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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI APOSTILA HISTÓRIA DO BRASIL

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CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU

NÚCLEO DE PÓS-GRADUAÇÃO E EXTENSÃO - FAVENI

APOSTILA

HISTÓRIA DO BRASIL

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ESPÍRITO SANTO

A CHEGADA DOS EUROPEUS AO CONTINENTE QUE HOJE

CHAMAMOS DE AMÉRICA

A região da cidade de Jerusalém, na Palestina, onde atualmente fica o Estado de

Israel é sagrada para os fiéis das três mais importantes religiões (ditas) monoteístas do

mundo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Desde épocas muito remotas, judeus,

cristãos e muçulmanos fazem peregrinações a Jerusalém para venerar os Lugares Santos

de suas respectivas fés.

Na Idade Média – e ainda hoje, em certa medida – os cristãos em geral acreditavam

que os lugares onde os santos viveram, os objetos por eles usados e o que restava de seus

corpos (as chamadas “Relíquias”) possuíam poderes milagrosos, como a cura de enfermos

e a salvação para os pecadores. Havia vários lugares de veneração espalhadas por todo o

mundo cristão, mas a Terra Santa, onde Jesus viveu, pregou e foi supliciado, era

considerado o mais sagrado de todos.

Para os judeus, Jerusalém é a principal cidade de sua antiga pátria e ali se encontram

vários locais sagrados, principalmente o “Muro das Lamentações”, ruínas do Templo de

Salomão destruído pelos romanos no primeiro século de nossa era. Para os cristãos, é

reverenciada por ter sido o local no qual Jesus de Nazaré viveu durante os três últimos anos

de sua vida, pregou, fez discípulos e foi crucificado. Para os muçulmanos, Jerusalém é uma

Cidade Santa porque foi dali, da “Cúpula do Rochedo”, situada no coração de Jerusalém –

reza a Tradição que ainda é possível ver a marca do casco do cavalo alado que o levou –

que Maomé subiu ao céu.

Apesar da grande distância da Europa Ocidental, muitos peregrinos faziam uma longa

e arriscada jornada para chegar a Jerusalém. Alguns iam primeiro para Roma e, em seguida,

partiam de algum porto italiano para Constantinopla, capital do Império Romano do Oriente

ou Império Bizantino e, de lá, para a Palestina. As pessoas mais pobres percorriam todo o

trajeto a pé.

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Os Europeus dependiam visceralmente das especiarias encontradas nas Índias

(nome dado vagamente a toda a região sudeste do continente asiático). Em particular nos

períodos mais quentes do ano as especiarias ou temperos (cravo, canela, noz moscada,

pimenta...) eram fundamentais para a conservação e aprimoramento do sabor dos alimentos.

A mesma rota usada pelos Peregrinos era também a rota dos mercadores (hoje

eufemisticamente conhecidos como comerciantes) que iam da Palestina às Índias por terra

e lá, trocavam produtos europeus pelas especiarias. Não raro, simplesmente saqueavam

vilarejos hindus de suas riquezas e as vendiam na Europa com lucro de 100%, independente

da desgraça causada no local do saqueio.

Após longo período de cerco, em 1453 as poderosas muralhas de Constantinopla

caíram sob o poder dos canhões de Maomé III. A “Queda de Constantinopla” e sua ocupação

pelos turcos otomanos (muçulmanos) marca o fim do Império Romano do Oriente. Muitos

sábios migraram de Constantinopla para Roma, Veneza e Gênova, na península Itálica e

ajudaram, com seus aportes, a incrementar o Renascimento Europeu.

Com as rotas terrestres para as Índias completamente bloqueadas pois os inimigos

mortais dos Europeus Ocidentais ocupavam toda a Palestina e até Constantinopla (hoje

Istambul, na atual Turquia), além disso as disputas entre Católicos e Protestantes no

Segundo Cisma do Cristianismo tornava a Europa Central uma área consideravelmente

perigosa para os mercadores católicos da Península Ibérica. Era necessário encontrar um

"Caminho Marítimo" para "as Índias".

As viagens navais daqueles tempos podem ser comparadas – grosso modo – às

viagens espaciais da era moderna. Inicialmente, somente Portugueses e Espanhóis

dispunham dos conhecimentos técnicos necessários à construção de grandes embarcações

e, com o auxílio de instrumentos aprendidos com os muçulmanos (como o astrolábio, por

exemplo, instrumento fundamental ao fiel muçulmano para localizar a direção da cidade de

Meca para suas preces diárias mesmo em dias nublados ou durante a noite) podiam navegar

e orientar-se pelas estrelas, mesmo à noite.

Após a Unificação do Reino de Espanha com o casamento de Fernando de Aragão

com Isabel de Castela que possibilitou a união de forças necessárias à retomada de

Granada, ao sul da Espanha (os muçulmanos ocuparam toda a Península Ibérica por cerca

de 700 anos, daí muito de sua influência aparece na cultura daqueles povos e dos latino-

americanos, nós, que descendemos deles) um navegador genovês (nascido em Gênova, na

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Península Itálica) chamado Cristóvão Colombo conseguiu os recursos necessários a

subvencionar sua ambiciosa viagem de circunavegação – dar uma volta à Terra, que, já se

sabia, era redonda – e chegar “ao Levante, viajando na direção do Sol Poente”. Só não

contava mesmo encontrar um continente inteiro no meio do caminho - sorte dele, aliás, que

não contava com suprimentos, equipamentos e tripulação suficientemente motivada e

crédula para chegar tão longe quanto a China, na hipótese de o Continente que hoje

chamamos de América não existisse...

Fonte: http://www.amorlegal.com/luizcalegari.com/index.php/geografia-oitavo-ano/8-ano-geografia-1-semestre/196-o-meio-natural-ap-1-

o-contexto-do-senhor-dos-ventos.html

No entretempo os Portugueses chegavam às Índias circunavegando o Continente

Africano em viagens, para a época, cheias de perigos e aventuras.

Após muitos contratempos Colombo chega às ilhas do Caribe e imagina haver

chegado às ilhas de “Cipango” – nome pelo qual o Japão era conhecido – e, como Marco

Polo 300 anos antes, embora viajando na direção contrária, chegar até o “Império Katai” –

como era conhecida a China. Índios do Caribe faziam referência a um "Grande Reino" no

Continente (referiam-se à Confederação Azteca) que Colombo interpretou como sendo o

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famoso "Império Catai" encontrado por Marco Polo 250 anos antes. Toma posse de todas

as terras encontradas em nome dos reis Cristãos de Aragão e Castela – independentemente

de serem terras habitadas por outros seres humanos, que receberam o nome de “índios”

pois que se imaginava estar chegando às Índias. Colombo morreu acreditando haver

descoberto uma rota marítima para as Índias, navegando em linha reta na direção do Sol

Poente. Naquela época, era totalmente desconhecida a existência de um Continente inteiro

e habitado por milhares de Nações de Seres Humanos diferentes no caminho entre a Europa

e a Ásia. Este continente recebeu o nome de “América” pois foi o florentino (nascido em

Florença, na Península Itálica) Américo Vespúcio, que navegou, estudando todo o litoral

destas terras recém encontradas, o descobridor de que se tratava de um “Mundo Novo” –

Mundus Novus é o título do Trabalho em que registra oficialmente, pela primeira vez na

história do Ocidente, que havia um continente inteiro entre a Europa e a Ásia, continente

que, como se disse, em sua homenagem leva o nome de “América”.

ETNOCENTRISMO E O ABANDONO SALUTAR DO BRASIL

ENTRE 1500 E 1530

O interesse pelo Oriente – a armada de Pedro Álvares Cabral, em verdade, dirigia-se

às “Índias” mas, seja acaso, tormentas, calmarias ou por propósito (o mais provável) chegou

ao Brasil em 1500. Apesar de ter tomado posse da terra em nome do rei de Portugal, o

principal interesse da monarquia, enfatize-se estava voltado para o Oriente, onde estavam

as tão cobiçadas especiarias.

O “Achamento”

A Carta de Pero Vaz de Caminha fala em “achamento” destas terras, não fala em

“descobrimento” ou “casualidade”. Tudo indica que, realmente, procuravam alguma terra, e

a acabaram “achando”... O relato abaixo permite-nos uma ideia de como aconteceu este

“achamento” segundo relatos de marujos da esquadra cabralina.

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Na terça-feira à tarde, foram os grandes emaranhados de “ervas compridas a que os

mareantes dão o nome de rabo-de-asno”. Surgiram flutuando ao lado das naus e sumiram

no horizonte. Na quarta-feira pela manhã, o vôo dos fura-buchos – uma espécie de gaivota

– rompeu o silêncio dos mares e dos céus, reafirmando a certeza de que a terra se

encontrava próxima. Ao entardecer, silhuetados contra o fulgor do crepúsculo, delinearam-

se os contornos arredondados de “um grande monte”, cercado por terras planas, vestidas

de um arvoredo denso e majestoso.

Era 22 de abril ale 1500. Depois de 44 dias de viagem, a frota de Pedro Álvares Cabral

vislumbrava terra – mais com alívio e prazer do que com surpresa ou espanto. Nos nove

dias seguintes, nas enseadas generosas rio sul da Bahia, os 13 navios da maior amada já

enviada às índias pela rota descoberta por Vasco da Gama permaneceriam reconhecendo

a nova terra e seus habitantes.

O primeiro contato, amistoso como os demais, deu-se já no dia seguinte, quinta-feira,

23 de abril. O capitão Nicolau Coelho, veterano das Índias e companheiro de Gama, foi a

terra, em um batel, e deparou com 18 homens “pardos, nus, com arcos e setas nas mãos”.

Coelho deu-lhes um gorro vermelho, uma carapuça de linho e um sombreiro preto. Em troca,

recebeu um cocar de plumas e um colar de contas brancas. O Brasil, batizado Ilha de Vera

Cruz, entrava, naquele instante, no curso da História.

O descobrimento oficial do país está registrado com minúcia. Poucas são as nações

que possuem uma “certidão de nascimento” tão precisa e fluente quanto a carta que Pero

Vaz de Caminha enviou ao rei de Portugal, dom Manuel, relatando o “achamento” da nova

terra. Ainda assim, uma dúvida paira sobre o amplo desvio de rota que conduziu a armada

de Cabral muito mais para oeste do que o necessário para chegar à Índia. Teria sido o

descobrimento do Brasil um mero acaso?

É provável que a questão jamais venha a ser esclarecida. No entanto, a assinaturas

do Tratado de Tordesilhas, que, seis anos antes, dera si Portugal a posse das terras que

ficassem a 370 léguas (em torno de 2.000 quilômetros) a oeste de Cabo Verde explique a

naturalidade com que a nova terra foi avistada, o conhecimento preciso das correntes e das

rotas, as condições climáticas durante a viagem e a alta probabilidade de que o país já

tivesse sido avistado anteriormente parecem ser a garantia de que o desembarque, naquela

manhã de abril de 1500, foi mera formalidade: Cabral poderia estar apenas tomando posse

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de uma terra que os portugueses já conheciam, embora superficialmente. Uma terra pela

qual ainda demorariam cerca de meio século para se interessarem de fato.

Etnocentrismo

Todas as culturas e civilizações humanas partilham algumas coisas em comum; por

exemplo, tanto Esquimós, quanto Bosquímanos, Tupinambás, Astecas, Zulus, Mongóis,

Japoneses e Europeus consideram a própria cultura ou civilização superior a todas as

demais. Para os Ibéricos (Portugueses e Espanhóis) cristãos, com seu elã vital de "propagar

o cristianismo católico" iam além e consideravam sua cultura ou civilização "a única válida"

a exemplo dos estadunidenses hoje em dia, no século XXI.

Aquela visão tacanha não permitiu ver a tremenda diversidade cultural entre as mais

distintas civilizações e povos diferentes que aqui viviam: Tupinambás, Carijós, Tupiniquins,

Ianomamis, Guaranis... Todos eram "índios sem cultura, sem rei nem lei" e tinham de receber

a cultura e a religião ibéricas - a alternativa era a morte ("Ficar entre a cruz e a espada" tem

precisamente este significado, por sinal).

Apenas a título de ilustração ou curiosidade, todas as civilizações humanas têm a sua

própria forma fazer sacrifícios humanos. Hoje em dia, nos EUA, a moda é julgar formalmente

e, o considerado "culpado" de algo como "crime hediondo" é sacrificado através do uso da

Cadeira Elétrica, da Forca ou da Injeção Letal. Na Península Ibérica ao tempo da conquista

colonial do Brasil eram também muito comuns os sacrifícios humanos. A Sagrada

Congregação para a Doutrina da Fé, nome eufemístico da Santa Inquisição, julgava -

aplicando violentos métodos de tortura física e psicológica, extraindo confissões as mais

diversas - e, ao término dos trabalhos, "abandonava ao braço secular" o corpo da vítima a

ser sacrificada indicando como deveria ser. Um método muito popular de Sacrifício Humano

na Península Ibérica ao tempo da conquista colonial era a fogueira. A vítima era queimada

numa fogueira, em geral ainda em vida (como ocorreu com Giordano Bruno, por exemplo);

em alguns casos eram garroteados - mortos por enforcamento através de um garrote em

torno da garganta - e, a seguir, incinerados para delírio da plateia. Também no continente

que hoje chamamos América, nos tempos da conquista colonial, se praticava o sacrifício

humano: inimigos derrotados eram mortos e sua carne, devorada pelos vencedores - um

ritual nem tão raro nem tão comum quanto os Sacrifícios Humanos perpetrados na Europa

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cristã, naturalmente. Mas uns não consideravam aos outros como praticando esse tipo de

coisa...

Agora, imagine que você desse de presente para um grupo de índios da Amazônia

(onde não há eletricidade, água encanada, saneamento básico ou mesmo respeito por parte

da FUNAI - Funerária Nacional de Índios) um computador de último tipo, capaz de pegar o

sinal da Internet por satélite e funcionar a bateria. Diante de tal peça, os Ianomami,

respeitosos, o enfeitariam com penas, colocariam outros adereços comuns e deixariam o

computador em exibição, todo enfeitado, a quem desejasse olhar. Estranho? E nós que

pegamos seus instrumentos de trabalho - como arco-e-flexa, por exemplo - e penduramos

como enfeite em nossas paredes? Qual a grande diferença?

Enfim, em última instância, no mundo humano e sendo o ser humano como é, vence

sempre quem dispõe de maior poderio bélico, não aquele povo que manifesta um tipo

superior de moralidade. Assim, hoje já não há quase nada de cultura nativa neste país. Os

"índios" foram convertidos ou assassinados.

Os Tupiniquins

Ao longo dos dez dias que passou no Brasil, a armada de Cabral tomou contato com

cerca de 500 nativos.

Eram, se saberia depois, tupiniquins – uma das tribos do grupo tupi-guarani que, no

início do século 16, ocupava quase todo o litoral do Brasil. Os tupis-guaranis tinham chegado

à região numa série de migrações de fundo religioso (em busca da “Terra sem Males”, no

começo da Era Cristã). Os tupiniquins viriam no sul da Bahia e nas cercanias de Santos e

Bertioga, em São Paulo. Eram uns 85 mil. Por volta de 1530, uniram-se aos portugueses na

guerra contra os tupinambás-tamoios, aliados dos franceses. Foi uma aliança inútil: em 1570

já estavam praticamente extintos, massacrados por Mem de Sá, terceiro governador-geral

do Brasil.

O "ABANDONO SALUTAR" DE 1500 A 1530 COM POUCAS

VIAGENS EXPLORATÓRIAS

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Fonte: http://www.colegioweb.com.br/primordios-da-colonizacao-portuguesa/as-primeiras-expedicoes.html

Primeiras Expedições

O Brasil, ao contrário do Oriente, não possuía, em princípio, nenhum atrativo do ponto

de vista comercial. Ao longo do período pré-colonial foram, entretanto, enviadas várias

expedições a nosso pais.

Primeiras expedições – Entre 1501 e 1502, Portugal enviou a primeira expedição com

a finalidade de explorar e reconhecer o litoral brasileiro. Essa expedição, da qual se

desconhece o nome do comandante, foi responsável pelo batismo de inúmeros lugares:

cabo de S. Tomé, cabo Frio, São Vicente, etc. Com certeza, nessa expedição viajou o

florentino Américo Vespúcio, que, posteriormente, em carta ao governante de Florença,

Lourenço de Médici, irá declarar que não encontrou aqui nada de aproveitável. Apesar disso,

constata a existência do pau-brasil, madeira tintorial conhecida dos europeus desde a Idade

Média, que até então era importada do Oriente.

