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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE UNIDADES DE CUIDADOS Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem Ascensão Mendes Nora Varela Baia Coimbra, Março de 2012

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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE GESTÃO DE UNIDADES DE CUIDADOS

Stress associado ao problema de fertilidade:

Intervenção de enfermagem

Ascensão Mendes Nora Varela Baia

Coimbra, Março de 2012

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CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

DE GESTÃO DE UNIDADES DE CUIDADOS

Stress associado ao problema de fertilidade:

Intervenção de enfermagem

Ascensão Mendes Nora Varela Baia

Orientadora: Doutora, Manuela Frederico, Professora, Escola Superior de Enfermagem

de Coimbra

Dissertação apresentada à Escola Superior de Enfermagem de Coimbra para obtenção do grau de

Mestre em Enfermagem de Gestão de Unidades.

Coimbra, Março de 2012

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A esperança não murcha, ela não cansa,

também como ela não sucumbe a crença.

Vão-se sonhos nas asas da descrença,

voltam sonhos nas asas da esperança.

Augusto dos Anjos

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DEDICATÓRIA

Aos meus filhos

João Miguel e Ana Maria, força do meu viver.

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AGRADECIMENTOS

A todos os casais que aceitaram, com total disponibilidade, a participar neste estudo

de uma forma acolhedora e simpática transmitindo algo do que pensavam /sentiam. A

todos o nosso sincero obrigado.

À instituição, a toda a equipa, mas em especial às colegas por toda a colaboração

prestada.

À Sr. Professora Olinda pela valiosíssima ajuda na leitura da dissertação, à D.Adélia

pela sua ajuda na pesquisa bibliográfica.

À Professora Doutora Manuela Frederico, pela orientação dada, pela motivação

constante e pela grande disponibilidade demonstrada durante a realização deste

estudo.

Ao Olímpio, meu marido pelo apoio, paciência e motivação com que me acompanhou

neste percurso.

A Deus Criador pela força, coragem, confiança e luz no meu caminhar.

E a todos os que, directa e indirectamente, tornaram possível este trabalho.

A todos o meu sincero

MUITO OBRIGADO

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LISTA DE SIGLAS

ACTH- Hormona de adrenocorticotrófico

AVP- Arginina Vasopressina

CRH- Hormona Libertadora da Corticotropina

DNA- Ácido Desoxirribonucleico

DP- Desvio padrão

FERTIS- Sistema de Informação de Apoio à Fertilidade e procriação Medicamente

Assistida

FIV- Fertilização in Vitro

FSH- Hormona Folículo Estimulante

GnRH- Hormona Libertadora da Gonadotrofina

HHA- Eixo Hipotálamo-Hipófise-Adrenal

ICMART- Comissão Internacional para a Monitorização da Reprodução Medicamente

Assistida

ICSI- Microinjecção Intracitoplasmática

IMC- Índice de Massa Corporal

LH- Hormona Luteinizante

Md- Mediana

Mn- Mínimo

Mx- Máximo

OMS- Organização Mundial de Saúde

PMA- Procriação Medicamente Assistida

SNC- Sistema Nervoso Central

X- Média

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SUMÁRIO

Pág.

INTRODUÇÃO..............................................................................................................17

PARTE UM: ENQUADRAMENTO TEÓRICO...............................................................21

CAPITULO I: STRESS ASSOCIADO AO PROBLEMA DE FERTILIDADE.................23

1.1- STRESS E FUNÇÃO REPRODUTIVA...................................................................291.2- SAÚDE REPRODUTIVA E INFERTILIDADE..........................................................31

1.3- AS IMPLICAÇÕES DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INFERTILIDADE............................................................................................................34

2– REDE DE REFERÊNCIAÇÃO DE CUIDADOS EM INFERTILIDADE....................402.1- INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM NO PROCESSO DE TRANSIÇÃO PARA

A FERTILIDADE...........................................................................................................41

2.1.1. Consulta de enfermagem aos casais com problema de fertilidade..............42

PARTE DOIS: ESTUDO EMPÍRICO.............................................................................45

CAPITULO II: METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO..................................................46

1-TIPO DE ESTUDO......................................................................................................47

2- QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO E HIPOTESES......................................................48

3-VARIÁVEIS................................................................................................................563.1- VARIAVEL DEPENDENTE......................................................................................56

3.2-VARIÁVEIS INDEPENDENTES...............................................................................57

3.3- VARIÁVEIS ATRIBUTO...........................................................................................58

4 - POPULAÇÃO / AMOSTRA.......................................................................................59

5- INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS.............................................................60

5.1- PRÉ-TESTE............................................................................................................60

6- PROCEDIMENTOS ÉTICO/LEGAIS..........................................................................62

7-TRATAMENTO ESTATISTICO....................................................................................63

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CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS............65

1- APRESENTAÇÃO DOS DADOS .............................................................................661.1- CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA .....................................................................66

1.2- O STRESS ASSOCIADO AO PROBLEMA DE FERTILIDADE .............................70

1.2.1- Resultados dos testes de hipóteses ..............................................................73

2- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ..........................................................................81

3- PROPOSTA DE PROGRAMA DE INTERVENÇÃO EM CUIDADOS DEFERMAGEM.................................................................................................................86

CONCLUSÃO...............................................................................................................89

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................94ANEXOS

ANEXO I -Instrumento de recolha de dados.

ANEXO II- Pedido de autorização à autora a escala do inventário de problemas de fertilidade.

ANEXO III- Pedido de autorização ao Centro Hospitalar de Coimbra, E.P.E.

ANEXO IV- Autorização para a realização do estudo.

ANEXO V- Autorização para aplicação do Inventário de Problemas de Fertilidade. ANEXO

ANEXO VI- Consentimento informado.

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LISTA DE QUADROS pág.

Quadro 1 – Distribuição dos elementos da amostra segundo variáveis pessoais e sociais em função do sexo................................................................................68

Quadro 2 - Distribuição dos elementos da amostra segundo as variáveis do estilo de vida associadas ao problema de fertilidade.......................................................70

Quadro 3 – Medidas descritivas referentes às dimensões e stress associado ao problema da fertilidade dos homens que frequentam a consulta de esterilidade da M.B.B. (n=50)...............................................................................................71

Quadro 4 – Medidas descritivas referentes às dimensões e stress associado ao problema da fertilidade, das mulheres que frequentam a consulta de esterilidade da M.B.B. (n=50) ...........................................................................72

Quadro 5 – Diferença do stress, associado ao problema de fertilidade, nos homens e nas mulheres em função do sexo, pela aplicação do teste de Mann-Whitney U (n=100)..............................................................................................................74

Quadro 6 – Correlação de Spearman’srho do stress, associado ao problema de fertilidade e dimensões com a idade dos homens e das mulheres (n=100)..............................................................................................................75

Quadro 7- Correlação de Spearman’srho de stress, associado ao problema de fertilidade, dos homens e das mulheres em função do tempo de infertilidade (n=100) .............................................................................................................76

Quadro 8 – Comparação do stress, associado ao problema de fertilidade nos homens, em função da frequência das relações sexuais pela aplicação do teste Mann- Whitney U (n=50) ..............................................................................................77

Quadro 9 – Comparação do stress, associado ao problema de fertilidade nas mulheres, em função da frequência das relações sexuais, pela aplicação do teste Mann-Whitney U( n=50) ...........................................................................77

Quadro 10- Comparação do stress, associado ao problema de fertilidade nos homens, em função do índice de massa corporal, pela aplicação do teste Kruskal- -Wallis (n=50) ....................................................................................................78

Quadro 11 – Comparação do stress associado ao problema de fertilidade nas mulheres em função do índice de massa corporal, pela aplicação do teste Kruskal-Wallis (n=50).........................................................................................79

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Quadro 12 – Comparação do stress associado ao problema de fertilidade, nos homens em função do nº de agentes de risco ocupacional, associados à alteração da fertilidade, pela aplicação do teste KrusKal-Wallis (n=50) ...........80

Quadro 13 – Comparação do stress associado ao problema de fertilidade, nas mulheres em função do nº de agentes de risco ocupacional, associados à alteração da fertilidade, pela aplicação do teste KrusKal-Wallis (n=50).........80

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RESUMO

Em Portugal, a taxa de prevalência da infertilidade, ao longo da vida, situa‐se entre os

9 e os 10%. O stress é uma das causas.

O presente estudo – exploratório, descritivo e correlacional do tipo quantitativo – tem

como tema central “Stress associado ao problema de fertilidade: intervenção de

enfermagem”. E como ponto de partida, a seguinte questão: Qual o nível de stress,

associado ao problema de fertilidade, nos homens e mulheres (casais) que frequentam

a consulta de esterilidade e que relação há entre esse nível de stress e as variáveis

sexo, idade, tempo de infertilidade, frequência das relações sexuais, índice de massa

corporal e contacto com agentes de risco ocupacional?

Utilizamos o questionário, integrando uma escala validada. A amostra é constituída por

cem participantes. Os dados foram processados através do programa estatístico

SPSS (Statiscal Package for the Social Sciences), versão 19 para Windows.

O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, apresentado pelas mulheres é

ligeiramente superior (3,20) ao dos homens (3,10), não sendo a diferença

estatisticamente significativa.

O nível de stress, quando associado à idade dos homens, tem uma correlação

negativa e não é estatisticamente significativa; mas, para as mulheres, é

estatisticamente significativa nas dimensões “preocupação sexual” (p=0,00) e “stress

global” (p=0,03).

Nos homens, o nível de stress, quando correlacionado com o tempo de infertilidade,

tem uma correlação positiva em todas as dimensões e não é estatisticamente

significativa. Nas mulheres, a correlação também é positiva, excepto na dimensão

“preocupação com a relação”, e é estatisticamente significativa para a dimensão

“stress global” p=0,04, “necessidade da parentalidade” (p=0,03) e “preocupação social”

(p=0,01).

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ABSTRACT

In Portugal, the life time infertility prevalence rate is 9 to 10%. Stress is one

important aspect in etiology.

The aim of this quantitative descriptive exploratory correlational study is to

investigate the “Stress and infertility: Nursing intervention”. The main question is

“Which is the level of stress associated to the infertility problem in men and women

(couples) in the Bissaya Barreto Maternity infertility outpatient clinic and, which is

the relationship between that level of stress and gender, age, duration of infertility,

frequency of sexual intercourse, body mass index and exposure to occupational risk

agents?

The instrument used was a questionnaire, integrated a validated scale. The sample

involved one hundred participates. We used the SPSS (Statistical Package for the

Social Sciences), version 19, for Windows, for data processing.

Female stress level associated to infertility was slightly higher (3.20) than male

stress (3.10), with no statistical significance.

In male, stress level and age were negatively correlated but with no statistical

significance. However, for female it was also found a positive correlation with

statistical significance in the dimensions “sexual preoccupation” (p=0.00) and “stress

in general” (p=0.03).

Male stress and infertility duration is positively correlated in every dimension but with

no statistical significance. In female there was also a positive correlation, but with

the dimension “preoccupation about relationship”, and of statistical significance for

“general stress” (p=0.04), “parental designs” (p=0.03) and “social preoccupation”

(p=0.01) dimensions.

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1-INTRODUÇÃO

Ao longo da história de todas as civilizações, o problema da reprodução e a sua falência

têm sido causa de preocupação, essencialmente pelas repercussões sociológicas,

humanas e éticas.

Em Portugal, a prevalência da infertilidade, ao longo da vida, situa‐se entre os 9 e os

10% (Carvalho e Santos, 2009). Actualmente, a Organização Mundial de Saúde (OMS)

considera que a infertilidade é um problema de saúde pública. Este organismo, com o

objectivo de garantir o acesso a todos os indivíduos a serviços de saúde reprodutiva até

2015 – tal como preconiza o Programa de Acção da Conferência das Nações Unidas

sobre População e Desenvolvimento – tem colocado, na mão dos responsáveis e de

todos aqueles que estão envolvidos na prestação de cuidados em infertilidade e

procriação medicamente assistida, este grande desafio, que é garantir a acessibilidade

e promover acções no sentido de inverter ou controlar este fenómeno.

Segundo a Direcção Geral de Saúde (2010), o aumento de casos de infertilidade,

sugerido pelos dados disponíveis, pode estar relacionado com as consequências de

comportamentos de risco para a saúde em geral, como é o caso, entre outros, da

alimentação desequilibrada e conducente à obesidade, do tabagismo, alcoolismo, riscos

ocupacionais (exposição e contacto com agentes agressivos à fertilidade), aumento do

stress associado ao diagnóstico e tratamento da infertilidade, sedentarismo e relação

sexual. Porém, não poderá ignorar‐se também a sua natural associação com a opção

de adiar a gravidez para idades mais tardias.

Os cuidados em saúde reprodutiva constituem um conjunto diversificado de serviços,

métodos e técnicas que contribuem para o bem-estar e saúde, através da prevenção e

resolução de problemas, com respostas adequadas às necessidades específicas,

concretamente dos casais em fase reprodutiva, que desejam ter filhos, mas que

encontraram obstáculos à fertilidade.

Num estudo realizado por Kikendall e citado por Souza (2005), em que abordou a

experiência de infertilidade como período de crise, constatou que 95% das causas da

infertilidade eram fisiológicas; no entanto, houve um período em que a origem da

infertilidade era identificada e associada a um problema psicológico feminino. Os dados

revelam também que a infertilidade pode ser analisada como agente stressor, com

implicações no processo reprodutivo.

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Segundo Rabin (2010), é comum afirmar que, enquanto a infertilidade provoca stress,

sem dúvida, o stress não causa infertilidade. No entanto, estas duas condições podem

estar relacionadas e esta premissa pode ser invertida.

O stress é realmente um dos factores que age contra a fertilidade, quer este esteja no

papel de factor causal, quer esteja no papel de efeito do grande fenómeno que é a

infertilidade, provocando desgaste, ansiedade e problemas de relacionamento entre o

casal. Este é afectado pelos efeitos negativos do stress. Desses efeitos, salientamos a

diminuição da líbido, da frequência da actividade sexual, produção de espermatozóides,

alterações no sistema endócrino e perturbações sócio-laborais.

O presente estudo centra-se no tema stress associado ao problema de fertilidade,

apresentado pelos casais que frequentam a consulta de esterilidade na Maternidade

Bissaya Barreto. A infertilidade é um fenómeno evidente, que desperta grande interesse

na prática de enfermagem; isto, determinado pela procura de cuidados e pelo que está

preconizado no plano nacional de saúde reprodutiva, que é promover acções no sentido

de inverter ou controlar o fenómeno.

A Direcção Geral de Saúde (2010) aconselha que diminuir os níveis de stress pode

melhorar o relacionamento do casal, levar a um aumento da líbido e da frequência das

relações sexuais.

Imeson e McMurray, citados por Delgado (2007), referem que a compreensão do modo

como os casais vivenciam a infertilidade pode melhorar com a intervenção dos

profissionais. Os utentes esperam, cada vez mais, dos profissionais de saúde, uma

forma de cuidar compreensiva, sustentada, não só pelo conhecimento científico, mas

também pela relação estabelecida, orientação e acompanhamento.

Neste enquadramento, surgiu a pertinência da escolha desta temática e a questão de

partida deste estudo: Qual o nível de stress, associado ao problema de fertilidade, nos

homens e mulheres (casais) que frequentam a consulta de esterilidade da Maternidade

Bissaya Barreto e que relação há entre esse nível de stress e as variáveis sexo, idade,

tempo de infertilidade, frequência das relações sexuais, índice de massa corporal e

contacto com agentes de risco ocupacional?

Os principais interesses deste estudo são contribuir para a concepção e organização

dos cuidados de enfermagem aos utentes que sofrem de infertilidade; propor um plano

de intervenção no âmbito de enfermagem, no nível de 1ª linha, no contexto da consulta

de esterilidade; contribuir para a tomada de decisão na gestão dos recursos humanos e

dos espaços físicos, assim como obter conhecimento científico, com a finalidade de

melhorar as práticas, de modo a produzir ganhos em saúde (aumentar a taxa de

gravidez e diminuir o tempo de infertilidade) junto dos utentes, família, comunidade e

instituição hospitalar.

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A fim de orientarmos todo o estudo, definimos os seguintes objectivos:

Caracterizar os homens e as mulheres que frequentam a consulta de esterilidade

da Maternidade Bissaya Barreto, na vertente sócio-demográfica e segundo o

estilo de vida associado ao problema de fertilidade.

Determinar o nível de stress associado ao problema de fertilidade nos homens e

nas mulheres que frequentam a consulta de esterilidade da Maternidade Bissaya

Barreto.

Relacionar o nível de stress, associado ao problema de fertilidade, nos homens e

nas mulheres que frequentam a consulta de esterilidade da Maternidade Bissaya

Barreto, com variáveis pessoais (idade, tempo de infertilidade, frequência das

relações sexuais, índice de massa corporal e agentes de risco ocupacional que

tem contacto).

Verificar se existe diferença entre o nível de stress apresentado pelos homens e

pelas mulheres que frequentam a consulta de esterilidade na MBB.

Para tal, realizámos um estudo exploratório, descritivo e correlacional do tipo

quantitativo.

Como instrumento de recolha de dados, utilizou-se o questionário dividido em duas

partes. A primeira parte visa determinar o nível de stress associado ao problema da

fertilidade. Para isso, utilizámos uma escala da autoria de Newton, et al. (1999), versão

original; e Moura et al. (2008), versão portuguesa. A segunda parte recolhe a

informação sócio-demográfica.

A amostra circunscreve-se aos casais inscritos na consulta de esterilidade da

Maternidade Bissaya Barreto e que sofrem de problema de fertilidade. Seleccionaram-

se, para o estudo, os participantes que recorreram à consulta no período temporal de 1

de Setembro a 15 de Dezembro de 2011.

Estruturalmente o relatório está organizado em duas partes: O enquadramento teórico e

o estudo empírico. No capítulo I, integrado na parte um, apresenta-se o enquadramento

teórico do stress associado ao problema de fertilidade, stress e função reprodutiva,

saúde reprodutiva e infertilidade, as implicações do diagnóstico e tratamento da

infertilidade, rede de referenciação de cuidados em infertilidade e intervenção de

enfermagem nos casais com infertilidade.

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Na parte II, constam o capítulo II, onde é referenciada a conceptualização e justificação

metodológica do estudo e o capítulo III onde é feita a apresentação, análise, discussão

dos resultados e proposta de programa de intervenção em cuidados de enfermagem.

Por último, vêm a conclusão, a bibliografia e os anexos.

A realização deste estudo pode contribuir para mobilizar, adquirir e aumentar

conhecimentos, de forma a permitir melhorar a qualidade de intervenção de

enfermagem junto dos casais com problema de fertilidade.

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PARTE UM: ENQUADRAMENTO TEÓRICO

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CAPITULO I: STRESS ASSOCIADO AO PROBLEMA DE FERTILIDADE

O conceito de stress tem evoluído ao longo dos tempos. Vários autores deram o seu

contributo. Segundo Serra (1999), foi com Claude Bernard, fisiologista francês que viveu

entre 1813 e 1878, que se reconheceu pela primeira vez a existência de eventuais

consequências disfuncionais provocadas por um desequilíbrio do organismo. E

salientou, também, que as ameaças físicas à integridade de um organismo reproduzem

respostas defensivas da parte deste, de forma a impedirem a ameaça. A ideia chave

deixada por Bernard é que a vida está dependente, de forma crítica, da capacidade do

ser vivo manter constante o meio interno, perante qualquer transformação do meio

externo.

Refere ainda que, Walter Cannon, fisiologista americano, introduziu a noção de

homeostase, para designar a capacidade que o organismo tem em manter estável o

ambiente interno, apesar das transformações que poderá enfrentar em relação ao

ambiente externo. Além dos mecanismos físicos para manter a homeostase, também

acreditava que a doença poderia resultar de uma desregulação do sistema ao nível do

funcionamento sócio-cultural e psicológico.

Loureiro (2006) refere que Hans Selye, endocrinologista canadiano, foi o primeiro a

recorrer sistematicamente ao termo stress, como meio para compreender a regulação

fisiológica, em resposta às ameaças ao organismo. Utilizou o termo stress para designar

os efeitos de qualquer agente que ameace seriamente a homeostase do organismo.

Acrescenta ainda que, para Selye, o stress baseia-se na resposta fisiológica do

organismo e não no estímulo que se exerce sobre ele. Que a resposta do organismo era

independente do tipo de agente agressor (ou seja o stressor), quer este fosse de

natureza física ou psicológica. A resposta variaria apenas em gravidade e duração, em

função da intensidade do agente agressor e da sua permanência real ou simbólica.

