ser desenvolvido com

mais detalhes na doutrina sobre a “Pessoa de Cristo”, podemos nesta altura

observar de maneira breve diversas passagens que revelam a deidade (divindade)

de Cristo. (ver Jo. 1:1-4)

Existe uma relação entre a palavra “verbo” (NT – logos/grego) e a palavra “barah”

(VT – disse ou falou/hebraico). Jesus foi o meio pelo qual Deus criou todo o

universo. Tomé na sua dúvida após ver a Cristo diz: “Senhor meu e Deus meu”

(Jo. 20:28).

O Espírito Santo é plenamente Deus. Uma vez entendido que Deus Pai e Deus Filho

são plenamente Deus, as expressões trinitárias nos versículos como Mt. 28:19

“(…) baptizando em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo…”, assumem grande

importância para a doutrina do Espírito Santo, porque mostram que o Espírito

Santo é classificado no mesmo nível que o Pai e o Filho. Em outro episódio, vemos

Ananias mentindo a Pedro sobre uma oferta que haviam dado à igreja. Pedro

pergunta: “Como você permitiu que Satanás enchesse o seu coração, ao ponto de você

mentir ao Espírito Santo e guardar para si uma parte do dinheiro que recebeu da

propriedade? […] Você não mentiu aos homens, mas sim a Deus” (NVI - Act. 5:3-4).

Conforme as palavras de Pedro, mentir ao Espírito Santo é mentir a Deus.

Há um só Deus. A Escritura é muitíssimo clara na ideia de que há um Deus, e um

somente. As três diferentes pessoas da Trindade são um - não somente em

propósito e em concordância sobre o que pensam, mas não um em essência,

possuindo a mesma natureza essencial. Em outras palavras, Deus é somente um

ser. Não há três deuses. Há somente um Deus (Ler. Dt. 6:4-5 – Rm. 3:30; 1Tm. 2:5).

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Reflicta sobre algumas analogias que tentam explicar a Trindade, e retire as

suas conclusões.

A água nos três estados (sólido, liquido e gasoso).

Um homem que é cozinheiro, presidente da câmara municipal e diácono da igreja.

Um copo de água, um pouco de leite e açúcar.

A importância da doutrina da Trindade. A igreja sempre esteve tão preocupada

com a doutrina da Trindade, porém podemos perguntar porquê? Será que ela é

realmente essencial para sustentar a plena divindade do Filho e do Espírito Santo?

Sim, pois seu ensino tem implicações para o coração da fé cristã.

Primeira, a expiação está em jogo aqui. Se Jesus fosse meramente um ser criado, e

não plenamente Deus, então é difícil ver como Ele, uma criatura, poderia suportar

plenamente a ira de Deus sobre o pecado. Poderia qualquer criatura, não importa

quão grande fosse, realmente salvar-nos? Se sim, porque no VT os sacrifícios de

animais eram incompletos?

Segunda, a justificação somente pela fé é ameaçada se negamos a plena divindade

de Jesus. Se Ele não é divino (como dizem os testemunhas de Jeová), poderíamos

duvidar da Sua capacidade de salvar-nos e não confiaríamos Nele completamente.

Poderíamos realmente depender de qualquer criatura para nossa salvação?

Terceira, se Jesus não fosse Deus infinito, oraríamos a Ele ou adoraríamos? Será

que qualquer criatura poderia responder as nossas orações? E, quem além de Deus

é digno de adoração?

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De facto, se Jesus não é Deus, então adorá-lo seria idolatria. Um pecado diante de

Deus. Todavia, no NT existem ordens para adorá-lo (Fl. 2:9-11; Ap. 5:12-14).

Quarta, se alguém ensina que Jesus não é Deus, mas sim um ser criado, mas ainda

assim, alguém que nos salvou, tal ensino começa erroneamente a atribuir crédito

pela salvação, à criatura e não ao próprio Deus. Exaltar a criatura em lugar do

Criador é uma mensagem que não é sustenta pela Escritura Sagrada.

C. Quais são as distinções entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo?

Para completar essa secção podemos ver as distinções entre as pessoas da

Trindade. Se estamos a defender que cada membro da Trindade é plenamente

Deus e que cada pessoa compartilha plenamente todos os atributos de Deus, então

há alguma diferença entre as pessoas da Trindade?

As pessoas da Trindade têm funções primárias diferentes em relação ao

mundo. Quando a Escritura discute o modo pelo qual Deus relaciona-se com o

mundo, tanto a criação como na redenção, vemos que as pessoas da Trindade

possuem funções ou actividades primárias diferentes. Às vezes isso é chamado

“economia na Trindade”, usando o termo economia no sentido antigo, significando

“ordenação de actividades”. A “economia da Trindade” significa as diferentes

maneiras pelas quais as três pessoas agem, como relacionam-se com o mundo, e

como relaciona-se entre si desde toda a eternidade.

Vemos essas funções diferentes na obra da criação. Deus falou as palavras

criadoras para trazer o universo à existência. Mas foi Deus Filho, a Palavra eterna

de Deus, que realizou os decretos criadores.

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“Todas as coisas foram feitas por intermédio Dele; sem Ele, nada do que existe teria

sido feito” (Jo. 1:3; 1Co. 8:6; CL. 1:16; Hb. 1:2). O Espírito Santo estava activo

também, de maneira diferente, quando se “movia” ou “pairava” sobre as |guas

(Gn. 1:2), certamente sustentado e manifestando a presença imediata de Deus na

criação (cf. Sl. 33:6; Sl. 139:7 – onde “sopro” deveria ser traduzido por Espírito).

Essas diferenças podem ser vistas na obra da redenção (salvação). Deus Pai

planeou a redenção e enviou Seu Filho ao mundo (Jo. 3:16; Gl. 4:4; Ef. 1:9-10). O

Filho obedeceu ao Pai e realizou a redenção por nós (Jo. 6:38; Hb. 10:5-7; etc.).

Deus Pai não veio morrer pelos pecados, como também não fez o Seu Espírito

Santo. Essa obra estava destinada exclusivamente ao Filho. Então após Jesus ter

sido elevado ao céu, o Espírito Santo foi enviado da parte do Pai e do Filho para

aplicar a redenção a nós. Jesus fala do “Espírito Santo que o Pai enviará em meu

nome” (Jo. 14:26), mas também diz que Ele próprio Ele enviaria o Espírito Santo,

“mas se eu for, vos enviarei” (Jo. 16:7). O papel do Espírito Santo é santificar-nos

(Rm. 8:13; 15:16) e capacitar-nos para o serviço (Act. 1:8; 1Co. 12:7-11).

Portanto, embora as pessoas da Trindade seja iguais em todos os seus atributos,

elas ainda assim, diferem-se em seu relacionamento com a criação. O Filho e o

Espírito Santo são iguais em divindade a Deus Pai, porém agem diferentemente.

Qual é a relação entre as três pessoas e o ser Deus? Como podemos dizer que

Deus é um ser indivisível e que, todavia, existem Nele três pessoas distintas?

Primeiro, é importante afirmar que cada pessoa é completamente e plenamente

Deus; a saber, cada uma dessas pessoas tem a totalidade e a plenitude do ser Deus

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em si mesma. O Filho não é parcialmente Deus ou apenas um terço de Deus, mas o

Filho é total e plenamente Deus, e assim acontece com o Pai e o Espírito Santo.

Dessa maneira, não seria correcto pensar na Trindade conforme a figura abaixo,

com cada pessoa representando somente um terço do ser de Deus.

Figura 1

O ser Deus não é dividido em três partes iguais pertencentes aos três membros da Trindade.

Ao contrário devemos dizer que a pessoa do Pai possui a totalidade do ser do

próprio Deus. De modo semelhante, o Filho possui a totalidade do ser de Deus, e o

Espírito Santo possui a totalidade do ser Deus em si mesmo. Quando falamos do

Pai, Filho e Espírito Santo juntos, não estamos a falar de um ser maior do que

quando falamos do Pai somente, ou do Filho somente, ou do Espírito somente. O

Pai é tudo do ser de Deus. O Filho também é tudo do ser de Deus. E o Espírito Santo

é tudo do ser de Deus.

PAI FILHO

ESPÍRITO SANTO

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Mas, se cada pessoa é plenamente Deus e tem tudo do ser de Deus, também não

devemos pensar que as distinções pessoais são uma espécie de atributos adicionais

acrescentados ao ser de Deus, algo parecido com a figura 2 abaixo:

Figura 2

O ser de Deus faz parte de um ser, porém dividido em três partes

Ao contrário cada pessoa da Trindade em todos os atributos de Deus, e nenhuma

pessoa tem qualquer atributo que as outras possuam. Devemos dizer, por outro

lado, que as pessoas são reais, que elas não são apenas diferentes maneiras de

olhar para o mesmo ser. Veja a figura:

Figura 3

As pessoas da Trindade não são apenas três diferentes maneiras de se olhar o ser único de Deus.

P F

ES

(P) (F)

(ES)

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Ao contrário, precisamos pensar na Trindade de tal modo que a realidade das três

pessoas seja mantida, e cada pessoa tem de ser vista relacionando com as outras

com um “eu” (primeira pessoa), um “tu” (a segunda pessoa) e um “ele” (a terceira

pessoa).

O único meio pelo qual parece possível fazer isso é dizer que a distinção entre as

pessoas não é a diferença no “ser”, mas a diferença nos “relacionamentos”. Isso é

algo muito distante de nossa experiência humana, na qual cada ser humano

diferente é uma pessoa diferente também. De alguma forma o ser de Deus é tão

maior que o nosso, que dentro do seu ser indivisível pode haver um

relacionamento interpessoal desdobrado, de modo que pode haver três pessoas

distintas.

Concluímos que não existe diferença de atributos nas pessoas da Trindade. A única

diferença entre Eles é o modo em que relacionam-se um com o outro e com a

criação. A qualidade singular do Pai é o modo em que Ele relaciona-se como o Pai

ao Filho e ao Espírito Santo. A qualidade singular do Filho é o modo em que Ele

relaciona-se como Filho. E a qualidade singular do Espírito Santo é o modo em que

Ele relaciona-se como Espírito.

Agora é a tua vez de tentar criar uma figura que revele o que estamos a dizer sobre

a Trindade. Pelo menos tente.

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Figura 4

Há três pessoas distintas, e o ser de cada pessoa é igual à totalidade do ser de Deus.

Nesse espaço explique as tuas conclusões sobre a figura.

Podemos entender a doutrina da Trindade? Precisamos ser advertidos pelos

erros que têm sido cometidos no passado. Eles todos devem-se as tentativas de

simplificar a doutrina da Trindade e de torná-la completamente inteligível,

removendo todos os seus ministérios. Nunca podemos fazer isso! Contudo, não é

correcto dizer que não podemos de forma alguma entender a doutrina da

Trindade. Certamente podemos entender e saber que Deus é três pessoas, que cada

uma delas é plenamente Deus e que há somente Deus. Podemos saber essas coisas

P F

ES

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porque a Bíblia ensina. Além disso, podemos conhecer algumas coisas a respeito do

modo pelo qual as pessoas relacionam-se umas com as outras.

É verdade que encontramos várias dificuldades nessa doutrina, porém confiamos

na Palavra de Deus que ensina toda a verdade, porém é um ministério ou um

paradoxo essa doutrina, mas que não nos deveria perturbar, uma vez que os

aspectos diferentes do mistério são claramente ensinados pela Escritura. Pois,

desde que somos criaturas finitas e não divindade omnisciente, sempre haverá (e

por toda a eternidade) coisas que não entendemos plenamente.

Perguntas para Reflexão

1. Quais são as distinções entre as pessoas da Trindade e os seus

relacionamentos com a Criação? Desenvolva a resposta.

2. Descreva a Trindade. (mínimo 20 linhas)

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V. DOUTRINA DO HOMEM

Capítulo I

A Criação do Homem

Porque Deus nos criou?

Como Deus fez-nos semelhantes a si próprio?

1. Explicação e Base Bíblica

No primeiro módulo (Manual 1) reflectimos nos assuntos relacionados com a

revelação de Deus. Através da sua Palavra Ele revela-se ao mundo. Falamos sobre a

natureza de Deus e seus atributos e por fim abordamos a essência do “ser” de Deus,

no caso a Trindade. Nesta secção iremos enfatizar o ápice da actividade criadora de

Deus: a criação dos seres humanos, tanto homens como mulheres, para serem mais

parecidos com Ele que qualquer outra criação. Vamos considerar primeiramente o

propósito de Deus ao criar o homem e a natureza do homem como Deus quis que

ele fosse ao criá-lo. Depois seguiremos com a natureza do pecado e da

desobediência do homem a Deus e daremos seguimento as demais doutrinas

centrais que foram apresentadas no Manual 1.

Aproveito para fazer um breve esclarecimento. A expressão “homem” ser|

utilizada para referir a totalidade da raça humana. Por isso todos os leitores

deverão ter isso em consideração quando lerem a expressão “homem” nesse

capítulo acerca da Doutrina do Homem.

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A. Porque o homem foi criado.

Deus não precisava criar o homem, todavia Ele nos criou para a sua glória.

Quando analisamos os atributos incomunicáveis de Deus, vimos que Ele é

independente (cf. Manual 1 – p. 32), e observamos algumas passagens da Escritura

que ensinam que Ele não precisava de nós ou do restante da criação para nada.

Todavia, nós e o restante da criação o glorificamos e lhe trazemos alegria. Como

havia amor-perfeito e comunhão entre os membros da Trindade desde toda a

eternidade (Jo. 17:5, 24), Deus não nos criou porque estivesse solitário ou porque

precisasse de comunhão com outras pessoas – não há razão para Deus precisar de

nós, pois Ele é totalmente completo e relacionava-se consigo mesmo na Trindade.

Não obstante, Deus criou-nos para a sua glória. Quando tratamos do assunto da

independência de Deus, observamos que Ele fala de seus filhos e filhas desde os

confins da terra como aqueles “a quem criei para a minha glória” (Is. 43:7;

cf. Ef. 11:11-12) Portanto, existimos para fazer “tudo para glória de Deus”

(1Co. 10:31).

Esse facto assegura que nossa vida é importante. Quando percebemos, em

primeiro lugar, que Deus não precisava nos criar e que Ele não precisa de nós para

realizar alguma coisa, podemos concluir que nossa vida não possui importância

alguma. Porém a Escritura diz-nos que fomos criados para glorificar a Deus,

indicando-nos que somos importantes para o próprio Deus. Essa é a definição final

da importância genuína de nossa vida. Se somos verdadeiramente importantes

para Deus por toda a eternidade, então que grau de maior importância poderíamos

querer?

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Qual é o nosso propósito nesta vida? O facto de que Deus nos criou para a sua

glória determina a resposta correcta a pergunta: “Qual é o nosso propósito nesta

vida?”. O nosso propósito deve ser o de cumprir aquilo para qual Deus nos criou:

glorificá-lo.

Quando estamos a falar a respeito do próprio Deus, esse é um bom resumo de

nosso propósito. Todavia, quando pensamos em nossos interesses, fazemos a feliz

descoberta de que devemos usufruir de Deus, alegrando-nos Nele e no nosso

relacionamento com Ele. Jesus disse: “Eu vim para tenham vida, e a tenham em

abundância” (Jo. 10:10).

A plenitude de alegria é encontrada em conhecer a Deus e em deliciar na

excelência do seu carácter. Estar em sua presença e desfrutar da comunhão com

Ele é uma grande bênção; maior do que qualquer coisa que poderíamos almejar.

Portanto a condição normal do coração do cristão é regozijar-se no Senhor e nas

lições de vida que Ele nos dá (Rm. 5:2-3; Fp. 4:4; Tg. 1:2; 1Pe. 6:8).

A medida que glorificamos a Deus e desfrutamos da sua presença, a Escritura diz

que Ele regozija-se em nós. Isaías escreveu: “assim como o noivo regozija-se por sua

noiva, assim o seu Deus regozija-se contigo” (Is. 62:5).

Mas quais os resultados práticos da doutrina da criação do homem? Quando

percebemos que Deus criou-nos para glorificá-lo e quando começamos a agir de

modo a cumprir esse propósito, passamos a experimentar uma intensidade de

alegria no Senhor que jamais havíamos conhecido antes.

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B. O homem à imagem de Deus

O significado de “imagem de Deus”. De todas as criaturas que Deus fez, somente

uma delas, o homem, foi feito “{ imagem de Deus”. Para compreender melhor

podemos usar a seguinte definição: O facto de que o homem foi feito à imagem de

Deus significa que Ele é igual a Deus (num determinado sentido) e que representa

Deus.

Quando Deus diz: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa

semelhança” (Gn. 1:26), o sentido é que Deus planeava fazer uma criatura

semelhante a si mesmo. Tanto a palavra hebraica para “imagem” (tsêlem) como a

palavra hebraica para “semelhança” (dêmut) referem-se a algo que é similar, mas

não idêntico { coisa que ela representa ou aquilo de que é a “imagem”. A palavra

imagem pode também ser usada para algo que representa outra coisa.

Esse jogo de palavras é extremamente importante, porque não devemos cair no

erro de começar a pensar que o homem é semelhante a Deus. Creio que a

mensagem para os leitores originais era clara. As expressões “imagem” e

“semelhança” representam um jogo de palavras. Se parafrasearmos o texto, o

resultado final seria esse: “Façamos o homem para ser igual a nós e para nos

representar”. Assumimos esse significado porque as expressões querem dizer

precisamente isso “igual para representar”. Porém convém dizer que a nossa

semelhança com Deus é visível.

Temos capacidades intelectuais, emoções, espírito, domínio sobre a terra,

criatividade, capacidade de interagir eticamente, etc.

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Quanto mais conhecemos acerca de Deus e do homem, mais similaridades

haveremos de reconhecer e mais plenamente entenderemos o que a Escritura quer

dizer quando afirma que o homem foi feito à imagem de Deus.

Reflicta na seguinte questão: Se o homem foi feito à imagem e semelhança de

Deus, o que aconteceu com essa “imagem” e “semelhança” com a entrada do

pecado na vida humana?

A queda: a imagem de Deus foi distorcida, mas não perdida. Poderíamos

imaginar se o homem deveria ainda ser visto como alguém que é igual a Deus

mesmo após ter pecado? Essa questão é respondida ainda bem cedo, em Génesis,

onde Deus dá a Noé autoridade para estabelecer pena de morte para o homicídio

após o dilúvio. Deus diz: “Quem derramar sangue do homem, pelo homem seu

sangue será derramado; porque à imagem de Deus foi o homem criado” (Gn. 9:6).

Muito embora as pessoas sejam pecaminosas, há ainda suficiente semelhança a

Deus nelas porque que o facto de assassinar outra pessoa (“derramar sangue” é

uma expressão do Velho Testamento [VT] para a tirar a vida humana) significa

atacar a parte da criação que mais lembra Deus, e ela revela a tentativa ou desejo

de atacar o próprio Deus. O homem ainda reflecte a imagem de Deus. O Novo

Testamento [NT] confirma isso quando Tiago diz que os homens em geral, não

apenas os crentes são “feitos à semelhança de Deus” (Tg. 3:9).

Contudo como o homem pecou, certamente ele não é plenamente igual a Deus

como o era no seu estado “original”. Sua pureza moral perdeu-se e seu carácter

pecaminoso certamente não reflecte a santidade de Deus. Seu intelecto corrompeu-

se pela falsidade e pelo entendimento erróneo; suas palavras não mais glorificam a

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Deus continuamente; seus relacionamentos são muitas vezes governados pelo

egocentrismo e não pelo amor altruísta, e assim por diante. A essa corrupção dá-se

o nome de “Depravação Total do Homem”. Embora o homem ainda possua a

imagem de Deus, em cada aspecto da vida, partes dessa imagem fora distorcida.

