Curso de adestramento de cães
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1
Adestramento Inteligente: com amor, humor e bom-senso
Alexandre Rossi
Contra capa Transmitir informaes para tomar o convvio com seu co muito mais prazeroso a inteno deste livro.
As tcnicas sugeridas permitem adestrar ces de qualquer raa, em qualquer idade, e de uma maneira
agradvel, sempre com respeito e carinho. Dicas prticas so apresentadas para que voc encontre
solues para problemas que podem estar atrapalhando sua relao com seu melhor amigo, como
agressividade, xixi fora do lugar, compulso para roer mveis, e muitos outros. Voc compreender
melhor o comportamento do co e assim ser capaz de trein-lo com muito mais rapidez e eficincia.
Cuide bem de seu:
C
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2
"Alexandre Rossi, em seu livro, conduz o leitor pelos caminhos do adestramento por reforo positivo, que
um modo suave, inteligente e afetuoso de promover a boa relao entre o Homem e seu co. Com uma
linguagem coloquial e de fcil compreenso, serve tambm para consultas rpidas para preveno e
resoluo de distrbios de comportamento."
Mauro Lantzman
Mdico-Veterinrio Clnico de Comportamento Animal Aplicado
"De um modo direto e interessante, Alexandre Rossi pe nossa disposio os conhecimentos que
sempre quisemos ter para interagir com o nosso co. Seu livro um convite para um melhor encontro do
homem com o co."
Cesar Ades
Professor Titular do Instituto de Psicologia (USP) e Ex-Presidente da Sociedade Brasileira de
Etologia (Comportamento Animal)
AMOR, HUMOR E BOM SENSO so os princpios adotados pelo autor no adestramento de animais
que vivem numa sociedade de homens. Aspectos tcnicos de treinamento so apresentados sem perder de
vista o relacionamento afetivo entre o co e seu dono.
Neste livro voc vai aprender:
sobre a natureza do co: um animal que vive em matilhas; seu co pode ser adestrado desde filhote; quais os equipamentos que melhor contribuem para o adestramento; que treinamento inteligente inclui pacincia e tcnicas de comunicao atuais; quais so os problemas de comportamento (desde "roer o p da mesa" at "atacar o carteiro") e como resolv-los;
que certos comportamentos estranhos dos ces so fceis de explicar, e que outros no passam de mitos.
Alexandre Rossi, formado pela Faculdade de Zootecnia e Engenharia de Alimentos da USP, observa e
adestra animais desde seus 6 anos de idade. Ampliou seus horizontes participando de pesquisas no Kruger
Park, na frica do Sul, integrando-se a projetos de reabilitao de animais selvagens muitos dos quais beira da extino para lhes dar condies de retomar natureza. Tambm trabalhou na Austrlia, sociabilizando cangurus e outros animais que viviam em parques e apresentavam comportamento
agressivo com relao a humanos.
Foi l que seu mtodo de adestramento comeou a ser desenvolvido, ao treinar ces pastores de
ovelhas que, alm de cuidar do rebanho, exerciam diversas atividades longe de seus donos durante
jornadas exaustivas de trabalho.
Hoje, Rossi leciona tcnicas contemporneas de adestramento, d assistncia ao animal com
problemas de comportamento e orienta seu dono.
Tamara Pall Mall, minha Weimaraner, com quem aprendi muitas coisas.
L, l, l, l!
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3
SUMRIO
PREFCIO.................................................................................................................................................9
INTRODUO..........................................................................................................................................9
PRIMEIRA PARTE
Conceitos Fundamentais................................................................................................................. 10
A Matilha................................................................................................................................................... 10
O co faz parte de uma matilha....................................................................................................... 10
Desentendimentos........................................................................................................................... 11
Papel do lder.................................................................................................................................. 11
A hierarquia obrigatria............................................................................................................... 11
Linguagem canina........................................................................................................................... 11
Como fazer uso da linguagem canina............................................................................................. 12
Liderana........................................................................................................................................ 12
Quem o lder da matilha............................................................................................................... 12
Para o co, ns somos cachorros..................................................................................................... 13
Liderando com violncia................................................................................................................. 13
Ande na frente................................................................................................................................. 13
Inverta a situao............................................................................................................................ .13
Ganhe respeito e d bons exemplos................................................................................................ 14
Amor incondicional................................................................................................................................... 15
Amor e entendimento...................................................................................................................... 15
Comportamento............................................................................................................................... 15
Punio............................................................................................................................................ 15
Treinamento sem traumas............................................................................................................... 16
A Troca...................................................................................................................................................... 17
Tipos de troca................................................................................................................................. 17
Objetos de troca.............................................................................................................................. 17
Desafios e recompensas...................................................................................................................18
O valor da troca............................................................................................................................... 18
Como valorizar um objeto de troca................................................................................................. 18
Alternativas para a troca.................................................................................................................. 19
Recompensa negativa...................................................................................................................... 19
A Ateno.................................................................................................................................................. 20
A ateno: conseqncia e causa.................................................................................................... 20
Reforce a ateno............................................................................................................................ 20
O cachorro como foco da ateno................................................................................................... 20
O reverso da ateno....................................................................................................................... 21
A ateno: estmulo e no limitao............................................................................................... 21
SEGUNDA PARTE
As Fases do Desenvolvimento Cerebral.................................................................................................. 21
Perodo inicial - do nascimento at o 50 dia.................................................................................. 21
Perodo de socializao - do 50 ao 85 dia.................................................................................... 22
Perodo de dominncia - da 12 16 semana................................................................................. 23
Perodo de independncia do 4 ao 8 ms.................................................................................. 23
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4
Perodo da adolescncia at a maturidade de1 a 4 anos............................................................... 23
TERCEIRA PARTE
Equipamentos............................................................................................................................................ 24
Brinquedos para distrao, divertimento e reduo do estresse...................................................... 24
Brinquedos recomendados.............................................................................................................. 25
Cuidado com estes brinquedos........................................................................................................ 25
Coleiras e guias............................................................................................................................... 25
Plaquetas de Identificao............................................................................................................... 26
Coleiras........................................................................................................................................... 26
Enforcadores................................................................................................................................... 26
Colocando o enforcador:................................................................................................................. 26
Alternativas mais eficientes que o enforcador................................................................................ 27
Guias............................................................................................................................................... 27
Caixa de conteno/transporte........................................................................................................ 28
Local ideal....................................................................................................................................... 28
Tamanho.......................................................................................................................................... 28
Tempo............................................................................................................................................. 28
Modelos de caixas de conteno/transporte.................................................................................... 29
Petiscos e outras recompensas........................................................................................................ 29
Utenslios que ajudam a "punio"................................................................................................. 30
Coleiras de treinamento................................................................................................................... 30
Coleiras contra latidos excessivos................................................................................................... 30
Coleiras que impedem que seu co saia de sua propriedade........................................................... 31
"Clickers"........................................................................................................................................ 31
Removedores de odor..................................................................................................................... 32
QUARTA PARTE
Adestramento inteligente.......................................................................................................................... 32
Tcnicas do Adestramento Inteligente.................................................................................................... 32
A tcnica de adestramento e as leis fundamentais.......................................................................... 33
Tenha pacincia.............................................................................................................................. 33
Inteligentes mas no adivinhos....................................................................................................... 33
Associaes corretas dependem de repetio................................................................................. 34
Personalizar ou no as punies?.................................................................................................... 34
Como despersonalizar a punio..................................................................................................... 34
Cuidado para no dessensibilizar as punies................................................................................ 35
Saiba alternar recompensa e punio.............................................................................................. 35
Fracasso como punio e sucesso como recompensa..................................................................... 36
Bronca pode ser recompensa...........................................................................................................36
Ignorar uma tima punio.......................................................................................................... 37
Linguagem para se comunicar com o co............................................................................................. 37
Linguagem..................................................................................................................................... 37
Tcnica do Click...................................................................................................................................... 40
O que o clicker........................................................................................................................ 40 Confira poder ao seu clicker......................................................................................................... 41
Aprenda a capturar um comportamento com seu clicker.............................................................. 41
Aperfeioe Comportamento o comportamento com o clicker...................................................... 42
Confira ainda mais poder ao seu clicker....................................................................................... 42
Comandos ............................................................................................................................................... 42
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5
Senta......................................................................................................................................................... 43
Informaes gerais sobre o comando ............................................................................................ 43
Para capturar o comportamento.................................................................................................... 43
Relacione o comportamento ao comando oral e gestual............................................................... 43
Modele o comportamento............................................................................................................. 43
Dificulte e varie as situaes......................................................................................................... 44
Problemas e solues.................................................................................................................... 44
Vem........................................................................................................................................................... 44
Informaes gerais sobre o comando............................................................................................ 45
Capture o comportamento............................................................................................................. 45
Relacione o comportamento ao comando..................................................................................... 45
Modele o comportamento............................................................................................................. 45
Dificulte e varie as situaes........................................................................................................ 45
Problemas e solues.................................................................................................................... 45
Deita......................................................................................................................................................... 45
Informaes gerais sobre o comando............................................................................................ 46
Capture o comportamento............................................................................................................. 46
Relacione o comportamento ao comando...................................................................................... 46
Modele o comportamento............................................................................................................. 46
Dificulte e varie as situaes......................................................................................................... 46
Problemas e solues.................................................................................................................... 46
Fica........................................................................................................................................................... 47
Informaes gerais sobre o comando ............................................................................................ 47
Capture o comportamento............................................................................................................. 47
Relacione o comportamento ao comando..................................................................................... 47
Modele o comportamento............................................................................................................. 48
Aumente o estresse e varie as situaes........................................................................................ 48
Problemas e solues.................................................................................................................... 48
Junto......................................................................................................................................................... 48
Informaes gerais sobre o comando............................................................................................ 48
Capture o comportamento............................................................................................................. 49
Relacione o comportamento ao comando..................................................................................... 49
