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Concepes Tericas
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Curso de Introduo Educao Ambiental
ConcepesTericas
Aula 1 - Ecologia profunda - 03
Aula 2 - Movimento Ambientalista - 13
Aula 3 - Viso Antropocntrica - 31
Aula 4 - Naturalista Preservacionista - 39
Aula 5- Permacultura - 43
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Caro Aluno,
DESEJAMOS A VOC UM EXCELENTE APROVEITAMENTO!
Alm das boas vindas, trazemos algumas dicas importantes para voc:
Voc ter em sua trajetria de ensino e aprendizagem a presena constante do articulador local, cujafuno ser o de mediador entre o saber e o aluno. Acompanhar o aluno em seus avanos,
orientando em suas dificuldades, favorecendo o domnio do contedo, agindo como ponte na
construo do conhecimento e realizando a sua avaliao ao final de cada mdulo. O aluno poder
solicitar ao articulador um atendimento individual, quando necessrio, atravs de e-mail, para sanar
suas dvidas e/ou discutir questes necessrias ao seu desenvolvimento e aprendizagem.
de suma importncia que voc se organize para os estudos. Lembre-se que o horrio flexvel e
voc quem gerenciar o seu tempo, de acordo com a sua disponibilidade, adequando-o a sua
agenda pessoal. S no poder perder os prazos determinados, aconselhamos que se dedique ao
estudo dos mdulos, ao menos uma hora por dia.
O curso exigir o estudo de documentos que estaro disponveis em cada mdulo, porm sero
sugeridas a leitura de textos complementares com artigos de autores diversos, que formaro a base
terica sobre o tema do curso, bem como a recomendao da leitura de livros, que ficar a critrio do
aluno.
Ofrum representa uma importante ferramenta de avaliao do aluno, pois ali que o seu
aprendizado sobre o contedo trabalhado ser demonstrado. Outros mecanismos de avaliao sero
utilizados e no decorrer dos estudos, voc ir conhec-los.
VAMOS AO TRABALHO!
Equipe Pedaggica
Mrcia Cruz
Maria Eleonora Cordeiro Ferreira
Susy Bortot Hpker
Projeto Grfico
Hiroshi Homma
Lucinia Percigili
Departamento de Transportes
Instituto Tecnolgico de Transportes e Infraestrutura
Eduardo Ratton
Gilza Fernandes Blasi
Departamento de Design
Dulce Maria Paiva Fernandes
Dulce de Meira Albach
Luciane Fadel
EQUIPE TCNICA
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EADCurso de Introduo Educao Ambiental
AULA 01 // ECOLOGIA PROFUNDAA Ecologia Profunda
Viso de Mundo
A introduo do livro "A Vida Secreta da Natureza", de Carlos Cardoso Aveline, define assim a Ecologia Profunda: "A natureza,cuja evoluo eterna, possui valor em si mesma, independentemente da utilidade econmica que tem para o ser humanoque vive nela. Esta ideia central define a chamada ecologia profunda cuja influncia hoje cada vez maior e expressa apercepo prtica de que o homem parte inseparvel, fsica, psicolgica e espiritualmente, do ambiente em que vive".
O filsofo noruegus Arne Naess, em 1973, props esse novo paradigma e o denominou de Ecologia Profunda. Essa visoclaramente se ops ao paradigma dominante.
O quadro abaixo demonstra, pelo menos em parte, as propostas de Arne Naess e as suas diferenas frente a viso de mundopredominante.
Naess A. The shallow and the deep, long-range ecology movements: a summary. Inquiry 1973;16:95:100.
03
O homem gasta toda sua sade para conquistar riqueza,depois gasta toda sua riqueza para restaurar sua sade.
Vive como se nunca fosse morrer e morre sem nunca ter vividoDalai Lama
VISO DE MUNDO ECOLOGIA PROFUNDA
Domnio da Natureza Harmonia com a Natureza
Ambiente natural como recurso para os seres humanos Toda a Natureza tem valor intrnseco
Seres humanos so superiores aos demais seres vivos Igualdade entre as diferentes espcies
Crescimento econmico e material como basepara o crescimento humano
Objetivos materiais a servio de objetivosmaiores de auto-realizao
Crena em amplas reservas de recursos Planeta tem recursos limitados
Progresso e solues baseados em alta tecnologia Tecnologia apropriada e cincia no dominante
Consumismo Fazendo com o necessrio e reciclando
Comunidade Nacional Centralizada Biorregies e reconhecimento de tradies das minoriais
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Leitura Obrigatria:Anexo 01 - Movimento RoesslerJos Antonio Lutzenberger
Nas palavras de Fritjof Capra: "O ambientalismo superficial antropocntrico. V o homem acima ou fora da natureza,
como fonte de todo valor, e atribui a natureza um valor
apenas instrumental ou de uso. A Ecologia Profunda no
separa do ambiente natural o ser humano nem qualquer
outro ser. V o mundo como uma teia de fenmenos
essencialmente inter-relacionados e interdependentes. Ela
reconhece que estamos todos inseridos nos processos
cclicos da natureza e somos dependentes deles".
Leitura Obrigatria:Anexo 02Artigo: Ecologia Profunda - Fritjof Capra
No Brasil
No Brasil, nesta mesma poca, o Prof. Jos Lutzemberger j
propunha ideias semelhantes e desencadeava o
movimento ecolgico brasileiro com a criao da AGAPAN(Associao Gaucha de Proteo ao Ambiente Natural).
Conhea o que pensava esse ambientalista brasileiro
precursor nas lutas ambientais:
Questionrio
Vamos testar parte dos conhecimentos que se apropriouat o momento? Analise as afirmativas e assinaleverdadeiro ou falso.
A. A mudana radical dos nossos valores, pensamento econseqentemente de nossas percepes, sobre amanuteno da vida resultar em solues para os
principais problemas presentes em nosso Planeta.
( ) VERDADEIRO( ) FALSO
B. (...) A essncia da ecologia profunda, (...) consiste emformular questes mais profundas. tambm essa umaessncia de uma mudana de paradigma. Precisamos estarpreparados para questionar cada aspecto isolado do velhoparadigma. Eventualmente, no precisaremos nos desfazerde tudo, mas antes de sabermos disso, devemos estardispostos a questionar tudo.Essa caracterizao de
ecologia profunda de autoria de Arne Naess.
( ) VERDADEIRO( ) FALSO
C. (...) Essa tica ecolgica profunda urgentementenecessria nos dias de hoje, e especialmente na cincia,uma vez que a maior parte daquilo que os cientistas fazemno atua no sentido de promover a vida nem de preservara vida, mas sim no sentido de destruir a vida. Essaafirmativa de Fritjof Capra.
( ) VERDADEIRO( ) FALSO
Caros estudantes, vamos discutir a questo dos conflitossocioambientais da poca que vivemos.
Aps a leitura do material disponvel na sala de aula, faaum registro sobre:
O conceito de ecologia profunda e sua
importncia para a manuteno da vida.Neste frum, importante que discuta com seus colegas,concordando ou no, justificando sua posio.
Frum de Discusso
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Histrico
LutzFormado em 1950 pela Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, durante dois anos fez cursos
complementares na Louisiana State University,
aprofundando-se em agroqumica. Voltou ao Brasil e
trabalhou durante sete anos em empresas do setor de
adubos, no Rio Grande do Sul. Em 1957, foi convidado para
trabalhar na Basf, na Alemanha. Partiu sem inteno devoltar e ficou 13 anos fora do pas, como executivo da
empresa: na Alemanha, durante dois anos; na Venezuela,
entre 59 e 66; e no Marrocos, at 1970.
O processo que o levou a recusar uma nova promoo na
empresa, para atuar em todo o Mediterrneo, e trocar
uma confortvel posio de executivo de multinacional
pelas incertezas do retorno ao Brasil, foi lento. verdade
que havia constatado, j no incio de suas atividades na
Basf, que o horizonte cientfico reservado aos executivosera estreito e insatisfatrio. Em depoimento ao jornalista
Joo Batista Santaf Aguiar (32), Lutzenberger revela seu
desconforto diante do conselho de um de seus superiores,
Anexo 01Movimento Roessler para Defesa Ambiental.
Jos Antonio Lutzenberger
Disponvel em: . Acesso em 12 dez. 2010.
O Grande Mestre
A verdadeira, a mais profunda ESPIRITUALIDADE consiste
em sentir-nos parte integrante deste maravilhoso e
misterioso processo que caracteriza Gaia nosso planeta
vivo: a fantstica sinfonia da evoluo orgnica que nos
deu origem junto com milhes de outras espcies. sentir-
nos responsveis pela sua continuao e desdobramento.
J.A. Lutzenberger
Jos Lutzenberger, um dos ambientalistas de vanguarda no
Brasil, fundador da primeira ONG do pas dedicada
natureza, a AGAPAN (Associao Gacha de Proteo ao
Ambiente Natural), nos deixou no dia 14 de maio, em Porto
Alegre. O ecologista gacho recebeu, ao longo de sua vida,
85 condecoraes, distines, ttulos honorficos e
comendas de estados brasileiros, de entidades civis,
governos da Amrica Latina e da Europa tamanha a
importncia do trabalho que desenvolveu. O sentimento
de apreenso devido perda advm da imensa
responsabilidade das pessoas que ficam e que no mais
podero contar com a experincia e a militncia gratuita deLutz, que sempre foi uma grande fonte jornalstica.
Segundo a prpria Rede Brasileira de Jornalismo
Ambiental, nas dcadas de 70 e 80, no havia como fazer
um enfrentamento jornalstico de certas questes sem se
ouvir o Lutzenberger. O seu esprito empreendedor,
engajado, razo de ser um grande incentivador da
juventude para que procurasse um embasamento
cientfico alm da sua postura pr-ativa em relao s
questes ambientais foram alguns dos motivos de ter
ganho, em 1988, em Estocolmo, na Sucia, o The Right
Livelihood Award, o prmio Nobel Alternativo ma rea de
ecologia.
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ambientalistas do Brasil e do exterior ao levantar suspeita
sobre o desvio de recursos destinados por ONGs
estrangeiras ao combate ao desmatamento no Brasil. Foi
paradoxalmente demitido em maro de 92, trs meses
antes da realizao do maior evento da histria da ONU
sobre ecologia e biodiversidade, a Rio-92.
Manifesto Ecolgico Brasileiro: Fim do Futuro?
Ns humanos somos um aspecto parcial e momentneo de
um incrivelmente longo e paciente processo, da fantstica
histria evolutiva do Caudal da Vida que caracteriza nosso
Planeta e o distingue dos demais planetas deste sistema
solar.