O pau-brasil – As primeiras atividades econômicas concentraram-se, pois, na

extração daquela madeira, segundo o regime de estanco, isto é, sua exploração estava sob-

regime de monopólio régio. Como era costume, o rei colocou em concorrência o contrato de

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sua exploração, que foi arrematada por um consórcio de mercadores de Lisboa chefiado

pelo cristão novo Fernão de Noronha, em 1502.

No ano seguinte (1503) Fernão de Noronha montou uma expedição pata a extração

do pau-brasil e fez o primeiro carregamento do produto.

No Brasil, foram estabelecidas então as feitorias, que eram lugares fortificados e

funcionavam, ao mesmo tempo, como depósito de madeira. O pau-brasil era explorado

através do escambo, no qual os indígenas forneciam a mão de obra para corte e transporte

da madeira em troca de objetos de pouco valor para os portugueses.

Brasil 1570. Padres solicitam às Autoridades portuguesas - a Metrópole do Brasil na

época - que enviem órfãs para se casar com os rudes trabalhadores que aqui moravam pois

estavam obcecados - como usualmente os padres sempre são - com a sexualidade dos

trabalhadores que, além de os afastar da missa, produzia uma indesejável quantidade de

mestiços e a prioridade então era o "branqueamento da pele".

O filme DESMUNDO revela de maneira realista o choque cultural entre meninas

profundamente religiosas e seus maridos, brutais, acostumados com a dureza do trabalho e

a lidar com o trabalho escravo. A maioria "amolece" a esposa como um domador de cavalos.

Algumas se suicidam tentando voltar - a nado - a Portugal, algumas enlouquecem. A maioria,

como desde sempre em terra brasilis, "se acomoda" à situação. Alain Fresnot explorou este

tema brilhantemente no filme "Desmundo".

O BRASIL NOS QUADROS DO SISTEMA COLONIAL

MERCANTILISTA

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Fonte: http://www.estudokids.com.br/mercantilismo-surgimento-e-principais-caracteristicas-do-sistema-mercantilista/

O sistema colonial é o conjunto de relações entre as metrópoles e suas respectivas

colônias em uma determinada época histórica. O sistema colonial que nos interessa

abrangeu o período entre o século XVI e o século XVII, ou seja, faz parte do Antigo Regime

da época moderna e é conhecido como antigo sistema colonial.

Segundo o seu modelo teórico típico, a colônia deveria ser um local de consumo

(mercado) para os produtos metropolitanos, de fornecimento de artigos para a metrópole e

de ocupação para os trabalhadores da metrópole. Em outras palavras, dentro da lógica do

“Sistema Colonial Mercantilista” tradicional, a colônia existia para desenvolver a metrópole,

principalmente através do acúmulo de riquezas, seja através do extrativismo ou de práticas

agrícolas mais ou menos sofisticadas. Uma Colônia de Exploração, como foi o caso do Brasil

para Portugal, tem basicamente três características, conhecidas pelo termo técnico de

“plantation”:

_ Latifúndio: as terras são distribuídas em grandes propriedades rurais

_ Monocultura voltada ao mercado exterior: há um “produto-rei” em torno do qual toda

a produção da colônia se concentra (no caso brasileiro, ora é o açúcar, ora a borracha, ora

o café...) para a exportação e enriquecimento da metrópole, em detrimento da produção para

o consumo ou o mercado interno.

_ Mão de obra escrava: o negro africano era trazido sobre o mar entre cadeias e,

além de ser mercadoria cara, era uma mercadoria que gerava riqueza com o seu trabalho.

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O sentido da colonização – A atividade colonizadora europeia aparece como

desdobramento da expansão puramente comercial. Passou-se da circulação

(comércio) para a produção, No caso português, esse movimento realizou-se através

da agricultura tropical. Os dois tipos de atividade, circulação e produção, coexistiram.

Isso significa que a economia colonial ficou atrelada ao comércio europeu. Segundo

Caio Prado Jr., o sentido da colonização era explícito: "fornecer produtos tropicais e

minerais para o mercado externo".

Assim, o antigo sistema colonial apareceu como elemento da expansão mercantil da

Europa, regulado pelos Interesses da burguesia comercial. A consequência lógica, segundo

Fernando A. Novais, foi à colônia transformar-se em instrumento de poder da metrópole, o

fio condutor, a prática mercantilista, visara essencialmente o poder do próprio Estado.

As razões da colonização – A centralização do poder foi condição para os países

saírem em busca de novos mercados, organizando-se, assim, as bases do

absolutismo e do capitalismo comercial. Com isso, surgiram rivalidades entre os

países. Portugal e Espanha ficaram ameaçados pelo crescimento de outras

potências. Acordos anteriores, como o Tratado de Tordesilhas (1494) entre Portugal

e a Espanha, começaram a ser questionados pelos países em expansão.

A descoberta de ouro e prata no México e no Peru funcionou como estímulo ao início

da colonização portuguesa. Outro fator que obrigou Portugal a investir na América foi a crise

do comércio indiano. A frágil burguesia lusitana dependia cada vez mais da distribuição dos

produtos orientais feita pelos comerciantes flamengos (Flandres), que impunham os preços

e acumulavam os lucros.

Capitanias hereditárias – Em 1532, quando se encontrava em São Vicente, Martim

Afonso recebeu uma carta do rei anunciando o povoamento do Brasil através da

criação das capitanias hereditárias. Esse sistema já havia sido utilizado com êxito nas

possessões portuguesas das ilhas do Atlântico (Madeira, Cabo Verde, São Tomé e

Açores).

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O Brasil foi dividido em 14 capitanias hereditárias, 15 lotes (São Vicente estava

dividida em 2 lotes) e 12 donatários (Pero Lopes de Sousa era donatário de 3 capitanias:

Itamaracá, Santo Amaro e Santana). Porém, a primeira doação ocorreu apenas em 1534.

Entre os donatários não figurava nenhum nome da alta nobreza ou do grande

comércio de Portugal, o que mostrava que a empresa não tinha suficiente atrativo

econômico. Somente a pequena nobreza, cuja fortuna se devia ao Oriente, aqui aportou,

arriscando seus recursos. Traziam nas mãos dois documentos reais: a carta de doação e os

forais. No primeiro o rei declarava a doação e tudo o que ela implicava. O segundo era uma

espécie de código tributário que estabelecia os impostos.

Nesses dois documentos o rei praticamente abria mão de sua soberania e conferia

aos donatários poderes amplíssimos. E tinha de ser assim, pois aos donatários cabia a

responsabilidade de povoar e desenvolver a terra à própria custa. O regime de capitanias

hereditárias desse modo, transferia para a iniciativa privada a tarefa de colonizar o Brasil.

Entretanto, devido ao tamanho da obrigação e à falta de recursos, a maioria fracassou. Sem

contar aqueles que preferiram não arriscar a sua fortuna e jamais chegaram a tomar posse

de sua capitania. No final, das catorze capitanias, apenas Pernambuco teve êxito, além do

sucesso temporário de São Vicente. Quanto às demais capitanias, malograram e alguns dos

donatários não só perderam seus bens como também a própria vida.

Estava claro que o povoamento e colonização através da iniciativa particular era

inviável. Não só devido à hostilidade dos índios, mas também pela distância em relação à

metrópole, e sobretudo, pelo elevado investimento requerido.

Governo geral (1549) – Em 1548, diante do fracasso das capitanias, a Coroa

portuguesa decidiu tomar medidas concretas para viabilizar a colonização. Naquele

ano foi criado o governo-geral com base num instrumento jurídico denominado

Regimento de 1548 ou Regimento de Tomé de Sousa. O objetivo da criação do

governo-geral era o de centralizar política e administrativamente a colônia, mas sem

abolir o regime das capitanias.

No regimento o rei declarava que o governo-geral tinha como função coordenar a

colonização fortalecendo as capitanias contra as ações adversas, destacando-se particular-

mente a luta contra os tupinambás.

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A compra da capitania da Bahia pelo rei, transformando-a numa capitania real é sede

do governo-geral foi o primeiro passo para a transformação sucessiva das demais capitanias

hereditárias em capitanias reais, Por fim, no século XVIII, durante o reinado de D. José I

(1750 - 1777) é do seu ministro marquês de Pombal, as capitanias hereditárias foram extintas

Com a criação do governo-geral, estabeleceram-se também cargos de assessoria:

ouvidor-mor (justiça), provedor-mor (fazenda) e capitão-mor (defesa). Cada um desses

cargos possuía, ademais, um regimento próprio e, no campo restrito de sua competência

era a autoridade máxima da colônia. Assim, com a criação do governo-geral, desfazia-se

juridicamente a supremacia do donatário.

Tomé de Sousa (1549-1553) – O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa. Com

ele vieram todos os funcionários necessários à administração e também os primeiros

jesuítas chefiados por Manuel da Nóbrega. Começava, então, a obra evangelizadora

dos indígenas e, em 1551, criava-se em Salvador o primeiro bispado no Brasil, sendo

o primeiro bispo D. Pero Fernandes Sardinha. Com o segundo governador viria ainda

outro contingente de jesuítas, entre eles, José de Anchieta .

Apesar de representar diretamente a Coroa, algumas capitanias relutaram em acatar

a autoridade do governador-geral tais como as de Porto Seguro, Espírito Santo, Ilhéus, São

Vicente e Pernambuco. Esta última, de Duarte Coelho, foi a que mais se ressentiu da

intromissão do governo-geral. Recusando a autoridade do governador-geral o donatário de

Pernambuco apelou para o rei, que o favoreceu reafirmando a sua autonomia.

Consolidação do governo-geral – Duarte da Costa (1553 – 1558), que viera em

substituição a Tomé de Sousa, enfrentou várias crises e sua estada no Brasil foi bastante

conturbada. Desentendeu-se com o bispo D. Pero Fernandes Sardinha e teve de enfrentar

os primeiros conflitos entre colonos e jesuítas acerca da escravidão indígena. Além disso,

foi durante o seu governo que a França começou a tentativa de implantação da França

Antártica no Rio de Janeiro.

Esses problemas foram solucionados pelo terceiro governador-geral, Mem de Sá

(1558-1512). Com ele, finalmente, se consolidou o governo-geral e os franceses foram

expulsos.

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Predomínio dos poderes locais – Todavia, apesar da tendência centralizadora do

governo-geral, a centralização jamais foi completa na colônia. Vários obstáculos

podem ser mencionados. O primeiro deles estava na própria característica

econômica da colônia. A sua economia era de exportação, voltada para o mercado

externo. O comércio entre as capitanias era praticamente nulo. Além disso, as vias

de comunicação inter-regionais eram inexistentes ou muito precárias.

Daí a predominância dos poderes locais representados pelos grandes proprietários.

Até meados do século XVII, as câmaras municipais eram ocupadas e dominadas por esses

grandes proprietários, que se autodenominavam "homens bons".

Evolução administrativa até 1580 – D. Luís Fernandes de Vasconcelos, nomeado

sucessor de Mem de Sá foi atacado por piratas franceses que impediram a sua chegada ao

Brasil.

Nessa época, a preocupação com a conquista do Norte fez com que o rei de Portugal,

D. Sebastião (1557 - 1578), dividisse, em 1572, o Brasil em dois governos. O norte ficou com

D. Luís de Brito e Almeida e o sul com Antônio Salema tendo como capitais,

respectivamente, a Bahia e o Rio de Janeiro

Em virtude do tamanho do Brasil, almejava-se com essa divisão maior eficiência

administrativa. Entretanto, como esse objetivo não fora alcançado, a administração foi

reunificada em 1578. O novo governador nomeado, Lourenço da Veiga, governou de 1578

a 1580. Nesta última data, Portugal foi anexado pela Espanha, dando origem à União Ibérica,

que perdurou de 1580 a 1640.

A crise do Antigo Regime – O declínio da mineração no Brasil coincide, no plano

internacional, com a crise do Antigo Regime. Fazendo um balanço de toda a

exploração colonial do Brasil, chegamos à melancólica conclusão de que Portugal

não foi o principal beneficiário da exploração colonial.

Os benefícios da colonização haviam se transferido para outros centros europeus em

ascensão: França e, em especial, Inglaterra. De fato, o século XVIII teve a Inglaterra como

centro da política internacional e pivô das mudanças estruturais que começavam a afetar

profundamente o Antigo Regime. Como nação vitoriosa na esfera econômica, a Inglaterra

estava prestes a desencadear a Revolução Industrial, convertendo-se na mais avançada

nação burguesa do planeta.

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A visível transformação econômica foi acompanhada, na segunda metade do século

XVIII, por uma ebulição no nível das ideias. Surgiu o Iluminismo e, com essa filosofia, uma

nova visão do homem e do mundo. Por trás de todo esse movimento, encontrava-se a

burguesia, comandando a crítica ao Antigo Regime e, portanto, à nobreza e ao absolutismo.

Mas os filósofos iluministas, como Voltaire e Diderot, seduziram os monarcas

absolutistas da Prússia, Áustria, Rússia, Portugal e Espanha. Sem abrir mão do absolutismo,

esses monarcas realizaram algumas das reformas recomendadas pelos iluministas, que

vieram reforçar o seu poder, uma vez que a modernização empreendida aliviou as tensões

sociais. Por se manterem absolutistas e optarem por reformas modernizadoras, aqueles

monarcas ficaram conhecidos como déspotas esclarecidos. Esse foi um fenômeno típico da

segunda metade do século XVIII.

D. José I (1750-1777) e seu ministro, o marquês de Pombal, foram os representantes

do despotismo esclarecido em Portugal.

REFORMAS POMBALINAS

Fonte:

https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwjsjIDExcbMAhVKgJAKHbJiDbUQjh

wIBQ&url=http%3A%2F%2Fnandica05cc.blogspot.com%2F2010%2F11%2Feducacao-brasileira-no-

periodo.html&psig=AFQjCNEl6BI2tns4nn7Qvr-eFECt9xQbPQ&ust=1462661672336173

As reformas pombalinas – No reinado de D. José I, o ministro Sebastião José de

Carvalho, marquês de Pombal, com sua forte personalidade, caracterizou o período,

denominado em virtude disso "pombalino”.

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O período pombalino coincidiu com a época da decadência da mineração, e todo o

esforço político do ministro de D. José I concentrou-se na tentativa de modernização do

reino. Mas essa modernização, como era típico dos déspotas esclarecidos, foi imposta de

cima para baixo.

Considerando as suas realizações em conjunto, conclui-se que a política de Pombal

tinha em vista, de um lado, o fortalecimento do Estado e, de outro, a autonomia econômica

de Portugal.

No primeiro caso, Pombal tratou de diminuir a influência da nobreza e sobretudo dos

jesuítas, os quais expulsou de Portugal e de todos os seus domínios em 1759.

Quanto à autonomia econômica, o seu objetivo era o de tirar o país da órbita inglesa, na qual

ingressara a partir de meados do século XVII.

Desde o fim da União Ibérica em 1640, o Brasil era a mais valiosa possessão

portuguesa. Com a descoberta e a exploração do ouro em Minas, o Brasil ocupou o lugar

indiscutível de retaguarda econômica da metrópole. Porém, no tempo de Pombal, a

mineração encontrava-se em franca decadência. A sua preocupação foi então a de

reorganizar a administração colonial, fortalecer os laços do exclusivo metropolitano, a fim de

garantir o máximo de transferência da riqueza brasileira para Portugal.

Em sua política colonial, Pombal tratou de centralizar a administração para maior

controle metropolitano. Nesse terreno, o ministro tomou duas medidas importantes. A

primeira foi a extinção do regime de capitanias hereditárias e, portanto, o fim do poder dos

donatários. A segunda foi a reunificação administrativa.

Com essa reunificação ficava abolida a antiga divisão administrativa estabelecida em

1621, quando então o Brasil ficou dividido em dois Estados: o Estado do Maranhão e o do

Brasil, cada qual com um governador próprio. O primeiro abrangia Pará, Maranhão e Ceará

e o segundo, os demais territórios ao sul. A capital do Estado do Maranhão era São Luís e

a do Estado do Brasil era a Bahia.