Em resumo, “Deus fez os homens justos, mas eles foram em busca de muitas intrigas”

(Ec. 7:29). Assim, após a queda ainda reflectimos a imagem de Deus – somos ainda

parecidos com Deus e ainda seus representantes na terra – mas a imagem de Deus

em nós está distorcida; somos menos plenamente parecidos com Deus do que

éramos antes da entrada do pecado.

Portanto, é importante que entendamos o significado pleno da imagem de Deus

não simplesmente pela observação dos seres humanos como são actualmente, mas

pelas indicações da Bíblia sobre a natureza de Adão e Eva quando Deus criou-os e

Deus viu que “era muito bom” (Gn. 1:31). A medida plena da excelência de nossa

humanidade não será vista novamente na vida nessa terra até que Cristo retorne e

tenhamos obtido todos os benefícios que Ele adquiriu por nós.

Redenção em Cristo: Recuperação progressiva da Imagem de Deus. Não

obstante, é encorajador voltar ao NT e descobrir que nossa redenção em Jesus

significa que podemos, mesmo nessa vida, crescer progressivamente mais e mais

na semelhança com Deus. Por exemplo, Paulo diz que como cristãos temos a

natureza do novo homem, que “está sendo renovado em conhecimento, à imagem de

Cristo” (Cl. 3:10). À medida que obtemos o verdadeiro entendimento de Deus, de

sua Palavra e de seu mundo, começamos a ter mais e mais os pensamentos que o

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próprio Deus tem. Desse modo, somos renovados para o pleno conhecimento e

tornarmo-nos mais e mais parecidos com Ele. (2Co. 3:18)

Ao longo de toda a vida, conforme crescemos em maturidade cristã, crescemos em

maior semelhança a Deus. Mas particularmente, crescemos em semelhança a Cristo

em nossa vida e carácter. De facto, a meta final para qual Deus redimiu-nos é

tornar-nos “conforme à imagem de seu Filho” (Rm. 8:29), para que, assim, sejamos

exactamente iguais a Cristo em nosso carácter moral.

Retorno de Cristo: restauração completa à Imagem de Deus. A promessa

maravilhosa do NT é que, como fomos iguais a Adão (sujeitos a morte e ao pecado),

assim seremos iguais a Cristo (moralmente puros, nunca sujeitos a morte e ao

pecado): “Assim como tivemos a imagem do homem terreno, teremos também a

imagem do homem celestial” (1Co.15:49). A medida plena de nossa criação {

imagem de Deus não é vista de Adão quando pecou, nem é vista em nossa vida

agora, porque somos imperfeitos, mas o NT enfatiza que o propósito de Deus em

criar o homem à sua imagem foi completamente realizado na pessoa de Jesus

Cristo. Ele próprio é “a imagem de Deus” (2Co. 4:4); “a imagem do Deus invisível”

(Cl. 1:15). Em Jesus nós vemos a semelhança humana a Deus como Deus pretendeu

que fosse, e deveria causar-nos regozijo o facto de Deus ter-nos predestinado para

sermos conformes “{ imagem de seu Filho” (Rm. 8:29; cf. 1Co. 15:49). Leia 1 Jo. 3:2.

Aspectos específicos de nossa semelhança com Deus. Embora tenhamos

argumentado antes que seria difícil definir todas as formas pelas quais somos

parecidos com Deus, contudo, podemos mencionar alguns aspectos de nossa

existência que demonstram que somos mais parecidos com Deus que todo o

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restante da criação. (1) Aspectos Morais: Somos criaturas moralmente

responsáveis diante de Deus por nossas acções. Temos o sendo interior do que é

certo ou errado – e esse aspecto por si só diferencia-nos dos animais. (2) Aspectos

Espirituais: Além do corpo físico que temos, o nosso ser é feito de espírito

imaterial, e podemos, portanto, agir de maneira significativas no reino imaterial

em que existimos. Isso significa que temos vida espiritual, que nos capacita a

relacionarmos com Deus como pessoas que somos, e também temos imortalidade;

nunca cessaremos de existir; viveremos para sempre. (3) Aspectos Mentais:

Temos a capacidade de raciocínio, de pensar logicamente e de aprender. Isso nos

difere dos animais, embora eles sejam reconhecidos como sendo portadores de

alguma capacidade, porém, nada comparável com a do homem. Nunca veremos um

chimpanzé sentado em volta de uma mesa a discutir com outros da mesma espécie

assuntos complexos como a Trindade, etc. Nunca veremos um cão a defender a sua

tese da “história da filosofia canina”, etc. (4) Aspectos relacionais: Em adição à

capacidade de relacionarmos com Deus, como também entre a própria espécie

humana. Mas uma vez, os animais também o têm, todavia, incomparável com a

capacidade humana. O homem é igual a Deus, pois foi lhe dado o direito de

governar sobre a criação e a autoridade (quando Cristo retornar à terra) para

sentar no tribunal de juízos dos anjos (Gn. 1:26, 28; Sl. 8:6-8; 1Co. 6:3).

Concluindo, é maravilhoso percebermos que o grande Criador fez-nos a sua

imagem e semelhança. Dando-nos o poder de ser seus representantes perante a

criação – não somos os donos, mas sim, mordomos de Deus.

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Todavia, convém, lembrar que com o pecado, nossas acções, pensamentos e

sentimentos foram corrompidos na totalidade. Vivemos numa época de

depravação total. Mas apesar de o cenário ser horrendo, a imagem de Deus não

fora perdida, mas sim desfocada. Na vida dos crentes em Jesus, ela está sendo

restaurada dia após dia, mediante o relacionamento com Ele, sendo que um dia,

aquando Ele retornar, a imagem será completamente restaurada.

Perguntas Para Reflexão

1. Qual é o propósito para o qual Deus criou o homem? Nesse sentido, em 10

linhas, descreva qual deve ser o primeiro propósito de sua vida. Seja prático.

2. O que significa ser feito “{ imagem de Deus”? De que maneira nossa

existência assemelha-se à de Deus?

3. Que efeito a queda da humanidade teve sobre o facto de termos sido feitos à

imagem de Deus?

4. Tendo em conta a tua resposta a pergunta 3, qual a solução de Deus para a

restauração da humanidade em relação “{ imagem de Deus”?

5. Pesquisar na Bíblia onde vem mencionado a criação dos dois sexos. Ver a

igualdades e diferenças do homem e da mulher e explicar de que maneira a

criação da raça humana (plural – homem e mulher), reflecte a imagem de

Deus nas relações interpessoais?

Versículo para Memorizar: Gn. 1:26-27 Então disse Deus: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa

semelhança. Domine ele sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, sobre os grandes animais de toda a terra e sobre todos os pequenos animais

que se movem rente ao chão” Criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus os criou; homem e mulher os criou.”

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Capítulo II

O PECADO

O que é pecado? De onde veio?

Herdamos a natureza pecaminosa de Adão?

I. Explicação e Base Bíblica

A. Definição de Pecado

A história da raça humana apresentada na Escritura é em primeiro lugar a história

do homem no estado de pecado e rebelião contra Deus, bem como a história do

plano da redenção de Deus para trazer muitas pessoas de volta para si. Portanto,

convém agora considerar a natureza do pecado que separa as pessoas de Deus.

Definimos o pecado da seguinte maneira: Pecado é qualquer falta de conformidade

com a lei moral de Deus em actos, atitudes ou pensamentos. O pecado é aqui definido

em relação a Deus e à sua lei moral. O pecado não consiste somente em actos

isolados, como roubar, matar, mentir, mas em atitudes que são contrárias às

atitudes que Deus requer de nós. Vemos isso n os Dez Mandamentos, que não

somente proíbem acções pecaminosas, como também atitudes pecaminosas

(Ex. “Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo...

Êx. 20:17). No Sermão do Monte (Mt. 5), Jesus proíbe igualmente atitudes

pecaminosas como a ira (5:22) ou a concupiscência (5:28); mais a frentes Paulo

mencionará atitudes pecaminosas (cf. Gl. 5:20, 22).

Portanto, a vida agradável a Deus é a que possui pureza moral não somente em

suas acções, mas também nos desejos do coração. De facto, o maior de todos os

mandamentos requer que nosso coração seja cheio de atitudes de amor para com

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Deus: “Amarás ao Senhor, o teu Deus, de todo o coração, de toda a sua alma, de todo

o seu entendimento e de todas as suas forças” (Dt. 6:4ss; Mc. 12:30).

B. A Origem do Pecado

Respondendo as perguntas: “De onde o pecado veio? Como ele entrou no

universo?”, devemos em primeiro lugar afirmar claramente que Deus nunca pecou,

e que nunca poderá ser o culpado pelo pecado. Foi o homem quem pecou e foram

os anjos que pecaram, e em ambos os casos eles o fizeram por escolha voluntária e

deliberada. Culpar Deus pelo pecado seria uma blasfémia contra o carácter íntegro

de Deus. A Bíblia revela que “Ele é a rocha, as suas obras são perfeitas, e todos os

seus caminhos são justos. É Deus fiel, que não comete erros; justo e recto é”

(Dt. 32:4). Porém devemos guardar-nos de cometer o erro oposto: seria errado

dizermos que há um poder maligno que existe eternamente no universo da mesma

forma ou igual ao próprio Deus em poder. Dizer isso seria afirmar a filosofia com o

nome de “dualismo3”. Essa filosofia afirma a existência de dois poderes igualmente

supremos, um bom e outro mal, e que ambos lutam entre si.

Jamais devemos pensar que o pecado surpreendeu Deus, ou que o desafiou, ou

ainda que o pecado venceu a omnipotência de Deus e seu controlo providencial

sobre o Universo. Portanto, muito embora não devamos dizer que o próprio Deus

pecou ou que Ele deva ser culpado do pecado, devemos também afirmar que Deus

“faz todas as coisas segundo o propósito da sua vontade” (Ef. 1:11), e que de facto

permitiu que o pecado entrasse no mundo, ainda que não tenha prazer nele e ainda

3 Dualismo: é uma concepção filosófica do mundo baseada na presença de dois princípios; duas

substâncias ou duas realidades opostas e inconciliáveis, irredutíveis entre si e incapazes de uma síntese final ou de recíproca subordinação. Tanto Deus como a matéria existem eternamente lado a lado. (Grudem, Wayne, Teologia Sistemática e Exaustiva, p. 136.)

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que ele tivesse estabelecido que o pecado viria a este mundo mediante a escolha

voluntária das criaturas morais.

Mesmo antes da desobediência de Adão e Eva, o pecado estava presente no mundo

angelical com a queda de satanás e seus demónios. Mas com respeito à raça

humana, o primeiro pecado foi o de Adão e Eva no Éden (cf. Gn. 3:1-19). O facto de

eles comerem do fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal é de muitas

formas típico do pecado geral.

Primeiro, o pecado deles cortou a base do conhecimento, porque deu uma resposta

diferente { pergunta: “O que é a verdade?”. Embora Deus houvesse dito a Adão e

Eva que eles morreriam se comessem do fruto daquela árvore (cf. Gn. 2:17), a

serpente disse: “Certamente não morrerão” (Gn. 3:4). Eva decidiu duvidar da

veracidade da Palavra de Deus e experimentou ver se Deus estava a falar a

verdade.

Segundo, o pecado deles cortou a base dos padrões morais, porque deu uma

resposta diferente a pergunta: “O que é certo?”. Deus havia dito que era

moralmente correcto Adão e Eva não comerem do fruto da árvore (cf. Gn.2:17).

Porém a serpente sugeriu que seria correcto comer do fruto e que, ao comê-lo,

Adão e Eva seriam “como Deus” (cf. Gn.3:5). Eva confiou na sua avaliação do que

era certo ou errado; do que seria bom ou mal para ela, ao invés de permitir que as

palavras de Deus definissem o que é certo e o que é errado. “Quando a mulher viu

que a árvore parecia agradável ao paladar, era atraente aos olhos e, além disso,

desejável para dela obter discernimento, tomou do fruto, comeu e deu a seu marido,

que também comeu do fruto”. (cf. Gn.3:6)

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Terceiro, o pecado deles deu uma resposta diferente { pergunta: “Quem sou eu?”. A

resposta correcta era que Adão e Eva eram criaturas de Deus, dependentes dele e

sempre subordinadas a Ele como seu Criador e Senhor.

Porém, Eva e depois Adão sucumbiram { tentação de ser “como Deus” (cf. Gn.3:5),

tentando, dessa maneira passar de criaturas para criadores.

Finalmente, devemos observar que todo o pecado é em última análise irracional.

Realmente, não faz sentido satanás rebelar-se contra Deus na expectativa de ser

capaz de exaltar-se acima de Deus. Igualmente também não faz sentido Adão e Eva

pensarem que pudesse haver qualquer recompensa positiva em desobedecer às

ordens de Deus. A recompensa foi a morte – escolha tola. Assim, com é qualquer

decisão humana em continuar num estado de rebelião contra Deus. Num primeiro

instante pode-se encontrar alguma razão para pecar, porém quando analisado

friamente, chega-se a conclusão que o pecado não faz sentido de forma alguma.

C. A Doutrina do Pecado Herdado

Culpa herdada: somos considerados culpados por causa do pecado de Adão.

Paulo explica os efeitos do pecado de Adão da seguinte maneira: “Portanto, da

mesma forma como o pecado entrou no mundo por um homem, e pelo pecado a

morte, assim também a morte veio a todos os homens, porque todos pecaram”

(Rm. 5:12).

O contexto demonstra que Paulo não está a falar a respeito de pecados actuais que

as pessoas cometem todos os dias (para um melhor esclarecimento deve-se ler o

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capítulo 5 por inteiro de Romanos). Paulo está a dizer que pelo pecado de Adão,

todos pecaram.

A ideia de que “todos pecaram” significa que Deus entendeu que todos nós

pecamos quando Adão desobedeceu a Deus. (Ler Rm. 5:13-14). Aqui nesse texto

Paulo assinala que, desde o tempo de Adão até o tempo de Moisés, as pessoas não

tinham a lei escrita de Deus (Dez Mandamentos). Embora os seus pecados não

fossem levados “em conta” (como infracção da lei), elas ainda morriam. E o facto de

elas morrerem é a prova de que Deus considerava as pessoas culpadas com base

no pecado de Adão. A ideia de que Deus considerou-nos culpados por causa do

pecado de Adão é posteriormente afirmada em Rm.5:18-19: “Consequentemente,

assim como uma só transgressão resultou na condenação de todos os homens, assim

também um só acto de justiça resultou na justificação que traz a vida a todos os

homens. Logo assim, como por meio da desobediência de um só homem muitos foram

feitos pecadores, assim, também, por meio da obediência de um único homem muitos

foram feitos justos”.

Reflicta: Na tua opinião o que Paulo está a dizer em Rm. 5:18-19? Será Deus é

injusto em atribuir o pecado de Adão as nossas vidas?

Paulo diz explicitamente que por intermédio da transgressão de Adão “muitos

foram feitos pecadores”. Quando Adão pecou, Deus considerou todos os que

descenderiam dele como pecadores. Embora não existíssemos ainda, Deus, a olhar

para o futuro e sabendo de antemão que existiríamos, passou a considerar-nos

culpados como Adão. Essa verdade também aplica-se com a afirmação que Paulo

faz acerca de Jesus “Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores”

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(Rm. 5:8). Obviamente, todos nós nem mesmo existíamos quando Cristo morreu.

Mas ainda assim, Deus olhou para nós como pecadores carentes de salvação.

A conclusão a ser retirada desses versículos é que todos os membros da raça

humana são representados por Adão no tempo do seu “teste/prova” no jardim do

Éden. Como nosso representante, Adão falhou e pecou contra Deus, e Deus

considerou-nos tão culpados quando Adão. O termo técnico para essa acção é o

“pecado imputado”. Deus considerou que a culpa de Adão pertence a nós e, j| que

Deus é o juiz supremo de todas as coisas no Universo e seus pensamentos são

sempre verdadeiros, a culpa de Adão de facto pertence-nos. Estamos a dizer que

Deus imputou correctamente a culpa de Adão a nós.

Quando primeiramente confrontamos com a ideia de que fomos considerados

culpados por causa do pecado de Adão, a nossa tendência é protestar, porque ela

parece injusta. Realmente nós não decidimos pecar, não é? Então, como podemos

ser considerados culpados? É justo Deus agir dessa maneira?

Em resposta as perguntas, três argumentos devem ser propostos. Primeiro,

qualquer um que proteste que é injusto também cometeu pecados actuais,

voluntariamente, pelos quais Deus os considera também como culpados. Estes hão-

de constituir a base primária do julgamento divino sobre nós no Dia do Senhor,

pois Deus “retribuirá a cada um conforme o seu procedimento” (Rm. 2:6) e “quem

cometer injustiça receberá de volta a injustiça, não haverá excepção para ninguém”

(Cl. 3:25).

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Segundo, alguns argumentam: “Se qualquer um de nós estivesse no lugar de Adão,

também teria pecado, como ele, e nossa rebelião subsequente contra Deus

demonstra isso”. Creio que isso provavelmente é verdadeiro, mas não parece um

argumento conclusivo, pois depende da preposição do que poderia acontecer ou

não. Tal incerteza não é de muita ajuda para diminuir o senso de injustiça de uma

pessoa.

Terceiro, a resposta mais persuasiva à objecção é assinalar que, se pensarmos que

é injusto sermos representados por Adão, devemos pensar do mesmo modo, i.é,

injusto sermos representados por Cristo, tendo a sua justiça imputada a nós por

Deus, pois o procedimento usado por Deus foi o mesmo (Leia Rm. 5:12-21).

Corrupção herdada: temos a natureza pecaminosa por causa do pecado de

Adão. Além da culpa legal que Deus nos imputou por causa do pecado de Adão,

também herdamos a natureza pecaminosa. Essa natureza pecaminosa herdada é às

vezes chamada simplesmente “pecado original ou corrupção herdada”. Prefiro a

terminologia “corrupção herdada”, pois creio que expressa mais claramente a ideia

que vamos desenvolver.

David diz: “Sei que sou pecador desde que nasci, sim, desde que me concebeu a minha

mãe” (Sl. 51:5). Esse texto não est| relacionado aos pecados da mãe de David. O rei

está a confessar os seus próprios pecados (cf. Sl. 51:1-4). David é tomado tão

intensamente pela consciência do próprio pecado, que ao olhar para sua vida

percebe que era pecador desde o início. De facto ele percebe que desde o seu

nascimento ou ainda na sua concepção no ventre de sua mãe, ele j| era “pecador”.

Existe a ideia semelhante no Sl. 58:3. Portanto nossa natureza inclui a disposição

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para o pecado, de maneira que Paulo pode afirmar que, antes de sermos cristãos,

“éramos por natureza merecedores da ira de Deus” (Ef. 2:3).

Essa tendência herdada para o pecado não significa que os seres humanos são

todos tão maus quanto poderiam ser, nem significa que não podemos fazer nada de

bom em qualquer sentido da palavra. Contudo, com nossa tendência para pecar, no

respeito a Deus, não somos capazes de fazer nada que lhe agrade. Vejamos:

a. Em nossa natureza perdemos totalmente a capacidade de fazer o bem espiritual

perante Deus. Isso não significa que apenas algumas partes de nós são

pecaminosas e que outras são puras.

Antes, cada parte de nosso ser é afectada pelo pecado – nosso intelecto, nossas

emoções, desejos, sentimentos, alvos, motivações e até o nosso corpo físico

(cf. Rm. 7:18 e Tt. 1:15). Uma coisa não podemos esquecer – é que apartados da

obra redentora de Cristo, nós somos iguais a todos os outros descrentes que

encontram-se “obscurecidos no entendimento e separados da vida de Deus por causa

da ignorância em que estão, devido ao endurecimento do seu coração” (Ef. 4:18).

Essa incapacidade de fazer o bem espiritual perante Deus dá-se o nome de

“depravação total do homem”.

b. Em nossas acções somo totalmente incapazes de fazer qualquer bem espiritual

diante de Deus.

