Curso Supera Modulo1 O USO DE SUBSTÂNCIAS PSICOATIVAS NO BRASIL

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Módulo 1 do curso SUPERA (Sistema para detecção do Uso abusivo e dependência de substâncias Psicoativas: Encaminhamento, intervenção breve, Reinserção social e acompanhamento).

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    MINISTERIO DAJUSTICASecretaria Nacional de Politicas sobre Drogas

    o uso de substanclas psicoativas no Brasil: Epidemiologia,Legisla~ao, Politicas Publicas e Fatores Culturais: modulo 1

    Coordenacao do modulo: Tarcisio Matos de Andrade

    4a Edi~aoBrasilia2011

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    o uso de substanclas psicoativas no Brasil: Epidemiologia,Legisla~ao, Politicas Publlcas e Fatores Culturais: modulo 1

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    Presidenta da RepublicaDilma RousseffVice-Presidente da RepublicaMichel TemerMinistro da Justi~aJose Eduardo CardozoSecretaria Nacional de Politicas sobre DrogasPaulina do Carmo Arruda Vieira Duarte

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    MINISTERIO DAJUSTICASecretaria Nacional de Politicas sobre Drogas

    o uso de substanclas psicoativas no Brasil: Epidemiologia,Legisla~ao, Politicas Publlcas e Fatores Culturais: modulo 1

    Coordenacao do m6dulo: Tarcisio Matos de Andrade

    4a Edi~aoBrasilia2011

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    SUPERA - Sistema para deteccao do Uso abusivoe dependencia de substancias Psicoativas:Encaminhamento, lntervencao breve, Relnsercao social eAcompanhamentoCoordenacao de Paulina do Carmo Arruda Vieira Duarte,Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni 2011 Secretaria Nacional de Polfticas sobre Drogas-SENAD, Departamento de Psicobiologia, Departamento deInformatica em Saude - Universidade Federal de Sao Paulo- UNIFESPQualquer parte desta publlcacao pode ser reproduzida,desde que citada a fonte.Disponivel em: CD-ROMDisponivel tarnbern em:Tiragem desta edlcao: 6.000 exemplaresImpresso no Brasil/ Printed in BrazilEdi98o: 2011Elabora~ao. distribuh;ao e informa~oes:Secretaria Nacional de Politicas sobre Drogas - SENADEsplanada dos Ministerios, Bloco T,Anexo II, 2 andar, sala205 Brasilia/DF. Cep 70604-900www.senad.gov.brUnidade de Dependencia de Drogas (UDED) -Departamento de Psicobiologia - Universidade Federal deSao Paulo (UNIFESP)Rua Napoleao de Barros, 1038 - Vila Clementino - 04024-003 - Sao Paulo. SP

    Linha direta SUPERA0800 777 8778

    Homepage: www.supera.senad.gov.bre-mail: [email protected]

    Equipe EditorialSupervisao Tecnica e CientificaPaulina do Carmo Arruda Vieira DuarteMaria Lucia Oliveira de Souza FormigoniRevisao de centeudeEquipe tecnica - SENADCarla DalboscoAldo Costa AzevedoAndrea Donatti GallassiPatricia Santana SantosIza Cristina JustinoEquipe tecnica - UNIFESPDenise De MicheliEroy A. SilvaKeith Machado SoaresMonica Parente RamosYone G. MouraSupervisao dos TutoresAndre Luiz Monezi AndradeGiovana Camila de MacedoIracema Francisco FradeKarina Possa AbrahaoDesenvolvimento da Tecnologia de Educa~ao a DistanciaDepartamento de Informatica em Saude da UNIFESPl.aboratorio de Educacao a Dlstancla (LED-DIS)supervlsao: Monica Parente RamosEquipes: Educa9ao, Tecnologia, Pesquisa e Avalia9aoProjeto grafico: Silvia Cabral

    o uso de substancias psicoativas no Brasil: Epidemiologia, Legisla9ao,U86 Polfticas Publicae e Fatores Culturais: modulo 1 / coordenacao do

    modulo Tarcisio Matos de Andrade. - 4. ed. - Brasilia: Secreta riaNacional de Polfticas sobre Drogas, 2011.62p. - (SUPERA: Sistema para deteceao do Uso abusivo e dependencia

    de substancias Psicoativas: Encaminhamento, lntervencao breve,Relnsercao social e Acompanhamento / coordenacao geral Paulina doCarmo Arruda Vieira Duarte, Maria Lucia Oliveira de Souza Formigoni)

    ISBN 978-85-60662-50-01. Transtornos relacionados ao uso de substancias/prevencao e controle

    I.Andrade, Tarcisio Matos de II. Duarte, Paulina do Carmo Arruda VieiraIII. Formigoni, Maria Lucia Oliveira de Souza IV. Brasil. Secretaria Nacionalde Polfticas sobre Drogas V. serie.

    CDD - 615.7883

    http://www.senad.gov.br/http://www.supera.senad.gov.br/mailto:[email protected]:[email protected]://www.supera.senad.gov.br/http://www.senad.gov.br/
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    SUMARIOObjetivos de ensino 1CAPiTULO 1:A presenca das bebidas alcoollcas e outras substanclas psicoativas na cultura brasileira 2

    A hlstoria do alcool 2Embriaguez e alcoolismo 4Outras drogas (maconha, inalantes e cracklcocafna) 7o uso de drogas na forma de autornedlcacao 9Bibliografia 10Atividades 11

    CAPiTULO 2: Epidemiologia do uso de substancias psicoativas no Brasil: peculiaridades regionais e populacoesespecfficas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13

    Epidemiologia do usc, abuso e dependencla de substanclas psicoativas 14Objetivos dos estudos epldemloloqicos nesta area: 14Dados recentes sobre 0 consumo de drogas no pals 15As drogas mais usadas no pals (alcool, tabaco, maconha, solventes, benzodiazepfnicos, cocafna/crack,anfetamfnicos, antlcolinerqlcos, aluclnoqenos e herofna) 16Outras Drogas (enerqetlcos, esteroides anabolizantes, orexfgenos) 22Conslderacoes finais 23Bibliografia 24Atividades 25

    CAPiTULO 3: A estlqrnatlzacao associada ao usa de substancias como obstaculo a deteccao, prevencao etratamento 26

    Bibliografia 32Atividades 33

    CAPiTULO 4: A Polftica e a legislaCao Brasileira sobre Drogas 34Polftica Nacional sobre Drogas 34A lei nO11.343/2006 - lei de Drogas 35Sistema Nacional de Polfticas Publlcas sobre Drogas (SISNAD) 36A Polftica Nacional sobre 0 Alcool, 37Plano de enfrentamento ao crack e outras drogas 39Bibliografia 42Atividades 43CAPiTULO 5: A rede de atencao a usuaries de alcool e outras drogas na saude publica do Brasil 44Sistema Unico de Saude: princfpios e instancias de deliberacao e gestao 44Diretrizes para a polftica de alcool e outras drogas 45Rede de atendimento do SUS 46Palavras finais 49Bibliografia 50Atividades 51

    CAPiTULO 6: Medicamentos: protagonistas ou coadjuvantes do tratamento? 52Medicamentos sao 52Cuidados com os medicamentos 53

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    o que e autornedlcacao? 54Medicalizacao da sociedade 56Uso Racional de Medicamentos (URM) 56Propaganda de medicamentos 57Normas para a propaganda de medicamentos 59Conclusao 60Bibliografia 61Atividades 62

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    OBlETIVOS DE ENSINO

    AS participantes serio capazes de: Reconhecer as fatores culturais que interferem no consumo de alcool e outras drogas no Brasil; Identificar a multicausalidade do usa de alcool e outras drogas, ampliando a vlsao de que somente a produto esua oferta determinam a consumo;

    Enumerar, em linhas gerais, as dados existentes sabre prevalsncla do usa, abuso e dependencla das drogasmais utilizadas no pals entre as diferentes grupos populacionais e regioes;

    Identificar as principais fontes de dados e as meios de obte-los, para a diagn6stico do usa de drogas na regiaoem que vivem;

    Avaliar a sltuacao local do usa de drogas, para propor lntervencoes preventivas adequadas a realidade da areaespecffica;

    Enumerar as princfpios baslcos da Polftica Nacional sabre Drogas (PNAD); Descrever as aspectos legais relacionados ao usa, a dependsncla e ao comerclo ilegal de drogas e suaslrnpllcacoes nas modalidades assistenciais vigentes;

    Caracterizar as principais dificuldades encontradas pelos profissionais de saude na deteccao e lntervencaosabre transtornos relacionados ao usa de substancias psicoativas;

    Identificar as elementos de estlqmatlzacao das pessoas que usam substanclas psicoativas; Reconhecer a necessidade de atendimento dos usuaries de substanclas psicoativas em services naoespecializados como um meio de desestlqmatlzacao:

    Atender de modo adequado, no nfvel da atencao prirnaria a sauce, pessoas usuarias au portadoras detranstornos relacionados ao consumo de substancias psicoativas.

    1. A presence das bebidas alcoolicas e outras substancias psicoativas na culturabrasileira

    2. Epidemiologia do usa de substancias psicoativas no Brasil: peculiaridadesregionais e populacoes especfficas

    3. A estlqrnatlzacao associada ao usa de substancias como obstaculo a deteccao,prevencao e tratamento

    4. A Polftica e a Legislar;ao Brasileira sabre Drogas5. A rede de atencao a usuaries de alcool e outras drogas na saude publica do Brasil6. Medicamentos: protagonistas au coadjuvantes do tratamento?

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    Dentre as substanclas psicoativas referidas neste capitulo sera dada maior enfase ao alcool, utilizadosob a forma de bebidas alcoellcas, porque esta e, de longe:

    A droga mais consumida no Brasil; A droga mais relacionada a danos diretos e indiretos a saude da populacao: A droga mais negligenciada, do ponto de vista das pratlcas preventivas, dlaqnostlcas e de tratamento pelosprofissionais de saude,

    1. A historia do alcool2. Embriaguez e alcoolismo3. Outras drogas (maconha, inalantes e crack/cocaina)4. 0 uso de drogas na forma de automadlcacao

    A HISTORIA DO ALCOOLEm primeiro lugar, voce vai ficar sabendo como comec;ou 0 usa das substanclas psicoativas em nosso pais:Quando os portugueses chegaram ao Brasil, no lnlclo da colonlzacao, descobriram 0 costume indigena de produzir e beberuma bebida forte, fermentada a partir da mandioca, denominada cauim. Ela era utilizada em rituais, em festas, portanto,dentro de uma pauta cultural bern definida. Os indios usavam tam bern 0 tabaco, que era desconhecido dos portuguesese de outros europeus. No entanto, os portugueses conheciam 0 vinho e a cerveja e, logo mais, aprenderiam a fazer acachaca, coisa que n80 foi diffcil, pois para fazer 0 acucar a partir da cana-de-acucar, no processo de fabricacao do mosto(caldo em processo de fermentacao), acabaram descobrindo urn melaco que colocavam no cocho para animais e escravos,denominado de "Caqaca", que depois veio a ser cachaea, destilada em alambique de barro e, muito mais tarde, de cobre.A caehaca e conhecida de muito tempo, desde os primeiros momentos em que se cornecava a fazer do Brasil, 0 Brasil. 0acucar, para adocar a boca dos europeus, como disse 0 antropoloqo Darcy Ribeiro, da amargura da escravldao: a cachacapara alterar a consclencla, para calar as dores do corpo e da alma, para acoltar espiritos em festas, para atlcar coragemem covardes e para aplacar traicoes e llusoes, Para tudo, na alegria e na tristeza, 0 brasileiro justifica 0 usa do alcool, dabranquinha a amarelinha, do escuro ao claro do vinho, sempre com diminutivos.Qual e 0 lugar do alcool e das outras drogas em nossa cultura?