Pombal reunificou a administração, transferindo, ao mesmo tempo, a capital para o

Rio de Janeiro, em 1763, o que mostrou a sua preocupação em manter a cabeça

administrativa bem próxima da economia mineira.

Mas a sua política não estava concentrada apenas em Minas. Ela abrangia também

a economia açucareis do nordeste e a exploração das "drogas do sertão" da região

amazônica.

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Em relação a Minas, com a finalidade de assegurar os rendimentos da Coroa, Pombal

tomou a iniciativa de converter a exploração diamantífera em monopólio real, com o Regi-

mento da Real Extração e, em relação ao ouro, ele estabeleceu um regime de taxação que

combinava a Casa de Fundição e o sistema de fintas com cotas de 100 arrobas,

complementado pela derrama.

Para atuar no nordeste e na região amazônica, Pombal criou a Companhia Geral do

Comércio do Grão Pará e Maranhão (1755) e a Companhia Geral do Comércio de

Pernambuco e Paraíba (1759).

Assim, o quadro geral da administração colonial caracterizou-se, no final do século

XVIII, pela crescente racionalização da atividade econômica, tendo por objetivo a

transferência do máximo de riqueza do Brasil para Portugal. Paralelamente a essa

racionalização, aumentava também o grau de opressão colonial. Essa tendência continuou

com D. Maria I, que sucedeu a D. José I. No seu reinado, através do Alvará de 1785, proibiu-

se a atividade manufatureira no Brasil.

CONTESTAÇÕES AO SISTEMA COLONIAL

Fonte: https://www.youtube.com/watch?v=QgHFp8Mzq8c

Contradições do sistema colonial – O sistema colonial possuía dois eixos

contraditórios. De um lado, senhores e escravos; de outro, colônia e metrópole.

No Brasil, esse sistema ganhou a forma típica de escravismo colonial, e esse caráter

simultaneamente escravista e colonial não foi desfeito ao mesmo tempo. Primeiro, rompe-

ram-se os laços coloniais e, muito mais tarde, aboliu-se a escravidão.

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Alguns historiadores, em data mais recente, afirmaram que o escravismo, e não o

caráter colonial, vem a ser o traço definidor mais importante da sociedade. Por isso não dão

muita importância à independência do Brasil. Para eles, o fato decisivo é a abolição da

escravidão, em 1888. E um exagero: a superação da ordem colonial (o processo de

independência) foi um fenômeno de grande importância e não tem sentido minimizá-lo em

favor de outro, que foi a abolição da escravatura.

De fato, nas inúmeras rebeliões ocorridas antes da independência, raras foram as

que colocaram em xeque o escravismo. A maioria contestava diretamente o regime colonial

a que o Brasil estava submetido, e muitas pessoas arriscaram a própria vida para aboli-lo. E

isso tem a sua importância histórica. Ninguém estava lutando contra uma ficção, mas contra

algo muito real: a opressão e exploração coloniais.

No entanto, aqueles historiadores não deixam de ter razão. Se prestarmos atenção

apenas à luta pela emancipação, deixamos de lado as camadas populares e os escravos,

pois a obra emancipadora foi, no Brasil, produto das elites. Não se deve esquecer que os de

baixo estavam tão insatisfeitos com o regime colonial quanto com a dominação dos senhores

de escravos.

Tendo em vista, portanto, essa dupla contradição do sistema colonial, examinemos o

processo emancipacionista.

A primeira constatação importante é a de que o rompimento dos laços coloniais

decorreu do próprio funcionamento do sistema: para explorar a colônia é preciso, antes de

tudo, desenvolvê-la. Porém, à medida que a colônia se desenvolve, engendra interesses

próprios que passam a divergir dos da metrópole. Esse é o momento em que os próprios

colonos tomam consciência da exploração e de si próprios como colonos. Por isso mesmo,

serão os integrantes da camada dominante os primeiros a alcançarem de forma aguda essa

consciência e, em regra, serão eles os dirigentes desse movimento de emancipação.

Isso não impediu, todavia, que as contradições sociais internas da colônia se

aguçassem paralelamente à luta contra a metrópole, de modo que a ruptura dos laços

coloniais poderia ser acompanhada, ao menos como possibilidade, de uma convulsão social.

Examinando em conjunto o processo emancipacionista da América, verifica-se que,

em geral, a independência não se fez acompanhar de uma revolução social. A única exceção

foi o Haiti, colônia francesa que, em 1792, libertou-se da metrópole através de uma vasta

rebelião escrava, extinguindo, ao mesmo tempo, a escravidão. Nos demais países, a

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independência não alterou em nada a estrutura social, que, no caso brasileiro, era

escravista. Porém, isso não significa que a possibilidade de uma revolução social não esteve

presente, de modo quase permanente, nas revoltas anticolonialistas.

O sentido das rebeliões coloniais – As primeiras rebeliões anticolonialistas surgiram

nos fins do século XVII e início do seguinte e foram resultado direto da nova política

colonial adotada por Portugal depois da Restauração (1640). Nesse contexto, as

contradições entre metrópole e colônia se manifestaram de diversas maneiras: de um

lado, como protesto ao regime comercial monopolista, como na Revolta de Beckman

(1684), no Maranhão; de outro, como uma guerra entre senhores e escravos fugitivos,

como em Palmares (1694), em Alagoas; mas também como conflito entre senhores

de engenho e mercadores, como na Guerra dos Mascates (1709-1711), em

Pernambuco; e, enfim, como reação à opressão fiscal, exemplificada pela Revolta de

Vila Rica (1720), em Minas.

Todas essas rebeliões tiveram por base a contradição metrópole-colônia e, no caso

de Palmares, senhores escravos. Entretanto, cada rebelião possuía o seu caráter específico

e apresentou grande complexidade.

Porém, as rebeliões coloniais até o início do século XVIII não chegaram a propor

claramente a emancipação política como solução. Elas só terão esse caráter com a

Inconfidência Mineira (1789) e a Conjuração Baiana ou dos Alfaiates (1798).

As primeiras manifestações anticolonialistas. Nos primeiros tempos da colonização,

a contradição entre metrópole e colônia era latente e existia apenas em potencial. Na

realidade, a colônia era vista como um prolongamento da metrópole, e os interesses não

eram, de início, conflitantes. Na fase da montagem da economia colonial inexistia, na prática,

divergências entre colonos e o Estado metropolitano. Porém, à medida que o processo

colonizador avançou e se consolidou, os interesses tornaram-se conflitantes.

Ora, isso é perfeitamente compreensível, pois a metrópole não tem o que explorar se

a riqueza não for produzida. Uma vez produzida, a luta pela sua posse é desencadeada.

Na segunda metade do século XVII, com a Restauração (1640) e a expulsão dos

holandeses (1654), a divergência de interesses entre colônia e metrópole tornou-se

evidente. A opressão colonial começou a ser sentida com a criação das Companhias de

Comércio, às quais a metrópole concedeu monopólio do comércio colonial. A própria

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administração portuguesa ganhou um novo contorno com a criação do Conselho

Ultramarino.

Assim, à medida que o Estado português torna-se clara e conscientemente

colonialista, no Brasil desenvolve-se uma consciência anticolonialista.

Revolta de Beckman (1684) – Em meados do século XVII, o Maranhão estava com

problemas devido à dificuldade de escoar a sua produção e de obter gêneros

metropolitanos e, sobretudo, escravos.

A criação da Companhia do Comércio do Estado do Maranhão em 1682, que tinha

por objetivo precisamente resolver tais problemas, veio agravar ainda mais a situação. Em

princípio, essa companhia deveria não apenas adquirir a produção açucareis como também

fornecer gêneros metropolitanos e escravos. Porém, visto que a ela fora concedido o

monopólio tanto da venda de escravos e produtos metropolitanos, como da compra do

açúcar, os colonos ficaram sujeitos aos preços arbitrariamente estabelecidos pela

companhia, o que já era motivo de insatisfação. Essa insatisfação converteu-se em aberta

rebelião porque, além disso, a companhia não cumpriu o seu compromisso de abastecer

adequadamente o Maranhão com bens metropolitanos e escravos.

A revolta eclodiu em 1684 liderada por Manuel Beckman, um abastado senhor de

engenho. Os revoltosos propunham a abolição do monopólio da companhia e uma relação

comercial mais justa. Em sinal de protesto, o governo local foi deposto, os armazéns da

companhia saqueados e os jesuítas, velhos inimigos dos colonos por impedirem a

escravização do índio, foram expulsos.

Sob a direção de Manuel Beckman foi composto um governo provisório, e seu irmão,

Tomás Beckman, foi enviado a Lisboa para apresentar as reivindicações dos revoltosos.

Estas não foram atendidas e Tomás Beckman foi preso e recambiado para o Brasil, na frota

em que veio o novo governador, Gomes Freire de Andrade. Este desembarcou no

Maranhão, onde foi recebido com obediência, e, em seguida, reconduziu as autoridades

depostas. Manuel Beckman fugiu e quando planejava libertar o irmão do cárcere foi traído

por um afilhado. Beckman foi preso e executado.

Apesar do fracasso, esse foi o primeiro movimento anticolonial organizado, embora

não tivesse ocorrido aos dirigentes do movimento a independência da colônia em relação a

Portugal, ou seja, a condição colonial não foi questionada.

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Quilombo dos Palmares (1630-1694) – No Brasil, a exploração colonial resumia-se,

em última análise, na exploração do trabalho escravo pelo senhor. Devido ao caráter

colonial dessa exploração, é verdade que o próprio senhor não ficava com todo o

produto do trabalho escravo. Boa parte da riqueza ia para o Estado na forma de

impostos e, também, para os cofres dos comerciantes portugueses. Daí a razão da

revolta dos senhores contra o sistema colonial e as autoridades que o representavam.

Mas não apenas a camada dominante que se rebelava. Também os escravos

elaboraram meios de resistir contra o seu opressor imediato, isto é, o senhor.

A resistência dos escravos assumiu formas muito variadas: fuga, suicídio,

assassinato, passividade no trabalho, etc. Em qualquer uma dessas formas, o escravo

negava a sua condição e se contrapunha ao funcionamento do sistema como um todo.

A fuga, entretanto, foi a mais significativa forma de resistência e rebeldia. Não pela

fuga em si, mas pelas suas consequências: os fugitivos se reuniam e se organizavam em

núcleos fortificados no sertão, desafiando as autoridades coloniais. Observemos que, no

combate à rebeldia escrava, aliavam-se senhores e autoridades coloniais.

Esses núcleos eram formados por pequenas unidades, os mocambos (reunião de

casas), que, no conjunto, formavam os quilombos. Cada mocambo possuía um chefe, que,

por sua vez, obedecia ao chefe do quilombo, denominado zumbi. Os moradores dos

quilombos eram conhecidos como quilombolas. Eles se dedicavam ao trabalho agrícola e

chegavam a estabelecer relações comerciais com os povoados vizinhos.

Palmares foi o maior quilombo formado no Brasil. Localizava-se no estado atual de

Alagoas e deve o seu nome à grande quantidade de palmeiras existentes na região.

Sua origem situa-se no início do século XVII, mas foi a partir de 1630, quando a conquista

holandesa desorganizou os engenhos, que a fuga maciça de escravos tornou Palmares um

quilombo de grandes proporções. Em 1675, a sua população foi avaliada em 20 ou 30 mil

habitantes.

Com a expulsão dos holandeses em 1654 e a escassez de mão de obra aliada ao

fato de Palmares funcionar como polo de atração para outros escravos, estimulando a sua

fuga, as autoridades coloniais, apoiadas pelos senhores, decidiram pela sua destruição.

Várias expedições foram feitas contra ele, mas nenhuma delas teve sucesso. Foram

contratados então os serviços de um veterano bandeirante, Domingos Jorge Velho. Apoiado

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por abundante material bélico e homens, o bandeirante contratado conseguiu finalmente

destruir Palmares em 1694. Todavia, o chefe do quilombo, Zumbi, não foi capturado na

ocasião. Somente um ano depois foi encontrado e executado.

Guerra dos Mascates (1709-1711) – A Guerra dos Mascates ocorreu em Pernambuco

e, aparentemente, foi um conflito entre senhores de engenho de Olinda e

comerciantes do Recife. Estes últimos, denominados "mascates", eram, em sua

maioria, portugueses.

Antes da ocupação holandesa, Recife era um povoado sem maior expressão. O

principal núcleo urbano era Olinda, ao qual Recife encontrava-se subordinado.

Porém, depois da expulsão dos holandeses, Recife tornou-se um centro comercial, graças

ao seu porto excelente, e recebeu um grande afluxo de comerciantes portugueses.

Olinda era uma cidade tradicionalmente dominada pelos senhores de engenho. O

desenvolvimento de Recife, cidade controlada pelos comerciantes, testemunhava o

crescimento do comércio, cuja importância sobrepujou a atividade produtiva agroindustrial

açucareis, à qual se dedicavam os senhores de engenho olindenses.

O orgulho desses senhores havia sido abalado seriamente desde que a concorrência

antilhana havia colocado em crise a produção açucareis do nordeste. Mas ainda eram

poderosos, visto que controlavam a Câmara Municipal de Olinda.

À medida que Recife cresceu em importância, os mercadores começaram a

reivindicar a sua autonomia político-administrativa, procurando libertar-se de Olinda e da

autoridade de sua Câmara Municipal. A reivindicação dos recifenses foi parcialmente

atendida em 1703, com a conquista do direito de representação na Câmara de Olinda.

Entretanto, o forte controle exercido pelos senhores sobre a Câmara tornou esse direito, na

prática, letra morta.

A grande vitória dos recifenses ocorreu com a criação de sua Câmara Municipal em

1709, que libertava, definitivamente, os comerciantes da autoridade política olindense.

Inconformados, os senhores de engenho de Olinda, utilizando vários pretextos (a

demarcação dos limites entre os dois municípios, por exemplo), resolveram fazer uso da

força para sabotar as pretensões dos recifenses. Depois de muita luta, que contou com a

intervenção das autoridades coloniais, finalmente em 1711 o fato se consumou: Recife foi

equiparada a Olinda. Assim terminou a Guerra dos Mascates.

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Com a vitória dos comerciantes, essa guerra apenas reafirmava o predomínio do

capital mercantil (comércio) sobre a produção colonial. E isso já era fato, uma vez que os

senhores de engenho eram frequentemente devedores dos mascates. Portanto, a

equiparação política das duas cidades tinha fortes razões econômicas e obedecia à lógica

do sistema colonial.

A EXPANSÃO COLONIZADORA E A FIXAÇÃO DOS LIMITES

Fonte: https://rafatrotamundos.wordpress.com/2012/08/06/expansao-colonial-e-pensamento-geografico/

Tratados luso-espanhóis – Portugal e a Espanha, os pioneiros da expansão

ultramarina, a fim de garantir a possessão dos territórios descobertos recorreram à

autoridade do papa para legitimá-los. Assim, no Ocidente foi estabelecido inicialmente

a Bula Inter-Coetera (1493), um meridiano que passava a 100 léguas a oeste de Cabo

Verde dividindo domínios portugueses e espanhóis. O meridiano da Bula Inter-

Coetera não permitia a inclusão do Brasil como domínio português. No ano seguinte,

uma nova divisão foi negociada, dando origem ao Tratado de Tordesilhas (1494), que

estipulou um meridiano a 370 léguas a oeste de Cabo Verde, ampliando o domínio

português, incluindo desta vez parte do que seria mais tarde o Brasil.

Não tardou que a emergência de novas potências europeias (Holanda, França,

Inglaterra) viesse a contestar a partilha do mundo pelas nações ibéricas. Assim, a alteração

do quadro internacional no início do século XVI forçou Portugal e a Espanha a adotarem

uma atitude mais efetiva em relação à América. A colonização, como vimos, viabilizou a

posse efetiva.

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A ocupação do litoral: a expansão oficial – Mesmo depois de decidida a ocupação

efetiva do Brasil pela colonização, o litoral não deixou de ser constantemente

ameaçado, principalmente pelos franceses. A dificuldade em desalojá-los foi devida,

em grande parte, à sua aliança com os tupinambás, inimigos mortais dos tupiniquins,

aliados dos portugueses. Por isso, a conquista do litoral deveu-se à conjugação de

ações militares e religiosas. Através das primeiras repelia-se o rival e, em seguida,

fundava-se um forte para guarnecer a região. Depois eram enviadas missões

religiosas a fim de pacificar os indígenas. Porém, quando estes se mostravam

excessivamente rebeldes, utilizava-se a força pura e simples para reduzi-los à

submissão.

