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D I N H E I R O Do tostão ao milhão Prof. Breno Brito Escolha o melhor produto financeiro para investir o seu dinheiro e aumentar sua rentabilidade! E mais: Dicas Modelos Testes Exercícios

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D I N H E I R O

Do tostão ao milhão

Prof. Breno Brito

Escolha o melhor produto financeiro para investir o seu dinheiro e aumentar sua rentabilidade!

E mais: Dicas Modelos Testes Exercícios

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O professor Breno transmite, através desse livro, sua experiência prática, conquistada, principalmente, através das dificuldades financeiras que viveu como micro-empresário, e atualmente como diretor financeiro de uma média empresa, além de investidor no mercado financeiro, e o conhecimento acadêmico, adquirido com a graduação em administração, especialização em marketing e mestrado em planejamento estratégico, exercendo a docência em cursos de administração, marketing e finanças, nos níveis graduação e pós-graduação, na Universidade Católica de Goiás e na Faculdade Cambury.

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Supérfluo e Necessário

Uns queriam um emprego melhor; outros, só um emprego.

Uns queriam uma refeição mais farta;

outros, só uma refeição.

Uns queriam uma vida mais amena; outros, apenas viver.

Uns queriam pais mais esclarecidos;

outros, ter pais.

Uns queriam ter olhos claros; outros, enxergar.

Uns queriam ter voz bonita;

outros, falar.

Uns queriam silêncio; outros, ouvir.

Uns queriam sapato novo;

outros, ter pés.

Uns queriam um carro; outros, andar.

Uns queriam o supérfluo;

outros, apenas o necessário.

Chico Xavier

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Agradecimentos À Universidade Católica de Goiás, por incentivar e proporcionar a oportunidade de publicação da produção intelectual de seu corpo docente. Ao Departamento de Administração da UCG, cujo convívio com colegas competentes e dedicados têm contribuído para o meu crescimento pessoal e profissional. A Divisão de Recursos Humanos da UCG, por acreditar em meu potencial e oferecer o curso de finanças pessoais, que deu origem a este trabalho, aos funcionários da instituição. A Editora da UCG, Prof. Gil Barreto, Lacy, Gabriela, Felix, e todos os demais colaboradores que me ajudaram a publicar este trabalho. A Tintas Leinertex, empresa administrada por pessoas sérias e visionárias, que aprendi a respeitar em nossa convivência profissional. A minha família, pais, filha, irmãos, namorada e amigos, que estimulam meu trabalho e contribuem com a minha caminhada. E, acima de tudo, a Deus, que abençoa cada dia de minha existência com sua presença constante em meu coração.

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Introdução É interessante como as coisas acontecem em nossa vida. Nasci em uma família de classe média, vivendo, mesmo assim, com certo conforto. Meu pai, um micro-empresário do setor de prestação de serviços em transportes, valorizava, acima de tudo, o estudo e o acúmulo de conhecimento como meio de prosperidade. Sempre sublinhou, principalmente no horário das refeições, que a única herança que nos deixaria seria a educação que, mesmo nos momentos mais difíceis, fazia questão de nos proporcionar. Assim, eu e meus irmãos freqüentamos uma escola particular de boa qualidade, enquanto começávamos a trabalhar no negócio da família, e aprendemos como nossos pais sacrificam a própria felicidade em função do futuro de seus filhos. Várias vezes vi meu pai deixar de viajar, ou comprar alguma coisa que queria muito, para poder pagar as mensalidades de nosso colégio. Na década de 90, estava com vinte e poucos anos, e nosso pai resolveu se afastar, aos poucos, do dia-a-dia da sua micro-empresa, confiando, principalmente a mim, por ser o filho mais velho, a condução dos negócios, pois ele já estava bastante cansado e pretendia se aposentar. Nada mais natural, não é mesmo? Começamos a viver, então, um período de expansão. Conseguimos novos e importantes clientes, nossa renda aumentou consideravelmente, e nós chegamos a pensar que iríamos ficar ricos. Possuíamos carro e moto importados, jet-ski e algum dinheiro para gastar no que quiséssemos. Até aquele momento, éramos simplesmente prestadores de serviço, ou seja, não tínhamos nenhum veículo para transporte, fossem caminhões leves, pesados ou camionetes, terceirizando o serviço através da contração de motoristas autônomos. Mas nosso principal cliente anunciou a decisão de privilegiar, a partir daquele momento, os transportadores com frota própria de caminhões. Nós não possuíamos capital próprio suficiente para a aquisição de veículos. Foi quando realizamos alguns cálculos, com cenários otimistas, e fizemos vários financiamentos. Nesse momento, cometemos alguns erros que, se não foram fatais, contribuíram enormemente para os problemas que enfrentaríamos a seguir. Ao invés de vendermos nossos carros, motos e jet-ski, que eram quitados, e adquirir veículos um pouco mais velhos, até que conseguíssemos, através dos lucros da empresa, adquirir carros novos, fizemos empréstimos, colocando-os como garantia, e aumentamos as despesas da empresa, pois além das prestações dos caminhões, que eram quatro, teríamos que pagar, também, as parcelas mensais do empréstimo bancário. Com isso, conheci vários produtos financeiros, como desconto de recebíveis (duplicatas, cheques ou promissórias), conta garantida ou caucionada, crédito direto ao consumidor (CDC), empréstimo pessoal, leasing, financiamento de veículos, títulos de capitalização, previdência privada, diversas modalidades de seguro, ou seja, todo o mix que é oferecido pelos funcionários de uma instituição financeira sempre que precisamos de dinheiro emprestado, não é mesmo?

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Naquele instante fomos apresentados a Lei de Murphy, que nos diz: ¨Se alguma coisa pode dar errado, com certeza ela dará errado!¨. Pode parecer pensamento de gente pessimista, mas por incrível que pareça, aprendi que ela realmente funciona. E vou lhe dizer porque. O último caminhão que adquirimos, por um valor, em 1997, de aproximadamente US$ 90.000,00 (noventa mil dólares), em torno de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) em moeda corrente, sofreu um capotamento com menos de duas semanas de uso. O motorista, com a carreta carregada de produtos de limpeza, que havia saído de Goiânia com destino a Belém do Pará, parou em uma cidade, no caminho, onde moravam alguns parentes, inclusive um primo que também era caminhoneiro, para almoçar a matar a saudade dos familiares. Após o almoço, o primo, vendo aquele veículo tão novo e bonito, pediu para dar uma experimentada, com meu funcionário sentado ao lado. Pois bem, o resultado foi um acidente, em que toda a carga foi saqueada, e seguradora, tanto do caminhão, quanto da mercadoria, se negaram a pagar o prejuízo, visto que o responsável pelo ocorrido não era funcionário da empresa. Mas o problema não era somente esse, contávamos com o faturamento do caminhão para o pagamento de sua prestação, que ficou parado por quase dois meses. Sem contar que teríamos que pagar a mercadoria para nossos clientes, pois a fábrica se isentou de qualquer responsabilidade. Fomos a Belém e negociamos o ressarcimento através da prestação de serviço. O prejuízo equivalia a dois meses de faturamento da empresa, ou mais de um ano de lucro. Note que, em uma situação como esta, não há planejamento que resista. Deus nos ajudou, dando-nos força para seguir adiante, e decidimos que aquilo não era motivo de desespero, pois o aperto financeiro seria momentâneo. O caminhão ficou pronto e voltou a trabalhar, o problema foi que, uma semana depois, outro veículo sofreu, também, um capotamento, próximo a cidade de Araguaína, no estado do Tocantins, desta vez devido às más condições de conservação da estrada. Neste caso, mesmo com o saque da mercadoria, a seguradora pagou o conserto do caminhão e a mercadoria, cujo valor foi repassado a nossos clientes. Só que, mais uma vez, nosso veículo ficou parado durante dois meses, não gerando o caixa para o pagamento de suas prestações. Pensamos que era o fim, mas novamente tivemos forças para continuar. Refizemos o planejamento, vários cálculos e cenários, e decidimos seguir em frente. Como forma de contenção de custos, começamos a usar, como depósito de mercadorias a serem transportadas, as instalações industriais de um amigo, que possuíam um armazém e estava ocioso, e, além disso, não nos cobrava o aluguel. Foi então que aconteceu o inimaginável. Durante uma chuva, que não acontecia uma igual há mais de dez anos, houve a inundação do depósito, fazendo que perdêssemos toda a mercadoria que estava ali guardada, equivalente a três caminhões. Vendemos carro, moto, jet-ski e pegamos dinheiro emprestado com amigos e agiotas, nossa única esperança era a de

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continuarmos trabalhando para pagar nossas dívidas. Para piorar, o principal concorrente subornou a pessoa responsável pelo transporte em nosso melhor cliente, diminuindo o volume de cargas transportadas. É claro que só ficamos sabendo disso quando o funcionário foi demitido, mas aí já era tarde. Você pode pensar: ¨Pôxa vida! Mas que pessoal azarado!¨ Mas esta é só mais uma história, como tantas outras que já ouvimos por aí, e que, infelizmente, ainda não acabou. Corria o ano de 1998, e o golpe de misericórdia viria no início do próximo ano, quando nosso governo desvalorizou o real, fazendo que as prestações de nossos caminhões, que eram corrigidas pela variação cambial, dobrassem de valor em poucos dias. Acabou-se! Quebramos! Ou, se preferir, falimos! Cheques devolvidos, títulos protestados, ameaças de morte, ou seja, o pacote completo. Aprendi, nesse período, que nada, ou que nenhuma palavra que se escreva, seria capaz de descrever a situação que passamos. Entendi porque tantas pessoas preferem a fuga, ou suicídio, do que encarar esse momento. Acho que é uma daquelas experiências que somente quem as vive pode imaginar a dor, a humilhação e o sentimento de impotência de uma pessoa com esse problema, e que não desejo ao meu pior inimigo. Tive que subornar, várias vezes, o funcionário da companhia elétrica e de saneamento para não interromper o fornecimento de água e energia, pois não conseguia efetuar o pagamento das contas no vencimento. Enfrentei, e ainda enfrento, negociações duríssimas com cobradores, gerentes de banco, fornecedores e advogados. Vi meu nome ir para o SPC, SERASA e todos os outros serviços de proteção ao crédito. Passei diversos constrangimentos, em estabelecimentos comerciais, para a aquisição de mercadorias, mesmo pagando a vista. Não conseguia, nem mesmo, locar um carro, pois era obrigatória a propriedade de um cartão de crédito. Em resumo, tornei-me um pária! Mas existe um ditado que diz, que aquilo que não nos mata, nos torna mais fortes. Mudei meu estilo de vida e aprendi, na prática, a controlar meus recursos, enxergando o quanto que o dinheiro, gasto no passado, estava me fazendo falta naquele momento. Passei a comprar somente à vista, a negociar descontos, a analisar qual era a real necessidade de cada produto que adquiria. Cancelei TV a cabo, desliguei linha telefônica, vendi o celular, demiti nossa empregada doméstica, racionei energia elétrica e, finalmente, arrumei um emprego para gerar uma outra fonte de receita. Sempre gostei de adquirir novos conhecimentos, e mesmo nos melhores momentos financeiros, que coincidiu com minha graduação em administração de empresas, continuei estudando, fazendo especialização em marketing. Alguns amigos diziam: ¨Pra que estudar tanto? Vocês estão ficando ricos! Curta mais a vida!¨ E, nesse momento, aprendi uma das lições mais importantes de minha vida, que vou compartilhar agora com vocês. Você pode perder todo o dinheiro que possui, mas o seu conhecimento, isso a gente nunca perde. Porque ele é só seu, está dentro de sua cabeça, e ninguém pode tomá-lo. E foi ele que me ajudou a me reerguer.

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Pelo meu histórico escolar na graduação, e na pós-graduação, já havia recebido convites para lecionar em Universidades, mas nunca aceitei, até mesmo porque não precisava, naquele momento. Mas agora a situação era outra, e comecei com a disciplina de administração financeira e orçamentária. Nesse momento descobri minha verdadeira vocação, que venho me dedicando de corpo e alma, tentando ajudar, com os conhecimentos que adquiri, para que meus alunos não cometam os erros que eu e meus irmãos cometemos. Minhas recompensas tem sido enormes, pois já fui homenageado por diversas turmas de formandos, inclusive nomeando uma delas. Decidi, então, que o conhecimento prático, conquistado diante da vivência de todos estes problemas, juntamente com a teórico, que adquiri com estudos e a experiência de professor universitário, poderiam ser compartilhados com as pessoas que vivem situações problemáticas diariamente na administração de seus recursos, tanto para a geração de poupança, como em investimentos no mercado financeiro, ou fora dele. Quero contribuir para o aumento de sua qualidade de vida, através do conhecimento necessário para que você se torne um milionário. Ou seja, não será por falta de dinheiro que se tornará uma pessoa infeliz! Mas decidi fazer isso de um modo diferente. Em todos os livros de finanças pessoais que li, os autores apresentam alguns bordões, nos mostram o peixe, mas não nos ensinam a pescar. Por isso, neste livro, para quase tudo que afirmo, desenvolvo os cálculos para que você seja capaz de analisar e formar uma opinião própria, concordando, ou discordando, daquilo que lhe é apresentado. Acho que isso é uma situação muito mais difícil, pois, nesse momento, corre-se o risco de uma séria de críticas a seu trabalho. Talvez seja esse o maior medo de qualquer escritor. A crítica negativa! Dediquei muitas horas na construção deste trabalho, principalmente nos fins-de-semana. E então descobri uma coisa muito importante. Qualquer que seja a crítica, ela nunca será melhor do que a minha satisfação de poder contribuir, mesmo que um pouquinho, com o conhecimento das pessoas. Por isso, lhe entrego, com muito carinho, o fruto do meu sacrifício. Espero que goste!

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SUMÁRIO 1. Dinheiro, finanças pessoais, poupança e juros ........................................... 9

1.1 Dinheiro .................................................................................................... 9

1.2 Finanças pessoais .................................................................................. 11

1.3 Poupança ................................................................................................ 12

1.4 Juros ....................................................................................................... 15

2 Receita e despesas: fluxo de caixa pessoal .................................................. 17

2.1 Juros compostos e calculadora HP 12C ................................................. 22

3 Criação e destruição da riqueza: o poder dos juros compostos ................ 27

4 Capital de giro pessoal: conceito e importância ........................................ 34

5 Opções e riscos dos investimentos ........................................................... 48

5.1 Produtos disponíveis no mercado financeiro ..................................... 52

5.1.1 Caderneta de poupança ................................................................... 52

5.1.2 Títulos públicos federais ................................................................... 55

5.1.3 Fundos de investimento ................................................................... 65

5.1.4 Certificado de Depósito Bancário (CDB) .......................................... 72

5.1.5 Previdência privada .......................................................................... 74

5.1.5 Títulos de capitalização .................................................................... 83

5.1.6 Consórcio ......................................................................................... 89

5.1.7 Ações ............................................................................................... 96

6.1.8 Seguro de bens, vida e saúde ........................................................ 116

6.1.9 Contratos de aquisição de animais ................................................ 122

6.1.10 Imóveis ......................................................................................... 130

6 Conclusão ............................................................................................... 141

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¨A falta de dinheiro entra pela porta, o amor sai pela janela.¨ Anônimo

1. Dinheiro, finanças pessoais, poupança e juros Vamos começar trabalhando com conceitos básicos, pois este não é um livro voltado para pessoas que já possuem conhecimentos aprofundados de finanças, mas para aqueles que estão iniciando a jornada para a busca de uma melhor qualidade de vida através da administração do seu dinheiro.

1.1 Dinheiro

Vários ditados populares associam a felicidade (sua existência ou falta) e a posse de dinheiro. Longe de mim querer questionar a sabedoria popular, até mesmo por gostar muito de citá-los e acreditar que, por detrás de uma simples frase, existe um pensamento muito mais aprofundado do que aparenta. Entre alguns dos meus preferidos podemos citar: ¨Dinheiro não traz felicidade¨: para as pessoas que utilizam esse ditado,

há mais coisas na vida além do dinheiro. Amor, família, saúde e paz são valores essenciais que, independente da quantidade de dinheiro que possuímos, são determinantes na felicidade pessoal. Podemos sintetizar que felicidade não é ¨ter¨, mas ¨ser¨;

¨Dinheiro não é tudo mas é 100%.¨: esse dito popular reflete, para outras pessoas, que o dinheiro é a ferramenta capaz de adquirir todas as coisas necessárias para a satisfação humana e, conseqüentemente, para a realização de sua felicidade. Temos aqui, o oposto do pensamento anterior, vinculando-se a felicidade a ¨ter¨ e não a ¨ser¨;

¨Dinheiro na mão é vendaval.¨: esse pensamento reflete a instabilidade da posse do dinheiro e nossa incapacidade de administrá-lo adequadamente. Nossas necessidades infinitas em contraposição aos recursos finitos transbordam em situações que, muitas vezes, poderiam ser evitadas com um planejamento financeiro adequado.

Sendo assim, algumas pessoas defendem que a riqueza por si só não satisfaz as necessidades humanas de carinho, amor, atenção e estima, enquanto outros alegam que as necessidades de saúde, moradia, alimentação, vestuário e entretenimento, quando não atendidas, contribuem para a infelicidade. Verifica-se, então, um confronto sem fim que não chega a lugar algum, visto existirem pessoas ricas e pobres felizes e infelizes. Então, acredito no pressuposto de que o dinheiro não traz felicidade, mas contribui consideravelmente para a qualidade de vida do cidadão, ao proporcionar condições para a aquisição de diversos confortos da vida moderna, além da segurança que o suporte financeiro proporciona em momentos inesperados de doença, desemprego ou acidente, propiciando condições, ao menos materiais, para uma vida mais feliz.

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Infelizmente, não somos educados adequadamente na gestão de nossos recursos financeiros. Deveríamos começar, desde criança, a descobrir o valor do dinheiro, das necessidades que ele ajuda a suprir, o funcionamento da economia e outros princípios fundamentais, como renda, juros e poupança. Para que isso aconteça, é preciso existir uma educação rígida no controle de nossas receitas e despesas, bem como o entendimento dos significados de cada palavra. Se não consigo essa compreensão, o processo de comunicação é prejudicado, tornando-se um assunto chato e desgastante. A maioria dos brasileiros conhece e associa diversos inventores a suas obras. Santos Dumont e o avião, Thomas Edison e a lâmpada, Henry Ford e o automóvel (apesar dele ter proposto um método revolucionário de produção, e não inventado o carro). Mas não conseguimos identificar o inventor do dinheiro. Por quê? A resposta está no fato de que o dinheiro surge e evolui da necessidade humana de determinar o valor das coisas e possibilitar a sua troca. Esse preço é determinado de acordo com as características de cada produto, principalmente sua rarabilidade e facilidade de reprodução, proporcionando a condição básica para sua negociação. Mesmo assim, a coisa não é simples. Antes da existência do papel moeda, como o conhecemos, os negócios eram feitos através do escambo, ou seja, da simples troca de mercadorias/produtos ou serviços. Assim, o soldado romano recebia porções de sal para o pagamento de seus serviços, originando, daí, a palavra salário, como sinônimo de remuneração. Podemos pensar, neste momento, que os soldados romanos eram bobos, ao aceitar o pagamento do seu suor com uma coisa tão barata, nos dias de hoje, como o sal. Mas devemos entender o contexto histórico de cada momento, visto que naquela época não existiam geladeiras ou freezeres, sendo que a conservação dos alimentos era realizada com esse produto. Percebeu sua importância? Mas esse método apresenta dificuldades óbvias. Por exemplo: suponhamos que eu tenha um boi, que vale duzentos peixes, mas eu só quero cem, como o vendedor de peixes vai me voltar o troco? Ou será que tenho que partir o boi ao meio e guardar a outra metade? Problemas como esse contribuíram para o surgimento das primeiras moedas metálicas, cunhadas pelos imperadores em metais preciosos, aceitas pelo seu valor intrínseco, ou seja, o poder de compra do metal de que era feita, como ouro, prata ou bronze. O tempo continua passando, e podemos imaginar a dificuldade para se carregar ou guardar grandes somas em moedas. Surge, então, na idade média, a figura do ourives, precursor do banqueiro, ou seja, o cidadão em cuja empresa você depositava uma quantia de moedas e recebia em troca um

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recibo, que passou a ser usado para pagamentos, dispensando o trabalho da posse e locomoção do dinheiro. Nasce, então, o papel moeda, cujo valor é extrínseco, ou seja, está escrito determinado valor em sua face, garantido por alguém (atualmente o governo), mas que no final das contas é somente um pedaço de papel com um número impresso. O problema é que esse simples pedaço de papel funciona como passaporte para a aquisição de todas as maravilhas do mundo capitalista, sendo motivo de brigas entre amigos, parentes, ou países. Duro de ganhar, difícil de manter ou, trabalho de Hércules, de multiplicá-lo. Assim, o dinheiro não nasceu da genialidade individual ou de um grupo de pessoas, mas de necessidades diárias que se apresentam e que precisam de solução. O desafio maior é o de como conseguir conciliar o dinheiro e a riqueza, produção, trabalho, consumo, distribuição de renda e outras variáveis econômicas, gerando uma melhor qualidade de vida para a população.

1.2 Finanças pessoais

Existe um ditado popular, muito famoso, que estabelece a seguinte condição: ¨O homem possui duas oportunidades de ficar rico na vida, quando

nasce e quando casa.¨ Esse pensamento reflete, com certeza, toda a dificuldade de acumularmos dinheiro, ou riqueza, através do trabalho. Pela dificuldade que possuímos em recebê-lo honestamente, podemos estabelecer sua importância em nossas vidas, devendo estudar os meios de melhor aplicá-lo, para alcançar os resultados esperados, ou seja, sua multiplicação. Entramos, então, no campo das finanças pessoais, que tentarei definir da maneira mais simples possível, como: ¨O conjunto de ferramentas utilizadas na administração dos recursos pessoais, para obtenção dos retornos desejados e o aumento da qualidade de vida.¨ Na minha opinião, acredito que a posse, ou a ausência de dinheiro, não são suficientes para garantir a qualidade de vida e a realização da felicidade que buscamos. A vida é muito mais complexa do que qualquer abordagem seria capaz de descrever, e o conceito de felicidade muito mais relativo do que realmente aceitamos. Por isso, o equilíbrio é essencial para qualquer coisa que desejamos realizar, viver ou alcançar. As pessoas costumam associar a administração financeira às empresas, esquecendo-se que elas são, na verdade, uma simples extensão de nossas vidas. A diferença primordial da administração financeira tradicional e as finanças pessoais estão em seu foco. Enquanto a obtenção da maximização da riqueza dos acionistas da organização, ou seja, a realização do lucro, o

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aumento da participação de mercado, a valorização de suas marcas, é o objetivo principal da administração financeira empresarial, nas finanças pessoais o retorno financeiro deve estar aliado a qualidade de vida pessoal ou familiar, pois a poupança que será investida será obtida a partir de sacrifícios, ou seja, da não aquisição de produtos ou serviços desejados. Às vezes, começo a imaginar o porque, devido a importância do dinheiro em nossas vidas, de não sermos educados, desde cedo, a administrá-lo. Acredito que seria bem mais fácil se lidássemos, desde crianças, com conceitos e jogos que fossem capazes de estimular a busca do conhecimento para o entendimento da economia e do mercado financeiro, para um melhor gerenciamento, e investimento, dos nossos recursos. Mas, o que não aprendemos em nossa infância, devemos aprender ao longo de nossa vida. Devemos iniciar comparando nossos recebimentos e pagamentos, a curto, médio e longo prazo, para podermos iniciar o planejamento financeiro necessário para o alcance de qualquer objetivo que seja proposto, inclusive tornando-nos milionários, através da poupança e de investimentos programados. Este é um dos objetivos que estaremos buscando ao longo desse livro.

1.3 Poupança

Alguns termos são comuns em nosso dia-a-dia. Poupar, com certeza, é um deles. Seu sinônimo mais próximo é a palavra economizar, que significa guardar alguma coisa no presente para utilização futura. Para mim, poupar tem outro entendimento: sacrificar. Para que exista a poupança, é preciso abrir mão da realização de meus desejos atuais, acreditando que isso será benéfico para mim no futuro. Não é uma tarefa fácil, pois uma das características mais comuns à vida é a incerteza. Existe um ditado popular, que ajuda a entender a dificuldade de muitas pessoas em poupar, que diz o seguinte: ¨Caixão não tem gaveta.¨: devo confessar que não é um dos meus

ditados populares prediletos. Simplificando, ele quer dizer o seguinte: deixe-me gastar o que ganho agora, pois se ficar economizando, quando partir dessa para a melhor, o resultado de todo meu sacrifício ficará para outras pessoas desfrutarem. Não deixa de ter um certo sentido. Mas eu descobri, da pior maneira possível, que as coisas não são bem assim.

Como falamos anteriormente, devemos tentar manter o equilíbrio em tudo que realizamos. Se me torno um poupador paranóico, a angústia de economizar contribuirá, com certeza, para a minha infelicidade. O verdadeiro investidor conhece profundamente suas receitas e despesas, e consegue, através de uma análise detalhada, desenvolver estratégias de poupança que lhe permitam economizar sem o sacrifício de sua qualidade de vida.

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Já falamos do dinheiro e das finanças pessoais. Vamos tratar, agora, do conceito de poupança financeira, que é apresentado a seguir. ¨A poupança é a renda individual, ou familiar, que não é utilizada em despesas, ou seja, é uma sobra, que deve ser aplicada em investimentos de interesse do poupador.¨ Não devemos confundir poupança financeira com caderneta de poupança, que é um produto oferecido pelas instituições financeiras para aplicação das minhas reservas. Daí começam a surgir alguns questionamentos. Para que poupar? Por que sacrificar a realização de meus desejos? Afinal, é para isso que eu trabalho. Podemos afirmar que são vários os motivos que levam as pessoas a poupar. Dentre eles destacamos: a garantia de que, em um momento de necessidade, teremos uma

reserva de segurança para socorrer-nos; a certeza de que, poupando hoje, poderei consumir mais em breve; a consciência de que, com o tempo, não trabalharei como agora,

devendo criar um complemento para a minha renda na aposentadoria. Assim, a poupança não é somente um volume de recursos financeiros aplicados em alguma modalidade de investimento, mas uma espécie de ¨seguro¨, que me permitirá enfrentar, com mais tranqüilidade, as tempestades que a vida me reservar. Desenvolva o exercício abaixo, extraído do Portal Exame, marcando a resposta que mais se aproxima de seu comportamento, mesmo que não reflita totalmente a realidade, e descubra sua capacidade de poupança. De que jeito você faz compras?

a) Sai gastando sempre que está muito contente ou muito triste. b) Às vezes se sente mal por não ter tudo o que seus amigos têm e gasta para não ficar para trás. c) Gasta em ciclos: faz dívidas no cartão e depois se esforça para pagar. d) Às vezes faz alguma extravagância, mas em geral as compras estão previstas no orçamento. Quanto da sua renda você consegue poupar? (Não considere planos de

previdência, poupança para a casa própria e reservas de emergência). a) menos de 10%. b) 10% ou mais. c) Não sei. d) Nada. Some todas as suas dívidas: financiamento imobiliário ou do carro,

cartão de crédito, cheque especial. Não inclua itens básicos como

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alimentos ou contas como telefone, luz e gás. Qual porcentagem da sua renda mensal suas dívidas representam?

a) Até 35%. b) 50%. c) Não sei. d) 40%. O que você faria se recebesse um aumento de salário hoje?

a) Nada. b) Sairia para fazer compras. c) Prometeria para si mesmo que desta vez vai fazer um orçamento. d) Sairia para jantar ou compraria algo que estivesse querendo há muito tempo. E poria o resto na poupança. Quando você reflete sobre sua situação financeira, você se sente:

a) Desanimado. Parece que a coisa está cada vez pior. b) Otimista. Você tem gastado bastante, mas logo conseguirá se organizar. c) Confiante. Você está alcançando os objetivos estabelecidos. d) Você só pensa nisso quando não consegue dormir. Um amigo o convida para passar um fim de semana incrível na praia.

Supondo que não haja dinheiro para isso, você: a) Recusa o convite e promete para si mesmo que vai começar a economizar para viagens de fim de semana. b) Dá uma olhada no extrato da sua conta corrente ou do cartão de crédito e vê de onde pode sacar mais dinheiro. c) Aceita correndo, mesmo sem saber quanto custará o passeio. d) Pede dinheiro emprestado. Você precisa viajar! As férias chegaram.Você:

a) Jura que não vai cometer os mesmos excessos do ano passado. b) Usa apenas o que já estava guardado para isso. E nada além disso. c) Pede mais dois cartões de crédito. d) Enche a cara. Você ainda está pagando as férias de 2000 e todos os seus cartões estão com o limite estourado. Você acabou de conseguir o primeiro emprego. Você:

a) Faz um orçamento e pensa numa forma de poupar parte do seu salário. b) Nem pensa em entrar no plano de previdência da sua empresa. Afinal, ainda falta muito tempo para se aposentar. c) Pega dinheiro emprestado dos seus pais para montar um guarda-roupa impecável e comprar um carro novo. d) Pede um empréstimo ao banco ou compra seu primeiro DVD no crediário. Afinal, agora você tem um contracheque.

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Seu primeiro filho está para chegar. Você:

a) Compra uma casa maior b) Convida sua mulher (ou marido) para a última grande viagem a dois. c) Fica deprimido, pois não está tranqüilo financeiramente para sustentar um filho. d) Planeja um novo orçamento. A vida vai mudar. Terminou? Compare, agora, as respostas que você marcou com o quadro de pontuação abaixo (figura ....), totalizando-as.

Questões

Opção 1 2 3 4 5 6 7 8 9

a 3 7 10 10 3 10 5 10 3

b 3 10 5 3 7 5 10 3 3

c 5 3 3 5 10 3 3 3 5

d 10 3 7 7 3 3 3 3 10

Figura ...: Quadro de pontuação do teste de capacidade de poupança Confira, finalmente, o resultado: Até 39 pontos: você nem de longe está conseguindo controlar o seu

dinheiro. É bom tomar as rédeas da situação para não se afundar em dívidas.

De 40 a 69 pontos: a situação está sob controle. Você é um forte candidato a ter suas finanças em ordem.

De 70 a 90 pontos: parabéns! Com essa organização, muito provavelmente você já está conseguindo fazer um bom pé-de-meia.

1.4 Juros

Ao deixar de adquirir coisas que queria, como sapatos, roupas ou eletrodomésticos, para poupar dinheiro, eu me impus um sacrifício, ou seja, deixei de realizar um desejo, que espero que seja recompensado. Só que, para isso, é preciso que alguém necessite destes recursos, e me pague o aluguel da utilização dos mesmos. Este aluguel é chamado de juro. Normalmente, procuramos uma instituição financeira para aplicarmos nossas reservas e, tradicionalmente, optamos pela caderneta de poupança, por representar um investimento seguro e com pequeno ganho, sem nos preocuparmos em analisar outras opções quase tão seguras e com rentabilidade mais atraente. As características dos diferentes produtos financeiros, seu risco e rentabilidade, serão abordadas nos próximos capítulos, para que possamos entender seu funcionamento e adequá-los ao perfil de cada investidor.

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Mas como acontece a multiplicação do dinheiro? Os bancos podem imprimir papel moeda? Eles utilizam esses recursos e pagam juros ao investidor? Na verdade, a instituição empresta o capital dos poupadores para outras pessoas e empresas, a uma taxa de juros maior, para que os ganhos obtidos sejam suficientes para garantir o pagamento de seus custos, a geração de lucros e a remuneração dos poupadores. E não, os bancos não podem imprimir dinheiro, pois esta é uma atribuição exclusiva do Banco Central do Brasil, por autorização do Governo da Republica Federativa do Brasil. Vemos, então, que o primeiro grande desafio a ser vencido é um só: poupar. O restante vem como conseqüência. Mas porque será que poupar é tão difícil. Será que o apelo do lançamento de novos produtos através das propagandas os torna irresistíveis? A necessidade de acompanhar as tendências da moda e de destacar-mo-nos entre nossos amigos? O desejo de adquirirmos o último modelo de celular, para poder estar na ¨crista da onda¨ tecnológica? De mostrar-nos aos vizinhos nosso carro, moto ou qualquer brinquedo novo, que representam nosso sucesso profissional? São perguntas difíceis, que devem ser respondidas com sinceridade, para o início da transformação que é tornar-se um poupador e, posteriormente, um investidor. Então eu te pergunto: já respondeu?

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¨O homem vale o que possui¨ Anônimo

2 Receita e despesas: fluxo de caixa pessoal Depois de explicarmos os primeiros conceitos financeiros, começaremos, agora, a aplicá-los em nossa realidade. Para isso, precisamos diferenciar receita, despesas e investimento. Consideramos como receitas todos os valores que recebemos, que significa a posse, e que nos pertencem, que representa a propriedade. Fazemos esta diferenciação para que um empréstimo, por exemplo, não seja considerado uma receita, visto que deverá ser pago futuramente. Salários, bônus, aluguéis, juros, participações, dividendos, heranças, mesadas, restituições do imposto de renda, ou ganhos diversos, estão nesta categoria, e contribuem para o aumento de nossa riqueza. Por outro lado, as despesas constituem os gastos, ou desembolsos, necessários para nossa manutenção, independente se voltadas para nossa sobrevivência, ou conforto. Obrigações como faturas de água, energia, telefone, impostos, condomínio, aluguel, combustíveis, juros, manutenção de veículos, supermercado, escola, seguros, TV a cabo, pensão alimentícia, entre outras, estão neste grupo, e diminuem nossos recursos. Assim, leia com atenção o conceito que lhe apresento a seguir: ¨A operação de realizar a diferença, entre receitas e despesas pessoais, em um determinado período, normalmente mensal, é chamado de fluxo de caixa pessoal.¨ A beleza principal deste conceito está em sua simplicidade, ou seja, não existe espaço para indagações ou suposições, o resultado é igual a receitas menos despesas, e ele é determinante em sua vida. A poupança nasce a partir do momento em que ele é positivo, ou que as receitas são maiores que as despesas. As dores de cabeça começam no instante oposto, fácil assim. Normalmente, a maioria das pessoas possui o hábito de conhecer profundamente as suas receitas, principalmente para poder comprometê-las, não dedicando a mesma preocupação com a análise detalhada de suas despesas, até mesmo para não aborrecer-se com a antecipação de problemas. Será que esta é a melhor atitude para quem pretende atingir uma tranqüilidade financeira a médio e longo prazo? A resposta, com certeza, é não! Para que possamos iniciar este capítulo plantando sementes que germinarão em bons frutos, desenvolva o modelo de descrição de receitas e despesas apresentado abaixo, considerando o mês atual, para que possamos ter a noção da movimentação financeira deste período, e continuarmos com nosso aprendizado de investidores.

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Receita Despesas com transporte

Seu salário Combustível

Salário do seu cônjugue Manutenção/IPVA/Multas

Pró-labore Seguro do carro

Receitas de investimentos Financiamento de carro

Outras Estacionamento

Total de receitas(1) Táxi/ônibus/metrô

Despesas com moradia Outras

Condomínio Subtotal(D)

Aluguel Despesas com saúde

Prestaçao de financiamento Seguro de saúde

Água/Luz/Gás Médico particular

Telefone(fixo e celular) Exames laboratoriais

Empregada doméstica/faxineira Dentista

TV por assinatura Farmácia

Provedor de internet Academia de ginástica

Supermercado/Feira/Padaria Outras

Reparos/manutençao Subtotal(E)

Outras Despesas diversas

Subotal (A) Vestuário

Despesas com educação Presentes

Mensalidades escolares Cabelereiro/barbeiro

Cursos extra-curriculares Hobbies

Livros escolares Outros seguros(vida, residencial etc)

Seminários/Palestras Gastos com animais de estimação

Transporte escolar Doações

Lanche Anuidade de cartão de crédito

Outras Tarifas bancárias

Subtotal(B) Contribuição para plano de previdência

Despesas com lazer Subtotal(F)

Cinema/teatro/show

Restaurantes Prestações de crediários

Viagens Juros de cartão de crédito

Discos/livros Juros de cheque especial

Jornais/revistas Outros financiamentos

Aluguel de filmes/jogos/DVDs Impostos

Mensalidade do clube Subtotal(G)

Outras

Total de despesas(2)

(A+B+C+D+E+F+G)

Subtotal(C)

Sobra/déficit mensal (1) - (2)

Figura ...: Receitas e despesas mensais Isso que acabamos de fazer é um modelo de fluxo de caixa, e existem vários. Normalmente, utilizamos planilhas eletrônicas, principalmente do aplicativo Excel, da Microsoft, para efetuarmos os lançamentos relativos as receitas e despesas em cada período. Atualmente, são disponibilizados diversos softwares, como o Money, da mesma empresa, que permitem o acompanhamento de toda movimentação financeira pessoal. Você pode pensar: ¨Mas eu sou péssimo com computadores!¨, o que importa não é o

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software, ou o hardware, mas o entendimento e a intenção de realizar o fluxo de caixa, que, na pior das hipóteses, pode ser elaborado na folha de um caderno antigo. É claro que nenhum software, ou planilha, funciona sozinho. É necessário disciplina para anotar e efetuar todos os desembolsos que realizamos em nosso dia-a-dia. Desde a gorjeta ao garçom, o flanelinha que vigia o carro, ou as doações às instituições de caridade. No fluxo de caixa, o que importa é a saída dos recursos, para que possamos acompanhá-los de maneira correta. Com o tempo, torna-se um hábito, como escovar os dentes, ou pentear os cabelos. Para que você não precise reinventar a roda, abaixo te apresento um modelo simplificado (figura ...) de fluxo de caixa pessoal, que pode ser desenvolvido em uma planilha eletrônica, um caderno de anotações ou até mesmo em um pedaço de papel de pão usado.

