Curso Psicologia Da Educação

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1 Seja Bem Vindo! Curso Psicologia da Educação Carga horária: 60hs

Transcript of Curso Psicologia Da Educação

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    Seja Bem Vindo!

    Curso

    Psicologia da Educao

    Carga horria: 60hs

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    Dicas importantes

    Nunca se esquea de que o objetivo central aprender o contedo, e no apenas terminar o curso. Qualquer um termina, s

    os determinados aprendem!

    Leia cada trecho do contedo com ateno redobrada, no se deixando dominar pela pressa.

    Explore profundamente as ilustraes explicativas disponveis, pois saiba que elas tm uma funo bem mais importante que

    embelezar o texto, so fundamentais para exemplificar e melhorar

    o entendimento sobre o contedo.

    Saiba que quanto mais aprofundaste seus conhecimentos mais se diferenciar dos demais alunos dos cursos.

    Todos tm acesso aos mesmos cursos, mas o aproveitamento

    que cada aluno faz do seu momento de aprendizagem diferencia os

    alunos certificados dos alunos capacitados.

    Busque complementar sua formao fora do ambiente virtual onde faz o curso, buscando novas informaes e leituras extras, e quando necessrio procurando executar atividades prticas que

    no so possveis de serem feitas durante o curso.

    Entenda que a aprendizagem no se faz apenas no momento em que est realizando o curso, mas sim durante todo o dia-a-dia. Ficar atento s coisas que esto sua volta permite encontrar

    elementos para reforar aquilo que foi aprendido.

    Critique o que est aprendendo, verificando sempre a aplicao do contedo no dia-a-dia. O aprendizado s tem sentido

    quando pode efetivamente ser colocado em prtica.

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    Contedo

    Introduo

    Histrico da Psicologia da Educao

    Psicologia e Desenvolvimento Humano

    Psicologia da Educao: Principais Abordagens Psicolgicas

    Distrbios de Aprendizagem, Diagnstico e Tratamento

    A Funo do Psiclogo na Educao

    Conhecimento Psicolgico aplicado Atividade Educativa Pedaggica

    tica em Psicologia

    Bibliografia/Links Recomendados

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    Introduo

    A Psicologia: uma breve retrospect iva de sua evoluo histrica A Psicologia, enquanto tentativa de conhecer o comportamento humano, tem sido atravs dos tempos uma atividade natural do ser humano, praticada informal e assistematicamente no cotidiano das pessoas, nas situaes mais curiosas e com vrios sentidos.

    Estamos a falar da chamada Psicologia do senso comum, resultado das experincias de vida dos homens em geral, e que, por isso mesmo, na maior parte das vezes se constitui de erros e acertos. J a Psicologia enquanto cincia que busca compreender o processo evolutivo e o comportamento do ser humano tem sua origem inegavelmente nas especulaes mais remotas, emergidas do dia-a-dia do senso comum, para uma atividade mais sistemtica, mais racional, profundamente influenciada pela viso de mundo do investigador, pelo seu sistema de crenas e valores a Filosofia.

    Muitas e significativas foram s influncias da Filosofia no processo de cientificao da Psicologia, as quais sero, por ns, oportunamente estudadas.

    >DEFINIO DE PSICOLOGIA O termo Psicologia tem origem grega, sendo derivado da juno de duas palavras - Psych e logos - significando o estudo da mente ou da alma. Mas, vejamos: como se define Psicologia?

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    Em meio a uma gama variada de definies, hoje, define-se Psicologia como a cincia que estuda o comportamento e os processos mentais do ser humano.

    Embora ainda existam controvrsias entre os tericos a respeito de ter ou no alcanado um estatuto de cincia, j claro, entretanto, que a Psicologia j unanimemente reconhecida na cultura ocidental contempornea. , pois, a atividade humana de busca do conhecimento sobre a realidade do ser humano, de forma metodolgica e sistemtica, ordenada e orientada pelo uso da razo e de um mtodo caracterizado como cientfico, para a construo de um corpo coerente e coeso de informaes verdadeiras sobre o homem, seu objeto de estudo.

    Pense conosco: Conceber que a Psicologia evoluiu e evolui atravs dos tempos, tambm implica reconhecer que ela tambm construiu uma evoluo cientfica. Isto quer dizer que hoje existem mtodos especficos de seu domnio, para o estudo de seu objeto, o qual tambm j est definido, recortado da realidade como um objeto determinado e delimitado o homem, seu comportamento e sua subjetividade. Posto isto, no h como negarmos que o objeto de estudo da Psicologia, por sua prpria natureza e essncia, amplo, em possibilidades, traando para a Psicologia, por sua vez, um mbito de atuao que cobre um amplo espectro de assuntos.

    O OBJETO DE ESTUDO dessa cincia admite: >as funes bsicas do comportamento humano (aprendizagem, memria, linguagem, pensamento, emoes e motivaes);

    >questes sociais, tpicas da natureza gregria e das formas de vida social do Ser humano;

    >os ciclos de vida e os aspectos do processo de desenvolvimento do Ser humano;

    >a sade, suas perturbaes e as patologias apresentadas pelo Ser humano, bem como pelas organizaes humanas.

    INFLUNCIAS FILOSFICAS SOBRE A PSICOLOGIA

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    Agora, como combinado antes, vamos ver brevemente em que termos a Filosofia e a Psicologia se relacionaram.

    Os antecedentes da Psicologia moderna apontam para uma forte tradio filosfica em sua origem. Desde a Antigidade, os filsofos se ocuparam com os mesmos questionamentos, as mesmas reflexes acerca da natureza do ser humano, os quais permanecem sendo investigados pelos psiclogos at hoje.

    Contudo, a distino significativa entre a Psicologia moderna e seus antecedentes filosficos aponta para a abordagem metodolgica e as tcnicas empregadas, por uma e por outra, no estudo da natureza humana.

    Vejamos:

    Desde a Antiguidade Clssica at o ltimo quarto do sculo XIX, os filsofos preocupavam-se em estudar a natureza humana e para isso empregavam como mtodo a especulao, a intuio e a generalizao baseadas em sua limitada experincia sensorial.

    J no sculo XVII, a filosofia que iria alimentar a nova Psicologia estava impregnada do esprito do mecanicismo, o qual concebia o universo como uma grande mquina. Segundo essa doutrina, todos os processos naturais podem ser explicados pelas leis da fsica, porque so mecanicamente determinados.

    Como era, ento, o panorama dessa poca?

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    A cincia se desenvolvia, mtodos eram descobertos, lado a lado com os avanos alcanados pela tecnologia.

    A observao e a experimentao tomavam as marcas distintivas da cincia, seguidas de perto pela medio. S era considerado Cientfico aquilo que pudesse seer mensurado. A Fsica, ento conhecida como Filosofia Natural, serviu de modelo orientador para os estudos psicolgicos.

    O fsico ingls Robert Boyle, o astrnomo alemo Johannes Kepler e o filsofo francs Ren Descartes reafirmam o modelo mecanicista, que traz em si a idia do determinismo (todo ato determinado por eventos passados).

    Do determinismo decorre naturalmente a previsibilidade dos fenmenos, e isso autoriza os cientistas a adotarem o reducionismo como mtodo de anlise caracterstico de todas as cincias em desenvolvimento, inclusive a nova Psicologia.

    Sugesto: Pesquise um pouco mais sobre Mecanismo; Determinismo e Reducionismo. PRIMEIRAS ABORDAGENS TERICAS DA PSICOLOGIA MODERNA Vimos que, a partir do sculo XVII, o mundo se organizava em torno de novas concepes, novos valores, um novo paradigma. Fcil perceber que uma nova Psicologia tambm estava sendo germinada, e que para ser reconhecida e instituda teria que adotar os mesmos mtodos utilizados para o estudo do universo fsico, para explorar, estudar e prever os processos e o comportamento humano. Esses mtodos, considerados eficazes, eram experimentais e quantitativos.

    Para refletir... Voc v possibilidades de se estudar a variedade de comportamentos de crianas

    na escola apenas por rmtodos quantitativos? Ao longo da histria, o conhecimento at ento obtido por esses mtodos, os conceitos, a viso que se tinha das coisas, os dogmas filosficos e teolgicos do passado que vinculavam a cincia passaram a ser questionados, gerando um processo de mudana que vai dar lugar ao domnio do empirismo. O Empirismo, diferente do racionalismo, afirma que todo conhecimento adquirido pela percepo do mundo externo ou pelo exame da nossa atividade mental, reconhecendo a experincia como nica fonte vlida de conhecimento.

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    A histria da Psicologia se confunde nos seus primrdios com a Filosofia. No se pode negar que diversos filsofos contriburam na elaborao de questes que se fizeram muito importantes para esta mudana de paradigma.

    Dentre estes filsofos destaca-se a contribuio de Ren Descartes para o surgimento da Psicologia Cientfica, afastando-a dos dogmas teolgicos e tradicionais rgidos que dominaram o conhecimento, especialmente na Idade Mdia.

    Dentre muitas, a maior contribuio de Descartes para a Histria da Psicologia Moderna foi a tentativa de resolver o problema corpo-mente que era uma questo controvertida e que perdurava desde o tempo de Plato, quando a maioria dos pensadores deixou de adotar uma viso monista (mente e corpo era uma s entidade) e adotaram essa viso dualista (mente e corpo eram de naturezas distintas).

    A viso dualista sobre a relao mente e corpo implicava numa outra questo:

    Saber qual a relao entre mente e corpo. A mente e o corpo influenciam-se mutuamente ou s a mente influencia o corpo conforme se pensava at ento?

    Descartes responde a essa questo com a Teoria do interacionismo mente-corpo, segundo a qual mente e corpo, apesar de serem duas entidades distintas, so capazes de exercer influncias mtuas e interatuar no organismo humano.

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    Ele concluiu que a razo mediava todas as relaes objeto/sujeito, e s atravs dela que se pode chegar verdade sobre as coisas. Fez severa crtica ao sensualismo, afirmando que os sentidos poderiam enganar. Descartes fez uma passagem pela histria da Psicologia que fica inscrita. Aps ele, a cincia moderna e a Psicologia se desenvolveram rapidamente e em meados do sculo XIX o pensamento europeu foi impregnado por um novo esprito: o Positivismo.

    Agora responda:

    Quem o pai do Positivismo? Dica: Este filsofo se limitou apenas a fatos cuja verdade estava acima de qualquer suspeita, ou seja, que poderiam ser comprovados cientificamente, que poderiam ser observados e eram indiscutveis.

    J sabe?

    Voc sabia que... Nos alicerces filosficos de uma nova Psicologia estavam o Positivismo, o Materialismo e o Empirismo e da tinha-se um panorama de idias onde se entendia que os fenmenos psicolgicos eram constitudos de provas factuais, observacionais e quantitativas, e eram sempre baseados na experincia sensorial. Por muito tempo, a Psicologia tinha sido considerada puramente mecanicista. Posteriormente, o esprito materialista gerou idias de que a conscincia poderia ser explicada atravs e em termos da Fsica e da Qumica e os pesquisadores se concentraram na estrutura anatmica e fisiolgica do crebro.

