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CURSO PARA PRELETORES E LÍDERES DA ILUMINAÇÃO 2º SEMESTRE 2009 Material do Orientador

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CURSO PARA PRELETORES E LÍDERES DA ILUMINAÇÃO

2º SEMESTRE 2009

Material do Orientador

Superintendência das Atividades dos Preletores

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SEICHO-NO-IE DO BRASILCurso para Preletores e Líderes da Iluminação

2º Semestre 2009Programa básico para Regionais

1º Dia (Sábado)

13h00-14h00 Inscrição14h00-14h20 Hino Sagrado Louvor a Deus

Declaração da aberturaHino Nacional Oração de Abertura – Orientador ResponsávelPalavras de Abertura – Orientador Adjunto

14h20-14h25 Hino Sagrado Canto para Consolidar a Fé14h25-15h05 1ª. Aula: A negação do corpo carnal e da matéria – A Verdade da

Vida, vol. 20 - Orientador Responsável (40´)15h05-15h20 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior (15´)15h20-15h25 Hino Sagrado Como as Estrelas15h25-15h55 2ª. Aula: O preletor vivendo o princípio do relógio de Sol – livro O

princípio do relógio de Sol (30´) - Orientador Adjunto15h55-16h05 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior (10´)

16h05-16h35 Intervalo (30’)

16h35-16h40 Hino Sagrado Universo Magnificente

16h40-17h20 3ª. Aula: - Os indígenas e a sua relação com a Natureza: Estudo recapitulativo das aulas do Curso Internacional Brasil – 2009 Orientador Responsável (40´)

17h20-17h35 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior – 15´Orientador Responsável

17h35-17h40 Hino Sagrado Canção a Primavera17h40-18h10 4ª. Aula: O “Renascimento”, cap. 8 de A Verdade, vol. Suplementar,

p. 101 a 114 - Orientador Adjunto (30´)18h10-18h20 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior – 10´18h20-18h25 Hino Sagrado Viver junto com Deus18h25-19h05 5ª. Aula: Lei da matéria é Lei de Deus?

(Módulo Suplementar para Preletores – Módulo 4) - Orientador Responsável (40´)

19h05-19h20 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior – 15´19h20-19h30 Explicações sobre o estudo “Respondendo às perguntas de rádio”.

(10´) – Orientador Responsável19h30-19h45 Meditação Shinsokan – Orientador Adjunto

19h45 Avisos - Fim das atividades do 1º dia

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2º Dia (Domingo)

06h30-07h30 Oração Matinal – Orientador Adjunto07h30-08h30 Café

08h30-08h40 Hino Sagrado Hino da AJSIHino Sagrado Viver Junto com Deus

08h40-09h10 6ª. Aula: Falemos mais da Imagem Verdadeira: “Vencendo os sofrimentos e os temores”, cap. 17, A Verdade vol. Suplementar – Orientador Adjunto (30´)

09h10-09h20 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior – 10´09h20-09h25 Hino Sagrado Canto para Consolidar a Fé09h25-09h55 7ª. Aula: O correto entendimento do que seja a Convergência ao

Centro – Referência: Módulo de Estudo da Seicho-No-Ie 2, p. 151Orientador Responsável (30´)

09h55-10h05 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior – 10’

10h05-10h15 Intervalo (10´)

10h15-10h20 Hino Sagrado Habitantes da Terra10h20-11h00 8ª. Aula: As grandes correntes religiosas e sua relação com a

Natureza: Estudo recapitulativo do Curso Internacional Brasil – 2009 – Orientador Responsável (40´)

11h00-11h15 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior – 15’ 11h15-11h20 Hino Sagrado Louvor a Deus11h20-12h10 9ª. Aula: Cursistas respondem às perguntas de rádio (50´)

Orientador Responsável

12h10-13h30 Almoço

13h30-13h35 Hino Sagrado Como as Estrelas13h35-13h55 10ª. Aula: Campanha da 54ª. Festividade do Santuário Hoozo

Orientador Adjunto (20´)13h55-14h05 Perguntas dos Cursistas referente aula anterior – 10´14h05-14h10 Hino Sagrado Louvor a Deus14h10-14h45 11ª. Aula Conclusiva – 35’ – Missão Sagrada, a nossa retribuição a

Deus - Orientador Responsável14h45-14h55 Preenchimento da Ficha de Impressão14h55-15h15 Entrega de diplomas – Orientador Responsável15h15-15h20 Oração de Encerramento – Orientador Responsável15h20-15h25 Marcha da Missão

EncerramentoLivros-texto:A Verdade Volume Suplementar, Masaharu TaniguchiA Verdade da Vida, vol. 20, Masaharu Taniguchi

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O princípio do Relógio de Sol, Masanobu TaniguchiPalavras de Boas-Vindas

Agradecer e parabenizar a todos pela presença.

Frisar os seguintes pontos:

1. Curso para Preletores não é um Seminário. O Seminário é aprimoramento espiritual, voltado essencialmente para a prática do ensinamento; o Curso é aperfeiçoamento, capacitação para melhor desempenharmos a função de preletor/L.I. É voltado para o estudo sistemático da doutrina.

2. No ato da inscrição, preencha a ficha de inscrição e entregue na recepção. 3. Atrasos e saídas antecipadas: Ao chegar após o horário de início do Curso, deverá ser registrado no verso da ficha o horário de chegada e o motivo do atraso. O mesmo deve ser feito em casos de saída antecipada. Todos os casos serão posteriormente analisados pela Superintendência das Atividades dos Preletores, podendo resultar no abono ou falta justificada.

4. Ao final do Curso teremos o horário reservado para o preenchimento do formulário de impressão. Ela é o comprovante de que o curso foi assistido na íntegra. A presença está condicionada à apresentação desse formulário. Todas as sugestões, observações e críticas construtivas serão lidas e aproveitadas na elaboração do programa dos próximos cursos. Sua opinião é muito importante para nós.

5. As pessoas ausentes deverão, através do Presidente da Associação dos Preletores, apresentar a sua justificativa de ausência. A ausência justificada pode ou não ser abonada e dependerá da análise e parecer da Superintendência das Atividades dos Preletores. Sendo o Curso para Preletores prioridade para todos os Preletores, estar ausente por orientar outras atividades não tem abono.Exceção: Domingo da Seicho-No-Ie, cuja escala deve ser informada pelo Presidente da Associação dos Preletores.

6. Além disso, comentar rapidamente sobre os temas que serão abordados no curso e incentivar os preletores a aproveitarem mais esta oportunidade de estudo.

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1ª. aula: A negação do corpo carnal e da matéria – A Verdade da Vida, vol. 20

Nessa noite, tive um sonho no qual Deus conversava com um jovem.

Deus — Você tem alcançado progresso no que se refere ao aprimoramento espiritual. Jovem — Mas tenho sofrido muito. Deus — É bom que sofra bastante. É através disso que o espírito evolui. Jovem — Pois me parece que estou regredindo em vez de evoluir. Deus — (Lança um olhar cheio de misericórdia ao jovem.) Não se aflija, você está no

caminho certo. Jovem — Salve-me desse dilema! Deus — Não posso fazer isso, pois fui eu que coloquei você nessa situação. Jovem — O Senhor?! Oh! Mas... por quê? Deus — Esse sofrimento serve para aperfeiçoá-lo. Você ainda precisa passar por

muitas etapas de aprimoramento. Jovem — Ainda há muitos obstáculos pela frente? Deus — Sim. Você ainda está no começo da dura jornada. Jovem — Mas sinto que o peso do sofrimento já é demais para mim... Deus — Jamais faço as pessoas carregarem fardos pesados demais para elas. Você

está exagerando seu sofrimento. Jovem — Oh... Que devo fazer para eliminar as impurezas da mente? Devo

abandonar tudo e voltar a postar-me nas esquinas para pregar a Verdade? Deus — É você que deve refletir e tomar a decisão. Só lhe digo uma coisa: fui eu que

resolvi colocá-lo na atual situação, ao vê-lo pregando tranquilamente a Verdade nas esquinas.

Jovem — ...Deus — Enquanto se empenhava em pregar os ensinamentos com a mente livre das

preocupações, você se sentia intimamente orgulhoso de seu desprendimento. Movido por uma espécie de vaidade, você pensava que os outros deviam imitá-lo. E achava que a maioria das pessoas não era capaz de levar uma vida como a sua, devido ao apego às coisas mundanas. Então, resolvi dar-lhe uma oportunidade para refletir melhor, e fiz com que você se casasse e tivesse uma filha para criar.

Jovem — ...Deus — Quem leva uma vida como a que você levava antes, ou seja, livre e

desimpedida para poder se dedicar à pregação dos ensinamentos, não tem o direito de criticar os que têm uma família para sustentar e não podem dedicar-se inteiramente a tal obra. Não é possível que todas as pessoas levem o mesmo tipo de vida. Não se deve medir os outros com sua própria medida. Até agora, você sentia indignação pelo fato de os outros não serem abnegados e desapegados como você.

Jovem — Acho que o Senhor tem razão. Minha mente estava cheia de críticas em relação aos outros. Mas essa arrogância íntima já se desmoronou.

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Deus — Mesmo depois de se casar, enquanto sua esposa tinha saúde, você podia continuar levando aquela vida de abnegação e desapego às coisas materiais, junto com ela. E, até mesmo depois do adoecimento dela, foi-lhe possível continuar vivendo como antes, pois pôde contar com a solidariedade dos amigos que o estimavam e o respeitavam devido à vida virtuosa que você levava. Então, a fim de submetê-lo a uma prova, fiz com que sua esposa engravidasse.

Jovem — Oh...Deus — Mas eu sabia que, também dessa vez, seus amigos ajudariam a você e a sua

esposa. Então, fiz com que as casas de seus amigos fossem destruídas pelas chamas por ocasião do grande terremoto. E, assim, seus amigos também ficaram sem nenhum bem material. Mesmo assim, eles fizeram o possível para ajudá-los.Tanto você como sua esposa, que estava no último mês de gravidez, conseguiram sobreviver graças à ajuda de seus amigos e puderam chegar sãos e salvos à casa de seus pais adotivos, fugindo da cidade de Tóquio assolada pelo terremoto. Pois foi ali que os aguardava a provação que eu havia preparado para você.

Jovem — (Solta um gemido.) Deus — Você deve suportar esse sofrimento. É através disso que sua alma será

purificada. Sei que é uma provação muito difícil e dolorosa para você. Ao passo que você é uma pessoa extremamente espiritualista, seus pais adotivos são pessoas bastante materialistas. Eu sabia que eles se oporiam com veemência quando você, apesar de morar na casa deles, resolvesse continuar se empenhando na pregação da Verdade, sem receber nenhum tostão por isso.

Jovem — Meu pai adotivo me disse: “Pelo fato de você ser assim, tão desligado das coisas materiais, é que nós, seus pais, temos que nos preocupar tanto com o dinheiro, apesar de já passarmos da casa dos sessenta”.

Deus — E o que você respondeu?Jovem — Respondi que estava tentando provar, com meu próprio modo de viver, que

todos poderão ser felizes se seguirem meu exemplo e viverem uma vida totalmente sem apego à matéria. (A imagem de Deus se desvanece, e em seu lugar surge a imagem do pai adotivo.)

Pai adotivo — Você ainda continua a dizer essas baboseiras?! Não conheço alguém mais egocêntrico que você. Não lhe importa o que possa acontecer a seus pais, contanto que você possa continuar nessa vida sem apego e sem preocupações, não é? Enquanto você leva essa vida instável, eu e sua mãe vamos envelhecendo. Para piorar a situação, você gerou uma filha. E, já que a morte não escolhe a idade das pessoas, é possível que você, sendo fraco como é, morra antes de nós. Pense um pouco na sua filha e em nós. Se você morrer deixando a sua filha ainda pequenina, eu e sua mãe precisaremos criá-la. Nesse caso, como você não terá deixado nada para garantir o futuro da criança, eu e sua mãe precisaremos redobrar nossas preocupações com o dinheiro. Em última análise, pessoas como você não ajudam os outros a minorarem o apego a bens materiais. Pelo contrário, embora elas próprias sintam-se livres e despreocupadas por terem abandonado completamente o apego à matéria, deixam que todas as preocupações com as coisas materiais fiquem pesando sobre seus familiares — em seu caso, sobre os ombros dos pais idosos.

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Jovem — Oh... Por favor, não me acuse assim... Se nos encontramos nesta situação, é porque o senhor e a mamãe se recusam a pensar e a viver como eu... Oh, Deus...

(O jovem fecha os olhos. A imagem do pai adotivo se desvanece, e surge outra vez a imagem de Deus.)

Deus — Desde os tempos antigos, aqueles que se propuseram a salvar a humanidade tiveram de contrariar seus próprios pais, pelo menos uma vez na vida. Podemos citar como exemplo Jesus Cristo, Sakyamuni, São Francisco, entre outros. Não se aflija. O que está lhe acontecendo é apenas uma fase que tem de ser atravessada.

Jovem — Mas sinto-me aniquilado. Sinto-me como se tivesse caído num abismo profundo, e sem forças para me levantar e sair dele. Já não posso seguir o exemplo de Sakyamuni, de Jesus Cristo ou de São Francisco. Posso ter a ousadia de contrariar os pais, mas não posso, de modo algum, abandonar minha filha. Não posso deixá-la sob a custódia dos outros. Não posso agir como o personagem de uma das obras do escritor Hyakuzo Kurata, o qual deixou temporariamente seu filho sob a custódia de um bandido, visando alcançar seu próprio despertar espiritual.

Deus — Confie sua filha a Mim. Mesmo que você cuide pessoalmente dela, não poderá dispensar-lhe total atenção em todos os sentidos. Por mais que você se empenhe, não poderá evitar problemas, pois o homem carnal é cheio de falhas. Sua filha está com problemas intestinais, não é? (Ouve-se o choro do bebê.)

Jovem — Está, sim. Deus — Com certeza, você não sabe por que o bebê contraiu essa doença. (Ouve-se

de novo o choro do bebê.) Jovem — Não sei como isso foi acontecer, pois eu e minha mulher vínhamos

tomando muito cuidado com a saúde de nossa filhinha. O que será que fizemos de errado?Deus — Não posso responder a essa pergunta enquanto você não me confiar

inteiramente a sua filha.Jovem — Mas diga-me pelo menos se ela vai ficar boa!Deus — Do jeito como está, ela não vai sarar. (Novamente ouve-se o choro do bebê.) Jovem — Oh, não! Não diga isso! Salve-a, por favor!Deus — Você ainda continua a pensar que o ser humano é um ser carnal. Aí está seu

grande erro. Nada posso fazer enquanto você insistir em cuidar de sua filha com a limitada força do homem carnal. (De novo, o choro do bebê.)

Jovem — Minha filha não vai sarar... Oh!... (Chora. Depois chama a esposa.) (A imagem de Deus vai se desvanecendo gradativamente, e em seu lugar surge a

imagem da esposa.) Jovem — Como está o bebê? Esposa — (Muito aflita) O médico acabou de examiná-la e disse que talvez ela não

passe desta noite. Ele fez-lhe a lavagem intestinal e constatou a presença de alimentos indigeridos nas fezes.

Jovem — Que tipo de alimento? Esposa — Pareciam grãos de feijão-azuqui. Jovem — Então, foi isso! Meus pais deram a ela doce de feijão-azuqui em grão!

Sempre receei que eles cometessem erros como esse, e por isso não posso voltar a me empenhar no trabalho em prol da humanidade, deixando o bebê aos cuidados deles. Meus

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pais pensam que amar o bebê é enchê-lo de comida. Por isso, tenho de ficar sempre por perto para evitar que eles lhe deem alimentos inadequados. Mesmo assim, acabou acontecendo isso! (Anda em círculos, pelo quarto.)

(A imagem da esposa se apaga, e surge de novo a imagem de Deus, envolto numa luz intensa.)

Deus — (Solenemente) O homem não é matéria. Quem tenta criar o filho com recursos materiais fatalmente comete falhas. Mas a providência divina jamais falha. Confie a mim a sua filha! Um filho de Deus deve ser criado por Deus.

(O jovem se prostra no chão. Torna-se ainda mais intensa a luz que envolve a imagem de Deus, e a figura do jovem torna-se invisível, como que mergulhado nos fachos de luz. Em seguida, a imagem de Deus também se apaga.)

2

Depois que eu tive esse sonho, a doença de minha filha começou a ceder com uma rapidez surpreendente. Por outro lado, começou a ocorrer uma grande transformação dentro de mim. Passei a examinar a mim mesmo com toda a honestidade, procurando saber onde estava a falha da vida que eu estava levando. Eu ainda não era capaz de confiar tudo nas mãos dos outros. Queria sair da situação em que me encontrava. Mas isso seria impossível enquanto não tivesse uma renda maior, o suficiente para manter a mim e minha família. Eu questionava: “Se não posso pedir à associação para a qual trabalho de graça uma garantia para a subsistência de minha família, e se, mesmo que eu pedisse, a associação não estiver em condição de me atender, então eu deveria deixar de prestar esse trabalho, que consiste em escrever artigos para conduzir as pessoas ao caminho da Verdade, mesmo sentindo que essa é minha missão? Será que devo desistir de tentar levar avante o que julgo ser minha missão, considerando esse empenho uma obsessão de minha parte, e, agindo de um modo mais natural para a circunstância, procurar atender às exigências de meus pais adotivos?”. Baseado em que fundamento deveria eu deixar de lado essa minha obsessão em favor da obsessão de meus pais adotivos? Sentia-me desorientado. Deveria eu ser fiel unicamente àquilo que julgo ser minha missão ou deveria procurar atender também às exigências de meus pais? Deveria, outrossim, ser fiel à minha missão como pai, que consiste em criar corretamente o filho? “Numa circunstância em que esses três caminhos parecem conflitar-se, qual devo escolher e qual devo abandonar? E em que basear a escolha?” Como eu acreditava que a boa ou a má condição de saúde da criança dependia de elementos materiais, parecia-me impossível criar corretamente minha filha na situação em que me encontrava, ou seja, morando na casa de meus pais adotivos.

Cogitava em sair da casa deles levando comigo a esposa e a filha, mas sabia que a quantia de 40 ienes que o sr. Imai me entregava mensalmente não dava para nossa subsistência. Para poder levar uma vida independente de meus pais adotivos e criar corretamente minha filha, e ao mesmo tempo continuar empenhado no trabalho em prol da humanidade que eu considerava uma missão a mim atribuída, precisava ter uma renda maior. Lamentei a minha falta de poder econômico. O que me levou a essa incompetência, que me impossibilitava até de proporcionar proteção e segurança à minha própria filha?

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Refleti seriamente: Não estaria eu com uma obsessão exagerada de “pobreza honrada”? Não teria caído nesse estado de carência porque considerava indigno o enriquecimento, achava humilhante fazer exigências em termos de dinheiro e deixava de receber até mesmo aquilo a que fazia jus? Empenharmo-nos naquilo que consideramos nossa missão em prol da humanidade é um ato de grande dignidade. Mas, ao fazê-lo, não deveríamos pedir, sem constrangimento, apoio material suficiente para nosso sustento? Quando não há uma troca justa, ou seja, quando nos empenhamos em extrair tudo de nós mesmos e dar aos outros sem nada receber deles, será que não acaba secando a nossa fonte interior? As árvores frondosas, carregadas de frutos, estendem suas viçosas raízes no solo e absorvem os nutrientes necessários, sem nenhuma hesitação. Estarão elas agindo erroneamente? Claro que não. A verdade é que o solo não empobrece pelo fato de as árvores lhe sugarem os nutrientes, porque elas, em troca, adubam-no com as folhas que se desprendem e contribuem para a formação do humo. O mesmo ocorre com as pessoas em relação a seu meio. Quem pensa que os bens materiais são limitados não pode deixar de pensar que, se receber algo do outro, estará causando a ele uma perda na mesma proporção. Mas não será verdade que os bens materiais também são ilimitados e circulam eternamente, não escasseando por mais que os tomemos para nós? Se uma frondosa árvore frutífera “cismar”, de repente, que é errado absorver os nutrientes do solo e resolver parar de estender suas raízes, ela irá se enfraquecendo e tornar-se-á incapaz de dar frutos. Essa árvore estaria sendo muito tola. Será que eu não vinha agindo como essa árvore tola? Achava indigno acumular bens materiais. Nem cogitava em reivindicar uma remuneração pelo trabalho em prol da humanidade que eu vinha desenvolvendo, considerando que fazer tal reivindicação seria um procedimento abominável para quem se dedica à pregação do caminho da Verdade. Mas, pensando bem, essa atitude não seria, justamente, a de uma pessoa com a mente presa a bens materiais? Quem tiver transcendido verdadeiramente os bens materiais não se sentirá constrangido em possuí-los, nem ficará aflito por não possuí-los; não os buscará ansiosamente, nem se sentirá envergonhado em pedi-los, quando for preciso. Ele os buscará na medida necessária, e não se sentirá constrangido em recebê-los. É assim que deve ser, pois os bens materiais não são existência verdadeira e, na realidade, não têm domínio sobre o homem. Que haveria de vergonhoso em possuí-los? Se penso que a posse de bens materiais macula o ser humano, não será porque eu ainda não consegui despertar para a Verdade de que a matéria não é existência verdadeira? Chegando a esse ponto da reflexão, “ouvi” uma enérgica voz interior que dizia: “A matéria não existe!”, e senti-me como se me tivessem sacudido a mente. No momento seguinte senti-me livre daquela obsessão de “pobreza honrada”, que me mantinha tolhido. Escrevi para o sr. Asano (presidente da entidade para a qual eu vinha trabalhando gratuitamente), solicitando-lhe uma remuneração, o suficiente para manter a mim e minha família. Cerca de cinco dias depois, recebi a resposta, nos seguintes termos: “... É justa a sua reivindicação. Porém, como já deve ser de seu conhecimento, a sede da nossa associação foi duramente atingida pelo último terremoto, e ainda nem temos ideia de quando poderemos nos recuperar dos danos sofridos. Perdemos muitos associados, e nós, os poucos voluntários remanescentes, mal e mal podemos arcar com a publicação da revista da entidade. Lamento, mas não posso atender a sua solicitação. Contudo, quanto ao reembolso das despesas referentes à

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publicação, deixei instruções com o sr. Imai e, assim sendo, peço-lhe que entre em contato com ele”.

Senti um mal-estar ao ler essa carta. Fiquei indignado ao perceber que o sr. Asano estava fugindo da responsabilidade e empurrando a questão para o humilde sr. Imai, que muito tem feito para a associação, sem o merecido reconhecimento. Do mesmo modo que as pessoas pobres acostumadas a receber caridade acabam achando natural ser sustentadas pelos outros, as pessoas acostumadas a receber colaboração gratuita tendem a pensar que é natural os outros lhes prestarem serviços sem remuneração; e quando algum colaborador resolve reivindicar uma remuneração, ainda que seja o mínimo necessário para sua subsistência, acham absurda tal reivindicação.

Escrevi novamente ao sr. Asano, expondo o que eu sentia na ocasião: (...) Antes eu achava vergonhoso fazer reivindicações em termos financeiros.

Mas estive refletindo bastante, e compreendi que aquela fixação pela “pobreza honrada” não vinha de minha fortaleza moral, e sim da minha fraqueza. Acho lamentável a atitude do senhor, que parece pensar que as pessoas de boa vontade devem sentir alegria em oferecer colaboração sem recompensa, e que os empresários devem fazer prosperar seus empreendimentos tirando o máximo proveito das pessoas de boa vontade, dóceis e ingênuas. Até há pouco tempo, eu procurava servir de bom grado a todos, sem pensar que estavam tirando proveito de mim, mas agora sei que nem sempre devo me submeter à vontade dos outros. Antes, eu acreditava que anular-me completamente e atender todas as vontades das pessoas a meu redor fosse prova de desapego, e empenhava-me em proceder desse modo. Mas agora sei que tal empenho também é uma forma de apego. O estado de verdadeiro desapego é aquele em que não tendemos a nenhuma ideia fixa. Não devemos ficar com a mente presa nem mesmo à ideia de que é preciso ser gentil, pacífico e dócil em toda e qualquer circunstância. Quem alcança o estado de verdadeiro desapego torna-se completamente livre e, mesmo sendo gentil, pacífico e dócil, poderá, quando necessário, tomar atitudes as mais enérgicas possíveis. Até agora, eu considerava mesquinho protestar ou fazer reivindicação. Mas acabo de perceber que isso constituía uma ideia fixa que me tolhia a mente. O senhor diz que a associação não tem condição de passar a remunerar-me por meus serviços. Então, peço-lhe que me pague pelo menos a quantia a que tenho direito pelos serviços prestados em agosto, mês anterior ao terremoto. Solicito-lhe a urgente remessa da referida quantia. Lembro-lhe, uma vez mais, que já readquiri a liberdade de fazer reivindicações quando isso é justo e necessário (...).

Reconheço que foi uma carta um tanto agressiva. O sr. Asano não me respondeu. Mas, passados muitos dias, recebi uma carta do sr. Imai, nos seguintes termos:

O sr. Asano mostrou-me a carta que você escreveu a ele. Este seu velho amigo lamenta que você tenha tomado tal atitude. Na verdade, não consigo compreender por que você agiu assim. Até hoje, você sempre me consultou, qualquer que fosse o assunto. Mas desta vez não me contou nada e agiu segundo sua decisão arbitrária. Tenho sido seu amigo há muito tempo e tenho procurado ajudá-lo sempre. Lamento

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não ter podido satisfazê-lo. Para ser franco, acho realmente mesquinha essa sua atitude de reivindicar agora ao sr. Asano a paga do serviço que você prestou voluntariamente. Parece estar convencido de que, pelo fato de você ter trabalhado gratuitamente para o sr. Asano e por ele ter aceito a sua colaboração gratuita, você foi usado e fez papel de bobo. Mas não é bem assim. Nós (note que eu disse “nós”) não estamos, em absoluto, oferecendo colaboração gratuita ao sr. Asano. Na verdade, estamos trabalhando por uma grande causa. Nosso trabalho é difícil e nossos esforços raramente são reconhecidos; por isso, se pensarmos que estamos servindo ao objetivo egoístico de um indivíduo, não podemos deixar de nos sentir logrados; mas, se percebermos que, na verdade, estamos empenhados numa grande causa, podemos compreender a nobreza e a dignidade de nosso trabalho. Reconheço que certas atitudes do sr. Asano dão margens à crítica. Não é que eu não perceba isso. Porém, entendo que pessoas como ele também são necessárias quando se trata de lidar com o público e divulgar a Verdade. Em última análise, o sr. Asano não está fazendo-nos trabalhar de graça; ele próprio é, num certo sentido, um instrumento do Ser Superior, por cuja causa trabalhamos. O que queremos é empenharmo-nos ao máximo pela causa do Ser Superior. Agora, voltando à questão prática, quanto à quantia que você reivindicou ao sr. Asano, permita que eu lhe pague, mesmo porque concordo com sua ideia de formar um lar independente, separando-se de seus pais adotivos.

Senti remorso, constatando que, afinal de contas, acabei colocando mais um peso nas costas do bondoso sr. Imai. Fiquei cogitando em abandonar a Associação para o Estudo de Fenômenos Espirituais e partir em busca de um outro caminho que me possibilitasse reivindicar livremente, sem nenhum constrangimento, de uma fonte inesgotável, os recursos necessários para meu sustento, de modo a não mais sobrecarregar o generoso sr. Imai. Senti vontade de gritar para o céu e pedir que me mandasse as coisas essenciais para minha vida.

Justamente por essa época, o sr. Asano havia descoberto um médium chamado Domyo Goto, que dizia ter o poder de trazer em pouco tempo objetos de lugares bem distantes. Não se tratava de fenômeno de aporte propriamente dito, em que o médium permanece no recinto onde se realiza a experiência e transporta para junto de si objetos que se encontram em lugares distantes. O poder do sr. Goto (segundo ele próprio afirmava) consistia em entrar no mundo da quarta dimensão e de lá trazer vários objetos. “Se tal fenômeno fosse realmente possível, eu também gostaria de trazer do mundo da quarta dimensão as coisas necessárias para minha subsistência” — pensei. O sr. Asano me pediu que presenciasse as sessões desse médium e escrevesse um artigo sobre isso. Assim, durante cerca de dez dias, acompanhei o sr. Asano e assisti às experiências. Numa das vezes, quando a sessão foi realizada na casa do sr. Makoto Tobita, vereador de Kobe, o referido médium deixou o local por algum tempo, retornou trazendo consigo cinco peras embrulhadas num jornal de idioma inglês e disse: “Estive no mundo da quarta dimensão e ganhei de Deus estas peras. Ele disse que são peras da Califórnia”. Sendo uma pessoa perspicaz e cética, o sr. Makoto Tobita não acreditou no que o médium disse e resolveu averiguar a procedência daquelas peras. Acabou descobrindo que o jornal de idioma inglês usado para embrulhar as referidas frutas era um exemplar de Japan Chronicle, editado em

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Kobe, e que aquela espécie de pera, de origem americana, embora muito rara no Japão, podia ser adquirida num determinado mercado de Kobe. Indo ao aludido mercado e fazendo perguntas ao proprietário, soube que já se produzia a referida espécie de pera na província de Okayama. Incidentes como esse revelaram que muitas das experiências mediúnicas realizadas por esse médium não passavam de farsa. Contudo, ele tinha uma eloquência extraordinária que prendia a atenção dos ouvintes. Mesmo sendo um mentiroso, conseguia, com seu discurso fluente, tocar o coração dos ouvintes e fazer com que muita gente encontrasse, por meio de suas palavras, o caminho da Verdade. Certa vez, ele disse o seguinte durante um discurso: “Muitos dos que são considerados homens de bem parecem estar constantemente empenhados em tornar-se pobres. Por serem pobres, não têm capacidade de ajudar os outros; eles próprios sofrem, e os que estão ao redor deles também sofrem. São pessoas que estão praticando o mal, pensando estar praticando o bem”.

Essas palavras me atingiram em cheio, pois era exatamente isso que estava acontecendo comigo, naquela época.