COD RECEBIMENTOS último

1 Salário 0

2 Aluguéis 0

3 Juros 0

4 Empréstimos recebidos 0

5 Outras receitas 0

A TOTAL RECEITAS 0

A.A Receitas Acumuladas

Depósito FGTS

PAGAMENTOS

1 Compras residenciais 0

2 Medicamentos 0

3 Combustível 0

6 Energia 0

7 Água 0

8 Seguros 0

10 Telefone 0

11 Manutenções diversas 0

12 Mesada dos filhos 0

13 Financiamentos 0

14 Plano de saúde 0

15 Aquisição de bens 0

16 Outras despesas 0

B TOTAL DESPESAS 0

B.B Despesas Acumuladas

C FLUXO DE CAIXA (A-B) 0

Figura ....: Modelo de um fluxo de caixa pessoal Observe que, nas primeiras linhas, são apresentadas as diversas modalidades de receitas, que posso obter mensalmente, ou em qualquer outro período, e que são consideradas como entradas. Posteriormente, a descrição analítica

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das despesas comuns a maioria das pessoas, que devem ser somadas e, posteriormente, deduzidos das receitas, quando obteremos o saldo do fluxo de caixa. Só posso começar a pensar em investimentos a partir do momento que possuo resultados positivos em períodos, de preferência consecutivos, maiores que os saldos negativos, pois em vários momentos do ano, principalmente no início das aulas, férias e pagamento de impostos, por exemplo, as despesas costumam ser maiores que as receitas. Mas aí aparece mais um problema, pois, afinal, o que são investimentos? Posso considerar que a aquisição de uma TV, um DVD, uma geladeira ou um carro novo não são despesas, e sim investimentos? A resposta é não! E vamos combinar, a partir de agora, o nosso conceito de investimento. ¨Investimento é qualquer desembolso efetuado com o objetivo de obter retorno, ou ganho, financeiro ou não, em um determinado período de tempo.¨ E porque os bens acima não são investimentos? Porque são bens de consumo, que se desgastam e desvalorizam com o tempo, diminuindo nossa riqueza e, portanto, não podem ser considerados como investimento. Tudo isso é meio óbvio, e, por isso mesmo, um pouco cansativo. Mas é importantíssimo para a mudança de nosso comportamento financeiro. Passaremos, agora, para exemplos práticos, de nosso dia-a-dia, que geram desperdício de recursos, impedindo a geração da poupança necessária para a realização de investimentos: Observe seus gastos com telefone, se em sua família existem pessoas

que se esquecem de que cada ligação é cobrada, instale um aparelho codificador ou bloqueador, que tanto podem inibir, quanto controlar o tempo das chamadas originadas. Em minha casa a conta de telefone caiu de R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais), para R$ 50,00 (cinqüenta reais), ao mês. Economia de R$ 100,00 (cem reais).

Se você mora sozinho, ou se a maioria das pessoas de sua família possui telefone celular, verifique a conveniência de solicitar o desligamento da linha telefônica convencional, pois a assinatura básica custa R$ 33,00 (trinta e três reais) mensais. Outras saídas são a instalação de uma linha fixa pré-paga (a cartão), ou o pagamento de uma assinatura básica de R$ 12,00 (doze reais) para que a linha somente receba ligações.

Verifique o consumo de gasolina do seu carro. Se você roda em torno de 1000 quilômetros ao mês, e o desempenho do veículo é de 8 quilômetros por litro, e o litro de gasolina custa, em média, R$ 2,03 (dois reais e três centavos), você desembolsará R$ 255,00 (duzentos e cinqüenta e cinco reais) ao mês. Se adquirir um carro popular, com um consumo de 12 quilômetros por litro, este gasto cairá para R$ 169,00 (cento e sessenta e nove reais), uma diferença de R$ 86,00 (sessenta e seis reais) mensais.

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Abasteça sempre à vista. Procure postos de combustíveis confiáveis, que ofereçam promoções para pagamento em dinheiro. Se você gasta cinqüenta litros de combustível por semana, e consegue economizar R$ 0,06 (seis centavos) por litro, pagará R$ 3,00 (três reais) a menos por abastecimento, significando R$ 13,00 (treze reais) ao mês, ou R$ 146,00 (cento e quarenta e seis reais) anuais.

Aproveite as promoções das oficinas e concessionárias para fazer a manutenção preventiva de seu veículo, ou mesmo a troca de óleo e de filtros.

Você possui TV a cabo? Verifique quem e quais os canais mais assistidos pelas pessoas de sua casa. Não pague um pacote completo se ele não é utilizado. Se a maioria de seus familiares trabalha fora, sobrando pouco tempo para assistir a televisão, veja a viabilidade de cancelar o contrato, locando filmes, quando der vontade de assisti-los. Normalmente, pagamos pelo serviço e ainda gastamos com locação e cinema.

Repense seus hábitos. Uma carteira de cigarro por dia representa R$ 63,00 (sessenta e três reais) ao mês, sete cervejas por semana, ou uma por dia, produzem um desembolso de R$ 81,00 (oitenta e um reais) mensais, um refrigerante em lata por dia custa R$ 39,00 (trinta e nove reais) no mesmo período.

Agradeça o crédito oferecido por seus fornecedores, como lanchonetes, padarias e pequenos supermercados, e não compre mais fiado. Normalmente, por não ter que pagar no momento da aquisição, o consumo é maior, aumentando as despesas mensais.

Só compre a vista. Qualquer desconto que você negocie a vista será, com certeza, maior que o rendimento obtido nas aplicações financeiras tradicionais. Se você consome R$ 2.000,00 (dois mil reais) anuais com roupas, sapatos, acessórios, ou quaisquer outros gastos pessoais, e conseguir uma economia média de 5%, terá deixado de desembolsar R$ 100,00 (cem reais), e, de prêmio, economizado no pagamento dos juros das compras a prazo.

Destrua quase todos os cartões de crédito e cancele suas contas bancárias. Mantenha um de cada, para emergências, ou recebimentos e aplicações. Se você possui dois, ou mais, cartões, seu gasto com manutenção será de, no mínimo, R$ 40,00 (quarenta reais) anuais, mais juros e multas em caso de atraso. Em contas correntes, o pacote mínimo de serviços, oferecidos pelas instituições financeiras, custam, normalmente, R$ 12,00 (doze reais) mensais. Logo, sua economia será de R$ 144,00 (cento e quarenta e quatro reais) anuais.

Se pretende viajar nas férias, aça uma poupança mensal que pague, à vista, o pacote de viagens, os gastos no destino e os presentes para os amigos. Você economizará dinheiro e ganhará qualidade de vida, pois uma das piores coisas que existem é a dor de cabeça das dívidas depois da alegria do passeio.

Evite fazer grandes compras mensais (de produtos alimentícios e de higiene e limpeza pessoais), e vá ao supermercado sempre munido de lista de compras. Prefira os produtos em promoção. Uma economia de 10% em suas compras mensais fará uma grande diferença no final de um ano. Experimente novas marcas, de produtos mais baratos, e

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compare os preços com os produtos que usa tradicionalmente, só pague mais se o produto realmente oferecer uma qualidade superior que valha a diferença.

Utilize, ao máximo, a iluminação natural. Substitua lâmpadas incandescentes por fluorescentes, que consomem menos energia. Cores escuras, em partes internas da casa, exigem lâmpadas mais fortes para oferecer uma iluminação mais adequada, que consomem mais energia, aumentando o valor da fatura no final do mês. Se possível, utilize cores mais claras nas paredes.

Evite guardar, na geladeira, alimentos ainda quentes, pois isso exige um maior esforço do motor e maior gasto de energia, ou utilizar a parte traseira para secar panos, roupas e sapatos. Verifique, ainda, a borracha de vedação, se não estiver guardando o frio adequadamente, troque-a.

Não durma com o televisor ligado e, se em sua residência tiver mais de um, evite a sua utilização simultânea. Em último caso, programe a função de desligamento automático (timer).

Limite o tempo de banho, normalmente, oito minutos são suficientes. Mantenha, sempre que possível, a chave do chuveiro na posição verão, economizando 30% do consumo de energia.

Você deve estar pensando, como muitos amigos meus, que ¨esse cara é louco!¨, ou, no mínimo, paranóico. Então, deixe-me apresentá-lo a verdadeira mágica das finanças, uma coisa chamada juros compostos.

2.1 Juros compostos e calculadora HP 12C

Os juros compostos nada mais são do que o acúmulo, mês a mês, do capital investido mais os juros gerados, fazendo que ele cresça a uma velocidade maior do que se fosse remunerado somente o juro sobre o principal todos os meses (chamado de juro simples). Existe toda uma teoria, disponível em diversos livros de matemática financeira, que utilizam vários cálculos matemáticos, para a apuração da rentabilidade de investimentos através de diversos períodos, valores e taxas. Mas a tecnologia está aí para colaborar com nossos problemas com cálculos, fornecendo uma maravilha chamada calculadora financeira HP 12C (figura ...).

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Figura .....: Calculadora financeira HP 12C Não precisa pensar que a HP está me pagando comissão ou financiando nosso livro. Ela é, simplesmente, a ferramenta de cálculo financeiro mais utilizado pelos profissionais que atuam nessa área. Principalmente pela tradição e reputação que conquistou no mercado. É interessante frisar que existem produtos mais modernos e completos, mas nenhum conseguiu substituir esta calculadora no coração dos financistas. Procurarei mostrar os passos básicos em sua operacionalização, sempre que mostrar cálculos que foram realizados através dela e, desde já, te aconselho a realizar um dos melhores investimentos de sua vida. Invista em você mesmo, faça um curso de matemática financeira básica e operação de HP 12C. Em sua cidade, procure o SENAI, SESI, SESC, SEBRAE, universidades ou centros de capacitação que o ofereçam, com duração, normalmente, de no máximo vinte horas e custos que variam de R$ 50,00 (cinqüenta reais) a R$ 80,00 (oitenta reais). Vamos exemplificar as diferenças entre juros simples e compostos para um melhor entendimento. Suponha que investi, em 02/05/03, R$ 1000,00 em um fundo de renda fixa, a uma taxa média de 1,5% ao mês, durante quatro meses, vejamos qual seria o total da aplicação com a remuneração em juros simples e compostos.

Juro simples

Data Capital Taxa Período Juros Montante

02/05 1000 1,5% 0 0 1000

02/06 1000 1,5% 1 15 1015

02/07 1000 1,5% 2 15 1030

02/08 1000 1,5% 3 15 1045

02/09 1000 1,5% 4 15 1060

Figura 01: cálculo de juros simples de uma aplicação Veja que o rendimento obtido foi, ao final, de 6% do capital investido, que correspondem a soma da taxa de juros mensal, de 1,5%, vezes o número de meses em que os recursos foram aplicados. Observe, ainda, que somente o valor principal é remunerado com juros, mesmo acumulando o valor do rendimento mês a mês ao capital investido.

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Observe, agora, o mesmo investimento remunerado com juros compostos.

Juros compostos

Data Capital Taxa Período Juros Montante

02/05 1000 1,5% 0 0 1000

02/06 1000 1,5% 1 15 1015

02/07 1015 1,5% 2 15 1030,22

02/08 1030,22 1,5% 3 15 1045,68

02/09 1045,68 1,5% 4 15 1061,36

Figura 02: cálculo de juros compostos de uma aplicação Verifique que, no sistema de juros compostos, o rendimento foi maior em aproximadamente 2,27% dos juros (a diferença entre os R$ 61,36 e R$ 60,00 obtidos com os juros simples), no mesmo período, pelo fato dos juros serem incorporados ao capital e aumentarem os valores aplicados mensalmente. Para fazer este processo na calculadora HP 12C, você deve seguir os seguintes passos: Tecle CLX Tecle ¨f¨ e CLX Digite o valor do capital e tecle CHS e PV Digite o número de períodos e tecle ¨n¨ Digite a taxa de juros e tecle ¨i¨ Aperte FV e descubra o total no final do período

Novamente você pode estar pensando: ¨Pôxa, estou aqui estudando para ganhar R$ 1,36 (um real e trinta e seis centavos) a mais, em quatro meses?¨. Então, lhe mostrarei a diferença que estes valores podem fazer no longo prazo. Lembra-se daqueles exemplos bobos que falei agora mesmo, do cigarro, da cerveja ou da gasolina? Vamos fazer umas continhas básicas. Simulação do rendimento obtido através da poupança e investimento do

valor equivalente a 01 carteira de cigarro por dia, no valor de R$ 2,10 (dois reais e dez centavos), que representam um gasto de R$ 63,00 (sessenta e três reais) ao mês, à taxa de juros de 1,0% mensal (líquido da inflação), durante os seguintes períodos:

10 anos: R$ 14.637,36 20 anos: R$ 62.946,32 30 anos: R$222.384,57 (Duzentos e vinte e dois mil, trezentos e oitenta

e quatro reais e cinqüenta e sete centavos). Uma cerveja por dia (você pode dizer que não toma uma por dia, mas se

bebe sete no fim de semana, dá no mesmo), no valor de R$ 2,70 (dois reais e setenta centavos), que representam R$ 81,00 (oitenta e um reais) mensais, na mesma taxa de juros.

10 anos: R$ 18.819,46

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20 anos: R$ 80.930,98 30 anos:R$ 285.923,02 (duzentos e oitenta e cinco mil, novecentos e

vinte e três reais e dois centavos) Economia de R$ 140,00 ao mês, de combustível, telefone, água e

energia, em condições idênticas: 10 anos: R$ 32.527,47 20 anos: R$ 139.880,71 30 anos: R$ 494.187,93 (quatrocentos e noventa e quatro reais, cento e

oitenta e sete reais e noventa e três centavos) Novamente, para realizar esta modalidade de cálculo na HP 12C, siga os seguintes passos: Digite o valor à vista; Aperte a tecla CHS; Tecle PV; Coloque o valor das prestações (digite somente uma) com a tecla PMT; Informe o número de prestações que serão pagas e tecle ¨n¨; Aperte a tecla ¨i¨. Aperte a tecla FV e observe o resultado

Vejamos os ganhos nos respectivos períodos:

10 anos 20 anos 30 anos

Cigarro 14.637,36 62.946,32 222.384,57

Cerveja 18.819,46 80.930,98 285.923,02

Outras economias 32.527,47 139.880,71 494.187,93

Total 65.984,29 283.758,01 1.002.495,52

Figura 03: cálculo dos benefícios obtidos a longo prazo de aplicações financeiras Surpreso? Pois é. Com essas medidas simples de economia te mostrei como se tornar um milionário em 30 anos, e não cobrei nada mais por isso. Talvez esteja se perguntando: ¨Onde obterei investimentos que me rendam 1% ao mês acima da inflação?¨. Este assunto será tratado um pouco mais a frente. Por enquanto, reflita sobre o que foi mostrado e me diga, sinceramente: Não vale a pena repensar alguns hábitos? Para finalizar, faça o fluxo de caixa abaixo, e verifique o comportamento de suas receitas e despesas nos últimos três meses, complementando com a análise do início do capítulo, do mês atual, esse conhecimento lhe será extremamente útil nos próximos assuntos que iremos abordar.

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COD RECEBIMENTOS antepenúltimo penúltimo último Total

1 Salário

2 Aluguéis

3 Juros

4 Empréstimos recebidos

5 Outras receitas

A TOTAL RECEITAS

A.A Receitas Acumuladas

Depósito FGTS

PAGAMENTOS

1 Compras residenciais

2 Veículos (manut., IPVA)

3 Salários e encargos

6 Energia

7 Água

8 Seguros

10 Telefone

11 Imposto de Renda

12 INSS

13 Financiamentos

14 Pensão Alimentícia

15 Aquisição de bens

16 Outras despesas

B TOTAL DESPESAS

B.B Despesas Acumuladas

C FLUXO DE CAIXA (A-B)

C.C Fluxo Caixa Acumulado

D SALDO CAIXA

E SALDO BANCOS

F SUBTOTAL (C+D+E+F)

G CONTRATAÇÃO EMP.

H MOV. APLICAÇÕES

I SALDO FINAL (F+G-H)

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¨Os bancos são instituições que lhe emprestam um guarda-chuva em um dia

de sol, para tomá-lo no dia de chuva.¨ Anônimo

3 Criação e destruição da riqueza: o poder dos juros compostos

Eu te mostrei, simplificadamente, como ficar milionário em 30 anos, com algumas economias em seu dia-a-dia. Comecei a me educar depois que passei sérias dificuldades financeiras, que contribuíram ainda mais para meu aprendizado. Às vezes, quando estou conversando com os amigos, colegas de trabalho ou alunos, eles fazem brincadeiras com o meu comportamento, mas no final acabam me dando razão. Um exemplo foi bastante engraçado, por isso vou contá-lo agora a vocês. Um colega de trabalho juntou, durante algum tempo, o dinheiro necessário para realizar o sonho de adquirir um carro importado. Para isso vendeu o carro antigo, complementou com a poupança e financiou o restante, conforme o quadro abaixo:

Valores

Carro antigo 18.000,00

Poupança 18.000,00

Financiamento 16.000,00

Total 52.000,00

Figura 04: investimento necessário para compra de um carro importado Fora isso, ainda adquiriu um seguro, para o carro novo, no valor de R$ 2.600, (dois mil e seiscentos) reais, para pagamento em 10 vezes. O financiamento, de R$ 16.000,00 (dezesseis mil reais), seria pago em 24 parcelas de R$ 894,60 (oitocentos e noventa e quatro reais e sessenta centavos), calculados a uma taxa de juros de 2,5% ao mês. Ele me contou essa história, pois estava extremamente feliz com a aquisição do veículo, embora um pouco preocupado com o pagamento das prestações e do seguro. Comecei, então, a fazer algumas contas comparativas do carro antigo e o novo para ele, mostrando o impacto que a troca teria em suas finanças pessoais. Veja que situação interessante:

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Custo anual

Carro antigo Carro novo Diferença

Seguro (5%) 900,00 2.600,00 1.700,00

IPVA (± 4%) 720,00 2.080,00 1.360,00

Depreciação 900,00 5.200,00 4.300,00

Manutenção 500,00 1.000,00 500,00

Custo de oportunidade 2.160,00 6.240,00 4.080,00

Juros financiamento 0 1.735,20 1.735,20

Total 5.180,00 18.855,20 13.675,20

Figura 05: cálculo das diferenças de custo anual entre um carro antigo e um carro novo Ao adquirir um carro importado, ele aumentou todas as suas despesas mensais, afinal, o valor do seguro e do imposto sobre propriedade de veículos automotores (IPVA) são cobrados sobre o valor do veículo (sem contar que carros importados contam com uma alíquota de imposto maior). E a depreciação? O que é este conceito? Ela é a desvalorização que todos os bens de consumo são submetidos pelo seu uso, sendo, normalmente, mais acentuada em seus primeiros anos, principalmente em automóveis importados. Eu possuía um Calibra, importado pela General Motors do Brasil, ano e modelo 1995, e desenvolvi uma análise comparativa de sua desvalorização, através dos anos, com um veículo Gol 1.6, do mesmo ano. Observe na figura..... a curva de depreciação dos dois veículos.

0%

20%

40%

60%

80%

100%

120%

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003

calibra gol 1.6

Figura 06: Desvalorização comparativa de dois veículos em aproximadamente sete anos O veículo foi adquirido, em 1995, por aproximadamente R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), perdendo, nos dois primeiros anos, aproximadamente 20% de seu valor por ano. Do terceiro ano em diante, começou a desvalorizar-se a

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um ritmo constante de 15% ao ano, sendo vendido, em 2003, por R$ (14.000,00 quatorze mil reais), ou seja, o automóvel perdeu quase 76,7% do seu valor nesse período. Antes que algum vendedor de veículos reclame com seus argumentos de venda, é bom sublinhar que o automóvel estava em excelente estado de conservação. Já o Gol, por se tratar de um veículo popular de grande aceitação e procura no mercado, possui uma curva de desvalorização bem menos acentuada, tendo sido adquirido por R$ 12.000,00 (doze mil reais) em 1995, e possuindo um valor de revenda, em 2003, de aproximadamente, R$ 8.000,00 (oito mil reais), com uma desvalorização de 50% de seu valor original. O gasto com manutenção também aumentou, mesmo sendo um carro novo. Afinal, a mão-de-obra para revisões, peças, pneus e serviços são sempre mais caros quanto maior for o valor do veículo (afinal, carro importado é sinônimo que de você ¨é rico¨, não é mesmo? E agüenta uma facadinha de vez em quando). Isto é um fator muito interessante. Já observei, empiricamente, que normalmente as pessoas concedem descontos ou calculam o preço de seus serviços de acordo com a aparência do consumidor ou do contratante. Se você está em um carro de alto valor, seja ele nacional ou importado, ou muito bem vestido, você precisa pagar pela ¨imagem¨, ou seja, a impressão que causa às outras pessoas de seu sucesso financeiro, como se isso fosse culpa sua. Outro fator a destacar é a reação quando, nesta situação, solicitamos um desconto por aquilo que estamos adquirindo. Já escutei comentários irônicos, e até mesmo mal-educados, onde é salientado que ¨quanto mais rico, mais pão-duro¨, ¨quanto mais rico, mais chorão¨ ou, então, ¨é por isso que ficou rico, explorando os outros¨. Se fosse outro cliente, de aparência mais humilde, o pedido de desconto, ou o endurecimento na negociação, seria um fator normal, mas nesses casos você tem que pagar o preço solicitado, afinal ¨você tem muito¨, e já está bom demais. Já o custo de oportunidade é a diferença de rendimentos entre duas, ou mais, opções de investimento, que podem apresentar, às vezes, riscos diferentes. Por exemplo, ao retirar minhas economias da caderneta de poupança, que rendiam em torno de 0,80% ao mês, para investir em outra opção mais arriscada, tenho que procurar uma remuneração maior que a recebida anteriormente. No caso do automóvel, deixei de ganhar os juros de 12% ao ano (incluindo a inflação), para comprar um carro, por isso, tenho que calcular quanto estou deixando de ganhar. Interessante, não é mesmo? Os juros, de R$ 1.735,20 (um mil, setecentos e trinta e cinco reais e vinte centavos), foram calculados pelo Sistema Francês de Amortização, mais conhecido como tabela Price, que será explicado em outro exemplo, nas próximas páginas, sendo simplesmente a multiplicação do valor de cada prestação, de R$ 894,60, pelo número de pagamentos que deverão ser efetuados, totalizando R$ 21.470,40 (vinte e um mil, quatrocentos e setenta reais e quarenta centavos), que diminuídos do valor que foi financiado, de R$

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18.000,00 (dezoito mil reais), apresentam um resultado de R$ 3.470,40 (três mil, quatrocentos e setenta reais e quarenta centavos), em dois anos, sendo, então, o valor anual este número dividido por dois, já que se não houvesse o empréstimo, não existiria o pagamento dos juros. É isso aí! A simples aquisição de um carro novo, para a concretização de um antigo sonho, custava a quantia de R$ 13.675,20 (treze mil, seiscentos e setenta e cinco reais e vinte centavos) a mais por ano, ou R$ 1.139,60 (um mil, cento e trinta e nove reais e sessenta centavos) ao mês. Se o problema acabasse aí, estaria tudo bem, mas o raciocínio é um pouco mais complexo. Imagine se, ao invés de comprar esse carro agora, e aumentar todas essas despesas ao mês, meu amigo conseguisse economizar este dinheiro, aplicando-o, durante alguns períodos, à taxa de 1,0% ao mês (sem incluir a inflação).Veja o que aconteceria: 2 anos: R$ 31.046,35 3 anos: R$ 46.581,31 4 anos: R$ 70.466,98 (setenta mil, quatrocentos e sessenta e seis reais

e noventa e oito centavos), e ainda sobrou o carro antigo. Meu amigo estava perplexo! Se ele continuasse aplicando os R$ 18.000,00 de sua poupança, em outros tipos de investimento, um pouco mais rentáveis, mais o valor que custaria seu carro novo por mês, em 23 meses ele conseguiria comprar o mesmo carro à vista (talvez até com algum desconto), e ainda sobraria seu carro antigo. Fenomenal, não é mesmo? O problema é que ele só descobriu isso depois que tinha feito o negócio (e ainda queria brigar comigo). Vamos conferir as contas? Tecle 18000 (o dinheiro que já possuía) e aperte CHS e PV Insira 1139 (o custo mensal do carro importado) e aperte CHS e PMT Digite 52000 (o valor do veículo à vista) e tecle FV Aperte ¨n¨ Resultado 23 meses

Neste momento seu cérebro pode estar dizendo a você: ¨Este tipo de problema nunca me acontecerá, afinal, nunca tive vontade de ter um carro importado!¨ Você pode até se achar um espertinho, mas não desistirei de meu propósito de te mostrar as armadilhas que o mercado cria para todos nós. Preste atenção neste outro exemplo. Estava em casa em um domingo (07/09/2003), lendo o jornal local pacificamente, quando me deparei com um encarte das Casas Bahia, anunciando diversas promoções, com pagamentos para todos os tipos de gosto. Á vista, prazo no cartão, crediário com entrada e sem entrada. Aquele anúncio me despertou a curiosidade para as taxas de juros que estavam sendo cobradas, e comecei a procurar as famosas letrinhas pequenas, encontrando-as no rodapé da última página (se você possuir algum problema visual, com certeza não conseguirá lê-las). Transcrevo um pequeno trecho para a nossa análise:

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¨Formas de pagamento: à vista ou a prazo em até 10x sem juros (quando assinalado nos produtos), com o 1º pagamento no ato da compra e os demais de 30 em 30 dias, em até 10x sem entrada com juros de até 5,9% ao mês e 98,95% ao ano, com o 1º pagamento 30 dias após a compra e os demais de 30 em 30 dias, ou em 12x nos cartões de crédito... com juros de 2,9% ao mês e 40,92% ao ano...¨ Quero deixar claro, antes de fazermos as contas, que a prática de cobrança de juros não é exclusividade das Casas Bahia, mas que estamos usando esse exemplo por se tratar de um encarte público distribuído em um jornal de maior circulação em Goiânia. Pois bem, escolhi para ilustrar nossa análise o refrigerador Electrolux de 351 litros, com 100 peças de disponibilidade (até mesmo por que estou precisando comprar uma geladeira nova para minha casa), e desenvolvi a análise que descrevo abaixo. Veja as condições e os preços:

Condição de pagamento Prestações Valor Total

À vista 0 999,00 999,00

À prazo (cartão) 12 (sem entrada) 99,76 1.197,12

À prazo (crediário) 10 (sem entrada) 135,00 1.350,00

Figura 07: compra de uma geladeira em diversas formas de pagamento Como para pagamento à vista, não incidem juros, passaremos a calcular diretamente o exemplo de 12 pagamentos sem entrada. Observe que, do valor à vista, para essa modalidade de compra, existe uma diferença de R$ 198,12 (cento e noventa e oito reais e vinte centavos), equivalentes a quase 20% do valor da geladeira a vista, e a taxa de juros cobrada é de aproximadamente 3,47% ao mês. Se você optar pelo pagamento em 10 vezes sem entrada, terá pago, no final, o valor de R$ 1.350,00 (um mil, trezentos e cinqüenta reais), ou seja, R$ 351,00 (trezentos e cinqüenta e um reais) a mais que o valor a vista. Isto corresponde a 35% do valor da geladeira, para pagamento no ato da compra, e a taxa de juros sobe para 5,89% ao mês. Isso mesmo, quase 70% a mais do que a taxa cobrada pelo cartão de crédito! Novamente, lembro a vocês que o nosso objetivo não é fornecer um curso de matemática financeira, ou de operação de HP-12C, a calculadora utilizada para estes cálculos, mas, de qualquer maneira, estou passando o passo a passo de como realizá-los nesta ferramenta. Para descobrir a taxa de juros cobrada em compras, sem entrada (todas as teclas de funções financeiras estão próximas ao visor da calculadora):

1) Digite o valor à vista; 2) Aperte a tecla CHS; 3) Tecle PV; 4) Coloque o valor das prestações (digite somente uma) com a tecla

PMT;

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5) Informe o número de prestações que serão pagas e tecle ¨n¨; 6) Aperte a tecla ¨i¨.

No quadro abaixo (figura ...), apresento a demonstração das parcelas e dos juros que estão inseridos no pagamento mensal:

Período Capital Prestação Juros Amortização Saldo

0 999,00 0,00 0,00 0,00 999,00

1 999,00 135,00 58,80 76,20 922,80

2 922,80 135,00 54,32 80,68 842,12

3 842,12 135,00 49,57 85,43 756,68

4 756,68 135,00 44,54 90,46 666,22

5 666,22 135,00 39,21 95,79 570,44

6 570,44 135,00 33,58 101,42 469,01

7 469,01 135,00 27,61 107,39 361,62

8 361,62 135,00 21,28 113,72 247,90

9 247,90 135,00 14,59 120,41 127,49

10 127,49 135,00 7,50 127,50 0,00

1350,00 351,00 999,00

Figura 08: Cálculo das prestações, juros e amortizações pelo sistema Price O sistema financeiro atual é resultado de uma evolução nas técnicas de cálculos de juros e formas de pagamento. O sistema acima, conhecido como Sistema Francês de Amortização, ou simplesmente de tabela Price, é o mais utilizado para cálculo de financiamentos. Observe que os juros são decrescentes, enquanto as amortizações do saldo devedor são crescentes, isso faz com que, se o cliente optar por antecipar os pagamentos futuros, os descontos obtidos não sejam tão atraentes, pois os juros que serão pagos são menores do que os desembolsados anteriormente. Interessante, não é mesmo (principalmente para o credor)! Mas o pior de tudo não é tomar conhecimento destes fatos corriqueiros de nossa vida, mas analisarmos que, se tivéssemos investido o valor da prestação em uma opção de investimento com rendimento mensal de 1,5% (isso mesmo, quase quatro vezes menor do que a taxa de juros cobrada), em aproximadamente sete meses teríamos o suficiente para comprar a geladeira à vista, talvez negociando um desconto ainda maior. Acompanhe a metodologia do cálculo:

1) Tecle ¨g¨ e posteriormente ¨beg¨ (está abaixo do número 7); 2) Digite o valor a vista do bem; 3) Aperte FV; 4) Informe o valor das prestações (somente o valor da primeira); 5) Prima PMT; 6) Tecle o valor da taxa de juros que será recebido mensalmente; 7) Aperte ¨i¨; 8) Finalmente, pergunte a calculadora o número de períodos

necessários para alcançar o valor pretendido apertando a tecla ¨n¨.

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Verifique a demonstração do exemplo, citado anteriormente, na figura 09:

Período Aplicação Juros Saldo

1 135,00 2,03 137,03

2 135,00 4,08 276,11

3 135,00 6,17 417,27

4 135,00 8,28 560,56

5 135,00 10,43 705,99

6 135,00 12,61 853,60

7 135,00 14,83 1003,43

8 135,00 17,08 1155,51

9 135,00 19,36 1309,87

10 135,00 21,67 1466,54

1350,00 116,54

Figura 09: Calculo do período de aplicação necessária para obter os recursos necessários para a compra de uma geladeira à vista Observe que ao final de sete meses teremos acumulado R$ 1.003,43 (um mil, três reais e quarenta e três centavos), que serão suficientes para o pagamento da geladeira à vista, e ainda sobrará um troquinho para a cerveja comemorativa. Mas ainda não acabou! Note que, se você aplicar todas as parcelas, ao final de dez meses terá R$ 1.466,54 (um mil, quatrocentos e sessenta e seis reais e cinqüenta e quatro centavos), ou seja, R$ 467,54 (quatrocentos e sessenta e sete reais e cinquenta e quatro centavos) além do valor à vista, ou 47% (quase a metade), do valor da geladeira. Você não fez dívidas, não pagou juros, não correu o risco de algum imprevisto complicar sua vida financeira (pois se atrasar os pagamentos ainda terá que honrar a multa e, se não pagar, terá o CPF inserido no cadastro do SPC, Serasa, ou outras empresas de análise de crédito), gerou uma poupança (que poderia ser utilizada para aquele imprevisto), ganhou juros e ficou muito mais tranqüilo e satisfeito (apesar de ter usado a geladeira velha por mais dez meses). Qual é o segredo? Deixar de trabalhar para ganhar dinheiro e comprar produtos pagando juros, para colocar o dinheiro para trabalhar para você, ganhar juros e realizar os seus desejos. Eu chamo isso de qualidade de vida! Continua pensando que sou doido?

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¨Quem poupa têm!¨

Anônimo

4 Capital de giro pessoal: conceito e importância No segmento empresarial, o capital de giro corresponde aos recursos que são utilizados pelas organizações no financiamento de suas atividades operacionais, como caixa, bancos, duplicatas a receber, estoques e outros bens e direitos que tornar-se-ão líquidos (dinheiro) em menos de um ano (também chamado de ativo circulante). Quando fazemos uma análise financeira de uma pessoa ou empresa, normalmente o critério mais utilizado para a avaliação de sua situação é a de solvência, ou seja, da sua capacidade de honrar obrigações assumidas. Normalmente, essas dívidas podem ser pagas com recursos próprios ou de terceiros (os chamados passivos), sendo importante a reflexão sobre o percentual da quantidade de cada fonte que está sendo utilizada. Uma empresa utiliza diversos recursos de terceiros. Fornecedores, governo (impostos), funcionários (salários), bancos (empréstimos e financiamentos), entre outros, que colaboram fornecendo recursos, onerosos (cobrando juros) ou não, para o funcionamento da organização. O equilíbrio entre os ativos e os passivos é fundamental para a sobrevivência e crescimento saudável das companhias. O funcionamento das finanças pessoais pode ser comparado e associado às finanças empresariais, principalmente, em seus conceitos de ativo, passivo, balanço patrimonial e capital de giro. Não é nossa intenção fazer uma revisão de contabilidade e de seu funcionamento. Queremos apenas apresentar alguns conceitos para tornar a administração financeira pessoal mais fácil e com melhores resultados. Pois bem. Do mesmo modo que as empresas, as pessoas também possuem reservas em dinheiro (caixa, bancos e aplicações financeiras), contas a receber (salários, aluguéis, mesadas, dividendos, empréstimos a parentes ou amigos) e, até mesmo, estoque (produtos alimentícios, higiene e limpeza, peças para carros), caracterizados como ativos circulantes. Igualmente, temos obrigações mensais (passivos) como água, energia, telefone, prestações de automóvel, seguro, geladeira, cartão de crédito, empréstimos pessoais e cheque especial. Assim, o grande desafio é equilibrar as receitas e os pagamentos mensais, de forma a conseguirmos o chamado ¨capital circulante líquido¨ positivo, que é a diferença entre o ativo circulante (contas a receber) e o passivo circulante (contas a pagar). Na contabilidade empresarial, existe a figura do balancete analítico, que pode ser feito ininterruptamente, demonstrando a situação econômica e financeira da

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empresa em cada operação realizada. Ao final do ano, o balancete é transformado em um balanço patrimonial, como o retrato da empresa naquele período. Nas finanças pessoais, prefiro pensar sempre em forma de ciclo, ou seja, no período de tempo necessário para que um processo comece, termine e recomece novamente. Usando uma licença poética, podemos comparar com as estações do ano, sempre acontecendo na mesma época, permitindo a preparação para a sua chegada. Então, o ciclo financeiro pessoal normalmente acontece no período de trinta dias, que é o prazo necessário para o recebimento de salários, ou outras rendas, e o pagamento de nossas obrigações. Sendo assim, pensaremos na administração de nossos recursos e dívidas mensalmente, como primeiro passo de nossa caminhada. Posso, agora, apresentar minha definição de capital de giro pessoal, para sua apreciação e aprovação. ¨Capital de giro pessoal são os recursos financeiros próprios, disponíveis e gerados através da poupança que, somados aos recebimentos de determinado período, serão utilizados para o pagamento das obrigações vincendas no respectivo período, gerando um resultado positivo para a utilização posterior, ou poupança.¨ A importância do entendimento deste conceito é fundamental para seu sucesso como poupador e investidor. Se você já começa um período devendo, provavelmente seus recebimentos serão insuficientes para terminá-lo sem dívidas, em um círculo vicioso que consumirá sua capacidade de poupar e possuir uma situação financeira estável (lembra-se dos exemplos do capítulo anterior?). Assim, é aconselhável que toda pessoa possua uma reserva financeira disponível (seja na carteira ou em conta-corrente, menos aplicação financeira) suficiente para o pagamento de um mês de todas as suas despesas, sem a necessidade dos recebimentos desse período. Isso lhe trará uma tranqüilidade imensa! Poderá aproveitar todas as promoções do supermercado, pois não precisará fazer as compras no começo do mês (quando normalmente as mercadorias adquiridas no mês anterior estão acabando), quitar pagamentos antecipados como água, luz e telefone, abastecer à vista, enchendo o tanque, aproveitando preços mais baixos e evitando ir várias vezes ao posto de gasolina, gastando menos combustível, e negociar descontos para pagamentos antecipados de outras dívidas. Uma situação financeira favorável não cai do céu. Ela é resultado de muito esforço e sacrifício gastos na construção de uma poupança que garanta sua segurança nos momentos de necessidade ou imprevistos. O capital de giro pessoal é o primeiro passo, seguidos de informações dos produtos financeiros disponíveis para o investidor, sua rentabilidade e riscos. Comece a refletir sobre seus gastos. O ideal é que você consiga poupar de 25% a 30% de sua renda mensalmente, para que, em aproximadamente dois

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anos, possua o equivalente a seis meses de remuneração investidos em produtos financeiros de alta liquidez (fáceis de se transformar em dinheiro), como caderneta de poupança, fundos de renda fixa, previdência privada, CDB (certificado de depósito bancário) ou títulos da dívida pública. As ações de empresas vendidas em bolsas de valores, apesar de algumas apresentarem alta liquidez, não são consideradas nesta análise, pois dependem de diversos fatores, como a decisão do momento ideal de negociação, e será tratado no próximo capítulo. Assim, quero te apresentar um novo tipo de fluxo de caixa, um pouquinho diferente do mostrado no capítulo anterior. Enquanto o primeiro mostrava as despesas e receitas efetivamente realizadas, este quer lhe convidar a fazer um pequeno exercício de futurologia, ou seja, de planejar o seu amanhã financeiro. Ele é chamado de fluxo de caixa projetado, e é elaborado a partir das informações passadas, que servem de parâmetro para os acontecimentos futuros. É claro que imprevistos sempre podem acontecer (deve ser por isso que se chamam imprevistos, não é mesmo?), e contribuir para que sua previsão não se concretize. Mas o planejamento serve para que os objetivos que você estabeleceu em sua vida sejam alcançados, e as informações que serão fornecidas pelo fluxo de caixa projetado serão importantíssimas para isto. Por exemplo. Suponha que você pretenda trocar de veículo ao final de certo período, e que para isso seja necessário uma certa quantia em dinheiro. Será que, se mantido meu fluxo de caixa atual, gerarei as reservas necessárias para concretizar o negócio? Ao analisar as receitas e despesas futuras, poderei imaginar soluções que me permitam realizar este desejo, caso a minha situação atual seja desfavorável, poderei pensar em como buscar o aumento de minhas receitas, seja através de ¨bicos¨ (aulas particulares, serviços nos fins-de-semana, entre outros), ou da redução de despesas, com medidas de economia. De qualquer maneira, o quadro .... apresenta um modelo de fluxo de caixa projetado. Note que sua estrutura é idêntica ao fluxo de caixa realizado, sendo que a diferença primordial está nos valores, que só mudam quando tenho as informações, hoje, do que acontecerá no futuro. Observe que isto poderia acontecer nos recebimentos, caso no mês de julho fossem antecipadas as férias ou a primeira parcela do décimo terceiro salário, mas não é o caso. Mas, nas despesas, verifica-se a ocorrência de valores alterados na conta de manutenção de veículos e IPVA, caracterizando o vencimento do imposto nos meses de fevereiro e abril. Assim, o saldo do fluxo de caixa sofre alterações nestes meses, tornando-se negativo. Observe, ainda, que entre salários, aluguéis, juros e outras receitas (como empréstimos recebidos ou resgate de previdência privada), a renda do exemplo aproxima-se de 25 salários mínimos mensais (utilizando o valor de R$ 240,00), ou seja, nada mal para os padrões brasileiros.