    Para saber mais, acesse:

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    http://www.marxists.org/portugues/wallon/1942/psicologiematerialismodialetico.htm

    Sugesto: PESQUISE UM POUCO MAIS SOBRE POSITIVISMO; MATERIALISMO E EMPIRISMO.

    A Origem da Psicologia Cientfica Ainda tentando contextualizar essa evoluo histrica da Psicologia, voc no pode desconsiderar que, como todos os acontecimentos humanos, a constituio do referencial cientfico esteve, como est, diretamente correlacionada com as necessidades da humanidade.

    Tambm natural conceber que, subjacente ordem econmica e social, est sempre um sistema de pensamento, de valores e assim, contemporneo ao surgimento e desenvolvimento da cincia, desenvolvia-se um novo sistema de pensamento, que poderia ser sintetizado assim:

    -o homem passou a ser concebido como um ser livre, capaz de construir seu futuro;

    -os dogmas da Igreja foram questionados;

    -o conhecimento tornou-se independente da f;

    -a racionalidade do homem apareceu, ento, como a grande possibilidade de construo do conhecimento.

    Estavam dadas as condies materiais para o desenvolvimento da cincia moderna. As idias dominantes no panorama da cincia moderna podem ser assim traduzidas:

    -o conhecimento fruto da razo;

    -a possibilidade de desvendar a Natureza e suas leis pela observao rigorosa e objetiva;

    -a busca de um mtodo rigoroso, que possibilitasse a observao para a descoberta dessas leis;

    -a necessidade (decorrente) de os homens construrem novas formas de produzir o conhecimento.

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    Ouvindo falar tanto em cincia voc deve estar a se perguntar o que isso tem a ver com a Psicologia. Em verdade, a Psicologia cientfica como tal no escapa das influncias desse movimento histrico da cincia em geral. Especificamente, algumas descobertas no campo da Fisiologia, Neuroanatomia e Neurofisiologia so bastantes relevantes para o avano da prpria Psicologia cientfica. A participao decisiva de Wilhelm Wundt ao desenvolver a noo do paralelismo psicofsico, criar o mtodo do introspeccionismo e, na Alemanha, na Universidade de Leipzig,o primeiro laboratrio de Psicofisiologia, o que lhe fez merecer o ttulo de Pai da Psicologia Cientfica.

    Por qu? Porque ele quem, nos primeiros anos da evoluo da Psicologia como disciplina cientfica distinta, influencia essa nova cincia e determina seu objeto de estudo, seu mtodo de pesquisa, os tpicos a serem estudados e seus objetivos.

    O bero da Psicologia Cientfica , portanto, a Alemanha do final do sculo XIX.

    A Psicologia cientfica nasce quando, no sculo XIX, Wundt preconiza a Psicologia sem alma e passa a ligar-se s especialidades da Medicina, adotando o mtodo de investigao das cincias naturais como critrio rigoroso de construo do conhecimento.

    J vimos que a Psicologia Cientfica vai se libertando da Filosofia, e isso se d medida que define seu objeto de estudo, delimita seu campo de estudo, diferenciando-o de outras reas do conhecimento, formula mtodos de estudo prprios para seu objeto prprio de estudo e formula teorias, que vo constituir um corpo consistente de conhecimento, com autonomia metodolgica, e assim galga o estatuto de Cincia.

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    O Funcionalismo pode ser considerado a primeira sistematizao de conhecimentos em Psicologia, uma Psicologia que por ser construda numa sociedade pragmtica, est voltada para seu desenvolvimento econmico, e preocupa-se em responder o que fazem os homens e por que o fazem. Os estudos funcionalistas elegeram a conscincia como o centro de suas preocupaes e traaram como objetivo a busca pela compreenso de seu funcionamento.

    O Estruturalismo - um sistema de pensamento que tambm se volta para a compreenso do mesmo fenmeno que o Funcionalismo: a conscincia. Mas, Titchner prope, contudo, que se estude a conscincia em seus aspectos estruturais, isto , os estados elementares da conscincia tomados como estruturas do sistema nervoso central, adotando o mesmo mtodo de observao de Wundt, o introspeccionismo. Ainda uma noo estruturalista a de que todos os conhecimentos psicolgicos so eminentemente experimentais, produzidos em pesquisas de laboratrio.

    Edward L. Thorndike

    Principal representante da escola associacionista, foi o responsvel pela formulao da

    primeira teoria de aprendizagem na Psicologia. Sua produo de conhecimento se

    dava em torno da viso de utilidade deste conhecimento, muito mais do que por questes

    filosficas, como sempre ocorrera na Psicologia. O termo associacionismo origina-se da concepo de que a aprendizagem se d por um processo de associao das idias das mais simples s mais complexas, de modo que a aprendizagem de um contedo complexo, requer primeiro o aprendizado de idias mais simples, que estariam associadas quele contedo.

    Thorndike ainda formulou tambm a Lei do Efeito, que viria a ser de grande utilidade para a Psicologia Comportamentalista e de acordo com a qual, todo comportamento de um organismo vivo (um homem, um rato etc.) tende a se repetir, se for recompensado (efeito) assim que emitir o comportamento. Por outro lado, o comportamento tender a no acontecer, se o organismo for castigado (efeito) aps sua ocorrncia. Pela Lei do Efeito, o organismo ir associar essas situaes com outras semelhantes, generalizando essa aprendizagem para o contexto maior da vida.

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    As trs escolas Associacionismo, Estruturalismo e Funcionalismo da Psicologia Cientfica constituram-se emmatrizes para o desenvolvimento de outras abordagens tericas, no sculo XX, dentre as quais as trs mais importantes so: o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanlise que ns vamos conhecer mais, em breve. Por ora, importa a voc saber desde j:

    O Behaviorismo uma teoria tambm conhecida como Teoria S-R (Estmulo-Resposta), nasceu com John Watson, psiclogo americano, e teve um desenvolvimento grande nos Estados Unidos, em razo de sua aplicabilidade prtica. Sua contribuio mais importante foi definio do fato psicolgico, de modo concreto, a partir da noo de comportamento (behavior). Essa tendncia terica, por esse motivo, foi designada como Behaviorismo, ou tambm, Comportamentalismo, Teoria Comportamental, Anlise Experimental do Comportamento, Anlise do Comportamento. Atualmente, entende-se o comportamento como uma interao entre aquilo que o sujeito faz e o ambiente, ou seja, o comportamento no mais visto como uma ao isolada. As interaes entre o ambiente (as estimulaes) e as aoes do indivduo (suas respostas), so objetos de estudo do Behaviorismo.

    Saiba mais...

    O mais importante dos behavioristas que sucederam Watson foi B. F. Skinner (1904-1990), cuja produo terica tem, at hoje, influenciado muito a Psicologia americana e a Psicologia dos pases onde esta tem grande penetrao, como o Brasil. Conhecida por BEHAVIORISMO RADICAL, termo cunhado pelo prprio Skinner, em 1945, para designar uma filosofia da Cincia

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    do Comportamento (que ele se props defender) por meio da Anlise Experimental do Comportamento, tem sua base terico-conceitual na formulao do comportamento operante.

    O Condicionamento operante a modificao do comportamento (reaes e aes de do ser humano), atravs do controle das consequncias que se seguem a um determinado comportamento.

    A Gestalt Diferentemente do Behaviorismo, tem seu bero na Europa, onde surge para negar e combater a fragmentao das aes e processos humanos, nos estudos realizados pelas tendncias da Psicologia cientfica do sculo XIX.

    Teve como postulado principal a necessidade de se compreender o homem como uma totalidade, e a tendncia terica do sculo XX mais ligada Filosofia, alm de se apresentar como uma das tendncias tericas mais coerentes e coesas da histria da Psicologia.

    Tem na noo de percepo o ponto de partida e tambm um dos temas centrais de suas investigaes e postulaes tericas. A forma como o indivduo percebe os processos, so dados importantes para a compreenso do comportamento humano.

    Defende a idia de que o comportamento deve ser estudado nos seus aspectos mais globais, levando em considerao as condies que alteram a percepo do sujeito.

    Saiba mais... Gestalt um termo alemo de difcil traduo em nossa lngua, na qual o termo mais prximo seria forma ou configurao. Esses termos, entretanto, no so empregados por no corresponderem exatamente ao seu real significado em Psicologia. Max Wertheimer (1880-1943), Wolfgang Khler (1887-1967) e Kurt Koffka(1886-1941), so representantes de peso desta teoria. Eles se ocuparam em seus estudos de tentar compreender quais os processos psicolgicos envolvidos na percepo.

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    A Psicanlise uma teoria nascida do trabalho de Sigmund Freud (1856- 1939), na ustria, a partir de sua prtica mdico-clnica, e traz para a Psicologia uma grande contribuio que consiste em ter recuperado a importncia da afetividade.

    Tem como grande inovao a elaborao do conceito de inconsciente, tomado como seu objeto de estudo, e a descoberta da sexualidade infantil, rompendo assim com a tradio da Psicologia, at ento definida como a cincia da conscincia e da razo. Continuando seus estudos, FREUD formula A Segunda Teoria do Aparelho Psquico, introduzindo os conceitos de ID, EGO e SUPEREGO, referindo-se aos trs sistemas da personalidade.

    Voc sabia que...

    Hoje a prtica psicanaltica avana alm dos limites do consultrio clnico,

    constituindo-se, em verdade, num discurso que pode evidenciar-se na prtica

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    teraputica, de orientao, de aconselhamento educacional, formao de

    professores, psicopedagogos etc., bem como de estudo, anlise e compreenso da

    realidade social, como tambm de interveno nas organizaes sociais?

    O termo Psicanlise tambm usado para referir-se a um mtodo de investigao e

    uma prtica profissional. Por fim, perfazendo a linha histrica de evoluo da Psicologia cientfica, temos evidente que no panorama atual da Psicologia, vrias e diversificadas abordagens psicolgicas tm espao, como frutos de questionamento, reelaborao e evoluo das matrizes tericas da Psicologia: o Behaviorismo, a Gestalt e a Psicanlise.

    Assim, sinteticamente teramos:

    1 - Do Behaviorismo, o surgimento das abordagens do Behaviorismo Radical (B. F. Skinner) e do Behaviorismo Cognitivista (A. Bandura e, atualmente, K. Hawton e A. Beck). 2 - O quase desaparecimento da Gestalt, enquanto teoria psicofisiolgica. Entretanto, a tradio filosfica que a fundamenta a Fenomenologia avanou por caminhos diferentes, dentre eles o de associar-se ao campo daPsicologia Existencialista, configurando contemporaneamente uma vertente da Psicologia que se volta para discutir as bases da conscincia atravs dos ensinamentos de Jean Paul Sartre. 3 - Da Psicanlise originaram-se inmeras abordagens, como a Psicologia Analtica (Cari G.Jung) e a Reichiana(W. Reich) dissidncias que construram corpos prprios de conhecimento; e a Psicanlise Kleiniana (MelanieKlein) e a Psicanlise Lacaniana (J. Lacan), que deram continuidade teoria freudiana. 4 - Na Psicanlise, a histria do sujeito singular e cada palavra, expresso ou simbolgica, tem um significado nico que diz respeito a histria pessoal de cada um.