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Eu era exatamente como o referido médium disse. Era, por assim dizer, uma pessoa empenhada em ser pobre; consequentemente, não tinha capacidade para ajudar os outros. Além de eu próprio sofrer, causava sofrimentos a meus pais adotivos, minha esposa e minha filha. Realmente, eu vinha praticando o mal, pensando que estava praticando o bem. Percebi que estava errada a “vida em prol da humanidade” como a que eu estava levando, a qual resultava no sacrifício de várias pessoas em termos econômicos e na desarmonia familiar. Anos depois, quando foi formada a organização religiosa com a finalidade de dar ampla divulgação à revista Seicho-No-Ie que até então eu vinha editando pessoalmente, decidi que não me aproveitaria gratuitamente do trabalho dos adeptos a título de trabalho voluntário, nem aceitaria dinheiro deles a título de donativo, como procedia a maioria de outras organizações religiosas. Assim, adequei a editora dos livros sagrados da Seicho-No-Ie à era do capitalismo, fazendo-a funcionar como uma sociedade anônima — a forma empresarial que melhor representa o capitalismo. Isto é, em vez de receber donativos dos adeptos, aceitava o financiamento deles para fazer face às despesas de publicação dos livros sagrados; pagava dividendos a esses financiadores-acionistas; remunerava todos os adeptos que trabalhavam na editoração e distribuição dos livros sagrados. Resolvi proceder desse modo para eliminar a ideia errônea de que é natural a uma igreja receber donativos dos adeptos ou fazê-los trabalhar de graça, ideia essa muito comum na maioria das religiões. Queria evitar a ocorrência de situações lastimáveis como aquela em que, pelo fato de o adepto tornar-se um fanático e doar seu patrimônio à igreja ou trabalhar de graça para ela, surge a oposição da família e a religião acaba trazendo conflitos no lar, em vez de paz e harmonia. Em suma, pretendia corrigir as falhas comuns nas entidades religiosas de até então, falhas essas em que eu próprio havia incorrido anteriormente. À simples alusão de fazer de um grupo religioso uma sociedade anônima, alguns podem pensar que tal procedimento se baseia na intenção gananciosa da organização, mas isso não é verdade. O fato de fazer da editora de livros da Seicho-No-Ie uma sociedade anônima não significa

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fazer da Seicho-No-Ie em si uma sociedade anônima. A Seicho-No-Ie em si, sendo uma doutrina, é imaterial. A organização responsável pela editoração e venda de livros sagrados que transmitem a doutrina é que funciona sob a forma de uma sociedade anônima. Isso é comparável ao fato de que o budismo em si é uma doutrina, e não uma sociedade anônima, mas a maioria das editoras que publicam escrituras budistas é sociedade anônima. Na Seicho-No-Ie, os acionistas da editora dos livros sagrados são os próprios adeptos. As contribuições retornam para eles com acréscimo. Portanto, os adeptos não serão explorados pela organização; pelo contrário, terão retorno sob a forma de lucro proveniente da venda de livros. Naturalmente, eu também não sofro prejuízos, pois, como autor dos livros da Seicho-No-Ie, recebo a quantia referente aos direitos autorais. Essa quantia é a remuneração por meus trabalhos e não donativo dos adeptos. (Se bem que, atualmente, venho doando para obras assistenciais todos os proventos referentes a meus direitos autorais.) O modo de viver preconizado pela Seicho-No-Ie não é aquele em que uns têm de se sacrificar ou sofrer prejuízos para beneficiar os outros, mas sim aquele em que ninguém é prejudicado nem sacrificado, podendo todos coexistir pacificamente e prosperar. A Seicho-No-Ie considera esse o mais correto modo de viver. Na Seicho-No-Ie, tanto o autor dos livros sagrados como as pessoas que trabalham na editoração, distribuição e venda desses livros têm suas parcelas de lucro. E também os leitores dos livros sagrados, embora paguem uma pequena quantia para adquiri-los, no fim saem lucrando, pois, pelo fato de tornarem-se mais sadios, livram-se das elevadas despesas com remédios e tratamentos que antes desembolsavam mensalmente. Temos inúmeros casos que comprovam esse fato. A verdade é que, baseado na experiência que adquiri no longo período em que levei uma vida de total abnegação, acabei descobrindo uma nova forma de religião que não causa prejuízo a ninguém, não pede contribuição a ninguém e não exige o sacrifício de ninguém. Mas isso aconteceu bem depois da época a que venho me referindo neste tópico. Nessa época, eu ainda me encontrava cheio de dúvidas e, certa vez, escrevi uma carta a meu colega da Ittoen, sr. Kichie Matsushita, nos seguintes termos:

Atualmente estou incumbido de fazer um trabalho que consiste em escrever sobre fenômenos espirituais ocorridos tanto no Oriente como no Ocidente e provar a grande verdade da imortalidade da alma. Quem me pediu isso é uma pessoa de carne e osso, mas sinto que esse é um serviço encomendado pelo Universo. Isso porque tanto a pessoa que me pediu para fazê-lo como eu próprio estamos trabalhando com espírito totalmente abnegado. Tanto ele como eu não possuímos nenhum bem, pois perdemos tudo no grande terremoto. Há algumas pessoas que colaboram conosco, mas todas são pobres. Mesmo assim, elas nos ajudam dentro de suas possibilidades, e é graças à sua contribuição que eu, minha mulher e minha filha vivemos. Atualmente, estamos morando na casa de meus pais adotivos, na minha terra natal, e a situação tem sido bastante difícil. Até há pouco tempo, queria provar às pessoas daqui a força de um indivíduo totalmente abnegado; queria mostrar como é livre a vida inteiramente dedicada aos semelhantes. Mas sinto que fracassei. Meus pais adotivos vivem a me fazer críticas tais como: “Pelo fato de você ser assim, tão desinteressado das questões práticas, e não possuir nenhum bem material, eu e sua mãe somos forçados a buscar avidamente a segurança material. Enquanto você estiver vivo, sua família conseguirá manter-se, ainda que precariamente, graças à boa vontade de

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alguns colaboradores. Mas o que acontecerá se você morrer? Sem nenhum recurso, sua família morrerá de fome. Por me preocupar com isso, sou obrigado a ser materialista e empenhar-me em ganhar dinheiro”. Acho que minha vida abnegada, em vez de influenciar positivamente meus pais adotivos, está levando-os a buscar mais avidamente os bens materiais. Estou sentindo na carne a impotência dos que procuram viver uma vida de “pobreza honrada”. Não adianta tentar ensinar o que é a vida de “pobreza honrada” aos que só dão valor a bens materiais, pois isso só serve para irritá-los. Se não consigo proporcionar tranquilidade e segurança aos meus e estou levando meus pais a buscarem mais avidamente os bens materiais por se sentirem inseguros quanto a seu futuro, é porque sou fraco. Não tenho motivos para me sentir orgulhoso, se não sou capaz de agir de modo adequado a cada situação, assim como a divindade Kanzeon se manifestava sob trinta e três diferentes aspectos, dependendo de cada circunstância. Creio que é preciso proporcionar provações a quem necessita delas para seu próprio fortalecimento; o sistema capitalista a quem dele necessita; bom ambiente a quem o merece; segurança econômica àqueles que a buscam. É preciso, por assim dizer, dar restos de comida aos porcos, e oferecer pérolas a uma dama elegante. Confesso que, até agora, só sabia agir de um modo: insistir em manter a vida de “pobreza honrada”. Reconheço que isso é uma falha proveniente da falta de verdadeira liberdade mental. Certa vez, o sr. Tenko me disse: “Acabei causando a destruição de meu próprio lar quando passei a me dedicar inteiramente à Ittoen. Isso porque, naquela época, estava com a mente tolhida pela ideia fixa de total abnegação e não sabia vivificar na vida prática os ensinamentos da Ittoen”. Hoje, o significado daquelas palavras toca-me profundamente. Começo a pensar que o verdadeiro apóstolo da salvação de toda a humanidade é aquele que transcendeu realmente a matéria e age com total liberdade mental, procedendo de modo adequado a cada circunstância; usando de metáfora, é aquele capaz de oferecer pérolas a damas, coroa ao rei, dinheiro aos que buscam os bens materiais, e restos de comida aos porcos. Teimar em viver a vida de “pobreza honrada”, como se fosse um ermitão, convencido de que só esse é o correto modo de viver, e não ser capaz de atender à necessidade dos outros nem prover-lhes as coisas essenciais — essa não é a vida livre, sem nenhum apego, que eu vinha preconizando. Só agora percebo isso. A vida que tenho vivido até agora não é uma vida totalmente livre de apego, e sim uma vida tolhida pela ideia fixa de “pobreza honrada”. Sinto que não poderei alcançar maior aprimoramento enquanto não sair deste tolhimento.

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Também na mesma época, escrevi o seguinte no meu livro Shinkō Kakumei2: Percebi que, até agora, vinha trilhando por um caminho reto mas

excessivamente estreito. Sinto agora o premente desejo de libertar-me desta vida apertada e opressiva. Tenho sido exageradamente sério e rígido, cioso demais em ver os fatos com visão crítica, e não era capaz de apreciar esta vida suavizando com nuances o rigor dos fatos. Eu fazia questão de demonstrar sempre exatamente o que

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sentia. Por exemplo, mesmo que alguém comentasse “Hoje está um lindo dia, não?”, eu apenas dizia “É...”, mostrando na fisionomia um ar de total indiferença, como quem quisesse dizer: “Não estou nem um pouco interessado no tempo”. Sempre agia assim, a não ser quando, por alguma razão especial, estava realmente interessado no tempo. Eu sempre mostrava na fisionomia exatamente aquilo que sentia ou pensava. Se mostrava fisionomia aborrecida, era porque estava realmente aborrecido; se mostrava fisionomia triste, era porque me sentia realmente triste; se mostrava fisionomia zangada, era porque estava realmente zangado; se mostrava fisionomia melancólica, era porque realmente me sentia tomado pela melancolia. Sob este aspecto eu era, sem dúvida, uma pessoa muito franca, digna de total confiança. Era incapaz de mostrar-me amável e sorridente a pessoas com quem não simpatizava. Acreditava que a culminância da arte consistia na total coerência do interior com o exterior — dos sentimentos e pensamentos com a expressão dos mesmos. E não podia deixar de me sentir orgulhoso de minha inteireza de caráter. Por essa razão, empenhei-me conscientemente em acentuar esse meu caráter inato e, sempre que constatava em meu modo de proceder a plena coerência entre sentimento e expressão, ficava satisfeito, considerando a mim mesmo uma obra de arte perfeita.

Ainda não consigo deixar de pensar que, considerando-se a inteireza de caráter, sou uma pessoa realmente digna de confiança. Se neste mundo só existissem pessoas com esse caráter, como seria fácil confiarmos uns nos outros! Seria um mundo sem hipocrisia, sem bajulações, sem artimanhas e sem falsas amabilidades; um mundo onde se poderia confiar no outro pela simples observação de sua fisionomia. A dignidade de caráter só é mantida plenamente num mundo onde as pessoas podem confiar mutuamente. Infelizmente, o mundo em que vivemos não é assim. É um mundo desagradável onde, até para fazer uma simples compra, não podemos deixar de duvidar das palavras do vendedor e pensar: “Hum... ele parece estar sendo honesto, mas será que não está querendo me engabelar?”. Duvidar de alguém é o mesmo que ofendê-lo. Lamentavelmente, no mundo atual as pessoas vivem trocando essa ofensa. O entorpecimento no tocante à dignidade de caráter é uma peculiaridade do mundo atual. Não posso considerar bom um mundo assim. Penso que todos devem se esforçar em construir um mundo onde as pessoas não ofendam umas às outras com dúvidas em relação à inteireza de caráter. Para isso, é preciso fazer o possível para adotar uma atitude totalmente franca, abandonando a hipocrisia, as artimanhas e as bajulações.

Como já disse, a dignidade do ser humano consiste na inteireza de caráter. Mas, refletindo bem, começo a compreender que, além da severa integridade, precisamos ter também calor humano e delicadeza de sentimentos. O calor humano e a delicadeza de sentimentos não provêm da severa integridade de caráter, mas sim do amor. Às vezes, é preciso sacrificar a integridade rígida, por amor ao próximo. Por exemplo, se alguém me disser “Hoje está um lindo dia, não?”, procurando ser amável comigo, devo corresponder com gentileza, mesmo que não estiver nem um pouco interessado no tempo. Ou seja, devo concordar com ele, dizendo “É verdade. Num dia assim, sentimo-nos bem dispostos”, mostrando-me entusiasmado em vez de deixar transparecer minha indiferença em relação ao tempo. Do ponto de vista de quem

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coloca acima de tudo a integridade rígida, tal afirmação é mentirosa, não passando de uma falsa amabilidade. Porém, se considerarmos em primeiro lugar o amor ao próximo, não há nada de errado em fazer tal afirmação. Censurável seria prender-se demasiadamente à ideia de integridade de caráter e, colocando acima de tudo a franqueza, cortar a conversa que o outro começou a entabular para ser gentil. Isso seria um ato de insensibilidade, uma falta de consideração para com o outro. Por outro lado, não podemos negar que constitui uma falsidade mostrar interesse no tempo e concordar entusiasticamente com o que o outro disse quando não se está interessado nisso — mesmo que se proceda assim por amor ao próximo. Toda mentira é condenável, do ponto de vista da integridade rígida. Contudo, uma mentira dita por delicadeza, como no exemplo acima, tem de ser julgada também do ponto de vista do amor. Podemos então dizer que tal espécie de mentira é julgada favoravelmente do ponto de vista do amor, mas é condenada do ponto de vista da integridade rígida. Aquele que tende para a integridade rígida não consegue mentir por delicadeza, mesmo que por sua franqueza extrema seja criticado de falta de bondade e delicadeza. E aquele que tende para o amor às vezes responde com uma mentira gentil às palavras do outro para não desestimulá-lo, mesmo que essa atitude possa ser criticada como falsa. Não sei como, no contexto da eternidade, será feita a avaliação da alma quanto à integridade de caráter e à amplitude do amor; não sei, tampouco, qual terá peso maior. Mas o fato é que parece haver dois tipos de pessoas: aquelas que tendem para a integridade rígida e aquelas que tendem para o amor generoso. Reconheço que tenho sido do tipo mais inclinado para a integridade rígida e estava perdendo a liberdade e a flexibilidade que só o amor pode proporcionar. Vamos supor que alguém me mostre um quadro e comente: “Que belo quadro, não acha?”. Mesmo que o meu senso crítico me diga que não há nada de elogiável nesse quadro e que ele não passa de uma obra canhestra, deveria eu apontar isso a meu interlocutor, com toda a franqueza? Tal atitude, embora revele a integridade de meu caráter, certamente seria condenada do ponto de vista do amor como sendo um comportamento mesquinho, já que equivale a rejeitar, insensivelmente, a tentativa amável de aproximação por parte do outro. Gostaria de alcançar o estado de maior liberdade e flexibilidade mental, vencendo a estreiteza mental. Constitui falsidade dizer que “é belo”, referindo-nos a um quadro que, na verdade, não consideramos nem um pouco bonito, ou exaltar o valor de algo a que não damos nenhum valor. A alma que é pura não suporta falsidade. A pureza da alma e a retidão são como duas faces de uma moeda. Jesus Cristo disse: “Se não vos tornardes como crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus”. Uma das características da criança é a total franqueza. Se acha bonita uma coisa, diz que é bonita; se acha feia, diz que é feia; se gosta de um brinquedo, ou outro objeto qualquer, segura-o e não larga; se não gosta, joga-o e não lhe dá a mínima atenção, mesmo na frente da pessoa que o deu a ela. A criança fala e faz o que pensa, tal como um déspota. Essa franqueza quase cruel provém da pureza de sua alma. Ela ainda não sabe que existem circunstâncias em que a franqueza fere os outros. Ainda não conhece a sociedade humana, onde há incoerências, como o conflito entre a integridade de caráter e o amor: Isso porque ela tem a alma pura, mas simples e sem a necessária amplitude. Ela leva em consideração

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apenas a si mesma e ninguém mais. Ainda não sabe o que é relacionamento humano. Mas, à medida que cresce, ela vai descobrindo que há outras pessoas além dela, que deve levar em consideração os outros e que a franqueza absoluta e a integridade rígida podem, às vezes, ser contrárias ao amor. Então, ela perde a pureza e a simplicidade originais e aprende a observar a reação dos outros. Ela percebe que ser rigorosamente fiel à sua própria ideia às vezes fere os outros. Diante disso, sente-se num dilema: atentar contra a pureza de sua própria alma, embora isso seja doloroso, ou continuar fiel a si mesma, ainda que isso fira os outros? A escolha depende do caráter da pessoa. As pessoas de caráter íntegro e austero, que procuram sempre manter tenazmente a pureza de sua alma, optam por manter sua altiva honradez, sem se deixar levar pelos outros por sentimentalismo. Não posso deixar de reconhecer o lado positivo de tal caráter. Mas, tendo eu próprio essa tendência, devo também reconhecer o lado negativo. A pessoa só se torna verdadeiramente grandiosa quando tem o coração generoso e a mente flexível aliados à altiva e rigorosa integridade de caráter. Do mesmo modo que nas montanhas demasiadamente escarpadas não crescem árvores, num caráter excessivamente austero não desabrocham o amor. Almejo ter, ao mesmo tempo, a altivez de uma montanha e a vastidão de uma planície. É esse o meu ideal. Será impossível alcançar esse ideal? Será impossível manter a pureza e integridade de caráter e, ao mesmo tempo, envolver a todos com o grande amor, generoso como o oceano? Será que Deus não me permite isso? Não posso crer que seja assim...

E a exposição de meus pensamentos prossegue, ardente.

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No princípio, a criança fala e faz exatamente o que pensa, sem levar em consideração os outros. Mas, à medida que cresce, começa a compreender que ser estritamente fiel a suas próprias ideias pode trazer resultados negativos no que se concerne ao convívio social, e então deixa de lado essa fidelidade para consigo mesma e procura agir de modo a agradar aos outros. Contudo, há duas razões diferentes que levam as pessoas a adotar essa atitude. Algumas resolvem agir assim por achar que isso lhes será vantajoso. Outras, por perceberem que repelir peremptoriamente o ponto de vista do outro ou não acolher a opinião alheia é um ato que contraria o amor. Abandonar a fidelidade para consigo por interesse é abandonar a integridade de caráter. É sinal de aviltamento de caráter, de perda de dignidade. Muitas das pessoas tidas como complacentes são as que procuram agradar às outras por interesse próprio, o que equivale a perder a dignidade. Acho que essas pessoas precisam ser estimuladas a tornar mais puro e elevado o seu caráter, não traindo a si próprias em circunstância alguma. Por outro lado, há pessoas que, por amor ao próximo, às vezes deixam de defender o próprio ponto de vista. Sinto grande respeito e admiração pela magnanimidade dessas pessoas, e não posso deixar de me envergonhar da minha mente estreita, que tem estado excessivamente presa à

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integridade rígida. Começo a pensar que o natural, em algumas circunstâncias, é que o amor prevaleça sobre a integridade rígida. As pessoas corretas porém intransigentes, que não admitem falsidade de espécie alguma, tornam-se tanto mais distantes dos outros quanto mais tentam afirmar sua integridade, e acabam isolando-se do mundo, tornando-se incapazes de contribuir para o bem-estar da humanidade. Isso acontece porque o caráter dessas pessoas, embora elevado, não é dotado de amplitude. As pessoas cujo caráter não é suficientemente elevado precisam esforçar-se para alcançar um nível mais alto; mas as pessoas cujo caráter é elevado, porém desprovido de amplitude, precisam deixar o elevado cume da integridade rígida e descer até a extensa planície do amor. Ultimamente, tem-se intensificado em mim essa necessidade... Eu admitia assim o fato de que, por ter ficado com a mente presa à integridade rígida,

havia tolhido a mim mesmo e me tornado incapaz de ajudar os outros. Recriminava-me por isso e incitava-me a melhorar. Mais adiante, referindo-me a alimentar-se de carne de animais, expunha a seguinte opinião:

Ultimamente, sinto-me como que encurralado, levando uma vida estreita em todos os sentidos. Preciso libertar-me desse cerco estreito em que eu próprio me aprisionei. Só assim poderei alcançar maior crescimento como ser humano. Sempre acreditei que matar animais é pecado. Mas eu não podia viver sem matar os seres vivos. Via a inegável realidade de que um ser vivo não pode viver sem sacrificar inúmeros outros seres vivos. Eu temia até comer vegetais, pois estaria matando minúsculos seres vivos. Porém, se eu parasse de tirar a vida deles, estaria tirando a minha própria vida. Eu não sabia mais o que fazer, pois tirando a minha vida, estaria matando um ser vivo. Então, para não matar a minha própria vida, isto é, para sobreviver, precisei adotar uma forma de matar os seres vivos de modo mais brando possível. Isto é, rejeitava qualquer alimento que apresentasse algum sinal de sangue tal como carne de animais e aves. Quanto a peixe, evitava comer sashimi, que é cru. Só comia peixe cozido ou assado que já não tinha nem aparência nem estado original, e ainda em pequena quantidade. Provavelmente devido a esse hábito alimentar, passei a sentir uma espécie de repulsa por todos os alimentos derivados de animal. Quando eu e minha família estivemos refugiados na casa de um conhecido por ocasião do grande terremoto de Tóquio, recusei o pedaço de pão que me fora oferecido pelo fato de ter sido passada manteiga nele. Para mim, comer manteiga era como se comesse um alimento roubado de bezerrinho. Na ocasião não percebi, mas soube depois — pela carta de minha irmã que esteve refugiada naquela casa junto comigo — que a pessoa que me oferecera aquele pedaço de pão ficara profundamente ressentida comigo. Na carta, minha irmã recriminava-me, considerando um capricho inadmissível o fato de eu querer manter minhas preferências alimentares numa situação de calamidade como aquela. Não me pareceu justo o fato de ela tachar de “capricho inadmissível” a minha atitude, sem levar em consideração o verdadeiro motivo que me fez proceder daquele modo. Contudo, reconheci que foi falta de delicadeza de minha parte recusar o alimento que o outro teve a bondade de me

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oferecer. Compreendi que é natural a pessoa ficar aborrecida e ressentida com tal procedimento e lamentei ter criado aquela situação. Analisando minha atitude, cheguei à seguinte conclusão: ao recusar a manteiga, que eu considerava um alimento roubado de bezerrinho (pois é feito a partir do leite da vaca), fui misericordioso para com o animal; mas, ao deixar de levar em consideração a bondade da pessoa que me oferecera aquela comida, falhei no tocante ao amor para com o ser humano. Reconheci que, por falta de aprimoramento espiritual, não soube agir de modo que o fato de recusar determinado alimento naquela circunstância não parecesse simples capricho, sob nenhum aspecto. E envergonhei-me disso.

Desde então, sempre que sou convidado para um almoço ou um jantar em que serão servidas carnes de animais e aves, fico num dilema entre a compaixão pelos animais e aves sacrificados e a consciência de que recusar esses alimentos seria uma falta de consideração para com o anfitrião. Às vezes, aceito qualquer prato que me é oferecido; mas, outras vezes, recuso os pratos de carnes e aves. Isso significa que, às vezes, vence o amor para com a pessoa que me ofereceu a comida, e, outras vezes, vence a misericórdia para com os animais e aves sacrificados. Por mais que tente, não consigo conciliar os dois sentimentos. Desejo amar as pessoas e também ser misericordioso para com os animais. Enquanto não for capaz disso, meu anseio de amar não será plenamente satisfeito. E, quando o anseio de amar não é satisfeito plenamente, as pessoas de alma sensível sentem dor na consciência...

E, no que se refere à caridade, como devo agir num caso como o seguinte? Suponhamos que eu depare com um andarilho pobre, doente e faminto, à beira da morte e deseje salvá-lo, movido por amor. Porém, eu também sou pobre e não disponho de recursos para salvá-lo. Então, recorro a meus pais ou a meus amigos e peço-lhes que salvem o pobre homem. Se meus pais ou meus amigos forem pessoas misericordiosas e atenderem ao meu pedido, o problema estará resolvido. Mas, se eles se recusarem a ajudar o pobre andarilho doente e faminto, o que poderei fazer, não tendo nenhum recurso para eu próprio ajudar aquele homem? Eu, que vivo na “pobreza honrada” e tenho me orgulhado de não me apegar ao dinheiro e bens materiais, o que poderei fazer diante dos que rirão desdenhosamente da inutilidade da “pobreza honrada”? Será que devo desistir de salvar o pobre andarilho doente e ficar de braços cruzados, vendo-o caminhar para a morte? Depois de refletir sobre isso, concluí que é necessária a resignação, pensando: “Nesse caso, a salvação ou a morte do andarilho depende da vontade de Deus. Tanto o meu desejo de salvá-lo, quanto o desejo de ele ser salvo, ambos são desejos pessoais que contrariam a vontade de Deus”. Porém, não estaria eu tentado camuflar a inutilidade de minha “pobreza honrada”, escudando-me atrás da palavra “vontade de Deus”? Creio que devo fazer um rigoroso exame de meus pensamentos ocultos.

Podemos considerar o caso sob o seguinte ponto de vista: talvez o fato de esse andarilho encontrar-se nessa triste situação seja a consequência de suas iniquidades. Talvez ele tenha praticado somente atos iníquos que merecem punição. Se for assim, ele tem de se submeter ao castigo. Somente aceitando resignadamente o castigo merecido ele pode redimir suas iniquidades e extinguir as causas de sua desgraça... Talvez precisemos passar por cima da comiseração superficial e deixar que os

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merecedores de punição carreguem seus fardos de infelicidade. Contudo, não tenho a certeza de que os terceiros sejam capazes de julgar corretamente se a infelicidade de uma pessoa é ou não a punição que lhe cabe por iniquidades praticadas anteriormente. No exemplo do andarilho doente, se ele não obtiver a ajuda necessária, não sei se isso será a punição merecida pelos males que ele praticou, ou será a consequência da minha incapacidade de salvá-lo. Durante cerca de cinco anos fui seguidor de um certo grupo religioso1, o qual ensinava que toda e qualquer infelicidade de cada indivíduo é consequência de seus carmas negativos. Certa vez, um homem tuberculoso veio à academia da referida entidade para praticar treinamento espiritual. O alojamento da academia estava cheio de pessoas que também vieram praticar treinamento espiritual. Houve divergência de opiniões entre os dirigentes da seita quanto a admitir ou não a estada daquele homem doente no alojamento da academia. Alguns recusavam-se a acolher o referido homem no alojamento alegando: “Cada pessoa tem de carregar sozinha seus carmas negativos. Portanto, aquele homem tuberculoso não deve hospedar-se no alojamento para não incomodar os outros hóspedes”. Outros alegavam: “Tratá-lo com tal frieza não está em conformidade com a misericórdia de Deus”. Depois de discutirem muito sobre a questão, acabou vencendo a opinião de que a aludida pessoa deve carregar sozinha sua cruz, evitando causar problema aos outros; e assim não foi permitido àquele homem tuberculoso hospedar-se no alojamento da academia. Não sei com que pensamento aquele homem deixou o local. Se ele era uma pessoa de ânimo forte e possuidor de profunda fé religiosa, é provável que tenha aceitado com resignação ou até mesmo com espírito de gratidão o tratamento cruel que lhe fora dispensado, considerando isso como expiação de seus pecados. Mas, se ele era uma pessoa de espírito fraco, certamente terá guardado um profundo ressentimento contra a referida entidade. Eu presenciei aquele acontecimento, mas nada disse, pois não estava em posição de opinar. No fundo, tive pena daquele homem tuberculoso, mas o pensamento racional de que “aconteceu o que tinha de acontecer” acabou triunfando sobre o sentimento de compaixão.

No meu caso, diante dos muitos problemas da vida prática, o pensamento racional que permite a serena observação de todos os aspectos da questão acaba sempre triunfando sobre a “comiseração superficial”. Aqueles que, por natureza, são dados a compadecer-se dos outros com excessiva facilidade precisam vencer essa “comiseração fácil e superficial”, que constitui uma fraqueza, e esforçar-se para “aceitar o que tem de acontecer”, ainda que se trate de algo aparentemente cruel. Isso constituiria um exercício para cultivar a fortaleza de caráter. Mas, nas pessoas como eu, em quem a observação serena dos fatos sempre vence a comiseração pura e simples, é justamente esse fato que constitui uma fraqueza. Se eu tenho me empenhado constantemente em pregar o amor, exaltar a virtude da compaixão, condenar todo e qualquer ato que considero crueldade, e me esforçado em agir de acordo com aquilo que vivo a pregar e a exaltar, talvez seja porque sinta o natural impulso de corrigir essa fraqueza. A fraqueza de meu caráter está no fato de que, em mim, o sentimento de misericórdia não é suficientemente forte e tende a ser

1 Nota: Refere-se à seita Ōmoto.

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suplantado pela fria razão. Devido a isso, em todas as situações em que eu não consigo ajudar alguém que esteja em dificuldade, sinto-me tentado a tirar uma conclusão racional do fato, dizendo para mim mesmo: “Essa pessoa está carregando a cruz que lhe cabe carregar”. Justamente por ter consciência disso, devo evitar a tentativa de responsabilizar a Providência pela infelicidade das pessoas. Devo forçar-me a pensar que, se não consigo salvar uma pessoa necessitada que cruza meu caminho, isso se deve à falta de amor e capacidade de minha parte e considerar-me o único responsável por essa situação. Creio que, com isso, conseguirei ampliar e fortalecer meu caráter. Tenho procurado proceder desse modo, e sinto que estou conseguindo aumentar gradativamente o meu sentimento de misericórdia, através do esforço consciente no sentido de amar o próximo. Contudo, só esse esforço consciente ainda não é suficiente para adquirir a capacidade de traduzir o amor em ações concretas. À medida que aumenta em mim a vontade de amar, aumenta também a consciência de que me falta a capacidade de traduzir o amor em atos concretos. Sinto, sobretudo, que me falta o poder econômico necessário para tal. Em outras palavras, sinto a impotência e a inutilidade da “pobreza honrada”. Creio que constitui um recuo na escala de aprimoramento espiritual a postura mental de atribuir ao limite da capacidade humana a impossibilidade de salvar uma pessoa necessitada, concluir que “não é vontade de Deus que essa pessoa seja salva”, e não fazer nenhum esforço para adquirir maior capacidade de ajudar os outros. Preciso libertar-me deste estado de impotência proveniente da “pobreza honrada”. Neste mundo cheio de pessoas ávidas por arrancar dinheiro de outras, é impossível que as que mantêm, como eu, a postura de desapego aos bens materiais não acabem se tornando pobres. De fato, acabei me tornando paupérrimo, a ponto de não ter recursos nem de sair da casa de meus pais adotivos e sustentar sozinho minha esposa e minha filha, mesmo sabendo que continuar naquele ambiente doméstico seria péssimo no que concerne à educação de minha filha. Educar uma criança não é, em absoluto, uma questão pessoal. Na verdade, é uma questão social. Se não sou capaz de empregar plenamente minha força nessa questão de cunho social, é porque não tenho nenhum poder econômico. E essa falta de poder econômico tem sido proveniente da minha falta de coragem, que tem me impedido de exigir o dinheiro a que tenho direito. Não há nada de errado em fazer tal exigência. Até agora, eu pensava que a inibição pueril, que sentia sempre que me via na posição de exigir pagamento de algo, fosse proveniente da nobreza de meu caráter, sem nenhum apego ao dinheiro, e sentia orgulho disso. Mas agora percebo que, na verdade, essa inibição é proveniente da fraqueza de meu caráter. Quem é verdadeiramente desapegado de bens materiais sente-se plenamente livre, tanto para repelir o dinheiro como para exigi-lo; ele não se orgulha de seu desapego ao dinheiro, nem se envergonha de exigir o dinheiro a que tem direito. O fato de eu sentir vergonha de exigir o dinheiro a que faço jus é prova de que ainda sou apegado aos bens materiais. Preciso vencer essa inibição, que não é sinal de nobreza de caráter, e sim de fraqueza. Há pessoas que não ficam envergonhadas com coisa alguma, por terem o moral entorpecido; outras que ficam envergonhadas facilmente com qualquer coisa, devido à sua fraqueza de caráter; e, finalmente, as que não ficam inibidas em circunstância alguma, por terem caráter forte e a mente verdadeiramente livre. Devo

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ter como meta esse estado de verdadeira liberdade. Devo alcançar o estado de total liberdade que me torne capaz de exigir livremente qualquer coisa segundo a necessidade, obter tudo que busco, e, no entanto, não sentir apego às coisas obtidas. Restringir minha própria liberdade, determinando por mim mesmo que o único caminho certo é o de “pobreza honrada”, equivale a tornar encolhido e acanhado o meu caráter. Até agora, eu considerava o estado de santidade, totalmente isento de impurezas, a meta do aprimoramento de caráter. Porém, agora percebo que quem teme as impurezas ainda não alcançou o estado de verdadeira liberdade; ele se encontra ainda no mesmo nível de João Batista, que não se julgava digno de desatar as correias das sandálias de Jesus Cristo. Preciso transcender até mesmo o receio de me macular. Só então conseguirei alcançar o estado de verdadeira liberdade. Preciso, primeiramente, libertar-me do apego às coisas mundanas e buscar as coisas espirituais; depois, libertar-me também do apego às coisas espirituais. Só assim atingirei o estado de verdadeira liberdade. Em verdade, “mal” é um sinônimo da ausência de liberdade da mente. Na Ittoen, os membros se dedicam ao trabalho de fé usando exclusivamente vestes pretas, o que lhes confere o aspecto de pessoas que transcenderam as coisas mundanas. Porém, se eles ficarem com a ideia fixa de que “não há outro tipo de roupa adequado além dessa veste preta, simples e austera”, e assim limitar sua liberdade, isso constituirá uma espécie de endurecimento da mente. O endurecimento da mente cerceia a liberdade do ser humano e, portanto, é preciso transcender tal estado. Citemos mais um exemplo: aqueles que consideram um grande pecado matar animais e se abstêm de comer carne demonstram ter transcendido as paixões mundanas. Entretanto, se eles não são capazes de aceitar com gratidão um alimento à base de carne em circunstância alguma, significa que estão com a mente endurecida. Como este estado constitui bloqueio da liberdade, é necessário transcendê-lo. E isso conseguimos ao aceitar com gratidão o alimento oferecido, o que significa expressar concretamente o amor e a consideração para com o anfitrião, ao mesmo tempo em que alimentamos e damos vigor ao nosso próprio corpo, promovendo, assim, a confraternização entre aquele que dá e aquele que recebe, valorizando, consequentemente, o sacrifício dos animais. Antes, eu considerava correto recusar pratos à base de carne, fosse qual fosse a situação. Mas, agora que cheguei ao estado de maior liberdade mental, penso que, dependendo do caso, é uma virtude aceitar tais pratos. Quem é verdadeiramente livre vivifica tudo e todos, em quaisquer circunstâncias. Se uma pessoa que acabou perdendo a liberdade por ter se tornado escrava das paixões mundanas resolve abandonar tudo e passar a viver uma vida de “pobreza honrada”, é porque ela quer alcançar a verdadeira liberdade eliminando o apego à matéria. Mas, se sua mente ficar tolhida pela obsessão de “pobreza honrada” e perder a capacidade de vivificar tudo e todos, dessa vez ela acabará perdendo a liberdade exatamente por causa da “pobreza honrada”. Quero cultivar a fortaleza de caráter que me torne capaz de exigir sem nenhuma inibição tudo o que for preciso para poder vivificar todas as pessoas e todas as coisas; quero alcançar a liberdade mental que me possibilite vivificar os animais, mesmo quando seja preciso sacrificá-los; quero ter a mente flexível e desimpedida que me permita usar expedientes adequados em cada circunstância, sem me aferrar a uma

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determinada regra de procedimento. Para conseguir tudo isso, devo descer dos altos cumes da integridade rígida e chegar à extensa planície da amplitude e flexibilidade mental. Encontro-me, agora, no momento decisivo dessa mudança...