Essa ideia está relacionada com o que já foi tido anteriormente. Não somente

somos incapazes como pecadores de apresentar qualquer bem espiritual em nossa

natureza, ma também perdemos a capacidade de fazer qualquer coisa que em si

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mesmo agrade a Deus (Rm. 8:8). Além disso, em termos de produzir frutos no

Reino de Deus, Jesus disse: “sem mim nada podeis fazer” (Jo. 15:5). Realmente, os

descrentes não agradam a Deus, se não por outra razão, simplesmente porque suas

acções não procedem da fé em Deus ou do amor por Ele.

Para agradar a Deus é necessário a fé, como diz a Escritura: “sem fé é impossível

agradar a Deus” (Hb. 11:6). Os descrentes estão num estado de escravidão porque

“todo aquele que vive pecando, é escravo do pecado” (Jo. 8:34).

Reflicta nessa questão: Se possuímos a incapacidade total de fazer qualquer bem

espiritual à vista de Deus, então será que ainda exercemos algum tipo de liberdade

de escolha?

Certamente os que estão em Cristo ainda fazem escolhas voluntárias – isto é,

decidem o que querem fazer e o fazem. Nesse sentido há ainda uma espécie de

“liberdade” nas escolhas que as pessoas fazem. Todavia, por causa da incapacidade

de fazer o bem, da incapacidade de fugir da rebelião contra Deus e por causa da

preferência pelo pecado, os descrentes não possuem liberdade no sentido mais

importante da palavra – isto é, liberdade de fazer o que é certo e de fazer o que é

agradável a Deus.

A aplicação dessa matéria à nossa vida é totalmente evidente: Se Deus dá a alguém

o desejo de arrependimento e de confiança em Cristo, essa pessoa não deve

esperar mais e nem endurecer o seu coração. Essa capacidade de arrependimento

e de fé em Deus não é naturalmente do homem, mas provém da actuação do

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Espírito Santo de Deus, e ela não durar| para sempre. Veja: “Se hoje ouvirdes a voz,

não endureçais o coração, como na rebelião” (Hb. 3:15).

Após reflectimos sobre o pecado e sua origem e as consequências dele na vida do

homem, iremos neste momento passar por questões prévias acerca de dúvidas que

podem suscitar em relação ao pecado.

Essas questões prévias não serão exaustivamente esclarecidas. Esta secção

chamar| de “pecados actuais em nossa vida”.

D. Pecados actuais em nossa vida.

Todas as pessoas são pecadoras perante Deus. Em vários lugares a Escritura

testifica a pecaminosidade universal da raça humana (cf. Sl. 14:3; 1Rs. 8:46; Pv.

20:9; Rm. 3:9-10, 23; 1Jo. 1:8-10)

Há graus de pecado? Existem pecados piores do que os outros? Creio que sim e

que não, depende do sentido em que a pergunta está a ser formulada.

a. Culpa legal.

Em termos de nossa posição legal diante de Deus, qualquer pecado, mesmo o que

possa parecer bem pequeno, torna-nos legalmente culpados perante Deus e,

portanto, dignos de punição eterna. Portanto em termos de culpa legal, nossos

pecados são igualmente maus porque tornam-nos legalmente culpados perante

Deus e constituem-nos como pecadores.

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b. Resultados na vida e no relacionamento com Deus.

Deve-se dizer que alguns pecados são piores que os outros nos sentido que causam

consequências mais danosas na nossa vida e na vida de outras pessoas e, em

termos de nosso relacionamento com Deus. A Escritura fala de graus e seriedade

do pecado. Quando Jesus esteve diante de Pilatos, Ele disse: “…aquele que me

entregou a ti é culpado de um pecado maior” (Jo. 19:11). Jesus est| a relacionar

Pilatos e o pecado do povo com a traição de Judas. Enquanto Pilatos não conhecia a

Jesus, Judas o conhecia, estivera com Ele durante 3 anos.

Por isso creio que o pecado de Judas fora “maior” do que o de Pilatos, pois ele

tinha um outro conhecimento acerca de Jesus.

Em geral podemos dizer que alguns pecados têm consequências mais danosas do

que outros e que desonram mais o nome de Deus do que outros, e por isso creio

que o julgamento será consoante a gravidade dos pecados (na vida dos cristão

regenerados).

Imaginem uma situação em que uma pessoa rouba um carro, isso é pecado e digno

de julgamento. Porém, no roubo o ladrão encontra resistência da parte do dono do

carro e acaba por agredi-lo – o pecado torna-se mais grave. Entretanto, na fuga ele

atropela várias pessoas, mata um policial, etc. As consequências são mais danosas.

Responda a pergunta: Esse ladrão é pecador? É digno de julgamento? Será que o

seu pecado aos olhos de Deus é igual, a de um aluno que fora pego a fazer plágio de

um trabalho na internet?

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O Que acontece quando o cristão (verdadeiro) peca? Embora esse assunto será

tratado mais tarde quando falarmos sobre a santificação na vida cristã, é bastante

apropriado tratar dele neste momento. Quais são os resultados do pecado na vida

do cristão?

a. Nossa posição legal diante de Deus não muda. Quando o cristão peca, sua

posição legal diante de Deus permanece inalterada. Ele é ainda perdoado, pois

“já não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm. 8:1). A salvação

não é baseada nos nossos méritos, mas é o dom livre de Deus (Rm. 6:23), e a

morte de Cristo certamente pagou o preço de todos os nossos pecados –

passados, presentes e futuros.

Além disso, somos ainda filhos de Deus e ainda retemos nossa posição de família

de Deus. O facto de sermos pecadores, porém justificados por Deus mediante Jesus,

não perdemos a nossa condição diante de Dele conquistada por Cristo. Somos

ainda “adoptados” por Ele.

b. Nossa comunhão com Deus é prejudicada e a vida cristã é danificada. Quando

pecamos, embora Deus não cesse de nos amar, Ele fica desgostoso connosco.

Esse facto é sentido também entre os seres humanos. Podemos amar uma

pessoa, porém estarmos desgostosos como ela (ex. pais e filhos; marido e

mulher, etc.). Paulo diz-nos que é possível o cristão entristecer “o Espírito Santo

de Deus” (Ef. 4:30). Quando pecamos nós lhe causamos tristeza e desgosto.

Quando pecamos, não é somente a nossa relação com Deus que fica prejudicada.

Nossa vida cristã e a nossa capacidade de dar frutos também ficam danificadas.

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Jesus adverte-nos: “Nenhum ramo pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer

na videira. Vocês não poderão dar frutos se não permanecerem em mim” (Jo. 15:4).

Quando nos desviamos da comunhão com Cristo por causa de nossos pecados,

diminuímos o grau em que permanecemos em Cristo.

Todavia convém observar que quando pecamos, sofremos a perda da recompensa

celestial. A pessoa que construiu na obra da igreja não com ouro, prata ou pedra

preciosa, mas com “madeira, feno e palha” (1Co. 3:12) ter| a sua obra queimada no

dia do juízo. Paulo entende que “todos nós devemos comparecer perante o tribunal

de Cristo, para que cada um receba de acordo com as obras praticadas por meio do

corpo, quer sejam boas ou sejam más” (2Co. 5:10).

O que significa o pecado imperdoável? Passagens na Escritura falam a respeito

de um pecado que nunca ser| perdoado. Jesus diz: “Por esse motivo eu lhes digo:

Todo o pecado e blasfémia serão perdoados aos homens, mas a blasfémia contra o

Espírito Santo, não será perdoada” (Mt. 12:31-32; cf. Mc. 3:29-30, Lc. 12:10

e Hb. 6:4-6; 10:26-27)

Este espaço está destinado para que os alunos possam fazer os seus

apontamentos acerca do tópico acima citado.

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Perguntas Para Reflexão – Respostas Desenvolvidas

1. Defina o pecado.

2. Explique o termo “culpa herdada”. Como você responderia { objecção de

que esse ensino é injusto?

3. Como o pecado de Adão afectou a natureza humana? Isso significa que todas

as pessoas são tão más quanto poderiam ser? Explique a sua resposta.

4. Que efeito a capacidade de obedecer a Deus tem sobre a nossa

responsabilidade diante de Dele?

5. Quando o cristão peca, como isso afecta a sua posição legal diante de Deus?

6. Qual é a razão primária pela qual Deus pune o pecado?

7. Trace um paralelo entre a tentação enfrentada por Eva e as tentações que

você enfrenta na sua vida cristã?

8. Como o ensino bíblico a respeito dos graus de seriedade do pecado ajudá-

lo-á em sua vida cristã nesse momento?

9. Na tua opinião existem duas forças de igual poder no universo (o bem e o

mal)? Explique a sua resposta.

10. Defina o pecado imperdoável revelado por Jesus em Mt. 12:31-32. Qual

seria a intenção do ensino de Jesus, tendo em conta o contexto da passagem.

Sugestão: Após reflectir nas perguntas leia Salmos 51:1-4 e ore diante do Senhor.

Confesse seus pecados diante Dele e o louve pelas suas misericórdias.

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VI. DOUTRINA DE CRISTO

Capítulo I

A Pessoa de Cristo

“Como Jesus pode ser plenamente Deus e plenamente homem, sendo, todavia, uma só pessoa?”

1. Explicação e Base Bíblica

Podemos resumir o ensino bíblico a respeito da pessoa de Cristo da seguinte

maneira: “Jesus Cristo era plenamente Deus e plenamente homem em uma só pessoa,

e assim será para sempre.” A metodologia deste capítulo será desenvolvida da

seguinte maneira: Primeiramente falaremos da humanidade de Cristo, seguida de

sua divindade, e então demonstraremos como a divindade e a humanidade de

Jesus estão unidas em uma só pessoa.

A. A humanidade de Cristo

Nascimento Virginal. Jesus foi concebido de uma maneira sobrenatural operada

pelo Espírito Santo de Deus. (Mt. 1:18-25; Lc. 1:34-35). Só essa afirmação da

Escritura sobre o nascimento virginal de Cristo dá-nos autorização suficiente para

abraçar essa doutrina. Contudo, existem implicações doutrinárias cruciais do

nascimento virginal que ilustram sua importância. Podemos vê-las ao menos em

três áreas:

a. Ela mostra que em última instância a salvação vem do Senhor. O nascimento

virginal de Cristo é o lembrete inconfundível do facto de que a salvação não

pode nunca vir por intermédio do esforço humano, mas deve ser obra

sobrenatural de Deus. Esse facto estava evidente já no início da vida de Jesus.

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b. O nascimento virginal tornou possível a plena divindade com a plena humanidade

em uma só pessoa. Esse foi o meio que Deus usou para enviar o Seu Filho

(Jo. 3:16; Gl. 4:4) ao mundo como homem. Se pensarmos por um momento em

outras maneira possíveis pelas quais Cristo poderia ter vindo ao mundo,

nenhum deles seria claramente a união entre a divindade e humanidade em

uma mesma pessoa. Provavelmente teria sido possível Jesus ser enviado como

ser humano completo para a terra sem o concurso de qualquer progenitor

humano. Deus poderia fazer isso, pois Ele tem todo o poder. Também Deus

poderia usar Maria e José como os pais de Jesus e em determinada altura unir

miraculosamente sua plena natureza divina com a humana em algum ponto,

mas mesmo assim seria difícil entendermos como Jesus poderia ser

plenamente Deus, já que a sua origem seria igual à nossa em cada detalhe.

Quando pensamos em outras hipóteses, chegamos a conclusão que Deus em

sua infinita sabedoria, ordenou a combinação da influência humana e divina no

nascimento de Cristo, de maneira que sua plena humanidade seria evidente a

partir de seu nascimento como procedente de uma mulher, e a sua plena

divindade seria evidente a partir do facto de sua combinação no ventre de

Maria pela obra poderosa e sobrenatural do Espírito Santo de Deus.

c. O nascimento virginal também torna possível a verdadeira humanidade de Cristo

sem o pecado herdado. Como observamos no capítulo anterior, todos os seres

humanos herdaram do primeiro pai, Adão, a culpa legal e a corrupção da

natureza moral. Mas o facto de que Jesus não teve um pai humano significa que

a linha de descendência de Adão é parcialmente interrompida. Jesus não

descendeu de Adão exactamente da mesma maneira que quaisquer outros

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seres humanos descenderam de Adão. Isso ajuda-nos a entender porque a

culpa legal e a corrupção moral que pertence a todos os seres humanos não se

coaduna na pessoa de Jesus.

Mas porque Jesus não herdou a natureza pecaminosa de Maria? A Igreja Católica

Romana responde a essa pergunta dizendo que Maria estava livre do pecado,

porém em nenhum lugar na Escritura encontramos tal afirmação acerca de alguma

outra pessoa a não ser acerca de Jesus Cristo.

Essa questão é extremamente difícil de responder. Creio que a melhor solução é

dizer que a obra sobrenatural do Espírito Santo de Deus deve ter evitado não

somente a transmissão de pecado de José (pois Jesus não teve um pais humano),

mas também, de maneira sobrenatural, a transmissão do pecado de Maria: “O

Espírito Santo virá sobre você (Maria) […] Assim, aquele que há-de nascer será

chamado Santo, Filho de Deus” (Lc. 1:35)

Fraqueza e limitações humanas de Jesus.

a. Jesus possuía corpo humano. O facto de Jesus possuir corpo humano

exactamente como o nosso corpo é claramente visto em muitas passagens da

Escritura. Ele nasceu exactamente como nasce todos os bebés humanos

(Lc. 2:27). Cresceu da infância até a maturidade exactamente como as demais

crianças “normais” (Lc. 2:40, 52). Jesus se cansava como nós também nos

cansamos, teve sede (Jo. 4:6; 19:28) e fome (Mt. 4:2); ele morreu como todo o

ser humano morre.

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b. Jesus possuía mente humana. Em Lc. 2:52, vemos que Jesus ia “crescendo em

sabedoria”. Isso significa que Ele passou pelo processo de aprendizado

exactamente como todas as outras crianças passam – aprendeu a andar, comer,

a ler e escrever, a ser obediente aos pais, etc.

c. Jesus possuía alma e emoções humanas. Jesus disse ante da sua crucificação:

“Agora, está angustiada a minha alma” (Jo. 12:27). Jesus experimentou grande

de variedade de emoções humanas. Ele “admirou-se” da fé do centurião

(Mt. 8:10), chorou de tristeza com a morte de seu amigo Lázaro (Jo. 11:35);

orou com o coração cheio de emoções, pois “durante os seus dias de vida na

terra, Jesus ofereceu orações e súplicas, em alta voz e com lágrimas, àquele que

podia salvar da morte, sendo ouvido por causa da sua reverente submissão”

(Hb. 5:7-9); irou-se com os mercadores no templo (Jo. 3).

Impecabilidade de Jesus. Embora o NT afirme com clareza que Jesus era

plenamente homem exactamente como nós somos, também afirma que Ele era

diferente num aspecto importantíssimo: Jesus era sem pecado, e nunca pecou

durante toda a sua vida. Satanás foi incapaz de persuadir Jesus a pecar, após os

quarenta dias de tentação. O nosso novo representante deveria permanecer sem

pecado, tal como era a vontade de Deus para Adão, antes de esse pecar. Jesus teve a

autoridade de encarar os judeus e perguntar: “Qual de vocês me pode acusar de

pecado?” (Jo. 8:46). Jesus era a “luz do mundo” – e a luz significa pureza plena e

santidade. Essa luz seria o meio de retirar o homem das trevas em que ele vivia por

causa do pecado. Por isso a luz não poderia ter “trevas” – não existe comunhão

entre elas (Jo. 12:46).

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Paulo fala de Jesus vindo viver como um homem, porém ele esclarece que Jesus

não era um “homem pecador”, antes ele diz que Deus enviou o seu próprio Filho “à

semelhança do homem pecador, como oferta pelo pecado” (Rm. 8:3); ele refere

também Jesus como “aquele que não tinha pecado” (2Co. 5:21).

Para mais informações leia os seguintes texto: Hb. 4:15; 7:26; 1Pe. 1:19; 2:22;

1Jo. 2:1; 3:5).

Perguntas para discussão em aula: (1) Na tua opinião Jesus poderia ter pecado?

Se sim quais as implicações para as nossas vidas? (2) Porque era necessária a plena

humanidade de Cristo?

Escreva aqui suas observações

a. Para exercer a obediência representativa:

b. Para oferecer o sacrifício substitutivo:

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B. A Divindade de Cristo

Para completar o ensino bíblico sobre Jesus, devemos afirmar não somente que Ele

era plenamente homem, mas também que era plenamente divino. Usaremos a

expressão “encarnação” de Jesus Cristo. Embora a palavra não ocorra

explicitamente na Escritura, a igreja tem usado o termo encarnação para referir-se

ao facto de que Jesus era Deus vindo em carne. A encarnação da divindade de

Cristo é bastante ampla no NT. Mais uma vez o propósito desse manual não é ser

exaustivo, e por isso não vamos reflectir em todos os aspectos.

Declarações directas da Escritura. Nesta secção vamos examinar as afirmações

directas das Escritura de que Jesus é Deus ou de que Ele é divino.

a. A Palavra Deus (gr. theos) usada com relação a Cristo. Embora a palavra theos,

“Deus”, seja regularmente reservada no NT para Deus Pai, há no entanto

diversas passagens em que ela é usada também referindo a Jesus. Em todas

essas passagens a palavra “Deus” é usada em um sentido forte para referir-se

àquele que é criador do céu e da terra, o governante sobre todas as coisas

(cf. Jo.1:1, 18; 20:28; Rm. 9:5; Tt. 2:13; Hb. 1:8; 2Pe. 1:1).

b. A Palavra Senhor (gr. kyrios) usada com relação a Cristo. As vezes a palavra

Senhor é usada em vários contextos na língua grega, contudo o que vamos

ressaltar é a sua utilização traduzindo a palavra hebraica Yhwh (Iavé – Senhor).

Essa expressão refere-se a Deus. A utilização de kyrios referindo a Jesus revela a

sua divindade Yhwh (cf. Mt. 3:3; Lc. 2:11; 1Co. 8:6)

c. Outras declarações forte da divindade de Cristo. Além do uso das palavras theos e

kyrios para referir a Cristo, temos outras passagens que declaram fortemente a

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divindade de Cristo. Jesus disse aos seus opositores que “antes que Abraão

existisse EU SOU” (Jo. 8:57-58 – comparar com Êx. 3:14). Jesus estava a requerer

o título de “EU SOU”, pelo qual auto-designou-se o eterno e auto-existente, o

Deus que é a fonte da própria existência e que sempre tem sido e sempre será.

Outra designação da divindade de Jesus encontramos no livro do Apocalipse:

“Eu sou o Alfa e o Ómega, o Primeiro e o Último, o Princípio e o Fim” (Ap. 22:13).

Essa combinação revela na totalidade a Soberania de Jesus tal qual como o Pai.

Outra expressão comum para referir a divindade de Jesus é a expressão “o Filho

do Homem”. Essa expressão aparece 84 vezes somente nos Evangelhos. O

próprio Jesus refere-se a si mesmo pela expressão. Esse termo “o Filho do

Homem” tem o seu contexto em Daniel 7 quando o profeta vê alguém

semelhante a um “Filho de Homem” que “se aproximou do ancião e a quem

foram dados autoridade e glória e o reino; todos os povos, nações e homens de

todas as línguas o adoraram. Seu domínio é um domínio eterno que não acabará,

e seu reino jamais será destruído” (Dn. 7:13-14). Em Mt. 26:64-66, Jesus utilizou

essa expressão e os judeus disseram: “Blasfemou! […] O que acham? É réu de

morte responderam eles”. Aqui Jesus tornou explícita sua forte alegação de ser o

eterno governante do mundo que ficara anteriormente subentendida pela

utilização frequente da expressão “Filho do Homem”.

Evidência de que Jesus possuía atributos da divindade. Somando-se à

afirmação específica da divindade de Jesus observada nas diversas passagens

citadas anteriormente, vemos muitos exemplos das acções de Jesus no tempo em

que viveu entre nós demonstram se carácter divino.