    Psicologia da Educao: origem e evoluo histrica Aps essa viso panormica da Psicologia Cientfica, campo de onde se especializa a Psicologia da Educao, iremos falar sobre esse mbito ou rea de atuao que assim se intitula: a Psicologia da Educao.

    Como voc acha que surgiu a Psicologia da Educao? Vejamos:

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    Como resultado natural do esforo empreendido por muitos psiclogos e pedagogos, interessados em aplicar o conhecimento, os princpios, as explicaes e os mtodos da Psicologia, sobre um campo particularmente importante e controvertido, o campo das prticas educativas em geral e, em particular, da educao escolar, a Psicologia da Educao foi se delineando como campo especfico e individualizado da Psicologia cientfica.

    Assim, parece lgico que como fruto do trabalho de psiclogos e pedagogos, a histria da origem e da evoluo da Psicologia da Educao confunde-se com a histria da prpria Psicologia cientfica, por um lado, e com a evoluo do pensamento educativo, por outro. Vejamos:

    At o final do sculo XIX as relaes entre Psicologia e Educao eram mediadas pela Filosofia, no se podendo falar de uma Psicologia da Educao, pelo menos at os idos de 1890.

    Nessa poca, a teoria educativa vigente era a das faculdades ou funes cognitivas. Talvez voc no saiba, mas remonta a essa poca e a esse fato a justificativa para o emprego do mtodo da disciplina formal, que, orientado pela principal finalidade de exercitar as faculdades humanas dos alunos - inteligncia, memria, raciocnio, ateno, concentrao, imaginao etc. - priorizou os contedos.

    Voc j viu que no sculo XIX, a Psicologia comea a se distanciar e a ganhar autonomia da Filosofia.

    Em sntese, era do mbito investigativo da Psicologia da Educao o conhecimento sobre

    a criana que a Cincia produzira, de modo que as diferenas individuais pudessem ser

    reconhecidas, estudadas e consideradas na anlisedos processos de ensino

    aprendizagem, e para, alm disso, ainda importava elaborar testes psicolgicos que se

    prestassem como instrumentos de medio, de quantificao dessas diferenas. Ora, o mesmo ocorre com a teoria educativa, que passou a buscar uma fundamentao cientfica para si mesma.

    Esse o contexto de nascimento da Psicologia da Educao, cronologicamente em torno da primeira dcada do sculo XX. Uma rea historicamente recente, portanto.

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    Todas as abordagens investigativas da Psicologia so consideradas potencialmente teis para a educao.

    A Psicologia da Educao se delineia e caracteriza como uma rea para onde convergem interesses e questionamentos sobre a aprendizagem e tudo quanto correlacionado, direta ou indiretamente, problemtica educativa e escolar. Contudo, trs campos de interesse se sobressaem, constituindo-se no ncleo da Psicologia da Educao: -o estudo e a mensurao das diferenas individuais, bem como as mudanas de comportamento do sujeito, vinculadosa sua participao em situaes educativas;

    -a anlise dos processos de aprendizagem, desenvolvimento e socializao;

    -desenvolvimento infantil.

    Natureza, dimenso epistemolgica, fundamentos cientficos, objetos de estudo e

    contedos da Psicologia da Educao

    Pela sua prpria natureza e origem, hbridas, os especialistas da Psicologia da Educao giram em torno de divergncias quanto s consideraes sobre sua autonomia epistemolgica.

    Existem basicamente trs correntes ou posicionamentos, a esse respeito: 1. a Psicologia da Educao entendida como mera etiqueta de designao para o corpo de explicaes e princpios psicolgicos pertinentes e relevantes educao e ao ensino, no tendo autonomia didtica. Essa corrente de especialistas entende que Psicologia da Educao apenas a terminologia empregada para designar o corpo de princpios e explicaes alcanados pela Psicologia, decorrente de uma seleo de conceitos prprios de outros segmentos do saber psicolgico, como a Psicologia da Aprendizagem, do Desenvolvimento etc., aplicveis situao educativa;

    2. a Psicologia da Educao entendida como uma disciplina com autonomia cientfica e didtica, uma vez que tem j determinados objetivos e contedos, bem como programas de pesquisa prprios, e realiza contribuies originais e significativas para a situao educativa, extrapolando a mera aplicao dos princpios psicolgicos aos fenmenos educativos;

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    3. a Psicologia da Educao entendida como uma disciplina ponte, com um objeto de estudo, alguns mtodos, marcos tericos e conceitos prprios, caracterizando-se como uma disciplina de natureza aplicada.

    Para refletir...

    O que se pode entender por uma disciplina ponte?. A Psicologia da Educao, em razo de sua natureza e, em face da dimenso dos resultados de suas pesquisas e estudos, do valor e do alcance objetivo dos mesmos para a prtica educativa pedaggica, tem sido reconhecida como disciplina psicolgica

    e educativa de natureza aplicada (disciplina ponte). OBJETIVOS DE ESTUDO DA PSICOLOGIA DA EDUCAO A Psicologia da Educao tem estudado os processos educativos orientada por objetivos que podem ser considerados e configurados numa trplice dimenso:

    -dimenso Terica ou Explicativa estudam-se os processos educativos com o objetivo de contribuir para a elaborao de uma teoria explicativa destes processos;

    -dimenso Projetiva ou Tecnolgica estudam-se os processos educativos com o objetivo de elaborar modelos e programas de interveno voltados para a prxis educativa;

    -dimenso Prtica ou Aplicada estudam-se os processos educativos com o objetivo de colaborar para a construo de uma prxis educativa coerente com as propostas tericas formuladas.

    OBJETOS DE ESTUDO E OS CONTEDOS DA PSICOLOGIA DA EDUCAO Vamos pensar mais um pouco sobre as conseqncias para a Psicologia da Educao de ser ela classificada como uma disciplina-ponte, de natureza aplicada.

    Dessa classificao, em verdade, decorrem algumas situaes:

    A definio de seu objeto de estudo: os processos de mudana comportamentais

    provocados ou induzidos nas pessoas, como resultado de sua participao em atividades

    educativas. A sistematizao dos fatores ou variveis interferentes nas situaes educativas (direta ou indiretamente) em dois grupos, a saber:

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    Como voc pode vislumbrar, a partir do quanto at aqui falado, muitos so os aspectos estudados pela Psicologia da Educao, e muitas so as contribuies que dela podem advir para o profissional de educao.

    A ao exige essa reflexo e a porta foi aberta!

    HISTRICO DA PSICOLOGIA DA EDUCAO Nesta lio faremos um resgate histrico da Psicologia da Educao. Ao fazer esse percurso, olharemos para os diferentes contextos em que os pesquisadores/autores dessa rea atuaram, bem como, as semelhanas e divergncias de ideias entre alguns deles.

    A Psicologia da Educao surgiu com a responsabilidade de ajudar a Educao a se tornar mais efetiva no que diz respeito ao planejamento e ao desenvolvimento das prticas de ensino. Neste mbito, a Psicologia como cincia poderia ter seus conhecimentos sobre desenvolvimento humano, comportamento humano aplicados Educao (COLL et al., 1999).

    Muitas lacunas ainda precisam ser preenchidas sobre a histria da Psicologia da Educao, porm o que se nota ao estud-la que a histria da Psicologia da Educao se confunde com a prpria histria da Psicologia Cientfica (COLL et al., 1999).

    A Psicologia Cientfica surge na Alemanha, porm, nos Estados Unidos, ela cresce notadamente. Trs abordagens do origem s

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    diversas psicologias existentes at hoje: Funcionalismo (W. James); Estruturalismo (Titchener, que era discpulo de Wundt); Associacionismo (Thorndike).

    Vamos ler agora sobre o que aconteceu nessa rea do conhecimento em alguns perodos histricos especficos.

    1.2.1 At por Volta de 1890 Nesse perodo predomina a Psicologia Filosfica, por isso no se pode falar ainda em Psicologia da Educao. Na Psicologia Filosfica uma teoria que se destacava era a teoria das faculdades e esta influenciou fortemente os trabalhos no campo educacional. Na teoria das faculdades o pensamento e a realidade so correspondentes e isso estaria na origem de todo o conhecimento (COLL et al., 1999).

    Podemos citar alguns filsofos dos sculos XVI e XVII que ficaram bastante conhecidos, como o caso de Bacon, Descartes e Jonh Locke, este ltimo, em 1690, afirmou que as sensaes so fontes de todo o conhecimento e que a mente era um mapa plano que recebia as impresses que viriam dos sentidos. Esses filsofos tiveram grande influncia sobre as ideias que compunham a teoria das faculdades (COLL et al., 1999).

    De acordo com essa teoria, o aluno deve aprender as representaes simblicas (linguagem escrita e matemtica, por exemplo) que descrevem a realidade. Conclui-se, portanto, que, nesta teoria, a finalidade da Educao seria fazer com que os alunos exercitassem as diferentes faculdades mentais (ateno, raciocnio, memria etc.) (COLL et al., 1999).

    A partir do sculo XIX, a principal influncia foi do filsofo Herbart, o qual afirmava que a Educao era uma aplicao prtica da Filosofia. O referido autor prope que a filosofia moral deveria estabelecer os objetivos da Educao e a Psicologia teria a funo de oferecer os meios para que se alcanassem esses objetivos (mtodo). de sua autoria a teoria da apercepo da aprendizagem, teoria esta baseada nos princpios da associao e na teoria das faculdades e que afirmava que o homem teria uma tendncia autoconservao da psique e agiria a partir dessa tendncia (COLL et al., 1999).

  • 22

    Pode-se sintetizar a ideia central da teoria aperceptiva da aprendizagem da seguinte forma:

    Ideias + sensaes = massa aperceptiva (conjunto de representaes) do indivduo. Essa massa influencia as experincias posteriores do indivduo (COLL et al., 1999).

    De acordo com essa teoria, a mente tinha faculdades que nasciam com o sujeito, por exemplo, percepo e memria, e estas faculdades deveriam ser treinadas por meio da repetio. Apesar de esse perodo ter sido marcado pela teoria das faculdades, essa teoria sofreu crticas ainda nesse perodo. J. F. Herbart foi um dos que criticaram a teoria das faculdades mentais (CARVALHO, 2002).

    Esse autor acreditava que era importante a explicao cientfica da aquisio do conhecimento, da vida mental. Enfatizava ainda que a compreenso dessa aquisio e do funcionamento da vida mental contribuiria para uma prtica pedaggica cientfica, com mtodos cientficos (CARVALHO, 2002).

    1.2.2 1890 1920 No incio do sculo XX surge a Psicologia Cientfica, acontecendo ento uma separao entre a Psicologia e a Filosofia. Esta nova cincia se utiliza de mtodos experimentais das cincias fsicas e naturais (COLL et al., 1999).