Modele o comportamento............................................................................................................. 49
Dificultando e variando as situaes............................................................................................. 49
Problemas e solues.................................................................................................................... 49
Busca........................................................................................................................................................ 49
Informaes gerais sobre o comando............................................................................................ 49
Capture o comportamento............................................................................................................. 50
Relacione o comportamento ao comando..................................................................................... 50
Modele o comportamento............................................................................................................. 50
Dificulte e varie as situaes......................................................................................................... 50
Problemas e solues.................................................................................................................... 50
Pula........................................................................................................................................................... 51
Informaes gerais sobre o comando ............................................................................................ 51
Capture o comportamento............................................................................................................. 51
Relacione com o comando............................................................................................................ 51
Modele o comportamento............................................................................................................. 51
Dificulte e varie as situaes......................................................................................................... 51
Problemas e solues.................................................................................................................... 51
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6
Planejamento de comandos avanados................................................................................................. 51
No comer comida envenenada............................................................................................................. 52
Truque, jogos e brincadeiras................................................................................................................. 53
Cumprimenta................................................................................................................................. 53
Frisbee - free style......................................................................................................................... 53
Acompanhar a bicicleta................................................................................................................. 53
Puxar patins, etc............................................................................................................................ 54
Guardar os brinquedos.................................................................................................................. 54
Procurar as chaves......................................................................................................................... 54
Ataque e Defesa....................................................................................................................................... 54
Defender a casa at voc chegar perto.......................................................................................... 55
Dica para ces que no mostram agressividade para proteger a casa........................................... 56
Como fazer o co parar de latir quando voc se aproximar.......................................................... 56
Comando amigo............................................................................................................................ 56
Atacar sob comando...................................................................................................................... 56
Fingir agressividade em um passeio quando um marginal se aproxima....................................... 56
QUINTA PARTE
Problemas de comportamento: como resolver..................................................................................... 57
As necessidades fisiolgicas do co........................................................................................................ 57
Fazer as necessidades em um lugar determinado.......................................................................... 57
O condicionamento comea cedo.................................................................................................. 57
No d ateno a comportamentos indesejveis........................................................................... 57
Rotina como soluo..................................................................................................................... 58
Quando voc se distrai.................................................................................................................. 59
Adultos tambm podem ser ensinados.......................................................................................... 59
Urinar por submisso ou excitao................................................................................................60
Urinar por dominncia.................................................................................................................. 60
Outras causas que provocam a regresso no aprendizado............................................................ 61
Agressividade........................................................................................................................................... 61
Agressividade................................................................................................................................ 61
Um co de guarda no tem de atacar necessariamente................................................................. 62
Alm de selecionar a raa e a famlia do filhote, garanta-lhe um tratamento adequado............... 62
Identifique corretamente o tipo de agressividade.......................................................................... 62
No acorrente seu co................................................................................................................... 62
Estude o problema antes de tentar cur-lo.................................................................................... 62
Agressividade por dominncia...................................................................................................... 63
Agressividade por medo................................................................................................................ 64
Agressividade transferida.............................................................................................................. 65
Outras causas para agressividade.................................................................................................. 65
Brigas entre cachorros desconhecidos.......................................................................................... 65
Brigas entre, cachorros da mesma casa......................................................................................... 67
Separar brigas................................................................................................................................ 69
Latir em demasia........................................................................................................................... 70
Latidos topem ser teis.................................................................................................................. 70
Elimine as causas do comportamento........................................................................................... 70
No ensine o que voc no quer.................................................................................................... 71
Punio despersonalizada para evitar latidos na sua ausncia...................................................... 71
Boa vizinhana.............................................................................................................................. 71
Coleiras antilatidos........................................................................................................................ 71
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7
Utilize a fora das recompensas.................................................................................................... 71
Problemas do co em relao as pessoas............................................................................................... 72
Problemas de comportamento quando voc no est em casa...................................................... 72
Os ces tm imaginao e criam delrios...................................................................................... 72
Ces mimados sofrem mais........................................................................................................... 73
Outras maneiras de diminuir a ansiedade causada pela separao............................................... 73
Chorar noite................................................................................................................................ 74
Conforte o animal.......................................................................................................................... 74
A ansiedade o problema.............................................................................................................. 74
No recompense comportamentos indesejveis............................................................................ 74
Punies despersonalizadas podem ajudar.................................................................................... 75
Pular nas pessoas........................................................................................................................... 75
Vocs que so os "culpados"...................................................................................................... 75
Recompense-o com ateno somente quando no pular............................................................... 76
Cuidado para no confundi-lo....................................................................................................... 76
Morder as pessoas como forma de brincar.................................................................................... 76
Eduque-o desde o comeo............................................................................................................. 77
Tentativas de copular com pessoas e outros ces.......................................................................... 77
Cimes em relao a pessoas ou outros ces................................................................................ 77
Como lidar com o problema.......................................................................................................... 78
Cuidado com punies e privaes seletivas................................................................................ 78
Problemas do co em relao casa..................................................................................................... 79
Cavar o jardim............................................................................................................................... 79
Elimine as causas.......................................................................................................................... 79
Quando e como puni-lo................................................................................................................. 79
Subir nos mveis........................................................................................................................... 80
A arte de despersonalizar punies............................................................................................... 80
Deixe a situao bem clara para seu co....................................................................................... 80
Roer as coisas................................................................................................................................ 81
No permita que o comportamento se torne um vcio.................................................................. 81
Deixe os brinquedos ainda mais interessantes para o seu co...................................................... 82
Supervisione o comportamento dele e puna-o quando necessrio................................................ 82
Problemas do co relacionados ao ato de comer.................................................................................. 82
Roubar comida.............................................................................................................................. 82
O prprio ato se auto recompensa................................................................................................. 83
A punio deve ser relacionada com o fracasso da inteno........................................................ 83
Pedir comida quando voc est comendo..................................................................................... 83
No o recompense por comportamentos que voc quer eliminar................................................. 83
Comer fezes de outros animais..................................................................................................... 84
Solues........................................................................................................................................ 84
Comer as prprias fezes................................................................................................................ 84
As solues para esse problema.................................................................................................... 85
Problemas com o co na hora do passeio.............................................................................................. 85
Puxar a guia................................................................................................................................... 85
H motivos para seu co pux-lo, pelo menos ele acha que sim.................................................. 86
A importncia do equipamento correto......................................................................................... 86
O treinamento propriamente dito.................................................................................................. 87
Outros equipamentos que auxiliam o adestramento...................................................................... 87
Assim seu co entender que no adianta puxar!.......................................................................... 87
Correr para a rua (e o perigo de ser atropelado)............................................................................ 87
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8
PARTE FINAL
Curiosades............................................................................................................................................... 88
Comportamentos........................................................................................................................... 88
Por que o co cheira o rabo dos outros?........................................................................................ 88
Mitos......................................................................................................................................................... 88
O co precisa aprender a tacar para no atacar?............................................................................ 88
Ces preferem ficar apertados dentro da casa (com as pessoas) ou livres no quintal (sozinhos). 88
Deixar o co preso uma boa maneira de fabricarmos um co-de-guarda?............................. 89 preciso repetir vrias vezes para que o co aprenda?................................................................ 89
Capacidades............................................................................................................................................. 89
Inteligncia dos ces..................................................................................................................... 89
rgos sensoriais.................................................................................................................................... 89
Viso............................................................................................................................................. 89
Olfato............................................................................................................................................. 90
Audio......................................................................................................................................... 90
Interaes especiais com humanos........................................................................................................ 90
Ces para portadores de deficincia visual................................................................................... 90
Ces para portadores de deficincia auditiva................................................................................ 90
Ces para paraplgicos.................................................................................................................. 91
Anatomia....................................................................................................................................................91
Anatomia externa............................................................................................................................91
Banho..........................................................................................................................................................92
Dicas Importante........................................................................................................................................92
Os 19 mandamentos...........................................................................................................................92
Doenas e sintomas....................................................................................................................................94
Engasgo.......................................................................................................................................................95
Vacinas........................................................................................................................................................96
Primeiros Socorros.....................................................................................................................................97
Bibliografia...............................................................................................................................................100
Editora Colosso
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9
PREFCIO Dra. Hannelore Fuchs
Mdica-veterinria e psicloga Especialista em comportamento animal
Ah, se eu soubesse - l em 1955, quando me formei como mdica-veterinria, e acredito que todo
veterinrio deveria saber quando se forma - que exercera medicina veterinria sem slidos conhecimentos
de comportamento animal no vivel.
