Curso Lacan e a Psicanálise – Aula 3: Seminário 1 - o psicanalista e a linguagem

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Lacan e a Psicanálise: interlocuções com a contemporaneidade Tema : Seminário 1 (Os escritos técnicos de Freud): o psicanalista e a linguagem Coordenação Alexandre Simões ALEXANDRE SIMÕES ® Todos os direitos de autor reservados.

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Abordagem dos aspectos cruciais do Seminário 1 de Jacques Lacan: os escritos técnicos de Freud (1953-1954)

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Lacan e a Psicanálise:interlocuções com a contemporaneidade

Tema : Seminário 1 (Os escritos técnicos de Freud): o

psicanalista e a linguagem

Coordenação Alexandre SimõesALEXANDRE

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Jacques-Marie Émile Lacan (nascimento:

Paris, 13 de abril de 1901 / falecimento: Paris, 9 de setembro de 1981)

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As lições semanais do seminário são gravadas por uma estenotipista e só algum tempo após ganham uma forma escrita, que circulará por muitas mãos

Mais tempo ainda levará para que ganhem uma forma editorial convencional

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Este seminário, dedicado aos Escritos técnicos de Freud, (dizem respeito a um conjunto de textos de Freud que vai de 1904 a 1919) circulou em Paris a partir de 1975 e foi lançado em nosso país em

1979.

Não são palestras ou aulas, propriamente ditas. Mas sim uma construção em andamento - um

working in progress – confrontada com a oralidade, a audiência, o debate, a

experimentação. ALEXANDRE SIMÕES

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Ou seja, é um trabalho semelhante, em certa proporção, à Sagrada Família de

Antoni Gaudí

o projeto foi iniciado em 1882, assumido por Gaudí em 1883. Ocupou-lhe 40 anos de vida,

sendo que nos últimos 15, dedicou-se exclusivamente ao fazer e refazer da obra. A

construção foi suspensa em 1936, no período da Guerra Civil Espanhola. Ao que parece, sua

finalização não ocorrerá antes do centenário da morte de Gaudí (em 2026).

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Apesar do atual seminário ser nomeado ‘Seminário 1’,

ele não foi estritamente o primeiro. Nos dois primeiros anos nos quais Lacan se dedicou à

prática semanal do ensino da Psicanálise (1951 a 1953), ele se concentrou no comentário das

chamadas ‘Cinco psicanálises de Freud’

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Uma maneira fecunda de se prosseguir com as construções apontadas no espaço do seminário:

Pode ser obtida recorrendo-se não somente às próprias lições do atual seminário ou de outros seminários, mas ao diálogo que o

experimentalismo dos seminários estabelece com os textos escritos pelo próprio Lacan, síncronos ao seminário. ALEXANDRE

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A abertura do seminário indica, com clareza, o caminho por vir ao longo dos próximos anos:

Lacan explicita a dimensão de um “pensamento em movimento” que virá a formar o campo

freudiano: “O pensamento de Freud é o mais aberto à revisão. É um erro reduzi-lo a palavras

gastas.” (p. 9)

“Nós não seguimos Freud, o acompanhamos” (p. 142)

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É precisamente esta vivacidade da via freudiana que conduz Lacan a uma

afirmação que, em boa medida, será utilizada literalmente em seu último

ensino (pós-70):

“Temos de nos aperceber de que não é com a faca que dissecamos, mas com conceitos. Os

conceitos têm sua ordem de realidade original. (...) As primeiras denominações surgem das

próprias palavras, são instrumentos para delinear as coisas. Toda ciência permanece, pois, muito tempo nas trevas, entravada na

linguagem.” (p.10)

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Na sequência, Jacques Lacan prepara o terreno para o que ainda

virá a ser exposto, em breve, como a Primazia do Significante:

“... Quando interpretamos um sonho, sempre estamos em cheio no sentido.” (p.9)