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    Veja nos quadros abaixo a que dizem a respeito desse assunto dais importantes pensadores da cultura ocidental:

    (ALDOUS HUXLEY, escritor ingles)

    "Parece irnprovavel que a humanidade em geral seja algum dia capaz de dispensar as "paralsos artificiais", istoe, .... a busca de autotranscendencla atraves das drogas au. .. umas ferias qufmicas de si mesmo ... A maioriados homens e mulheres levam vidas tao dolorosas - au tao monotones, pobres e limitadas, que a tentacao detranscender a si mesmo, ainda que par alguns momentos, e e sempre foi um dos principais apetites da alma."

    (MICHEL ONFRA Y , fil6sofo frances)

    "Porque as homens sao mortais e nao podem se habituar a essa ideia, a nectar e a ambrosia sao fantasmasencontrados em todas as clvlllzacoes, Plantas rnaqlcas, bebidas divinas, alimentos celestiais que conferemimortalidade, as lnvencoes sao rnultlplas e tadas, na falta de sucessos pratlcos, expressam e traem a terrordiante da lnevltavel necessidade".

    Nao depende sempre da vontade a desejo de beber, pela menos em muitos casas. Antes, e uma lrnposlcao: um estranhoe imperioso chamado como a suavidade do canto de sereia que encanta, enfeltlca e enlouquece. Mas, nada e tao simplesassim, a bebida esta bem entranhada na cultura brasileira. 0 ato de beber faz parte da nossa maneira de ser social. Sendoassim:

    Cada povo, cada grupo social, cada pessoa tem a sua condlcao de responder a determinados estfmulos produzidosem seu meio, au externos a ele. Em outros termos, podemos dizer que temos uma pauta cultural em que as coisassao normal mente dispostas. Par exemplo, a licor na festa de Sao Joao, a vinho no Natal, a cerveja no carnaval eassim par diante, nao que sejam exclusivas, mas as mais representativas de cada uma dessas festas.

    A cachaca e uma bebida forte e fntima da populacao, Tem baixo custo e, com pouco dinheiro, pode-se beber asuficiente para perturbar a si e aos demais que estiverem a sua volta.

    E a forma social e individual de beber que esta em jogo, quando se fala em consumo de alcool, ja que ha uma largadlsposlcao social para consumf-Io na forma das mais diversas bebidas - destiladas au fermentadas, fortes au fracas.

    E preciso ver a alcool no conjunto da vida social e nao so em si mesmo, como muita gente a faz, au seja, considera aalcool um agente autonomo e a culpa par suas consequsnclas, como se fosse um ser animado que agisse par contapropria. No sentido oposto, e preciso ver a dlsposlcao social para a consumo de drogas e se perguntar: par que as pessoasprocuram as drogas? Par que as pessoas bebem? E, tarnbern perguntar: se usam drogas, e dentre elas a alcool, par queas consomem desta au daquela maneira? Moderada au abusivamente?Par que sera que sob a efeito da mesma quantidade de alcool, algumas pessoas ficam alegres, outras ficam agressivas aumesmo violentas? Par que sera que um derivado opioide como a meperidina, par exemplo, para algumas pessoas e apenasum analqeslco potente e para outras, alern desse efeito, e uma fonte de prazer a ser buscada de forma repetida? E ainda:par que uma mesma pessoa sente de maneira diferente as efeitos de uma mesma droga, em diferentes circunstancias econtextos?

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    o que se pode concluir dai, e que tem sido apontado por estudiosos do assunto, eque os efeitos de uma droga dependem de tres elementos:1. Suas propriedades farmacol6gicas (excitantes, depressoras ou perturbadoras);2. Apersonalidade da pessoa que a usa, suas condlcoes ffsicas e psfquicas, inclusive

    suas expectativas;3. 0 conjunto de fatores ligados ao contexte de uso dessa droga, tais como as

    companhias, 0 lugar de uso e 0 que representa esse usa social mente.

    EMBRIAGUEZ E ALCOOLISMOVamos agora falar um pouco sobre a embriaguez e 0 alcoolismo:Vamos ver como 0 fil6sofo Onfray nos fala desse assunto. Nos diz ele que "0alcoolismo e uma n09aO que apareceu poucotempo epoe as circunstancias que ele caracterizou, contemporeneo dos anos seguintes a industrializa9aO, um desejodesesperado de responder a condi90es de vida tieptoreveis". Ele fala da bebida com respeito e simpatia, como acontececom muita gente, mas acrescenta: "a embriaguez do alcoolista supoe um homem tornado objeto, incapaz, a partir de entao,de se abster de bebidas perturbadoras. Muitas vezes sua dependmcia esta relacionada a uma incapacidade de encontrarem si proprio 0 que permitiria um dominio, uma resistencia a s dores do mundo".Quando uma pessoa perde 0 controle sobre a acao de beber ela se torna objeto da bebida, que perturba a conscienciapara alem do domfnio que a pessoa tem de si mesma. Eis a embriaguez em sua forma mais simples, uma leitura sempreconceitos, mas ao mesmo tempo carregada com tintas muito fortes, porque nem todos os que bebem sao dominadospela bebida.Entretanto, quando 0 alcool nao 9 utilizado para aumentar a espirituosidade, mas para incentivar, encorajar ou consolaramargura, ele se torna um poderoso fator de desorqanlzacao do sujeito como ser social, isto 9, para alern de si comoindivfduo e de suas relacoes com os outros, com os fntimos e com os de cerirnonia. Quando advern a embriaguez e, com afrequencia do usc, 0 alcoolismo, toda a magia da bebida 9 substitufda pela perversidade da forma como ela 9 consumida.

    Saiba que:Uma das form as eficazes empregadas para a desorganiza~ao de determinados povos indigenas foi aintrodu~ao da aguardente.

    A.svezes, duas palavras parecem significar a mesma coisa, entretanto, vistas de perto sao bem diferentes. Esse eo caso das palavras "alcoelatra" e "alcoolista":E muito importante recordar que normalmente as pessoas se tornam conhecidas pelo que fazem, ou seja, pela proflssao queexercem. Se voce trabalha, 9 um trabalhador ou uma trabalhadora; se voce 56 estuda, 9 um estudante ou uma estudante eassim por diante. Uma pessoa que bebe com alguma frequencia 9 um bebedor ou uma bebedora, mas sabemos que estestermos nao sao muito frequentes, e em seu lugar vem a denornlnacao de bebado ou bebada.

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    Alc061atrao termo alcoolatra confere uma identidade e imp6e urn estigma, que anula tadas as outras identidades dosujeito, tornando-o tao somente aquila que ele faz e que e social mente condenado, nao pelo que faz, mas pelomodo como a faz. Em outros termos, nao e a bebida em si, mas aquela pessoa que bebe mal, isto e , de modoabusivo, desregrado, que a leva a condlcao de ser socialmente identificada popularmente como "elcootetre", auseja, quem "idotetre", "adora" e se tornou dependente do alcool,

    AlcoolistaEste termo foi proposto par alguns pesquisadores como uma alternativa menos carregada de valoracao, isto e ,de estigma. Segundo eles, isto nao reduziria a pessoa a uma condlcao, como a de alcoolatra, mas a identificariacomo uma pessoa que tern como caracterfstica uma afinidade com alguma coisa, com alguma ideia. Par exemplo,uma pessoa que torce no futebol pelo time Flamengo e flamenguista; E uma caracterfstica, mas nao reduz aindivfduo a ela, como uma identidade (mica e dominante. Eis porque seria preferfvel designar uma pessoa comoalcoolista e saber que ele e , ao mesmo tempo, muitas outras coisas, inclusive alquern que pode deixar de serdependente de alcool, Isto ajudaria esta pessoa a nao ser estigmatizada, reduzida a uma unica condlcao,Apesar desta arqurnentacao, em portuquas, as termos "alcoolatra" e "alcoolista" continuam sendo usados, quaseque indistintamente, par diferentes autores, mas sempre equivalendo a "dependente de alcool", Esta seria aexpressao mais adequada cientificamente. 0 termo "alcoolico" nao e muito adequado, pais na lingua portuguesasignifica "0 que contem etcoot", mas muitas vezes e empregado devido a sernelhanca com a palavra inglesa"alcoholic", que alern deste mesmo significado e tambern usada para referir-se a quem e dependente de alcool,

    E muito importante, portanto, a cuidado com as palavras, com as termos que usamos para classificar coisas e pessoas,porque estas palavras e termos tern poder de conferir identidade e, assim, estigmatizar, reduzir uma pessoa a uma unlcacondlcao, apagando, negando todas as demais.

    E aceltavel que urn profissional de saude nio tenha respostas para determinadas demandas que seapresentam. Entretanto, contribuir para piorar ainda mais a situa.;io dos que os procuram, e tudo 0 quenio deve acontecer.

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    Um "bebado" ou uma "bebada" deixa de ser tantas outras coisas, por exemplo: Serpai ou mae, ser trabalhador ou trabalhadora, para ser tao somente bebado ou bebada.Como as pessoas vivem em sociedade, 0 reconhecimento e fundamental para aidentidade e esta e fundamental para 0 reconhecimento social.

    Como voce bem percebe, vivemos imersos em noticias e propagandas, algumas delas bonitas e ate engra.;adas,entretanto e preciso estar atento para avalla-las criticamente. Em rela.;io as substincias psicoativas, qual seramesmo 0 papel da midia?Como ja dissemos, cachaca, fume e maconha estao na origem da clvllizacao brasileira. Hoje, as bebidas sao produzidaspor grandes empresas e anunciadas vivamente pelos meios de comunlcacao, em sofisticadas propagandas comerciais,em todos os lugares e em quase todos os horarlos. As cervejarias, por exemplo, gostam de explorar a imagem da mulher,quase sempre como uma figura sedutora a dlsposlcao, valendo mais 0 apelo sexual do que qualquer outra dlrnensaohumana. As propagandas de cigarro, por seu lado, exploram tanto a sexualidade como 0 espirito esportivo, atletas ejovens em aventuras, ou caub6is e seus cavalos, e os jovens e "fanqueiros"fumando, como se quisessem negar os efeitosnocivos do tabaco, sobretudo para quem pratica esportes. A todo 0momento, pela via das propagandas comerciais, somosconvidados a beber e as propagandas nos dizem que seremos melhores, teremos mais sorte e ficaremos mais fortes ealegres se bebermos esta ou aquela marca, este ou aquele tipo de bebida, que pode ser a cerveja, 0 vinho, 0 uisque ou acachaca, dentre outras tantas a disposlcao dos gostos e da capacidade aquisitiva dos consumidores.A midia, ao mesmo tempo em que nos informa, muitas vezes ultrapassa a sua responsabilidade social, tornando-se fontede muitos equivocos e deslnformacoes, devido ao seu comprometimento com 0 mercado de anunciantes. No livro Rodasde Fumo (referencias no final do capitulo), os autores chamam a atencao para 0 papel exercido pela imprensa a partirdos meados dos anos 50, enfatizando 0 lugar de "desordeiro" e de "desvio de cereter' atribuido as pessoas que usavammaconha. Nesse particular, 0 papel exercido pela midia foi mais intenso do que as revelacoes das pesquisas cientfficas daepoce, 1550 foi em grande parte responsavel pela maneira como as novas geracoes foram instruidas sobre esse assunto.Um outro aspecto que voce deve ter notado foi a lntroducao de motivos infantis, tais como lebre, tartaruga e siris naspropagandas de bebidas alcoolicas, num claro apelo dirigido as pessoas nessa faixa de idade.