O caminho para adentrar a rea de comportamento e distrbios comportamentais caninos at agora
requeria do estudioso pelo menos influncia no ingls e poder aquisitivo para perquirio dos inmeros
livros tcnicos, todos em lngua estrangeira. Eis que, para minha surpresa, me foi apresentada esta
simptica obra, uma ilha em portugus, no meio de tantos livros em ingls, francs e alemo, calcada em
leituras e experincias do autor "buscadas, com muito mrito, l fora".
De utilidade prtica e surgido da prtica, o livro leva o leitor, tcnico ou leigo, a compreender
fundamentos da estrutura social, desenvolvimento e psicologia canina e se tornar "o melhor amigo do
co", sem perder a liderana. A comunicao ser humano-animal, que apresenta vieses quando ns seres
humanos queremos interpretar a linguagem canina, ser facilitada, e muito, se forem seguidas as regras e
dicas apresentadas.
Com clareza e bom humor ensinam-se tcnicas bsicas e vitais de educao canina, apresentando
princpios de reforo indispensveis para um convvio harmonioso. As idias que o autor, baseado em sua
prtica e estudos, divide com outros profissionais e pessoas interessadas no assunto do a oportunidade de
pensar e repensar o co e todos os seus momentos evolutivos, a fim de abrir novas propostas
educacionais.
Merece louvor a parte dedicada aos problemas comportamentais. De forma simples, ela oferece
subsdios iniciais para lidar com esse assunto e desfaz muito das crenas antigas de como e quando
intervir.
A partir deste trabalho muito poder ser feito: haver um entendimento melhor do porqu de
determinados comportamentos, haver a possibilidade do veterinrio, do criador, do adestrador e do
proprietrio se unirem para construir uma ponte que integre o co de maneira satisfatria na matilha
humana.
O esforo e o ideal que nortearam esta obra sero de serventia a todos ns.
INTRODUO
Este livro destinado s pessoas que gostam de animais e esto procurando melhorar o
relacionamento com seu cachorro. Trata-se de uma ferramenta valiosa para que voc se aproxime do
universo canino e possa se comunicar com seu co de uma maneira que ele entenda. Obedincia e
respeito so obtidos atravs de considerao e dignidade, mas somente boas intenes no bastam,
portanto aprenda a falar a lngua dele! O convvio com um co adestrado , sem dvida nenhuma, mais
prazeroso, fazendo com que o animal e seu dono se sintam muito mais felizes.
Uma das grandes motivaes que me levaram a escrever este livro foi a experincia que adquiri
atendendo proprietrios que me traziam seus animais "problemticos". Nessas consultorias, notei que
raramente os animais apresentavam verdadeiros desvios de comportamento: o que havia, realmente, era
uma grande falha de comunicao entre as duas espcies, e a minha tarefa prioritria era "apresentar" o
co ao seu proprietrio. Para estender a um nmero bem maior de lares a ajuda que presto pessoalmente,
decidi passar para o papel os conhecimentos que fui acumulando em anos de prtica, sem deixar de lado a
base terica que procuro manter sempre atualizada. A inteno deste livro mostrar como o co
"raciocina", sente e reage diante das diversas situaes que se apresentam no seu dia-a-dia em contato
com os homens, e de que maneira o dono deve agir para ser compreendido por seu co a fim de tornar a
convivncia entre pessoas e animais ainda mais agradvel.
As tcnicas descritas neste livro so o que h de mais eficiente para o condicionamento de
animais, podendo ser aplicadas a praticamente qualquer espcie domesticvel, embora estejam
direcionadas para ces. So tcnicas que, por tratar o animal com respeito, j formaram, e esto formando,
campees em diversas modalidades de competio canina.
As primeiras quatro partes em que o livro foi dividido devem ser lidas obrigatoriamente para um
-
10
entendimento global da obra. A quinta parte destina-se a auxiliar o leitor a resolver problemas especficos
de comportamento e pode ser consultada conforme surgir a necessidade, embora sua leitura prvia possa
prevenir tais problemas.
A parte final relata curiosidades do mundo canino, desde o esclarecimento de mitos a interaes
especiais com humanos, podendo ser lida a qualquer momento.
Desde que o leitor tenha tempo, prefervel uma primeira leitura completa, bastando depois
consultar qualquer parte ou captulo isolado quando tiver dvidas. Para facilitar a localizao do item
desejado, o livro est dividido em subttulos e, alm disso, no incio de cada captulo h uma lista com os
tpicos principais e, no final, um resumo para a aplicao prtica do que foi apresentado.
Curta seu co!
Alexandre Rossi
e-mail: [email protected]
www.adestramentointeligente.com.br
PRIMEIRA PARTE
CONCEITOS FUNDAMENTAIS
Quatro conceitos fundamentais formam a base de um convvio harmonioso entre o seu co e voc,
alm de assegurar um adestramento correto:
a matilha: para o co, a famlia humana um conjunto de cachorros;
o amor incondicional: o co deve sentir que gostamos dele independentemente do que posas fazer;
a troca: a obedincia do co deve ser recompensada;
a ateno: se o co estiver atento, aprender com mais profundidade, eficincia e rapidez.
A MATILHA
Os ces no so s companheiros, protetores e diverso para nossas crianas. So animais
predadores que vivem em matilhas e possuem uma complexa organizao social.
Se entender e respeitar essa organizao, o resultado ser felicidade e bem-estar reinando entre
voc e seu grande amigo.
Neste captulo voc vai aprender:
Que, para o co, sua famlia a matilha.
Que o co s vai respeit-lo se voc for o lder dessa matilha.
Como se tornar o lder.
Que a violncia deve ser evitada.
O CO FAZ PARTE DE UMA MATILHA A primeira lei do adestramento, e tambm do convvio entre ces e humanos, exige que voc
compreenda a realidade do co. Ele no gente. um ser que pertence matilha e possui ainda todos os
instintos de sobrevivncia, proteo e afeto de que seus antepassados necessitaram para sobreviver como
-
11
espcie.