Assim, a perspectiva em que o stress era tido como estímulo dá lugar, a partir de

Selye, a uma perspectiva em que passa a ser considerado uma resposta.

Richard (1984) define como situação provocadora de stress, toda aquela em que a

relação estabelecida entre o indivíduo e o meio ambiente é avaliada como excedendo

os seus próprios recursos, prejudicando, por isso, o seu bem-estar. Uma pessoa está

em stress, quando sente que o grau de exigência que determinada ocorrência lhe cria é

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superior à sua capacidade de resposta, consoante os meios pessoais e sociais de que

dispõe para a ultrapassar com sucesso.

Na década de 60, Lazarus, citado por Serra (1999), mostra que, considerar de forma

exclusiva os estímulos e a resposta, é insuficiente para apreender na globalidade os

mecanismos que provocam o stress. Os estímulos não têm o mesmo significado para

todos os indivíduos: a mesma situação pode ser percebida como stressante ou não, de

acordo com a avaliação que o indivíduo faz dela, em função das suas necessidades e

motivações, mas também em função dos recursos de que dispõe para fazer face a

essa situação.

Lazarus, citado por Serra (2007), defende que o resultado da interacção entre as

pessoas e o seu meio ambiente é chamado de stress, surgindo como consequência de

um desequilíbrio entre as exigências que o meio lhe coloca e os recursos de que o

indivíduo dispõe. Deste modo, o stress é um processo de ajustamento constante entre

as exigências do meio e as estratégias do indivíduo para lidar com essas mesmas

exigências.

Ao longo dos tempos, sucederam-se três perspectivas na evolução do conceito de

stress. De uma concepção em que o stress era considerado um estímulo, evoluímos

para uma concepção de stress enquanto resposta; numa perspectiva interacionista (ou

transaccional), consideramos o stress como a consequência de uma interacção entre o

indivíduo e o seu ambiente, perspectiva em que são tidos em conta os processos

cognitivos envolvidos nas reacções ao stress.

Na sociedade actual, o stress converteu-se num fenómeno relevante e tem vindo a

condicionar o comportamento e o desenvolvimento pessoal (Gestoso, 2005; Gomes,

2006; citado por Pocinho & Capelo, 2009). Para os mesmos autores, é um termo

proveniente do latim e que existe na língua inglesa desde o século XV. Ao longo dos

tempos, esse conceito foi-se alterando. No séc. XX, referia-se à força externa, pressão

ou tensão a que são submetidas pessoas ou objectos, resistindo aos seus impactos

(Pocinho & Capelo, 2009, citando Gestoso, 2005).

Para Serra (2005), o stress é intrínseco à espécie humana e a outras espécies, e só

deixa de existir quando o indivíduo morre. É um elemento com o qual tem de se

aprender a viver e a lidar no dia a dia. Na sua opinião, ninguém está livre de stress.

Nesse contexto, clarifica que um indivíduo se sente em stress quando está perante um

acontecimento muito significativo para si, o qual não controla, porque as exigências

impostas por este ultrapassam as suas aptidões e os recursos pessoais e sociais para

enfrentá-lo.

“O stress não é apenas um termo que se relaciona vagamente com alguma

situação incomodativa. Quando é intenso, repetitivo e prolongado é susceptível

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de determinar consequências preocupantes que podem lesar o bem-estar e a

saúde (física e psíquica) do indivíduo” (Serra, 2007, p.11).

Ainda o mesmo autor refere que o stress excessivo torna-se prejucial, porque pode

induzir alterações do sono, vida sexual, metabolismo e sistema imunitário, além de

outras repercusões. A vulnerabilidade ao stress não é uniforme e a maneira de enfrentar

as circunstâncias indutoras de stress são diferenciadas (MoreiraI, et al., 2006). Assim, à

medida que o stress se tem vindo a converter num fenómeno relevante e reconhecido a

nível social, tem crescido também a pesquisa, tomando em consideração os efeitos para

a saúde e o bem-estar do indivíduo.

Apud Moreira, et al. (2005), afirmam que o stress é capaz de interferir na função

reprodutiva, através dos diversos mecanismos de regulação da respectiva função.

Serra (2005), refere que o stress só se verifica perante situações de tensão que

desencadeiem experiências stressantes, tais como acontecimentos subjectivos

(pensamentos, imagens ou sensações internas) ou objectivos (factos relevantes da vida

ou que incomodam no dia a dia). Assim, a avaliação dos acontecimentos por parte do

indivíduo é importante e dá-lhe a percepção de ter ou não recursos suficientes para lidar

com o problema. Se os recursos disponíveis no indivíduo forem inferiores às exigências

para a resolução do problema, então o indivíduo não tem capacidade de controlo e entra

em stress.

O que é o stress? Segundo Soares e Alves (2006), a resposta a esta questão ainda

gera bastante polémica. Para Cohen et al. (1997), citados pelos autores atrás referidos,

existem três perspectivas: ambiental, psicológica e biológica, que, embora divergentes,

partilham semelhanças. Todas se interessam pelo processo no qual as exigências

ambientais excedem a capacidade adaptativa de um organismo, que tem como

consequência determinadas mudanças psicológicas e biológicas que, por seu turno,

aumentam o risco de desenvolvimento de um estado de doença.

O papel do stress associado ao problema de fertilidade continua a ser uma questão de

debate. Para Louis (2010), citado por Rabin (2010), os casais, simplesmente a tentar

engravidar, estão realmente stressados. Eles têm uma expectativa, querem ter uma

família. De todos os factores de estilo de vida estudados até hoje, o stress é o factor

mais consistente e que mostra efeito sobre o tempo que leva a gravidez a acontecer.

Numa investigação sobre questões de ansiedade e stress em pessoas inférteis, durante

o período de fertilização in vitro (FIV), realizada por Seger (2000) e referido por Souza

(2005), foram encontrados níveis similares de ansiedade e stress em homens e

mulheres. Observou também que a não-verbalização livre de emoções eleva os níveis

de ansiedade e do stress, sendo as mulheres as mais afectadas. No entanto, os casais

mostraram-se bem ajustados psicologicamente.

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Para Moreira, et al. (2005) existe uma relação significativa entre o stress e a função

reprodutiva, visto que os elementos stressores afectam o eixo hipotálamo-hipófise-

ovariano, através de diversos mecanismos biológicos; isto explica, assim, as várias

formas de alteração do ciclo menstrual observadas em mulheres submetidas a fortes

impactos emocionais. Por outro lado, os procedimentos envolvidos no diagnóstico e

tratamento da infertilidade podem exacerbar problemas psicológicos. Neste contexto,

evidencia-se a importância de um plano de intervenção de enfermagem relacionado

com a infertilidade nas consultas de esterilidade, instituído a partir das etapas iniciais do

acompanhamento clínico.

Segundo Moreira e Melo (2006), a correlação entre stress e infertilidade conjugal é

estudada desde a década de 1950. O stress das mulheres submetidas à reprodução

assistida, que não tiveram sucesso com o tratamento, apresentaram maior nível de

stress do que as que tiveram sucesso. No entanto, também em outros estudos se

verificou que não havia diferença estatisticamente significativa em relação ao nível de

stress entre os individuos férteis e inférteis. Baseando-se nestes factos, os autores

referidos anteriormente realizaram um estudo em que se propõem avaliar a presença de

stress em mulheres inférteis e correlaciona-lo com factores de risco. Constataram que o

stress foi maior no grupo com infertilidade em relação ao grupo de controlo. No entanto,

não se observaram diferenças significativas entre os grupos com relação às fases de

stress e o tipo de sintomatologia predominante.

Wright et al. (1991), citados por Melo, et al. (2006), realizaram um estudo com 449

casais que frequentavam uma clínica de fertilidade. Um dos seus objectivos era avaliar

a diferença entre o sexo feminino e masculino, nas suas respostas ao problema de

infertilidade. Os resultados finais sugerem que os homens e as mulheres dos casais

inférteis experienciam maiores níveis de depressão, stress e ansiedade, quando

comparados com a população normal, sendo que as mulheres experienciam mais

sintomas que os homens.

Num estudo transversal, envolvendo 152 mulheres inférteis (média de idade 30,3) e 150

controles saudáveis (média de idade 25,7), avaliadas através da aplicação do Inventário

de Sintomas de Stress de Lipp, confirmou-se que a frequência de stress foi maior no

grupo infertilidade em relação ao grupo controle (61,8 e 36,0%, respectivamente); no

entanto, não foram observadas diferenças significativas entre os grupos com relação às

fases do stress e tipo de sintomatologia predominante (Moreira & Melo, 2006).

Também Melo, et al. (2006), realizou um estudo com uma amostra de 120 homens e de

80 mulheres inférteis, distribuídos por quatro grupos cada, de acordo com as causas da

infertilidade (infertilidade feminina, infertilidade masculina, infertilidade mista e

infertilidade desconhecida), constatou-se que a comparação do nível de depressão,

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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ansiedade e stress entre homens e mulheres com infertilidade, estas apresentavam-se

mais ansiosas do que os homens. Contudo, numa análise comparativa anterior entre

todos os homens e mulheres que constituíam a amostragem, também as mulheres

apresentavam valores mais elevados e estatisticamente significativos nas escalas de

ansiedade e stress.

Num estudo de meta-análise de “Gender Differences in Coping with Infertility” feita por

Jordan e Revenson (1999), citados por Delgado (2007), indica que a infertilidade

provoca stress tanto nas mulheres como nos homens, embora a bibliografia indique que

o resultado é maior nas mulheres. São ainda evidenciadas diferenças significativas,

onde as mulheres utilizam mais estratégias de coping centrado na emoção, incluindo a

expressão das emoções, a procura de suporte social, a fuga e recusa, e a adopção de

medidas de distracção e redução da ansiedade. Paralelamente, os homens utilizam

mais estratégias de coping centrado no problema.

Num estudo publicado na revista Fertility and Sterility, Rabin (2010) refere que numa

amostragem de 274 mulheres britânicas com idades comprendidas entre os 18 e 40

anos, as que pararam de usar contraceptivos e que continham níveis elevados da

enzima alfa-amilase (indicador biológico do stress) na saliva, levaram mais tempo a

engravidar do que as que apresentavam níveis baixos da referida enzima. Afirma,

também, que este estudo é um dos primeiros a relacionar um biomarcador do stress

com a dificuldade de mulheres saudáveis e normais engravidarem.

Jacky e Lone (2010), num recente trabalho publicado também na revista Fertility and

Sterility, concluíram que o stress pode ter um impacto negativo no sucesso do

tratamento da infertilidade. A correlação entre o stress masculino e as falhas de

tratamentos da infertilidade foi menor que a do stress feminino. A avaliação do efeito do

nível de stress dos casais sobre os resultados do tratamento de fertilidade foi feita pela

aplicação, a ambos, do inventário de stress dos problemas de fertilidade, logo no início

do tratamento

Domínguez (2010) refere que, a partir dos anos 90, vários estudos evidenciam a

hipótese de que a infertilidade é um factor de stress e que pode produzir sintomas

emocionais significativos. Ainda para a mesma autora, estudos recentes têm identificado

aspectos específicos do stress associados à infertilidade e desenvolvido ferramentas

para a sua avaliação. Constatou, também, que os casais afectados pela infertilidade

mostram taxas elevadas de ansiedade e stress, o que faz com que a gravidez não

ocorra espontaneamente no tempo esperado. As mulheres tendem a ser mais

perturbadas pela experiência da infertilidade do que os homens. Se a causa de

infertilidade for masculina, os homens tendem a sentir emoções mais negativas e

sentem-se estigmatizados.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

27

Newton (1999), citado por Domínguez (2010), num estudo realizado numa amostra de

1153 mulheres e 1149 homens, confirmou resultados de outros estudos, que mostram

que a experiência da infertilidade produz maior stress emocional nas mulheres do que

nos homens. Este estudo também revelou que, em casais com diagnóstico de

infertilidade masculina, foi percebido como mais stressante para os homens que para

mulheres, quando comparada com casais com diagnóstico que provoca infertilidade

feminina.

Com base na experiência clínica, podem explicar este resultado, observando que – ao

contrário do que acontece em casos de infertilidade feminina – quando é o homem que

tem o problema, o casal parece apresentar mais vulnerabilidade às dificuldades e

preocupações sociais. Domínguez (2010), citando Newton (1999), considera que a

experiência da infertilidade é uma fonte de stress a nível de relacionamento pessoal e

com o ambiente social. Considera também que o nível emocional contribui directa e

indirectamente para a adesão a uma resposta positiva aos tratamentos.

Boivin e Schmidt (2011) afirmam que 30% dos problemas de infertilidade são causados

pelo stress. Os efeitos são variáveis de pessoa para pessoa. As mulheres com mais

elevado nível de stress tendem a ovular menos e as mulheres menos stressadas têm

maior probabilidade de engravidar.

Para Moreira, Lima, et al. (2005), além das consequências provocadas pela relação

eixo hipotálamo-hipófise-ovariano/stress, também os procedimentos envolvidos no

diagnóstico e tratamento da infertilidade podem agravar problemas psicológicos.

Reis (2011) avaliou 83 casais recrutados na Unidade de Procriação Medicamente

Assistida do Hospital de São João. Perante os resultados. A investigadora conclui que a

experiência e vivência da infertilidade e dos tratamentos de PMA (procriação

medicamente assistida) constitui uma situação geradora de stress e instabilidade

emocional.

Afirma também que estas alterações psicológicas podem sujeitar, ainda que com

diferentes respostas, diversos aspectos da vida pessoal, conjugal e social dos

indivíduos inférteis. É o caso da convivência com casais com filhos, que se torna

desconfortável.

Outra conclusão é que homens e mulheres reagem de forma diferente a esta

experiência. Embora os homens se sintam mais constrangidos quando a causa da

infertilidade do casal é de origem masculina, no geral, as mulheres são mais afectadas

pelo stress e evidenciam menores níveis de auto-estima e mais sentimentos de

culpabilização do que os homens.

Também a satisfação conjugal e sexual diminui mais no sexo feminino, bem como o

interesse por projectos relacionados com a parentalidade.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

28

1.1- STRESS E FUNÇÃO REPRODUTIVA

Para que a gravidez ocorra, é necessário que haja normalidade da função reprodutiva e

da actividade sexual tanto no homem como na mulher.

Segundo Moreira, et al. (2005), o stress, em diversos aspectos, é capaz de interferir na

função reprodutiva. Na ausência de uma causa orgânica identificada, a ausência do

ciclo reprodutivo é chamada de amenorreia hipotalâmica funcional ou de anovolação

crónica funcional. Esta anormalidade está relacionada com stress físico e emocional,

como ocorre nos casos de perda excessiva de peso, anorexia e exercícios físicos

extenuantes (amenorreia da atleta); nesses casos, alterações no balanço metabólico

parecem ser a causa principal.

A resposta endócrina ao stress psicológico tem sido estudada, tanto em animais quanto

em humanos. Segundo Armario e tal., citados pelas autoras atrás referidas, a relação

entre a intensidade do stress e a resposta endócrina é pouco conhecida. No entanto, a

partir de resultados obtidos com roedores, observou-se que stressores físicos ou

emocionais actuam sobre o hipotálamo alterando a secreção de factores libertadores ou

inibidores de hormonas hipofisárias.

Nessas situações, a libertação da Hormona libertadora da corticotropina (CRH) promove

aumento da produção da hormona de adrenocorticotrófico (ACTH), a qual, por sua vez,

estimula a activação do sistema simpático, com libertação de cortisol e catecolaminas,

substâncias responsáveis pela resposta fisiológica ao stress (Figura 1).

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

29

Dobson e Smith, citados por Moreira, et al., (2005), referem que pesquisas

experimentais demonstraram que stressores físicos e psicológicos produzem um

imediato e constante aumento nas concentrações de CRH. Além dos aumentos do

ACTH e do cortisol, ocorre a activação do sistema nervoso simpático com consequente

aumento dos níveis de glicémia, pressão arterial sanguínea e frequência cardíaca. O

CRH não deve ser a única neurohormona do eixo HHA envolvido na resposta ao stress,

existindo evidências de que a arginina-vasopressina (AVP) de origem paraventricular

também aumenta em resposta ao stress e actua sinergicamente com o CRH,

aumentando a secreção de ACTH.

Alguns trabalhos em humanos falharam em demonstrar a acção inibidora do CRH na

libertação de gonadotrofinas, Barbarino et al, citado por Moreira, et al. (2005), referem

que tal facto se deve, provavelmente, a dificuldades metodológicas de se reproduzir a

acção directa do CRH no sistema nervoso central, uma vez que a administração

periférica é inapropriada para alcançar concentrações fisiológicas nesse nível.

Dobson e Smith, citados por Moreira, et al. (2005), concluiram que a função reprodutiva

humana depende de complexas interacções entre o sistema nervoso central (SNC),

hipófise, ovários, outras estruturas endócrinas e órgãos reprodutivos. Para que o ciclo

menstrual ocorra com normalidade, é necessário que haja uma função ovulatória

regular, o que depende de uma sincronia entre as suas acções e a integridade

anatómica das diversas estruturas do eixo reprodutivo. A função cíclica do ovário pode

ser facilmente perturbada pelo stress emocional, levando à interrupção temporária das

menstruações. Sabe-se, também, que o desejo obsessivo de engravidar pode

desencadear amenorreia temporária, dificultando, ainda mais, a gravidez. Entretanto, é

importante considerar as diferenças individuais na resposta a um determinado factor de

stress.

Diferentes mecanismos biológicos relacionados ou desencadeados pelo stress podem

alterar a função reprodutiva, a ponto de diminuir a fertilidade. No entanto, é

extremamente difícil estabelecer relações de causa-efeito, porque as causas de

infertilidade são múltiplas e não envolvem apenas factores ligados à fisiologia feminina,

mas também masculina.

O stress é realmente um dos factores que opera contra a fertilidade, provocando

desgaste, ansiedade e, muitas vezes, problemas de relacionamento entre o casal. Na

mulher, o stress altera a produção de várias hormonas importantes para a reprodução.

O stress também pode aumentar os níveis de cortisol no sangue, alterando as

hormonas responsáveis pelo ciclo ovulatório da mulher e dificultando, assim, a gravidez.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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Moeda e Fatela (citados por Delgado, 2007, p. 50) referem que “o stresse e uma

ansiedade crónica produzem alterações hormonais por alterações hipotálamo-

hipofisárias, na premissa de que cada vez mais são encontradas evidências científicas

da influência dos factores psicológicos no funcionamento físico”.

Também o homem é afectado pelos efeitos negativos do stress. A ansiedade e o

nervosismo, em geral, baixam a libido e podem afectar a produção de espermatozóides.

Associados todos esses factores à tensão no relacionamento com o parceiro, torna-se

mais difícil que a gravidez aconteça.

Para Delgado (2007), a regulação da espermatogénese é também assegurada através

da interacção entre o hipotálamo, hipófise e testículos. Tanto no homem, como na

mulher, o hipotálamo produz a hormona libertadora da gonadotrofina (GnRH), que

estimula a hipófise a responder, libertando as gonadotrofinas ou hormonas

gonadotróficas que, por sua vez, influenciam o funcionamento testicular. A LH (Hormona

Luteinizante) estimula as células de Leydig (células intersticiais testiculares), regulando

a produção de testosterona.

A FSH (Hormona Folículo Estimulante) estimula a produção de espermatozóides.

O stress excessivo deixa sequelas na vida sexual tanto da mulher como do homem,

devido a alterações dos factores hormonais. Todo o sistema é inibido, levando à

diminuição da concentração da GnRH, LH e da FSH, à interrupção da actividade

testicular e à diminuição da concentração da testosterona circulante, podendo interferir

também com a erecção e a ejaculação (Serra, 2007).

Moeda e Fatela, citados por Delgado (2007), referem que o stress produz alterações

hormonais e, frequentemente, são encontradas evidências científicas da influência dos

factores psicológicos no funcionamento físico.

1.2. - SAÚDE REPRODUTIVA E INFERTILIDADE

A saúde reprodutiva é considerada como um

“Estado de completo bem-estar físico, mental e social em todas as questões

relacionadas com o sistema reprodutivo, e não apenas a ausência de doença ou

enfermidade. A saúde reprodutiva implica, assim, que as pessoas são capazes

de ter uma vida sexual segura e satisfatória e que possuem a capacidade de se

reproduzir e a liberdade para decidir se, quando e com que frequência devem

fazê-lo." Conferência Internacional sobre População e Desenvolvimento,

1994, citado pela (Direcção Geral de Saúde, 2010, p.7).

