Curso de Introdução à EDUCAÇÃO AMBIENTAL

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  • 8/3/2019 Curso de Introduo EDUCAO AMBIENTAL

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    Concepes Tericas

    PORTAL EADEDUCAO AMBIENTAL DISTNCIA

    Curso deIntroduo EDUCAOAMBIENTAL

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    Introduo

    EDUCAOAMBIENTAL

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    Curso de Introduo Educao Ambiental

    ConcepesTericas

    Aula 1 - Ecologia profunda - 03

    Aula 2 - Movimento Ambientalista - 13

    Aula 3 - Viso Antropocntrica - 31

    Aula 4 - Naturalista Preservacionista - 39

    Aula 5- Permacultura - 43

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    Caro Aluno,

    DESEJAMOS A VOC UM EXCELENTE APROVEITAMENTO!

    Alm das boas vindas, trazemos algumas dicas importantes para voc:

    Voc ter em sua trajetria de ensino e aprendizagem a presena constante do articulador local, cujafuno ser o de mediador entre o saber e o aluno. Acompanhar o aluno em seus avanos,

    orientando em suas dificuldades, favorecendo o domnio do contedo, agindo como ponte na

    construo do conhecimento e realizando a sua avaliao ao final de cada mdulo. O aluno poder

    solicitar ao articulador um atendimento individual, quando necessrio, atravs de e-mail, para sanar

    suas dvidas e/ou discutir questes necessrias ao seu desenvolvimento e aprendizagem.

    de suma importncia que voc se organize para os estudos. Lembre-se que o horrio flexvel e

    voc quem gerenciar o seu tempo, de acordo com a sua disponibilidade, adequando-o a sua

    agenda pessoal. S no poder perder os prazos determinados, aconselhamos que se dedique ao

    estudo dos mdulos, ao menos uma hora por dia.

    O curso exigir o estudo de documentos que estaro disponveis em cada mdulo, porm sero

    sugeridas a leitura de textos complementares com artigos de autores diversos, que formaro a base

    terica sobre o tema do curso, bem como a recomendao da leitura de livros, que ficar a critrio do

    aluno.

    Ofrum representa uma importante ferramenta de avaliao do aluno, pois ali que o seu

    aprendizado sobre o contedo trabalhado ser demonstrado. Outros mecanismos de avaliao sero

    utilizados e no decorrer dos estudos, voc ir conhec-los.

    VAMOS AO TRABALHO!

    Equipe Pedaggica

    Mrcia Cruz

    Maria Eleonora Cordeiro Ferreira

    Susy Bortot Hpker

    Projeto Grfico

    Hiroshi Homma

    Lucinia Percigili

    Departamento de Transportes

    Instituto Tecnolgico de Transportes e Infraestrutura

    Eduardo Ratton

    Gilza Fernandes Blasi

    Departamento de Design

    Dulce Maria Paiva Fernandes

    Dulce de Meira Albach

    Luciane Fadel

    EQUIPE TCNICA

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    EADCurso de Introduo Educao Ambiental

    AULA 01 // ECOLOGIA PROFUNDAA Ecologia Profunda

    Viso de Mundo

    A introduo do livro "A Vida Secreta da Natureza", de Carlos Cardoso Aveline, define assim a Ecologia Profunda: "A natureza,cuja evoluo eterna, possui valor em si mesma, independentemente da utilidade econmica que tem para o ser humanoque vive nela. Esta ideia central define a chamada ecologia profunda cuja influncia hoje cada vez maior e expressa apercepo prtica de que o homem parte inseparvel, fsica, psicolgica e espiritualmente, do ambiente em que vive".

    O filsofo noruegus Arne Naess, em 1973, props esse novo paradigma e o denominou de Ecologia Profunda. Essa visoclaramente se ops ao paradigma dominante.

    O quadro abaixo demonstra, pelo menos em parte, as propostas de Arne Naess e as suas diferenas frente a viso de mundopredominante.

    Naess A. The shallow and the deep, long-range ecology movements: a summary. Inquiry 1973;16:95:100.

    03

    O homem gasta toda sua sade para conquistar riqueza,depois gasta toda sua riqueza para restaurar sua sade.

    Vive como se nunca fosse morrer e morre sem nunca ter vividoDalai Lama

    VISO DE MUNDO ECOLOGIA PROFUNDA

    Domnio da Natureza Harmonia com a Natureza

    Ambiente natural como recurso para os seres humanos Toda a Natureza tem valor intrnseco

    Seres humanos so superiores aos demais seres vivos Igualdade entre as diferentes espcies

    Crescimento econmico e material como basepara o crescimento humano

    Objetivos materiais a servio de objetivosmaiores de auto-realizao

    Crena em amplas reservas de recursos Planeta tem recursos limitados

    Progresso e solues baseados em alta tecnologia Tecnologia apropriada e cincia no dominante

    Consumismo Fazendo com o necessrio e reciclando

    Comunidade Nacional Centralizada Biorregies e reconhecimento de tradies das minoriais

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    DISTNCIA

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    Leitura Obrigatria:Anexo 01 - Movimento RoesslerJos Antonio Lutzenberger

    Nas palavras de Fritjof Capra: "O ambientalismo superficial antropocntrico. V o homem acima ou fora da natureza,

    como fonte de todo valor, e atribui a natureza um valor

    apenas instrumental ou de uso. A Ecologia Profunda no

    separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer

    outro ser. V o mundo como uma teia de fenmenos

    essencialmente inter-relacionados e interdependentes. Ela

    reconhece que estamos todos inseridos nos processos

    cclicos da natureza e somos dependentes deles".

    Leitura Obrigatria:Anexo 02Artigo: Ecologia Profunda - Fritjof Capra

    No Brasil

    No Brasil, nesta mesma poca, o Prof. Jos Lutzemberger j

    propunha ideias semelhantes e desencadeava o

    movimento ecolgico brasileiro com a criao da AGAPAN(Associao Gaucha de Proteo ao Ambiente Natural).

    Conhea o que pensava esse ambientalista brasileiro

    precursor nas lutas ambientais:

    Questionrio

    Vamos testar parte dos conhecimentos que se apropriouat o momento? Analise as afirmativas e assinaleverdadeiro ou falso.

    A. A mudana radical dos nossos valores, pensamento econseqentemente de nossas percepes, sobre amanuteno da vida resultar em solues para os

    principais problemas presentes em nosso Planeta.

    ( ) VERDADEIRO( ) FALSO

    B. (...) A essncia da ecologia profunda, (...) consiste emformular questes mais profundas. tambm essa umaessncia de uma mudana de paradigma. Precisamos estarpreparados para questionar cada aspecto isolado do velhoparadigma. Eventualmente, no precisaremos nos desfazerde tudo, mas antes de sabermos disso, devemos estardispostos a questionar tudo.Essa caracterizao de

    ecologia profunda de autoria de Arne Naess.

    ( ) VERDADEIRO( ) FALSO

    C. (...) Essa tica ecolgica profunda urgentementenecessria nos dias de hoje, e especialmente na cincia,uma vez que a maior parte daquilo que os cientistas fazemno atua no sentido de promover a vida nem de preservara vida, mas sim no sentido de destruir a vida. Essaafirmativa de Fritjof Capra.

    ( ) VERDADEIRO( ) FALSO

    Caros estudantes, vamos discutir a questo dos conflitossocioambientais da poca que vivemos.

    Aps a leitura do material disponvel na sala de aula, faaum registro sobre:

    O conceito de ecologia profunda e sua

    importncia para a manuteno da vida.Neste frum, importante que discuta com seus colegas,concordando ou no, justificando sua posio.

    Frum de Discusso

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    Histrico

    LutzFormado em 1950 pela Universidade Federal do Rio

    Grande do Sul, durante dois anos fez cursos

    complementares na Louisiana State University,

    aprofundando-se em agroqumica. Voltou ao Brasil e

    trabalhou durante sete anos em empresas do setor de

    adubos, no Rio Grande do Sul. Em 1957, foi convidado para

    trabalhar na Basf, na Alemanha. Partiu sem inteno devoltar e ficou 13 anos fora do pas, como executivo da

    empresa: na Alemanha, durante dois anos; na Venezuela,

    entre 59 e 66; e no Marrocos, at 1970.

    O processo que o levou a recusar uma nova promoo na

    empresa, para atuar em todo o Mediterrneo, e trocar

    uma confortvel posio de executivo de multinacional

    pelas incertezas do retorno ao Brasil, foi lento. verdade

    que havia constatado, j no incio de suas atividades na

    Basf, que o horizonte cientfico reservado aos executivosera estreito e insatisfatrio. Em depoimento ao jornalista

    Joo Batista Santaf Aguiar (32), Lutzenberger revela seu

    desconforto diante do conselho de um de seus superiores,

    Anexo 01Movimento Roessler para Defesa Ambiental.

    Jos Antonio Lutzenberger

    Disponvel em: . Acesso em 12 dez. 2010.

    O Grande Mestre

    A verdadeira, a mais profunda ESPIRITUALIDADE consiste

    em sentir-nos parte integrante deste maravilhoso e

    misterioso processo que caracteriza Gaia nosso planeta

    vivo: a fantstica sinfonia da evoluo orgnica que nos

    deu origem junto com milhes de outras espcies. sentir-

    nos responsveis pela sua continuao e desdobramento.

    J.A. Lutzenberger

    Jos Lutzenberger, um dos ambientalistas de vanguarda no

    Brasil, fundador da primeira ONG do pas dedicada

    natureza, a AGAPAN (Associao Gacha de Proteo ao

    Ambiente Natural), nos deixou no dia 14 de maio, em Porto

    Alegre. O ecologista gacho recebeu, ao longo de sua vida,

    85 condecoraes, distines, ttulos honorficos e

    comendas de estados brasileiros, de entidades civis,

    governos da Amrica Latina e da Europa tamanha a

    importncia do trabalho que desenvolveu. O sentimento

    de apreenso devido perda advm da imensa

    responsabilidade das pessoas que ficam e que no mais

    podero contar com a experincia e a militncia gratuita deLutz, que sempre foi uma grande fonte jornalstica.

    Segundo a prpria Rede Brasileira de Jornalismo

    Ambiental, nas dcadas de 70 e 80, no havia como fazer

    um enfrentamento jornalstico de certas questes sem se

    ouvir o Lutzenberger. O seu esprito empreendedor,

    engajado, razo de ser um grande incentivador da

    juventude para que procurasse um embasamento

    cientfico alm da sua postura pr-ativa em relao s

    questes ambientais foram alguns dos motivos de ter

    ganho, em 1988, em Estocolmo, na Sucia, o The Right

    Livelihood Award, o prmio Nobel Alternativo ma rea de

    ecologia.

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    ambientalistas do Brasil e do exterior ao levantar suspeita

    sobre o desvio de recursos destinados por ONGs

    estrangeiras ao combate ao desmatamento no Brasil. Foi

    paradoxalmente demitido em maro de 92, trs meses

    antes da realizao do maior evento da histria da ONU

    sobre ecologia e biodiversidade, a Rio-92.