DESENTENDIMENTOS
Sem a conscincia de que somos diferentes, entramos em disputa com os ces e acabamos ficando
nervosos ou frustrados com suas reaes. Esperamos que os ces queiram o que queremos, que sintam
como ns sentimos e, ainda pior, que pensem como ns pensamos.
Suponha que, ao alimentar seu co, ele comece a rosnar para voc. Isso imediatamente o deixa
transtornado, pois voc interpreta isso como ingratido e, alm de no se sentir amado, sente-se
ameaado. Ns nos comportamos e reagimos de maneira diferente da dos ces quando amamos. Se
esperarmos que os ces se comportem como humanos, seremos vtimas de srios mal-entendidos.
Ficaremos muito frustrados e no usaremos nosso tempo para entender pacificamente as diferenas que
existem entre homens e ces.
Entender como funciona uma matilha no lhe d apenas uma nova e crucial compreenso sobre o
cachorro, mas tambm uma viso diferente de como ele deve ser treinado. Os valores dos ces so
diferentes dos nossos, e pelo conhecimento deles que percebemos os erros mais comuns ao educar e
adestrar os ces.
22
PAPEL DO LDER
Os ces, na matilha, necessitam de um lder, um co que graas s suas, habilidades conduza os
demais. Inmeras regras so impostas por ele ao grupo. A marcao do territrio, por exemplo,
geralmente cabe ao lder da matilha; portanto, quando o nosso cozinho sair pela casa urinando,
provavelmente estar disputando a liderana ou acreditando que o lder da matilha.
O lder da matilha, felizmente, impe respeito por sinais e atitudes, e a briga s em ltimo caso a
forma de disputa pela liderana. Isso ocorre por uma razo muito importante: quando os ces brigam
realmente, eles se machucam, e qualquer membro da matilha debilitado diminui as chances de
sobrevivncia do grupo. O tempo todo os animais recebem e passam informaes uns aos outros a
respeito de quem o lder e de quem o subordinado. Se eles, por milnios, agem assim para estabelecer
a ordem, teremos mais sucesso se fizermos a mesma coisa. Como conseguir isso? Neste captulo explica-
remos como se tornar o lder da matilha sem empregar a violncia ou machucar seu co.
23
A HIERARQUIA OBRIGATRIA
Muitas vezes, passamos inconscientemente ao co a informao de que ele o lder da matilha, e
quando ele age como tal ficamos transtornados e aborrecidos. No justo no gostarmos do nosso co por
ele ter agido de acordo com a educao que recebeu de ns mesmos. H um ditado que diz: "Cada pessoa
tem o cachorro que merece". uma verdade expressa pela sabedoria popular, pois ns influenciamos de
tal maneira o meio ambiente e as atitudes de nossos ces, que praticamente tudo que eles aprendem
resultado direto ou indireto de nossa maneira de trat-los.
Se quiser ser respeitado por seu co, voc pode escolher um mtodo que lhe parea interessante e
tentar impor isso ao animal, ou pode utilizar um mtodo que faa sentido para ele. claro que o segundo
mtodo bem mais eficaz, mas depende de um conhecimento muito maior sobre ces. Por exemplo, um
mtodo bastante popular bater no co quando ele faz algo errado. Acontece que, para ele, uma pancada
significa ataque ou convite para brincar, e nenhuma das alternativas corresponde ao que voc gostaria de
lhe comunicar.
Para os ces a hierarquia obrigatria, todos os ces sabem exatamente o lugar que ocupam na
ordem dentro do grupo. Cada posio e cada atitude tm significado para os outros ces. Essa linguagem
canina natural e importante para eles. Se o filhote for separado da me e dos irmos muito cedo (antes
de sete semanas), a linguagem no se tornar natural, o que vai criar problemas para o animal no convvio
com outros, alm de fazer dele um co mais difcil de ser treinado.
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LINGUAGEM CANINA
Os ces se testam continuamente para saber quem o lder. Como dissemos antes, no
necessrio que briguem para estabelecer o domnio. A liderana assegurada por atitudes e posies que
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formam a linguagem canina. A seguir daremos alguns exemplos da linguagem usada pelos ces e seus
significados.
1. Um co pode rosnar e ameaar brigar at que o opositor saia de perto, corra ou fique numa posio que queira dizer "ok, voc o chefe". Esse o sentido que tm as posies vulnerveis que
permitem ao vencedor fazer o que quiser, inclusive tirar a vida do subordinado. Existem duas posies
clssicas: ou o animal vencido se deita com a barriga virada para cima (expondo a parte frgil da barriga)
ou se curva mostrando a nuca (que tambm frgil). Em ambas as posies as orelhas ficam coladas
cabea (ou para trs) e a ponta da lngua permanece fora da boca.
2. Ou pode andar todo esticado em torno do oponente, com a cauda erguida e o plo arrepiado Isso significa: "Sou lder!" Se o outro aceitar o domnio, ir assumir uma posio de submisso; se no aceitar
a hierarquia proposta, ir partir para a briga at que haja um vencedor que submeter o outro.
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COMO FAZER USO DA LINGUAGEM CANINA
s vezes, ladres so encontrados vivos em casas protegidas por ces ferozes que deixaram de
atacar os invasores assim que esses se curvaram ou deitaram no cho e no se mexeram mais. Por sorte,
os ladres ficaram numa posio de submisso diante dos cachorros, para quem a disputa perdeu o
sentido. Se esses ladres tivessem tomado outra atitude poderiam ter morrido na ocasio. claro que este
no um manual para ladres, com truques de como assaltar uma casa, mas todas essas reaes e
comportamentos se mostram importantes para transmitir um sentimento de domnio e confiana ao
animal. Por exemplo, quando o seu cachorro estiver aterrorizado com raios e troves em meio a uma
tempestade, estufar o peito e andar firmemente significa que voc tomar conta da situao. Isto o
acalmar. Se voc, em vez disso, se abaixar e acariciar o cachorro, poder amedront-lo ainda mais, pois
na linguagem canina estar passando o comando para ele e mostrando que tambm est com medo.
Entender a matilha e o comportamento de seus membros tambm auxilia o treinador a aumentar a
confiana de ces excessivamente submissos e corrigir comportamentos decorrentes disso. Um co
excessivamente submisso costuma urinar e virar de barriga para cima toda vez que seu dono chega em
casa ou fala com ele.
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Nessas circunstncias, a pior maneira de lidar com o problema gritar com esse co ou dar uma
surra nele por urinar. Ele j est mostrando sinais de submisso e, se voc gritar, isso significar que a
mensagem que ele transmitiu ainda no est clara. Isso o levar a urinar mais ainda ou sair correndo...
O conhecimento de cada expresso corporal do seu co auxilia incrivelmente a determinar a
eficincia da punio, da recompensa e a prevenir ataques.
LIDERANA
Desde filhotes, os ces j demonstram disposio para disputar a liderana do grupo, e as
brincadeiras so fundamentais. atravs delas que o cozinho desde logo percebe como controlar a fora
de suas mordidas, aprende a se comportar, a brincar e a disputar.
Os lderes das matilhas geralmente indicam o rumo aos demais caminhando frente. possvel
distinguir logo cedo o cozinho com maiores chances de ser lder pois, para onde ele vai, os outros o
seguem.
QUEM O LDER DA MATILHA
Ser o lder da matilha significa estabelecer as regras.
Qualquer pessoa que tenha um co e queira morar numa casa que no funcione de acordo com padres
caninos, ter todo o interesse em estabelecer as regras. Para isso, paradoxalmente, precisar se comportar
como se fosse o lder da matilha.
Ao contrrio do que muita gente pensa, o lder da matilha costuma ser o membro mais querido do grupo.
impressionante o carinho e a alegria demonstrados pelos ces quando o lder os agrada, ou quando volta
de uma caada ou de algum passeio. Se voc conseguir ser o lder do seu co, ele o respeitar mais e
gostar mais de voc.