Escrevi essa tese em 17 de abril de 1924.

6

Certo dia, ao passar em frente a um sebo, senti o súbito desejo de entrar. O que logo me atraiu a atenção foi um livro em inglês intitulado The Law of Mind in Action, da autoria de Fenwick Holmes. Peguei-o e comecei a folheá-lo. Li rapidamente duas ou três páginas, e o conteúdo me interessou muito. Perguntei ao homem da loja o preço do livro, e ele me disse que custava apenas 1 iene. Por coincidência, eu tinha exatamente 1 iene na minha carteira. Comprei o livro e li-o avidamente, terminando a leitura em três dias.

Há um trecho em que Holmes diz: “Deus é a Lei da Criação que transcende a individualidade e Suas obras não apresentam nenhuma parcialidade” e, em seguida, faz a seguinte indagação: “Se Deus é justo e imparcial, por que o mundo apresenta esse aspecto absurdo, em que muita gente boa vive a sofrer e muita gente ruim parece viver feliz?”. Respondendo ele próprio a essa pergunta, Holmes diz: “Aqueles que não conseguem deixar de pensar que é infeliz — sejam eles boas ou más pessoas — acabam, inevitavelmente, caindo na infelicidade. Em outras palavras, a atitude mental deles é que atrai a infelicidade. A lei do Universo permite que se crie tudo aquilo que a mente conceber. Em última análise, este mundo é projeção da mente. Se não queremos infelicidade, basta expulsá-la de nossa mente. Deus não é responsável por nossos infortúnios. Ele deu-nos a liberdade de pensamento e fornece-nos tudo aquilo que nossa mente concebe”. Respondendo à pergunta “Se a causa dos infortúnios é o pensamento que admite a existência deles, por que Deus não nos tira a liberdade de conceber tal ideia?”, Holmes afirma: “Deus não deseja privar-nos de liberdade, pois isso significaria transformar o ser vivo num autômato. Se quisesse, Deus poderia eliminar de nossa mente a ‘ideia de infortúnio’, que é a causa de todos os infortúnios, ordenando: ‘A partir de agora, sua mente só poderá agir dentro desse limite’. Se Deus não fez isso, é porque Ele sabe que a perda de liberdade é a maior de todas as infelicidades”.

Segundo a filosofia de Holmes, Deus é o Criador de todas as coisas, mas Ele não cria infortúnios para nós, arbitrariamente. Ele cria e dá a todos nós, sem discriminação, tudo o que nossa própria mente concebe — doença ou saúde, pobreza ou riqueza, adversidade ou situação favorável, infortúnio ou felicidade. Ele cria tudo isso, usando como “molde” os nossos próprios pensamentos. Com isso, Deus assegura a liberdade do homem e prova que, não possuindo forma própria, é capaz de assumir ou criar infinitas formas conforme a mente das pessoas. Essa filosofia de Holmes, embora admita o Criador segundo a doutrina cristã, é uma filosofia cristã harmonizada com a filosofia budista, pois se identifica com a teoria budista de que “este mundo é criado pela ilusão (mente)”. Eu, que havia negado antes o Criador, julgando que a ideia da criação do mundo por Deus fosse incompatível com a teoria da criação do mundo pela ilusão, tornei a descobrir o Criador na filosofia de Holmes.

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Contudo, esse Deus que a filosofia de Holmes me ajudara a descobrir também não era o Deus absoluto, Criador do mundo Imagem Verdadeira, de que fala a Seicho-No-Ie, e sim “Criador do mundo fenomênico”, responsável pela criação, no plano fenomênico, de tudo aquilo que a mente humana concebe. No livro Shōdō-e eu havia afirmado que “o Criador do mundo fenomênico não é Deus, e sim ilusão”. Já a filosofia de Holmes não considera a ilusão como Criador do mundo fenomênico, mas sim como “molde” de criação apresentado pelo homem diante do Criador, para que Este, com Sua capacidade de assumir livremente infinitas formas, criasse o mundo fenomênico segundo esse molde (ilusão). Essa filosofia estabelece uma clara distinção entre “Criador” e “ilusão”. Ela considera o Criador simplesmente como energia criadora e afirma que o que determina o rumo de ação dessa energia são os pensamentos do próprio homem. Portanto, o Criador é como a força motriz do “complexo de máquinas para a criação do mundo fenomênico”. É o próprio ser humano que aciona essa força motriz, dá-lhe um rumo, “maneja os tornos e as perfuradoras” e cria bons ou maus produtos segundo seu pensamento.

Senti-me feliz por ter descoberto novamente o Criador, do ponto de vista filosófico. Comecei a traduzir com afinco o referido livro de Fenwick Holmes. Quando concluí a tradução, procurei uma editora e consegui que a obra fosse publicada com o título Como Dirigir Nosso Destino.

7

“Como dirigir nosso destino”— este era, ao mesmo tempo, o título da obra por mim traduzida e publicada e uma questão premente relacionada com minha própria vida. Se este mundo é projeção da mente, como resolver o dilema em que me encontrava, entre as exigências da vida em prol da humanidade e a vida familiar? E como resolver o dilema entre o dever de educar corretamente a minha filha e a difícil convivência com meus pais adotivos? Essa era a questão. Embora eu estivesse atarefado, empenhando-me no estudo de livros sobre fenômenos espirituais e trabalhando na edição de uma revista que tratava desse assunto, minha mãe adotiva achava que eu estava levando uma vida ociosa, simplesmente porque não saía de casa e ficava lendo ou escrevendo a maior parte do dia. Aos olhos dela, meu trabalho não passava de um “bico”. Por isso, vivia me aconselhando a arranjar um emprego. Um dia, perguntei-lhe se sabia de algum lugar que estivesse oferecendo um emprego, e ela respondeu que a prefeitura local estava precisando de um escrevente em caráter temporário, e que oferecia 60 centavos de iene por dia. Mas esse tipo de trabalho não me interessava. Na Avatamsaka Sutra, Sakyamuni prega que este mundo é projeção da mente e explica que não há distinção entre a mente, Buda e todos os seres vivos. E Fenwick Holmes afirma que Deus, com Sua infinita capacidade criadora, cria no mundo fenomênico tudo o que nossa mente concebeu, exatamente de acordo com os “moldes mentais” apresentados por nós. “Se é assim” — pensei com determinação —, “vou passar a desenhar mentalmente o molde daquilo que mais desejo, para que ele se concretize no mundo fenomênico, e assim me libertarei desse doloroso dilema entre as exigências da vida em prol da humanidade e as exigências da vida familiar.”

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A partir de então, passei a mentalizar diariamente que uma profissão adequada para mim já estava à minha disposição. Passou-se cerca de um mês. Naquela época, a situação da casa de meus pais não ia bem e, para conter os gastos, havíamos deixado de comprar jornal. Mas, certo dia, encontrei na sala o jornal Osaka-Asahi que alguém trouxera e deixara espalhado sobre a mesa. Peguei-o e li a página de crônicas. Quando estava terminando de ler essa página, reparei, no canto debaixo, um anúncio nos seguintes termos: “Precisa-se de um tradutor altamente capacitado”. Por alguma razão, esse anúncio constava na página de crônicas, e não na página de classificados. Se eu tivesse esquadrinhado avidamente a página de anúncios classificados, sem a “folga mental” para me reter na página de crônicas, provavelmente não teria visto o referido anúncio. Mas, após ter apresentado por meio da mentalização o “modelo” daquilo que desejava, eu confiei na providência divina e mantive a mente despreocupada e serena. E justamente por isso pude reparar naquela oferta de emprego, que parecia ser exatamente o que eu procurava.

Ao preencher meu currículo, escrevi “100 ienes” na linha referente à pretensão salarial. Mas, quando da entrevista, o próprio gerente disse que iria me pagar 170 ienes. “Puxa, Deus é mesmo generoso”, pensei eu, cheio de gratidão. Tendo conseguido o emprego, minha situação econômica melhorou bastante. E, como eu havia chegado à conclusão de que, para poder educar corretamente minha filha, era melhor sair da casa de meus pais adotivos, aluguei uma casa em Sumiyoshi, entre Osaka e Kobe, e para lá me mudei com a mulher e a filha. Depois da mudança, o relacionamento entre meus pais adotivos e nós (eu e minha mulher) tornou-se bem melhor do que antes. A situação parecia evoluir de modo favorável.

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Mas, embora o problema financeiro e o conflito com meus pais adotivos tenham se resolvido, o problema de saúde não só persistiu, como piorou depois da mudança. A pequena Emiko contraiu sarampo e, devido à introversão da doença, ficou com pneumonia. Minha saúde estava tão precária que eu sentia a morte rondando-me. Certa ocasião, quis fazer seguro de vida, mas fui rejeitado após o exame médico, que revelou a precariedade de minha saúde. Como se isso não bastasse, minha esposa teve uma grave inflamação do cólon. Eu não conseguia compreender a razão da ocorrência de tantas doenças em minha família. Refleti sobre isso, dia após dia.

Eu sabia que este mundo é projeção da mente. Portanto, não tinha dúvida de que as doenças na família eram consequências de nossas próprias atitudes mentais. Contudo, ainda não sabia o que fazer para controlar a mente. Tendo-se a mente cheia de preocupações, essas preocupações acabam manifestando-se concretamente sob a forma de doença. Eu sabia disso, mas não conseguia deixar de me preocupar, vendo os familiares doentes. Assim, o círculo vicioso persistia. Sabia que, ficando com raiva, criam-se vibrações mentais negativas que se manifestam no mundo das formas, fazendo surgir doenças em mim mesmo ou nos familiares. Mas, trabalhando como simples funcionário de

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uma firma e sendo obrigado, frequentemente, a cumprir ordens superiores absurdas, é difícil não se sentir revoltado. Não haveria problema se, conhecendo a Verdade de que a mente é a origem de tudo, conseguíssemos passar a controlar nossa mente segundo nossa própria vontade. Mas nem sempre o conseguimos e, nesse caso, nossa própria mente torna-se motivo de preocupação e temor. Quanto mais procuramos deixar de pensar no mal, mais ele persiste na mente; quanto mais procuramos deixar de nos preocupar, mais preocupados ficamos; e quanto mais procuramos não ficar com raiva, mais somos arrastados pela ira. Que fazer para controlar a mente? Podemos ser felizes ou infelizes, dependendo de sabermos controlar a mente ou não. Mas alguém já disse que controlar a mente é mais difícil do que controlar um cavalo arisco. Será que somente as pessoas mais hábeis e capazes conseguem controlar a mente e alcançar a felicidade, do mesmo modo que somente os exímios cavaleiros conseguem controlar o cavalo arisco? Se é assim, devem ser raras as pessoas que conseguem vencer a jornada da vida livres das infelicidades e doenças. Naquela época, eu ainda não era um exímio domador do cavalo arisco chamado “mente”. Era um homem cheio de temores: quando recebia na firma um telefonema avisando que minha filha estava passando mal, ficava logo empalidecido, e, enquanto me dirigia apressadamente para casa, não conseguia conter o tremor do corpo.

Refleti muito sobre a doutrina budista. Se é que não há distinção entre a mente, Buda e todos os seres vivos, e se tudo é reflexo da mente, teríamos de admitir que Buda não é um ser eterno e imutável, mas sim um fenômeno fugaz. E se tudo fosse regido pela mente mutável, que pode fazer surgir o ser búdico ou o demônio, o paraíso ou o inferno, então eu não saberia em que confiar ou apoiar-me. Se, conforme preconiza Holmes, “Deus não tem forma própria e pode se manifestar sob a forma de santo ou demônio, em conformidade com nossos pensamentos”, então esse Deus também não me inspiraria confiança.

Refleti muito, dia após dia, mas não alcancei a paz interior. Certo dia, com as mãos postas e os olhos fechados, eu estava fazendo meditação,

pedindo a Deus que me revelasse a Verdade, quando, por acaso ou pela inspiração divina, surgiu-me na mente um trecho da sutra budista, que diz: “Matéria é sinônimo de vazio”. No mesmo instante, uma voz misteriosa, baixa mas ampla, suave mas enérgica, ecoou no meu ouvido: “A matéria não existe!”. E eu pensei, em seguida, em uma outra frase budista: “O vazio é sinônimo de todas as coisas do mundo fenomênico”. A voz misteriosa tornou a soar: “Do nada surge tudo. Todas as coisas fenomênicas, sendo projeções da mente, são originariamente inexistentes. Tudo é originariamente inexistente; portanto, tudo surge do nada. Como o homem se deixa levar pela ilusão de que tudo se cria a partir de algo que existe, ele sofre devido ao apego às coisas que julga existentes. Se não tivesse nenhum apego, ele seria totalmente livre; passaria a desfrutar a provisão ilimitada, que torna possível repartir cinco pães para alimentar cinco mil pessoas ou fazer uma grande fortuna a partir do nada.O mundo fenomênico não passa de um mundo ilusório visto através da lente mental. Parece existir acolá, mas não existe. Parece existir cá, mas não existe. Compreenda que todas as coisas fenomênicas são inexistentes! Seu corpo carnal também não existe!”.

Ouvindo isso, pensei: “E a mente, será que existe?”. No mesmo instante, a voz respondeu: “A mente também não existe!”. Até então, eu pensava que a mente fosse como um cavalo arisco, rebelde e imprevisível, e tinha a maior dificuldade em domá-la. Ouvindo

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a afirmação categórica de que “A mente também não existe!”, desmontei o cavalo arisco chamado “mente” e pisei no chão firme do mundo da Imagem Verdadeira.

— Se não existe nem a mente, isso quer dizer que não existe absolutamente nada? — voltei a perguntar.

— Existe a Imagem Verdadeira — respondeu claramente a voz. — O nada é Imagem Verdadeira? O vazio é Imagem Verdadeira? — O nada não é Imagem Verdadeira. O vazio também não é Imagem Verdadeira. O

vazio é o fenômeno. Os cinco elementos2 são o vazio. O corpo carnal, os sentidos, a imaginacão, a vontade e a consciência, tudo é vazio.

— Mas o vazio não é diferente do nada? — Não pense que o vazio seja diferente do nada. Quando se diz que os cinco

elementos são o vazio, significa que eles são o nada. Por pensar que o vazio é diferente do nada, você tropeça. Por pensar que o vazio difere do nada e que ele não é inexistência, conclui que os cinco elementos também não são inexistências e se embaraça. Quando se aniquilam os cinco elementos, compreendendo claramente que eles não existem, então se manifesta a Imagem Verdadeira. Quando se considera inexistente o que inexiste, manifesta-se o que existe verdadeiramente.

— E o que é Imagem Verdadeira ? — Imagem Verdadeira é Deus. Existe unicamente Deus. Sua mente e a manifestação

de Sua mente. Isto é a Imagem Verdadeira. (Aqui, o termo “Deus” significa também “Buda”.)

— Mas a mente não é inexistente?— “Mente inexistente” é a mente fenomênica. No sentido de existência verdadeira,

também o Buda fenomênico e todos os seres fenomênicos são inexistentes. A pregação de que “não há distinção entre a mente, Buda e todos os seres vivos” significa que eles não existem. Quando se aniquilam o Buda fenomênico, os seres fenomênicos e a mente fenomênica pela compreensão de que todos os fenômenos são inexistentes, manifesta-se o Buda verdadeiro e eterno, isto é, Deus — a Imagem Verdadeira.

— Esse aniquilamento, em termos cristãos, seria a crucificação de Jesus? — Exato. Quando se aniquila o Jesus carnal, surge o Cristo verdadeiro, o Cristo

eterno, que existe desde antes de Abraão. A cruz de Jesus Cristo simboliza a Verdade de que a Imagem Verdadeira se manifesta quando se aniquila o fenômeno. Agora, aqui, ressuscita a Vida eterna. É agora! É agora! O agora eterno! Agora é a ressurreição! Vivifique o agora!

Apesar de continuar com os olhos cerrados, vi diante de mim uma luz ofuscante. Tive a impressão de ver vagamente, no meio da luz, uma imagem branca que devia ser o dono da voz misteriosa. Mas logo a luz se apagou e, quando abri os olhos, percebi que continuava sentado, com as mãos postas.

Naquele momento, compreendi claramente que a mente em ilusão é inexistente e, consequentemente, não existe também a “mente que alcança a iluminação por meio do despertar”. Compreendi que é um equívoco pensar que a mente em ilusão evolui, alcança a iluminação e se torna Buda. Compreendi que só existe a Mente (Eu) da Imagem 2 N. da T.: Cinco elementos são os cinco fatores que constituem o mundo da matéria e da mente, que são o corpo carnal, os sentidos, a

imaginação, a vontade e a consciência.

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Verdadeira, que é Buda, que é Deus desde o princípio. Só existe o Universo da Imagem Verdadeira, que é a extensão da Mente-Imagem Verdadeira. O Buda fenomênico (Sakyamuni), que saiu do palácio do seu pai, Suddhodana, e meditou sob uma figueira durante seis anos para alcançar a iluminação, não era existência verdadeira. Unicamente o Buda eterno a quem ele se referiu na declaração “Eu sou Buda desde o princípio dos tempos” é existência verdadeira, e esse Buda eterno vive aqui e agora. Jesus Cristo na condição de homem fenomênico, que, pregado na cruz, clamou “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”, não era existência verdadeira. Unicamente o Cristo eterno, a quem ele próprio se referiu na declaração “Antes que Abraão existisse, eu sou”, é existência verdadeira, e esse Cristo eterno vive aqui e agora. Conscientizei-me de que eu também não sou um homem fenomênico nascido de minha mãe em 22 de novembro de 1893 e que só agora alcançou o despertar. Compreendi que sou um ser divino, um ser búdico, desde o princípio dos tempos. Expressei no seguinte poema o que senti naquele momento:

Certo dia, abrindo as janelas da mente, fiquei a ouvir o hino de louvor à Vida que vinha do Universo infinitocomo um facho de luz. Oh! Música silenciosa, coro sem voz! Mas eu ouvia esse coro silencioso. Murmúrios do Universo, música de Deus, coro dos anjos.Minha alma, transparente,expandiu-se pelo espaço infinitoe tornou-se um com a Verdade. Que linda melodia! “Essa é a Verdade!” — exclamei extasiado. No mesmo instante, ouvi as vozes dos anjos, que me exaltavam: “Tu és a própria existência verdadeira!”Finalmente, eu encontrara Deus e também o meu Eu verdadeiro. Compreendera

que o meu Eu verdadeiro era a própria Grande Vida Eterna, que transcende não só o mundo fenomênico, que é projeção da mente, como também a mente que o projeta. A partir daquele momento, o mundo se transformou a meus olhos. Passei a ver tudo e todos não como mera matéria, mas sim como seres vibrantes que pareciam emitir uma luz semelhante à auréola. Eu gostava muito de ir ao banho público de manhã, bem cedo. Nos dias outonais, que tardavam a clarear, o Sol começava a nascer por detrás das árvores do bosque próximo quando eu voltava do banho público. Foi numa dessas caminhadas que compus os seguintes versos:

De manhã, O Sol desponta por detrás das árvores, resplandecente como a própria Vida. Que alegria! Que alegria saber que sou a própria Vida!

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Meu coração estava repleto de júbilo, e eu via o mundo e a paisagem a meu redor completamente transformados: tudo me parecia vibrante e luminoso.

Chegando em casa, saí para a varanda e, sentado com a face voltada para o sol nascente, reverenciei Deus. Além da luz material do Sol, eu conseguia ver uma outra luz, misteriosa e sublime, que parecia ser o corpo espiritual do Sol. O estado de beatitude em que eu vivia naqueles dias está expresso nos seguintes versos:

À hora matinal, voltado para o lestede olhos cerrados e as mãos postascom sentimento de reverência, contemplando a Grande Vida sublimee plena de harmonia,sinto a mente e o corpo totalmente purificados. A Grande Vida, misteriosa e sublime, envolve meu corpo e minha alma sob a forma de atmosfera. Não há limite entre mim e essa atmosfera. Oh! Louvada seja a Vida!Que alegria eu ser a própria Vida! Sou vivificado!Sou vivificado! Sou vivificado!Com o coração repleto de alegria pela bênção de estar vivificado, abro os olhos e vejo diante de mim o mundo pleno de luz. A clara luz do sol matinalbrilha nas folhagens novas das árvores do jardim,fazendo-as palpitar de Vida.Em meio ao pulsar da Vida das folhagens,move-se saltitante uma outra manifestação da Vida: um pardal, com suas penas brilhando como ourosob a luz do Sol, pula de um galho para outro. O próprio ar parece dançar alegremente. Tanto dentro de mim como ao meu redor, só existe o mundo de Luz, o mundo resplandecente de Vida.

Compus também os seguintes versos:

Certo dia, milhares de luzes cintilantes caíram suavemente sobre mim,

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na cabeça, nas mãos, nos pés, qual uma chuva de pétalas.Mergulhado nessas luzes, aspirei-as até não poder mais. Logo percebi que eram a própria Vida.

Desejei transmitir a toda a humanidade a alegria daquele despertar. Senti que essa era minha missão. Desde então, passei a ter o misterioso poder de curar doenças. Sucederam-se casos de pessoas que ficaram curadas só por ter ouvido meu relato sobre como alcancei o despertar, ou só por eu tê-las visitado em suas casas. Porém, materialmente, eu ainda continuava pobre. Na verdade, não era pobre, mas, vendo o meu estado fenomênico, continuava a julgar-me pobre. Pensava: “Para publicar regularmente uma revista doutrinária, é necessário dispor de recursos consideráveis. Publicações desse tipo não vendem muito no início, de modo que preciso estar preparado para prejuízos. A única fonte de renda de que disponho para financiar a publicação de revista doutrinária é o salário que recebo da firma onde trabalho”. Mas, devido à minha saúde precária, quando voltava para casa após um dia de trabalho na firma, estava completamente exausto. Nessas condições parecia impossível redigir artigos para a revista que pretendia publicar. Achava que, enquanto continuasse a trabalhar na firma, não havia possibilidade de concretizar o plano de publicar a revista doutrinária, pois não tinha condição física para isso. Então, deveria eu demitir-me do emprego e empenhar-me inteiramente na publicação de revista doutrinária, que eu julgava ser minha missão? Mas, se fizesse isso, deixaria de receber salário e, consequentemente, não teria mais recursos para arcar com as despesas de publicação da revista. Depois de muito pensar, concluí que o melhor seria adotar uma posição intermediária, a que a maioria das pessoas adotaria nessas circunstâncias. Escolheria uma das duas alternativas: 1) reservaria mensalmente parte de meu salário e, quando tivesse economizado o suficiente, demitir-me-ia da firma e passaria a ocupar-me inteiramente no trabalho de redação e publicação de revista doutrinária, empregando como capital o dinheiro economizado; ou 2) levando em consideração o fato de que, na empresa onde trabalho, todo funcionário que tivesse trabalhado mais de vinte anos pode aposentar-se aos 55 anos com direito à pensão, eu continuaria no emprego até enquadrar-me nessas condições, e só depois iniciaria a publicação da revista doutrinária. Era triste para mim ter de optar por uma dessas alternativas, mas parecia não haver outro jeito, devido à precariedade de minha condição física e falta de recursos financeiros. Sentia-me triste ao pensar que o anseio de dedicar-me ao trabalho que julgava ser minha missão estava sendo reprimido por fatores externos e circunstâncias materiais. O fato é que, apesar de ter despertado para a Verdade de que “A matéria é inexistente; o corpo carnal é inexistente”, eu ainda estava me deixando arrastar pelas ilusões do passado. Assim, na vida prática, considerava os bens materiais e o corpo carnal como existências reais, e pensava que a falta de recursos financeiros e a fraqueza física constituíam obstáculos reais. Às vezes, chegava a pensar que meu anseio de publicar revista doutrinária e de promover a iluminação da humanidade talvez fosse, em última análise, uma ambição egoística de quem quer fazer-se

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de santo, e então escrevia versos em que condenava tal anseio, procurando encontrar nisso um consolo para mim. Certo dia, escrevi os seguintes versos:

Viver como os lírios do campo

Quero viver como os lírios do campo. Eles “não trabalham nem fiam”, não têm ambição da glória. Humildes e serenos são os lírios do campo.

Onde há ambição, não haverá paz e harmonia, ainda que seja a ambição de estabelecera paz no mundo.Pensar que se pode obter a paz através da ambição é uma tolice tão grande como tentar pescar no mato.

Já tive a grande ambição de tornar-me um pregador da salvação do mundo.Para tal, eu precisaria ter o meu nome amplamente divulgado.E isso envolve uma série de autopromoção, táticas,expedientes e estratagemas.

Pesaroso, noto que até mesmo um certo pregadorque exalta a “vida de contrição”, a quem estimo e respeito, parece estar sendo contaminado pela ambição.

Apesar de pregar a “vida de contrição”e a “vida norteada pela humildade”,os textos do seu editorial, na primeira páginada revista por ele publicada, são meras palavras de autopromoção.

Aquele que é verdadeiramente humilde vive o Caminho sem fazer alardes.Os lírios do campo não pregam o Caminhocom atitudes altaneiras. Eles vivem o Caminho, simplesmente.

O Caminho está ao alcance de todos.Os lírios do campo vivem tranquilos no lugar a eles concedido,

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absorvem os nutrientes a eles oferecidos,dão belas flores no tom e no formato permitidose fenecem silenciosamente quando chega sua hora.

Os lírios do campo não pensam em fugir do seu lugar. nem em absorver outros nutrientes além daqueles que lhes são destinados. Fazem desabrochar suas flores, na cor e no formato peculiares e não pensam em fugir dos desígnios de Deus. Isso é viver o Caminho. Os lírios do campo vivem o Caminho.

Os lírios do campo não têm a pretensão de salvar o mundo. Eles simplesmente vivem o Caminho. Se alguém lhes perguntar o Caminho,eles nada dirão, pois a resposta está no seu próprio viver. Confesso, envergonhado,que já tive a grande ambiçãode tornar-me rico e poderoso e promover grandes obras assistenciais para salvar os pobres do mundo inteiro.

Para isso, queria ter muito dinheiro.Passava noites em claro, pensando num meio de obter dinheiro, imaginando a vida miserável dos pobrese a vida luxuosa dos ricos.

A comiseração para com os pobres e a rejeição contra os ricos –Que entendam a primeira como amor e a segunda como ódio, mas ambas são humanas paixões; e neste sentido eram igualmente grilhõesque me aprisionavam.

Onde há humanas paixões, não há paz. Como pode alguém estabelecer a paz no mundo, se não consegue alcançar sua própria paz?— Eis por que muitas das revoluções sociais

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não conseguiram alcançar seus objetivos.

Mas vejo, agora, o verdadeiro caminho da paz. Os 1írios do campo não pretendem angariar fundosem prol do movimento de salvação dos pobres. Experimente apelar a eles: “Irmãos, estou faminto; salvem-me!” Certamente eles se limitarão a lhe oferecer seus próprios bulbos, dizendo: “Irmão, queira aceitar isto. É tudo o que tenho”.

Eis o verdadeiro Caminho.Eis a verdadeira paz. Os lírios do campo não pregam o Caminho nem têm a pretensão de distribuir dinheiro para os pobres. Eles se contentam em viver no lugar que lhesfoi destinado, absorvendo os nutrientes que lhes são oferecidos. Vivem segundo os desígnios de Deus,sem recorrer a mentiras, estratégias e artimanhas.Não pregam nem Mahayana nem Hinayama.Não têm a pretensão de fomentar a reforma social, nem de tornar-se um pregador da salvação do mundo ,e vivem uma vida simples e comum. Seu próprio viver já é uma grande pregação.Este é o verdadeiro Caminho. É o caminho a ser trilhado pelas pessoassimples e comuns. É o Caminho que qualquer um pode seguir agora mesmo, bastando ele querer. O Caminho deve ser acessível a todos. O viver singelo dos lírios do campo – nele está o Caminho a ser trilhado por nós.Quero trilhar esse Caminho, a partir de agora.Quero trilhar esse Caminho, a partir de agora.

Porém, eis que minha esposa me indaga: “Mas não achas que, no palco deste mundo,são necessários diversos tipos de personagens? Se todos se tornarem lírios do campo, que será deste mundo? Não é verdade que o progresso do mundo foi promovido por pessoas que não se

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contentavam em ser lírios do campo?”.

E eu respondo: “Falas em progresso?! Pois estás iludida... Quanto o mundo progrediu com as ambiçõeshumanas?”

“Imponentes arranha-céus, isso é progresso? Belas roupas da moda, isso é progresso? Grande número de cientistas,isso é progresso?Admitindo-se que tudo isso seja progresso, até que ponto os sofrimentos humanos diminuíram desde o nascimento de Buda há três milênios? “Quanto maior o progresso material, mais aumentam as aflições do ser humano. Já pensaste no porquê disso? Digo-te, pois: é porque o progresso de que falas baseia-se nas ambições humanas.É preciso abandonar as ambições. Só assim se alcança o verdadeiro progresso — o progresso da alma —, em vez do progresso aparente.

“Disse que quero viver como os lírios do campo, mas não disse que todos devem ser como os líriosdo campo. O que quis dizer é que cada um seja autêntico,seja como ele é. É assim que se alcançam a paz e a tranquilidade.” Os lírios do campo não têm a pretensãode fazer desabrochar rosas em seus ramos.Elas produzem flores que lhes cabem produzir. Não distorcem a Natureza. Os lírios do campo não têm a pretensão de transformar seus bulbos em batatas; eles simplesmente produzem bulbos que lhes cabem produzir. Não distorcem a Natureza.

Falei dos lírios do campo, mas tudo o que disse

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aplica-se também a outras plantas e outros seres. É natural que na roseira desabrochem rosas. Quando a roseira vive plenamente sua própria vida,assim como os lírios do campo vivem sua vida, em seus ramos desabrocham naturalmente belas rosas.

Militantes da revolução social e pregadores da salvação da humanidade, se vocês são simples e sem ambição como os lírios ou as roseiras que florescem naturalmente, e conseguem realizar com êxito a revoluçãoou a obra de salvação com naturalidade ehumildade, então vocês estarão vivendo a vida de que falei: A vida simples e autêntica como a dos líriosdo campo.

Quando terminei de escrever esses versos e levantei os olhos, percebi que o chefe estava me observando. Levei um susto e voltei a me concentrar no trabalho que me havia sido atribuído: a tradução de um livro técnico.

Contudo, permanecia em mim o pensamento expresso no último verso da aludida poesia. Não achava que a minha missão fosse a de permanecer, até o fim, na vida rotineira de um simples assalariado. Sentia que um dia conseguiria tornar-me um pregador da salvação da humanidade com a atitude mental natural e simples como o florescer dos lírios do campo, e vivia acalentando esse ideal. Inevitavelmente, esse ideal conflitava com a vida oprimida de assalariado, e eu frequentemente sentia vontade de fugir daquele ambiente de serviço.