    Manifesto Ecolgico Brasileiro: Fim do Futuro?

    Ns humanos somos um aspecto parcial e momentneo de

    um incrivelmente longo e paciente processo, da fantstica

    histria evolutiva do Caudal da Vida que caracteriza nosso

    Planeta e o distingue dos demais planetas deste sistema

    solar.

    A evoluo orgnica um processo sinfnico. As espcies,

    todas as espcies, e o Homem no exceo, evoluram e

    esto destinadas a continuar evoluindo conjuntamente e

    de maneira orquestrada. Nenhuma espcie tem sentido

    por si s, isoladamente. Todas as espcies, dominantes ou

    humildes, espetaculares ou apenas visveis, quer nos sejam

    simpticas ou as consideremos desprezveis, quer se nos

    afigurem como teis ou mesmo nocivas, todas so peas

    de uma grande unidade funcional. A Natureza no um

    aglomerado arbitrrio de fatos isolados, arbitrariamente

    alterveis ou dispensveis. Tudo est relacionado com

    tudo. Assim como numa sinfonia os instrumentos

    individuais s tm sentido como partes do todo e a

    grandiosidade do todo funo do perfeito e disciplinado

    comportamento de cada uma das partes, os seres vivos em

    seu fundo abitico s podem ser compreendidos como

    partes integrantes da maravilhosa sinfonia da evoluo

    orgnica, onde cada instrumento, por pequeno, fraco ou

    insignificante que possa parecer, essencial eindispensvel.

    Num esquema de infinitas variaes, ajustes e

    logo que chegou Alemanha: Vejo que voc se interessa

    por antropologia, filosofia, se ocupa com matemtica,

    biologia, histria, histria das religies; mas precisa ter

    conscincia de que s homem de adubo! Tem que se

    interessar por adubo!. Foi como homem de adubo que

    trabalhou na Venezuela durante quase sete anos. Alm de

    ter a oportunidade de conhecer muito bem o pas e seus

    vizinhos, tinha tempo para estudar. Na Venezuela,

    conheceu Leon Croizat, que considera at hoje uma das

    maiores autoridades mundiais em biogeografia, com quem

    pde aprofundar seus conhecimentos na rea. Supria a

    limitao do horizonte profissional com outras atividades.

    Conquistas

    Em que isso tudo resultou? As conquistas so inmeras,

    como a ao que ganhou na justia contra a empresa

    norueguesa Borregaard, que resultou na venda da

    companhia para o grupo Klabin. Essa empresa, hoje,

    trabalha com um bem sucedido programa de reciclagem de

    resduos industriais. Atuao na elaborao da lei pioneira

    7747/83, sobre defensivos agrcolas. Sua luta travada

    contra os agrotxicos e a investigao do acidente

    ecolgico de Hermenegildo (conhecido tambm por mar

    vermelha) so outras bandeiras que o gacho levantou

    energicamente.

    Fundou tambm a Fundao Gaia, com o objetivo principal

    de ter um centro de estudos humanistas que explora a

    perspectiva de conservao da vida no planeta. Alm de

    disseminar informaes sobre os perigos da globalizao e

    suas tendncias atuais, que representam um perigo para a

    humanidade no ponto de vista ecolgico e social. A

    implantao do Parque Guarita, em Torres, a criao do

    Parque de Itapu e dezenas de obras mais podem ser

    atribudas a ele.

    Segundo o ministro do Meio Ambiente, Jos Carlos

    Carvalho, disse que os brasileiros deveriam seguir o seu

    exemplo, fazendo de nosso dia-a-dia uma busca

    permanente de novas aes capazes de assegurar respeito

    fauna e flora. Mais do que isso, segundo a viso gaiana e

    holstica de Lutz, acredita-se que seria preciso assumir uma

    nova posio em relao ao modelo de desenvolvimento

    insustentvel do nosso sistema, assim como uma reviso

    dos princpios que norteiam a nossa postura tica.

    Em 1990, foi escolhido pelo ento presidente Collor de

    Melo para comandar a Secretaria de Meio Ambiente. A

    partir de ento passou a ter atritos com grupos

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    A Ecologia, como cincia da Sinfonia da Vida a cincia da

    sobrevivncia.Longe de ser uma especializao a mais, entre outras

    tantas, a Ecologia uma generalizao, ela a viso global

    das coisas, a viso sinfnica do Mundo, a viso do

    Universo como esquema racional integrado.

    * Do livro: Manifesto Ecolgico Brasileiro: Fim do

    Futuro?, Ed. Movimento, 4 ed., 1986, RS

    especialidades, plantas, animais, fungos, bactrias e vrus,

    em interao recproca e com o fundo mineral,

    complementam-se mtua e multilateralmente. Biosfera,

    Atmosfera, Hidrosfera e Litosfera encontram-se integradas

    num grande sistema homeosttico, isto , um sistema

    equilibrado, autoregulado a Ecosfera.

    Em seu entrosamento multicomplementar, os seres vivosem conjunto, ou seja, a Biosfera, constituem-se no motor

    da Ecosfera. Este motor, movido pela energia solar atravs

    da fotossntese dos vegetais, aciona os ciclos bio-geo-

    qumicos, que so o sistema de suporte da vida da Nave

    Espacial Terra. O Caudal da Vida est de tal maneira

    estruturado que ele constitui seu prprio sistema de

    suporte de vida. A sobrevivncia de cada uma das partes

    depende do funcionamento harmnico da Ecosfera como

    um todo. Esta, por sua vez, s subsiste pelo entrosamento

    perfeito de todas as suas partes. A Vida comeou na Terra

    h mais de trs bilhes de anos atrs e conseguiu manter-

    se e aperfeioar-se continuamente porque, em seu todo,

    ela sempre funcionou como sistema integrado

    homeosttico.

    Como toda nave, a Nave Espacial Terra finita. Seus

    recursos so limitados. Os ciclos bio-geo-qumicos, entre os

    quais se destacam o ciclo do oxignio, do gs carbnico e

    do nitrognio, assim como o grande ciclo da gua, veculos

    estes e de uma srie de outros, so o fluxo, em ciclo

    fechado dos recursos materiais da Vida, de tal maneira que

    tudo sempre reaproveitado - os detritos e os cadveres

    de uns so a matria-prima dos outros. Na Natureza intata

    no h poluio porque nada se perde, tudo circula

    perpetuamente.

    Resumindo: os aspectos mais importantes a ter em mente

    para a compreenso da problemtica ambiental so:

    1) a Ecosfera uma unidade funcional em que cada pea

    tem sua funo especfica, complementar de todas as

    demais. As espcies so no contexto da Ecosfera o que

    so os rgos no organismo;

    2) temos, por isso, interesse na preservao et todas as

    espcies, sem exceo;

    3) a base da sobrevivncia do sistema o comportamento

    disciplinado em equilbrio auto regulado - a homeostase;

    4) a reciclagem perfeita e perptua de todos os materiaisde que se serve a vida permite a continuao indefinida,

    atravs das eras geolgicas, com os recursos limitados

    do Planeta.

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    agora no princpio desta mudana fundamental de viso do

    mundo na cincia e na sociedade, uma mudana de

    paradigma to radical como o foi a revoluo copernicana.

    Porm, essa compreenso ainda no despontou entre a

    maioria dos nossos lderes polticos. O reconhecimento de

    que necessria uma profunda mudana de percepo e

    de pensamento para garantir a nossa sobrevivncia aindano atingiu a maioria dos lderes das nossas corporaes,

    nem os administradores e os professores de nossas

    grandes universidades.

    Nossos lderes no s deixam de reconhecer como

    diferentes problemas esto interelacionados; eles tambm

    se recusam a reconhecer como as suas assim chamadas

    solues afetam as futuras geraes. A partir do ponto de

    vista sistmico, as nicas solues viveis so as solues

    sustentveis. O conceito de sustentabilidade adquiriu

    importncia-chave no movimento ecolgico, e realmentefundamental. Lester Brown, do Worldwatch Institute, deu

    uma definio simples, clara e bela: Uma sociedade

    sustentvel aquela que satisfaz suas necessidades sem

    diminuir as perspectivas das geraes futuras. Este, em

    resumo, o grande desafio do nosso tempo: criar

    comunidades sustentveis isto , ambientes sociais e

    culturais onde podemos satisfazer as nossas necessidades

    e aspiraes, sem diminuir as chances das geraes

    futuras.

    A Mudana de Paradigma

    Na minha viso de fsico, meu principal interesse tem sido

    a dramtica mudana de concepes e de ideias que

    ocorreu na fsica durante as trs primeiras dcadas deste

    sculo, e ainda est sendo elaborada em nossas atuais

    teorias da matria. As novas concepes da fsica tem

    gerado uma profunda mudana em nossas vises de

    mundo; da viso de mundo mecanicista de Descartes e

    Newton para uma viso holstica, ecolgica.

    A nova viso da realidade no era, em absoluto, fcil de ser

    aceita pelos fsicos no comeo do sculo. A explorao dos

    mundos atmicos e subatmicos colocounos em contato

    com uma realidade estranha e inesperada. Em seus

    Anexo 02Capra, Disponvel em: . Acesso em 12 dez. 2010.

    Ecologia Profunda: Um Novo Paradigma

    Fritjof.

    Fritjof Capra

    Doutor em fsica terica pela Universidade de Viena, autor

    de O Tao da Fsica, O Ponto de Mutao e Sabedoria

    Incomum.

    Crise de Percepo

    medida em que o sculo se aproxima, as preocupaes

    com o meio ambiente adquirem suprema importncia.

    Defrontamo-nos com toda uma srie de problemas globais

    que esto danificando a biosfera e a vida humana de uma

    maneira alarmante, e que pode logo se tornar algo

    irreversvel. Temos ampla documentao a respeito da

    extenso e da importncia desses problemas.

    Quanto mais estudamos os principais problemas de nossapoca, mas somos levados a perceber que eles no podem

    ser entendidos isoladamente. So problemas sistmicos, o

    que significa dizer que esto interligados e so

    interdependentes. Por exemplo, somente ser possvel

    estabilizar a populao quando a pobreza for reduzida em

    mbito mundial. A extino de espcies animais e vegetais

    numa escala massiva continuar enquanto o Hemisfrio

    meridional estiver sob o fardo de enormes dvidas. A

    escassez dos recursos e a degradao do meio ambiente

    combina-se com populaes em rpida expanso, o que

    leva ao colapso das comunidades locais e violncia tnica

    e tribal que se tornou a caracterstica mais importante daera ps-guerra fria.

    Em ltima anlise, esses problemas precisam ser vistos,

    exatamente, como diferentes facetas de uma nica crise,

    que , em grande mdia, uma crise de percepo. Ela

    deriva do fato de que a maioria de ns, em especial nossas

    grandes instituies sociais, concordam com os conceitos

    de uma viso de mundo obsoleta, uma percepo da

    realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo

    superpovoado e globalmente interligado.