A evoluo orgnica um processo sinfnico. As espcies,
todas as espcies, e o Homem no exceo, evoluram e
esto destinadas a continuar evoluindo conjuntamente e
de maneira orquestrada. Nenhuma espcie tem sentido
por si s, isoladamente. Todas as espcies, dominantes ou
humildes, espetaculares ou apenas visveis, quer nos sejam
simpticas ou as consideremos desprezveis, quer se nos
afigurem como teis ou mesmo nocivas, todas so peas
de uma grande unidade funcional. A Natureza no um
aglomerado arbitrrio de fatos isolados, arbitrariamente
alterveis ou dispensveis. Tudo est relacionado com
tudo. Assim como numa sinfonia os instrumentos
individuais s tm sentido como partes do todo e a
grandiosidade do todo funo do perfeito e disciplinado
comportamento de cada uma das partes, os seres vivos em
seu fundo abitico s podem ser compreendidos como
partes integrantes da maravilhosa sinfonia da evoluo
orgnica, onde cada instrumento, por pequeno, fraco ou
insignificante que possa parecer, essencial eindispensvel.
Num esquema de infinitas variaes, ajustes e
logo que chegou Alemanha: Vejo que voc se interessa
por antropologia, filosofia, se ocupa com matemtica,
biologia, histria, histria das religies; mas precisa ter
conscincia de que s homem de adubo! Tem que se
interessar por adubo!. Foi como homem de adubo que
trabalhou na Venezuela durante quase sete anos. Alm de
ter a oportunidade de conhecer muito bem o pas e seus
vizinhos, tinha tempo para estudar. Na Venezuela,
conheceu Leon Croizat, que considera at hoje uma das
maiores autoridades mundiais em biogeografia, com quem
pde aprofundar seus conhecimentos na rea. Supria a
limitao do horizonte profissional com outras atividades.
Conquistas
Em que isso tudo resultou? As conquistas so inmeras,
como a ao que ganhou na justia contra a empresa
norueguesa Borregaard, que resultou na venda da
companhia para o grupo Klabin. Essa empresa, hoje,
trabalha com um bem sucedido programa de reciclagem de
resduos industriais. Atuao na elaborao da lei pioneira
7747/83, sobre defensivos agrcolas. Sua luta travada
contra os agrotxicos e a investigao do acidente
ecolgico de Hermenegildo (conhecido tambm por mar
vermelha) so outras bandeiras que o gacho levantou
energicamente.
Fundou tambm a Fundao Gaia, com o objetivo principal
de ter um centro de estudos humanistas que explora a
perspectiva de conservao da vida no planeta. Alm de
disseminar informaes sobre os perigos da globalizao e
suas tendncias atuais, que representam um perigo para a
humanidade no ponto de vista ecolgico e social. A
implantao do Parque Guarita, em Torres, a criao do
Parque de Itapu e dezenas de obras mais podem ser
atribudas a ele.
Segundo o ministro do Meio Ambiente, Jos Carlos
Carvalho, disse que os brasileiros deveriam seguir o seu
exemplo, fazendo de nosso dia-a-dia uma busca
permanente de novas aes capazes de assegurar respeito
fauna e flora. Mais do que isso, segundo a viso gaiana e
holstica de Lutz, acredita-se que seria preciso assumir uma
nova posio em relao ao modelo de desenvolvimento
insustentvel do nosso sistema, assim como uma reviso
dos princpios que norteiam a nossa postura tica.
Em 1990, foi escolhido pelo ento presidente Collor de
Melo para comandar a Secretaria de Meio Ambiente. A
partir de ento passou a ter atritos com grupos
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A Ecologia, como cincia da Sinfonia da Vida a cincia da
sobrevivncia.Longe de ser uma especializao a mais, entre outras
tantas, a Ecologia uma generalizao, ela a viso global
das coisas, a viso sinfnica do Mundo, a viso do
Universo como esquema racional integrado.
* Do livro: Manifesto Ecolgico Brasileiro: Fim do
Futuro?, Ed. Movimento, 4 ed., 1986, RS
especialidades, plantas, animais, fungos, bactrias e vrus,
em interao recproca e com o fundo mineral,
complementam-se mtua e multilateralmente. Biosfera,
Atmosfera, Hidrosfera e Litosfera encontram-se integradas
num grande sistema homeosttico, isto , um sistema
equilibrado, autoregulado a Ecosfera.
Em seu entrosamento multicomplementar, os seres vivosem conjunto, ou seja, a Biosfera, constituem-se no motor
da Ecosfera. Este motor, movido pela energia solar atravs
da fotossntese dos vegetais, aciona os ciclos bio-geo-
qumicos, que so o sistema de suporte da vida da Nave
Espacial Terra. O Caudal da Vida est de tal maneira
estruturado que ele constitui seu prprio sistema de
suporte de vida. A sobrevivncia de cada uma das partes
depende do funcionamento harmnico da Ecosfera como
um todo. Esta, por sua vez, s subsiste pelo entrosamento
perfeito de todas as suas partes. A Vida comeou na Terra
h mais de trs bilhes de anos atrs e conseguiu manter-
se e aperfeioar-se continuamente porque, em seu todo,
ela sempre funcionou como sistema integrado
homeosttico.
Como toda nave, a Nave Espacial Terra finita. Seus
recursos so limitados. Os ciclos bio-geo-qumicos, entre os
quais se destacam o ciclo do oxignio, do gs carbnico e
do nitrognio, assim como o grande ciclo da gua, veculos
estes e de uma srie de outros, so o fluxo, em ciclo
fechado dos recursos materiais da Vida, de tal maneira que
tudo sempre reaproveitado - os detritos e os cadveres
de uns so a matria-prima dos outros. Na Natureza intata
no h poluio porque nada se perde, tudo circula
perpetuamente.
Resumindo: os aspectos mais importantes a ter em mente
para a compreenso da problemtica ambiental so:
1) a Ecosfera uma unidade funcional em que cada pea
tem sua funo especfica, complementar de todas as
demais. As espcies so no contexto da Ecosfera o que
so os rgos no organismo;
2) temos, por isso, interesse na preservao et todas as
espcies, sem exceo;
3) a base da sobrevivncia do sistema o comportamento
disciplinado em equilbrio auto regulado - a homeostase;
4) a reciclagem perfeita e perptua de todos os materiaisde que se serve a vida permite a continuao indefinida,
atravs das eras geolgicas, com os recursos limitados
do Planeta.
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agora no princpio desta mudana fundamental de viso do
mundo na cincia e na sociedade, uma mudana de
paradigma to radical como o foi a revoluo copernicana.
Porm, essa compreenso ainda no despontou entre a
maioria dos nossos lderes polticos. O reconhecimento de
que necessria uma profunda mudana de percepo e
de pensamento para garantir a nossa sobrevivncia aindano atingiu a maioria dos lderes das nossas corporaes,
nem os administradores e os professores de nossas
grandes universidades.
Nossos lderes no s deixam de reconhecer como
diferentes problemas esto interelacionados; eles tambm
se recusam a reconhecer como as suas assim chamadas
solues afetam as futuras geraes. A partir do ponto de
vista sistmico, as nicas solues viveis so as solues
sustentveis. O conceito de sustentabilidade adquiriu
importncia-chave no movimento ecolgico, e realmentefundamental. Lester Brown, do Worldwatch Institute, deu
uma definio simples, clara e bela: Uma sociedade
sustentvel aquela que satisfaz suas necessidades sem
diminuir as perspectivas das geraes futuras. Este, em
resumo, o grande desafio do nosso tempo: criar
comunidades sustentveis isto , ambientes sociais e
culturais onde podemos satisfazer as nossas necessidades
e aspiraes, sem diminuir as chances das geraes
futuras.
A Mudana de Paradigma
Na minha viso de fsico, meu principal interesse tem sido
a dramtica mudana de concepes e de ideias que
ocorreu na fsica durante as trs primeiras dcadas deste
sculo, e ainda est sendo elaborada em nossas atuais
teorias da matria. As novas concepes da fsica tem
gerado uma profunda mudana em nossas vises de
mundo; da viso de mundo mecanicista de Descartes e
Newton para uma viso holstica, ecolgica.
A nova viso da realidade no era, em absoluto, fcil de ser
aceita pelos fsicos no comeo do sculo. A explorao dos
mundos atmicos e subatmicos colocounos em contato
com uma realidade estranha e inesperada. Em seus
Anexo 02Capra, Disponvel em: . Acesso em 12 dez. 2010.
Ecologia Profunda: Um Novo Paradigma
Fritjof.
Fritjof Capra
Doutor em fsica terica pela Universidade de Viena, autor
de O Tao da Fsica, O Ponto de Mutao e Sabedoria
Incomum.
Crise de Percepo
medida em que o sculo se aproxima, as preocupaes
com o meio ambiente adquirem suprema importncia.
Defrontamo-nos com toda uma srie de problemas globais
que esto danificando a biosfera e a vida humana de uma
maneira alarmante, e que pode logo se tornar algo
irreversvel. Temos ampla documentao a respeito da
extenso e da importncia desses problemas.
Quanto mais estudamos os principais problemas de nossapoca, mas somos levados a perceber que eles no podem
ser entendidos isoladamente. So problemas sistmicos, o
que significa dizer que esto interligados e so
interdependentes. Por exemplo, somente ser possvel
estabilizar a populao quando a pobreza for reduzida em
mbito mundial. A extino de espcies animais e vegetais
numa escala massiva continuar enquanto o Hemisfrio
meridional estiver sob o fardo de enormes dvidas. A
escassez dos recursos e a degradao do meio ambiente
combina-se com populaes em rpida expanso, o que
leva ao colapso das comunidades locais e violncia tnica
e tribal que se tornou a caracterstica mais importante daera ps-guerra fria.
Em ltima anlise, esses problemas precisam ser vistos,
exatamente, como diferentes facetas de uma nica crise,
que , em grande mdia, uma crise de percepo. Ela
deriva do fato de que a maioria de ns, em especial nossas
grandes instituies sociais, concordam com os conceitos
de uma viso de mundo obsoleta, uma percepo da
realidade inadequada para lidarmos com nosso mundo
superpovoado e globalmente interligado.
H solues para os principais problemas de nosso tempo,
algumas delas at mesmo simples. Mas requerem uma
mudana radical em nossas percepes, no nosso
pensamento e nos nossos valores. E, de fato, estamos
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atualidade, uma reviso radical dessas suposies.
Ecologia Profunda
O novo paradigma pode ser chamado de uma viso de
mundo holstica, que concebe o mundo como um todo
integrado, e no como uma coleo de partes dissociadas.Pode tambm ser denominado viso ecolgica, se o termo
ecolgica for empregado num sentido muito mais amplo
e mais profundo que o usual. A percepo ecolgica
profunda reconhece a interdependncia fundamental de
todos os fenmenos, e o fato de que, enquanto indivduos
e sociedade estamos todos encaixados nos processos
cclicos da natureza (e, em ltima anlise, somos
dependentes desses processos).