À medida que a colonização avançava, os franceses foram sendo repelidos para o

norte, onde procuravam ainda extrair o pau-brasil. Assim, sucessivamente foram sendo

conquistados Sergipe Del Rei, Paraíba, Rio Grande do Norte, Ceará, Maranhão e,

finalmente, o Grão Pará, cuja conquista completa dar-se-ia somente em meados do século

XVII. Antes, porém, de serem repelidos para o Pará, os franceses tentaram ainda fundar no

Maranhão a França Equinocial, em 1612, erguendo o forte de São Luís, num derradeiro

esforço para preservar uma colônia no Brasil. Depois da conquista do Pará, os franceses

finalmente iriam se estabelecer nas Guianas, onde não foram mais molestados.

No sul, Portugal fundou em 1680 a Colônia do Sacramento, na margem esquerda do

rio da Prata, para se contrapor a Buenos Aires do outro lado do estuário do rio. Nessa área,

aliás, iria se desenrolar um intenso conflito entre portugueses e espanhóis, além da

intervenção de outras potências, como França e Inglaterra, em virtude da posição estratégica

do rio dá Prata, cuja livre navegação era defendida por várias nações.

Povoamento do Brasil até meados do século XVII – A colonização do Brasil, que teve

como fundamento a agroindústria açucareira, possibilitou a ocupação efetiva do

litoral. Durante muito tempo, segundo a expressão famosa de frei Vicente do

Salvador, que viveu no século XVII, os colonos limitavam-se a "andar arranhando as

terras ao longo do mar como caranguejos".

A interiorização da colonização, entretanto, iniciou-se com o desenvolvimento da

pecuária nordestina, que foi gradualmente se afastando do litoral açucareiro que lhe dera

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origem. Seus focos de irradiação foram Bahia e Pernambuco. Seguindo as margens dos

rios, o gado iria possibilitar o povoamento do sertão de Pernambuco, Bahia, Alagoas,

Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Maranhão.

Outro importante fator de ocupação do interior foi o bandeirismo, o responsável pela

incorporação da maior parcela territorial pertencente à Espanha ao domínio português. O

bandeirismo foi um fenômeno tipicamente paulista.

A capitania de São Vicente, apesar do relativo sucesso no começo da colonização,

terminou por mergulhar num estado de profunda pobreza por causa de sua posição

excêntrica em relação ao polo dinâmico do nordeste. A falta de contato com a metrópole

estimulou os vicentinos a entrarem para o interior depois de subir a serra do Mar e atingir o

planalto de Piratininga. A principio, tratava-se de encontrar o ouro ou a prata. É a fase do

bandeirismo do ouro de lavagem. No início do século XVII, os holandeses ocuparam o

nordeste e estenderam o seu domínio sobre a África portuguesa, desencadeando uma crise

de mão de obra na parte portuguesa do Brasil. Os engenhos da Bahia passaram a ter

dificuldades de reposição de seu estoque de escravos. Para atender a essa procura, os

bandeirantes voltaram-se para a captura de índios, dando origem ao bandeirismo de

preação. Essa fase culminou com os ataques às missões jesuíticas espanholas do Tape,

Itatim e Guairá. Nessas missões (aldeamento de índios para a catequese), havia um número

considerável de índios guaranis. Esses aldeamentos foram estabelecidos com o

consentimento do rei espanhol, que via neles uma forma de preservar o domínio territorial

sulino que lhe pertencia por força do Tratado de Tordesilhas. Contudo, a reunião dos índios

nessas reduções atraiu os bandeirantes, que, num único ataque, conseguiam mão de obra

abundante e já disciplinada pelos jesuítas.

O bandeirismo de preação entrou em declínio tão logo os holandeses foram expulsos

e as posições portuguesas na África recuperadas, regularizando o abastecimento de

escravos. A partir disso, o bandeirismo tornou a se redefinir.

De fato, na segunda metade do século XVII, ao mesmo tempo em que aumentavam

a exploração e a opressão coloniais, ficava evidente a divergência de interesses entre

metrópole e colônia. Na colônia aumentou a tensão entre escravos e grandes proprietários.

Na época da conquista holandesa, ocorreram fugas em massa de escravos, que formaram

o mais famoso quilombo, o de Palmares, em Alagoas. Da mesma forma, os indígenas

oprimidos organizaram no Rio Grande do Norte a Confederação dos Cariris. Para destruir

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esses focos de rebelião, os grandes proprietários do nordeste recorreram a esses rústicos

bandeirantes que agora passaram a ser utilizados como força repressora. Teve início aí o

sertanismo de contrato, a última forma e fase do bandeirismo. Para destruir a resistência do

Quilombo dos Palmares e da Confederação dos Cariris foram contratados os serviços de

Domingos Jorge Velho.

A mineração e o povoamento do Brasil central – Com a mineração deu-se o passo

decisivo na ocupação do interior. Com a descoberta de ouro nas Gerais, o centro

dinâmico da economia deslocou-se do litoral nordestino para. o centro-sul do Brasil.

Além de propiciar a formação de um mercado interno, o polo minerador serviu de

elemento articulador da economia colonial, através da pecuária nordestina e sulina.

Esta última, ao se desenvolver e se articular com os centros mineiros, criou condições

para a efetiva ocupação do Rio Grande do Sul.

A colonização do extremo norte; o vale amazônico – A colonização da Amazônia -

que hoje corresponde aos estados do Amazonas e do Pará - foi estimulada pelas

preocupações de garantir a posse e o acesso ao rio Amazonas e impedir a presença

de rivais de outros países. A base de ocupação se deu através do extrativismo vegetal

e do apresamento indígena.

O extrativismo vegetal consistiu na exploração das chamadas "drogas do sertão”:

cacau, guaraná, borracha, urucu, salsaparrilha, castanha-do-pará, gergelim, noz de pixurim,

baunilha, coco, etc. Por isso, a escravidão tinha ali um terreno desfavorável, pois a

exploração da Amazônia dependia do bom conhecimento da região. Daí a importância dos

índios locais que serviam de guias. A forma predominante que caracterizou a integração da

Amazônia ao conjunto da economia colonial foi o estabelecimento das missões jesuíticas,

que chegaram a aldear perto de 50 mil índios.

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A FIXAÇÃO DAS FRONTEIRAS

Fonte:

https://www.google.com.br/url?sa=i&rct=j&q=&esrc=s&source=images&cd=&ved=0ahUKEwjQ6aKYx8bMAhUBiJAKHQ_HBgMQ

jhwIBQ&url=http%3A%2F%2Fpoliciadefronteira.blogspot.com%2F2013_05_01_archive.html&bvm=bv.121421273,d.Y2I&psig=AF

QjCNH0KuObo22Yc6zWcFVUbKIAiERH2g&ust=1462662109067451

Os tratados de limites – Nos fins do século XVIII, o atual território brasileiro estava

praticamente formado. Para isso contribuíram a pecuária, o bandeirismo, a mineração

e as missões jesuíticas no vale amazônico.

Os limites no extremo norte foram discutidos com os franceses, que haviam se fixado

nas Guianas, e no extremo sul, com os espanhóis. A essa altura, estava claro que o

meridiano de Tordesilhas já não podia ser tomado como referência para delimitar os

domínios portugueses e espanhóis.

No século XVIII e no princípio do XIX, vários tratados foram assinados pelos

portugueses para definir os limites.

O primeiro tratado de limites ocorre com o Primeiro Tratado de Utrecht (1713). Por

esse tratado a França reconheceu o direito exclusivo de Portugal navegar no rio Amazonas,

em troca do reconhecimento português da posse da Guiana pelos franceses. Pelo Segundo

Tratado de Utrecht (1715), a Espanha reconheceu a possessão da Colônia do Sacramento

(fundada em 1680) por Portugal, mas não de forma definitiva. Outros tratados foram

assinados entre Portugal e Espanha para a fixação dos limites no extremo sul.

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Em 1750, a questão começou a ser rediscutida, resultando no Tratado de Madri

(1750). Segundo esse novo tratado, ficou estabelecido o princípio do uti possidetis, isto é,

Portugal e a Espanha estabeleceram como critério a ocupação efetiva. Assim, territórios

ocupa dos por portugueses foram reconhecidos pela. Espanha como portugueses, e

reciprocamente. Com esse tratado foram formalmente invalidados os limites estabelecidos

pelo Tratado de Tordesilhas. A Espanha, a fim m de assegurar a navegação exclusiva no rio

da Prata, trocou a Colônia do Sacramento pelos Sete Povos das Missões (referência às sete

missões jesuíticas espanholas que correspondiam, grosso modo, ao atual esta do Rio

Grande do Sul).

Entretanto, o acordo estabelecido pelo Trata do de Madri não foi cumprido, devido à

recusa dos jesuítas espanhóis em entregarem os Sete Povos das Missões aos portugueses.

Instigados pelos jesuítas, os indígenas moveram uma guerra contra os novos ocupantes, as

Guerras Guaraníticas, que se prolongaram até 1767.

Por essa razão, o ministro português, marquês de Pombal, decidiu anular essa

cláusula do Tratado de Madri e se negou a entregar a Colônia do Sacramento, levando os

países ibéricos a anularem o tratado anterior, o que se deu com o Tratado do Pardo (1761).

As negociações continuaram com o Tratado de Santo Ildefonso (1777), com Portugal

renunciando à região dos Sete Povos e ao Sacramento, em troca da ilha de Santa Catarina,

então pertencente à Espanha. A situação só iria se definir, finalmente, em 1801, com o

Tratado de Badajós, depois da destruição dos Sete Povos pelos gaúchos. Retornando aos

termos do Tratado de Madri, Portugal reconheceu a posse do Sacramento e ficou com os

Sete Povos.

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Nome autor: Margarida Maria de Carvalho I; Pedro Paulo A. Funari II

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-90742007000100002

Data:06/05/2016

As pesquisas de História Antiga, no Brasil, remontam aos inícios da disciplina, no

âmbito universitário. Eurípides Simões de Paula, um dos primeiros historiadores

universitários – grande propugnador da disciplina histórica, na recém-criada Universidade

de São Paulo –, fundou a cadeira de História Antiga, tendo sido o primeiro catedrático. Sua

tese de doutoramento já se destacava pela ambição de inserir-se no âmbito internacional e,

ao mesmo tempo, por estudar a periferia, algo particularmente inovador1.

Contudo, por muitas décadas, a História Antiga manteve-se como especialidade

pouco difundida nos cursos de História, que se multiplicaram exponencialmente a partir da

década de 1940. Seria apenas nas últimas décadas do século XX que a História Antiga

começaria a expandir-se, primeiro nas universidades mais antigas e centrais, para, aos

poucos, atingir as instituições mais novas e mais distantes. Tal fato será verificado quando

apresentarmos os autores dos artigos e resenhas desse dossiê.

Dessa forma, revela-se na década de 1970, quanto à expansão da disciplina no

território nacional, uma produção marcada pela repressão da ditadura militar. A História

Antiga será vista, no setor universitário, como controle ideológico e, assim, será identificada

com a chamada Direita política do país. Nos currículos de História das grandes

universidades brasileiras haverá o predomínio da História Antiga adotada de maneira factual,

bastante positivista, fator esse que irá ao encontro dos objetivos da censura.

Os espaços das reflexões sociopolíticas, tão características e inerentes aos cursos

de História, serão preenchidos por uma Antiguidade maniqueísta, olhada como algo curioso

e não como um convite à análise dos processos históricos. Essa mácula, quase indelével,

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ficará durante muito tempo nos registros dos historiadores brasileiros especialistas em

História do Brasil, da América, História Moderna e Contemporânea, os quais não medirão

esforços para combater tais estudos sobre História Antiga, apesar do empenho, após a

abertura política ocorrida na década de 1980, da maioria dos antiquistas brasileiros em

desconfigurar essa imagem distorcida ao acompanhar o novo resplendor da historiografia

marxista.

A partir de então, a produção de pesquisadores em Antiguidade não cessará em

acompanhar os avanços da historiografia. Detentores do conhecimento das denominadas

línguas mortas: aramaico, sânscrito, grego e latim e, fundamentalmente, de línguas

estrangeiras como espanhol, inglês, francês, italiano e alemão2, os estudiosos na área da

Antiguidade terão acesso a tais avanços, como, por exemplo, à imprescindível contribuição

analítica do historiador americano Moses Finley, atuante na Grã-Bretanha, que revolucionou

a estrutura da análise da História Antiga ao criticar o modelo marxista com suas sínteses

totalizadoras transplantadas pelas revoluções, elucidando a eficácia do conceito

de ordem e status de inspiração weberiana em detrimento do emprego do conceito

de classe social no que se refere à interpretação do que seriam os grupos sociais na

antiguidade clássica.

Os historiadores antiquistas nacionais acompanharão, muito atentos, os

desdobramentos dessa interpretação, concordando ou não com essa premissa, mas não

deixando de respeitar a obra de Finley, cujo aparato bibliográfico nos inspira até os dias

atuais. As críticas às abordagens normativas inspiradas em Weber, a partir da década de

1990, só podem ser compreendidas pela absorção das propostas da Escola de Cambridge

no país3.

Os conflitos sociais ocorridos na Antiguidade serão analisados sob prismas mais

arrojados, e com o conhecimento da Nouvelle Histoire novos temas serão pesquisados em

nossa área. A partir de meados da década de 1990, com o advento da História

Cultural expandindo-se em nível nacional, houve uma multiplicação de Dissertações e Teses

influenciadas pelo conceito de representação, o qual, mais tarde, no clarão do século XXI,

será articulado à análise do discurso.

O respeito pelo trato documental, sua datação e autoria, críticas internas e externas

dos discursos, sua linguagem metafórica, enfim, a desconstrução do discurso serão

albergados à luz das tropas de reconhecimento da pós-modernidade. Sempre aliados ao

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conhecimento documental e historiográfico, os investigadores antiquistas escolherão seus

métodos, técnicas e teorias de abordagem, associando tais interpretações à análise

iconográfica e à cultura material.

Essa expansão no Brasil deu-se, portanto, em um contexto de renovação da

historiografia em geral, e, conseqüentemente, sobre a Antigüidade, em particular. A

Historiografia passou a interagir cada vez mais intensamente com as outras Ciências

Humanas e Sociais, em busca de interpretações que superassem as aporias teóricas e

práticas do estudo das sociedades no presente e no passado. A multiplicação dos

movimentos sociais e a explosão de conflitos e de identidades, com mais força desde a

década de 1960, levaria a crítica aos modelos normativos4. A historiografia sobre o mundo

antigo não deixaria de inserir-se nessa renovação, com a multiplicação de estudos e

abordagens contextuais e antinormativas5. As leituras modernas da Antigüidade foram

incorporadas à lide quotidiana da disciplina6. A pesquisa de História Antiga no Brasil insere-

se neste contexto. Cada vez mais atenta à sua inserção nas discussões internacionais, não

hesita, também, em mostrar como as especificidades brasileiras podem ser usadas, de

maneira produtiva e fertilizadora, para contribuir com os debates nos ambientes

hegemônicos. Deve-se também destacar a interação da História Antiga com o estudo da

História de outros períodos e épocas7. Foi com o sentido de esclarecer tais considerações

que organizamos esse dossiê.

Este volume, entretanto, não pretendeu abranger a imensa variedade da produção

nacional: isso superaria, em muito, o espaço disponível. Preferimos apresentar uma amostra

dessa mesma variedade, sabedores de que outras tantas iniciativas têm contribuído e

continuarão a contribuir para a complexa tarefa de difundir a História Antiga produzida no

Brasil. Assim, nesse empreendimento, destacam-se somente nove autores de artigos e três

autores de resenhas de livros recentemente publicados em nosso país.