    H solues para os principais problemas de nosso tempo,

    algumas delas at mesmo simples. Mas requerem uma

    mudana radical em nossas percepes, no nosso

    pensamento e nos nossos valores. E, de fato, estamos

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    atualidade, uma reviso radical dessas suposies.

    Ecologia Profunda

    O novo paradigma pode ser chamado de uma viso de

    mundo holstica, que concebe o mundo como um todo

    integrado, e no como uma coleo de partes dissociadas.Pode tambm ser denominado viso ecolgica, se o termo

    ecolgica for empregado num sentido muito mais amplo

    e mais profundo que o usual. A percepo ecolgica

    profunda reconhece a interdependncia fundamental de

    todos os fenmenos, e o fato de que, enquanto indivduos

    e sociedade estamos todos encaixados nos processos

    cclicos da natureza (e, em ltima anlise, somos

    dependentes desses processos).

    Os dois termos, holstico e ecolgico, diferem

    ligeiramente em seus significados, e parece que holstico um pouco mais apropriado para descrever o novo

    paradigma. Uma viso holstica de uma bicicleta, digamos,

    significa ver a bicicleta como um todo funcional e

    compreender, em conformidade com isso, as

    interdependncias de suas partes. Uma viso ecolgica da

    bicicleta inclui isso, mas acrescenta-lhe a percepo de

    como a bicicleta est encaixada no seu ambiente natural e

    social de onde vm as matrias-primas que entram nela,

    como foi fabricada, como o seu uso afeta o meio ambiente

    natural e a comunidade pela qual ela usada, e assim por

    diante. Essa distino entre holstico e ecolgico

    ainda mais importante quando falamos sobre sistemasvivos, para os quais as conexes com o meio ambiente so

    muito mais vitais. O sentido em que eu uso o termo

    ecolgico est associado com uma escola filosfica

    especfica e, alm disso, com um movimento popular

    global, conhecido como ecologia profunda, que est,

    rapidamente, adquirindo proeminncia. A escola filosfica

    foi fundada pelo filsofo noruegus Arne Naess, no incio

    da dcada de 70, com sua distino entre ecologia rasa e

    ecologia profunda. Esta distino hoje amplamente

    aceita como um termo muito til para se referir a uma das

    principais divises dentro do pensamento ambientalista

    contemporneo.

    A ecologia rasa antropocntrica, ou centralizada no ser

    humano. Ele v os seres humanos como situados acima ou

    fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e

    atribui apenas um valor instrumental, ou de uso,

    natureza. A ecologia profunda no separa seres humanos

    ou qualquer outra coisa do meio ambiente natural. Ela v

    o mundo, no como uma coleo de objetos isolados, mas

    como uma rede de fenmenos que esto

    fundamentalmente interconectados e interdependentes. A

    ecologia profunda reconhece o valor intrnseco de todos osseres vivos e concebe os seres humanos apenas como um

    fio particular n ateai da vida.

    Em ltima anlise, a percepo da ecologia profunda

    esforos para apreender essa nova realidade, os cientistas

    ficaram dolorosamente conscientes de que suas

    concepes bsicas, sua linguagem e todo o seu modo de

    pensar eram inadequados para descrever os fenmenos

    atmicos. Seus problemas no eram meramente

    intelectuais, mas alcanavam as propores de uma

    intensa crise emocional e, poder-se-ia dizer, at mesmo

    existencial. Eles precisaram de um longo tempo para

    superar essa crise, mas, no fim, foram recompensados porprofundas introvises sobre a natureza da matria e de sua

    relao com a mente humana.

    As dramticas mudanas de pensamento que ocorreram na

    fsica no princpio deste sculo tm sido amplamente

    discutidas por fsicos e filsofos durante mais de cinqenta

    anos. Elas levaram Thomas Kuhn noo de um

    paradigma cientfico, definido como uma constelao

    de realizaes concepes, valores, tcnicas, etc.

    compartilhada por uma comunidade cientfica e utilizada

    por essa comunidade para definir problemas e solueslegtimos. Mudanas de paradigmas, de acordo com Kuhn,

    ocorrem sob a forma de rupturas descontnuas e

    revolucionrias denominadas mudanas de paradigma.

    Hoje, vinte e cinco anos depois da anlise de Kuhn,

    reconhecemos a mudana de paradigma em fsica como

    parte integral de uma transformao cultural muito mais

    ampla. A crise intelectual dos fsicos qunticos na dcada

    de 20 espelha-se hoje numa crise cultural semelhante,

    porm muito mais ampla.

    Conseqentemente, o que estamos vendo uma mudanade paradigma que est ocorrendo no apenas no mbito

    da cincia, mas tambm na arena social, em propores

    mais amplas. Para analisar essa transformao cultural,

    generalizei a definio de Kuhn de um paradigma cientfico

    at obter um paradigma social, que defino como uma

    constelao de concepes, de valores, de percepes e de

    prticas compartilhados por uma comunidade, que d

    forma a uma viso particular da realidade, a qual constitui

    a base da maneira como a comunidade se organiza.

    O paradigma que est agora retrocedendo dominou a

    nossa cultura por vrias centenas de anos, durante as quais

    modelou nossa moderna sociedade ocidental e influenciou

    significativamente o restante do mundo. Esse paradigma

    consiste em vrias ideias e valores entrincheirados, entre

    os quais a viso do universo como um sistema mecnico

    composto de blocos de construo elementares, a viso do

    corpo humano como uma mquina, a viso da vida em

    sociedade como uma luta competitiva pela existncia, a

    crena no progresso material ilimitado, a ser obtido por

    intermdio de crescimento econmico e tecnolgico, e

    por fim, mas no menos importante a crena em que

    uma sociedade na qual a mulher , por toda a parte,classificada em posio inferior do homem uma

    sociedade que segue uma lei bsica da natureza. Todas

    essas suposies tm sido decisivamente desafiadas por

    eventos recentes. E, na verdade, est ocorrendo, na

    09

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    afirmativas e negligenciamos as integrativas. Isso

    evidente tanto no nosso pensamento como nos nossos

    valores, e muito instrutivo colocar essas tendncias

    opostas lado a lado.

    Uma das coisas que notamos quando examinamos esta

    tabela que os valores auto-afirmativos competio,

    expanso, dominao esto geralmente associados com

    homens. De fato, na sociedade patriarcal, eles no apenas

    so favorecidos como tambm recebem recompensas epoder poltico. Essa uma das razes pelas quais a

    mudana para um sistema de valores mais equilibrados

    to difcil para a maioria das pessoas, especialmente para

    os homens.

    O poder, no sentido de dominao sobre outros, auto-

    afirmao excessiva. A estrutura social na qual exercida

    de maneira mais efetiva a hierarquia. De fato, nossas

    estruturas polticas, militares e corporativas so

    hierarquicamente ordenadas, com os homens geralmente

    ocupando os nveis superiores, e as mulheres os nveis

    inferiores. A maioria desses homens, e algumas mulheres,chegaram a considerar sua posio na hierarquia como

    parte de sua identidade, e, desse modo, a mudana para

    um diferente sistema de valores gera neles medo

    existencial.

    No entanto, h um outro tipo de poder, um poder que

    mais apropriado para o novo paradigma poder com

    influncia de outros. A estrutura ideal para exercer esse

    tipo de poder, no a hierarquia, mas a rede, que, como

    veremos, tambm a metfora central da ecologia. A

    mudana de paradigma inclui, dessa maneira, uma

    mudana na organizao social, uma mudana de

    hierarquias para redes.

    tica

    Toda a questo dos valores fundamental para a ecologia

    profunda; , de fato, sua caracterstica definidora central.

    Enquanto que o velho paradigma est baseado em valores

    antropocntricos (centralizados no ser humano), a ecologia

    profunda est alicerada em valores ecocntricos(centralizados na Terra). uma viso de mundo que

    reconhece o valor inerente da vida no-humana. Todos os

    seres vivos so membros de comunidades ecolgicas

    ligadas umas s outras numa rede de interdependncia.

    percepo espiritual ou religiosa. Quando a concepo de

    esprito humano entendida como o modo de conscincia

    na qual o indivduo tem uma sensao de pertinncia, de

    conexidade com o cosmos como um todo, torna-se claro

    que a percepo ecolgica espiritual na sua essncia

    mais profunda. No , pois, de se surpreender o fato de

    que a nova viso emergente da realidade baseada na

    percepo ecolgica profunda consistente com a

    chamada filosofia perene das tradies espirituais, querfalemos a respeito da espiritualidade dos msticos cristos,

    da dos budistas, ou da filosofia e cosmologia subjacentes

    s tradies nativas norte-americanas.

    H outro modo pelo qual Arne Naess caracterizou a

    ecologia profunda. A essncia da ecologia profunda, diz

    ele, consiste em formular questes mais profundas.

    tambm essa uma essncia de uma mudana de

    paradigma.

    Precisamos estar preparados para questionar cada aspectoisolado do velho paradigma. Eventualmente, no

    precisaremos nos desfazer de tudo, mas antes de

    sabermos disso, devemos estar dispostos a questionar

    tudo. Portanto, a ecologia profunda faz perguntas

    profundas a respeito dos prprios fundamentos da nossa

    viso de mundo e do nosso modo de vida modernos,

    cientficos, industriais, orientados para o crescimento e

    materialistas. Ela questiona todo esse paradigma com base

    numa perspectiva ecolgica: a partir da perspectiva de

    nossos relacionamentos uns com os outros, com as

    geraes futuras e com a teia da vida da qual somos parte.

    Novos Valores

    Neste breve esboo do paradigma ecolgico emergente,

    enfatizei at agora as mudanas nas percepes e nas

    maneiras de pensar. Se isso fosse tudo o que necessrio,

    a transio para um novo paradigma seria muito mais fcil.

    H, no movimento da ecologia profunda, um nmero

    suficiente de pensadores articulados e eloqentes que

    poderiam convencer nossos lderes polticos e corporativos

    acerca dos mritos do novo pensamento. Mas isso

    somente parte da histria. A mudana de paradigmas

    requer uma expanso no apenas de nossas percepes e

    maneiras de pensar, mas tambm de nossos valores.

    interessante notar aqui a notvel conexo nas mudanas

    entre pensamento e valores. Ambas podem ser vistas

    como mudanas da auto-afirmao para a integrao.

    Essas duas tendncias auto-afirmativa e a integrativa

    so, ambas, aspectos essenciais de todos os sistemas vivos.

    Nenhuma delas , intrinsecamente, boa ou m. O que

    bom, ou saudvel, um equilbrio dinmico; o que mau,ou insalubre, o desequilbrio - a nfase excessiva em uma

    das tendncias em detrimento da outra. Agora, se

    olharmos para a nossa cultura industrial ocidental,

    veremos que enfatizamos em excesso as tendncias auto-

    PENSAMENTO VALORES

    Auto-afirmativo Integrativo Auto-afirmativo Integrativo

    Racional Intuitivo Expanso Conservao

    Anlise Sntese Competio Cooperao

    Reducionista Holstico Quantidade Qualidade

    Linear No-linear Dominao Parceria

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    nos persuade de que deveramos viver respeitando certas

    normas, uma vez que somos parte integral da teia da vida.