Os dois termos, holstico e ecolgico, diferem
ligeiramente em seus significados, e parece que holstico um pouco mais apropriado para descrever o novo
paradigma. Uma viso holstica de uma bicicleta, digamos,
significa ver a bicicleta como um todo funcional e
compreender, em conformidade com isso, as
interdependncias de suas partes. Uma viso ecolgica da
bicicleta inclui isso, mas acrescenta-lhe a percepo de
como a bicicleta est encaixada no seu ambiente natural e
social de onde vm as matrias-primas que entram nela,
como foi fabricada, como o seu uso afeta o meio ambiente
natural e a comunidade pela qual ela usada, e assim por
diante. Essa distino entre holstico e ecolgico
ainda mais importante quando falamos sobre sistemasvivos, para os quais as conexes com o meio ambiente so
muito mais vitais. O sentido em que eu uso o termo
ecolgico est associado com uma escola filosfica
especfica e, alm disso, com um movimento popular
global, conhecido como ecologia profunda, que est,
rapidamente, adquirindo proeminncia. A escola filosfica
foi fundada pelo filsofo noruegus Arne Naess, no incio
da dcada de 70, com sua distino entre ecologia rasa e
ecologia profunda. Esta distino hoje amplamente
aceita como um termo muito til para se referir a uma das
principais divises dentro do pensamento ambientalista
contemporneo.
A ecologia rasa antropocntrica, ou centralizada no ser
humano. Ele v os seres humanos como situados acima ou
fora da natureza, como a fonte de todos os valores, e
atribui apenas um valor instrumental, ou de uso,
natureza. A ecologia profunda no separa seres humanos
ou qualquer outra coisa do meio ambiente natural. Ela v
o mundo, no como uma coleo de objetos isolados, mas
como uma rede de fenmenos que esto
fundamentalmente interconectados e interdependentes. A
ecologia profunda reconhece o valor intrnseco de todos osseres vivos e concebe os seres humanos apenas como um
fio particular n ateai da vida.
Em ltima anlise, a percepo da ecologia profunda
esforos para apreender essa nova realidade, os cientistas
ficaram dolorosamente conscientes de que suas
concepes bsicas, sua linguagem e todo o seu modo de
pensar eram inadequados para descrever os fenmenos
atmicos. Seus problemas no eram meramente
intelectuais, mas alcanavam as propores de uma
intensa crise emocional e, poder-se-ia dizer, at mesmo
existencial. Eles precisaram de um longo tempo para
superar essa crise, mas, no fim, foram recompensados porprofundas introvises sobre a natureza da matria e de sua
relao com a mente humana.
As dramticas mudanas de pensamento que ocorreram na
fsica no princpio deste sculo tm sido amplamente
discutidas por fsicos e filsofos durante mais de cinqenta
anos. Elas levaram Thomas Kuhn noo de um
paradigma cientfico, definido como uma constelao
de realizaes concepes, valores, tcnicas, etc.
compartilhada por uma comunidade cientfica e utilizada
por essa comunidade para definir problemas e solueslegtimos. Mudanas de paradigmas, de acordo com Kuhn,
ocorrem sob a forma de rupturas descontnuas e
revolucionrias denominadas mudanas de paradigma.
Hoje, vinte e cinco anos depois da anlise de Kuhn,
reconhecemos a mudana de paradigma em fsica como
parte integral de uma transformao cultural muito mais
ampla. A crise intelectual dos fsicos qunticos na dcada
de 20 espelha-se hoje numa crise cultural semelhante,
porm muito mais ampla.
Conseqentemente, o que estamos vendo uma mudanade paradigma que est ocorrendo no apenas no mbito
da cincia, mas tambm na arena social, em propores
mais amplas. Para analisar essa transformao cultural,
generalizei a definio de Kuhn de um paradigma cientfico
at obter um paradigma social, que defino como uma
constelao de concepes, de valores, de percepes e de
prticas compartilhados por uma comunidade, que d
forma a uma viso particular da realidade, a qual constitui
a base da maneira como a comunidade se organiza.
O paradigma que est agora retrocedendo dominou a
nossa cultura por vrias centenas de anos, durante as quais
modelou nossa moderna sociedade ocidental e influenciou
significativamente o restante do mundo. Esse paradigma
consiste em vrias ideias e valores entrincheirados, entre
os quais a viso do universo como um sistema mecnico
composto de blocos de construo elementares, a viso do
corpo humano como uma mquina, a viso da vida em
sociedade como uma luta competitiva pela existncia, a
crena no progresso material ilimitado, a ser obtido por
intermdio de crescimento econmico e tecnolgico, e
por fim, mas no menos importante a crena em que
uma sociedade na qual a mulher , por toda a parte,classificada em posio inferior do homem uma
sociedade que segue uma lei bsica da natureza. Todas
essas suposies tm sido decisivamente desafiadas por
eventos recentes. E, na verdade, est ocorrendo, na
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afirmativas e negligenciamos as integrativas. Isso
evidente tanto no nosso pensamento como nos nossos
valores, e muito instrutivo colocar essas tendncias
opostas lado a lado.
Uma das coisas que notamos quando examinamos esta
tabela que os valores auto-afirmativos competio,
expanso, dominao esto geralmente associados com
homens. De fato, na sociedade patriarcal, eles no apenas
so favorecidos como tambm recebem recompensas epoder poltico. Essa uma das razes pelas quais a
mudana para um sistema de valores mais equilibrados
to difcil para a maioria das pessoas, especialmente para
os homens.
O poder, no sentido de dominao sobre outros, auto-
afirmao excessiva. A estrutura social na qual exercida
de maneira mais efetiva a hierarquia. De fato, nossas
estruturas polticas, militares e corporativas so
hierarquicamente ordenadas, com os homens geralmente
ocupando os nveis superiores, e as mulheres os nveis
inferiores. A maioria desses homens, e algumas mulheres,chegaram a considerar sua posio na hierarquia como
parte de sua identidade, e, desse modo, a mudana para
um diferente sistema de valores gera neles medo
existencial.
No entanto, h um outro tipo de poder, um poder que
mais apropriado para o novo paradigma poder com
influncia de outros. A estrutura ideal para exercer esse
tipo de poder, no a hierarquia, mas a rede, que, como
veremos, tambm a metfora central da ecologia. A
mudana de paradigma inclui, dessa maneira, uma
mudana na organizao social, uma mudana de
hierarquias para redes.
tica
Toda a questo dos valores fundamental para a ecologia
profunda; , de fato, sua caracterstica definidora central.
Enquanto que o velho paradigma est baseado em valores
antropocntricos (centralizados no ser humano), a ecologia
profunda est alicerada em valores ecocntricos(centralizados na Terra). uma viso de mundo que
reconhece o valor inerente da vida no-humana. Todos os
seres vivos so membros de comunidades ecolgicas
ligadas umas s outras numa rede de interdependncia.
percepo espiritual ou religiosa. Quando a concepo de
esprito humano entendida como o modo de conscincia
na qual o indivduo tem uma sensao de pertinncia, de
conexidade com o cosmos como um todo, torna-se claro
que a percepo ecolgica espiritual na sua essncia
mais profunda. No , pois, de se surpreender o fato de
que a nova viso emergente da realidade baseada na
percepo ecolgica profunda consistente com a
chamada filosofia perene das tradies espirituais, querfalemos a respeito da espiritualidade dos msticos cristos,
da dos budistas, ou da filosofia e cosmologia subjacentes
s tradies nativas norte-americanas.
H outro modo pelo qual Arne Naess caracterizou a
ecologia profunda. A essncia da ecologia profunda, diz
ele, consiste em formular questes mais profundas.
tambm essa uma essncia de uma mudana de
paradigma.
Precisamos estar preparados para questionar cada aspectoisolado do velho paradigma. Eventualmente, no
precisaremos nos desfazer de tudo, mas antes de
sabermos disso, devemos estar dispostos a questionar
tudo. Portanto, a ecologia profunda faz perguntas
profundas a respeito dos prprios fundamentos da nossa
viso de mundo e do nosso modo de vida modernos,
cientficos, industriais, orientados para o crescimento e
materialistas. Ela questiona todo esse paradigma com base
numa perspectiva ecolgica: a partir da perspectiva de
nossos relacionamentos uns com os outros, com as
geraes futuras e com a teia da vida da qual somos parte.
Novos Valores
Neste breve esboo do paradigma ecolgico emergente,
enfatizei at agora as mudanas nas percepes e nas
maneiras de pensar. Se isso fosse tudo o que necessrio,
a transio para um novo paradigma seria muito mais fcil.
H, no movimento da ecologia profunda, um nmero
suficiente de pensadores articulados e eloqentes que
poderiam convencer nossos lderes polticos e corporativos
acerca dos mritos do novo pensamento. Mas isso
somente parte da histria. A mudana de paradigmas
requer uma expanso no apenas de nossas percepes e
maneiras de pensar, mas tambm de nossos valores.
interessante notar aqui a notvel conexo nas mudanas
entre pensamento e valores. Ambas podem ser vistas
como mudanas da auto-afirmao para a integrao.
Essas duas tendncias auto-afirmativa e a integrativa
so, ambas, aspectos essenciais de todos os sistemas vivos.
Nenhuma delas , intrinsecamente, boa ou m. O que
bom, ou saudvel, um equilbrio dinmico; o que mau,ou insalubre, o desequilbrio - a nfase excessiva em uma
das tendncias em detrimento da outra. Agora, se
olharmos para a nossa cultura industrial ocidental,
veremos que enfatizamos em excesso as tendncias auto-
PENSAMENTO VALORES
Auto-afirmativo Integrativo Auto-afirmativo Integrativo
Racional Intuitivo Expanso Conservao
Anlise Sntese Competio Cooperao
Reducionista Holstico Quantidade Qualidade
Linear No-linear Dominao Parceria
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nos persuade de que deveramos viver respeitando certas
normas, uma vez que somos parte integral da teia da vida.
No entanto, se temos a percepo, ou a experincia
ecolgica profunda de sermos parte da teia da vida, ento
estaremos (em oposio a deveramos estar) inclinados a
cuidar de toda a natureza viva. De fato, mal podemos
deixar de responder dessa maneira.
O vnculo entre ecologia e psicologia, que estabelecidopela de eu ecolgico, tem sido recentemente explorado
por vrios autores. A ecologista profunda, Joanna Macy,
escreve a respeito do reverenciamento do eu, o filsofo
Warwick Fox cunhou o termo ecologia transpessoal, e o
historiador cultural Theodore Roszak utiliza o termo
ecopsicologia para expressar a conexo profunda entre
esses dois campos, os quais, at muito recentemente,
eram completamente separados.