Esse desejo de fuga me impedia não só de conviver harmoniosamente com meus colegas de trabalho, como também de desempenhar bem as minhas funções. Cometia erros apesar de prestar atenção no que fazia. Era muito estranho, mas o fato é que, quando fazia revisão tipográfica dos artigos impressos, acabava deixando escapar erros apesar do máximo cuidado com que executava esse serviço; e, quando fazia tradução, às vezes errava no decimal, transformando, por exemplo, 300 em 3000. Erros como esse eram fatais em se tratando de manual de instruções de um aparelho. Eu tinha o cuidado de conferir com o original os trechos em que apareciam números, mas, mesmo assim, deixava escapar alguns erros. Não conseguia compreender como isso acontecia. Às vezes, um número saía errado apesar de eu ter confrontado duas vezes com o original. Fiquei tão transtornado com tudo isso que, mesmo fora do expediente de trabalho, estando em casa ou andando pela rua, as letras e os números dos artigos para revisão tipográfica não me saíam da cabeça. Comecei a duvidar de minhas faculdades visuais. Pensei que talvez estivesse ficando com os nervos abalados e tivesse uma espécie de alucinação ao ler números. Cheguei até a pensar que talvez Deus estivesse provocando isso em mim para mudar o rumo de minha vida, já que,

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continuando naquele estado, acabaria ficando impossibilitado de permanecer no emprego, quer eu quisesse, quer não.

No dia em que havia cometido erros no escritório, eu chegava em casa particularmente mal-humorado. Durante o jantar, esgotava a paciência de minha esposa, queixando-me do trabalho e dizendo que queria demitir-me da firma. Como era natural, sempre que eu começava a me queixar, minha esposa ficava aborrecida. Assim, o ambiente na hora do jantar ficava pesado e desagradável. Frequentemente, eu ficava com problemas gastrintestinais e isso aumentava ainda mais a minha irritação. Eu já havia percebido que a causa fundamental daquela situação estava no meu desejo latente de fugir daquele trabalho que não me agradava. A prova disso era que minha angústia se aplacava e minha condição física começava a melhorar quando eu refletia que a maioria das pessoas não tem a sorte de se dedicar à profissão de que gosta realmente, e pensava, com serenidade e resignação: “Devo aceitar com boa vontade os mesmos sofrimentos da maioria das pessoas, pois assim é possível que o sofrimento acabe se revertendo em alegria”. Porém, mesmo tendo percebido a verdadeira causa da situação em que me encontrava, eu não conseguia superar definitivamente o meu desejo de fuga, e continuava a cometer frequentes erros no trabalho de revisão. Dentro de mim, ocorria uma batalha entre o pensamento de resignar-me à vida que estava levando e o anseio de sair daquela vida rotineira e lançar-me logo ao movimento em prol da salvação da humanidade. Frequentemente, o chefe da seção retinha os funcionários após o expediente e passava algum tempo contando histórias bobas ou piadas obscenas. Eu não queria desperdiçar meu tempo ouvindo essas tolices. Muitas vezes, havia pessoas doentes esperando-me em minha casa para receber orientação. Em vez de desperdiçar o tempo ouvindo histórias bobas e piadas obscenas do chefe, eu queria ir logo para casa e ajudar aquelas pessoas. Por isso, eu sempre pedia licença e ia embora. Creio que isso irritava o chefe, pois, no dia seguinte, se constatasse algum erro no meu trabalho, ele me repreendia mais asperamente do que o usual.

O conflito de minha mente deve ter refletido na condição física de minha filha, pois, no final daquele ano, ela ficou muito doente. Tinha dor de garganta e febre muito alta. Não dei muita importância ao fato, dizendo para mim mesmo: “A doença não tem existência real. Não passa de aspecto aparente manifestado como reflexo da distorção da mente. Portanto, acaba desaparecendo naturalmente”. Mas, mesmo decorridos alguns dias, minha filha continuava com febre alta, estava com o rosto inchado devido à inflamação das amígdalas e das parótidas, e dormia profundamente como se estivesse em coma. A febre passava dos 40 graus.

— Não precisamos tomar alguma providência? — perguntou minha esposa. — Não há necessidade disso. A doença não tem existência real — disse eu. — Mas nossa filha está mesmo doente, como estamos vendo.— Isso não passa de reflexo da distorção da mente. Se quiser, tome as providências

que julgar necessárias. Mas a doença extingue-se por si mesma quando desaparece naturalmente a distorção da mente.

Ante a minha aparente indiferença, minha esposa foi comprar uma cataplasma e aplicou-a no peito e no pescoço da criança. Eu continuava certo de que a cura ocorreria naturalmente.

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Passaram-se mais alguns dias e chegou o sábado, sem que minha filha apresentasse sinais de melhora. Nesse dia, resolvi visitar o mestre Baiken Imai, que havia cerca de dois meses vinha sofrendo com o agravamento de uma doença gástrica crônica. Devido à sobrecarga de serviço (eu trabalhava até na hora do almoço), ficara muito tempo sem poder visitá-lo. Somente quatro dias atrás tivera a oportunidade de visitá-lo, aproveitando a hora do almoço. Naquele dia, fiz-lhe a mentalização para a cura colocando as mãos sobre seu abdômen, e o mestre ficara muito contente, dizendo que a dor havia desaparecido. No sábado, após o encerramento do expediente ao meio-dia, resolvi tornar a visitar o mestre Imai e fazer-lhe mais uma vez a mentalização para a cura. Assim, pouco depois do meio-dia, tomei um trem elétrico, com destino à província de Hyōgo, onde o mestre morava na época. Durante o trajeto, refleti: “Por que será que deixo minha própria filha entregue ao tratamento material, dizendo à minha esposa que tomasse as medidas que julgar necessárias, e empenho-me em ministrar cura espiritual somente aos outros? Isso não está certo. Como pude ser tão indiferente para com minha própria filha?”. Meu coração se encheu de amor por minha filha e desejei, sinceramente, curá-la. De mãos postas, fiz mentalização para a cura, durante algum tempo. Como era sábado, demorei-me bastante na casa do mestre Imai e voltei para casa no final da tarde. Assim que cheguei, minha esposa me disse:

— Aconteceu uma coisa estranha, esta tarde. Logo depois do almoço, quando estava colocando uma nova cataplasma no peito da Emiko, senti-me tomada por uma força estranha, e comecei a entoar freneticamente algo parecido com sutra budista ou oração xintoísta, colocando as mãos no peito e na garganta da Emiko. Não sei quanto tempo fiquei assim. Quando percebi, Emiko estava dormindo tranquila e profundamente, e a cataplasma que eu havia colocado em seu peito estava completamente ressecada. A febre havia cedido. Olhei para o relógio e vi que já eram três horas da tarde.

Fato surpreendente: a hora em que minha esposa ficara em estado de transe coincidia com a hora em que eu dirigira a mentalização de cura para minha filha, durante a viagem de trem. Foi assim que constatei, por minha própria experiência, que as mentalizações dirigidas a alguém são captadas também a distância. Arrependi-me de ter deixado minha esposa recorrer a tratamentos materiais como a aplicação de cataplasma, na tentativa de curar nossa filha, quando eu próprio podia tê-la curado com a mentalização. Pedi à minha esposa que retirasse imediatamente a cataplasma, e vi que a inflamação das amígdalas havia cedido completamente.

Isso aconteceu pouco antes de eu publicar o primeiro número da revista Seicho-No-Ie, e num dos números seguintes apresentei o caso acima citado, relatando: “Recentemente, aconteceu tal fato”. Porém, dois anos depois, quando inseri o mesmo caso no livro A Verdade da Vida encapado de couro, e também cinco anos depois, na coleção completa de A Verdade da Vida, esqueci-me de citar a data do ocorrido e repeti “Recentemente...”. Devido a isso, muitos leitores pensam, ainda hoje, que o fato ocorreu recentemente e me indagam: “Professor, por que o senhor, pregando a inexistência da doença, aplicou cataplasma na sua filha?”. Então, para evitar esse equívoco, passei a citar claramente a data do ocorrido. O caso retrocitado levou-me à seguinte conclusão: como eu ainda tinha resquícios de ilusão na mente apesar de ter conhecido a Verdade e, deixando-me levar pela angústia devido ao descontentamento no local de trabalho, acabara provocando doença em

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minha filha como reflexo dessa atitude mental negativa, Deus conduziu as coisas de modo a fazer-me comprovar, por mim mesmo, o poder da mente. Primeiramente, Ele deixou que eu recorresse a tratamentos materiais para tentar curar minha filha, e depois deu-me a oportunidade de refletir melhor e fazer a mentalização para a cura. Em outras palavras, Ele deu-me a oportunidade de ministrar, na mesma pessoa e na mesma doença, tanto o tratamento material como o tratamento pelo poder da mente, para que eu pudesse descobrir, pessoalmente, qual dos dois tem o maior poder de cura. Aquela foi a última vez em que, na minha casa, se recorreu a tratamentos materiais contra doença. Contudo, isso não significa que a Seicho-No-Ie afirme ser absolutamente desnecessário o emprego de meios materiais para combater doenças. Somente a Vida possui a verdadeira força curativa, mas quem ainda não conseguiu descobrir em si mesmo a força curativa da Vida pode recorrer a tratamentos materiais. Isso é comparável ao fato de que, na falta de luz elétrica, podemos recorrer à luz de vela.

Levando em conta o caso acima narrado e diversos outros acontecimentos, pode-se dizer que o final daquele ano (1929) foi o encerramento da minha “antiga vida”. Uma parente, que morava em Osaka, viera nos visitar e, como ela manifestou o desejo de comprar novelos de lã, saímos todos juntos para fazer compras na cidade de Kobe. Quando voltamos, tivemos uma surpresa desagradável: um ladrão havia entrado na casa arrombando a porta e tinha levado praticamente tudo o que havia no guarda-roupa. Foi o segundo roubo que sofremos, depois do grande terremoto de Tóquio.

Sofrer um roubo, para muitas pessoas, é um incidente que, apesar de muito desagradável, não tem nenhum significado especial. Mas os dois roubos que sofri tiveram grande significado para mim, pelo seguinte motivo: eu havia decidido que passaria a publicar uma revista com mensagens de salvação da humanidade tendo como base o meu próprio despertar, quando minhas economias atingissem um montante que me permitisse arcar com as despesas de publicação. Mas tanto o primeiro como o segundo roubo ocorreram quando eu mal tinha conseguido juntar dinheiro para as necessidades imediatas, como roupa e calçados. Então pensei: “Se as coisas continuarem assim, não sei quando estarei em condições de realizar aquilo que julgo ser minha missão. Talvez eu acabe morrendo sem poder cumprir minha missão na Terra”. Nesse instante, ouvi uma voz soar dentro de minha cabeça: — O momento é agora! — A voz, vindo de algum lugar desconhecido, prosseguiu:

— Comece agora mesmo a sua missão! Não há outro momento além do agora! No agora existe o infinito, existe a fonte inesgotável. Você pensa em iniciar o movimento de iluminação da humanidade quando tiver juntado algum dinheiro e quando dispuser de tempo e condição física para levar avante essa obra. Pois está errado! Este mundo é projeção da mente. No momento em que você tomar consciência da força infinita que existe dentro de si, passará a manifestar essa força. Você, na sua Imagem Verdadeira, é um ser divino e eterno, dotado de força infinita.

Contestei mentalmente:— Mas isso só diz respeito à Imagem Verdadeira. No aspecto fenomênico não passo

de um ser sem força e sem recursos.— Já disse que você é dotado de força e de recursos. — Quanto à Imagem Verdadeira, sim. Mas o meu eu fenomênico...

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— O fenômeno não existe. Não se atenha àquilo que não existe. O que não existe simplesmente não existe. Saiba que existe unicamente a Imagem Verdadeira! Você é a Imagem Verdadeira, é Buda, é Cristo, é o infinito, a provisão inesgotável.

Aquela voz soava dentro de minha cabeça como uma rajada de granizos. Senti entorpecimento em todo o corpo. Ressurgiu em mim, com força poderosa, a conscientização de que no agora está a eternidade, e que desde o princípio sou um ser búdico, um ser divino, dotado de força infinita e sabedoria infinita.

Apesar de ter, anteriormente, recebido de Deus a revelação de que “o corpo carnal, a matéria, enfim, todas as coisas fenomênicas são originariamente inexistentes, e unicamente a Imagem Verdadeira é existência verdadeira”, até aquele momento eu ainda não havia conseguido transcender o aspecto fenomênico: via meu corpo carnal e acreditava que esse homem carnal fosse eu; via minha figura esquálida e achava que eu fosse um homem fraco e doentio; via a pequena quantia que havia em minha carteira e julgava-me pobre. Mas estava equivocado. Compreendi que, na verdade, sou um ser cuja Vida é extensão da Grande Vida que preenche o Universo infinito. Compreendi que sou beneficiário da riqueza infinita que existe no Universo, sob as mais variadas formas — tais como fortunas pessoais de meus semelhantes, jazidas de minérios etc. —, riqueza esta que circula livremente e flui para mim na quantidade necessária, no momento adequado. Esse meu despertar está assim registrado no diário que escrevi na época:

Diante de Deus, o caminho abre-se por si mesmo. Todos se curvam perante Ele; até mesmo o terreno montanhoso torna-se plano — assim é a grande liberdade de Deus. Nós, que somos filhos de Deus e que herdamos os atributos do Pai, também devemos revelar a mesma liberdade. Alcançar o estado de grande liberdade é manifestar nosso amor ao Deus-Pai.

●Deus não aceita como oferenda dos homens o sofrimento deles proveniente da

perda de grande liberdade. Deus, sendo nosso Pai, alegra-Se quando alcançamos o estado de grande liberdade e manifestamos assim nossa semelhança com Ele.

●Dores, desgraças, enfermidades etc. não são coisas inevitáveis. Se deixarmos de

nos ater ao mundo fenomênico e passarmos a observá-lo do alto do mundo da Imagem Verdadeira, constataremos que não só as dores, desgraças, enfermidades etc., como também o próprio espírito, que procura evoluir e progredir lutando contra as dificuldades aparentemente inevitáveis, não são existências verdadeiras. Tanto este mundo como o mundo espiritual são manifestações fenomênicas, ou seja, são mundos onde tudo é projeção da mente. Portanto, mudando nossa mente, muda também nossa situação neste mundo ou no mundo espiritual. Os carmas são como meros rastros. Por isso, o homem verdadeiro não se deixa tolher pelos carmas, que não passam de seus rastros. Rastros são marcas deixadas por quem não está mais ali. Assim sendo, aquele que está manifestado como um ser preso aos “rastros” (carmas) não é o homem verdadeiro, mas sim a sombra do homem.

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A partir desse momento, fiquei livre de todas as preocupações e aflições. Resolvi publicar sem demora o primeiro número da revista Seicho-No-Ie e comecei imediatamente a redigir as matérias. Apesar de ter ficado mais pobre do que antes devido ao roubo de que fora vítima, mudei-me para uma casa maior. Pude tomar essa decisão porque conscientizei-me de que, embora fosse pobre sob o aspecto fenomênico, na verdade era dono de riqueza ilimitada.

Com a publicação da revista Seicho-No-Ie, começaram a ocorrer fenômenos curiosos. Passaram a chegar cartas de agradecimento de pessoas que haviam se curado milagrosamente de doenças graves, pela simples leitura da aludida revista, e esta, já no quinto ou sexto número, passou a ser considerada uma publicação sagrada. Mas, pensando bem, já que as pessoas se curavam só de ouvir de mim a Verdade para a qual eu havia despertado, era natural que os doentes se curassem lendo a revista que contém a mesma Verdade. Decorrido um ano e meio, aumentaram os pedidos de pessoas que queriam adquirir todos os exemplares já publicados, desde o primeiro número. Mas eu não podia atender a esses pedidos, pois praticamente todos os exemplares publicados no primeiro ano estavam esgotados. Então, muitos pediram a reimpressão de todos os números do primeiro ano. Mas, como as matrizes não haviam sido conservadas, teria de ser feita a recomposição das mesmas. Já que era necessário fazer a recomposição, achei que seria melhor reunir de forma organizada, num só livro, os principais artigos de todos os números do primeiro ano, de modo que os leitores pudessem assimilar mais facilmente a Verdade, e com esse intuito passei a colocar em ordem as matérias. Após cerca de meio ano, gasto em trabalho de organização das matérias e na impressão, finalmente foi publicado o primeiro livro A Verdade da Vida encapado de couro. Com o lançamento desse livro, de conteúdo bem organizado, aumentou muito o número de cartas de agradecimento dos leitores que me informavam ter-se curado da doença pela leitura do aludido livro, certamente porque através dele a Verdade era mais facilmente assimilada do que pelos exemplares separados da revista Seicho-No-Ie. Eu, pessoalmente, não sei se a Seicho-No-Ie é, ou não, uma religião. Mas, como passaram a se suceder fatos milagrosos, em que as pessoas ficavam curadas de doenças graves ou libertavam-se das dificuldades e dos sofrimentos desta vida pela simples leitura de revistas e livros da Seicho-No-Ie, os que acreditavam que somente as religiões realizam milagres passaram a considerar a Seicho-No-Ie uma religião. Até mesmo os que eram contra a Seicho-No-Ie passaram a respeitá-la a seu modo, considerando-a “uma nova espécie de religião”. Nem Sakyamuni nem Jesus Cristo pregaram a Verdade com o intuito de fundar uma religião. Religião não é algo que pode ser fundado por intenção pessoal de um indivíduo. Eu também não tive a intenção de fundar uma religião. Como a revista por mim publicada (cujos artigos eu escrevia nas horas vagas) passou a operar milagres um atrás do outro, as pessoas começaram a dizer que a Seicho-No-Ie é uma religião. Como já disse, eu não tive a intenção de fundar uma religião, mas posso afirmar o seguinte: se uma doutrina é capaz de provar concretamente a Verdade que ela prega, operando muitos milagres inexplicáveis do ponto de vista científico ou exercendo uma força positiva na vida das pessoas, e por isso as atrai naturalmente, então essa doutrina constitui uma religião viva e, portanto, verdadeira. Mesmo que não se faça nada para divulgá-la, tal doutrina faz com que as pessoas venham juntar-se espontaneamente em torno dela, do mesmo modo que uma árvore generosa, que dá lindas flores e deliciosos frutos,

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atrai para si muita gente, embora continue sempre silenciosa, e assim acaba se formando, naturalmente, um caminho que conduz até ela.

2ª. aula: O preletor vivendo o princípio do relógio de SolUtilizar o Livro O princípio do relógio de Sol

3ª. aula: - Os indígenas e a sua relação com a NaturezaEstudo recapitulativo das aulas do Curso Internacional Brasil – 2009

Senhoras e senhores bom dia, Muito Obrigado! Em primeiro lugar agradeço a oportunidade de compartilhar com todos este estudo e ao apoio que recebi durante a elaboração deste trabalho.

Irei apresentar agora a Cosmovisão dos índios da América do Sul e Central buscando elementos das culturas desses povos para entendermos como esses elementos orientam seu modo de viver. Vamos lembrar que estamos em um curso Internacional de Paz Pela Fé. Temos estudado constantemente, através das orientações do professor Masanobu Taniguchi, nosso Supremo Presidente, quais caminhos devemos percorrer se desejamos a paz.

Por essa razão podemos afirmar que esse estudo irá colaborar, em muito, para compreendermos melhor que quando temos uma postura mental-espiritual na qual reconhecemos a unidade de todas as coisas nossa maneira de ver e consequentemente de agir com todas os elementos do meio natural é outra, ou seja, naturalmente reverenciamos a todas as coisas ou utilizando uma expressão da Revelação Divina da Grande Harmonia, nos Reconciliamos com todas as coisas do Céu e da Terra. Introdução

Ao estudar esse tema notei que todos aqueles que entram em contato com a sabedoria desses povos acabam por entender que existe uma profunda sabedoria que orienta sua Cosmovisão. Interessante notar, também, que é possível encontrar muita similaridade entre a Cosmovisão dos povos indígenas aqui estudados. Logicamente há variações, mas há mais semelhanças que diferenças e estas se encontram muito na forma de expressar essa Cosmovisão, ou seja, nos rituais e na forma de agir desses povos com a Natureza

O que os Colonizadores Encontraram

Estima-se que o período da chegada dos primeiros ameríndios varie entre 12 mil e 48 mil anos e termina há aproximadamente 5 mil anos. Inicia-se a partir daí o “período antigo” com a chegada das últimas levas migratórias e termina com a chegada dos europeus.

Compreendida dentro do “período antigo” a cultura Chavin, que floresceu na costa do Peru por volta do ano 1000 A.C., foi a primeira cultura pré-colombiana do continente Sul-Americano.

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Aproximadamente por vota de 1150 a.C. acontecia um processo semelhante na América Central onde ocorria o florescimento da cultura Olmeca

Essas culturas Chavin e Olmeca foram precursoras do desenvolvimento de uma intensa vida urbana antes da formação dos impérios Inca e Asteca.

Essas sociedades urbanas também construíram templos, fortes, palácios e estradas.

A População Nativa da América Central e América do Sul

Na América Central e em partes da América do Sul três civilizações podem ser identificadas: a Asteca, que viveu na atual região do México entre os séculos XI e XVI; a Maia, que viveu entre os séculos IV A.C. e IX A.C. na atual floresta tropical da Guatemala, Honduras e Ilhas Yucatan (Península) – região sudeste do México; e a Inca, habitante das áreas montanhosas denominadas Andes, que viveu nos territórios que hoje são o Equador, o Peru, a Bolívia, o norte do Chile e o noroeste da Argentina.

O desenvolvimento dessas civilizações, suas construções e a população foram tão imensos que impressionaram os espanhóis.

“Bernal Diaz, um dos conquistadores espanhóis, chegou a reconhecer que aquela capital do império Asteca deixava, em conforto, estabilidade e população, Roma e Constantinopla para trás.” (PREZIA & HOORNAERT, 2000: p. 110)

Na região em que se localizam o Brasil, o Paraguai e o Uruguai, havia em torno de 1400 nações, no ano 1500. De acordo com estudos, essa população variava entre 5 e 8 milhões de pessoas. Os povos destas nações falavam mais que mil línguas diferentes. Essas línguas se dividiam em dois grandes grupos: Tupi e Macro-Jê.

Esses povos não construíram grandes cidades, não construíram suntuosos templos e não possuíam qualquer técnica de manuseio do metal. Por essa razão, eles foram rotulados como um grupo culturalmente atrasado.

Entretanto, veremos posteriormente que eles possuíam um profundo conhecimento sobre seu ambiente e, por isso, desenvolveram métodos de cultivo, medidas para utilização dos recursos naturais e técnicas agrícolas, hoje estudados com interesse e admiração por diversos pesquisadores.

Mercantilismo, Etnocentrismo e Redução Populacional (10)

Podemos certamente afirmar que os povos que colonizaram os territórios, hoje conhecidos como América Central e América do Sul, isto é, os portugueses e espanhóis e posteriormente os ingleses, franceses e holandeses, modificaram muito as condições de vida e a existência das primeiras nações que aqui viviam.

Como afirmei anteriormente os Ameríndios já possuíam um conhecimento amplo acerca de seu meu ambiente. Então fica a questão; por que as ações dos europeus contra esses povos resultaram na súbita redução dessas populações e até mesmo a total extinção de algumas nações? Por que os europeus não aproveitaram toda a sabedoria desses povos?

Tal pergunta pode ser respondida ao analisarmos o pensamento econômico predominante do século XV quero dizer se levarmos em consideração o mercantilismo e a visão cristã de mundo.

Estamos falando de Europa do século XV na qual ocorria uma mudança. As atividades econômicas começam a se voltar mais para o comércio e uma indústria

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artesanal ainda incipiente. Inicia-se uma intensa atividade de compra e venda de mercadorias. Essa época entre os séculos XV e XVIII de intenso comércio é conhecida como mercantilismo e de acordo com tal pensamento “a riqueza de um homem e de uma nação era medida pela quantidade de moedas em ouro e prata.” (PREZIA & HOORNAERT, 2000: p. 101) Justamente nesse período, a Europa foi atingida por uma séria falta de ouro e prata e não teve dinheiro suficiente para manter um volume crescente de comercialização. Então, a corrida para encontrar regiões em que esses metais pudessem ser explorados aumentou rapidamente. Ouro, prata e qualquer especiaria que tivesse valor comercial tornaram-se motivo para uma grande exploração.

Vamos analisar, agora, o pensamento Cristão predominante na Europa durante o século XV. Este era marcado por idéias diametralmente opostas. De um lado o conceito de paraíso, do outro, o de inferno. A luta entre o bem e o mal também fazia parte da crença Cristã, na época da colonização. Assim, quando os colonizadores aqui chegaram trouxeram consigo: 1) o desejo de explorar e levar consigo todas as riquezas possíveis, estando eles então alinhados com o pensamento mercantilista da época e 2) o pensamento cristão que fez com que estes colonizadores enxergassem nas práticas e rituais indígenas não o idílico, ou uma expressão de sua cultura e visão de mundo, mas principalmente o demoníaco.

Ronald Raminelli, Professor da Universidade Federal Fluminense. Doutor em História pela USP, Vice-coordenador do Programa de Pós-Graduação em História da UFF (Universidade Federal Fluminense) realizou uma ampla investigação baseada nas cartas dos Jesuítas, nos tratados filosóficos e na vasta iconografia produzida no período de colonização. Ele afirmou que os povos indígenas eram vistos pelos colonizadores, não pelas características peculiares da vida local indígena, mas sim pela “visão de mundo predominante na” Europa do século XVII, e isso claro gerou toda a sorte de conflitos.

A União Céu-Terra: a Cosmovisão dos Povos Indígenas

Vamos apresentar a seguir o que denominamos de Cosmovisão dos povos indígenas, ou seja, como estes povos entendem a relação entre o mundo material e espiritual ou ainda que concepção estes povos têm acerca da relação Céu/Terra.

Vamos procurar entender como eles se vêem. Vamos fazer como fazem os etnólogos, quer dizer analisar o outro sob o olhar dele mesmo.

A maioria dos povos indígenas, da América Central e do Sul, acredita na existência de um espírito superior que criou todas as coisas existentes, mas também acredita que o Sagrado é expresso e mostrado no Universo por meio dos espíritos de cada animal e planta. Todos podem se ligar com o “espírito do Criador” por meio dos espíritos individuais. (3)

Os povos indígenas acreditam que há uma totalidade por trás de todas as coisas existentes e que elas se inter-relacionam com o todo e com o divino. Estes povos procuram uma aproximação íntima do ser absoluto, da totalidade, com a comunidade que cuida da vida de cada um dos seus membros e da vida de todos.

Os Guaranis, povo que chegou a habitar todo o litoral brasileiro e as regiões compreendidas pela Patagônica Argentina, Paraguai e Uruguai, transmitem, em suas narrativas denominadas “ñe’e porã tenondé” (“palavras formosas”), os ensinamentos que

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falam da formação do Universo, da Terra, da Natureza e do Homem como uma teia interdependente na qual a existência de um é o desdobramento da existência do outro.

A Cosmovisão dos povos indígenas que habitam a da meso-américa, região que se estende por todo Altiplano Mexicano, península de Yucatán, e sudeste a Guatemala, Belize, El Salvador e Honduras, também concebia um único Deus ,pai e mãe de todo o que existe.

O modo de organizar essa relação, Universo, Terra, Natureza e Homem, pode variar de nação para nação, porém, há um elemento similar entre todos esses povos que está embasado em três pilares: a importância de estar presente consigo mesmo, com o cosmos e com o mistério que está por trás de tudo que existe.

Para eles, a Terra não é um amontoado de extraordinários recursos que podem ser explorados de acordo com nossa conveniência. A Terra é vista pelos povos indígenas como uma Mãe, está viva, e deve ser tratada com a mesma reverência e o mesmo respeito que qualquer mãe merece. Por essa razão estes povos nunca matam animais, peixes ou cortam árvores por diversão, mas somente para suprir as necessidades básicas de seu povo.

Mesmo quando eles cortam árvores, caçam ou fazem grandes pescarias, são organizados rituais de perdão para que não seja violada a aliança de amizade entre todos os seres.

Eles conseguem perceber, naturalmente, a teia que liga e torna a ligar todas as coisas entre si e com Deus. Essa teia abrange toda a realidade. Como eles estabelecem essa relação, os povos indígenas sentem-se mergulhados nessa realidade divina na qual os antepassados se encontram. Quando celebram, eles procuram ter uma experiência de encontro com Deus e com todos os povos antigos e homens sábios de suas tribos, que já faleceram.

Essa experiência globalizadora de Deus preenche o mundo deles com vida e encantamento. A reverência e o respeito com os quais abraçam todas as coisas surge da percepção deles de que tudo é um sinal da presença do celestial e das energias divinas. De acordo com a Cosmologia andina, por exemplo, “seres vivos e mortos e alguns objetos inanimados como montanhas, lagos, rios têm o que eles chamam de camaquen que é uma força vital inerente”, afirma Rostworowski que foi membro da Academia Nacional de História (Peru), da Real Academia de História (Espanha) da Academia Nacional de História (Argentina), e do Institute of Andean Studies (Berkeley, California)e presidente da Associação Peruana de Etnohistória. (ROSTWOROWSKI, 2004: p.123)

Para ter a sua espiritualidade manifestada, os povos indígenas tentam reviver a ligação céu-terra para se sentirem unos com o Universo. Eles assim o fazem ao usar constantemente a natureza como um canal que conduz à unidade com o espírito escondido e inerente em tudo.

O que Rostworowski nos indica aqui está de acordo com a visão do mundo que é sustentado pelo budismo e também pela Seicho-No-Ie, onde se afirma que “montanhas, rios, ervas, solo, tudo é a manifestação do buda”, que por sua vez, é compartilhada também dentro da Igreja Católica, por Frei Betto, religioso dominicano, jornalista e autor de diversos livros e Marcelo Barros teólogo e biblista, assessor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e estudioso das relações do catolicismo com religiões dos povos indígenas e negras. Estes autores dizem “Os rituais e cerimônias são instrumentos de interpretação para regeneração, e são a energia espiritual das partes que compõem o todo. O Sagrado está imerso e dentro de diversos elementos da Natureza. Esse é o caminho

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espiritual da maioria dos povos indígenas. Esse é um convite, independente da crença de cada um, para seguirmos esse caminho.” (BARROS and BETTO, 2009: p.79) (5)

O papel do xamã ou pajé, que é o líder espiritual dos povos indígenas, é justamente o de estabelecer ou restaurar a ligação entre a comunidade e o mundo invisível. Logo que uma pessoa adoece, o xamã é chamado para curar o doente por meio de rituais pelos quais ele descobre o modo de restaurar a união céu-terra. Enquanto a beleza e a integridade da natureza não forem restauradas, a doença não deixará a pessoa. (1)

Dessa forma, o xamã promove, por meio de seus rituais, a harmonia entre o home e a Mãe Natureza, e quando o paciente conscientiza-se dessa harmonia, ele se recupera.

O ser humano, de acordo com a visão dos povos indígenas, foi criado para viver feliz, para comemorar e para apreciar toda a criação. Isso pode ser realizado por meio de inúmeras festas e também de danças típicas.

Se quisermos desenvolver uma civilização para as futuras gerações, que seja pautada pelo respeito à natureza, precisamos incorporar muitos elementos da cultura dos povos indígenas. Leonardo Boff, que lecionou Teologia Sistemática e Ecumênica em Petrópolis, no Instituto Teológico Franciscano. professor de Teologia e Espiritualidade em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, além de professor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espanha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha), afirma: “Essa sabedoria precisa ser resgatada e aprofundada pela humanidade em processo de unificação, para colocarmos sob controle e darmos um sentido ético e construtivo ao imenso poder tecnológico que conquistamos. Sem sabedoria, esse poder poderá nos destruir e dizimar nosso planeta.” (BOFF, 2001: p.139)

Como podemos ver, o resgate dessas sabedorias servirão para nos ajudar a edificar um modo construtivo de viver e coexistir com todos os elementos do meio natural e creio que não contradizem o ensinamento católico, cristão e demais religiões tradicionais, o que deverá ser demonstrado através dos estudos a serem apresentados a seguir, dentro de “Estudo (II): Estudar a visão da Natureza das principais religiões tradicionais do mundo”, ou seja, judaísmo, cristianismo, islamismo, budismo e hinduísmo. (6)

Mesmo se pensarmos a respeito da visão cristã iremos encontrar aspectos em comum com os dessas culturas. Estudiosos bíblicos contemporâneos tais como Marcelo Barros, Frei Betto acreditam haver semelhanças nas escrituras cristãs e na Cosmovisão dos povos indígenas, pois entendem que a Bíblia, também nos ensina que (...)“existe uma pertença mútua, em parentesco cósmico, uma irmandade universal entre todos os seres.” BARROS e BETTO (2009: p.149). Ainda segundo esses autores tudo é criatura de Deus e sendo assim, todos os seres da Terra são criaturas de Deus.