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PARA NOSSO CO NS SOMOS CACHORROS Para o co, a nossa famlia a matilha qual ele pertence. isto mesmo, para ele, ns tambm
somos cachorros! Ele tentar descobrir qual a posio que ocupa entre os membros da famlia. Mesmo
que goste muito das pessoas, se o seu co acreditar que poder liderar a matilha, ir disputar o poder com
voc de inmeras formas, a maioria delas super desagradveis! Carinho e afeto para ele no impedem
disputas pela hierarquia. Ser o lder da matilha significa proteger os demais membros e impor as regras
para que a matilha prospere. Podemos observar dois ces se lambendo e mostrando afetividade no muito
depois de terem disputado a liderana a mordidas.
LIDERANDO COM VIOLNCIA
Uma das maneiras do co aprender por imitao, por isso, se uma pessoa conseguir impor
respeito ao seu co pela violncia, provavelmente far com que esse co imite a sua tcnica para obter
respeito ou, quem sabe, chegue um dia a disputar violentamente com ela a posio de liderana. Alguns
fortes riem, incrdulos, quando so informados de que seu co poder disputar algo violentamente com
eles, pois dizem que o cachorro no ter a menor chance. Nisso talvez estejam certos, mas o que
acontecer se o cachorro for mostrar o que aprendeu para os filhos do doutor Forto ou para qualquer
outra pessoa no to vigorosa e agressiva?
Uma pessoa que grita com o seu co ou bate nele um pssimo lder, pois s consegue sua
posio por meio de ameaas e agresses. Ces que recebem esse tipo de tratamento adquirem seqelas
graves que dificultam muito o adestramento e, s vezes, tornam-se perigosos ao redirecionar sua
agressividade para algum da casa que no consiga domin-los. Um co que submetido com o uso de
violncia aprende que assim que as regras so estabelecidas. Por isso, no devemos culpar nosso co por
sua agressividade quando tratado violentamente, pois est simplesmente seguindo nosso exemplo.
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Existem inmeras maneiras de nos tornarmos lderes de nossos ces sem praticar nenhuma
violncia. Qualquer tipo de agresso contra o animal atrapalha o condicionamento e altera negativamente
seu padro de comportamento. A violncia no uma maneira eficiente de se comunicar com seu co ou
de puni-lo.
ANDE NA FRENTE
Como o lder geralmente anda frente, a maioria dos ces procura ocupar essa posio. Modificar
esse comportamento j uma boa maneira de controlar a escalada da hierarquia pelo seu co. Mas como
fazer isto? muito fcil, simplesmente engane o seu cachorro algumas vezes, finja que vai para um lado,
vire para o lado oposto e saia andando; quando ele ultrapass-Io novamente, vire para o outro lado, e
assim por diante. No demorar muito para que ele desista de andar frente e passe a prestar mais
ateno a seus movimentos. Pronto, no doeu nada e, por incrvel que parea, esse cachorro j estar em
melhores condies de ser educado e treinado. O mesmo cuidado deve ser tomado ao passar por portas ou
portes: sempre conduza seu co. Algumas pessoas ficam impressionadas com o fato de seu co
magicamente deixar de fazer xixi pela casa ou de parar de morder as visitas, simplesmente por terem exi-
gido que ele esperasse que elas passassem em primeiro lugar. De mgica isso no tem nada. O fato que,
ao restaurar o domnio, automaticamente outros comportamentos foram alterados, como o da demarcao
de territrio.
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INVERTA A SITUAO
Quando o seu co latir ou pedir de alguma maneira que voc o alimente, leve-o para passear ou
qualquer outra coisa; se voc o satisfizer imediatamente, estar obedecendo s ordens dele, e ele
interpretar isso como uma prova de que ele o lder do grupo. Por isso, no entender nada quando for
corrigido ao demarcar o seu territrio, ou ao decidir quem entra ou no na sua casa. No preciso fazer
seu co passar fome, nem deixar de ir passear com ele para resolver esse problema. A situao invertida
simplesmente se comandarmos algo ao cachorro antes de fazer o que ele est esperando. Qualquer
comando serve, mas para cachorros mais mandes aconselhvel algo como o comando "deita", pois um
simples "senta" ou ento "d a pata" no se mostram suficientemente eficazes. O que fazer se ele no
obedecer? Ignore-o completamente e no faa o que ele quer ou est esperando. Resultados
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surpreendentes podem ser obtidos com essa tcnica. Mas importantssimo que no haja nenhum tipo de
correo ou castigo caso o cachorro no o obedea. Lembre-se de que o tom de voz ao dar o comando
deve ser normal; no necessrio falar alto. A audio dos ces muito superior nossa e seu cachorro
ter todo o interesse em obedec-lo, caso contrrio, alm de no conseguir o que quer, ser ignorado por
seu querido dono.
Alguns ces recusam-se a executar comandos, abrindo mo at de alimento como forma de testar a
liderana. Mais cedo ou mais tarde, porm, eles se convencem de que voc o lder e de que a
sobrevivncia deles depende de voc.
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GANHE RESPEITO E D BONS EXEMPLOS
A questo da liderana importantssima para o treinamento. Ser um lder no to difcil, mas
ser um timo lder demanda treinamento, conhecimento e ateno. Quanto mais respeito e mais carinho o
seu co sentir por voc, mais fcil e mais prazeroso ser o adestramento. Ele ter todos os motivos do
mundo para querer obedec-lo.
Um lder perfeito s passa bons exemplos aos seus subordinados e no exige respeito - ganha-o.
Infelizmente, boas intenes no bastam, portanto no aconselho que se brinque com a boca do
cachorro ou se permita que ele a use para disputar algum objeto com voc, fazendo cabo-de-guerra. Se
voc ou qualquer pessoa estiver do outro lado do brinquedo, embora o que se tenha em mente seja um
divertimento, poder estar incentivando o co a utilizar a boca e a disputar fisicamente com quem estiver
na outra extremidade. Quando o cachorro brinca de mord-lo, adquire confiana e aprende a usar sua
arma (boca) contra voc. Quando brincamos de puxa-puxa, para o cachorro isso pode ser uma disputa de
liderana, e ele a ganha cada vez que sai com o objeto na boca. Pode parecer inofensivo, mas, se ocorrer
algum problema ou disputa na hierarquia, algum poder sair machucado. Se no estiver disposto a parar
ou evitar essas brincadeiras, pelo menos tenha certeza de que ser voc quem sair vencedor e no seu ca-
chorro. Devemos ganhar, sempre, qualquer disputa fsica.
E por ltimo, quando seu co se comportar ou mostrar submisso, elogie-o. Assim, alm de
mostrar que voc o lder, dar a ele o prmio de receber ateno ao deixar que voc ocupe essa posio.
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APLICAO DA LEI DA MATILHA:
1. Seja o lder da matilha.
2. Ganhe respeito e no o exija.
3. Faa o seu co merecer o que quer e o quem precisa: pea-lhe para executar algum
comando simples antes de receber comida, sair para passear, ou quando quiser que voc abra a porta
para ele, etc.
4. Caminhe na frente do seu cachorro e passe sempre antes dele por portas e portes.
5. Nunca grite ou bata em seu cachorro.
6. Jamais deixe que ele ganhe qualquer disputa fsica. Se voc tiver que segur-lo, qualquer
no o solte se ele espernear ou mord-lo. S o solte quando voc decidir, e de preferncia quando ele
parar de espernear.
7. No deixe que ele o morda, nem de brincadeira, e evite as disputas de cabo-de-guerra.
8. No o machuque e nem o enforque.
9. Elogie a submisso dele a voc e aos demais membros de sua famlia.
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AMOR INCONDICIONAL
"A inteligncia da natureza opera pela lei do mnimo esforo, sem ansiedade, com harmonia e amor."
Deepak Chopra
Quando utilizamos a fora da harmonia, da alegria e do amor atingimos resultados surpreendentes.
Neste captulo voc vai aprender:
Que o amor e o adestramento caminham juntos. Que o comportamento do co depende da coerncia do adestramento. Que se deve punir a atitude errada e no o co. A no deixar o co associar a punio pessoa. 33
AMOR E ENTENDIMENTO
Se realmente amamos nossos ces, devemos procurar entend-los. Se ns no tivermos essa
capacidade, como esperar que eles nos entendam se possui apenas uma frao de nossa inteligncia?