    No entanto, se temos a percepo, ou a experincia

    ecolgica profunda de sermos parte da teia da vida, ento

    estaremos (em oposio a deveramos estar) inclinados a

    cuidar de toda a natureza viva. De fato, mal podemos

    deixar de responder dessa maneira.

    O vnculo entre ecologia e psicologia, que estabelecidopela de eu ecolgico, tem sido recentemente explorado

    por vrios autores. A ecologista profunda, Joanna Macy,

    escreve a respeito do reverenciamento do eu, o filsofo

    Warwick Fox cunhou o termo ecologia transpessoal, e o

    historiador cultural Theodore Roszak utiliza o termo

    ecopsicologia para expressar a conexo profunda entre

    esses dois campos, os quais, at muito recentemente,

    eram completamente separados.

    Mudana da Fsica para as Cincias da Vida

    Chamando a nova viso emergente da realidade de

    ecolgica no sentido da ecologia profunda, enfatizamos

    que a vida se encontra em seu prprio cerne.

    Este um ponto importante para a cincia, pois, no velho

    paradigma, a fsica foi o modelo e a fonte de metfora para

    todas as outras cincias. Toda a filosofia como uma

    rvore, escreveu Descartes. As razes so a metafsica, o

    tronco a fsica e os ramos so todas as outras cincias.

    A ecologia profunda superou essa metfora cartesiana.

    Mesmo que a mudana de paradigma em fsica ainda seja

    de especial interesse porque foi a primeira a ocorrer na

    cincia moderna, a fsica perdeu o seu papel como a

    cincia que fornece a descrio mais fundamental da

    realidade. Entretanto, hoje isso ainda no geralmente

    reconhecido. Cientistas, bem como no-cientistas,

    freqentemente retm a crena popular segundo a qual

    se voc quer realmente saber a explicao ltima, ter de

    perguntar a um fsico, o que , claramente, uma falcia

    cartesiana. Hoje, a mudana de paradigma na cincia, em

    seu nvel mais profundo, implica uma mudana da fsica

    para as cincias da vida.

    Quando essa percepo ecolgica profunda torna-se parte

    de nossa conscincia cotidiana, emerge um sistema tico

    radicalmente novo.

    Essa tica ecolgica profunda urgentemente necessria

    nos dias de hoje, e especialmente na cincia, uma vez que

    a maior parte daquilo que os cientistas fazem no atua no

    sentido de promover a vida nem de preservar a vida, mas

    sim no sentido de destruir a vida. Com os fsicosprojetando sistemas de armamentos que ameaam

    eliminar a vida do planeta, com os qumicos contaminando

    o meio ambiente global, com os bilogos pondo solta

    tipos novos e desconhecidos de microorganismos sem

    saber as conseqncias, com os psiclogos e outros

    cientistas torturando animais em nome do progresso

    cientfico com todas essas atividades em andamento,

    parece da mxima urgncia introduzir padres ecoticos

    na cincia.

    Geralmente, no se reconhece que os valores no soperifricos cincia e tecnologia, mas constituem sua

    prpria base e fora motriz. Durante a revoluo cientfica

    no sculo XVII, os valores eram separados dos fatos, e

    desde essa poca tendemos a acreditar que os fatos

    cientficos so independentes daquilo que fazemos, e so,

    portanto, independentes dos nossos valores. Na realidade,

    os fatos cientficos emergem de toda uma constelao de

    percepes, valores e aes humanos em uma palavra,

    emergem de um paradigma dos quais no podem ser

    separados. Embora grande parte das pesquisas detalhadas

    possa no depender explicitamente do sistema de valores

    do cientista, o paradigma mais amplo, em cujo mbito essapesquisa desenvolvida, nunca ser livre de valores.

    Portanto, os cientistas so responsveis pelas suas

    pesquisas, no apenas intelectual, mas tambm

    moralmente. Dentro do contexto da ecologia profunda, a

    viso segundo a qual esses valores so inerentes a toda a

    natureza viva est alicerada na experincia profunda,

    ecolgica ou espiritual, de que a natureza e o eu so um

    s. Essa expanso do eu at a identificao com a natureza

    a instruo bsica da ecologia profunda, como Arne

    Naess claramente reconhece.

    O cuidado flui naturalmente se o eu ampliado e

    aprofundado de modo que a proteo da Natureza livre

    seja sentida e concebida como proteo de ns mesmos...

    Assim como no precisamos de nenhuma moralidade para

    nos fazer respirar... [da mesma forma] se o seu eu, no

    sentido amplo dessa palavra, abraa um outro ser, voc

    no precisa de advertncias morais para demonstrar

    cuidado e afeio... voc o faz por si mesmo, sem sentir

    nenhuma presso moral para faz-lo... Se a realidade

    como experimentada pelo eu ecolgico, nosso

    comportamento, de maneira natural e bela, segue normas

    de estrita tica ambientalista.

    O que isto implica o fato de que o vnculo entre uma

    percepo ecolgica e o comportamento correspondente

    no uma conexo lgica, mas psicolgica. A lgica no

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    Anotaes

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    EAD

    AULA 02 // MOVIMENTO AMBIENTALISTA

    Viso Geral doMovimento Ambientalista

    Aes Prioritrias

    Vamos continuar conhecendo as diferentes vises sobremeio ambiente e os reflexos da ao humana sobre ele.

    Nesta aula vamos compreender melhor como surge oMovimento Ambientalista no Brasil e no Mundo, quaisinfluncias receberam e como funcionam atualmente.

    Leitura Obrigatria:Anexo 01 - Artigo: Movimento Ambientalistae Desenvolvimento Sustentvel, um brevehistrico.

    O Movimento Ambientalista se caracteriza, principalmente

    por ser advindo de movimentos populares que reivindicama proteo do meio ambiente, na maioria das vezes emdetrimento do desenvolvimento tecnolgico. Ele estembasado no trabalho de organizaes de base tais como:ONGs, Associaes de bairros, grmios estudantis entreoutros. Promove uma srie de aes e eventos bastantedistintos ao longo do ano que so divulgados pela mdiaem geral.

    Atravs desses eventos, muitos dos quais bastantepolmicos, os ecologistas conseguem ateno depesquisadores, governantes, empresrios e da populao emgeral, transmitindo sua mensagem com grande audincia.

    Dessa maneira, em muitos pases a presena constante detemas ambientais na mdia dotou o movimento ambientalistade um status maior do que de muitos outros.

    Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/ensaios/2140070.

    No entanto, o Movimento Ambientalista no atinge, comseu trabalho, o apoio de toda populao e dos diferentessegmentos da sociedade dentro do Brasil. A funo e odesempenho das instituies que compem essemovimento so severamente criticados e questionados emsua legitimidade em diversas situaes.

    Leitura Obrigatria:Anexo 02 - Artigo: Movimento ambientalista noBrasil. Representao social e complexidade da

    articulao de prticas coletivas.

    Aps a leitura do documento Movimento Ambientalista eDesenvolvimento Sustentvel, um breve histrico, faauma resenha com o mximo de 15 linhas.

    Caros estudantes, vamos discutir a questo do movimentoambientalista. Escreva sobre:

    A necessidade da mobilizao ambiental, O nvel de eficincia dos movimentos ambientais e, A contribuio que os movimentos ambientaistrazem para que se instaure o debate ambiental

    pela sociedade.

    Neste frum, importante que discuta com seus colegas,concordando ou no, justificando sua posio.

    Resenha

    Frum de Discusso

    Curso de Introduo Educao Ambiental

    PORTAL EADEDUCAO AMBIENTAL

    DISTNCIA

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    1500 um dos marcos dessa dicotomia ambiental. Com arevoluo industrial e cientfica no sculo XVIII,

    estabeleceu-se definitivamente um divisor de guas entre

    a sociedade do homem "desenvolvido" e sua cultura

    peculiar em contraponto dissonante Natureza. O

    surgimento de uma ideologia consumista nas linhas de

    produo capitalistas, deu origem s primeiras reflexes

    quanto a atuao danosa do homem sobre a Natureza.

    A partir do incio dos testes nucleares e as exploses das

    bombas atmicas sobre o povo japons, prximo a

    metade do sculo atual, que surge e se organizam os

    primeiros ambientalistas, chamados alternativos,

    procurando mostrar ao mundo a possibilidade de estar sob

    o comando de malucos poderosos, que poderiam explodir

    o planeta por conta de suas veleidades. Somado a essas, o

    quase extermnio da guia americana pelos pesticidas

    agrcolas, a crtica s desigualdades oriundas da sociedade

    de consumo, alm do grande desenvolvimento da indstria

    blica e dos estados autoritrios, levaram ao crescimento

    dos movimentos pacifistas que compuseram o surgimento

    dos hippies, vertente mais doce at hoje surgida no

    movimento ambientalista.

    Outra corrente deste surgiu com os neo-malthusianos

    embasados na teoria do economista Thomas Robert

    Malthus, que em 1798 publicou um ensaio pioneiro sobre

    o estudo do crescimento das populaes e como isso afeta

    o desenvolvimento futuro da sociedade humana.

    Propunham a necessidade do controle populacional como

    forma de conter a degradao do meio ambiente e da

    qualidade de vida. Imputa-se a esse mesmo pensamento aimplementao em pases subdesenvolvidos nos idos dos

    anos 70, inclusive o Brasil, de polticas de esterilizao de

    mulheres em comunidades carentes.

    Anexo 01Srgio de Mattos Fonseca.

    Movimento Ambientalista eDesenvolvimento Sustentvel,um Breve HistricoSrgio de Mattos Fonseca.Economista e Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Cincia Ambiental da Universidade Federal Fluminense PPGCA / UFFDiretor da APREC Associao de Proteo a Ecossistemas Costeiros ONG

    Disponvel em: . Acesso em 12 dez. 2010.

    As primeiras manifestaes organizadas em defesa do meioambiente remontam a meados do sculo XX no ps-II

    Grande Guerra, quando o homem comum tomou

    conscincia de que poderia acabar definitivamente com o

    planeta e com todas as espcies, inclusive a prpia. Aps a

    exploso das bombas de Hiroshima e Nagasaki, iniciaram-

    se na Europa manifestaes pacifistas contra o uso da

    energia nuclear em funo das consequncias desastrosas

    para a humanidade e o meio ambiente. Antes destas os

    registros ficam por conta de filsofos e pensadores,

    geralmente com variaes sobre o mesmo tema: Deus e aNatureza, ou com os naturalistas e os cientistas ligados s

    chamadas cincias naturais, buscando uma melhor

    descrio e compreenso dos fenmenos da vida.

    Entretanto para que possamos compreender a

    multiplicidade de aes geridas e perpetradas pelos

    ambientalistas defensores da utopia de uma relao

    respeitosa entre a espcie humana e a diversidade

    planetria, faz-se necessrio a identificao das principais

    correntes do pensamento existentes no seio ambiental.