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    OUTRAS DROGAS COMO MACONHA, INALANTES E CRACK/COCAiNAMaconhao usa de maconha, com proposltos medicinais, data de 2.700 a.C. Largamente utilizada na Europa com este proposlto,durante as seculos XVIII e XIX, ela foi introduzida no Brasil pelos escravos africanos e foi difundida tambern entre asindigenas, sendo no inicio usada com propositos medicinais e nas atividades recreativas como a pesca e nas rodas deconversa, nos finais de tarde. Nos Estados Unidos, ela ja era conhecida pelas indios quando as mexicanos a trouxerampara aquele pais.No Brasil, no final do primeiro quarto do seculo XX, segundo descrlcao de Pernambuco-Filho & Botelho, distinguiam-seduas classes de "vicios": as "vicios elegantes" que eram a da martina, da heroina e da cocaina, consumidos pelas elites(branca, em sua maioria) e as "deselegantes", destacando-se a alcoolismo e a maconhismo, proprlos das camadas pobres,em geral, formadas par negros e seus descendentes. Segundo esses mesmos autores, nao tardou para que a produto (amaconha) trazido da Africa viesse a "escravizar a raca opressora". Estas aflrmacoes mostram, alern da origem da maconhano pais que, ja naquela epcca, ocorria a dlfusao do seu consumo par todas as classes sociais. Este e um fato lncontestaveldiante da realidade nacional, entretanto permanece no lrnaqlnario social a assoclacao "pobre - preto - maconheiro -marginal - bandido" traduzida nas acoes policiais dirigidas as pessoas autuadas pela porte de maconha, que na periferiadas grandes cidades sao muito mais severas do que nas areas mais ricas e socioeconomicamente mais favorecidas.

    InalantesVaries estudos apontam para um maior usa de inalantes entre criancas e adolescentes de minorias etnicas e social mentemenos favorecidas. Mais adiante neste mesmo modulo voce vera que a usa dessas substancias entre meninos em sltuacaode rua e mais prevalente do que entre estudantes e entre a populacao em geral.Veja agora a quadro de efeitos dos inalantes e as condlcoes de vida dos meninos em sltuacao de rua, e conclua par vocemesmo a "lugar" dessas drogas em suas vidas:

    Efeitos dos inalantes: Reducao da sensacao de fame e de frio; Reducao da sensacao de dar; Producao de sensacoes aqradaveis, inclusive aluclnacoes,

    Condi~oes de vida dos meninos em situa~ao de rua: Fame, frio, desamparo decorrente da vida nas ruas; Dar fisica e sofrimento psiquico decorrente dos maus-tratos e de varlas formas deviolencia;

    Privacao social, inclusive de parte da propria familia.

    Dados brasileiros sabre a consumo dessas substanclas em crlancas de rua da cidade de Sao Paulo indicam que quase ametade delas (47,5%) referiu como motivo para a usa razoes como: O le gostoso e faz sonhar com coisas boas".

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    CocainaLevantamentos epldernloloqlcos (dados diretos) e indicadores epldernloloqlcos (dados indiretos), conforme voce vera emdetalhes mais adiante, tem evidenciado um aumento conslderavel das apreensoes de cocafna, a partir dos anos oitenta,no Brasil. Em paralelo, houve um aumento do consumo e com isso a cocafna tomou 0 lugar dos medicamentos como 0dextropropoxifeno (Algafan) e derivados anfetamfnicos ("bolinhas"; "arrebites") na preferencia dos usuaries desse tipo desubstanclas estimulantes.Veja a seguir outros aspectos culturais relacionados ao uso da cocaina, alern do lugar que ocupa, como umproduto proibido:

    A cocafna ja foi comercializada livremente pelo laboratorlo Bayer, no passado, e enaltecida por suas qualidadesmedicinais. 0 Manual MERK, um livro muito utilizado na area de sauce, em sua primeira edlcao no ultimoquarto do seculo XIX, trazia a lndicacao de cocafna com a dosagem a ser utilizada para sltuacoes de cansacoe desanlmo,

    A folha de coca tem sido usada milenarmente pelos povos andinos para reduzir a fadiga e 0 cansaco daslongas jornadas de trabalho;

    Em nossa cultura, algumas pessoas fazem uso de cocafna para se manterem acordadas e atentas pormais tempo que 0 habitual mente suportavel:

    Um estudo entre adolescentes que procuraram tratamento, na cidade de Sao Paulo, encontrou comoprincipal (64,7%) motivo de uso de cocafna 0 "alivio do desanimo",

    o crack, uma forma de cocafna de uso relativamente recente em nosso pals, teve os primeiros registros cientfficos de seuconsumo no infcio dos anos noventa, portanto ha menos de 20 anos. 0 crack nao e uma droga diferente de cocafna, masa propria cocafna preparada para consumo por via inalatoria (fumada). A rapidez e intensidade de seus efeitos, que sedevem a intensa absorcao da cocafna ao nfvel dos pulrnoes, sao fatores que favorecem a dependencia dessa droga. 1550voce vera com mais detalhes nos modulo 2 e 3.Voce sabe por que 0 consumo de crack tem se expandido tanto em nosso meio, sobretudo nas grandes cidades,inclusive substituindo 0 consumo de cocaina injetavel?Veja no quadro abaixo as razoes para isso:

    Efeito rapido e intenso, Menor custo, em relacao ao po de cocafna, adequando-se ao perfil de baixa renda da maioria dos seusconsumidores;

    E de facll utllizacao, dispensando a necessidade do uso de seringas; Tem maior aceltacao social pela maneira como e consumido (fumado), algumas vezes misturado ao tabaco ea maconha (pistilo, mesclado), do que 0 uso de drogas injetaveis; Constitui uma alternativa ao uso de drogas lnjetaveis, em virtude dos riscos associados a lnfeccao por HIV ehepatites.

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    Tarcisio Matos de Andrade e Carlos Geraldo D'Andrea (Gey) Espinheira

    Esteroides anabolizantesA crescente valorizacao do corpo nas sociedades de consumo pos-lndustrlals - refletida nos meios de comunlcacao demassa que expoern como modelo de corpo ideal e de masculinidade um corpo inflado de musculos - tem possivelmentecontribuido para que um numero crescente de jovens envolva-se com a usa de esteroides anabolizantes, na lntencao derapidamente desenvolver massa muscular.

    Quais sio as principais motiva~oes evidenciadas pelas pesquisas para 0 consumo de anabolizantes em nossopais?Confira no quadro a seguir:

    Para muitos jovens a fisicultura, isto e , a culto ao corpo, se constitui numa alternativa de construcao deidentidade, diante da realidade das periferias urbanas, marcadas pelo desemprego, pelo traflco de drogas epela violencia:

    No trabalho sabre a corpo, estes jovens buscam uma forma de se destacar na comunidade e de compensaruma baixa autoestima. A dlmensao da identidade positiva construida pelos fisicultores e a que enfatiza suacondlcao de atleta corroborada na pratica da musculacao e em outros cuidados com a corpo;

    0 "crescimento" rapldo, mediado pelo usa de anabolizantes, se constitui num elemento de identidade capaz deopor-se a condlcao de desempregados/desocupados em que muitos se encontram. 0 corpo torna-se entao uminstrumento privilegiado, par meio do qual a pessoa busca reconstruir a Eu (Self), fortalecendo uma identidadefragilizada.

    o USC DE DROGAS NA FORMA DE AUTOMEDICAC;AoEssa e outra marca da nossa cultura. E bastante comum que a usa de drogas, sejam elas licitas au ilicitas, se deva emparte a automedlcacao au prescricao informal, a que e tao bem exemplificado pela existencia das farrnacias dornesticas epelo frequente usa de medlcacoes par lndlcacao de familiares, vizinhos e amigos. Essa sltuacao e favorecida, entre outrasrazoes, pela dificuldade de acesso aos services de sauce, de uma parcela express iva de nossa populacao, Outro fatorimportante que contribui para a automedlcacao e a falta de suportes identiflcatorios, au seja, pessoas que nao tem comomodel a a familia, a escola e as lnstltulcoes. Essa falta de modelo de identitlcacao propicia uma alquimia propria guiadapela busca do autocontrole das sensacoes, na tentativa de resolver sozinho as proprios problemas, inclusive as anqustiasexistenciais.Desse modo, alguns bebem para relaxar e, se ficam "de porre", "cheiram" (cocaina) para "Ievantar a moral" e, ao final dajornada, par nao conseguirem conciliar a sana, fazem usa de um tranquilizante. Trata-se de uma busca de autocontroledas sensacoes as custas de um conhecimento farmacoloqico, absolutamente informal e par isso mais exposto a riscos,inclusive de marte, como nao raro ocorre na sltuacao de usa de multlplas drogas, como no casa acima, no qual as tresdrogas mencionadas tem efeito sabre a funcionamento cardiaco. Esse controle de si, e par si mesmo, associado aocontrole social existente no pequeno grupo, na comunidade, na sociedade como um todo, tem sido desconsiderado pelaspoliticas publicae, sobretudo par aquelas pautadas na repressao, centralizadas na droga e que reduzem a usuario aoproduto que consome.

    Essas informa~oes podem ajudar voce, profissional de saude, a refletir de modo mais realista sobre 0 usa dedrogas, tornando menos arduas e mais eficazes suas interven~oes dirigidas aos usuaries dessas substanclas.