Frei Betto e Marcelo Barros, interpretam “Romanos 8” e dizem que Paulo salienta a existência de uma fraternidade cósmica, ou seja, somos irmãos e irmãs de toda a criação.

Portanto, a Cosmovisão que afirma serem os seres animados e inanimados, como montanhas, lagos, rios possuidores de “camaquen”, a força vital inerente, me parece importante para servir como conceito básico para que as pessoas modifiquem a visão antropocêntrica de mundo e passem a sentir-se “parte” da natureza, permitindo, dessa forma, a edificação de uma postura mental-espiritual mais ecológica, de não-agressão e cuidado no trato com o meio natural, o que logicamente, contribuirá para a paz mundial, pois esse tipo de visão e fé permite dar sustento a uma atitude de vida mais harmoniosa.

Existência e coexistência com a natureza

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Interessante notar que os povos indígenas transmitiam seus conhecimentos e sua Cosmovisão a partir das narrativas dos mitos. Para muitos os mitos são histórias bonitas. E isso é verdade, mas quando um índio escuta esta história ele tem outra compreensão, ou seja, esta história faz um sentido para eles diferente do sentido para nossa cultura. Apenas recentemente, a partir da década de 1960 é que antropologia ecológica e da etno-ecologia identificam um saber apurado por trás das narrativas, dos povos indígenas, usadas para transmitir conhecimento. Etnobiólogos e etnozoólogos analisaram tais narrativas e usaram-nas para desenvolver o sistema taxonômico de povos iletrados.

Seus estudos levaram à descoberta de que a integração entre os povos indígenas e a natureza, narrada em seus mitos, quando “adequadamente decodificados, fornecem informações sobre a relação ecossistêmica e as percepções ecológicas acuradas dos Índios.” (RIBEIRO, 2000: p. 22).

De fato, os povos indígenas Americanos domesticaram centenas de vegetais cultivando-os de forma a não agredir o meio ambiente.

Sob este aspecto podemos concluir que os povos indígenas são como os ecologistas, pois estudam seu ambiente, sabem como adaptar-se aos diferentes ecossistemas, e, além disso, adaptam os ecossistemas aos seus objetivos. Muitos de nós já ouviu algo como: as florestas equatoriais, como a Amazônica, está sendo ocupada. Isso não é verdade, pois ela já estava ocupada antes da chegada dos colonizadores “Em de milhares de anos, nações indígenas poderosamente influenciaram as terras. Quase 12% do solo seco de toda a floresta Amazônica foram manejados pelos índios os quais criaram “ilhas de recursos”, que favoreceram o desenvolvimento de variedades de vegetais úteis”. (BOFF, 2001: p.155).

Mesmo após esse longo período de ocupação, a destruição do ecossistema não ocorreu, pois esses povos se desenvolveram de forma a não agir drasticamente sobre o ambiente natural, mas sendo parte integrante dele. Diferentes espécies foram domesticadas e áreas foram usadas para a plantação, de tal forma que, até hoje, os caboclos (mestiços) brasileiros, que vivem nas florestas equatoriais, comentam sobre as terras pretas dos povos indígenas referindo-se à abundância de frutas e à fertilidade daqueles solos.

Esta relação entre o homem e a natureza, entre viver junto e coexistir, baseada na Cosmovisão desses povos, pode ser vista como medida correta para a preservação do meio ambiente, e precisa ser resgatada para se garantir o futuro de toda a vida e da humanidade.

Dessa maneira, há um entendimento implícito no pensamento dos povos indígenas com relação à igualdade entre todos os seres. Isso difere do conceito do homem moderno o qual considera-se, em muitos casos, dominador dos outros elementos.

É interessante notar como a postura mental espiritual desses povos fazia-os agir de forma a integrar-se ao meio ambiente.

Como exemplo disso que acabei de falar vou citar alguns exemplo. Um desses exemplos se refere aos kayapós, povo que vive no Brasil em aldeias dispersas ao longo do curso superior dos rios Iriri, Bacajá, Fresco e de outros afluentes do caudaloso rio Xingu, por exemplo, têm diversos mitos nos quais vespas, abelhas e outros insetos interagem com as pessoas. Em um desses mitos aparece a figura de uma formiga vermelha que é até venerada em um ritual Kayapó. Ao estudar o mito e analisar como este povo integrava a agricultura com este tipo de formiga vermelha, Posey, Etnólogo, antropólogo da Universidade de Lousiana – EUA, compreendeu a inter-relação este estudioso entendeu a complexa co-evolução de milhos, feijões, mandioca e da formiga. A mandioca produz

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néctar extra floral que atrai as formigas para a planta ainda jovem.” As formigas, por sua vez utilizam as suas mandíbulas para palmilhar o caminho até o néctar. Dessa forma, elas cortam a haste da fava que impediria o crescimento da planta ainda frágil. (...) “O milho pode suportar sem dano o talo da fava e a própria planta lhe fornece o nitrogênio de que necessita. As formigas são manipuladoras naturais da natureza e facilitam as atividades horticultoras das mulheres.” (POSEY, 1986 p.78)

Outro exemplo é dado por um tipo de agricultura conhecido como itinerante. Ela é praticada da seguinte forma: (2)O desmatamento de somente pequenas partes de terra, de cada vez, e sua utilização temporária minimize o tempo que o solo é exposto ao calor e à chuva pesada.A plantação de diferentes espécies e de plantas, que estão em conformidade com a floresta natural.O cultivo de plantas nativas ajuda na recaptura de micronutrientes e não provoca competição entre plantas para os nutrientes essenciais. Representa uma adaptação bem sucedida às condições climáticas tropicais, à baixa fertilidade e à acidez do solo. A dispersão dos campos cultivados minimiza o incidente de pragas sobre a plantação e de insetos daninhos.

Esse tipo de agricultura traz vantagens ecológicas e pode ser usada em áreas de floresta tropical. Vale enfatizar que a “agricultura itinerante” depende de uma baixa concentração demográfica e de uma dispersão de grupos humanos Contudo, há mais uma vantagem, pois permite uma ocupação mais harmoniosa do território e está exatamente adequada ao mundo atual onde a auto-sustentação regional é desejável. A produção de comida, energia e muitas outras necessidades dentro de uma comunidade evitariam o ônus de altos custos de transporte e a consequente emissão de CO2.

Captura de proteína animalMesmo quando a questão se refere a cação havia todo um cuidado para não

desrespeitar o ciclo de reprodução de um animal e quando a caça começava a rarear alguns povos mudavam a área de caça para não causar a extinção de uma espécie. Isso tudo é possível graças ao respeito aos animais, respeito esse que advém da Cosmovisão destes povos.

Conclusão

Em resumo, de acordo com a Cosmovisão dos povos indígenas, tudo tem vida e, portanto, é fundamental decifrar as mensagens da natureza, sempre repletas de significados a serem interpretados. Se nos livrarmos do etnocentrismo, preponderante no pensamento de nossa civilização é fato que poderíamos nos aprofundar na sabedoria universal dos povos indígenas e entender, como a rede da vida está ligada por um laço fraterno.

Se é verdade que estamos vivendo em um sistema social e econômico que privilegia a acumulação, a depredação, o consumismo, a extrema exploração, também é verdade que esta realidade pode ser mudada quando o ser humano adotar outro comportamento mental-espiritual em relação à vida.

Com relação a isso, acredito que será necessário aprender com outras tradições e crenças, as quais nos ajudam a construir uma cultura voltada para a comunhão entre nações, e ainda mais – uma cultura em comunhão com o próprio universo. Os povos

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indígenas, que têm uma percepção acurada do espírito divino, que existe no interior de todos os seres, e percebem a inter-relação existente entre os diversos elementos que os cercam, podem fornecer uma grande ajuda nesse sentido.

Marcelo Barros e Frei Betto dizem que “Religiões têm de refazer sua teologia e sua espiritualidade para unir esses elementos e valorizar mais a ação salvadora de Deus no Universo, assim como a dimensão sagrada de toda criatura.” (BARROS e BETTO, 2009: p.22)

Ao mesmo tempo, as religiões devem repensar sua espiritualidade, aproveitando os diversos ensinamentos construídos pelas sociedades humanas, isto é, devemos começar um processo imediato de união interna daquilo que parece estar separado, adotando comportamentos de reverência e gratidão à vida, transformando crenças em atitudes e ações.

Precisamos reforçar este comportamento reverente em nossa cultura materialista e amplamente profana. É importante restaurar a consciência ancestral, segundo a qual o visível é parte do invisível. Leonardo Boff afirma que o ser humano precisa “sentir-se parte de um Todo, precisa urgentemente se conscientizar de que seu destino, feliz ou trágico, está vinculado a uma relação viva e sincera com a Fonte originária de todo os seres ” (BOFF, 2001: p.150).

Entretanto, Frei Betto e Marcelo Barros observam que “o ser humano só mudará a sua forma de relacionar-se com os seus semelhantes e com os outros seres vivos, se optar por um olhar de amor sobre o Universo e, ao aprofundar a relação consigo mesmo, aceitar vislumbrar por trás de cada ser do universo a marca divina.” E com relação a isso, percebe-se que há lições a serem aprendidas com os povos indígenas da América do Sul e Central.

Eu termino, expressando minha gratidão ao Supremo Presidente da Seicho-No-Ie, Professor Masanobu Taniguchi, pela sua orientação e pela oportunidade de participar do Curso Internacional da Seicho-No-Ie pela Paz Mundial – Brasil 2009. Muito obrigado!

4ª. aula: O “Renascimento”A Verdade, vol. Suplementar, Capítulo 8 Página 101 a 114

“Vede, eu já renovei o céu e a terra. Homens, tirai a venda dos olhos! Eu sou a nova Sabedoria, a nova Vida, o novo Universo, a nova Luz.” (Da Revelação Divina do Novo Céu e Nova Terra)

A Verdade vertical e a horizontal

A partir deste capítulo, desejo falar de modo mais claro sobre a Verdade do renascimento.A Seicho-No-Ie ensina que há duas Verdades: uma é a Verdade vertical; e outra, a Verdade horizontal. A Verdade vertical é constante e imutável, tal como os fios verticais (urdidura) de um tecido. Contudo, não é possível tecer um tecido só com os fios verticais. Então, o tecido chamado mundo fenomênico se forma pelo entrelaçamento da Verdade horizontal com a Verdade vertical, manifestando assim diversos aspectos.

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Disse que a Verdade vertical é constante e imutável, mas que é que não muda? É a Verdade de que o homem nasce da Grande Vida, ou seja, que é filho de Deus. Isso jamais muda. O homem é filho de Deus, é perfeito, completo, jamais adoece, envelhece nem morre. A maravilhosa Vida de Deus, sem nenhuma imperfeição, infinitamente virtuosa e harmoniosa, é o próprio homem. Esta é a Verdade vertical eternamente imutável. A Verdade horizontal vai entrelaçando seus fios (trama) nos fios verticais (urdidura) fixos, formando diversas estampas. Com isso, os fios verticais continuam imutáveis, porém, manifestam-se fenomenicamente diversos aspectos. A isto denominamos Verdade horizontal ou lei mental. Todos nós recebemos igualmente a Vida perfeita de Deus, mas, de acordo com a lei mental, manifestamos diferentes imagens ou situações em nossa vida cotidiana. Aliás, tanto o fio vertical quanto o horizontal, foram criados por um engenheiro, projetista ou, digamos, um desenhista de tecelagem. Esse engenheiro é Deus e, por isso, mesmo parecendo haver duas Verdades, uma vertical e outra horizontal, Deus é único, portanto, o princípio é um só. A Verdade vertical é a perfeição constante e imutável criada por Deus e se denomina Imagem Verdadeira. A Verdade horizontal não é a imagem real, mas a manifestada, ou seja, a lei que rege as mudanças fenomênicas. A imagem fenomênica não existe verdadeiramente e, portanto, muda constantemente.

Falando em termos budistas, o mundo fenomênico é aquele que é inconstante e muda a todo momento. O homem nasce, cresce, envelhece, adoece e morre. A lei que rege essas mudanças é a Verdade horizontal. Isso não ocorre só com o homem. Tudo que nasceu, precisa passar por transformações e perecer. Esta é a Verdade horizontal.

Tudo é transitório, ou seja, o fenômeno é transitório

A primeira grande Verdade descoberta por Sakyamuni (Buda) durante suas mediações foi a Verdade horizontal, ou seja, “tudo que nasce, se transforma e perece”.Tudo que existe no mundo fenomênico é transitório e está sempre se transformando. Por isso, se admitisse apenas a existência do fenômeno, o homem seria um ser realmente efêmero e insignificante. Seria algo tão frívolo quanto um fungo surgido na terra. Contudo, essa existência efêmera e inconstante nada mais é que aspecto do fenômeno. Fenômeno é a imagem manifestada visivelmente.

E que significa o fato de este fenômeno mudar constantemente? O que é transitório, muda. Por exemplo, uma pequenina célula-ovo se divide, multiplica-se, vai crescendo e forma um bebê. Esse bebê cresce, transforma-se num jovem, num adulto, envelhece, diminui um pouco de tamanho, contrai diversas doenças, fica encurvado, mas esse crescimento se processa fazendo desaparecer a célula-ovo inicial que é substituída por novas células, e essas células também desaparecem, surgindo outras células novas. São transformações contínuas. Quando um bebê se transforma num jovem, significa que desapareceu o pequenino bebê e surgiu o jovem.

O que é “transformação”

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Segundo a Fisiologia, as células se subdividem e se multiplicam. Dá a impressão de que as células iniciais continuam existindo junto com as novas, mas, no momento em que ocorre a divisão da célula, a anterior já não existe, havendo apenas as células novas. Transformação significa desaparecimento de algo que existia e surgimento de algo novo. E as células velhas morrem e são constantemente eliminada.

Conclui-se, assim, que o corpo humano é constantemente substituído desde o nascimento. As partes moles do organismo estão totalmente mudadas após três ou quatro anos. Até mesmo as partes duras, como os ossos e os dentes, após 15 anos já estão totalmente mudadas. Então, o corpo com que a pessoa nasceu já é totalmente outro quando ela completa 15 anos. E, quando esse jovem de 15 anos completa 30, é novamente outra pessoa. Poderia até significar que, se tivesse contraído uma dívida há 15 anos, o devedor poderia alegar que já é outra pessoa e a dívida prescreveria, não precisando mais pagá-la. Não sei se isso é viável juridicamente, mas, considerando que o corpo daquele devedor já não existe, poderia ser assim. Entretanto, mesmo que a justiça prescreva a dívida por ter passado 15 anos, não se pode afirmar que o devedor esteja livre de qualquer responsabilidade com pessoa. Na qualidade de ser humano, continua sendo o responsável por essa dívida.

O que é o “ser humano”

Que vem a ser esse ser humano que tem responsabilidade por um corpo que está completamente mudado? Se o corpo carnal fosse o homem, mesmo que ele cometesse um crime ou contraísse dívidas, poderia dizer “Não tenho mais responsabilidade sobre atos que forma cometidos há 15 anos por um corpo totalmente diferente do presente”. Ele não teria de se responsabilizar pelos atos de seu antigo corpo, mesmo que tivesse recebido um vultoso empréstimo, se banqueteado e divertido com mulheres, porque aquele corpo antigo já não existe, e agora existe um outro corpo. Isso, porém, é inadmissível porque o homem não é o corpo carnal. Se o homem propriamente dito fosse o corpo carnal, totalmente renovável por processo metabólico, não teria responsabilidade por atos cometidos antes dessas mudanças. Entretanto, não é o que ocorre, e isso demonstra que o corpo carnal não é a substância do homem.

Poderia haver quem afirmasse: “O corpo do bebê que meus pais geraram já não existe e, portanto, eu e eles somos pessoas estranhas. Meu corpo não é o mesmo de quando eu nasci. Este corpo atual veio se formando à medida que vim me alimentando de carne bovina e de peixe. Então, eu poderia até dizer que os pais deste meu corpo atual são o boi e o peixe”.

Observando do prisma físico, essa afirmação seria correta, mas, analisando à luz da Imagem Verdadeira, da essência humana, isso é um absurdo. Mesmo que tenha nascido ou contraído dívidas há 15 anos, a pessoa continua responsável pelos seus atos, porquanto essa pessoa, esse ser humano, não é o corpo carnal.

O “ser eterno” que existe por trás do fenômeno

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Quando se diz “A mudou para B”, que significa essa mudança? Se A desapareceu para B aparecer, não seria mudança de A para B. Apenas desapareceria A e apareceria B. Então , para que A mude para B é preciso que exista, por trás da manifestação de A e B, algo que não muda e que seja um A e B. Esse algo imutável manifesta-se em forma de A ou B. Por isso, pode-se dizer: “A se transformou em B”. Se simplesmente A desapareceu e surgisse B, significaria que apareceu algo diferente de A, e não que A se transformou em B. Por exemplo, se eu sair de um palco e o sr. Yamaguchi entrar nele, ninguém dirá que Taniguchi se transformou em Yamaguchi, mas sim que Taniguchi foi simplesmente substituído por Yamaguchi. Entretanto, se eu aparecesse no palco com outra roupa, usando peruca e vestido de mulher para encenar um espetáculo teatral, minha indumentária teria mudado, mas dentro dela existiria um homem imutável. Nesse caso, diriam: “Taniguchi se transformou numa personagem feminina”. Não se pode, portanto, usar a palavra transformar se por trás do fenômeno aparente não existir algo que seja imutável e constante. Mesmo que uma criança cresça e mude de aparência física, continua sendo a mesma pessoa, e isso demonstra que, por mais que a aparência fenomênica mude, existe em seu interior o ser humano que jamais muda. E esse ser é o homem verdadeiro. O corpo carnal nada mais é que uma espécie de vestimenta que o homem troca vez ou outra. No interior do corpo físico existe o eu que não muda. E esse eu imutável á a Realidade. Realidade é o que existe verdadeiramente, e o aspecto dessa Realidade é a Imagem Verdadeira, enquanto o fenômeno é o aspecto da imagem aparente.

As pessoas comuns vêem o fenômeno e dizem que ele existe, mas ele não existe de verdade. O fenômeno é algo apenas manifestado e não existe de fato. Por isso, muda constantemente. E, quando se diz “A mudou para B”, significa que desapareceu A e apareceu B. A desaparece porque é apenas uma manifestação, sem existência própria. É semelhante ao filme projetado na tela. As cenas do filme parecem existir de fato e, em se tratando de cinerama, parecem mais reais ainda devido às imagens que dão a impressão de relevo, mas são apenas projeções na tela côncova, e não existências reais. Por pior que seja a tragédia que se desenrole na tela, isso não existe de fato e desaparece porque é apenas uma manifestação.

Tomei como exemplo o cinema porque o homem carnal que enxergamos neste mundo também é um fenômeno igual ao filme, ou seja, é apenas uma manifestação que um dia desaparecerá.

Por que o homem da Imagem Verdadeira é perfeito

Compreende-se, assim, que a afirmação “o homem é imortal” significa: o homem da Imagem Verdadeira (homem verdadeiro) existente no interior do homem carnal fenomênico não desaparece. Renascer é compreender que esse homem eternamente imperecível é o homem verdadeiro, o homem da Imagem Verdadeira.

Esse é o ensinamento central da Seicho-No-Ie. Expliquei o seu princípio fundamental de modo simples, mas não é fácil fazer com que as pessoas compreendam isso e o apliquem na vida cotidiana. Perguntam-me, frequentemente, de que forma aquilo que é verdadeiro existe pela eternidade e por que é imperecível. Ele existe eternamente porque é perfeito.

Se uma casa não desmorona é porque foi construída de modo perfeito. Mesmo assim, uma casa que inicialmente era perfeita poderá um dia se tornar imperfeita, com a

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degeneração dos pilares, com a perda das telhas levadas por um furacão, com a infiltração da água de chuva, com o apodrecimento de alguma parte, vindo enfim a desmoronar. A imperfeição dá origem à ruína e ao desaparecimento de uma edificação.

O que é eternamente perfeito não se arruína, porque não tem falhas. Então, a Realidade eternamente indestrutível só pode ser perfeita. Não se arruína porque é absolutamente perfeita. A Imagem Verdadeira do homem que existe verdadeiramente, do homem verdadeiro, é perfeita, sendo portanto indestrutível. Compreender isso é renascer, do homem carnal para o homem da Imagem Verdadeira.

De onde nasce o homem?

Se me perguntam de onde nasce esse homem perfeito, respondo que a perfeição não surge da imperfeição e que ela só pode ter nascido daquilo que é perfeito. Portanto, se a Vida do homem da Imagem Verdadeira surge de algo, só pode ter se originado de algo perfeito. Esse algo perfeito é Deus. Logicamente, Deus é uma palavra simbólica escolhida por nós, pois poderíamos ter dado outro nome, mas o importante é o fato de que existe algo sumamente perfeito e nós – homens verdadeiros indestrutíveis – nascemos dEle. Denominamos esse algo sumamente perfeito de Deus. Por mais que a imagem fenomênica mude de A para B, mesmo que uma criança cresça, envelheça e morra, por trás dela existe o homem verdadeiro, perfeito e eternamente imutável. E esse homem verdadeiro veio de Deus que é Perfeição. Tanto faz chama-Lo de Deus ou não. Em todo caso, viemos dessa suprema Perfeição. E porque denominamos essa suprema Perfeição de Deus, somos filhos de Deus.

Por que se manifesta a imperfeição no mundo fenomênico?

Como vimos, o homem é perfeito, mas manifesta diversas imperfeições no mundo fenomênico. Por que razão surgem doenças, lutas, dissensões, pobrezas e outros problemas desagradáveis? Porque este mundo fenomênico é semelhante ao cinema e, apesar de ser natural que seja projetada aqui a perfeição do mundo da Imagem Verdadeira, durante o processo da projeção ocorrem defeitos e distorções. Imaginemos que aqui haja um rolo de filme. Esse filme existe antes da projeção na tela e foi produzido por Deus. É a Imagem Verdadeira. Ela não existe no mundo visível, do mesmo modo que o filme não fica em local visível aos espectadores (homens) que estão no cinema (mundo fenomênico). Para que tal Imagem seja visível aos olhos físicos, é preciso que seja projetada na tela chamada mundo fenomênico, enquadrando-a dentro do espaço tridimensional e seguindo a corrente do tempo. Mesmo que haja no mundo da Imagem Verdadeira o filme de imagens perfeitas, não será possível assistir a ele se estiver num mundo onde não existe a moldura do tempo e espaço (no caso do cinema, o tempo que leva para desenrolar o filme e a tela onde é projetado). Num cinema, há uma tela instalada. Se não tivesse a tela, nada apareceria, mesmo que projetassem o filme da sala de projeção. Se no lugar da tela houver uma parede branca, também será possível ver as imagens do filme, mas, se ele for projetado num espaço transparente e vazio, nada será visto. Aparecem imagens na parede porque nela há um espaço com altura e largura. Conclui-se que, mesmo existindo o filme, se não houver uma parede, uma chapa de madeira ou qualquer objeto plano que tenha amplitude, ele não é

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visível fenomenicamente. De modo similar, a perfeição da Imagem Verdadeira é uma existência anterior ao tempo e ao espaço que é invisível aos nossos olhos físicos.

Mesmo que não seja projetado na tela, o filme já contém as maravilhosas imagens filmadas, ou seja, no mundo do filme já está pronta a obra produzida pelo cineasta. Imagem Verdadeira é a perfeição que existe no mundo do filme produzido pelo cineasta chamado Deus. Essa Imagem Verdadeira perfeita se manifesta no mundo fenomênico projetando-se na tela chamada espaço, seguindo a corrente do tempo. No entanto, ela não se manifesta toda ao mesmo tempo. Vai se manifestando gradualmente, acompanhando a rotação do projetor, cena por cena, e se projeta na tela chamada espaço, passando pela “lente mental”. Se todas as cenas contidas num filme fossem projetadas de uma vez, apareceriam na tela imagens duplicadas, quintuplicadas, centuplicadas ou, pior ainda, milhões de imagens sobrepostas, totalmente caóticas. Por isso, este mundo fenomênico está estruturado de forma a manifestar gradualmente uma cena de cada vez.

As imagens já prontas que existem no filme seriam a Imagem Verdadeira; a tela seria o espaço do mundo fenomênico, onde o filme é projetado através do elemento tempo. As imagens contidas no filme (Imagem Verdadeira) são perfeitas, mas, quando passam pela extensão da corrente do tempo, manifestam-se como se fossem imperfeitas. O homem da Imagem Verdadeira é, desde o início, perfeito e completo, mas o homem fenomênico se manifesta através da corrente do tempo, crescendo e se desenvolvendo gradualmente, ou seja, da situação de bebê que não consegue se movimentar nem falar satisfatoriamente, passa a dar os primeiros passos, a conversar cada vez melhor e vai se tornando adulto gradualmente. Devido a esse fato, a Seicho-No-Ie prega que no mundo fenomênico se processo o “crescimento infinito”. O mundo humano cresce e se desenvolve infinitamente. Nós estamos no fluxo desse crescimento. Portanto, no mundo fenomênico presente está manifestada apenas uma parcela desse processo de crescimento. E, nem por isso, somos imperfeitos, da mesma forma que um bebê não o é. Talvez um bebê doente seja considerado imperfeito, mas um bebê sadio não, mesmo que não consiga andar, nem falar. Apenas ainda é pequenino, sendo certo que irá se aperfeiçoar pouco a pouco. Por isso, não se pode considerar que seja mau aquilo que ainda não se desenvolveu, e o mundo fenomênico não é necessariamente um local imperfeito.

Entretanto, não deixa de ser imperfeição o aspecto de um bebê ou adulto doente. E aparece essa imperfeição porque neste mundo tudo se manifesta através da mente, como explica a Verdade horizontal ou a lei mental. Este mundo fenomênico é um local manifestado pela mente. Portanto, torna-se necessário manter a mente, que corresponde à lente do projetor de filmes, bem preparada e limpa. Denominamos a mente, alegoricamente, de lente mental, por ser ela o instrumento pelo qual é projetado no mundo fenomênico o que existe no mundo da Imagem Verdadeira. Significa, portanto, que a “perfeição d Imagem Verdadeira” se manifesta na tela, ou seja, no mundo fenomênico, passando pela lente mental.

O mundo fenomênico é semelhante à tela de cinema

O mundo fenomênico é, portanto, manifestação da mente e, por mais perfeita que seja a Imagem Verdadeira, se a mente estiver disforme, esta fará manifestar ao redor da pessoa um mundo imperfeito. É um processo comparável ao da projeção no cinema. Se, por hipótese, a lente do projetor não estiver bem polida ou for defeituosa, mesmo que o filme do mundo da Imagem Verdadeira contenha imagens perfeitas e maravilhosas, os defeitos da

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lente farão com que se manifestem na tela imagens imperfeitas. E, se a lente do projetor estiver coberta de mofo, por um motivo qualquer, ou então embaçada e imperfeita. Por isso, é preciso manter a mente em ordem, para que a lente mental não fique imperfeita; mantê-la iluminada, para que não fique anuviada; e, ainda, manter o foco bem regulado com o “filme da Imagem Verdadeira”. Se mantivermos sempre bem regulada a lente mental em relação ao “filme da Imagem Verdadeira”, no mundo fenomênico também serão projetadas imagens paradisíacas, bela e maravilhosas.

Como eliminar as distorções e o embaçamento da lente mental

Então, de que forma podemos eliminar as distorções e o embaçamento da lente mental? Não sendo essa uma lente material, e sim mental, precisamos conhecer bem o seu mecanismo e fazer o devido polimento. Ao ver algo em movimento, a mente se movimenta. Presenciando acontecimentos tristes ou cenas trágicas, a mente se entristece. Quando ocorrem assassinatos ou agressões diante dos nossos olhos, sentimos o coração disparar, não é? Então, se ficarmos vendo constantemente essas cenas negativas do mundo fenomênico, não conseguiremos manter a lente mental serena, sem qualquer distorção, e focalizada na Imagem Verdadeira. Existindo motivos que nos entristecem, nossa mente fica anuviada, Por isso, enquanto ficarmos vendo essas tristezas, não conseguiremos manter a lente mental em condições normais, limpa e sem qualquer embaçamento.

Se desejamos projetar no mundo fenomênico uma imagem perfeita, exatamente como é o mundo da Imagem Verdadeira, devemos deixar de ver imagens de discórdia,de guerra, de tristezas manifestadas no mundo fenomênico e passar a ver somente as cenas perfeitas da Imagem Verdadeira. Fazendo isso, nossa mente ficará serena e calma como águas límpidas e abundantes, e teremos perfeita paz mental, ou seja, eliminaremos as “distorções” e o “embaçamento” da lente mental.

Livro: A Verdade – Volume SuplementarPágs.: 101 a 114

5ª. aula: Lei da matéria é Lei de Deus?(Módulo Suplementar para Preletores – Módulo 4)

1. INTRODUÇÃONos livros do Mestre, assim como na Sutra Sagrada, comumente encontramos a expressão “Lei de Deus”, ou ainda “Lei da matéria”, “Lei da mente”, “Lei da doença”, etc.No estudo deste mês, resolvemos tomar como tema esse assunto, para que possamos ter claro qual a natureza de cada uma dessas leis.

2. QUE SÃO LEIS?Pelo conhecimento geral, sabemos que leis são normas, regras ou preceitos legais, editados por uma determinada autoridade, para que sejam observados. Na Seicho-No-Ie, como tratamos de assuntos filosóficos, geralmente falamos em “Verdade”, assim como em Verdade Vertical e Horizontal e tem abrangência universal.

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No caso de uma lei de trânsito por exemplo, poderíamos ter uma disposição que diz a respeito do trânsito numa determinada via de que naquela via só se transita da esquerda para a direita, ou seja, tem mão única de direção naquele sentido. Ou seja, aquela lei vale apenas a respeito daquela via em particular.No caso das leis que vamos tratar, assim como no caso das “verdades”, referem-se a leis universais, independendo da localidade, da ocasião e da pessoa.

a) A lei que rege o Universo é uma Mente dotada de SabedoriaNo Universo existe uma Lei. Essa Lei está presente em toda parte, isto é, ela é onipresente. Mas, o que é essa Lei? É uma força invisível aos nossos olhos que, estando por trás (ou “dentro”) das coisas visíveis, controla e comanda os movimentos destas. A Lei não permite movimentos arbitrários, portanto podemos dizer que ela é uma força controladora dotada de Sabedoria. Analisando bem a Lei, percebemos que ela controla os movimentos das coisas com precisão matemática. Assim, podemos dizer que a “Lei” é a “Mente” que procura controlar os movimentos das coisas de uma maneira ordenada, através da matemática Sabedoria.

(A Verdade, vol. 2, p. 202)b) Deus como Lei e Sabedoria“Uma das faces da Lei é a Sabedoria. Se não houvesse Sabedoria, seria impossível que as transformações físico-químicas se processassem segundo uma precisão matemática. Deus é Lei e Sabedoria; portanto, como elemento que recebe a ação, Ele reage aos nossos atos e pensamentos em forma de Lei; e como elemento que pratica a ação, aplica a Sua Sabedoria sobre as coisas, desde a criação do mundo até os mínimos detalhes da função fisiológica dos nossos organismos”

(A Verdade, vol. 2, p.217)c) As leis são DeusO homem primitivo pensava que fenômenos da natureza tais como o trovão, o raio, o terremoto, a erupção vulcânica, o maremoto eram advertências de Deus. Assim, costumava venerá-los e reverenciá-los. Porém, com o progresso científico, descobriu-se que o trovão é causado pela descarga elétrica atmosférica. Houve o advento das usinas geradoras de eletricidade, o que tornou possível a utilização de máquinas; a comunicação à longa distância, com a invenção de telefone, telégrafo, rádio, televisão, etc. Descobriu-se que tanto o terremoto como a erupção vulcânica são provocados pela alteração de pressão ocorrida no interior da crosta terrestre, sendo, portanto, explicados naturalmente pelas leis físicas. O furacão e o maremoto - que são provocados pela violenta movimentação de massas de ar, que buscam estabilizar a queda de pressão resultante da elevação da temperatura atmosférica, causada pelo Sol - passaram também a ser considerados como fenômenos normais, regidos pelas leis físicas. Desse modo, com a ciência encontrando suas explicações, o homem passou a encarar o mundo apenas por esse ponto de vista, dispensando os pensamentos voltados a Deus. Conseqüentemente, com o passar do tempo o homem civilizado acabou por negar a existência de Deus.Entretanto, o que são estas leis descobertas? As leis são o próprio Deus.