    O Movimento Ambientalista

    O pensamento ambiental vem sendo expresso ao longo da

    histria do homem principalmente pelos filsofos e

    telogos, a exemplo de Francisco de Assis o santo

    ecolgico. Segundo Herculano (1992), remontam ao sculo

    XVI os primeiros questionamentos do homem sobre o meio

    ambiente, com as grandes navegaes e a ampliao das

    fronteiras mundiais para novos continentes, contrapondo acultura e a civilizao europia aos costumes e a relao

    com o meio ambiente dos habitantes do novo mundo. A

    carta de Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal no ano de

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    "el nio". Os verdes, surgiram nas eleies de 1983 da

    Alemanha, com uma proposta de ecologia social contra o

    consumismo provocado pela alienao das linhas de

    produo. Suas propostas visam a descentralizao para o

    ativismo ambiental, a reao pacfica, a melhora na

    distribuio social da renda e uma conduta tica em

    relao ao meio ambiente (need not greed, ou seja, uma

    economia verde voltada para as necessidades e no para olucro).

    Complementando a amostragem surge na atualidade os

    eco-tecnicistas, os chamados "eco-chatos", cuja viso

    reducionista, otimista e imobilista, acredita na soluo dos

    problemas ambientais atravs do desenvolvimento

    cientfico e da introduo de novas tcnicas. Com uma

    retrica positivista, incorrem numa viso fragmentada e

    tecnicista, desconhecendo o sentido holstico e ecolgico

    da Natureza.

    O Desenvolvimento Sustentvel

    O conceito de desenvolvimento sustentvel (DS) cada vez

    mais torna-se fludo, acomodando-se de acordo com o

    formato do recipiente cerebral que o contm. De uma

    forma ou de outra, todos possuem a noo do que DS e

    quando perguntado, via de regra, o cidado enrola a lngua

    e as ideias ou desfia um colar de prolas quase sempre

    misturando crescimento econmico com preservao

    ambiental e ausncia de poluio. Em busca da

    compreenso do que DS, longe de procurar alcanar um

    nico conceito, faz-se necessrio o entendimento de que a

    temtica do desenvolvimento ganhou fora no contexto

    da "Guerra Fria" do incio dos anos 60, quando ficou ntida

    para o mundo a emergncia de duas potncias dos

    escombros da II Grande Guerra Mundial: os Estados

    Unidos-EUA e a Unio das Repblicas Socialistas Soviticas-

    URSS. Foi neste contexto que comeou uma guerra

    psicolgica detonada pelos EUA no ocidente, que buscava

    identificar o americam way of life com o que

    desenvolvido e moderno, restando outra potncia a

    pecha de retrgrada e atrasada. Assim o termo era

    colocado sob uma tica reducionista, identificando-o com

    a importao pelos pases dos valores culturais da

    sociedade norte-americana, assim como seu modelo de

    industrializao, acompanhados de projetos de

    "cooperao internacional" como a Aliana para o

    Progresso, implementado no Brasil durante o governo do

    presidente americano J.F. Kenedy, no perodo inicial de

    governo dos militares ps-64, corroborado pelas altas taxas

    de crescimento econmico expressas pelo aumento do PIB

    - Produto Interno Bruto dos pases, agora chamados, em

    Cabe a ressalva que a esterilizao no era o pensamento

    dos ambientalistas, mas o controle racional movido pela

    conscincia de limite dos recursos naturais, como no

    exemplo clssico dos pastores medievais que levam seus

    rebanhos a um pasto comunal e a restrio natural ao

    aumento desses rebanhos, sob pena do esgotamento do

    pasto e o fim de todas as ovelhas.

    Com a presso do governo da Sucia sobre a ONU, por

    motivo do desastre ecolgico da Baa de Minamata, no

    Japo, realizou-se em 1972 a Conferncia de Estocolmo,

    uma reunio internacional sobre o meio ambiente. A partir

    desta surgiram mais duas correntes do pensamento

    ambientalista: os zeristas e os marxistas. Os zeristas,

    servindo-se da trincheira do Clube de Roma e com as

    armas fornecidas pelo relatrio de Meadows et alii sobre

    os Limites do Crescimento, propunham o crescimento zero

    para a economia mundial respaldados em projees

    computacionais sobre o crescimento exponencial da

    populao e do capital industrial como ciclos positivos,

    resultando em ciclos negativos representados pelo

    esgotamento dos recursos naturais, poluio ambiental e a

    fome. Assim previam o caos mundial em menos de quatro

    geraes. J os marxistas embasados na contribuio no

    mesmo ano de Goldsmith et alii e o Manifesto pela

    Sobrevivncia, atribuam a culpa ao sistema capitalista e ao

    consumismo da ideologia do suprfluo, provocando a

    banalisao das necessidades e a presso irresponsvel

    sobre o meio ambiente, obtendo como subproduto do

    crescimento industrial a degradao ambiental. Os

    marxistas franceses a mesma poca prope a mudana do

    modo de produo e consumo, fundamentados em uma

    ecologia com tica socialista, que abandone a produo de

    gadgets pela produo de bens necessrios transformando

    o trabalho rduo em trabalho criador, reduzindo este para

    aumentar o lazer cultural e a relao ecolgica do homem

    com o meio ambiente.

    Com uma viso universal e baseados em uma

    compreenso ecolgica do planeta, os fundamentalistas

    deixam de lado o antropocentrismo em nome de uma

    interpretao ecocntrica, onde a Terra um enorme

    organismo vivo, parte de outro universal e maior, onde o

    homem uma das formas de vida existente, no possuindo

    assim qualquer direito de ameaar a sobrevivncia de

    outras criaturas ou o equilbrio ecolgico do organismo.

    Para James Lovelock a Terra Gaia, nome que d ao

    planeta, capaz de reaes contrrias s agresseshumanas. Segundo nosso entendimento essas reaes

    podem estar sendo refletidas na reduo da camada de

    oznio em nossa atmosfera, o efeito estufa e o fenmeno

    15

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    coloca os pases desenvolvidos em dbito com a

    recuperao dos ecossistemas do planeta. Desta forma

    conclui-se que DS seja um mosaico de entendimentos,

    cabendo desde a leitura de uma forma neocolonialista ou

    da continuidade do domnio imperialista sobre os pases

    subdesenvolvidos, assim como paradigma para uma

    compreenso ambiental holstica, nova forma de

    relacionamento do homem com a Natureza, um resgate danatureza humana como mais uma das espcies que

    compe a biodiversidade, incorporando-se de forma

    ecolgica a viagem que a nossa breve existncia no

    planeta Terra.

    Bibliografia

    CMMAD - Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e

    Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum. FundaoGetlio Vargas, Rio de Janeiro, 1988.

    HERCULANO, Selene Carvalho. Do desenvolvimento

    (in)suportvel sociedade feliz. In coletnea Ecologia,

    Cincia e Poltica, coordenao de Mrian Goldenberg, pg.

    9, 1992.

    MEADOWS, D.H. et alii. Limites do Crescimento. Ed.

    Perspectiva, So Paulo, 1973.

    desenvolvimento. A reao abaixo do equador veio pela

    Comisso Econmica para a Amrica Latina - CEPAL,

    quando tinha a frente economistas do porte de Celso

    Furtado, propondo o rompimento das relaes de trocas

    desiguais, ainda com matiz do antigo pacto colonial do

    remoto sculo XVIII, em prol do desenvolvimento de uma

    industrializao endgena. Os economistas cepalinos no

    identificam no crescimento econmico capitalista,necessriamente, o desenvolvimento das sociedades,

    demonstrando que o aumento da renda per capita no

    um indicador confivel de bem estar. A ttulo de ilustrao,

    recentemente a ONU divulgou, atravs do PNUD -

    Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento, uma

    reviso no seu ndice de desenvolvimento humano - IDH -

    que busca avaliar os diferentes estgios de

    desenvolvimento das naes, relacionando o poder

    aquisitivo, com a expectativa de vida e o nvel de

    escolaridade nos pases membros. Neste ranking o Brasil,entre as dez maiores economias mundiais, aparece em

    modesto 79 lugar. Esta situao nos leva a refletir se o

    crescimento industrial sem limites est levando

    eliminao da misria, ou apenas possibilitando que esta

    se veja e seja vista ao vivo e a cores por uma "aldeia

    global".

    Foi a partir do relatrio divulgado pela Sra. Brundtland, ex-

    primeira ministra da Noruega, sob o nome de Nosso Futuro

    Comum, que a expresso DS ganhou notoriedade. Este

    documento foi a base das discusses da ECO 92 ou RIO

    92, uma conferncia internacional sobre meio ambiente

    promovida pela ONU no Rio de Janeiro, em

    prosseguimento quela realizada em 1972 na cidade de

    Estocolmo. O relatrio prope o conceito de que DS seria a

    capacidade das atuais geraes de atender s suas

    necessidades sem comprometer o atendimento das

    necessidades das geraes futuras (CMMAD, 1988).

    Enaltecido por uns e criticado por outros, tem a seu favor o

    fato de trazer definitivamente para o cenrio mundial a

    problemtica ambiental, propondo uma mudana no teor

    do crescimento econmico, mas pecando na identificao

    da pobreza dos pases subdesenvolvidos como uma das

    causas da degradao ambiental. Entre os prpios

    economistas h o entendimento de que a pobreza um

    dos rejeitos da acumulao capitalista.

    Assim vista como um efluente poluidor , ao contrrio,

    identificam nos pases "desenvolvidos" o foco gerador

    desta poluio humana. Com isso amplia-se o conceito de

    DS, alm da poltica do bom comportamento,internalizando a este a questo das externalidades, ou seja,

    a incorporao dos danos ambientais provocados pela

    atividade econmica, aos custos das indstrias, o que

    16

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    Natureza (FBCN) com objetivos e modo de atuaoestritamente conservacionistas, que centrava suasatividades na preservao da fauna e da flora, comparticular nfase naquelas ameaadas de extino. Nadcada de 70 a FBCN com a colaborao da Unio Mundialpara a Conservao IUCN e o Fundo Mundial paraNatureza - WWF- comeou um programa de financiamentoem colaborao com agncias ambientais.

    Em 1966 iniciada a Campanha pela Defesa eDesenvolvimento da Amaznia (CNNDA) no esforo demobilizar a sociedade para a preservao da Amaznia. Em1971 criada a Associao Gacha de Proteo aoAmbiente Natural (AGAPAN) que tem um perfil maisabrangente do que as outras organizaes que lheprecederam, destacando-se pela ousadia em formular umprograma de promoo da ecologia e de questionamentodos impactos predatrios da poluio causada pelasindstrias (1).