No entanto, no percurso de vida de alguns casais, a capacidade de se reproduzirem e a

liberdade para decidirem quando, como e com que frequência é alterada e torna-se

necessário a intervenção de outrem.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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Segundo Speroff, et al. (1999), citados por Delgado (2007), estudos sobre padrões de

fecundidade de casais férteis que tentam engravidar indicam que 72% das mulheres

engravidam num período de seis meses, 85% ao fim de um ano e 93% consegue uma

gravidez ao fim de dois anos.

Em cada ciclo ovulatório, a probabilidade de ocorrer uma gravidez é de apenas 30%,

quando estão assegurados todos os pressupostos que viabilizam o processo

reprodutivo.

Nakano (s.d), professor na universidade de Brasília, num estudo que realizou, concluiu

que a maioria dos casais apresenta baixa probabilidade de obter uma gravidez, sendo a

probabilidade média dos casais férteis de 31,74%, e que o risco de concepção entre os

casais diminui ao longo do tempo.

No contexto da população portuguesa, a taxa de concepção mensal nos casais férteis é

de aproximadamente de 20%. Relações sexuais regulares durante um ano e sem uso

de contracepção, a gravidez surge em cerca de 84% dos casais; em metade dos

restantes, essa situação verificar-se-á no segundo ano (Direcção Geral de Saúde,

2010).

Na nosssa prática, muitas vezes, passadas as etapas complexas de todo o processo de

tratamento, sem resultados imediatos, presenciamos um nascimento de um novo ser,

praticamente inesperado, mas que cumpre um destino biológico, assegurado pelo

processo reprodutivo natural.

A infertilidade é considerada uma doença que, segundo Serafini (s.d.) afecta, em idade

fértil, um em cada dez casais. Nos Estados Unidos, a infertilidade atinge mais de seis

milhões de pessoas, homens e mulheres igualmente. No Brasil, estima-se que

aproximadamente dois milhões de casais venham a apresentar dificuldade ao longo da

sua vida reprodutiva. Os sintomas são silenciosos e o diagnóstico é moroso.

Em Portugal, segundo Carvalho e Santos (2009, p.57),

“a prevalência da infertilidade ao longo da vida situa-se entre os 9 e 10% e não

se verificam diferenças regionais de prevalência. Estima-se que 266.088 e

292.996 mulheres (casais) tenham infertilidade ao longo da vida e que 116.630

e 121.059 se encontrem em idade reprodutiva”.

Apesar de não existirem diferenças na prevalência regional da infertilidade, existe um

maior número de mulheres (casais) inférteis no Norte e em Lisboa e Vale do Tejo,

consequência das diferenças de densidade populacional entre as regiões.

A prevalência da infertilidade é bastante difícil de avaliar, no entanto, existem estudos,

segundo Hjelmstedt et al (s.d), que referem que uma em cada quatro mulheres podem

ter dificuldade em engravidar no percurso da sua vida.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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Em idade reprodutiva, 10 a 15% dos casais enquadram-se na definição de infertilidade e

pode ter variações geográficas. A prevalência varia entre 3,5 e 16,7%, nos países mais

desenvolvidos, e 6,9 a 9,3%, nos menos desenvolvidos, levando a uma média estimada

de 9%. Desses casais, só cerca de 50% procuram ajuda médica (Direcção Geral de

Saúde, 2010, citando Boivin et al., 2007).

Um dos objectivos do Programa de Acção da Conferência das Nações Unidas sobre

População e Desenvolvimento é assegurar a todos os indivíduos que, em 2015, o

acesso aos serviços de saúde reprodutiva seja uma realidade. A garantia da

acessibilidade é um grande desafio a todos aqueles que estão envolvidos na prestação

de cuidados aos casais com dificuldades em procriar. Já em 2008, o Parlamento

Europeu, nesta linha de pensamento, aconselhou os seus Estados-membros a

garantirem o direito dos doentes ao acesso universal para o tratamento da infertilidade.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Comissão Internacional para a

Monitorização da Reprodução Medicamente Assistida (ICMART), em Dezembro de

2008, definiram, em reunião de consenso, a “Infertilidade como uma doença do sistema

reprodutivo traduzida na incapacidade de obter uma gravidez após 12 meses ou mais

de relações sexuais regulares e sem uso de contracepção”

Delgado (2007), citando Cedars (2005), diz que a infertilidade pode apresentar-se de

duas formas:

Incapacidade de atingir uma gravidez

Incapacidade para manter essa gravidez.

A distinção entre os termos infertilidade e esterilidade também é importante, porque

frequentemente o seu uso é indevido, sendo confundidos ou utilizados como sinónimos.

Segundo Wentz, citado por Delgado (2007, p.19), a “esterilidade refere-se aos

indivíduos que apresentam um factor absoluto que impede a concepção, mesmo com

tratamento clínico, constituindo uma situação irreversível”. Segundo a mesma autora,

infertilidade designa a incapacidade de engravidar sem o auxílio de intervenção clínica,

durante um período de tempo clinicamente limitado.

O conceito de fecundabilidade, neste contexto, também é importante, enquanto

sinónimo de taxa de concepção que ocorre numa população num determinado período.

Para a Direcção Geral de Saúde (2010, p. 5-6),

“A taxa de concepção mensal nos casais férteis é de aproximadamente 20%.

Durante o 1º ano de relações sexuais regulares e sem uso de contracepção,

a gravidez surge em cerca de 84% dos casais; em metade dos restantes,

essa situação verificar‐se‐á no 2º ano (taxa cumulativa de 92%).”

Este aumento da prevalência dos casos de infertilidade, segundo a organização atrás

referida, sugerido pelos dados disponíveis, pode estar relacionado com as

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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consequências de estilos de vida de risco, como é o caso, entre outros, da alimentação

desequilibrada e conducente à obesidade, do tabagismo, consumo de álcool, da

exposição e contacto com agentes químicos ou outros e às infecções sexualmente

transmissíveis. Também não é de ignorar o adiar da gravidez para idades mais tardias

(na mulher, a fertilidade diminui, inequivocamente, com o aumento da idade, sendo o

efeito no homem muito menos claro).

O fenómeno da infertilidade é caracterizado como uma doença dos orgãos reprodutivos

do ser humano, mas grande parte das suas causas podem ser prevenidas.

Segundo a Direcção-Geral da Saúde (2008), cerca de 30%-40% das causas estão

relacionadas com factores femininos; 30%-40% com factores masculinos e os 20%

restantes, são causas mistas. Em aproximadamente 10% dos casais não é possível

estabelecer uma causa. O casal precisa de ajuda médica após um ano de tentativas

sem conseguir engravidar. Refere também que a investigação aponta que, 15% dos

casais, após tentarem a gravidez pelos métodos naturais, irão precisar de assistência

médica especializada.

1.3- AS IMPLICAÇÕES DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA INFERTILIDADE

Uma das implicações do diagnóstico e tratamento da infertilidade são os problemas

psico-sociais.

Para Remoaldo et al. (2005), alguns anos atrás, a etiologia da infertilidade era

associada, sobretudo, ao género feminino. Presentemente, a situação é bem diferente,

o factor masculino é tão frequente como o feminino. Apesar dos progressos realizados,

continua a existir 10% de infertilidade inexplicada.

Talvez por uma questão cultural – referem as autoras – na aceitação da

responsabilidade da infertilidade pela mulher, ao longo das gerações, esta consegue

assumir mais facilmente a sua infertilidade, que o homem, para quem esta situação é

muito mais difícil de aceitar. Muitas vezes associam-na à perda de masculinidade com

interferência na sexualidade do casal.

Os sentimentos sobre a infertilidade são complexos e múltiplos. A infertilidade é

considerada como um dos factores de stress que podem afectar a auto-estima, as

relações com o cônjuge, a família, os amigos e a carreira profissional.

Neste contexto, a infertilidade é vista como uma perda. O processo de luto deve ser

trabalhado pelos casais com a ajuda de um profissional, no sentido de uma resolução

(Perry, 2008).

Ainda para o mesmo autor, as respostas psicológicas a um diagnóstico de infertilidade

podem constituir um obstáculo para a relação de reciprocidade na proximidade física e

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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sexual. Também em função da realização de muitos exames, o cumprimento de

prescrições e proibições para engravidar e de um acumular de tempo, surgem

sentimentos muitas vezes inesperados e perturbadores, que podem adicionar tensão ao

funcionamento sexual do casal.

A prescrição de relações sexuais com dia e hora marcados, ou mesmo o seu

evitamento, podem diminuir o desejo sexual, a espontaneidade e a satisfação,

chegando a ter como consequência a disfunção sexual (Cedars, citado por Delgado,

2007).

Em paralelo, também é descrito que a vivência dos problemas relacionados com a

infertilidade pode levar a uma maior intimidade emocional, tornando os elementos do

casal mais próximos, refere (Delgado, 2007). Este fenómeno pode estar relacionado

com o seu isolamento, levando-os a apoiarem-se exclusivamente um no outro.

Segundo Rodrigues e Rodrigues, citado por Delgado (2007, p.64),

“A actividade sexual do casal transforma-se muitas vezes no desejo de fazer um

filho e não de fazer amor, assistindo-se frequentemente ao total desinvestimento

por parte de um ou ambos na qualidade afectiva e sexual da relação. Face ao

exposto, torna-se imprescindível considerar a infertilidade como um problema do

casal, independentemente do factor orgânico ser masculino ou feminino,

estimulando a participação e o envolvimento de ambos, pois esta abordagem

promove o alívio do sentimento de culpa e promove a união do casal.”

A infertilidade é considerada uma doença e pode ser um acontecimento na vida de um

casal que comprometa o relacionamento entre si, com a equipa de saúde e com o

contexto social em que estão inseridos.

Nesta perspectiva, o enfermeiro pode desempenhar um papel importante, auxiliando os

casais a ultrapassar as dificuldades e necessidades desencadeadas pela infertilidade. O

acolhimento, informação, ensino/instrução e orientação são aspectos muito importantes

na vida do casal e que podem ser facilitadores ou promotores de um tratamento mais

eficaz.

A literatura descritiva apresenta a infertilidade como uma experiência devastadora.

Muitas mulheres inférteis sentem-se desvalorizadas, anormais, incompletas e

insatisfeitas. Expressam sentimentos de frustração e inadequação, perda de auto-

estima, depressão e ansiedade, podendo gerar sentimentos de incapacidade de ajuda

nos familiares do casal e na equipe de saúde. O tratamento da infertilidade implica

realizar extensos exames e tratamentos médicos de longa duração, que podem

desencadear sintomas de stress e ansiedade.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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Num estudo realizado por Delgado (2007, p.100-127), o tratamento da infertilidade

evidencia repercussões emocionais, como mais referidas e sentidas pela mulher através

das seguintes declarações:

“Os tratamentos provocam-me irritabilidade, alterações de humor, fico mais

agitada.”

“A maneira de ser altera-se, fica mais nervosa, mais irritada, ferve por qualquer

coisa.”

“Dias antes de ir à consulta nota-se aquela ânsia”.

“No momento que eu ‘tou fazendo os exames (...) fico mais irritada, mais

nervosa.”

“Na véspera já não durmo, fico a dizer, não vou aguentar.”

“O tratamento hormonal mexe com a parte psicológica, ia ficar toda alterada,

mais irritada.”

Salienta-se que uma das repercussões emocionais dos procedimentos nos homens diz

respeito ao incómodo decorrente da colheita para a realização do espermograma, como

foi referido na declaração de um entrevistado:

“É muito constrangedor fazer o espermograma.”

As repercussões físicas também são referidas, parecendo ser menos valorizadas que as

repercussões emocionais:

“Eu tenho a barriga parece um passador, toda cheia de marcas de agulhas,

porque são doses atrás de doses”.

“Ela fez o tratamento e engordou, engordou demais.”

“Alguns exames foram muito difíceis, muito dolorosos.”

A ausência de resultados dos tratamentos é também apontada como uma insatisfação

decorrente dos procedimentos:

“Há momentos em que eu penso que não ando cá a fazer nada.”

“A mim custa-me mais fazer os tratamentos, as ecografias e ver que nada

alterou, que ficou tudo igual, entro mais em desespero.”

“Frustrada, cada vez que fazia uma ecografia..., não havia evolução.”

Uma outra implicação psico-social é a incapacidade de obter uma gravidez sem a

intervenção de outrem como se verifica num testemunho relatado num estudo realizado

por Madureira e Pousa (2010, p. 74 ).

“Nunca pensei que viesse a ter dificuldades em manter uma gravidez! Como

sabe, há dois anos engravidei, mas não durou mais que 8 semanas. Desde então

tentamos, tentamos, tentamos e nada, até que a nossa médica, achou que tinha

que me submeter a um tratamento… Custa-me ser picada a dias e horas certos,

mês após mês e não ter resultados… Já faz um ano… está cansado de não

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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decidir quando podemos ter relações! Tudo tende a ser orientado por outros… se

não fosse pelo bebé, não sei…”

Segundo o autor atrás referido, a auto-estima, a auto-imagem, situações de conflito na

tomada de decisão no respeitante a tratamentos ou alternativas disponíveis, a dor como

consequência de exames ou cirurgia, o desânimo face a incertezas em relação ao

prognóstico, alteração nos padrões de sexualidade com perda da libido são sentimentos

e emoções muito fortes face ao problema da infertilidade.

Para Nelson (2010), o stress proveniente da infertilidade tem um impacto substancial na

percepção das mulheres sobre si mesmas, na diminuição da auto-estima sexual, menor

qualidade de vida no geral, redução de controlo interno e aumento de conflitos

interpessoais.

Ainda segundo o mesmo autor, o stress associado à infertilidade pode incorporar

reacções a pressões sociais ou a situações problemáticas, dificuldades associadas com

a identidade sexual e desempenho, problemas de relacionamento e a necessidade de

paternidade e o forte desejo de ter filhos.

Num estudo realizado por Stewart e Robinson, citado por Martins (2004), concluiu-se

que, em mais de 50% das mulheres, a experiência de infertilidade é a mais

transtornante das suas vidas e um fracasso no seu papel de mulheres, apresentando

em simultâneo níveis elevados de ansiedade e depressão. Para os homens, que não

são o principal alvo da atenção médica, nem estão sujeitos à mesma pressão social da

mulher – embora se diga, que ter um filho é o testemunho da sua virilidade e do seu

bom desempenho sexual – a infertilidade pode ser um sentimento desconcertante, mas

não é uma tragédia.

Autores como Mennig (1980), Lalos (1989), Boivin (1995) e Pinto (1998), referenciados

por Delgado (2007), admitem que a infertilidade conjugal desencadeia uma reacção

semelhante à provocada por outras crises traumáticas, tal como a morte de um ente

querido. Nesta reacção podem identificar-se quatro fases principais:

A fase inicial - de surpresa, choque e negação.

A fase reactiva - de frustração, raiva, ansiedade, culpa, sofrimento, depressão e

isolamento.

A fase adaptativa - de aceitação.

A fase de resolução - de planeamento e soluções futuras.

Contudo, na infertilidade, a fase reactiva mostra-se mais prolongada, comparativamente

com outras situações de crise.

O sentimento de culpa poderá também ser outra das implicações, pois o desejo de

paternidade dos cônjuges não pode ser realizado; ou seja, não possibilitam ao outro a

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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hipótese de constituir uma família com filhos, tendo muitas vezes como solução o

divórcio.

Paralelamente, é também referido por Delgado (2007), que a vivência dos problemas

causados pela infertilidade pode levar a uma maior intimidade emocional, tornando os

cônjuges mais próximos. Esta evidência pode estar relacionada com o seu isolamento,

levando-os a apoiarem-se exclusivamente um no outro.

Segundo Souza (2005), o diagnóstico de infertilidade é vivenciado como crise

existencial: ansiedade elevada, stress, depressão, dificuldades sexuais e interferência

no relacionamento conjugal. A autora observou também que a infertilidade carrega

estigma social e cultural, ocupando assim um lugar diferenciado, interferindo nas

relações entre homens e mulheres e de cada pessoa consigo mesma.

No contexto geral, a infertilidade provoca sentimentos que interferem na auto-estima,

nos planos e desejos dos casais para o futuro.

Numa revisão sistemática da literatura realizada por Palácios e Jadresic (2000), citados

por Souza (2005), concluiram que os problemas reprodutivos interferem na vida

psíquica, familiar, social e são influenciados por questões culturais. Os aspectos psico-

sociais da infertilidade devem ser consideradas como uma crise vital, que conduz a um

grande impacto sobre as vivências individuais e conjugais, reflectindo-se na vida

económica.

O stresse pode ter como consequência o aumento dos conflitos conjugais (World Health

Organization, 2002, referido por Delgado, 2007), podendo ocorrer a deteriorização da

relação conjugal, durante o progresso da intervenção terapêutica.

Moreira (2004) evidencia que é importante, para os casais inférteis, participarem num

grupo terapêutico, porque utilizam a mesma linguagem e partilham as mesmas

vivências; isto poder-lhes-á proporcionar uma melhor adaptação ao tratamento da

infertilidade, possibilitando aceitar e assumir o seu problema de forma mais suave e

tolerante e proporcionando um estímulo das capacidades positivas, minimizando

sentimentos de isolamento e estigma social. A infertilidade não deve ser tratada como

uma doença meramente orgânica, mas sim de natureza biológica, psicológica e social.

“Perante a infertilidade, torna-se necessário ter presente a componente biológica, tanto

ginecológica como andrológica, mas também a componente psicológica / emocional e a

sua inter-dependência” (Delgado, 2007, p.49).

“Diminuir os níveis de stress pode melhorar o relacionamento do casal, levar a um

aumento da libido e da frequência das relações sexuais” (Direcção Geral de Saúde,

2010).

Até 20% os casais que passam por tratamento de fertilidade não apresentam patologias

físicas causadoras de infertilidade, e os médicos acham que a principal razão para não

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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engravidar é o stress. São estes que aconselham a acunpuntura e outras formas de

relaxamento e acompanhamento (Martins, 2004).

No entanto, novos horizontes de esperança aparecem: O progresso significativo no

tratamento da infertilidade nas duas últimas décadas, devido à introdução das técnicas

de Procriação Medicamente Assistida, tornando possível para muitos casais a solução

da infertilidade, que era praticamente impossível há anos atrás (Remoaldo, Machado, &

Reis, 2005).

Para a maioria dos seres humanos, o desejo de procriar representa uma parte muito

significativa do seu projecto de vida. Por esse motivo, todo o desenvolvimento desse

processo é merecedor da nossa atenção enquanto enfermeiros. A maternidade e o

nascimento de um bebé são, sem sombra de dúvida, um acontecimento único na vida

de uma mulher/casal /família.

É importante também que o enfermeiro tenha competências para actuar de acordo com

a capacidade e o nível de compreensão do casal, através da identificação dos défices

de conhecimento e clarificação das informações. Durante o período dos testes de

diagnóstico, o enfermeiro deverá adoptar uma postura calma, transmitindo apoio e

confiança ao casal e fornecendo informação clara e concisa acerca de todos os

procedimentos futuros.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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2– REDE DE REFERENCIAÇÃO DE CUIDADOS EM INFERTILIDADE

A Direcção-Geral da Saúde (2008), numa perspectiva de atingir os objectivos principais

do Programa de Acção da Conferência das Nações Unidas sobre População e

Desenvolvimento – “garantir a todos os indivíduos, em 2015, o acesso a serviços de

saúde reprodutiva de qualidade” – tornou imperativo garantir, com equidade, respostas

adequadas e de qualidade no diagnóstico e tratamento das situações de infertilidade.

Para isso, foi necessário adaptar estruturas físicas, equipamentos e organização de

recursos.

A acessibilidade tem sido um grande desafio por parte do governo e de todos aqueles

que estão envolvidos na prestação de cuidados em infertilidade e procriação

medicamente assistida.

No contexto de prestação de cuidados integrados em saúde reprodutiva, insere-se a

abordagem clínica e orientação, no âmbito da medicina geral e familiar dos casais que

têm dificuldade em obter uma gravidez com sucesso e sem intervenção.

A Rede de Referenciação de Cuidados em Infertilidade/Procriação Medicamente

Assistida (PMA) foi aprovada pelo Despacho n.º 24855/2008 de 26 de Setembro e

actualizada em Outubro de 2010, tendo em vista a sua adequação à reorganização dos

Cuidados de Saúde Primários em Agrupamentos de Centros de Saúde e Unidades

Locais de Saúde. Com vista a melhorar a acessibilidade e, consequentemente, as

respostas aos pedidos, assim como uniformizar os protocolos de actuação e redução de

listas de espera, foram definidas as formas de articulação entre os serviços prestadores

de cuidados e as regras de encaminhamento interinstitucional dos casais que sofrem de

infertilidade.