“A introdução de uma ordem de determinações na existência humana, no domínio do sentido, se chama a razão. A

descoberta de Freud é a redescoberta, num terreno não-cultivado, da razão.” (p.12)

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A trajetória do Seminário 1 de Lacan vai possibilitar a retomada de alguns conceitos cruciais para a

tradição freudiana:

• Resistência;• Transferência;• Contratransferência

;• Discurso;• O lugar do analista;

A retomada destes conceitos não será feita sem

um movimento duplo:

a) a crítica à tradição freudiana, representada

pelos pós-freudianos contemporâneos a Lacan;

b) o início da reinvenção do lugar destes conceitos

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Como já anunciamos em nosso primeiro encontro: Jacques Lacan convidou os analistas de seu tempo bem como de

nosso tempo a um desafio:

“alcançar em seu horizonte a subjetividade de sua época” ...

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Face a esse momento, Lacan argumenta acerca de uma grande confusão quanto ao que é a psicanálise:

“Não sei se a maioria de vocês - uma parte pelo menos, eu espero - tomou consciência do seguinte. Quando, neste

instante - eu falo de agora, 1954, este ano novo em folha, novinho - se observa a maneira pela qual os diversos

praticantes da análise pensam, exprimem, concebem a sua técnica, dizemo-nos que as coisas estão num ponto a que não

é exagerado chamar a confusão mais radical.” (p. 19)

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Um ponto fundamental do percurso de Lacan

no Seminário 1:

a crítica à contratransferência

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Na época do seminário 1 a maior parte dos analistas conduzia as análises a partir da contratransferência

No que se refere à operação clínica da contratransferência, devemos sublinhar que os praticantes da análise recebiam algo vindo do analisando (suas demandas, seus impasses diante da

vida, seus sintomas, inibições, angústias, etc.) e devolviam para o paciente algo mais palatável, mais digerível (em última

instância, mais esclarecedor), tendo como ponto de partida eles mesmos (os analistas):

aquilo que sentiam, viam.

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Este tipo de condução, no qual o Imaginário é prevalente, conduzia as análises a um impasse (e este é o principal

motivo da crítica de Lacan)

O analisando terminava se identificando ao analista.

Aliás, este é ainda um índice bastante atual que pode nos

auxiliar a verificar o quantum de imaginário que há na condução de

uma análise:

a captura do analista pelo analisando

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“E é mesmo isso que há de grave. Porque nos permitimos efetivamente - como a

análise nos revelou que nós nos permitimos as coisas, sem o saber - fazer intervir o nosso ego na análise. Já que se

sustenta que se trata de obter uma readaptação do paciente ao real, seria preciso pelo menos saber se é o ego do

analista que dá a medida do real.

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Certamente, não basta que tenhamos uma certa concepção do ego para que nosso ego entre em

jogo como um rinoceronte na cristaleira da nossa relação com o paciente. Mas uma certa

maneira de conceber a função do ego na análise não deixa de ter relação com uma certa prática

da análise que se pode qualificar de nefasta.Apenas abro a questão. Cabe ao nosso trabalho

resolvê-la” (p.27)

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Distintas perspectivas acerca do eu:

Pós-freudianos contemporâneos a Lacan

• O eu como agenciador do recalque (-> “função

psicológica de síntese”; p. 192);

Lacan• O eu como sintoma: “O

ego aí se manifesta como defesa, recusa” (p. 67);

• Contratransferência: “a soma dos preconceitos do

analista” (p. 33)

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Lacan, próximo aos momentos finais de seu

seminário, expõe uma

problemática e propõe uma

fórmula:

Qual é o sujeito do discurso? (cf. p. 224)

“o desejo do homem é o desejo do outro” (p. 205)ALEXANDRE

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“... O de que se trata é menos lembrar do que reescrever a história.” (p.23)

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Prosseguiremos no próximo encontro com o tema

Seminário 2 (O eu na teoria de Freud e na técnica da psicanálise): o imaginário e sua consistência

Até lá!

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