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Quanto às despesas, são aquelas que afligem a qualquer cidadão normal, ou seja, fornecedores de produtos e serviços como supermercado, padaria e açougue, água, luz, telefone, empregados domésticos e seus encargos sociais, INSS, imposto de renda e pensão alimentícia. Você pode estar se perguntando: ¨Como alguém, de classe média alta, consegue gastar somente duzentos e cinqüenta reais por mês com produtos de supermercado, padaria e açougue?¨ Pois vou lhe responder. O fluxo de caixa utilizado como exemplo é o que ajudei a um amigo divorciado a desenvolver. Verifique que o item outras despesas é bastante significativo, pois são lá que estão lançados despesas com a alimentação diária, toda feita em restaurantes, entretenimento, ofertas a igreja, curso de inglês e outros pequenos gastos do dia-a-dia. COD RECEBIMENTOS Jan/04 Fev/04 Mar/04 Abr/04 Mai/04 Jun/04

1 Salário 4873,09 4873,09 4873,09 4873,09 4873,09 4873,09

2 Aluguéis 500 500 500 500 500 500

3 Juros 150 150 150 150 150 150

4 Empréstimos recebidos 0 0 0 0 0 0

5 Outras receitas 500 500 500 500 500 500

A TOTAL RECEITAS 6023,09 6023,09 6023,09 6023,09 6023,09 6023,09

A.A Receitas Acumuladas 6023,09 12046,18 18069,27 24092,36 30115,45 36138,54

Depósito FGTS 441,8472 441,8472 441,8472 441,8472 441,8472 441,8472

PAGAMENTOS

1 Compras residenciais 250 250 250 250 250 250

2 Veículos (manut.,IPVA) 200 800 200 750 200 200

3 Salários e encargos 600 600 600 600 600 600

6 Energia 150 150 150 150 150 150

7 Água 80 80 80 80 80 80

8 Seguros 200 200 200 200 200 200

10 Telefone 295 295 295 295 295 295

11 Imposto de Renda 450 450 450 450 450 450

12 INSS 205 205 205 205 205 205

13 Financiamentos 1020 1020 1020 1020 1020 1020

14 Pensão Alimentícia 480 480 480 480 480 480

15 Aquisição de bens 0 0 0 0 0 0

16 Outras despesas 1750 1750 1750 1750 1750 1750

B TOTAL DESPESAS 5680 6280 5680 6230 5680 5680

B.B Despesas Acumuladas 5680 11960 17640 23870 29550 35230

C FLUXO DE CAIXA (A-B) 343,09 -256,91 343,09 -206,91 343,09 343,09

C.C Fluxo Caixa Acumulado 343,09 86,18 429,27 222,36 565,45 908,54

D SALDO CAIXA 0 743,09 486,18 829,27 622,36 965,45

E SALDO BANCOS 400 0 0 0 0 0

F SUBTOTAL (C+D+E+F) 743,09 486,18 829,27 622,36 965,45 1308,54

G CONTRATAÇÃO EMP.

H MOV. APLICAÇÕES

I SALDO FINAL (F+G-H) 743,09 486,18 829,27 622,36 965,45 1308,54

Figura 10: Fluxo de caixa projetado pessoal

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Imagine que meu amigo esteja pensando trocar de carro em seis meses, necessitando, para isso, de uma reserva de R$ 10.000,00 (dez mil reais). Ele já possui um imóvel, que aluga, além daquele em que mora, que lhe fornece uma renda de R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais. Tem, ainda, aproximadamente R$ 10.000,00 (dez mil reais) aplicados em títulos do governo federal (LTN´s), para uma eventualidade, que lhe rendem aproximadamente R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) de juros, bem como o resgate de uma previdência privada , no valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), que resolveu deixar de contribuir e resgatá-la mês-a-mês em seis parcelas iguais. Vamos fazer um esclarecimento a respeito do resgate de sua previdência privada. Ele iniciou este investimento como forma de utilizar o benefício fiscal concedido pelo imposto de renda para esta modalidade de aplicação, sendo que a estratégia adotada é a de fazer um aporte único ao ano, retirando-o mensalmente no ano seguinte, em parcelas menores, justamente para evitar o pagamento do imposto de renda na fonte. Para maiores informações, consulte o próximo capítulo ou sua agência bancária e informe-se com um vendedor de previdência privada. No entanto, o que vale a pensa ressaltar é que, se não fosse esse resgate, o fluxo de caixa projetado do meu amigo estaria negativo, pois se em seis meses ele vai resgatar o valor total de R$ 3.000,00 (três mil reais), e o seu fluxo de caixa acumulado, no mesmo período, é de R$ 908,54 (novecentos e oito reais e cinqüenta e quatro centavos), verificamos que ele está destruindo sua poupança, e não criando novas reservas financeiras. Ou seja, quando resgatar todas as parcelas de sua previdência privada, sua renda não será suficiente para pagar as despesas mensais, fazendo com que seja obrigado a optar entre duas opções: Começar a utilizar recursos de terceiros, como cheque especial, cartão

de crédito ou compras a prazo, aumentando seu endividamento e as despesas mensais, com o pagamento de juros, criando uma bola de neve insustentável a médio prazo; ou

Resgatar, mês-a-mês, um pouquinho dos seus investimentos, para poder cobrir o saldo devedor que está sendo criado, fazendo com que seus esforços anteriores de poupança sejam consumidos, além de diminuir sua renda, pois à medida que dilapida o total investido também cai o valor que recebe de juros mensalmente.

Então, você pode se perguntar: ¨E o carro que ele queria trocar?¨ E eu te respondo que, se ele não abrir o olho, além de não trocar o carro (ou se teimar e trocá-lo, aumentando, conseqüentemente, suas despesas), ainda se verá em uma situação onde, dentro de algum tempo, olhará para suas finanças pessoais e se perguntará: ¨Meu Deus! O que aconteceu? Há pouco tempo atrás estava em uma situação financeira tão estável, e agora estou endividado?¨ Esse é o motivo pelo qual existe o planejamento financeiro pessoal, que definirei agora para podermos avançar em nossas análises:

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¨Planejamento financeiro pessoal é o processo de analisar, no presente, os acontecimentos futuros que poderão afetar meus recursos financeiros, decidindo, neste momento, as estratégias que deverão ser adotadas para alcançar meus objetivos, e evitando situações indesejadas.¨ Vamos entender este conceito. Planejar é tomar decisões, hoje, que afetarão a meu futuro. Para isso, procuro me cercar de todas as informações possíveis, os chamados parâmetros, que me ajudarão a criar cenários, ou seja, as situações futuras que poderão acontecer em minha vida. Ao restringir essas decisões ao aspecto que envolve apenas os recursos monetários, estou desenvolvendo um planejamento financeiro pessoal. Ele é um processo por que envolve um conjunto de atividades. Levantar, detalhadamente, todos os meus gastos efetuados no passado e atualmente, compará-lo com o histórico de recebimentos, e compreender como foram construídos o patrimônio atual e as reservas financeiras que possuo. Muitos acontecimentos futuros podem ser previstos com certa antecedência, permitindo o planejamento financeiro para seu desembolso. Aniversários, casamentos (seu ou de amigos), troca de carro, compra de imóvel, viagens de férias ou aquisição de produtos pessoais, são exemplos de gastos que podem ser analisados e planejados a partir de uma ótica presente. O mesmo pode ser afirmado em relação às receitas e despesas mensais. Afinal, se a pessoa é empregado ou proprietário de uma empresa, será remunerado através de salário ou pró-labore, que permitirão o custeio, ou pagamento, dos gastos normais necessários para nossa sobrevivência, de preferência com um certo conforto que a vida moderna nos oferece. Agora, se está desempregado, pode vivenciar duas situações: Estar procurando uma nova colocação, enquanto consome as reservas

financeiras que foram construídas com imenso sacrifício, preocupado, é claro, pois os recursos não durarão para sempre; ou

Continua tentando um novo emprego, o dinheiro acabou, já vendeu o que podia ser vendido, usou o cheque especial e o cartão de crédito, está devendo os parentes e amigos, ou seja, está em uma situação desesperadora, parecendo, até mesmo, sem saída.

Estas são situações que classifico como imprevistos que podem ser previstos e, portanto, amenizados com o planejamento financeiro pessoal. Veja que a primeira situação, apesar de preocupante, a pessoa ainda consegue administrar um pouco melhor suas decisões e o seu dia-a-dia. Possuindo, ainda, um pouco de qualidade de vida. No segundo caso, a situação passou de preocupante para desesperadora e, nestes momentos, nem mesmo o cérebro funciona normalmente. Pois bem, como o planejamento financeiro pessoal pode contribuir nestas duas situações? Analisemos o primeiro caso. Mesmo que não aplicasse estes conceitos, a pessoa conseguiu construir uma reserva financeira que a permite

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sobreviver, por algum tempo, sem as receitas mensais que conseguia trabalhando. Ao ficar desempregado, pode desenvolver um novo fluxo de caixa projetado, verificando por quanto tempo suas reservas serão suficientes para garantir o atual padrão de vida. Se ao elaborar o planejamento, verificar que o tempo que passará procurando um novo emprego pode ser maior que o previsto, precisará buscar novas fontes de receitas ou, imediatamente, diminuir as despesas, para prolongar a duração das reservas, permitindo que suportem um tempo maior que o inicialmente previsto. No segundo caso a pessoa não se preocupou em poupar. Gastou o que ganhava, comprou carro financiado, trocou os móveis da casa e viajou para vários lugares. Como diz a música do Roberto Carlos: ¨o importante é que emoções eu vivi...¨. Mas agora, a única emoção que sobrou é o desespero de verificar, no dia-a-dia, a destruição do pouco que construiu, pois não se preocupou em planejar e construir uma reserva financeira para uma situação como essa, e a incerteza que o futuro parece reservar a sua vida. Assim, vamos analisar cada conta do fluxo de caixa de meu amigo, analisando-a, e propondo ajustes para um melhor funcionamento e, quem sabe, a aquisição daquele carro que ele tanto almeja. Vejamos os recebimentos. Ele possui um salário de R$ 4.873,09 (quatro mil, oitocentos e setenta e três reais e nove centavos) que, para o Estado de Goiás, não está nada mal. Devemos sempre analisar o contexto histórico, social e geográfico em que estamos inseridos. Por exemplo, este salário em Brasília, São Paulo ou Rio de Janeiro, não possui o mesmo poder de compra de Goiânia, pois o custo de vida com transportes, moradia, alimentação e vestuário são mais elevados, fazendo com que, comparativamente, o empregado, mesmo ganhando o mesmo valor monetário, não consiga adquirir as mesmas coisas. Estabelecer o poder de compra de moeda, em diversos lugares ou países, têm sido um desafio para os economistas, visto as enormes diferenças existentes em cada sociedade. Uma proposta que acho interessante, apesar de pouco confiável, é o chamado ¨Índice Big Mac¨, que apresenta o valor deste sanduíche, presente em vários países do mundo, sempre elaborado com os mesmos ingredientes, e seu preço em cada local, comparativamente com a quantidade de sanduíches que o salário médio do trabalhador consegue adquirir, estabelecendo um parâmetro do poder de compra de cada região. Além disso, ainda recebe R$ 500,00 (quinhentos reais) de aluguel de um imóvel, financiado, conforme veremos ao descrevermos suas despesas, R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) de juros de suas aplicações financeiras e outros R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais, durante seis meses, do resgate de sua aplicação em previdência privada. Verificamos que, após seis meses, ele terá uma queda de R$ 500,00 (quinhentos reais) mensais em sua renda, pois, após esse prazo, já terá recebido todas as parcelas de resgate de sua previdência, devendo planejar, desde agora, um novo fluxo de caixa projetado, adaptado a essa nova situação.

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Façamos, agora, uma análise de suas despesas. O primeiro campo são os fornecedores que de produtos consumidos no dia-a-dia, como pão, leite, carne, hortifrutigranjeiros, arroz e outros produtos alimentícios. Neste campo a redução é bastante difícil, mas não impossível. Pesquise o preço em diversos supermercados antes de ir às compras, troque marcas tradicionais, normalmente mais caras, por produtos de qualidade semelhante, mas com preço inferior, principalmente em categorias de produtos alimentícios, higiene pessoal, limpeza e bebidas. Vou lhe dar um exemplo. Sempre que vou ao supermercado, me eduquei a não adquirir logo marcas tradicionais que estão em promoção, longe de outras marcas concorrentes. Uma estratégia utilizada pelas empresas é a de colocar seus produtos em ¨ilhas promocionais¨, dificultando a comparação com produtos de outros fornecedores. Observe também, a relação da quantidade oferecida e preços dos produtos. É melhor comprar uma embalagem de iogurte tipo queijo suíço (danoninho) de 520 gramas por R$ 4,20 (quatro reais e vinte centavos), do que duas de 360 gramas a R$ 3,30 (três reais e trinta centavos) cada, afinal, você está levando 45% a mais de iogurte por 27% de diferença no preço, um bom negócio, não é mesmo? Procure supermercados que valorizam o preço a vista, para que possa negociar descontos, afinal, o pagamento com cartões de crédito diminuem as margens das empresas, pois para cada operação efetuada, elas devem pagar um valor para as instituições financeiras. Se meu amigo fizer isso, e conseguir economizar 10% em suas compras, terá uma redução de R$ 25,00 mensais em suas despesas. Nas despesas com veículos, constatamos que meu amigo possui, além de um automóvel, uma motocicleta de 500 cilindradas que, pela sua potência, possui uma alíquota de IPVA maior do que outras de menor porte. Ele programou gastos mensais médios de R$ 200,00 (duzentos reais) com a manutenção de suas conduções. Novamente, cabe a ele negociar à vista a aquisição de peças e serviços necessários para a conservação de seus veículos, fazendo pesquisa de preços e solicitando orçamentos, sempre que levá-los a alguma oficina, preferindo contratar serviços e compras de peças separadamente, a não ser que o prestador cubra as propostas dos concorrentes. Novamente, se o desconto médio atingir 10%, terá economizado mais R$ 20,00 (vinte reais) mensais. Aqui ainda cabe mais uma observação. Ele não utiliza a moto para o trabalho, mas apenas como passatempo. Então, em um momento em que estamos revendo sua situação financeira, com um planejamento a médio e longo prazo, podemos considerar a opção de vendê-la, aplicando o valor obtido e aumentando as receitas com juros, além de diminuir as despesas com depreciação, manutenção e impostos deste veículo. No momento que ele reequilibrar suas contas, pode ponderar a aquisição de uma nova motocicleta, também à vista. Suponhamos que venda a moto pelo seu valor de mercado, de aproximadamente R$ 10.000,00 (dez mil reais), pois já possui dois anos de

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uso, e aplique-as em títulos públicos, conseguindo uma rentabilidade de 1,5% ao mês. Constatamos que terá um incremento de R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) em receitas com juros, uma diminuição mensal de R$ 50,00 (cinqüenta reais) com manutenção e a economia de R$ 550,00 de IPVA. Na conta de salários e encargos, ele contratou uma empregada doméstica para cuidar da limpeza da casa, lavar e passar suas roupas, pagando dois salários mínimos, R$ 480,00 (quatrocentos e oitenta reais) mensalmente. O restante, para completar os R$ 600,00 (seiscentos reais), são despesas com encargos sociais, como décimo-terceiro salário, férias remuneradas e FGTS. Novamente, ele deve repensar estas despesas. Como sua situação financeira está deteriorando-se, pode organizar-se para buscar os serviços de uma diarista, que iria em residência duas vezes por semana, para uma faxina geral, lavar e passar suas roupas, com um custo médio de R$ 40,00 (quarenta reais), por visita. Assim, seus gastos mensais cairiam para R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais) mensais, com uma economia de R$ 240,00 (duzentos e quarenta reais). Quando vejo uma fatura de energia, sempre me lembro do racionamento promovido pelo Governo Federal em 2001. Fomos obrigados a economizar 20% do consumo, em relação a uma média do que foi gasto nos três meses anteriores a maio daquele ano, sob o risco de termos o fornecimento de energia elétrico suspenso. Aquelas medidas me ensinaram que sempre é possível gastar menos. Em minha casa trocamos lâmpadas incandescentes por fluorescentes, colocamos a chave do chuveiro na posição verão, diminuímos o tempo do banho e a utilização do forno de microondas, mas a economia mais importante veio de um lugar que não esperávamos: do freezer. Um dia, durante o racionamento, me deu uma curiosidade de olhar o que estava guardado dentro daquele aparelho. Para meu espanto, estávamos utilizando menos de um terço de sua capacidade de armazenamento, e o que estava guardado me deixou até mesmo constrangido: jaboticaba (fruta típica que só está disponível durante alguns meses do ano), pequi (idem), mandioca (tem cabimento?), mocotó, massa de pão-de-queijo, garrafas plásticas com gelo, ou seja, nada que faria falta, e que estava ali só para fazer número. Perguntei a minha mãe da real necessidade de possuirmos um freezer, e ela me respondeu que antigamente comprava-se carne para o mês inteiro, porque o preço aumentava todos os dias, e era preciso estocar, e que na época do Governo Sarney, durante algum tempo faltou carne, sendo que importamos o produto da Europa e que, segundo a conversa do povo, era de Chernobyl (o lugar do acidente nuclear russo, lembra-se?). Desliguei o aparelho, o que prestava consumimos e o restante jogamos fora. Vendemos o freezer para um dono de botequim, pois o aparelho era horizontal, e nunca fez falta. No final das contas, conseguimos economizar mais de 40% no consumo mensal de energia, quase ganhando aqueles bônus de desconto do governo. A mesma coisa vale para o consumo de água e telefone. Eu possuía um consumo de telefone celular próximo ao do meu amigo, de R$ 295,00 (duzentos e noventa e cinco reais), um dia resolvi fazer as contas, do mesmo

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modo que mostrei a vocês algumas páginas atrás, e quase caí duro. Troquei meu celular pós-pago por um pré-pago e me reeduquei em sua utilização. Como? Repetia para mim toda hora que queria fazer uma ligação: ¨Você precisa fazer esta ligação agora ou pode esperar até chegar a algum lugar com linha convencional?¨, passei então a utilizar meu celular principalmente para receber chamadas, planejando minhas ligações de telefones fixos em casa e no trabalho, consegui reduzir meu gasto para R$ 50,00 (cinqüenta reais) ao mês. Não é incrível? Então, imagine se meu amigo conseguir economizar 20% do seu consumo de água e energia, e pelo menos uns R$ 150,00 (cento e cinqüenta reais) de telefone celular, ele totalizará, mensalmente, aproximadamente R$ 196,00 (cento e noventa e seis reais), que contribuirão para melhorar seu fluxo de caixa. O seguro já está feito, não tem como diminuir, não é mesmo? Errado. Você pode tentar negociar um desconto para pagamento antecipado, diminuindo o valor do seguro total. O maior cuidado, porém, deve ser na renovação. Normalmente os corretores incluem na apólice, além do seguro contra acidente e roubo, danos a terceiros, físicos e materiais, muitos superiores a real necessidade do cliente, sendo que você paga por isso. Faça um exame de consciência, se você for o tipo de motorista que às vezes é imprudente, faça todo tipo de seguro, mas se é daqueles ¨caxias¨, que não fazem nada de errado, então compre uma apólice somente para danos materiais e roubo do seu veículo, e conseguirá economizar uma boa grana. Seguro residencial? Somente se morar em área de risco, pois a probabilidade de alguma coisa acontecer a sua casa é muito pequena, e é por isso que os seguros para o lar são relativamente baratos. Imposto de renda, INSS e pensão alimentícia não tem como correr, então tem de continuar como está. O financiamento, no caso do apartamento que ele aluga por R$ 500,00 (quinhentos reais), ainda é bastante longo, mas em muitos casos é melhor fazer e contas e conferir se o número de prestações que faltam para ser pagas não é superior ao valor de mercado do imóvel, sendo preferível vender seu ágio e correr das parcelas com juros, coisas de Brasil, não é mesmo? Muitas pessoas que possuem imóveis financiados pela CEF (Caixa Econômica Federal) encontram-se nessa situação. Isso ocorre porque as taxas de juros cobradas superam a valorização do apartamento ao longo dos anos, fazendo com que as prestações sejam incapazes de amortizar o saldo devedor, sendo suficientes, quando muito, de pagar apenas os juros do montante. Faça as contas, muitas vezes é melhor pagar de 0,6% a 0,8% do valor de um imóvel em aluguel, e aplicar seu dinheiro em uma opção de investimento que lhe remunere acima disso, do que ficar pagando juros superiores a 1,2% ao mês na concretização do ¨sonho¨ da casa própria que, no final das contas, acaba se transformando em um verdadeiro pesadelo. Fizemos uma avaliação do valor do seu apartamento que, se estivesse quitado, seria de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais), e do ágio para a venda, de aproximadamente R$ 20.000,00 (vinte mil reais), e projetamos o fluxo de caixa se esse negócio fosse efetuado.

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Chegamos, finalmente, ao último item das despesas do fluxo de caixa, as famosas outras despesas, observe no quadro abaixo o valor e a descrição de cada uma.

Outras despesas 1750

Alimentação 200

Combustíveis 400

Inglês 150

Ofertas a igreja 150

Roupas/Sapatos 200

Outras 50

Diversão 500

Internet rápida 50

TV a cabo 50

Figura 11: Descrição de outras despesas No item alimentação, acho difícil economizar alguma coisa, afinal de contas, passar fome é pior do que não economizar. Para os combustíveis, podemos conseguir uma economia abastecendo em postos que ofereçam promoções para pagamento a vista, sempre enchendo o tanque, diminuindo a freqüência de visitas ao posto de gasolina. Nas contas de inglês, e nas ofertas a igreja, também não acredito que se possa fazer alguma coisa, mas nas roupas e sapatos é possível negociar bons descontos para pagamentos à vista, de preferência em dinheiro vivo. Normalmente, o mínimo que aceito são 5% por compra, ou então ameaço ir embora ou procurar outra loja. Observe o valor gasto em diversão. Pedi a ele que me descrevesse melhor esses gastos e fui informado de despesas com cerveja, cinema, pipoca, night club, clube, shopping center, teatro, shows e pequenos passeios. Observei que já o havia encontrado várias vezes no night club que também costumo freqüentar, o Café Cancun, e perguntei se ele possuía o cartão VIP, obtendo resposta negativa. Veja como o costume de fazer contas é uma coisa interessante. Esse espaço é considerado um dos points de minha cidade, costumando apresentar filas quilométricas, com pessoas em pé durante horas e, muitas vezes, não conseguindo entrar para se divertir. Eles lançaram um cartão VIP que permite ao possuidor entrar por uma porta exclusiva, com um(a) acompanhante, sem o pagamento da taxa de entrada ou qualquer tipo de consumação. Um dia, cansado de ficar na fila, perguntei o preço do tal cartão, e fui informado do valor de R$ 500,00 (quinhentos reais), divididos em duas parcelas de R$ 250,00 (duzentos e cinquenta reais). Perguntei se teria desconto para pagamento à vista, e me disseram que o preço seria reduzido em 10%, ou seja, para R$ 450,00 (quatrocentos e cinquenta reais), sendo que, no vencimento, que aconteceria em um ano, o desconto subiria para 20%. Eu costumava ir, no mínimo, duas vezes por mês com a namorada neste lugar. Cada vez que eu ia, além da raiva na fila, pagava R$ 25,00 (vinte e cinco reais) por cada entrada, totalizando R$ 100,00 (cem reais) ao mês, verifiquei que,

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mantida a minha freqüência, em quatro meses e meio meu cartão já teria se pagado, sobrando sete meses e meio para freqüentar o lugar como uma forma de ¨lucro¨, além do ¨status¨ de possuir um cartão VIP, das festas exclusivas para os sócios, dos descontos na aquisição das bebidas e do tratamento diferenciado dos funcionários, no final do período de um ano renovei meu cartão por R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), e ainda continuo sócio do night club até hoje. Meu amigo tornou-se sócio na outra semana! Os próximos dois itens são, na minha opinião, totalmente desnecessários para uma pessoa que trabalha o dia inteiro, faz curso de inglês e, além do mais, está a caminho de uma situação financeira desequilibrada. Hoje, várias empresas fornecem o serviço de Internet grátis, sendo desnecessário o pagamento de um provedor para o acesso. Pela freqüência de utilização, devido ao pouco tempo disponível, a TV a cabo também demonstra ser um desperdício, sendo mais apropriado, e barato, a locação de filmes quando houver a disponibilidade de tempo para assisti-los, até mesmo porque os lançamentos chegam primeiro nas videolocadoras do que nos canais a cabo. Se somarmos a economia com combustíveis, roupas e sapatos, entretenimento, Internet e TV a cabo, conseguiremos uma redução de, aproximadamente, R$ 250,00 (duzentos e cinqüenta reais) mensais, ou seja, mais de 14% do total anterior. Note que fizemos correções em todo seu fluxo de caixa projetado. Reorganizamos os recebimentos, através da sugestão da venda da motocicleta e do ágio de seu apartamento, aumentando sua disponibilidade para investimentos de R$ 10.000,00 (dez mil reais) para R$ 40.000,00 (quarenta mil reais), diminuindo sua renda com o recebimento de aluguéis mas compensando, parcialmente, com o aumento das entradas com juros. No campo das despesas, sugerimos negociações e mudanças de comportamento nas compras, consumo de energia, água, combustíveis e energia, no pagamento de salários e encargos sociais, bem como na extinção da prestação de seu imóvel financiado, através da venda do seu ágio. Recomendamos, ainda, o cancelamento da Internet rápida e da assinatura de TV a cabo. Vejamos agora, no quadro ...., como ficaria o novo fluxo de caixa projetado de meu amigo, caso ele tomasse todas as medidas que sugerimos nesse período de tempo.

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COD RECEBIMENTOS Jan/04 Fev/04 Mar/04 Abr/04 Mai/04 Jun/04

1 Salário 4873,09 4873,09 4873,09 4873,09 4873,09 4873,09

2 Aluguéis 0 0 0 0 0 0

3 Juros 600 600 600 600 600 600

4 Empréstimos recebidos 0 0 0 0 0 0

5 Outras receitas 500 500 500 500 500 500

A TOTAL RECEITAS 5973,09 5973,09 5973,09 5973,09 5973,09 5973,09

A.A Receitas Acumuladas 5973,09 11946,18 17919,27 23892,36 29865,45 35838,54

Depósito FGTS 437,8472 437,8472 437,8472 437,8472 437,8472 437,8472

PAGAMENTOS

1 Compras residenciais 225 225 225 225 225 225

2 Veículos (manut.ão,IPVA) 130 730 130 130 130 130

3 Salários e encargos 360 360 360 360 360 360

6 Energia 160 160 160 160 160 160

7 Água 40 40 40 40 40 40

8 Seguros 200 200 200 200 200 200

10 Telefone 145 145 145 145 145 145

11 Imposto de Renda 450 450 450 450 450 450

12 INSS 205 205 205 205 205 205

13 Financiamentos 0 0 0 0 0 0

14 Pensão Alimentícia 0 0 0 0 0 0

15 Aquisição de bens 0 0 0 0 0 0

16 Outras despesas 1500 1500 1500 1500 1500 1500

B TOTAL DESPESAS 3415 4015 3415 3415 3415 3415

B.B Despesas Acumuladas 3415 7430 10845 14260 17675 21090

C FLUXO DE CAIXA (A-B) 2558,09 1958,09 2558,09 2558,09 2558,09 2558,09

C.C Fluxo Caixa Acumulado 2558,09 4516,18 7074,27 9632,36 12190,45 14748,54

D SALDO CAIXA 0 2958,09 4916,18 7474,27 10032,36 12590,45

E SALDO BANCOS 400 0 0 0 0 0

F SUBTOTAL (C+D+E+F) 2958,09 4916,18 7474,27 10032,36 12590,45 15148,54

G CONTRATAÇÃO EMP.

H MOV. APLICAÇÕES

I SALDO FINAL (F+G-H) 2958,09 4916,18 7474,27 10032,36 12590,45 15148,54

Figura 12: Fluxo de caixa projetado com as alterações propostas Veja o que nossas sugestões foram capazes de produzir. Enquanto no fluxo de caixa projetado anterior, o fluxo de caixa acumulado era de R$ 908,54 (novecentos e cinqüenta e oito reais e cinqüenta e quatro centavos), inferior aos resgates da previdência privada, agora elevou-se para R$ 14.748,54 (quatorze mil, setecentos e quarenta e oito reais e cinqüenta e quatro centavos), um aumento superior a 1500%. O saldo do fluxo de caixa acumulado permite trocar o carro e ainda sobra troco! Não é incrível? Mas o melhor da história não é isso. Agora eu tenho certeza que lhe deixarei verdadeiramente interessado em mudar seu comportamento em relação a equação gastar versus economizar. Verifique que a geração de caixa média mensal, ou seja, a diferença entre o total de receitas e despesas, dividido pelo número de meses analisado, foi de R$ 2.458,09 (dois mil, quatrocentos e cinqüenta e oito reais e nove centavos), aproximadamente 41% da receita total

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mensal. Lembram que eu havia recomendado um índice de poupança de 25% a 30% no mesmo período? Agora imagine que meu amigo desistiu de trocar seu carro por agora, e está aplicando este saldo médio de caixa à taxa de 1,5% ao mês, durante 5 anos, em títulos públicos federais, observe o que acontecerá, fazendo as contas na HP 12C:

1) Tecle CLX 2) Tecle ¨f¨ e CLX 3) Digite 2.458,09 e tecle CHS e PMT 4) Digite 60 (o número de meses correspondente a 5 anos) e tecle ¨n¨ 5) Digite 1,5 e tecle ¨i¨ 6) Aperte FV e descubra o total no final do período

Achou o mesmo valor que eu? Está surpreso? Sim, é verdade, o total é realmente esse mesmo. Mas esquecemos de um detalhe. Lembra que meu amigo tinha R$ 10.000,00 (dez mil reais), vendeu a moto e o ágio do apartamento por R$ 30.000,00 (trinta mil reais), alcançando a reserva financeira de R$ 40.000,00 (quarenta mil reais)? Vamos descobrir quanto este capital representará ao final de 5 anos, nas mesmas condições acima? Vamos lá!

1) Tecle CLX 2) Tecle ¨f¨ e CLX 3) Digite 40.000 e tecle CHS e PV 4) Digite 60 e tecle ¨n¨ 5) Digite 1,5 e tecle ¨i¨ 6) Aperte FV e descubra (novamente) o total no final do período

Vamos conferir se os valores são os mesmos

Descrição Valor Prestações Principal Montante

Capital inicial 40.000,00 1 40.000,00 97.728,79

Prestações 2.458,09 60 147.485,40 236.504,27

Total 187.485,40 334.233,06

Figura 13: valor futuro da aplicação de reservas financeiras Não é incrível? Ao final de cinco anos, meu amigo possuirá um montante de R$ 334.233,06 (trezentos e trinta e quatro mil, duzentos e trinta e três reais e seis centavos), valor suficiente para comprar o apartamento, o carro, a moto, o jet-ski e os móveis de sua casa à vista, e ainda sobrará troco. Observe que, somente de juros, ganhou R$ 146.747,66 (cento e quarenta e seis mil, setecentos e quarenta e sete reais e sessenta e seis centavos), aproximadamente 44% do montante no final do período. Ele poderia comprar tudo que falei anteriormente, mas com certeza ele não fará isso neste momento. Sabe por quê? Por que aprendeu o poder da poupança e dos juros compostos na garantia de sua segurança e qualidade de vida. E você?

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¨O maior problema de se ter dinheiro é que nunca se possui o bastante.¨ Anônimo

5 Opções e riscos dos investimentos Fiz meu fluxo de caixa e analisei, cuidadosamente, as receitas e despesas mensais. Apliquei, no meu dia-a-dia, as dicas para que o resultado ao final de cada período fosse positivo. Parabéns, você já conseguiu cumprir a primeira etapa do sucesso financeiro. Está cansado? Calma, porque a corrida está apenas na metade. De que adianta poupar e guardar o dinheiro embaixo do colchão? A inflação irá corroer todo o poder de compra da moeda, e daqui a algum tempo seu dinheiro não possuirá o mesmo valor. Para que isso não aconteça, é necessário buscar opções de investimento que assegurem uma rentabilidade proporcional aos riscos que você está disposto a correr, pois um dos princípios básicos do capitalismo sugere que ¨quanto maior o risco, maior o retorno¨, ou seja, se não quero correr riscos, devo procurar opções de baixa risco, mas com probabilidade de ganhos pequenos. Por outro lado, se procuro maiores ganhos, devo estar disposto a perder algum dinheiro, em troca da possibilidade de maiores retornos. Sempre aconselho, a qualquer tipo de investidor, que nunca aloque todos os seus recursos em apenas um tipo de investimento. Diz um ditado popular que ¨não devemos colocar todos os ovos em uma mesma cesta¨, porque, se a cesta cair, provavelmente todos os ovos irão se quebrar, e ficaremos sem nada. Descubra seu perfil, através de testes de investidor, e monte um portfólio, ou seja, um conjunto de investimentos, adequado às suas características, mas sempre procurando colocar, mesmo em pequena quantidade, produtos mais agressivos, para que possa conhecer, e acompanhar, sua rentabilidade. Considero um produto agressivo, para um investidor iniciante, fundos de investimento de renda variável, compostos, em sua maior parte, por ações de empresas listadas em bolsas de valores. A partir do momento que você adquirir maiores conhecimentos, e desejar operar diretamente no mercado de capitais, as opções crescem consideravelmente, e os riscos de cada operação, também, são muito maiores. Falaremos, um pouco à frente, das características destes mercados. Para que você identifique seu perfil de investidor, as instituições financeiras oferecem diversos testes, que o classificam, normalmente, em três categorias: conservador, moderado e agressivo. Vejamos as características de cada um. Conservador: investidor cauteloso, avesso ao risco, não suporta a idéia

de perda ou diminuição dos seus recursos, sendo que qualquer ameaça deste acontecimento é suficiente para que saia de qualquer modalidade de investimento e corra para portos mais seguros. Por possuir estas características, os investimentos mais recomendados são: caderneta de

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poupança, fundos de investimento de renda fixa, títulos públicos federais e imóveis.

Moderado: também um investidor cauteloso, disposto a correr riscos, em troca de uma rentabilidade maior, desde que eles sejam pequenos e administráveis. Suporta a perda de pequenos valores em seus investimentos, mas não se sente bem e, às vezes, se arrepende de ter tentado. Sua carteira de investimentos financeiros ideal deve contemplar, além dos produtos financeiros do investidor conservador, uma pequena parcela de recursos em fundos de investimento de renda variável, ações de empresas de primeira linha, como Petrobrás, Vale do Rio Doce, Telemar e outras companhias líderes de mercado ou monopolistas.

Agressivo: investidor destemido, disposto a assumir grandes perdas para obter ganhos maiores, de acordo com as variações econômicas e do mercado financeiro. Aconselho, mesmo para o mais agressivo investidor, que mantenha, pelo menos, metade de seus recursos aplicados em produtos financeiros defensivos, como fundos de investimento de renda fixa e títulos públicos federais, reservando o restante para opções como ações, fundos de investimento de renda variável ou moedas estrangeiras. Não é do perfil deste investidor a aplicação de recursos em imóveis, por caracterizar-se como um investimento de baixa liquidez, ou seja, com um grau maior de dificuldade de se transformar em dinheiro, e rentabilidade.

O teste apresentado abaixo foi extraído de um material oferecido pelo Banco HSBC aos seus correntistas, que desejam efetuar investimentos. Fiz algumas adaptações, para que você possa descobrir o seu perfil de investidor. Vamos lá? I – Perfil do investidor:

1. Leia as frases abaixo e depois assinale a que melhor define as suas preferências em relação a seus investimentos:

A – Investir em produtos de baixo risco, com poucas chances de perda,

para preservar meu capital. B – Investir a maior parte em produtos de baixo risco, o restante em

produtos de maior risco, buscando o crescimento moderado do meu capital. C – Investir partes iguais em produtos de baixo risco e produtos de maior

risco, que proporcionem o crescimento do meu capital. D – Investir a maior parte em produtos de maior risco, o restante em

produtos de baixo risco, buscando grande crescimento do meu capital.

2. O que você faria se houvesse redução no valor de seu investimento?

1 – Sairia do investimento imediatamente. 2 – Tiraria apenas uma parte do investimento. 3 – Não sairia imediatamente Planejaria minha estratégia de investimentos. 4 – Não sairia e aceitaria perdas a curto prazo, com expectativa de ganhos

a longo prazo.

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3. Qual o seu nível de conhecimento sobre produtos de investimentos

financeiros?

1 – Não me sinto seguro tomando decisões sozinho. Prefiro buscar aconselhamento financeiro especializado.