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    Tarcisio Matos de Andrade e Carlos Geraldo D'Andrea (Gey) Espinheira

    BIBLIOGRAFIAAndrade TM. Condlcoes psicossociais e exposlcao ao risco de lnteccoes pelo HIV entre usuaries de drogas injetaveis, emuma comunidade marginalizada de Salvador [tese]. Salvador: Universidade Federal da Bahia - Faculdade de Medicina;1996.Carlini EA, Galdur6z JCF, Noto AR, Nappo SA, Lima EL, Adiala JC. Revlsao: perfil de uso de cocafna no Brasil. J BrasPsiquiatr. 1995;44:287-303.Carlini EA, Noto AR, Galdur6z JCF, Nappo SA. Visao hist6rica sobre 0 uso de drogas: passado e presente; Rio de Janeiroe Sao Paulo. J Bras Psiquiatr. 1996;45:227-36.Carlini-Cotrim B, Carlini EA. 0 consumo de solventes e outras drogas em criancas e adolescentes de baixa renda na grandeSao Paulo. Parte II: Meninos de rua e menores internados. Rev ABP-APAL. 1987;9:67-77.Galdur6z JCF, Figlie NB, Carlini EA. Repressao as drogas no Brasil: a ponta do "Iceberg?" J Bras Psiquiatr. 1994;43:367-71.Iriarte JB, Andrade TM. Musculacao, uso de ester6ides anabolizantes e percepcao de riscos entre jovens fisiculturistas deum bairro popular de Salvador, Bahia, Brasil. Cad Saude Publica. 2002; 18(5): 1379-87.Macrae E, Simoes JA. Rodas de fume: uso de maconha entre as camadas medias urbanas. Salvador: Editora daUniversidade Federal da Bahia; 2000.Nappo SA, Galdur6z JCF, Noto AR. Uso de "crack" em Sao Paulo: fenomeno emergente? Rev ABP-APAL. 1994,16:75-83.Onfray M. A razao gulosa: filosofia do gosto. Rio de Janeiro: Rocco; 1999.Padilha ER, Padilha AM, Morales A, Olmedo EL. Inhalant, marihuana and alcohol abuse among barrio children andadolescents. Int J Addict. 1979;14:945-64.Reinarman C, Levine HG. Crack in America: demon drugs and social justice. Berkeley: University of California Press; 1997.Scivoletto S, Henriques Jr. SG, Andrade AG. A proqressao do consumo de drogas entre adolescentes que procuramtratamento. J Bras Psiquiatr. 1996;45(4):201-7.Silveira DX, Moreira FG. Panorama atual de drogas e dependencias, Sao Paulo: Editora Atheneu; 2006.

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    ATIVIDADES

    ReflexaoPara uma melhor compreensao da relacao entre cultura e usa de drogas, faca as seguintes exercfcios:

    1. Procure conversar com pessoas que vivem em diferentes locais de sua cidade e que pertencarn a diferentes grupossociais sabre a usa de drogas, as usuaries e como e vivida essa sltuacao em cada uma dessas realidades.

    2. Quando em cantata com pessoas de outras cidades e outros estados procure repetir essa mesma observacao.3. Inclua como fonte de lntormacao pessoas com diferentes poslcoes em relacao a essa pratlca, tais como: naousuaries que toleram as que usam, nao usuaries que nao toleram as que usam e as pr6prios usuaries.

    4. Procure conhecer a hist6ria de vida de pessoas em sltuacao de abuso e au dependencia de alcool e/ou de outrasdrogas.

    Obs: A sua poslcao como profissional de saude certamente Ihe favorecera nessa tarefa, mas fundamental mesmo sera aseu prop6sito de procurar conhecer sem julgar.

    1. Assinale a alternativa CORRETA:a) Os inalantes estao entre as drogas mais utilizadas pelas criancas e adolescentesem sltuacao de rua pela sua capacidade de causar efeitos intensos, imediatos epelo seu baixo custo

    b) Os inalantes nao causam grandes danos ffsicos e sao considerados drogas perturbadoras do SNCc) As polfticas publicae dirigidas as criancas e adolescentes em sltuacao de rua precisam considerar aspeculiaridades de vida desta populacao

    d) As alternativas a e c estao corretas

    Teste seu conhecimento

    2. Sabre a usa de drogas, e CORRETO afirmar que:a) Nao se trata de uma necessidade de todos as povos, em todas as epocas, mas apenas de uma pequenaminoria

    b) Os tipos de drogas e as formas de consumo nao se correlacionam com povos e nem com ocasloes, pais asdrogas se definem par suas propriedades farmacol6gicas

    c) Mais importante que a tipo de droga e a maneira como ela e consumidad) Autornedlcacao nao constitui uma forma de usa de drogas

    3. Sabre a usa de maconha no Brasil, e CORRETO afirmar que:a) Era urn usa tfpico das camadas pobres da sociedade, caracterizando rafzes hist6ricas do estigma"maconheiro - band ida - marginal"

    b) A maconha ja era usada pelas fndios quando as portugueses aqui chegaramc) A maconha sempre foi uma droga proibida no Brasild) No final do seculo XX a maconha brasileira chegou a ser comercializada na Europa

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    4. Considerando que 0 uso de anabolizantes traduz a crescente valorlzacao do corpo na sociedade atual, a CORRETOafirmar que:a) E a realidade de uma pequena minoria de pessoas mais favorecidas que podem pagar academiasb) E urn meio de constituir uma identidade, e por isso tambam esta presente entre as populacoes maisdesfavorecidas, que vivem nas periferias das grandes cidades

    c) Trata-se de uma questao estetlea e por isso nao diz respeito aos profissionais de sauded) Nao tern relacao com uma autoimagem negativa

    5. Assinale a alternativa CORRETA:a) "Alcoolatra" e "alcoolista" sao termos de igual significado e por isso devem ser usados indistintamenteb) Beber a urn ate voluntario e por isso deixar de beber a uma declsao pessoalc) 0 uso de uma droga envolve tres elementos: a droga, a personalidade de quem usa e 0 meio no qual ela ausadad) As propriedades farmacol6gicas de uma droga sao as unlcas determinantes dos seus efeitos

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    Antes de conhecer algumas informa.;oes fornecidas pela Epidemiologia, vamos relembrar alguns conceitos:

    EpidemiologiaA palavra vem do grego, Epedemeion (aquele que visita)

    Epi (sabre) Demos (povo) Logos (palavra, discurso, estudo)

    Etimologicamente, "epidemi%gia"significa: "ciencia do que ocorre com a povo". Porexemplo: quantas pessoasestao infectadas com a virus da AIDS, au quantas sao fumantes, au ainda quantos ganham salario minima, saoquestoes com as quais se preocupa a epidemiologia.PrevalenciaE a proporcao de casos de ceria doence ou tenomeno, em uma populacao determinada, em um tempodeterminado.Por exemplo: Quantos fumantes havia entre as moradores da cidade de Sao Paulo em 2001.(Casas existentes) (populacao determinada) (tempo determinado)

    1. Epidemiologia do uso, abuso e dependencla de substanclas psicoativas2. Objetivos dos estudos epldemloleqlcos nesta area3. Dados recentes sobre 0 consumo de drogas no pais4. As drogas mais usadas no pais (atcoct, tabaco, maconha, solventes,

    benzodiazepinicos, cocaina/crack, anfetaminicos, anticolinergicos, aluclnoqenos eheroina)

    5. Outras drogas (energeticos, esteroides anabolizantes, orexigenos)6. Considera~oes finais

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    Jose Carlos Fernandes Galdur6z

    EPIDEMIOLOGIA DO USC, ABUSO E DEPENDENCIA DE SUBSTANCIAS PSICOATIVAS

    Alguns conceitos de epidemiologiaNo m6dulo 3, voce vera com detalhes como diagnosticar 0 uso abusivo e a dependencia, mas para que voce possaentender os dados das pesquisas epidemiol6gicas considere:

    Uso na vida - qualquer uso (inclusive urn unico uso experimental) alguma vez na vida;Uso no ana - usc, ao menos uma vez, nos ultirnos 12 meses que antecederam a pesquisa;Uso no mes - usc, ao menos uma vez, nos ultlmos 30 dias que antecederam a pesquisa;Uso frequente - usc, em 6 ou mais vezes, nos ultirnos 30 dias que antecederam apesquisa;Uso pes ado - usc, em 20 ou mais vezes, nos ultirnos 30 dias que antecederam a pesquisa;Uso abusivo - padrao de usa que tenha causado urn dana real a saude ffsica ou mentaldo usuario, mas a pessoa ainda nao preenche criterios para ser considerada dependente;Dependencia - conjunto de sinais e sintomas que determinam que a pessoa estadependente da substancla,

    OBlETIVOS DOS ESTUDOS EPIDEMIOLOGICOS NESTA AREA Diagnosticar 0 usa de drogas em uma determinada populacao Possibilitar a lrnplantacao de programas preventivos adequados a populacao pesquisada

    Tipos de estudos1. Levantamentos epidemiol6gicos (fornecem dados diretos do consumo de drogas):

    Domiciliares (pesquisa 0 usa de drogas entre moradores de resldenclas sorteadas); Com estudantes (alunos do ensino fundamental, medic ou de cursos superiores); Com criancas e adolescentes em sltuacao de rua (lntormacoes colhidas entre criancas e adolescentes que vivema maior parte do tempo na rua);

    Com outras populacoes especfficas; por exemplo: profissionais do sexo; trabalhadores da industria; policiais, etc.

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    Jose Carlos Fernandes Galdur6z

    2. Indicadores epidemiol6gicos (fornecem dados indiretos do consumo de drogas de uma determinada populacao) lnternacoes hospitalares por dependencia: Atendimentos ambulatoriais de usuaries de drogas e/ou alcool: Atendimentos em salas de emergencias por "overdose"; Laudos cadaverlcos de mortes violentas (fornecidos pelo IML - Instituto Medico Legal); Apreensoes de drogas feitas pelas polfcias Federal, Estaduais e Municipais; Prescricoes de medicamentos (ex: benzodiazepfnicos e anfetamfnicos); Mfdia (notfcias veiculadas pelos meios de comunlcacoes sobre as drogas); Casos de violencia decorrentes do uso de drogas; Prisoes de traficantes.

    DADOS RECENTES SOBRE 0 CONSUMO DE DROGAS NO PAis

    Agora voce ira conhecer alguns dados sobre 0 consumo de alcool e outras drogas no pais.Os dados diretos que serao apresentados a seguir foram obtidos a partir de tres levantamentos: domiciliar, com estudantesdo ensino fundamental e rnedlo, e com criancas e adolescentes em sltuacao de rua.

    II Levantamento Domiciliar: englobou as 108 maiores cidades do pals (aquelascom mais de 200 mil habitantes). Foram util izadas amostras representativas decada cidade, com base nos dados do IBGE. Foram entrevistadas 7.939 pessoas,selecionadas por sorteio, na faixa etarla de 12 a 65 anos de idade. Os resultadosapresentados sao os achados do primeiro Levantamento de 2001 eo segundode 2005;

    VI levantamento nacional sobre 0 consumo de drogas pslcotreplcas entreestudantes do ensino fundamental e medio da rede publica e privada deensino nas 26 capitais brasileiras e Distrito Federal - 2010. A amostra totaldas 27 capitais brasileiras foi constitufda de 50.890 estudantes, sendo 31.280 darede publica de ensino e 19.610 da rede particular.

    I Levantamento Nacional sobre os Padroes de Consumo de Alcool na Pcpulacao Brasileira. Em 2006 aparceria entre a Secreta ria Nacional Antidrogas (SENAD) e a Unidade de Pesquisa em Alcool e Drogas (UNIAD)do Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de Sao Paulo (UNIFESP), resultou no lnedito estudo dospadroes de consumo de alcool na populacao brasileira. Foram realizadas 3.007 entrevistas, em 143 municfpiosbrasileiros, de abranqencia nacional.

    Uso de Bebidas Alcoolicas e outras drogas nas Rodovias Brasileiras - 201O . Foi realizado um estudo transversalutilizando como pontos de coleta postos da Polfcia Rodovlaria Federal que se localizassem no perfmetro das regioesmetropolitanas das 26 capitais de estados brasileiros e do Distrito Federal. Foram entrevistados 3.398 motoristas.