Mudana da Fsica para as Cincias da Vida
Chamando a nova viso emergente da realidade de
ecolgica no sentido da ecologia profunda, enfatizamos
que a vida se encontra em seu prprio cerne.
Este um ponto importante para a cincia, pois, no velho
paradigma, a fsica foi o modelo e a fonte de metfora para
todas as outras cincias. Toda a filosofia como uma
rvore, escreveu Descartes. As razes so a metafsica, o
tronco a fsica e os ramos so todas as outras cincias.
A ecologia profunda superou essa metfora cartesiana.
Mesmo que a mudana de paradigma em fsica ainda seja
de especial interesse porque foi a primeira a ocorrer na
cincia moderna, a fsica perdeu o seu papel como a
cincia que fornece a descrio mais fundamental da
realidade. Entretanto, hoje isso ainda no geralmente
reconhecido. Cientistas, bem como no-cientistas,
freqentemente retm a crena popular segundo a qual
se voc quer realmente saber a explicao ltima, ter de
perguntar a um fsico, o que , claramente, uma falcia
cartesiana. Hoje, a mudana de paradigma na cincia, em
seu nvel mais profundo, implica uma mudana da fsica
para as cincias da vida.
Quando essa percepo ecolgica profunda torna-se parte
de nossa conscincia cotidiana, emerge um sistema tico
radicalmente novo.
Essa tica ecolgica profunda urgentemente necessria
nos dias de hoje, e especialmente na cincia, uma vez que
a maior parte daquilo que os cientistas fazem no atua no
sentido de promover a vida nem de preservar a vida, mas
sim no sentido de destruir a vida. Com os fsicosprojetando sistemas de armamentos que ameaam
eliminar a vida do planeta, com os qumicos contaminando
o meio ambiente global, com os bilogos pondo solta
tipos novos e desconhecidos de microorganismos sem
saber as conseqncias, com os psiclogos e outros
cientistas torturando animais em nome do progresso
cientfico com todas essas atividades em andamento,
parece da mxima urgncia introduzir padres ecoticos
na cincia.
Geralmente, no se reconhece que os valores no soperifricos cincia e tecnologia, mas constituem sua
prpria base e fora motriz. Durante a revoluo cientfica
no sculo XVII, os valores eram separados dos fatos, e
desde essa poca tendemos a acreditar que os fatos
cientficos so independentes daquilo que fazemos, e so,
portanto, independentes dos nossos valores. Na realidade,
os fatos cientficos emergem de toda uma constelao de
percepes, valores e aes humanos em uma palavra,
emergem de um paradigma dos quais no podem ser
separados. Embora grande parte das pesquisas detalhadas
possa no depender explicitamente do sistema de valores
do cientista, o paradigma mais amplo, em cujo mbito essapesquisa desenvolvida, nunca ser livre de valores.
Portanto, os cientistas so responsveis pelas suas
pesquisas, no apenas intelectual, mas tambm
moralmente. Dentro do contexto da ecologia profunda, a
viso segundo a qual esses valores so inerentes a toda a
natureza viva est alicerada na experincia profunda,
ecolgica ou espiritual, de que a natureza e o eu so um
s. Essa expanso do eu at a identificao com a natureza
a instruo bsica da ecologia profunda, como Arne
Naess claramente reconhece.
O cuidado flui naturalmente se o eu ampliado e
aprofundado de modo que a proteo da Natureza livre
seja sentida e concebida como proteo de ns mesmos...
Assim como no precisamos de nenhuma moralidade para
nos fazer respirar... [da mesma forma] se o seu eu, no
sentido amplo dessa palavra, abraa um outro ser, voc
no precisa de advertncias morais para demonstrar
cuidado e afeio... voc o faz por si mesmo, sem sentir
nenhuma presso moral para faz-lo... Se a realidade
como experimentada pelo eu ecolgico, nosso
comportamento, de maneira natural e bela, segue normas
de estrita tica ambientalista.
O que isto implica o fato de que o vnculo entre uma
percepo ecolgica e o comportamento correspondente
no uma conexo lgica, mas psicolgica. A lgica no
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Anotaes
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EAD
AULA 02 // MOVIMENTO AMBIENTALISTA
Viso Geral doMovimento Ambientalista
Aes Prioritrias
Vamos continuar conhecendo as diferentes vises sobremeio ambiente e os reflexos da ao humana sobre ele.
Nesta aula vamos compreender melhor como surge oMovimento Ambientalista no Brasil e no Mundo, quaisinfluncias receberam e como funcionam atualmente.
Leitura Obrigatria:Anexo 01 - Artigo: Movimento Ambientalistae Desenvolvimento Sustentvel, um brevehistrico.
O Movimento Ambientalista se caracteriza, principalmente
por ser advindo de movimentos populares que reivindicama proteo do meio ambiente, na maioria das vezes emdetrimento do desenvolvimento tecnolgico. Ele estembasado no trabalho de organizaes de base tais como:ONGs, Associaes de bairros, grmios estudantis entreoutros. Promove uma srie de aes e eventos bastantedistintos ao longo do ano que so divulgados pela mdiaem geral.
Atravs desses eventos, muitos dos quais bastantepolmicos, os ecologistas conseguem ateno depesquisadores, governantes, empresrios e da populao emgeral, transmitindo sua mensagem com grande audincia.
Dessa maneira, em muitos pases a presena constante detemas ambientais na mdia dotou o movimento ambientalistade um status maior do que de muitos outros.
Fonte: http://recantodasletras.uol.com.br/ensaios/2140070.
No entanto, o Movimento Ambientalista no atinge, comseu trabalho, o apoio de toda populao e dos diferentessegmentos da sociedade dentro do Brasil. A funo e odesempenho das instituies que compem essemovimento so severamente criticados e questionados emsua legitimidade em diversas situaes.
Leitura Obrigatria:Anexo 02 - Artigo: Movimento ambientalista noBrasil. Representao social e complexidade da
articulao de prticas coletivas.
Aps a leitura do documento Movimento Ambientalista eDesenvolvimento Sustentvel, um breve histrico, faauma resenha com o mximo de 15 linhas.
Caros estudantes, vamos discutir a questo do movimentoambientalista. Escreva sobre:
A necessidade da mobilizao ambiental, O nvel de eficincia dos movimentos ambientais e, A contribuio que os movimentos ambientaistrazem para que se instaure o debate ambiental
pela sociedade.
Neste frum, importante que discuta com seus colegas,concordando ou no, justificando sua posio.
Resenha
Frum de Discusso
Curso de Introduo Educao Ambiental
PORTAL EADEDUCAO AMBIENTAL
DISTNCIA
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1500 um dos marcos dessa dicotomia ambiental. Com arevoluo industrial e cientfica no sculo XVIII,
estabeleceu-se definitivamente um divisor de guas entre
a sociedade do homem "desenvolvido" e sua cultura
peculiar em contraponto dissonante Natureza. O
surgimento de uma ideologia consumista nas linhas de
produo capitalistas, deu origem s primeiras reflexes
quanto a atuao danosa do homem sobre a Natureza.
A partir do incio dos testes nucleares e as exploses das
bombas atmicas sobre o povo japons, prximo a
metade do sculo atual, que surge e se organizam os
primeiros ambientalistas, chamados alternativos,
procurando mostrar ao mundo a possibilidade de estar sob
o comando de malucos poderosos, que poderiam explodir
o planeta por conta de suas veleidades. Somado a essas, o
quase extermnio da guia americana pelos pesticidas
agrcolas, a crtica s desigualdades oriundas da sociedade
de consumo, alm do grande desenvolvimento da indstria
blica e dos estados autoritrios, levaram ao crescimento
dos movimentos pacifistas que compuseram o surgimento
dos hippies, vertente mais doce at hoje surgida no
movimento ambientalista.
Outra corrente deste surgiu com os neo-malthusianos
embasados na teoria do economista Thomas Robert
Malthus, que em 1798 publicou um ensaio pioneiro sobre
o estudo do crescimento das populaes e como isso afeta
o desenvolvimento futuro da sociedade humana.
Propunham a necessidade do controle populacional como
forma de conter a degradao do meio ambiente e da
qualidade de vida. Imputa-se a esse mesmo pensamento aimplementao em pases subdesenvolvidos nos idos dos
anos 70, inclusive o Brasil, de polticas de esterilizao de
mulheres em comunidades carentes.
Anexo 01Srgio de Mattos Fonseca.
Movimento Ambientalista eDesenvolvimento Sustentvel,um Breve HistricoSrgio de Mattos Fonseca.Economista e Mestrando do Programa de Ps-Graduao em Cincia Ambiental da Universidade Federal Fluminense PPGCA / UFFDiretor da APREC Associao de Proteo a Ecossistemas Costeiros ONG
Disponvel em: . Acesso em 12 dez. 2010.
As primeiras manifestaes organizadas em defesa do meioambiente remontam a meados do sculo XX no ps-II
Grande Guerra, quando o homem comum tomou
conscincia de que poderia acabar definitivamente com o
planeta e com todas as espcies, inclusive a prpia. Aps a
exploso das bombas de Hiroshima e Nagasaki, iniciaram-
se na Europa manifestaes pacifistas contra o uso da
energia nuclear em funo das consequncias desastrosas
para a humanidade e o meio ambiente. Antes destas os
registros ficam por conta de filsofos e pensadores,
geralmente com variaes sobre o mesmo tema: Deus e aNatureza, ou com os naturalistas e os cientistas ligados s
chamadas cincias naturais, buscando uma melhor
descrio e compreenso dos fenmenos da vida.
Entretanto para que possamos compreender a
multiplicidade de aes geridas e perpetradas pelos
ambientalistas defensores da utopia de uma relao
respeitosa entre a espcie humana e a diversidade
planetria, faz-se necessrio a identificao das principais
correntes do pensamento existentes no seio ambiental.
O Movimento Ambientalista
O pensamento ambiental vem sendo expresso ao longo da
histria do homem principalmente pelos filsofos e
telogos, a exemplo de Francisco de Assis o santo
ecolgico. Segundo Herculano (1992), remontam ao sculo
XVI os primeiros questionamentos do homem sobre o meio
ambiente, com as grandes navegaes e a ampliao das
fronteiras mundiais para novos continentes, contrapondo acultura e a civilizao europia aos costumes e a relao
com o meio ambiente dos habitantes do novo mundo. A
carta de Pero Vaz Caminha ao rei de Portugal no ano de
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"el nio". Os verdes, surgiram nas eleies de 1983 da
Alemanha, com uma proposta de ecologia social contra o
consumismo provocado pela alienao das linhas de
produo. Suas propostas visam a descentralizao para o
ativismo ambiental, a reao pacfica, a melhora na
distribuio social da renda e uma conduta tica em
relao ao meio ambiente (need not greed, ou seja, uma
economia verde voltada para as necessidades e no para olucro).