2 – Tenho pesquisado vários tipos de investimentos, mas prefiro decidir depois de um aconselhamento financeiro especializado.

3 – Entendo como os vários tipos de investimento funcionam, incluindo seus riscos e rentabilidades. Sinto-me seguro para tomar decisões.

4 – Entendo como funciona o mercado financeiro. Portanto, não preciso de aconselhamento de terceiros.

4. Investindo $ 10.000,00 por um ano, qual é a alternativa hipotética que atenderia a sua expectativa de retorno:

1 – Situação favorável: ganhar 13%

Situação desfavorável: ganhar 13% 2 – Situação favorável: ganhar 18%

Situação desfavorável: manter o capital 3 – Situação favorável: ganhar 30%

Situação desfavorável: perder até 5% do capital 4 – Situação favorável: ganhar 45%

Situação desfavorável: perder até 15% do capital

5. Você tem atualmente:

1 – Mais de 65 anos 2 – Entre 56 e 65 anos 3 – Entre 36 e 55 anos 4 – Menos de 36 anos

Some os pontos e confira, no quadro abaixo (figura ...), qual é o seu perfil de investidor e, posteriormente, observe a sensibilidade ao risco de cada um (figura ...).

Somatório das questões 2 a 5

Resposta da

questão 1

A 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

B 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

C 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

D 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16

Figura ....: Perfil do investidor

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Defensivo Com risco muito baixo

Conservador Com risco baixo

Moderado Com risco médio

Equilibrado Com risco médio/alto

Arrojado Com risco alto

Agressivo Com risco muito alto

Figura ....: Subdivisão e sensibilidade ao risco dos investidores Para que possamos ter uma idéia melhor do que é um portfólio de aplicações financeiras, observe, na figura ...., a carteira de investimentos de um investidor agressivo:

Investimentos pessoais

15%

1%4%

15%

21%5%

17%

6%

16%

Previdência Privada DólaresEmpréstimos pessoais Títulos públicosAções Telesp Ações EmbraerAções Petrobrás Ações TelemarCaderneta de poupança

Figura .....: Exemplo de carteira de um investidor agressivo Verificamos que, do total dos investimentos, 49% estão concentrados em empresas de primeira linha, como Telesp Celular (Vivo), Petrobrás, Embraer e Telemar. Outros 46% em investimentos de renda fixa, como títulos públicos, caderneta de poupança e previdência privada e, o restante, em dólares (apenas 1%) e empréstimos pessoais, com 4%, totalizando 100%. Mesmo que acontecimentos imprevistos sacudam a economia brasileira, notamos que o investidor preocupou-se em aplicar quase a metade de seus recursos em investimentos caracterizados como conservadores, buscando um ganho superior na outra metade de seus investimentos.

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5.1 Produtos disponíveis no mercado financeiro

As opções de investimento no mercado financeiro estão normalmente distribuídas em duas modalidades: renda fixa e variável. A diferença básica entre elas é a de que na renda fixa os índices que irão corrigir o investimento são conhecidos previamente, com uma taxa de juros pré-fixada, ou mais uma remuneração pós-fixada através de um índice de domínio público, tais como TR (taxa referencial), IGP-M (índice geral de preços do mercado) ou IPCA (índice de preços ao consumidor amplo), enquanto que, na renda variável, a correção segue os preços de mercado em ativos como ações, ouro e dólar. O mercado de renda fixa é o mais tradicional, sendo que sua remuneração visa, basicamente: proteger o capital investido dos efeitos da inflação; proporcionar um pequeno ganho adicional.

Os principais produtos negociados neste mercado são: caderneta de poupança, títulos públicos federais, quotas de fundos de investimento de renda fixa, CDB (certificado de depósito bancário) e RDB (recibo de depósito bancário), previdência privada e debêntures, podendo realizar expectativas de investimento de curto, médio e longo prazos. Além do mercado financeiro, o investidor encontra opções de investimentos como consórcios, títulos de capitalização e imóveis, que serão abordados adiante.

5.1.1 Caderneta de poupança

O produto de renda fixa mais procurado pelos investidores, juntamente com os fundos de investimento de renda fixa, é a caderneta de poupança. Isso ocorre, principalmente, pelo baixo risco que ela oferece, sendo garantido, a todos os investidores, em caso de intervenção ou liquidação, pelo Banco Central, da instituição financeira, o resgate de até R$ 20.000,00 (vinte mil reais) por poupador, pois existe um instrumento de garantia chamado FGC, ou fundo garantidor de crédito, que funciona como uma espécie de ¨seguro¨ para essa modalidade de aplicação. Mas você pode estar se perguntando: ¨E se eu possuir mais de vinte mil reais e o banco quebrar?¨, aí, então, dificilmente você verá o resto de seu dinheiro novamente, pois a venda dos ativos do banco serão, provavelmente, insuficientes para pagar todos os seus credores. Então aí vai a dica verdadeiramente importante, ou seja, como sair dessa situação? Abrindo contas em diversos bancos, mantendo, sempre, valores inferiores ao garantido pelo FGC, ou optando por bancos públicos federais, que são administrados pelo Governo e, por isso, não quebram.

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A caderneta de poupança foi instituída, pelo Governo, como um produto destinado a captar recursos para serem investidos no SFH, sistema financeiro de habitação, como forma de viabilizar o financiamento, com taxas mais acessíveis, da aquisição do imóvel próprio pela população brasileira. Não vou entrar em detalhes operacionais do funcionamento do SFH, mas mostrarei, no item investimentos em imóveis, as vantagens e desvantagens da aquisição destes ativos através de financiamentos e recursos próprios. Como opção de investimento, ela se mostra uma verdadeira armadilha em épocas de inflação alta, pois sua rentabilidade não acompanha a desvalorização da moeda. Um exemplo disso eram as altas taxas de remuneração pagas por esse investimento nos anos 80 e 90, superiores, às vezes, a 50% ao mês. Pois vou lhe dar uma informação. Os juros da caderneta de poupança, ou seja, a verdadeira remuneração do dinheiro investido, sempre foi da ordem de 6% ao ano, ou 0,5% ao mês, o restante é produto de um artifício, criado pelos economistas, chamado de ¨correção monetária¨ que, como o próprio nome diz, é uma tentativa de fazer com que a moeda não perca seu poder de compra por causa da inflação, mas que, na realidade, não consegue protegê-lo. Deixe-me explicar melhor. Atualmente, a rentabilidade da caderneta é estipulada em 0,5% de juros ao mês, mais TR, ou taxa referencial, que tem a função de proporcionar a ¨correção monetária¨, que é calculada pelo Banco Central através de uma cesta média de remuneração obtida em investimentos de renda fixa, menos o ganho de capital, ou seja, o lucro dos bancos. Resumidamente, existe toda uma metodologia, bastante transparente, da remuneração deste investimento. A única coisa que ninguém fala, talvez até porque não perguntamos, é a de que esse investimento não protege, verdadeiramente, dos efeitos da inflação, por causa da adoção deste índice de correção. Todo índice de inflação é calculado com o mesmo objetivo: obter a variação do poder de compra da moeda. Se no período pesquisado a moeda se fortalece, acontece o fenômeno conhecido como deflação, se é o inverso, ou seja, preciso de mais dinheiro para adquirir os mesmos produtos que comprava antes com uma quantidade menor, temos a inflação. Vários institutos de pesquisa calculam essa variação, com diferenças, às vezes sutis, em seus métodos, mas com resultados, muitas vezes, bastante diferentes. A Fundação Getúlio Vargas possui uma série de índices, como o IGP-M (índice geral de preços de mercado), que é um dos mais afetados pela variação cambial, ou seja, o impacto da relação do valor de nossa moeda comparativamente a outras, principalmente, o dólar americano. A FIPE, Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas da Universidade de São Paulo, fornece o IPC, índice de preços ao consumidor, e o IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, calcula o IPCA, índice de preços ao consumidor amplo. Como o Governo não é bobo, normalmente adota aquele índice que, pelas características de sua metodologia de cálculo, oferece um dos menores resultados no período pesquisado, chamado de ¨índice oficial¨ de inflação.

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Atualmente, o escolhido é o IPCA. Vou lhe apresentar, na figura ..., as variações destes índices em um período de doze meses.

IGP-M/

FGV ACUM.

IPC/ FIPE

ACUM. IPCA/ IBGE

ACUM. TR ACUM.

1 2.002 Abril 0,56% 0,56% 0,06% 0,06% 0,08% 0,08% 0,2357% 0,2357%

2 2.002 Maio 0,83% 1,39% 0,06% 0,12% 0,21% 0,29% 0,2101% 0,4463%

3 2.002 Junho 1,54% 2,96% 0,31% 0,43% 0,42% 0,71% 0,1582% 0,6052%

4 2.002 Julho 1,95% 4,96% 0,67% 1,10% 1,19% 1,91% 0,2656% 0,8724%

5 2.002 Agosto 2,32% 7,40% 1,01% 2,12% 0,65% 2,57% 0,2481% 1,1227%

6 2.002 Setembro 2,40% 9,98% 0,76% 2,90% 0,72% 3,31% 0,1955% 1,3204%

7 2.002 Outubro 3,87% 14,23% 1,28% 4,22% 1,31% 4,66% 0,2768% 1,6008%

8 2.002 Novembro 5,19% 20,16% 2,65% 6,98% 3,02% 7,83% 0,2644% 1,8695%

9 2.002 Dezembro 3,75% 24,67% 1,83% 8,94% 2,10% 10,09% 0,3609% 2,2371%

10 2.003 Janeiro 2,33% 27,57% 2,19% 11,32% 2,25% 12,57% 0,4878% 2,7358%

11 2.003 Fevereiro 2,28% 30,48% 1,61% 13,12% 1,57% 14,33% 0,4116% 3,1587%

12 2.003 Março 1,53% 32,48% 0,67% 13,87% 1,23% 15,74% 0,3782% 3,5488%

TOTAL 28,55% 13,10% 14,75% 3,49%

Figura ...: Comparação entre índices de inflação O período escolhido foi, intencionalmente, de grande turbulência econômica, devido, principalmente, as expectativas geradas pela eleição presidencial de 2002. Com o favoritismo, e posterior vitória, do candidato do Partido dos Trabalhadores, Luis Inácio Lula da Silva, os mercados cambial e de capitais foram fortemente afetados pelo receio de uma ruptura de contratos e expectativa quanto a política econômica do novo governo, obrigando as autoridades a adotarem medidas de política monetária, como aumento da taxa básica de juros e do percentual do recolhimento compulsório dos depósitos à vista, para contenção da inflação, que ameaçava um ressurgimento, diminuindo o consumo e a produção, e aumentando o desemprego. Não é nosso objetivo, neste trabalho, aprofundarmo-nos em conceitos de micro e macroeconomia, caso tenha interesse em saber mais sobre esses assuntos e como eles afetam nosso dia-a-dia, basta procurar um livro de introdução a economia. Observe que, dentre os três índices analisados, a TR é o que apresenta a menor variação, e é, justamente, o utilizado para a correção monetária dos depósitos da caderneta de poupança, sendo que, no período, acumulou uma variação de 3,5488%, contra 15,74% do IPCA, 13,87% do IPC e espantosos 32,48% do IGP-M. Por isso, aqui vai outra dica: não contraia dívidas indexadas a este índice, pois, normalmente, é o que sofre maior impacto com desvalorizações da moeda nacional frente ao dólar. Mas, o que quero realmente te mostrar, com toda esta análise, é o paradoxo do baixo risco e rentabilidade deste produto financeiro. Lembra-se que esta é a principal característica da caderneta de poupança? Mas se os juros, são de 0,5% ao mês, e capitalizados totalizam, aproximadamente, 6,l7% ao ano, somados a correção monetária, representada pela taxa referencial do período, constatamos que quem estava com seu dinheiro investido recebeu uma remuneração total de 9,72% ao ano, inferior a todos os índices de inflação

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mostrados anteriormente, ou seja, você não consegue comprar as mesmas coisas que conseguia com o dinheiro investido, ou, resumindo, empobreceu. Seu dinheiro não diminuiu, até mesmo aumentou em quantidade numérica, mas perdeu o mais importante, o seu valor. Percebeu a armadilha que entramos? Investimos em um produto para obtermos uma alta segurança, dispostos, com isso, a abrirmos mão de uma boa rentabilidade, mas empobrecemos no final do período. Por isso a inflação precisa ser combatida, pois a correção monetária não acompanha a queda do poder de compra da moeda, e os juros, neste momento, são insuficientes para compensá-la, e ainda gerar um pequeno ganho de capital. Nestes casos, devemos procurar outros produtos financeiros, como mostraremos a seguir.

5.1.2 Títulos públicos federais

Vamos imaginar uma situação hipotética. Durante alguns meses você gastou mais do que ganhou, forçando-o a utilizar recursos financeiros de terceiros, ou seja, endividar-se através de empréstimos. Começou fazendo compras com o cartão de crédito, financiando-as no crédito rotativo, ou utilizando o limite do cheque especial, aumentando, com o pagamento de juros, as despesas mensais. Se não tomar nenhuma providência, chegará um momento em que sua renda não será suficiente para o pagamento das necessidades e das dívidas, e terá um grande problema para ser resolvido. Às vezes, posso pedir dinheiro emprestado para parentes ou amigos, e eles, provavelmente, me solicitarão um documento de comprovação desta operação, normalmente um cheque pré-datado ou uma promissória. Com o governo acontece a mesma coisa. Ele possui receitas, representadas pela arrecadação com impostos, taxas e contribuições, e despesas, com manutenção, operacionais, de investimento e juros. Se no final do período, mensal ou qualquer outro, seu ¨caixa¨, também chamado de Tesouro Nacional, verificar que as despesas estão maiores que as receitas, será necessário a captação de dinheiro emprestado junto a investidores. O nome técnico deste buraco é ¨déficit público¨, e ele pode ser, no Brasil, de dois tipos: Déficit ou superávit primário: saldo das contas públicas, negativo ou

positivo, ao final de determinado período. Este valor é calculado através da subtração das receitas e despesas, menos o pagamento dos juros, ou seja, não é pelo fato do governo brasileiro afirmar que possui superávit primário de 4,25% do PIB, produto interno bruto, a soma de todas as riquezas produzidas no país durante um ano, que as contas no final do mês estejam no azul e o endividamento diminuindo;

Déficit ou superávit nominal: saldo final das contas do governo, ou seja, a diferença entre o déficit ou superávit primário e as despesas com juros. Se possuo superávit primário, mas ele é insuficiente para o pagamento dos juros, o resultado será de déficit nominal. Traduzindo, o

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governo terá que pegar mais dinheiro emprestado para pagar estes juros. Ao fazer isso, aumentará sua dívida e, conseqüentemente, as despesas com juros, fazendo que seja necessário uma arrecadação cada vez maior para pagamento de seus credores, ou corte nas despesas operacionais e nos investimentos públicos.

Neste momento, entra em cena um dos fatores mais importantes: o risco. Se a dívida pública caminha para tornar-se impagável, os credores exigem uma remuneração cada vez maior, porque, como diz um dos princípios do capitalismo, ¨quanto maior o risco, maior o retorno¨, e o governo, por necessitar destes recursos, submete-se aos desejos do mercado financeiro. Mas o pior é que, se a situação continua a se deteriorar, em determinado momento, nem pagando juros exorbitantes consegue-se captar mais recursos para o pagamento das obrigações, neste momento o país torna-se ¨insolvente¨ e declara a famosa moratória. Se, por outro lado, conseguir estabilizar as contas públicas e retomar a sua capacidade de pagamento, diminuindo sua necessidade de financiamento, fará jus à captação de recursos com taxas de juros mais baratas, a famosa Selic, diminuindo suas despesas com juros e seu endividamento. Cabe ressaltar, ainda, que a maior parte dos recursos emprestados ao governo, pelas instituições financeiras, inclusive os bancos, pertence a seus correntistas e, em caso de um calote da dívida pública, os grandes prejudicados serão os investidores. Vide o caso da nossa vizinha Argentina, com o famoso ¨corralito¨. Você pode estar se perguntando: ¨Mas o governo não precisa se preocupar, porque ele é o dono da máquina de fazer dinheiro e, se gastar mais do que arrecada, basta produzir um pouquinho de moeda e, voalá, problema resolvido, não é mesmo?¨. Não, não está resolvido. Você já parou para pensar porque pacotes de viagem são tão caros nos meses de férias? É porque nestes períodos todo mundo quer viajar, e a lei do mercado é clara nesse sentido, se a demanda é maior que a oferta, o preço sobe, e vice-versa. Se o governo coloca dinheiro além do necessário para o funcionamento da economia, propicia o surgimento de uma demanda maior que a capacidade de oferta, desequilibrando-a, alimentando o aumento de preços e gerando inflação. Este é um dos principais motivos da inflação monstruosa das décadas passadas, apesar de não ser o único. Estou lhe dando estas explicações, bastante simplificadas, para que você possa entender um pouco a dinâmica das contas públicas e os riscos envolvidos ao emprestar dinheiro para o governo, ou investir em produtos financeiros cujo destino dos recursos captados é o mesmo, como fundos de investimento de renda fixa e a maioria das aplicações dos fundos de previdência privada. Diferente de uma pessoa física, que ao solicitar um empréstimo assina um contrato, uma promissória ou um cheque pré-datado, o governo emite um

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documento chamado de título público, que representa uma obrigação do devedor, no caso a República Federativa do Brasil, com os credores, também chamados de investidores. Até poucos anos atrás, somente os grandes investidores, através de instituições financeiras, tinham acesso à aquisição destes títulos e ao ganho que eles proporcionam. A partir de 2001, o governo brasileiro, através do Tesouro Nacional, lançou um programa intitulado Tesouro Direto, uma modalidade de venda de títulos públicos, pela Internet, a qualquer investidor interessado em sua aquisição, como uma opção de investimento com excelente nível de segurança, e rentabilidade superior a maioria dos produtos de renda fixa disponíveis no mercado. Isso é possível porque os bancos captam nosso dinheiro e emprestam para o governo, cobrando uma taxa de administração, no caso de fundos de investimento de renda fixa, ou spread, que é a diferença entre a taxa que a instituição remunera o investidor e empresta para o tomador. Ao acessar o site do tesouro nacional e adquirir títulos públicos você está, na verdade, eliminando um intermediário do processo e diminuindo seus custos e riscos, pois se o administrador de seus investimentos quebrar, não levará seu dinheiro para o buraco. Atualmente, são oferecidos quatro tipos de títulos públicos aos investidores através do tesouro direto, que possuem características de vencimento, remuneração e riscos diferenciados, conforme veremos a seguir: LTN (letras do tesouro nacional): títulos emitidos com taxa de juros pré-

fixada, ou seja, na data de aquisição o investidor já conhece o rendimento que será obtido com seus investimentos, bem como a data de seu vencimento. Papel ideal para investidores conservadores e que devem ser privilegiados em momentos de queda de juros, pois você possuirá uma aplicação com rentabilidade constante a cada mês, aumentando seus ganhos. O inverso também é válido, ou seja, deve ser evitado em momentos de juros em alta, pois o investidor terá, em mãos, títulos com rentabilidade menor do que os oferecidos ao mercado. Normalmente, estes papéis são disponibilizados com prazos menores, principalmente pela instabilidade dos juros no país nos últimos anos;

LFT (letras financeiras do tesouro): são papéis pós-fixados, remunerados pela famosa taxa Selic, definida em reuniões mensais do COPOM, comitê de política monetária do Banco Central, de acordo com o momento econômico do país, mais uma pequena taxa de juros anual. Investimento adequado em momentos de instabilidade econômica ou para longo prazo, quando a autoridade monetária, no caso o Banco Central, deve aumentar a taxa de juros para captar recursos para o Tesouro Nacional, permitindo maiores ganhos aos investidores. Em momentos em que a tendência de juros é de queda, deve-se privilegiar as LTN´s. As opções disponíveis em setembro de 2003 ofereciam vencimentos até 2007, ou seja, aproximadamente quatro anos de remuneração;

NTN-C (notas do tesouro nacional tipo C): títulos pós-fixados, remunerados pela variação do IGP-M (índice geral de preços do mercado) da Fundação Getúlio Vargas, mais uma taxa de juros que, em

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setembro de 2003, estava em aproximadamente 9,7% anuais. São os melhores títulos em momentos de volatilidade cambial, pois é um índice altamente afetado pela variação da cotação do dólar em relação ao real. O IGP-M acumulou, de abril de 2002 a março de 2003, aproximadamente 32,5% de variação que, somados à taxa de juros de quase 10%, propiciou aos que investiram nesses papéis uma rentabilidade bruta, ou seja, sem contar o imposto de renda de 20%, próxima a 43% no período. Por isso repito: não contraia dívidas corrigidas pelo IGP-M, mas não tenha dúvidas em investir em produtos financeiros indexados a este índice, principalmente a médio e longo prazo. Indicado para investidores com conhecimentos básicos em economia e que procuram opções de investimento a longo ou longuíssimo prazo, pois possui opções de títulos com vencimento até 2031;

NTN-B (notas do tesouro nacional tipo B): a caçula dos títulos oferecidos aos investidores. Também é um investimento pós-fixado, sendo que a diferença básica está no índice utilizado em sua correção, que é o IPCA (índice de preços ao consumidor amplo), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, e utilizado como índice oficial de inflação pelo governo. Oferece uma taxa de juros um pouco maior que a NTN-C, em setembro de 2003 de aproximadamente 10,15% anuais, ou uma diferença de 0,45% ao ano, pelo fato de, normalmente, este indicador ficar abaixo do IGP-M. Indicada em momentos de estabilidade econômica e cambial, com inflação controlada e propiciando um rendimento com juros 70% superior a caderneta de poupança, sem contar que o índice de correção é muito mais confiável do que a taxa referencial. Indicado para investidores altamente conservadores e que buscam opções de longo prazo, pois possuem vencimentos até 2009.

Para comprar títulos públicos através do tesouro direto, é necessário cadastrar-se em um dos agentes financeiros participantes do programa. Recomendo que faça uma pesquisa das taxas que serão cobradas pelas instituições sobre cada operação de compra e venda que forem realizadas pelo investidor. As instituições mais tradicionais participantes são o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal. A partir desse cadastro, será fornecida uma senha de acesso ao site do Tesouro, permitindo visualizar as opções de investimento disponíveis naquela data, sua remuneração e vencimento, conforme figura ....

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Figura ....: títulos públicos disponíveis para compra em setembro de 2003 Os valores para investimento mensal variam de R$ 200,00 (duzentos reais), no mínimo, a R$ 200.000,00 (duzentos mil reais) no máximo. Vale salientar que não existem títulos com estes valores, sendo que, para pequenas compras, serão adquiridos partes de títulos e, em grandes compras, a quantidade necessária para totalizar o investimento desejado. Caso você precise do dinheiro, e queira efetuar um resgate, o Tesouro compromete-se a recomprar seus títulos todas as quartas-feiras, sendo que o dinheiro estará disponível no primeiro dia útil posterior a operação, em sua conta corrente, no agente financeiro escolhido como intermediário. Neste aspecto, cabe uma observação. Existem agentes financeiros operando pela Internet, como o Investshop, no endereço www.investshop.com.br, por exemplo. Caso você adquira títulos públicos através dele, ele não será responsável pela custódia, ou guarda, de seus ativos. Neste caso, a CBLC, ou Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia, é a instituição criada pela bolsa de valores de São Paulo para a custódia de valores fungíveis, ou seja, para guardar seus títulos enquanto você não os vende. Esta é uma informação importantíssima, pois se qualquer agente financeiro sofrer intervenção ou liquidação pelo Banco Central, ou quebrar, você não tem nada com isso, pois seus títulos estão depositados na CBLC, mas se eles tiverem sido vendidos, e

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você deixou seu dinheiro na conta-corrente, e acontecer uma dessas catástrofes que citei, pode dizer adeus para seu investimento. Viu porque aconselhei a utilizar o Banco do Brasil ou a Caixa Econômica Federal? São várias as vantagens de se investir em títulos públicos, mas a maior delas é, sem dúvida, a possibilidade de montar sua própria carteira de investimentos, com baixíssimo risco e rentabilidade superior a oferecida pela maioria das instituições financeiras. Dependendo do horizonte de prazo do investidor, podem ser adquiridos títulos com quase 30 anos de juros garantidos, ideais para sua aposentadoria, sem a necessidade de planos de previdência privada, por exemplo. Para que você possa analisar as vantagens de efetuar esse investimento, verifique que a rentabilidade acumulada pelos títulos públicos foi superior a todos os outros investimentos de renda fixa, oferecidos pelo mercado financeiro, nos últimos anos. Observe na figura ....., os rendimentos comparativos das principais oportunidades de renda fixa.

TABELA DE RENTABILIDADE EM PERCENTUAL1

fev/02 2001 2000 1999

Títulos públicos

LTN (1) 2,87 20,81 18,25 22,0

LFT (2) 2,86 17,54 17,47 25,74

NTN-C (3) 2,02 21,87 22,48 35,12

Outros indicadores

CDI (4) 2,8 17,29 17,25 25,13

CDB (5) 2,68 16,51 16,4 24,03

Poupança 1,38 8,59 8,39 12,25

Selic 2,8 17,4 17,43 25,59

Dólar 1,8 18,67 8,57 48,12

IGP-M 0,42 10,38 9,95 20,64

Tabela 1: Rentabilidade comparada de investimentos de renda fixa Fonte: www.tesouro.fazenda.gov.br (1) Média das taxas de juros dos leilões de títulos com prazos de seis meses ocorridos ao longo do período. (2) Variação da taxa Selic, acrescida do ágio/deságio médio observado nas vendas de títulos com prazos de 12 meses (1999) 36 meses (2000) e 60 meses (2001). (3) Variação acumulada do IGP-M, somada à média das taxas de juros dos leilões dos títulos com os seguintes datas de vencimento: para o ano de 1999, título com vencimento em dezembro de 2002 e paras os anos de 2000 e 2001, título com vencimento em julho de 2005. (4) Taxa acumulada calculada com base nas taxas diárias. (Banco Central) (5) Taxa acumulada calculada com base nas taxas básicas financeiras - TBF do primeiro dia útil de cada mês. (Banco Central)

Observe que a rentabilidade bruta dos títulos públicos, principalmente as NTN´s, notas do tesouro nacional, sempre foram superiores às outras modalidades de investimento de renda fixa. Ainda devemos considerar que, no

1 Rentabilidade bruta, ou seja, sem o imposto de renda de 20% sobre os juros.

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caso dos títulos públicos, deverão ser pagos IR sobre os juros, e as taxas de custódia, compra e venda, no caso de não se esperar o resgate no vencimento. Mas mesmo assim, quando comparamos o ganho líquido de cada um, existe uma vantagem clara para os títulos públicos, pois os outros investimentos também possuem custos como IR, taxa de administração e IOF, imposto sobre operações financeiras. Proponho que façamos uma análise comparativa entre a média, obtida pela soma dos índices no período, divididos pelo número de anos, das três modalidades de títulos públicos, letras do tesouro nacional, letras financeira do tesouro e notas do tesouro nacional, com a rentabilidade dos certificados de depósito bancário, certificados de depósito interbancário, só disponíveis para aplicação através de fundos de investimento de renda fixa DI, e a caderneta de poupança. Vamos, primeiramente, analisar as taxas anuais e mensais de cada opção de investimento, conforme figura .....

Rentabilidade média

Investimento Anual Mensal

LTN 20,35% ao ano 1,56% ao mês

LFT 20,25% ao ano 1,55% ao mês

NTN 26,49% ao ano 1,98% ao mês

CDI 19,89% ao ano 1,52% ao mês

CDB 18,98% ao ano 1,46% ao mês

Caderneta de poupança 9,74% ao ano 0,78% ao mês

Figura ...: Comparação entre a rentabilidade de investimentos em renda fixa Note que, se você simplesmente somar, mês a mês, as taxas obtidas com a LTN, por exemplo, obteremos o valor de 18,72% ao ano, enquanto a rentabilidade anual é de 20,35%, uma diferença de 1,63% no período. Isso ocorre por um fator chamado taxa de juros nominal e real. Enquanto a taxa de juros nominal representa a rentabilidade no período, no caso de um ano, a taxa de juros real é aquela que, aplicada mês a mês, no regime de juros compostos, proporciona a rentabilidade anual da taxa nominal. Complicado? Vamos exemplificar para ficar mais fácil. Imagine uma aplicação de R$ 1.000,00 (um mil reais), no período de um ano, a taxa nominal de 20,35%. Você terá, ao final do período, o valor de R$ 1.203,50 (um mil, duzentos e três reais e cinqüenta centavos), obtidos através da multiplicação do investimento pela taxa de retorno anual. Se dividirmos a taxa nominal de 20,35% ao ano, por doze meses, obteremos o valor de 1,70% ao mês. Vamos conferir?

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Data Aplicação Juros (1,7% ao mês) Saldo

1/1/2003 R$ 1.000,00 R$ 17,00 R$ 1.017,00

1/2/2003 R$ 1.017,00 R$ 17,29 R$ 1.034,29

1/3/2003 R$ 1.034,29 R$ 17,58 R$ 1.051,87

1/4/2003 R$ 1.051,87 R$ 17,88 R$ 1.069,75

1/5/2003 R$ 1.069,75 R$ 18,19 R$ 1.087,94

1/6/2003 R$ 1.087,94 R$ 18,49 R$ 1.106,43

1/7/2003 R$ 1.106,43 R$ 18,81 R$ 1.125,24

1/8/2003 R$ 1.125,24 R$ 19,13 R$ 1.144,37

1/9/2003 R$ 1.144,37 R$ 19,45 R$ 1.163,83

1/10/2003 R$ 1.163,83 R$ 19,79 R$ 1.183,61

1/11/2003 R$ 1.183,61 R$ 20,12 R$ 1.203,73

1/12/2003 R$ 1.203,73 R$ 20,46 R$ 1.224,20

Figura ...: Rentabilidade de um investimento durante um ano obtido com taxa de juro nominal Ao final de doze meses, o valor do montante é de R$ 1.224,20 (um mil, duzentos e vinte e quatro reais e vinte centavos), equivalentes a uma taxa nominal de 22,42% ao ano, superior em R$ 20,70 (vinte reais e setenta centavos), ou 2,07%, ao que seria a uma taxa de 20,35% ao ano. Vamos refazer as contas, utilizando a taxa de juros real mensal de 1,55%, observe a figura ....

Data Aplicação Juros (1,55% ao mês) Saldo

1/1/2003 R$ 1.000,00 R$ 15,55 R$ 1.015,55

1/2/2003 R$ 1.015,55 R$ 15,79 R$ 1.031,34

1/3/2003 R$ 1.031,34 R$ 16,04 R$ 1.047,38

1/4/2003 R$ 1.047,38 R$ 16,29 R$ 1.063,67

1/5/2003 R$ 1.063,67 R$ 16,54 R$ 1.080,21

1/6/2003 R$ 1.080,21 R$ 16,80 R$ 1.097,00

1/7/2003 R$ 1.097,00 R$ 17,06 R$ 1.114,06

1/8/2003 R$ 1.114,06 R$ 17,32 R$ 1.131,39

1/9/2003 R$ 1.131,39 R$ 17,59 R$ 1.148,98

1/10/2003 R$ 1.148,98 R$ 17,87 R$ 1.166,84

1/11/2003 R$ 1.166,84 R$ 18,14 R$ 1.184,99

1/12/2003 R$ 1.184,99 R$ 18,43 R$ 1.203,42

Figura ....: Rentabilidade de um investimento durante um ano obtido com taxa de juro real Como podemos verificar, se compararmos o montante obtido com o investimento de R$ 1.000,00 (um mil reais), durante um ano, à taxa nominal de 20,35%, prometidos pelo investimento, com a taxa de juros real de 1,55% ao mês, alcançaremos valores muito próximos, com uma diferença de apenas R$ 0,07 (sete centavos), que aconteceu por motivo de arredondamento das casas decimais da taxa de juros.

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São coisas como essa que, na minha opinião, desestimulam as pessoas a buscarem maiores conhecimentos da área financeira, porque, na verdade, isso é realmente uma chatice. Se você, por acaso, quiser saber mais aprofundadamente como funciona a matemática financeira, e a utilização da calculadora HP 12C, procure em sua cidade. Normalmente são oferecidos mini-cursos, que variam de 08 a 20 horas, pelo Sebrae, Sesi, Senai e Universidades, entre outros. E o investimento necessário não é alto, comparativamente a importância deste conhecimento em nossa vida. Mas, voltando ao assunto da rentabilidade dos investimentos, vamos agora comparar uma aplicação de R$ 300,00 (trezentos reais) mensais, em cada uma das modalidades, durante dez, vinte e trinta anos, conforme figura....

Modalidade Parcela juros 10 anos 20 anos 30 anos

LTN 300,00 1,56% 104.000,16 770.434,04 5.040.947,87

LFT 300,00 1,55% 103.214,23 756.842,62 4.896.098,11

NTN 300,00 1,98% 144.163,60 1.660.014,66 17.598.881,73

CDI 300,00 1,52% 100.897,44 717.596,46 4.486.945,40

CDB 300,00 1,46% 96.442,76 645.544,20 3.771.879,42

Caderneta de poupança 300,00 0,78% 59.250,74 209.778,38 592.196,74

Figura ....: Rendimento futuro de uma aplicação mensal em diversos investimentos Vou utilizar o exemplo da caderneta de poupança para ensiná-lo a realizar as contas na calculadora HP 12C. Digite a parcela (no caso R$ 300) e tecle CHS e PMT Digite o número de períodos em meses (no caso 120 para 10 anos) e tecle ¨n¨ Digite a taxa de juros mensal (no caso 0,78) Tecle FV e pronto! Temos o valor de R$ 59.250,74 Não! Você não está sonhando! As contas não estão erradas! A verdade pura e cristalina finalmente aparece diante dos seus olhos! Acabei de lhe mostrar a verdadeira fonte da riqueza, ou se preferir, o pote de ouro no fim do arco-íris. Não existe mágica, companheiro! O que existe são somente duas coisas: poupança e investimento. O resto é conversa para boi dormir. Veja a espantosa diferença nos seus investimentos. Quanto mais dilatado o período analisado, maior é o montante final. Observe que, nos primeiros dez anos, se compararmos a opção menos atrativa, que é a caderneta de poupança, com a mais rentável, as notas do tesouro nacional, a diferença é de R$ 84.912,86 (oitenta e quatro mil, novecentos e doze reais e oitenta e seis centavos), ou 143%, o suficiente para comprar um apartamento ou um carro importado. Ao final de vinte anos, o valor sobe para R$ 1.450.236,28 (um milhão, quatrocentos e cinqüenta mil, duzentos e trinta e seis reais e vinte e oito centavos), ou 691%. Finalmente, em trinta anos, temos a módica quantia de R$ 17.006.684,99 (dezessete milhões, seis mil e seiscentos e oitenta e quatro reais e noventa e nove centavos), ou 2.872%, um monte de apartamentos e carros importados. Como diz o rei Pelé: entende?

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Podemos comparar, ainda, o título público com menor rentabilidade mensal, a letra financeira do tesouro, que apresenta uma remuneração de 1,55% ao mês, com o produto de renda fixa do mercado financeiro de maior rentabilidade, os fundos de renda fixa DI, que procuram obter remuneração próxima ao CDI, com taxa de juros de 1,52% ao mês. Novamente, você pode me dizer: ¨Como você é chato, afinal, o que são míseros 0,03% ao mês?¨. Pois eu lhe respondo: esta diferença tão pequena representa, ao final de 30 anos, a quantia de R$ 409.152,71 (quatrocentos e nove mil, cento e cinqüenta e dois reais e setenta e um centavos), obtidos através da subtração dos rendimentos obtidos com os dois investimentos ao final do período. Agora te pergunto: Faz diferença para você? Se fizermos uma análise ainda mais detalhada, veremos que a diferença da rentabilidade das letras financeiras do tesouro com as letras do tesouro nacional, é de apenas 0,01% ao mês, que se transformam, em valores monetários, ao final de 30 anos, em R$ 144.849,76 (cento e quarenta e quatro mil, oitocentos e quarenta e nove reais e setenta e seis centavos), uma bela quantia, não é mesmo? Por isso eu volto a repetir: não existe mágica em investimentos. O montante que você terá no futuro depende de escolhas feitas no presente, que sofrem impactos significativos em diferenças que consideramos ¨ninharias¨, mas que, a longo prazo, podem transformar totalmente o resultado obtido. Afinal, no exemplo que lhe mostrei, foram feitas aplicações idênticas, mas o resultado final das notas do tesouro nacional chega a ser constrangedor, ou seja, R$ 17.598.881,73 (dezessete milhões, quinhentos e noventa e oito mil, oitocentos e oitenta e um reais e setenta e três centavos) alivia a velhice de qualquer um, concorda? Vale lembrá-lo de que todo investimento possui riscos. No caso dos títulos públicos, ele aumenta na medida que o governo gasta mais do que arrecada, comprometendo sua capacidade de pagamento. Para sua segurança, acompanhe, mesmo que semestralmente, um indicador chamado ¨taxa de endividamento¨, que é fornecido dividindo-se a dívida pública pelo PIB, ou produto interno bruto. Quanto maior este índice, pior a situação financeira do país e, conseqüentemente, a possibilidade de problemas no resgate de seus investimentos. Por outro lado, se este indicador está estável, ou até mesmo diminuindo, demonstra a preocupação dos administradores com o equilíbrio das contas públicas, diminuindo o risco do investimento, e a sua rentabilidade, pois o governo conseguirá captar recursos pagando taxas de juros mais baratas. Outra maneira, ainda mais fácil, é acompanhar os telejornais e, ouvindo a notícia que os investidores estrangeiros estão saindo do país, com medo de moratória, calote, ou qualquer palavra do gênero, venda seus títulos e aplique em ativos fora do mercado financeiro, como imóveis, por exemplo. É claro que será muito improvável que se consiga uma rentabilidade dessas durante trinta anos, até mesmo porque, se isso acontecer, o governo acabará quebrando de vez. Mas isso serve para ilustrar, principalmente, como a escolha dos seus investimentos impacta o valor que você terá no futuro, devendo ser

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feita um estudo cuidadoso na hora de realizá-los. Além do mais, várias declarações, dos diversos presidentes do Banco Central, inclusive o atual, classificam que a taxa real de juros que deverá ser paga pelo governo brasileiro situa-se em torno de 9% a 10% anuais acima da inflação, correspondendo a uma rentabilidade bruta, sem imposto de renda, um pouco superior a 1% ao mês. Mesmo assim, para um investimento classificado como muito seguro, não deixa de ser altamente atrativo. Então, o que está esperando? Vamos as compras!