    Levantamento com crianc;as e adolescentes em situac;ao de rua: foram entrevistadas 2.807 crlancas eadolescentes que vivem em sltuacao de rua, isto e, vivem a maior parte do tempo na rua e frequentemente recebemassistencia do governo ou de orqanlzacoes nao governamentais (ONGs), na forma de refeicoes e roupas, porernnao se encontram em abrigo permanente. A pesquisa abrangeu todas as capitais do Brasil, incluindo jovens de 10a 18 anos de idade.

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    Jose Carlos Fernandes Galdur6z

    Os dados indiretos (indicadores epidemioI6gicos), que serao apresentados adiante, foram obtidos a partir de levantamentosrealizados nos prontuarios do Instituto Medico Legal de Sao Paulo; de apreensoes feitas pela Polfcia Federal; de lnternacoeshospital ares por dependencia de drogas; de dados do Detran-SP (Departamento de Transite) e de dados sobre vend as demedicamentos ansiolfticos (aqueles que diminuem a ansiedade e 0 nervosismo) e anorexfgenos (aqueles que diminuem 0apetite, usados em regimes).

    AS DROGAS MAIS USADAS NO PAis

    Comparac;oes entre dois Levantamentos Domiciliares (2001 e 2005)Observac;io importante: embora as porcentagens estejam, geralmente, maiores na comparacao entre os Levantamentosde 2001 e 2005, isso nao reflete cientificamente um aumento real e significativo, segundo as analises estatfsticas aplicadas.22,8% da populacao pesquisada em 2005 ja fizeram uso na vida de drogas, exceto tabaco e alcool, correspondendo a10.746.991 pessoas. Em 2001 os achados foram, respectivamente, 19,4% e 9.109.000 pessoas. Em pesquisa semelhanterealizada nos EUA em 2004 essa porcentagem atingiu 45,4%.A estimativa de dependentes de alcool em 2005 foi de 12,3% e de tabaco 10,1%, 0 que corresponde a populacoes de5.799.005 e 4.760.635 de pessoas, respectivamente; havendo aumento de 1,1%, quanta as porcentagens de 2001 e 2005sao comparadas, tanto para alcool como para tabaco.o uso na vida de maconha em 2005 aparece em primeiro lugar entre as drogas ilfcitas, com 8,8% dos entrevistados, umaumento de 1,9% em relacao a 2001. Comparando-se 0 resultado de 2005 com 0 de outros estudos, pode-se verificar queele e menor do que de outros pafses como EUA (40,2%), Reino Unido (30,8%), Dinamarca (24,3%), Espanha (22,2%) eChile (22,4%). Porern superior a Selgica (5,8%) e Colombia (5,4%).A segunda droga com maior uso na vida (exceto tabaco e alcool) foram os solventes (6,1%), havendo um aumento de0,3% em relacao a 2001. Porcentagens inferiores encontradas nos EUA (9,5%) e superior a pafses como Espanha (4,0%),Selgica (3,0%) e Colombia (1,4%).Entre os medicamentos usados sem receita medica os benzodiazepfnicos (ansiolfticos) tiveram uso na vida de 5,6%,aumentando em 2,3% quando comparado a 2001. Porcentagem inferior ao verificado nos EUA (8,3%).Quanto aos estimulantes (medicamentos anorexfgenos), 0usa na vida foi de 3,2% em2005, aumentando 1,7% comparando-se a 2001. Porcentagens pr6ximas a de varies pafses como Holanda, Espanha, Alemanha e Suecia, mas muito inferioraos EUA (6,6%). Vale dizer que foi a (mica categoria de drogas cujo aumento de 2001 para 2005 foi estatisticamentesignificativo.Em relacao a cocafna, 2,9% dos entrevistados declararam ter feito usa na vida. Em relacao aos dados de 2001 (2,3%)houve, portanto, um aumento de 0,6% no numero de pessoas utilizando este derivado de coca.Diminuiu 0 numero de entrevistados de 2005 (1,9%) em relacao aos de 2001 (2,0%), relatando 0 uso de xarope a base decodefna.o usa na vida de herofna em 2001 foi de 0,1%; em 2005 houve sete relatos correspondendo a 0,09%. Estes dados saomenores que os achados nos EUA (1,3%).

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    Jose Carlos Fernandes Galduroz

    AlcoolA Figura 1 abaixo mostra as porcentagens de entrevistados de ambos os sexes preenchendo os crlterios de dependsnclado alcool.

    %

    12,3

    2018161412108642O~~--------------------------------------------__/

    6,9

    TOTAL Masculino Dana 2001Dana 2005emininoFigura 1 - Cornparacao entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundo porcentagem de pessoas com cspendencla de Alcool, dos entrevistados das108 cidades com mais de 200 mil habitantes do Brasil.

    lnternacees hospitalares para tratamento da dependencla do alcoolAs lnternacoes por dependencia decorrentes do alcool foi responsavel por 90% de todas as lnternacoes provocadas poruso de drogas, a maioria na faixa etaria entre 31 e 45 anos, com predomfnio de homens, numa relacao cerca de dez vezessuperior. A analise das lnternacoes ao longo de 21 anos, 1988-2008 indicou reducao do total de lnternacoes no perfodoanalisado (de 64.702 lnternacoes em 1988 para 24.001 em 2008). A rsducao pode ser reflexo das acoes adotadas nosultirnos anos no Brasil, com destaque para a criacao dos Centres de Atencao Psicossocial Alcool e Drogas (CAPSad) apartir de 2002.

    Padrao de consumo de bebidas pelos brasileirosEste estudo traz varies dados importantes: 28% dos bebedores (40% dos homens e 18% das mulheres) relataram beberno padrao episodico ou "binge" pelo menos uma vez no ana anterior a entrevista. A cerveja e a bebida mais consumidanessas ocasloes, Alern disso, 0 estudo apontou que 9% dos entrevistados eram dependentes de alcool (14% da populacaomasculina e 4% da feminina).

    Uso de bebidas alco61icas nas rodovias brasileirasDo total de entrevistados 309 motoristas (12,8%) relataram que tinham bebido no dia da entrevista. A maioria relatouque havia bebido na propria casa ou de alquern (54,7%). Apenas 6% dos entrevistados que ingeriram bebidas alcoolicasdeclararam que sua habilidade para dirigir n80 estaria prejudicada. Por outro lado, 60,2% dos motoristas entrevistados(n=2.040) relataram ter side passageiros de motoristas que tivessem bebido antes de dirigir.

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    TabacoVerificou-se que nas faixas etarias estudadas, em 2005, mais homens relatam usa na vida que as mulheres (Figura 2).

    11,3

    12108642o

    % 10,1 10 1 > >,- 90 ~ .> - - - - - - - - 9,0, ~ .>>:--- r- -

    ~o-/ =TOTAL Feminino D 1Dano 2005Figura 2 - Comparacao entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundo 0 usa na vida de Tabaeo e dependencla, distribufdos segundo 0 sexo dosentrevistados das 108 eidades com mais de 200 mil habitantes do Brasi l.

    Masculino

    Drogas Pslcctreplcas (Exceto Tabaco e Alcool)A Figura 3 mostra 0 usa na vida, distribufdo por genero, nos anos de 2001 e 2005, para 15 drogas. Houve um aumentode prevalencia de 2001 para 2005 em 09 drogas (maconha, solventes, cocafna, estimulantes, benzodiazepfnicos,aluclnoqenos, crack, anabolizantes e barblturlcos): dlrnlnulcao para quatro (orexfgenos, oplaceos, xaropes com codefna eantlcollnerqlcos) e 0 mesmo consumo para duas (herofna e merla).

    %9 8,8

    Figura 3 - Comparacao entre os levantamentos de 2001 e 2005, segundo 0 usa na vida de drogas, exeeto alcool e tabaco, dos entrevistados das 108cidades com mais de 200 mil habitantes do Brasil.

    87 6 , 9

    6 , 16 5, 8 5, 654 3 4 , 1

    3 , 3 3, 23 2 , 9

    2 , 3 2 , 0 1 , 921 , 5

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    Dana 2001Dana 2005

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    MaconhaA apreensao de maconha feita pela Polfcia Federal no perlodo de 2004 a 2008 pode ser vista na Figura 4. Embora esteindicador epidemiol6gico tenha um significado restrito, pois nao se conhece 0 universe do traflco e, portanto pode-seafirmar apenas que as quantidades de apreens6es tem-se mantido estavels atraves dos ultirnos quatro anos. Por outrolado, entre os anos de 2004 e 2010, foi observado reducao no numero de estudantes que relataram uso na vida demaconha de 7,6% para 5,7% em 2009.

    Toneladas 196,8 1871200 ,--- ,161,3 ~156,8 ,----'-~ 151,1-15010050

    o 2004 2005 2006 2007 2008Apreens6es de maconha

    Figura 4 - Apreensoes de maconha, em toneladas, feitas pela Polfcia Federal no perfodo de 2004 a 2008.SolventesOs solventes continuam sendo as drogas com maior uso na vida, entre os estudantes do ensino fundamental e medic,quando nao consideramos alcool e tabaco. Teresina foi a capital que apresentou a maior porcentagem de uso (19,2%) eAracalu a menor, (6,4%). 0 Brasil apresenta um dos maiores Indices de uso na vida de solventes entre os estudantes(18,0%), nao sendo ultrapassado por nenhum outro pars, tanto das Americas quanta da Europa. A Figura compara os dadosobtidos no Brasil com os de outros parses, em relacao ao uso de solventes.

    Paraguai = 0,1Uruguai = ,7Panama =2,2Nicaragua 2,4

    Guatemala 2,4Equador 2,6Venezuela 2,7

    Belize 3,2Espanha 4

    ltallaHolandaBelgicaGuianaChilesuecta

    PortugualDinamarcaFlnlandiaFranca

    AlemanhaReino UnidoBarbadosEUA

    GreciaBrasil

    6677, 3

    7, 98888

    1111

    1212,4

    14,415

    8:2 4 6 8 10 12 14 16 18Porcentagem

    SUPERAFigura 5 - Usa de solventes no Brasil e em outros pafses, dados expressos em porcentagens.

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    BenzodiazepinicosNa segunda pesquisa domiciliar, 0 usa na vida de benzodiazepfnicos foi relatado por 5,6% da amostra, um fndice inferior aoobservado nos EUA (8,3%). A dependencla de benzodiazepfnicos foi estimada em 1,0% para 0 Brasil; estando as maioresporcentagens na regiao Nordeste, com 2,3% de dependentes. As mulheres relataram usar tres vezes mais ansiolfticos queos homens.