Consideram-se assim três níveis de cuidados:

“Cuidados de saúde primários – prestados no âmbito da medicina familiar,

informação/esclarecimento no sentido de corrigir factores que possam interferir com o processo

de fecundidade; avaliação clínica básica do casal, nomeadamente na preconcepção.

Cuidados hospitalares de 1.ª linha – fornecidos no contexto da consulta de

infertilidade/medicina da reprodução, tendo em vista o diagnóstico do/s factore/s em causa, bem

como os eventuais tratamentos médicos e cirúrgicos, que podem contemplar a inseminação

artificial nos hospitais apetrechados e autorizados para o efeito.

Cuidados hospitalares de 2.ª linha – disponibilizados pelos centros de PMA que realizem

FIV (fertilização in vitro) e ICSI (microinjecção intracitoplasmática)

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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O acesso dos casais a estes serviços será monitorizado através de um sistema informático

(FERTIS) que se previa operacional em 2011” (Direcção Geral de Saúde, 2010).

Uma boa articulação entre a equipa de medicina familiar e a que presta cuidados

diferenciados é de grande importância, podendo ter grande eficácia e eficiência nos

tratamentos e satisfação do casal.

As Administrações Regionais de Saúde deverão promover relações de

complementaridade entre as instituições, sempre que não dispuserem das condições

indispensáveis para dar resposta às necessidades da população da sua área de

influência.

Segundo a Direcção Geral de Saúde (2010), reforça-se a necessidade de assegurar a

realização de consultas, com a finalidade de prestar cuidados pré-concepcionais, a fim

de facilitar a diminuição do tempo na definição do diagnóstico e, por sua vez, o acesso

aos tratamentos e orientações apropriadas à situação clínica.

Pretende-se integrar os cuidados pré-concepcionais numa filosofia em que haja uma

continuidade de cuidados em saúde reprodutiva, de preferência desde a adolescência

até à data de tomada de decisão da primeira gravidez. Neste processo, é importante

actualizar e sistematizar os dados colhidos na avaliação do risco reprodutivo.

O tratamento de doenças crónicas e os cuidados médicos têm tido grande evolução,

permitindo a muitas mulheres, desaconselhadas de fazer contracepção e até de

engravidar, poderem agora ter filhos.

A avaliação pré-concepcional, o planeamento da gravidez e os cuidados aos casais com

diagnóstico de infertilidade são fundamentais para a concepção, o sucesso da gestação,

para a saúde materna e o bem-estar parental.

2.1- INTERVENÇÃO DE ENFERMAGEM NO PROCESSO DE TRANSIÇÃO PARA A

FERTILIDADE.

O exercício profissional de enfermagem focaliza-se na relação interpessoal do

enfermeiro com uma pessoa (cliente) ou com a família e a comunidade, que possuem

quadros de valores, crenças e desejos de natureza individual, os quais se desenvolvem

em função do meio ambiente que os envolve. Neste enquadramento, compete aos

enfermeiros assegurar os cuidados de enfermagem ao longo do ciclo vital da família,

durante a vivência dos processos de vida e na resposta humana aos problemas que daí

possam surgir. Fazem-no exercendo um papel de ligação entre o cliente e a equipa de

saúde, ajudando a gerir os recursos pessoais e da comunidade e dotando-o de

competências para lidar com os desafios de saúde (Ordem dos Enfermeiros, 2001).

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

41

A satisfação do cliente é um padrão de qualidade dos cuidados de enfermagem.

Neste enquadramento e no contexto em que prestamos cuidados de enfermagem, são

elementos importantes:

O respeito pelas capacidades, crenças, valores e desejos da natureza individual

do cliente.

O respeito pelas expectativas relacionadas com o projecto de

maternidade/paternidade.

O estabelecimento de uma relação terapêutica com o cliente e o empenho do

enfermeiro para capacitar a tomada de decisão e acção

O empenho do enfermeiro em criar condições ambientais favoráveis e

acolhedoras ao longo do processo de assistência de saúde.

Na promoção da saúde são importantes:

A avaliação e o diagnóstico das necessidades em cuidados do cliente (casal).

A identificação dos recursos disponíveis, criação e aproveitamento de

oportunidades para promover estilos de vida saudáveis, saúde ginecológica,

sexual e reprodutiva.

Na prevenção de complicações:

O rigor técnico/científico na implementação de intervenções de enfermagem

Referenciação das situações problemáticas identificadas para outros

profissionais envolvidos no processo de cuidados de saúde.

Na organização dos cuidados são elementos importantes:

Um quadro de referência para o exercício profissional.

A existêcia de um sistema de melhoria contínua da qualidade do exercício

profissional dos enfermeiros, assim como um sistema de registos de

cuidados de enfermagem que incorpor as necessidades dos clientes, as

intervenções de enfermagem e os resultados obtidos pelos clientes fruto da

intervenção de enfermagem.

Satisfação dos enfermeiros e dotações que façam face à necessidade dos

cuidados de enfermagem.

Política de formação contínua.

Utilização de metodologias de organização dos cuidados de enfermagem

promotoras da qualidade (Ordem dos Enfermeiros , 2011).

2.1.1-Consulta de enfermagem aos casais com problema de fertilidade

A evidência mostra-nos que a infertilidade é uma questão urgente nos cuidados de

saúde. Cerca de 10 a 15% dos casais em idade reprodutiva enquadram-se na definição

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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de infertilidade, e a taxa de concepção mensal, nos casais férteis, é de 20%. (Direcção

Geral de Saúde, 2010). Num estudo de caracterização da infertilidade, estima-se que

9,8% das mulheres tiveram um problema de infertilidade ao longo da vida (Carvalho &

Santos, 2009).

Os cuidados de enfermagem aos casais inférteis devem ser direccionados no sentido de

desenvolver competências de adaptabilidade, no decurso de todo o processo de

cuidados e no período de transição para a fertilidade. É importante perceber e ter

conhecimento que a infertilidade pode levar a uma crise de vida, pois o processo de

nascimento é visto como básico para a sobrevivência do ser humano. Se a gravidez não

acontecer, pode levar a sentimentos de culpa, isolamento, stress e depressão (Barros,

2000).

Nesta consulta, é feita a avaliação inicial ao casal, uma vez que ambos são parte

fundamental do processo de diagnóstico e terapêutica. É relevante:

Identificar histórico pessoal e familiar com detalhes dos antecedentes sexuais e

reprodutivos do casal.

Fazer exame físico, avaliação de sinais vitais e índice de massa corporal.

Identificar sentimentos do casal em relação à infertilidade, expectativas pessoais

e familiares, factores culturais envolvidos.

Transmitir informação adequada e de fácil compreensão baseada na evidência;

sempre que possível, complementada com documentação escrita ou até

audiovisual.

Adequar estratégias para ajudar os casais a lidar com os processos de

tratamento.

Dar apoio emocional, ajudá-los a aliviar o stress e a aceitar a situação e assistir

na sua tomada de decisão.

Fazer aconselhamento e recomendações sobre estilos de vida favorecedores da

fertilidade tais como:

o Evitar o consumo excessivo de álcool e café e, principalmente, tabaco e

drogas, que podem dificultar as hipóteses de ocorrência de gravidez.

o Fazer uma alimentação equilibrada para manter ou atingir um índice de

massa corporal adequado (IMC> 19 e <29), aumentando assim as

probabilidades de uma gravidez evolutiva (Direcção Geral de Saúde,

2010).

o Diminuir os níveis de stress, podendo, assim, melhorar o relacionamento

do casal, levar a um aumento da libido e da frequência das relações

sexuais.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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o Ter relações sexuais com intervalos não superiores a 48 horas durante a

semana fértil do ciclo, porque aumenta as hipóteses de uma gravidez.

o Ensinar a fazer a auto-observação das características do muco cervical e

das posições mais adequadas à penetração do esperma no colo uterino.

Não usar lubrificantes artificiais, pois interferem com a mobilidade dos

espermatozóides.

o Não tomar banho antes ou depois da relação sexual, para que não haja

alteração do PH vaginal.

o Informar e identificar alguns medicamentos que interferem com a

fertilidade.

o Informar que a temperatura escrotal elevada, a utilização de roupa muito

apertada, de computadores portáteis no colo, a prática excessiva de

bicicleta e desportos, trabalho físico intenso ou por turnos e stress podem

ser factores inibidores de uma gravidez.

o Incentivar o casal a discutir abertamente a sua relação e a acertar todos

os conflitos provocados ou não pela infertilidade.

o Proporcionar conhecimento informado e esclarecido, de modo que os

casais tenham um entendimento correcto daquilo que eles esperam.

Colaboração com a equipe multidisciplinar.

Aconselhar a participação em grupos de casais com o mesmo problema.

Instruir sobre a administração de medicação e plano terapêutico a executar no

domicílio.

O acolhimento, a forma de se relacionar com os utentes ao utilizar o conhecimento

científico e o respeito pelos valores ético-deontológicos são elementos imprescindíveis

na melhoria contínua da qualidade dos cuidados. Sendo o stress uma evidência que se

associa à vivência da infertilidade, é pertinente explorar e descrever a sua realidade

numa determinada amostra, para contributo na melhoria dos cuidados de saúde.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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PARTE DOIS: ESTUDO EMPÍRICO

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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CAPITULO II – METODOLOGIA DA INVESTIGAÇÃO

Para a realização deste estudo e de acordo com os objectivos definidos, foi utilizada a

metodologia quantitativa que, como refere Richardson (1989), se carateriza pelo

emprego da quantificação, quer na colheita de informação quer no tratamento desta,

através de técnicas estatísticas. O método quantitativo representa, em príncipio, a

intenção de garantir a precisão dos resultados, evitar distorções de análise e

interpretação, possibilitando, consequentemente, uma margem de segurança quanto às

inferências.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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1-TIPO DE ESTUDO

Trata-se de um estudo exploratório, descritivo e correlacional do tipo quantitativo.

Exploratório, porque, como refere Gil (1994, p. 44), “tem como principal finalidade

desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, com vista à formulação de

problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores”.

Justifica-se, sobretudo, pela escassez de pesquisas que incidem sobre o fenómeno do

stress associado aos problemas da fertilidade. Este tipo de pesquisas é “realizado

especialmente quando o tema escolhido é pouco explorado e torna-se difícil sobre ele

formular hipóteses precisas e operacionalizáveis” (Gil, 1994, p. 45).

Descritivo, na medida em que este permite “descrever simplesmente um fenómeno ou

um conceito relativo a uma população, de maneira a estabelecer as características

desta população ou de uma amostra desta” (Fortin, 2003, p.162). Com este tipo de

estudo, pretende-se descrever um fenómeno delimitado e circunscrito e, tal como refere

Carmo e Ferreira (1998, p.213), “esta área de investigação implica estudar,

compreender e explicar a situação actual do objecto de investigação”. Procura-se

também descobrir e classificar a relação entre variáveis. Segundo Richardson (1989, p.

30), “os estudos de natureza descritiva propõem-se a investigar o que é, ou seja, a

descobrir as caracteristicas de um fenómeno como tal”. No nosso estudo, é considerado

como objecto de estudo um grupo específico e pretende-se obter melhor entendimento

do comportamento de diversos factores que se relacionem com o stress associado aos

problemas de fertilidade.

Correlacional, porque determina as relacões existentes entre as variáveis. Os

coficientes de correlação variam de +1,00 (para uma relação directa perfeita), passando

por 0,00 (ausência de relação) e chegando a -1,00 (para uma relação inversa perfeita)

Quantitativo, porque utiliza uma abordagem quantitativa, onde o tratamento de dados

se faz através de técnicas estatísticas, desde as mais simples, como a percentual,

medidas de tendência central, a mais complexas, como correlação de Spearman'srho,

Mann-Whitney U e Kruskal Wallis.

Nesta linha de ideias, desenvolvemos o nosso estudo, procurando obter um

conhecimento mais concreto e objectivo do tema: Stress Associado ao Problema de

Fertilidade: Intervenção de enfermagem.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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2- QUESTÃO DE INVESTIGAÇÃO E HIPÓTESES

QUESTÃO

A questão de investigação é uma interrogação explícita relativa a um problema a

examinar e a analisar, com o fim de obter novas informações.

Neste sentido, no presente estudo, colocamos como questão de partida:

Qual o nível de stress associado ao problema de fertilidade nos homens e nas mulheres

que frequentam a consulta de esterilidade da Maternidade Bissaya Barreto e que

relação há entre esse nível de stress e as variáveis sexo, idade, tempo de infertilidade,

frequência das relações sexuais, índice de massa corporal e contacto com agentes de

risco ocupacional que interferem na fertilidade?

HIPÓTESES

A formulação e teste de hipóteses são aspectos importantes no processo de

investigação, porque capacitam o investigador a testar aspectos da realidade com o

mínimo de distorções, tornando o estudo mais objectivo e determinando a adequação

das teorias como fundamentos explicativos. Sendo as hipóteses uma previsão

experimental ou uma explicação da relação entre duas ou mais variáveis, ou por outras

palavras, traduzindo as hipóteses o enunciado do problema para uma previsão precisa e

clara dos resultados esperados (Poli & P. Hungler, 1995), estas são uma resposta ao

problema a investigar, que será corroborada ou rejeitada depois de devidamente

testada.

Nesta perspectiva, formulamos hipóteses no sentido dos objectivos do estudo.

O stress é efectivamente um dos factores que age contra a fertilidade, provocando

desgaste, ansiedade e, muitas vezes, problemas de relacionamento entre o casal.

O casal é afectado pelo stress. Alguns desses efeitos são a diminuição da libido, da

frequência da actividade sexual e da produção de espermatozóides.

Num estudo realizado por Seger (2000) e referido por Souza (2005), foram encontrados

níveis similares de stress em homens e mulheres. Observou também que a não-

verbalização livre de emoções eleva os níveis do stress, sendo as mulheres as mais

afectadas.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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Jacky e Lone (2010), num recente trabalho publicado na revista Fertility and Sterility,

concluiram que o stress pode ter um impacto negativo no sucesso de tratamento da

infertilidade. A correlação entre o stress masculino e as falhas de tratamentos da

infertilidade foi menor que a do stress feminino.

Um estudo realizado por Newton (1999), citado por Domínguez (2010), numa amostra

de 1153 mulheres e 1149 ho (Ramos, et al., 2008)mens, com o objectivo de desenvolver

um instrumento de avaliação do “stress percebido associado com a infertilidade”,

confirmou resultados de outros estudos, em que a experiência da infertilidade produz

maior stress emocional nas mulheres do que nos homens.

Neste contexto e para esclarecimento da nossa questão, formulamos a seguinte

hipótese:

H1- O nível de stress associado ao problema de fertilidade apresentado pelas mulheres

é superior aos dos homens.

A idade avançada é um factor de risco, pela dimuição da qualidade dos ovócitos e

redução da quantidade de folículos (Ramos, et al., 2008). Num estudo realizado por

estes autores, a idade avançada foi considerada um factor de risco com significação

estatística de p <0,001.

A probabilidade de obter uma gravidez diminui 3 a 5 % ao ano, após a terceira década

de vida, e essa percentagem aumenta a partir da quarta década.

Esses factos são explicados pela presença de uma quantidade geneticamente limitada

de células germinativas no ovário e a deterioração da sua qualidade, assim como o

aumento da incidência de erros meióticos e aneuploidias dos gametas e embriões. Esse

processo tem continuidade ao longo da vida, culminando com a menopausa, que

representa o marco do fim da vida reprodutiva da mulher. O período de vida reprodutiva

no homem é menos claramente definido quando comparado à mulher (Erthal, s.d.).

Um dos factores importantes na infertilidade é a idade, porque está associado à

condição biológica do ovário, diminuindo o conjunto das células germinativas e

aumentando os riscos de anomalias genéticas. No homem, a idade também tem

alguma importância, porque comporta o risco de menor qualidade espermática, maior

número de anomalias cromossómicas e eventuais disfunções da actividade sexual. A

queda das taxas de gestação espontânea, na mulher, inicia lentamente por volta dos 30

anos, acelera-se após os 35, chegando a praticamente a zero aos 45 anos (Martins,

2004).

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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H2- O nível de stress associado ao problema de fertilidade está correlacionado com a

idade dos homens e das mulheres.

Para Nelson (2010), o stress associado à infertilidade pode incorporar reacções a

pressões sociais ou a situações problemáticas, dificuldades associadas à identidade

sexual e desempenho, problemas de relacionamento e a necessidade de paternidade e

o forte desejo de ter filhos.

A infertilidade, associado a um período de tempo, carrega também estigma social,

cultural, ocupando assim um lugar diferenciado, interferindo nas relações entre homens

e mulheres e de cada pessoa consigo mesma (Souza, 2005).

Num estudo realizado por Delgado (2007), o tempo de duração da situação de

infertilidade oscila entre os 18 meses e os 9 anos, sendo a média de 3 anos e 8 meses.

H3- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, está correlacionado com o

tempo de infertilidade dos homens e das mulheres.

Segundo o site informativo do Instituto Paulista de Ginecologia, os casais que desejam

engravidar devem ter relações pelo menos a cada 48 horas no período da ovulação.

“Um estudo demonstrou que casais que têm menos de uma relação sexual por semana

tem taxa de gravidez de 16,7% em seis meses, ao passo que os que têm cerca de

quatro relações sexuais por semana tem taxa de gestação de 83,3%”.

As relações sexuais deverão ocorrer durante o período fértil, com intervalos não

superiores a 48 h (Direcção Geral de Saúde, 2010).

No entanto, há que ter em atenção o aconselhamento de relações sexuais no período

ovulatório ou o número frequente das relações, porque o casal perde a sua privacidade

a partir do momento em que profissionais de saúde determinam quando e como o casal

se irá relacionar sexualmente, afastando-se assim a naturalidade da intimidade sexual.

Situações como estas são ameaçadoras e problemáticas e requerem tomadas de

posições e decisões que exigem do casal capacidades adaptativas (Souza, 2005).

H4- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante a

frequência das relações sexuais, tanto nos homens como nas mulheres.

Na fertilidade, o impacto do excesso ou do défice de massa corporal (IMC> 27 kg/m2 ou

<17 kg/m2) está associado à infertilidade anovulatória; isto, provavelmente, devido a

alterações da secreção da hormona hipotalâmica (libertadora de gonadotrofinas),

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

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alterações nas secreções do FSH e LH hipofisários, levando à anovulação, que pode

estar associada à síndrome dos ovários poliquísticos. Em mulheres obesas, a fertilidade

encontra-se reduzida em 50%. Uma perda de peso entre 10 a 15 kg aumenta

consideravelmente as probabilidades de gravidez (Erthal, s.d.).

Mudanças nos estilos de vida, passando por uma alimentação adequada e exercício

físico, são fundamentais. A redução do peso corporal contribui para a regularização dos

ciclos menstruais e deve ser considerada a primeira medida em mulheres obesas e

inférteis (Izzo, 2008).

As mulheres obesas têm três vezes mais probabilidade de sofrer de infertilidade,

comparativamente a mulheres com um índice de massa corporal normal.

Também o baixo peso pode causar uma disfunção nos ovários e, consequentemente,

infertilidade. Numa mulher com o peso ideal (IMC de 20-25), uma perda moderada de

peso de 10 a 15% pode causar irregularidade menstrual.

Em relação aos homens, o excesso de peso reduz o nível de testosterona e aumenta o

nível de estradiol, comprometendo a produção de esperma e um índice maior de

fragmentação do DNA do espermatozóide, originando falhas na fertilização. O homens

obesos apresentam níveis mais baixos de glucosidade, o qual tem um importante papel

no amadurecimento e na mobilidade dos espermatozóides (Pereira, et al., 2010).

Num estudo realizado por Sallmen (s.d), os dados sugerem que 10 kg de excesso de

peso no homem aumenta a probabilidade de infertilidade em 10%.

Manter um índice de massa corporal >19 e <a 29 aumenta a probabilidade de uma

gravidez evolutiva (Direcção Geral de Saúde, 2010).

Também, num estudo realizado por Ramos, et al. (2008), o índice de massa corporal foi

considerado um factor de risco com significação estatística de p <0,001.