5.1.3 Fundos de investimento

Se você não tem paciência, ou vontade, de administrar pessoalmente seus investimentos financeiros, mas deseja buscar alternativas que possam proporcionar remuneração superior a caderneta de poupança, a melhor opção, depois dos títulos públicos federais, são os fundos de investimento. Esse produto foi criado há algumas décadas nos Estados Unidos, e consiste, basicamente, na reunião de recursos de vários investidores, na forma de condomínio, administrados por uma instituição financeira, buscando oportunidades de ganhos no mercado financeiro. A variedade de fundos que são oferecidos deriva das características particulares da composição de sua carteira de investimentos, construídas com ativos financeiros para atender a todos os tipos de clientes, desde conservadores até os mais agressivos. Ao chegar em um banco, e solicitar ao gerente informações sobre as alternativas de investimentos disponíveis, normalmente somos apresentados a diversas opções. Caderneta de poupança, títulos de capitalização, fundos de investimento, CDB e previdência privada são alguns exemplos. Então vamos aprofundar um pouco nosso conhecimento sobre o funcionamento do sistema financeiro para conhecermos as características particulares de cada produto oferecido. A instituição financeira mais tradicional e conhecida é o banco comercial. Através dele possuímos conta-corrente, caderneta de poupança, empréstimos e financiamentos pessoais e empresariais, por isso, estão sujeitos a uma fiscalização rígida de suas operações pelo Banco Central do Brasil. Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Unibanco, por exemplo, são alguns dos maiores bancos brasileiros. Ao abrir uma conta em qualquer uma destas instituições, você está se tornando mais um participante do sistema financeiro nacional, que constitui-se, basicamente, no conjunto de todas as instituições financeiras brasileiras que fazem intermediação, aplicação ou custódia de recursos financeiros próprios ou de terceiros. Seguradoras, corretoras e distribuidoras de títulos e valores mobiliários, consórcios, sociedades de capitalização e de arrendamento mercantil (leasing), cooperativas de crédito, caixas econômicas, bancos de investimento e de desenvolvimento, são alguns de seus componentes.

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Então, vamos supor uma situação: Você entrou em uma agência bancária qualquer, e decidiu alocar um pouco dos seus recursos em outras opções de investimento, além da caderneta de poupança, escolhendo, por exemplo, um fundo de renda fixa, pelas suas características conservadoras. Afinal, se você é correntista de um desses grandes bancos, o risco de perda de seus investimentos deve ser menor, não é mesmo? Pois vou lhe contar uma coisa. Quando você adquire um seguro, título de capitalização, cotas de fundo de investimento ou previdência privada, não é o banco que está lhe vendendo estes produtos, mas instituições financeiras, nas quais o banco é normalmente acionista, e que usam as agências como ponto de venda e os correntistas como clientes em potencial. Assim, se alguma dessas instituições vier a sofrer algum revés financeiro, devido a mudanças bruscas na economia, ou má gestão, podendo até mesmo quebrar, o banco resguarda sua carteira comercial, e você fica a ver navios. Quero que fique claro que não tenho nada contra os bancos, inclusive os considero a ferramenta mais importante do sistema financeiro, mas devemos conhecer devidamente o sistema e o seu funcionamento para podermos realizar uma análise mais aprofundada dos riscos envolvidos em nossos investimentos e na nossa relação com estas instituições. Pois bem, ao investir seu dinheiro em um fundo de investimento, os recursos são encaminhados a um gestor, como, por exemplo, o Santander Banespa Asset Management, que é a instituição financeira responsável pela administração dos recursos financeiros dos clientes dos Bancos Banespa e Santander, pois ambos pertencem ao grupo espanhol Santander. Esse gestor possui uma série de obrigações, estabelecidas em um regulamento, registrado em cartório, sobre a administração dos recursos a ele entregues. Dentre estas regras, podemos destacar: Identificação do administrador do fundo e suas responsabilidades: como

o próprio nome já diz, esta regra identifica a instituição financeira que realizará a gestão dos recursos, bem como as responsabilidades envolvidas nesta administração. Vou lhe dar um exemplo para facilitar o entendimento. Nas propagandas dos fundos de investimentos, normalmente panfletos disponíveis nas agências bancárias, existem duas observações, em letras pequenas, que dizem o seguinte:

1. ¨Os recursos serão administrados pelo regime de melhores esforços.¨ Ou seja, se por acaso, por alguma fatalidade do mercado, seus investimentos forem por água abaixo, o gestor do fundo fez de tudo a seu alcance para proteger sua aplicação, mas não é responsável por suas perdas.

2. ¨Rentabilidade passada não é garantia de rentabilidade futura.¨ Uma das minhas frases prediletas. Traduzindo, não é porque o fundo apresentou uma performance superior a diversos indicadores no passado que você não possa perder dinheiro de agora em diante. Entendeu as responsabilidades do gestor?

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Política de investimentos: relata os mercados que serão utilizados para a busca de opções de investimento para os recursos do fundo, normalmente renda fixa e variável.

Composição básica da carteira: detalha, especificadamente, onde podem ser aplicados os recursos captados dos investidores. Os mais utilizados são títulos públicos e privados, ações, opções de ações e derivativos, que são contratos especulativos de ativos financeiros que têm um mercado futuro devidamente regulamentado, como taxas de juros, ações e câmbio. Informa, ainda, quais serão os limites para a aplicação em determinados papéis, devido às suas características e riscos.

Forma de apuração do valor das cotas: ao investir em um fundo de investimento, você deixa de possuir a quantidade nominal de dinheiro, por exemplo, dez mil reais, para adquirir cotas deste fundo, que valorizam, ou desvalorizam, de acordo com os ativos escolhidos pelo gestor, que compõem suas aplicações, determinadas pelo seu valor de mercado naquela data. Ou seja, as cotas são a representação do patrimônio do fundo, e você passou a ser um sócio, de acordo com a quantidade de suas cotas, que ganhará com seus lucros ou perderá com seus prejuízos, participando de seus resultados. Para fazer esta apuração, o regulamento apresenta todas as expressões matemáticas e contábeis utilizadas.

Prazos para resgates e aplicações: há algum tempo atrás, os fundos apresentavam, como característica, prazos fixos para remuneração e resgate. Por exemplo, 30, 60 ou 180 dias. Se o resgate fosse efetuado antes desses prazos, a rentabilidade acumulada era perdida. Atualmente, todos os fundos apresentam rentabilidade, aplicação e resgate diários, com exceção de alguns fundos de ações, que só disponibilizam os recursos de seus aplicadores em até quatro dias após a solicitação do resgate do investimento.

Periodicidade do crédito dos rendimentos aos investidores: como descrito anteriormente, são as datas que serão disponibilizados os ganhos obtidos com o investimento, como, por exemplo, de 30 em 30 ou 60 em 60 dias. Atualmente, de acordo com regulamentação do Banco Central, todos os fundos tem rentabilidade calculada e creditada de forma diária;

A taxa de administração ou performance cobrada pelo administrador do fundo por seus serviços: sabemos que instituições financeiras não fazem nada de graça para ninguém, não é mesmo? Ou melhor, no sistema capitalista, qual empresa o faz? Por isso, o regulamento do fundo apresenta a remuneração do gestor. É interessante observar que as taxas são aplicadas sobre o patrimônio do fundo, e não somente no ganho financeiro, e o seu método de desconto é feito de maneira que você não perceba o seu verdadeiro peso em suas aplicações, ou seja, diariamente. Então, quando você olha o saldo de seus investimentos, fica satisfeito ao ver que ganhou mais do que a caderneta de poupança, por exemplo, e não se interessa em conferir quanto o administrador ganhou para si com o seu dinheiro. Por isso, confira a taxa de administração que a instituição cobra para gerir os fundos que participa, pois esse valor representa um grande impacto em seus investimentos a

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longo prazo, e nem sempre a instituição que cobra mais oferece a melhor rentabilidade. Consulte o guia EXAME de melhores fundos de investimento, que apresenta, todos os anos, os melhores fundos e gestores do mercado financeiro. A taxa de performance, normalmente, é utilizada em fundos de renda variável, classificados como agressivos, e funciona como um prêmio que é dividido entre investidor e gestor, por superar as metas de rentabilidade acordadas no início do investimento. Nesse tipo de fundo é cobrada, também, a taxa de administração fixa, semelhante aos fundos de renda fixa tradicionais.

Assim, existe um regulamento para cada fundo que a instituição oferece, que apresenta todas as informações necessárias sobre o seu funcionamento. Mas eu te faço um desafio: pergunte a todas as pessoas que você conhece, que aplicam em fundos de investimento, se alguma delas, em qualquer momento, leu algum desses regulamentos. Você sabe por que? Pois vou respondê-lo: porque sua leitura é chata, difícil e cheia de termos técnicos, e nós preferimos confiar na palavra e nos conhecimentos do gerente do banco, não é mesmo? Por isso que, atualmente, existem tantas pessoas preocupadas em buscar maiores informações sobre as características dos investimentos no mercado financeiro, inclusive em bolsas de valores, para compreender melhor o que acontece com o seu dinheiro, para não ter que dizer ¨amém¨ para tudo que funcionários de instituições financeiras proclamam como verdade absoluta, afinal, não existe ninguém melhor para tomar conta de seu dinheiro do que você. Isso não quer dizer que não devemos confiar na experiência e no conhecimento de pessoas que estudam e vivem o dia-a-dia do mercado financeiro, mas sim que precisamos conhecê-lo, para poder avaliar melhor suas oportunidades e riscos. Nesse aspecto, os fundos são uma excelente oportunidade de investimento, principalmente para quem, como disse no início, não tem tempo ou vontade de se aprofundar no conhecimento da dinâmica do sistema financeiro, preferindo sacrificar um pouco da sua rentabilidade. Acredito que a principal informação que esse investidor precisa ter é sobre a composição da carteira do fundo de investimento em que está aplicando seus recursos, pois é aí que descobrimos o grau de risco que este produto apresenta. Em fundos de renda fixa, são privilegiados títulos públicos federais e operações compromissadas, que são empréstimos feitos entre instituições financeiras e garantidos, também, com títulos públicos federais. Compõem ainda, sua carteira, em pequena quantidade, certificados de depósitos bancários, ou CDB, emitidos pelo banco proprietário do gestor do fundo, ou outras opções do mercado de renda fixa, como contratos de energia elétrica e debêntures, que são títulos de empréstimos de empresas consideradas de primeira linha. Confira na figura ..... o exemplo de uma carteira de investimentos de um fundo de renda fixa.

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Fundo de renda fixa

46,8%

42,2%

5,8% 2,7%2,6%

Titulos públicos Operações compromissadas

CDB Cert. termo energia elétrica

Debêntures

Figura ....: Composição da carteira de um fundo de renda fixa Já os fundos de renda variável, considerados agressivos, apresentam oportunidades de ganhos superiores aos de renda fixa, mas também podem gerar grandes riscos ao investidor, como, por exemplo, perder todo o dinheiro investido e ainda ter que colocar mais para cobrir as perdas sofridas com solavancos da economia mundial e brasileira. Isso acontece, principalmente, porque o gestor do fundo, buscando aumentar seus ganhos, investe em operações de mercado futuro, também chamados de derivativos, como índices e taxas de juro, câmbio e ações. Qualquer pessoa sabe que a única certeza da vida são a morte e os impostos e, ao aplicar em ativos que podem sofrer grandes valorizações, o gestor do fundo incorre em riscos de obter perdas incríveis, inclusive de todo o patrimônio investido. Privilegia, também, ações de empresas negociadas em Bolsas de Valores, em nosso caso, na Bolsa de Valores de São Paulo, Bovespa, que, dependendo do cenário, podem sofrer grandes variações de valor em pequeno espaço de tempo. Alocam recursos, ainda, em quotas de fundo de investimento financeiro, e uma pequena parte em papéis de renda fixa, como títulos públicos federais e operações compromissadas. Observe, na figura ...., a composição provável da carteira de investimentos de um fundo de renda variável.

Fundo de renda variável

8% 3%

40%35%

14%

Titulos públicos Operações compromissadas

Ações ibovespa Derivativos

Cotas FIF

Figura ....: Composição da carteira de um fundo de renda variável.

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Por isso, procure se informar. As instituições financeiras oferecem panfletos contendo as linhas gerais dos fundos de investimento disponibilizados para sua clientela. Normalmente, essas informações são superficiais, tratando as linhas gerais de cada fundo. Vá ao gerente, pergunte, esclareça suas dúvidas e bom investimento. Ainda falarei, um pouco adiante, sobre os mercados de ações, futuros e de opções, para que possa compreender, um pouco mais, os riscos e as oportunidades de cada opção de investimento. A figura ..., apresenta alguns produtos financeiros para investimento oferecidos pelo HSBC a seus clientes, com as características descritas acima. Observe que a segmentação obedece ao critério de perfil do investidor, classificados como conservador, moderado ou agressivo. Note que cada grupo de produtos oferece riscos diferenciados, culminando com o FIQ Ações Plus (que nome bonito!), ou seja, um fundo de investimento em quotas, que privilegiará operações em ações e derivativos, e que, ainda, pode pegar dinheiro emprestado, dando como garantia o patrimônio do fundo, para explorar oportunidades que o gestor identifique no mercado financeiro. É isso que significa quando é dito, no item carteira, que o administrador poderá executar operações de alavancagem do fundo. Esses fundos são conhecidos, carinhosamente, por alguns investidores, por fundos de investimento ¨tarja preta¨, em homenagem aos medicamentos vendidos para quem tem disfunções mentais, ou, simplesmente, ¨Gardenal¨. E o que isso quer dizer? Que os riscos destes fundos são extremamente altos, e que, por isso, oferecem a possibilidade de grandes retornos, ou prejuízos. Entende?

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Quadro 4 – Exemplos de produtos e fundos de investimento e suas características Conservador Moderado Agressivos Produtos CDB FAQ R.F. FAQ Cambial Fundo Ações FIQ Ações Plus

Público-Alvo

Investidores que procuram negociar a rentabilidade e o prazo de suas aplicações

Investidores que desejam aplicar recursos em investimentos de Renda Fixa com expectativa de risco e retorno superiores aos fundos DI, no médio e longo prazo

Investidores que buscam proteção contra variações da taxa de câmbio (R$ contra US$ comercial)

Investidores que aceitam as flutuações (positivas/negativas) do mercado acionário, em busca de uma rentabilidade próxima a do índice Bovespa Médio

Investidores que aceitam variações muita elevadas (positivo/negativas) em seus investimentos, em busca de uma melhor rentabilidade a longo prazo

Carteira

Títulos nominativos pré ou pós-fixados de Renda fixa de emissão do HSBC, em que a taxa e o prazo são negociados no momento da aplicação

Quotas de FIF que tenham carteira composta por títulos ou operações de renda fixa, protegidas ou não de variação cambial. Pode apresentar variações negativas nas quotas.

Qutoas de FIF que tenham carteira composta por títulos de Renda Fixa com cláusula de correção cambial ou protegidos pelo uso de derivativos. Pode apresentar variações negativas em função da taxa de juros sobre o dólar.

Composta por ações que integram o índice Bovespa. Não será feito o uso de mercados derivativos como forma de proteção das flutuações do mercado, podendo ser usado com o objetivo de melhorar a aderência em relação a do índice Bovespa.

Objetivo de potencializar a rentabilidade, investimento em ações de empresas com alto potencial de valorização e em operações no mercado futuro e de opções de ações. O administrador poderá executar operações de alavancagem do fundo.

Cálculo dos rendimentos

Mensal, com crédito no vencimento

Diário Diário Diário Diário

Indicado para

prazo mínimo de 30 dias e prazo máximo de 360 dias

médio prazo médio prazo longo prazo longo prazo

Taxa de administração

não tem 3% ao ano. 3% ao ano. 4% ao ano 4% ao ano

Imposto de Renda (sobre o rendimento bruto)

20% 20% 20% 10% 10%

Conversão em cotas

não tem

Quando da aplicação, o seu valor é transformado em quotas pelo valor da quota da data.

Quando da aplicação, o seu valor é transformado pelo valor da quota da data.

Idem Idem

Figura ...: Produtos financeiros oferecidos em um panfleto promocional De acordo com a revista EXAME, em Os Melhores Fundos de Investimento de 1999, existiam, no Brasil, 2.667 fundos, cujo patrimônio atingia 175,9 bilhões de reais, o equivalente a 19,5% do PIB. Em 2003, esse valor aproximava-se de 500 bilhões de reais. Por serem organizados como uma espécie de condomínio, os fundos reúnem mais poder de fogo para atuar em nome dos investidores no mercado. A CVM regula a administração de carteiras e de fundos de ações, e, o Banco Central, fiscaliza os fundos de renda fixa. As normas que são criadas, por estas autoridades, visam que os administradores criem empresas totalmente independentes para gerir os recursos da clientela, acabando com a relação entre os gestores de fundos e as tesourarias dos bancos, melhorando a transparência das relações entre as instituições financeiras e os investidores.

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5.1.4 Certificado de Depósito Bancário (CDB)

Podemos repetir, aqui, a mesma história contada para os empréstimos ao governo federal. Sempre que emprestamos nosso dinheiro a alguém, solicitamos um documento que garanta nossos direitos para o recebimento do que é devido. No caso do governo, são oferecidos títulos públicos, como LTN, LFT, ou NTN, entre pessoas físicas são solicitadas promissórias, cheques pré-datados ou a assinatura de contratos, e, para instituições financeiras, os certificados de depósito bancário, letras de câmbio ou recibo de depósito bancário. Todos possuem a mesma função, pois são títulos de crédito emitidos para garantir uma operação de captação de recursos junto a investidores. A diferença, em seus nomes, é fruto das características particulares da remuneração de cada um. Trataremos, aqui, da mais utilizada e disponibilizada, dentre essas modalidades, pelas instituições financeiras, o CDB. Ao procurar uma instituição financeira para investir os seus recursos, o investidor defrontará sempre com o paradoxo risco-retorno. Se por um lado, a ambição por maiores ganhos pode estimular a procura por produtos mais arriscados, o medo da perda de parte, ou totalidade, do capital, inibe, a maioria das vezes, ousadias no que diz respeito a investimentos pessoais. E como não existe mágica, se um produto é classificado como de baixo risco, o seu retorno também será baixo. Esse é o caso dos certificados de depósito bancário. Nós confiamos que, ao emprestar nosso dinheiro para um banco, com toda a estabilidade e segurança que ele parece transmitir, contentamo-nos em receber uma remuneração um pouco superior a caderneta de poupança, sem nos importarmos com os riscos que o banco correrá em suas operações, pois, afinal, isso é problema dele. Não é mesmo? Só que, se o banco quebrar, ficaremos a ver navios, pois ele não possuirá, com quase certeza, os recursos para saldar os empréstimos que fez junto aos investidores, pois está insolvente. Portanto, surge mais uma regra das finanças: não existe investimento sem risco. Mas o CDB, apesar de não ser o melhor produto financeiro disponível no mercado para investimento, ainda é superior a caderneta de poupança, e, em alguns casos, até mesmo que muitos fundos de investimento, merecendo, por isto, uma atenção especial. A sua diferenciação acontece, principalmente, devido aos prazos e índices de correção que serão aplicados, variando desde títulos pré-fixados a remuneração integral ou parcial do CDI. Dentre os diversos tipos de certificados de depósito bancário disponíveis podemos destacar: CDB Prefixado: segue a estratégia da categoria mais conservadora

entre os CDBs. Com um prazo em torno de até um ano, a taxa de rentabilidade já é conhecida pelo investidor na hora em que adquire o CDB, tendo como referência a taxa básica de juros. Tem liquidez e rendimento diários, mas sair antes do vencimento pode sujeitar o

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investidor às taxas de mercado, ou seja, se a trajetória das taxas de juros é ascendente, o valor do título é menor, pois o mercado oferece papéis com rendimentos superiores, sendo vendido com deságio. A grande oportunidade é para investidores que acreditam na redução dos juros. Neste caso, eles manteriam a sua rentabilidade atrelada a juros previamente estabelecidos.

CDB Pós-Fixado TR: pode ser contratado por até cerca de dois anos e, como o seu próprio nome já diz, é remunerado por uma taxa de juros e ajustado pela Taxa Referencial (TR) do período. A TR é o mesmo índice que corrige a poupança. Como é um pós-fixado, a rentabilidade só é conhecida no final do contrato. Tem um período de carência de um mês, ou seja, para o que for resgatado antes de 30 dias, o cliente só tem direito ao principal investido sem remuneração.

CDB Pós-Fixado IGP-M: tem prazo de cerca de 1080 dias (três anos) e é remunerado por uma taxa de juros e ajustado pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M), da Fundação Getúlio Vargas, uma das referências que compõem a inflação. Pode-se ganhar bastante num período de alta de preços, mas é possível perder num caso de IGP-M negativo no período, ou seja, o valor do IGP-M é multiplicado do saldo acumulado e seu valor descontado. A carência é de um ano.

CDB Flutuante: e uma boa opção para quem não quer depender de prazos para resgatar sua aplicação. Com prazo em torno de três anos, ele tem liquidez e rendimento diários, podendo ser resgatado a qualquer momento, pois não tem período de carência. O CDB Flutuante é ajustado diariamente pelo CDI. Mas isso não quer dizer que seja remunerado integralmente por este índice. Por exemplo, o CDB pode ser corrigido por 90% ou 95% do CDI (certificado de depósito interbancário).

Indexador Prazo mínimo e

carência Características

Pré-fixado 01 dia – sem carência

As operações recompradas antes do vencimento nesta modalidade estão sujeitas às taxas de mercado.

Pós-fixado TR 01 mês – carência de 1 mês (data-a-data)

Antes do prazo de carência o cliente só faz jus ao principal. A remuneração somente ocorre após a carência (Norma do BACEN).

Pós-fixado IGP-M 01 ano Antes do prazo de carência o cliente só faz jus ao principal. A remuneração somente ocorre após a carência (Norma do BACEN).

CDB Flutuante 01 dia – sem carência

Rendimento diário pelas taxas de mercado.

Existem, ainda, outras variáveis que precisam ser observadas. Por exemplo, independente do prazo contratado, resgatar o CDB antes de completar 30 dias significa prejuízo direto para a rentabilidade pois, segundo regra do Banco Central, incide uma alíquota regressiva de IOF sobre os juros resgatados antes de completar um mês de aplicação. Esse efeito é sentido nos CDBs que não possuem carência. Assim, o imposto a ser pago é inversamente proporcional ao prazo que faltar para completar o período de um mês.

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Além disso, o investidor estará sujeito, ainda, à tributação de 20% de Imposto de Renda sobre a rentabilidade acumulada até o resgate, e a CPMF (0,38%) no momento da aplicação, ou reaplicação. Por isso, os prazos para aplicação devem ser escolhidos antecipadamente, para evitar perdas e diminuição dos rendimentos a cada reaplicação.

5.1.5 Previdência privada

Existe uma história, que já li algumas vezes, mas não me lembro aonde, que atribui ao ex-presidente francês Charles de Gaulle uma frase que se tornou célebre, que dizia mais ou menos assim: ¨o Brasil, este não é um país sério.¨. Lógico que existe toda uma contestação sobre sua autoria, ou se teria mesmo sido dita, mas uma análise de seu significado não deixa de ser interessante. Vivemos em um país que prima pela descontinuidade, seja econômica, política ou em qualquer área que se faça um estudo mais detalhado. Isso causa uma profunda desconfiança em nossa população em relação a nossos governantes e suas ações, aumentando nossa insegurança quanto ao futuro. Não possuo pesquisas que possam comprovar estas afirmações, mas acredito que isso pode ser classificado, na verdade, como senso comum. Vou lhe dar o exemplo, de dois amigos, que ajudam a comprovar minhas afirmações, principalmente quanto ao nosso sistema previdenciário. O primeiro é funcionário público, que independente do tempo de serviço, aposentadoria integral, benefícios, ou qualquer outra variável que possa ser contestada, pensava que se aposentaria em determinado momento de sua vida, planejando, antecipadamente, o que faria quando este momento acontecesse. De repente, no governo Fernando Henrique, uma reforma na previdência social adiou seus sonhos, aumentando a idade mínima para aposentadoria. Fazer o quê, não é mesmo? Continuou trabalhando e recomeçou seu planejamento, de acordo com as novas datas estipuladas, e aí veio o governo Lula, e nova cacetada. Da última vez que o vi tive até medo de perguntar os efeitos que as alterações provocariam em sua aposentadoria, para não contribuir com um ataque cardíaco fulminante. O outro caso envolve um colega de trabalho da iniciativa privada, que contribuiu, durante mais de vinte anos, com o teto máximo de aposentadoria, que era de vinte salários mínimos. De repente, uma mudança na legislação determina um novo teto de dez salários mínimos, para não ¨quebrar¨ a previdência social. Meu amigo atingiu a idade para a concessão do benefício, aceitou receber o novo valor estabelecido, afinal de contas é melhor do que nada, e entrou na justiça reclamando a diferença. Isso já têm quase dez anos. Se ele for vitorioso em sua demanda, seus netos, bisnetos ou tataranetos poderão desfrutar dos recursos que ele não pôde. Não é meu objetivo propor um modelo de previdência social, contestar ou fazer apologia de qualquer tipo. Tenho aquilo que considero um senso de justiça que pode ser considerado simples, sem ser simplista, e que se baseia no seguinte conceito: se paguei por um benefício, tenho direito a ele, se não paguei, o

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direito não existe. Ou seja, não há mágica. Na medida que pessoas que não contribuíram, ou o fizeram de modo insuficiente, para a formação do fundo que será utilizado para o pagamento de seus rendimentos na aposentadoria, recebem o benefício, a médio e longo prazo esse fundo será insuficiente para honrar os recebimentos de todos que nele colocaram seus recursos, e terá que ser coberto com dinheiro de toda a sociedade, através da cobrança de impostos. Nesse momento, aparece um monte de espertinhos dizendo que existem diversas situações, que fulano trabalhou alguns anos na iniciativa privada e depois no serviço público, que a contribuição era diferenciada, que existe o ¨direito adquirido¨, e por aí vai. Minha opinião, novamente, é simples. A matemática existe para solucionar problemas como esse, ou seja, pagou, levou. Vou colocar outra informação para reflexão. Em toda discussão sobre a previdência social, em algum momento foi informado quanto custa manter a estrutura dos órgãos governamentais que cuidam desses recursos? São apresentadas informações superficiais, por todos os interessados, para manipular a opinião da sociedade e aprovar aquilo que não é o melhor para todo mundo, mas para grupos com poder de pressão política. Nesse momento, eu também pergunto: será que esse é um país realmente sério? Você pode estar se indagando: ¨O que isso tem a ver com meus investimentos financeiros?¨ Novamente, eu lhe afirmo, que minha única intenção é a de demonstrar o funcionamento do sistema, de maneira simples, para que possamos entender o problema e suas possíveis conseqüências em nossas vidas. Se a previdência pública quebrar em nossa velhice, como vamos ficar? Será que ela é a melhor opção para apostar minhas fichas e confiança no futuro? Eu acho que não, por isso, coloco essas explicações e forneço opções de investimentos a você. Atualmente, a previdência pública funciona como um sistema contributivo, ou seja, todos os trabalhadores contribuem, através de pagamentos mensais descontados em sua folha de pagamento, ou através de um carnê, no caso dos autônomos, para a formação de um fundo, que será utilizado no pagamento dos benefícios dos trabalhadores aposentados. Teoricamente, se um fundo inicia-se com poupadores, e nenhum beneficiado, ele gerará recursos suficientes para que, no futuro, os contribuintes possam usufruir do resultado de seus investimentos. Adicione-se a isso o fato de que novos componentes estarão fazendo parte do fundo, e teríamos um modelo ideal de aposentadoria. Infelizmente, a prática demonstrou que esse modelo não funcionou. Os recursos poupados não são suficientes para o pagamento dos benefícios que foram concedidos, pois os administradores esqueceram-se de uma regra básica de gestão: não adianta querer agradar todo mundo, no mundo real o que conta são receitas e despesas, ou se preferirem, o fluxo de caixa. Se começo a conceder benefícios para diversas categorias, sem a devida contrapartida financeira, alguém terá de pagar a conta. No nosso caso, socializada através dos impostos que todos somos obrigados a pagar,

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indiferente da classe social, no consumo, na renda, na produção, na propriedade e, atualmente, até mesmo na movimentação financeira dos nossos recursos. Quero que fique claro que não sou contra a aposentadoria integral de juízes, militares, fiscais ou qualquer outra categoria, ou qualquer outro benefício que estes servidores possuam. Só estou dizendo que, se quero me aposentar com meu salário integral, devo contribuir para a formação de um fundo que permita a realização desse pagamento, para não punir toda a população de um país, privilegiando uma pequena classe de funcionários públicos. A previdência privada funciona em um modelo diferente, chamado sistema de capitalização. Cada participante contribui para a formação de um fundo individual, geridos em conjunto com as aplicações de todos os outros beneficiários, onde os recursos serão aplicados em ativos financeiros por um gestor, de acordo com o perfil do investidor, cobrando uma taxa de administração pela prestação do serviço. É interessante frisar que, até nesta data, não existiam planos de previdência privada que pudessem ser classificados como agressivos, mas, somente, de ¨menos conservadores¨, afinal, é um recurso destinado para a sua aposentadoria. No momento em que o plano de previdência é contratado, normalmente o beneficiário é indagado sobre o valor de retirada mensal que gostaria de possuir na época de sua aposentadoria, para o cálculo do valor que será necessário aplicar, durante o período, para se alcançar o objetivo estipulado. Não existe uma garantia formal, ou por escrito, do valor que será pago, mas somente projeções, de acordo com as possibilidades de rentabilidade dos investimentos em que serão aplicados os recursos, procurando garantir a formação de um fundo suficiente para os resgates futuros. Não há diferença, em minha opinião, entre comprar um sapato e um plano de previdência privada. Teoricamente, todos atendem uma necessidade, geram lucro para a empresa e são oferecidos por um vendedor, normalmente remunerado através de comissão, que fará de tudo para efetivar a venda. Isso contribui para, muitas vezes, não serem devidamente sublinhados alguns aspectos que poderiam inibir a venda, e sejam observadas algumas vantagens que não resistem a uma análise mais apurada. Afinal de contas, alguém realmente acredita que os produtos financeiros que as instituições oferecem estão fundamentalmente preocupados com meu futuro ou com o lucro delas? Ela é uma prestadora de serviço, que me vende a opção de administrar meu dinheiro de acordo com os seus conhecimentos do mercado, buscando alternativas de investimento que possam gerar um benefício futuro para os aplicadores, enquanto ganha dinheiro com isso. Ou você acha que estou errado? Normalmente, são dois os argumentos de venda mais utilizados pelos planos de previdência privada. O primeiro refere-se ao pequeno valor garantido pela previdência pública, incapaz de custear as despesas de uma família de classe média. O outro, caracteriza-se pelo benefício fiscal de aproveitar os depósitos

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que são efetuados na previdência privada para diminuir o pagamento de imposto de renda anual. Quanto aos aspectos negativos da previdência pública, acho que já comentamos o suficiente. Vamos começar a falar, então, da previdência privada, começando do imposto de renda pessoa física. Depois detalharemos o funcionamento dos saques, resgate integral do fundo e pagamento de benefícios, entre outros. O imposto de renda, como o próprio nome diz, é um tributo federal que o governo aplica sobre os cidadãos que possuem uma remuneração superior a determinado valor mensal, onde as alíquotas, ou seja, o percentual aplicado sobre uma base de cálculo, ou valor tributável, são aumentadas à medida que a renda cresce. É interessante frisar que o IR incide sobre qualquer tipo de ganho, seja ele salário, aluguel, juros, prêmios, doações, herança, lucros ou dividendos, por exemplo. Atualmente, existem somente duas alíquotas, cobradas conforme a tabela ...

Imposto de renda - pessoa física

Tabela mensal do IR - 2003

Rendimento Alíquota Deduzir

Até R$ 1.058,00 isento

Acima de R$ 1.058,01 até R$ 2.115,00 15% R$ 158,70

Acima de R$ 2.115,00 27,50% R$ 423,08

Tabela : Alíquotas mensais do imposto de renda

Verifica-se, então, que as pessoas que possuem uma renda mensal de até R$ 1.058,00 (um mil, cento e cinqüenta e oito reais) estão isentas do imposto de renda. Desse valor até R$ 2.115,00 (dois mil, cento e quinze reais), a alíquota aplicada é de 15%, e acima de R$ 2.115,00 (dois mil, cento e quinze reais), sobe para o teto máximo de 27,5%. É importante frisar que qualquer cidadão tem o direito de isenção até a renda mensal mínima, sendo que o imposto de renda só começa a ser cobrado a partir do que ultrapassa esse valor, operação que é chamada de dedução, conforme exemplo abaixo:

Renda mensal Aliquota IR Dedução IR a pagar

R$ 2.000,00 15% R$ 300,00 R$ (158,70) R$ 141,30

Figura ...: Cálculo do imposto de renda mensal Observe que a alíquota incidente sobre a renda mensal de R$ 2000,00 (dois mil reais) é de 15%, gerando um imposto de renda de R$ 300,00 (trezentos reais). Se multiplicarmos o valor isento, que é de R$ 1.058,00 (um mil e cinqüenta e oito reais) pelos mesmos 15%, obteremos o valor de R$ 158,70 (cento e cinqüenta e oito reais e setenta centavos), que corresponde a dedução que deverá ser feita, gerando um imposto de renda a pagar de R$ 141,30 (cento e quarenta e um reais e trinta centavos). O mesmo raciocínio é válido para a alíquota de 27,5%, quando for o caso.

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Além disso, o governo, em sua incrível benevolência, permite aos cidadãos alguns descontos em sua base de cálculo mensal, conforme abaixo:

R$ 106,00 (cento e seis reais) por dependente (pai, mãe, cônjuge e filhos);

R$ 1.058,00 (um mil e cinqüenta e oito reais) por aposentadoria de quem já completou 65 anos;

Pensão alimentícia judicial; Valor da contribuição paga, no mês, a previdência social.

Mas não é só isso! Além dessas deduções mensais, podem ser aplicadas, também, deduções anuais, que são: Despesas com educação, do contribuinte ou de seus dependentes, com

creches, primário, ginásio, colegial e superior, profissionalizantes ou de especialização, até o valor de R$ 1.998,00 (um mil, novecentos e noventa e oito reais) por dependente;

Despesas médicas e hospitalares, sem limite de valores, porém sujeitas a comprovação. Consideram-se despesas médicas e hospitalares os pagamentos efetuados com: consultas médicas, internações, tratamentos médicos, odontológicos, psicológicos, terapêuticos, psiquiátricos, exames laboratoriais, fonoaudiológicos, entre outros.

Para a apuração do imposto de renda, podemos optar por dois modelos de declaração: a completa e a simplificada. A declaração completa é aquela em que podem ser utilizadas todas as deduções legais, sujeitas a comprovação, ou seja, guarde as notas fiscais, pois, se cair na malha fina, precisará de todas elas para não ser multado como sonegador. O segundo modelo permite a aplicação de um desconto de 20% nos rendimentos tributáveis, limitado a R$ 9.400,00 (nove mil e quatrocentos reais) anuais, que substitui todas as deduções permitidas ao modelo completo, sem comprovação. Mas o governo não aumenta o imposto de renda somente através da alteração, para cima, do valor da alíquota. Há alguns anos atrás, o pagamento de imposto de renda iniciava-se a partir de dez salários mínimos, que seriam, atualmente, equivalentes a R$ 2.400,00 (dois mil e quatrocentos reais). A partir do momento em que o salário mínimo aumentou, e a tabela de isenção continuou a mesma, com um pequeno reajuste para R$ 1.058,00 (um mil e cinqüenta e oito reais), expandiu-se a base de contribuintes do imposto de renda, além da própria arrecadação, pois as despesas que podem ser deduzidas não sofreram a correção da inflação do período, enquanto que, no mundo real, esses pagamentos ultrapassam, muitas vezes, o valor autorizado pelo governo. Sempre que estou em sala de aula, e começo a falar sobre estes temas, sofro de um grande mal-estar com a falta de respeito com que nosso governo trata seus cidadãos. Em minha opinião, sofremos do mal de governantes que acham muito mais fácil sugar a massa produtiva da sociedade, sejam trabalhadores ou empresários, ao invés de tomar decisões políticas impopulares para a contenção de suas despesas. Acredito que, se alguém governa para agradar

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todo mundo, acaba não satisfazendo a ninguém. Mas, acima de tudo, os princípios da justiça e integridade devem reinar nas relações entre o governo e a sociedade. Qual a moral de um governo em cobrar os impostos de seus cidadãos, quando utiliza de artifícios para aumentar sua arrecadação e diminuir a renda de sua população? Defendo a tese que o brasileiro tenta ser ¨esperto¨, não por sua vontade, mas pela pura necessidade de sobreviver a seus governantes. Voltando ao que interessa, os investimentos em previdência privada oferecem uma oportunidade para escaparmos, ao menos momentaneamente, da voracidade representada pelo leão da Receita Federal. Mas somente para os contribuintes que apresentam sua declaração no modelo completo. Quando comprei minha previdência privada, o vendedor não me deu essa informação, e quase perdi o benefício fiscal de 12% sobre a renda bruta anual. Vale ressaltar que a previdência privada se classifica em dois modelos, e os diversos produtos oferecidos se encaixam em uma dessas modalidades: PGBL ou plano gerador de benefícios livres: este plano oferece ao

possuidor a possibilidade de incentivo fiscal para a aplicação de até 12% de sua renda bruta anual, que será abatida de sua base de cálculo, diminuindo o imposto a pagar. Após o período de carência, ou seja, o prazo mínimo para poder sacar seus recursos, você pode solicitar resgates mensais, até o valor isento, no caso R$ 1.058,00 (um mil e cinqüenta e oito reais), mais R$ 106,00 (cento e seis reais) por dependente, caso os possua, ou retirar o valor integral, pagando a alíquota de 27,5% sobre o saldo. Por exemplo, em uma aplicação de R$ 10.000,00 (dez mil reais), você pagará R$ 2.750,00 (dois mil, setecentos e cinqüenta reais) de imposto de renda na fonte. Se você opta por pagar durante vários anos, e decide retirar o fundo de uma única vez, a alíquota será aplicada sobre o saldo final;

VGBL ou vida gerador de benefícios livres: modalidade de previdência privada na qual não se usufrui de incentivos fiscais, em compensação o imposto de renda só incide sobre os ganhos financeiros. Por exemplo: você investiu os mesmos R$ 10.000,00 (dez mil reais), que após um ano se tornaram R$ 11.000,00 (onze mil reais), e você decidiu sacar todo o dinheiro, o imposto de renda de 27,5% incidirá sobre os R$ 1.000,00 (mil reais), gerando um valor de R$ 275,00 (duzentos e setenta e cinco reais). Neste caso, se você faz aportes durante vários anos, e decide retirar o valor de uma única vez, ao invés de optar pelo recebimento mensal do benefício, o imposto de renda será aplicado sobre o ganho de capital obtido no período.