(A Verdade, vol. 10, p. 53)

3. COMO ELES FUNCIONAM?

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“O próprio fato de ser Deus uma Lei constante e imutável é a prova do Seu grande Amor. Se Deus não fosse constante, e fizesse resultar da combinação do oxigênio com o hidrogênio, por exemplo, ora a água, ora o ferro, movido por parcialidade, raiva ou compaixão, não poderíamos elaborar nenhum plano ou projeto. Justamente por ser Deus uma Lei constante e imutável, anualmente se repetem as quatro estações, diariamente ocorrem a manhã e a noite, e podemos estabelecer um horário e estudar ou trabalhar segundo ele. Isto só pode ser expressão do Amor de Deus”.

(A Verdade, vol. 2, p. 216)

4. O QUE ACONTECE SE NÃO AS OBSERVAMOS?Falamos há pouco da lei do trânsito. Se uma rua tem direção única, devemos observá-la, não transitando em direção contrária. Se por acaso, transitarmos em direção contrária, estaremos indo contra a lei do trânsito e podemos sofrer como conseqüência uma multa por infração ou pior ainda, abalroar pedestres ou outros veículos que vem na direção correta.No caso de infringirmos as leis universais, da mesma forma, estaremos sujeitos às suas conseqüências. Por exemplo: A lei da saúde diz: “Devemos abrigar sempre pensamentos positivos”. Caso a pessoa não a observa e mantém pensamentos sombrios e negativos, acaba contraindo doença.

5. QUE OS LIVROS FALAM A RESPEITO DAS LEISa) A Lei de causa e efeitoO que se semeou, germina; o que não se semeou, não germina. Em ramo de pepino não nasce berinjela. Esta é a “lei de causa e efeito”. O que se semeou será colhido em quantidade bem maior do que a que foi semeada. O mesmo acontece com a sintonização do rádio. Uma vez sintonizado o rádio numa determinada emissora, todas as transmissões dessa emissora serão captadas pela antena e poderão ser ouvidas. O mais importante é que você mantenha alegre a vibração geral de seu próprio espírito. Se você sintonizar sua mente com coisas alegres, tudo que há de bom virá se juntar em torno de você e se concretizará. Você não deve considerar como luxo a riqueza dos outros, porque é um pensamento de negação da riqueza. Tendo tal pensamento, a riqueza lhe é negada também; isto é, você próprio deixa de enriquecer.

(A Verdade, vol. 2, p. 143)

b) O Amor de Deus é a LeiNão devemos pensar que o Amor de Deus seja o “amor-apego”. Considerá-lO um ser dotado da parcialidade própria dos homens e que atende até aos pedidos absurdos, é profanar Deus. Deus não é, de maneira alguma, um ser que envia dádivas a quem não as merece, movido por oferenda, reverência, imploração, súplica, leitura de sutras, reza do rosário, etc. Orando-se a Deus, às vezes curam-se até doenças que a medicina não consegue curar, mas isso não se deve à parcialidade de Deus, nem se trata de milagre; deve-se à Lei Mental.A Seicho-No-Ie declara que “Deus é a Lei imanente no Universo”. Estando em sintonia com a lei da mente, poderemos obter tanto a felicidade como a saúde,

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mesmo sem orar; mas, se não estivermos sintonizados com ela, mesmo que oremos, não seremos atendidos. (A Verdade, vol. 2, p. 216)

C) Concretizam-se as coisas que sintonizam com a nossa “crença”Deus é Lei; por isso nunca castiga as pessoas, movido por parcialidade. Portanto, não há razão para temê-lO. Há pessoas que adoeceram justamente pelo fato de temerem o castigo de Deus; e outras curaram-se ao aprenderem que Deus é Amos e que, portanto, o castigo divino não existe. Isto se deve à lei da mente segundo a qual “o que se crê concretiza-se”. Essa Lei é Deus, e ela faz surgir neste mundo coisas de freqüência igual à da nossa mente, como faz o radio receptor com as ondas de transmissão radiofônica.

. d) O que acontece quando se confia tudo a Deus, e quando não se confiaComo é maravilhosa a “Sabedoria da Lei!” A inteligência humana é incapaz de produzir uma unha sequer. Mas, quando a Sabedoria da Lei entra em ação, forma-se a partir do minúsculo zigoto, de apenas 0,2 mm. de diâmetro, o corpo humano dotado de estrutura tão perfeita!Por que você não confia a função fisiológica do seu corpo a essa espantosa “Sabedoria da Lei”( ou seja, Deus)? Enquanto você não consegue confiar tudo a Deus, a Sabedoria de Deus não trabalha espontaneamente na qualidade de elemento agente, e limita-se a reagir, como elemento passivo, fielmente aos estímulos físicos (tratamento através de meios materiais) e aos estímulos mentais (atitude mental). Naturalmente isto também não deixa de ser “força divina”, pois é a ação da Lei; mas, como nesse caso não há entrega total de sua parte, ou seja, não há anulação completa do seu ego, não é a totalidade da Sabedoria de Deus que age, e sim apenas a parcela que foi estimulada.

e) Sobre a lei da ação e reaçãoQuando a pessoa, através do pensamento, palavra e ação, influencia positivamente o próximo, isto lhe retorna em forma de alegria; quando influencia negativamente, o retorno se dá em forma de sofrimento.No Universo existe a lei da ação e reação. A cada ação, infalivelmente se manifesta uma reação equivalente; e é exatamente esta lei que permite o vôo dos aviões a jato e dos foguetes. Esta lei é também conhecida como lei de causa e efeito, ou lei do carma. Por ela, aquilo que dermos ao próximo, em breve receberemos de volta, na mesma proporção, ainda que este retorno venha sob outro aspecto. Um exemplo disso é o que ocorre com o avião a jato, que recebe em forma de avanço o equivalente aos jatos de gás expelidos por suas turbinas. Pelo fato de “dar”- através de suas turbinas - uma “força que empurra”, recebe em compensação em forma de “força que empurra de volta”. Por se tratar de uma ação praticada no mundo fenomênico, ela também é compensada no mundo fenomênico.

f) Lei, não castigo de DeusOs distúrbios do organismo humano que surgem em resposta à manutenção do pensamento distorcido não significam castigo de Deus. São apenas efeito da lei segundo a qual mente e corpo constituem um só elemento. Quando alguém é eletrocutado devido a uma imprudência, houve transgressão à lei da eletricidade, e

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não castigo de Deus. Da mesma maneira, a pessoa que não tem pleno conhecimento da lei da mente age de modo a infringi-la. Assim, ela mesma provoca o aparecimento de doenças e de inúmeros distúrbios ao seu redor. O mundo em que vivemos funciona através das leis, e só obteremos felicidade quando soubermos nos ajustar a elas. O corpo, enquanto matéria, é dominado pela lei material - por exemplo, quando tocamos no fogo nos queimamos. Mas esse corpo não é simples matéria. Ele é a manifestação da mente, e como tal, é submetido também à lei da mente.

g) As leis não têm efeito parcialSemeando-se berinjela, nascerá berinjela; semeando-se melão, nascerá melão. Isto é a lei. Lei é uma norma segundo a qual “as coisas surgem devidamente, sob as devidas condições”. É o próprio Deus que se manifestou sob forma de lei para que pudéssemos nos servir dela. Se Deus fosse arbitrário vivermos. Por exemplo: se o pão que mata a fome hoje, trouxesse pelo contrário a fome amanhã, e fosse impossível prever o que aconteceria depois de amanhã, e fosse impossível prever o que aconteceria depois de amanhã, nem sequer poderíamos alimentar-nos tranqüilamente. Assim não poderia ser mantida a vida. E se as leis trouxessem um resultado “x” para uma pessoa e “y” para outra sob as mesmas condições não poderia substituir a ciência. As leis, que são a manifestação de Deus, são imparciais e não se deixam influenciar pelo sentimentalismo.

h) Os frutos que você colheA lei é uma manifestação de Deus, é imparcial, e não algo movido pelo sentimentalismo. Se você desenhar na mente a “infelicidade”, de nada adiantará orar a Deus para que não venha a infelicidade. Podemos comparar o “mundo das leis” ao solo, o “homem” ao semeador e o “pensamento” à semente. Nós plantamos no “solo” da lei as “sementes” do pensamento. A semente germina, cresce, floresce e dá frutos de conformidade com a lei, e nós colhemos exatamente aquilo que semeamos. Se plantamos berinjelas, não adianta dizermos “eu não gosto de berinjelas” nem orar a Deus rogando para que transforme a berinjela em pepino, pois nasce aquilo que foi semeado. Se não gostamos daquilo que está crescendo agora, só nos resta plantar outra “semente do pensamento”.

i) A lei da matéria também é Lei de Deus?Além das que foram citadas acima, existe uma outra visão do mundo: aquela que reconhece Deus como origem única do Universo, mas admite um mundo dualístico onde se confrontam a “: lei da matéria” e a “Lei do Amor”, explicando que “tanto uma como a outra são Leis de Deus, já que foi Ele quem criou o mundo da matéria e o mundo da mente”. Mas se analisarmos os acontecimentos desta vida segundo essa visão do mundo, chegaremos à conclusão de que, freqüentemente, a “Lei do Amor” é vencida pela lei da matéria”. Por exemplo: Existem casos como o daquela pessoa que, por ter praticado um ato de amor, lançando-se às águas geladas do rio para salvar uma criança prestes a se afogar, pegou pneumonia e acabou morrendo. Ou casos de pessoas que, por terem tratado de um tuberculoso, ficaram contaminadas e acabaram morrendo primeiro. Podemos concluir que, em tais casos, a “lei da matéria” prevaleceu à “Lei do Amor”. Se a “lei da matéria fosse realmente “lei da

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natureza estabelecida por Deus”, a conclusão lógica seria que “obedecer à lei da matéria é obedecer à Lei de Deus”. Se assim fosse, quem não salva uma criança prestes a se afogar na água gelada estaria vivendo de acordo com a Lei de Deus. Quem não cuida de pessoas tuberculosas estaria vivendo de acordo com a Lei de Deus. Mas, que seria deste mundo, se isso fosse verdade, e se as pessoas procedessem assim? Seria um mundo absurdo, frio e cruel, onde a “Lei do Amor” seria totalmente desprezada; onde o destino das pessoas seria determinado unicamente pela lei da matéria; e onde a vitória caberia aos indivíduos desumanos e astuciosos que se aproveitam da lei da matéria. Seria, enfim, um mundo oposto ao mundo paradisíaco, ao mundo ideal.

A Verdade é que, enquanto houver a crença errônea de que a “lei da matéria” também faz parte da “Lei de Deus” não será possível fazer prevalecer neste mundo a “Lei do Amor”. Para fazer prevalecer neste mundo a “Lei do Amor”, é preciso compreender e assimilar a visão do mundo da Seicho-No-Ie, que é a seguinte:“A matéria não é existência real. Portanto, a lei da matéria também não é existência real. A matéria é, na verdade, projeção da mente. E a chamada ‘lei da matéria’ é, em última análise, a ‘lei da concretização dos pensamentos’. Assim, é perfeitamente possível alterar as reações químicas da matéria através da mudança de atitudes mentais. Por exemplo: quem mantém arraigada em sua mente a idéia de que ficará resfriado se entrar na água gelada, realmente ficará resfriado ao fazer isso. Mas quem não tem essa ‘idéia arraigada’, não ficará resfriado, mesmo que se lance na água gelada. Quem acredita realmente que o contato com os bacilos da tuberculose resulta inevitavelmente em contágio, contrairá a doença ao se expor a esses bacilos. Mas quem não mantém essa crença não ficará tuberculoso, mesmo em contato com os bacilos da tuberculose. Se ocorrem, às vezes, casos de adoecimento ou morte em conseqüência de um ato de amor altruístico, isso não é devido a uma Lei de Deus chamada ‘lei da matéria’, mas sim à Lei da concretização dos “pensamentos”.Enquanto mantivermos uma atitude mental ambígua, acreditando que “tanto a Lei do Amor como a lei da matéria são Leis de Deus”, não alcançaremos a verdadeira compreensão do que seja a “Lei do Amor” e a “Lei de Deus” . E dificilmente surgirá a firme determinação de partirmos para um ato de amor ignorando a lei da matéria. Somente quando assimilamos a “visão do mundo” da Seicho-No-Ie e passamos a ter a firme convicção de que um ato de bondade e altruísmo nunca nos leva ao adoecimento ou à morte, tornamo-nos capazes de nos dedicarmos aos nossos semelhantes com amor e altruísmo, sem receio de coisa alguma.

( A Verdade da Vida, vol. 13, p. 68)

6. QUE A SUTRA SAGRADA FALA DAS LEIS“As leis físicas que regem a matéria inorgânica são diferentes das leis da Vida que regem organismos vivos. Por mais que se combinem elementos inorgânicos no interior de uma proveta, jamais se originará um organismo vivo. Para que as substâncias nutritivas sem vida constituam parte viva do corpo humano, é imprescindível que se submetam ao domínio da Vida. Os elementos materiais que se agregam ou se desagregam segundo leis físico-químicas, quando subordinadas à Vida, unem-se ou separam-se segundo uma outra lei.

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A Vida se serve inclusive das leis da matéria, mas as sobrepuja e exerce domínio sobre a matéria. Embora utilize as leis da matéria, a Vida não se sujeita a elas; ao contrário, transcende-as e estrutura o corpo na forma que deseja.Portanto, em se tratando de organismo vivo, as leis da matéria se subordinam a leis da Vida.

(Contínua Chuva de Néctar da Verdade, p. 116)

“A coriza ou a tosse que ocorrem após o contato com ar frio são alheias à lei física segundo a qual se congela ou se danifica a matéria inorgânica exposta ao frio. Tais sintomas ocorrem unicamente segundo a lei da mente. Na simples matéria não aparece sintoma algum de doença”.

(Contínua Chuva de Néctar da Verdade, p. 123)

“Portanto, a um doente dize:“Tu és Espírito, e não matéria!”. No Espírito é impossível parasitarem micróbios. Espírito é Deus, e é impossível Deus adoecer. O Espírito não é regido por leis da matéria.O trabalho excessivo causa estafa, desgaste ou doença somente a quem se sujeita às leis da matéria. Tu, que és Espírito, não és regido por leis da matéria. Se por excesso de trabalho, ficas esgotado, cansado ou doente, isso nada mais é que concretização de tua crença de que “o homem é um acúmulo de energia física que se esgota com excesso de trabalho”.

(Contínua Chuva de Néctar da Verdade, p. 133)

“Para o homem-Deus não existe doença. No homem-Deus atua unicamente a lei de Deus. Porque Deus é Amor, a lei do castigo não te pode atingir. Porque Deus é Vida, a lei da morte não te pode atingir.

(Contínua Chuva de Néctar da Verdade, p. 136)

“Somente a Lei de Deus rege os seres. Leis da matéria não te podem reger. Leis do pecado não te podem reger. Leis da ilusão não te podem reger.

(Contínua Chuva de Néctar da Verdade, p. 143)

7. ONDE SE SITUAL ESTAS LEIS?Para que possamos situar onde estão estas leis, vamos estudar o gráfico abaixo:

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Representamos por A, B, C, D e E as mentes conscientes individuais. Como sabemos, as mentes se entrelaçam, havendo interação entre a mente das pessoas. Daí a influência da mente coletiva na mente individual.No estudo presente, vamos dividir a mente coletiva em dois níveis, ou sejam: consciência do povo e consciência da humanidade.Na consciência do povo estão armazenadas as informações a respeito da crença do povo local, incluindo crendices e até superstições. Dentro dessa consciência está a crença de que “Passar debaixo da escada dá azar”, “Gato preto que cruza o seu caminho dá azar”, etc.Já na mente coletiva da humanidade imperam crenças como a de que “sogra e nora não se dão bem”, “Número 13 dá azar”, “O trabalho estafa”, “O homem nasce com o pecado original”, etc.

No nível da Consciência Universal imperam as leis universais, como as leis da mente e as leis físicas. Portanto, com exceção das leis de Deus, todas as outras fazem parte dessa consciência universal.

No âmago, no fundo de todas essas camadas da mente subconsciente existe a Mente de Deus, que chamamos de Consciência Transcendental ou Super-consciência. Aí se encontram as leis de Deus, que imperam absolutas.

8. CONCLUSÃOPodemos classificar então, as leis fenomênicas(lei da matéria, lei da fadiga, lei do pecado, lei da doença, lei da ilusão, e inclusive a lei da mente) como sendo leis relativas e a Leis de Deus(Lei do Amor, Lei do Espírito, Lei da Saúde, Lei da

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Vida), como sendo leis absolutas. As Leis de Deus sobrepujam todas as demais, porque são a lei maior.Na Seicho-No-Ie diariamente ocorrem fatos que pelas leis fenomênicas não poderiam ocorrer, tais como a cura de doenças e outras graças. Esses fatos ocorrem movidos pela ação da fé , da oração, da leitura de palavras da Verdade, fazendo atuar a lei de Deus.

Para encerrar, vamos estudar este tópico do livro Preleções sobre a Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade.

Sobre a “lei da mente” e “lei do espírito”

Disse Lei da Natureza, mas a Natureza não é regida apenas pela lei material. Existe lei da Vida, como também lei do espírito e lei da mente. A comumente dita ciência natural pesquisa apenas as leis que regem o lado material das coisas. A ciência mental pesquisa as leis que regem o lado mental. Por sinal, a nossa entidade publica uma revista intitulada Seishin kagaku (Ciência Mental).Por trás da lei da mente, existe uma lei de profundidade bem maior que as leis da matéria e da mente, que pode ser chamada de lei da Vida ou lei do Espírito. Por isso, muitas vezes acontece de a oração realizar algo que aparentemente contraria a lei da Natureza. Nesse caso, pode se afirmar que atuou aí uma lei diferente da lei da Física que rege a Natureza. Não significa, em absoluto, que a lei foi vencida.Outrora, durante a guerra, havia uma pequena embarcação comandada pelo sr. Funatomi, adepto da Seicho-No-Ie. Por azar, encalhou num recife no alto-mar da ilha Hainam e ficou imobilizada. Encalhou bem no momento da maré cheia da primavera. Ficou encalhada sobre uma rocha, quando o nível da água era o mais alto do ano e, mesmo que no dia seguinte ainda continuasse a maré cheia, o nível seria mais baixo que o do dia anterior e, naturalmente, a água não subiria a ponto de fazer boiar a embarcação. O comandante Funatomi enviou mensagem pelo telégrafo à ilha Hainam pedindo providências para puxarem o navio com corda, mas não conseguiu desencalhá-lo, por ser muito baixo o nível da água. Mesmo descarregando as mercadorias, o navio não conseguiu boiar. Estava numa situação crítica, em que, humanamente, nada se podia fazer.Nessa hora, o comandante Funatomi, que era adepto da Seicho-No-Ie, orou fervorosamente. Então, aconteceu algo misterioso.Na manhã seguinte, o nível da água ficou mais alto do que o da maré cheia e, quando o navio que viera da ilha Hainam para socorrê-lo puxou a embarcação do sr. Funatomi, ela desencalhou facilmente, porque já estava boiando na água. Ele me enviou uma carta relatando essa experiência.De acordo com a lei da Natureza, após a maré cheia da primavera, o nível da água não sobe mais que isso, de forma alguma, mas é possível interpretar que, naquela ocasião, atuou ali a lei do Espírito através da oração.Como vimos, existe a lei mental que é superior à da ciência física. Ou então, respondendo a essa lei mental, começa a atuar pela força da oração uma lei ainda mais elevada que pode ser chamada de lei do Espírito ou lei do Amor divino.Aqui está escrito que “Deus é Lei que permeia o Universo”, e a faceta de Deus relacionada com leis se manifesta em forma de lei da ciência natural que rege o lado

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material, ou em forma de lei da ciência mental. Manifesta-se também em forma de leis superiores como a lei do Espírito, lei da Vida ou lei do Amor. Sendo Deus a Lei, por um lado é verdade que Deus não atende a súplicas, porém, se essa rogação for realmente convincente, atuará uma outra lei de nível superior. Isso se assemelha ao fato de, nas leis do mundo material, quando se atinge uma temperatura alta, um corpo sólido se transformar em corpo líquido, mudando assim a lei que rege esse elemento.É preciso que a temperatura do nosso estado espiritual se eleve através da fé. Por mais que alguém mentalize fervorosamente com a força mental do ego “A maré está subindo mais um metro”, é impossível elevar o nível da água do mar apenas através da lei da ciência mental ou lei da Psicologia.Deus criou a Terra, o Sol e também criou a maré na superfície do globo terrestre. O mar foi também criado por Deus e, para Ele, não é difícil controlar suas águas. Por isso, quando a pessoa tiver um pensamento de profunda fé que entra em comunhão com Deus, o Criador, atuará nessa hora a Lei de Deus. Isso também acontece através da lei.Por exemplo, o avião, que é mais pesado que o ar, cairá se for colocado no espaço, devido à lei da gravidade, mas consegue permanecer voando no espaço, em grande velocidade, contrariando a lei: o que é mais pesado que o ar cai e o que é mais leve flutua. Por que acontece isso? Porque aí atua uma outra lei. Ou seja, além da lei da gravidade, atua a lei da aerodinâmica que, utilizando naturalmente a resistência do ar, faz o avião flutuar. A lei da gravidade não foi destruída, em absoluto, apenas atuou uma outra lei. A lei da gravidade continuou atuando, mas houve a atuação de uma outra lei, a lei da aerodinâmica, que fez com que o avião, mais pesado que o ar, flutuasse. É preciso, porém, que a velocidade com que giram as turbinas ou as hélices seja bastante alta.Para que ocorram, através da oração, fatos milagrosos que parecem romper as leis físicas da Natureza, também é preciso que, pela fé, se eleve muito a velocidade com que gira a mente. Nesse momento, passa a atuar uma outra lei. No exemplo do navio que encalhou no recife em alto-mar na ilha Hainan, em vias normais, o nível da água jamais subiria mais que aquilo, mas naquela ocasião subiu, e isso não significa que foi destruída a lei da Natureza. Na mente do comandante Funatomi nasceu uma fé intensa, e assim fez atuar uma outra lei, a lei do Espírito, que fez subir o nível da maré a ponto de o navio flutuar. Na carta desse comandante está também escrito o seguinte:“Até agora, realizei muitas viagens de ida e volta ao Sul levando militares japoneses e, apesar de ser alvo de torpedos e bombas, jamais conseguiram acertar no meu navio. Acreditava que isso era uma graça divina, mas acabei encalhando num recife e não conseguia sair dali. Nessa hora, pensei, sem querer - se até hoje não fui atingido por nenhuma bomba nem por um torpedo, foi por acaso, e não por graça divina. Foi um acaso favorável, mas agora surgiu um acaso desfavorável e estou encalhado num recife. Entretanto, logo a seguir, percebi que não deveria ter esse pensamento de pouca fé, pois Deus é onipotente e nada há que Ele não consiga fazer. Com certeza, Deus não deixará de nos salvar desse acidente. Vou entregar-me totalmente a Deus. Assim, orei com sentimento de total entrega a Deus, confiando na Sua onipotência”.

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Quando o comandante Funatomi adquiriu esse estado mental, começou a atuar uma outra lei, a lei de Deus, assim como o avião transcendeu a lei da gravidade com hélices que giram em alta velocidade. Para isso, o estado mental da pessoa exerce uma função muito importante.Quando o estado mental da pessoa entrar em sintonia direta com a lei de Deus, começará a atuar essa lei. A lei de Deus não entrará em atividade, apesar de essa lei existir aqui, se as ondas da nossa mente não entrarem em sintonia com ela. O mesmo acontece com o avião. Sendo mais pesado que o ar, mesmo que atue a lei da aerodinâmica, enquanto não se movimentar em velocidade alta o suficiente para que essa lei possa atuar, só terá de cair sob a influência da lei da gravidade. Por mais que se diga que o avião flutua no ar devido à ação da lei da aerodinâmica, se o piloto não souber comandá-lo, ele cairá.De modo similar, a lei do Amor de Deus já existe aqui, mas, se não nos ajustarmos a essa lei, fazendo com que nosso estado mental se harmonize com ela, apesar dessa lei existir, não entrará em atividade. Deus não nos oferece graças levado pelo sentimento de parcialidade como “Vou atender aquela pessoa porque me pediu; vou realizar o desejo dele porque me reverenciou melhor”. Solicitemos ou não a Deus, Ele sempre está nos oferecendo graças. Contudo, a graça se manifestará concretamente ou não, dependendo do fato de conseguirmos ou não alcançar um estado mental que entre em sintonia com a lei do Amor. Quando conseguimos esse estado mental, manifesta-se o fenômeno como o que aconteceu com o comandante Funatomi, ou seja, seu pedido foi atendido.

(Preleções sobre a Sutra Sagrada Chuva de Néctar da Verdade, p. 46)

6ª. aula: Falemos mais da Imagem Verdadeira “Vencendo os sofrimentos e os temores”,

A Verdade vol. Suplementar – Capítulo 17

Não agarre o mal com a mente

Se você deseja curar a doença, não deve se preocupar com ela pensando a todo momento “Esta doença”, “Esta doença”. Jamais tente dominar o mal por meio de outro mal. Se agarrar o mal com a mente e pensar que conseguir domina-lo, em reação a isso, não só aparecerão outros males, mas também o mal que pensou ter dominado retornará com maior força, porque foi reconhecido pela sua mente e marcará presença mais intensa. Na página 192 do livro A Verdade e a Saúde – Aplicação na Vida Prática, consta: “Não resistir ao mal significa não ver o mal. Ou seja, atentar para a providência boa e amorosa da Imagem Verdadeira que está por trás das coisas concretas e obedecer-lhe docilmente. Então se manifestará o bem infinito, segundo a lei da causalidade. Ao tomar consciência da inexistência do mal, ele desaparece, e se manifesta o bem infinito”.

“Não resistais ao mal; mas se qualquer te bater na face direita, oferece-lhe também a outra” – são palavras de Jesus Cristo ditas no “Sermão da Montanha”. Resistir significa confrontar-se com o mal e lutar contra ele. E a pessoa resiste ao mal quando mantém a idéia de que ele existe.

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Quando uma nação pensa que há um inimigo que pode ataca-la a qualquer momento, prepara um esquema de defesa, reforçando o armamento militar para se defender. Mas, como há o ditado “O ataque é a melhor defesa”, o país inimigo se arma melhor ainda, prevenindo um possível ataque, Os EUA e a URSS se armam com bombas nucleares porque possuem “mente que resiste ao mal”. “O outro país possui uma poderosa arma chamada bomba de hidrogênio, e não se sabe quando pode nos atacar. Precisamos também estar preparados com armas poderosas” – ambos pensam desse modo e desencadeiam uma corrida nuclear. Desse modo, pretendem realizar o bem resistindo ao mal e acabam criando maiores males. Essa é a situação atual do mundo. (N. da t.: década de 50.)

Assim, o mundo não melhorará. Se os EUA dizem “A URSS é uma nação agressora”, a URSS responde “Os EUA é que são uma nação agressora, expansionista, que usa uma estratégia para perturbar a paz de certas regiões e provocar intricas características do expansionismo”. Hostilizam-se um ao outro reconhecendo mutuamente o mal alheio e criam esquemas de defesa contra esse mal. Enquanto perdurar essa situação, não teremos paz verdadeira.

Como estabelecer a paz verdadeira

Para estabelecer neste mundo a paz verdadeira, devemos divulgar a ideologia da Seicho-No-Ie e transmitir a Eisenhower dos EUA, a Kruchev da URSS e aos dirigentes de todos os demais países o verdadeiro significado do ensinamento de Jesus “Não resistais ao mal”. Devemos divulgar, portanto, que o mal não tem existência originária, e que cada qual deve olhar a parte boa do outro país. Este é o verdadeiro movimento pela paz. Com esse objetivo, estamos publicando a revista Seicho-No-Ie em inglês.. O movimento pela paz consiste fundamentalmente em olhar o bem. Não consiste em olhar o mal do outro e resistir a ele, mas olhar o bem da Imagem Verdadeira do outro. Todos os homens são bons na sua Imagem Verdadeira, na sua essência, porém, essa bondade não se manifesta quando não a reconhecem.

Se reconhecerem o bem, aparecerá infalivelmente na Terra (mundo fenomênico) o bem que já existe no céu. Isso ainda não está acontecendo, porque a humanidade não olha esse bem, sintoniza suas ondas mentais com ondas de ilusão, e assim a perfeição existente no reino de Deus desaparece antes de se manifestar na Terra. Então, é preciso negar a existência do mal para concretizar na superfície terrestre o paraíso celestial de paz eterna. Consta o seguinte no livro A Verdade e a Saúde referindo-se à forma de negar a existência do mal.

A mentalização da Imagem Verdadeira não é um simples método

“Livre-se de todas as idéias relacionadas com o mal. O mal passará a não existir de fato quando você reconhecer a inexistência dele. Declarar a inexistência do mal não é mera auto-sugestão. É uma declaração direta da Verdade intrínseca em cada pessoa e no Universo, uma declaração espontânea do espírito da Verdade”. (A Verdade e a Saúde – Aplicação na Vida Prática, p.192)

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Diz aqui que devemos nos livrar da idéia que reconhece a existência do mal e mentalizar “Existe apenas o bem”. Embora essa mentalização pareça ser um método para manifestar o bem, não é isso, em absoluto. Há um sentido mais profundo, ou seja se a Imagem Verdadeira de tudo que existe no Universo é o bem, quando mentalizamos o bem, temos em nossa retaguarda uma força universal. Esse bem universal da Imagem Verdadeira se manifesta do mundo da Imagem Verdadeira do mesmo modo que uma emissora de rádio emite as ondas de suas transmissões. Sendo assim, quando mentalizamos o bem, estamos sintonizando nossas ondas mentais com as ondas do bem já existentes no universo. Assim como basta um pequeno esforço para sintonizar um aparelho de rádio, mentalizando um pouco o bem, ele já se manifestará no mundo fenomênico devido à grande potência com que é emitido do mundo da Imagem Verdadeira.

O bem como prolongamento daquilo que existe no mundo da Imagem Verdadeira

Notamos, então, que o processo da manifestação do bem no mundo fenomênico em conseqüência da mentalização do bem é basicamente diferente do processo da manifestação do mal, quando se pensa no mal. O mal é emitido pela nossa ilusão mental, mas o fato concreto que é o bem se manifesta no mundo fenomênico diretamente do mundo da Imagem Verdadeira. Todas as coisa do mundo fenomênico serão, tais quais são, prolongamento da Imagem Verdadeira. Seria exatamente o estado expressado nas palavras de oração de Cristo “Seja feita a tua Vontade na terra, assim como é feita no Céu”. “Céu” é o mundo da Imagem Verdadeira e “terra” é o mundo fenomênico. O bem do mundo fenomênico se manifestou com um prolongamento do mundo da Imagem Verdadeira, não sendo, em absoluto, mera projeção da mente ilusória. Esse ponto é extremamente importante para a compreensão da Verdade. Há quem raciocine do seguinte modo: “se o mal é simples projeção da mente, o bem também o é, pois tudo é manifestação da mente”. Entretanto, quando se manifesta o bem, foi a mente de Deus que envio vibrações mentais e foi captada pelo aparelho de televisão denominado mundo fenomênico. O mal, porém, é simples projeção da mente, sombra do pensamento ilusório. Em conclusão, o bem é prolongamento das ondas espirituais do mundo da Imagem Verdadeira, ondas espirituais da realidade, e o mal, pelo contrário, é simples manifestação ou projeção da nossa mente ilusória. São ambos manifestações da mente, mas de natureza fundamentalmente diferente.

Apenas o BEM existe de fato. Ele se manifesta quando mentalizado, devido à força da lei.