Complementando a amostragem surge na atualidade os
eco-tecnicistas, os chamados "eco-chatos", cuja viso
reducionista, otimista e imobilista, acredita na soluo dos
problemas ambientais atravs do desenvolvimento
cientfico e da introduo de novas tcnicas. Com uma
retrica positivista, incorrem numa viso fragmentada e
tecnicista, desconhecendo o sentido holstico e ecolgico
da Natureza.
O Desenvolvimento Sustentvel
O conceito de desenvolvimento sustentvel (DS) cada vez
mais torna-se fludo, acomodando-se de acordo com o
formato do recipiente cerebral que o contm. De uma
forma ou de outra, todos possuem a noo do que DS e
quando perguntado, via de regra, o cidado enrola a lngua
e as ideias ou desfia um colar de prolas quase sempre
misturando crescimento econmico com preservao
ambiental e ausncia de poluio. Em busca da
compreenso do que DS, longe de procurar alcanar um
nico conceito, faz-se necessrio o entendimento de que a
temtica do desenvolvimento ganhou fora no contexto
da "Guerra Fria" do incio dos anos 60, quando ficou ntida
para o mundo a emergncia de duas potncias dos
escombros da II Grande Guerra Mundial: os Estados
Unidos-EUA e a Unio das Repblicas Socialistas Soviticas-
URSS. Foi neste contexto que comeou uma guerra
psicolgica detonada pelos EUA no ocidente, que buscava
identificar o americam way of life com o que
desenvolvido e moderno, restando outra potncia a
pecha de retrgrada e atrasada. Assim o termo era
colocado sob uma tica reducionista, identificando-o com
a importao pelos pases dos valores culturais da
sociedade norte-americana, assim como seu modelo de
industrializao, acompanhados de projetos de
"cooperao internacional" como a Aliana para o
Progresso, implementado no Brasil durante o governo do
presidente americano J.F. Kenedy, no perodo inicial de
governo dos militares ps-64, corroborado pelas altas taxas
de crescimento econmico expressas pelo aumento do PIB
- Produto Interno Bruto dos pases, agora chamados, em
Cabe a ressalva que a esterilizao no era o pensamento
dos ambientalistas, mas o controle racional movido pela
conscincia de limite dos recursos naturais, como no
exemplo clssico dos pastores medievais que levam seus
rebanhos a um pasto comunal e a restrio natural ao
aumento desses rebanhos, sob pena do esgotamento do
pasto e o fim de todas as ovelhas.
Com a presso do governo da Sucia sobre a ONU, por
motivo do desastre ecolgico da Baa de Minamata, no
Japo, realizou-se em 1972 a Conferncia de Estocolmo,
uma reunio internacional sobre o meio ambiente. A partir
desta surgiram mais duas correntes do pensamento
ambientalista: os zeristas e os marxistas. Os zeristas,
servindo-se da trincheira do Clube de Roma e com as
armas fornecidas pelo relatrio de Meadows et alii sobre
os Limites do Crescimento, propunham o crescimento zero
para a economia mundial respaldados em projees
computacionais sobre o crescimento exponencial da
populao e do capital industrial como ciclos positivos,
resultando em ciclos negativos representados pelo
esgotamento dos recursos naturais, poluio ambiental e a
fome. Assim previam o caos mundial em menos de quatro
geraes. J os marxistas embasados na contribuio no
mesmo ano de Goldsmith et alii e o Manifesto pela
Sobrevivncia, atribuam a culpa ao sistema capitalista e ao
consumismo da ideologia do suprfluo, provocando a
banalisao das necessidades e a presso irresponsvel
sobre o meio ambiente, obtendo como subproduto do
crescimento industrial a degradao ambiental. Os
marxistas franceses a mesma poca prope a mudana do
modo de produo e consumo, fundamentados em uma
ecologia com tica socialista, que abandone a produo de
gadgets pela produo de bens necessrios transformando
o trabalho rduo em trabalho criador, reduzindo este para
aumentar o lazer cultural e a relao ecolgica do homem
com o meio ambiente.
Com uma viso universal e baseados em uma
compreenso ecolgica do planeta, os fundamentalistas
deixam de lado o antropocentrismo em nome de uma
interpretao ecocntrica, onde a Terra um enorme
organismo vivo, parte de outro universal e maior, onde o
homem uma das formas de vida existente, no possuindo
assim qualquer direito de ameaar a sobrevivncia de
outras criaturas ou o equilbrio ecolgico do organismo.
Para James Lovelock a Terra Gaia, nome que d ao
planeta, capaz de reaes contrrias s agresseshumanas. Segundo nosso entendimento essas reaes
podem estar sendo refletidas na reduo da camada de
oznio em nossa atmosfera, o efeito estufa e o fenmeno
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coloca os pases desenvolvidos em dbito com a
recuperao dos ecossistemas do planeta. Desta forma
conclui-se que DS seja um mosaico de entendimentos,
cabendo desde a leitura de uma forma neocolonialista ou
da continuidade do domnio imperialista sobre os pases
subdesenvolvidos, assim como paradigma para uma
compreenso ambiental holstica, nova forma de
relacionamento do homem com a Natureza, um resgate danatureza humana como mais uma das espcies que
compe a biodiversidade, incorporando-se de forma
ecolgica a viagem que a nossa breve existncia no
planeta Terra.
Bibliografia
CMMAD - Comisso Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento. Nosso Futuro Comum. FundaoGetlio Vargas, Rio de Janeiro, 1988.
HERCULANO, Selene Carvalho. Do desenvolvimento
(in)suportvel sociedade feliz. In coletnea Ecologia,
Cincia e Poltica, coordenao de Mrian Goldenberg, pg.
9, 1992.
MEADOWS, D.H. et alii. Limites do Crescimento. Ed.
Perspectiva, So Paulo, 1973.
desenvolvimento. A reao abaixo do equador veio pela
Comisso Econmica para a Amrica Latina - CEPAL,
quando tinha a frente economistas do porte de Celso
Furtado, propondo o rompimento das relaes de trocas
desiguais, ainda com matiz do antigo pacto colonial do
remoto sculo XVIII, em prol do desenvolvimento de uma
industrializao endgena. Os economistas cepalinos no
identificam no crescimento econmico capitalista,necessriamente, o desenvolvimento das sociedades,
demonstrando que o aumento da renda per capita no
um indicador confivel de bem estar. A ttulo de ilustrao,
recentemente a ONU divulgou, atravs do PNUD -
Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento, uma
reviso no seu ndice de desenvolvimento humano - IDH -
que busca avaliar os diferentes estgios de
desenvolvimento das naes, relacionando o poder
aquisitivo, com a expectativa de vida e o nvel de
escolaridade nos pases membros. Neste ranking o Brasil,entre as dez maiores economias mundiais, aparece em
modesto 79 lugar. Esta situao nos leva a refletir se o
crescimento industrial sem limites est levando
eliminao da misria, ou apenas possibilitando que esta
se veja e seja vista ao vivo e a cores por uma "aldeia
global".
Foi a partir do relatrio divulgado pela Sra. Brundtland, ex-
primeira ministra da Noruega, sob o nome de Nosso Futuro
Comum, que a expresso DS ganhou notoriedade. Este
documento foi a base das discusses da ECO 92 ou RIO
92, uma conferncia internacional sobre meio ambiente
promovida pela ONU no Rio de Janeiro, em
prosseguimento quela realizada em 1972 na cidade de
Estocolmo. O relatrio prope o conceito de que DS seria a
capacidade das atuais geraes de atender s suas
necessidades sem comprometer o atendimento das
necessidades das geraes futuras (CMMAD, 1988).
Enaltecido por uns e criticado por outros, tem a seu favor o
fato de trazer definitivamente para o cenrio mundial a
problemtica ambiental, propondo uma mudana no teor
do crescimento econmico, mas pecando na identificao
da pobreza dos pases subdesenvolvidos como uma das
causas da degradao ambiental. Entre os prpios
economistas h o entendimento de que a pobreza um
dos rejeitos da acumulao capitalista.
Assim vista como um efluente poluidor , ao contrrio,
identificam nos pases "desenvolvidos" o foco gerador
desta poluio humana. Com isso amplia-se o conceito de
DS, alm da poltica do bom comportamento,internalizando a este a questo das externalidades, ou seja,
a incorporao dos danos ambientais provocados pela
atividade econmica, aos custos das indstrias, o que
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Natureza (FBCN) com objetivos e modo de atuaoestritamente conservacionistas, que centrava suasatividades na preservao da fauna e da flora, comparticular nfase naquelas ameaadas de extino. Nadcada de 70 a FBCN com a colaborao da Unio Mundialpara a Conservao IUCN e o Fundo Mundial paraNatureza - WWF- comeou um programa de financiamentoem colaborao com agncias ambientais.
Em 1966 iniciada a Campanha pela Defesa eDesenvolvimento da Amaznia (CNNDA) no esforo demobilizar a sociedade para a preservao da Amaznia. Em1971 criada a Associao Gacha de Proteo aoAmbiente Natural (AGAPAN) que tem um perfil maisabrangente do que as outras organizaes que lheprecederam, destacando-se pela ousadia em formular umprograma de promoo da ecologia e de questionamentodos impactos predatrios da poluio causada pelasindstrias (1).
Na segunda metade da dcada de 70 surgem diversosgrupos ambientalistas, que se estruturam no momentoonde se inicia o processo de liberalizao poltica, e peloestmulo gerado para a questo ambiental pelaConferncia de Estocolmo em 1972. Nessa ocasiocresceram as acusaes de alguns pases desenvolvidos emrelao postura predominante em pases emdesenvolvimento a respeito da ausncia de normas paracontrolar os graves problemas ambientais. O Brasil tevepapel de destaque como organizador do bloco dos pasesem desenvolvimento que viam no aumento das restriesambientais uma interferncia nos planos nacionais dedesenvolvimento. No Brasil, por exemplo, as restriesambientais eram conflitantes com as estratgias de
Anexo 02Srgio de Mattos Fonseca.
JACOBI, Pedro. Movimento ambientalista no Brasil. Representao social e complexidade da articulao de prticas coletivas. In: Ribeiro, W. (org.)Publicado em Patrimnio Ambiental EDUSP 2003.