Muitos conflitos ocorrem entre humanos e cachorros por simples desentendimento. Quanto mais
estudarmos os ces e seu meio de comunicao, melhor ser nosso entendimento e maior o nosso amor
por eles. Quanto melhor for nossa comunicao, maior ser a harmonia e menor o estresse dessa relao.
Ns devemos evitar a qualquer custo decepcionar o nosso co afetivamente. Estudos mostraram
que, quanto mais o seu co am-lo, melhor e mais rpido ser seu condicionamento. Quanto maior a
confiana e o amor pelo seu dono, menor ser a sua ansiedade e maior ser a vontade de fazer certo!
COMPORTAMENTO
Quem j teve a oportunidade de observar o comportamento do co em relao a algum que
utilizou essas tcnicas fica impressionado com a disposio que esses animais apresentam para obedecer.
Quando as coisas fazem sentido para o seu co, a vontade dele de pensar e de vencer desafios vai
crescendo, e a partir da que o adestramento deslancha e o co passa a realmente a adorar o treinamento.
Os ces se sentem muito confusos quando so reprimidos ao agir de acordo com um tipo de
informao que receberam antes. Se levam broncas sem realmente entender a razo disso, tornam-se ces
ansiosos e sem vontade de enfrentar o desafio que representa acertar.
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Devemos ter um cuidado enorme para no ensinarmos ao filhote coisas que no queremos que
faa quando crescer (ficar adulto). Para o co muito confuso e estressante ser reprimido por apresentar
um comportamento que lhe foi ensinado, durante meses, pelo prprio dono. Ao levantarmos um filhote,
colocando-o no sof e acariciando-o, ns o estamos treinando para subir no sof e, quando ele ficar maior,
talvez no queiramos mais que ele faa isso. Essa mudana brusca poder atrapalhar a relao que temos
com nosso co.
PUNIO
Voc deve estar questionando agora esse tal de amor incondicional, talvez esteja dizendo que
bonito na teoria, mas na prtica necessrio reprimir o co. muito complicado para ns imaginar que
seja possvel deixar de lado as broncas durante o treinamento do co ou que elas sejam negativas para seu
adestramento. De fato, no podemos deixar de controlar e reprimir todas as atitudes negativas dos ces. A
diferena que faremos isto inteligentemente, levando em conta a psicologia canina. Para cada comando
e para cada problema de comportamento indicaremos a melhor forma de correo sem que a relao com
seu cachorro corra risco de se deteriorar, o que poderia acontecer com reprimendas desnecessrias.
Devemos reprimir a atitude e no o co. Isto significa que, assim que o cachorro desistir da atitude
indesejvel,
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mesmo quando provocado, o amor e o carinho devem ser os mesmos de antes, como se o erro nunca
tivesse acontecido. Independentemente do que ele faa, voc dever mostrar que o ama. Como dissemos
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anteriormente, quanto mais o cachorro am-Io, mais fcil ser seu treinamento, e no ganhamos pontos
brigando ou repreendendo nosso co.
Muitas punies necessrias podem ser disfaradas, para que o co no as relacione com voc. Ele
jamais entender que tanto o ato de aceitar um pedao de carne atirado por um estranho como o de atra-
vessar a rua para pegar uma bola podem mat-lo. Por isso, seria incompreensvel para o seu co se voc
ficasse bravo com ele por ter feito essas coisas. Algumas vezes muito difcil no deixar o co perceber
que voc est por trs da punio, mas iremos ensinar as melhores maneiras de punir seu co, sem que ele
perceba que voc que o est fazendo.
As broncas no so negativas apenas pelo fato de que se perdem pontos na relao com o
cachorro, mas tambm porque muitas vezes o cachorro est querendo ateno, e mesmo uma ateno
negativa pode ser vantajosa para ele. Quando isto acontece, e acredite, acontece o tempo todo, ao invs de
o estarmos educando, estamos deseducando. Se samos gritando atrs de um co quando ele faz xixi pela
casa, teremos dado a ele a ateno desejada. Da prxima vez que esse co quiser ateno, ele repetir o
ato e ser bem-sucedido novamente.
As melhores correes so aquelas feitas de tal forma que seu co acredite que foram aplicadas
por "Deus" e nas quais voc no teve participao nenhuma.
Ateno: Toda e qualquer punio deve ter o objetivo de inibir o ato e nunca o de ser represlia ou
vingana! Assim que se atinge o objetivo, a punio deve cessar como se jamais tivesse existido.
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TREINAMENTO SEM TRAUMAS
Cada comando e cada aprendizado carregam consigo muitos significados que ficaro como
lembranas no subconsciente. Do mesmo jeito que um professor pode nos fazer adorar ou odiar alguma
matria, o adestrador pode fazer o co adorar ou odiar o comando. claro que nosso objetivo fazer com
que o co responda r nossos comandos o mais prazerosamente possvel, e para isto devemos tomar uma
srie de cuidados desde a primeira lio.
Qualquer fator negativo durante o aprendizado contribuir para uma resposta menos eficiente e
para a m vontade do seu co em efetuar o comando, j que subconscientemente ele vai relacionar o
comando com os fatores do aprendizado.
Quando Dennis Fetko, na minha opinio um dos melhores e mais eficientes adestradores, veio
para o Brasil no final de 1997, durante sua preleo pediu para a platia um cachorro totalmente
destreinado e o ensinou em menos de cinco minutos a andar junto com ele. A platia ficou impressionada,
pois o co, alm de andar junto, parava, corria e andava devagar, acompanhando perfeitamente o
condutor. Dennis durante os cinco minutos que ficou com o cachorro no o corrigiu nenhuma vez, no
gritou "junto" e nem deu tranco na coleira; para dizer a verdade, mal olhou para o cachorro. Dennis
variava o comprimento da guia constantemente e andava como uma barata tonta. Em pouco tempo o
cachorro percebeu que a nica maneira de evitar os puxes da coleira (mais parecida com uma fita) era
observar atentamente Dennis e caminhar exatamente na mesma velocidade.
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COLOCANDO EM PRTICA A LEI DO AMOR INCONDICIONAL
1. Nunca reprima o cachorro e sim a atitude, isto quer dizer que, assim que ele deixar de
cometer o erro, mesmo quando provocado, dever receber todas as demonstraes de amor e carinho,
como se ele nunca tivesse errado antes.
2. Planeje as punies para que seu co no as relacione com voc. Por exemplo, coloque
alguma substncia amarga no p do sof para que o gosto ruim seja a punio, e no uma
chinelada aplicada por voc.
3. Evite que seu co relacione qualquer coisa desagradvel com o aprendizado, como, por
exemplo, apertar a traseira ou sufoc-Lo com o enforcador para que ele se sente. Alm de desagradveis,
essas atitudes esto diretamente relacionadas a voc.
4. Aprenda a ignorar seu co como forma de punio. uma tima maneira de fazer seu co
valorizar ainda mais sua presena e uma atitude muito eficiente para controlar o comportamento.
5. Ateno: Amor incondicional no significa mimar seu animal ou garantir-lhe direitos
iguais aos seus. Ces mimados no respeitam o dono, o que tambm ocorre com os animais que tm os
mesmos direitos que os outros membros da casa, como dormir na sua cama ou na de seus filhos, etc.
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A TROCA
O condicionamento opera por meio de trocas positivas do ponto de vista do condicionado e no do
condicionador.
Devemos desenvolver a capacidade de observar o que realmente para o nosso co uma troca
positiva e o que no , em cada situao. S assim poderemos condicion-lo eficazmente.
Neste captulo voc vai aprender:
Que a recompensa fundamental para o sucesso do treinamento. A escolher os objetos de troca. A valorizar as recompensas. Quais as alternativas quando no tiver nada a oferecer A no alternar recompensas em retribuies negativas diante de situaes semelhantes.
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TIPOS DE TROCA
Devemos ter em mente que, se quisermos modificar ou controlar o comportamento do animal
atravs do treino, ser sempre necessrio haver uma troca interessante para o co. Quando digo
interessante, algo que valha a pena para o seu co, justificando a mudana de atitude pelo prmio ou re-
compensa.