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a. Jesus demonstrou sua omnipotência quando aclamou a tempestade no mar

com apenas uma ordem (Mt. 8:26-27); multiplicou pães e peixes (Mt. 14:19);

transformou água é vinho (Jo. 2:1-11).

b. Ele declarou a sua eternidade quando disse: “eu lhes afirmou que antes de

Abraão nascer, EU SOU!” (Jo. 8:58).

c. A sua omnisciência é revelada pelo conhecimento do pensamento das pessoas

(Mc. 2:8) e por saber “desde o princípio quais deles não criam e que iria o trair”

(Jo. 6:64).

d. O atributo da omnipresença divina de Jesus não é afirmado directamente

durante o seu ministério terreno. Contudo, enquanto olhava para o tempo em

que a igreja seria estabelecida, Jesus pode dizer: “Pois onde se reunirem dois ou

três em meu nome, ali eu estou no meio deles” (Mt. 18:20), e “eu estarei convosco

todos os dias até a consumação dos séculos” (Mt. 28:20).

e. A soberania divina, espécie de autoridade possuída por Deus somente, é vista

no facto de que Ele podia perdoar pecados (Mc. 2:5-7).

f. E por fim, uma outra afirmação clara da divindade de Cristo dá-se por Ele ser

digno de ser adorado (Ap. 19:10; Fl. 2:9-11; Hb. 1:6)

Conclusão: Cristo é plenamente divino. O NT afirma continuamente a plena e

absoluta divindade de Jesus. Ele faz isso em centenas de versículos explícitos que

chamam Jesus de “Deus”, “Senhor” e “Filho de Deus”. Jesus é verdadeiramente

“Emanuel – Deus Connosco” (Mt. 1:23)

Pergunta para discussão na aula: Porque a divindade de Jesus era necessária?

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C. A encarnação: Divindade e humanidade na pessoa única de Jesus Cristo.

O ensino bíblico a respeito da plena divindade e plena humanidade de Cristo é tão

amplo que ambas têm sido aceitas desde os tempos mais antigos da história da

igreja. Mas o entendimento exacto de como a plena divindade e plena humanidade

poderiam ser combinadas em uma só pessoa foi formulada gradualmente pela

igreja e só foi definida no ano 451 d.C. Antes desse período diversas teorias foram

levantadas. Vamos mencionar algumas nesta secção, porém sem discuti-las com

exaustão.

1. Apolinarismo: (Apolinário, bispo de Laodiceia 361 d.C.) ensinou que a

pessoa única de Cristo possuía corpo humano, mas não uma mente humana

ou espírito humano. Esse pertenciam a natureza divina.

Figura 1

Apolinarismo

Natureza

Divina

Corpo

Humano

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2. Nestorianismo: essa doutrina ensinava a existência de duas pessoas

separadas em Cristo; uma humana e uma divina. Esse ensino diverge do

ensino bíblico que aponta Jesus como um única pessoa.

Figura 2

Nestorianismo

3. Monofisismo (eutiquismo): a terceira ideia inadequada de Cristo é chamada

de monofisismo. A ideia de que Cristo possuía somente uma natureza. Essa

doutrina surgiu em oposição ao nestorianismo. O monofisismo sustentava

que a natureza humana de Cristo fora tomada e absorvida pela natureza

divina, de modo que ambas as naturezas foram modificadas em algum grau,

resultando numa espécie de terceira natureza.

Figura 3

Monofisismo ou Eutiquismo

Pessoa

Humana

Pessoa

Divina

Natureza

Humana Pessoa

Divina

Nova

Natureza

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Essa doutrina é contrária a afirmação de que Jesus era plenamente Deus e

plenamente homem, e por isso não poderia ser verdadeiramente o representante e

o substituto do homem na salvação.

Na tentativa de representar a nossa definição de divindade de humanidade de

Jesus que é sustentado pela Bíblia usaremos o seguinte diagrama. Deve-se

esclarecer que isso é apenas uma tentativa. Vejamos o gráfico seguinte.

Natureza Divina Pessoa de Cristo Natureza Humana

Figura 4

Cristologia (Divindade e Humanidade plenas em uma só pessoa)

Concluímos esta secção reforçando que não podemos perder de vista a mensagem

da Bíblia. Ela revela o mais espantoso milagre. O facto de o Filho Unigénito do Deus

infinito, omnipotente e eterno tornou-se homem e juntou-se à natureza humana

para sempre, de maneira que o Deus infinito tornou-se na natureza finita do

homem, permanecerá pela eternidade o mais profundo milagre e o mistério mais

inacessível de todo o universo.

P F

E.S

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Perguntas para Reflexão

1. Mencione três evidências na Escritura acerca da humanidade de Cristo.

2. Porque foi necessário Jesus ser plenamente humano? Mencione duas

razões.

3. Mencione três modos pelos quais a Bíblia explicitamente afirma que Jesus é

Deus ou que Ele é divino.

4. Porque a divindade de Jesus era necessária?

5. Com suas próprias palavras comente a teoria do Apolinarismo,

Nestorianismo e do Monofisismo.

Versículo Para Memorizar:

“E o Verbo fez-se carne e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do

Unigénito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo. 1:14)

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Capítulo II

A Expiação

Era necessário que Cristo morresse?

O que a expiação verdadeiramente realizou?

1. Explicação e Base Bíblica

Podemos definir a expiação da seguinte maneira: A expiação é a obra que Cristo

realizou com a sua vida e morte para obter a nossa salvação.

A. A Causa da Expiação

Qual foi a causa última que fez com que Cristo viesse a este mundo e morresse por

nosso pecados? A fim de encontrar a resposta para essa pergunta, temos que

reporta-nos ao carácter do próprio Deus. E aqui a Escritura aponta para dois de

seus atributos comunicáveis: O Amor e a Justiça divina.

O amor de Deus como causa da expiação é visto na passagem mais conhecida da

Bíblia (Jo. 3:16). Mas a justiça de Deus também requeria que Deus encontrasse o

meio para que a penalidade que nos era devida por causa de nossos pecados fosse

paga, porque Deus não poderia aceitar-nos sem que a pena fosse paga.

Essa foi a razão pela qual Deus enviou Cristo para fazer “propiciação pelos pecados”

(Rm. 3:25) – a saber o sacrifício que suporta a ira de Deus de maneira que o

próprio Deus torna-se “propício” ou favor|vel para connosco.

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Por isso ambos, o amor e a justiça de Deus, foram a causa última da expiação. Sem

amor, Deus nunca teria tomado qualquer iniciativa para redimir-nos; todavia, sem

a justiça de Deus, a exigência específica de que Cristo deveria obter a nossa

salvação morrendo pelos nossos pecados não teria sido satisfeita.

B. A Necessidade da Expiação

Haveria qualquer outro modo de Deus salvar os seres humanos sem ser o de enviar

o Seu Filho para morrer em nosso lugar? Vimos em parte a resposta a essa questão

no capítulo anterior. Porém, antes de respondê-la com mais profundidade,

devemos perceber que não era necessário Deus salvar pessoas, pois Ele não

poupou os anjos que pecaram e os lançou no inferno (2Pe. 2:4). Ele bem poderia

fazer isso com o homem. Ele poderia ter decidido não salvar ninguém.

Porém, mais uma vez vemos o amor de Deus manifesto, porque Ele decidiu salvar

alguns seres humanos, porém o meio de salvação era a morte expiatória de Seu

Filho Unigénito. Por isso a expiação tornou-se necessária, porque sem ela não

haveria salvação ou libertação dos pecados (conferir os textos: Rm. 3:26; Hb. 2:17;

Hb. 9:23-26 e Hb. 10:4).

C. A Natureza da Expiação

Nesta secção, vamos considerar dois aspectos da obra de Cristo: (1) A obediência

de Cristo por nós, sua submissão a todas as exigências da lei em nosso lugar e a

perfeita obediência à vontade de Deus Pai como nosso representante; (2) O

sofrimento de Cristo por nós, no qual Ele tomou sobre si a penalidade pelos

pecados que nos era devida e, como resultado, morreu pelos nossos pecados.

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É importante observar que em ambas as categorias a ênfase primária e a influência

primária da obra da redenção de Cristo não está em nós, mas em Deus Pai. Jesus

obedeceu ao Pai em nosso lugar e satisfez perfeitamente as exigências da lei. Ele

sofreu em nosso lugar, recebendo sobre si a penalidade que Deus Pai teria feito

cair sobre nós. Em ambos os casos, a expiação é vista como objectiva, i.é., alguma

coisa que tem influência primária directamente sobre o próprio Deus. Apenas de

forma secundária ela tem aplicação para nós, e isso somente porque houve um

evento definido no relacionamento entre Deus Pai e Deus Filho que assegurou a

nossa salvação. A obra expiatória de Cristo é um evento complexo que tem

diversos efeitos sobre nós. Ela pode, portanto, ser vista por diversos ângulos

diferentes. Dentre os diferentes termos o NT usa para descrever tais aspectos.

Examinaremos quatro deles. Estes quatros termos demonstram como a morte de

Cristo satisfez as quatro necessidades que temos como pecadores:

(1) Merecemos morrer como penalidade pelo pecado. (2) Merecemos suportar a

ira de Deus contra o pecado. (3) Estamos separados de Deus por causa dos

nossos pecados. (4) Éramos escravos do pecado e do reino de satanás.

Essas quatro necessidades são satisfeitas pela morte de Cristo da seguinte

maneira: (1) Sacrifício: para pagar a penalidade da morte que merecemos por

causa dos pecados, Cristo morreu como sacrifício por nós (Hb. 9:26).

(2) Propiciação: para remover de nós a ira de Deus que merecíamos, Cristo

morreu como propiciação pelos nossos pecados (1Jo. 4:10).

(3) Reconciliação: Para eliminar nossa separação de Deus, precisávamos de

alguém para nos proporcionar a reconciliação e, dessa maneira, trazer-nos de volta

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à comunhão com Deus. (4) Redenção: Porque como pecadores estamos em

escravidão ao pecado e a satanás, necessitávamos de alguém, para proporcionar-

nos a redenção e, dessa maneira “redimir-nos dessa escravidão”. Quando falamos

de redenção a ideia que vem a nossa mente é de resgate. Resgate é o preço pago

para redimir alguém da escravidão ou do cativeiro. Jesus nos resgatou do poder de

satanás e do pecado (Rm. 6:11, 14; Cl. 1:13).

Vimos até agora uma verdade que é incontestável. A Bíblia revela que todos

pecaram e foram separados da glória de Deus, como diz Rm. 3:23, e que

merecíamos a punição eterna de Deus e sobre o facto de que Cristo morreu e

obteve a salvação por nós.

A partir de agora vamos reflectir na maneira pela qual Deus aplica essa salvação à

nossa vida. Iremos falar da obra electiva de Deus, a saber, sua decisão em nos

escolher para que fossemos salvos, eleição que deu-se antes da fundação do

mundo. Esse acto de eleição, naturalmente, não é parte da aplicação da salvação

por nós, visto que ela deu-se antes de Cristo ter obtido a salvação quando morreu

na cruz. A eleição é o início de um processo gracioso no qual Deus na sua infinita

sabedoria resolveu nos salvar. Portanto, é correcto pensar nele como o primeiro

passo no processo de Deus trazer a salvação a nós individualmente.

Os demais passos na obra da aplicação divina da salvação à nossa vida incluem

ouvir o evangelho, a regeneração do Espírito Santo, a resposta com fé e

arrependimento, o consequente perdão e adopção como filhos na família de Deus.

Veremos essas verdades nos capítulos seguintes.

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VII. DOUTRINA DA REDENÇÃO

Capítulo I

A Eleição

Quando e porque Deus nos escolheu?

Há alguns que não são escolhidos?

1. Explicação e Base Bíblica

Eleição é o acto divino antes da criação no qual Deus escolhe algumas pessoas para

serem salvas, não com base em qualquer mérito humano, mas somente por causa de

seu beneplácito soberano. Essa doutrina tem levantado grandes controvérsias

dentro das diversas linhas teológicas dentro das igrejas evangélicas. Muitos

descartam a “tensão” que existe entre a soberania de Deus e a responsabilidade

humana. Este manual não ira descartar essa “tensão” que é sustentada pela Bíblia.

Iremos verificar em primeiro lugar, várias passagens do NT que discutem a eleição.

A seguir, tentaremos entender o propósito de Deus visualizado pelos autores do NT

na doutrina da eleição. Finalmente, tentaremos tornar claro o entendimento dessa

doutrina.

A. O NT realmente ensina a predestinação?

Predestinação é um outro nome usado por eleição. Diversas passagens do NT

parecem afirmar claramente que Deus ordenou de antemão os que haveriam de

ser salvos (cf. Act. 13:48; Rm. 8:28-30; Ef. 1:4-6; 2Ts. 2:13; 1Pe. 1:1; 2:9;

Ap. 13:7-8).

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B. Como o NT apresenta o ensino sobre a eleição?

Após esta vasta lista de versículos sobre a eleição, é importante vermos como o NT a

vê.

Como conforto. Os autores do NT muitas vezes apresentam a doutrina da eleição

como conforto aos crentes. Quando Paulo assegura aos romanos que “Deus age em

toda as coisas para o bem daqueles que são chamados de acordo com o seu

propósito” (Rm. 8:28), ele considera essa obra da predestinação divina com a razão

pela qual podemos ficar seguros dessa verdade. O argumento de Paulo consiste em

que Deus agiu para o bem dos que foram chamados para ele mesmo. O texto em

Rm. 8:29-30 diz que os “que antemão conheceu predestinou para serem á imagem

do Seu Filho”. Dessa forma a predestinação deve ser vista pelos cristãos como um

conforto, pois ela no assegura que Deus escolheu-nos antes da fundação de todas

as coisas, e permanecerá connosco até a consumação de todas elas.

Como razão para louvar a Deus. Paulo diz: “Em amor nos predestinou para

sermos adoptados como filhos por meio de Jesus Cristo, conforme o bom propósito da

sua vontade, para o louvor da sua gloriosa graça, a qual nos deu gratuitamente no

Amado” (Ef. 1:5-6). Essa é a razão pela qual Paulo dá graça em última instância.

Deus é o responsável pela salvação do seu povo; Ele é quem os escolheu para que

fossem salvos. (cf. 2Ts. 2:13).

Entendida dessa maneira, a doutrina da eleição aumenta o louvor que é dado a

Deus pela nossa salvação e diminui consideravelmente qualquer orgulho que

possamos sentir. A eleição não depende de nós, mas sim da omnisciência de Deus.

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Como encorajamento à evangelização. Então se é Deus quem elege as pessoas

porque evangelizar, se Ele irá salvar os eleitos na mesma? Leia 2Tm. 2:10.

O apóstolo Paulo sabe que Deus escolheu pessoas para serem salvas e vê tal facto

como encorajamento para pregar o Evangelho, mesmo que isso signifique suportar

grande sofrimento. A eleição é a garantia de Paulo de que haverá sucesso na

evangelização, pois ele sabe que algumas dessas pessoas a quem ele dirige-se são

eleitas e, por causa disso, elas crerão e serão salvas. É como se alguém convidasse-

nos a uma pescaria e dissesse: “Eu lhes garanto que irão pescar algum peixe – eles

estão famintos e a vossa espera”.

C. Conceitos errados acerca da eleição

Ela não é fatalista nem mecanicista. Fatalismo é um sistema no qual as escolhas

e as decisões humanas realmente não fazem a diferença. No fatalismo, não importa

o que venhamos a fazer, as coisas acontecerão porque tinham que acontecer, como

foi previamente ordenado. É um estilo de determinismo. No mecanicista temos o

quadro de um Universo impessoal no qual todas as coisas que acontecem foram

inflexivelmente determinadas por uma força impessoal que funciona de maneira

mecânica.

Em ambos os casos a personalidade humana e até a nossa humanidade é destruída

e a motivação para a responsabilidade pessoal é removida. Estaríamos reduzidos a

máquinas que simplesmente funcionam de acordo com os planos predeterminados

e responde a causas e influências predeterminadas.

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Em contraste com esses sistemas, o NT apresenta a realização total da nossa

salvação como algo produzido pelo Deus pessoal que relaciona-se com as criaturas

pessoais. Ele “em amor” nos predestinou para sermos seus filhos por adopção

(Ef. 1:5). O acto electivo de Deus não foi impessoal nem mecanicista, mas foi

permeado de amor pessoal por aqueles a quem Ele escolheu. Além do mais,

quando fala a respeito de nossa resposta à oferta do Evangelho, a Escritura

continuamente não nos vê como criaturas mecânicas ou robôs, mas como pessoas

genuínas, que fazem escolhas reais de aceitarem ou “rejeitarem” o evangelho. Veja

o convite de Jesus: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que eu

vos aliviarei” (Mt. 11:28; cf. Ap. 22:17).

Em oposição ao fatalismo podemos argumentar dizendo que a mensagem do NT

revela que somos criaturas que fazemos escolhas deliberadas, e que essas escolhas

são reais e tem consequências reais na nossa vida. Elas afectam nossa vida, e o

destino e vida de outras pessoas. Assim “quem crê não é condenado, mas quem não

crê já está condenado…” (Jo. 3:18).

Será que o destino das outras pessoas depende do nosso testemunho?

(cf. Act. 18:9-11).

A eleição não é baseada no conhecimento antecipado que Deus tem da nossa

fé. É muito comum pessoas concordarem que Deus predestina algumas pessoas

para serem salvas, mas elas argumentam que Ele olha e vê o futuro e vê quem

haverá de crer em Cristo e quem não vai crer. Se Ele vê uma pessoa que irá ter a fé

salvadora, Ele então predestina essa pessoa para ser salva.

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Discussão em Sala de Aula: Reflicta neste ponto e tente argumentar contra essa

posição.

D. Objecções à doutrina da Eleição

Como foi apresentada a doutrina da Eleição ela vem sendo comummente aceite

dentro da comunidade cristã evangélica em sua grande maioria, porém existem

algumas objecções a essa doutrina.

Pede-se a cada aluno para interagir com essas objecções.

Eleição significa que não temos a escolha de aceitar ou de rejeitar a Cristo.

Segundo essa objecção, a doutrina da eleição nega todos os convites do evangelho

que apelam para a vontade do homem e que pedem às pessoas para fazer uma

escolha aceitando o convite de Cristo ou não.

Argumentar contra essa objecção:

A Doutrina da eleição significa que os descrentes nunca tiveram uma

oportunidade de crer. Essa objecção diz que Deus decretou desde a eternidade

que algumas pessoas haveriam de crer, então nunca houve uma oportunidade

genuína para que elas cressem, e o sistema inteiro funciona de modo injusto.

Argumentar contra essa objecção:

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A eleição é injusta. Algumas pessoas consideram a doutrina da eleição injusta, já

que ela ensina que Deus escolhe alguns para serem salvos e deixa outros de lado,

decidindo não salvá-las. Como isso pode ser justo?

Argumentar contra essa objecção:

E. A Doutrina da Reprovação

Quando entendemos a eleição como escolha soberana de Deus de salvar algumas

pessoas, há necessariamente outro aspecto dessa escolha, a saber, a decisão

soberana de Deus de não contemplar outras pessoas com a salvação. Essa decisão

de Deus na eternidade passada é chamada de reprovação. Reprovação é a decisão

soberana de Deus antes da criação de deixar de lado algumas pessoas, decidindo com

tristeza não salvá-las e puni-las por seus pecados, manifestando desse modo a sua

justiça.

Em muito aspectos, a doutrina da reprovação é o mais difícil de todos os ensinos da

Escritura para o nosso entendimento e aceitação, porque ela trata das

consequências horríveis e eternas para seres humanos feitos à imagem de Deus. O

amor que Deus nos dá e pelas outras pessoas e também o amor que Ele ordena que

tenhamos para com o nosso próximo faz-nos reagir contra esse ensino, e é correcto

que sintamos certo temor só em contemplá-lo. Não gostaríamos de crer em tal

doutrina e não creríamos nela se a Escritura não ensinasse a claramente.