A obesidade (IMC> 29) tanto no homem como na mulher, assim como o baixo peso

(IMC <19) em mulheres, estão relacionados com diminuição da fertilidade. O IMC

recomendado situa-se entre 19 e 29 Kg/m2 (Direcção Geral de Saúde, 2010).

H5- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante o

índice de massa corporal, tanto nos homens como nas mulheres.

O cigarro é considerado uma toxina para o aparelho reprodutivo.

Na mulher, diminui a reserva do ovário, a taxa de implantação do óvulo, a produção de

estrogénios e desenvolvimento folicular.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

51

No homem, reduz a espermatogénese, provoca alterações morfológicas e de mobilidade

nos espermatozóides e leva ao stress oxidativo, reduzindo o potencial de fertilização

(Erthal, s.d.).

Segundo José (1994), citado por Martins (2004), o tabaco é responsável por

oligospermia e teratospermia.

Num estudo realizado por Coelho, et al. (2009), concluiu-se que ao consumo tabágico

se associou a maior incidência de oligo/azoospermia (p = 0,04).

Na análise comparativa entre grandes fumadores e fumadores ligeiros, verificou-se que

no grupo dos grandes fumadores ocorreram alterações do volume do esperma em 22%

(n = 12) e nos fumadores ligeiros em 10% (n = 8). Esta diferença mostrou-se

estatisticamente significativa (p =0.03).

Relativamente à concentração e mobilidade não foram encontradas diferenças entre os

dois grupos.

A Direcção-Geral da Saúde (2008) afirma que existe associação entre o consumo de

tabaco e a redução da quantidade e da qualidade dos espermatozoides e dos ovócitos.

H6a- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante

consome ou não tabaco, tanto nos homens como nas mulheres.

O consumo de álcool pelas mulheres está associado a um aumento de infertilidade

(Erthal, s.d.) O consumo de mais de 100 gramas de álcool por semana (1 bebida por

dia) está associado a problemas de ovulação. O uso de cinco doses diárias de álcool

(50 gr) reduz em 40% a probabilidade de gravidez. Na mulher, provoca irregularidade no

ciclo menstrual, aumenta o risco de aborto espontâneo e diminui o número de ovócitos.

No homem, diminui a quantidade de espermatozoides, a capacidade ejaculatória e, por

vezes, impotência sexual e diminuição dos níveis de testosterona sérica (Pınar Aslan

Koşar, 2010).

O álcool leva à redução de testosterona, à produção de esperma com anomalias, tendo

como efeito colateral a disfunção eréctil (Martins, 2004).

O álcool diminui a fertilidade, sendo estabelecidos máximos de ingestão: Unidades de

álcool por semana: ≤ 1-2 na mulher e ≤ 3-4 no homem, sendo que uma unidade de

álcool corresponde a 10 gr de álcool, o equivalente ao conteúdo de qualquer bebida

servida nos copos habitualmente utilizados (cerveja = copo, brandy = cálice, etc)

(Direcção-Geral da Saúde, 2008 ).

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

52

H6b- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior quando há

consumo de álcool, tanto nos homens como nas mulheres.

É aconselhado, pela Direcção Geral de Saúde (2010), como estilo de vida saudável,

evitar drogas, porque podem dificultar as hipóteses de ocorrência de gravidez.

Fármacos de prescrição corrente em determinadas patologias, segundo Martins (2004),

contribuem para a diminuição da fertilidade.

Os medicamentos mais comuns, que contribuem para a diminuição da fertilidade na

mulher, são antidepressivos e anti-inflamatórios não esteróides, que podem associar-se

a anovulação; imunossupressores, que interferem na capacidade de concepção;

citotóxicos, que podem induzir falência ovárica.

No homem, os esteróides anabolizantes diminuem a qualidade do esperma e a

exposição a quimio ou radioterapia pode interferir na capacidade reprodutiva (Direcção-

Geral da Saúde, 2008).

H6c- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante

tomam ou não medicamentos, tanto nos homens como nas mulheres.

Apesar do exercício físico estar associado a grandes benefícios para a saúde dos

indivíduos – redução do risco das doenças cardiovasculares, diabetes, obesidade,

cancro, entre outras – a relação entre actividade física e a infertilidade ainda não está

bem documentada (Colégio Americano de Medicina Desportiva). Esta institição

recomenda, também, a realização de 30 ou mais minutos de exercício físico moderado,

cinco dias /semana, ou no mínimo, 20 minutos de exercício vigoroso, três

vezes/semana.

Num trabalho recentemente publicado, onde foram avaliados 2261 homens, os

resultados mostraram não haver associação entre exercício físico regular e alterações

no sémen, excepto para o grupo que pratica ciclismo cinco ou mais horas por semana.

H6d- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante

pratica ou não actividade física, tanto nos homens como nas mulheres.

Casos de infertilidade masculina, segundo Delgado (2007), podem relacionar-se com a

profissão. A formação de espermatozoides ocorre a temperaturas abaixo da

temperatura corporal, logo é necessário que se evite usar roupas apertadas, ficar

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

53

sentado muito tempo, usar computadores no colo ou trabalhar perto de fontes de muito

calor, porque estes factores provocam o aquecimento dos testículos.

Segundo Parente (2010), diversos factores ambientais e ocupacionais têm uma acção

tóxica directa sobre as gônadas e sobre o eixo hipotálamo-hipofisário. São exemplos

disso, pesticidas: dibromocloropropano, ácido diclorofenoxiacético; metais pesados:

chumbo, cádmio, mercúrio, cromo e alumínio; solventes: éteres de etinilenoglicol,

estireno, percloroetileno, dissulfeto de carbono e tolueno; agentes químicos.

O calor excessivo pode levar a degeneração do epitélio seminífero. A exposição crónica

à radiação leva ao aumento do FSH e LH com prejuízo para as células germinativas.

Para o homem, doses de radioterapia acima de 150 cGY (1 cGY corresponde a 100

radiações) podem levar à destruição definitiva das espematogónias; para as mulheres,

doses acima de 20 cGY podem levar a falência ovárica e agentes quimioterápicos.

Segundo a Direcção-Geral da Saúde (2008), a infertilidade pode estar associada à

exposição profissional de alguns agentes:

NA MULHER:

Solventes usados na indústria de tintas ou madeiras.

Agentes químicos como mercúrio, cádmio ou agentes anti-neoplásicos

(farmacêuticas e enfermeiras)

NO HOMEM:

Calor – o aumento da temperatura na região do escroto (trabalhadores em

fornos, cozinheiros, motoristas); radiações (radioterapeutas); pesticidas (trabalhadores

agrícolas), solventes ou outros agentes químicos (pintores, técnicos de laboratório).

NO CASAL:

Exercício excessivo, trabalho físico intenso ou por turnos e stress.

H7a- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior nos homens

que têm contacto com o calor.

H7b- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior nos homens

que têm contacto com radiações.

H7c- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior nos homens

que têm contacto com pesticidas.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

54

H7d- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior nas mulheres

que têm contacto com solventes.

H7e- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior quando têm

trabalho físico intenso, tanto nos homens como nas mulheres.

H7f- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior em quem

trabalha por turnos.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

55

3-VARIÁVEIS

3.1- VARIÁVEL DEPENDENTE

Acerca das variáveis dependentes, Richardson (1989, p. 75) refere que estas variáveis

são “aquelas afectadas ou explicadas pelas variáveis independentes. Isto é, variarão de

acordo com as mudanças nas variáveis independentes”.

Também Polit & Hungler (1995, p. 27) referem que a variável dependente “é o efeito

presumível causado por um determinado fenómeno”.

Neste estudo, a variável dependente é “o stress associado ao problema de fertilidade”.

Esta é a variável principal do nosso estudo, a qual está operacionalizada num conjunto

de quarenta e seis itens, agrupados em cinco dimensões e stress global, conforme

escala cedida por Ramos, et al. (2008).

Preocupação social: Sensibilidade perante comentários acerca da infertilidade,

sentimentos do isolamento social, alienação da família e amigos

Itens: *9, *12, 14, 27, 30, *35, 39, 40, 43, *44 (10 itens)

Preocupação sexual: Diminuição da satisfação com a sexualidade, dificuldade em lidar

com a programação das relações sexuais

Itens: 3, *4, *7, 13, 17, 22, 32, 37 (8 itens)

Preocupação com a relação: dificuldade em falar sobre o problema de fertilidade e

compreender/aceitar as diferenças; preocupação com o impacto da infertilidade na

relação conjugal.

Itens: 11, 16, *18, 21, 24, 26, *33, 36, 45, *46 (10 itens)

Necessidade da parentalidade: identificação com o papel parental; parentalidade

percebida como um objectivo essencial à vida.

Itens: 2, 5, 6, 8, 10, 19, *23, 29, 34, 42 (10 itens)

Rejeição de estilo de vida sem filhos: perspectiva negativa de um estilo de vida ou

estatuto sem filhos; a satisfação e felicidades futuras dependem do nascimento de um

filho (ou de outro filho)

Itens: *1, *15, *20, *25, *28, *31, *38, *41 (8 itens)

Stress Global: Stress associado ao problema de fertilidade (todas as escalas/ todos os

46 itens).

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

56

3.2- VARIÁVEIS INDEPENDENTES

Variável independente é “a causa presumível de qualquer fenómeno” (Poli & P.Hungler,

1995, p.27).

No nosso estudo selecionamos como variáveis independentes:

Idade

Tempo de infertilidade

Frequência das relações sexuais

Índice de massa corporal

Estilo de vida

No exercício do seu trabalho tem contacto com agentes de risco ocupacional

(calor, radiações pesticidas, solventes ou outros agentes químicos, trabalho

físico intenso e trabalho por turnos)

A variável “idade” é contínua e expressa em anos.

Quanto à variável, “há quanto tempo tenta engravidar (tempo de infertilidade)”,

é contínua e expressa em anos.

A variável “frequência das relações sexuais” é nominal dicotómica, expressa em tempo

superior a 48h e inferior a 48h, conforme orientação da Direcção Geral de Saúde, 2010.

A variável “índice de massa corporal” é calculada com base na relação entre a altura e o

peso, determinado pela divisão da massa do indivíduo pelo quadrado da sua altura; a

massa é expressa em quilogramas e a altura em metros e classificada segundo tabela

apresentada por Roche (s.d): baixo peso: <18,5; normal: 18,5 a 24,9; excesso de peso:

25,0 a 29,9; obeso grau I: 30,0 a 34,9; obeso grau II: 35,0 a 39,9; obeso grau III: > 40,0.

A variável “estilo de vida” é categorizada em quatro itens:

Hábitos tabágicos: sim ou não. Se respondeu sim, há quantos anos e quantos

cigarros por dia.

Hábitos de consumo de álcool: sim ou não. Se respondeu sim, há quantos anos,

com que regularidade, que bebida e quantidade diária.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

57

Toma regularmente algum medicamento: sim ou não, se respondeu sim, indicar

qual.

Prática de actividade física: sim ou não. Se respondeu sim, qual e com que

regularidade.

Quanto à variável “no exercício do seu trabalho tem contacto com agentes de risco”, foi

categorizada em seis itens:

Calor

Radiações

Pesticidas

Solventes ou outros agentes químicos

Trabalho físico intenso

Trabalho por turnos

3.3- VARIÁVEIS ATRIBUTO

De modo a caracterizarmos a amostragem do estudo, consideramos ainda as seguintes

variáveis atributo:

Nacionalidade, estado civil, habilitações literárias, local de residência, com quem vive,

se tem filhos, rendimento mensal em euros, por quem foi tomada a decisão para

frequentar a consulta de esterilidade e religião.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

58

4 - POPULAÇÃO / AMOSTRA

População é uma colecção de elementos ou de sujeitos que partilham características

comuns e com um conjunto de critérios definidos (Fortin, 2003).

A população do nosso estudo é constituída por todos os casais que sofrem de problema

de fertilidade e frequentam a consulta de esterilidade da Maternidade Bissaya Barreto.

Na impossibilidade de acedermos a todos os casais que constituem a nossa população,

trabalhámos com uma amostra, que Barros e Lehfeld (1986, p. 105) definem como “um

conjunto representativo da população”. Também Richardson (1989, p. 104) define

amostra como “qualquer subconjunto do conjunto universal ou população”. Em

complemento desta definição, Polit e Hungler (1985, p.114) dizem que amostra consiste

“em um subconjunto de entidades que compõem a população. Essas entidades que

compõem as amostras são chamadas de elementos. Considerando a população alvo

homogénea, utilizamos uma amostra probabilística aleatória simples. Este tipo de

amostragem extrai da população elementos que permitem prover dados inferenciais da

população alvo. O método de amostragem probabilística, segundo Fortin (2003), é o

único que oferece ao investigador a possibilidade de precisar os riscos tomados quando

generaliza, ao conjunto da população ou outros contextos, os resultados da

investigação.

.

No campo de amostragem, foram considerados todos os casais que frequentam a

consulta de Esterilidade da Maternidade Bissaiya Barreto.

A amostra de participantes do estudo obedeceu aos seguintes critérios de inclusão:

Casais (homens e mulheres) com dificuldade em engravidar.

Casais (homens e mulheres) que frequentem a consulta no período de 1 de

Setembro a 15 de Dezembro de 2011 e que se disponibilizaram a participar no

estudo.

Que aceitem participar voluntariamente no estudo, após informados sobre a

natureza do mesmo.

Que saibam ler e escrever.

Que dominem a língua portuguesa

Selecionámos os indivíduos enquanto esperavam para consulta.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

59

5- INSTRUMENTO DE RECOLHA DE DADOS

Ao elaborar o instrumento de recolha de dados, o investigador deve utilizar técnicas

para obter informação válida para a realização do estudo que pretende efectuar.

Relacionado com este assunto, Richardson (1989, p.137) considera que:

“O questionário é um instrumento de colheita de dados que pode ser utilizado

para obter informações acerca de grupos sociais, que nos permite descrever

algumas características e medir variáveis desse mesmo grupo, permitindo ao

investigador tirar conclusões do seu estudo”

Ainda segundo o mesmo autor, o questionário é um instrumento válido quando mede o

que se deseja. Assim, todo o instrumento deve ser capaz de produzir as informações

adequadas e necessárias para dar respostas às questões de investigação. Deverá

conter questões elaboradas com o máximo de objectividade e precisão, a fim de serem

entendíveis por todos os inquiridos. Refere, também, que o questionário tem duas

funções:

Descrever as características de um indivíduo ou grupo

Medir as variáveis num determinado grupo social.

Tendo em conta o tipo de estudo que pretendemos efectuar, as características da

amostra e o tempo para a realização deste estudo, optamos por utilizar um questionário

(Anexo I). Este é constituído por duas partes:

Da primeira parte, constam quarenta e seis questões, que expressam diferentes

opiniões acerca de problemas de fertilidade e operacionalizam a variável dependente.

Foi utilizado o Inventário de Problemas de Fertilidade de Ramos, Gameiro e Canavarrro

(2008).

Da segunda parte, constam vinte e uma questões fechadas, relativas às variáveis

independentes e varáveis atributo, tendo estas últimas a função caracterizadora da

amostra; por último, uma questão aberta, com a finalidade de receber comentários ou

observações.

5.1-PRÉ-TESTE

A finalidade é evidenciar possíveis falhas de redacção, garantir a aplicabilidade, a

precisão e a validade, de modo a que se responda a todas as questões colocadas.

Assim, antes de aplicarmos o questionário na forma definitiva, foi realizado o pré-teste,

como uma referência de validade do referido questionário.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

60

Fizemos a aplicação de dez questionários seguidos de uma entrevista, a qual constava

dos seguintes pontos:

Se todas as questões foram claras

Se entendeu o assunto em estudo

Se achou fácil o preenchimento

Tempo que demorou a preencher o questionário.

Foi testado num grupo de indivíduos que recorreram à consulta de esterilidade da MBB,

num período que antecedeu o do estudo. Verificámos que não houve dúvidas, pelo que

considerámos o questionário adequado à utilização no estudo.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

61

6- PROCEDIMENTOS ÉTICO/LEGAIS

A autora da escala do Inventário de Problemas de Fertilidade e sua operacionalização

foi contactada, via telefone e e-mail, e solicitada a devida autorização para a utilização

da mesma (anexo II).

Foi também solicitada autorização para a realização do estudo através de um pedido

formal, dirigido ao conselho de administração do Centro Hospitalar de Coimbra e ao

conselho directivo do Departamento de Saúde da Mulher (anexo III). Neste pedido, foi

explicitada a natureza do estudo, os seus objectivos e metodologia e assegurada a

manutenção do anonimato dos participantes e a confidencialidade dos dados. Foi obtida

autorização formal, através de ofício, via e-mail (anexo IV), em tempo considerado útil

para a realização do estudo.

Posteriormente à obtenção da autorização oficial das direcções do Departamento de

Saúde da Mulher e do Centro Hospitalar de Coimbra assim como da autorização para

aplicação do Inventário de Problemas de Fertilidade (Ramos, et al., 2006), (anexo V), os

questionários, após consentimento informado (anexo VI), foram entregues a cada casal

num mesmo envelope, através do próprio investigador ou das enfermeiras que faziam a

respectiva consulta. Estes foram informados dos objectivos do estudo, bem como, da

voluntariedade da participação.

A confidencialidade foi assegurada pela individualização dos questionários do casal em

envelope anónimo, fechado e pela colocação dos mesmos em urna identificada para o

efeito.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

62

7-TRATAMENTO ESTATÍSTICO

O tratamento estatístico é considerado por Polit e Hungler (1995) como um conjunto de

técnicas que torna comprensível a informação recolhida, dando-lhe sentido. Os métodos

estatísticos permitem que o investigador reduza, organize, avalie e interprete os dados

e, ainda, comunique as conclusões mais relevantes e significativas.

No nosso estudo, após a construção da base de dados e a colheita dos mesmos, estes

foram introduzidos e processados num computador através do programa estatístico

SPSS (Statiscal Package for the Social Sciences), versão 19 para Windows.

Procedemos ao tratamento estatístico descritivo pelo cálculo de:

Frequências absolutas

Frequências percentuais

Medidas de tendência central:

Média

Mediana

Mínimo

Máximo

Medidas de dispersão

Desvio padrão

Em relação à estatística inferencial, recorremos aos testes não paramétricos, uma vez

que a nossa variável dependente (stress associado ao problema de fertilidade) é de

natureza quantitativa com distribuição não normal, confirmada pelo teste de normalidade

Kolmogorov-Smirnov (p=0,00). Os testes utilizados para testar as nossas hipóteses

foram o teste de Mann-whitney, Kruskal-Wallis, correlação de Spearman srho. Para

todos os testes, fixamos os valores de significância de 0,05.

Para avaliar a consistência interna global da escala IFP – Stress Associado ao

Problema de Fertilidade – calculámos o coeficiente alpha de Cronbach. Os valores

obtidos comprovam que a escala apresenta, na totalidade dos itens, uma consistência

interna de 0,803. Para o grupo dos homens é de 0,849. Para o grupo das mulheres de

0,674. Marôco (2010) considera que, valores para alpha superiores a 0,70 são

reveladores de uma boa consistência interna, mas acima de 0,60 indicam a

possibilidade de utilizar a escala.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

63

Tal como os autores da escala (Newton et. al, 2005) e os autores da versão Portuguesa

(Moura et al., 2006), consideramos importante tratar e analisar os dados para homem e

para mulher separadamente.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

64

CAPÍTULO III: APRESENTAÇÃO, ANÁLISE DOS DADOS E RESULTADOS.

Este capítulo tem como finalidade a apresentação dos dados e discussão dos

resultados obtidos no nosso estudo.

Optamos por dividi-lo em três partes. Na primeira, fazemos a apresentação e a análise

dos dados, obedecendo à sequência determinada pela ordenação das variáveis da

parte II do questionário, seguida da variável dependente que consta da primeira parte.

Na segunda, fazemos discussão dos resultados, tendo por base a bibliografia

consultada e a nossa experiência profissional. Na terceira parte apresentamos a

proposta de programa de intervenção em cuidados de enfermagem

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

65

1- APRESENTAÇÃO DE DADOS

Os dados serão apresentados em quadros, de forma a facilitar a sua leitura e

interpretação. Iniciamos pela caracterização da amostra

1.1 - CARACTERIZAÇÃO DA AMOSTRA

No quadro 1, constam as principais características sócio-demográficas dos indivíduos

que constituem a amostra dos casais (homens e mulheres) com infertilidade, os quais

frequentam a consulta da Maternidade Bissaya Barreto.