    Na segunda metade da dcada de 70 surgem diversosgrupos ambientalistas, que se estruturam no momentoonde se inicia o processo de liberalizao poltica, e peloestmulo gerado para a questo ambiental pelaConferncia de Estocolmo em 1972. Nessa ocasiocresceram as acusaes de alguns pases desenvolvidos emrelao postura predominante em pases emdesenvolvimento a respeito da ausncia de normas paracontrolar os graves problemas ambientais. O Brasil tevepapel de destaque como organizador do bloco dos pasesem desenvolvimento que viam no aumento das restriesambientais uma interferncia nos planos nacionais dedesenvolvimento. No Brasil, por exemplo, as restriesambientais eram conflitantes com as estratgias de

    Anexo 02Srgio de Mattos Fonseca.

    JACOBI, Pedro. Movimento ambientalista no Brasil. Representao social e complexidade da articulao de prticas coletivas. In: Ribeiro, W. (org.)Publicado em Patrimnio Ambiental EDUSP 2003.

    Movimento ambientalista no Brasil.Representao social e complexidade daarticulao de prticas coletivas.Pedro Jacobi. FE/USP. PROCAM/USPProfessor Associado Livre Docente da Faculdade de Educao da Universidade de So PauloPresidente e Professor do Programa de Ps-Graduao em Cincia Ambiental da Universidade de So Paulo

    Publicado em Patrimnio Ambiental EDUSP - 2003

    Disponvel em: . Acesso em 16 dez. 2010.

    Introduo

    O ambientalismo brasileiro tem assumido uma crescenteinfluncia na formulao e implementao de polticaspblicas e na promoo de estratgias para um novo estilo,sustentvel, de desenvolvimento. Neste artigo abordo oambientalismo no Brasil e suas inflexes, dividindo-o emtrs partes focando a emergncia do ambientalismo apartir da dcada de 70, a multiplicao de atoresenvolvidos na questo a partir da dcada de 80 e asituao atual, ao final dos anos 90.

    1. A emergncia da mobilizao ambiental

    A partir de meados da dcada de 70, o ambientalismopassa a ter maior expresso na sociedade brasileira,resultado, segundo Viola e Leis, (1992) de um acombinao de processos exgenos e endgenos. Dentreas foras externas possvel destacar a Conferncia deEstocolmo de 1972 e a volta de polticos exiladosanistiados no ano de 1979. As foras internas sorepresentadas pela superao do mito desenvolvimentista,pelo aumento da devastao amaznica, a formao deuma nova classe mdia, influenciada pelos novos debatessobre a qualidade de vida, e o malogro dos movimentosarmados de esquerda.

    No Brasil, as primeiras iniciativas ambientalistas seoriginam nas aes de grupos preservacionistas na dcadade 50. Em 1955 fundada a Unio Protetora do AmbienteNatural (UPAN) pelo naturalista Henrique Roessler em SoLeopoldo no Rio Grande do Sul, e em 1958 criada no Rio

    de Janeiro a Fundao Brasileira para a Conservao da

    17

    (1) Viola e Leis, 1992: 81-84.

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    ausncia de uma interao com as entidades da sociedadecivil, a ao do Estado pautada por medidas paternalistasou autoritrias.

    A cooperao se fortalece a partir das dinmicas quearticulam aproximaes e inclusive a influncia dasassociaes que at ento se caracterizavam por umaao ambiental confinada com um muito baixo impacto

    sobre a opinio pblica. Este ambientalismo restrito,confinado organizacionalmente, estava reduzido a umconjunto de pequenos grupos da sociedade civil e depessoas que dentro da estrutura federal, federal eestadual, acreditavam na importncia de proteger o meioambiente. Um fato importante a se destacar que duranteesse perodo, a ao dos rgos ambientais, centrada napoluio industrial por vezes complementa, ou mesmocontrape-se, s iniciativas das organizaesambientalistas, centradas na preservao dos ecossistemasnaturais.

    interessante observar que outras questes diretamenteligadas aos problemas de agravamento da degradaoambiental, tais com o crescimento populacional e dficit desaneamento no faziam parte da agenda dessasorganizaes, contribuindo para uma viso limitada darealidade. Os grupos se concentram na sua maioria naregio Sul-Sudeste (2), e so compostos por ativistas quedesenvolvem atividades seja em comunidades alternativasrurais como iniciam aes de educao ambiental,trabalhos de proteo e recuperao de ambientesdegradados, proteo a ambientes ameaados, edenunciam os problemas de degradao do meio ambienteambiental apoiados financeiramente por um grupo restritode simpatizantes. A sua atuao est centrada nesseperodo de implantao e consolidao na denuncia e naconscientizao pblica sobre a degradao ambiental,principalmente com enfoque local, e em alguns casosdesenvolvem campanhas de abrangncia regional emesmo nacional, como o caso da campanha de dennciacontra o desmatamento na Amaznia em 1978, a lutacontra a inundao de Sete Quedas no Rio Paran (1979-1983), a luta contra a construo de usinas nucleares(1977-1985), a luta pela aprovao de leis do controle e deestmulo ao uso intensivo de agrotxicos (1982-1985) (3).Muitas destas lutas obtiveram bastante repercusso no

    exterior, e foram referncia relevante para a multiplicaode presses contra o governo brasileiro durante os anosfinais do regime autoritrio, sendo que a maioria dasprticas eram pautadas pelo voluntarismo dos militantesmais engajados. As suas foras so complementadas pelavolta de ativistas polticos ao pas aps a anistia, bastanteinfluenciados pelos movimentos ambientalistas da Europae Estados Unidos.(4)

    desenvolvimento apoiadas justamente na implantao deindustrias poluentes como a petroqumica e a instalao degrandes projetos energticos-minerais. importanteressaltar que a postura brasileira coincide com o perodode auge de crescimento econmico do pas, atingindo 10%ao ano.

    Ainda assim, em 1973 as agncias ambientais passam a

    integrar o cenrio nacional com a criao da SecretariaEspecial do Meio Ambiente -SEMA-, vinculada aoMinistrio do Interior, com a funo de traar estratgiaspara conservao do meio ambiente e para o uso racionaldos recursos naturais. Tambm nesta poca alguns estadosmais industrializados vo criar as primeiras agnciasambientais para controle da poluio, como a Companhiade Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb), em SoPaulo, e a Fundao de Engenharia do Meio Ambiente(Feema), no Rio de Janeiro.

    Estas iniciativas, antes de significar um comprometimento

    efetivo do governo brasileiro com a luta para a proteoambiental, funcionaram como uma tentativa do governobrasileiro para atenuar sua imagem negativa no cenrioexterno devido sua atuao na Conferncia deEstocolmo. Predominava ainda a ideia de que os recursosnaturais deveriam ser utilizados para acelerar o processode desenvolvimento econmico, tomando alguns cuidadospara minimizar os problemas de poluio e preservaralguns recursos naturais (Ferreira e Ferreira, 1992).

    Configura-se, portanto uma dinmica bissetorial, entreagncias ambientais estatais e algumas entidadesambientalistas, caracterizando segundo Viola e Leis (!992),uma relao dialtica entre as agncias ambientais e asentidades ambientalistas baseada no conflito e nacooperao. O primeiro decorre da percepo, por partedas entidades, da pouca eficincia dos controles dapoluio exercido pelas agncias. A principal crtica aexcessiva tolerncia com as indstrias pela poluioprovocada e a morosidade dos processos de fiscalizao.Para as agncias, por sua vez, as entidades tm umapostura ingnua e no possuem o conhecimentonecessrio para entender as complexas relaes entreindstria e meio ambiente. A cooperao ocorre na medidaem que existe uma certa cumplicidade entre esses dois

    atores por duas razes. Primeiro, porque vrios dosfuncionrios que atuam nas agncias tambm exercematividades nas entidades. Segundo, devido serempraticamente os nicos defensores de uma polticaambiental em um contexto onde esta poltica relegada aum segundo plano. No fundo, a dualidade observada narelao das agncias com as entidades representa adialtica existente no pas entre Estado e sociedade. Na

    18

    (2) A AMDA- Associao Mineira de Defesa Ambiental fundada em 1978 com o objetivo de lutar contra todos os atos de degradao do meio ambiente,

    desenvolver trabalho s de recuperao e proteo de ambientes degradados, ameaados, educao ambiental, e pesquisa cientfica. Para mais informaesver o site da AMDA www.amda.org.br -

    (3) Leis, 1996: 98.

    (4) Destaca-se a figura de Fernando Gabeira que adquire ampla visibilidade pblica e inicia a organizao do Partido Verde no Brasil.

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    dcada de 80 se torna cada vez mais claro que aspromessas desenvolvimentistas no poderiam seconcretizar: os problemas socais no foram resolvidos egraves distores como a concentrao da renda e dapropriedade se agravam. Nesse sentido, a crise do modelode desenvolvimento uma fora motriz, na medida emque se acelera na opinio pblica a tomada de conscinciada devastao ambiental. A extenso das queimadas na

    Amaznia e no Cerrado e a eliminao quase total da MataAtlntica estimula a articulao de lutas que agregamONGs ambientalistas europias e norteamericanas sbrasileiras contra projetos que interferem no meioambiente. Isto produz um primeiro alerta na opiniopblica norteamericana e europia a respeito dodesmatamento da Amaznia. Alm disso, a deteriorao daqualidade ambiental nos grandes centros urbanos,notadamente o caso de Cubato, ganha espao crescentena mdia nacional e internacional.

    O caso de Cubato emblemtico na medida em que as

    entidades ambientalistas trouxeram de forma radicalizadapara a agenda de discusso poltica da dcada de 80 umaintensa movimentao da opinio pblica em torno dosdramticos impactos decorrentes do desastrescioambiental provocado pelo descaso das industrias coma qualidade da vida da populao da regio, notadamentedos setores mais carentes. Intenso debate e polmica soincentivados por alguns meios de comunicao quereforam o papel do movimento ambientalista cobrandosolues para os problemas de crianas com malformaescongnitas, trabalhadores leucopnicos e famliasamedrontadas.

    importante ressaltar, no entanto, que as prticas dosmovimentos se restringem na maioria dos casos aossetores mais esclarecidos compostos por pessoasvinculadas ao universo acadmico, aos militantes departidos, setores profissionais, ativistas sociais. poucofreqente o engajamento de setores circunscritos mo deobra desqualificada ou aos setores mais carentes dapopulao. Estes no geral se fazem presentes atravs darepresentao de Associaes de Vtimas, que no geral tem sua frente pessoas oriundas da classe mdia oumilitantes do movimento operrio. No geral no so aesou condutas espontneas que emergiram do seio dos

    setores de baixa renda, atingidas imediatamente pelapobreza e pela degradao ambiental.

    Tambm deve se destacar como agente articulador ecatalizador o surgimento de uma classe mdia,principalmente no sul e sudeste, disposta a apoiar asatividades de carter ambiental, tais como a mobilizaocontra a construo de usinas nucleares, j citada, adestruio de Sete Quedas no Paran para construo deItaip, ou ainda, as campanhas para diminuir o uso intensode agrotxicos empregados na agricultura, representandouma confluncia entre ecologismo rural e urbano.