Movimento ambientalista no Brasil.Representao social e complexidade daarticulao de prticas coletivas.Pedro Jacobi. FE/USP. PROCAM/USPProfessor Associado Livre Docente da Faculdade de Educao da Universidade de So PauloPresidente e Professor do Programa de Ps-Graduao em Cincia Ambiental da Universidade de So Paulo
Publicado em Patrimnio Ambiental EDUSP - 2003
Disponvel em: . Acesso em 16 dez. 2010.
Introduo
O ambientalismo brasileiro tem assumido uma crescenteinfluncia na formulao e implementao de polticaspblicas e na promoo de estratgias para um novo estilo,sustentvel, de desenvolvimento. Neste artigo abordo oambientalismo no Brasil e suas inflexes, dividindo-o emtrs partes focando a emergncia do ambientalismo apartir da dcada de 70, a multiplicao de atoresenvolvidos na questo a partir da dcada de 80 e asituao atual, ao final dos anos 90.
1. A emergncia da mobilizao ambiental
A partir de meados da dcada de 70, o ambientalismopassa a ter maior expresso na sociedade brasileira,resultado, segundo Viola e Leis, (1992) de um acombinao de processos exgenos e endgenos. Dentreas foras externas possvel destacar a Conferncia deEstocolmo de 1972 e a volta de polticos exiladosanistiados no ano de 1979. As foras internas sorepresentadas pela superao do mito desenvolvimentista,pelo aumento da devastao amaznica, a formao deuma nova classe mdia, influenciada pelos novos debatessobre a qualidade de vida, e o malogro dos movimentosarmados de esquerda.
No Brasil, as primeiras iniciativas ambientalistas seoriginam nas aes de grupos preservacionistas na dcadade 50. Em 1955 fundada a Unio Protetora do AmbienteNatural (UPAN) pelo naturalista Henrique Roessler em SoLeopoldo no Rio Grande do Sul, e em 1958 criada no Rio
de Janeiro a Fundao Brasileira para a Conservao da
17
(1) Viola e Leis, 1992: 81-84.
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ausncia de uma interao com as entidades da sociedadecivil, a ao do Estado pautada por medidas paternalistasou autoritrias.
A cooperao se fortalece a partir das dinmicas quearticulam aproximaes e inclusive a influncia dasassociaes que at ento se caracterizavam por umaao ambiental confinada com um muito baixo impacto
sobre a opinio pblica. Este ambientalismo restrito,confinado organizacionalmente, estava reduzido a umconjunto de pequenos grupos da sociedade civil e depessoas que dentro da estrutura federal, federal eestadual, acreditavam na importncia de proteger o meioambiente. Um fato importante a se destacar que duranteesse perodo, a ao dos rgos ambientais, centrada napoluio industrial por vezes complementa, ou mesmocontrape-se, s iniciativas das organizaesambientalistas, centradas na preservao dos ecossistemasnaturais.
interessante observar que outras questes diretamenteligadas aos problemas de agravamento da degradaoambiental, tais com o crescimento populacional e dficit desaneamento no faziam parte da agenda dessasorganizaes, contribuindo para uma viso limitada darealidade. Os grupos se concentram na sua maioria naregio Sul-Sudeste (2), e so compostos por ativistas quedesenvolvem atividades seja em comunidades alternativasrurais como iniciam aes de educao ambiental,trabalhos de proteo e recuperao de ambientesdegradados, proteo a ambientes ameaados, edenunciam os problemas de degradao do meio ambienteambiental apoiados financeiramente por um grupo restritode simpatizantes. A sua atuao est centrada nesseperodo de implantao e consolidao na denuncia e naconscientizao pblica sobre a degradao ambiental,principalmente com enfoque local, e em alguns casosdesenvolvem campanhas de abrangncia regional emesmo nacional, como o caso da campanha de dennciacontra o desmatamento na Amaznia em 1978, a lutacontra a inundao de Sete Quedas no Rio Paran (1979-1983), a luta contra a construo de usinas nucleares(1977-1985), a luta pela aprovao de leis do controle e deestmulo ao uso intensivo de agrotxicos (1982-1985) (3).Muitas destas lutas obtiveram bastante repercusso no
exterior, e foram referncia relevante para a multiplicaode presses contra o governo brasileiro durante os anosfinais do regime autoritrio, sendo que a maioria dasprticas eram pautadas pelo voluntarismo dos militantesmais engajados. As suas foras so complementadas pelavolta de ativistas polticos ao pas aps a anistia, bastanteinfluenciados pelos movimentos ambientalistas da Europae Estados Unidos.(4)
desenvolvimento apoiadas justamente na implantao deindustrias poluentes como a petroqumica e a instalao degrandes projetos energticos-minerais. importanteressaltar que a postura brasileira coincide com o perodode auge de crescimento econmico do pas, atingindo 10%ao ano.
Ainda assim, em 1973 as agncias ambientais passam a
integrar o cenrio nacional com a criao da SecretariaEspecial do Meio Ambiente -SEMA-, vinculada aoMinistrio do Interior, com a funo de traar estratgiaspara conservao do meio ambiente e para o uso racionaldos recursos naturais. Tambm nesta poca alguns estadosmais industrializados vo criar as primeiras agnciasambientais para controle da poluio, como a Companhiade Tecnologia e Saneamento Ambiental (Cetesb), em SoPaulo, e a Fundao de Engenharia do Meio Ambiente(Feema), no Rio de Janeiro.
Estas iniciativas, antes de significar um comprometimento
efetivo do governo brasileiro com a luta para a proteoambiental, funcionaram como uma tentativa do governobrasileiro para atenuar sua imagem negativa no cenrioexterno devido sua atuao na Conferncia deEstocolmo. Predominava ainda a ideia de que os recursosnaturais deveriam ser utilizados para acelerar o processode desenvolvimento econmico, tomando alguns cuidadospara minimizar os problemas de poluio e preservaralguns recursos naturais (Ferreira e Ferreira, 1992).
Configura-se, portanto uma dinmica bissetorial, entreagncias ambientais estatais e algumas entidadesambientalistas, caracterizando segundo Viola e Leis (!992),uma relao dialtica entre as agncias ambientais e asentidades ambientalistas baseada no conflito e nacooperao. O primeiro decorre da percepo, por partedas entidades, da pouca eficincia dos controles dapoluio exercido pelas agncias. A principal crtica aexcessiva tolerncia com as indstrias pela poluioprovocada e a morosidade dos processos de fiscalizao.Para as agncias, por sua vez, as entidades tm umapostura ingnua e no possuem o conhecimentonecessrio para entender as complexas relaes entreindstria e meio ambiente. A cooperao ocorre na medidaem que existe uma certa cumplicidade entre esses dois
atores por duas razes. Primeiro, porque vrios dosfuncionrios que atuam nas agncias tambm exercematividades nas entidades. Segundo, devido serempraticamente os nicos defensores de uma polticaambiental em um contexto onde esta poltica relegada aum segundo plano. No fundo, a dualidade observada narelao das agncias com as entidades representa adialtica existente no pas entre Estado e sociedade. Na
18
(2) A AMDA- Associao Mineira de Defesa Ambiental fundada em 1978 com o objetivo de lutar contra todos os atos de degradao do meio ambiente,
desenvolver trabalho s de recuperao e proteo de ambientes degradados, ameaados, educao ambiental, e pesquisa cientfica. Para mais informaesver o site da AMDA www.amda.org.br -
(3) Leis, 1996: 98.
(4) Destaca-se a figura de Fernando Gabeira que adquire ampla visibilidade pblica e inicia a organizao do Partido Verde no Brasil.
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dcada de 80 se torna cada vez mais claro que aspromessas desenvolvimentistas no poderiam seconcretizar: os problemas socais no foram resolvidos egraves distores como a concentrao da renda e dapropriedade se agravam. Nesse sentido, a crise do modelode desenvolvimento uma fora motriz, na medida emque se acelera na opinio pblica a tomada de conscinciada devastao ambiental. A extenso das queimadas na
Amaznia e no Cerrado e a eliminao quase total da MataAtlntica estimula a articulao de lutas que agregamONGs ambientalistas europias e norteamericanas sbrasileiras contra projetos que interferem no meioambiente. Isto produz um primeiro alerta na opiniopblica norteamericana e europia a respeito dodesmatamento da Amaznia. Alm disso, a deteriorao daqualidade ambiental nos grandes centros urbanos,notadamente o caso de Cubato, ganha espao crescentena mdia nacional e internacional.
O caso de Cubato emblemtico na medida em que as
entidades ambientalistas trouxeram de forma radicalizadapara a agenda de discusso poltica da dcada de 80 umaintensa movimentao da opinio pblica em torno dosdramticos impactos decorrentes do desastrescioambiental provocado pelo descaso das industrias coma qualidade da vida da populao da regio, notadamentedos setores mais carentes. Intenso debate e polmica soincentivados por alguns meios de comunicao quereforam o papel do movimento ambientalista cobrandosolues para os problemas de crianas com malformaescongnitas, trabalhadores leucopnicos e famliasamedrontadas.
importante ressaltar, no entanto, que as prticas dosmovimentos se restringem na maioria dos casos aossetores mais esclarecidos compostos por pessoasvinculadas ao universo acadmico, aos militantes departidos, setores profissionais, ativistas sociais. poucofreqente o engajamento de setores circunscritos mo deobra desqualificada ou aos setores mais carentes dapopulao. Estes no geral se fazem presentes atravs darepresentao de Associaes de Vtimas, que no geral tem sua frente pessoas oriundas da classe mdia oumilitantes do movimento operrio. No geral no so aesou condutas espontneas que emergiram do seio dos
setores de baixa renda, atingidas imediatamente pelapobreza e pela degradao ambiental.
Tambm deve se destacar como agente articulador ecatalizador o surgimento de uma classe mdia,principalmente no sul e sudeste, disposta a apoiar asatividades de carter ambiental, tais como a mobilizaocontra a construo de usinas nucleares, j citada, adestruio de Sete Quedas no Paran para construo deItaip, ou ainda, as campanhas para diminuir o uso intensode agrotxicos empregados na agricultura, representandouma confluncia entre ecologismo rural e urbano.
Estas lutas representam marcos da ao ambientalista noBrasil, na medida em que marcam o incio dequestionamentos de polticas de governo atravs dacomunidade cientfica e de organizaes ambientalistas. Oengajamento da SBPC no movimento antinuclear e nomovimento que denuncia a degradao ambiental domunicpio de Cubato na Baixada Santista um fator que
agrega legitimidade e potencializa protestos e mobilizaoda opinio pblica. interessante observar que outrasquestes diretamente ligadas aos problemas deagravamento da degradao ambiental, tais com ocrescimento populacional e dficit de saneamento nofaziam parte da agenda dessas organizaes, contribuindopara uma viso limitada da realidade.