    CocainalCrackEm 2004, 0 usa na vida de cocafna foi mencionado por 2,0% dos estudantes. A capital com a maior incidencia de uso foiBoa Vista (4,9%). 0 relato de usa na vida de cocafna por estudantes brasileiros a menor do que 0 de pafses como EUA(5,4%), Espanha (4,1%) e Chile (3,7%), porern superior ao do Paraguai (1,6%), de Portugal (1,3%), da Venezuela e daGracia (1,0%). 0 uso de cocafna sob a forma de crack foi mencionado por 0,7% dos estudantes do Brasil, porcentageminferior a relatada por estudantes dos EUA (2,6%) e Chile (1,4%). Em Joao Pessoa, foi encontrada a maior porcentagem(2,5%) de usa na vida dessa droga, no pals, Isto reforca a ideia da necessidade deste tipo de estudo para conhecer melhora realidade de cada local. Na comparacao entre os anos de 2004 e 2010, foi observado aumento para usa na vida decocafna subindo de 2,0% para 2,5%.A Figura 6 mostra as apresnsoes de cocafna feitas pela Polfcia Federal entre os anos de 2004 e 2008 (dados mais atuaisdisponfveis). Pode-se notar um crescimento das apreensoes, principalmente quando se compara os extremos do grafico,quase triplicando.

    Toneladas19,6-----'---16,5-15,7,--- 13,4-

    7,2---'-----

    2018161412108642o 2004 2005 2006 2007 2008

    Apreensoes de cocainaFigura 6 - Apreensoes de cocafna, em toneladas, feitas pela Polfcia Federal no perfodo de 2004 a 2008.

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    Anfetaminicoso usa na vida de anfetamfnicos (medicamentos para tirar a fome), na pesquisa domiciliar, foi maior entre as mulheresdo que entre os homens, em todas as faixas etarias estudadas. 0 usa na vida destes estimulantes foi relatado por 1,5%.Na pesquisa entre estudantes, 0 usa na vida de anfetamfnicos foi de 3,7%. A regiao com maior porcentagem de uso foia Centro Oeste, com 4,6%. A capital com maior uso registrado foi Joao Pessoa, com 6,6%, e a menor, Maceio com 1,6%.Varies pafses relataram porcentagens de usa na vida maiores do que 0 Brasil: Nicaragua (10,4%); Reino Unido (8,0%);Venezuela (6,4%); Uruguai (6,2%); Paraguai (5,9%) e Chile (5,8%).A Figura a seguir mostra a proporcao de prescrtcoes de anfetamfnicos entre mulheres e homens. Note que as mulheresrecebem bem mais prescricoes desses medicamentos do que os homens. Estes dados foram obtidos pela analise dosreceituarios especiais que sao necessaries para comprar este tipo de remedio, Esse receituario e denominado NotlflcacaoBee conhecido como "receituario azul".

    15000

    tilC Il 12000'0Q>.i:etil 9000Il. . . .D ..C Il"C 60000. . . .C IlE'::I 3000Z

    0

    Lista B2. Anorexigenos - distribuicao por sexo dos pacientes- 10/1 MulheresD- HomensD10/1-

    -61 1-

    I I

    Anfepramona Fenproporex MazindolFigura 7 - Anal ise da Prsscricao e Dlspsnsacao de Medicamentos Pslcotroplcos, Fonte CEBRID

    Anticolinergicos

    o usa na vida de antlcolinerqlcos (Artane e Akineton, medicamentos usados no tratamento da dosnca de Parkinson)entre os estudantes foi de 1,2%, no Brasil; na regiao Nordeste, foi encontrada a maior porcentagem: 1,5%. Recife foia capital com 0 maior usa na vida desse tipo de droga, com 2,3%, seguida de Sao Luiz, onde 2,1% dos estudantesmencionaram ja ter feito uso desse tipo de medlcacao, Entre criancas e adolescentes em sltuacao de rua, 0 uso de Artanefoi mencionado por 1,6% dos entrevistados.

    AlucinogenosDiferentemente dos Estados Unidos, onde 0 usa na vida de aluclnoqenos entre estudantes foi relatado por 6,4% e do Chile(1,9%), no Brasil, este uso foi de 0,6%. 0 Rio de Janeiro foi a capital com a maior porcentagem de estudantes que relataramusa na vida de alucinoqenos (1,1%).

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    Heroinao uso na vida de herofna, uma droga frequentemente citada na mfdia, foi relatado por apenas 0,04% dos entrevistadosna pesquisa domicil iar de 2001, ou seja, apenas quatro pessoas, sendo 3 relatos no Nordeste e um, no SuI. Embora essasporcentagens estejam muito abaixo da media americana (1,2%) e da relatada na Colombia (1,5%),21,1 % dos entrevistadosrelataram a percepcao de que obter herofna era facil, Ha discrepancia entre 0 numero de pessoas que mencionaram 0uso (4) e as porcentagens obtidas para facilidade de obtencao, provavelmente pelo lrnaqlnario popular criado pela mfdia,inclusive pela facilidade com que a populacao acredita ser possfvel obter drogas nas grandes cidades brasileiras. Naohouve nenhum relato de uso de herofna entre os estudantes pesquisados.

    OUTRAS DROGAS (ENERGETICOS, ESTEROIDES ANABOLIZANTES, OREXiGENOS)

    Entre os dados mais recentes da pesquisa entre estudantes (VI Levantamento) merece destaque 0 uso deenerqeticos em mistura com alcool com 15,4% dos estudantes do ensino fundamental e medic ja terem feito usona vida dessa mistura. 0 uso na vida de esteroides anabolizantes (1,4%) tarnbem merece atencao, sendo adlstribulcao heteroqsnea entre as capitais.

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    CONSIDERA(:OES FINAlSPode parecer estranho que, para uma mesma droga, aparecarn porcentagens diferentes. Isto ocorre porque cada tipo delevantamento estuda uma determinada populacao com particularidades proprias, A Tabela a seguir ilustra este aspecto. Epossivel notar, por exemplo, que na pesquisa domiciliar (incluindo pessoas de 12 a 65 anos de idade), 0 usa na vida desolventes foi relatado por 5,8% dos entrevistados, enquanto entre jovens (estudantes e criancas e adolescentes em sltuacaode rua) as porcentagens foram bem maiores. Isto significa que, quando se pretende aplicar um programa preventivo ou umalntervencao, 9 importante conhecer antes 0 perfil daquela populacao especifica, pois suas peculiaridades sao relevantespara um planejamento adequado.

    LEVANTAMENTOS

    Cocaina

    Domiciliar Estudantes crtaneas e Adolescentesem situa.;iio de rua6,9 7,6 40,45,8 13,8 44,42,3 2,0 24,5

    DROGASMaconhaSolventes

    Tabela - Cornparacao do uso na vida de algumas drogas em tres diferentes populacoas pesquisadas. Dados expressos em porcentagens.E preciso lembrar ainda que, embora ja existam estudos sobre 0 panorama do uso de drogas no Brasil, os dados disponiveisnem sempre sao suficientes para avallacoes especificas, alern do que, 0 uso de drogas 9 algo dlnarnlco, em constantevariacao de um lugar para outro e mesmo em um determinado lugar. Por estas razoes, ha necessidade de programaspermanentes de pesquisas epidemioloqicas, para que novas tendencies possam ser detectadas e programas de prevencaoe lntervencao adequadamente desenvolvidos.

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    BIBLIOGRAFIAAssoclacao Brasileira dos Departamentos de Transite (Abdetran). Impacto do uso do alcool e outras vftimas de acidente detranslto. Brasilia: Cetadl Raid; 1997.Brasil. Secretaria Nacional Antidrogas. Brasil. Ministerio da EducaCao. Curso de formacao em prevencao do uso indevidode drogas para educadores de escolas publicas, volume I: a adolescente e as drogas no contexto da escola. Brasilia:SENAD/MEC/UnB; 2004.Carlini EA, Galduroz JC, coordenadores. I Levantamento domiciliar sobre 0 uso de drogas pslcotroplcas no Brasil: estudoenvolvendo as 107 maiores cidades do pals: 2001. Brasil ia: SENAD/CEBRID; 2002.CEBRID - Centro Brasileiro de lnformacoes sobre Drogas Psicotropicas. Disponfvel em: .CaNACE - Consejo Nacional para el Control de Estupefacientes. Chile. Ministerio del Interior. Quinto Informe Anual sobrela situacion de Drogas en Chile. Santiago: CaNACE; 2005. Disponfvel em: .EMCDDA - European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction; 2005.Disponfvel em: .Galduroz JCF, Noto AR, Fonseca AM, Carlini EA. V levantamento nacional sobre 0 consumo de drogas pslcotroplcas entreestudantes do ensino fundamental e medic da rede publica de ensino nas 27 capitais brasileiras - 2004. Sao Paulo:SENAD/CEBRID; 2005.Nappo SA, Tabach R, Noto AR, Galduroz JCF, Carlini EA. Use of anorectic amphetamine-like drugs by Brazilian women. EatBehav. 2001 ;2:1-13.NIDA- National Institute on Drug Abuse. High school and youth trends; 2005. Disponfvel em: .Noto AR, Carlini EA, Mastroianni PC, Alves VC, Galduroz JCF, Kuroiwa W et al. Analysis of prescription and dispensationof psychotropic medications in two cities in the state of Sao Paulo, Brazil. Rev Bras Psiquiatr. 2002;24(2):68-73.Noto AR, Galduroz JCF, Nappo SA, Fonseca AM, Carlini CMA, Moura YG et al. Levantamento nacional sobre 0 uso dedrogas entre criancas e adolescentes em sltuacao de rua nas 27capitais brasileiras, 2003. Sao Paulo: SENAD/CEBRID;2004.SAMHSA - Substance Abuse and Mental Health Services Administration. 1999-2000 National Household Survey on DrugAbuse. Rockville: U.S. Department of Health and Human Services; 2001. Disponfvel em: .VI Levantamento nacional sobre 0 consumo de drogas entre estudantes do ensino fundamental e medic da rede publica eprivada de ensino nas capitais brasileiras e Distrito Federal 2010. CEBRID/SENAD. In press 2011. Disponfvel em: .

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    ATIVIDADES

    Teste seu conhecimento

    1. As drogas com mais uso na vida no Brasil 580:a) Maconha e cocafnab) Maconha e herofnac) Maconha e alcoold) Alcool e cocafnae) Alcool e tabaco

    2. Assinale a afirmativa CORRETA:a) Os levantamentos epidemiol6gicos fornecem dados diretos do consumo de drogas numa determinadapopulacao

    b) Os indicadores epidemiol6gicos fornecem dados indiretos do consumo de drogas numa determinadapopulacao

    c) Nenhuma pesquisa isolada retrata 0 consumo de drogas de uma sociedaded) As tres alternativas anteriores estao erradase) Ha tres alternativas corretas

    3. As mulheres usam mais medicamentos como anfetaminas e ansiolfticos que os homens. A aflrmacao esta:a) Totalmente corretab) Parcialmente corretac) Totalmente erradad) Esta aflrmacao somente esta correta quando se analisa os indicadores epidemiol6gicose) Esta aflrmacao somente esta correta quando se analisa os levantamentos epidemiol6gicos

    4. A finalidade da epidemiologia e:a) Fornecer subsfdios para campanhas preventivasb) Conhecer 0 consumo de drogas numa determinada populacaoc) Conhecer dados da eVOlUy80de uma determinada doenca ou consumo de drogasd) Conhecer novas tendencies de uso de drogase) Todas alternativas anteriores estao corretas

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    Agora que voce sabe que 0 usa de alcool e outras drogas e um grande problema de saude publica nomundo e no Brasil, um importante aspecto a ser discutido e : Por que temos dificuldades em lidar com esse problema? Seria uma questao de desinformacao? Sendo assim, por que alguns profissionais de saude, apesar de terem conhecimento sobre 0 assunto, naoconseguem lidar com essa sltuacao?