Mas há passagens na Escritura que falam de tal decisão divina? Sim. Judas fala que

pessoas, “cuja condenação já estava sentenciada há muito tempo, infiltraram-se

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dissimuladamente no meio de vós. Estes são ímpios, e transformaram a graça de

nosso Deus em libertinagem e negam a Jesus Cristo, nosso único Soberano e Senhor”

(Jd. 4).

Além disso, Paulo fala do mesmo modo de Faraó e de outros: “Pois a Escritura diz

ao Faraó: Eu o levantei exactamente com este propósito: mostrar em você o meu

poder, e para que o meu nome seja proclamado em toda a terra. Portanto, Deus tem

misericórdia de quem Ele quer, e endurece a quem Ele quer, […] E se Deus, querendo

mostrar a sua ira e tornar conhecido o seu poder, suportou com grande paciência os

vasos de sua ira, preparados para a destruição” (Rm. 9:17-22; cf. Rm. 11:7).

A despeito do facto de reagirmos contra essa doutrina, devemos ser cuidadosos em

nossa atitude para com Deus e para com essas passagens da Escritura. Nunca

devemos sequer começar a desejar que a Bíblia tivesse sido escrita de outra

maneira ou que não contivesse esses versículos.

Pode ser de grande ajuda para nós o reconhecimento de que, de alguma maneira,

na sabedoria de Deus, o facto da reprovação e da condenação eterna de alguns

mostre a justiça de Deus e também resulte em sua glória. Na passagem acima a

expressão “vasos de ira” serve para demonstrar a grandeza da misericórdia de

Deus para connosco. Ele faz isso “para tornar conhecidas as riquezas de sua glória

aos vasos de sua misericórdia, que preparou de antemão para glória” (Rm. 9:23).

Devemos também lembrar-nos de que há importantes diferenças entre eleição e

reprovação da maneira como são apresentadas na Bíblia.

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A eleição para a salvação é vista como motivo de regozijo e louvor a Deus, que é

digno de louvor e recebe todo crédito pela nossa salvação (Ef. 1:3-6; 1Pe. 1:1-3).

Mas a reprovação é vista como algo que traz tristeza a Deus, não prazer (Ez. 33:11),

e a culpa pela condenação de pecadores é sempre colocada sobre os homens ou

anjos caídos e nunca no próprio Deus (Jo. 3:18-19; 5:40). Assim, na representação

da Escritura, a causa da eleição está em Deus, e a causa da reprovação repousa no

pecador.

A eleição está baseada na graça de Deus, ao passo que a reprovação é a justiça de

Deus. Portanto, não existe “dupla predestinação” (uma para vida e outra para

morte).

F. Aplicação prática da doutrina da eleição

Em termos do nosso relacionamento com Deus a doutrina da eleição tem

realmente uma aplicação prática e significativa.

Quando pensamos no ensino bíblico tanto da eleição quanto da reprovação, é

apropriado aplicá-lo a nossa vida individualmente. É correcto cada cristão

perguntar a si mesmo: “Porque sou cristão? Qual é a razão final pela qual Deus

decidiu salvar-me?”

A doutrina da eleição afirma que eu sou cristão simplesmente porque Deus na sua

eterna sabedoria decidiu colocar o seu amor sobre mim. Mas porque Ele decidiu

colocar o seu amor sobre mim? Certamente por nada de bom em mim mesmo, mas

simplesmente porque Ele decidiu me amar.

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Não existe outra explicação para tal. Ao pensar dessa maneira nos humilhamos

diante de Deus. Faz-nos perceber que não temos nenhuma reivindicação e o que

seria de nosso direito era a condenação eterna.

Nossa salvação é exclusivamente operada pela graça maravilhosa de Deus.

Perguntar para Reflexão (Entregar numa Folha A4)

1. Defina a doutrina da eleição e dê três evidências do NT para apoiar essa

doutrina.

2. A eleição divina é baseada na presciência da fé que as pessoas haveriam de

ter no futuro? Explique a sua resposta.

3. Qual é a relação entre a eleição e a escolha pessoal de cada um em aceitar a

Cristo?

4. Quais as diferenças que a Escritura apresenta entre a doutrina da eleição e a

doutrina da reprovação?

5. Como irias contra-argumentar com essa frase: “A doutrina da eleição é

injusta”? Pede-se uma resposta desenvolvida.

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Capítulo II

O Chamado do Evangelho e Regeneração

Qual é a mensagem do Evangelho e como ele torna-se eficaz?

O que significa nascer de novo?

1. Explicação e Base Bíblica

Quando Paulo fala a respeito do modo em que Deus traz a salvação à nossa vida, ele

diz: “E aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também justificou;

aos que justificou, também glorificou” (Rm. 8:30). Aqui Paulo ressalta uma ordem

definida na qual as bênçãos da salvação vêm até nós. Embora muito tempo atrás,

quando o mundo ainda não existia, Deus nos tenha predestinado para que

fossemos feito seus filhos e para que nos conformássemos (no sentido de

adequássemos) à imagem do seu Filho. Aqui Paulo salienta o facto de que, no

desenvolvimento real do seu propósito em nossas vidas, Deus nos “chamou”. Então

Paulo imediatamente cita a justificação e a glorificação e, demonstra que essas

coisas vêm após o chamado eficaz. Paulo indica que existe uma ordem definida do

propósito salvador de Deus.

A. O Chamado Eficaz

Quando Paulo diz: “aos que predestinou, também chamou; aos que chamou, também

justificou”, ele assinala que o chamado é um acto divino. É de facto um acto de Deus

Pai, pois é Ele quem predestina as pessoas “para serem conforme à imagem de seu

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Filho” (Rm. 8:29). Deus chama as pessoas “das trevas para a sua maravilhosa luz”

(1Pe. 29).

Ele as chama “à comunhão com seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Co. 1:9). São

chamados para “serem santos” (Rm. 1:7); para suportar o sofrimento (1Pe. 2:20-21;

3:9) e para desfrutar a vida eterna (1Tm. 6:12).

Esses versículos indicam que esse não é um chamado sem poder ou meramente um

chamado humano. Esse chamado é antes uma espécie de “convocação” vinda da

parte do Rei do Universo e tem tal poder que exige uma resposta dos corações

humanos.

É o acto divino que garante a resposta, porque Paulo especifica em Rm. 8:30 que

todos foram chamados foram também justificados. Esse chamado tem a capacidade

de retirar-nos do reino das trevas e de transportar-nos ao Reino de Deus; atraindo-

nos para a plena harmonia com Ele: “Fiel é Deus, o qual os chamou à comunhão com

seu Filho Jesus Cristo, nosso Senhor” (1Co. 1:9). Esse acto poderoso de Deus d|-se o

nome de vocação eficaz. Uma definição mais detalhada da vocação eficaz: “é o acto

em que Deus Pai fala por meio da proclamação humana do Evangelho, pelo qual Ele

convoca as pessoas para si mesmo de tal maneira que elas respondem com fé

salvadora”. É importante esclarecer um ponto: As pessoas não serão salvas pelo

poder dessa vocação sem que aconteça a resposta deliberada da parte delas ao

Evangelho.

O chamado eficaz revela que Deus actua de maneira particularmente eficaz na vida

dos seus eleitos, dando-lhes condições para reagir com arrependimento e fé à

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mensagem do Evangelho. Eu creio que Deus na vida dos que são predestinados

para a salvação actua de tal maneira no coração que essas pessoas são incapazes

de negar ao Senhor ou de responderem negativamente ao Evangelho. Porém a

decisão é tomada deliberadamente pela pessoa.

Discussão na aula: Ler 1Co. 2:6-16 e fazer comentário sobre a passagem, tendo

em conta o chamado eficaz.

B. Os Elementos do Chamado do Evangelho

Três elementos importantes devem ser incluídos na pregação do Evangelho: (1)

Qualquer pessoa que venha a Cristo para salvação dever ter ao menos o

entendimento de quem é Cristo e como Ele satisfaz a nossa necessidade de

salvação. Sabemos que todos pecaram (Rm. 3:23); que a pena do pecado é a morte

(Rm. 6:23); e que Jesus morreu para pagar a pena requerida pelos nossos pecados

(Rm. 5:8). Mas o entendimento desses factos e mesmos a concordância de que eles

são verdadeiros não são suficientes para uma pessoa ser salva; (2) Tem que haver

um convite para responder a Cristo pessoalmente em arrependimento e fé. O NT

sempre apresenta a salvação em termos pessoais, isto é, uma resposta consciente e

pessoal ao Evangelho de Jesus (Mt. 11:28-30). O evangelista João (Jo. 1:11-12) diz

que Jesus veio para os seus e eles não o receberam, porém os que receberam a

Jesus foram feitos filhos de Deus. Uma resposta pessoal (cf. Ap. 3:20); (3) Embora

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as palavras do convite pessoal de Cristo contenham promessas de descanso, poder

para tornar-nos em filhos de Deus e acesso à água da vida, é útil tornar explícito

exactamente o que Cristo promete aos que vêm a Ele em arrependimento e fé

(Jo. 3:16). Juntamente com as promessas de vida eterna e perdão de pecados, o

cristão deve ter a confiança plena de que os vêm a Cristo com sinceridade de

coração em busca de salvação e fé Ele diz: “e quem vier a mim eu jamais o rejeitarei”

(Jo. 6:37).

A importância da doutrina do Chamado do Evangelho esclarece a maneira que

Deus está a agir nos corações do homem. No aspecto da salvação ela não acontece

automaticamente, apesar da eleição divina. A salvação é uma resposta consciente

da parte do homem que compreende a mensagem do Evangelho e responde a ele

favoravelmente, através de sua decisão pessoal.

O chamado eficaz é um convite ao arrependimento e a fé, para que o homem decida

abandonar a vida pecaminosa e receber a Cristo como Salvador e Senhor. Quando a

resposta acontece dizemos que o homem nasceu de novo.

Mas o que significa nascer de novo? A partir desse ponto esclareceremos a

doutrina que dá-se o nome de Regeneração.

Podemos definir regeneração da seguinte maneira: Regeneração é o acto secreto de

Deus pelo qual Ele comunica-nos uma nova vida espiritual (nascer de novo).

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C. Regeneração é totalmente obra de Deus

Ela é a transformação que Deus opera nos indivíduos que crêem em Jesus. Seu acto

de conceder uma nova vitalidade e direcção espiritual à vida dos que recebem a

Cristo. Sem Cristo o ser humano está morto em seus delitos e pecados, separado de

Deus e necessita de uma transformação espiritual. Na obra da regeneração o

homem não tem nenhum papel activo (cf. Jo. 1:13) Nessa passagem João revela que

os que nasceram de novo nascem segundo a vontade de Deus e não dos homens.

O facto de sermos passivos na regeneração fica também evidente quando a

Escritura refere-se a ela como “gerar” ou “nascer de novo” (Tg. 1:18; 1Pe. 1:3;

Jo. 3:3-8). Nós também não escolhemos tornar vivos fisicamente e nem escolhemos

nascer - isso simplesmente aconteceu.

A obra soberana de Deus na regeneração também é predita pelo profeta Ezequiel:

“Darei a vocês um novo coração e porei em vós um novo espírito; tirarei o vosso

coração de pedra e lhes darei um coração de carne. Porei em vós o meu Espírito e os

levarei a agir segundo os meus decretos e obedecerem fielmente às minhas leis”

(Ez. 36:26-27).

Na regeneração a pessoa da Trindade que está mais activa no processo é o Espírito

Santo. Jesus disse a Nicodemos que ele deveria “nascer do Espírito” (cf. Jo. 3:8),

porém Deus Pai e Jesus estão activos na regeneração (cf. Ef. 2:5; 1Pe. 1:3).

Mas quando a regeneração acontece na vida do crente? Ante ou depois da vocação

eficaz?

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Se tivermos em conta que a regeneração é uma nova vida, tal como está revelada

na Bíblia, e tendo em conta a incapacidade do homem responder a Deus de

maneira favorável ao Evangelho, chegamos a conclusão que a regeneração deve

acontecer num momento antes do homem responder ao chamado do Evangelho.

Ela vem antes do resultado da vocação eficaz (nossa fé), porém é difícil especificar

a relação temporal exacta entre a regeneração e a proclamação humana do

Evangelho por meio do qual Deus opera a vocação eficaz.

A isso dá-se o nome de graça irreversível. Nela está envolvida a eleição

incondicional de Deus e a depravação total do homem. Ela indica que a obra

operada por Deus alcançando corações produz uma resposta absolutamente

favorável e positiva ao chamado do Evangelho – muito embora a resposta da parte

do homem seja consciente e voluntária. Para uma maior clarificação devemos ter

em conta seis implicações: (1) A natureza humana não pode ser mudada por

reformas sociais ou pela educação. Precisa ser transformada por uma obra

sobrenatural do Deus Triúno; (2) Ninguém pode predizer ou controlar quem vai

experimentar o novo nascimento. Em última análise, é obra de Deus; mesmo a

conversão depende do chamado eficaz; (3) O início da vida cristã exige um

reconhecimento de que se é pecador e uma decisão de abandonar o estilo de vida

egocêntrico, porém ninguém chega a essa conclusão se não acontecer uma acção

prévia da parte de Deus na vida do homem; (4) A fé salvadora exige uma crença

correcta acerca da natureza de Deus e do que ele fez. A crença correcta, porém é

insuficiente, é preciso também que a pessoa comprometa-se de maneira activa com

Deus; (5) A experiência de conversão de um pode ser radicalmente diferente do

outro. O importante é que haja arrependimento verdadeiro e fé genuína; (6) O

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novo nascimento não é percebido quando ocorre. Ante, vai demonstrar sua

presença ao produzir uma nova sensibilidade às coisas espirituais; uma nova

direcção na vida e uma capacidade crescente de obediência a Deus.

Concluímos que a regeneração, ainda que seja um grande mistério, ela é uma

realidade e sustentada biblicamente. Ela é a capacidade espiritual de responder a

Deus com fé. Assim Deus envia o chamado eficaz, nos regenera e respondemos com

fé e arrependimento a esse chamado.

Perguntas para Reflexão (Entregar numa Folha A4)

1. À luz da doutrina da eleição, o chamado do evangelho é realmente

necessário? Porque?

2. Você pode lembrar a primeira vez em que ouviu o evangelho e como

respondeu a ele? Pode descrever o que sentiu no coração? Você crê que o

Espírito Santo esta a agir para tornar eficaz o chamado do evangelho em sua

vida? Você resistiu a ele naquela época?

3. Uma pessoa pode exercer qualquer papel activo na regeneração? Explique.

4. Qual é o relacionamento entre regeneração e a fé salvadora?

5. Uma pessoa pode ser regenerada e não demonstrar evidência nenhuma em

sua vida? A resposta deve ser fundamentada com a Escritura.

Versículo para Memorizar: “Jesus respondeu: Em verdade, em verdade te digo

que quem não nascer de novo, não pode ver o Reino de Deus” (Jo. 3:3).

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Capítulo III

Justificação e Santificação

Como e quando recebemos o direito legal de estar diante de Deus?

Como crescemos em maturidade cristã?

1. Justificação: Explicação e Base Bíblica

Nos capítulos anteriores falamos a respeito do chamado do Evangelho (pelo qual

Deus chama-nos para a confiança em Cristo e salvação Nele), da regeneração (pela

qual Deus comunica-nos nova vida espiritual) e da conversão (pela qual

respondemos ao chamado do Evangelho com arrependimento e fé em Jesus para

sermos salvos). Mas o que dizer a respeito da culpa dos nossos pecados? O

chamado do Evangelho convidou-nos a participar do perdão dos pecados. A

regeneração tornou possível responder ao convite. Na conversão demos nossa

resposta, confiando em Jesus para perdão dos nossos pecados. Agora o próximo

passo no processo da aplicação da redenção é que Deus deve responder à nossa fé

e fazer o que prometeu, isto é, realmente declarar que nossos pecados estão

perdoados. Tal passo deve ser uma declaração legal acerca de nosso

relacionamento com a lei de Deus, afirmando que estamos completamente

perdoados e que não somos mais passíveis de punição.

É extremamente importante para a fé cristã um entendimento correcto da

justificação. Ela vem somente pela fé. E tal como o a vocação eficaz, a justificação é

uma obra operada totalmente por Deus. Ela provém da fé (Rm. 5:1).

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Mas o que é realmente justificação?

Nossa definição: Justificação é o acto legal e instantâneo de Deus pelo qual Ele (1)

considera nossos pecados perdoados e a justiça de Cristo pertence a nós e (2)

declara-nos justos diante Dele. Iremos ver passo a passo essa definição a seguir.

A. A Justificação inclui a declaração legal feita por Deus

O uso da palavra justificar na Bíblia indica que a justificação é a declaração legal da

parte de Deus. Vem do verbo (gr. dikaioó), que no NT tem uma vasta gama de

aplicações, porém a mais comum é “declarar justo”.

A ideia de justificação é um termo legal e fica totalmente evidente quando a

justificação é contrastada com a condenação. Paulo diz: “Quem fará acusação

contra os escolhidos de Deus? É Deus quem os justifica. Quem os condenará?”

(Rm. 8:33-34). Condenar é declarar alguém como culpado; justificar é exactamente

o contrário – declarar justo. É uma declaração tipo forense (judicial).

É importante esclarecer que essa declaração legal da parte de Deus em si mesma

não muda a nossa natureza interna ou nosso car|cter. Nesse sentido de “justificar”,

Deus emite uma declaração legal a nosso respeito.

Exemplificando seria o mesmo que Deus do seu alto e sublime trono olhasse para

os nossos pecados (e os chamaremos de dívidas) e declarasse que já não éramos

devedores para com Ele, pois Ele mesmo estava a pagar a nossa dívida (nossos

pecados).

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B. Deus declara-nos justos diante de seus olhos

Na declaração legal da justificação que Deus faz, Ele declara especificamente que

somos justos aos seus olhos. Essa declaração envolve dois aspectos:

Primeiro, significa que Ele declara que não temos nenhuma penalidade a ser paga

pelo pecado, incluindo os pecados passados, presentes e futuros (cf. Rm. 8:1).

Nesse sentido os que são justificados não têm penalidade alguma a pagar por causa

do pecado. Isso significa que não estamos mais sujeitos a nenhuma condenação.

Em segundo lugar além de nos justificar (pagar nossas dívidas), Deus nos imputou

sua justiça, isto é, o saldo devedor que tínhamos para com Ele foi saldado, porém

ainda mais, recebemos créditos na nossa conta. Iremos apresentar nessas duas

figuras abaixo os aspectos da justificação:

Figura 1 FIGURA 1 FIGURA2

O perdão de pecados é uma parte da justificação A imputação da justiça de Cristo a nós é a outra parte da

justificação

C. Deus pode declarar-nos justos porque ele credita a justiça de Cristo a nós

Quando dizemos que Deus credita a justiça de Cristo a nós, isso significa que Deus

considera a justiça de Cristo a nossa justiça. Ele a “lança como crédito” em nossa

conta. Dessa maneira a justiça de Cristo torna-se nossa justiça. (cf. figura 2 e Leia

Rm. 4:5-6.)

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É essencial para o”coração” do Evangelho insistir em que Deus declara-nos justos

não com base na nossa condição real de justiça ou santidade, mas antes com base

na perfeita justiça de Cristo, que Deus considera como nossa. Esse é ponto focal

que diferencia os protestantismos e o catolicismo.

Nós insistimos que a justificação não nos muda internamente e não é uma

declaração baseada em qualquer bondade que tenhamos em nós mesmos. Ela vem

inteiramente a nós pela graça de Deus e não nos méritos humanos. A graça

significa “favor imerecido”.

Deus sabia que éramos completamente incapazes de ganhar o seu favor pelos

nossos méritos, e de nos declararmos justos. Então, Ele pela sua graça envia o

único meio de salvação, Jesus, totalmente a parte de qualquer boa obra humana.