Concomitantemente, os grupos ambientalistas que seorganizam e multiplicam de forma bastante aceleradanessa poca no pas sofrem forte influncia dos ideriosdefendidas por seus pares nos Estados Unidos e na Europa,
notadamente no que se refere adoo de um sistema devalores que representa um questionamento dos impactosda civilizao urbano-industrial, assim como da degradaoambiental provocada pelos empreendimentos humanos.Nesse contexto, destacam-se, a destruio dosecossistemas naturais e o uso abusivo de agrotxicos, umaluta que a Associao Protetora do Meio Ambiente(AGAPAN), no Rio Grande do Sul, tinha, desde a suafundao, como uma das suas prioridades. A sua atuaofoi muito intensa e no s concretizou uma presso bemsucedida junto Assemblia Legislativa daquele estadoque culminou na aprovao da primeira lei estadual deagrotxicos em 1983 como o seu exemplo se disseminoupor Santa Catarina, Paran e So Paulo, onde leis similaresforam aprovadas em 1984.
Estas iniciativas ambientais ocupam durante a dcada de70 e a primeira metade dos 80, uma posio secundria nodiscurso dos movimentos reivindicatrios pela constituioda cidadania. Isto pode ser explicado por dois motivosprincipais. De um lado, o maior interesse dos movimentossociais em torno dos problemas ligados mais diretamente pobreza e satisfao das necessidades bsicas doshomens, tais como a carncia de saneamento, dehabitao, de transporte e de educao. De outro, a
herana militar do golpe de 64 que, tendo na sua base osideais de Ordem e Progresso, procurava se legitimaratravs de um a interveno estatal voltada para ocrescimento econmico. Nesse contexto, as propostasecologistas no tiveram nenhuma influncia sobre o futuroda sociedade brasileira. Na verdade, em um discurso noqual o mito desenvolvimentista aparece como nico capazde superar os terrveis problemas enfrentados pelo pas, odiscurso relativo necessidade de preservar o meioambiente emergia com o anttese do desenvolvimentonacional. (5)
Durante a dcada de 70 e, principalmente no incio da
(5) FERREIRA, Leila & FERREIRA, Lucia, 1 992: 25-26
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movimento ecolgico em diversas cidades do Sul-Sudesteno nvel do processo decisrio das polticas pblicasmunicipais. Isto provoca gradualmente uma mudanaqualitativa na opinio pblica que passa a legitimar as lutasambientais e os atores envolvidos. Contribuindo tambmde forma decisiva para o fortalecimento da varivelambiental no campo institucional, destaca-se nessa dcadaa opo de vrios ambientalistas em enveredar
diretamente pelo campo poltico, disputando cargoseletivos. Esta escolha, representa, tanto a percepo deparcela dos representantes dos movimentos ambientalistasda pouca efetividade das aes feitas pelas ONGs, assimcomo o entendimento que o discurso verde encontravaj ressonncia na sociedade brasileira. A prtica, contudo,mostrou que a sociedade estava apenas despertando paraos assuntos ecolgicos. Dos vinte candidatosambientalistas que concorreram para a AssembliaConstituinte, apenas um foi eleito (Viola e Vieira, 1992). (6)
Apesar da eleio de um nico candidato defendendo uma
proposta estritamente ambientalista, a maiorreceptividade da temtica ambiental na esfera polticapossibilitou a formao na Assemblia Constituinte de1988 de uma Frente Parlamentar Verde (15% dosdeputados, oriundos principalmente do Partido SocialDemocrata Brasileiro e do Partido dos Trabalhadores), quelogrou transformar a legislao ambiental brasileira emuma das mais modernas do mundo, em termos deproteo ambiental. Destacam-se o zoneamentoambiental, a exigncia de apresentao de Estudos deImpactos Ambientais, e que sejam discutidos emaudincias pblicas e a introduo de diversas penalidadespara agentes agressores do meio ambiente. O movimentorealiza em 1988-1989 uma tarefa semelhante diante dasconstituintes estaduais.
A partir da segunda metade da dcada de 80, no entanto, atemtica ambiental assume um papel bem mais relevanteno discurso dos diversos atores que compem a sociedadebrasileira. J desde o incio dos anos 80 surgem inmerosgrupos ambientalistas, mas a sua contabilizao muitodifcil, na medida em que muitos tm vida efmera. O seucrescimento ao longo da dcada muito expressivo.Muitas das associaes adquirem visibilidade pela atuaode um ncleo ativo composto por um nmero restrito de
integrantes, sendo que em geral existem catalizadores daao institucional em virtude de visibilidade pblica,autoridade nas decises do grupo, acesso aos meios decomunicao e acesso s agncias estatais.
O ambientalismo se expande, e penetra em outras reas edinmicas organizacionais estimulando o engajamento degrupos socio-ambientais, cientficos, movimentos sociais eempresariais, nos quais o discurso do desenvolvimentosustentado assume papel de preponderncia. (7)
Para Viola (1992) durante a fase fundacional dominou noambientalismo brasileiro uma definio estrita daproblemtica ambiental que o restringiu, basicamente, acombater a poluio e a apoiar a preservao deecossistemas naturais caracterizou uma dinmica dedistanciamento de diversas entidades em relao ao temada justia social. Parte significativa das associaesambientalistas no tinham praticamente nenhum dilogo
ou repercusso na populao mais excluda,principalmente porque em muitos casos os gruposdefendiam intransigentemente o ambiente, levando muitopouco em considerao as dimenses socio-econmicas dacrise ambiental. Um dos fatores que explica a poucaaderncia do discurso ambiental na sociedade foi, semdvida, o isolamento das organizaes ambientalistas dosoutros movimentos sociais, uma vez que priorizava em seudiscurso a necessidade de garantir a qualidade ambiental,ignorando as demais demandas sociais.
Viola e Nickel (1994) observam que apesar da emergncia
do ambientalismo nos pases do Sul, como o caso doBrasil, terem bastante similaridade com processosequivalentes no Norte, a diferena principal reside na baixaprioridade dada na agenda dos ambientalistas brasileirosaos temas em relao melhoria do saneamento bsicourbano e, assim como de articular as questes ambientaiscom a eqidade social.
Isto s comea a se manifestar mais explicitamente a partirde meados dos anos 80, com o desenvolvimento doscioambientalismo.
2. Dcada de 80: a multiplicao das prticassocioambientais
A partir dcada de 80, duas vertentes passam a ganharcorpo dentro no movimento ambiental brasileiro. Primeiroa constatao dos limites do aparato jurdico-institucionaldisponvel, face ao agravamento dos desafios ambientais.
Segundo, cresce a percepo dentro do movimentoambientalista de que o discurso ambiental no seencontrava efetivamente disseminado na sociedadebrasileira. Alm disso, a resistncia profissionalizao das
ONGs, melhorando sua eficincia organizacional,caracterstica importante das ONGs norte-americanas,contribuiu para menor eficcia de suas aes. Nessesentido, a dcada de 80 caracterizada por iniciativas paraaprimorar os instrumentos legais de gesto ambiental, aescolha de parcela dos ambientalistas em enveredar pelocampo poltico institucional e uma busca das ONGsambientalistas em se profissionalizar e de se aproximar dasONGs sociais.
As transformaes que ocorrem no tecido social dosmovimentos se refletem em vitrias concretas das lutas do
(6) A eleio de Fbio Feldman n marca a primeira vitria de um candidato cuja prioridade era lutar pela defesa e melhoria da qualidade ambiental.
(7) VIOLA, Eduardo & VIEIRA, Paulo, 1992.
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conhecido depois do assassinato de Chico Mendes (8); ainterao das ONGs com o movimento indgena, acoplando luta tradicional dos ndios pela proteo de suas terras, apreservao do meio ambiente; a aproximao comsetores do Movimento dos Sem Terra (9), incluindo avarivel ambiental na luta pelo acesso a terra e, por fim,uma aproximao junto a diversas associaes de bairro,que incluram a qualidade ambiental em suas demandas.
A importncia da vertente scio-ambientalista pode serverificada pelo crescimento do nmero de entidades nogovernamentais, movimentos sociais e sindicatos queincorporam a questo ambiental na sua agenda deatuao. A presena destas prticas aponta para anecessidade de pensar modelos sustentveis, revelandouma preocupao em vincular intimamente a questoambiental questo social.
3. O movimento ambientalista ampliado
Apenas em meados da dcada de 80, segmentos doambientalismo brasileiro passam a entender a importnciade ampliar a conexo com os movimentos sociais. Dessaforma, as ONGs ambientais procuram estabelecer umdilogo com os sindicatos, alm de passarem a apoiardesde grupos comunitrios
Muitas das entidades ambientalistas procuram diversasformas de profissionalizar-se, atravs da captao derecursos de fundaes e ONGs da Europa e dos EstadosUnidos, e isto abre um novo caminho para seufortalecimento institucional.
Entre 1985 e 1991 ocorre um boom de novas entidadesambientalistas, entretanto a maior parte delas nosobrevive pela sua incapacidade em aglutinar grupos demilitantes e voluntrios. Isto se depreende do fato de queo primeiro Cadastro Nacional de Entidades Ambientalistasno Brasil produzido entre 1991 e 1993 relacionou 1533entidades e o mesmo cadastro nacional em 1996produzido em 1996 por trs instituies (MaterNatura/ISER/WWF) revela a existncia de 985 entidadesque se reconhecem ambientalistas ou fazendo um trabalho
O maior interesse da opinio pblica em relao temticaambiental representa um importante incentivo para amultiplicao das organizaes ambientalistas.Aproximadamente 90% das associaes ambientalistas tmsua sede no sul e sudeste, sendo compostamajoritariamente por universitrios e pessoas com rendasuperior mdia nacional. Mas comea a ocorrer um certadisseminao no Centro-Oeste, Nordeste e Norte. Nessa
fase, as organizaes ainda no eram reconhecidas comointerlocutoras por parte do setor pblico e privado e suasaes se continuam a se concentrar na mobilizao contrafbricas poluidoras e degradao de reas verdes, comoparques nacionais, estaduais e municipais. Na realidade, asconquistas dessas organizaes para reverter efetivam entea degradao do meio ambiente foram bastante restritas.No entanto, inegvel sua importncia para despertar aconscientizao sobre a problemtica ambiental nos maisdiversos setores da sociedade brasileira, embora a tnicade seu discurso permanecesse a mesma.
A multisetorializao do ambientalismo provoca umatransformao organizacional, e isto quebra o isolamento ea relao especular que caracterizava o bissetorialismo dafase anterior, afetando poderosamente a cada um dessessetores, que agora passam a intercambiar e receberinfluncias e demandas de atores com dinmicas maisprofissionalizadas (Leis, 1996:109-112).