Voc deve estar se perguntando se, criado o hbito de receber algo em troca, o seu co s
obedecer quando voc tiver algo para lhe dar. mais ou menos a esse ponto que quero chegar: um con-
dicionamento no possvel se no houver um estmulo significativo - positivo ou negativo -, isto
significa que o co aprender na base de troca e se comportar de acordo com o esperado na expectativa
da troca, mesmo que s vezes ela no se d.
Muitas pessoas acreditam que seu cachorro as obedecer simplesmente em troca de um afago, ou
mesmo de uma palavra carinhosa. H ces para quem esse tipo de recompensa suficiente, seja por
valorizarem muito seu dono ou por sua prpria ndole, mas a verdade que so muito mais freqentes as
situaes de donos que imaginam que um carinho ser suficiente, quando isso, naquele caso, no
verdade.
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OBJETOS de TROCA
Podemos utilizar como reforo inmeros artifcios; geralmente os melhores so os que j so
considerados distrao para o seu co, como brinquedos, passeios, andar de carro, etc.
Uma boa troca para um cachorro que puxa a coleira para ir passear de carro seria, quando ele obe-
decesse o comando de deitar e esperar, dar-lhe a recompensa do passeio de carro.
Alguns reforos funcionam bem em certas condies, como, por exemplo, no espao do seu
quintal, mas no funcionam to bem quando o seu co est solto no parque. Nesse caso, temos duas
opes: uma, a troca do reforo por alguma coisa ainda mais interessante para o co; outra, no solt-lo
durante as primeiras aulas do treinamento para diminuir tanto a ansiedade do cachorro quanto a
possibilidade de ele se distrair.
Petiscos costumam ser o reforo universal, j que so poucos os ces que no adoram esse tipo de
recompensa.
Muitas pessoas so contra os petiscos como reforo para o treino, assim como qualquer outro tipo
de comida, pois apresentam algumas desvantagens:
S funcionam bem quando o co est com fome. Voc ser obrigado a carregar petiscos grande parte do tempo. Deve-se tomar cuidado para no desbalancear a dieta do animal.
Eu prefiro no utilizar petiscos mas, nos casos de ces que no adoram algum objeto em especial
ou no se satisfazem somente com um afago, petiscos so sempre uma boa sada.
Os objetos, como recompensa, possuem vrias vantagens sobre a comida, j que no
desbalanceiam a dieta e no nos obrigam a estar sempre carregando um saquinho de petiscos, mas, por
outro lado, assim que damos o objeto para o co, temos que peg-lo de volta, e isso s vezes
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complicado, pois o co pode comear
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brincar de cabo-de-guerra ou, ainda, sair correndo para atrair sua ateno. cabo-de-guerra. Se o objeto for
a recompensa, como poderemos condicionar o cachorro a larg-lo? Primeiramente devemos ter certeza de
que o co ficar prximo o bastante para conseguirmos recuperar o objeto. Caso haja a possibilidade de o
co fugir (brincar de pega-pega), amarre-o antes de dar-lhe o objeto e puxe a corda em sua direo depois
da entrega, at que o objeto fique ao alcance de sua mo. Agarre ento o objeto e rapidamente ordene ao
co que o solte, enquanto abre a boca dele. Jamais corra atrs do seu co se ele estiver fugindo com o
objeto, pois exatamente o que ele quer, e assim o estaremos recompensando pela desobedincia! Fica
assim evidente que cada recompensa tem seus defeitos e qualidades, mas o importante utilizar um
reforo que valha bastante para seu co, e a a prpria vontade de aprender valorizar cada vez mais sua
ateno e seu carinho.
DESAFIOS E RECOMPENSAS
Conforme o adestramento for evoluindo, o co comear a encarar como um desafio conseguir a
recompensa e, a partir da, o prmio no ter tanto valor em si mesmo, passando a significar para seu co
que ele agiu corretamente. Quando se atinge esse ponto, qualquer objeto ou mesmo um afago tm um
enorme valor. interessantssimo observar um co se esfalfando para ganhar uma bola e, assim que a
ganha, ele a devolve ao treinador de livre e, espontnea vontade e se prepara com todo o entusiasmo para
efetuar um novo comando. Existem vrios truques e dicas para se atingir esse ponto, e falarei mais sobre a
vontade de vencer o desafio na parte que trata de tcnicas de adestramento. Conforme o treinamento feito
na base da troca
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for evoluindo, mais tempo o seu co ser capaz de esperar para receber o reforo e executar os comandos
mais rpida e eficientemente.
O VALOR DA TROCA
No devemos insistir ou obrigar nosso cachorro a obedecer em troca de qualquer coisa. Assim que
nos dermos conta de que num determinado momento aquela troca no vale a pena para o co, no
devemos insistir e, sim, procurar uma outra estratgia. Se insistirmos, estaremos diminuindo o valor do
objeto no conceito do co e retardando o treinamento. Por exemplo, um co que esteja brincando com
outros na maior excitao pra e responde ao seu chamado imediatamente; quando chega junto de voc
ganha apenas um biscoitinho de que ele nem gosta muito - o cachorro acaba de aprender uma lio:
cometeu um erro, no deveria ter vindo dessa vez, pois perdeu vinte segundos de uma superbrincadeira
em troca de um biscoitinho sem graa! esse o ponto que deve sempre ter em mente: eles esto sempre
aprendendo, lembra-se? Portanto, s vezes, o resultado de uma troca no-satisfatria pode ser um
aprendizado negativo.
COMO VALORIZAR UM OBJETO DE TROCA
Existem tcnicas para aumentar o valor do objeto/recompensa para o co. O ideal seria ter uma
recompensa to valiosa para o animal que qualquer outro estmulo no o motivaria mais do que a
possibilidade de ganhar o objeto. possvel atingir esse ponto, e nem to difcil assim! Uma bola, por
exemplo, j costuma ter um determinado valor para seu co, mas, se tiver a capacidade de tornar a pessoa
ou o cachorro que estiver com ela o centro das atenes, ter ainda mais valor. Para isso, guarde uma bola
(ou um determinado objeto) e, sempre que achar adequado, oferea-a para o cachorro
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com o maior entusiasmo; se ele a apanhar, faa carinho nele e demonstre ateno, brincando com o co
at que ele solte a bola; assim que isso acontecer, apanhe-a rapidamente e brinque voc com ela. Caso
haja outros cachorros que gostem da bola (objeto), ela se tornar mais atraente para seu co, caso
contrrio, brinque voc com ela, dizendo-lhe coisas, como se estivesse conversando com ela, de certa ma-
neira ignorando seu co at que ele comece a prestar ateno bola. Aps essa brincadeira, guarde o
objeto para que ele no perca a graa, j que ele deve significar sempre alegria e divertimento. Se a tc-
nica for feita corretamente, logo a bola (objeto) ter um grande valor para seu co, e ele vai obedec-lo
com o maior prazer para poder receb-la.
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ALTERNATIVAS PARA A TROCA
E o que se pode fazer quando quisermos que o cachorro venha at ns mas no tivermos nenhuma
troca a altura para oferecer? simples. Durante o comeo do aprendizado evite desapontar o seu cachorro
e aja inteligentemente. Atraia a ateno dele sem que ele perceba que voc est querendo fazer isso. Uma
das melhores maneiras sair correndo em uma direo e fingir que no est ligando a mnima para o seu
cachorro. Dificilmente ele deixar de segui-lo e de se aproximar de voc depois de alguns segundos.
Cuidado, porque esse truque no funciona quando empregado com muita freqncia! Mais cedo ou mais
tarde o cachorro entende o truque e passa a ser um divertimento para ele engan-lo ou ignor-lo. Um
outro caso seria a necessidade de pr o seu cachorro num lugar de que ele no goste ou lev-lo para fazer
alguma coisa que ele detesta, por exemplo: coloc-lo dentro do canil, lev-lo cozinha para
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tomar remdio, ao jardim para tomar banho, etc. Jamais o chame! Simplesmente v at onde ele estiver e
pegue-o, no lhe d chance de escapar, e assim sempre que pressentir que algo de "ruim" est para
acontecer ele vai se conformar e no vai tentar fugir, pois, se tentar, sabe que vai fracassar. O importante
no trocar uma obedincia ao seu comando por uma coisa desagradvel.