Por isso é que dizemos que a salvação é por meio da graça, mediante a fé. Essa

mensagem é sustentada pela Bíblia (cf. Ef. 2:8-9).

Segue abaixo duas implicações práticas da justificação somente pela fé: (os alunos

deverão tomar os devidos apontamentos)

Primeiro, essa doutrina capacita-nos a oferecer esperança.

Segundo, essa doutrina dá-nos confiança.

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2. Santificação: Explicação e Base Bíblica

Vimos que a justificação é a declaração legal da parte de Deus em que somos

declarados justos e recebemos a justiça de Cristo. Essa justificação não muda o

nosso carácter. Nesse momento iremos nos voltar para parte da aplicação da

redenção que é progressiva; a que Deus continua a fazer durante toda a nossa vida

terrena. Ela é também a obra na qual Deus e o homem cooperam, cada um

exercendo um papel diferente. Essa parte da aplicação da redenção é chamada de

santificação: Santificação é a obra progressiva de Deus e do homem que torna-nos

mais e mais livres do pecado e iguais a Cristo.

A. Diferença entre Justificação e Santificação

Justificação Santificação

Posição Legal Condição Interna

Ocorre uma só vez Continua pela vida afora

Inteiramente obra de Deus Nós Cooperamos

Perfeita nesta vida Não perfeita nesta vida

A mesma em todos os cristãos Maior em uns do que em outros

Como a santificação é algo que continua ao longo da vida cristã. O curso normal da

vida do cristão sempre envolverá o contínuo crescimento em santificação, algo que

o NT encoraja-nos a observar bem e a nos esforçar para atingir.

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B. Três estágios da Santificação

A santificação tem um começo definido na santificação. Uma mudança moral

ocorre em nossa vida no tempo da regeneração, pois Paulo fala a respeito do “lavar

regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt. 3:5). Uma vez que nascemos de

novo, não podemos continuar a pecar como hábito ou padrão de vida (1Jo. 3:9),

porque o poder da nova vida espiritual interior livra-nos de fazer concessões à

vida de pecado.

Essa mudança moral inicial é o primeiro estágio na santificação. Nesse sentido, há

alguns tipos de sobreposição entre a regeneração e a santificação, pois essa

mudança moral é realmente parte da regeneração. Esse passo inicial da

santificação envolve a quebra definitiva do poder dominante do pecado e do

“amor” ao pecado, de maneira que o crente não é mais dominado ou governado

pelo pecado (cf. Rm. 6:11-14, 18). Nesse contexto estar morto para o pecado ou ser

liberto do pecado envolve o poder de vencer os actos ou os padrões de conduta

pecaminosa na própria vida. Isso significa que a virtude do Espírito Santo na vida

dos crentes em Jesus e a sua justiça imputada, capacita-nos a vencermos as

tentações e as seduções do pecado. O pecado não é mais o senhor, como era antes

de o cristão ser regenerado por Jesus.

Em termos práticos, isso significa que devemos afirmar duas verdades. Por um

lado, nunca seremos capazes de dizer “estou completamente livre do pecado”,

porque a nossa santificação aqui na terra nunca será completa. Por outro lado,

nunca devemos dizer, por exemplo, “este pecado derrotou-me; eu desisto. Faz 37

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anos que tenho esse temperamento explosivo, serei assim até morrer, e as pessoas

vão ter que me tolerar dessa maneira!” Qual o perigo de uma pessoa dizer isso?

A santificação aumenta durante nossa existência. Muito embora o NT fale a

respeito do começo definido da santificação, ele também a vê como processo que

continua ao longo de toda a vida cristã. Esse é o sentido primário no qual a

santificação é usada na teologia sistemática e no diálogo em geral entre os cristãos

hoje. Embora, Paulo diga que seus leitores tinham sido “libertos do pecado”

(Rm. 6:18) e que eles estavam “mortos para o pecado, mas vivos para Deus em

Cristo Jesus” (Rm. 6:11), ele reconhece que o pecado permanece em suas vidas, de

maneira que lhes diz que não deixem o pecado reinar nem ofereçam os membros

do seu corpo para o pecado (cf. Rm. 6:12-13). A tarefa de todo cristão é crescer

mais e mais em santificação, exactamente como antes eles haviam crescido mais e

mais em pecado (cf. Rm. 6:19).

Ao longo da vida cristã estamos em constante crescimento (2Co. 3:18); estamos a

tornar-nos mais semelhante a Cristo (cf. Fl. 3:13-14).

A Santificação nunca será completa nessa vida. Porque há pecado que ainda

permanece em nosso coração, mesmo depois de tornarmo-nos cristãos. Porém

quando morremos e vamos para o Senhor, então nossa santificação é em certo

sentido completa (Hb. 12:23), ainda embora falta a ressurreição corporal que

acontecerá somente quando Jesus retornar, aí então nesse ponto era será

completamente perfeita (2Co. 7:1; Ts. 5:23)

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Santidade perfeita

Morte

Vida Cristã (Crescimento)

Conversão

C. Deus e o homem cooperam na santificação

Nesse ponto convém esclarecer que não estamos a dizer que os papéis são iguais

no processo de santificação ou que ambos operam da mesma maneira, mas

estamos a dizer que simplesmente existe uma cooperação com Deus de maneira

apropriada à nossa posição de filhos de Deus. A Escritura enfatiza essa cooperação.

Vejamos os papéis de cada um no processo de santificação:

O papel de Deus na santificação. Visto que a santificação é primeiramente obra

de Deus, é natural que Paulo ore: “Que o próprio Deus da paz vos santifique

inteiramente” (1Ts. 5:23). O papel específico de Deus consiste em disciplinar os

seus filhos. Ele é quem opera o querer e o efectuar (Fl. 2:13), isto é, Deus causa o

desejo (querer) do por sua vontade e lhe dá o poder para executá-la (efectuar).

O nosso papel na santificação. O papel que exercemos é tanto passivo, no sentido

de que dependemos de Deus para nos santificar, quanto activo, no sentido de que

Escravos do Pecado

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lutamos para obedecer a Deus e dar passos que aumentarão a nossa santificação –

crescimento espiritual.

Primeiro, o que poder ser o papel “passivo” que exercemos na santificação é visto

em texto que encorajam-nos a confiar em Deus ou a orar pedindo que Ele nos

santifique. Muitas vezes o processo passivo do homem é super-enfatizado. Existem

pessoas que pensam que a santificação depende inteiramente de Deus. A frase

“Deixe Deus agir” é entendida como um sumário de como devesse viver a vida

cristã. Pensar dessa maneira é uma distorção trágica da doutrina da santificação,

pois trata somente de um aspecto do processo. Esse pensamento poderá conduzir

os crentes a tornarem-se preguiçosos e negligentes na vida cristã.

O papel activo é indicado em Rm. 8:13, quando Paulo diz: “mas, se pelo Espírito

fizerem morrer os actos do corpo, viverão”. Aqui o apóstolo reconhece que é “pelo

Espírito” que somos capazes de fazer isso. Mas ele também diz que nós devemos

fazê-lo! Não é o Espírito Santo que recebe a ordem de mortificar os desejos da

carne, mas os cristãos! Existem vários aspectos desse papel activo que exercemos

na santificação. Não iremos relatar todos, todavia, segue algumas passagens

bíblicas que sustentam a nossa posição: Hb. 12:14; 1Ts. 4:3; 1Jo. 3:3; Rm. 12:1;

13:14; Ef. 4:17; 6:20; Fl. 4:4-9; Cl. 3:5; 4:6; 1Pe. 2:11; 5:11, etc.

O NT não sugere quaisquer atalhos pelos quais possamos crescer em santificação,

mas simplesmente encoraja-nos repetidamente a entregarmo-nos aos antigos e

honrados meios de ler a Bíblia e de meditar nela (Sl. 2; Mt. 4:4; Jo. 17:17), à oração

(Ef. 6:18; Fl. 4:6), à adoração (Ef. 5:18-20), ao testemunho (Mt. 28:19-20), à

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comunhão cristã (Hb. 10:24-25) e à autodisciplina ou domínio próprio

(Gl. 5:23; Tt. 1:18).

É importante que continuemos a crescer tanto em nossa confiança em Deus para

santificarmo-nos como em nossa luta activa e diária por santidade e pela

obediência maior em nossa vida. Devemos manter a fé e a diligência em obedecer a

Deus. O cantor cristão tem um excelente hino que revela essa verdade: “Crer e

Observar, tudo quanto ordenar. “O fiel obedece ao que Cristo mandar!”

(Hino 301 C.C.).

Para concluir esse tópico, deve-se revelar a alegria da santificação. Quanto mais

crescemos em semelhança a Cristo, mas experimentamos a “alegria” e a “paz” que

são parte dos frutos do Espírito (Gl. 5:22) e mais aproximamo-nos da espécie de

vida que teremos no céu.

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Perguntas Para Reflexão (Entregar numa Folha A4)

Trabalho em Grupo

1. Descrever pelo menos três modos pelos quais a santificação difere da

justificação.

2. Quais os três estágios da santificação? E explique se ela pode ser alcançada

nessa vida?

3. Mencione pelo menos 5 motivos para obedecer a Deus. Cada motivo desse

ser fundamentado com passagem Bíblica.

4. Faça uma pesquisa dentro da congregação com a seguinte pergunta:

“Numa escala de 0 a 10, sendo 0 pouco crescimento e 10 crescimento perfeito,

gostaria de saber em que posição espiritual você se encontra?”

5. Cada integrante do grupo deverá responder a pergunta: Você pode se

lembrar do início do processo de santificação de sua vida? Você tem

percebido a ruptura clara do poder dominante e do amor ao pecado em sua

vida? Você realmente crê que nesse momento você está morto para o poder

dominante do pecado e tem recebido a força necessária para crescer em fé?

6. Quais são os dois factores envolvidos na declaração de justificação feita por

Deus?

7. Explique a diferença entre a posição protestante acerca da justificação e o

entendimento católico romano tradicional. (Pergunta de pesquisa)

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VIII. Doutrina da Igreja

Capítulo I

Sua Natureza e Propósitos

Quais são os propósitos de uma Igreja?

Como reconhecer uma verdadeira Igreja?

O que torna uma Igreja mais ou menos agradável a Deus?

1. Explicação e Base Bíblica

A. A natureza da Igreja

Definimos igreja da seguinte maneira: Igreja é a comunidade de todos os

verdadeiros crentes em todas as épocas. Com essa definição entendemos que a

igreja é composta de todos os que verdadeiramente são salvos. Em Ef. 5:25, Paulo

revela que “Cristo amou a sua igreja e se entregou por ela”. Então a expressão

“igreja” aplica-se a todos aqueles por quem Cristo morreu a fim de redimi-los,

todos os que são salvos pela morte de Cristo e que crêem que Ele seja esse único

salvador. Inclui todos os crentes de todas as épocas tanto do período do VT como do

NT e pós-NT. Ela é edificada pelo próprio Cristo (Mt. 16:18).

Esse processo de edificação é apenas a continuação do padrão estabelecido por

Deus no AT, quando Ele chamou para si mesmo para serem uma assembleia

adoradora perante Ele (cf. Dt. 4:10 - O dia em que estiveste perante o Senhor teu

Deus em Horebe, quando o SENHOR me disse: Ajunta-me este povo, e os farei ouvir as

minhas palavras, e aprendê-las-ão, para me temerem todos os dias que na terra

viverem, e as ensinarão a seus filhos).

A palavra “reunir ou ajuntar” (heb. q’ahal) é a mesma que “congregação ou

assembleia” (gr. ekklésia), que significa “igreja”. Vejam relação entre Israel e Igreja

nos autores do NT: Ex. Actos 7:38.

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B. A Igreja é invisível, todavia Visível

Em sua verdadeira realidade espiritual como a comunhão de todos os crentes

genuínos, a igreja é invisível. Isso porque não podemos ver a condição espiritual do

coração das pessoas. Podemos ver exteriormente os que frequentam a igreja e

observar evidências exteriores de mudanças espirituais interiores, mas realmente

não podemos olhar para o coração e ver o estado espiritual em que encontram-se.

Paulo diz: “O Senhor conhece quem lhe pertence” (2Tm. 2:19). Somente Deus sabe

os que verdadeiramente lhe pertencem, e sem margem de erro, Ele conhece

verdadeiramente os verdadeiros crentes. Por isso podemos dizer que a “Igreja

invisível é a igreja como Deus vê”.

A igreja de Cristo, no entanto, também possui um aspecto visível. Iremos usar a

seguinte definição: “A igreja visível é a igreja como os cristãos a vêem”. Nesse

sentido, a igreja visível inclui todos os que professam a fé em Cristo e dão evidência

dessa fé em sua vida.

Nessa definição, não estamos a dizer que a igreja visível é a igreja que qualquer

pessoa no mundo (como um descrente ou alguém sustenta ensinos heréticos) pode

ver, mas estamos a falar da igreja como ela é percebida por aqueles que são crentes

genuínos e que têm um entendimento da diferença entre os crentes e descrentes.

A igreja visível espalhada por todo mundo sempre incluirá alguns descrentes, e as

congregações individuais normalmente incluirão alguns descrentes, porque não

podemos ver o coração das pessoas como Deus vê (Ler 2Tm. 2:17-18 e ver como

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Paulo enfrentou essa realidade de pessoas que pertenciam a igreja visível, contudo

não faziam parte da Igreja invisível, pois suas acções revelavam o contrário).

Convém esclarecer que não é a nossa função tentar identificar que são os crentes

verdadeiros e os que não são. Essa função pertence ao Senhor Jesus. Ele separará o

trigo do joio.

C. A Igreja Local e Universal

No NT a palavra igreja pode ser aplicada a um grupo de crentes em qualquer lugar,

desde uma reunião pequena em uma casa até um grupo de verdadeiros crentes na

igreja universal. A comunidade que reunia-se em casas é chamada de “igreja” em

Rm. 16:5 e 1Co. 16:19.

Mas também encontramos a expressão “igreja” como uma conotação mais alargada

“a igreja que se encontra na cidade de…” (1Co. 1:2; 1Ts. 1:1), mas também a

expressão “igreja” tem conotação universal.

Podemos concluir que Deus tem chamado igreja tanto a um grupo familiar, numa

congregação local ou como uma realidade universal, porém não podemos cometer

o erro de dizer que somente a reunião de pessoas em casas expresse a verdadeira

essência da igreja, ou que somente em um nível de uma cidade possa ser

correctamente chamada “igreja” ou que somente a igreja universal deve ser

considerada igreja. Ao contrário, a comunidade do povo de Deus considerada em

qualquer nível pode ser correctamente chamada de “igreja”.

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Reflectir:

Na tua opinião como podemos reconhecer uma igreja verdadeira igreja?

E quais são as suas características?

D. Propósitos da Igreja

Podemos entender propósitos da igreja em termos de ministérios para com Deus,

com os crentes e com o mundo:

1. Ministério para com Deus: Adoração. Em relação a Deus, o propósito da

igreja é adorá-lo (cf. Cl. 3:16; Ef. 1:12). A adoração não é meramente a

preparação para algo mais; ela é em si mesma o cumprimento do maior

propósito da igreja para com Deus.

2. Ministério para com os crentes: Fortalecimento. Segundo a Escritura, a

igreja tem a obrigação de fortalecer os que já são crentes e edifica-los para

chegarem à maturidade da fé (Ef. 4:12-13).

3. Ministério para com o mundo: Evangelização e Misericórdia. Jesus disse

aos seus discípulos: “Façam discípulos de todas as nações” (prf. Mt. 28:19). Essa

obra evangelística de declarar o evangelho é o ministério primário que a igreja

tem para com o mundo. Todavia, um ministério de misericórdia deve vir

acompanhado ao ministério da evangelização. Um ministério que inclua a

preocupação com os pobres e mais necessitados. Testemunhar o evangelho tal

como ajudar aos mais necessitados são deveres e privilégios da igreja de Jesus.

Reflicta: Na tua opinião qual desses ministério é mais importante na igreja local?

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Capítulo II

Governo da Igreja: Oficiais da Igreja e Forma de Governo Congregacional

Como deve ser a igreja governada?

1. Explicação e Base Bíblica

O propósito do nosso Manual de estudos não é reflectir e esclarecer todos os

sistemas de governos que existem das diversas igrejas evangélicas e nem criticar

seus sistemas. O nosso propósito é mencionar alguns sistemas de governo que

existem, todavia a nossa ênfase será no sistema adoptado pela nossa igreja local,

que porventura é o sistema mais comummente aceite na denominação baptista.

As igrejas hoje têm muitas formas de governos. A igreja Católica Romana tem um

governo mundial sob a autoridade do papa. As igrejas episcopais (anglicanas,

católicas, luteranas, metodistas, mórmons, algumas pentecostais) têm seus bispos

com autoridade regional e, acima deles, os arcebispos. As igrejas presbiterianas

dão autoridade regional aos presbitérios e autoridade nacional aos concílios.

Todavia, as igrejas baptistas e muitas outras independentes não têm uma

autoridade oficial de governo além da congregação local, e a filiação a outras

denominações é voluntária.

Na igreja baptista geralmente têm um único pastor com um grupo de diáconos, e a

congregação é autoridade máxima na gestão administrativa da igreja. Os

presbiterianos têm um presbitério local que aplica essa autoridade, porém estão

sob jurisdição de um presbitério regional e assim por diante. Os episcopais estão

sob autoridade de uma comissão de leigos ou conselho paroquial.

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A. Oficiais da Igreja

Apóstolos. De uma maneira muito sucinta o termo apóstolo pode ser usado em um

sentido amplo ou restrito. Num sentido amplo significa “mensageiro” ou

“mission|rio pioneiro”, porém, num sentido mais restrito, e o que é mais

comummente usado no NT refere-se a um ofício específico, “apóstolo de Jesus

Cristo”. Esses apóstolos tinham autoridade única para fundar e liderar a igreja

primitiva e podiam falar e escrever a palavra de Deus. Muitas de suas palavras

escritas tornaram-se as Escrituras do NT.

Para se qualificar como apóstolo era preciso: (1) ter visto com os próprios olhos o

Cristo ressurrecto; (2) ter sido designado apóstolo pelo próprio Senhor; Houve um

número limitado de apóstolos nomeados por Jesus (uns 15 ou 16 – não explícito no

NT - os 12 primeiros, depois Matias no lugar de Judas, Barnabé e Paulo e talvez

Tiago ou até Silas).

Embora algumas igrejas evangélicas empreguem a expressão “apóstolo” para

referir a algum fundador da igreja ou evangelista, na minha opinião não parece ser

muito apropriado, porque confunde a mensagem do NT. É digno de nota que

nenhum dos grandes nomes da história da igreja, tal como, Agostinho, Lutero,

Calvino, Wesley assumiram o nome “apóstolo” para si e muito menos permitiram

que lhes fossem atribuídos tal expressão.

Presbíteros/Pastores/Bispos. Qualquer que seja a expressão que apareça na

Bíblia, todas elas estão relacionada a liderança da igreja. Aqueles que são

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responsáveis pelo bem-estar espiritual dos crentes em Jesus

(Ef. 4:11; 1Pe. 5:2; Act. 20:17).

Para ser mais fácil a interacção iremos assumir o nome que é tradicional dentro da

nossa denominação, Pastor.

A função do pastor é dirigir a igreja de Jesus segundo a mensagem de Cristo

(1Pe. 5:2-5). Devem pastorear o rebanho de Deus não pela força, i.é., não de

maneira ríspida ou opressora, mas com amor. Além de liderança, o pastor tem a

responsabilidade do ensino fiel da mensagem bíblica (1Tm. 3:2).

Quando resumimos somente em liderar e ensinar certamente que nessas

responsabilidades englobam as demais, como edificar, cuidar do crescimento,

disciplinar, etc., pois todas elas fazem parte ou de liderança (condução ao rumo

certo) ou de ensino (exortação).