No livro A Verdade e a Saúde está escrito o seguinte: “Quando a declaração espontânea do espírito da Verdade ‘Apenas o bem existe de fato’ for mentalizada e proferida com verdadeira fé, o bem começará a se concretizar automaticamente, por força da lei. Mentalize ‘Apenas a harmonia existe de fato’ e a harmonia começará a se concretizar. Mentalize ‘Apenas a saúde existe de fato’ e a saúde se tornará real. Mentalize ‘A infelicidade não existe’ e a infelicidade desaparecerá. Mentalize ‘Apenas a prosperidade existe de fato’ e terá prosperidade”. (Volume Aplicação na Vida Prática, p.193)

Espírito da Verdade são as ondas espirituais do mundo da Imagem Verdadeira. Declaração espontânea significa transmissão espontânea do mundo da Imagem Verdadeira. Apenas o bem é transmitido e, quando mentalizamos o bem, captamos automaticamente

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essa transmissão, e o bem se manifesta no mundo fenomênico. É a realização do bem, ou seja, a manifestação da Imagem Verdadeira. Não se trata da manifestação do pensamento ilusório. Trata-se da realização no mundo fenomênico das coisas boas que existem fartamente no mundo da Imagem Verdadeira, quando mentalizamos o bem e entramos em sintonia com a transmissão daquilo que existe de fato. Essa realização se processa através da lei, e basta mentalizarmos ou proferirmos boas palavras como se estivéssemos ajustando o sintonizador. Se o bem não se manifesta, significa que a idéia contrária “Não acredito que o bem se manifeste só com isso” está atuando como um vendaval que sopra no percurso da realização, desfazendo as ondas que estavam para se manifestar. Acontece algo semelhante ao do fenômeno Dellinger que ocorre na ionosfera, causando distúrbio nas ondas curtas de rádio, impedindo temporariamente a sua captação.

Permeie o corpo apenas com palavras da Verdade

Para que não seja emitido esse tipo de ondas mentais interruptoras, devemos mentalizar sempre palavras da Verdade. O livro A Verdade e a Saúde ensina o seguinte: “Permeie seu corpo inteiro apenas com palavras da Verdade. Mentalize essas palavras na certeza de que todos os pensamento negativos – de carência, imperfeição, doença, falhas, fracassos, infelicidade, desgraças – que teve por engano no passado, serão eliminados. O mal não existe, também não existem pessoas más nem acontecimentos funestos. Tudo que parece ser mau nada mais é que ilusão dos cinco sentidos”.(Volume Aplicação na Vida Prática, p.193)

Ao afirmar que o mal não existe, haverá quem indague “Então as bactérias também não existem?”, mas sobre isso, consta o seguinte:

“Existem microorganismos benéficos, mas não existem bactérias que prejudicam o ser humano. Se parecem existir, são apenas projeções da mente. Não existem infelicidades, nem doenças. Existem apenas a perfeição, a harmonia”. (Idem, p.193)

Certa senhora disse uma vez: “Existem microorganismos benéficos, mas não existem bactérias que prejudicam o ser humano”. Ela disse ao seu filho, um cientista, que no mundo criado por Deus não existem bactérias e ele rebateu dizendo: “É um absurdo dizer que não existem bactérias, pois é só olhar com um microscópio que enxergamos muitas”. Prosseguindo, ele disse: “As bactérias também têm vida e são, afinal, filhas de Deus”.

Ouvindo isso do filho, ela achou que ele estava certo, mas, ao admitir a existência das bactérias, surgiu a dúvida “Será que Deus criou bactérias que atacam o ser humano?”, e me indagou sobre essa questão.

Bactérias e micróbios são microorganismos. Exatamente como afirmou o filho cientista dessa senhora, eles vivem. Se vivem, têm dentro de si a Vida de Deus. Tanto o misso, o shoyu, o saquê, o vinagre, quanto todos os demais alimentos produzidos por meio da fermentação, receberam a ação desses microorganismos. E, entre as bactérias do corpo humano, temos as do cólon que são muito úteis. Ouvimos dizer recentemente que encontraram bactérias do cólon na água potável, nos utensílios de bares e restaurantes, causando temor na população, mas elas não existências temíveis, pois todos as possuem dentro de seus intestinos. Saem para fora, porque já vivem dentro do organismo das pessoas. Se essas bactérias não estivessem dentro do nosso intestino grosso,seria um problema, porque elas fermentam os alimentos ingeridos por nós e produzem a vitamina do

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complexo B, indispensável ao nosso organismo. São, portanto, bactérias úteis. Entretanto, se foram encontradas na água potável e em utensílios de restaurantes, significa que as pessoas que os usaram negligenciaram a higiene após o uso do sanitário, e haveria o perigo de contamina-los com bactérias causadoras de disenteria ou febre tifóide, caso houvesse alguém acometido dessas doenças. Há esse perigo, contudo, sendo as bactérias manifestações da Vida de Deus, são todas boas. Isso porque, mesmo a bactéria que causa a febre tifóide é originalmente inofensiva, mas se transforma em nociva conforme o estado mental da pessoa.

A natureza da bactéria se transforma de acordo com as ondas mentais

Escrevi no livro Shinyu e no Michi que a bactéria causadora da febre tifóide é uma mutação da bactéria do cólon; que todos os seres vivos emitem onda mentais e, sendo o homem o senhor da criação, suas ondas mentais são muito potentes. As bactérias originalmente benéficas transformam-se em nocivas, quando a pessoa emite ondas mentais de ódio e rancor, desejando prejudicar alguém. Essas ondas mentais atingem as bactérias originalmente boas e as transformam em nocivas. É assim que as bactérias do cólon se transformam em bactérias que causam febre tifóide ou a disenteria.

Escrevi isso nesse livro e, pouco tempo depois, recebi um recorte do jornal Asahi, edição da província de Iwate, contendo o seguinte artigo: “Segundo experiências clínicas do dr. Yoshio Shikinami, diretor do Hospital Morioka, foi comprovado que a bactéria do cólon se transforma numa bactéria que libera uma toxina exatamente igual à da febre tifóide. Esse fato foi publicado numa revista médica do Japão, que foi lida pelos cientistas do Instituto Pasteur da França, e de lá chegou uma correspondência dizendo que nesse Instituto também estão sendo efetuadas experiências similares e que desejam receber dados detalhados das experiências realizadas no Japão”.

Como vimos, todas as bactérias são boas, mas se transformam em patogênicas projetando a influência que recebem das ondas mentais do homem.

O bacilo da tuberculose também é originalmente uma bactéria benéfica que convive conosco. Todas as bactérias são necessárias, pois, mantendo um equilíbrio com vírus e fungos, conservam a nossa saúde. E, enquanto vivem nos nossos pulmões preservando a nossa saúde, não se chamam bacilos da tuberculose porque são bactérias benéficas que não causam tal doença. Segundo teoria do dr. Yataro Sumiyoshi, diretor de um hospital de Osaka, especializado em tuberculose, existem 30 espécies de bacilos da tuberculose. Há os que são extremamente ferozes e outros que são brando. Ocorreram essas diferenças por receberem a influência das ondas mentais do homem. Deus não criou nenhum microorganismo mau, mas, quando o homem nutre sentimentos de ódio e rancor contra o outro, ficar nervoso, é ingrato com os pais, tendo mentalidade que retribui com veneno a quem lhe deu amor, as bactérias começam a secretar toxinas, sofrendo uma mutação, influenciadas por essas ondas mentais. Se a toxicidade das bactérias não fosse alterada por influência das ondas mentais do homem, não haveria uma explicação para o fato de pessoas no terceiro estágio da tuberculose obterem a cura total quando mudam seu estado mental após conhecerem os ensinamentos Seicho-No-Ie. Se já ocorreram muitas curas dessa maneira, isso revela que as ondas mentais do homem alteram a toxicidade das bactérias, tornando-as inofensivas. Se originalmente não existem bactérias nocivas,elas só se manifestam temporariamente como causadora de doenças, não havendo bactérias que sejam

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patogênicas eternamente. Portanto, se modificarmos nossas ondas mentais de modo que sintonizem com as ondas espirituais da Imagem Verdadeira, as bactérias que estavam causando doenças se transformam em bactérias benéficas e úteis. Não devemos jamais temer as bactérias que causam doença.

Recomendação da Meditação Shinsokan

Então, de que modo iremos sintonizar nossas ondas mentais com as ondas espirituais da Imagem Verdadeira? Devemos praticar a Meditação Shinsokan e nos reconciliarmos com todas as coisas do céu e da terra. Poderão praticá-la lendo o livro Explicações Detalhadas sobre a Meditação Shinsokan ou recebendo orientação direta nas sedes regionais ou academias da Seicho-No-Ie. Reforçando o sentimento de unidade com Deus através da Meditação Shinsokan e preenchendo todo o corpo com as ondas espirituais harmoniosas e perfeitas da Imagem Verdadeira, elas atingirão fundo os ossos acometidos pelos bacilos da tuberculose e os transformarão em bactérias boas. A estreptomicina, o PAS e qualquer outro medicamento atingem o local doente através da circulação sanguínea e eliminam as bactérias. Nos ossos, porém, não existem veias e dificilmente os medicamentos atingem o interior deles. Por esse motivo, os médicos estão conformados com o fato de a tuberculose óssea não ser curada pela aplicação de medicamentos. Entretanto, as ondas mentais atingem o interior de qualquer osso, tal como as ondas de rádio atingem antenas cobertas com material isolante. Ocorrendo mudança mental, podemos modificar as bactérias patogênicas que estão dentro dos ossos. Então, se nossa mente emitir ondas que entram em sintonia com as ondas espirituais da Imagem Verdadeira, as bactérias as captam e adquirem o aspecto de perfeição e harmonia, transformando-se em bactérias que jamais prejudicam o nosso corpo.

Livro: A Verdade – Volume SuplementarPágs.: 219 a 229

7ª. aula: O correto entendimento do que seja a Convergência ao Centro(Módulo de Estudo da Seicho-No-Ie 2, p. 151)

Como Buda transmitiu a essência do Budismo

Certa vez, quando Buda foi fazer um sermão numa montanha chamada Ryoju-sen, pegou uma flor de lótus dourada e, mostrando-a à multidão, fez a expressão de quem pergunta: “Vocês entenderam?” Não entendendo o significado disso, as pessoas ficaram apenas observando, perplexas. Houve, porém, uma exceção. Um dos discípulos de Buda, chamado Kashô, mostrou um largo sorriso, como quem diz: Entendi! Entendi o que o senhor está querendo nos dizer!” Vendo-o, Buda disse : “A ti, Kashô, transmito a essência da Verdade do Budismo”.

Os outros, porém, não entendiam o que era essa “essência do Budismo” que Buda resolvera transmitir a Kashô. Entre os dez principais discípulos de Buda, havia um que se chamava Anan, o qual era o que mais assiduamente ouvia os sermões de Buda. Além disso,

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tinha uma memória excepcional e não esquecia nenhum dos ensinamentos que ouvia. No entanto, Buda não disse que iria transmitir a ele, Anan, a essência do Budismo.

E assim foi que Kashô, a quem foi transmitida a essência do Budismo, tornou-se o primeiro mestre do Zen-Budismo. Quem não se conformou com isso foi Anan, que era o primeiro em conhecimentos sobre a doutrina. “Eu tenho ouvido os sermões com maior assiduidade do que Kashô ou qualquer outro. Por que é que Buda não transmitiu a mim a essência do Budismo?” Assim pensando, certo dia procurou Kashô e lhe disse: “Ao receber a essência do budismo, você ganhou de Buda as vestes sacerdotais e um vaso. Sei que a essência do Budismo não está nessas coisas que você recebeu. Poderia me dizer o que foi transmitido a você, como sendo a essência do budismo?”

Kashô permaneceu em silêncio durante alguns minutos e, de repente, chamou o outro em tom solene: “Anan!” Sendo chamado subitamente por essa voz solene, Anan levou um susto e, endireitando o corpo, respondeu: “Sim, senhor!” Então, Kashô disse: “Transmito a ti a essência do Budismo”. E assim Anan tornou-se o segundo mestre do Zen-budismo.

Que será que foi transmitido a Anan naquele instante? Reflitam um pouco antes de prosseguirem a leitura.

Que vem a ser a ser a essência do budismo

A “Essência do Budismo” é a Imagem Verdadeira do Universo, simbolizada numa flor de lótus. Esta flor tem no centro o ovário, de onde saem as pétalas, em todos os sentidos. Assim também é a Imagem Verdadeira do Universo. Todas as coisas que no plano do fenômeno se desenrolam nos mais variados sentidos, estão, na verdade, estreitamente ligadas ao “centro”. Este princípio está presente na expressão de docilidade e obediência: “sim, senhor!” Em tudo neste mundo existe um “centro”, e a expressão “sim, senhor!” representa o espírito de obediência ao “centro”.

A verdadeira liberdade existe onde há ordem

Hoje clama-se muito pela liberdade, mas uma situação de real liberdade, onde todas as coisas possam correr desembaraçadamente, só é possível onde há ordem, isto é, espírito de obediência ao “centro”. Há quem pense que o fato de não se permitir às pessoas fazerem o que bem entendem é uma violação à liberdade”, mas a verdadeira liberdade não existe onde todo mundo faz o que bem entende. Nas ruas de trânsito intenso, por exemplo, é necessário obedecer ao semáforo. Quando acende o sinal verde, é permitido passar; quando acende o vermelho, é preciso parar. Por mais que se tenha pressa, não se pode dizer que “impedir a minha passagem com o sinal vermelho é uma violação da liberdade”. Para que haja a liberdade geral, é preciso que a sinalização seja obedecida. Com isso se evitam as colisões e se possibilitam o livre trânsito e a segurança de todos.

(TANIGUCHI, Masaharu. Princípio da Centralização. In: _____. Acendedor. Nº 67. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 1975. p. 50.)

A importância da convergência ao centro

O envolvimento em guerras deixou uma grande lição para o povo japonês. Em 1904, durante o governo do imperador Meiji, foi deflagrada a Guerra Russo-Japonesa, e, após

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batalhas duríssimas, o Japão venceu e conquistou a Manchúria, que estava sob o controle da Rússia. Assim, obteve o direito de explorar os recursos da Manchúria. Esse direito foi legado ao imperador Taisho e, com a morte deste, passou para o atual imperador (N. da T.: Refere-se ao imperador Showa). Posteriormente, ocorreram vários incidentes na Manchúria e intensificou-se a tendência antinipônica.

O governo e o exército mantinham o propósito de defender, a todo custo, o direito sobre a Manchúria. Já o imperador era contra medidas que levassem à ampliação dos conflitos. Mas o governo e o exército, contrariando a vontade do imperador, enviaram tropas para a Manchúria, o que serviu de estopim para a Guerra Sino-Japonesa que se alastrou rapidamente. Os Estados Unidos intervieram, mas as negociações acabaram num impasse. Também nessa ocasião o imperador insistiu para que fossem reiniciadas as negociações de paz, mas o governo e o exército tenderam cada vez mais para declaração de guerra aos Estados Unidos, em parte porque contavam com o claro apoio da opinião pública. O fato é que o Japão entrou na Segunda Guerra Mundial e acabou derrotado. Diante da necessidade de optar ou não pela aceitação da Declaração de Potsdam, finalmente o governo e o exército recorreram ao imperador pedindo-lhe uma tomada de decisão, e ele optou pelo fim da guerra aceitando os termos de rendição da referida Declaração. Foi então que a mente do povo convergiu para o centro e, a partir daí, começou a reconstrução do Japão. Infelizmente, no Japão atual, parece que são poucas as pessoas que têm a exata noção da importância do princípio de convergência para o centro.

Em contrapartida, verifica-se a tendência de supervalorizar a democracia, que é uma ideologia. O marxismo também é uma ideologia, e o fato curioso é que o termo “ideologia”, inventado pelos marxistas, é adotado pelos que definem o marxismo como algo relativo. Também no que concerne à nossa Constituição, os seus termos foram, em grande parte definidos pelo exército de ocupação e, portanto, muitas cláusulas são falhas e não podem ser consideradas justas. O que quero salientar é o fato de que, nos dias atuais, nota-se a tendência de supervalorizar as lucubrações ideológicas, os textos de lei que abordam as coisas fenomênicas e a postura de defender o próprio ponto de vista, esquecendo a Grande Verdade, ou seja, o princípio de convergência para o centro, que rege o mundo da Imagem Verdadeira. Muitos são os que não conhecem essa Verdade. Principalmente no Japão, apesar do fato de o país destacar-se no mundo no tocante à convergência para o centro, existem muitas pessoas que não compreendem esse princípio. Lamentamos essa situação e vimos desenvolvendo constantes atividades visando eliminar a ilusão dessas pessoas e conduzi-las ao despertar.

Foi-me concedida a sucessão no posto de Mestre, para transmitir os princípios fundamentais da Grande Verdade. É meu propósito trabalhar juntamente com os senhores, para que, com vistas para o novo século, possamos continuar difundindo essa Grande Verdade ao mundo fenomênico em constante mutação, aplicando-a nas diretrizes do movimento de cada ano e em inúmeras atividades a serem desenvolvidas. Espero que entendam bem o significado desta mensagem e continuem a se empenhar, unidos, no Movimento de Iluminação.

(TANIGUCHI, Seicho. Shinpen Seikoroku [Livro ainda não editado em português; tít. Prov. Manual dos Adeptos da Seicho-No-Ie – Nova Edição])Modelo de oração ensinada por Jesus

Jesus ensinou o Pai-nosso como modelo de oração, dizendo para orar do seguinte modo: Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome. Venha o teu reino, seja

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feita a tua vontade assim na terra como no céu”. “Céu” neste caso, não é o firmamento que está acima de nós, onde flutuam nuvens; é o mundo da Imagem Verdadeira, o mundo de Deus. E “terra” não significa o chão onde pisamos, mas sim o mundo fenomênico visível aos olhos físicos. “Seja feita a tua vontade assim na terra como no céu” tem o significado de orar para que se realize aqui na Terra o reino de Deus, exatamente como ele é no mundo da Imagem Verdadeira.

A versão inglesa do versículo da Bíblia onde Jesus diz “Arrependei-vos porque é chegado o Reino de Deus” é a seguinte: “Kingdom of Heaven is at hand”. A expressão is at hand significa “está perto”, ao alcance das mãos”.

O reino dos céus é caracterizado pelo fato de ter no centro unicamente Deus. No reino dos céus, tudo que existe converge para o único centro que é Deus. Para concretizar esta ordem do reino dos céus numa nação, é preciso que haja uma convergência ao centro represetado pelo chefe de Estado ou Presidente da República. Caso contrário, não se manifestará na nação a situação do reino dos céus.

(TANIGUCHI, Masaharu. A Filosofia da Verdade que Gera Milagre; Vol. 2; 4ª Ed.; Cap. 7; p. 55)

Um mundo onde tudo converge para o centro – eis a característica do reino dos céus

No reino dos céus, ou seja, no mundo da Imagem Verdadeira, há em todas as coisas um centro para onde tudo converge, e vemos este fato na menor unidade que existe ao alcance do nosso conhecimento, que é o átomo. Existe nele um núcleo atômico e os elétrons giram ao seu redor. Se esse núcleo ou centro for destruído, ocorre a desintegração do átomo, pois, desintegrando-se o núcleo atômico, o átomo em si se desintegra e desaparece. Em tudo que existe, o centro deve ser preservado com cuidado.

A convergência para o centro que ocorre no mundo da Imagem Verdadeira – no céu onde impera a vontade divina – manifesta-se também no sistema solar, no qual o centro é o Sol e em torno dele giram todos os planetas. Se o Sol sair voando para outro local ou desintegrar-se, a Terra e os demais planetas que giram ao seu redor não poderão continuar existindo.

(TANIGUCHI, Masaharu. A Filosofia da Verdade que Gera Milagre; Vol. 2; 4ª Ed.; Cap. 7; p. 56)

No lar ideal também existe um centro

Num lar também existe um centro que é o pai ou o marido. Sendo ele o centro, os demais membros da família devem viver de acordo com as diretrizes traçadas por ele. Se os membros da família não seguem o comando do elemento central, esse lar é um lar doentio. No caso de corpo humano, se os nossos membros e órgão internos não obedecessem ao comando do nosso cérebro e agissem cada qual a seu bel-prazer, estaríamos sofrendo de coréia ou nevralgia. Um lar em situação similar acabaria fatalmente em estado caótico e se arruinaria.

(TANIGUCHI, Masaharu. A Filosofia da Verdade que Gera Milagre; Vol. 2; 4ª Ed.; Cap. 7; p. 57)

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O centro do nosso Movimento

Cada membro da Seicho-No-Ie deve atuar tendo pleno conhecimento de como é constituído o centro do Movimento de Iluminação da Humanidade, por mais diversa e ampla que seja a sua área de ação e por mais complexa que se torne a organização. Não deve esquecer jamais que o centro imutável do Movimento de Iluminação da Humanidade é a vontade divina expressa pelo trinômio: Deus da Seicho-No-Ie—Supremo Presidente/Vice-Supremo Presidente—Ensinamento. Em hipótese alguma, deve-se fazer de uma pessoa o centro do Movimento, por mais competente que ela seja, por mais anos de dedicação ao Movimento que tenha, por melhores que sejam as experiências obtidas na qualidade de orientadora. Se isso for feito, será impossível desenvolver o Movimento além do nível dos conhecimentos dessa pessoa e, se eles esti-verem distorcidos, o Movimento será distorcido. Ademais, membros que não combinem com essa pessoa e que tenham opiniões antagônicas se afastarão ou entra-rão em conflito com ela, deixando profundas seqüelas. Membros muito dedicados, que possuem fé fervorosa, mas que não conhecem claramente o verdadeiro centro do Movimento, tornam-se muito dependentes da pessoa considerada como o centro e, quando esta se muda de local ou vem a falecer, perdem totalmente o ânimo. Isso tem ocorrido com certa freqüência com aqueles que não perceberam o seu equívoco quan-to ao centro do Movimento. O Movimento de Iluminação da Humanidade não tem como centro a vontade humana. O centro é a vontade de Deus. Cada membro deve atuar ciente de que só estará cumprindo a sua missão quando desempenhar corretamente a sua função em seu posto dentro da organização, concretizando assim a vontade de Deus.

Neste artigo está evidenciado que cada membro da Seicho-No-Ie, ou seja, cada apóstolo da iluminação que participa do Movimento de Iluminação da Humanidade, mesmo não sendo um líder, mas um simples leitor ou alguém que tenha se tornado adepto hoje ou há um mês, e mesmo que o campo de atuação de cada membro seja diversificado, amplo e complexo, jamais deve se esquecer em que consiste o centro do Movimento de Iluminação, a fonte onde se originou o Movimento. Isso implica saber que o Movimento de Iluminação da Humanidade encetado pela Seicho-No-Ie não foi iniciado por um indivíduo chamado Masaharu Taniguchi. O artigo fala do trinômio Deus da Seicho-No-Ie—Supremo Presidente/Vice-Supremo Presidente—Ensinamento, usando travessões que indicam a trajetória do canal por onde o ensinamento flui a partir da Fonte. Na introdução do volume 1 de A Verdade da Vida consta que a Sede Central da Seicho-No-Ie está no mundo da Imagem Verdadeira. O edifício da Sede Central da Seicho-No-Ie instalada na Terra nada mais é que um escritório central para efetuar os trabalhos terrenos. Dizem que eu sou o Supremo Presidente da Seicho-No-Ie, mas o que vem a ser isso? De acordo com o que consta neste artigo, no trinômio Deus da Seicho-No-Ie—Supremo Presidente/Vice-Supremo Presidente—Ensinamento — o Supremo Presidente e o Vice-Supremo Presidente desempe-nham a função de canal por onde flui o ensinamento que Deus transmite através da Seicho-No-Ie. Este movimento, portanto, é o ritual de purificação pelo poder da palavra, que o Deus Criador do Universo, também dito Deus da Seicho-No-Ie, realizou em determinada época manifestando-se como deus Suminoe.

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(TANIGUCHI, Masaharu. O que Dever Fazer o Dedicado à Iluminação. 6ª ed. [revisada]. São Paulo: Seicho-No-Ie do Brasil, 2004. cap. 1. artigo 8. p.48.)

Assim se define o centro Numa organização, geralmente o Centro está muito claro e evidente, como o

supervisor administrativo doutrinário no âmbito da regional, ou o presidente de uma associação local, no âmbito de sua própria associação local. O que define o Centro é a função que a pessoa exerce e não a pessoa em si. Existem situações em que a mesma pessoa exerce mais de uma função. Nesses casos, é preciso ver qual a função a pessoa está exercendo naquele momento.

Exemplo 1: Um presidente de Federação Fraternidade está reunido com a diretoria da associação local da qual é associado e na qual ele exerce a função de tesoureiro. Na reunião de diretoria da associação local o Centro é representado pelo presidente da associação local, embora o presidente da federação seja superior hierárquico no âmbito da regional. Não pode ocorrer equívoco de o presidente da associação local ceder a posição de Centro ao presidente da federação e nem, tampouco, o presidente da federação aceitar esta situação.

Exemplo 2: O supervisor, que também é preletor regional, está participando da reunião da Associação dos Preletores Regionais. O Centro desta reunião está representado na figura do presidente da Associação dos Preletores Regionais, embora o supervisor, no âmbito da regional, seja superior.

8ª. aula: As grandes correntes religiosas e sua relação com a Natureza Estudo recapitulativo do Curso Internacional Brasil – 2009 –

A) AGRADECIMENTOS. (Junji miyaura)Quero externar a minha gratidão ao Supremo Presidente, Masanobu Taniguchi e senhora Junko Taniguchi, pela orientação deste Curso Internacional da Seicho-No-Ie pela Paz Mundial Brasil – 2009. Muito obrigado. Agradeço também, a presença de todos os preletores aqui presentes de diversas localidades do Brasil e de vários países, que não mediram esforços para participarem deste Curso cujo tema é a preservação do Mundo Natural. Muito obrigado pela presença maciça.

B) ALGO INTERESSANTEGostaria de trazer aqui uma antiga história que fala da preocupação da natureza dos antigos hebreus.

Honi viu um velho plantando uma árvore e perguntou de que tipo era. O velho disse que era uma alfarrobeira, ao que Honi exclamou: “Essa árvore não demora muito a dar frutos?” “Setenta anos”, respondeu o velho. “Mas não estarás vivo para comer os frutos”, disse Honi. “Não, mas meus filhos sim. Do mesmo modo como havia alfarrobeiras quando eu vim ao mundo, haverá para eles”, respondeu o velho.

Honi comeu alguns figos e foi dormir. Quando acordou, percebeu que tudo ao seu redor estava diferente. Procurou o velho, mas em vez dele viu um jovem pegando alfarrobas e dando para uma menina comer. O suco adocicado escorria dos lábios da menina. Quando Honi explicou que estava procurando o

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velho que havia plantado a árvore, o jovem disse que era seu avô, que a havia plantado 70 anos atrás. Honi percebeu que dormira por 70 anos, e ao despertar reconheceu a importância das palavras do velho.

Esta história mostra como os antigos hebreus davam importância à natureza e à inter-relação com as gerações futuras.

1) RESUMO/ OBJETIVOO presente trabalho objetiva o estudo das filosofias, pensamentos e fé, no que se refere aos conceitos sobre o Meio-Ambiente, Recursos Naturais, Guerra e Paz, professadas pelas religiões monoteístas judaica-cristã, que são conhecidas pelo pensamento antropocentrista. Tanto o judaísmo como o cristianismo trazem em suas escrituras sagradas contida na Torá, Antigo e Novo Testamento, o respeito ao Mundo Natural, ensinamentos sobre o modo de vida natural, do não desperdício e a preocupação com as gerações futuras. Vamos notar que os antigos ensinamentos continham grande dose de espiritualidade e amor à natureza. Através deste estudo, objetivamos trazer à tona a antiga sabedoria contida no Pentateuco e demais livros Bíblicos, para que através delas possamos compreender melhor a antiga tradição dos povos semitas e resgatar o modo de vida ecologicamente correto minorando os problemas enfrentados pela humanidade atualmente, e contribuir decisivamente para a manutenção da Paz Mundial.

No que concerne ao ensinamento do Islã, apesar de possuir a mesma origem dos povos semitas, não será comentado neste trabalho, pois será objeto de estudo e será apresentado pelo preletor Eduardo Nunes da Silva.

2. Visão do Judaísmo sobre o Mundo Natural

2.1) O JudaísmoO Judaísmo é uma das religiões monoteístas mais antigas do mundo sendo

considerada em sentido restrito a religião dos antigos Hebreus, hoje chamados judeus ou israelitas, e num sentido mais amplo, compreende todo acervo não só de crenças religiosas, como também de costumes, cultura e estilo de vida dessa comunidade étnica.As Sagradas Escrituras do Judaísmo é conhecida como TORÁ. Alguns estudiosos usam o termo Torá para se referir aos cinco livros de Moisés, Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio.

2.2) Origem do Talmude O Talmude (aprendizado ou ensino) é composto de discussões e debates entre os

antigos rabinos (rabbi, em hebraico, significa mestre) e registrados a partir do século II, quando floresciam na Palestina a cultura judaica. Os estudiosos (Tanain) debatiam, argumentavam e entravam em minúcias em animadas discussões. Quando os comentários da tradição oral foram organizados e registrados formaram o Talmude.

2.3) Preocupação com a Natureza.Um dos pensamentos que define a preocupação com a natureza, é o que está na página xx da nossa apostila.

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Nós somos administradores. Deus é o dono de todas as coisas no universo, e devemos zelar por elas. Essa responsabilidade se aplica à própria Terra, assim como às outras pessoas, aos animais, ao dinheiro e aos negócios – em resumo, a tudo. Estamos destinados a proteger esses recursos e a usá-los sabiamente. Não devemos desperdiçar nenhum recurso, natural ou artificial, porque os recursos não nos pertencem (Kahaner. 4).

2.4) Não DesperdiceUma das características do povo judeu é o não desperdício, tanto é que quando falamos em judeu, vem à nossa mente um estereótipo bastante peculiar.

Um judeu que observa rigorosamente as leis da sua religião não joga fora um lápis quando a borracha da ponta está gasta. Em vez disso, usa o lápis até o fim para não desperdiçá-lo. Ele também pode escrever dos dois lados de uma folha de papel porque, como o lápis, sua fonte original é uma árvore, um recurso precioso. Essa prática não tem nada a ver com o preço do lápis ou do papel; a idéia é não desperdiçar os recursos que nos foram dados por Deus. Infelizmente, durante toda a história, as pessoas muitas vezes interpretaram erradamente o motivo básico para esse comportamento frugal e criaram o estereótipo dos judeus como sendo miseráveis ou avarentos. Pelo contrário, essa frugalidade não tem a ver com dinheiro, mas com espiritualidade (Kahaner. 5).

2.5) O SabaticoUm dos pilares do Judaísmo é a observância ao sábado como dia de descanso,

está contido no Decágono, determinado na Torá (Êxodo 20,8-11), porém no Cristianismo o descanso semanal foi fixado como o dia de domingo por Paulo (Saulo de Tarso, escreveu Atos dos Apóstolos), por ser o dia da ressurreição, o dia do Senhor (Britânica. 6).

A Torá determina o Shabat a cada sete dias, como também a cada sete anos. Moisés recebeu a lei que determinava que a terra deveria descansar a cada seis anos. No sétimo ano não semearia nada, sendo um ano de descanso completo para a terra (Levítico 25, 1-7). Estes ensinamentos mostram que havia a preocupação em conservar e conviver com a natureza, e mesmo que se explore a terra, esta seja cuidada para que não seja somente tomar da terra e não cuidar com carinho.

2.6) Crimes De Guerra.Em tempos de guerra, os antigos exércitos costumavam cortar árvores

para arremessá-las contra os portões das cidades inimigas. Maimônides⁶ comentou sobre a proibição nas Sagradas Escrituras judaicas de usar árvores frutíferas para esse fim se houvesse outra árvore disponível. Mesmo nesse momento de extrema urgência, esperava-se que os soldados poupassem as árvores frutíferas e usassem outro tipo de árvore para realizar essa tarefa. Na linguagem moderna, poderíamos nos referir a esse ato de destruir árvores

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frutíferas durante um ataque como um “crime de guerra”, um ato tão abominável que não seria tolerado por nenhuma nação (Kahaner. 8).