    Com certeza, nao existe uma unica resposta para a questao, pois se trata de uma sltuacao complexa, com multiplesdeterminantes. Porern, aqui, especificamente, trataremos de uma das dificuldades com as quais os profissionaisconstantemente lidam que e a "estigmatizac;ao" de alguns problemas de saude,

    Estigmatizac;ao:o termo Estigma pode ser definido como uma marca ffsica ou social de conotacao negativa ou que leva 0portador dessa "marca" a ser marginalizado ou exclufdo de algumas sltuacoes sociais. Muitas condlcees desaude, dentre elas a dependsncla de alcool e outras substanclas, sao estigmatizadas pela populacao, inclusivepelos profissionais de sauce. A estlqrnatlzacao ocorre quando se atribui "r6tulos" e "estere6tipos" negativos adeterminados comportamentos. Tal sltuacao influencia direta ou indiretamente a condlcao de saude da pessoaestigmatizada, provocando diversas consequenclas, inclusive 0 agravamento da sltuacao.

    Estere6tipos:Sao caracterfsticas pessoais ou socia is atribufdas a determinadas pessoas ou grupos, antes mesmo de serrealizada uma avallacao mais cuidadosa sobre estas caracterfsticas. No Brasil, por exemplo, existem osestere6tipos de pessoas de determinadas regioes em relacao ao comportamento. Para exemplificar melhor, facaa imagem de uma pessoa nascida na regiao nordeste ou na regiao sui, ou em algum estado como Minas Geraisou Rio de Janeiro. E bem provavel que voce tenha uma concepcao ou ideia de como estas pessoas falam, secomportam, se vestem ou se colocam perante as outras. Muitas vezes, fazemos essas generalizar;oes comose todas as pessoas de um determinado grupo fossem exatamente iguais. Na area da sauce, muitas vezestemos a mesma tendencla de classificar 0 comportamento das pessoas de acordo com 0 problema de saudeou a "marca" que definimos para elas. Essa tendencia e prejudicial tanto ao profissional, que deixa de perceberou conhecer 0 problema mais a fundo, quanta ao paciente, que deixa de receber uma lntervencao adequada aoseu problema.

    Por exemplo, ha alguns anos, ao falar de doencas, tais como Hansenfase (antiga lepra) e Tuberculose, havia uma ideiaextremamente negativa, tanto da doenca quanta das pessoas que portavam tal problema. Dentre as varias consequenclasdesse comportamento, para 0 doente, e possfvel destacar 0 isolamento social, a piora da Qualidade de Vida, 0 preconceitoe principal mente a perda de oportunidade de acesso a um tratamento adequado. A "marca" ou Estigma que essas pessoas

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    carregavam era colocada tanto pela populacao em geral quanta pelos profissionais de sauce, que muitas vezes evitavamtratar dos pacientes ou recomendavam 0 isolamento total. Ao longo da hist6ria, essas doencas foram perdendo essaconotacao negativa e os resultados do tratamento se tornaram melhores, em fun9aO nao somente do maior conhecimentotecnlco sobre elas, mas tambern da dlrnlnulcao da vlsao estigmatizada do problema.Em relacao ao alcool e outras drogas, sobretudo as drogas lllcitas, podemos observar que existe uma forte conotacaomoral que dificulta abordagens mais adequadas e maior aproxlrnacao dos usuaries. Existe uma assoclacao equivocada,por parte da sociedade e inclusive de muitos profissionais de sauce, de que 0 usuario e "fraco", "sem forca de vontade","mau carater' ou que 0 usa e a dependencia sao "problemas sem solucao", Outras ideias equivocadas, que permeiamnossa sociedade sao: "drogas matam" e "uma droga leve e a porta de entrada para drogas pesadas". Frases como essas,quando analisadas criticamente, nao apenas sao ineficazes do ponto de vista preventive, como sao prejudiciais. Dados quepodem contrapor tais ideias sao:

    92% dos jovens entre 12-17 anos que experimentam drogas nao seguem fazendousa regular.

    Estudos realizados nos Estados Unidos tem evidenciado que de cad a 100 pessoasque experimentam maconha, apenas uma passa ao uso de cocaina;

    E muito mais adequado falar de consumo leve e consumo pesado do que de drogas leves e pesadas, uma vez que,desconsiderando-se 0 fato de se tratar de uma droga llcita ou ilfcita, a intensidade do consumo esta muito mais ligada aosprejufzos biol6gicos, psfquicos e sociais do que ao tipo de droga utilizada.o tratamento e a prevencao adequados devem, portanto, ter bases cientfficas, levando em conslderacao 0 nfvel deconhecimento, a capacidade de discernimento e as escolhas da populacao a que se destinam.o prop6sito das figuras a seguir e exemplificar 0 trabalho com populacees nos lugares e dentro das condi.;oesem que vivem.

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    Outra imagem muito comum que os profissionais de saude tem sobre 0 usuarlede drogas, sobretudo os de drogas lllcltas, e a de uma pessoa ligada diretamenteao crime, que nao tem amor proprio, que nao se cuida, que nao tem familia ouaquela pessoa que fica calda na sarjeta, lembrando-nos do "bebado de sarjeta"

    Sobre essa equivocada supsrposlcao entre uso de drogas e criminalidade, falta de amor proprio e autodestrulcao, seguindoalguns estudiosos desse tema, podemos afirmar:

    Na maioria das vezes, as condlcoes nas quais se da 0 consumo desses produtos (sobretudo no caso das drogasilicitas, cujo consumo ocorre sem qualquer controle de qualidade e em precarias condlcoes de higiene) agravamem muito os seus efeitos prlrnarlos e aumentam as consequsnclas negativas para a saude, 0 que fortalece aimagem de autodestrulcao, atribufda a essa populacao,

    As politicas repressivas, justificadas pelas questoes legais, ligadas ao traflco, contribuem de modo significativopara a exclusao social dos consumidores;

    Entretanto, muitas pessoas que trabalham normal mente, tem familia e uma vida social mente ativa, usam alcool ou outrasdrogas. Por conta dessa imagem distorcida do usuario, 0 profissional de saude perde uma oportunidade importante deintervir em grande parte da populacao usuaria, por achar que somente aquelas pessoas com 0 "estereotlpo" do usuario dealcool e outras drogas devem ser abordadas e encaminhadas a services especializados.

    Vejamos agora como a estigmatiza.;ao e os estereotipos interferem na preven.;ao, no diagnostico e no tratamentodo uso e abuso de alcool e outras drogas:No Brasil, ate muito recentemente, 0 usa e abuso de drogas se constitula num problema a parte dos servlcos de saude e,portanto, do ambito de servlcos especializados. 0 problema maior era que a maioria dos estados brasileiros nao possulaCentres de Referencia para atencao aos usuaries de drogas e para a capacitacao de novas profissionais. Somente nosultlrnos tres anos e que, por meio de varlas Portarias, 0 Mlnlsterio da Saude tem estendido a atencao ao usa e abuse dedrogas aos Services de Saude em geral, inclusive aos Programas de Atencao Baslca a Saude (Programa de AgentesCornunitarios de Saude - PACS e Programa de Saude da Familia - PSF).

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    Essas rnudancas, entretanto, ainda se encontram distantes de serem efetivadas, pelas seguintes razoes:

    Desconhecimento da real dlrnensao do problema; ou seja, nao se sabe quantas pessoasno Brasil fazem usc, abusam ou sao dependentes de drogas;

    A estlqrnatlzacao e os estereotlpos relacionados as pessoas que usam drogas,sobretudo as iifcitas, que as afastam dos servlcos de saude:

    A falta de profissionais de saude com treinamento mfnimo necessarlo para realizar oscuidados baslcos e 0 encaminhamento adequado dessa populacao,

    Os dados a seguir exemplificam 0que acaba de ser dito:Pesquisas tem demonstrado que apenas 5 a 10% das pessoas com problemas decorrentes do usa de alcool e outrasdrogas procuram tratamento especializado e que aproximadamente 20% das pessoas que procuram a rede de cuidadosprimaries de Saude tem problemas por usa de drogas, na grande maioria das vezes, nao revelados durante a consulta.Esse distanciamento, em relacao ao usa e abuse de alcool e outras drogas, mantido no ambito dos services de sauce, emgeral, tem como produto a aussncla de diaqnostico, ou 0 sub-diaqnostico dessas condlcoes,

    Vejamos agora como se traduz essa exclusao dos usuaries de drogas, no cotidiano da atencae a saude:Muitos pacientes internados em Hospitais Gerais, inclusive nos Hospitais Universitarios, apresentam enfermidadesrelacionadas ao abuso de alcool e outras drogas, como e 0 caso de alguns pacientes diabeticos, com pancreatites,com hepatopatias, todas doencas relacionadas ao usa de alcool. Ou desenvolvem cancer de pulrnao e outras dosncasresplratorias, relacionadas ao usa de tabaco. E, ainda, AIDS e outras lnteccoes relacionadas ao usa de drogas injetaveis.Por ausencia do diaqnostico do usa e abuso de drogas, esses pacientes nao recebem a atencao merecida, relacionadaa prevencao e ao tratamento para problemas decorrentes do consumo dessas substanclas: fato esse que tem papelrelevante na relnternacao desses pacientes, com custos significativos do ponto de vista social e econornico, para elesproprios e para 0 Sistema de Saude,Considerando especificamente a prevencao, vamos ver agora os efeitos da estlqrnatlzacao e dos estereotlpos na prevencaoprirnaria, ou seja, quando se busca evitar 0 usa de drogas pela primeira vez.Voce certamente ja percebeu que ao se referir ao usa de drogas iifcitas, 0 discurso oral ou escrito permite a lrnpressao deque as drogas tem vida propria e sao, por si mesmas, capazes de determinar 0 comportamento das pessoas. E por issoque voce escuta frases como essas: "as drogas estao destruindo a sociedade" ou "guerra as drogas". 0 grande problemadesta "dernonlzacao" das drogas iifcitas e 0 seu reflexo no usuario: que vai se "demonizando" junto com 0 produto e passaa ser visto, ele proprio, como uma pessoa ma,Voce tarnbern sabe muito bem que todos nos temos uma grande preoeupacao com nossas criancas e jovens para que naose iniciem no usa de drogas, sobretudo das drogas ilfcitas. Mas, por conta da estlqrnatlzacao e do estereotipo do usuario,essas mesmas criancas e jovens, que sao alvo de todo 0 nosso zelo e atencao, uma vez flagrados com um cigarro demaconha, por exemplo, passam a ser vistos como maconheiros, drogados e marginais. Algo semelhante a expulsao doparafso. A droga portanto, repete nos tempos atuais 0 mito de Adao e Eva.

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    fj. h deSefeSic 0. Cabe~as..~-

    SUGESTAo:Assista ao filme "Bicho de Sete Cabecas", Filme brasileiro com direcao de Lafs Bodanzky,lancado em 2000, com Rodrigo Santoro, Othon Bastos e Cassia Kiss no elenco.