Abrindo o leque de discursos investigativos aqui apresentado, em sua totalidade por

professores de História Antiga, temos o trabalho de Ana Teresa Marques Gonçalves – do

Departamento de História da Universidade Federal de Goiás (UFG) – intitulado Septímio

Severo e a Consecratio de Pertinax: Rituais de Morte e Poder, no qual a autora analisa a

cerimônia de deificação do Imperador Pertinax ocorrida após a sua morte (século III d.C.). O

texto de Andréa L.D.C. Rossi – do Departamento de História da Unesp/Assis e partícipe do

Núcleo de Estudos Antigos e Medievais das Unesp – Assis/Franca – leva-nos ao

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conhecimento de Mitologia: Abordagem Metodológica para o Historiador da Antiguidade

Clássica, onde a historiadora propõe uma aplicação da análise da semiótica na interpretação

da obra de Dion Chrisóstomo, mais conhecido como Dion de Prusa, filósofo bitiniano que

viveu entre 40 e 115 d.C. Com Fábio Faversani – do Departamento de História da

Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP) –, percorremos o caminho para a compreensão

de O Estado Imperial e os Pequenos Impérios, onde o autor focaliza o tema na obra de

Sêneca, filósofo estóico do período neroniano. Ao nos debruçarmos sobre o texto de Fábio

Vergara Cerqueira – do Departamento de História da Universidade Federal de Pelotas

(UFPEL) –, passamos a conhecer melhor A Imagem Pública do Músico e da Música na

Antiguidade Clássica: Desprezo ou Admiração?, no qual o autor analisa as representações

que definem o músico no imaginário social das sociedades grega e romana antigas. Já

Gilvan Ventura da Silva – do Departamento de História da Universidade Federal do Espírito

Santo (UFES), uma das poucas referências do Brasil em estudos específicos sobre os

séculos IV e V d.C., disserta a respeito de Ascetismo, Gênero e Poder no Baixo Império

Romano: Paládio de Helenópolis e o Status das devotas cristãs. Através da obra História

Lausíaca de Paládio, o investigador interpreta o papel das ascetas no movimento monástico

dominado pelos homens. O historiador Glaydson José da Silva – pesquisador do Núcleo de

Estudos Estratégicos da Unicamp – apresenta um trabalho que trata da interface História

Contemporânea/História Antiga quando, em O Mundo Antigo visto por Lentes

Contemporâneas: as extremas direitas na França nas décadas de 80 e 90, ou da

instrumentalidade da antiguidade, o autor interpreta os usos do passado pelas extremas

direitas francesas como formas de se compreender a contemporaneidade; linha de pesquisa

que vem tomando vulto desde meados da década de 1990 e se fortalecendo cada vez mais

atualmente.

Dando seqüência ao dossiê, temos o artigo de Ivan Esperança Rocha – do

Departamento de História da Unesp/Assis e Coordenador do Núcleo de Estudos Antigos e

Medievais das Unesp Assis/Franca –, cujo título,Imagem do Judaísmo: Aspecto

do Aniconismo Identitário, refuta que as formas visuais vêm ganhando um espaço

significativo nos estudos da Antiguidade, pois a historiografia tem considerado sua

capacidade de representar os imaginários sociais e de evidenciar as mentalidades coletivas.

Com Norberto Luiz Guarinello – do Departamento de História da USP – adquirimos

conhecimento com Violência como Espetáculo: o pão, o sangue e o circo. Nesse trabalho,

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de uma forma bastante dinâmica, Guarinello constrói um diálogo constante entre a violência

da contemporaneidade e a noção da mesma na Antiguidade. Finalmente, o último artigo, de

Renata Senna Garrafoni – do Departamento de História da Universidade Federal do Paraná

(UFPR) –, Os Bandidos entre os romanos: Leituras Eruditas e Percepções

Populares, esclarece como a elite romana visualizava os bandidos antigos na literatura

satírica e que, por meio de estudos epigrafemos, pode-se analisar a imagem do roubo na

cultura popular.

Na seção final do volume, encontram-se as resenhas de livros de autores do país,

publicados nos últimos dois anos. Cláudio Umpierre Carlan8 – Doutorando do Programa de

Pós-Graduação em História da Unicamp e pesquisador do Núcleo de Estudos Estratégicos

– resenha o livro da historiadora Lourdes M. G. Conde Feitosa,Amor e Sexualidade: o

masculino e o feminino em grafites de Pompéia. Fábio Duarte Joly – professor do

Departamento de História da Universidade Federal do Recôncavo Baiano (UFRB) – tece

comentários críticos sobre o livro da autora Marilena Vizentin, Imagens do Poder em Sêneca:

estudos sobre o De Clementia, e Maria Aparecida de Oliveira Silva9 – Doutoranda do

Programa de Pós-Graduação em História Social do Departamento de História da USP –

redigiu a súmula crítica do livro de Renata Senna Garrafoni, Gladiadores na Roma Antiga:

dos Combates às Paixões Cotidianas. Todas essas resenhas são um convite instigante aos

leitores do mundo acadêmico ou para todos aqueles que gostam e valorizam a História

Antiga.

Enfim, a riqueza dos artigos e das obras resenhadas confirmam nossas alusões

anteriormente expostas acerca dos avanços historiográficos realizados pela produção

nacional, demonstrando que a História Antiga está mais viva do que nunca. Nesse sentido,

a residual obtusidade daqueles que insistem em não valorizar as pesquisas dessa área,

certamente, será questionada, uma vez mais, com o trabalho profícuo aqui desenvolvido.

Agradecimentos

Agradecemos aos editores da História/Unesp, Prof. Dr. Carlos Alberto Sampaio

Barbosa e Profa. Dra. Tânia da Costa Garcia, e à sua comissão editorial pelo espaço

concedido à publicação desse dossiê. A todos os autores do volume, assim como

mencionamos o apoio institucional do CNPq, do Núcleo de Estudos Estratégicos

(NEE/Unicamp), Departamento de História da Unicamp e Departamento de História da

Unesp/Franca, assim como ao Núcleo de Estudos Antigos e Medievais das Unesp

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Assis/Franca. À Helena Amália Papa – mestranda em História Antiga do Programa de Pós-

graduação em História da Unesp/Franca, pelo apoio à organização desse dossiê. A

responsabilidade das idéias aqui apresentadas é da ordem exclusiva dos autores desta

apresentação.

1 Marrocos e suas relações com a Ibéria na Antiguidade, 1946.

2 Exige-se, de qualquer historiador que pretenda ser um antiquista, o conhecimento de, pelo

menos, uma língua morta e duas línguas estrangeiras.

3 Cf. FUNARI, P. P. A. Júlio César, poder, instituições e jurisdições na construção biográfica

de Plutarco. In: GUIMARÃES, Marcella Lopes; FRIGHETTO, Renan (Org.). Instituições,

poderes e jurisdições. Curitiba: Juruá, 2007. , p.175-180.

4 Cf. MUNSLOW, Alun. Deconstructing history. Londres: Routledge, 1997.

5 Cf. FUNARI, Pedro Paulo A. A renovação no ensino de História Antiga. In: KARNAL,

Leandro (Org.). História na Sala de Aula. São Paulo: Contexto, 2003. p.95-108, com

referências.

6 E.g. CARVALHO, Margarida Maria de. Interpretações Críticas sobre algumas Biografias

do Imperador Juliano dos séculos XIX e XX. In: ANDRADE FILHO, Ruy de Oliveira

(Org.). Relações de poder, cultura e educação na Antiguidade e Idade Média. 1. ed. São

Paulo: Solis, 2005. p.217-226.

7 E.g. CARVALHO, Margarida Maria de; LOPEZ, M. A. S.; FRANÇA, S. S. L. (Orgs.). As

cidades no tempo. 1. ed. São Paulo: Olho d'Água, 2005. v. 1. 323 p.

8 Doutorando do Prof. Dr. Pedro Paulo Funari.

9 Doutoranda do Prof. Dr. Norberto Luiz Guarinello.

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Nome do autor: Rafael de Bivar Marquese

Fonte: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0101-33002006000100007&script=sci_arttext

Data do acesso: 06/05/2016

A dinâmica da escravidão no Brasil

Resistência, tráfico negreiro e alforrias, séculos XVII a XIX1

RESUMO

O artigo examina as relações entre o tráfico negreiro transatlântico para o Brasil, os padrões

de alforria e a criação de oportunidades para a resistência escrava coletiva (formação de

quilombos e revoltas em larga escala), do final do século XVII à primeira metade do século

XIX. Valendo-se das proposições teóricas de Patterson e Kopytoff, sugere uma interpretação

para o sentido sistêmico do escravismo brasileiro na longa duração, sem dissociar a

condição escrava da condição liberta, nem o tráfico das manumissões.

Palavras-chave: escravidão; história do Brasil; tráfico negreiro; alforrias; resistência escrava.

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SUMMARY

The article examines the relationships between the transatlantic slave trade for Brazil,

manumissions patterns and the creation of opportunities for collective slave resistance

(formation of maroons communities and large revolts), from the end of the XVIIth century to

the first half of the XIXth century. Based on the theoretical propositions of Patterson and

Kopytoff, it suggests an interpretation for the Brazilian slave system in the long duration

without dissociating the slave condition from the freedman one and the slave trade from the

manumissions.

Keywords: slavery; Brazilian history; transatlantic slave trade; manumissions; slave

resistance.

O ENIGMA DE PALMARES

A Guerra dos Palmares foi um dos episódios de resistência escrava mais notáveis na

história da escravidão do Novo Mundo. Ainda que as estimativas das fontes coevas e dos

historiadores sobre o número total de habitantes divirjam bastante — de um mínimo de 6 mil

a um máximo de 30 mil pessoas , não há como negar que as comunidades palmarinas, dada

a extensão territorial e a quantidade de escravos fugitivos que acolheram, tornaram-se o

maior quilombo na história da América portuguesa. Suas origens datam do início do século

XVII, mas sua formação como grande núcleo quilombola se deu apenas no contexto da

invasão holandesa de Pernambuco, quando diversos escravos se aproveitaram das

desordens militares e fugiram para o sul da capitania. As comunidades rebeldes que então

se organizaram resistiram a diversas incursões da Companhia das Índias Ocidentais e, após

a expulsão dos holandeses, a ataques das tropas luso-brasileiras.

Nas décadas de 1670 e 1680, os africanos, crioulos e descendentes alojados em

Palmares eram vistos pelas autoridades metropolitanas como "holandeses de outra cor", por

conta da ameaça que representavam à ordem colonial portuguesa na América. Sua derrota

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pela força das armas só ocorreu em meados da década seguinte, após um conflito secular

com dois dos maiores poderes coloniais europeus do mundo moderno. Antes da revolução

escrava de São Domingos (1791-1804) e das grandes revoltas abolicionistas do Caribe

inglês no primeiro terço do século XIX, o episódio de Palmares só teve equivalente na I

Guerra Maroon da Jamaica (1655-1739) e na Guerra dos Saramaca no Suriname (1685-

1762). Nesses dois casos, entretanto, os quilombolas conseguiram vencer as tropas

repressoras, forçando autoridades e senhores a reconhecerem a liberdade dos grupos

revoltosos2.

A história da derrota do grande quilombo palmarino deu origem a um enigma que há

certo tempo chama a atenção dos especialistas em escravidão brasileira: por que não houve

outros Palmares na história do Brasil? O ponto é importante, pois a atividade quilombola se

ampliou no século XVIII, com o aumento do volume do tráfico negreiro transatlântico e a

formação dos núcleos mineratórios no interior do território, assumindo diferentes

modalidades de norte a sul da América portuguesa. Afora as numerosas comunidades

quilombolas, de dimensões e duração variáveis, o Brasil viu aparecer no início do século XIX

outra forma de resistência escrava coletiva, presente no Caribe inglês havia bom tempo: o

ciclo de revoltas africanas que agitou o Recôncavo Baiano entre 1807 e 18353.

A resposta que os historiadores forneceram ao enigma aponta para a mudança na

legislação escravista portuguesa. Após Palmares, dizem eles, houve uma progressiva

especificação das funções do capitão-do-mato — responsável legal nas diferentes

localidades da América portuguesa pela captura de escravos fugitivos — e delimitação, nas

letras da lei, do que seria uma comunidade quilombola. A institucionalização da figura do

capitão-do-mato e a definição de quilombo como qualquer ajuntamento composto de alguns

poucos escravos fugitivos teriam tolhido, já no nascedouro, a formação de comunidades

rebeldes com as proporções de Palmares4. Creio, no entanto, ser possível avançar outra

explicação, que — sem negar a fornecida pelos historiadores que trataram do assunto —

recorre à configuração que o escravismo brasileiro adquiriu a partir do final do século XVII.

O objetivo deste ensaio é justamente entender por que não houve outros Palmares

na história do Brasil. Para tanto, concentrarei minha atenção nas relações entre tráfico

negreiro transatlântico, alforrias e criação de oportunidades para a resistência escrava

coletiva (como a formação de quilombos e as revoltas em larga escala), do final do século

XVII à primeira metade do século XIX. A idéia é de que eventos como Palmares, a Guerra

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Maroon jamaicana ou a campanha dos Saramaca estiveram diretamente ligados à

configuração de determinado tipo de sistema escravista, que denominarei "escravismo de

plantation". Nesse sistema, a produção econômica se concentrava em um único produto e o

quadro social era marcado por desbalanço demográfico entre brancos livres e escravos

negros, amplo predomínio de africanos nas escravarias, poucas oportunidades para a

obtenção de alforria e altas taxas de absenteísmo senhorial.

Um sistema escravista dessa natureza, típico das colônias caribenhas inglesas e

francesas do século XVIII, e cujas características básicas tiveram desenvolvimento apenas

parcial na América portuguesa da primeira metade do século XVII, não mais encontrou

espaço nos dois séculos subseqüentes da história do Brasil. Com a mineração, essa

mudança de fundo no caráter do escravismo brasileiro apenas se acentuou. A instituição se

difundiu social e espacialmente, com a disseminação da posse de escravos pelo tecido

social e a criação de hierarquias étnicas e culturais bastante complexas. Antigas áreas de

plantation, como a Zona da Mata pernambucana e o Recôncavo Baiano, mesmo mantendo

a produção escravista açucareira, verificaram igualmente essas transformações5.

A partir de fim do século XVII, o sistema escravista brasileiro passou a escorar-se em

uma estreita articulação entre tráfico transatlântico de escravos bastante volumoso e número

constante de alforrias. Nessa equação, era possível aumentar a intensidade do tráfico, com

a introdução de grandes quantidades de africanos escravizados, sem colocar em risco a

ordem social escravista. Logo após a derrota de Palmares, reduziram-se substancialmente

as oportunidades de sucesso para as revoltas escravas e os grandes quilombos no Brasil.

Não por acaso, com exceção de uma breve ocasião na década de 1670, ainda no curso da

Guerra dos Palmares, as autoridades coloniais portuguesas e os representantes imperiais

brasileiros sempre se recusaram a negociar com revoltosos e quilombolas. Essa posição

política, que traduzia o quadro das relações de força entre senhores e escravos no Brasil,

teve como contraponto a atitude de ingleses e holandeses, forçados a reconhecer em

tratados de paz as conquistas que Maroon e Saramaca obtiveram em campo de batalha.

É importante salientar que faz pelo menos três décadas os historiadores têm anotado

a relação estreita que houve na história do Brasil entre o volume do tráfico negreiro

transatlântico e as altas taxas de alforrias6. O que falta, acredito, é fornecer um

enquadramento teórico mais substantivo para essa articulação, relacionando-a ao limitado

campo de possibilidades de sucesso para a resistência escrava coletiva no Brasil.

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Valendo-me dos estudos disponíveis, procurarei ler os resultados à luz das

proposições teóricas de Orlando Patterson e Igor Kopytoff, que não secionam a experiência

do escravo da experiência do forro; ambos encaram a escravização, a situação de

escravidão e a manumissão como partes de um mesmo processo institucional. De acordo

com a sugestiva formulação de Kopytoff,

a escravidão não deve ser definida como um status, mas sim como um processo de

transformação de status que pode prolongar-se uma vida inteira e inclusive estender-se para

as gerações seguintes. O escravo começa como um estrangeiro [outsider] social e passa

por um processo para se tornar um membro [insider]. Um indivíduo, despido de sua

identidade social prévia, é colocado à margem de um novo grupo social que lhe dá uma nova

identidade social. A estraneidade[outsidedness], então, é sociológica e não étnica7.

Com base nessa proposição, tentarei sugerir um esquema interpretativo para o

sentido sistêmico do escravismo brasileiro na longa duração, sem dissociar a condição

escrava da condição liberta e o tráfico negreiro das alforrias. Como em todo ensaio, há

sempre o risco derivado do alto grau de generalização, afora o fato de esse sentido sistêmico

não ter sido de todo claro aos contemporâneos. A tomada de consciência do processo

institucional do escravismo brasileiro ocorreu apenas no início do século XIX, mais

especificamente no contexto da independência, tanto pelos viajantes estrangeiros que então

percorriam o território brasileiro como, sobretudo, pelos construtores do Império do Brasil.