As qualificações e modo de vida do pastor podem ser vistos em 1Tm. 3:2-7; Tt. 1:6-

9; Tm. 4:12; Tt. 2:7. Deve-se dizer que não é opcional que o pastor seja um

exemplo; trata-se de uma exigência.

Diáconos. A palavra diácono é a tradução da expressão grega “gr. diakonos” que é

o termo comum que traduz-se por “servo”, quando não é usada num sentido

eclesiástico.

Apesar de não sabermos com grande clarificação as suas funções, todavia pelas

suas qualificações poderemos chegar a algumas conclusões: Vejamos o texto

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1Tm. 3:8-13 “Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, de uma só palavra, não dados a muito vinho, não

cobiçosos de torpe ganância; 9 Guardando o mistério da fé numa consciência pura. 10 E também estes sejam

primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. 11 Da mesma sorte as esposas sejam honestas, não

maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo. 12 Os diáconos sejam maridos de uma só mulher, e governem bem a seus filhos

e suas próprias casas. 13 Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita

confiança na fé que há em Cristo Jesus.”

Por exemplo, parecem que os diáconos exercem algumas funções de

responsabilidade no cuidado com as finanças da igreja, j| que tinham que ser “não

cobiçosos de torpe ganância”; talvez possam ter alguma função de liderança

administrativa, pois tinha que governar bem sua casa e seus filhos; poderão

também ter responsabilidade de aconselhamento, pois tanto ele como a esposa não

deveriam ser “maldizentes”. Mas isso são apenas sugestões possíveis com base no

texto bíblico, porém é claro que suas funções distinguem-se da do pastor, pois a

eles não é exigido o ensino da Bíblia ou a sã doutrina, apesar de o poderem fazer.

Outros cargos. É visível que nas igrejas de hoje além dos pastores e diáconos

encontramos uma diversidade de cargos. E não podemos cair no extremismo de

dizer porque não aparecem na Bíblia (ex. director da EBD; conselheiro de jovens,

etc.) não deve ser reconhecidos como ofícios da igreja.

Vale a pena lembrar que todos os oficiais da igreja são escolhidos por ela em

assembleia-geral (no caso da nossa congregação) e com um espírito de oração e

dependência de Deus para que os escolhidos possam ser pessoas idóneas e

responsáveis.

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B. Formas de Governo Eclesiástico Congregacional

Esse sistema de governo é o que os baptista na sua grande maioria têm utilizado

como modelo de liderança nas igrejas locais.

Nesse sistema a congregação elege o pastor e também os diáconos. A autoridade

atribuída ao pastor pode variar de igreja para igreja, mas a autoridade máxima é

exercida pela igreja.

Encontramos ainda no meio baptista o sistema de governo de democracia absoluta,

onde todas as decisões sejam elas quais forem são levadas a serem discutidas em

assembleia-geral. É digno de nota que com o passar dos anos esse sistema tem-se

enfraquecido dentro da comunidade baptista.

Algumas igrejas, particularmente as igrejas mais recentes (não históricas), as

chamadas emergentes, nasceram com uma tendência mística de não funcionarem

com um governo eclesiástico, mas ser somente dirigida pelo Espírito Santo

(expressão utilizada por essas pessoas). Nesse caso a igreja nega a necessidade de

forma de governo; o governo depende inteiramente dos membros da igreja,

sensíveis à direcção do Espírito Santo; as decisões são geralmente tomadas por

consenso. Essa forma de governo tem revelado pouca durabilidade, e deixa de ser

fiel ao modelo do NT de pastores/presbíteros/bispos designados com a autoridade

PASTOR

CORPO DIACONAL

IGREJA

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de governo da igreja, mas também é sujeita ao mau uso, pois sentimentos

subjectivos acabarão prevalecendo no processo de tomar decisões em vez de

predominarem a sabedoria e a razão.

Em termos de conclusão é necessário ficar claro que a questão das formas de

governos não é doutrina fundamental da fé cristã. Todavia, uma igreja nunca deve

deixar de buscar a santidade e pureza que encontramos no NT. Cremos que a forma

de governo mais parecida com a que encontramos na igreja dos primeiros séculos

é o sistema congregacional.

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Capítulo III

As Ordenanças: O Baptismo e a Ceia Do Senhor

Quem deve ser baptizado? Como deve ser celebrado e qual o significado?

Qual o significado da Ceia do Senhor? Como ela deve ser realizada?

1. Explicação e Base Bíblica: O Baptismo

Nesse capítulo trataremos da questão acerca do baptismo e da ceia do Senhor,

duas cerimónias que Jesus ordenou que a sua igreja praticasse. Ma antes de

começar a considerar ambas, devemos observar que há um desacordo entre

protestantes mesmo sobre o termo geral que deveria ser aplicado a elas.

A igreja católica romana chama essas duas cerimónias de “sacramentos”, e porque

a mesma ensina que esses sacramentos em si mesmo realmente comunicam graça

às pessoas que participam neles, mesmo sem requerer fé dos praticantes. Alguns

protestantes (principalmente os baptistas) recusam-se referir ao baptismo e a ceia

como sacramentos. Para os baptistas o nome para referir baptismo e ceia é

“ordenanças”. Porém existem outros protestantes (anglicanos, luteranos e

reformada) que usam a expressão “sacramentos”, mas sem endossar a posição

católica romana.

Esse manual por questões pessoais usarei a expressão “ordenança” ao referir-me a

ceia e ao baptismo. Convém dizer antes de abordamos as questões que envolvem o

baptismo, é a posição defendida por esse manual é que o baptismo não é uma

doutrina de “peso” que deva causar divisão entre os crentes genuínos, mas é, ainda

assim, matéria de importância para a vida comum da igreja.

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A posição defendida por este manual é de tradição baptista, a saber, que o

baptismo é apropriadamente administrado somente aos crentes que fazem a

profissão de fé em Jesus Cristo.

A. Modo e o Significado do Baptismo

A prática do baptismo no NT era feita de uma maneira específica: a pessoa baptizada

era imersa, ou colocava-se completamente debaixo de água, e então, emergia. O

baptismo por imersão é, portanto o “modo” de baptismo ou a forma pela qual o

baptismo era realizado no NT. Isso é evidente pelas seguintes razões: (1) a palavra

grega “baptizó” significa “mergulhar, imergir” alguma coisa em |gua. Essa

expressão era utilizada tanto para o baptismo com para outras coisas, dentro e fora

da Bíblia; (2) o sentido de imergir é apropriado e provavelmente exigido pela

palavra em diversas passagens do NT. Em Mc. 1:5, as pessoas eram baptizadas por

João “no rio Jordão”. Mc. 1:10, aquando do baptismo de Jesus ele diz: “e saiu da

|gua”. No texto grego aparece a expressão “ek” que com as traduções perde-se o

seu significado. A expressão “ek” significa “de dentro de”. O contexto da passagem

também revela que tanto João como Jesus foram até o rio. Se o baptismo fosse

somente por “aspersão” (derramar |gua sobre a cabeça) não seriam precisos eles

entrarem dentro do rio. Esse é um argumento muito forte para o baptismo por

imersão; (3) o simbolismo da união com Cristo em sua morte, sepultamento e

ressurreição parece requerer o baptismo por imersão. Paulo diz: “Ou vocês não

sabem que todos nós, que fomos baptizados em Cristo Jesus, fomos baptizados em sua

morte? Portanto, fomos sepultados com Ele na morte, por meio do baptismo, a fim de

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que, assim como Cristo foi ressuscitado dos mortos mediante a glória do Pai, também

nós vivemos uma nova vida” (Rm. 6:3-4; cf. Cl. 2:12).

Ora essa verdade é claramente simbolizada pelo baptismo por imersão. Quando o

candidato desce às águas, é um quadro que aponta para alguém descendo para ser

sepultado. Sair da água é então a imagem de alguém sendo ressuscitado com Cristo

para andar em novidade de vida. O baptismo, assim, projecta claramente a morte

do velho modo de vida de uma pessoa para uma nova espécie de vida em Cristo. Já

o baptismo por aspersão não expressa esse simbolismo.

Alguns que defendem o baptismo por aspersão argumentam que o baptismo não é

a morte e a ressurreição, mas sim a purificação e a limpeza dos pecados. Concordo

com esse argumento, porém não podemos resumir o baptismo somente na

purificação. Creio que o baptismo é a purificação como a morte e a ressurreição

com Cristo, e ambas são representadas pelo baptismo por imersão.

B. A quem o Baptismo Destina-se

O padrão revelado em diversos lugares no NT é que somente os que crêem e que

querem professar a fé é que devem ser baptizados. Essa posição é frequentemente

chamada “baptismo de crentes”, visto sustentar que somente os que crêem em

Cristo (ou, mas precisamente, os que dão evidência razoável de sua fé em Cristo)

devem ser baptizados. Isso porque o baptismo, que é o símbolo do início da vida

cristã, deve ser ministrado somente aos que de facto começaram a trilhar a vida

cristã.

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O argumento das narrativas do NT sobre o baptismo. Alguns textos que

referem-se aos baptizados sugerindo que o baptismo era administrado somente

aos que creram e professam a fé em Jesus (cf. Act. 2:41; 8:12; 10:47-48).

O argumento do significado do baptismo. A segunda consideração a favor do

baptismo dos crentes vem do significado do baptismo: o símbolo exterior do início

da vida cristã deveria ser administrado aos que demonstram evidência de terem

iniciado essa vida (cf. Gl. 3:27). Paulo aqui presume que o baptismo é o sinal

exterior da regeneração interior operado por Cristo.

Por isso creio que o baptismo infantil nunca deve ser administrado. Pois

defendemos o baptismo de crentes e uma criança pequena não tem a capacidade

de expressar fé.

Nesse ponto divergimos completamente da igreja católica romana, pois para eles o

baptismo é um meio de graça (sacramento) e produz salvação, ou é um acto que

em si mesmo que causa a regeneração. Portanto a igreja católica romana, ao

administrar o baptismo, segundo o seu pensamento, está a administrar um meio de

graça salvadora às pessoas. Essa mensagem é completamente negada pela Bíblia e

pela igreja primitiva. A mensagem da Bíblia é clara: o meio de salvação é a fé

pessoal na pessoa de Jesus Cristo. O baptismo não é um meio de graça e nem de

salvação, mas sim um testemunho público da fé que foi gerada em nosso coração

por meio do testemunho do evangelho da graça de Jesus Cristo. Esse ponto será

discutido mais a frente.

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C. Efeito e a Necessidade do Baptismo

Argumentamos anteriormente que o baptismo simboliza a regeneração ou o

renascimento espiritual. Mas creio que quando devidamente administrado traz

também algum benefício espiritual aos crentes.

Há a bênção do favor de Deus que vem com a obediência, assim como a alegria que

vem por meio da profissão pública de fé e a tranquilidade de ter uma clara

ilustração física do que é morrer e ressuscitar com Cristo e receber a lavagem dos

pecados. Certamente que Deus nos deu o baptismo para fortalecer e encorajar a

nossa fé – e isso deve acontecer em cada pessoa que é baptizada e em cada crente

que testemunha um baptismo. Embora reconheçamos que Jesus ordenou o

baptismo (Mt. 28:19), como fizeram os apóstolos (Act. 2:38), não devemos dizer

que o baptismo é necessário para a salvação. Dizer que o baptismo é necessário

para salvação é ir contrariamente a justificação pela fé em Cristo.

Uma outra razão para defender que o baptismo não é necessário para salvação é

que a justificação dos pecados acontece no momento em que ocorre a fé salvadora,

não no momento em que a pessoa é baptizada nas águas, que por regra geral

ocorre sempre mais tarde. O baptismo não é necessário para a salvação, contudo,

por ser uma ordenança de Jesus o crente que ainda não foi baptizado deve o

quanto antes desejar fazê-lo, pois revelará obediência e alegria ao testemunhar

publicamente o que já o fez secretamente com Deus.

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D. Idade para o Baptismo

Os que foram convencido acerca dos baptismos realizados somente aos crentes

poderão perguntar: Que idade então as crianças precisam ser baptizadas?

A resposta directa a essa pergunta é que elas deve ter idade suficiente para fazer

uma profissão de fé que seja realmente autêntica.

É impossível estabelecer uma idade exacta que aplique-se a todas as crianças,

porém, quando os pais vêem evidência convincente de vida espiritual genuína e

também algum grau de entendimento, então o baptismo é apropriado.

Naturalmente que isso requererá averiguação cuidadosa da igreja.

2. Explicação e Base Bíblica: Ceia do Senhor

O Senhor Jesus instituiu esta outra ordenança para que a igreja observasse. A ceia

do Senhor deve ser observada ao longo da vida cristã.

A. Comer na Presença de Deus: uma bênção especial por toda a Bíblia

Jesus institui a ceia do Senhor da seguinte maneira:

“E, quando comiam, Jesus tomou o pão, e abençoando-o, o partiu, e o deu aos discípulos, e disse: Tomai,

comei, isto é o meu corpo. E, tomando o cálice, e dando graças, deu-lho, dizendo: Bebei dele todos

Porque isto é o meu sangue, o sangue do novo testamento, que é derramado por muitos, para remissão

dos pecados. E digo-vos que, desde agora, não beberei deste fruto da vide, até aquele dia em que o

beba novo convosco no reino de meu Pai.” (Mt. 26:26-29).

Paulo acrescentou as seguintes frase da tradição que recebeu (1Co. 11:23): “Este

cálice é a nova aliança no meu sangue; façam isso, sempre que o beberem em

memória de mim” (1Co. 11:25).

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A ceia do Senhor para a igreja de Cristo é uma expressão de sua alegria plena no

seu Deus. E com base nesse argumento podemos ver que no VT encontramos a

alegria de comerem na presença do Senhor.

Reflicta: Veja os textos e tente definir em algumas palavras o sentimento que os

textos expressam acerca da ceia do Senhor (cf. Êx. 24:9-11; Dt. 14:23-26).

Utilize o espaço abaixo para fazer os seus apontamentos para discutirmos em aula.

B. O Significado da Ceia do Senhor

O significado da ceia do Senhor é complexo, rico e amplo. Há diversos símbolos

afirmados na Ceia do Senhor:

1. A morte de Cristo. Quando participamos da ceia do Senhor, simbolizamos a

morte de Cristo, porque nossas acções delineiam um quadro de sua morte por

nós. Quando o pão é partido, simboliza o partir do corpo de Cristo; e quando o

conteúdo do cálice é derramado, simboliza o sangue de Cristo vertido por nós.

Essa é a razão pela qual a participação na ceia do Senhor é também uma

espécie de proclamação: “Porque, sempre que comerem deste pão e beberem

deste cálice, anunciam a morte do Senhor até que Ele venha” (1Co. 11:26).

2. Nossa participação nos benefícios da morte de Cristo. Jesus ordenou aos

discípulos: “Tomem e comam; isto é o meu corpo” (Mt. 26:26). Quando

individualmente tomamos o cálice, cada um dos crentes está, por meio dessa

acção, proclamando: “Estou apropriando-me dos benefícios da morte de

Cristo”.

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3. Nutrição espiritual. Da mesma maneira que a comida comum nutre o corpo,

assim o pão e o vinho da ceia do Senhor trazem-nos nutrição. Mas eles também

ilustram o facto de que há alimento e uma refeição espiritual que Cristo dá à

nossa alma – de facto, a cerimónia que Jesus instituiu é, em sua verdadeira

natureza, designada para ensinar-nos isso. Jesus disse: “Se vocês não comerem a

carne do Filho do homem e não beberem o seu sangue, não terão vida em si

mesmos. Pois a minha carne é verdadeira comida e o meu sangue é verdadeira

bebida. Todo aquele que come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em

mim e eu nele” (Jo. 6:53-56).

Certamente que Jesus não está a falar de comer literalmente sua carne e beber o

seu sangue. Mas, se não está a falar de comer e beber literalmente, então Ele deve

ter uma participação espiritual nos benefícios da redenção que adquiriu para nós.

Essa nutrição espiritual, tão necessária para a alma, é tanto simbolizada como

experimentada em nossa participação na ceia do Senhor.

4. Unidade dos Crentes. Quando os cristãos participam juntos da ceia do Senhor,

também dão um sinal claro de sua unidade um com o outro. De facto, Paulo

disse: “Como há somente um pão, nós, que somos muitos, somos um só corpo, pois

participamos todos do mesmo pão” (1Co. 10:17). Quando colocamos essas

quatro coisas juntas, começamos a perceber alguns dos significados mais ricos

da ceia do Senhor. Quando participo, venho à presença de Cristo, lembro que

Ele morreu por mim, participo dos benefícios de sua morte, recebo nutrição

espiritual e sinto-me unido com todos os outros crentes que participam dessa

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ceia. Que grande motivo de acção de graças e alegria é poder participar desse

memorial.

5. Cristo afirma seu amor por mim. O facto de que sou capaz de participar da

ceia do Senhor, na verdade, Jesus convida-me a vir – é um lembrete vívido e um

sinal visível e seguro de que Jesus ama-me individual e pessoalmente. Quando

venho participar da ceia do Senhor, encontro dessa maneira uma certeza

renovada do amor de Cristo por mim.

6. Todas as bênçãos da salvação estão reservadas para mim. Quando aceito o

convite de Cristo para participar da ceia do Senhor, o facto de que sou

convidado à sua presença assegura-me de que Ele tem bênçãos abundantes

para mim. Achego-me à sua mesa com a seguinte posição: membro de sua

eterna família.

7. Eu afirmo a minha fé em Cristo. Finalmente, enquanto como o pão e bebo o

c|lice, com essas acções estou a proclamar: “Preciso de ti e confio em ti, Senhor

Jesus, para perdoar os meus pecados e dar vida e saúde para a minha alma,

porque somente pelo teu corpo partido e pelo teu sangue vertido eu posso ser

salvo”.

C. Como Cristo está presente na ceia do Senhor?

Iremos falar das três correntes que relatam acerca da presença de Cristo na ceia do

Senhor.

1. Posição católica romana: Transubstanciação. De acordo com o ensino da

igreja católica romana, na eucaristia o pão e o vinho realmente tornam-se o

corpo e o sangue de Cristo. Esse “milagre” acontece quando o sacerdote ou o

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padre diz as palavras: “isto é o meu corpo”, durante a celebração da missa. Ao

mesmo tempo em que o sacerdote diz isso, o pão é elevado e adorado. Essa

acção de elevar o pão e pronunciá-lo como o corpo de Cristo pode unicamente

ser realizada por um sacerdote ou padre. Quando isso acontece, segundo o

ensino católico, a graça é comunicada aos presentes “ (ltm. ex opere operato) ”, a

saber, “pela obra representada”, mas a quantidade de graça dispensada é

proporcional à disposição subjectiva do destinatário da graça. E quando cada

missa é celebrada o sacrifício de Cristo é repetido.

Em resposta ao ensino da igreja católica romana sobre a ceia do Senhor, deve

ser dito primeiramente que ele falha em reconhecer o carácter simbólico de

todas as afirmações de Jesus quando declarou “isto é o meu corpo” ou “isto é o

meu sangue”. Jesus falou de maneira simbólica diversas vezes quando referiu-

se a si mesmo. Ele disse, por exemplo: “Eu sou a videira verdadeira” (Jo. 15:1),

ou “Eu sou a porta, e quem entrar por mim será salvo” (Jo. 10:9), ou ainda “Eu

sou o pão que desceu do céu” (Jo. 6:41). De maneira similar as expressões “isto é

o meu corpo” e “isto é o meu sangue” é de valor simbólico.

Ademais a doutrina católica falha em reconhecer o ensino extremamente claro

no NT sobre a finalidade e a perfeição do sacrifício de Cristo feito uma única vez

por todas pelos nossos pecados (cf. Hb. 9:24-28). “Está consumado!” (Jo. 19:30)

2. Posição Luterana: Consubstanciação (em, com e sob). Martinho Lutero

rejeitou a posição católica sobre a ceia do Senhor, todavia, insistiu em que a

frase “isto é o meu corpo” tinha que ser tomada em algum sentido como

afirmação literal. Sua conclusão não foi que o pão realmente transforma-se no

corpo físico de Cristo, mas que o corpo físico de Cristo est| presente “em, com e

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sob” no pão e no vinho da ceia do Senhor. Segundo Lutero, os elementos da ceia

não são transformados em corpo e sangue de Cristo, mas estes estão presentes

nos elementos.