    Esse lugar social ocupado pela droga e pelos usuarlos, quando internalizado pelas profissionais de saude e educadores,torna muito diffcil a relacao com a usuario, interferindo na percepcao dos seus valores como pessoa e reduzindo-o a umas6 condlcao: a de usuario de drogas. Isso, evidentemente, afasta essas pessoas dos servlcos de eoucacao, suporte sociale sauce, agravando ainda mais as desvios porventura existentes.Sem duvlda, aquele profissional que tem uma vlsao pre-formada e preconceituosa do usuario e do usa de drogas tera umamaior dificuldade para realizar um trabalho, tanto de prevsncao, quanta de tratamento au de relnsercao social. A mudancade postura do profissional frente a qusstao beneflclara tanto a usuario, que podera receber uma abordagem mais adequadae realista de seu problema, quanta a profissional que se beneflciara de conhecimentos tecnicos bem fundamentados deabordagens mais adequadas, bem como de resultados mais favoraveis de seu trabalho.Essa nova postura tem feito parte dos princfpios e praticas da Reducao de Danos, um tema que sera abordado noM6dulo 5. Com base nesses princfpios, as usuaries de alcool e outras drogas:

    Deixam de ser simplesmente alva das acoes de sauce, passando a ser tambern as seus protagonistas; Participam ativamente como agentes de saude (redutores de danos), como educadores de outros usuaries e naformacao de assoclacoes em defesa dos seus direitos;

    Tern sida alva de pesquisas de natureza demoqraflca, epidemiol6gica e psicossocial, realizadas no sentido deorientar as profissionais de saude sabre a realidade de cada populacao para quem as acoes de prevencao etratamento serao dirigidas.

    Pesquisa recente realizada no Brasil com profissionais de Atencao Prirnaria a Saude (PSF e UBS), demonstrou que estegrupo apresenta uma clara vlsao moralizante dos usuaries de alcool e drogas que atendem. 0mesmo estudo demonstraque a usa de alcool e outras drogas e mais estigmatizado ao se comparar com outras condlcoes de saude como HIV/AIDS,Esquizofrenia, Depressao, dentre outras. A consequsncla direta desta postura do profissional vai desde a desatencao, a umcuidado de menor qualidade e a lndlsposlcao para encaminhamento dos casas mais graves para as services especializados.Portanto, e importante ter clareza que:

    A estlqrnatlzacao do usuario de alcool e outras drogas nao resolve a problema e, portanto, a problemacontinuara existindo em sua comunidade;

    A vlsao de que tad as as usuaries sao pessoas "sem carater" e, portanto, nao merecem sua ajuda e equivocada.A grande maioria dos usuaries e formada de pessoas comuns, que devem ser tratados como tal;

    0 usa de alcool e outras drogas e um problema de saude como outros; A postura moralista aumenta a dificuldade de abordar a tema.

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    Quais seriam entio os ganhos de uma nova postura? Veja 0quadro abaixo:

    Os pacientes flcarao mais satisfeitos, pois se sentlrao respeitados pela forma como voce os trata;Os resultados da lntervsncao se tornam mais evidentes, portanto voce se sentlra um profissional maiscompetente;

    Ao lnves de "colocar a poeira debaixo do tapete", voce consequlra enfrentar 0 problema e percebera osresultados disso em medic prazo;

    Voce se beneflclara mais com a quallflcacao tecnlca, pois consequlra utilizar seus conhecimentos de formamais abrangente.

    o primeiro passo para ser urnborn profissional de saude, em especial para aqueles que trabalham com comunidadese :

    Saber identificar e entender 0que acontece na sua localidade; Respeitar as diferenc;as e as caracteristicas entre as pessoas e as diferentes culturas.

    Figuras obtidas, a partir do trabalhode campo da ARD-FC, Faculdade deMedicina/UFBA, mostrando a9130 dosagentes cornunitarios de saude (fardados,a direita) e dos redutores de danos, durantetreinamento para integrar a atencao ao usoabusivo de drogas com a atencao baslca asaude,

    Portanto, um passe importante para os profissionais participantes desse curso, e a necessaria reflexao sobre suas propriasconcepcoes a respeito do uso de alcool e outras drogas, revendo conceitos e buscando capacitar-se para conseguir defato identificar, prevenir e tratar os problemas decorrentes do uso dessas substancias, A qualidade de seu trabalho estaradiretamente relacionada a forma como voce e sua equipe encaram 0 problema. Outro passo importante e que, uma vezmudada a concepcao sobre os usuaries destas substanclas, numa perspectiva de saude publica, 0 profissional de saudeutilize sua lnsercao na comunidade para trabalhar com toda a rede social e com as pessoas da comunidade para quetarnbern tenham uma COnCeP9130mais adequada sobre 0 consumo de drogas. Este trabalho, com certeza facilitara todo 0trabalho do profissional junto aos familiares, usuaries e outras pessoas envolvidas.Assim, podemos concluir primeiramente que e muito importante que os profissionais que atuam em todos os nfveis decuidado com a saude sejam capacitados na atencao ao uso e abuso de drogas. Ao lado da capacltacao em cuidadosprlrnarios e encaminhamento adequado aos usuaries de alcool e outras drogas, um passe importante e ter 0 conhecimento,proveniente de estudos cientfficos, sobre a real sltuacao do consumo de drogas, e seus determinantes entre os usuariesdesses servlcos,

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    ATIVIDADES

    1. Sobre 0 uso de drogas, 9 CORRETO afirmar que:a) 0 foco deve dirigir-se mais para 0 padrao de usa da droga do que para 0 usuarioemsi

    b) Nem todo uso de droga constitui motivo para tratamentoc) Este 9 um problema a ser analisado apenas por especialista, por se tratar de um problema complexod) Em geral, 9 um comportamento de pessoas que tem alguma ligacao direta ou indireta com 0 crime

    Teste seu conhecimento

    2. Ainda sobre 0 usa de drogas, 9 CORRETO afirmar que:a) As pessoas que usam cracklcocafna frequentemente iniciaram pelo consumo de outras drogas como alcool,tabaco e maconha

    b) Uma vez iniciado 0 usa de drogas, 0 caminho habitual 9 0 usa regular, 0 abuse e a dependenclac) 0 usa de alcool ou maconha leva ao usa de cocafnad) Usar drogas 9 um caminho sem volta

    3. Sobre estlqrnatlzacao e cuidados de saude para as pessoas que usam drogas, 9 CORRETO afirmar que:a) A maioria dos usuaries procura os servlcos de saude quando tem problemas decorrentes do usa e abuse dedrogas

    b) As pessoas que usam drogas nao querem ser ajudadas e por isso nao dizem que sao usuariasc) Os profissionais de saude nao estigmatizam os usuaries e a maioria esta preparada para atends-losd) 0 comportamento dos profissionais de sauce, habitual mente, reflete a lnfluencla da estlqrnatlzacao e daexclusao social dos usuaries de drogas

    4. "As drogas estao destruindo a sociedade". Sobre essa frase 9 CORRETO afirmar que:a) Os usuaries de drogas estao se destruindob) Devemos concentrar todos os recursos disponfveis em programas que evitem 0 contato de nossos jovenscom as drogas, para que nao se percam nem se marginalizem

    c) Trata-se de um equfvoco, pois nao considera outros problemas sociais e de saude publica, que tarnbernpodem favorecer 0 usa de drogas de algumas populacoes

    d) Os usuaries sao vftimas das drogas que consomem

    5. Quando solicitado a prestar cuidados de saude a pessoas que usam drogas, 0 profissional de saude deve: (vocepode assinalar mais de uma resposta, se for 0 caso)a) Conhecer as condlcoes de vida, os comportamentos e os padroes de consumo dos usuaries de drogas desua comunidade

    b) Incluir outros profissionais e pessoas da comunidade, mas nao os usuaries de drogas, no planejamento e naexecucao das acoes a serem desenvolvidas

    c) Incluir outros profissionais, representantes da comunidade, inclusive os usuaries de drogas, no planejamentoe na execucao das acoes a serem desenvolvidas

    d) Nunca deve envolver os usuaries no planejamento ou execucao dessas acoes porque eles, alern de naoserem capazes, sao muito problernaticos e comprometem 0 service

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    Paulina do Carma Arruda Vieira Duarte

    1. Politica Nacional sobre Drogas2. A Lei nO11.343/2006 - Lei de Drogas3. Sistema Nacional de Politicas Publicas sobre Drogas (SISNAD)4. A Politica Nacional sobre 0Alcool5. Plano de enfreitamento ao crack e outras drogas

    Nesta aula do curso, voce conhecera a Sistema Nacional de Polfticas Publlcas sabre Drogas, as polfticas publlcasbrasileiras sabre alcool e outras drogas, a Plano de enfrentamento ao Crack e as principais leqislacoes relacionadasao tema. Conhecer esses marcos polfticos e importante para qualquer pessoa que atue junto a comunidade, pais elesorientam as acoes de prevencao e facili tam a compreensao da ternatica do usa de drogas.

    POLiTICA NACIONAL SOBRE DROGASAte a ana de 1998, a Brasil nao contava com uma polftica nacional especffica sabre a tema da reducao da dernanda' eda oferta de droqas", Foi a partir da realizacao da XX Assembleia Geral das Nacoes Unidas, na qual foram discutidos asprincfpios diretivos para a reducao da demanda de drogas, aderidos pelo Brasil, que as primeiras medidas foram tomadas.o entao Conselho Federal de Entorpecentes (CON FEN) foi transformado no Conselho Nacional Antidrogas (CONAD)e foi criada a Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD)3, diretamente vinculada a , entao, Casa Militar da Presidencia daRepublica.Com a rnlssao de "coordenar a Politica Nacional Antidrogas, por meio da articula~io e integra~io entre governo esociedade" e como Secretaria Executiva do Conselho Nacional Antidrogas, coube a SENAD mobilizar as diversos atoresenvolvidos com a tema para a cnacao da polftica brasileira. Assim, em 2002, par meio de Decreta Presidencial nO4.345 de26 de agosto de 2002, foi institufda a Polftica Nacional Antidrogas - PNAD.Em 2003, a Presidente da Republica, em Mensagem ao Congresso Nacional, apontou a necessidade de construcao deuma nova Agenda Nacional para a reducao da demanda de drogas no pals, que viesse a contemplar tres pontos principais:

    Integra~io das politicas publlcas setoriais com a Polftica Nacional Antidrogas, visando ampliar a alcance dasacoes;

    Descentraliza~io das a~oes em nfvel municipal, permitindo a conducao local das atividades da reducao dademand a, devidamente adaptadas a realidade de cada municfpio; Estreitamento das rela~oes com a sociedade e com a comunidade cientffica.

    Ao longo dos primeiros anos de exlstencla da Polftica Nacional Antidrogas, a tema drogas manteve-se em pauta e anecessidade de aprofundamento do assunto tambem, Assim, foi necessaria reavaliar e atualizar as fundamentos da PNAD,levando em conta as transforrnacoes sociais, polfticas e econornicas pelas quais a pals e a mundo vinham passando.1 Reducao da demanda: Aeoes referentes a prevencao do uso indevido de drogas Ifcitas e ilicitas que causem dependE!ncia, bern como aquelasrelacionadas com 0 t ratamento, a rscuperacao, a redueao de danos e a relnsercao social de usuar ies e dependentes.2 Reducao da oferta: Atividades inerentes Iirepressao da producao nao auto