    Vamos citar agora alguns autores dessa poca e que tiveram grande importncia para a Psicologia:

    a) J. M. Cattell (1860 1944): Trabalhou no Laboratrio fundado por Wundt (Laboratrio de Psicologia Experimental de Leipzig). Tambm trabalhou na Universidade da Pennsylvania (Estados Unidos). Construiu diversos testes mentais e pensava na aplicao da Psicologia em diversos campos, entre eles a Educao. Este autor tambm foi o idealizador do ensino da leitura por meio de palavras simples e no mais por intermido da silabao (COLL et al., 1999). b) John Dewey (1859 1952): Este autor concordava com Herbart que o ensino deve ser intencional e com mtodos baseados nos conhecimentos cientficos e, em consonncia com essa ideia, afirma a importncia do professor. Contudo, apesar de apontar para a importncia do mtodo, destaca que a criana ativa no processo de aprendizagem. Para ele, a finalidade da Educao

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    fruto da reorganizao que o indivduo faz de suas experincias (COLL et al., 1999). c) Willian James (1842 1910): Era mdico e sua obra mais importante foi Talks to teachers on psychology and to students on some of lifes ideals, apresentada em 1899. Teve grande influncia na teoria educativa dos Estados Unidos no final do sculo XIX e no incio do sculo XX. Sua obra est nas bases da Psicologia Funcional (COLL et al., 1999). d) G. Stanley Hall (1844 1924): Foi um grande pesquisador sobre a Psicologia da criana e foi quem divulgou o questionrio para analisar/avaliar o pensamento infantil nos Estados Unidos. Acreditava que o desenvolvimento dos indivduos era uma recapitulao da evoluo biolgica. Defendia que a Educao deveria conhecer os nveis de desenvolvimento dos alunos, bem como suas necessidades, e isto deveria ser o ponto de partida da Educao (COLL et al., 1999). No incio do sculo XX, um acontecimento foi extremamente importante para a Educao e, consequentemente, para a Psicologia da Educao. Nesse momento, os pases desenvolvidos tornam a escolarizao obrigatria para toda populao e, alm de obrigatria, era necessrio tornar a Educao de qualidade (COLL et al., 1999).

    Nesse contexto, esperava-se que a Psicologia ajudasse a aumentar a qualidade da Educao e, nesse momento, surge formalmente a Psicologia da Educao. Essa rea da Psicologia ficou responsvel por pensar e realizar testes mentais, intervenes para modificar o comportamento dos alunos, pesquisas sobre desenvolvimento e aprendizagem e tambm por fazer clnica escolar. Nota-se que a Psicologia da Educao era uma tentativa de aplicar os conhecimentos da Psicologia Educao. Autores como E. L. Thorndike, C. H. Judd, W. T. Harris, W. H. Pyle, J. Welton, K. M. Gordon falaram, nessa poca, sobre a finalidade da Psicologia da Educao (COLL et al., 1999).

    No ano de 1910 lanada a primeira revista de Psicologia da Educao Journal of Educational Psychology, Including Experimental Pedagogy Child Psychology and Hygiene and Educational Statistics (COLL et al., 1999). Desenvolvimento mental, estudos das diferenas individuais (baixo nvel intelectual e alto nvel intelectual), problemas de desenvolvimento mental, testes mentais, mtodos de ensino especializados para cada etapa do desenvolvimento, problemas

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    de higiene mental foram foco de estudos dos pesquisadores da Psicologia da Educao dessa poca (COLL et al., 1999).

    Dos estudos acima citados, destacam-se os estudos e medidas das diferenas individuais e elaborao de testes e a anlise dos processos de aprendizagem e psicologia da criana (COLL et al., 1999). Alfred Binet (1857 1911) props analisar medidas de traos psicolgicos. Em 1905, ele publicou a Escala Mtrica de la Intelligncia (Binet-Simon) e, em 1908, essa escala foi traduzida para o ingls por Goddard (COLL et al., 1999).

    Os testes psicomtricos dessa poca (incio do sculo XX) abrangiam trs aspectos: desenvolvimento intelectual; personalidade e rendimento escolar (COLL et al., 1999).

    Edward L. Thorndike (1874 1949) e Charles H. Judd (1873 1946) foram considerados por muitos como os primeiros Psiclogos da Educao, j que os dois estudaram processos de aprendizagem. Thorndike fez estudos de laboratrios com animais e seres humanos, tentando compreender os princpios da aprendizagem e, em 1905, publicou Elements of psychology, no qual discorria sobre as leis da aprendizagem. Este autor publicou vrias obras importantes no campo da Psicologia da Educao, porm, para muitos, a sua maior contribuio foi a formulao da Lei do Efeito. De acordo com esta lei, aquilo que se segue ao do indivduo, ou seja, o efeito que esta ao tem no seu ambiente, faz com que haja uma tendncia de que essa ao ocorra ou no novamente. A Lei do Efeito est na base da Psicologia Associacionista (COLL et al., 1999). Judd, como dito anteriormente, tambm foi um pioneiro da Psicologia da Educao, que atuou nos Estados Unidos. Ele enfatizava que a utilidade dos conhecimentos da Psicologia da Educao deveriam ser pensados com cuidado. Afirmava ainda, a necessidade de os Psiclogos educacionais e pesquisadores dessa rea conhecerem a fundo a realidade escolar. Este psiclogo discorda da utilizao de estudos laboratoriais com animais para a elaborao de conhecimento para a Psicologia da Educao. Suas pesquisas tinham como temas principais o currculo (conhecimentos acumulados pela sociedade) e a organizao escolar. Pare ele, o objetivo desta psicologia era analisar os processos mentais que a criana usa para assimilar o currculo (COLL et al., 1999).

  • 25

    Nessa poca, os educadores e estudiosos acreditavam que era preciso compreender e conhecer o aluno para assim poder ensin-lo melhor. Edourd Clapard (1873 1940), suo, era um dos que acreditavam nessa ideia. Realizou diversos estudos laboratoriais em Genebra e tinha uma viso funcional da Psicologia, o que significa entender os fenmenos psquicos como uma funo para a vida. Este pesquisador criou, junto com alguns amigos, o Instituto de Psicologia Aplicada Educao (Instituto Jean Jacques Rousseau). Andr Rey, Jean Piaget e Brbel Inhelder trabalharam mais tarde nesse instituto (COLL et al., 1999).

    Clapard compreendia a criana sob uma perspectiva biolgica e concebia a ideia de aptides naturais que direcionavam as preferncias dos indivduos. A partir dessa concepo, acreditava que a escola deveria partir dessas aptides para pensar nos contedos que seriam ensinados. Esta ideia o impulsionou a pesquisar e trabalhar com testes psicolgicos (CARVALHO, 2002).

    Este autor acreditava que a Educao um campo em que os conhecimentos psicolgicos devem ser aplicados e v o psiclogo como aquele que pesquisa e elabora as leis sobre o desenvolvimento humano e tambm classifica os indivduos de acordo com o seu perfil psicolgico (CARVALHO, 2002).

    Nos Estados Unidos a concepo funcional da Educao ganhou muito espao nesse perodo com autores como Willian James e G. Stanley Hall e chegou ao auge com o pesquisador John Dewey (1859 1952) (COLL et al., 1999).

    1.2.3 1920 1955 (aproximadamente) A Psicologia nessa poca tinha destaque entre as cincias que contribuam com o campo educacional. Alm disso, os testes psicomtricos continuavam tendo destaque nesse perodo e a escala mtrica de Binet-Simon continuava tendo inmeras revises. Ainda com relao medio da inteligncia, em 1927, Spearman discorreu sobre a possvel existncia do que ele chamou de fator g inteligncia geral (COLL et al., 1999).

    Nesse perodo, Otis e Thurstone colocaram em prtica os primeiros testes coletivos de inteligncia e tambm testes sobre o rendimento escolar dos alunos (COLL et al., 1999).

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    Na dcada de 1930, aspectos como motivao, currculo e mtodos de ensino, relativos aos processos de aprendizagem so extremamente pesquisados/estudados. Tambm o desenvolvimento infantil ganha destaque no cenrio da pesquisa psicolgica. Autores como Guthrie, Hull, Lewin, Gates, Stanford publicaram no ano de 1942 um volume inteiro na National Society for the Study of Education (Sociedade Nacional para o Estudo de Educao), sobre os estudos e as teorias da aprendizagem (COLL et al., 1999).

    Nesse perodo havia um grande conflito entre os psiclogos que pesquisavam no laboratrio sobre Educao e aqueles que realizavam suas pesquisas sobre os fenmenos educativos dentro da sala de aula. Cada um desses grupos acreditava que os conhecimentos que produziam que contribuiriam para uma melhora no processo de ensino-aprendizagem (COLL et al., 1999).

    A Psicologia do Desenvolvimento tambm teve grande destaque nesse perodo, como j dito anteriormente. Gessel, em 1911, inaugurou a Yale Clinic of Child (Clnica Infantil de Yale na Universidade de Yale, nos Estados Unidos , que desenvolvia atividades de assistncia e pesquisa sobre desenvolvimento humano (COLL et al., 1999).

    Na Europa os autores que tm maior destaque nessa poca trabalham na Psicologia Infantil, na Psicologia do Desenvolvimento e na Psicologia Gentica. Wallon, que trabalhava com desenvolvimento, obtm imenso destaque nessa poca e se torna um dos mais conhecidos psiclogos do desenvolvimento (COLL et al., 1999).

    Jean Piaget e Vygostsky tambm so pesquisadores que ganharam destaque nesse perodo, alis, so, sem sombra de dvidas, dois dos principais autores que escrevem sobre desenvolvimento humano e por isso, at hoje, so lidos e estudados por um grande nmero de pesquisadores e profissionais da Educao na tentativa de buscar subsdio em suas obras para o conhecer o aluno e melhorar as prticas pedaggicas (COLL et al., 1999). Esses autores sero abordados com mais cuidado mais adiante.

  • 27

    Na dcada de 1930, a Psicologia da Educao e a Psicologia Social sofrem uma aproximao e Kurt Lewin teve grande responsabilidade por esta aproximao. Lewin props que haveria uma relao entre o clima social e a aprendizagem. As pesquisas em Educao ganham ento outros objetos: os tipos de prticas do professor assim como as interaes educativas (COLL et al., 1999).

    nesse perodo que muitas escolas da Psicologia surgem e tm expanso e cada qual oferece suas contribuies Psicologia da Educao. Na dcada de 1950, os estudos da Psicologia da Educao tornam-se to abrangentes que tentam abordar todas as problemticas e fenmenos educativos (COLL et al., 1999).

    1.2.4 Aps 1955 Na dcada de 1950 fica evidente que no era to simples a integrao de todos os conhecimentos psicolgicos produzidos relativos ao campo educacional. Alm disso, novamente questionada, s que agora mais amplamente, a aplicao do conhecimento produzido no laboratrio para a realidade escolar (COLL et al., 1999).

    Ainda nos anos 1950 e tambm nos anos 1960 surgem disciplinas outras que tentam dar conta dos fenmenos educativos, como, por exemplo, a Sociologia da Educao e a Economia da Educao. O aparecimento dessas disciplinas faz com que a Psicologia perca a sua supremacia no campo educacional (COLL et al., 1999).

    Nesse perodo h ainda um grande investimento econmico em Educao e torna-se obrigatrio, na grande maioria dos pases ocidentais com bom desenvolvimento econmico, a escolarizao at os 16 anos. Alm disso, havia uma crena de que a Educao tinha muito a contribuir para a construo de uma sociedade melhor (COLL et al., 1999).