Ocorre uma crescente inovao na cultural ambientalistabrasileira. As entidades transcendem a prtica da denunciae tm como objetivo central a formulao de alternativasviveis de conservao e /ou de restaurao de ambientesdanificados, O socioambientalismo se torna parteconstitutiva de um universo cada vez m ais amplo deorganizaes no governamentais e movimentos sociais.Isto ocorre na medida em que os grupos ambientalistasinfluenciam diversos movimentos sociais que embora notenham como seu eixo central a problemtica ambiental,incorporam gradativamente a proteo ambiental comoum a dimenso relevante do seu trabalho.
Entre os diversos atores, pode-se destacar a aproximaocom os seringueiros da Amaznia e o apoio das ONGs criao das reservas extrativistas, internacionalmente
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(8) Chico Mendes nasceu no Acre em 1944 e adquiriu notoriedade como lder durante os empates, quando os trabalhadores florestais formavam verdadeirasbarreiras humanas para impedir o desmatamento pelos novos colonos assentados. Em 1975 31 anos entrou para o sindicato de Trabalhadores Rurais e nessapoca lanou suas ideias para a criao de Reservas Extrativistas. Tratava-se de um conceito inovador uma rea de propriedade do governo a ser usadaunicamente em benefcio da comunidade que nela vive e que, em troca, utilizaria mtodos sustentveis de explorao de recursos florestais, funcionandocomo uma cooperativa, em benefcio da coletividade. frente do Sindicato Chico Mendes ganhava crescente ateno da mdia, e sua vida comeou a serameaada por fazendeiros e madeireiros que, inescrupulosamente chegaram disposto s a expulsar os seringueiros das terras, desmatar e atear fogo nafloresta. Em 13 anos de movimento tornou-se o alvo principal de fazendeiros e empresrios bem sucedidos, policiais corruptos, advogados, juizes e polticosque viam nele um obstculo para seus objetivos comerciais. Em 22 de dezembro de 1988 foi morto durante uma emboscada no quintal da sua prpria casaem Xapuri no Acre. poca Chico Mendes era presidente do Conselho Nacional de Seringueiros (CNS) e sua morte teve grande repercusso no snacional,mas internacional. Dez anos aps a sua morte, Chico Mendes lembrado como lder ecolgico, tornando-se o primeiro mrtir internacional do meioambiente.
()9 O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra MST- nasceu das lutas que os trabalhadores rurais foram desenvolvendo de forma isolada, na regioSul do Brasil, pela conquista da terra desde o final da dcada de 70. A matriz do Movimento o acampamento da Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta- RS.O MST tem trs grandes objetivos: a terra, a reforma agrria e uma sociedade mais justa. Em 1999, o MST est organizado em 23 estados da Federao, e em13 anos de existncia, quase 150 mil famlias j conquistaram terra. Grande parte dos assentados se organiza em torno de cooperativas de produo. em proldo abastecimento de gua at os movimentos de seringueiros e ndios na Amaznia. tambm a partir dessa poca que essas ONGs vo iniciar umamudana de postura, superando sua rejeio a qualquer dilogo com economistas ou em presrios, por entenderem que ecologia e economia eramincompatveis
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O agravamento da crise econmica, a aproximao comoutros movimentos sociais e o relatrio Nosso FuturoComum contriburam para que o tema desenvolvimentoeconmico, rejeitado pelos ambientalistas brasileiros atincio d dcada de 80, fosse incorporado no discursoambiental.
O marco diferenciador a passagem de prticas que
podem ser definidas apenas como reativas para prticasproativas, na medida em que em escala crescente asorganizaes tem como objetivo central a afirmao deuma alternativa vivel de conservao ou de restauraodo ambiente danificado. As entidades ambientalistas estodistribudas ao longo do territrio, porm com maior graude concentrao na regio sudeste do pais, tendo com oreferncia atuaes geralmente bem delimitadas tais comoconservao de algum ecossistema, melhoramento daqualidade ambiental (gua, ar, resduos slidos), educaoambiental e ampliao do acesso informao eagricultura sustentvel, dentre as principais. As fontes de
recursos so as instituies de cooperao internacional eas organizaes multilaterais que freqentementecontratam estudos e avaliaes de impactos ambientais. Asentidades se capacitam cada vez mais para exercer umantida influncia sobre as agncias estatais de meioambiente, o poder legislativo, a comunidade cientfica e oempresariado.
importante destacar tambm o surgimento efortalecimento de numerosos conselhos, consultivos edeliberativos, em vrias reas e em todos os nveis (federal,estadual e municipal) com a participao ativa derepresentantes de ONGs e movimentos sociais. Asinstncias de gesto que agregam estes atores soconselhos de meio ambiente, os comits de bacias e areas de proteo ambiental (APAs). Entretanto,freqentemente so instncias bastante formais, sempoder influenciar no processo decisrio, e onde arepresentao assume muitas vezes carter bastantecontraditrio.
4. Da Rio 92 Rio+5
Essas novas ideias do ambientalismo brasileiro vo sefortalecer durante a preparao da Rio-92, inserindo cadavez mais o movimento ambiental nacional numa redeinternacional, ao mesmo tempo que possibilita a maiorinterao das entidades ambientalistas a 1990 a partir daconstituio do Frum Brasileiro do ONGs e MovimentosSociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento.
Segundo Viola (1996:50), nas vsperas da Conferncia. ARio 92 obriga os atores a se situarem num espaomultissetorial levando sua reflexo e prtica em direo aodesenvolvimento sustentvel. Muda o contedo,diminuindo significativamente o discurso que falava em
sistemtico neste campo, das quais 725 so ONGs. (10)Deste total, nem mesmo 400 tm estatuto, registro ousede, e mesmo as que esto legalizadas ouinstitucionalizadas, e que contam com um quadro deassociados maior no conseguem ter um ncleo demilitantes com mais de 20 pessoas (Crespo, 1993, 1997).Crespo (1997:293) mostra com base neste cadastro que amaior parte das ONGs ambientalistas atuam localmente,
so amadoras, no tem sede, nem staff remunerado, eoperam oramentos inferiores a 50.000,00 dlares. destetotal 78% realizam projetos destinados a comunidadeslocais e 80% privilegiam o pblico escolar e a educaoambiental na comunidade. A maioria delas se situa naregio sudeste Esprito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiroe So Paulo) com aproximadamente 48% do total.
Em relao s ONGs, que representavam 700 em 1989,mudanas importantes tambm foram observadas. Emboraa maior parte dessas entidades continuassem a funcionarde forma amadorstica e voluntarista, algumas
organizaes procuraram se reestruturar buscando umamaior profissionalizao de suas atividades. A abertura deescritrios de importantes organizaes internacionaiscomo a Greenpeace e a Friends of Earth tambmcontribuiu para a evoluo dessas organizaes. Muitasdeixaram de lado o objetivo genrico de estimular aconscientizao ou de se concentrarem nas dennciascontra agresso ambiental, para atuarem em objetivosespecficos para preservao e recuperao ambiental.Dessa forma, as novas organizaes se estruturaram emtorno de objetivos claros como melhoramento daqualidade da gua e do ar, educao ambiental etc. Almdisso, trataram de ampliar sua sustentabilidade financeiraatravs de mecanismos diversos de financiamento:organismos internacionais, rgos pblicos, doaes deempresas e mensalidades dos associados. (11)
interessante notar que o processo de melhor articulaodas organizaes ambientalistas, e destas com asdenominadas ONGs sociais, , bastante complexo, gerandodiversos conflitos. Alm disso, persiste uma resistncia dasONGs sociais em trabalhar conjuntamente com as ONGsambientais. As ONGs socais, estruturadas h mais tempodo que as ambientais, e contando com recursos humanosmais qualificados tcnica e politicamente, classificam as
propostas dos grupos ecolgicos como ingnuas oudesvinculados da realidade social brasileira. Nesse sentido,as prprias organizaes no governamentaisremanescentes das organizaes populares da dcadaanterior, buscaram ampliar seu leque de atuao,recorrendo diretamente a financiamento externo para odesenvolvimento de projetos nessa rea.
Vale notar que as mudanas na forma de atuao domovimento ambientalista brasileiro complementada coma transformao de seu discurso dominante nesta dcada.
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(10) Realizao conjunta da Mater Natura/ISER/WWF, 1996.
(11) VIOLA, Eduardo & LEIS, Hector, 1992.
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articulaes que se estruturam para articular aescoletivas para questionar programas ou projetos para umaregio ou cidade. Este caso dos Fruns de ONGs eMovimentos Sociais de Rondnia e Mato Grosso, Grupo deTrabalho Amaznico que se multiplica pelo interior daAmazonia, Rede Mata Atlntica, Coalizo Rios Vivos. Outrasredes se organizam para enfrentar determinada polticapblica ou sua ausncia em torno de guas,
biodiversidade, como o caso da Rede Contra A Seca, GTSociobiodiversidade e GT Floresta do Frum Brasileiro deONGs. A Rede Projeto Tecnologias Alternativas (Rede PTA),que representa hoje 22 entidades das regies Nordeste,Sudeste e Sul se articula em torno de um projeto comuminovador como o caso da agricultura sustentvel.
5. Coalizes e Redes
O grande ponto de inflexo do movimento ambientalistaocorre com a constituio de foruns e redes que tmimportncia estratgica para ativar expandir e consolidar o
carter multissetorial do ambientalismo, notadamenteatravs da reunio dos setores que representam asassociaes ambientalistas e os movimentos sociais. Trata-se de um processo bastante complexo, em virtude da suaheterogeneidade tanto organizativa como ideolgica.
No processo preparatrio da Rio 92, por iniciativa dealgumas ONGs criado o Frum de ONGs Brasileiraspreparatrio Conferncia da Sociedade Civil sobre o MeioAmbiente e Desenvolvimento, simultaneamente Conferncia das Naes Unidas sobre Meio Ambiente eDesenvolvimento. O Frum brasileiro realizou oito
encontros plenrios nacionais e contava com a filiao deaproximadamente 1200 organizaes em 1992 cumprindosua misso de fomentar a participao da sociedadebrasileira na Rio-92 e nos eventos paralelos que organizoudiscutindo um novo padro de desenvolvimentoecologicamente sustentvel. A realizao do Frum Globalcontribui significativamente para integrar o ambientalismobrasileiro num processo de articulao e networkinginternacional.
No quadro da preparao para a Rio-92, o Frum elaborouo Relatrio Meio Ambiente e Desenvolvimento : UmaViso das ONGS e dos Movimentos Sociais Brasileiros.
Aps a Conferncia, ainda em 199
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