Verificamos, no que se refere à distribuição dos indivíduos, que 50% são do sexo

masculino e 50% do sexo feminino. Em relação à idade dos homens inquiridos,

constatamos que está compreendida entre os 24 e 48 anos, com uma média de idades

de 35,32 e desvio padrão de 5,07 anos. Em relação à idade das mulheres, constatamos

que está compreendida entre os 25 e 45 anos, com uma média de idades de 32,68 e

desvio padrão de 4,15 anos. Tanto no sexo masculino como no feminino, o grupo etário

com maior percentagem situa-se nos 30-40 anos, 72% e 68% respectivamente, logo

seguido do grupo etário 20-30 das mulheres com 28% e de 14% nos grupos etários 20-

30 e 40-50 dos homens. No grupo etário dos 40-50 das mulheres apenas 4%.

A maioria dos casais é de nacionalidade portuguesa (99%). Quanto ao estado civil, são

casados ou em união de facto (92%), seguido de 8% de solteiros.

No total da amostra, é maioritária a percentagem dos que possuem

Bacharelato/Licenciatura, no grupo masculino 30% e feminino 50%, seguido do 11º/12º

ano (26%) e 9ºano (24%), para o grupo masculino, e 9ºano (20%), 11º/12º ano (18%),

para o grupo feminino. Verifica-se que há uma percentagem de 2%, no grupo

masculino, e de 4%, no grupo feminino, com o grau de mestre/doutor.

Os dados evidenciam, no que diz respeito à profissão, que 34% dos homens

pertencem ao grupo dos trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices,

30% ao grupo técnicos e profissões de nível intermédio, seguidos de 16% de

trabalhadores não qualificados e 20% estão distribuídos por outros grupos

profissionais. No que diz respeito ao grupo das mulheres, verifica-se que 46% pertence

ao grupo dos técnicos e profissões de nível intermédio (16%) do pessoal

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

66

administrativo, 14% ao grupo dos trabalhadores não qualificados, seguidos de 20%

distribuídos pelos restantes grupos profissionais e 4% de desempregados.

A proveniência dos casais é de 58% do meio urbano e de 42% do meio rural.

A maioria dos casais (96%) vive com o marido/esposa/companheiro. Só 2% vivem com

os pais ou sogros. No que respeita a terem ou não filhos, 12% têm filhos e 88% não têm

filhos.

Em relação ao rendimento mensal em euros, uma maior percentagem de mulheres

(54%) tem um rendimento mensal compreendido entre 500 a 1500 euros, enquanto

apenas 44% dos homens usufruem desse rendimento. A percentagem no grupo dos

homens e das mulheres que têm rendimento compreendido entre 1500 a 2500 é igual

30%. Com rendimento mensal superior a 2500 euros, salienta-se o grupo dos homens

com 12%, enquanto no grupo das mulheres é apenas de 6%. Com rendimento inferior a

500 euros temos 12% no grupo masculino e 10% no grupo feminino.

Relativamente à decisão para frequentarem a consulta de esterilidade da Maternidade

Bissaya Barreto, 56% fizeram-no por iniciativa própria e 44% por indicação de médico

ou enfermeiro. No que respeita à confissão religiosa, tanto no grupo dos homens como

das mulheres, predomina a religião católica (90% e 96% respectivamente), pertencendo

a outras religiões ou sem religião a parte restante da amostra.

O tempo de duração de infertilidade, ou seja, o tempo em que tenta engravidar oscila

entre 1 e os 10 anos, sendo a média de 3,36 anos e desvio padrão de 1,90, tanto para

os homens como para as mulheres.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

67

Quadro 1- Distribuição dos elementos da amostra segundo variáveis pessoais e sociais

em função do sexo.

Distribuição das varáveis em função do sexo.

Homens

n %

Mulheres

n % Total 50 50,00 50 50,00

Estado civil: Solteiro

Casado/união de facto

4

46

8,00

92,00

4

46

8,00

92,00

Habilitações literárias

6ºano 9ºano

11º/12º ano Bacharelato/Licenciatura

Mestrado/Doutoramento

9

12 13 15 1

18,00 24,00 26,00 30,00 2,00

4

10 18 25 2

8,00

20,00 36,00 50,00 4,00

Local de residência:

Urbano Rural

29 21

58,00 42,00

29 21

58,00 42,00

Com quem vive: Marido/esposa/companheiro Pais/sogros

48 2

96,00 4,00

48 2

96,00 4,00

Tem filhos: Sim Não

6

44

12,00 88,00

6

44

12,00 88,00

Decisão para frequentar consulta: Iniciativa própria Indicação do enf./ médico

28 22

56,00 44,00

28 22

56,00 44,00

Religião: Católica Outras

45 5

90,00 10,00

45 5

90,00 10,00

Idade (em anos)

Mn

Mx

X

DP

Mn

Mx

X

DP

24

48

35,32

5,07

25

45

32,68

4,15

Tempo de infertilidade

1

10

3,36

1,90

1

10

3,36

1,90

Nos dados apresentados no quadro 2, constatamos que a maioria dos homens inférteis

inquiridos se situa no grupo com excesso de peso, numa percentagem de 56%; dezoito

com peso normal, numa percentagem de 36%, seguido de quatro no grupo da

obesidade, numa percentagem de 8%.

No grupo dos inquiridos, 52% das mulheres dos casais inférteis apresentam peso

normal, 32% excesso de peso, seguido de 16% com obesidade.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

68

Em relação aos agentes que interferem na fertilidade, verifica-se que a maioria (42%

dos homens e 58% das mulheres) não teve contacto com qualquer agente. Tiveram

contacto com dois ou mais agentes 36% dos homens e 20% das mulheres. Contacto só

com um agente 22%, quer nos homens quer nas mulheres.

Em relação aos hábitos tabágicos, verificamos que apenas 34% dos homens e 10% das

mulheres têm hábitos tabágicos. Os homens fumam em média 12,35 cigarros diários, há

de 14,56 anos. As mulheres, uma média diária de 5,20 cigarros, há 11,80 anos.

Verifica-se que 60% dos homens e 94% das mulheres não consomem bebidas

alcoólicas. Dos que consomem, 40% são homens, 20% fazem-no diariamente e os

restantes semanalmente. As bebidas consumidas são a cerveja e o vinho tinto, numa

quantidade de 10 a 20 gr. Numa baixa percentagem (6%) são mulheres, que consomem

mensalmente cerveja em quantidade de 10 a 20 gr.

Em relação à regularidade da toma de medicamentos, verifica-se que os homens e as

mulheres na maioria não tomam medicamentos (86% e 84% respectivamente). Quando

tomam são medicamentos que não interferem na fertilidade. O exercício da prática de

actividade física com regularidade é referenciado pelos homens numa percentagem de

40%; isto duas vezes por semana (46,7%), predominando o futebol com 41,2%; as

mulheres fazem-no numa percentagem de 20%, com a regularidade de uma, duas, três

vezes ou mais em igual percentagem (33,3%), predominando a ginástica com 44,4%,

seguida da hidroginástica com 22,2% e as restantes actividades com 11,1% cada.

A maioria dos casais refere ter actividade sexual (98%). No entanto, 2% refere não ter

actividade sexual. Em relação à regularidade, a maioria (51%) responde que tem

relações com intervalos <a 48h (inferiores a quarenta e oito horas) e 49% com

intervalos> a 48 h (superiores a quarenta e oito horas). No entanto, os resultados da

estatística da frequência de relações sexuais por sexo mostram que os homens na

maioria (58%) refere que têm relações sexuais com intervalos inferiores a 48h, e 42%

referem que têm relações sexuais com intervalos superiores a 48h. No grupo das

mulheres verifica-se o inverso. A maioria (56%) refere que têm relações sexuais com

intervalos superiores a 48h, e 44% refere que têm relações sexuais com intervalos

inferiores a 48h.

.

Page 65: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

69

Quadro 2- Distribuição dos elementos da amostra segundo as variáveis do estilo de vida

associadas ao problema de fertilidade.

Variáveis do estilo de vida

HOMENS

n %

MULHERES

n % 50 50,00 50 50,00

Índice de massa corporal: Peso normal Excesso Obesidade

18 28 4

36,00 56,00 8,00

26 16 8

52,00 32,00 16,00

Contacto com agentes que interferem na fertilidade: Só com um agente Dois ou mais agentes Nenhum agente

11 18 21

22,00 36,00 42,00

11 10 29

22,00 20,00 58,00

Hábitos tabágicos: Sim Não

17 33

34,00 36,00

5

45

10,00 90,00

Consumo de bebidas alcoólicas: Sim Não

20 30

40,00 60,00

3

47

6,00

94,00

Consumo de medicamentos: Sim

Não

7

43

14,00 86,00

8

42

16,00 84,00

Prática de actividade física: Sim Não

20 30

40,00 60,00

10 40

20,00 80,00

Prática de actividade sexual: Sim Não

49 1

98,00 2,00

49 1

98,00 2,00

1.2- O STRESS ASSOCIADO AO PROBLEMA DE FERTILIDADE.

Os dados obtidos (quadro 3) revelam que o stress associado ao problema de fertilidade,

nos casais que frequentam a consulta de esterilidade da Maternidade Bissaya Barreto,

para ambos os sexos, apresenta um mínimo de 2 e um máximo de 4, numa escala de 1

a 6. No grupo das mulheres, uma média de 3,20, um desvio padrão de 0,46 e uma

mediana de 3,25. No grupo dos homens, uma média de 3,10, um desvio padrão de 0,58

e uma mediana de 3,11.

A observação dos valores relacionados com o stress associado ao problema de

fertilidade, dos homens, apresentados no quadro 3, leva-nos a considerar que a média

nas dimensões do “stress global”, “necessidade da parentalidade” e “rejeição do estilo

Page 66: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

70

de vida sem filhos” é mais elevada do que nas dimensões “preocupação social”,

“preocupação sexual” e “preocupação com a relação”. Com igual valor de média,

apresenta-se a dimensão “rejeição do estilo de vida sem filhos”; ou seja, perspectiva

negativa de um estilo de vida ou estatuto sem filhos, a satisfação e felicidades futuras

dependem do nascimento de um filho (ou de outro filho) e a dimensão “necessidade de

parentalidade”; isto é, identificação com o papel parental e parentalidade percebida

como um objectivo essencial à vida. As dimensões “preocupação social”, preocupação

sexual” e “preocupação com a relação” apresentam uma maior dispersão de dados, com

valor mínimo de 1 e de máximo 5.

Quadro 3- Medidas descritivas referentes às dimensões e stress associado ao problema

da fertilidade dos homens que frequentam a consulta de esterilidade da M.B.B. (n=50)

Dimensões e global do stress

associado ao problema da fertilidade

X

Md

DP

Min

Max

Preocupação social 2,69 2,65 0,78 1 5

Preocupação sexual 2,39 2,19 1,02 1 5

Preocupação com a relação 2,58 2,65 0,71 1 4

Necessidade da parentalidade 3,94 3,95 0,75 2 6

Rejeição de estilos de vida sem filhos

3,94 4,00 0,71 2 5

Stress global 3,10 3,11 0,58 2 4

A observação dos valores relacionados com o stress, associado ao problema de

fertilidade das mulheres apresentados no quadro 4, leva-nos a considerar que a média

do stress global e nas dimensões “necessidade da parentalidade” e “rejeição do estilo

de vida sem filhos” é mais elevada do que nas dimensões “preocupação social”,

“preocupação sexual” e “preocupação com a relação”. Salienta-se a média (4,23) de

stress mais elevada na dimensão “necessidade de parentalidade”, ou seja, identificação

com o papel parental e parentalidade percebida como um objectivo essencial à vida.

Tendo em conta cada uma das dimensões, a maior diferença verifica-se em relação à

dimensão “necessidade de parentalidade”. As dimensões “preocupação social” e

“preocupação sexual” apresentam uma maior dispersão de dados, com valor mínimo de

1 e de máximo 5.

Page 67: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

71

Quadro 4 - Medidas descritivas referentes às dimensões e stress associado ao

problema da fertilidade, das mulheres que frequentam a consulta de esterilidade da

M.B.B. (n=50)

Dimensões e global do stress

associado ao problema da

fertilidade

X

Md

DP

Mn

Mx

Preocupação social 2,80 2,80 0,82 1 5

Preocupação sexual 2,43 2,50 0,77 1 5

Preocupação com a relação 2,57 2,60 0,78 1 4

Necessidade da parentalidade 4,23 4,30 0,77 3 6

Rejeição de estilos de vida sem filhos

3,95 4,00 0,85 2 5

Stress global 3,20 3,25 0,46 2 4

Em relação às hipóteses:

H6a- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante

consome ou não tabaco, tanto nos homens como nas mulheres.

H6b- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior quando há

consumo de álcool, tanto nos homens como nas mulheres.

H6c- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante

tomam ou não medicamentos, tanto nos homens como nas mulheres.

H6d- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante

pratica ou não actividade física, tanto nos homens como nas mulheres.

Devido à dispersão de dados, não testamos as hipóteses, faremos apenas uma análise

global dos resultados.

Também pela razão atrás referida, não testamos as hipóteses relacionadas com os

agentes, com os quais os indivíduos que constituíam a nossa amostra tinham contacto.

H7a- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior nos homens

que têm contacto com o calor.

H7b- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior nos homens

que têm contacto com radiações.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

72

H7c- O nível de stress, associado ao problema, de fertilidade é superior nos homens

que têm contacto com pesticidas.

H7d- O nível de stress, associado ao problema, de fertilidade é superior nas mulheres

que têm contacto com solventes.

H7e- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior quando têm

contacto com trabalho físico intenso, tanto nos homens como nas mulheres.

H7f- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é superior em quem

trabalha por turnos.

Posteriormente, foi reconvertida a variável “no exercício do seu trabalho tem contacto

com agentes” e surgiu uma nova variável “contacto com número de agentes de risco

ocupacional”, operacionalizada do seguinte modo:

Contacto só com um agente

Contacto com dois ou mais agentes

Contacto com nenhum agente

Em função desta variável (contacto com número de agentes de risco ocupacional) e sua

operacionalização surgiu a seguinte hipótese:

Hipótese 7- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente nos

homens e nas mulheres, conforme têm contacto com diferente número de agentes de

risco ocupacional.

1.2.1 Resultados dos testes de hipóteses

H1- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, apresentado pelas

mulheres é superior aos dos homens.

Para testar a nossa hipótese – “O nível de stress, associado ao problema de fertilidade,

apresentado pelas mulheres, é superior aos dos homens” – utilizámos o teste de Mann-

Whitney U (quadro 5). Podemos verificar, pelos resultados obtidos, que as diferenças

não são estatisticamente significativas para o valor do stress associado ao problema de

fertilidade (p=0,20). No entanto, o stress global revelado pela mulheres difere,

Page 69: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

73

ligeiramente (Md=3,25), do descrito pelos homens (Md= 3,11); aqui, como nas restantes

dimensões, as mulheres revelaram valores ligeiramente superiores aos dos homens.

Salientamos que esta diferença é estatisticamente significativa para a dimensão

“necessidade de parentalidade” (p=0,04).

Os resultados obtidos não nos permitem corroborar a hipótese formulada; ou seja, que o

nível de stress, associado ao problema de fertilidade, apresentado pelas mulheres, é

superior aos dos homens.

Quadro 5- Diferença do stress, associado ao problema de fertilidade, nos homens e nas

mulheres, em função do sexo, pela aplicação do teste de Mann-Whitney U (n=100)

Dimensões e global do stress

associado ao problema de

fertilidade em função do sexo

Homens

(n=50)

Mulheres

(n=50)

Mean

rank

Md Mean

rank

Md Z p

Preocupação social 48,36 2,65 52,64 2,80 -0,73 0,46

Preocupação sexual 48,89 2,19 52,11 2,50 -0,55 0,57

Preocupação com a relação 50,90 2,65 50,10 2,60 -0,13 0,89

Necessidade da parentalidade 44,74 3,95 56,26 4,30 -1,98 0,04

Rejeição de estilos de vida sem filhos

50,03 4,00 50,97 4,00 -0,16 0,87

Stress global 46,32 3,11 53,61 3,25 -1,26 0,20

H2- O nível de stress associado ao problema de fertilidade está correlacionado com a

idade dos homens e das mulheres.

Pelos valores apresentados no quadro 6, resultantes da aplicação do coeficiente de

correlação de Spearman'srho, verificamos que o nível de stress está correlacionado com

a idade dos homens e das mulheres. Especificamente, a correlação é negativa em todas

as dimensões, quer nos homens quer nas mulheres. Não é estatisticamente significativa,

para os homens, em todas as dimensões. Para as mulheres, é estatisticamente

significativa para as dimensões “preocupação sexual” (p=0,00) e “stress global” (p=0,03).

Os dados sugerem que quanto mais idade menos stress.

Page 70: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

74

Quadro 6- Correlação de Spearman'srho do stress, associado ao problema de

fertilidade, e dimensões com a idade dos homens e das mulheres (n=100)

Dimensões e global do stress associado ao problema

de fertilidade dos homens e das mulheres em função

da idade.

Idade

Homens

(n=50)

Mulheres

(n=50)

rs2 p rs2 p

Preocupação social -0,07 0,60 -0,24 0,08

Preocupação sexual -0,11 0,43 -0,37 0,00

Preocupação com a relação -0,09 0.51 -0,22 0,10

Necessidade da parentalidade -0,09 0,51 -0,00 0,94

Rejeição de estilos de vida sem filhos -0,27 0,05 -0,22 0,12

Stress global -0,15 0,31 -0,30 0,03

H3- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, está correlacionado com o

tempo de infertilidade dos homens e das mulheres.

Aplicado o cálculo do coeficiente de correlação de Spearman'srho, verificamos que os

resultados apresentados pelos homens (quadro 7) comprovam que não existe

correlação estatisticamente significativa no nível de stress, associado ao problema de

fertilidade (p=0,05), conforme o tempo de infertilidade. Verifica-se, no geral, uma

correlação positiva e estatisticamente significativa a nível da dimensão “necessidade da

parentalidade” (p=0,01).

Em relação às mulheres, a correlação também é positiva, excepto na dimensão

“preocupação com a relação”, e estatisticamente significativa para as dimensões “stress

global” (p=0,04), “necessidade da parentalidade” (p=0,03) e “preocupação social”

(p=0,01).

De uma forma geral, a correlação é positiva. Quanto mais tempo de infertilidade maior o

nível de stress.

Page 71: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

75

Quadro 7- Correlação de Spearman'srho de stress, associado ao problema de

fertilidade, dos homens e das mulheres, em função do tempo de

infertilidade (n=100)

Dimensões e global do stress dos homens e das

mulheres em função do tempo de infertilidade

Tempo de infertilidade

Homens

(n=50)

Mulheres

(n=50)

rs2 p rs2 p

Preocupação social 0,21 0,13 0,34 0,01

Preocupação sexual 0,20 0,16 0,02 0,88

Preocupação com a relação 0,16 0,24 -0,03 0,79

Necessidade da parentalidade 0,35 0,01 0,30 0,03

Rejeição de estilos de vida sem filhos 0,05 0,71 0,14 0,30

Stress global 0,27 0,05 0,27 0,04

H4- O nível de stress associado ao problema de fertilidade é diferente para homens e

para mulheres, consoante a frequência das relações sexuais.

Relativamente à hipótese “o nível de stress associado ao problema de fertilidade, é

diferente para homens e para mulheres, consoante a frequência das relações sexuais”,

constatamos que os resultados obtidos através do teste de Mann-Whitney U (quadro 8 e

9) comprovam que o nível de stress não é estatisticamente significativo nem para

homens nem para mulheres, conforme a frequência das relações sexuais, em nenhuma

das dimensões.