    A Psicologia da Educao se beneficiou dos investimentos financeiros dessa poca na pesquisa educacional. Alis, a Psicologia teve destaque nesse contexto devido sua histria de supremacia nas pesquisas dos fenmenos educativos. Apesar desse destaque, j havia outras disciplinas (Sociologia, Antropologia etc.) que buscavam respostas s questes

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    educacionais e isso influencia o rumo que a Psicologia da Educao segue nesse momento (COLL et al., 1999).

    Pelos motivos j mencionados, nesse contexto a Psicologia tem que ser mais pontual naquilo que pretende estudar e intervir dentro do campo educacional. a partir dessa necessidade que os processos de aprendizagem e os fatores que esto relacionados a esses processos so eleitos como objeto de estudo e interveno da Psicologia da Educao (COLL et al., 1999).

    O modelo instrucional, que tem como base a teoria do condicionamento operante de Skinner, teve grande influncia na dcada de 1950, 1960 e 1970. Contudo, na dcada 1960, as teorias cognitivistas tambm ganham destaque. A partir dessas teorias, a aprendizagem compreendida como uma srie de mudanas nos estados de conhecimento do indivduo (COLL et al., 1999).

    Aps esse breve resumo sobre a histria da Psicologia da Educao, vamos agora ler um pouco sobre a histria dessa rea no contexto especfico do Brasil.

    Ragonesi (1997) afirma que, historicamente, diferencia-se no Brasil o termo Psicologia Escolar do termo Psicologia da Educao ou Psicologia Educacional, no qual o primeiro se referiria a questes de ordem prtica e o segundo, a questes tericas. Segundo essa autora, essa diviso no seria adequada, pois essencial que em qualquer trabalho se articule prtica e reflexo terica.

    Podemos olhar agora de perto e sinteticamente os diferentes perodos histricos dessa rea aqui no Brasil.

    1.2.5 Psicologia da Educao no Brasil

    -1906 a 1930

    Nesse momento em que os estudos laboratoriais esto em alta na Europa e nos Estados Unidos, no Brasil eles no tiveram grande influncia (RAGONESI, 1997).

    -1930 a 1960

    Sob influncia norte-americana, no cenrio nacional,

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    caractersticas psicomtricas e experimentais se destacam (RAGONESI, 1997).

    -A partir de 1960

    A Psicologia Escolar/Educao exercida nas escolas na busca por um enquadramento dos alunos aos padres de comportamento socialmente aceitos (RAGONESI, 1997). As formas de atuao do psiclogo escolar mudaram bastante nos ltimos anos no Brasil e no prximo tpico iremos estudar melhor o que acontece hoje, no cenrio nacional, nesse campo.

    1.3 Sntese A Psicologia da Educao nasce com a difcil misso de tornar mais eficiente a Educao nos pases europeus e nos Estados Unidos da Amrica. Diversas pesquisas foram realizadas com o intuito de atingir esse objetivo, sendo usados nessas pesquisas diferentes procedimentos investigativos, dos quais se destacam a experimentao com animais e crianas, e a observao das situaes de aprendizagem.

    A histria da Psicologia da Educao muito semelhante histria do surgimento da Psicologia Cientfica. apenas no incio de sculo XX que surge a Psicologia Cientfica, a qual se utiliza de mtodos experimentais para a construo do conhecimento.

    Alguns autores que obtiveram destaque no cenrio da Psicologia entre os anos de 1890 e 1920 so: J. M. Cattell (1860 1944); John Dewey (1859 1952); Willian James (1842 1910); G. Stanley Hall (1844 1924); Edourd Clapard (1873 1940).

    No incio do sculo XX, a Educao torna-se obrigatria a todos nos pases desenvolvidos e a Psicologia, nesse contexto, tem o papel de ajud-la a tornar-se de qualidade. Neste momento surge oficialmente a Psicologia da Educao.

    Estudava-se amplamente, nesse perodo, medidas das diferenas individuais e psicologia da criana, elaboravam-se testes e fazia-se anlise dos processos de aprendizagem. Alfred Binet (1857 1911) props medidas de traos psicolgicos. Em 1905, ele publicou a Escala Mtrica de la Intelligncia (Binet-Simon) e, em 1908, essa escala foi traduzida para o ingls por Goddard.

  • 30

    Edward L. Thorndike (1874 1949) e Charles H. Judd (1873 1946) foram considerados por muitos como os primeiros psiclogos da Educao, sendo que o primeiro estudava processos de aprendizagem em laboratrio e o segundo estudava os mesmos processos nas situaes reais de aprendizagem.

    Entre os anos de 1920 e 1955, a Psicologia tem destaque na Educao e os testes continuam sendo o carro chefe da Psicologia Educacional. Contudo, o estudo da motivao, currculo, mtodos de ensino e do desenvolvimento humano tambm ganham destaque. Nessa poca, houve um grande conflito entre pesquisadores que acreditavam que os processos de aprendizagem deveriam ser estudados em laboratrios e aqueles que pensavam que estes processos deveriam ser estudados nas situaes prprias de aprendizagem.

    Na dcada de 1930, a Psicologia da Educao e a Psicologia Social sofrem uma aproximao e Kurt Lewin teve grande responsabilidade por esta aproximao.

    Aps 1955, a aplicao dos conhecimentos psicolgicos Educao questionada. Outras cincias, como a Sociologia e a Antropologia, por exemplo, passam a estudar os fenmenos educacionais.

    UMA VISO PSICOLGICA DO DESENVOLVIMENTO HUMANO E SUAS DIFERENTES

    PERSPECTIVAS TERICAS CONCEITOS BSICOS Como j foi dito, a Psicologia, em sua amplitude de campos de estudo, acaba por especializar-se no mbito que concentra seus interesses, e assim, temos a Psicologia do Desenvolvimento e a Psicologia cientfica que se ocupa de estudar o desenvolvimento humano, ou seja, a forma pela qual se processam as etapas da vida de um ser humano e suas mudanas psicolgicas.

    A educao, por sua natureza, recebe contribuies de diversas reas de saber humano, e a Psicologia da Educao, por sua vez, acaba tambm por valer-se do conhecimento construdo por toda e qualquer rea de conhecimento sobre o homem, inclusive as especialidades da Psicologia, que possam contribuir para uma maior e melhor compreenso acerca do mesmo, de modo a que

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    suas aes e intervenes sejam mais eficientes na soluo dos problemas com que se defronta. Entendemos que estudar o desenvolvimento humano pode auxili-lo, como educador, a conhecer e compreender melhor determinadas condutas evidenciadas pela criana no seu processo de conquistas e de evoluo pessoal, e, portanto, a lidar melhor com essa realidade que envolve a aprendizagem contnua em que a criana se v envolvida, nas diferentes etapas do seu desenvolvimento.

    Considera-se que em razo de tomar como objeto de estudo vidas reais, o estudo do desenvolvimento pela Psicologia revela-se fascinante, embora seja tambm complexo. Essa complexidade se explica pelo fato de que o ser humano, em sua evoluo, est sujeito a influncias diversas, como: o contato com outras pessoas, as experincias anteriores, sua prpria realidade individual, suas capacidades, suas dificuldades, havendo, assim, muitas questes internas e externas a influenciar esse processo.

    Mas, voc deve estar se perguntando finalmente, sobre o que a Psicologia do

    Desenvolvimento concentra seus estudos? Sabe-se que esse campo especializado da Psicologia tem delimitado como objeto de estudo e de seu interesse o processo de mudanas e transformaes do indivduo humano, as quais ocorrem ininterrupta e continuamente desde a sua concepo at a sua morte. Voc pode, contudo, estar se perguntando: qual seria a utilidade desse estudo?

    Para voc, professor, educador, a utilidade desse estudo acerca da Psicologia do desenvolvimento pode estar relacionada necessidade de se determinar valores e normas para uma interveno adequada, de forma a que ela no venha a se constituir num obstculo ao desenvolvimento harmnico das potencialidades do educando. J para os pais, por exemplo, o objetivo est correlacionado com a necessidade de se compreender mais profundamente o comportamento e as reaes de seus filhos, de modo a saber lidar com eles, saudavelmente.

    Seja qual for o objetivo, contudo, no h controvrsias quanto ao fato de que as mudanas na vida do indivduo humano so numerosas, diversificadas e em geral aleatrias, e essa circunstncia dificulta sobremaneira seu estudo.

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    Entretanto, preciso distinguir trs aspectos bsicos: -a maturao, tem a ver com mudanas naturais e espontneas, em geral, geneticamente programadas; -o crescimento, tem a ver com mudanas basicamente ligadas ao gentico, ao hereditrio, ao fsico; -o desenvolvimento, tem a ver com as mudanas decorrentes da aprendizagem de todo tipo que o ser humano realiza constantemente para sobreviver.

    Para refletir...

    Em qual desses processos, maturao, crescimento e desenvolvimento, voc como

    educador tem um papel importante? Por qu? Pergunta-se:

    Maturao, crescimento e desenvolvimento se correlacionam? primeira vista, at mesmo pelo senso comum, tendemos a pensar que crescer desenvolver-se e desenvolver-se tornar-se maduro. Contudo, importa saber pelo menos em relao ao crescimento e a maturao, que esses processos no ocorrem necessariamente de forma coordenada, justaposta ou concomitante; apesar de poderem ser simultneos, eles podem evidenciar-se, por vezes de forma bastante distinta.

    O termo desenvolvimento, em Psicologia, no seu sentido mais amplo, faz referncia s mudanas que ocorrem no ser vivo (humano ou animal) entre o nascimento e a morte, de modo ordenado e que se mantm por um perodo de tempo razoavelmente longo e que ainda resultam em comportamentos mais adaptativos, organizados, complexos e eficazes no sentido da sobrevivncia do indivduo.

    A Psicologia do Desenvolvimento se debrua sobre esses tipos de mudana, qual chama de mudanas de desenvolvimento e sobre as quais existem algumas coisas que voc deve saber. Vejamos: Primeiro: as mudanas exigem da criana um espao para se processar, e este espao assume duas caractersticas: INTERNA (espao fsico, fisiolgico, psicolgico e afetivo) e EXTERNA (toda a realidade objetiva na qual a criana est inserida) e o CORPO o meio de comunicao entre esses dois espaos experimentados pela criana. Segundo: voc deve saber que a mudana de desenvolvimento pode ser de dois tipos: qualitativa - aquela mudana marcada pelo aparecimento de novos fenmenos na vida do indivduo, os quais no podiam ser

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    previstos pelo seu funcionamento anterior. Refere-se a mudanas de tipo, estrutura ou organizao, como a aquisio de uma lngua, por exemplo.

    quantitativa aquela mudana que se refere ao nmero ou a quantidade, como, por exemplo, aumento de peso, de estatura, de n. de palavras no vocabulrio etc. A psicologia do desenvolvimento estuda o ser humano em todos os seus aspectos: fisico-motor, intelectual, afetivoemocional e social, do nascimento a vida adulta onde supe-se que tenha atingido a maturidade e a estabilidade.

    As mudanas de desenvolvimento ocorrem o tempo todo, apesar de j se saber, pelos estudos realizados, que o indivduo humano apresenta o que se entende por consistncia bsica na personalidade e no comportamento. O que isso? So traos de personalidade ou comportamentos que persistem moderadamente num determinado momento etrio de vida, a despeito das mudanas de desenvolvimento que ocorrem nesse perodo.