Em resposta a posição luterana pode ser dito que ela também falha em

perceber que Jesus está a falar de uma realidade espiritual, porém a usar

objectos físicos para ensinar-nos verdades espirituais.

3. O Restante do Protestantismo: Presença Simbólica e Espiritual de Cristo.

Diferentemente de Lutero, João Calvino e outros reformadores argumentaram

que o pão e o vinho da ceia do Senhor não transformavam-se em corpo e

sangue de Cristo, nem de alguma maneira contém o corpo e o sangue de Cristo.

Ao contrário, o pão e o vinho simbolizam o corpo e o sangue de Jesus e deram

um sinal visível do facto de que o próprio Cristo estava verdadeiramente

presente, porém de maneira espiritual cheio de simbolismo. Por isso que os

baptista defendem que a ceia do Senhor é um memorial, pois o pão e o vinho

trazem à memória o corpo entregue e massacrado na cruz e o sangue vertido

para remissão de pecados.

D. Quem deve participar na ceia do Senhor?

A despeito das diferenças sobre alguns aspectos da ceia do Senhor, a maioria dos

protestantes haverá de concordar, primeiro, que somente os que crêem em Cristo

devem participar dela, porque ela é um sinal de que a pessoa é cristã e continua

firme na vida cristã. Paulo adverte que quem come e bebe indignamente enfrenta

consequências sérias (cf. 1co. 11:29-30). A segunda qualificação para participação

da ceia do Senhor é o auto-exame (1Co. 11:27-29).

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E. Outras Interrogações

Quem deve administrar a ceia do Senhor? A Escritura não faz menção nenhuma

acerca desse ensino, de maneira que cada igreja deve decidir de maneira sábia e

apropriada para a edificação do corpo. Para guardar-se de situações abusivas na

ceia do Senhor, a administração dela deve ficar com a responsabilidade de um

líder.

Quando ela deve ser administrada? Mas uma vez a Bíblia não tem essa

preocupação de esclarecer o dia certo, todavia, na igreja primitiva a prática era

diária ou todas as vezes que estavam juntos. A quem diga que algumas igreja no

primeiro século celebravam aos domingos (Act. 20:7). Creio que em relação a ceia

a Bíblia é clara: deve ser celebrada independente do dia, deixar de observá-la é que

revela desobediência à ordenança de Jesus.

Se a ceia do Senhor for planeada, explicada e levada a efeito de tal maneira que seja

um tempo de auto-exame, de confissão, de acção de graças e louvor a Deus, então

parece-me apropriado celebrá-la uma vez por mês, para que não torne-se rotina

apenas. Ela foi instituída para edificação dos crentes.

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Perguntas Para Reflexão (Entregar numa Folha A4)

1. Quais são as duas marcas principais de uma verdadeira igreja? Porque elas

são importantes?

2. Mencione e descreva os três propósitos da igreja.

3. Defina o termo “igreja visível” e “igreja invisível”. Compare e contraste as

duas definições.

4. Faça um contraste entre a posição católica romana acerca do baptismo e da

ceia e a posição defendia por esse manual.

5. Se o baptismo não é necessário para a salvação, é realmente importante os

crentes serem baptizados? Explique a sua resposta.

6. Porque não devemos baptizar crianças? E na tua opinião o que é ser

baptizado?

7. Porque o baptismo é observado apenas uma vez na vida pelos cristãos,

enquanto a ceia do Senhor é observada repetidamente ao longo da vida dos

crentes?

8. Mencione pelo menos quatros simbolismos que encontramos na ceia do

Senhor para nossa vida.

9. Quem deve participar na ceia do Senhor, e porque é importante um auto-

exame para o participante da mesa do Senhor?

10. Na tua opinião, como é que Cristo está presente na ceia do Senhor?

11. Qual o simbolismo que está contido no baptismo?

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IX. RESENHA ESCATOLÓGICA

Na presente doutrina que diz respeito as últimas coisas, serão tratados,

fundamentalmente, assuntos que envolvem o destino dos crentes e não crentes

após a sua morte física, e acontecimentos que respeitam o retorno triunfante e

glorioso de Jesus Cristo numa perspectiva futurista próxima a posição

comummente conhecida como pré-milenarismo (milenismo) clássico4, pós-

tribulacionista. Considera-se ainda que esta posição corresponde a um nível

pessoal.

A. O Destino dos Homens

Começa-se por referir que a morte física implica a passagem da vida humana para

um estado irreversível, tanto para crentes, que estão salvos em Cristo da

condenação de Deus (Jo. 3:18) tendo vencido a morte (Jo. 11:25-26), e cujo estão

debaixo da protecção de Jesus (Jo. 6:39), como para os não crentes, afastados de

Deus, que morrem nos seus pecados (Jo. 8:21-24) e estão na morte de Adão (1 Co.

15:22). Para ambos está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois o juízo de

Deus (Hb. 9:27).

Segundo a concepção veterotestamentária, o Seol ou Hades, terminologia do NT, é o

lugar de permanência temporária para os justos e injustos, existindo, porém, entre

eles um abismo (Lc. 16:19-31). Com a morte de Jesus, o qual fora preparar um

lugar na casa de seu Pai (Jo. 14:2-3) para o povo de Deus regenerado (Ef. 2:15-16),

que inclui os santos do VT e do NT, como se entende, operou-se nos santos do VT

uma ressurreição do seu corpo (Mt. 27:52-53), cujas almas encontram-se

4 Grudem, Teologia Sistemática Actual e Exaustiva, p. 948.

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resgatados do “Seol” (Sl. 49:14-15; Sl. 16:10; 30:3). Estes santos foram, assim, para

junto de Jesus ressurrecto e ascendido aos céus, num corpo ressurrecto, mas ainda

não glorificado. Os que aceitaram o Evangelho no tempo de Jesus foram, ainda,

para o Hades, mas para um estado intermédio de protecção divina pois, com a

morte de Jesus, o seu espírito foi vivificado (1 Pe. 4:6). A morte de Jesus implicou,

assim, uma ressurreição espiritual e um posicionamento respectivo dos homens

nas regiões celestes (Ef. 2:5-6; Cl. 3:1), o que aconteceu de maneira real e definitiva

com o ladrão que morreu ao lado de Jesus na cruz (Lc. 23:43) e com Estêvão

(Act. 7:55,59).

Os crentes ao deixarem este mundo, irão, portanto, em espírito, à semelhança do

que experimentou João (Ap. 4:2), para junto de Deus, e juntar-se-ão aos santos de

todos os tempos, os vinte quatro anciãos (Ap. 4:4), mantendo a qualidade de reino,

sujeitos ao governo de Deus e tendo em vista a sua participação no mesmo, e

sacerdotes, tendo acesso imediato a Deus, servindo-o com louvores, acção de

graças e adoração5 (Êx. 19:6; Ap. 1:6; 5:10).

B. A Segunda Vinda de Cristo

Menciona-se que haverá uma volta repentina, pessoal, visível e corpórea de Jesus

Cristo (Mt. 24:44; Jo. 14:3). Após a sua ascensão aos céus, dois anjos disseram aos

seus discípulos, que o seu retorno seria corporeamente, ou seja, do mesmo modo

em que Ele estava a subir aos céus em corpo, seria o seu retorno (Act. 1:11). Ele

descerá dos céus após o ressoar das trombetas dos anjos (1 Ts. 4:16). O seu

retorno consiste no cumprimento das suas promessas, conforme já mencionado

5 Ladd, Apocalipse Introdução e Comentário, p. 23.

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através das passagens citadas acima, contudo o autor de Hebreu diz que sua

segunda vinda não será mais para retirar o pecado, e sim, para trazer a salvação

para aqueles que o aguardam (Hb. 9:28).

Além das próprias palavras de Jesus, no NT, há inúmeras declarações directas

acerca de seu retorno. A segunda vinda fazia parte da mensagem apostólica (Act.

3:19-21). Todavia, embora o facto da segunda vinda ser assegurado tanto por Jesus

como pela sua Igreja, e explanado com muita clareza por toda a Escritura, o tempo

desse evento não é claro. Apesar de Deus ter estabelecido um tempo definido, esse

tempo não foi revelado a ninguém. Jesus indicou que nem Ele nem os anjos sabiam

o tempo em que aconteceria o seu retorno e que consequentemente seus

discípulos também não o saberiam (Mc. 13:32-33; Mt. 24:36-44).

O facto do retorno de Jesus não ser revelado explica a insistência da parte do

Senhor, no qual destacou a necessidade de vigilância constante da parte de seus

seguidores (Mt. 24:44, 50; 25:13; Mc. 13:35), e ao invés de satisfazer-lhes a

curiosidade, Jesus disse que eles deveriam ser suas testemunhas em todo o mundo.

Diz-se ainda, que o carácter da segunda vinda de Jesus será pessoal, física,

inesperada e triunfante e gloriosa. A segunda vinda de Cristo será pessoal quanto

ao carácter, e é pressuposto ao longo das referências à sua volta. Jesus disse, por

exemplo em João, que Ele iria preparar um lugar e que voltaria para buscar os seus

seguidores (Jo. 14:3), e Paulo declara em Tessalonissenses que Ele (Jesus) mesmo

desceria dos céus (1 Ts. 4:16), deixando poucas dúvidas que o seu retorno será de

natureza pessoal.

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A segunda vinda também será física, e mesmo apesar de crer que Jesus está

presencialmente presente na vida dos que por Ele desejam viver, mediante uma

vida espiritual, desde o novo nascimento, creio que o seu retorno será físico e

corporal, segundo as Escrituras (Act. 1:11).

Embora a segunda vinda seja precedida de vários sinais (Mt. 24:15), exemplos, a

grande tribulação (v. 21), escurecimento do Sol (v.29), etc., eles não indicarão o

tempo exacto do retorno do Senhor. Jesus disse que por causa da grande demora

do seu retorno muitos se acharão desatentos (Mt. 25:1-13). Diz-se ainda, que

aquando da parousia (que pode significar tanto “presença” como “vinda” (Fl. 2:2; 1

Co. 16:17; 2 Co. 7:7) ela ocorrerá tão repentinamente que não haverá tempo para

preparativos (Mt. 28:8-10).

Em relação ao seu retorno triunfante e glorioso existem várias descrições que

indicam um contraste marcante com as circunstâncias simples e humilde da sua

primeira vinda à terra. Ele virá nas nuvens com grande poder e glória (Mt. 24:30;

Mc. 13:26; Lc. 21:27). Ele assentará em seu trono glorioso e julgará todas as nações

(Mt. 25:31-36). Aquele que veio numa primeira vez e foi julgado pelos homens, virá

triunfante e glorioso e julgará os homens.

Refere-se ainda que o VT “o Dia do Senhor” designa um dia no futuro histórico e

imediato, quando Deus visitaria o seu povo em juízo (Am. 5:18; Is. 2:12). Este dia é

a visitação final de Deus quando Ele estabelecerá o seu Reino no mundo, e trará

salvação ao seu povo fiel e o julgamento aos maus (Sf. 1:14; Jl. 3:14). No NT, o

termo tornou-se uma expressão técnica para o dia em que Deus visitará o mundo,

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para encerrar este século e inaugurar o século vindouro, todavia, esses assuntos

serão desenvolvidos mais a frente.

Conclui-se este ponto dizendo que é pouco provável, mas possível que os sinais

mencionados acima (resumidamente) que antecipam a segunda vinda de Jesus já

tenham acontecido, a não ser o escurecimento do sol e da lua e a quedas das

estrelas, todavia, esses sinais poderão acontecer num espaço de uns poucos

minutos e, portanto, parece apropriado dizer que o retorno de Jesus poderá

ocorrer a qualquer momento.

Por isso é necess|rio estar atento e vigilante, preparado para que no “Dia do

Senhor” não possa ser surpreendido pelo dia em que Cristo vir| triunfante e

glorioso resgatar a sua Igreja para junto Dele.

C. Posição Escatológica Acerca do Milénio

A partir do capítulo 4 do livro de Apocalipse, com Cristo ressurrecto e todos os

santos juntos de Deus que está a reinar do seu trono, são narrados acontecimentos

que incluem episódios históricos e apocalípticos, contendo estruturas descritivas

que debruçam-se sobre acontecimentos específicos dos últimos dias, e que

respeitam a vinda de Jesus e a actividade divina de julgamento sobre o mundo.

As referidas estruturas são apresentadas em sequência não cronológica, ilustrando

a entrada iminente do reino eterno de Deus na história, atingindo o soberano Deus,

seus decretos eternos na terra por intermédio de seu Filho Jesus, que é Deus6.

6 Ferreira, Antologia Teológica, p. 659.

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Esses episódios incluem tempos de tribulação mundial, de grande oposição entre

Deus, o seu povo e Satanás, que embora amarrado e tendo o seu poder limitado, e

de seus seguidores, tanto num plano terreno, como espiritual.

Um tema principal da literatura apocalíptica neotestamentário é a substituição da

ordem mundial, representada pela Grande Babilónia (Ap. 17:5), pela Nova

Jerusalém (Ap. 21:10).

Em relação à já mencionada tribulação descreve um grande sofrimento que

envolverá toda a terra, porém após esse tempo de tribulação no fim da era da

igreja, Cristo voltará à terra e estabelecerá o seu reino milenar. Quando Ele

retornar, os crentes que tiverem morrido ressuscitarão corporalmente dos mortos,

onde seus corpos serão reunidos aos seus espíritos, e esses crentes reinarão com

Cristo por mil anos. Diz-se ainda em relação aos mil anos ou período milenar que

não interpreta-se literalmente, ou seja, poder-se-á interpretar como um período de

tempo que não seja exactamente mil anos literais, tratando-se assim de uma

expressão simbólica para um longo período de tempo. Durante esse período de

tempo, Cristo estará fisicamente presente na terra com o seu corpo ressurrecto e

reinará como Rei sobre a terra.

Em relação aos descrentes que permanecerem sobre a terra, muito (mas não

todos) renderão a Cristo e serão salvos. Jesus reinará com justiça perfeita e haverá

paz por toda a terra e a maldição que a prende será derrubada (Is. 11:1-9; 65:25).

Durante esse tempo Satanás será preso e lançado no abismo, de maneira que não

terá influência sobre a terra durante o período milenar (Ap. 20:1-3).

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Após o final desse período milenar, Satanás será solto da sua prisão e reunirá

forças com muitos descrentes que submeteram-se exteriormente ao reino de

Cristo, mas que interiormente mantinham-se em rebelião ardente contra Ele, pois

ainda neste tempo haverá o pecado e seus efeitos na vida humana (Is. 65:20).

Satanás então, juntará esses rebeldes para batalhar contra Cristo, mas serão

derrotados de maneira decisiva. Cristo então, ressuscitará dos mortos todos os

descrentes que morreram durante toda a história, e eles apresentar-se-ão perante

Ele, o Juiz de toda a terra, para o julgamento final. Após o julgamento final ter

ocorrido, os crentes entrarão no estado eterno e a terra será totalmente renovada,

ou seja, a consumação escatológica.

A meta do propósito da redenção por parte de Deus á a restauração da ordem em

que um universo criado por Ele que foi perturbado pelo maligno e pelo pecado.

Isso inclui o domínio da experiência humana, o mundo espiritual (Ef. 10:10) e,

como já mencionado a natureza. Deus finalmente reconciliará todas as coisas

consigo mesmo por intermédio de seu Filho Jesus (Cl. 1:20), porque todas as

coisas foram criadas por meio Dele e para Ele (Cl. 1:16) e Ele finalmente gozará a

preeminência que lhe é devida (Cl. 1:18).

D. O Juízo Final e a Punição Eterna

No que diz respeito a realidade do juízo final a Escrituras afirmam de facto que

haverá um grande juízo de crentes e descrentes. Ambos compadecerão perante o

tribunal de Cristo para o julgamento, com seus corpos ressuscitados, eles ouvirão a

proclamação que Ele fará acerca do destino deles (Ap. 20:11-15; cf. Act. 17:30-31;

Rm. 2:5).

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Esse juízo final é o auge de muitos juízos precursores nos quais Deus recompensou

a rectidão e puniu a injustiça por toda a história humana. Ao mesmo tempo em que

trouxe bênçãos e libertação do perigo para os que lhe foram fiéis, incluindo Abel,

Noé, Abraão, Isaque, Jacó, Moisés, David e os fiéis dentre o povo de Israel, Ele

também vez por outra trouxe juízo sobre os que persistiam na desobediência e na

incredulidade; seus juízos incluíram o Dilúvio (Gn. 6-9), a dispersão do povo na

Torre de Babel (Gn. 11), os juízos sobre Sodoma e Gomorra (Gn. 19) e os contínuos

julgamento ao longo da história, tanto sobre indivíduos (Rm. 1:18-32), quanto as

nações (Is. 13 – 23), as quais persistiram no pecado. Menciona-se ainda, que na

esfera espiritual invisível ou sobrenatural, Ele trouxe juízo sobre os anjos que

pecaram (2 Pe. 2:4).

Segundo a perspectiva já assumida acima em termos escatológicos, o juízo final

ocorrerá após o período milenar e a remoção de Satanás, para que este não tenha

qualquer influência sobre a terra (Ap. 20:1-6), pois este será derrotado

decisivamente após a sua rebelião (Ap. 20:9-10). Após essa derrota final dos

poderes do mal, seguir-se-á o juízo perante o trono branco o qual Deus está

assentado.

Diz-se ainda que no juízo final, Jesus Cristo será o juiz que julgará tantos os vivos

como os mortos (2 Tm. 4:1). Essa autoridade de Jesus fora dada pelo seu Pai,

conforme já mencionada na Doutrina de Cristo (Jo. 5:26-27). Reafirmo que os

descrentes (Rm. 2:5, 6, 8; Mt. 11:22, 36; Ec. 12:14) e os crentes (Rm. 14:10, 12; 2

Co. 5:10; Ap. 20:12, 15) serão julgados por Cristo. É importante mencionar acerca

do julgamento dos crentes que ele será para avaliar e conceder vários graus de

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recompensa (Jo. 5:24; Ap. 11:18); no caso de o dos descrentes, a recompensa será a

condenação ou punição eterna. O juízo de Deus será perfeito e justo (1 Pe. 1:17)

imparcial (Rm. 2:11) e ninguém será capaz de reclamar que Deus o tratou com

injustiça (Ap. 19:1-2).

E. Novos Céus e Nova Terra

Após o juízo final, os crentes entrarão no gozo pleno da vida na presença de Deus

para sempre, pois serão convidados pelo próprio Cristo (Mt. 25:34). O trono de

Deus e do Cordeiro estará na cidade, e os seus servos o servirão (Ap. 22:3). O lugar

de habitação dos crentes glorificados por Deus não será nesta terra actual, mas

serão criados novos céus e uma nova terra, ou seja, uma criação inteiramente

renovada, onde os filhos de Deus viverão com Ele para todo sempre (Is. 65:17;

66:22; 2 Pe. 3:13).

A nova criação será um lugar de grande beleza, abundância e alegria na presença

de Deus, pois a cidade ser| chamada de “Cidade Santa” e um lugar preparado

“como uma noiva adornada para o seu marido” (Ap. 21:2). Nesse lugar “não haver|

mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem j| passou”

(21:4). Lá os homens beberão directamente da fonte da água da vida (21:6). Tudo

será precioso, porém todas as descrições em Apocalipse 21 acerca dos muros e das

ruas, não devem ser interpretadas literalmente.

Todos verão Deus face a face (Ap. 22:4) e serão cumpridos todos os anseios do

coração do homem, e este não terá mais necessidade alguma, pois o Senhor será

suficiente (Sl. 73:25-26).

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