2.7) PoluiçãoConta-se que um homem tirava pedras das suas terras e as colocava em uma

estrada pública adjacente. Um homem piedosos que passava pelo local, disse-lhe:- Tolo! Por que estás tirando pedras da terra que não é tua e colocando-as na

terra que é tua?O proprietário rural riu, achando que o homem piedoso tinha invertido a

situação. Mas, vários anos depois, o proprietário rural, já tinha vendido as suas terras, caminhava pela estrada e tropeçou nas pedras, caiu e se machucou. Erguendo os olhos do chão pensou: “O homem piedoso estava certo”, (Kahaner. 9).

Os antigos rabinos talmúdicos tinham uma preocupação especial com o meio ambiente, pois entendiam a interconexão de tudo no mundo. Há alguns anos houve o acidente nuclear na usina de Chernobyl localizado na Rússia, mas que a radioatividade contaminou o leite das vacas que pastavam na Escandinávia. O lixo atômico que jogamos hoje em algum lugar, poderá afetar o meio ambiente e voltar-se contra nós.

2.8) Não Pegue Mais Que O NecessárioA ganância do ser humano em busca do enriquecimento fácil, sem compromisso

com o meio ambiente, já levou muitas áreas de florestas à desertificação. Governos, ongs e cientistas não conseguem frear os gananciosos mal intencionados. É dever dos religiosos alertar a sociedade sobre o perigo iminente por que passa o planeta, como faziam os antigos rabinos:

Outro princípio talmúdico relativo ao meio ambiente é o de que não se pode pegar mais do que o necessário. Isso significa que é proibido cortar árvores para  ganhar dinheiro? Não - ganhar dinheiro é uma necessidade básica. Além disso, cortar árvores dá emprego e aumenta a prosperidade da região. Contudo, significa que as pessoas não devem cortar árvores para ganhar mais dinheiro do que o necessário, nem estragar outros recursos durante esse processo. Se o desmatamento de uma área florestal interferir na capacidade do solo de evitar a erosão ou destruir o habitat de um animal, a posição dos rabinos é que devemos realizar nossas atividades em outro lugar ou mudar nossas técnicas de corte (Kahaner. 10).

3) Visão do Cristianismo sobre o Mundo Natural

3.1) Jesus Histórico3.2) Surgimento do CristianismoJesus Cristo disse: Antes que Abraão existisse “Eu Sou” (Jo 1, 58), referindo à

imortalidade do ser humano. Abraão o patriarca dos hebreus habitava a região de Ur, na Caldeia, banhada pelo rio Eufrates cerca de XX séculos AEC (Antes da Era Comum).

Jesus não rejeitava a Lei, mas quebrou princípios enraizados nas interpretações oficiais. Huston Smith⁷, autoridade contemporânea em histórias das

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religiões tendo lecionado no MIT, escreve o seguinte, como podemos ler na página yy da nossa apostila:

Grande parte das idéias do judaísmo eram aceitas por Jesus, mas havia um aspecto importante no programa de santidade que ele achava inaceitável: as linhas que traçava entre as pessoas. Começando por classificar atos e coisas como puros ou impuros (os alimentos e seu preparo, por exemplo), o código de santidade depois classificou as pessoas segundo elas respeitassem ou não aquelas distinções. O resultado foi uma estrutura social cortada por barreiras: entre pessoas que eram puras ou impuras, imaculadas ou indignas, sagradas ou profanas, judeus ou gentios, justos ou pecadores. Jesus concluindo que o atributo central de Javé era a compaixão e via as barreiras sociais como uma afronta a essa compaixão. Por isso ele conversava com coletores de impostos, jantava com proscritos e pecadores, confraternizava com prostitutas e, quando a compaixão o impelia, curava também no sábado. Isso fez dele um profeta social, desafiando os limites da ordem existente e defendendo uma visão alternativa da comunidade humana (Smith. 12).

Durante dois mil anos de História, o Cristianismo se dividiu em três principais correntes, a saber: Catolicismo romano, Ortodoxia oriental e Protestantismo, sendo a religião mais difundida e com maior número de adeptos estimado em 1bilhão e meio, conforme Huston Smith.

3.4) Cristianismo e a NaturezaO Novo Testamento é uma releitura da Bíblia judaica, porém não é uma

continuação da história de Israel. Ele abre uma nova página da história dos povos semitas, baseado nas palavras de Jesus de Nazaré e a partir de 80 dC. se tornou uma religião própria que acabou sendo o cristianismo. Nas palavras de Jesus a ecologia aparece implícito carregada de espiritualidade, mas não de maneira explícita. Marcelo Barros⁸, monge beneditino teólogo e biblicista, e Frei Betto⁹, religioso e jornalista, afirmam que:

Conforme os Evangelhos, nas palavras e ações de Jesus não aparece um ensinamento ecológico explícito. Os Evangelhos falam de Jesus como alguém originário de uma aldeia rural explorada e dominada pelos romanos e pelos judeus ricos.

Suas parábolas do reino se referem freqüentemente à natureza, aos pássaros do céu e aos lírios do campo. Ele propôs aos discípulos que aprendessem a ler os sinais dos tempos no Sol e nas condições do céu e do vento (Barros, Betto. 13).

3.4) Igreja Católica e EcologiaSão Francisco de Assis (1181-1226) é considerado o arquétipo ocidental da atitude ecológica e foi proclamado patrono da ecologia. Estes títulos lhe foram dados pela sua confraternização exemplar com a natureza e à profunda empatia que mantinha com todos os

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seres da criação. Ele descobriu a sua filiação divina e a divindade de toda a natureza, tanto que considerava toda a natureza como irmãos e chamava os astros de irmão Sol e irmã Lua. Sua veneração pela natureza era tão grande que tratava as abelhas no inverno, dando-lhes mel, para que não morressem de fome. Além do mais, São Francisco inundou a esfera humana com espírito de benquerença, fraternura, paz e não violência, levando amor e ternura aos hansenianos, pobres e marginalizados sendo o próprio instrumento da Paz.

Esse espírito é endossado pelo Papa João Paulo II, quando trasmitiu a sua mensagem para a celebração do Dia Mundial da Paz em 1990, sob o título “PAZ COM DEUS CRIADOR, PAZ COM TODA A CRIAÇÃO”.

Na Introdução, o Papa diz:

1. Observa-se nos nossos dias uma consciência crescente de que a paz mundial está ameaçada, não apenas pela corrida aos armamentos, pelos conflitos regionais e por causa das injustiças que ainda existem no seio dos povos e entre as nações, mas também pela falta do   respeito devido à natureza , pela desordenada exploração dos seus recursos e pela progressiva deterioração da qualidade de vida. Semelhante situação gera um sentido de precariedade e de insegurança, que, por sua vez, favorece formas de egoísmo colectivo, de açambarcamento e de prevaricação.

E cita na parte final da mensagem:

16. Ao concluir esta Mensagem, desejo dirigir-me especialmente aos meus Irmãos e às minhas Irmãs da Igreja católica, para lhes recordar a obrigação importante de tomarem cuidado com tudo o que foi criado. O empenhamento de quem acredita em Deus por um ambiente sadio promana directamente da sua fé no mesmo Deus criador, das avaliações dos efeitos do pecado original e dos pecados pessoais e da certeza de terem sido remidos por Cristo. O respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana inclui também o respeito e o cuidado pelo universo criado, que está chamado a unir-se com o homem para glorificar a Deus (cf. Sl 148 e 96).

São Francisco de Assis, que proclamei em 1979 Patrono dos cultores da ecologia (cf. Carta Apost.   Inter Sanctos :   AAS   71 [1979], pp. 1509-1510), dá aos cristãos o exemplo de um respeito pleno e autêntico pela integridade da criação. Amigo dos pobres e amado pelas criaturas de Deus, ele convidou a todos - animais, plantas, forças naturais e até mesmo o irmão Sol e a irmã Lua - a honrarem e louvarem o Senhor. Do mesmo « Pobrezinho » de Assis nos vem o testemunho de que: estanto em paz com Deus, melhor nos podemos consagrar a construir a paz com toda a criação, inseparável da paz entre os povos.

São meus votos que a sua inspiração: nos ajude a conservar sempre vivo o sentido da « fraternidade » com todas as coisas boas e belas criadas por Deus omnipotente; e nos alerte para o grave dever de as respeitar e conservar com

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cuidado, no quadro da mais ampla e mais elevada fraternìdade humana. (João Paulo II. 14)

As partes grifadas são da minha pessoa, mas como podem ver, endossando o espírito do São Francisco de Assis, Papa João Paulo II dirige-se aos Irmãos e Irmãs da Igreja católica e recorda “a obrigação importante de tomarem cuidado com tudo o que foi criado” e também enfatiza que o “respeito pela vida e pela dignidade da pessoa humana inclui também o respeito e o cuidado pelo universo criado, que está chamado a unir-se com o homem para glorificar a Deus”.

Estas colocações vem de encontro com o Ensinamento da Seicho-No-Ie, pois o respeito à vida de todas as coisas como sendo criação de Deus é Verdade semelhante em diversos aspectos com a Verdade da Seicho-No-Ie.

4) Diferenças e Semelhanças entre Judaísmo e Cristianismo.

4.1) Responsabilidade pela Crise EcológicaTanto o judaísmo como o cristianismo seguem os ensinamentos contidos no

Pentateuco, especialmente no livro de Gênesis, onde é descrito a criação do mundo em que Deus (Iavé) enuncia uma “resolução”:

Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem, como nossa semelhança, e que eles dominem sobre os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra”. “E Deus criou o homem à sua imagem, à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou”. (Gn.1, 26-27).

E mais adiante, lemos:

Iahweh Deus plantou um jardim em Éden, no oriente, e aí colocou o homem que modelara. (...) Iahweh Deus tomou o homem e o colocou no jardim de Éden para o cultivar e o guardar. (Gn 2, 8-15).

A interpretação do termo “domine” usado no sentido literal, levou a humanidade a tratar a natureza como “objeto”, desencadeando o consumismo sem se preocupar com a natureza, apesar de que o termo, na realidade, significar “cultivar” e “guardar” no sentido de “preservar”.

Podemos dizer que a exploração insustentável da Natureza pelo homem não se deve simplesmente ao Gênesis, ainda que sua literatura a sugira. Deve-se, sobretudo, ao crescente dualismo homem/natureza ao modo de sujeito/objeto, à racionalidade instrumental e ao consumismo que – aliados a uma interpretação funcional do texto bíblico – levaram à industrialização sem compromisso ambiental. Ao uso irracional dos recursos naturais, enfim à crise ecológica que hoje nos esforçamos para resolver (Maçaneiro. 15).

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Acredito que essas colocações estão sendo aceitas pela Igreja Católica hoje em dia, pois a Mensagem do Papa João Paulo II, anteriormente citada, menciona ainda na Introdução e item 2 da seguinte maneira (as partes grifadas são da minha pessoa):

Perante a difusa degradação do ambiente, a humanidade já se vai dando conta de que não se pode continuar a usar os bens da terra como no passado. A opinião pública e os responsáveis políticos estão preocupados com isso; e os estudiosos das mais diversas disciplinas debruçam-se sobre as causas do que sucede. Está assim a formar-se uma consciência ecológica, que não deve ser reprimida, mas antes favorecida, de maneira que se desenvolva e vá amadurecendo até encontrar expressão adequada em programas e iniciativas concretas.

2. Não poucos valores éticos, de importância fundamental para o progresso de uma   sociedade pacífica , têm   uma relação directa com a questão do ambiente. A interdependência dos muitos desafios, que o mundo de hoje tem de enfrentar, confirma a exigência de soluções coordenadas e baseadas numa coerente visão moral do mundo. (Idem: João Paulo II. 14)

Como pode notar, hoje em dia, também a Igreja Católica não pensa simplesmente que porque se menciona na Bíblia que o homem deve dominar todas as criações, este possa fazer qualquer coisa, a seu bel prazer. O Papa João Paulo II cita em seguida alguns trechos Bíblicos tais como “E Deus contemplou tudo o que tinha feito, e eis que estava tudo muito bem (Gênesis 1,31)”. E cita no item 5:

5. Estas reflexões bíblicas lançam uma luz maior sobre a   relação entre o agir humano e a integridade da criação . Quando o homem se afasta do desígnio de Deus criador, provoca uma desordem que se repercute inevitavelmente sobre o resto do universo. (...) (Idem: João Paulo II. 14)

A exigência de uma “coerente visão moral do mundo” é sem dúvida necessária e importante e acredito que isso está bastante próximo ao pensamento da Seicho-No-Ie que busca o respeito à vida de todas as coisas como sendo criação de Deus, pois esta é a força propulsora para a formação do mundo de paz, de convivência pacífica com todas as criações, e “têm relação directa com a questão do ambiente”.

4.2) Conceito de Deus para os Cristão E Judeus.A Encarnação, a Expiação e a Trindade são dogmas que encontramos somente

na teologia cristã. A visão atípica de que Deus é Três-em-Um, Pai, Filho e Espírito Santo (Trindade), levou judeus e muçulmanos a duvidar que os cristãos fossem realmente monoteístas.

O dogma de Trindade foi constestada pelos arianos por volta de 318 e só foi consolidada muitos séculos depois sendo oficializada somente em 1017 o que causou a cisma entre as igrejas do Ocidente e do Oriente em 1054.

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4.3) Panteismo e Panenteismo.Dos filósofos gregos à filosofia contemporânea, o panteísmo assumiu ao longo da história várias formas doutrinárias, sempre polêmicas. Panteísmo (do grego pan, "tudo", "todas as coisas", e théos, "deus") é a doutrina que afirma a identidade substancial de Deus e do universo, os quais formariam uma unidade e constituiriam um todo indivisível.Porém, no século 19, o filósofo alemão Karl Christian Friedrich Krause (1781-1832) propôs uma nova palavra para designar Deus presente em tudo, o Panenteísmo (pan-en-teísmo). O krausismo, como também é chamado, diz que o universo está contido em Deus, mas Deus é maior do que o universo.

O conceito da Trindade do cristianismo, a idéia de Um, Único, Indefinível e Indivisível Deus do Judaísmo, os conceitos de Panteísmo e Panenteísmo, não chegam à profundidade e claridade de esclarecimento que a filosofia da Imagem Verdadeira abarca. Esta filosofia é única e a sua compreensão liberta a humanidade dos grilhões do materialismo e, ao mesmo tempo, esclarece a origem divina de toda criação dando uma visão sem precedentes a respeito do ser humano. Esta é a visão de Deus, aclarado pela Seicho-No-Ie.

Esta visão da vida, que consiste na conscientização de que existe unicamente a Imagem Verdadeira perfeito, o Eu verdadeiro, e na compreensão de que todas as coisas e seres fenomênicos não são existências verdadeiras apesar de parecerem existir – esta é que é a visão de vida da Seicho-No-Ie. Tendo essa visão da vida, não precisamos mais fugir dos sofrimentos do mundo fenomênico, nem nos apegarmos às coisas materiais para alcançar a felicidade; o eu fenomênico, refletindo a perfeição do Eu-Imagem Verdadeira, passa a se revelar como um ser livre, feliz e em perfeita harmonia com tudo e todos (Taniguchi. 24).

Tenho grandes esperanças, de que, esse significado do panenteísmo, hoje aceito pela Igreja Católica, possa servir também como força motriz doutrinária no mundo católico, na compreensão da necessidade de tratarmos tudo no mundo de forma carinhosa e cuidadosa, pois panenteísmo significa dizer que Deus está em tudo. Ora, se Deus está em tudo, com certeza devemos fazer com que o Deus, que está em tudo, seja reverenciado e respeitado, não destruído ou simplesmente usado para fins de satisfação do ego ou desejo pessoal. O pensamento que faz a Seicho-No-Ie se dedicar ao movimento ecológico está justamente baseado nessa mesma Verdade, ou seja, reverenciamos as montanhas, rios, ervas, árvores, minérios, energia e tudo mais como sendo a Vida de Deus, pois Deus está em tudo.

4.4) Povo Escolhido.

4.5) Ecologia e Espiritualidade.Acredito que todos já ouviram falar que “o século 21 é o século da

espiritualidade”. Isto quer dizer que a humanidade estará procurando a elevação espiritual, da compreensão do divino dentro de si mesmo e em todos os seres animados e inanimados. Respeito, tolerância e amor são características do espírito universal que encontramos na natureza da qual fazemos parte também. Os problemas ecológicos

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atuais estão levando a humanidade a uma profunda reflexão sobre a continuidade da própria vida no planeta Terra. Certamente a solução desses problemas necessitará de uma grande dose de espiritualidade.

A causa de todos os males, diz a ecologia profunda, é o antropocentrismo da civilização ocidental. 

Na realidade, ninguém consegue aprofundar um verdadeiro amor à natureza senão através de certo refinamento do seu espírito.

4.6) Conclusão.Como pudemos estudar, tanto o judaísmo como o cristianismo, traz

ensinamentos de respeito e preservação da natureza, da não agressão e convívio pacifico com todas as coisas do Universo, como ensinam a Torá e o Antigo e Novo Testamento. O judaísmo traz um aspecto mais prático com relação à preservação da Natureza devido às tradições rabínicas contido nas leis da Torá. Já o cristianismo traz um aspecto mais espiritual, pois as pregações de Jesus não falavam de ecologia explicitamente.

A idéia de senhor da Terra, feito à imagem e semelhança de Deus, com total “domínio” sobre todos os seres, levou a humanidade ao ponto em que se encontra hoje, de total deterioração do meio ambiente prestes a entrar em colapso, apesar dos livros sagrados pregarem o “domínio” no sentido de preservação, amor e respeito com a criação de Deus. Um dos princípios da moralidade ética é: “não destruir aquilo que não criamos”. A Torá está repleta de exemplos de preservação da natureza mesmo em tempos de guerra, do não desperdício, do descanso para a terra, da preocupação com a poluição do meio ambiente e da responsabilidade com as futuras gerações. No cristianismo, encontramos exemplos maravilhosos como o de São Francisco de Assis, que se identificou com a natureza, dos exemplos de Jesus Cristo quando falava dos pássaros e dos lírios do campo.

A espiritualidade surge nesse momento como ferramenta vital para uma correta visão da Natureza, Deus e o Homem. Um dos maiores legados éticos da tradição judaico-cristão reside neste preceito: “Ama o outro como a ti mesmo”. Podemos concluir que, é através da correta visão de Deus, através da elevação espiritual, da consciência de que tudo no mundo é uno, da verdadeira religiosidade no sentido de re-ligar a Deus, é que poderemos resgatar o modo de vida ecologicamente correto e dar um correto encaminhamento às questões da atualidade, em que o convívio e coexistência com a Natureza se tornaram fundamentais. Desse modo, quem sabe, possamos desfrutar um mundo sem guerras, e consolidar definitivamente a Paz entre os homens.

Finalizando, agradeço ao Supremo Presidente da Seicho-No-Ie, professor Masanobu Taniguchi, pelo direcionamento e pela orientação para que este trabalho fosse concluído a contento, e sinto-me profundamente grato pela oportunidade de poder participar do Curso Internacional da Seicho-No-Ie pela Paz Mundial – 2009.

Muito obrigado.

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Introdução (Eduardo Nunes da Silva)

Conforme publicado no Anuário Pontifício 2008 do Vaticano, hoje o islam é a maior religião do mundo, congregando mais de 1,3 bilhão de adeptos.

O Islam foi fundado na Península Arábica, pelo profeta Muhammad (570-632). Sua doutrina baseia-se no livro sagrado Alcorão e nos atos, ditos e ensinamentos de Muhammad.

Os muçulmanos crêem em cinco pilares fundamentais:

1. Testemunhar que “Não há outro deus senão Deus, e Muhammad é o mensageiro de Deus”;2. Orar cinco vezes em direção a Meca - berço do islamismo e lugar sagrado;3. Pagar o tributo, Zakat, que corresponde a 2,5% da renda anual do muçulmano, para caridade;4. Jejuar no mês de Ramadã, época em que comer, beber e manter relações sexuais são atividades proibidas entre a alvorada e o anoitecer;5. Fazer uma peregrinação a Meca pelo menos uma vez na vida, para aqueles que tem condições.A tradicional preocupação do Islam com a justiça social, cuidados para os pobres, com órfãos e viúvas tem uma relevância mais ampla que engloba a preocupação com o meio ambiente natural. Proteção do solo e tratamento adequado da biodiversidade estão atualmente sendo defendidas pelos fiéis e professores.

Paz Mundial, a questão energética e o mundo islâmicoNos países de maioria muçulmana estão concentradas algumas das mais importantes reservas energéticas do mundo, não só no Oriente Médio, mas também na Ásia Central e na região do Cáucaso.

Hoje, grupos islâmicos da Arábia Saudita e Irã, centros mais influentes no mundo islâmico, e fundamentalistas e radicais tentam influenciar os muçulmanos da região da Ásia Central e do Cáucaso, região emergente, que durante muito tempo teve importância apenas secundária na geopolítica internacional e também no mundo islâmico, mas que no futuro pode vir a ocupar uma posição de destaque diante da promessa representada pela região de reservas abundantes de gás e petróleo. A partir de 1991, com o fim da União Soviética, intensas batalhas nos campos político, diplomático, econômico e inclusive militar tem se verificado na região.Movimentos extremistas de países islâmicos se apropriam da religião para preencher os vazios de opções políticas e sociais e tentam aumentar seu poder político para estender a influência à Ásia Central e ao Cáucaso.

De acordo com especialistas, a era do petróleo já está chegando ao fim, com a chegada ao pico da produção prevista para os próximos 30 ou 35 anos. O que torna a questão ainda mais dramática e preocupante é que 4/5 das reservas de petróleo conhecidas estão em áreas disputadas ou politicamente instáveis como Golfo Pérsico, a Bacia do Mar Cáspio e os

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Bálcãs. À medida que o petróleo se torna uma riqueza escassa, aumenta o perigo de conflitos, não só envolvendo países das regiões produtoras, mas principalmente, as potencias mundiais, para garantir a continuidade de suas atividades econômicas e a manutenção de suas hegemonias políticas e econômicas, com total acesso a esses importantes recursos energéticos.

Princípios islâmicos, e sociedade industrial contemporâneaEm sua maior parte, a visão que o mundo ocidental associa às tradições abraâmicas do judaísmo, cristianismo e Islam é de terem criado uma moralidade predominantemente focada no homem. Uma vez que essa visão do mundo é fortemente antropocêntrica, a Natureza é vista como tendo importância secundária (TUCKER e GRIM, 2003).

Por outro lado, [...] “há ricos recursos para repensar a visão sobre a Natureza na tradição laica da Torá hebraica, na teologia sacramental, na cristologia internacional e no conceito do vice-regente (califa de Allah) constante no Alcorão”. Em nosso estudo, o que vai nos interessar é o conceito corânico do califa, ou vice-regente de Allah. “O conceito do homem como vice-regente de Deus na terra sugere que os seres humanos têm o privilégio especial, responsabilidade e obrigações perante a criação”.

Considerados como um todo, os países muçulmanos estão atualmente entre os mais pobres e menos desenvolvidos sobre a face da terra. Expectativa de vida, mortalidade materna e infantil, índice de alfabetização e renda são baixos na maioria dos países muçulmanos, e em alguns terrivelmente baixos.

Se estudamos a visão islâmica sobre a Natureza e sobre a relação da humanidade com o ambiente natural, bem como a maneira como a civilização islâmica clássica criou uma sociedade e, especialmente, ambientes urbanos em harmonia com a Natureza, quando comparados com a situação do mundo islâmico atual, torna-se evidente que nem os governos, nem as populações dos países muçulmanos, estão seguindo os princípios islâmicos na sua forma de tratar o meio ambiente natural.

Se os ensinamentos islâmicos valorizam grandemente a natureza como criação de Deus, por que razão os estados islâmicos, que se propõem a seguir os ensinamentos fielmente, optam por destruir a natureza?

1. As classes governantes no mundo islâmico têm procurado imitar o Ocidente em se tratando de questões de ciência e tecnologia.2. No atual período da história humana, a ordem do dia para as principais questões econômicas e sociais, incluindo as aplicações da ciência e da tecnologia, é fixada pelo Ocidente, enquanto o resto do mundo tenta de alguma forma proporcionar resposta com base nas suas próprias culturas3. Essas rápidas transformações são possíveis por parte daqueles que constituem a vanguarda [...]. Mas há apenas um pequeno número de muçulmanos nesse grupo de vanguarda, mas, a maioria deles só difere dos demais porque tem nomes muçulmanos.4. Em um nível mais prático, há o grande obstáculo da migração de grande número de pessoas do campo para áreas urbanas. [...] Desligados de seu meio tradicional, tornam-se pessoas desenraizadas, deslocadas não só no patamar humano, mas também em relação ao

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mundo natural. No ambiente urbano, normalmente empobrecidos e cercados de vários tipos de poluição, seu foco passa a ser apenas a sobrevivência de si próprios e de suas famílias, dando pouca atenção a outras coisas.5. Governos do mundo islâmico tem, obviamente, se confrontado com estas e muitas outras dificuldades sociais e econômicas que estão além de seu próprio poder de decisão.6. A natureza autocrática e, em alguns casos, ditatorial, dos regimes em muitos países islâmicosencaram os movimentos ambientais basados em princípios islâmicos como ameaça, se são empreitadas que se contrapõem a políticas e planos governamentais - muitos dos quais perigosos do ponto de vista ambiental.7. Curiosamente, os movimentos no mundo islâmico, que têm tentado reviver os ensinamentos islâmicos, muitas vezes em oposição à atual ordem política, foram em grande parte, cegos aos ensinamentos sobre o ambiente natural.8. Finalmente [...], a falta de sensibilidade e preparo dos estudiosos tradicionais [...] que são os guardiões do Islam e os ouvidores da maioria dos muçulmanos em todos os assuntos, incluindo as questões do meio ambiente. Estes estudiosos tradicionais devem tornar-se plenamente conscientes dos ensinamentos islâmicos sobre o meio ambiente e ter a disposição para falar a respeito e agir com coragem diante das considerações políticas imediatas e contingenciais

Princípios de sustentabilidade presentes no AlcorãoO texto corânico propõe um elenco de virtudes intelectivas, espirituais e morais, que incidem no comportamento humano”: Unidade (tawid), Criação (fitra), balança (mizan) e responsabilidade (khalifa).Tawid é importante porque mostra que Deus criou a todos de forma igual, com os mesmos direitos; fitra insiste uma vez mais na questão da criação e fala sobre a biodiversidade, além da necessidade de se conservar essa diversidade. Isso é reforçado no mizan e o khalifa e mostra a responsabilidade em preservar a criação, pois isso significa corresponder à vontade divina.- Princípio da unidade (tawid) – “Allah é o único, o sustentador (de todas as coisas); não gerou nem foi gerado” (Sura 112,1-2). Também: “A Deus pertence tudo o que há nos céus e sobre a terra: ele abrange todas as coisas” (Sura 4,126). Para o Islam, à unidade de Deus corresponde a unidade da criação: “(No princípio) céus e terra formavam um todo compacto” (Sura 21,30). Já que todos os seres provêm da ação criadora do único Deus, todos estão conexos entre si (MAÇANEIRO, 2008).

Esta colocação sobre tawid sem dúvida demonstra que todos são unos e iguais perante Deus, deixando claro que nós, seres humanos, não somos os “donos” dos demais seres vivos ou tudo mais que foi criado por Deus.

- Princípio da criação (fitra) – A diversidade das criaturas (biodiversidade, etnias, culturas) não determina nem maldade, nem oposição. O mal e os conflitos surgem por obra do egoísmo, da iniqüidade e da violência. Deus criou todas as coisas boas e interligadas (Idem).

O princípio de fitra confirma justamente essa questão da biodiversidade e simultâneamente aponta que a natureza criada por Allah é um mundo estável. Onde existe a estabilidade, logicamente, existirá a harmonia e essa harmonia deve ser comum a todos.

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- Princípio da balança (mizan) –Toda a criação tem uma ordem e um propósito estabelecidos pelo Criador, de modo que tudo se conecta num equilibrado movimento. O termo mizan (balança) ilustra o delicado equilíbrio da criação e apela à responsabilidade humana: nossa interferência na Natureza pode preservar ou destruir o que Deus criou.

O princípio de mizan e khalifa nos fazem entender que se toda criação tem uma ordem e um propósito estabelecido por Deus, estas criações não devem ser destruídas, e a responsabilidade cabe a nós, seres humanos, dentro da responsabilidade khalifa, pois somos os vice-regentes.

Cuidados no trato com a NaturezaO Alcorão exorta a tratar a terra com carinho e reconhece nisto um gesto de paz: “E os servos dO Misericordioso são os que andam, mansamente, sobre a terra, e, quando os ignorantes se dirigem a eles, dizem: ‘salam!’ ‘Paz!’. (Sunah 25: 63).

No Alcorão também encontramos os seguintes pontos referente a meio ambiente e sustentabilidade:- Ser grato pelas dádivas de Deus na criação: (sunah 36: 33-35).- Ser humilde: (sunah 50: 6-8 e sunah 41: 37).- Admitir a própria pequenez: (sunah 38: 9-10).- Praticar obras de caridade: (sunah 57: 1-7).- Praticar a justiça com os semelhantes: “E concede ao parente seu direito, e ao necessitado e ao filho do caminho. E não dissipeis teus bens exageradamente” (sunah 17: 26-29). - Ser reto no pensar e no agir: (sunah 79:26-41).- Cuidar a boa alimentação e da saúde: (sunah 2: 168-173).- Viver com generosidade: (sunah 2:96).- Evitar a avareza: (sunah 57: 23-24).- Evitar excessos: “E os que, quando despendem seus bens, não os esbanjam nem restringem, mas seu dispêndio está entre isso, ajustado.” (sunah 25: 67).- Pisar a terra pacificamente: (sunah 25: 63).- Amar e praticar a Verdade: (sunah 31: 17-20).

Responsabilidade perante a criação (o conceito de Califa)De acordo com o texto corânico, o homem é o legatário ou representante de Deus na terra “(Recorda-te ó Profeta) de quando teu Senhor disse aos anjos: vou instituir um legatário na terra!” (Sunah 2: 30).A humanidade tem a sagrada responsabilidade de zelar pelo meio ambiente. No Alcorão a humanidade foi nomeada califa (vice-regente) na terra. Para os fieis, esta função de califa é um compromisso sagrado, e é uma obrigação religiosa cumprir essa importante tarefa de zelar pelo meio ambiente.

Considerações finaisSegundo os princípios do Alcorão, a humanidade recebeu a responsabilidade sagrada de cuidar do meio ambiente e da Natureza. Deus (Allah) fez do homem o califa (vice-regente) da Terra. Nos textos corânicos quatro princípios, que são a Unidade (tawid), Criação (fitra), balança (mizan) e responsabilidade (khalifa), como enfatizados por Maçaneiro, formam a base da moralidade ecológica do Islam, demonstrando que o Alcorão ensina o cuidado com

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o meio ambiente e com a Natureza, a sustentação da biodiversidade e igualdade de direitos entre todos os seres que compõem a criação.Quando os seguidores do Islam atentarem ainda mais para o fato de que esses conceitos corânicos são mais do que figuras de retórica ou metáforas para uma vida simplesmente espiritual, mas que oferecem também uma linha de conduta para a vida prática tanto individual, quanto comunitária, as tensões existentes com o mundo ocidental de cultura judaico-cristã e, inclusive, entre as próprias seitas e escolas jurídicas do Islam, serão desfeitos pela força da idéia de igualdade de direitos. Ao mesmo tempo, passariam a concentrar esforços a partir de uma dimensão ética para a preservação da Natureza e solução dos problemas do meio ambiente, bem como dos problemas sociais e políticos, contribuindo decisivamente para a união dos povos e para a Paz Mundial, já que os muçulmanos são o maior grupo religioso do mundo.

9ª. aula: Cursistas respondem às perguntas de rádio (50´)

10ª. Aula: Campanha da 54ª. Festividade do Santuário Hoozo Esclarecer cada vez mais que o que o objetivo principal para fazermos os Registros

Espirituais é por amor e gratidão aos antepassados e não porque o fazendo, vai nos trazer prosperidade. (Livro Você Será Salvo Infalivelmente)

Incentivar as ALs a realizar campanhas para os pioneiros da cidade. Relembrar a importância do papel do Preletor na divulgação dos RE’s.

11ª. Aula Conclusiva – 35’ – Missão Sagrada, a nossa retribuição a Deus(Utilizar Livro Chave da Provisão Infinita)