RECOMPENSA NEGATIVA
impressionante o nmero de pessoas que "treinam" seus cachorros para que no atendam
quando so chamados! Elas geralmente me fazem o mesmo tipo de observao quando vou instru Ias a
esse respeito: "Meu cachorro tem de vir na hora que eu quero, e no quando tiver uma bola ou um
biscoitinho sua espera! Ele vai ficar interesseiro".
Vamos imaginar a situao, em primeiro lugar, do ponto de vista do cachorro: "Minha dona me
solta no parque que eu adoro, mas se eu for na direo dela quando ela disser 'aqui' ou 'vem', ou deixar
que ela chegue perto enquanto fala, provavelmente levarei uma bronca e at poderei apanhar. O problema
que eu fico confuso porque, em casa, quando ela fala 'aqui' e vou at ela, est tudo certo".
Agora, do ponto de vista da dona: ela solta o cachorro, chama-o de volta e ele no vem
imediatamente; da ela comea a berrar e, assim que pega o cachorro, d-lhe uma bronca ou bate nele. E
ainda acha que ele aprendeu uma lio. o tipo de pessoa que optou por um treinamento que faz sentido
para ela mas no para seu co. Eu sinto pena s de imaginar a confuso na cabea desse pobre cachorro!
Existem tambm os animais "malandros", so os ces que entendem o seu chamado, mas tambm
sabem que o que voc tem a oferecer uma corrente para prend-los, marcando o final da brincadeira, e nada
mais! Mas, acredite que, se seu co malandro, as chances de voc t-lo ensinado a ser assim so enormes.
Um
45 co adestrado corretamente, isto , com o emprego das quatro leis derivadas dos conceitos fundamentais, jamais se torna malandro, a no ser que voc considere malandragem o cachorro fazer exatamente o que voc quer que ele faa! 46
APLICAO DA LEI DA TROCA
1. Sim, todos ns agimos por amor, respeito e interesse (troca)!
2. A troca deve sempre valer a pena para seu co.
3. Se o seu co no mostrar interesse pela troca, suspenda imediatamente o adestramento e
modifique as condies para introduzir alguma coisa mais valiosa para ele.
4. Quando no tiver coisa alguma para trocar, simplesmente no ordene nada! Se voc
precisar que ele v a algum lugar ou assuma uma determinada posio, leve-o ao local ou faa o que deve
ser feito, sem lhe dar a opo de deixar de ou de fazer.
5. Algumas trocas obviamente vantajosas para o co em casa muitas vezes perdem seu
atrativo quando ele estiver solto ou passeando no parque.
6. O amor e a vontade de obedecer devem ser conquistados aos poucos. Isto no pode ser
imposto!
7. importantssimo que o co sempre obedea aos seus comandos, independentemente de
voc achar que o est subornando e que ele o est atendendo movido por interesse!
8. No devemos esperar que todos os ces se satisfaam apenas com carinho.
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A ATENO Quanto maior a ateno, melhor e mais rpido ser o aprendizado.
Quanto mais seu co estiver atento a voc, mais depressa executar os comandos e mais rapi-
damente aprender novos condicionamentos.
Neste captulo voc vai aprender:
Que o grau de ateno depende das tcnicas de aprendizado. Como reforar a ateno para voc ou para um objeto. A ignorar seu co como forma de adestramento. A usar a ateno como um estmulo.
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A ATENO: CONSEQNCIA E CAUSA
A ateno que seu co prestar a voc ser resultado das outras tcnicas descritas anteriormente.
Ao mesmo tempo que uma conseqncia e um indicativo da boa aplicao das demais tcnicas, a
ateno tambm causa, provocando um aproveitamento melhor das atividades. Como acontece com ns
mesmos, quanto mais prestarmos ateno, maiores nossas chances de obter sucesso na comunicao. Um
bom exemplo disso so os ces que participam de provas: eles prestam tanta ateno em seus condutores
que nos do a impresso de que aprenderam a ler em seus lbios.
Imagine por um instante que voc um co cujo dono, um humano justo, alm de entend-lo,
ama-o independentemente do que voc faa e, toda vez em que lhe pede alguma coisa, desde que voc a
execute, existe sempre a chance de ele lhe dar em troca o que mais estava desejando. D para no prestar
ateno em algum com essas qualidades? E se essa pessoa, alm disso tudo, ainda tiver a mania de falar
baixo, ser ainda mais importante prestar o mximo de ateno para no perder nada! Os ces
provavelmente pensam dessa forma em relao aos seus donos.
REFORCE A ATENO
Existem vrios truques para aumentar o grau de ateno do seu co. De vez em quando falar baixo
uma delas, outra maneira ter um comportamento imprevisvel; por exemplo, ao passear ou andar pela
casa, mude de direo subitamente, procurando enganar o co - aqueles que gostam de ir frente logo vo
comear a prestar mais ateno, j que podem ser enganados quanto ao rumo que seu mestre ir seguir.
Tambm podemos elogiar o nosso co quando ele estiver prestando ateno em ns, ou ignor-lo quando
no estiver.
Uma das maneiras para aumentar o grau de ateno do co , ao fornecer o reforo (comida, bola ou
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carinho), faz-lo de maneira entusistica e rpida. Por exemplo, se a inteno era fazer o co sentar e ele
fizer isso, deve-se imediatamente jogar a bola para ele, porque, caso o cachorro no esteja prestando
ateno, provvel que leve um susto ou no consiga peg-la, o que far com que fique mais atento da
prxima vez.
O CACHORRO COMO FOCO DA ATENO
Como ns, os ces tambm querem que prestemos ateno neles. Quase todos os ces adoram chamar a
ateno, principalmente das pessoas de sua matilha, por isso repetem as coisas que provocam seu dono.
Mesmo a ateno negativa (bronca) muitas vezes aumenta a freqncia com que o co realiza um
determinado ato. Os ces interpretam nossa disciplina (broncas) como interao, e provavelmente iro
repetir o ato para poder interagir novamente. Animais que vivem em grupos dependem um do outro,
portanto a interao algo indispensvel, fundamental.
Ao evitar chamar a ateno ("dar ateno") do seu cachorro quando ele estiver fazendo algo de errado,
voc estar aumentando o amor dele por voc, alm e estar empregando uma tima tcnica que produz
resultados muito mais eficientes. Neste livro daremos vrias dicas de como corrigir manias desagradveis
de nossos ces sem a necessidade de broncas ou de violncia.
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O AVISO DA ATENO
Sei que difcil imaginar que o cachorro valoriza tanto a nossa ateno, mas pode acreditar que
uma das piores coisas para o, seu co ser ignorado. Essa uma
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tcnica valiosa, e, quanto mais prtica tivermos em utiliz-la para o adestramento, melhor ser o
resultado.
Saber ignorar o nosso co uma arte, principalmente devido s suas habilidades naturais para
chamar a nossa ateno. Alguns comeam a fazer gracinhas, e quase impossvel no cair na gargalhada;
outros fazem caras desoladas, que quebram nosso corao. Independentemente da tcnica utilizada pelo
seu co, importante no cair no truque, pois o condicionamento ir por gua abaixo, a no ser que o
objetivo seja treinar o seu co a fazer gracinhas ou cara de coitado.
A ATENO: ESTMULO E NO LIMITAO
A ateno tem o poder de estimular determinadas partes do crebro e inibir outras. Quando um
gato passa na frente do seu cachorro, ele fica to interessado no gato (prestando ateno) que talvez no o
obedea. Isto no deve deix-lo desanimado, pelo contrrio. Num estgio avanado da ateno a voc, ele
ir valorizar muito a troca que lhe oferecer, seja ela qual for, pois o universo do co estar girando em
torno de voc. A ateno tanta, que as coisas em volta perdem espao nos sentidos do seu co e
conseqentemente perdem valor. Nessa fase o co gosta tanto de brincar (adivinhar o que o dono quer),