    Estas lutas representam marcos da ao ambientalista noBrasil, na medida em que marcam o incio dequestionamentos de polticas de governo atravs dacomunidade cientfica e de organizaes ambientalistas. Oengajamento da SBPC no movimento antinuclear e nomovimento que denuncia a degradao ambiental domunicpio de Cubato na Baixada Santista um fator que

    agrega legitimidade e potencializa protestos e mobilizaoda opinio pblica. interessante observar que outrasquestes diretamente ligadas aos problemas deagravamento da degradao ambiental, tais com ocrescimento populacional e dficit de saneamento nofaziam parte da agenda dessas organizaes, contribuindopara uma viso limitada da realidade.

    Concomitantemente, os grupos ambientalistas que seorganizam e multiplicam de forma bastante aceleradanessa poca no pas sofrem forte influncia dos ideriosdefendidas por seus pares nos Estados Unidos e na Europa,

    notadamente no que se refere adoo de um sistema devalores que representa um questionamento dos impactosda civilizao urbano-industrial, assim como da degradaoambiental provocada pelos empreendimentos humanos.Nesse contexto, destacam-se, a destruio dosecossistemas naturais e o uso abusivo de agrotxicos, umaluta que a Associao Protetora do Meio Ambiente(AGAPAN), no Rio Grande do Sul, tinha, desde a suafundao, como uma das suas prioridades. A sua atuaofoi muito intensa e no s concretizou uma presso bemsucedida junto Assemblia Legislativa daquele estadoque culminou na aprovao da primeira lei estadual deagrotxicos em 1983 como o seu exemplo se disseminoupor Santa Catarina, Paran e So Paulo, onde leis similaresforam aprovadas em 1984.

    Estas iniciativas ambientais ocupam durante a dcada de70 e a primeira metade dos 80, uma posio secundria nodiscurso dos movimentos reivindicatrios pela constituioda cidadania. Isto pode ser explicado por dois motivosprincipais. De um lado, o maior interesse dos movimentossociais em torno dos problemas ligados mais diretamente pobreza e satisfao das necessidades bsicas doshomens, tais como a carncia de saneamento, dehabitao, de transporte e de educao. De outro, a

    herana militar do golpe de 64 que, tendo na sua base osideais de Ordem e Progresso, procurava se legitimaratravs de um a interveno estatal voltada para ocrescimento econmico. Nesse contexto, as propostasecologistas no tiveram nenhuma influncia sobre o futuroda sociedade brasileira. Na verdade, em um discurso noqual o mito desenvolvimentista aparece como nico capazde superar os terrveis problemas enfrentados pelo pas, odiscurso relativo necessidade de preservar o meioambiente emergia com o anttese do desenvolvimentonacional. (5)

    Durante a dcada de 70 e, principalmente no incio da

    (5) FERREIRA, Leila & FERREIRA, Lucia, 1 992: 25-26

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    movimento ecolgico em diversas cidades do Sul-Sudesteno nvel do processo decisrio das polticas pblicasmunicipais. Isto provoca gradualmente uma mudanaqualitativa na opinio pblica que passa a legitimar as lutasambientais e os atores envolvidos. Contribuindo tambmde forma decisiva para o fortalecimento da varivelambiental no campo institucional, destaca-se nessa dcadaa opo de vrios ambientalistas em enveredar

    diretamente pelo campo poltico, disputando cargoseletivos. Esta escolha, representa, tanto a percepo deparcela dos representantes dos movimentos ambientalistasda pouca efetividade das aes feitas pelas ONGs, assimcomo o entendimento que o discurso verde encontravaj ressonncia na sociedade brasileira. A prtica, contudo,mostrou que a sociedade estava apenas despertando paraos assuntos ecolgicos. Dos vinte candidatosambientalistas que concorreram para a AssembliaConstituinte, apenas um foi eleito (Viola e Vieira, 1992). (6)

    Apesar da eleio de um nico candidato defendendo uma

    proposta estritamente ambientalista, a maiorreceptividade da temtica ambiental na esfera polticapossibilitou a formao na Assemblia Constituinte de1988 de uma Frente Parlamentar Verde (15% dosdeputados, oriundos principalmente do Partido SocialDemocrata Brasileiro e do Partido dos Trabalhadores), quelogrou transformar a legislao ambiental brasileira emuma das mais modernas do mundo, em termos deproteo ambiental. Destacam-se o zoneamentoambiental, a exigncia de apresentao de Estudos deImpactos Ambientais, e que sejam discutidos emaudincias pblicas e a introduo de diversas penalidadespara agentes agressores do meio ambiente. O movimentorealiza em 1988-1989 uma tarefa semelhante diante dasconstituintes estaduais.

    A partir da segunda metade da dcada de 80, no entanto, atemtica ambiental assume um papel bem mais relevanteno discurso dos diversos atores que compem a sociedadebrasileira. J desde o incio dos anos 80 surgem inmerosgrupos ambientalistas, mas a sua contabilizao muitodifcil, na medida em que muitos tm vida efmera. O seucrescimento ao longo da dcada muito expressivo.Muitas das associaes adquirem visibilidade pela atuaode um ncleo ativo composto por um nmero restrito de

    integrantes, sendo que em geral existem catalizadores daao institucional em virtude de visibilidade pblica,autoridade nas decises do grupo, acesso aos meios decomunicao e acesso s agncias estatais.

    O ambientalismo se expande, e penetra em outras reas edinmicas organizacionais estimulando o engajamento degrupos socio-ambientais, cientficos, movimentos sociais eempresariais, nos quais o discurso do desenvolvimentosustentado assume papel de preponderncia. (7)

    Para Viola (1992) durante a fase fundacional dominou noambientalismo brasileiro uma definio estrita daproblemtica ambiental que o restringiu, basicamente, acombater a poluio e a apoiar a preservao deecossistemas naturais caracterizou uma dinmica dedistanciamento de diversas entidades em relao ao temada justia social. Parte significativa das associaesambientalistas no tinham praticamente nenhum dilogo

    ou repercusso na populao mais excluda,principalmente porque em muitos casos os gruposdefendiam intransigentemente o ambiente, levando muitopouco em considerao as dimenses socio-econmicas dacrise ambiental. Um dos fatores que explica a poucaaderncia do discurso ambiental na sociedade foi, semdvida, o isolamento das organizaes ambientalistas dosoutros movimentos sociais, uma vez que priorizava em seudiscurso a necessidade de garantir a qualidade ambiental,ignorando as demais demandas sociais.

    Viola e Nickel (1994) observam que apesar da emergncia

    do ambientalismo nos pases do Sul, como o caso doBrasil, terem bastante similaridade com processosequivalentes no Norte, a diferena principal reside na baixaprioridade dada na agenda dos ambientalistas brasileirosaos temas em relao melhoria do saneamento bsicourbano e, assim como de articular as questes ambientaiscom a eqidade social.

    Isto s comea a se manifestar mais explicitamente a partirde meados dos anos 80, com o desenvolvimento doscioambientalismo.

    2. Dcada de 80: a multiplicao das prticassocioambientais

    A partir dcada de 80, duas vertentes passam a ganharcorpo dentro no movimento ambiental brasileiro. Primeiroa constatao dos limites do aparato jurdico-institucionaldisponvel, face ao agravamento dos desafios ambientais.

    Segundo, cresce a percepo dentro do movimentoambientalista de que o discurso ambiental no seencontrava efetivamente disseminado na sociedadebrasileira. Alm disso, a resistncia profissionalizao das

    ONGs, melhorando sua eficincia organizacional,caracterstica importante das ONGs norte-americanas,contribuiu para menor eficcia de suas aes. Nessesentido, a dcada de 80 caracterizada por iniciativas paraaprimorar os instrumentos legais de gesto ambiental, aescolha de parcela dos ambientalistas em enveredar pelocampo poltico institucional e uma busca das ONGsambientalistas em se profissionalizar e de se aproximar dasONGs sociais.

    As transformaes que ocorrem no tecido social dosmovimentos se refletem em vitrias concretas das lutas do

    (6) A eleio de Fbio Feldman n marca a primeira vitria de um candidato cuja prioridade era lutar pela defesa e melhoria da qualidade ambiental.

    (7) VIOLA, Eduardo & VIEIRA, Paulo, 1992.

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    conhecido depois do assassinato de Chico Mendes (8); ainterao das ONGs com o movimento indgena, acoplando luta tradicional dos ndios pela proteo de suas terras, apreservao do meio ambiente; a aproximao comsetores do Movimento dos Sem Terra (9), incluindo avarivel ambiental na luta pelo acesso a terra e, por fim,uma aproximao junto a diversas associaes de bairro,que incluram a qualidade ambiental em suas demandas.

    A importncia da vertente scio-ambientalista pode serverificada pelo crescimento do nmero de entidades nogovernamentais, movimentos sociais e sindicatos queincorporam a questo ambiental na sua agenda deatuao. A presena destas prticas aponta para anecessidade de pensar modelos sustentveis, revelandouma preocupao em vincular intimamente a questoambiental questo social.

    3. O movimento ambientalista ampliado

    Apenas em meados da dcada de 80, segmentos doambientalismo brasileiro passam a entender a importnciade ampliar a conexo com os movimentos sociais. Dessaforma, as ONGs ambientais procuram estabelecer umdilogo com os sindicatos, alm de passarem a apoiardesde grupos comunitrios

    Muitas das entidades ambientalistas procuram diversasformas de profissionalizar-se, atravs da captao derecursos de fundaes e ONGs da Europa e dos EstadosUnidos, e isto abre um novo caminho para seufortalecimento institucional.

    Entre 1985 e 1991 ocorre um boom de novas entidadesambientalistas, entretanto a maior parte delas nosobrevive pela sua incapacidade em aglutinar grupos demilitantes e voluntrios. Isto se depreende do fato de queo primeiro Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistasno Brasil produzido entre 1991 e 1993 relacionou 1533entidades e o mesmo cadastro nacional em 1996produzido em 1996 por trs instituies (MaterNatura/ISER/WWF) revela a existncia de 985 entidadesque se reconhecem ambientalistas ou fazendo um trabalho

    O maior interesse da opinio pblica em relao temticaambiental representa um importante incentivo para amultiplicao das organizaes ambientalistas.Aproximadamente 90% das associaes ambientalistas tmsua sede no sul e sudeste, sendo compostamajoritariamente por universitrios e pessoas com rendasuperior mdia nacional. Mas comea a ocorrer um certadisseminao no Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Nessa

    fase, as organizaes ainda no eram reconhecidas comointerlocutoras por parte do setor pblico e privado e suasaes se continuam a se concentrar na mobilizao contrafbricas poluidoras e degradao de reas verdes, comoparques nacionais, estaduais e municipais. Na realidade, asconquistas dessas organizaes para reverter efetivam entea degradao do meio ambiente foram bastante restritas.No entanto, inegvel sua importncia para despertar aconscientizao sobre a problemtica ambiental nos maisdiversos setores da sociedade brasileira, embora a tnicade seu discurso permanecesse a mesma.