Tal é meu ponto de chegada. Noutros termos, pretendo demonstrar que a percepção da

experiência histórica colonial, que combinava tráfico negreiro e alforrias, teve papel

importante para definir o porvir da escravidão nos quadros do Estado nacional brasileiro.

ESCRAVISMO DE PLANTATION

Nos séculos que se seguiram ao colapso do Império romano, a escravidão não

desapareceu por completo na Europa ocidental e mediterrânea. No entanto, no decorrer da

Baixa Idade Média, a escravidão como sistema de trabalho deixou de existir no Ocidente

europeu, excetuando-se os países do Mediterrâneo, isto é, das penínsulas Ibérica e Itálica.

Mesmo aí, ela foi, nos séculos XIV e XV, tão-somente uma instituição urbana, com

importância limitada no conjunto da economia; o emprego em larga escala de cativos na

produção agrícola havia se tornado residual nestas últimas regiões. A recriação do

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escravismo, com o emprego massivo de escravos nas tarefas agrícolas, seria realizada por

portugueses e espanhóis só após a segunda metade do século XV, com a introdução da

produção açucareira nas ilhas atlânticas orientais (Canárias, Madeira, São Tomé), e, no

século XVI, com a colonização da América8.

Baseada na experiência acumulada com o fabrico do produto nas ilhas da Madeira e

de São Tomé, a Coroa portuguesa procurou estimular a construção de unidades açucareiras

no Brasil desde a década de 1530. Mas, até os anos 1570, os colonos encontraram grandes

dificuldades para fundar em bases sólidas uma rede de engenhos no litoral, como problemas

com o recrutamento da mão-de-obra e falta de capitais para financiar a montagem dos

engenhos. Ao serem superadas tais dificuldades, com atrelamento da produção brasileira

aos centros mercantis do Norte da Europa e articulação do tráfico de escravos entre África

e Brasil, tornou-se viável o arranque definitivo da indústria de açúcar escravista da América

portuguesa, o que ocorreu entre 1580 e 1620, quando o crescimento acelerado da produção

brasileira ultrapassou todas as outras regiões abastecedoras do mercado europeu.

Cabem aqui algumas palavras sobre o papel que o tráfico transatlântico de africanos

desempenhou no deslanche da produção açucareira brasileira. A mão-de-obra empregada

na montagem dos engenhos de açúcar no Brasil foi predominantemente indígena. Uma parte

dos índios (recrutados em aldeamentos jesuíticos no litoral) trabalhava sob regime de

assalariamento, mas a maioria era submetida à escravidão. Os primeiros escravos africanos

começaram a ser importados em meados do século XVI; seu emprego nos engenhos

brasileiros, contudo, ocorria basicamente nas atividades especializadas. Por esse motivo,

eram bem mais caros que os indígenas: um escravo africano custava, na segunda metade

do século XVI, cerca de três vezes mais que um escravo índio. Após 1560, com a ocorrência

de várias epidemias no litoral brasileiro (como sarampo e varíola), os escravos índios

passaram a morrer em proporções alarmantes, o que exigia reposição constante da força de

trabalho nos engenhos. Na década seguinte, em resposta à pressão dos jesuítas, a Coroa

portuguesa promulgou leis que coibiam de forma parcial a escravização de índios. Ao

mesmo tempo, os portugueses aprimoravam o funcionamento do tráfico negreiro

transatlântico, sobretudo após a conquista definitiva de Angola em fins do século XVI. Os

números do tráfico bem o demonstram: entre 1576 e 1600, desembarcaram em portos

brasileiros cerca de 40 mil africanos escravizados; no quarto de século seguinte (1601-

1625), esse volume mais que triplicou, passando para cerca de 150 mil os africanos

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aportados como escravos na América portuguesa, a maior parte deles destinada a trabalhos

em canaviais e engenhos de açúcar9.

O sucesso da produção escravista de açúcar da América portuguesa logo atraiu a

atenção dos demais poderes coloniais europeus. Já em fim do século XVI, era crescente o

envolvimento de negociantes ingleses e holandeses no comércio açucareiro entre Brasil e

Europa. As invasões holandesas da Bahia (1624) e Pernambuco (1630) foram em grande

parte motivadas pelo dinamismo da economia açucareira dessas capitanias. Os membros e

acionistas da Companhia das Índias Ocidentais holandesa (WIC), contudo, na época em que

comandaram a invasão das regiões produtoras de açúcar no Brasil, desconheciam por

completo os segredos da produção do artigo, que se resumiam basicamente a três aspectos:

as técnicas de processamento da cana-de-açúcar, as técnicas de administração dos

escravos e a organização do tráfico negreiro transatlântico. Cedo os invasores perceberam

a estreita relação geoeconômica que havia entre a África e as regiões de plantation

escravista na América. De nada valeriam as possessões brasileiras se não se

conquistassem os pontos que forneciam escravos do outro lado do Atlântico. Por esse

motivo, sob o comando de Maurício de Nassau, a WIC promoveu em 1638 a conquista do

entreposto português de São Jorge da Mina e em 1641 a invasão de Angola10.

O domínio holandês em Pernambuco durou pouco. Em 1645, eclodiu a revolta dos

colonos luso-brasileiros, que levaria à expulsão definitiva dos holandeses da América

portuguesa em 1654; antes disso, em 1648, os colonos luso-brasileiros do Rio de Janeiro se

responsabilizaram diretamente pela expulsão dos holandeses de Angola. Com o fracasso

da experiência brasileira e angolana, a WIC deixou de priorizar a produção de açúcar e

passou a direcionar-se para a compra do produto obtido em regiões que não estavam sob

seu comando direto. Nesse sentido, os comerciantes holandeses procuraram estimular os

colonos ingleses e franceses do Caribe a produzir açúcar. Ainda durante a ocupação do

Brasil, na segunda metade da década de 1640, os mercadores holandeses transmitiram as

técnicas dos engenhos brasileiros aos colonos ingleses de Barbados e aos franceses da

Martinica e Guadalupe, além de abastecê-los com escravos trazidos dos entrepostos da WIC

no golfo da Guiné. A partir da década de 1660, a produção de açúcar com mão-de-obra

escrava nas ilhas inglesas e francesas verificou crescimento notável, além de os mercadores

desses dois países passarem a envolver-se diretamente no tráfico negreiro transatlântico.

No começo do século XVIII, a paisagem física e humana do Caribe havia se modificado

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completamente: as ilhas converteram-se em imensos canaviais e a população tornou-se

esmagadoramente negra, quase toda ela escravizada11.

No curso das guerras contra os holandeses no Atlântico Sul, o abastecimento de

escravos aos engenhos brasileiros diminuiu de forma sensível. Se, entre 1601 e 1625,

haviam sido introduzidos cerca de 150 mil africanos escravizados na América portuguesa,

no quarto de século seguinte esse volume se reduziu para apenas 50 mil. De todo modo, a

invasão holandesa de Pernambuco e os conflitos que se seguiram contra os colonos luso-

brasileiros abriram boas oportunidades de resistência aos escravos que haviam

desembarcado em grande número no primeiro quarto do século XVII. Não por acaso, o

aporte cultural decisivo para a configuração política do reino "neoafricano" de Palmares foi

fornecido pelos grupos humanos originários do Centro-Sul da África, exatamente a zona em

que os traficantes portugueses mais operaram a partir de fim do século XVI12.

A dimensão e a força do quilombo de Palmares se explicam não apenas pela

conjuntura do conflito imperial entre portugueses e holandeses, mas pela própria demografia

da região das plantations açucareiras pernambucanas. Qualquer assertiva categórica sobre

a composição da população colonial antes do século XVIII é perigosa, mas creio que não há

riscos em afirmar que quando os holandeses invadiram a capitania de Pernambuco, os

escravos negros predominavam em termos numéricos sobre a população branca — e

mesmo sobre os indígenas "domesticados". Pode-se afirmar também, com base nos poucos

dados disponíveis, que a população negra livre era relativamente diminuta. Tratava-se,

enfim, de um quadro demográfico bastante propício à eclosão de movimentos coletivos de

resistência escrava, como a experiência posterior do Caribe inglês bem o demonstraria.

Após a expulsão dos holandeses, as tropas luso-brasileiras se encarregaram do

combate sem trégua aos palmarinos. O grande problema a ser enfrentado pelos colonos, no

entanto, encontrava-se na esfera econômica. A rápida montagem do complexo açucareiro

escravista nas Antilhas a partir da década de 1650 logo trouxe forte impacto negativo para

a economia açucareira na América portuguesa. O crescimento das produções inglesa e

francesa no Caribe derrubou o preço do açúcar nos mercados europeus, ao mesmo tempo

que a demanda por trabalhadores negros nas plantations antilhanas aumentou os preços

dos escravos no litoral africano. Além disso, os senhores de engenho luso-brasileiros tiveram

que enfrentar outros dois problemas. Em primeiro lugar, devido às políticas mercantilistas

adotadas pela Inglaterra e pela França na segunda metade do século XVII, que procuravam

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estimular a produção antilhana garantindo-lhe proteções monopolistas, o açúcar brasileiro

foi praticamente excluído desses dois mercados europeus. Em segundo lugar, entre 1640 e

1668, Portugal travou uma dura guerra contra a Espanha em prol da independência, no exato

momento em que o "Império da Pimenta" oriental entrava em colapso. Na segunda metade

do século XVII, as possessões do Novo Mundo se tornaram o sustentáculo econômico de

Portugal. Uma tributação pesada sobre o açúcar brasileiro foi criada então para dar conta

dos gastos com a diplomacia e a defesa do Reino.

Tais atribulações não impediram a sobrevivência da economia açucareira na América

portuguesa. Em que pesem a desorganização trazida pelas guerras do Atlântico Sul entre

as décadas de 1620 e 1650, a elevada taxação pós-1650, a concorrência antilhana e a

restrição do acesso a certos mercados europeus, os senhores de engenho luso-brasileiros

conseguiram manter a produção de açúcar em patamares estáveis. Para tanto, foi vital a

consolidação do sistema atlântico bipolar unindo a África aos portos brasileiros, assegurada

pela reconquista de Angola em 1648. Na segunda metade do século XVII, foram introduzidos

cerca de 360 mil africanos escravizados no Brasil. Tal sistema, ao garantir um fluxo contínuo

de escravos a baixo custo para os engenhos brasileiros, viabilizou a atividade econômica

açucareira da Colônia em uma conjuntura internacional bastante adversa.

Algumas evidências sugerem que, naquele período conturbado da economia

açucareira, as alforrias ganharam impulso. É certo que a manumissão de escravos se fez

presente na Colônia desde os primeiros anos. No entanto, a existência de documentação

seriada da prática apenas na segunda metade do século XVII talvez indique que ela tenha

se disseminado só após essa época. Na historiografia da escravidão brasileira, um dos

primeiros estudos feitos sobre o tema tratou exatamente da Bahia — ao lado de

Pernambuco, o centro da economia açucareira colonial — entre 1684 e 1745. O pesquisador

Stuart Schwartz registrou e analisou uma série de práticas relacionadas à manumissão, as

quais depois se repetiriam em diferentes tempos e espaços na América portuguesa e no

Império do Brasil. Dentre as mais de mil cartas de alforrias examinadas pelo autor, houve

uma proporção constante de duas mulheres libertadas para cada homem. Dado o amplo

predomínio numérico de homens no tráfico transatlântico e na própria composição das

escravarias, escreve Schwartz, "as mulheres obtinham liberdade numa proporção muito

maior do que as expectativas estatísticas". Igualmente privilegiados do ponto de vista

estatístico foram os escravos nascidos no Brasil, isto é, os crioulos e, sobretudo, os pardos:

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este grupo constituiu 69% do universo das alforrias, contra apenas 31% de africanos

libertados. Houve, por fim, grande proporção de crianças e adolescentes menores de 14

anos entre os alforriados. A tendência predominante de alforriar mulheres escravas em idade

fértil, conclui Schwartz, comprometeu as possibilidades de reprodução demográfica auto-

sustentável da escravidão brasileira, o que acabou por acentuar o papel estrutural do tráfico

negreiro transatlântico para repor a força de trabalho escrava13.

MINERAÇÃO

Esse padrão demográfico se consolidou com as descobertas auríferas na virada do

século XVII para o XVIII, ampliando-se geograficamente. A atração que a possibilidade de

enriquecimento rápido exerceu sobre a população metropolitana e colonial foi imensa,

levando grandes contingentes humanos a se transferirem para a nova região das minas.

Esse afluxo constituiu, nos termos de uma especialista, "a primeira grande migração maciça

na história demográfica brasileira"14. Afora o deslocamento interno na Colônia, as minas

atraíram para o Brasil um quantidade ainda maior de imigrantes portugueses, calculada em

cerca de 400 mil indivíduos durante todo o século XVIII. A grande onda migratória para a

região, contudo, foi compulsória. O volume do tráfico transatlântico de escravos para a

América portuguesa, que já era o maior do Novo Mundo, duplicou na primeira metade do

Setecentos. Entre 1701 e 1720, desembarcaram nos portos brasileiros cerca de 292 mil

africanos escravizados, em sua maioria destinados às minas de ouro. Entre 1720 e 1741,

novo aumento: 312,4 mil indivíduos. Nas duas décadas seguintes, o tráfico atingiu seu pico

máximo: 354 mil africanos escravizados foram introduzidos na América portuguesa entre

1741 e 1760.

O enorme avanço territorial e demográfico da colonização portuguesa na América

ocorrido no século XVIII se fez acompanhar por um aumento correspondente das tensões

econômicas, sociais e políticas. No caso específico de Minas Gerais, capitania criada em

1720, o processo tumultuário de ocupação de seu território se traduziu no aguçamento dos

conflitos: carência alimentar, que provocou fomes terríveis nos primeiros anos e a que se

sucederam ações especulativas no abastecimento de gêneros de primeira necessidade para

a região; embates entre os primeiros descobridores-povoadores (paulistas) e os adventícios,

tanto da Colônia como do Reino, que explodiram na Guerra dos Emboabas; esforços da

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Coroa para impor seu poder na região, com a criação de vilas e a instalação de um aparato

burocrático, acompanhados em contrapartida por resistência aguda dos colonos a tal política

de normatização15. Para nossos fins, no entanto, interessa ressaltar outro tipo de conflito

social, expresso nas fugas, na formação de quilombos e em planos mais amplos de levante

escravo.

Com efeito, diversos autores apontam que, dadas as condições particulares da

atividade mineratória, os escravos tiveram aí maiores oportunidades para exercer sua

autonomia e resistir ao controle senhorial. A dispersão espacial das lavras auríferas, a

possibilidade de os trabalhadores se apropriarem de parte dos resultados da extração ou o

próprio controle que detinham sobre o processo de trabalho (como no caso notório dos

pretos-minas, reputados como grande mineradores no período) ampliaram sobremaneira a

autonomia escrava. Por essas razões, os senhores recorreram com freqüência a meios não

coercitivos para garantir a regularidade da extração, o que, por sua vez, facilitou o acúmulo

de numerário e a compra da alforria pelos cativos16.

A existência de canais para o exercício da autonomia escrava não significou tão

somente acomodação com os poderes senhoriais, mas também maiores possibilidades para

a resistência. Quanto ao último ponto, os historiadores registram a presença de um grande

número de quilombos em Minas Gerais, os quais, repetidas vezes, mantiveram intensas

trocas econômicas com a sociedade que os circundava. João José Reis indica que essa

multiplicação da atividade quilombola pode ter sido decorrência da própria sanha repressora

da metrópole, pois a "definição mesquinha" de quilombo

como o ajuntamento de cinco ou mais negros fugidos arranchados em sítios

despovoados [...], concebida para melhor controlar as fugas, terminou por agigantar o

fenômeno aos olhos de seus contemporâneos e de estudiosos posteriores17.

Correta ou não a avaliação, o certo é que, dentre a miríade de pequenos ajuntamentos

de fugitivos, houve pelo menos dois grandes quilombos em Minas Gerais, cuja população

atingiu a casa do milhar: o Quilombo do Ambrósio, derrotado em 1746, e o Quilombo Grande,

vencido em 1759. Afora esses dois exemplos, os pesquisadores identificaram ainda três

planos de levante escravos (1711, 1719 e 1756), todos desbaratados antes que eclodissem.