    A Psicologia Desenvolvimentista, enquanto cincia, tem como objetivos descrever, explicar, prever e modificar o comportamento humano.

    Voc sabia que... Os tericos do desenvolvimento divergem quanto aos fatores causais do

    desenvolvimento, e, por contadisso deram origem a trs correntes, se assim

    podemos chamar: INATISTAS- o desenvolvimento do sujeito independe do meio porque o sujeito j nasce pronto para tal;

    AMBIENTALISTAS/COMPORTAMENTALISTAS - fundada no Behaviorismo de Watson e Skinner, esses tericos acreditam que a ao do sujeito depende de um estmulo que vem de fora e que elicia uma resposta com reforo positivo ou negativo (condicionamento operante);

    AMBIENTALISTAS INTERACIONISTAS (SOCIOHISTRICOS OU

    SOCIOCULTURAIS) - acreditam que o ser humano um ser ativo no mundo, interagindo com o ambiente e modificando-se a partir dessa interao. Fundam-se nas teorias de Piaget e Vygotsky. A Psicologia Desenvolvimentista, enquanto cincia, tem como

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    objetivos descrever, explicar, prever e modificar o comportamento humano. Outro aspecto a ser considerado no que tange diferenciao de posio terico-prtica sobre o desenvolvimento exatamente o foco sobre o qual o estudo recai, ou melhor, o aspecto do desenvolvimento que se constitui como foco de seu interesse e estudo. Assim, h teorias que se voltaram mais para o estudo e a explicao do desenvolvimento cognitivo, outras, para o desenvolvimento da personalidade etc.

    Os estudos desenvolvimentistas realizados nas sociedades ocidentais evidenciaram que o desenvolvimento humano complexo e ocorre desde o nascimento at a morte do sujeito, e em decorrncia disso reconheceram a necessidade de teoricamente constituir os chamados perodos do ciclo de vida para melhor compreender na prtica o que ocorre com o ser humano durante sua vida.

    Saiba mais... Os estudos desenvolvimentistas revelaram que existe para as pessoas

    uma sequncia geral de desenvolvimento em que as mudanas ocorrem numa idade

    mdia. Contudo, esses estudos tambm revelaram que no se pode perder de

    vista as diferenas individuais, que fazem essa mdia deslizar, para mais ou para

    menos, quanto velocidade ou quanto aos resultados do desenvolvimento. Apenas quando esse desvio extremo que se pode considerar que estamos diante

    de um distrbio nodesenvolvimento. Vamos ver o que um distrbio de desenvolvimento? uma noo que decorreu como conseqncia da noo de que existe uma idade mdia para a ocorrncia das mudanas de desenvolvimento, e que na prtica tem repercusses muito maiores que na teoria. Vejamos:

    Por distrbio entende-se perturbao, alterao, desarranjo, movimento desordenado, desorientado, e este termo, aplicado noo de desenvolvimento, vm nos falar de situaes individuais, experimentadas pelo sujeito, que alteram, desarranjam, desordenam ou desorientam o curso normal do processo de desenvolvimento do mesmo, o qual, por fora disso, no se apresenta no tempo ou da mesma forma em que usualmente ocorreria para a maioria das pessoas ou se daria para o prprio sujeito. Entretanto, essa concepo nos obriga a estar atentos e a considerar mais ainda as diferenas individuais antes de definir um distrbio de desenvolvimento, principalmente porque as

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    diferenas de desenvolvimento evidenciadas por um sujeito no seu comportamento podem ser causadas pelas diferenas de maturao, ao invs de se constituir num distrbio.

    Voc sabia que...

    1 - A maturidade tem a ver com a condio de estar pronto para desenvolver certos

    comportamentos, em razo de ter vivido de maneira satisfatria e no tempo usual a

    seqncia de mudanas fsicas, cognitivase psicossociais necessrias para a

    aquisio e domnio das habilidades especficas que se correlacionam com os

    comportamentos.

    2 - O amadurecimento do ser humano espontneo, uma vez que o ser humano tem

    uma tendncia natural para desenvolver-se. Alm disso, o ritmo e a integrao

    nesse processo de maturao so fenmenos individuais, e isso explica porque no

    devemos, principalmente ns, educadores, criar expectativas rgidas em torno das

    conquistas das crianas exatamente porque o momento de realizar a

    aprendizagem individual, subjetivo, o que nos permite concluir que existe uma

    relao direta entre maturao e desenvolvimento: a criana incorpora

    determinadas aprendizagens no momento em que est basicamente madura para

    faz-lo. Da que, retomando a afirmao anterior, voc precisa entender que, no que se refere s mudanas de desenvolvimento, antes de se falar em distrbio de desenvolvimento quando nos defrontamos com uma manifestao diferente, preciso considerar as diferenas individuais, as quais podem, no caso especfico, ser explicadas apenas por uma questo de imaturidade do indivduo, no tocante ao comportamento especificamente em discusso.

    Ainda preciso considerar outra noo cuja construo se fez necessria aos estudos desenvolvimentistas a deAspectos do Desenvolvimento: aspectos diferentes da vida humana que sofrem mudanas de desenvolvimento e que, entretanto, esto entrelaados e so influentes entre si: -desenvolvimento Fsico: mudanas no corpo fsico, crebro, capacidade sensorial e habilidades motoras (aparato biolgico); -desenvolvimento Cognitivo: mudanas na capacidade mental (aprendizagem, memria, raciocnio, pensamento e linguagem); -desenvolvimento Psicossocial (Pessoal e Social): mudanas na Personalidade do indivduo, ou seja, no seu modo peculiar e

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    relativamente consistente de sentir, reagir e se comportar, e no seu relacionamento interpessoal; -desenvolvimento Moral, referido capacidade de, no relacionamento interpessoal, considerar regras de conduta, envolvendo julgamentos sobre certo e errado. Ainda importa considerar que atuam de modo significativo na vida do ser humano, as chamadas Influncias sobre o desenvolvimento e essas podem ser Internas, quando decorrem de fatores hereditrios, ou Externas quando os fatores influentes so provenientes do meio externo, do ambiente. Por fim, vamos considerar os Princpios Gerais do Desenvolvimento, adotados por quase todos os tericos desenvolvimentistas. So eles: I. as pessoas se desenvolvem em ritmos diferentes;

    II. o desenvolvimento relativamente ordenado (certas habilidades so desenvolvidas antes de outras, funcionando quase como prrequisito para essas ltimas);

    III. o desenvolvimento acontece de forma gradual.

    LEMBRE-SE: no contexto desta multiplicidade de fatores e influncias que se deve

    proceder ao estudo do desenvolvimento de cada pessoa humana, e a importncia

    desse estudo reside na possibilidade que ele nos d, enquanto educadores, de,

    compreendendo convenientemente a criana, colaborar com sua formao integral

    como ser humano. Perspectivas Tericas sobre o Desenvolvimento Humano Ciente de que na Psicologia Desenvolvimentista, muitas de suas mais importantes e influentes teorias respaldam-se em uma das seis perspectivas tericas contemporneas da Psicologia: a Psicanlise, a P. da Aprendizagem, a P. Cognitiva, a P. Contextual, e a P. Humanista, vamos aqui estudar as teorias ou a teoria de cada perspectiva terica, que tem se apresentado mais relevante ou mais contribuitiva para os nossos objetivos de estudo nesse curso, ainda que brevemente.

    Entretanto, fique atento: -nenhuma teoria do desenvolvimento humano universalmente aceita;

    -nenhuma teoria do desenvolvimento humano completa, nem aborda todas as facetas do desenvolvimento humano;

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    -as teorias divergem quanto nfase que do aos fatores inatos ou ambientais; ao desenvolvimento quantitativo ou qualitativo, e ainda quanto noo de continuidade ou descontinuidade do processo do desenvolvimento.

    Ainda considere: As cinco perspectivas tericas tm, cada uma, uma caracterstica bsica fundamental. Vejamos: -psicanaltica - concentra-se e enfatiza as emoes; -da Aprendizagem - enfatiza o comportamento observvel; -cognitiva - enfatiza os processos de pensamento; -contextual - enfatiza o impacto do contexto social e cultural; -humanista - enfatiza o potencial do homem para o desenvolvimento positivo e saudvel.

    A Perspectiva Terica Psicanalitica Existem, nessa perspectiva, trs teorias principais e voc pode se perguntar qual seria a diferena entre elas ou qual delas explicaria melhor o desenvolvimento humano.

    A questo que todas elas se centram em investigar e explicar as causas do comportamento humano, reconhecendo como causa as foras inconscientes, subjascentes e motivadoras do comportamento individual humano.

    Alm disso, elas tambm tomam como questo central de seus estudos, responder se o desenvolvimento saudvel do indivduo humano depende mais da individuao do eu ou da vinculao com o outro.

    Num primeiro momento de sua obra, intitulado A primeira Tpica, Freud estava convicto

    de que o psiquismo humano se estruturava em duas partes, chamadas por ele

    de CONSCINCIA (menor poro e mais insignificante, superficial de toda a

    personalidade) e a INCONSCINCIA (maior e mais significativa parte da personalidade,

    sede das foras ocultas responsveis por todo o impulso do comportamento humano). Sua teoria foi sendo escrita pari passo com a sua prtica clnica no atendimento a pessoas

    com problemas emocionais, e assim ele foi construindo sua teoria, que resultaria, mais

    tarde, a chamada Segunda Tpica, que na verdade uma reconstruo o funcionamento

    do aparelho mental, agora concebido em trs instncias: Id, Ego e Superego. Essa teoria se intitula psicossexual, porque para Freud a energia psquica que move o ser

    humano originalmente inata e sexual, o ID, e dela que derivam as duas outras

    instncias da personalidade, o Ego e o superego. Quais so essas teorias?

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    A Teoria Psicanaltica, conforme j vimos anteriormente no tema 1, de extrema importncia para o estudo do desenvolvimento humano. Vamos ver agora de forma mais detalhada os conceitos estudados por FREUD ( ID, EGOe SUPEREGO ) e as fases do desenvolvimento psicossexual humano. Nesta teorizao v-se claramente que o desenvolvimento humano concebido como se processando em fases, as quais devem suceder-se naturalmente, quando se trata de um desenvolvimento normal. Essas fases dizem respeito ao desenvolvimento da personalidade, concebida em trs sistemas - ID, EGO e SUPEREGO correlacionados com a energia psquica que a fora motriz para a operao da personalidade, e, conseqentemente, para a sua manifestao pelos comportamentos. O ID a parte mais primitiva da personalidade, corresponde mais ou menos noo de inconsciente. O ID busca a satisfao imediata dos impulsos, agindo de acordo com o princpio do prazer. constitudo por foras e impulsos, inclusive os sexuais. O Ego a sede da conscincia, considerado o executivo da personalidade, na medida em que dirige a ao do sujeito, conciliando as exigncias do Id, com o mundo externo e as ordens do superego. regido pelo princpio da realidade. O Superego, por sua vez, tm um desenvolvimento iniciado desde a primeira infncia atravs do convvio e submisso do sujeito a regras e limites, funciona como a referncia moral e ideal da personalidade para o sujeito, constituda pelos valores ideais e tradicionais da sociedade, e, diga-se de passagem, do modo como foram interpretados e internalizados pela criana, a partir do ditame de seus pais, numa relao de condicionamento em que reforos e castigos foram empregados (na chamada educao domstica). Ele se coloca como um sensor cuja atuao depende do autocontrole do indivduo.

