CURSO CLÍNICA PSICANALÍTICA 2012 - Aula 6 - Adolescência e transgressão: a devastação do...
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Clínica Psicanalítica:manejo e subjetivações na
contemporaneidade
Tema: Adolescência e transgressão: a devastação do sintoma
Mantendo o debate com o tema anterior: Adolescência e transgressão: o supereu imperativo
Coordenação Alexandre Simões
ALEXANDRE SIMÕES
® Todos os direitos de
autor reservados.
Transgressões: não seriam uma linha tênue entre o apagar-se
e o apresentar-se ?
Para tal, recorremos ao conceito de
Supereu
Chegamos a localizar a
problematização do Supereu em
Freud e em Lacan,
bem como o ponto de interseção entre as duas perspectivas
demarcamos o Supereu em sua perspectiva clínica: como um gozo
que consome o sujeito, tal qual
uma vela é consumida pela chama
Fundamentalmente
A isto, devemos sempre acrescentar
que este gozo atravessa o sujeito como um
imperativo; daí, seu caráter compulsivo
Vejamos, na sequência, duas breves cenas clínicas que nos
apresentam a injunção do Supereu
O gozo é do OutroJacques Lacan, em 1975, no Seminário ... ou pire
Fragmento clínico 1:
Um rapaz, prestes a completar seus 18 anos de idade, me procurou em companhia de seus pais. Este jovem estava cursando o terceiro ano do
Ensino Fundamental e, há aproximadamente um ano, vinha se envolvendo ininterruptamente com um conjunto de situações que em muito
preocupavam seus pais.
No momento em que ele chegou à análise, ele próprio - em alguma medida - já começava
também a se inquietar com o que vinha ocorrendo.
As marcas da intensidade e da repetição estavam
bem presentes em meio aos acontecimentos que, em linhas gerais, giravam ao redor do uso abusivo de álcool e
a participação em reuniões e festas cotidianas que findavam por alterar inteiramente o ciclo de vigília e sono (tornando impraticável a frequência às aulas no último ano
do Ensino Médio).
A este modo compulsivo de se encontrar com aquilo que claramente se figurava como excesso, havia também a constante demarcação, por parte do jovem paciente, da
impotência dos pais em lidar com tal situação.
Desta forma, a cada situação marcada pela desmedida, a palavra dos pais só entrava em cena para indicar (tanto para os próprios pais quanto para o filho) a total precariedade da
função coibidora e limitadora que um dia ela pôde ter desempenhado.
Jacques Lacan, em 1966, nos Escritos
Não é a lei que barra o acesso do sujeito ao gozo
O que especialmente conduziu este jovem à análise foi um acontecimento bastante específico: ele estava em uma festa que já se prolongava por várias horas, junto de colegas da escola, e após a ingestão de uma grande quantidade de vodka, ele não mais se deu conta do que
se passava.
Ao acordar, em um canto da sala, percebeu - ainda bastante obnubilado - que ele havia passado algum tempo “apagado” e, subitamente, percebeu que havia perdido o controle dos esfíncteres. Deu-se conta, em
meio a vômitos, salivas, suores e o corpo largado como dejeto que naquele momento ele estava também
envolvido por urina e fezes.
De forma bem especial, o jovem se dizia bastante tocado (no caso, surgiu o pathos do constrangimento e da vergonha) não bem com o ocorrido, mas sim com o
olhar dos outros;
Este chamado ao gozo não se restringia a esta apresentação pública de um corpo vazado, por assim
dizer.
A isto iam se somando agressões físicas entre o paciente e seus pais, mais notavelmente entre o paciente e seu pai.
Este pai, há alguns anos, era tido como um homem bem sucedido financeiramente mas que, atuando no ramo das construtoras, veio a falir desastrosamente. Portava atualmente um diagnóstico de transtorno afetivo bipolar que, junto da vigorosa medicação e do início de um Parkinson, o incapacitavam para o trabalho.
Era atualmente um pai do qual o filho exigia que algo lhe fosse dado (a exigência era inversamente proporcional à falência do
pai), sendo insuportável para este filho a encarnação ininterrupta, dentro de casa, de um pai em declínio.
não teríamos um Supereu implacável
especialmente na adolescência?
Fragmento clínico 2:
Uma jovem, próxima de seus 15 anos de idade, foi levada a mim - um tanto quanto a
contragosto - pela mãe, bastante aflita diante de sua impotência face aos constantes
desentendimentos com a filha e as recorrentes atuações desta.
Na primeira sessão, mãe e filha são ouvidas por mim em conjunto. Em um dado momento da sessão, a jovem diz para a mãe, em um tom bem inamistoso: “Você vai continuar dizendo tudo para ele?. Se você continuar a falar de
mim, eu vou embora!”
Vendo que a mãe prosseguia na descrição dos impasses instalados entre as duas, a filha bruscamente se retirou
do consultório.
Um tanto quanto atônita, a mãe parecia não saber muito bem o
que fazer, naquele momento (e isto veio a se mostrar como emblemático quanto a todos os entraves postos entre mãe e filha): disse-lhe para prosseguir com a tarefa que, caso contrário, ficaria
inconclusa:
dizer sobre aquilo que estava marcado pelo desencontro entre mãe e filha.
Há aproximadamente 2 anos, a mãe não mais conseguia reconhecer na filha a bela e
companheira criança de tempos passados.
Ao ver da mãe, a filha queria insistentemente a sua ruína. A mãe já se encontrava separada do pai
de sua filha e, sozinha a maior parte do tempo, tentava a duras penas dar conta da filha.
Em meio a agressões mútuas (verbais e físicas), a jovem indicava claramente uma
impossibilidade em ser freada:
Decidiu, por si mesma, abandonar os estudos. Paralelamente, sempre indicava para a mãe que estava indo a alguns lugares quando, na verdade, encontrava-se em outros, com outras companhias. Na ausência de uma lei
apaziguadora não restava para a filha outro caminho a não ser as constantes atuações e apelar para a Polícia: ela denunciou a mãe por maus tratos.
Jacques Lacan, em 1966, nos Escritos
Não é a lei que barra o acesso do sujeito ao gozo
Jacques Lacan, em 1966, nos Escritos
É o prazer que oferece ao gozo seus limites
Jacques Lacan, em
1966
Como operar com o gozo que se impõe ao
nosso tempo?
A Clínica Psicanalítica pode, atualmente, oferecer outras vias a estes sujeitos?
Prosseguiremos com o tema:
18/06: Neurose obsessiva e transtorno afetivo bipolar
Até lá!
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ALEXANDRE SIMÕES
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