Tem um ditado popular que diz: ¨quando a esmola é demais, o santo desconfia¨. Afinal, de onde vem tanta bondade de nossos governantes? Calma. Vamos fazer algumas simulações com o cálculo do imposto de renda de uma pessoa física, com e sem previdência privada, e apresentar outras informações para uma análise mais completa. O quadro abaixo foi montado a partir de um material promocional do Banco BCN, com o produto BCN PGBL proteção familiar (viu que nome bonito?). Tomei a liberdade de atualizar a contribuição

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ao INSS, Instituto Nacional de Serviço Nacional, ou seja, a previdência pública, que era de R$ 158,18 (cento e cinqüenta e oito reais e dezoito centavos), para R$ 205,62 (duzentos e cinco reais e sessenta e dois centavos), que é o valor para o benefício máximo de dez salários mínimos mensais, e as deduções por dependente, que de R$ 90,00 (noventa reais), aumentaram para R$ 106,00 (cento e seis reais) mensais. Reajustei, ainda, o valor da contribuição da previdência privada, de R$ 12.000,00 (doze mil reais), para R$ 14.400,00 (quatorze mil e quatrocentos reais), de modo a obter o ganho máximo com o incentivo fiscal, que é de 12% sobre a renda bruta anual. Finalmente, alterei a dedução da alíquota de 27,5% de R$ 360,00 (trezentos e sessenta reais), para os atuais R$ 423,08 (quatrocentos e vinte e três reais e oito centavos), para que pudéssemos obter um valor atualizado do benefício auferido com a aquisição de um plano de previdência privada do tipo PGBL, ou plano gerador de benefícios livres. Observe os resultados.

Sem previdência privada Com previdência privada

Renda anual R$ 120.000,00 R$ 120.000,00

Contribuição ao INSS (205,62 x 12) R$ (2.467,44) R$ (2.467,44)

Dependentes (3 x 1.272,00) R$ (3.816,00) R$ (3.816,00)

Base de cálculo 1 R$ 113.716,56 R$ 113.716,56

Contribuição a previdência privada R$ - R$ (14.400,00)

Base de cálculo 2 R$ 113.716,56 R$ 99.316,56

Alíquota 27,5% 27,5%

Resultado R$ 31.272,05 R$ 27.312,05

Dedução (423,08 x 12) R$ (5.076,96) R$ (5.076,96)

Imposto a pagar R$ 26.195,09 R$ 22.235,09

Diferença R$ 3.960,00

Quadro ...: Cálculo do benefício fiscal com a aquisição de um plano PGBL

Ao ver um material promocional como esse imagino quantas pessoas no Brasil possuem renda de R$ 10.000,00 (dez mil reais) mensais, mas deixa pra lá. Observe que, a partir do momento que o investidor faz um aporte de R$ 14.400,00 (quatorze mil e quatrocentos reais) anuais, ele consegue deixar de pagar R$ 3.960,00 (três mil, novecentos e sessenta reais) de imposto de renda por ano. O único problema, a meu ver, é que o valor que será aplicado representa 12,7% de sua renda, e dificilmente conseguirá poupar esta quantia no período de um ano somente para esse fim. Diversas pessoas usam a estratégia de investir em previdência privada para obter o benefício fiscal, sacando valores isentos durante os meses do ano posterior, como modo de não pagar o imposto de renda na fonte. Vale ressaltar que, mesmo não sendo pago na fonte, o resgate é caracterizado como renda, que deve fazer parte da declaração anual, ou seja, você só está postergando o pagamento do imposto. É claro que podemos, simplesmente, não declarar estes resgates em nosso imposto de renda, o nome desse ato é ¨sonegação¨, e

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é crime. Vamos mostrar, agora, como ficaria a aplicação, feita em 10/10/2002, para aproveitar o benefício fiscal para a declaração do ano-base de 2002 e os resgates mensais em 2003, conforme figura ...

Data Aplicação Taxas Juros (1% a.m) Resgate Saldo

10/10/02 R$ 14.400,00 R$ (720,00) R$ - R$ 13.680,00

10/12/02 R$ - R$ (5,23) R$ 273,60 R$ (1.376,00) R$ 12.572,37

10/01/03 R$ - R$ (5,23) R$ 125,72 R$ (1.376,00) R$ 11.316,87

10/02/03 R$ - R$ (5,23) R$ 113,17 R$ (1.376,00) R$ 10.048,81

10/03/03 R$ - R$ (5,23) R$ 100,49 R$ (1.376,00) R$ 8.768,07

10/04/03 R$ - R$ (5,23) R$ 87,68 R$ (1.376,00) R$ 7.474,52

10/05/03 R$ - R$ (5,23) R$ 74,75 R$ (1.376,00) R$ 6.168,03

10/06/03 R$ - R$ (5,23) R$ 61,68 R$ (1.376,00) R$ 4.848,48

10/07/03 R$ - R$ (5,23) R$ 48,48 R$ (1.376,00) R$ 3.515,74

10/08/03 R$ - R$ (5,23) R$ 35,16 R$ (1.376,00) R$ 2.169,67

10/09/03 R$ - R$ (5,23) R$ 21,70 R$ (1.376,00) R$ 810,14

10/10/03 R$ - R$ (3,11) R$ 8,10 R$ (815,13) R$ -

Totais R$ (775,40) R$ 950,53 R$ (14.575,13)

Figura ...: Simulação de uma aplicação em previdência privada para obtenção de benefício fiscal Observe que, no momento da aplicação, a instituição financeira cobra uma taxa de carregamento, para custear as despesas de colocação, administração e corretagem, no valor de 5% do investimento. Esses valores variam de acordo com o montante que for acumulado, e também de uma instituição para outra. É descontada, também, a taxa de saída, de 0,38%, sobre os resgates efetuados. Apliquei, para efeito do cálculo, uma taxa de juros de 1% ao mês, e resgate de R$ 1.376,00 (um mil, trezentos e setenta e seis reais), correspondentes ao valor isento de R$ 1.058,00 (um mil e cinqüenta e oito reais) e mais três dependentes, com dedução de R$ 106,00 (cento e seis reais) para cada um, totalizando R$ 318,00 (trezentos e dezoito reais) mensais. Verificamos que, de uma aplicação de R$ 14.400,00 (quatorze mil e quatrocentos reais), efetuada em outubro de 2002, resgataremos um total de R$ 14.575,13 (catorze mil, quinhentos e setenta e cinco reais e treze centavos), após o período de dois meses de carência e somando as retiradas mensais, o que equivale a um ganho de 1,22% no ano. Até a caderneta de poupança é melhor. Vamos observar, agora, o impacto dessas retiradas no imposto de renda, da mesma pessoa, do ano-base de 2003, elaborado em 2004.

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Sem previdência privada Com previdência privada

Renda anual R$ 120.000,00 R$ 134.575,13

Contribuição ao INSS (205,62 x 12) R$ (2.467,44) R$ (2.467,44)

Dependentes (3 x 1.272,00) R$ (3.816,00) R$ (3.816,00)

Base de cálculo 1 R$ 113.716,56 R$ 128.291,69

Contribuição a previdência privada R$ - R$ (16.149,02)

Base de cálculo 2 R$ 113.716,56 R$ 112.142,67

Alíquota 27,5% 27,5%

Resultado R$ 31.272,05 R$ 30.839,24

Dedução (423,08 x 12) R$ (5.076,96) R$ (5.076,96)

Imposto a pagar R$ 26.195,09 R$ 25.762,28

Imposto a pagar (2002) R$ 26.195,09 R$ 22.235,09

Diferença (2003 - 2002) R$ - R$ 3.527,18

Figura: Cálculo do IR com as retiradas mensais dos valores aplicados A renda bruta anterior era de R$ 120.000,00 (cento e vinte mil reais), que continua sendo a mesma para o caso em que não há a aplicação em previdência privada. Já para a situação em que este investimento existe, soma-se R$ 14.575,13 (quatorze mil, quinhentos e setenta e cinco reais e treze centavos) referentes aos resgates mensais, totalizando, então, R$ 134.575,13 (cento e trinta e quatro mil, quinhentos e setenta e cinco reais e treze centavos). Verificamos que, para que a estratégia de benefício fiscal possa ser feita novamente, torna-se necessário, agora, um investimento de R$ 16.149,02 (dezesseis mil, cento e quarenta e nove reais e dois centavos), maior em R$ 1.749,02 (um mil, setecentos e quarenta e nove reais e dois centavos) aos R$ 14.400,00 (quatorze mil e quatrocentos) do ano anterior. Ao final, têm-se um imposto de renda a pagar, em 2003, de R$ 25.235,09 (vinte e cinco mil, duzentos e trinta e cinco reais e nove centavos), superiores em R$ 3.527,18 (três mil, quinhentos e vinte e sete reais e dezoito centavos) ao do ano de 2002. O benefício fiscal em 2002 foi de R$ 3.960,00 (três mil, novecentos e sessenta reais), o ganho com juros de R$ 175,13 (cento e setenta e cinco reais e treze centavos), totalizando R$ 4.135,13 (quatro mil, cento e trinta e cinco reais e treze centavos), diminuindo o aumento do imposto de renda em 2003, no valor de R$ 3.527,18 (três mil, quinhentos e vinte e se reais e dezoito centavos), obteve-se um ganho de R$ 607,95 (seiscentos e sete reais e noventa e cinco centavos), ou 4,22% sobre os R$ 14.400,00 (quatorze mil e quatrocentos reais). Se você tivesse investido esse valor em títulos públicos federais, a taxa de 1% ao ano, durante doze meses, obteria um ganho de R$ 1.826,28 (um mil, oitocentos e vinte e seis reais e vinte e oito centavos), ou três vezes mais, sem nenhuma dor de cabeça ou acrobacias tributárias. Aí eu te pergunto, vale a pena? Há, eu já ia me esquecendo. Se você optar por não fazer um novo aporte no ano de 2003, no valor de R$ 16.149,02 (dezesseis mil, cento e quarenta e nove reais e dois centavos), a diferença do imposto de renda a pagar aumenta de R$ 3.527,18 (três mil, quinhentos e vinte e sete reais e dezoito centavos) para R$

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7.968,16 (sete mil, novecentos e sessenta e oito reais e dezesseis centavos), ou 126% a mais. Você ainda acredita na bondade do governo? E nas vantagens oferecidas pelas instituições financeiras? Mas você pode usufruir do planejamento tributário, fazendo mais de um plano, onde cada um lhe proporcionará uma renda de valor inferior ao mínimo tributado, podendo fazer o pagamento do imposto de renda, se houver, na sua declaração anual. Veja que não estou orientando-o a sonegar impostos, mas, simplesmente, impedir que eles sejam descontados na fonte, evitando ficar na dependência da boa vontade da Secretaria da Receita Federal com a devolução do que foi pago a mais. Mas não é só isso, lembra que eu te falei que iríamos nos aprofundar sobre outros temas a respeito da previdência privada? Então vamos lá. Ao contratar o plano, contribuir pelo tempo estipulado e começar a fruir o benefício, certifique-se de que existem cláusulas que garantam que, em caso de morte do beneficiário, outro membro de sua família continue recebendo o benefício durante algum tempo. Já imaginou se você começa a receber a aposentadoria em um mês, no outro acontece uma fatalidade e seu fundo ficar todo para a instituição financeira? Dá vontade de morrer de novo! O nome dado a isso, normalmente, é de renda vitalícia com prazo mínimo garantido. Além dessa modalidade, existe também a renda vitalícia reversível ao beneficiário, em que caso o participante embarque dessa para a melhor, o beneficiário, seu marido ou esposa, por exemplo, passará a receber, vitaliciamente, a aposentadoria. É claro que, quanto maior a probabilidade de tempo que a instituição tiver que desembolsar os benefícios, mais ela irá te cobrar por isso, afinal, não existe mágica, não é mesmo? Assim, encerro os comentários a respeito de fundos de previdência privada respondendo a pergunta que deve estar martelando a sua cabeça. Vamos ver se eu adivinho: ¨Vale a pena possuir um plano de previdência privada?¨. Na minha opinião, a resposta é sim, principalmente se você tem dificuldade para poupar dinheiro para outros fins que não seja a sua aposentadoria, possui alergia crônica ao mercado financeiro e seus produtos e não gosta de ficar acompanhando seus investimentos o tempo todo. Mas vou responder a outra pergunta: ¨Existem opções melhores?¨. A resposta, novamente, é sim. Acredito que títulos públicos federais e fundos de investimento de renda fixa são mais atraentes que os planos de previdência privada. E tenho dito!

5.1.5 Títulos de capitalização

É engraçado como as pessoas possuem hábitos difíceis de serem mudados. Eu, por exemplo, me acostumei a chegar em instituições financeiras e, enquanto aguardo para ser atendido, procurar o máximo de material promocional a disposição dos clientes. Cartazes, folhetos, livretos ou qualquer outra coisa que possa ler e passar o tempo. O fato de lecionar, em uma Universidade, uma disciplina que necessita dessas informações também contribui para essa curiosidade.

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Além disso, vivemos na era do conhecimento, onde necessitamos de atualização constante, visto a velocidade em que as mudanças estão ocorrendo. Acredito que precisamos desenvolver o hábito da leitura, como verdadeiro prazer, e não uma simples obrigação do dia-a-dia. Digo isso pois, sempre que leio algum material sobre títulos de capitalização, principalmente aqueles que o classificam como uma modalidade de investimento, dá vontade de rasgar meu diploma e ir plantar mandioca na fazenda do meu pai. Vou lhe explicar as razões para essa atitude. Lembra-se, no começo do livro, quando lhe apresentei o conceito de investimento? Para que você não precise voltar lá para procurar, vamos repeti-lo: ¨Considera-se investimento de capital todo desembolso de recursos que tenha, como objetivo principal, propiciar resultado positivo ao investidor, ou lucro, buscando o ganho máximo de acordo com o risco de cada opção de investimento.¨ Traduzindo: investimento é tudo aquilo que gera resultado positivo, ou aumenta minha riqueza. Se coloco meu dinheiro em oportunidades de negócio que irão, com certeza, diminuir minha riqueza, não posso considerá-lo como investimento. Se existir a possibilidade, mesmo que remota, de ser premiado, o nome correto é jogo, concurso, rifa, bingo, ou outro qualquer, e não investimento. Então, o que é um título de capitalização? É uma oportunidade de negócio, como muitas outras disponíveis no mercado, em que você paga um valor, único ou mensal, para ter a possibilidade de concorrer a uma premiação, em dinheiro ou bens, e que, após algum tempo, restitui parte do valor desembolsado corrigido. Seria como se a Caixa Econômica Federal lhe devolvesse, depois de um prazo combinado, parte do valor que você pagou em um bilhete da mega-sena. Você considera a mega-sena como um investimento? Você já parou para imaginar por que todos os funcionários do banco ficam lhe oferecendo este produto? Ou como o Sílvio Santos transformou um título de capitalização, chamado tele-sena, em uma máquina de fazer dinheiro? Então vamos lá. Os recursos para o pagamento dos prêmios dos títulos de capitalização são oriundos de um fundo, que é gerado por uma parte dos desembolsos que o adquirente realiza, cabendo a instituição o papel de administradora dos recursos e o pagamento dos premiados. Ou seja, não existe mágica! Vamos exemplificar, através de um TC Cash SuperChance, um título de capitalização, ou plano de capitalização, se você preferir, oferecido pelo HSBC Financial Capitalização (Brasil) S/A., e normalmente vendidos aos consumidores, principalmente correntistas, através das agências do Banco HSBC, que possui, entre outras características, pagamentos efetuados mensalmente que serão aplicados segundo as seguintes condições:

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Mês Percentual para formação do capital

Do 1º. ao 3º. 10%

4º. 30%

Do 5º. ao 60º. 76,18%

Figura ...: percentual das parcelas pagas que formarão o capital Observe que, nos primeiros três pagamentos, somente 10% do valor que você realizar serão incorporados ao seu capital, no quarto mês este índice sofre um aumento para 30%, e do quinto ao sexagésimo meses o percentual é de 76,18%. O índice de correção é o mesmo da caderneta de poupança, ou seja, taxa referencial, ou TR, mais 6% ao ano. Proponho fazermos uma pequena simulação, de um plano contratado em março de 2001, no valor de R$ 50,00 (cinqüenta reais) mensais, em que você já pagou 30 parcelas, para que possamos fazer uma análise comparativa entre os desembolsos e sua rentabilidade. Verifique o resultado na figura....: Pagt. Ano Mês Valor Índice Sub-total TR Juros Saldo

1 2001 Março R$ 50,00 10% R$ 5,00 0,1724 R$ - R$ 5,00

2 2001 Abril R$ 50,00 10% R$ 5,00 0,1546 R$ 0,03 R$ 10,03

3 2001 Maio R$ 50,00 10% R$ 5,00 0,1827 R$ 0,07 R$ 15,10

4 2001 Junho R$ 50,00 30% R$ 15,00 0,1458 R$ 0,10 R$ 30,20

5 2001 Julho R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2441 R$ 0,22 R$ 68,51

6 2001 Agosto R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,3436 R$ 0,58 R$ 107,18

7 2001 Setembro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,1627 R$ 0,71 R$ 145,98

8 2001 Outubro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2913 R$ 1,16 R$ 185,23

9 2001 Novembro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,1928 R$ 1,28 R$ 224,60

10 2001 Dezembro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,1983 R$ 1,57 R$ 264,26

11 2002 Janeiro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2591 R$ 2,01 R$ 304,35

12 2002 Fevereiro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,1171 R$ 1,88 R$ 344,32

13 2002 Março R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,1758 R$ 2,33 R$ 384,74

14 2002 Abril R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2357 R$ 2,83 R$ 425,66

15 2002 Maio R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2102 R$ 3,02 R$ 466,77

16 2002 Junho R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,1582 R$ 3,07 R$ 507,94

17 2002 Julho R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2656 R$ 3,89 R$ 549,91

18 2002 Agosto R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2481 R$ 4,11 R$ 592,12

19 2002 Setembro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,1955 R$ 4,12 R$ 634,33

20 2002 Outubro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2768 R$ 4,93 R$ 677,34

21 2002 Novembro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,2644 R$ 5,18 R$ 720,61

22 2002 Dezembro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,3609 R$ 6,20 R$ 764,91

23 2003 Janeiro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,4878 R$ 7,56 R$ 810,55

24 2003 Fevereiro R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,4116 R$ 7,39 R$ 856,03

25 2003 Março R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,3782 R$ 7,52 R$ 901,64

26 2003 Abril R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,4184 R$ 8,28 R$ 948,01

27 2003 Maio R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,4650 R$ 9,15 R$ 995,25

28 2003 Junho R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,4166 R$ 9,12 R$1.042,46

29 2003 Julho R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,5465 R$ 10,91 R$1.091,46

30 2003 Agosto R$ 50,00 76,18% R$ 38,09 0,4038 R$ 9,86 R$1.139,41

Total R$1.500,00 R$1.020,34 R$119,07

Figura: Simulação de uma aplicação em um título de capitalização

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Corrija-me, por favor, se eu estiver errado. Será que posso chamar de investimento uma aplicação que, depois de trinta meses de depósitos constantes, num total de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), converteu-se em um saldo de R$ 1.139,41 (um mil, cento e trinta e nove reais e quarenta e um centavos), inclusive juros? Acho que não, por isso não concordo que títulos de capitalização sejam classificados como opção de investimento. Mas não é só isso. De repente aconteceu um imprevisto em sua vida, e você verificou que a única opção de recursos que possui é o resgate antecipado do seu título de capitalização, que ainda está na metade, pois o período contratado é de 60 meses. Será que você irá receber R$ 1.139,41 (um mil, cento e trinta e nove reais e quarenta e um centavos)? A resposta é não! Será aplicado um fator de redução, ou percentual de resgate, sobre o capital, que são disponibilizados em uma tabela, que no caso de 30 meses é de 72,97%. Vale ressaltar que, algumas vezes, assinamos um contrato resumido, pois, normalmente, o vendedor justifica que o contrato completo será enviado para seu endereço de correspondência. O contrato assinado contém apenas as principais cláusulas do plano, que impossibilitam a realização de toda a análise financeira entre os desembolsos e o valor a ser resgatado. Confira o valor a ser resgatado na figura .....

Pagt. efetuados % resgate Valor pago Capital Valor a resgatar

30 72,97% R$ 1.500,00 R$ 1.139,41 R$ 831,43

60 100% R$ 3.000,00 R$ 2.758,02 R$ 2.758,02

Figura: Cálculo do valor a ser resgatado com 30 pagamentos Nada melhor do que fazer as contas, não é mesmo? Qual o outro modo de descobrirmos a realidade dos produtos que as instituições financeiras nos oferecem, senão desenvolvendo os cálculos apropriados? Você aplicou R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) durante dois anos e meio, precisou do dinheiro e irá resgatar R$ 831,43 (oitocentos e trinta e um reais e quarenta e três centavos), ou 55,4% do total depositado. Você só consegue resgatar o valor total do capital se aguardar o prazo de 60 meses, estipulados no contrato, e, ainda assim, no final desse período, contando com uma média da TR, você terá desembolsado R$ 3.000,00 (três mil reais), referentes a 60 parcelas de R$ 50,00 (cinqüenta reais), e reembolsará R$ 2.758,02 (dois mil, setecentos e cinqüenta e oito reais e dois centavos), ou seja, menos do que o valor investido, fora a inflação. Mas resta um consolo, você estará concorrendo a sorteios de prêmios semanais, que podem chegar, no caso de um plano de R$ 50,00 (cinqüenta reais) por mês, a quantia de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais). Não é maravilhoso? Você sabe quais são as probabilidades de você ganhar esse valor? Então vamos aprofundar nossa análise. Em cada série, são emitidos 100.000 (cem mil) títulos, numerados de 00.000 a 99.999. Ao adquirir um desses produtos, você tem um número, por exemplo, 34.910, que será sua seqüência da sorte. Toda a semana são premiados 100 títulos, com valores variados. E como acontece a apuração? Com os números sorteados, do primeiro ao quinto prêmio, da loteria federal, extraindo-se o último número para a formação do título premiado. Confira o exemplo na figura ....

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Resultado da Loteria Federal

1º. Prêmio 21.451

2º. Prêmio 37.625

3º. Prêmio 16.975

4º. Prêmio 97.717

5º. Prêmio 84.254

Figura ....: Exemplo de um título sorteado Chegamos, então, aos felizes ganhadores da semana. Observe, na figura ...., a premiação de cada um.

Título contemplado Número Títulos premiados Valor

Dezena de milhar 47.551 1 R$ 50.000,00

Milhar 7.551 9 R$ 5.000,00

Centena 551 90 R$ 500,00

Figura ....: Quantidade de títulos sorteados semanalmente Verificamos que, se todos os títulos de capitalização dessa série forem vendidos, o ganhador do 1º. prêmio será o possuidor do número 47.551. No seu caso, concorrendo com o título 34.910, terá que esperar outras oportunidades. Observe que a probabilidade de ganhar um prêmio é de uma em mil, que é o resultado do numero de títulos sorteados semanalmente divididos pela quantidade emitida na série, mas o prêmio máximo é de uma em cem mil. Quantas pessoas você conhece que já ganharam o valor máximo? Além disso tudo, quero desenvolver mais um pequeno raciocínio com você. E se ao invés de aplicar mensalmente em um título de capitalização, você tivesse comprado títulos públicos, remunerados a uma taxa mensal de 1,5%, durante o mesmo período, qual seria o valor atual do investimento? Confira na figura ..... o resultado.

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Pagt. Ano Mês Valor Juros (1,5% a.m.) Saldo

1 2001 Março R$ 50,00 R$ - R$ 50,00

2 2001 Abril R$ 50,00 R$ 0,75 R$ 100,75

3 2001 Maio R$ 50,00 R$ 1,51 R$ 152,26

4 2001 Junho R$ 50,00 R$ 2,28 R$ 204,55

5 2001 Julho R$ 50,00 R$ 3,07 R$ 257,61

6 2001 Agosto R$ 50,00 R$ 3,86 R$ 311,48

7 2001 Setembro R$ 50,00 R$ 4,67 R$ 366,15

8 2001 Outubro R$ 50,00 R$ 5,49 R$ 421,64

9 2001 Novembro R$ 50,00 R$ 6,32 R$ 477,97

10 2001 Dezembro R$ 50,00 R$ 7,17 R$ 535,14

11 2002 Janeiro R$ 50,00 R$ 8,03 R$ 593,16

12 2002 Fevereiro R$ 50,00 R$ 8,90 R$ 652,06

13 2002 Março R$ 50,00 R$ 9,78 R$ 711,84

14 2002 Abril R$ 50,00 R$ 10,68 R$ 772,52

15 2002 Maio R$ 50,00 R$ 11,59 R$ 834,11

16 2002 Junho R$ 50,00 R$ 12,51 R$ 896,62

17 2002 Julho R$ 50,00 R$ 13,45 R$ 960,07

18 2002 Agosto R$ 50,00 R$ 14,40 R$ 1.024,47

19 2002 Setembro R$ 50,00 R$ 15,37 R$ 1.089,84

20 2002 Outubro R$ 50,00 R$ 16,35 R$ 1.156,18

21 2002 Novembro R$ 50,00 R$ 17,34 R$ 1.223,53

22 2002 Dezembro R$ 50,00 R$ 18,35 R$ 1.291,88

23 2003 Janeiro R$ 50,00 R$ 19,38 R$ 1.361,26

24 2003 Fevereiro R$ 50,00 R$ 20,42 R$ 1.431,68

25 2003 Março R$ 50,00 R$ 21,48 R$ 1.503,15

26 2003 Abril R$ 50,00 R$ 22,55 R$ 1.575,70

27 2003 Maio R$ 50,00 R$ 23,64 R$ 1.649,33

28 2003 Junho R$ 50,00 R$ 24,74 R$ 1.724,07

29 2003 Julho R$ 50,00 R$ 25,86 R$ 1.799,94

30 2003 Agosto R$ 50,00 R$ 27,00 R$ 1.876,93

Total R$ 1.500,00 R$ 376,93

Figura ....: Cálculo de um investimento mensal em títulos públicos federais Ao final de trinta meses, o saldo acumulado seria de R$ 1.876,93 (um mil, oitocentos e setenta e seis reais e noventa e três centavos), ou 125,7% superior ao resgate obtido com o título de capitalização. Se você poupar por 60 meses, que é o prazo equivalente a este produto financeiro, o capital investido chegará a R$ 3.000,00 (três mil reais), que proporcionará R$ 1.810,73 (um mil, oitocentos e dez reais e setenta e três centavos) de juros, totalizando R$ 4.810,73 (quatro mil, oitocentos e dez reais e setenta e três centavos) no final do período, ou seja, quase o prêmio de 100 vezes do valor da parcela mensal. Observe que este valor é, aproximadamente, 74,4% superior ao resgate do título de capitalização ao final do contrato. Eu usei este produto do HSBC como exemplo por ser cliente do banco, e já ter adquirido títulos de capitalização de funcionários da instituição, mas o fato é de existem outros bem piores no mercado. É interessante notar que não o utilizei como opção de investimento, nem com a pretensão de ser sorteado semanalmente, mas para contribuir com as metas estipuladas pela organização aos seus colaboradores, afinal, quem nunca precisou do gerente de seu

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banco? Para financiar um carro, casa ou um empréstimo pessoal. Mas as instituições financeiras são como qualquer outra empresa, que precisam oferecer produtos lucrativos para sua sobrevivência, dependendo, basicamente, de sua base de clientes. Por isso recomendo, não adquira títulos de capitalização como opção de investimento, mas como moeda de troca em seu relacionamento com a instituição financeira.

5.1.6 Consórcio

Acho interessante a maneira como cada pessoa encara a vida e o mundo. Às vezes debatemos, profundamente, assuntos como religião, política e futebol, além de mulheres, é claro, mas raramente observamos uma conversa envolvendo produtos financeiros e seus retornos. Nossos amigos nos mostram, sempre, as aquisições que acabaram de fazer, seja de um carro, casa, jet-ski, motocicleta ou uma lancha. Mas não é incrível como não nos preocupamos em fazer as contas do quanto estas aquisições estão nos custando verdadeiramente? Quanto de minha renda comprometerei ao aumentar meus gastos com a manutenção de meus novos bens? Qual valor estou perdendo pela sua depreciação? E, a melhor de todas, quanto estou deixando de ganhar se aplicasse estes recursos em investimentos financeiros? Quem nunca ouviu falar, conhece alguém que possui ou já comprou uma cota de um consórcio? De eletrodomésticos, motocicletas, automóveis, imóveis, ou qualquer outro bem. Até mesmo consórcio entre amigos, que formam um grupo de poupadores mensais, normalmente para aquisição de algum produto, em que o valor da parcela é o equivalente da divisão do valor do bem naquele mês pelo número de participantes, e que é administrado por uma pessoa de confiança de todos os componentes do grupo. Já travei debates acalorados em sala de aula, principalmente quando algum dos meus alunos atuavam em empresas de consórcios, ao demonstrar que este produto financeiro não pode ser considerado um investimento, pois ele não aumenta minha riqueza ou gera lucros, muito pelo contrário, ele me devolve, seja em bens ou em dinheiro, representado por uma carta de crédito, um valor inferior ao que foi desembolsado nas contraprestações. Ao fazer as contas, e demonstrar meu raciocínio de financista, normalmente eu ouvia um argumento típico de vendedor de consórcios: ¨Ora, a grande vantagem do consórcio é a de que a pessoa adquire uma poupança forçada que, em outras situações, ela acabaria não conseguindo realizar.¨ Pôxa vida! Será que é melhor fazer um mau investimento do que aprender a poupar? Infelizmente, possuo amigos que compartilham deste raciocínio, preferindo adquirir produtos financeiros somente embasados na conversa dos agentes do sistema financeiro, cujo maior interesse, algumas vezes, é simplesmente vender. Refleti sobre este tema durante algum tempo e cheguei a algumas conclusões. Primeiramente, temos que ser realistas e admitir que acompanhar o mercado financeiro, com seus termos e variações, não é a coisa mais emocionante do

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mundo, a não ser para quem vive disso e, além do mais, fazer contas não é o passatempo predileto, não só dos brasileiros, mas acredito que da maioria dos povos do mundo. Então, se alguém, representando uma grande instituição financeira, me apresenta uma oportunidade de investimento, que ofereça prêmios, rentabilidade superior a caderneta de poupança, supostos benefícios fiscais ou a probabilidade de grandes ganhos, nada mais natural que ouvirmos o canto da sereia. Assim, decidi escrever este livro, mostrando os principais produtos financeiros e fazendo as contas de cada um, para que as pessoas que tenham interesse sobre esse tema compreendam, em uma linguagem mais acessível, a realidade de seus investimentos, pois os livros que existem, em sua maioria, simplesmente apresentam os produtos e suas características, até mesmo te recomendando a sua aquisição. Eles querem te entregar o peixe, eu quero te ensinar a pescar. Mas, afinal de contas, o que é um consórcio? Simples. É uma instituição financeira, que tem seu funcionamento autorizado pelo Banco Central do Brasil, que oferece a oportunidade, a seus participantes, da aquisição de bens sem o pagamento de juros, ou pelo seu valor de mercado. Para isso, são constituídos grupos, compostos por um número de cotistas que, ao somarmos o valor de suas prestações mensais, garantem a aquisição de determinada quantidade de bens que serão distribuídas através de lance, ou seja, uma quantidade de contraprestações antecipadas pelo interessado, onde quem oferece o maior número de parcelas é contemplado, ou sorteio, que garante a um, ou mais, participantes, a oportunidade de desfrutar do bem antes da finalização do grupo. E por quê estas instituições se dispõem a todo esse trabalho? Para obter lucro, é claro, principalmente, mas não somente, da taxa de administração do consórcio. Eu, particularmente, não gosto de consórcio, pois todas as experiências que tive, com este produto financeiro, foram negativas. Você não concorda com minha opinião sobre consórcios? Então vamos fazer algumas contas, para tentarmos chegar a um acordo. Escolhi um consórcio oferecido por uma das maiores instituições financeiras do país, consistindo em um plano dividido em 240 participantes, em 60 meses, com a liberação de 04 automóveis mensais, sendo 02 por lance e outros 02 por sorteio, com as seguintes características: Taxa de adesão: zero; Seguro de vida incluso: 0,047%; Taxa de administração do plano: 12% Taxa de administração mensal: 0,20% Fundo de reserva: 1% do valor do bem.

Vamos fazer uma análise para aquisição de um Toyota Corolla XLi Automático, com 60 parcelas mensais de R$ 826,36 (oitocentos e vinte e seis reais e trinta e seis centavos), reajustáveis de acordo com a tabela de preços do fabricante,

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que proporcionará um crédito de R$ 42.674,00 (quarenta e dois mil, seiscentos e setenta e quatro reais) para a compra do bem. Para quem não gosta de muita complicação, podemos fazer uma conta simples. Multiplique o valor da parcela, de R$ 826,36 (oitocentos e vinte e seis reais e trinta e seis centavos), por 60, que é o número de pagamentos que serão efetuados, e obteremos a quantia de R$ 49.581,60 (quarenta e nove mil, quinhentos e oitenta e um reais e sessenta centavos), ou R$ 6.907,60 (seis mil, novecentos e sete reais e sessenta centavos), aproximadamente 16,2% a mais que o valor da carta de crédito que será obtida. Podemos sublinhar, ainda, que se a empresa de consórcio entregar o carro, ele será adquirido pelo preço de tabela, enquanto que, se aquisição for feita, à vista, em uma revenda, conseguiremos negociar um desconto, aumentando, ainda mais, a diferença entre o custo das parcelas pagas e o valor de compra do bem. Mas eu proponho outra análise. Quantas parcelas, do mesmo valor, seriam necessárias para adquirir o mesmo carro, à vista, aplicadas a uma taxa de 1,3% ao mês, em títulos públicos federais? Vamos fazer as contas? Observe na figura .....

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Pagt. Valor Juros (1,3% a.m.) Saldo

1 R$ 826,36 R$ - R$ 826,36

2 R$ 826,36 R$ 10,74 R$ 1.663,46

3 R$ 826,36 R$ 21,63 R$ 2.511,45

4 R$ 826,36 R$ 32,65 R$ 3.370,46

5 R$ 826,36 R$ 43,82 R$ 4.240,63

6 R$ 826,36 R$ 55,13 R$ 5.122,12

7 R$ 826,36 R$ 66,59 R$ 6.015,07

8 R$ 826,36 R$ 78,20 R$ 6.919,62

9 R$ 826,36 R$ 89,96 R$ 7.835,94

10 R$ 826,36 R$ 101,87 R$ 8.764,17

11 R$ 826,36 R$ 113,93 R$ 9.704,46

12 R$ 826,36 R$ 126,16 R$ 10.656,98

13 R$ 826,36 R$ 138,54 R$ 11.621,88

14 R$ 826,36 R$ 151,08 R$ 12.599,32

15 R$ 826,36 R$ 163,79 R$ 13.589,47

16 R$ 826,36 R$ 176,66 R$ 14.592,50

17 R$ 826,36 R$ 189,70 R$ 15.608,56

18 R$ 826,36 R$ 202,91 R$ 16.637,83

19 R$ 826,36 R$ 216,29 R$ 17.680,48

20 R$ 826,36 R$ 229,85 R$ 18.736,69

21 R$ 826,36 R$ 243,58 R$ 19.806,63

22 R$ 826,36 R$ 257,49 R$ 20.890,47

23 R$ 826,36 R$ 271,58 R$ 21.988,41

24 R$ 826,36 R$ 285,85 R$ 23.100,62

25 R$ 826,36 R$ 300,31 R$ 24.227,29

26 R$ 826,36 R$ 314,95 R$ 25.368,60

27 R$ 826,36 R$ 329,79 R$ 26.524,75

28 R$ 826,36 R$ 344,82 R$ 27.695,93

29 R$ 826,36 R$ 360,05 R$ 28.882,34

30 R$ 826,36 R$ 375,47 R$ 30.084,17

31 R$ 826,36 R$ 391,09 R$ 31.301,63

32 R$ 826,36 R$ 406,92 R$ 32.534,91

33 R$ 826,36 R$ 422,95 R$ 33.784,22

34 R$ 826,36 R$ 439,19 R$ 35.049,78

35 R$ 826,36 R$ 455,65 R$ 36.331,78

36 R$ 826,36 R$ 472,31 R$ 37.630,46

37 R$ 826,36 R$ 489,20 R$ 38.946,01

38 R$ 826,36 R$ 506,30 R$ 40.278,67

39 R$ 826,36 R$ 523,62 R$ 41.628,65

40 R$ 826,36 R$ 541,17 R$ 42.996,19

R$ 33.054,40 R$ 9.941,79

Figura ....: Cálculo das prestações necessárias para aquisição de um carro Eu quase sempre me surpreendo ao fazer os cálculos de qualquer negócio. Observe que, depois de pouco mais de três anos, ou 40 meses, teremos desembolsado a quantia de R$ 33.054,40 (trinta e três mil, cinqüenta e quatro reais e quarenta centavos), e obtido R$ 9.941,79 (nove mil, novecentos e quarenta e um reais e setenta e nove centavos) de juros, que totalizarão R$ 42.996,19 (quarenta e dois mil, novecentos e noventa e seis reais e dezenove centavos), valor superior a carta de crédito oferecido pelo consórcio.