A questão formulada no início do ensaio volta aqui: diante desse quadro social

explosivo, com amplo predomínio numérico da população negra sobre a população branca,

por que não houve nada similar a Palmares em Minas Gerais? A pergunta é ainda mais

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intrigante se lembrarmos que o exemplo dos palmarinos rondou a cabeça das autoridades

públicas mineiras por toda a primeira metade do século XVIII. As advertências feitas em

1718 pelo conde de Assumar ao rei d. João V são famosas: segundo o governador da então

capitania de São Paulo e Minas do Ouro, o combate aos quilombolas era assunto de

fundamental relevância, pois dele poderia "depender a conservação ou ruína deste país [...]

porque vejo mui inclinada a negraria deste governo a termos aqui algo semelhante aos

Palmares de Pernambuco"18.

Como já vimos, a resposta corrente é de que uma dura legislação repressiva, somada

à institucionalização da figura do capitão-do-mato, impediu a eclosão de novos Palmares na

América portuguesa. Alguns historiadores, no entanto, apresentam explicação alternativa.

Donald Ramos, por exemplo, sugere que a própria proliferação de pequenas comunidades

fugitivas em Minas Gerais serviu para esvaziar o poder de contestação ao sistema

escravista. O comércio ativo que muitos desses pequenos quilombos estabeleceram com a

sociedade mineratória indicaria que eles representaram antes uma "válvula de escape" do

que uma oposição frontal ao sistema escravista19. O que mais nos interessa na

argumentação de Ramos, contudo, é sua lembrança de que as alforrias desempenharam

papel análogo como esteio da ordem social escravista.

De fato, a prática da manumissão encontrou enorme difusão na América portuguesa

a partir do século XVIII. Não por acaso, uma parcela substantiva dos estudos sobre o assunto

tratam de Minas Gerais nesse período. Diante da impossibilidade de passar em revista todos

os trabalhos disponíveis ou mesmo os mais relevantes, o sumário dos resultados

apresentado recentemente por John Russell-Wood é bastante útil. Dois pontos

particularizaram a experiência mineira no conjunto da América portuguesa: em primeiro

lugar, a tendência a libertar-se mais no período de apogeu (primeira metade do século XVIII)

do que no período de retração da atividade aurífera; em segundo lugar, a presença mais

freqüente da coartação como mecanismo de libertação dos escravos, isto é, do pagamento

da carta de alforria pelo escravo em parcelas periódicas. Em tudo o mais que diz respeito à

prática da manumissão, resume Russell-Wood, os estudos sobre as minas setecentistas

Concordam que as mulheres eram preferidas aos homens, os mulatos aos negros, os

nascidos no Brasil aos nascidos na África, os escravos urbanos aos das regiões rurais e que

muitos senhores preferiam alforriar bebês em vez de adultos20.

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As alforrias em Minas Gerais, enfim, em linhas gerais reiteraram o modelo que Stuart

Schwartz encontrou para a Bahia já em fim do século XVII. Esse padrão obedeceu a uma

norma básica: quanto mais afastados da experiência do tráfico negreiro transatlântico,

maiores seriam as possibilidades de os escravos e as escravas ganharem alforria; o homem

africano, predominante nos tumbeiros, dificilmente a obteria, mas seus descendentes, em

uma ou mais gerações, sim.

O SISTEMA BRASILEIRO

No fim do século XVIII e início do XIX, a América portuguesa contava com uma

configuração demográfica ímpar no quadro das sociedades coloniais do Novo Mundo. Para

compreendê-la devidamente, vale dar uma olhada a vôo de pássaro nas demais colônias

européias de então.

As diversas ilhas açucareiras do Caribe inglês e francês, em que pesem as variações,

apresentaram durante todo o século XVIII desbalanço enorme entre a quantidade de brancos

e escravos negros. O predomínio numérico dos últimos foi esmagador, mesmo em colônias

com maior número relativo de colonos de origem européia. Esse foi o caso de Barbados,

que, durante o Setecentos, teve sempre cerca de quatro escravos negros para cada branco.

Já em colônias como São Domingos, às vésperas da revolução a proporção era de quinze

escravos para cada branco. Tampouco o número de negros e mulatos livres chegou a

equipar-se com o de escravos. Em São Domingos, esses grupos — que seriam decisivos

para o início da revolução que acabou por levar ao término da escravidão e do domínio

francês — não somavam mais do que 30 mil indivíduos, número equivalente ao da população

branca. Na Jamaica, a proporção era ainda menor21.

As colônias do Sul da América inglesa continental e, posteriomente, os estados do

Sul da República norte-americana, constituíram a outra sociedade escravista do Novo

Mundo que teve caráter birracial. Se lá a quantidade de negros e mulatos livres era tão

reduzida em termos relativos como no Caribe inglês e francês, havia porém equilíbrio

demográfico entre a comunidade branca e a comunidade negra escravizada.

Por fim, a América espanhola exibia a maior variedade demográfica entre as colônias

européias, contando no entanto com o aporte decisivo, nas colônias continentais, do

elemento indígena. A concentração da escravidão negra em cidades ou enclaves (como a

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região de Caracas, a região de Chocó, a costa de Lima) não permite caracterizar a sociedade

colonial espanhola como genuinamente escravista22.

A América portuguesa, pelo contrário, constituía uma sociedade desse tipo, mas algo

distinta do que se observava no Caribe inglês e francês e no Sul dos Estados Unidos. O que

a diferenciava era justamente uma considerável população livre negra ou mestiça

descendente de africanos, a qual vivia lado a lado com uma quantidade substantiva de

brancos, e uma maioria escravizada, composta em sua maioria de africanos e um número

menor de crioulos e pardos nascidos na América. Em que pesem as variações de capitania

a capitania (no extremo norte e no extremo sul, por exemplo, havia predomínio indígena) e

as imprecisões dos dados demográficos disponíveis, a população colonial brasileira no início

do século XIX guardava as seguintes proporções: 28% de brancos, 27,8% de negros e

mulatos livres, 38,5% de negros e mulatos escravizados, 5,7% de índios23.

A gênese dessa grande população livre negra e mulata se deu, fundamentalmente,

pela dinâmica do tráfico transatlântico de escravos acoplada à dinâmica da alforria. A

escravização dos africanos, seu transporte para o Brasil, as atividades que aqui

desempenharam como escravos (em geral, nas tarefas rurais e urbanas que não exigiam

qualificação), a recomposição dos laços familiares e culturais, a produção de descendentes,

que, em uma ou mais geração, certamente obteriam a liberdade via manumissão: todos

esses movimentos e outros mais podem ser tidos como parte de um processo institucional

em larga escala de transformação de status, tal como propuseram Patterson e Kopytoff.

Luiz Felipe de Alencastro percebeu com rara felicidade esse movimento na conclusão

de seu O trato dos viventes, ao examinar o que denomina de a "invenção do mulato".

Segundo ele, as práticas de favorecimento dos mulatos na América portuguesa podem ser

observadas em medidas como: emprego mais freqüente desse grupo em trabalhos

qualificados, uso militar em tropas auxiliares, e sobretudo, privilegiamento no ato da

manumissão. A esse quadro, Alencastro contrapõe a situação na África portuguesa, onde

os mulatos foram desde cedo equiparados aos negros. Em seus termos,

Houve no Brasil um processo específico que transformou a miscigenação — simples

resultado demográfico de uma relação de dominação e de exploração — na mestiçagem,

processo social complexo dando lugar a uma sociedade plurirracial. O fato de esse processo

ter se estratificado e, eventualmente, ter sido ideologizado, e até sensualizado, não se

resolve na ocultação de sua violência intrínseca, parte consubstancial da sociedade

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brasileira: em última instância, há mulatos no Brasil e não há mulatos em Angola porque aqui

havia a opressão sistêmica do escravismo colonial, e lá não24.

Resumindo: para garantir a reprodução da sociedade escravista brasileira no tempo,

fundada na introdução incessante de estrangeiros, era fundamental criar mecanismos de

segurança que pudessem evitar um quadro social tenso como o do Caribe inglês e francês

ou mesmo o de Pernambuco no século XVII. A libertação gradativa dos descendentes dos

africanos escravizados — não mais estrangeiros, mas sim brasileiros — constituiu o principal

desses meios. A prova definitiva da validade dessa equação é a associação de negros e

mulatos libertos e livres com o sistema escravista: o grande anseio econômico e social

desses grupos era exatamente a aquisição de escravos, ou seja, tornar-se senhor.

Diversos trabalhos recentes documentam a prática bastante comum de negros e

mulatos livres, libertos e mesmos escravos serem donos de escravos. Por conta da dinâmica

do tráfico para o Brasil, o mais volumoso na história do comércio negreiro transatlântico, o

africano escravizado era uma mercadoria socialmente barata25. Foi isso que permitiu

odisseminar da escravidão pelo tecido social brasileiro, marcando a particularidade desse

sistema escravista. Essa mecânica, por sua vez, teve peso decisivo para a configuração

econômica igualmente ímpar da América portuguesa.

Como há muito é consenso na historiografia brasileira, a partir do século XVIII, com o

impacto da mineração, houve grande diversificação na economia colonial. Antes de mais

nada, pelo aparecimento de uma produção ativa voltada ao abastecimento do mercado

interno, como a pecuária no Rio Grande do Sul e no vale do São Francisco, ou a produção

de mantimentos na própria capitania de Minas, em São Paulo e no Rio de Janeiro. O

surgimento de vários núcleos urbanos em Minas Gerais, e mesmo o crescimento de antigas

cidades como Rio de Janeiro e Salvador, também ativaram a economia interna. A produção

de tabaco, no Recôncavo Baiano, foi outra atividade que recebeu impulso, pois se tratava

de uma mercadoria central para a aquisição de cativos na Costa da Mina, especialmente

valorizados nas zonas mineradoras. E, por último, não se pode esquecer que os enclaves

de plantations açucareiras no Recôncavo Baiano, na Zona da Mata pernambucana e em

Campos dos Goitacazes mantiveram sua vitalidade ao longo do século, a despeito da

competição antilhana, que havia excluído seus produtores dos mercados inglês e francês.

O que importa para esta análise é o fato de todas essas atividades — rurais e urbanas

— terem se baseado na escravidão, com uma estrutura de posse dos escravos que os

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distribuía por diferentes faixas de riqueza, sem concentrá-los apenas nas mãos dos

senhores mais capitalizados ou mesmo dos proprietários brancos. A América portuguesa,

portanto, combinava com essas diferentes operações econômicas o leque das formas de

exploração do trabalho escravo presentes no Novo Mundo: a mineração e a escravidão

urbana da América espanhola, as plantations escravistas do Caribe, a produção de

mantimentos da região de Chesapeake.

Poder-se-ia argumentar que era igualmente essa a configuração econômica da

América espanhola, que tinha na região de Caracas, por exemplo, um escravismo de

plantation. Há que se lembrar, contudo, três diferenças básicas entre uma e outra. Em

primeiro lugar, o peso econômico decisivo da população indígena nas áreas centrais da

América espanhola, contraposto à generalização do trabalho escravo na América

portuguesa. Em segundo lugar, a ausência de integração econômica entre as colônias da

América espanhola: a despeito da profunda cisão entre o vale Amazônico e o restante da

Colônia, a mineração permitiu, na América portuguesa, uma integração econômica nada

desprezível — ante os meios de transporte do período , do Rio Grande do Sul a Pernambuco.

Terceiro, e mais importante, para a reprodução ampliada da economia, o tráfico negreiro

transatlântico teve papel crucial na América portuguesa. Há, neste ponto, uma distinção

substantiva em relação às colônias inglesas e francesas: lá, o tráfico negreiro sempre foi

controlado a partir das respectivas metrópoles; na América portuguesa, pelo contrário, desde

o século XVII, o tráfico foi gerido diretamente a partir dos portos brasileiros, isto é, os grandes

traficantes que garantiam a reprodução do sistema escravista estavam sediados em Recife,

Salvador e Rio de Janeiro, e não em Lisboa.

A crise da mineração e a expansão da agroexportação escravista na passagem do

século XVIII para o XIX — com o surgimento de novas áreas produtoras, como Maranhão

(com o algodão) e o oeste de São Paulo (com o açúcar) — e a recuperação de antigas áreas

produtoras, como Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro, não romperam com o sentido

sistêmico que o escravismo brasileiro adquirira no século precedente. Muito pelo contrário,

pois foi exatamente aquela configuração social e econômica que forneceu as bases para a

pronta resposta dos produtores escravistas da América portuguesa às novas condições

favoráveis do mercado mundial.

Para os fins deste ensaio, interessa examinar o caso da resposta dos baianos, de

grande relevo para a linha central de sua argumentação. A revolução escrava de São

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Domingos na década de 1790 trouxe modificações profundas nos quadros da produção de

açúcar nas Américas. Antes dessa data, a colônia francesa respondia por cerca de 30% da

produção mundial total de açúcar e era a maior produtora mundial de café. Com o levante

dos escravos, a partir de 1791, a produção açucareira e cafeeira de São Domingos entrou

em colapso, abrindo enormes possibilidades para a produção desses gêneros em outras

colônias nas Américas, a que se deve somar o aumento da demanda por gêneros tropicais

nos países em processo de industrialização. Em vista dessa nova conjuntura, o tráfico

negreiro transatlântico para a Bahia se acelerou para atender à demanda do setor açucareiro

por novos trabalhadores. A reativação da agroexportação no Recôncavo Baiano se fez

acompanhar pela ampliação do cultivo de mantimentos nas paróquias que não eram

adequadas ao plantio da cana e que também empregavam em larga escala a mão-de-obra

escrava. A própria cidade de Salvador viu sua população ampliar, com o consequente

aumento no número de cativos26.

Desde fim do século XVII, a zona de eleição do tráfico transatlântico de escravos para

Bahia era a Costa da Mina, ainda que parte dos traficantes operasse também em Angola.

Na virada do século XVIII para o XIX, aumentou muito a oferta de cativos na Costa da Mina

aos comerciantes baianos, por duas razões: primeiro, os traficantes ingleses e franceses

deixaram de operar na área, devido ao fim do tráfico para suas colônias; segundo, as guerras

intestinas na região, derivadas da jihad promovida por Usman dan Fodio, produziram grande

quantidade de cativos, dos quais parte substancial foi direcionada à Bahia.

Esses grupos egressos da Costa da Mina, sob diferentes identidades (Nagô, Hauçá,

Jeje, Tapa), promoveram o maior ciclo de revoltas escravas africanas de que se tem notícia

na história do Brasil. O caráter de resistência sistêmica à escravidão só teve equivalente,

antes, na Guerra dos Palmares e, depois, no movimento abolicionista da década de 1880.

Com efeito, entre 1807 e 1835, a Bahia viveu um período de rebeliões contínuas dos

escravos africanos, cujo ápice foi a Revolta dos Malês, "levante de escravos urbanos mais

sério ocorrido nas Américas"27.

No que resultou todo esse movimento de resistência? O ciclo de revoltas africanas

que a Bahia vivenciou entre 1807 e 1835 não teve nenhum efeito cumulativo para colocar

em xeque a ordem escravista brasileira; ao contrário, portanto, do ciclo de levantes escravos

ocorrido no mesmo período no Caribe inglês. O contexto atlântico mais amplo ajuda a

compreender a dimensão real dos levantes baianos. As revoltas de 1816 (Barbados), 1823

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(Demerara) e 1831 (Jamaica) foram decisivas para impulsionar a campanha contra a

escravidão negra no Império inglês. Por sua vez, a resistência escrava na década de 1880,

fundamental para o processo de abolição do cativeiro no Império do Brasil, não se valeu da

experiência histórica da onda de levantes africanos que a Bahia vivenciou entre 1807 e 1835.

Em uma frase: essas revoltas, apesar de sérias e violentas, não abalaram a ordem escravista

brasileira.