    A multisetorializao do ambientalismo provoca umatransformao organizacional, e isto quebra o isolamento ea relao especular que caracterizava o bissetorialismo dafase anterior, afetando poderosamente a cada um dessessetores, que agora passam a intercambiar e receberinfluncias e demandas de atores com dinmicas maisprofissionalizadas (Leis, 1996:109-112).

    Ocorre uma crescente inovao na cultural ambientalistabrasileira. As entidades transcendem a prtica da denunciae tm como objetivo central a formulao de alternativasviveis de conservao e /ou de restaurao de ambientesdanificados, O socioambientalismo se torna parteconstitutiva de um universo cada vez m ais amplo deorganizaes no governamentais e movimentos sociais.Isto ocorre na medida em que os grupos ambientalistasinfluenciam diversos movimentos sociais que embora notenham como seu eixo central a problemtica ambiental,incorporam gradativamente a proteo ambiental comoum a dimenso relevante do seu trabalho.

    Entre os diversos atores, pode-se destacar a aproximaocom os seringueiros da Amaznia e o apoio das ONGs criao das reservas extrativistas, internacionalmente

    21

    (8) Chico Mendes nasceu no Acre em 1944 e adquiriu notoriedade como lder durante os empates, quando os trabalhadores florestais formavam verdadeirasbarreiras humanas para impedir o desmatamento pelos novos colonos assentados. Em 1975 31 anos entrou para o sindicato de Trabalhadores Rurais e nessapoca lanou suas ideias para a criao de Reservas Extrativistas. Tratava-se de um conceito inovador uma rea de propriedade do governo a ser usadaunicamente em benefcio da comunidade que nela vive e que, em troca, utilizaria mtodos sustentveis de explorao de recursos florestais, funcionandocomo uma cooperativa, em benefcio da coletividade. frente do Sindicato Chico Mendes ganhava crescente ateno da mdia, e sua vida comeou a serameaada por fazendeiros e madeireiros que, inescrupulosamente chegaram disposto s a expulsar os seringueiros das terras, desmatar e atear fogo nafloresta. Em 13 anos de movimento tornou-se o alvo principal de fazendeiros e empresrios bem sucedidos, policiais corruptos, advogados, juizes e polticosque viam nele um obstculo para seus objetivos comerciais. Em 22 de dezembro de 1988 foi morto durante uma emboscada no quintal da sua prpria casaem Xapuri no Acre. poca Chico Mendes era presidente do Conselho Nacional de Seringueiros (CNS) e sua morte teve grande repercusso no snacional,mas internacional. Dez anos aps a sua morte, Chico Mendes lembrado como lder ecolgico, tornando-se o primeiro mrtir internacional do meioambiente.

    ()9 O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST- nasceu das lutas que os trabalhadores rurais foram desenvolvendo de forma isolada, na regioSul do Brasil, pela conquista da terra desde o final da dcada de 70. A matriz do Movimento o acampamento da Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta- RS.O MST tem trs grandes objetivos: a terra, a reforma agrria e uma sociedade mais justa. Em 1999, o MST est organizado em 23 estados da Federao, e em13 anos de existncia, quase 150 mil famlias j conquistaram terra. Grande parte dos assentados se organiza em torno de cooperativas de produo. em proldo abastecimento de gua at os movimentos de seringueiros e ndios na Amaznia. tambm a partir dessa poca que essas ONGs vo iniciar umamudana de postura, superando sua rejeio a qualquer dilogo com economistas ou em presrios, por entenderem que ecologia e economia eramincompatveis

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    O agravamento da crise econmica, a aproximao comoutros movimentos sociais e o relatrio Nosso FuturoComum contriburam para que o tema desenvolvimentoeconmico, rejeitado pelos ambientalistas brasileiros atincio d dcada de 80, fosse incorporado no discursoambiental.

    O marco diferenciador a passagem de prticas que

    podem ser definidas apenas como reativas para prticasproativas, na medida em que em escala crescente asorganizaes tem como objetivo central a afirmao deuma alternativa vivel de conservao ou de restauraodo ambiente danificado. As entidades ambientalistas estodistribudas ao longo do territrio, porm com maior graude concentrao na regio sudeste do pais, tendo com oreferncia atuaes geralmente bem delimitadas tais comoconservao de algum ecossistema, melhoramento daqualidade ambiental (gua, ar, resduos slidos), educaoambiental e ampliao do acesso informao eagricultura sustentvel, dentre as principais. As fontes de

    recursos so as instituies de cooperao internacional eas organizaes multilaterais que freqentementecontratam estudos e avaliaes de impactos ambientais. Asentidades se capacitam cada vez mais para exercer umantida influncia sobre as agncias estatais de meioambiente, o poder legislativo, a comunidade cientfica e oempresariado.

    importante destacar tambm o surgimento efortalecimento de numerosos conselhos, consultivos edeliberativos, em vrias reas e em todos os nveis (federal,estadual e municipal) com a participao ativa derepresentantes de ONGs e movimentos sociais. Asinstncias de gesto que agregam estes atores soconselhos de meio ambiente, os comits de bacias e areas de proteo ambiental (APAs). Entretanto,freqentemente so instncias bastante formais, sempoder influenciar no processo decisrio, e onde arepresentao assume muitas vezes carter bastantecontraditrio.

    4. Da Rio 92 Rio+5

    Essas novas ideias do ambientalismo brasileiro vo sefortalecer durante a preparao da Rio-92, inserindo cadavez mais o movimento ambiental nacional numa redeinternacional, ao mesmo tempo que possibilita a maiorinterao das entidades ambientalistas a 1990 a partir daconstituio do Frum Brasileiro do ONGs e MovimentosSociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.

    Segundo Viola (1996:50), nas vsperas da Conferncia. ARio 92 obriga os atores a se situarem num espaomultissetorial levando sua reflexo e prtica em direo aodesenvolvimento sustentvel. Muda o contedo,diminuindo significativamente o discurso que falava em

    sistemtico neste campo, das quais 725 so ONGs. (10)Deste total, nem mesmo 400 tm estatuto, registro ousede, e mesmo as que esto legalizadas ouinstitucionalizadas, e que contam com um quadro deassociados maior no conseguem ter um ncleo demilitantes com mais de 20 pessoas (Crespo, 1993, 1997).Crespo (1997:293) mostra com base neste cadastro que amaior parte das ONGs ambientalistas atuam localmente,

    so amadoras, no tem sede, nem staff remunerado, eoperam oramentos inferiores a 50.000,00 dlares. destetotal 78% realizam projetos destinados a comunidadeslocais e 80% privilegiam o pblico escolar e a educaoambiental na comunidade. A maioria delas se situa naregio sudeste Esprito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiroe So Paulo) com aproximadamente 48% do total.

    Em relao s ONGs, que representavam 700 em 1989,mudanas importantes tambm foram observadas. Emboraa maior parte dessas entidades continuassem a funcionarde forma amadorstica e voluntarista, algumas

    organizaes procuraram se reestruturar buscando umamaior profissionalizao de suas atividades. A abertura deescritrios de importantes organizaes internacionaiscomo a Greenpeace e a Friends of Earth tambmcontribuiu para a evoluo dessas organizaes. Muitasdeixaram de lado o objetivo genrico de estimular aconscientizao ou de se concentrarem nas dennciascontra agresso ambiental, para atuarem em objetivosespecficos para preservao e recuperao ambiental.Dessa forma, as novas organizaes se estruturaram emtorno de objetivos claros como melhoramento daqualidade da gua e do ar, educao ambiental etc. Almdisso, trataram de ampliar sua sustentabilidade financeiraatravs de mecanismos diversos de financiamento:organismos internacionais, rgos pblicos, doaes deempresas e mensalidades dos associados. (11)

    interessante notar que o processo de melhor articulaodas organizaes ambientalistas, e destas com asdenominadas ONGs sociais, , bastante complexo, gerandodiversos conflitos. Alm disso, persiste uma resistncia dasONGs sociais em trabalhar conjuntamente com as ONGsambientais. As ONGs socais, estruturadas h mais tempodo que as ambientais, e contando com recursos humanosmais qualificados tcnica e politicamente, classificam as

    propostas dos grupos ecolgicos como ingnuas oudesvinculados da realidade social brasileira. Nesse sentido,as prprias organizaes no governamentaisremanescentes das organizaes populares da dcadaanterior, buscaram ampliar seu leque de atuao,recorrendo diretamente a financiamento externo para odesenvolvimento de projetos nessa rea.

    Vale notar que as mudanas na forma de atuao domovimento ambientalista brasileiro complementada coma transformao de seu discurso dominante nesta dcada.

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    (10) Realizao conjunta da Mater Natura/ISER/WWF, 1996.

    (11) VIOLA, Eduardo & LEIS, Hector, 1992.

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    articulaes que se estruturam para articular aescoletivas para questionar programas ou projetos para umaregio ou cidade. Este caso dos Fruns de ONGs eMovimentos Sociais de Rondnia e Mato Grosso, Grupo deTrabalho Amaznico que se multiplica pelo interior daAmazonia, Rede Mata Atlntica, Coalizo Rios Vivos. Outrasredes se organizam para enfrentar determinada polticapblica ou sua ausncia em torno de guas,

    biodiversidade, como o caso da Rede Contra A Seca, GTSociobiodiversidade e GT Floresta do Frum Brasileiro deONGs. A Rede Projeto Tecnologias Alternativas (Rede PTA),que representa hoje 22 entidades das regies Nordeste,Sudeste e Sul se articula em torno de um projeto comuminovador como o caso da agricultura sustentvel.

    5. Coalizes e Redes

    O grande ponto de inflexo do movimento ambientalistaocorre com a constituio de foruns e redes que tmimportncia estratgica para ativar expandir e consolidar o

    carter multissetorial do ambientalismo, notadamenteatravs da reunio dos setores que representam asassociaes ambientalistas e os movimentos sociais. Trata-se de um processo bastante complexo, em virtude da suaheterogeneidade tanto organizativa como ideolgica.

    No processo preparatrio da Rio 92, por iniciativa dealgumas ONGs criado o Frum de ONGs Brasileiraspreparatrio Conferncia da Sociedade Civil sobre o MeioAmbiente e Desenvolvimento, simultaneamente Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento. O Frum brasileiro realizou oito

    encontros plenrios nacionais e contava com a filiao deaproximadamente 1200 organizaes em 1992 cumprindosua misso de fomentar a participao da sociedadebrasileira na Rio-92 e nos eventos paralelos que organizoudiscutindo um novo padro de desenvolvimentoecologicamente sustentvel. A realizao do Frum Globalcontribui significativamente para integrar o ambientalismobrasileiro num processo de articulao e networkinginternacional.

    No quadro da preparao para a Rio-92, o Frum elaborouo Relatrio Meio Ambiente e Desenvolvimento : UmaViso das ONGS e dos Movimentos Sociais Brasileiros.

    Aps a Conferncia, ainda em 199