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Você pode alegar que, após três anos, o valor do automóvel terá sofrido alguns reajustes, devido à inflação, e o valor que você juntou em seus investimentos será insuficiente para adquirir o veículo. Você me pegou? Infelizmente não! No caso de um consórcio, suas prestações sofreriam aumentos proporcionais, elevando o valor final desembolsado. Ou seja, se você aplicar, mensalmente, o valor atualizado do bem, dividido pelo número de prestações equivalentes ao plano de consórcio que você gostaria de adquirir, o resultado será o mesmo, e a aquisição do carro, à vista, em menos de três anos e meio. Você pode me dizer que existem algumas situações que justificam a aquisição de um consórcio, como, por exemplo, para a compra de veículos para o trabalho, incluindo caminhões, ônibus, máquinas ou automóveis, em que a contemplação, principalmente por sorteio, diminui o custo de compra do veículo, quando comparado a um financiamento. Mas como eu faço essa conta? Vamos voltar ao exemplo anterior. Verifique que você irá pagar 60 prestações de R$ 826,36 (oitocentos e vinte e seis reais e trinta e seis centavos), que totalizarão R$ 49.581,60 (quarenta e nove mil, quinhentos e oitenta e um reais e sessenta centavos). Com isso, obteremos uma carta de crédito, para aquisição de um automóvel, no valor de R$ 42.674,00 (quarenta e dois mil, seiscentos e setenta e quatro reais) que, se divididas por 60, resultarão em uma parcela de R$ 711,23 (setecentos e onze reais e vinte e três centavos), com uma diferença de R$ 115,13 (cento e quinze reais e treze centavos) de custos que serão pagos para a administradora. Esse valor representa um percentual de 16,20% em cada prestação, que devem ser comparados ao custo financeiro do financiamento. Vamos dar um exemplo? Suponha que você tenha sido sorteado no 15º. mês após a aquisição do consórcio, restando, ainda, 45 parcelas de R$ 826,36 (oitocentos e vinte e seis reais e trinta e seis centavos). Se, ao invés de adquirir o consórcio, você tivesse investido essas prestações em títulos públicos, à taxa de 1,5% ao mês, você teria R$ 13.785,45 (treze mil, setecentos e oitenta e cinco reais e quarenta e cinco centavos) que, diminuídos do valor da carta de crédito, corresponderiam a R$ 28.888,55 (vinte e oito mil, oitocentos e oitenta e oito reais e cinqüenta e cinco centavos). Optando por um financiamento, desse valor, à taxa de 2% ao mês, em 45 prestações, o valor a ser pago seria de R$ 787,85 (setecentos e oitenta e sete reais e oitenta e cinco centavos), ou seja, R$ 38,51 (trinta e oito reais e cinqüenta e um centavos) a menos em cada parcela, totalizando, em 45 pagamentos, a quantia de R$ 1.732,98 (um mil, setecentos e trinta e dois reais e noventa e oito centavos). Se brincar, dá para pagar o seguro do automóvel, não é mesmo? Quer aprender a fazer estas contas na calculadora HP 12C, então observe: Digite 826,36 (valor da parcela) e tecle CHS e PMT Digite 15 (número de parcelas) e tecle ¨n¨ Digite 1,5 (taxa de juros) e tecle ¨i¨ Tecle FV (valor futuro) Digite 42674 (valor da carta) e tecle ¨-¨ Tecle PV (valor do financiamento)

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Digite 45 (parcelas que faltam) e tecle ¨n¨ Digite 2 (taxa de juros) e tecle ¨i¨ Tecle PMT

Vamos supor que, no cúmulo da sorte, você seja sorteado na primeira parcela. Quanto seria a taxa de juros equivalente ao custo do consórcio? O resultado é de 0,51% ao mês. Como cheguei a este valor? Veja os cálculos abaixo: Digite 42674 (valor da carta) e tecle CHS e PV Digite 60 (número de parcelas) e tecle ¨n¨ Digite 826,36 (valor da parcela) e tecle PMT Tecle ¨i¨

Ou seja, a relação custo-benefício comparativa entre consórcio e financiamento deve sempre ser efetuada levando em conta alguns fatores, como, por exemplo, se pretendo dar algum lance, a taxa de juros de um financiamento, o saldo devedor de um financiamento se o valor do lance fosse utilizado como entrada, e o número de parcelas remanescentes. Nos últimos anos, temos presenciado diversas montadoras ofereceram financiamentos com taxas menores que a maioria das instituições financeiras, chegando, até mesmo, a zero em alguns momentos. No caso acima, qualquer taxa de financiamento, menor do que 0,51% ao mês, é melhor do que ser sorteado na primeira parcela, pois proporciona um custo menor de aquisição do veículo. À medida que o tempo vai passando, e você não é contemplado, e se conseguir uma taxa de financiamento inferior a 2%, maior é a vantagem comparativa entre o financiamento em relação ao consórcio. Por exemplo, se você, ao invés de comprar o consórcio, aplicou quinze parcelas em títulos públicos, à taxa de 1,5% ao mês, e conseguiu um financiamento, também a 1,5% ao mês, o valor das prestações será de R$ 670,75 (seiscentos e setenta reais e setenta e cinco centavos), uma diferença de R$ 155,61 (cento e cinqüenta e cinco reais e sessenta e um centavos) por mês, ou R$ 7.002,66 (sete mil, dois reais e sessenta e seis centavos) no final do contrato. Confira o cálculo: Digite 826,36 (valor da parcela) e aperte CHS e PMT Tecle 1,5 (taxa de juros) e aperte ¨i¨ Insira 15 (número de meses) e tecle ¨n¨ Aperte FV Resultado 13785 Tecle CHS e ENTER Digite 42674 (valor do carro a vista) e tecle ¨+¨ Aperte CHS e PV Insira 45 (número de meses que faltam) e tecle ¨n¨ Digite 1,5 (taxa de juros do empréstimo) e aperte ¨i¨ Tecle PMT Resultado 670,75

Ou seja, se a taxa de mercado para financiamento de veículos é de 2% ao mês, o consórcio torna-se vantajoso se a contemplação ocorrer antes do 14º.

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mês. Quando as prestações do financiamento tornam-se, aproximadamente, do mesmo valor as mensalidades do consórcio. Se você pretende dar um lance de entrada, até o valor de 14 parcelas, ou não acredita que será contemplado antes desse período, invista o dinheiro e faça um financiamento. Por outro lado, se você é uma pessoa de fé, e acha que a contemplação acontecerá antes disso, ou as taxas de juros são superiores a 2% ao mês, adquira o consórcio e torça. Na pior das hipóteses, você conseguirá mais um passatempo. Outro detalhe, bastante importante, que compromete a análise, é a taxa de administração. Uma funcionária de uma das maiores e mais tradicionais empresas de minha cidade, com negócios em áreas como concessionárias de veículos novos, construtora, corretora e consórcios, me ofereceu uma cota de consórcio imobiliário em 100 meses, com taxa de administração de 15%, sem contar os outros encargos. Recusei educadamente, mas expressei minha admiração do valor que a empresa estava cobrando. Ela não me justificou o índice, com argumentos de que se era caro ou barato, simplesmente me disse que, se fosse fazer um financiamento, o custo seria ainda maior. Ou seja, o consórcio não é bom, ele é, apenas, menos ruim. Pelo menos foi isso que eu entendi. Mas existem outros aspectos que atrapalham o produto financeiro consórcio, na minha opinião. Eu adquiri um consórcio de uma montadora de caminhões, ou seja, direto da fábrica, em setembro de 1996, efetuando 12 pagamentos de R$ 1.113,00 (um mil, cento e treze reais) mensais. Depois desse período, por uma série de motivos, não consegui continuar com os desembolsos, e nem vender o plano, pois as propostas que apareceram eram verdadeiramente indecentes. Contactei a administradora e informei a minha situação, e me disseram que o valor desembolsado seria restituído no final do plano, de 100 meses, corrigido pela selic, que é a taxa que o governo federal remunera grande parte de sua dívida. Menos mal, eu pensei, pelo menos não é pela caderneta de poupança, e no final do contrato terei um bom dinheiro para gastar. Só tinha um pequeno problema. Eu sofreria um desconto de 25% no valor de meu saldo, referentes às taxas cobradas, contratualmente, pela minha desistência do consórcio. Eu desembolsei, em doze meses, o valor de R$ 13.356,00 (treze mil, trezentos e cinqüenta e seis reais), e recebi, depois de seis anos, a quantia de R$ 16.600,00 (dezesseis mil e seiscentos reais). Foi um bom negócio? Fazendo as contas, descobrimos uma rentabilidade de 0,30% ao mês, menor que a caderneta de poupança, e nem considerei os juros que teria ganho se tivesse aplicado as doze parcelas em títulos públicos. Para termos uma idéia de valores, na época, o dinheiro que investi era suficiente para adquirir um gol 1.6 zero quilômetro, com ar-condicionado, vidros elétricos e direção hidráulica. Quando recebi os meus recursos de volta, não consegui comprar, ao menos, um gol básico. Mas o pior de tudo é pensar que, se tivesse investido esses recursos em títulos públicos desde o começo, eu teria a quantia de R$ 184.950,14 (cento e oitenta e quatro mil, novecentos e cinqüenta reais e quatorze centavos), ou seja, o suficiente para comprar cinco gols e ainda sobrava troco. Quer conferir as contas comigo? Vamos lá!

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Digite 1113 (valor da parcela) e tecle CHS e PMT Digite 12 (número de parcelas) e tecle ¨n¨ Digite 1,5 (taxa de juros) e tecle ¨i¨ Tecle FV (valor no final de doze meses) Tecle CHS e PV Digite 72 (número de meses depois que parei de pagar até receber o

dinheiro) e tecle ¨n¨ Digite 1,5 (taxa de juros) e tecle ¨i¨ Tecle FV (valor no final do período)

Está vendo porque eu não gosto de consórcio? E ainda tem vendedores que me oferecem este produto. Tem que ter muita paciência, não é mesmo? E olha que nós nem consideramos o risco da administradora quebrar, dar o cano em todo mundo e a gente ficar a ver navios. Observamos, apenas, os aspectos financeiros do negócio. Espero ter contribuído para, na próxima vez que você imaginar em adquirir um consórcio, pense duas vezes antes de tomar esta decisão.

5.1.7 Ações

Quando iniciei minha graduação, na Universidade Católica de Goiás, tive um professor de filosofia que pediu que desenvolvêssemos um trabalho baseado em um texto da defesa que Sócrates apresentou ao tribunal de Atenas, em seu julgamento. Confesso que fiquei admirado com seus argumentos, mas não deixei de pensar que, no final, mesmo com um desempenho tão bom, ele acabou sendo condenado a morte. Isso me ensinou uma lição: às vezes não basta ser o melhor, ou o mais inteligente, o que vale é o resultado. Estou dizendo isso porque existem dois pensamentos, atribuídos a Sócrates, que gosto muito de citar em minhas aulas. O primeiro diz que ¨o sábio é aquele que sabe que nada sabe¨, ou seja, por mais que estude e aprenda, eu nunca conseguirei adquirir a totalidade dos conhecimentos que quero, e necessito. O segundo, ainda mais interessante, afirma que ¨eu só sei que nada sei¨, confirmando a constatação de que, de todas as certezas que gostaria de possuir, a única que tenho é a de que não sei nada. Diante disso, me consolo das minhas próprias cobranças, fruto dos erros que às vezes cometo em minhas análises. Um filósofo poderia dizer: ¨Como esse cara é burro! Nenhuma dessas frases é de Sócrates!¨. Mas eu te pergunto: Faz alguma diferença de quem elas sejam? O que me importa é o seu conteúdo, ou seja, o que posso aprender através de sua análise para aplicá-la em minha vida? Isso é chamado de pragmatismo. Depois de muitas cabeçadas, pois errar é humano, cometer o mesmo erro duas vezes que é burrice, e analisando os motivos que me levaram a realizá-las, desenvolvi também uma filosofia de vida. Está surpreso? Posso ter muitos defeitos, mas nenhum pensamento me irrita mais do que imaginar que sou burro. Vou dividir minha análise com você, deixando-o livre para concordar, discordar ou qualquer outra atitude que queira tomar.

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Acredito que erramos, basicamente, por dois motivos principais. O primeiro é a ignorância, pois se não conheço todas as variáveis envolvidas em minhas decisões, nem possuo o entendimento necessário para avaliá-las, a probabilidade de fazer uma burrada aumenta consideravelmente. O segundo motivo, tão importante quanto o primeiro, é a arrogância. Ao imaginar que meu conhecimento sobre o assunto é superior ao das outras pessoas, superestimo minha própria inteligência e capacidade, levando-me a tomar decisões que, em uma análise mais realista, normalmente não tomaria. Poderia escrever um livro sobre este tema, mas para que complicar, se é mais fácil simplificar? Na verdade, em nossa vida, muitas pessoas fazem o contrário. E depois ficam procurando meios de descomplicar o que já deveria ter sido simples desde o princípio. Estou lhe dizendo tudo isso para que possamos conversar sobre investimentos em ações. Pois a cada dia vejo que, por mais que estude, leia, converse ou acompanhe o mercado, sempre tenho que aprender alguma coisa, e já tive a oportunidade de acompanhar, nos últimos anos, os maiores investidores terem prejuízos decorrentes de mudanças abruptas no mercado financeiro local e mundial. Sou um peixinho nesta modalidade de investimento, principalmente por dois motivos: não tenho a agressividade, apesar de possuir a frieza, que o papel de especulador exige, e o outro é que o dinheiro também é curto. Assim, contento-me em acompanhar o mercado e investir em empresas sólidas, buscando a formação de um patrimônio para o meu futuro. Mas já aprendi algumas coisas e, apesar de ainda ter muito a caminhar, posso dividi-las com você. Vamos começar definindo o que é uma ação. Ela é um pedacinho de um empreendimento, cujo dono nos convida para sermos seus sócios, oferecendo a oportunidade de compartilharmos dos lucros que ele possa auferir. E porque ele faz isso? Pela sua preocupação em compartilhar com outras pessoas as maravilhas de seus negócios? Para poder dividir os ganhos de sua empresa com seus semelhantes? Quem dera! No melhor estilo capitalista, o empreendedor busca formas de captar recursos mais baratos para seus negócios, aumentando sua riqueza, através do valor de mercado de sua empresa. Não entendeu? Então vamos explicar melhor. Suponhamos que eu e você tenhamos desenvolvido um novo produto, que foi devidamente patenteado para que possamos nos proteger dos piratas modernos. Para produzi-lo, e oferecê-lo ao mercado, a legislação exige que seja constituída uma empresa, ou uma pessoa jurídica, para este fim. Assim, seremos sócios, e teremos que desembolsar recursos para que essa organização funcione, ou seja, para a aquisição de máquinas, equipamentos, imóveis, veículos, matérias-primas ou quaisquer outros insumos necessários para a sua viabilidade. Esse desembolso inicial, realizado para começar o negócio, é chamado de capital social, sendo dividido em partes, também chamadas de ações, que representam a participação que cada um dos sócios possui no negócio. Até aqui tudo bem? Então vamos em frente!

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Nossa empresa cresceu solidamente, e o mercado ainda apresenta possibilidades para um desenvolvimento ainda maior. O problema é que, para explorá-las, precisamos de recursos que não possuímos, sendo necessário captá-los no mercado financeiro, pagando juros e correndo o risco de, em uma mudança econômica, comprometermos a sobrevivência da organização. Depois de diversas análises, comparando o custo-benefício das possibilidades de captação de recursos, decidimos que a melhor maneira de financiarmos a expansão é o aumento do capital social, através da entrada de novos sócios no negócio. Providenciamos a adaptação da empresa a legislação pertinente, que é aplicada, no Brasil, pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), órgão que fiscaliza e coordena o funcionamento do mercado de capitais, registramos a organização na Bolsa de Valores de São Paulo e oferecemos aos investidores a oportunidade de sociedade na empresa e participação em seus lucros, através da compra de nossas ações, captando seus recursos e aplicando-os na expansão dos negócios. Bom para todo mundo, não é mesmo? Existem livros que são verdadeiros tratados sobre o funcionamento do mercado de capitais. Novamente volto a te dizer, estou lhe apresentando, basicamente, os motivos de sua existência e funcionamento, não é minha intenção, com este livro, fornecer conhecimentos para torná-lo um expert nesse assunto. As ações são, na verdade, títulos de crédito, que propiciam, a seu detentor, direitos e deveres estabelecidos legalmente. No Brasil, as empresas descobriram uma maneira de captar um volume maior de recursos dos investidores, mantendo o controle da administração da organização, dividindo as ações em ordinárias e preferenciais. Para equilibrar as relações no mercado, a legislação determina que as ações ordinárias devem representar no mínimo um terço do capital, sendo o restante de papéis preferenciais. A bolsa de valores criou um programa, chamado ¨Governança corporativa¨, onde foram estabelecidos os níveis 1, 2 e 3, que correspondem a uma séria de condições que as empresas aceitam assumir em sua relação com os investidores, principalmente minoritários, e, entre elas, um número mínimo de ações ordinárias negociado no mercado de ações. Observe as principais diferenças entre esses dois tipos de papéis: Ordinárias: são aquelas que, de ordinárias, só têm o nome, pois é

através delas, de acordo com a quantidade possuída, que seus detentores têm o direito de opinar nas decisões da organização, ou seja, a administração real da empresa, e suas responsabilidades são de acordo com o montante, ou quantidade, de ações possuídas. Podem ser nominativas, endossáveis e escriturais.

Preferenciais: não dão direito a voto, mas tem prioridade no recebimento de dividendos ou reembolso de capital, em caso de dissolução da empresa. Ou seja, não permite a seus detentores, qualquer que seja a quantidade, participar da administração da empresa. Sua maior vantagem consiste que as organizações distribuem, às vezes, um maior volume de dividendos para estes acionistas, como uma espécie de prêmio. Podem ser nominativas e nominativas endossáveis.

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A partir do momento que nossa empresa apresenta um desempenho positivo, os acionistas ficam satisfeitos, despertando a cobiça de outras pessoas de serem nossas sócias. Como a quantidade de ações é limitada, começa a funcionar a mola-mestra do sistema capitalista, ou a mão invisível do mercado, chamadas de oferta e procura. Se possuo alguma coisa que muitas pessoas desejam adquirir, o seu preço aumenta, fazendo com que obtenha lucro com sua venda, pois ela foi adquirida por um valor menor do que está sendo negociado agora. Em caso de situação inversa, ou seja, se muitas pessoas desejam vender as ações, e existem poucos compradores, ou interessados, o seu valor tende a depreciar-se. A soma de todas as ações da empresa, utilizando o preço que os investidores estão dispostos a pagar, é chamado de ¨valor de mercado¨ da organização. Esse valor é diferente de seu valor patrimonial, que é o registrado no balanço, através do capital social integralizado. Mas não é só o desempenho operacional da empresa que determina seu valor. Ou seja, o fato de gerar lucros, e distribuí-los a seus acionistas, ou prejuízos, é fundamental para sua avaliação, mas variáveis como participação de mercado, possibilidade de lucros futuros, fidelidade às suas marcas, desenvolvimento de novos produtos, vantagens competitivas em relação a seus concorrentes, além da quantidade de investidores e do volume dos negócios, influenciam, positiva ou negativamente, o valor da empresa no mercado. O que isso quer dizer? Que às vezes, a lógica do mercado é ilógica, ou seja, mesmo que a empresa seja lucrativa e atraente, seu valor pode cair em determinados períodos do tempo. Atualmente, podemos verificar isso da melhor maneira possível. Com a possibilidade, e depois a concretização, da eleição para presidente do candidato Luis Inácio Lula da Silva, os investidores temeram pelos seus investimentos, principalmente os estrangeiros, vendendo suas ações e procurando portos mais seguros. Com isso, papéis de empresas como Petrobrás, Vale do Rio Doce, Telemar, entre outras, consideradas de primeira linha, desvalorizaram-se acentuadamente, mesmo que alguma delas tenha obtido lucros extraordinários no período. Assim que o novo presidente garantiu que os contratos seriam respeitados, e agiu conforme suas palavras, estabilizando a inflação e o câmbio, os investidores voltaram ao mercado, propiciando valorizações recordes nas ações comercializadas na Bolsa de Valores de São Paulo, tornando-a o investimento mais rentável do ano de 2003. As ações preferenciais da Petrobrás, identificadas na bolsa de valores com o código de PETR4, que chegou a ser vendida por um valor próximo a R$ 37,00 (trinta e sete reais), em outubro de 2002, saltou para R$ 67,00 (sessenta e sete reais), no mesmo mês do ano seguinte, com uma oscilação de 81% no período, conforme figura ....

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Figura ....: Variação no preço das ações preferenciais da Petrobrás Observando o gráfico, verificamos que a tendência, desde outubro de 2002, têm sido de alta, com oscilações mensais de acordo com a análise do mercado sobre o desempenho da empresa e da economia. Note que, se você tivesse investido R$ 10.000,00 (dez mil reais), nos momentos de cotação mínima de fevereiro e março deste ano (2003), quando o papel estava sendo negociado em, aproximadamente, R$ 40,00 (quarenta reais), teria comprado 250 ações, que valeriam, em novembro, R$ 68,00 (sessenta e oito reais) cada, totalizando R$ 17.000,00 (dezessete mil reais), um ganho de 70% em dez meses. Um excelente negócio, não é mesmo? Por outro lado, o mesmo investimento, efetuado em janeiro, com o preço da ação a R$ 52,00 (cinqüenta e dois reais), teria proporcionado a compra de 192 ações, que se fossem vendidas um mês depois, em fevereiro, pelo valor de R$ 40,00 (quarenta reais), proporcionariam um valor de R$ 7.680,00 (sete mil, seiscentos e oitenta reais), ou uma perda de 23,2% em um mês. Qual a lição que aprendemos? Que ninguém tem bola de cristal para prever o futuro e o comportamento da economia e do desempenho das empresas, bem como a ação dos especuladores. Se você pretende se aventurar no mercado acionário, prepare-se pa conviver com a oscilação no valor de mercado das empresas que investir. Mas essa variação afeta o funcionamento real da empresa? Teoricamente, não! Pois a organização captou os recursos e entregou as ações aos investidores, sendo que não arrecada mais nada com os negócios posteriores. Por outro lado, a pressão dos investidores por um melhor desempenho pode derrubar toda a direção da organização, como acontece em diversas empresas, principalmente nos Estados Unidos. Por isso, se a organização valoriza-se no mercado, aumenta a riqueza dos proprietários de suas ações, pois elas fazem parte do seu patrimônio. Por esse motivo Bill Gates é o homem mais rico do mundo, pois ele é o maior acionista individual da Microsoft. Então, quando falamos dos bilhões de dólares que ele

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possui, esses recursos não estão disponíveis em dinheiro, mas representados pelo valor que ele conseguiria levantar caso vendesse suas ações no mercado de capitais, só que isso poderia proporcionar a desvalorização desses papéis, pois um dos motivos do seu valor é a identificação da competência de Gates à frente da Microsoft, e a sua capacidade de guiar a empresa em seus mercados de atuação. Todas essas operações movimentam bilhões de reais, e envolvem interesses de milhares de pessoas, por isso, devem ser acompanhadas de perto. As autoridades que fiscalizam esse mercado e as suas operações são, no Brasil, a Comissão de Valores Mobiliários, ou CVM, e nos Estados Unidos, a Security Exchange Comission, também conhecida como SEC, e preocupam-se, principalmente, em criar um ambiente justo para os investidores, pois, nesse negócio, a confiança é um dos pilares fundamentais para o seu funcionamento, e qualquer deslize pode comprometer todo o sistema. Nos Estados Unidos, investir em ações de empresas é uma das poucas oportunidades de se melhorar a rentabilidade dos investimentos, pois as taxas de juros oferecidas pelo mercado financeiro são baixas, principalmente se comparadas às brasileiras. A busca por maiores lucros é um dos principais motivos dos investidores estrangeiros colocarem recursos no Brasil, em títulos públicos do Governo Federal, empréstimos para empresas ou operações em bolsa de valores. Uma das maiores preocupações das autoridades fiscalizadoras é quanto ao uso, por parte dos administradores das empresas, de informações privilegiadas para a realização de especulação no mercado financeiro. Assim, se um investidor está de posse de informações privilegiadas da empresa, pode adquirir ações da organização e antecipar-se ao movimento do mercado, obtendo ganhos com a especulação financeira na compra e venda dos papéis no curto prazo. Imagine como é difícil, em um processo de fusão como o das cervejarias Brahma e Antarctica, ou Varig e Tam, as pessoas controlarem sua ambição diante da oportunidade de ganho proporcionado pela posse de informações estratégicas dessas organizações. Normalmente, fatos relevantes são comunicados pelas empresas aos órgãos fiscalizadores, informando sobre o fechamento de novas vendas de aviões, o descobrimento ou a reavaliação de jazidas de petróleo, contratos de exportação de minérios, captação ou renegociação de empréstimos junto a instituições financeiras estrangeiras, fusões e aquisições, ou qualquer situação que possa afetar o desempenho das ações da empresa no mercado, para propiciar igualdade de condições na análise, compra ou venda dos papéis pelos investidores. Caso verifique-se uma oscilação anormal nas negociações com os papéis da empresa, provocadas por movimentos especulativos de investidores que possuem informações privilegiadas, podem ser abertos inquéritos criminais, levando, até mesmo, a prisão dos envolvidos e a aplicação de multas.

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Verificamos, então, que o mercado de capitais é uma opção de investimento com inúmeras variáveis a influenciar seu desempenho. Então, porque correr o risco de investir em ações? Acredito que, a partir do momento que nosso governo conseguir realmente equilibrar as contas públicas, reduzindo as taxas de juros pelas quais remunera os investidores em seus títulos, o caminho natural para quem quiser uma rentabilidade maior para seus investimentos será o mercado de capitais. Por isso devemos começar a preparação agora, para a obtenção de um bom desempenho em nossas aplicações. Vamos iniciar, então, por alguns princípios básicos, mas que a maioria das pessoas esquece ou ignora. Primeiramente, devemos definir nosso objetivo com os investimentos que faremos no mercado de capitais. Você busca retornos de longo ou curto prazo? Se a sua resposta for a segunda opção, então o adjetivo que melhor se aplica a você é o de ¨especulador¨, ou seja, a pessoa que fica de olho nas oscilações do mercado, minuto a minuto, garimpando oportunidades de acordo com os movimentos dos outros investidores e especuladores. Mas qual é a diferença básica entre um investidor e um especulador? Para alguns autores, o investidor nada mais é que uma ¨versão¨ mais chique do especulador, com vergonha de admitir seu comportamento. Mas a divisão utilizada e a de que o investidor está interessado em oportunidades de negócios que propiciem ganhos a médio e longo prazo, através da análise da situação e do desempenho das organizações, e o especulador, como o próprio nome já diz, procura identificar tendências na economia nacional e mundial, ou até mesmo influenciar, com seus movimentos de compra e venda, os preços dos ativos negociados no mercado financeiro no curtíssimo e curto prazos, realizando, às vezes, várias operações chamadas de ¨intraday¨, ou no mesmo dia, obtendo lucros ou prejuízos superiores aos investimentos classificados como conservadores, porque os riscos, nesse caso, também são muito maiores. Na verdade, o objetivo dos dois é um só: ganhar dinheiro, a diferença está no desenvolvimento operacional das estratégias de cada um. Para o investidor tradicional, o sobe e desce do mercado financeiro, principalmente no curto prazo, costuma ser motivo de preocupação, por isso, te apresento o segundo princípio para investimentos em ações. Nunca invista o dinheiro de comprar o leite do café da manhã nesta aplicação! O que isso quer dizer? Que você deve estar disposto a deixar seu dinheiro por algum tempo, até mesmo anos, em busca de uma rentabilidade superior a outras modalidades de aplicação financeira. Existe risco? É claro! Ele é alto? Sim! Têm como administrá-lo? Depende das empresas selecionadas para a aplicação dos recursos. Em nossa vida, sempre passamos por bons e maus momentos. Com as organizações acontece a mesma situação. A diferença principal é a de que, dependendo das condições da empresa, ela pode vir a falir, e perdermos todo o recurso investido. Aqui aparece mais um fundamento dos investimentos em ações. Quanto maior o risco, maior o retorno.

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Dentre os diversos negócios que já fiz em minha vida, fora do mercado financeiro, lembro-me de um em especial. Eu adquiri um carro Puma, que era um veículo cuja carroceria em fibra de vidro era montada em um chassi do volkswagem fusca. Meus amigos me chamaram de doido, que eu havia arrumado um casamento para toda a vida, pois seria impossível achar um comprador para meu carro quando decidisse vendê-lo. De repente, conheci um fabricante de caiaques, aqueles barquinhos de descer corredeiras de rios, que me propôs adquirir o veículo, pagando em pouco em dinheiro e dois caiaques de sua fabricação. Aceitei o negócio, pendurei os barcos na minha garagem e comecei a procurar interessados em sua aquisição. Consegui colocá-los em uma negociação envolvendo a compra de uma motocicleta, e ainda ganhei dinheiro! Mas o melhor de tudo foi o aprendizado, que adquiri com a experiência, que me ensinou que tudo pode ser vendido, desde que ao comprador certo, com o preço justo e tempo para negociar. Isso aparece nitidamente nas operações com ações. Existem enormes diferenças entre as empresas negociadas no mercado. Na confiabilidade de sua gestão, na competência de seus administradores, no momento que estão vivendo no mercado, em sua situação econômica e financeira, no retorno de seus investimentos, em seu porte e possibilidade de lucros futuros, nos mercados onde atua, nas tendências dos consumidores, na imagem que possui junto aos investidores, e tudo isso influencia profundamente no momento de comprar e vender as suas ações. Quanto maiores as notas da organização nesses itens que foram mostrados, mais fácil será vender as ações que você possuir dessas empresas. As organizações que se encaixam nesse perfil são apelidadas de ¨primeira linha¨, ou ¨blue chips¨, que são as fichas azuis, as de valor mais alto, utilizadas nos cassinos de Monte Carlo. Não é interessante? Pela confiança que os investidores depositam nessas empresas, suas ações possuem menores chances de sofrerem grandes variações no mercado financeiro, propiciando grande liquidez, ou seja, facilidade de compra e venda, mesmo em momentos de crise. No mercado brasileiro, as empresas do segmento de telecomunicações, como Telesp, Brasil Telecom, Telemar e Vivo, de mineração, no caso da Vale do Rio Doce, de energia elétrica, como Eletrobrás, do sistema financeiro, o Banco do Brasil, de petróleo, a nossa Petrobrás, são exemplos de empresas classificadas como primeira linha. Pelo menos isso é o que dizem os especialistas financeiros. Quando analisamos uma empresa como a Embraer, que é uma das prediletas dos investidores estrangeiros, e verificamos seu desempenho em alguns momentos, somos obrigados a nos render a uma verdade única. Não existe uma regra que me propicie uma garantia de segurança nos investimentos em ações. Em um instante a empresa vai muito bem, com produtos de alta tecnologia, exportações em alta e grandes lucros, daqui a alguns minutos, um atentado terrorista com aviões derruba prédios em Nova Iorque, fere de morte as principais companhias aéreas do mundo, e leva junto as vendas da sua empresa. Veja a flutuação com as ações preferenciais da Embraer no último ano na figura .....

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Figura ...: Variação na cotação das ações ordinárias da Embraer Note que, em um período de dois meses, de dezembro de 2002, a fevereiro de 2003, o valor das ações ordinárias da Embraer oscilou de R$ 12,50 (doze reais e cinqüenta centavos) a R$ 6,90 (seis reais e noventa centavos), ou seja, uma queda de, aproximadamente, 45% no período. Depois de alcançar o valor mínimo, em março de 2003, elas avançam para R$ 14,80 (quatorze reais e oitenta centavos) em novembro, com uma variação de 114,5%. E olha que, nesse período, só tivemos uma guerra no Iraque, vencida rapidamente pelos americanos. Se isso é segurança, proporcionado por um papel de primeira linha, eu não quero saber o que é risco! Por que estou lhe dizendo isso? Para que você aprenda a desconfiar de todas as informações que escutar de qualquer corretor, banco ou analista de mercado. Lembre-se, sempre, de que eles são vendedores, vivem disso, ganham comissão e participação nos resultados e, para isso, precisam do seu dinheiro investido no mercado. Procure, sempre que possível, informações a respeito do desempenho das empresas, das decisões políticas, da evolução da economia nacional e mundial, do comportamento dos investidores, e desenvolva sua estratégia de investimento, de acordo com os ganhos que pretenda obter e os riscos que deseja correr. Mas onde estão as possibilidades de maiores ganhos? Justamente nas empresas que não possuem todas as características de blue chips, e, por serem consideradas mais arriscadas e difíceis de negociar, possuem menor liquidez, sendo chamadas de ações de segunda e terceira linha. Se existem poucos investidores interessados em negociar com seus papéis, essas empresas precisam desenvolver estratégias para atrair um maior volume de negócios, para tentar aumentar o valor de mercado de suas ações. Uma estratégia bastante utilizada é a de distribuírem um maior volume de lucros, na forma de dividendos, para serem mais rentáveis aos investidores. O maior problema é o de que, em um momento de volatilidade, você não encontre

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compradores para os seus papéis, e, mesmo que consiga, seja obrigado a negociá-los sofrendo uma grande perda. Além disso, existem outros aspectos operacionais. A única maneira de adquirir ações em bolsas de valores é através de corretoras ou distribuidoras de valores mobiliários, que cobram uma taxa de corretagem, que varia de acordo com o volume de seus investimentos, para a realização das ordens de compra ou venda que você determinar. Alguns investidores confiam a essas instituições um montante de seus recursos, para serem aplicados conforme as oportunidades de mercado que os corretores identifiquem. Outra característica é a de que você não recebe as ¨ações¨ da empresa, que ficam custodiadas na Câmara Brasileira de Liquidação e Custódia, ou CBLC, mas simplesmente um extrato de sua conta de custódia, contendo a quantidade e o valor dos seus ativos na data de sua emissão. Comecei a me interessar por investimentos em ações, principalmente, depois de investir uma parcela de meu fundo de garantia por tempo de serviço, FGTS, em um fundo mútuo de privatização, formado por papéis da Petrobrás. Ao receber o extrato do desempenho do fundo, todos os meses, acompanhava a variação da aplicação e comparava com a rentabilidade do FGTS, para saber se havia feito um bom negócio, e constatei que, na verdade, era um ótimo negócio. Ao ser oferecida a oportunidade de um novo investimento de uma parcela do FGTS, em fevereiro de 2002, em ações da Companhia Vale do Rio Doce, não pensei duas vezes, e ainda adquiri mais um pouco com recursos próprios. A aplicação foi feita em um momento muito feliz, pois o mercado ainda não havia se recuperado das perdas sofridas com o racionamento de energia, quebra da Argentina e atentados terroristas nos Estados Unidos, no ano de 2001, e vendi as ações, aproximadamente um ano depois, realizando um lucro próximo a 100% do investimento. Desenvolvi, então, mais um pensamento: não basta ser bom, tem que dar sorte! Antes disso, eu só acompanhava o funcionamento e o desempenho do mercado de capitais por necessidade de conhecimento, ou seja, pela minha profissão de professor de finanças, não ousando colocar meu dinheiro nessa oportunidade de investimento, principalmente pela percepção de alto risco que possuía na época. A partir dos meus primeiros investimentos, comecei a vivenciar o dia-a-dia do mercado financeiro, suas reações às tendências políticas e econômicas nacionais e internacionais, bem como as oscilações que ocorriam nos papéis negociados, e as recomendações das corretoras, em relatórios normalmente bens elaborados e fundamentados. Descobri que não existe um padrão, mas decisões baseadas em conhecimentos que podem te ajudar a diminuir os seus riscos e aumentar os ganhos. Confesso que, hoje, adquiri um conhecimento razoável da dinâmica do mercado, principalmente porque consegui colocar em prática a minha formação acadêmica, proporcionando, até aqui, bons investimentos e uma rentabilidade bastante superior a outras modalidades de aplicação financeira. Mesmo assim, não me sinto confortável para tentar vôos mais altos, como a negociação de

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ações de segunda ou terceira linha, contratos futuros e de opções de ações, por acreditar que minha profissão é, antes de tudo, professor, e não, especulador, para ficar o dia inteiro em frente a um monitor, acompanhando o sobe-e-desce do mercado para a realização de negócios. A minha estratégia consiste, basicamente, na aquisição de ações de primeira linha, com um objetivo de, no mínimo, dois anos. Isso não me impede de acompanhar o movimento do mercado e, sempre que identifico um movimento de alta, provocado pelas ações dos especuladores, vender meus papéis e esperar um novo momento, desta vez de baixa, para voltar a comprar as ações das empresas que confio. É fácil? Não! Tem que ter sangue de barata? Tem! Existe mágica para saber o melhor momento de comprar ou de vender? Não! O máximo que conseguimos é desenvolver uma estratégia envolvendo o quanto queremos ganhar, em qual prazo, e o risco a ser considerado. Na minha humilde opinião, o movimento de alta constante do mercado, ocorrido em 2003, apesar de chamar a atenção e atrair novos investidores para essa modalidade de investimento, aumenta o risco dos negócios, quer saber porquê? Existe uma música do Raul Seixas, que gosto muito, com a seguinte frase: ¨Quem não tem colírio, usa óculos escuros. Como Isaac Newton já dizia, se subiu tem que descer!¨. Ou seja, se a euforia da economia contagia os investidores, que começam a acreditar que o mercado de ações é a melhor opção de investimento, alguns papéis tendem a disparar, gerando um comportamento irracional, movido apenas pela ambição dos especuladores. Esse movimento dura até o momento que alguém cai na real, e começa o movimento inverso, de queda no mercado. Isso já aconteceu? Olhe o crash da bolsa de Nova Iorque em 1929, o estouro da bolha da Nasdaq no final dos anos 90, ou mesmo a oscilação da bolsa brasileira nos últimos quatro anos. Se você entra no mercado, no começo ou no meio do movimento altista, as possibilidades de ganho são realmente atraentes, mas se chega no fim da festa, só lhe resta apagar as luzes e arcar com os prejuízos, por isso, observe o movimento da bolsa e muito cuidado com seus investimentos. Para ajudar a defender seus argumentos, e na tentativa de diminuir a impressão de risco para seus investimentos, ou, até mesmo, para convencê-lo a colocar seu dinheiro no mercado de capitais, os especialistas em finanças, constituídos por grandes financistas, professores, pesquisadores, profissionais das instituições financeiras e, porque não, especuladores, desenvolveram uma série de métodos, matemáticos, estatísticos e analíticos, para analisar a evolução e a tendência do mercado e de suas empresas, bem como a relação entre risco e retorno. Se você pesquisar, irá encontrar o CAPM, de capital asset pricing model, ou modelo de precificação de ativos de capital, que fornece o cálculo de um indicador beta para análise de ganhos e riscos de uma carteira de investimentos, o índice de força relativa, que mostra o potencial de oscilação de determinada ação, o índice preço-lucro, indicando em quanto tempo a empresa, mantendo a lucratividade atual, proporcionaria o pagamento da ação através dos lucros gerados, o índice comparativo entre valor de mercado e valor patrimonial, análises gráficas e fundamentalistas, só para citar alguns dos mais conhecidos.