A chave para compreender esse fracasso reside exatamente nas clivagens que

separavam de forma radical os africanos escravizados de seus descendentes — negros e

mulatos — nascidos no Brasil. Não houve participação destes últimos grupos nos levantes

comandados pelos africanos escravizados na Bahia. Muito pelo contrário, como esclarece

João José Reis:

mulatos, cabras e crioulos forneciam o grosso dos homens empregados no controle

e repressão aos africanos. Eram eles que faziam o trabalho sujo dos brancos de manter a

ordem nas fontes, praças e ruas de Salvador, invadir e destruir terreiros religiosos nos

subúrbios, perseguir escravos fugitivos através da província e debelar rebeliões escravas

onde quer que aparecessem28.

O comprometimento social dos crioulos e mulatos — sobretudo quando livres e

libertos — com a instituição da escravidão, e não apenas o comprometimento dos senhores

brancos, foi o elemento decisivo que garantiu a segurança do sistema escravista brasileiro.

IDEOLOGIA E ESTADO NACIONAL

A blindagem criada por tal configuração sistêmica impediu não só a repetição de

Palmares, mas, acima de tudo, qualquer chance de uma revolução escrava como a de São

Domingos vir a ocorrer no Brasil. No século XIX, já no período do Estado nacional, esse

quadro social escravista interno altamente estável permitiu a expansão inaudita do tráfico

negreiro transatlântico — nas letras da lei, proibido desde 1831 — e do próprio escravismo

brasileiro. No período de quarenta anos compreendido entre a vinda da família real para o

Brasil (1808) e o fim definitivo do tráfico, em 1850, foi introduzido mais de 1,4 milhão de

cativos no Império, ou seja, cerca de 40% de todos os africanos desembarcados como

escravos em três séculos da história do Brasil. Nesse sentido, as mudanças que se operaram

no escravismo brasileiro oitocentista, em especial o incrível arranque da cafeicultura no vale

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do Paraíba, que rapidamente converteu o Brasil no maior produtor mundial do artigo, contou

com práticas arraigadas de longa duração, que possibilitavam introduzir enormes massas

de estrangeiros escravizados sem colocar em risco a segurança interna dessa sociedade.

No século XIX, a maior ameaça ao escravismo brasileiro veio de fora, ou seja, da

pressão antiescravista inglesa29. Não por acaso, a resposta ideológica que os senhores e

políticos brasileiros deram à ação diplomática e militar inglesa recorreu, entre outros pontos,

à própria lógica de funcionamento sistêmico da escravidão brasileira. Ao fazê-lo, inverteram

a visão ideológica que foi predominante na Colônia. Com efeito, salvo um ou outro caso, as

autoridades metropolitanas sediadas na América portuguesa sempre entenderam que o

setor de homens negros e mulatos livres representava mais risco do que segurança à ordem

colonial30. Em outras palavras, a maioria dos dirigentes metropolitanos não tinha consciência

do processo institucional do escravismo brasileiro.

Essa visão começou a modificar-se no início do século XIX, de início pela pena dos

viajantes europeus que então passaram a percorrer ou morar no Brasil. O inglês Henry

Koster, por exemplo, senhor de escravos em Pernambuco na segunda década do

Oitocentos, não deixou de observar a facilidade com que escravos crioulos e mulatos

obtinham a alforria no Brasil, contrastando-a com as dificuldades encontradas pelos

escravos do Caribe inglês31. Reside aí, nos relatos de viajantes europeus, a origem da

imagem da escravidão brasileira — e mesmo ibérica — como mais "benigna" do que a

escravidão anglo-saxônica.

Rapidamente o tema foi instrumentalizado pelos construtores do Estado nacional

brasileiro. A visão de que os libertos e seus descendentes eram aliados, e não inimigos dos

senhores de escravos brasileiros, apareceu em 1822, nos debates das Cortes de Lisboa,

quando se definiu o caminho da independência do Brasil. Naquela ocasião, ao discutir com

parlamentares portugueses os critérios de cidadania e participação política a serem

adotados pela futura Constituição, o deputado pelo Rio de Janeiro Custódio Gonçalves Ledo

afirmou:

Não há razão alguma para privar os libertos deste direito [de voto]. Há muitos libertos

no Brasil, que hoje interessam muito à sociedade, e têm grandes ramos de indústria; muitos

têm famílias; por isso seria a maior injustiça privar estes cidadãos de poderem votar, e até

poderia dizer que é agravar muito o mal da escravidão32.

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A definição de cidadania defendida por Custódio Ledo em Portugal cristalizou-se na

Constituição Política do Império do Brasil. Conforme o artigo 6, parágrafo 1 da Constituição

de 1824, os libertos, desde que nascidos no Brasil, eram considerados cidadãos brasileiros.

Portanto, apenas os libertos africanos eram excluídos do corpo social da nação. Essa norma

constitucional, por sua vez, franqueava aos libertos brasileiros a participação no processo

eleitoral: de acordo com os artigos 90 a 95, desde que possuíssem renda líquida anual de

cem mil-réis, esses ex-escravos poderiam votar nas eleições primárias, que escolhiam os

membros dos colégios eleitorais provinciais, mas não poderiam participar destes últimos; já

os ingênuos, isto é, os filhos dos libertos (tanto dos africanos como dos brasileiros),

poderiam igualmente votar e ser votados nos colégios eleitorais provinciais, desde que

cumprissem os critérios censitários.

Tratava-se, enfim, de uma definição de cidadania bastante inclusiva. O parágrafo

constitucional acabou virando peça da propaganda de defesa do tráfico negreiro

transatlântico para o Brasil, no contexto do acirramento das pressões inglesas. Em 1838,

José Carneiro da Silva, futuro visconde de Araruama, destacado político conservador,

defendeu a anulação da lei de 1831 e a legalização do tráfico negreiro com base justamente

na experiência histórica do escravismo brasileiro:

Tenho visto escravos senhores de escravos, com plantações, criações de gado

vacum e cavalar, e finalmente com um pecúlio vasto e rendoso. Tenho visto muitos escravos

libertarem-se, tornarem-se grandes proprietários, serem soldados, chegarem a oficiais de

patente, e servirem outros empregos públicos que são tão úteis ao Estado.

Quantos e quantos oficiais de ofícios e mesmo de outras ordens mais superiores que,

noutro tempo, foram escravos e hoje vivem com suas famílias, cooperando para o bem do

Estado nas obras e empregos em que são ocupados, aumentando a população e o

esplendor da nação, que os tem naturalizado!33

No século XX, essa experiência se tornou tema caro à historiografia. Basta lembrar

as teses de Gilberto Freyre e Frank Tannenbaum sobre o caráter supostamente benigno da

escravidão brasileira, que logo se converteram em ideologia da democracia racial. Não cabe

aqui jogar mais terra sobre esse caixão. O que não se pode nunca esquecer, entretanto, é

que toda essa equação deitou raízes na maior migração compulsória do mundo moderno —

um verdadeiro crime contra a humanidade, apesar das reticências atuais de países como

Portugal, Inglaterra e Holanda em classificá-la como tal.

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[1] Texto originalmente apresentado ao I Encontro entre Historiadores Colombianos e

Brasileiros, promovido pelo Ibraco em Bogotá, Colômbia, em agosto de 2005.

[2] Sobre Palmares, ver, de Décio Freitas: Palmares, a guerra dos escravos. Rio de Janeiro:

Graal, 1990 (1a ed. 1971) e República de Palmares. Pesquisa e comentários em

documentos históricos do século XVII. Maceió: Editora da Ufal, 2004.

Sobre a resistência escrava no Caribe inglês e francês e no Suriname, ver Patterson,

Orlando. "Slavery and slave revolts: a socio-historical analysis of the First Maroon War, 1655-

1740".Social and Economic Studies, vol. 19, no 3, set. 1970;

Craton, Michael. Testing the chains. Resistance to slavery in the British West Indies. Ithaca:

Cornell University Press, 1982;

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Johns Hopkins University Press, 1983;

Dubois, Laurent. Avengers of the New World. The story of the Haitian revolution. Cambridge,

MA: Belknap Press, 2004.

[3] Sobre a atividade quilombola em Minas Gerais, ver Guimarães, Carlos Magno. Uma

negação da ordem escravista. Quilombos em Minas Gerais no século XVIII. São Paulo:

Ícone, 1988.

Sobre o ciclo de revoltas na Bahia, ver Reis, João José. Rebelião escrava no brasil. A história

do levante dos malês em 1835. Ed. revista. São Paulo: Companhia das Letras, 2003.

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[4] Essa é a explicação proposta por Stuart Schwartz, que encontrou largo desenvolvimento

no trabalho de Silvia Lara. Ver, respectivamente desses dois historiadores, os ensaios

"Repensando Palmares: resistência escrava na Colônia". In: Escravos, roceiros e rebeldes.

Bauru: Edusc, 2001, e "Do singular ao plural: Palmares, capitães-do-mato e o governo dos

escravos". In: Reis, João José & Gomes, Flávio dos Santos (orgs.). Liberdade por um fio.

História dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

[5] A idéia que subjaz a essa diferenciação deriva em parte da proposta de Robin Blackburn

para a contraposição entre "escravidão barroca" e "escravidão moderna". Ver The making of

New World slavery. From the Baroque to the Modern, 1492-1800. Londres: Verso, 1997.

Blackburn, no entanto, não levou em devida conta a inserção das regiões de "escravismo

barroco" na modernidade, dentro da lógica do mercado mundial. Ver, a respeito, as críticas

pertinentes de Stuart Schwartz em "Review of the Making of New World Slavery: From the

Baroque to the Modern, 1492-1800, by Robin Blackburn". In: William and Mary Quarterly,

série 3, vol. LV, no 3, jul. 1998.

[6] Ver, a respeito, os seguintes trabalhos: Schwartz, Stuart. "Alforria na Bahia, 1684-1745".

In: Escravos, roceiros e rebeldes, pp. 165-212; Slenes, Robert. The demography and

economics of Brazilian slavery: 1850-1888. Tese de doutorado em História. Stanford:

Stanford University, 1976; Alencastro, Luiz Felipe de. "La traite négrière et l'unité nationale

brésilienne". Revue Française d'Histoire d'Outre-Mer, nos 244-245, 1979; Eisenberg, Peter.

"Ficando livre: as alforrias em Campinas no século XIX". In: Homens esquecidos. Escravos

e trabalhadores livres no Brasil, séculos XVIII e XIX. Campinas: Editora da Unicamp, 1989;

Karash, Mary. A vida dos escravos no Rio de Janeiro, 1808-1850. São Paulo: Companhia

das Letras, 2000; Mattos, Hebe Maria. "A escravidão moderna nos quadros do Império

português: o Antigo Regime em perspectiva atlântica". In: Bicalho, M. F.; Gouvêa, M. de F.

& Fragoso, João (orgs.) Antigo Regime nos Trópicos. A dinâmica imperial portuguesa

(séculos XVI-XVIII). Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001; Florentino, Manolo. "De

escravos, forros e fujões no Rio de Janeiro Imperial". Revista USP. Dossiê Brasil Imperial,

no 58, jul.-ago. 2003.

[7] Kopytoff, Igor. "Slavery". Annual Review of Anthropology, vol.11, 1982, pp. 221-22. Ver

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também Patterson, Orlando. Slavery and social death. A comparative study. Cambridge,

Mass.: Harvard University Press, 1982.

[8] Cf. Miller, Joseph C. "O Atlântico escravista: açúcar, escravos e engenhos". Afro-Ásia,

nos 19-20, 1997.

[9] Cf. Schwartz, Stuart. Segredos internos. Engenhos e escravos na sociedade colonial,

1550-1835. São Paulo: Companhia das Letras, 1988, pp. 22-73; Alencastro, Luiz Felipe

de. O trato dos viventes. Formação do Brasil no Atlântico Sul, séculos XVI e XVII. São Paulo:

Companhia das Letras, 2000, p. 69. Todos os dados sobre o tráfico transatlântico de

africanos para o Brasil doravante citados foram retirados dessa fonte.

[10] Cf. Alencastro, O trato dos viventes, pp.188-246; Marquese, Rafael de

Bivar. Administração & escravidão. Idéias sobre a gestão da agricultura escravista brasileira.

São Paulo: Hucitec, 1999, pp. 42-49; [ Links ]Puntoni, Pedro. A mísera sorte. A

escravidão africana no Brasil holandês e as guerras do tráfico no Atlântico Sul, 1621-1648.

São Paulo: Hucitec, 1999. [ Links ]

[11] Cf. Emmer, P. C. "The Dutch and the making of the second atlantic system". In: Solow,

B. (org.). Slavery and the rise of the Atlantic System. Cambridge: Cambridge University

Press, 1991.

[12] Cf. Schwartz, "Repensando Palmares", pp. 244-55.

[13] Cf. Schwartz, "Alforria na Bahia, 1684-1745", pp. 165-212.

[14] Marcílio, Maria Luiza. "A população do Brasil colonial". In: Bethell, Leslie (org.). História

da América Latina. Vol. 2: América Latina Colonial. São Paulo: Edusp/Funag, 1999, p. 321.

[15] Para uma visão de conjunto, ver o trabalho de síntese de Souza, Laura de Mello &

Bicalho, Maria Fernanda. 1680-1720. O império deste mundo. São Paulo: Companhia das

Letras, 2000.

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[16] Dentre esses estudos, veja-se com proveito Vallejos, Julio Pinto. "Slave control and

slave resistance in colonial Minas Gerais, 1700-1750". Journal of Latin American Studies,

vol.17, no 1, maio 1985.

[17] Reis, João José. "Quilombos e revoltas escravas no Brasil". Revista USP. Dossiê Povo

Negro — 300 anos. no 28, dez. 1995-fev. 1996, p.18.

[18] Apud Lara, Silvia. "Do singular ao plural: Palmares, capitães-do-mato e o governo dos

escravos", p. 90.

[19] Cf. Ramos, Donald. "O quilombo e o sistema escravista em Minas Gerais do século

XVIII". In: Reis, João José & Gomes, Flávio dos Santos (orgs.). Liberdade por um fio. História

dos quilombos no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.

[20] Russell-Wood, A. J. R. Escravos e libertos no Brasil colonial. Rio de Janeiro: Civilização

Brasileira, 2005, p. 315.

[21] Cf. Watts, David. Las Indias Occidentales. Modalidades de desarrollo, cultura y cambio

medioambiental desde 1492. Madri: Alianza Editoral, 1992, pp. 355-70.

[22] Sobre a escravidão na América inglesa continental e na América espanhola, ver

Blackburn, The making of New World slavery, pp. 457-508.

[23] Cf. Marcílio, "A população do Brasil colonial".

[24] Alencastro, O trato dos viventes, p. 353.

[25] Cf. Florentino, Manolo. Em costas negras. Uma história do tráfico atlântico de escravos

entre a África e o Rio de Janeiro (séculos XVII e XIX). Rio de Janeiro: Arquivo Nacional,

1995.

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[26] Cf. Barickman, B. J. Um contraponto baiano. Açúcar, fumo, mandioca e escravidão no

Recôncavo, 1780-1860. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.

[27] Reis, João José. Rebelião escrava no Brasil, p. 9.

[28] Reis, op cit., p. 322.

[29] Cf. Needell, Jeffrey. "The abolition of the Brazilian slave trade in 1850: historiography,

slave agency and statesmanship". Journal of Latin American Studies, vol. 33, no 4, nov.

2001.

[30] Para esta visão ideológica, ver os trabalhos de Sousa, Laura de Mello. Desclassificados

do ouro. A pobreza mineira no século XVIII. Rio de Janeiro: Graal, 1983, e Lara, Silvia

H. Fragmentos setecentistas. Escravidão, cultura e poder na América portuguesa. Tese de

livre-docência. Campinas: IFCH/ Unicamp, 2004.

[31] Cf. Koster, Henry. Viagens ao Nordeste do Brasil. Recife: Fundação Joaquim

Nabuco/Editora Massangana, 2002, capítulos XVIII e XIX, 2 vols. (1a ed. 1816).

[32] Apud Berbel, Márcia Regina & Marquese, Rafael de Bivar. "A escravidão nas

experiências constitucionais ibéricas, 1810-1824". Texto apresentado ao Seminário

Internacional Brasil, de um Império a Outro (1750-1850) Departamento de História, USP, set.

2005). Disponível em www.estadonacional.usp.br.

[33] Cf. Marquese, Rafael de Bivar & Parron, Tâmis Peixoto. "Azeredo Coutinho, Visconde

de Araruama e aMemória sobre o comércio dos escravos de 1838". Revista de História,

vol.152, 1o semestre 2005, p. 122.

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