    Vejamos a concepo freudiana das fases de desenvolvimento psicossexual

    humano: I. FASE ORAL 0 a 18 meses. Nesta fase o ser humano movido pela pulso bsica de sobrevivncia, associando prazer com reduo de tenso, e esse mecanismo est relacionado ao processo de alimentao. Necessidade e gratificao concentram-se em torno dos lbios, boca, lngua e dentes, enfim, a oralidade. Durante essa fase, a estimulao da boca, como o sugar, morder e engolir a fonte primaria do prazer;

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    II. FASE ANAL - 18 meses a 03 anos. Correlato ao aprendizado social do controle dos esfncteres, estes, esfncteres anais e bexiga, passam a se constituir nas novas reas corporais de tenso (necessidade) e gratificao (prazer), principalmente porque esto associadas com recompensas e punies, prazer e desprazer, durante todo o aprendizado, em funo da adequao social que diz respeito ao controle das esfncteres. Durante esse estgio as crianas podem expelir ou reter fezes, por exemplo, desafiando os pais;

    Na fase oral e na fase anal a criana ainda tem sua socializao mais restrita ao ambiente familiar, primordialmente s figuras do pai e da me, e caminha de uma situao de completa satisfao e gratificao, como beb, para experimentar aos poucos algumas frustraes decorrentes do processo de adaptao s exigncia do mundo social, como o controle de esfncteres. Freud chama a ateno para a necessidade de se viver o processo de adaptao do pequeno ser ao mundo extra-uterino de uma forma que ele tenha amparo afetivo e emocional, para evitar que as frustraes se constituam em perturbaes de comportamento a trazer danos futuros.

    III. FASE FLICA 03 a 07 anos. Nesta fase a erotizao desloca-se para as reas genitais do corpo; o perodo em que se manifestam os impulsos sexuais, e o interesse pela diferena anatmica entre os sexos, que percebida pela criana, o que oportuniza a vivncia da primeira etapa do complexo de dipo. Chama-se de flica, numa referncia ao falo que simbolicamente representa o pnis. Ainda so desta fase o processo de identificao e de sexuao da criana, que vai a partir da conhecer sua identidade sexual, feminina ou masculina. Tambm aqui se desenvolve a conscincia moral, pelo desenvolvimento do superego. Na fase flica a socializao do ser se expande para outras figuras que no mais o pai e a me, indo do ambiente familiar para o ambiente escolar, onde as diferenas individuais e sexuais fazem parte do interjogo das relaes. Ao mesmo tempo em que a diferena sexual entre meninos e meninas atua nas relaes com outras crianas, repercute tambm na relao com os pais (complexo de dipo), a partir do qual a criana vai trilhar o seu caminho de identificao sexual com uma das figuras parentais, cuja importncia muda de direo, mas no se perde em

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    extenso, sendo agora importantssimo o seu papel como modelo de orientao da identificao sexual. Aqui devemos destacar a importncia que Freud atribui a essas trs fases, bem como sua idia de que o desenvolvimento saudvel envolve a satisfao das necessidades sentidas pela criana em cada perodo, que certamente ir repercutir na fase adulta.

    IV. FASE DE LATNCIA 07 a 12 anos. H o declnio do complexo de dipo.Esse perodo corresponde a um enfraquecimento das pulses sexuais, pelo fortalecimento do superego, com a conseqente represso das manifestaes sexuais pelas barreiras mentais conhecidas como repugnncia, vergonha, moralidade. A libido sexual canalizada para finalidades cognitivas e culturais, como o domnio da leitura e da escrita e corresponde, em idade, ao perodo do ensino fundamental, onde socialmente se investe na aquisio de habilidades, valores e papis culturalmente esperados e aceitos. H um distanciamento entre os sexos, e a formao social de grupos de gnero: bolinha e luluzinha.

    PUBERDADE 12 a 14 anos para as meninas; 14 a 16 anos para meninos. Retorno da energia libidinal aos rgos sexuais;

    V. FASE GENITAL APS A PUBERDADE. Fase final do desenvolvimento biolgico e psicolgico, marcada pela conscincia das necessidades sexuais, da identidade sexual, que em geral assumida, buscando-se formas de satisfazer as necessidades sexuais. Na fase genital o reaparecimento da libido sexual, tambm aceito socialmente, leva o ser a experimentar outros tipos de relaes, envolvendo sentimentos e afetos amorosos e sexuais, para os quais as experincias emocionais das fases anteriores assumiro vital importncia na feio de sade e normalidade que elas possam tomar agora.

    Observa-se na teoria de desenvolvimento formulada por Freud que a fase flica a fase cuja soluo mais importante para o desenvolvimento saudvel do ser humano e pela prtica clnica evidenciou que os distrbios neurticos dos adultos ocidentais eram em sua maioria causados por desvios ocorridos nessa fase.

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    Da tambm vale a ressalva para a importncia das prticas educativas no desenvolvimento da criana, porquanto prticas inadequadas promovem desajustes que sero vividos como problemas na idade adulta. Por qu?

    Ora, simplesmente porque as experincias emocionais tidas pela criana na interao com adultos significativos para ela afetam enormemente a personalidade e sua manifestao na idade adulta.

    A PERSPECTIVA TERICA COMPORTAMENTAL

    Nessa perspectiva, os tericos compreendem que o desenvolvimento humano resulta de um processo de aprendizagem contnua e pode ser estudado de maneira objetiva e cientfica. A teoria mais representativa dessa perspectiva : a Teoria Tradicional da Aprendizagem (Behaviorismo de Pavlov e Skinner), que concebe o indivduo humano como um mero respondedor de estmulos apresentados pelo meio, de modo que este, o meio ambiente controla o comportamento. O desenvolvimento humano, portanto, resulta da experincia individual do sujeito no meio ambiente, a qual marcada significativamente por uma histria de reforos positivos e negativos, segundo os quais o indivduo desenvolve ou extingue comportamentos especficos. O Behaviorismo de Skinner considera a criana como um organismo passvel de ser modelado, porquanto totalmente manipulvel, de tal modo que seus distrbios podem ser corrigidos atravs do condicionamento operante, pelo qual se trabalha a extino do comportamento indesejvel ou o reforamento positivo do comportamento desejvel, e disso resulta uma aprendizagem que leva ao desenvolvimento.

    Pois bem, para Freud o desenvolvimento normal do ser humano causado por fatores

    inatos modificados pelaexperincia, que so em verdade os seus impulsos sexuais, e as

    exigncias sociais, que geram conflitos numa sequncia invarivel, a qual envolve o

    atravessamento de fases, o que, na verdade, significa e envolve o deslocamento da zona

    ergena do corpo ou da zona de tenso da libido para partes ou rgos especficos, em

    tempos especficos do desenvolvimento.

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    A PERSPECTIVA TERICA COGNITIVA Essa perspectiva terica tem seus estudos voltados para a investigao das mudanas qualitativas nos processos de pensamento, e compreende que estas se refletem no comportamento. Concebe o homem como um agente ativo construtor de seu mundo e de seu prprio desenvolvimento.

    Voc j deve ter ouvido, pelo menos, falar da teoria que mais representa a Perspectiva Cognitiva: a Teoria dos Estgios Cognitivos de Piaget, a qual compreende que o desenvolvimento decorre da interao de fatores inatos e da experincia, e que o desenvolvimento cognitivo se d em quatro estgios: sensrio-motor, pr-operacional, operaes concretas e operaes formais. Vejamos:

    Piaget, em verdade tinha interesse em estudar as questes relativas ao conhecimento, o que e como se pode chegar a ele, e por entender que atravs do desenvolvimento da criana isso seria possvel, ele se volta para o estudo da natureza do pensamento infantil e dos seus estgios de desenvolvimento, assim sendo, as contribuies que ele tem oferecido aos educadores referem-se ao modo como a criana pensa e s mudanas que ocorrem em seu pensamento em diferentes estgios.

    Para Piaget, o desenvolvimento humano cumpre uma funo: produzir estruturas lgicas que venham possibilitar ao indivduo atuar sobre o mundo.

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    Considerando que o organismo precisa conhecer o mundo para adaptar-se a ele e que existe uma realidade externa ao sujeito que regula e corrige o desenvolvimento desse conhecimento adaptativo, Piaget dedicou-se a estudar a gnese do conhecimento: quais os processos mentais envolvidos numa situao de resoluo de problemas e os processos que ocorrem na criana para possibilitar aquele tipo de atuao.

    Da a denominao de sua obra - EPISTEMOLOGIA GENTICA, cuja concepo bsica a de que os processos humanos de pensamento mudam radicalmente, embora lentamente, desde o nascimento at a maturidade, porque o homem est constantemente lutando para atribuir sentido ao mundo que o cerca. Desse trabalho duas conseqncias importantes advieram:

    -a concepo de que existem quatro fatores que interagem e influenciam o processo de desenvolvimento humano, fatores esses que so a hereditariedade, o crescimento orgnico, a maturao neurofisiolgica e o meio; -a concluso de que as espcies herdam duas tendncias bsicas de pensamento, as quais ele chamou de funes invariantes: a organizao e a adaptao. PERSPECTIVA TERICA SCIO-INTERACIONISTA

    A perspectiva contextual, como sua denominao evoca, baseia-se na premissa de que o desenvolvimento humano somente pode ser compreendido em seu contexto social. Concebe o indivduo como uma parte inseparvel da cultura atuando sobre o mundo, atravs das relaes sociais, transformando-o. E assim se d o

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    desenvolvimento que est alicerado sobre o plano das das interaes.

    Tem seu expoente na Teoria Sociocultural de Vygotsky, tambm chamada de Psicologia Sociohistrica, a qual enfatiza a correlao entre desenvolvimento e aprendizagem, a importncia da interao social para este processo e, assim, concebe que o desenvolvimento do indivduo se d num contexto social, em contnua transformao. Como educador voc j deve ter ouvido falar muito de Vygotsky, principalmente porque sua obra a fonte de inspirao do socioconstrutivismo, uma tendncia cada vez mais presente na postura dos educadores, para quem sua obra serve de orientao.

    Ainda que no tendo elaborado uma pedagogia, ele deixou idias bastante significativas para a educao, ao conceber que o desenvolvimento humano produto da convivncia sociocultural do humano, na medida em que a interao social do aprendiz com o educador pode realizar o potencial de aprendizagem do mesmo.

    Na ausncia do outro, o homem no constri o homem. Pense sobre isso! Vygotsky acreditava que o ser humano um sujeito ativo, inserido num contexto histrico e cultural do qual ele participante.

    Sua principal preocupao terica era estudar os processos de transformao do desenvolvimento humano, para o que concentrou seus estudos nas funes psicolgicas superiores, bem como nas mudanas qualitativas de comportamento que ocorrem ao longo do desenvolvimento humano e sua relao com o contexto social, e, particularmente nesse campo, suas reflexes sobre o papel da educao no desenvolvimento humano foram e so at hoje muito significativas para voc, educador.

