Cutclif MacKenzie Bazzo

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OS ESTUDOS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE (CTS) Cátia Batista Reis 1 Eliane Abel de Oliveira 2 Até o surgimento do campo de estudos CTS, havia uma concepção essencialista da Ciência e Tecnologia como modelo de domínio político, promovendo um modo linear onde acreditava-se que o desenvolvimento de ambas gerava riqueza e bem estar social sem preocupar-se com os impactos gerados. Neste sentido o campo CTS constitui os aspectos sociais da Ciência e da Tecnologia. Este campo de estudo surgiu após a Segunda Guerra Mundial quando o mundo passava por um período conturbado, onde uma sucessão de desastres relacionados com a Ciência e a Tecnologia como os acidentes nucleares gerou a necessidade de se revisar a política científico-tecnológica e sua relação com a sociedade. Nos Estados Unidos, na década de 60, trabalhadores, após 20 anos acreditando que a Ciência e a Tecnologia eram sinônimos de prosperidade, começaram a perceber que era necessário avaliar os custos sociais de tal prosperidade e seus impactos negativos, dentre os quais a automação dos serviços em detrimento a estabilidade de emprego. Na mesma época movimentos sociais concebiam a tecnologia com um sentido maligno, ligada ao armamento, a cobiça e à degradação do ambiente. Neste 1 Mestranda em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná 2 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná, docente da Rede Municipal de Ensino de Curitiba e Mestranda em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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OS ESTUDOS DE CIÊNCIA, TECNOLOGIA E SOCIEDADE (CTS)

Cátia Batista Reis1

Eliane Abel de Oliveira2

Até o surgimento do campo de estudos CTS, havia uma concepção essencialista da

Ciência e Tecnologia como modelo de domínio político, promovendo um modo linear

onde acreditava-se que o desenvolvimento de ambas gerava riqueza e bem estar social

sem preocupar-se com os impactos gerados. Neste sentido o campo CTS constitui os

aspectos sociais da Ciência e da Tecnologia.

Este campo de estudo surgiu após a Segunda Guerra Mundial quando o mundo

passava por um período conturbado, onde uma sucessão de desastres relacionados

com a Ciência e a Tecnologia como os acidentes nucleares gerou a necessidade de se

revisar a política científico-tecnológica e sua relação com a sociedade.

Nos Estados Unidos, na década de 60, trabalhadores, após 20 anos acreditando que a

Ciência e a Tecnologia eram sinônimos de prosperidade, começaram a perceber que era

necessário avaliar os custos sociais de tal prosperidade e seus impactos negativos, dentre os

quais a automação dos serviços em detrimento a estabilidade de emprego. Na mesma época

movimentos sociais concebiam a tecnologia com um sentido maligno, ligada ao

armamento, a cobiça e à degradação do ambiente. Neste sentido surge uma política

mais intervencionista onde os governos criam formas de regular o desenvolvimento da

Ciência e da Tecnologia e a supervisionar seus efeitos sobre a natureza e a sociedade.

Com isso o campo CTS reflete a nova percepção da Ciência e da Tecnologia e de suas

relações com a sociedade, desenvolvidos em três grandes direções nos campo da

pesquisa, da política e da educação.

“A partir da sociedade do conhecimento foram desenvolvidos diferentes enfoques

para analisar a tecnologia, como por exemplo, o SCOT (Construção Social da

Tecnologia) que parte da premissa de que o desenvolvimento tecnológico pode ser

adequadamente descrito como um processo de variação e seleção” (Bazzo, 2003: 129).

1 Mestranda em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná2 Graduada em Pedagogia pela Universidade Federal do Paraná, docente da Rede Municipal de Ensino de Curitiba e Mestranda em Tecnologia pela Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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O enfoque SCOT é conhecido por sua crítica ao determinismo tecnológico que está

implícito na concepção do desenvolvimento tecnológico. É um estudo centrado nas

conseqüências sociais e ambientais da Ciência e da Tecnologia incentivando a

participação cidadã nas políticas públicas sobre ciência e tecnologia indo contra o

argumento tecnocrático de que o público não deve se envolver no desenvolvimento

tecnológico, pois acreditam que a ciência é uma instituição autônoma e objetiva. Para

os tecnocratas, as elites devem tomar as decisões, pois são mais adequadas e

racionais.

Tal concepção (tecnocrata) não leva em consideração de que as decisões tecno-

científicas nunca são neutras e que aqueles que são diretamente afetados pelas

decisões tomadas podem e devem dar sua opinião sobre o que lhes afeta. Para isso há

que se investir em um modelo de educação onde os cidadãos possam analisar sobre os

riscos e benefícios da tecnologia. Desta forma teremos cidadãos conscientes que farão

mais do que simplesmente depositar votos em uma urna e deixar que políticos tomem

as decisões.

A partir desta nova visão de desenvolvimento tecnológico, a sociedade procurou

regular a Ciência e a Tecnologia em padrões éticos a fim de democratizar seu

conhecimento fomentando um debate público sobre o tema e assim, desmitificar a

crença de que a tecnologia é inevitável e benfeitora em última instância, focando em

um desenvolvimento sustentável.

Para isso os enfoques em CTS buscam dar ênfase na alfabetização tecnológica, pois

desta forma os cidadãos terão subsídios de analisá-la e avaliá-la a fim de tomar

decisões a respeito sabendo das implicações que elas possam gerar. Para se obter tal

alfabetização, faz-se necessária uma revisão curricular nos diversos níveis de ensino.

O propósito de uma educação voltada para o enfoque CTS é aproximar o campo

humanístico do campo científico-tecnológico a fim de evitar atitudes tecnófobas que

possam dificultar a participação popular na transformação tecnológica.

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Alguns países já desenvolvem um trabalho com enfoque CTS em cursos de graduação e

no Ensino Médio. Tais trabalhos dividem-se em: enxerto CTS onde inserem nas

disciplinas de Ciências temas CTS, Ciência e Tecnologia através de CTS e o CTS puro.

Com isso, o enfoque CTS busca superar o debate simplista de prós e contras aos

méritos e deméritos da Ciência e da Tecnologia, uma vez que esta discussão não

agrega muito, pois mesmo quem se coloca numa posição antitecnológica, reconhece

os benefícios de tal desenvolvimento. A partir dos anos 80, o campo CTS formalizou-se

como um campo interdisciplinar essenciais para se estabelecer as relações entre

Ciências, Tecnologia e Sociedade.

REFERÊNCIAS

BAZZO, Walter; LINSINGEN, Irlan Von & TEIXEIRA, Luiz T. V. Os estudos CTS. In:

Introdução aos Estudos CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade). Espanha: OEI, 2003, p.

119-169.

CUTCLIFFE, Stephen. La emergencia de CTS como campo académico. In: Ideas y

Máquinas y Valores. Los estúdios de Ciencia, Tecnologia y Sociedad. Barcelona:

Anthropos, 2003, p. 7-23.

MACKENZIE, Donald & WAJCMAN, Judy. Introductory essay and general issues. In: The

social shaping of technology. Buckingaham, Philadelphia: Open University Press, 1996,

p. 3-27.