Page 72: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

76

Quadro 8-Comparação do stress, associado ao problema de fertilidade nos homens, em

função da frequência das relações sexuais, pela aplicação do teste Mann-

Whitney U (n=50)

Dimensões e global de stress

nos homens em função da

frequência das relações

sexuais,

< 48h

(n=29)

>48h

(n=21)

Z

p

Mean

Rank

Md Mean

Rank

Md

Preocupação social 26,17 2,60 24,57 2,80 -039 0,70

Preocupação sexual 24,81 2,00 26,45 2,38 -0,39 0,69

Preocupação com a relação 24,43 2,50 26,98 2,70 -0,61 0,54

Necessidade da parentalidade 27,24 4,00 23,10 3,70 -0,99 0,32

Rejeição de estilos de vida vem filhos

25,59 4,00 25,38 4,13 -0,04 0,96

Stress global 25,43 3,16 24,43 3,11 -0,24 0,80

Quadro 9- Comparação do stress, associado ao problema de fertilidade, nas mulheres,

em função da frequência das relações sexuais, pela aplicação do teste

Mann-Whitney U( n=50)

Dimensões e global do stress

nas mulheres em função da

frequência das relações

sexuais,

<48h

(n=22)

>48h

(n=28)

Z

p

Mean

Rank

Md Mean

Rank

Md

Preocupação Social 23,95 2,75 26,71 2,85 -0,66 0,50

Preocupação Sexual 26,75 2,63 24,52 2,25 -0,53 0,59

Preocupação com a relação 28,98 2,70 22,77 2,55 -1,49 0,13

Necessidade da parentalidade 29,30 4,50 22,52 4,15 -1,63 0,10

Rejeição de estilos de Vida Sem Filhos

23,91 3,88 26,75 4,,60 -0,68 0,49

Stress global 27,66 3,29 23,80 3,22 -0,92 0,35

H5- O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante o

índice de massa corporal, tanto nos homens como nas mulheres.

Page 73: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

77

Constatamos, através dos valores obtidos pelo teste de Kruskal Wallis, que não existe

diferença, estatisticamente significativa, para o nível de stress nos homens (quadro 10)

e nas mulheres (quadro11), conforme o índice de massa corporal.

Porém, quando analisamos os valores das mean rank nos homens, o grupo com

obesidade apresenta valores mais elevados.

O mesmo não se verifica nas mulheres. As médias mais elevadas estão no grupo das

que têm peso normal. A obesidade apresenta valores ligeiramente menores.

Os resultados obtidos, e que constam dos quadros 10 e 11, não corroboram a nossa

hipótese “o nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente consoante

o índice de massa corporal, tanto nos homens como nas mulheres”, sendo p=0,47 e

p=0,20, respectivamente.

Quadro 10- Comparação do stress, associado ao problema de fertilidade, nos homens,

em função do índice de massa corporal, pela aplicação do teste Kruskal-

Wallis (n=50)

Dimensões e global do stress nos homens em função do índice de massa corporal

Peso normal

(n= 18)

Excesso de

peso

(n=28 )

Obesidade

(n= 4)

2

p

Mean rank

Md

Mean rank

Md

Mean rank

Md

Preocupação social

20,33 2,50 28,45 3,00 28,13 2,70 3,55 0,16

Preocupação sexual

25,36 2,13 24,36 2,19 34,13 3,19 1,58 0,45

Preocupação com a relação

26,75 2,70 23,80 2,50 31,25 2,70 1,10 0,57

Necessidade da parentalidade

25,56 3,85 25,13 3,95 27,88 4,05 0,12 0,93

Rejeição de estilos de vida sem filhos

23,78 3,94 25,70 4,00 31,88 4,19 1,02 0,59

Stress global 22,03 2,91 26,02 3,16 30,50 3,29 1,47 0,47

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

78

Quadro 11- Comparação do stress, associado ao problema de fertilidade, nas mulheres,

em função do índice de massa corporal, pela aplicação do teste Kruskal-

Wallis (n=50)

Dimensões e global do stress nas mulheres em função do índice de massa corporal

Peso normal

(n=26)

Excesso de

peso

(n=16)

Obesidade

(n=8)

2

p

Mean rank

Md

Mean rank

Md

Mean rank

Md

Preocupação social

26,23 2,90 24,38 2,80 25,38 2,75 0,61 0,92

Preocupação sexual

27,27 2,56 23,91 2,19 22,94 2,25 0,85 0,66

Preocupação com a relação

25,81 2,60 26,84 2,70 21,81 2,45 0,66 0,71

Necessidade da parentalidade

27,31 4,50 28,31 4,35 14,00 3,50 5,98 0,05

Rejeição de estilos de vida sem filhos

27,35 4,06 26,84 4,13 16,81 3,38 3,41 0,18

Stress global 27,75 3,25 25,97 3,26 17,25 2,90 3,20 0,20

Hipótese 7 -O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente nos

homens e nas mulheres, conforme têm contacto com diferente número de

agentes de risco ocupacional.

Perante os valores obtidos (quadro 12 e 13), resultantes do teste de Kruskal Wallis,

podemos afirmar que não existe diferença, estatisticamente significativa, para o nível de

stress associado ao problema de fertilidade e as restantes dimensões, tanto nos

homens como nas mulheres, conforme têm contacto com diferente número de agentes

de risco ocupacional.

Verificamos ainda que, para cada grupo de “agentes”, também não há diferença

significativa a nível das médias.

Os resultados obtidos e que constam dos quadros 12 e 13 não corroboram a nossa

hipótese “o nível de stress, associado ao problema de fertilidade, é diferente nos

homens e nas mulheres conforme têm contacto com diferente número de agentes de

risco ocupacional”, sendo p=0,93 e p=0,64, respectivamente.

Page 75: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

79

Quadro 12 -Comparação do stress associado ao problema de fertilidade, nos homens

em função do nº de agentes de risco ocupacional associado à alteração da

fertilidade, pela aplicação do teste KrusKal-Wallis (n=50)

Dimensões e global do

stress nos homens em

função do nº de agentes

de risco ocupacional,

Só um

agente

(n=11

Dois ou mais

agentes

(n=18)

Nenhum agente

(n=21)

2

p Mean

rank

Md Mean

Rank

Md Mean

Rank

Md

Preocupação social 28,32 2,80 23,67 2,60 25,60 2,70 0,70 0,70

Preocupação sexual 23,09 2,13 26,56 2,25 25,86 2,38 0,40 0,81

Preocupação com a relação

28,36 2,80 26,22 2,70 23,38 2,30 0,91 0,63

Necessidade da parentalidade

27,14 4,00 25,64 3,75 24,52 4,00 0,23 0,88

Rejeição de estilos de vida sem filhos

24,14 4,00 27,25 4,00 24,71 4,00 0,41 0,81

Stress global 25,68 3,17 23,94 3,02 25,50 3,24 0,14 0,93

Quadro 13 -Comparação do stress, associado ao problema de fertilidade, nas mulheres,

em função do nº de agentes de risco ocupacional, associados à alteração da

fertilidade, pela aplicação do teste KrusKal-Wallis (n=50)

Dimensões e global do

stress nas mulheres em

função do nº de agentes

de risco ocupacional,

Só um

agente

(n=11)

Dois ou mais

agentes

(n=10)

Nenhum agente

(n=29)

2

p Mean

rank

Md Mean

Rank

Md Mean

Rank

Md

Preocupação social 18,27 2,00 25,25 2,75 28,33 2,90 3,80 0,14

Preocupação sexual 19,23 2,25 27,50 2,69 27,19 2,63 2,62 0,26

Preocupação com a relação

25,77 2,60 32,95 2,95 22,83 2,60 3,60 0,16

Necessidade da parentalidade

24,09 4,30 28,35 4,45 25,05 4,20 0,51 0,77

Rejeição de estilos de vida sem filhos

23,91 3,88 20,80 3,69 27,72 4,25 1,85 0,39

Stress global 22,73 3,24 28,70 3,29 25,45 3,22 0,88 0,64

Page 76: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

80

2- DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Após a apresentação e análise dos dados, passamos à discussão dos resultados,

destacando os mais significativos e fazendo uma breve apreciação e interpretação dos

mesmos, confrontando-os, sempre que possível, com a fundamentação teórica que

fizemos relativamente ao fenómeno.

A discussão dos resultados está organizada de forma sequencia, a fim de dar resposta

às hipóteses formuladas.

A primeira hipótese do nosso estudo sugeria que “o nível de stress associado ao

problema de fertilidade apresentado pelas mulheres é superior ao dos homens”.

Pela aplicação do teste de Mann-Whitney, obtivemos valores dos quais concluímos que

não existe diferença estatisticamente significativa, excepto para a dimensão

“necessidade da parentalidade” (p=0.04). Mas os valores das médias indicam-nos que é

no grupo das mulheres que se verifica uma diferença ligeiramente mais elevada entre os

níveis obtidos. Estes resultados corroboram os resultados encontrados em estudos

realizados por Newton (1999), citados por Melo, Leal e Faria (2006), e por Jordan e

Revenson (1999), citados por Delgado (2007), e por Domínguez (2010), em que

constataram que a experiência da infertilidade produz um nível médio de stress mais

elevado nas mulheres do que nos homens.

Numa outra investigação sobre questões de stress em pessoas inférteis, durante o

período de fertilização in vitro (FIV), realizada por Seger (2000) e referida por Souza

(2005), foram encontrados níveis similares de stress em homens e mulheres, o que está

de acordo com o nosso estudo.

Também os resultados de um estudo realizado na maternidade Bissaya Barreto por

Carvalho (2009), apesar de ser uma população com características diferentes,

permitem-nos concluir que as mães revelaram valores de stress significativamente

superiores (M = 137,18), quando comparados com o descrito pelos pais (M = 118,07).

Para Melo (2004), segundo a análise dos dados de um estudo, constatou-se que o nível

de stress feminino é 5% maior que o observado nos homens. Dos 180 entrevistados,

30% das mulheres demonstrou altos índices de stress, enquanto os mesmos índices

foram detectados em 25% dos homens, o que contradiz o nosso estudo.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

81

Consideramos que o stress é realmente uma resposta a um acontecimento/fenómeno

importante na vida dos casais que pertendem ter filhos, que é o fenómeno de

infertilidade. O contacto prático com os casais sugere-nos algumas capacidades

adaptativas dos individuos inquiridos à realidade que vivenciam. A expectativa de

construir família é evidente. Serra (2007) refere que o stress excessivo torna-se prejucial

porque pode – além de outras repercusões – induzir alterações no sono, na vida sexual,

metabolismo e sistema imunitário. Apesar dos níveis de stress apresentados serem

médios e não terem diferença significativa entre homens e mulheres, parece-nos

pertinente o acompanhamento por enfermeiros, que através dos cuidados de

enfermagem previnam o aumento do nível de stress e as suas repercussões no

organismo.

Ao testarmos a hipótese “O nível de stress associado ao problema de fertilidade está

correlacionado com a idade dos homens e das mulheres”, constatamos que, nos

resultados obtidos através do teste de correlação de Spearman'srho, o nível stress,

associado ao problema de fertilidade, está correlacionado com a idade dos homens e

das mulheres de forma negativa. Especificamente, a correlação é negativa em todas as

dimensões e é estatisticamente significativa para as dimensões “preocupação sexual” e

“stress global” nas mulheres. Os dados sugerem que quanto mais idade menos stress.

Estes resultados corroboram os do estudo realizado por Rossetti, et al. (2008), quando

diz que os sintomas de stress diminuem com o aumento da idade e que, no estudo

realizado, o grupo etário de 20 a 30 anos foi o que apresentou um nível de stress mais

elevado. Podemos inferir que o stress pode não estar associado ao problema da

fertilidade relacionado com a idade, porque os casais desconhecem a idade de declínio

da fertilidade “Os homens e mulheres portugueses estão mal informados sobre as

idades em que se inicia o declínio da fertilidade” (Carvalho & Santos, 2009 p. 57); ou

ainda, porque têm esperança nos ganhos que a nova tecnologia da procriação

medicamente assistida lhes pode oferecer.

Também defendem esta hiótese, que o stress diminui com a idade, Oliveira e Cupertino

(2005), citado por Rossetti, et al (2008), porque os casais têm mais competências de

auto-eficácia para enfrentar os problemas e dificuldades do dia a dia.

O stress é um processo de ajustamento constante entre as exigências do meio e as

estratégias do indivíduo para lidar com essas mesmas exigências (Serra, 2007)

Quanto à hipótese 3 – “O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, está

correlacionado com o tempo de infertilidade dos homens e das mulheres” –constatamos

que, pela aplicação do teste de correlação Spearman'srho, obtivemos valores dos quais

concluímos que existe correlação positiva e estatisticamente significativa no nível de

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

82

stress correlacionado com o tempo de infertilidade das mulheres, nas dimensões “stress

global”, “necessidade da parentalidade” e “preocupação social”. Isto, de certa forma,

corrobora Souza (2005), quando refere que a infertilidade carrega estigma social e

cultural, ocupando assim um lugar diferenciado, interferindo nas relações entre homens

e mulheres e de cada pessoa consigo mesma, aumentando as dificuldades em lidar

com a vivência do fenómeno. Stewart e Robinson, citados por Martins (2004), relatam

que, mais de 50% das mulheres, referem, como o mais transtornante das suas vidas e

como um fracasso no seu papel de mulheres, a experiência e o tempo da infertilidade,

apresentando em simultâneo níveis elevados de ansiedade, stress e depressão.

Existe uma correlação negativa, na dimensão “preocupação com a relação”, no grupo

das mulheres, o que evidencia menos dificuldade em falar sobre o problema de

fertilidade e compreender/aceitar as diferenças e preocupações com o impacto da

infertilidade na relação conjugal. Esta evidência contradiz a Organização Mundial de

Saúde (2002), citado por Delgado (2007), quando refere que o stresse, relacionado com

a vivência da infertilidade, pode ter como consequência o aumento dos conflitos

conjugais e do stress, podendo ocorrer a deteriorização da relação conjugal durante a

vivência da infertilidade.

Em relação aos homens, a correlação também é positiva, mas não é estatisticamente

positiva em qualquer dimensão.

Os resultados levam-nos a inferir que o stress aumenta com o tempo de infertilidade, o

que está de acordo com Rabin (2010) quando afirma que “a infertilidade, sem dúvida,

provoca stress”.

Louis (2010), citado por Rabin (2010), refere que os casais (homens e mulheres),

simplesmente a tentar engravidar, estão realmente stressados. Eles têm uma

expectativa, querem ter uma familia. De todos os factores de estilo de vida estudados

até hoje, o stress é o factor mais consistente e que mostra um efeito sobre o tempo que

leva a gravidez a acontecer.

Para muitos casais, a incapacidade de procriar é dramática, porque altera as suas

expectativas pessoais, associando a sentimentos de proveniência emocional que podem

afectar a relação do casal, a diminuição da líbido, as relações sexuais e até à disfunção

eréctil.

O aconselhamento do padrão das relações sexuais aconselhado pela Direcção-Geral

da Saúde (2008) deve permitir ao casal tomar decisões informadas e seguras ao longo

de todo o processo. Nexte contexto, é importante saber se “o nível de stress, associado

ao problema de fertilidade, é diferente para homens e para mulheres, consoante a

frequência das relações sexuais.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

83

Pela aplicação do teste de Mann-Whitney, obtivemos valores dos quais concluímos que

o nível de stress não é estatisticamente diferente para homens e para mulheres,

consoante a frequência das relações sexuais, excepto no grupo com a frequência das

relações sexuais inferiores a 48h, na dimensão da “necessidade da parentalidade”, com

p=0,04. Esta evidência revela que a parentalidade é percebida como um objectivo

essencial à vida, e que a actividade sexual se pode transformar apenas no desejo de ter

um filho, o que corrobora Rodrigues e Rodrigues, citado por Delgado, 2007, p.64:

“actividade sexual do casal transforma-se muitas vezes no desejo de fazer um filho e

não de fazer amor, assistindo-se frequentemente ao total desinvestimento por parte de

um ou ambos na qualidade afectiva e sexual da relação”.

Os resultados, de um modo geral, levam-nos a inferir que se pode aconselhar o que

recomenda a Direcção Geral de Saúde (2010”, aos casais inférteis: a ter relações

sexuais com intervalos não superiores a 48 horas, durante a semana, de forma

espontânea, sem estar com a preocupação de escolher o período fértil ou o momento

de quando e como o casal se irá relacionar sexualmente, aumentando, assim, a

naturalidade da intimidade sexual e as hipóteses de uma gravidez.

Na década de 90, a Organização Mundial de Saúde (OMS) incluiu o sexo na lista dos

parâmetros utilizados para definir a qualidade de vida de uma pessoa. O sexo seguro,

frequente e prazeroso alivia o stress e aumenta o relacionamento conjugal.

Uma pesquisa da Universidade Britânica de Paisley, com 46 voluntários, revelou que o

acto e a frequência sexual ajudam a diminuir (…) o stress e a ansiedade (Alvarenga ,

s.d).

O fenómeno da infertilidade está, muitas vezes, associada ao stress e a outros factores

de risco como o IMC.

Em função do exposto e da inexistência ou escassez de estudos que relacionem o

stress com o IMC nos casais com infertilidade, pretendemos saber se “o nível de stress

associado ao problema de fertilidade é diferente consoante o índice de massa corporal,

tanto nos homens como nas mulheres.”

Pela aplicação do teste de Kruskal Wallis (quadros 10 e 11), obtivemos valores dos

quais concluímos que não existe diferença, estatisticamente significativa, para o nível de

stress, tanto nos homens como nas mulheres, consoante o índice de massa corporal.

Relativamente a cada grupo de IMC, tanto nos homens como nas mulheres, as médias

dos grupos “peso normal” e “excesso de peso” são similares. Os valores nos homens do

grupo com obesidade revelam médias e medianas ligeiramente superiores. Estes

resultados contradizem os obtidos por Vieira et al. (2009), num estudo da relação stress/

índice de massa corporal, realizado com alunos, e que demonstrou que os alunos com

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

84

baixo peso apresentaram um nível de stress elevado, com peso normal registaram, na

sua maioria, um nível de stress moderado, e os alunos obesos do tipo II revelaram ter

um nível de stress baixo. Também os resultados obtidos por Alquimim, Barral e Ferreira

(2012), num estudo realizado com motoristas, demonstram que quanto maior o IMC

menor o nível de stress. Estes resultados contradizem o resultado desproporcional entre

IMC e stress, numa classe profissional diferente, feita por Botolli et al. 2009, citado por

Alquimim, Barral e Ferreira (2012), pois os sujeitos de pesquisas com IMC acima do

normal apresentavam níveis de stress elevado. Estudos suecos vêm, há algum tempo, a

mostrar evidências de que as pessoas sob stress contínuo, isto é, que estão sempre

sob pressão, terminam modificando o padrão de secreção do cortisol (hormonas de

resposta ao stress), aumentando a fome e a deposição de gordura na região central do

corpo.

Os valores nas mulheres do grupo com obesidade, ao contrário dos homens, revelam

médias e medianas ligeiramente inferiores às dos grupos com peso normal e excesso

de peso. Estes resultados corroboram os obtidos por Vieira et al. (2009), no estudo atrás

referido.

Os riscos ocupacionais, com exposição a agentes químicos, físicos, biológicos e

radiológicos podem estar associados a alteração da fertilidade e do stress. No nosso

estudo, pretendemos verificar se “o nível de stress, associado ao problema de

fertilidade, é diferente nos homens e nas mulheres, conforme têm contacto com

diferente número de agentes de risco ocupacional”.

Através dos resultados obtidos pelo teste de Kruskal Wallis (quadros 12 e 13), podemos

afirmar que não existe diferença, estatisticamente significativa, entre o nível de stress

associado ao problema de fertilidade e nas restantes dimensões, tanto nos homens

(p=0,93) como nas mulheres (p=0,64) que frequentam a consulta de esterilidade na MBB,

conforme o número de agentes que interferem na fertilidade, com os quais os homens e

as mulheres têm contacto. Estes resultados não corroboram os resultados apresentados

por Rossi e Contrera-Moreno (2006), num estudo sobre Riscos de Saúde no Trabalho.

Quando foi perguntado aos inquiridos se o seu trabalho afecta a sua saúde, os dados

revelaram que 92,68% dos inquiridos responderam que sim, em que o stress e as dores

de cabeça se destacaram. Referiu também que os agentes stressores podem estar

relacionados com o próprio ambiente de trabalho.

Em relação aos resultados dos valores das médias e medianas, também não há

evidências que marquem diferença.

Page 81: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

85

3- PROPOSTA DE PROGRAMA DE INTERVENÇÃO EM CUIDADOS DE

ENFERMAGEM

Tema: Programa de intervenção de enfermagem junto dos casais com problemas

associados à fertilidade.

Considerações no contexto de cuidados.

A incapacidade de engravidar espontaneamente é, para muitos casais, dramática.

As suas expectativas pessoais, sociais e até religiosas são abaladas. Toda esta

situação pode ser geradora de fortes sentimentos de perda, associada a alterações

emocionais, que poderão potenciar o problema da fertilidade.

Pretendemos assegurar os cuidados de enfermagem, durante a vivência dos casais,

pelo processo de transição pela infertilidade, ajudando-os a gerir os recursos pessoais,

familiares e sociais, dotando-os de competências para lidar com os desafios de saúde

que vivenciam, através da informação, ensino e instrução, de forma adequada aos seus

problemas. Proporcionar, também, uma articulação entre a equipa de saúde e o seu

processo de cuidados.