    Voc sabia que... Vygotsky dedicou-se ao estudo da PEDOLOGIA. Voc sabe o que isso?

    Pois bem. a Cincia que estuda a criana em seus aspectos biolgicos,

    psicolgicos e antropolgicos, considerando essa disciplina a cincia bsica do

    desenvolvimento humano, uma vez que a mesma fazia uma sntese das

    diferentes disciplinas que estudam a crian,a o sujeito central da pr-histria do

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    desenvolvimento cultural, em face do surgimento do uso de instrumentos e da

    fala humana. Voc sabia que a obra de Vygotsky considerada pertencente ao

    campo da Psicologia Gentica? Saiba mais... Voc sabia que a obra de Vygotsky considerada pertencente ao campo da

    Psicologia Gentica? De fato, se considerarmos que o termo gentica aqui empregado refere-se ao estudo da origem e da formao das caractersticas psicolgicas do ser humano, ou seja, estudo da gnese, formao e evoluo dos processos psquicos superiores do ser humano. A Psicologia gentica preconiza que o psiquismo humano se constitui e se desenvolve ao longo da vida do sujeito, no sendo uma faculdade inata.

    -as funes psicolgicas superiores tm origem cultural - se originam no social, nas relaes do indivduo com o seu contexto cultural e social, a partir das demandas decorrentes do trabalho; o desenvolvimento mental humano no dado a priori, nem imutvel nem universal, no passivo, nem independente do desenvolvimento histrico, do que resulta a compreenso de que a cultura parte constituda da natureza humana; -a base biolgica do funcionamento psicolgico o crebro, produto de uma longa evoluo e constitudo como um sistema aberto, plstico, de estrutura e modos de funcionamento moldados pela histria da espcie e pelo desenvolvimento individual;

    -a relao do homem com o meio no uma relao direta,ela sempre mediada por instrumentos, presentes em toda atividade ou trabalho humano.

    De tais teses decorrem alguns conceitos fundamentais: -MEDIADOR: elemento, instrumento ou signo, que propicia a mediao; -MEDIAO: processo de interveno de um terceiro elemento intermedirio - o instrumento como agente facilitador da relao entre o homem e seu meio ambiente. -INSTRUMENTO: ferramenta auxiliar da atividade humana, da interao do homem com o meio, e que pode ser tcnico, quando atua no meio externo ao homem, ou Psicolgico, quando atua internamente, na mente humana. Os primeiros so as

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    ferramentas, enquanto os segundos so os signos, elementos que representam um objeto, situao ou realidade para o sujeito e que, por isso, controlam seu comportamento. O instrumento psicolgico de destaque para Vygotsky a linguagem. -ZONA DE DESENVOLVIMENTO PROXIMAL (ZDP): este, por ser o mais conhecido e por sua importncia, ser objeto de um estudo detalhado logo mais.

    SAIBA MAIS Vygotsky compreende que o psiquismo humano se origina nas condies

    sociohistricas de vida do indivduo, e estas esto relacionadas ao trabalho social, o

    que implicou na necessidade do emprego de instrumentos como mediadores entre o

    homem e o mundo, instrumentos estes que podem ser tcnicos, como as

    ferramentas de trabalho, e simblicos, como a linguagem. Tanto o uso de instrumentos quanto a funo simblica da fala humana vo se aperfeioar ao longo da histria, e funcionar fazendo a mediao entre o homem e o mundo, permitindo ao homem regular suas aes sobre os objetos e dominar este mundo e tambm regular as aes sobre o psiquismo das pessoas e o seu prprio comportamento.

    Para ele, o desenvolvimento humano socialmente construdo, imprevisvel, particular, dinmico, dialtico, e se d atravs de rupturas e desequilbrios que provocam contnuas reorganizaes pelo indivduo. Decorre das constantes interaes com o meio social em que vive, sendo mediado por outras pessoas do grupo social que lhe indicam, delimitam e atribuem significados realidade. Por intermdio dessas mediaes, a criana alcana maturidade, apropriando-se de padres de comportamentos mais sofisticados, at internaliz-los, quando no mais se apia em signos externos, porque so agora capazes de controlar sua prpria ao psicolgica, a partir de recursos internalizados.

    Segundo Vygotsky, a evoluo intelectual da criana caracterizada por saltos qualitativos de um nvel de conhecimento a outro, e para explicar esse processo ele desenvolveu mais um conceito de peso: a zona de desenvolvimento proximal, que citamos antes. Por zona de desenvolvimento proximal, ele definiu a distncia entre o nvel de desenvolvimento real e o nvel de desenvolvimento potencial da criana; em outras palavras a zona que separa o

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    indivduo de um desenvolvimento que est prximo, mas ainda no foi alcanado.

    Para uma melhor compreenso, entenda-se que: -desenvolvimento real refere-se s funes ou capacidades que a criana tem e domina sozinha, independente de auxlio; -desenvolvimento potencial refere-se s funes ou capacidades que a criana ainda no tem sua disposio, no domina sozinha, mas capaz de realizar com o auxlio de algum, que funciona como mediador, ajudando o indivduo a desenvolver uma capacidade que ainda no tinha sido atingida por ele, sozinha.

    Para refletir...

    Ora, d para voc agora refletir sobre o papel do professor nessa teoria?

    Vamos l! O professor o mediador do desenvolvimento da criana, e por isso, deve atuar na zona de desenvolvimento proximal, acompanhando a criana e auxiliando-a a avanar superando as dificuldades e conquistando a consolidao das capacidades em aprendizagem. Para isso ele precisa e deve conhecer o nvel de desenvolvimento real da criana e organizar sua ao, sua prtica pedaggica de modo a propiciar criana, seu aluno, a consolidao do desenvolvimento de uma habilidade ou capacidade que era apenas potencial. Isso lhe exige tambm conhecer o desenvolvimento potencial do aluno e respeitar a zona proximal de cada um, j que ela difere de um aluno para o outro.

    Retomando a correlao entre aprendizagem e desenvolvimento, Vygotsky considera a aprendizagem um processo necessrio e fundamental ao processo de desenvolvimento das funes psicolgicas superiores. Disso entende-se que o desenvolvimento depende da aprendizagem que o indivduo realiza num determinado contexto social, e por isso Vygotsky se preocupou tanto com as relaes entre aprendizagem e desenvolvimento em sua obra, estudando-a sob dois aspectos: a relao em si mesma, entre aprendizado e desenvolvimento e as peculiaridades dessa relao no perodo escolar. Agora, aps esse percurso no que toca s perspectivas tericas da Psicologia sobre o desenvolvimento humano, ainda podemos considerar dois posicionamentos tericos, a saber:

    A TEORIA GESTLTICA

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    Como j vimos no tema 1, a Gestalt se constituiu como uma teoria de protesto tendncia psicanaltica dominante na Psicologia da poca, preconizando a importncia de se perceber o todo, e a relevncia da percepo para a aprendizagem, que, ao promover mudanas bilaterais indivduo-meio promove o desenvolvimento.

    De sua influncia, resultou o posicionamento seguinte, que se intitula Teoria Existencial-Humanista.

    TEORIA EXISTENCIAL HUMANISTA Essa teoria compartilha com a Gestalt a influncia dos filsofos alemes e do existencialismo francs, e se configurou como uma resposta s crenas psicolgicas negativas sobre a natureza humana, subjascentes s teorias psicanaltica e behaviorista, segundo os psiclogos humanistas. Tem-se no trabalho de Maslow, Allport, Rollo May e Carl Rogers uma evidncia da nfase que se d pessoa humana em sua totalidade e unicidade, e da crena de que o desenvolvimento ou crescimento pessoal resulta do dilogo, da intersubjetividade, da comunho e do compartilhamento mtuo das experincias.

    Concebe que o organismo humano tem naturalmente uma tendncia atualizao, ou seja, uma tendncia bsica para atualizar-se, manter-se e desenvolver-se de modo positivo e saudvel. O desenvolvimento, portanto, seria um estado naturalmente buscado pelo indivduo como recurso necessrio para o enfrentamento da vida.

    Voc sabia que...

    Apesar de existirem crticas a essa teoria, principalmente no que diz respeito a ela

    no ter formuladopropriamente uma teoria de desenvolvimento, os

    tericos humanistas sintetizaram e apresentaram modelos de

    desenvolvimento considerados otimistas, porque do ateno aos fatores

    internos da personalidade, como os

    sentimentos, valores e esperanas, respeitam as diferenas e as peculiaridades

    individuais. Aspectos do Desenvolvimento Humano: Desenvolvimento Fsico, Cognitivo e

    Psicossocial Esperamos que tudo o quanto estudado e discutido at o presente momento lhe possibilite compreender que o desenvolvimento humano contnuo, manifesta-se em mltiplos aspectos e estes, apesar de distintos e particularizados, esto

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    integrados e guardam entre si uma relao de interferncia e influncia mtua. Por isso, o estudo dos mesmos no pode ser segmentado.

    Curiosamente, mesmo em face de nossas limitaes e de nosso processo de aprendizagem que, apenas para fins didticos, a Psicologia Desenvolvimentista compartimenta tais estudos em segmentos de acordo com os aspectos em foco.

    No se deve perder de vista, contudo, a necessidade de integr-los para uma melhor compreenso da realidade evolutiva do homem, de modo global.

    Com Coprnico, o homem deixou de estar no centro do universo. Com Darwin, o

    homem deixou de ser o centro do reino animal. Com Marx, o homem deixou de ser o

    centro da histria (que, alis, no possui umcentro). Com Freud, o homem deixou de

    ser o centro de si mesmo.

    Eduardo Prado Coelho

    Ateno! Outra observao nos parece oportuna: Considerando o carter adaptativo das mudanas do desenvolvimento, sabemos que ele constante no ciclo vital. Entretanto, voc se lembra que falamos de perodos do ciclo de vida?

    Pois bem, essa noo orienta tambm a observao e os estudos realizados sobre cada um dos aspectos do desenvolvimento. Isto quer dizer que cada aspecto do desenvolvimento humano considerado em cada perodo do ciclo de vida.

    Isso esclarecido, vejamos os chamados:

    ASPECTOS DO DESENVOLVIMENTO PSICOSSOCIAL As emoes vividas em conjunto so importantes nesta idade para fomentar os relacionamentos interpessoais desejveis. J. Pikunas.

    Vimos algumas mudanas de desenvolvimento cognitivo, em seus aspectos gerais. Agora, vamos discutir teoricamente algo que voc, no seu dia a dia, constata naturalmente.

    As mudanas de desenvolvimento fsico e cognitivo sofridas pelas crianas, repercutem de forma direta e particular em sua vida emocinal e social.

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    Contudo, tambm no se pode deixar de considerar outro fato incontestvel - o de que o indivduo humano apresenta emoes desde o nascimento, embora em torno disso haja controvrsias entre tericos.

    Essa evidncia, incontestvel, vem confrontando os desenvolvimentistas com uma riqueza e variedade de situaes individuais que lhes demanda um estudo minucioso e cuidadoso.

    A teoria que mais tem sido referenciada no estudo do desenvolvimento emocional

    do indivduo humano a