Observando a globalidade dos dados referentes ao stress, associado ao problema da

fertilidade, na globalidade e nas diferentes dimensões, identificamos que o stress

correlacionado com o tempo de infertilidade é estatisticamente significativo nos homens

e nas mulheres, na dimensão “necessidade da parentalidade” e apenas nas mulheres,

nas dimensões “stress global” (p=0,03) e “preocupação social” (0,01); mais tempo de

infertilidade mais stress. Ter especial atenção na intervenção com os casais com idades

inferiores aos 30 anos. Os dados sugerem quanto mais idade menos stress. Portanto,

os mais novos necessitarão de ajuda para alívio e prevenção do stress.

Verificamos, também, que os valores médios de stress das mulheres é ligeiramente

superior aos dos homens.

De uma forma global, sugerimos uma intervenção direccionada e pormenorizada para a

necessidade da parentalidade, concretamente no que se relaciona com a identificação

do papel parental e parentalidade percebida como um objectivo essencial à vida;

preocupação social, com abordagem à sensiblilidade perante comentários acerca da

infertilidade, alienação da família, amigos e isolamento social e nível de stress

apresentado pelas mulheres.

Das sugestões apresentadas pelos inquiridos, evidenciamos o seguinte: o tempo de

espera entre consultas é um grande constrangimento; não estar em contacto com

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

86

grávidas; ter um espaço onde o/a enfermeiro/a pudesse fazer os ensinos sobre a

medicação e outros, e também onde os casais pudessem partilhar os seus sentimentos

e a suas experiências; informar com disponibilidade as vezes que fossem necessárias:

“Na consulta médica nem tenho oportunidade de perguntar nada, fico sem espaço…”;

maior disponibilidade dos serviços: “É tempo sem fim para a realização dos exames e

tratamentos”; o telefone estar mais tempo disponível, pois muitas vezes está desligado;

ter uma enfermeira disponível só para orientar os utentes após a consulta médica: “É

tudo a correr, porque já estão outros casais à espera”.

No contexto do nosso espaço de trabalho, evidências encontradas em estudos

realizados e também nos resultados obtidos no estudo realizado na nossa população,

propomos objectivos, estratégias e avaliação para o desenvolvimento da proposta do

programa de intervenção junto dos casais inférteis de modo a proporcionar-lhe a

aquisição de competências que os ajude na resolução dos seus problemas de saúde.

Objectivos

Acolher os casais em sala adequada (acolhedora e funcional) e separada da

zona de obstetrícia.

Fazer consulta de enfermagem individual, numa perspectiva holística, a todos

os casais que venham a 1ª vez à consulta e sempre que necessário.

Fazer avaliação inicial acompanhada de pensamento crítico no atendimento

de enfermagem através de uma gestão adequada às necessidades dos

utentes.

Prestar cuidados de enfermagem em contexto de consulta médica, quando

necessário.

Instruir sobre administração de medicação e execução do plano terapêutico.

Orientar e informar pessoalmente e telefonicamente os utentes

Contribuir para o bem-estar do casal e para a sua realização parental e

familiar.

Estratégias

Atendimento individual/grupo dos casais que recorrem à consulta em espaço adequado

para o efeito.

Na avaliação inicial perceber como e onde intervir, não negligenciando as evidências

encontradas.

Orientação específica sobre o espaço temporal e todas as sequências de tratamento, o

tempo de espera, os procedimentos necessários e os problema que podem surgir.

Atendimento e orientação telefónica

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

87

Elaboração e divulgação de informação escrita ou via informática (folhetos, Power Point)

sobre estilos de vida saudáveis (alimentação, sexualidade, riscos ocupacionais, hábitos

tabágicos e alcoólicos, stress) promotores da fertilidade (gravidez).

Dotação de recursos humanos e materiais dentro dos critérios de segurança.

Formação contínua, baseada nas evidências relacionadas com a infertilidade.

Apresentação de estudos de caso para partilhar com a equipa, treinar competências e

contribuir para a melhoria contínua da qualidade de cuidados.

Colaboração na gestão da “consulta a tempo e hora”.

Avaliação

Avaliar a satisfação dos clientes.

Avaliar ganhos em conhecimento sobre estilos de vida saudáveis.

Avaliar ganhos em conhecimento sobre administração de medicação para o

tratamento de infertilidade.

Avaliar ganhos em conhecimento sobre execução do plano terapêutico.

Avaliar ganhos em alívio do stress.

Considerações gerais

O desenvolvimento deste programa permite melhoria na qualidade dos cuidados de

enfermagem, através de ganhos em conhecimento e satisfação dos utentes, assim

como competências para lidar com os problemas de saúde que os afecta e motivação

para a equipa envolvida.

Após a avaliação, será certamente importante redimensionar este programa,

englobando aspectos identificados como menos conseguidos e, eventualmente,

acrescentar os cuidados pré-concepcionais a adolescentes, salientando o acolhimento,

acompanhamento, informação, ensino e educação para a saúde, essencialmente na

vertente da sexualidade.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

88

CONCLUSÃO

Todo o percurso para a realização desta dissertação foi um desafio constante, com

oportunidades de descoberta e incentivo para ultrapassar as dificuldades.

Na conclusão deste estudo, não podemos deixar de ter em conta algumas limitações da

investigação realizada, impondo-nos alguma prudência na discussão dos resultados.

Entre essas limitações, encontra-se a restrição da amostra a partir de um único serviço,

a não existência de um logaritmo que avalie o casal conjuntamente e a não existência

de dados normativos, em função do IPF (inventário de problemas de fertilidade), na

versão portuguesa, adaptado para a população portuguesa, a qual pudéssemos utilizar

para comparação.

Relativamente à caracterização sócio-demográfica, o estudo envolveu 50 casais que

frequentaram a consulta de esterilidade da Maternidade Bissaya Barreto. A idade dos

homens está compreendida entre os 24 e 48 anos, e a das mulheres, entre os 25 e 45

anos.

A maioria dos casais é de nacionalidade portuguesa. Quanto ao estado civil, a maioria

são casados ou em união de facto. É maioritária a percentagem dos que possuem

Bacharelato/Licenciatura (no grupo masculino 30% e feminino 50%), seguido do 11º/12º

ano (26%). Verifica-se que há uma percentagem de 2%, no grupo masculino, e de 4%,

no grupo feminino, com grau de mestre/doutor.

No que diz respeito à profissão, 34% dos homens pertencem ao grupo dos

trabalhadores qualificados da indústria, construção e artífices, 30% ao grupo dos

técnicos e profissões de nível intermédio. Técnicos e profissões de nível intermédio,

16% do pessoal administrativo. São provenientes do meio urbano 58%. Vivem com os

pais ou sogros 2%. No que respeita a terem ou não filhos, 12% têm filhos, 88% não

têm filhos.

Em relação ao rendimento mensal em euros, 54% das mulheres e 44% dos homens

usufruem um rendimento mensal compreendido entre 500 a 1500 euros.

A percentagem no grupo dos homens e das mulheres, com um rendimento

compreendido entre 1500 e 2500, é igual 30%. Com rendimento mensal superior a 2500

euros, salienta-se o grupo dos homens com 12%, enquanto no grupo das mulheres é

apenas de 6%. Com rendimento inferior a 500 euros temos 12% no grupo masculino e

10% no grupo feminino.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

89

Relativamente à decisão para frequentarem a consulta de esterilidade da Maternidade

Bissaya Barreto, 56% fizeram-no por iniciativa própria. No que respeita à confissão

religiosa, tanto no grupo dos homens como das mulheres, predomina a religião católica,

com 90% e 96% respectivamente.

O tempo de duração de infertilidade, ou seja, o tempo em que tenta engravidar, oscila

entre 1 e os 10 anos.

No que respeita ao IMC no grupo dos homens, predomina o excesso de peso com 56%.

Nas mulheres, a maioria, 52%, tem peso normal.

Na amostra deste estudo, constatamos que 50% dos indivíduos não tinham contacto

com nenhum agente e 50% tinham contacto com um ou mais agentes. Há um grupo

bastante significativo, 50%, exposto a agentes adversos.

A maioria, 90% das mulheres não fuma e as que fumam consomem em pequena

quantidade. Os homens (34%) fumam uma média de 12,35 cigarros diários.

No que respeita ao consumo de álcool, concluímos que a maioria - 60% dos homens e

90% das mulheres - não consome bebidas alcoólicas. Os homens (20%) consomem

semanalmente 10 a 20 gr e diariamente outros 20%. As mulheres (6%) consomem

mensalmente 10 a 20 gr, o que traduz hábitos culturais e sociais do povo português. A

maioria do grupo, está longe dos máximos de ingestão, mas 20% dos homens excedem

os limites preconizados pela Direcção-Geral da Saúde (2008). Grande percentagem dos

inquiridos não consome medicamentos e os que consomem são medicamentos que não

interferem com a fertilidade.

A maioria do grupo também não tem prática de actividade física. Dentro dos que

praticam, são os homens que se evidenciam.

Em relação à actividade sexual, evidenciamos que 2% não têm actividade sexual. Dos

98% que têm actividade sexual, as mulheres referem que a têm com intervalos maiores

em relação aos homens. Tal facto pode sugerir sentimentos de virilidade e culturais, por

parte do homem, e de diminuição de auto-estima sexual, por parte das mulheres.

Os resultados da caracterização das variáveis do estilo de vida associadas à

infertilidade, no contexto da nossa amostra, sugerem que a maioria tem estilos de vida

saudáveis e são inférteis. Esta evidência enquadra-se no grupo dos casos em que não

há uma relação directa infertilidade/estilo de vida. A Direcção Geral de Saúde (2010)

refere que a prevalência dos casos de infertilidade sugerida pelos dados disponíveis

pode estar relacionada com as consequências de estilos de vida de risco, como é o

caso, entre outros, da alimentação desequilibrada e conducente à obesidade, do

tabagismo, consumo de álcool, da exposição e contacto com agentes químicos ou

outros.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

90

O stress associado ao problema de fertilidade, no grupo das mulheres, tem um nível

médio de 3,20, numa escala de 1 a 6. No grupo dos homens, tem um nível médio de

3,10, também numa escala de 1 a 6. Salientamos um nível mais elevado nas dimensões

“necessidade da parentalidade” e “rejeição do estilo de vida sem filhos.”

Os resultados evidenciam que o nível de stress está correlacionado com a idade dos

homens e das mulheres. Especificamente, a correlação é negativa em todas as

dimensões, tanto nos homens como nas mulheres. Não é estatisticamente significativa

para os homens, em nenhuma das dimensões. Para as mulheres, é estatisticamente

significativa para as dimensões “preocupação sexual” (p=0,00) e “stress global”

(p=0,03).

Existe uma correlação positiva, quando o nível de stress associado ao problema de

fertilidade é correlacionado com o tempo de infertilidade dos homens, mas não é

estatisticamente significativo (p=0,05), excepto para a dimensão “necessidade da

parentalidade” (p=0,01); ou seja, a parentalidade percebida como objecto essencial à

vida e identificação com o papel parental. Quando o nível de stress associado ao

problema de fertilidade é correlacionado com o tempo de infertilidade das mulheres, os

resultados demonstram que a correlação também é positiva, excepto na dimensão

“preocupação com a relação”; ou seja, elas revelam menos dificuldade em falar sobre o

problema de fertilidade e compreender/aceitar as diferenças e preocupações, com o

impacto da infertilidade na relação conjugal. A correlação é estatisticamente significativa

para a dimensão “stress global” (p=0,04) e “necessidade da parentalidade” (p=0,03); ou

seja, parentalidade percebida como objecto essencial à vida; identificação com o papel

parental e “preocupação social” (p=0,01); isto é, sensibilidade perante comentários

acerca da infertilidade, sentimentos de isolamento social, alienação da família e amigos.

De uma forma geral, a correlação é positiva. Mais tempo de infertilidade maior o nível de

stress.

Os resultados obtidos através do teste de Mann-Whitney U comprovam que o nível de

stress não é estatisticamente significativo tanto para homens como para mulheres, em

nenhuma das dimensões, conforme a frequência das relações sexuais.

Os resultados obtidos pelo teste Kruskal-Wallis não corroboram a hipótese “o nível de

stress associado ao problema de fertilidade é diferente consoante o índice de massa

corporal, tanto nos homens como nas mulheres”, sendo p=0,47 e p=0,20,

respectivamente.

“O nível de stress, associado ao problema de fertilidade, não é diferente nos homens e

nas mulheres, conforme têm contacto com diferente número de agentes de risco

ocupacional”, sendo p=0,93 e p=0,64, respectivamente.

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

91

Considerando o quarto objectivo: “Verificar se existe diferença entre o nível de stress

apresentado pelos homens e pelas mulheres que frequentam a consulta de esterilidade

na MBB”, concluímos que não existe diferença estatisticamente significativa (p=0,20),

quando se relaciona o stress associado ao problema de fertilidade com o sexo, excepto

para a dimensão “necessidade da parentalidade” (p=0.04).

Em relação à questão, de resposta aberta, “comentários/observação ou dúvida

evidenciamos:

Muito tempo de espera pela consulta, estar em contacto com grávidas, falta de um

espaço para atendimento dos casais, disponibilidade dos profissionais para informar,

disponibilidade dos serviços para a realização de exames e disponibilidade da linha

telefónica directa.

Consideramos que o estudo do stress associado ao problema de fertilidade é actual e

bastante pertinente, tanto para os casais inférteis como para os profissionais de saúde

que os acompanham. O conhecimento e compreensão sobre o stress, associado à

natureza do fenómeno da infertilidade, dá a possibilidade de melhorar a articulação e

organização dos serviços, contribuindo, assim, para a melhoria da qualidade dos

cuidados.

Evidenciamos que a intervenção de enfermagem é necessária, no que respeita a

aquisição de ganhos em conhecimento sobre hábitos alimentares, prática do exercício

físico, processo de cuidados durante a infertilidade, risco ocupacional e seus efeitos na

fertilidade e, ainda, sobre preocupação social, necessidade da parentalidade e rejeição

do estilo de vida sem filhos.

A prevenção da infertilidade é bastante abrangente, por isso, torna-se necessário

proporcionar a acessibilidade e a implementação dos cuidados pré-concepcionais a

nível dos cuidados de saúde primários e hospitalares de 1ª e 2ª linha. Consideramos

importante que a prevenção dos factores de risco, concretamente o nível de stress e as

suas repercussões no organismo, associado ao problema de fertilidade, deve resultar da

intervenção de enfermagem junto dos casais, com vista a obterem conhecimento capaz

de os ajudar na gestão do seu projecto de saúde.

Ao concluirmos este trabalho, temos consciência que existem limitações, pois algumas

questões importantes continuam ainda sem resposta. Neste sentido, apontamos

algumas sugestões para investigações futuras que envolvam esta problemática, das

quais destacamos:

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Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

92

• Estudos comparativos que envolvam casais que sofram e casais que não sofram

de infertilidade em vários locais de cuidados hospitalares, podendo ter uma

amostra mais representativa da população portuguesa.

• A utilização de outros instrumentos de medida mais abrangentes, os vários

factores de risco associados à infertilidade, assim como o nível de stress e o

tempo que demora a engravidar.

• Avaliar o nível de stress associado ao problema de fertilidade nos casais que

frequentam a consulta de esterilidade da MBB, resultante da intervenção de

enfermagem.

Gostaríamos também de destacar a grande satisfação que foi para nós a realização

deste trabalho, pela aprendizagem a nível de concepção metodológica e utilidade da

investigação em enfermagem; o mesmo se diga quanto à sustentabilidade das

competências de liderança, mas, particularmente, pela possibilidade de no futuro poder

contribuir para uma melhoria da qualidade dos cuidados ao nível da saúde dos casais

que sofrem de infertilidade e na diminuição do stress e das taxas de infertilidade a nível

do país.

Page 89: CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM DE GESTÃO DE …

Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem 2012

93

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ANEXOS

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ANEXO I

Instrumento de recolha de dados

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Ex (a). Sr.(a); Sr.

Em Portugal cerca de 10% dos casais sofrem de infertilidade. Os investigadores referem que a

infertilidade e o stress podem estar intimamente ligados e que a redução ou o controlo do stress,

pode ser uma ajuda para alguns casais inférteis.

O estudo intitulado “Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de enfermagem”

insere-se no Curso de Mestrado em Enfermagem: Área de Especialização Gestão de Unidades de

Cuidados. Com este questionário pretende-se obter dados acerca do que os casais pensam/sentem

sobre os problemas relacionados com a infertilidade, tendo como finalidade ajudar a promover a

diminuição do stress nos casais que frequentam a consulta de esterilidade na Maternidade Bissaya

Barreto e a melhorar a qualidade na gestão de cuidados e na prática profissional dos enfermeiros. O

seu preenchimento é individual e efectuado por cada um dos membros dos casais que frequentam a

consulta de esterilidade. Não existem respostas erradas, porque o importante é a sua opinião.

Não escreva o seu nome, uma vez que as respostas são anónimas e rigorosamente confidenciais.

Solicitamos a sua compreensão e agradecemos a sua colaboração.

Ascensão Baia

Enfermeira chefe

Maternidade Bissaya Barreto

Nota: De modo a assegurar a confidencialidade e anonimato, entregue o seu questionário

preenchido dentro do envelope fechado. Obrigada

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ANEXO II

Pedido de autorização à autora da escala do inventário de problemas de fertilidade

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ANEXO III

Pedido de autorização ao Centro Hospitalar de Coimbra, E.P.E

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Exmo. Senhor Presidente

do Conselho de Administração

do Centro Hospitalar de Coimbra, E.P.E.

Assunto: PEDIDO DE AUTORIZAÇÃO PARA EFECTUAR RECOLHA DE DADOS

Ascensão Mendes Nora Varela Baía, enfermeira chefe, a exercer funções na Consulta

Externa da Maternidade Bissaya Barreto do Centro Hospitalar de Coimbra, E.P.E., e a

frequentar o Curso de Mestrado em Enfermagem: Área de Especialização Gestão de

Unidades de Cuidados, tendo como orientador académico a Professora Doutora Manuela

Frederico, vem por este meio solicitar a V.Exª que se digne a autorizar a realização da

recolha de dados por questionário aos casais que frequentam a consulta de esterilidade, na

consulta externa da Maternidade Bissaya Barreto do Centro Hospitalar de Coimbra, E.P.E.

O tema deste estudo é: Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção de

enfermagem. Pretendemos avaliar o nível de stress e problemas relacionados com a

fertilidade. Comprometemo-nos a cumprir o código de ética que preside aos trabalhos de

investigação. Garantimos que este estudo não envolve custos adicionais para a instituição.

Prevemos efectuar a recolha de dados no mês de Setembro/Dezembro de 2011 e terminar

o estudo no mês de Abril de 2012. Comprometemo-nos a enviar um exemplar do trabalho,

após a sua discussão, em ficheiro pdf, ao Serviço de Gestão da Formação e

Documentação. Estamos disponíveis para prestar informações adicionais, através do e-mail

[email protected] ou do telefone 968468041. Enviamos em anexo:

- Documento da instituição de ensino comprovativo da frequência do mestrado

- Documento comprovativo da responsabilidade do orientador académico

- Desenho do Projecto

- Consentimento informado

- Instrumento de colheita de dados

- Curriculum resumido

Sem mais outro assunto de momento e muito grata pela disponibilidade e atenção.

Os meus cumprimentos

Coimbra, Maio de 2011

Ascensão Mendes Nora Varela Baía

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ANEXO IV

Autorização para a realização do estudo

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ANEXO V

Autorização para aplicação do Inventário de Problemas de Fertilidade

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ANEXO VI

Consentimento informado

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CONSENTIMENTO INFORMADO

Eu__________________________________________________concordo em

participar no estudo intitulado: Stress associado ao problema de fertilidade: Intervenção

de enfermagem.

Fui informado/a e esclarecido/a sobre a finalidade dos dados que irei fornecer, através do

preenchimento de um questionário que será anónimo e confidencial.

Compreendo que tenho o direito de colocar agora ou durante o desenvolvimento do estudo,

qualquer questão acerca do mesmo.

Aceito e permito que os resultados do estudo possam ser publicados ou apresentados pelo

investigador para fins académicos e compreendo que sou livre de desistir do

preenchimento do questionário ou de não o entregar.

Assinatura do participante____________________________________

Assinatura do investigador____________________________________

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Data:______/_____/____