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Particularmente, meu índice predileto é o chamado ¨bom senso¨, ou seja, ninguém possui bola de cristal para adivinhar o que irá acontecer amanhã, e qualquer modelo, por mais bem feito que seja, não consegue me fornecer informações precisas a esse respeito. Para mim, o melhor é analisar o preço de mercado da empresa em relação a seu valor patrimonial, onde qualquer valor superior a 5 vezes já me desperta suspeitas. Comparar os dividendos que ela historicamente tem pago aos acionistas com o preço da ação na bolsa, se o tempo de retorno for superior a 20 anos, pode começar a desconfiar, pois você só obterá um bom retorno se a empresa se valorizar no mercado acima da inflação. Os resultados operacionais, lucro ou prejuízo, dos últimos 3 anos, para acompanhar sua evolução, positiva ou negativa, e os principais motivos que possam ter afetado o seu desempenho, como, por exemplo, o mercado cambial e seu impacto na empresa, bem como as mudanças políticas, econômicas e de mercado. É importante salientar, também, que o fato da empresa ser lucrativa não representa que este resultado será repassado aos acionistas, pois a direção pode optar por reter uma parcela do lucro para novos investimentos ou reserva legal, sendo que somente 25% serão, obrigatoriamente, distribuídos. Por isso que, em minha análise, além do lucro obtido pela empresa eu observo, ainda, os dividendos, ou seja, o valor que realmente entra no bolso do investidor por possuir determinada ação. Observe na figura ....., as empresas que se destacaram no pagamento de dividendos no último ano. Cabe, ainda, mais um esclarecimento. Muitas empresas remuneram seus acionistas de duas maneiras: a primeira consiste no pagamento de juros sobre o capital próprio. O que isso quer dizer? Que, se ao invés de comprar uma ação, você tivesse investido seu dinheiro em uma caderneta de poupança, o capital renderia juros. A legislação permite, então, que a empresa pague juros ao investidor sobre o investimento que ele realizou em suas ações. Isso é uma manobra fiscal, legal é claro, que permite a organização incorrer em despesas financeiras, que diminuem o lucro antes do imposto de renda, que é a base de cálculo utilizada para a apuração do imposto de renda sobre o lucro da empresa, e aumentam a remuneração dos acionistas. A outra forma de remuneração consiste na distribuição, propriamente dita, de uma parcela dos lucros auferidos pela organização, no período atual, ou anteriores, aos acionistas. A soma dos dividendos e juros, pagos aos investidores, é chamado de dividend yield, e deve ser utilizado para a análise da atratividade das ações de uma empresa.

Ação Div. Yield* (%)

Banespa PN 31,75

Eternit PN 31,33

Celpa PNA 29,55

Eternit ON 28,65

Banespa ON 28,61

Banese PN 25,56

Coelce PNA 20,95

Coelce ON 20,66

Souto Vidig ON 18,73

Petropar PN 18,45

Figura .....: As 10 empresas que mais pagaram dividend yield em 2003

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Observe que, de todas as organizações apresentadas, nenhuma é considerada uma blue chip. A ação preferencial do Banespa foi a recordista de pagamento de dividendos no período analisado, oferecendo a seus investidores uma remuneração de 31,75% sobre o valor do papel, se mantiver esse volume, em menos de quatro anos o investidor recupera o capital investido na empresa. Note, ainda, que o investimento realizado, em qualquer uma delas, retorna em menos de seis anos, desde que os dividendos continuem constantes, além da possibilidade de ganhos com a valorização da empresa no mercado. Daí, a importância do acompanhamento dos resultados das organizações que você investir o seu dinheiro. Com o advento da Internet, investir em ações ficou muito melhor. As corretoras disponibilizam, para seus clientes, relatórios detalhados, onde são apontados, por exemplo, fatos relevantes, desempenho e recomendações de investimentos. Além disso, existem jornais, revistas e toda uma literatura especializada, destinadas a contribuir com informações e facilitar o aprendizado e os investimentos dos interessados em aplicar no mercado de ações. Mas, para isso, precisamos entender, também, o funcionamento da principal instituição para negociação de ações, as bolsas de valores, e as outras modalidades de investimentos que elas oferecem. Vamos lá? Bolsas de valores

Há alguns anos, em minha cidade, alguns negociantes de veículos usados começaram a se reunir próximo ao parque agropecuário. O que era um pequeno grupo de vendedores logo se tornou um evento, inclusive com serviço de auto-falantes e associação de vendedores. Durante alguns anos, o local apresentou inúmeros problemas, como a comercialização de produtos falsificados, contrabandeados e furtados, com constantes batidas policiais, sempre sob protestos dos negociantes que ali estavam. Essa situação fez surgir a necessidade de uma reorganização, no modo como o ¨feirão¨ estava funcionando. A associação providenciou cordas para a delimitação de um espaço, onde os vendedores, devidamente cadastrados, ofereceriam os veículos para os compradores interessados, e eram proibidos a comercialização de produtos de origem duvidosa. Isso fez com que a confiança dos compradores aumentasse, possibilitando o florescimento de novos negócios e o crescimento do número de vendedores, que precisavam de um novo local, visto que a área que estava sendo utilizada mostrava-se inadequada. Além disso, a feira funcionava como um termômetro do mercado de veículos usados. Se alguém possuísse um veículo, e quisesse saber o seu preço, bastava perguntar a um vendedor, ou corretor, que seria informado imediatamente. Do mesmo modo, se o interesse fosse na aquisição, bastava pesquisar entre os vendedores presentes, pois assim conseguiria ter uma idéia do valor justo do veículo. Lógico que, como muitos negócios, o mercado de veículos usados apresenta características particulares que precisam ser entendidas para a realização de

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bons negócios. Algumas informações, como o ano e o modelo, se ainda é fabricado, o custo de manutenção, a facilidade de revenda, o número de proprietários que o veículo já teve, se é alienado, as colisões que sofreu, são algumas variáveis que influenciam profundamente o valor de dois veículos aparentemente iguais. Estou dando este exemplo, bastante simples, para que possamos entender o que são as bolsas de valores. Na verdade, são apenas locais de negociação, para onde convergem os interesses de compradores e vendedores, interessados na negociação de ações de empresas, buscando o aumento de sua riqueza. Ou seja, você não compra as ações da bolsa, mas, simplesmente, na bolsa. Elas são criadas por corretoras de valores, como associações civis, sem fins lucrativos, e que reinvestem seus lucros no desenvolvimento da estrutura do mercado, através de projetos que venham contribuir para o crescimento e consolidação do mercado de ações. E por que elas fazem isso? Pelo nobre interesse de contribuir para o desenvolvimento econômico do país? A resposta é não! A verdade é a de que elas ganham comissões de cada negociação realizada de compra ou venda de papéis, e operam no ambiente propício para obtenção do lucro especulativo. Atualmente existem no mercado aproximadamente 261 sociedades corretoras de valores. A Boverj, bolsa de valores do Rio de Janeiro, e a Bovespa, bolsa de valores de São Paulo, possuem 77 corretoras membros cada. As 107 corretoras restantes são filiadas às demais bolsas de valores. É interessante frisar que, além das corretoras, existem outros atores operando no mercado de capitais, como as distribuidoras de valores e os investidores institucionais, que são os fundos de investimento, instituições de previdência privada e seguradoras, que são obrigadas a investir parte de suas reservas no mercado de ações. É interessante observamos que as negociações envolvem um dos bens mais preciosos para os seres humanos, o dinheiro. Por aproximadamente cem anos, desde a proclamação da República, a Bolsa de Valores do Rio de Janeiro foi a maior do Brasil. No final da década de oitenta, ela foi sacudida por um escândalo envolvendo seu presidente e um dos principais especuladores no mercado de ações daquela época, o sr. Naji Nahas, e nunca mais se recuperou. Atualmente, ela negocia, basicamente, títulos da dívida pública, sendo as ações de empresas negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, ou seja, neste mercado, credibilidade é sinônimo de vida ou morte. O desempenho da bolsa é apresentado, normalmente, na forma de um índice. No caso brasileiro, pelo Ibovespa, que é o índice da bolsa de São Paulo. Este índice simboliza as variações ocorridas no valor das empresas em determinado período, normalmente diário, que compõem o seu cálculo. Existem mais de quatrocentas empresas negociando seus papéis na bolsa brasileira neste momento, mas apenas 54 (cinqüenta e quatro) são utilizadas para o cálculo do índice. Em um dia de negociações comum, é normal que ocorram variações positivas e negativas no valor das empresas no mercado. Então, quando assistimos aos telejornais, e somos informados que a bolsa opera em alta, ou em baixa, isso não quer dizer que todas as ações estejam subindo, ou

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descendo, mas que, na média, esse é o desempenho do mercado como um todo. Vale ressaltar, ainda, que as empresas que compõem o índice possuem valores diferentes, sendo que as variações ocorridas em suas ações podem impactar o desempenho de maneira positiva ou negativa. Atualmente, as empresas de maior importância no mercado brasileiro são a Telemar e a Petrobrás. As empresas escolhidas para compor o índice são as que apresentarem a melhor liquidez, ou seja, a capacidade de negociação do papel, no período dos últimos três meses, quando são escolhidos novos papéis para compor o índice. Existem diversas modalidades de negócios que podem ser realizados nas bolsas de valores. Além da aquisição de ações, que é chamado de mercado à vista, pode-se aplicar, por exemplo, em oportunidades no mercados a termo, futuro e de opções, que serão tratados posteriormente, e que são considerados altamente especulativos. Finalizando, vale informar que as bolsas de valores possuem autonomia financeira, patrimonial e administrativa, e estão sujeitas a fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e as diretrizes emanadas pelo Conselho Monetário Nacional, que é o órgão máximo do governo designado para a regulamentação do sistema financeiro brasileiro. O Recinto das Negociações (Pregão)

Sempre que estamos assistindo ao telejornal, e inicia-se o bloco de notícias econômicas, os apresentadores começam a mostrar o desempenho do mercado financeiro. Normalmente, as imagens que são colocadas ao fundo mostram algumas pessoas frenéticas, utilizando vários aparelhos telefônicos ao mesmo tempo, com quadros luminosos indicativos e telas de televisão aonde aparecem os valores das últimas negociações com cada ação. Os operadores, às vezes, parecem zumbis, tal o grau de concentração nos números que são mostrados. È neste ambiente que os compradores e vendedores de ações, através de representantes das sociedades corretoras membros, também chamados de operadores, realizam seus negócios. Eles emitem uma ordem de compra e/ou venda a corretora, e esta se encarrega de executá-la no pregão, através de seus operadores. O processo de negociação pode ser: comum: quando realizada entre dois representantes no pregão; direta: quando o mesmo operador compra e vende simultaneamente.

Esta negociação é feita por um representante da Bolsa e deve-se aguardar a manifestação de outros operadores. Se houver oferta melhor, esta prevalecerá, a menos que seja feita outra oferta pelo primeiro proponente;

por oferta: é realizada entre dois operadores, sendo que um deles é representado pelo posto de negociação (na Bolsa) em que deixou registrada sua oferta. Assim um operador pode simultaneamente

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registrar sua oferta de compra e venda e havendo algum interessado ela será fechada sem a sua presença.

Na verdade, a maioria dos negócios é realizada através do pregão eletrônico, onde é disponibilizado, através de uma tela de computador, as últimas ofertas de compra e venda de cada ação. No pregão de viva-voz, como é chamado a negociação envolvendo a presença física de corretores, só são negociados as ações que compõem o índice Bovespa, e acima de determinado volume. Algumas bolsas de valores mundiais, como a americana Nasdaq, funcionam exclusivamente com o pregão eletrônico. Outras, como a de Nova Iorque e a Bovespa, ainda utilizam o sistema de viva-voz. Para os defensores dessa modalidade, existe o argumento de que a movimentação visual do mercado permite a identificação de tendências no comportamento dos investidores, facilitando o processo de tomada de decisão de compra e venda de ações. Mercado a termo

Às vezes, quando estou pensando no mercado de capitais, eu me surpreendo com a criatividade do ser humano. São oferecidas oportunidades de negócios para todos os tipos de investidor, principalmente os mais agressivos. Apesar de ferir a sensibilidade dos principais negociadores, na minha opinião, algumas modalidades de investimento são, na verdade, um jogo. Que outro nome posso dar a investimentos cujo desempenho não tenho condições de prever? Especulação? Dentre essas modalidades de maior risco, estão as operações a termo. Elas podem ser realizadas com diversos tipos de ativos financeiros. Na bolsa de valores, são negociados contratos a termo de ações, e, na bolsa de mercadorias e futuros, contratos de commodities como soja, algodão, café, minério de ferro, alumínio, carne bovina, moedas estrangeiras, taxas de juros, entre outros. Essa operação caracteriza-se por um contrato, em que o comprador e o vendedor formalizam um negócio de compra e venda de um ativo financeiro para liquidação futura, com preço e prazo pré-determinados no presente. Ou seja, um aposta a favor e o outro contra. Isso, para mim, é jogo. O objetivo, de quem opera no mercado a termo, é o de assegurar um preço satisfatório tanto para a compra como para a venda do ativo. No caso de compra a termo, o investidor acredita que os ativos que ele deseja adquirir estão com o preço subavaliados (baixos) no mercado à vista. O mesmo raciocínio pode ocorrer para quem vende os ativos a termo. O investidor acredita que o preço da venda a termo está superavaliado (caro) em relação ao preço do mercado à vista. Vamos dar um exemplo. Determinada companhia divulgará os seus resultados em algumas semanas, e um dos investidores acredita que será melhor do que o esperado, se isso acontecer, as ações da empresa podem se valorizar, em relação ao preço atual, e isso faz com que ele procure um outro investidor, que não compartilhe da mesma opinião, esperando um acontecimento inverso, e os dois fechem um contrato a termo. Se na data da divulgação dos resultados, a

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expectativa positiva se concretizar, o vendedor é obrigado a entregar a quantidade de ações no preço negociado. Em caso de desvalorização, o comprador é que têm de pagar o preço combinado no contrato, sendo que, no mercado, a ação está com um preço menor. Não discuto a importância, para a economia, dos contratos a termo, principalmente de commodities. Afinal, se um agricultor, que possui um custo fixo para sua plantação de soja, e está sujeito as variações no preço de seu produto, consegue negociar, antecipadamente, o preço de venda de parte de sua produção, ele estará protegido, pelo menos um pouco, das oscilações provocadas por supersafras ou quebras de produção. Essa operação é conhecida como hedge, ou uma espécie de seguro. Você pode, então, me perguntar: por que ele não negocia logo tudo? Pelo fato de que, quem atua na ponta compradora, normalmente oferece um preço menor do que o praticado no mercado atualmente, buscando obter lucros com estas operações, e o produtor também espera que, na época da comercialização, o preço seja maior do que o oferecido nos contratos a termo, auferindo maiores lucros na venda de seus produtos. No final das contas, todo mundo quer a mesma coisa: ganhar mais dinheiro. As operações a termo são contratados por prazos determinados, entre comprador e vendedor, para liquidação futura e a um preço fixo. Para que elas possam ser realizadas, devem ser depositadas garantias, nas contas mantidas pelos investidores, nas corretoras e distribuidoras de valores. Essas garantias podem ser ações, dinheiro, ou outros ativos financeiros negociados no mercado, ou seja, não se pode especular somente com a vontade, mas com as garantias reais de que se possui a capacidade financeira de se suportar as perdas que podem acontecer. E, agora, uma última observação. Todas as ações negociadas na bolsa de valores podem ser objeto de um contrato a termo, desde que existam compradores e vendedores interessados em negociá-las.

Mercado futuro de ações Outra modalidade de negociação, disponível no mercado de capitais, são as operações a futuro. Neste tipo de investimento, o investidor pode comprar ou vender ativos financeiros para entrega futura, numa data de vencimentos pré-determinada. Existem vencimentos em aberto para todos os meses, a única regra é a de eles serão sempre nas terceiras segundas-feiras de cada mês, para que você possa fazer uma previsão para o fechamento da operação. Para entrar numa posição a futuro, o investidor não paga nada. Ele apenas deverá fazer um depósito de margem diariamente, de acordo com a flutuação das cotações, pagar, ou receber, ajustes diários, que nada mais são do que uma antecipação do resultado. O valor reduzido da margem permite ao investidor assumir posições com um desembolso inicial menor, suficiente para cobrir os seus riscos.

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Mas o que isso quer dizer? Vamos explicar de uma maneira mais simples. Apesar do valor da operação só ser conhecido no seu vencimento, no ato do fechamento do contrato o valor atual do ativo já é estabelecido. Por exemplo, negociei a venda futura, para o próximo mês, de 1000 ações preferenciais da Petrobrás, identificadas no mercado pelo nome de PETR4, e cotadas, hoje, a R$ 69,00 (sessenta e nove reais). Não é necessário que eu possua as 1000 ações, ou R$ 69.000,00 (sessenta e nove mil reais), mas as garantias para honrar, diariamente, as variações que a cotação possa ter. Se, amanhã, o valor aumentar para R$ 71,00 (setenta e um reais), é efetuada um bloqueio, na minha conta, no valor de R$ 2.000,00 (dois mil reais), correspondentes a variação de R$ 2,00 (dois reais), em um negócio de 1000 ações. Se o valor cair para R$ 67,00 (sessenta e sete reais), o bloqueio é feito na conta do comprador, pois ele se comprometeu a me pagar R$ 69,00 (sessenta e nove reais) na referida ação. Esses ajustes são feitos diariamente, até o vencimento do contrato, quando é realizada a apuração final, descobrindo-se quem lucrou ou perdeu com o negócio, mas posso realizar uma operação inversa antes disso, saindo da aplicação, e colhendo seus resultados. Novamente, o que tenho, é uma aposta, que posso fazer com valores menores do que os necessários para comprar, efetivamente, as 1000 ações. Não é incrível? Durante a vigência do contrato, o investidor pode aumentar ou diminuir sua posição, negociando contratos no mercado, independentemente da contraparte inicial. Ele assim fica livre para ajustar sua posição ou estratégia em decorrência da evolução das condições de mercado. Quer dizer, ele pode comprar e vender o mesmo papel por diversas cotações diferentes, buscando diminuir seus riscos ou aumentar os lucros. No vencimento, as posições em aberto remanescentes devem ser liquidadas por entrega, isto é, são liquidadas mediante a transferência de ações do vendedor para o comprador e de dinheiro do comprador para o vendedor, pelo último preço de ajuste do mercado. Em uma operação a futuro, o investidor pode assumir uma posição compradora, de um contrato a futuro, ou uma posição vendedora de um contrato a futuro, da ação de uma empresa “x” podendo assumir a posição de vendedor ou comprador coberto ou a descoberto. Caso o investidor comprador a futuro deseje sair de sua posição compradora, basta ele realizar uma operação de venda a futuro da mesma ação para a mesma data (operação inversa), zerando sua posição e apurando lucro ou prejuízo na operação. Desde que existam, no mercado, investidores realizando este tipo de operação. O mesmo ocorre com o vendedor a futuro, que para sair de sua posição vendedora descoberta, tem que realizar uma operação de compra a futuro, da mesma ação, para a mesma data (operação inversa), zerando a sua posição e apurando lucro ou prejuízo na operação.

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Mercado de opções de ações Como nós estávamos dizendo, as modalidades de investimento, para você aplicar seus recursos no mercado de capitais, são imensas. Além do mercado à vista, e futuro, existe, ainda, as opções de ações. Vamos tentar entendê-lo melhor. O pressuposto básico, dos investimentos no mercado financeiro, é o de que todo mundo quer ganhar dinheiro e, para isso, precisam ser realizados negócios, envolvendo ativos, que no caso do mercado de opções, são as ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo, a Bovespa. É importante salientar que todas as posições, de compra ou venda, são fechadas na terceira segunda-feira de cada mês, existindo opões para todos os meses do ano, divulgadas antecipadamente. As opções são divididas em compra e venda. Se eu ofereço uma opção de compra de certa quantidade de uma ação, a preferencial da Telemar, por exemplo, a determinado preço, e encontro um investidor que a adquire, de acordo com a cotação do mercado naquele momento, sou obrigado, em caso de exercício do direito de compra pelo comprador, a entregar os papéis no preço combinado, independente de seu valor no mercado. É claro que o comprador só exercerá seu direito de compra de for lucrativo, ou seja, se o preço combinado comigo for inferior ao valor atual do mercado, pois, do contrário, é muito melhor comprar as ações no mercado à vista. O nome, que é dado no mercado, para quem oferece uma opção de compra, ou de venda, é o de lançador, que pode ser coberta, no caso de realmente possuir os papéis que estou oferecendo, ou descoberta, onde devo possuir os recursos necessários, depositados na corretora, para garantir o negócio. O raciocínio das aplicações em opções é muito parecido com o mercado futuro, sendo que, a diferença fundamental, está no fato de que o comprador da opção, que pode ser de compra, ou de venda, não é obrigado a efetuar o negócio, pagando um prêmio por esse benefício, diminuindo os riscos de prejuízo. Ainda não entendeu? Vamos dar um exemplo. Suponha que você possua mil ações preferenciais da Petrobrás, as chamadas PETR4, que adquiriu a R$ 83,00 (oitenta e três reais) cada, totalizando um investimento de R$ 83.000,00 (oitenta e três mil reais), e queira procurar uma oportunidade de ganhar mais dinheiro com esse ativo e, para isso, você lança uma opção de compra, no dia 12 de janeiro, a R$ 86,00 (oitenta e seis reais). Neste momento, a tendência do mercado é de alta, e a ação da Petrobrás está cotada a R$ 85,00 (oitenta e cinco reais), e o prêmio, oferecido por essa opção, chamada de PETRA86, onde a letra A significa que é uma opção de compra do mês de janeiro, e 86 o valor da opção, está em R$ 1,50 (um real e cinqüenta centavos). Isso quer dizer que, chegando a terceira segunda-feira do mês de janeiro de 2004, ou dia 19, e a cotação da PETR4 for de R$ 84,00 (oitenta e quatro reais), pois a tendência de alta do mercado se inverteu, com os investidores vendendo ações e realizando lucros, o comprador da opção preferirá lhe pagar R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), e desistir do

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exercício da opção, do que exercer o direito de compra, pagando R$ 87.500,00 (oitenta e sete mil e quinhentos reais), referentes ao prêmio, e as ações. Existe, ainda, outra possibilidade. Imagine que a ação valorizou-se a R$ 87,00 (oitenta e sete reais), nesse caso, é mais vantajoso para o comprador da opção exercer o seu direito, pois diminuirá seu prejuízo, desembolsando R$ 87.500,00 (oitenta e sete mil e quinhentos reais), e vendendo as ações por R$ 87.000,00 (oitenta e sete mil reais), perdendo R$ 500,00 (quinhentos reais), ao invés dos R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais), que perderia se não tomasse essa atitude. Novamente, percebemos que o segredo do investimento está na realização de cálculos, e de estratégias bem elaboradas, para o incremento dos lucros, ou a diminuição das perdas. Por outro lado, se a tendência não se inverter, e o papel chegar, na segunda-feira, ou mesmo, antes disso, a R$ 90,00 (noventa reais), o comprador pode exercer a opção de compra, pelo preço combinado de R$ 86,00 (oitenta e seis reais), mais o prêmio de R$ 1,50 (um real e cinqüenta centavos), por ação. No seu caso, que possui o papel, não tem problema nenhum, porque você está ¨coberto¨. Se você lançou uma opção a descoberto, ou seja, sem possuir os papéis, estará obrigado a ir ao mercado, comprar pelo preço que estiver sendo negociado, e entregar no preço combinado. Legal, não é mesmo? Vamos imaginar, agora, outra situação. Você lançou, e vendeu, a opção por R$ 1,50 (um real e cinqüenta centavos), pois a tendência do mercado era de alta, com a possibilidade da ação romper a cotação de R$ 86,00 (oitenta e seis reais). De repente, sem nenhum aviso, os investidores acreditam que está na hora de realizarem seus lucros, ou seja, venderem os papéis, que adquiriram por um valor menor, e apurarem seus ganhos. Sabemos que, sempre que a ponta vendedora é maior que a compradora, a tendência é de queda, invertendo a situação. Com isso, a opção, que chegou a ser negociada a quase R$ 2,00 (dois reais), com você se lamentando por ter vendido a R$ 1,50 (um e cinqüenta reais), cai para R$ 0,07 (sete centavos). O que pode ser feito? Compre uma opção de compra, na mesma quantidade de ações que vendeu, pela nova cotação, e apure um ganho de R$ 1,43 (um real e quarenta e três centavos), pois, mesmo que a tendência se inverta novamente, e o seu comprador exerça a opção, você, também, poderá exercer a que comprou, no mesmo valor da ação, pagando menos pela opção. O raciocínio, para o lançamento de opções de venda, é o mesmo, ou seja, ao oferecer este tipo de investimento, você se compromete a comprar, caso o comprador da opção de venda exerça o direito, a ação pelo preço combinado. Verificamos, então, que na verdade, o comprador paga pelo direito de escolher se quer comprar, ou vender, determinado ativo, de acordo com suas estratégias de investimento. Finalizando, caso você queira efetuar transações no mercado de opções de ações, fique atento às distribuições de dividendos efetuadas pelas empresas, pois, a partir do momento que elas acontecem, as ações passam a ser comercializadas ¨ex-dividendos¨, ou seja, descontando o valor que foi pago de seu valor. Por exemplo, suponhamos que a Petrobrás anunciou dividendos, líquidos do imposto de renda, de R$ 2,45 (dois reais e quarenta e cinco

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centavos), para os portadores de ações da empresa. A partir da data combinada para a verificação de quem são os proprietários das ações, como o dia 19 de novembro de 2003, no outro dia elas já são negociadas, no mercado de opções, como ¨ex-dividendos¨, ou seja, se você lançar uma opção de compra, com o código PETRL70, que significa que você se comprometeu a vender ações preferenciais da Petrobrás, em dezembro, por R$ 70,00 (setenta reais), e elas forem exercidas, o comprador pagará R$ 67,55 (sessenta e sete reais e cinqüenta e cinco centavos), que é o valor combinado, menos os dividendos que as ações pagaram no período, mesmo que não tenha sido você que recebeu. Sabe como eu aprendi? Depois que fiz um negócio e não ganhei o quanto eu esperava, lucrando, somente, a experiência, e o aprendizado. Pelo menos não tive prejuízo, o que já é uma grande coisa. Existem especuladores, até mesmo em minha cidade, que ficam o dia inteiro de olho em monitores, acompanhando o comportamento do mercado financeiro, e emitindo ordens de compra e venda de opções de ações, em operações chamadas de ¨intraday¨, ou, mesmo dia. Às vezes, quando vou a sala de ações da corretora que me atende, que é pequena, vejo sempre cinco ou seis investidores, discutindo estratégias de negócios, as tendências dos mercados mundiais e realizando suas apostas, se é que posso chamar assim. É um clima interessante, com uma televisão ligada, constantemente, em um canal de notícias financeiras, o Bloomberg, se não me engano, e jornais de negócios, como Gazeta Mercantil, e Valor Econômico, juntamente com relatórios com análises do mercado, disponibilizados, nas mesas, para os clientes, com dois operadores para transmitirem as ordens de compra ou venda, de qualquer ativo negociado na bolsa de valores. Me policio constantemente, para não me deixar levar pela emoção do negócio, pois a possibilidade de vício, mesmo negada por todos, é muito maior do que realmente admitimos, como em todo jogo. Aconselho, finalmente, a qualquer pessoa que queira aventurar-se em operações com opções, que o faça, somente, depois de algum tempo realizando negócios no mercado à vista, para que se familiarize com a dinâmica do funcionamento da bolsa de valores, disponibilizando um tempo maior, em sua agenda, para acompanhar as oscilações do mercado de capitais. Fora isso, boa sorte, bons negócios e, o melhor de tudo, bons lucros!

6.1.8 Seguro de bens, vida e saúde

Há algum tempo atrás, estava lendo um artigo, onde o autor apresentava as modalidades de ¨investimentos¨ em seguros disponíveis no mercado. Fiquei pensando, um instante, em alguns conceitos, mas acabei voltando àquele que diz que ¨investimentos são desembolsos que buscam retorno¨, ou seja, o aumento da minha riqueza. Sendo assim, um seguro não poderia ser considerado um investimento, pois ele não aumentaria o ¨meu¨ patrimônio. Continuei analisando e mudei, um pouco, minha opinião, pois cheguei a conclusão de que posso considerar algumas modalidades de seguros como investimento, não para mim, mas para o beneficiário que indicar em meu

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seguro de vida, por exemplo. Afinal, como disse Benjamin Franklin, as únicas certezas da vida são a morte e os impostos. Apesar de parecer mórbido, essa é a pura realidade. Todos os tipos de seguro são melhores se não forem usados, pois, pela sua própria natureza, estão associados a algum tipo de problema que podemos enfrentar em nossas vidas. A indústria do seguro teve um crescimento enorme nos dois últimos séculos, impulsionada, principalmente, pela teoria das probabilidades, que auxiliou as empresas em suas análises de riscos, propiciando a determinação de prêmios compatíveis com as possibilidades dos sinistros ocorrerem. Novamente, volto a te lembrar do princípio básico do capitalismo, que é a obtenção de lucro. Nenhuma organização sobrevive sem resultados positivos, o problema é que, algumas vezes, os produtos oferecidos não correspondem às verdadeiras necessidades dos clientes, mas, simplesmente, a procura por lucros cada vez maiores das empresas. Acredito que o seguro não deva ser visto como um investimento, mas como uma maneira de diminuir os riscos de suas aplicações, ou patrimônio, dos imprevistos que a vida nos reserva. Em algumas situações, prefiro correr o risco de não possuí-lo, por achar que é uma despesa que proporciona uma melhor rentabilidade investida no mercado financeiro. Vamos explicar melhor. Imagine que uma pessoa trabalhou vários meses, ou anos, para adquirir um automóvel, e ele é o maior patrimônio que ela possui. Em caso de um acidente, furto ou roubo, o impacto nas finanças pessoais é tremendo, ainda maior se o veículo foi financiado. Nesse caso, possuir seguro é uma condição imprescindível. Mas, sempre que me perguntam, qual o veículo ideal para cada pessoa, respondo que carro não é investimento, mas bem de consumo, e que, em minha opinião, seu valor não pode representar mais do que 15% dos seus investimentos. Quer ter um carro de R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais)? Construa, primeiro, um conjunto de investimentos de, pelo menos, R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais). Note que não me refiro a patrimônio, pois se minha residência está avaliada em R$ 250.000,00 (duzentos e cinqüenta mil reais), ela não me proporciona nenhuma receita, somente despesas. Vamos aprofundar um pouco mais neste exemplo, que é importantíssimo. Conforme já falamos anteriormente, acredito que todos conhecemos alguém que não consiga encaixar receitas e despesas, estando sempre endividado e procurando novas formas de ganhar mais. Normalmente, esta é a primeira preocupação, um aumento de salário, para que as despesas possam ser pagas mais facilmente, além da aquisição de outros bens que sempre sonhamos, como um home theater, por exemplo. Tenho um amigo de longa data, que encaixa-se perfeitamente neste biotipo. Quando éramos universitários, ele possuía o melhor salário de nossa turma de amigos, de aproximadamente cinco salários mínimos, e vivia sempre apertado.

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Ao final da graduação, conseguiu arranjar uma colocação ainda melhor, e passou a receber quase vinte salários mínimos, e ainda não sobrava dinheiro. Carro novo financiado, lote à prestação, compras no cartão de crédito, utilização do limite do cheque especial, são algumas das despesas que faziam parte de seu fluxo de caixa. Finalmente, depois de vários anos de aperto, resolveu ouvir nossos conselhos, parou de quitar um carro e financiar outro, vendeu o ágio do lote, fez um empréstimo pessoal e liquidou o cartão de crédito e o cheque especial, esforçando-se para não adquirir nada que não tenha sido planejado antecipadamente, e sua situação financeira melhorou consideravelmente. Este é, no meu entender, um dos maiores desafios de qualquer pessoa. Deixar de trabalhar para ganhar dinheiro e colocar o dinheiro para trabalhar para nós, ou seja, ao invés de pensar, no curto prazo, em adquirir uma porção de bens novos, como um apartamento, automóvel, computador de mão, ou, até mesmo, um telefone celular, devo investir meus recursos para, com o seu fruto, adquirir tudo aquilo que desejo, possuindo uma renda estável para mantê-los. Isso é uma questão de mentalidade, trocar o agora pelo amanhã, ou seja, conseguir conter o consumismo e o imediatismo. Note que, em nenhum momento, estou afirmando que você deva abrir mão de seus sonhos, mas, simplesmente, planejar para que seus sonhos aconteçam, e não se transformem em pesadelos. Eu só consegui esta transformação depois de passar por problemas financeiros profundos, que me aconteceram e que ainda me afetarão por muitos anos, para mudar a idéia que tinha das coisas. Existe um ditado popular que afirma que se conselho fosse bom, não era dado, e sim vendido. Se você está lendo este livro, então estes conselhos não são de graça, pois ele teve um custo. Por outro lado, costumo usar um exemplo em sala de aula que, se não é o melhor, foi o que passei a utilizar em minha vida. Imagine-se em uma guerra, daquelas que assistimos em vários filmes americanos, e presenciou um soldado, que nem era seu conhecido, tropeçar em um fio, que é ligado a uma bomba, e boom, explodiu. Você não precisou explodir para aprender a ter mais cuidado e olhar melhor por onde anda, pois corre o mesmo risco que ele. Eu explodi, por sorte sobrevivi, mesmo que com algumas seqüelas, mas aprendi com a experiência, que é o mais importante, e estou tentando compartilhar este aprendizado, para que outras pessoas não precisem passar por tudo aquilo que sofri. É lógico que, para a maioria das pessoas, esta situação não é fácil de ser alcançada. Poupar cem mil reais, resistindo às tentações consumistas, e possuindo um carro de, no máximo, quinze mil, não é uma tarefa fácil, mas é a sua realização que diferencia as pessoas que possuem resultados em seus investimentos a longo prazo, daquelas que estão sempre com a corda no pescoço. Então eu recomendo que, enquanto você não consegue enquadrar seu carro, moto, lancha e jet ski nessa condição, ou seja, de representarem, somados, no máximo 20% dos seus investimentos, continue a adquirir seguros. Na hora que

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alcançar este objetivo, não precisa renová-los, pois se perder, mesmo que totalmente, qualquer um desses bens, o impacto será dolorido, mas não o levará à falência. Vou te mostrar, através de cálculos, o porque desta recomendação. Os seguros de veículos variam, normalmente, de 5% a 10% de seu valor, dependendo do custo para o reparo, em caso de acidente, ou da probabilidade do carro ser roubado. Imagine que adquiriu um veículo de, aproximadamente, R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), e o seguro total custou R$ 2.040,00 (dois mil e quarenta reais), divididos em doze parcelas de R$ 170,00 (cento e setenta reais). Quanto tempo seria necessário para que, investindo as prestações mensais em títulos públicos, com rentabilidade de 1% ao mês, líquido da inflação, eu pudesse comprar outro carro? Observe as contas na HP 12c: Digite 170 (valor da parcela) e tecle CHS e PMT Digite 1 (taxa de juros) e tecle ¨i¨ Digite 25000 (valor futuro) e tecle FV Aperte ¨n¨

A resposta é de que são necessários aproximadamente 90 meses, ou sete anos e meio. Para fazer uma conta boba, posso imaginar minha idade atual, diminuí-la de quando adquiri meu primeiro veículo, encontrando o número de anos que já possuí um automóvel, e fazer a conta de quanto possuiria se, ao invés de ter feito o seguro deles, tivesse aplicado o recurso em produtos financeiros. A conta ficaria assim: 170 (valor de uma parcela) CHS PMT 1 (taxa de juros) ¨i¨ 180 (número de meses equivalente a quinze anos) ¨n¨ FV

A resposta é um pouco desalentadora, pois aparece o valor de R$ 85.777,91 (oitenta e cinco mil, setecentos e setenta e sete reais e noventa e um centavos), o suficiente para adquirir mais de três carros do modelo que possuo atualmente, com a diferença que todos os meus acidentes foram pequenos, e nunca tive o desprazer de ser vítima de furto ou roubo de veículos de minha propriedade. Só existe um problema, não teria a sensação de segurança que possuir o seguro me proporciona. Mas aqui vai outra recomendação, não adianta não fazer o seguro e gastar o dinheiro. É necessário que os recursos que seriam gastos sejam direcionados para investimentos, para que você não seja surpreendido em um momento de imprevisto, e fique sem ambos, o carro e a grana, e ainda jogue a culpa em mim. A conta fica ainda pior se utilizarmos o exemplo da minha família. Há alguns anos atrás, possuíamos quatro carros, sendo uma camionete S-10 de meu pai, um Tempra, um Escort e um Golf, dos três irmãos solteiros, todos com mais de três anos de uso. Por serem veículos cujo reparo demandam uma maior

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quantia de recursos, além da probabilidade de roubo, o seguro, de todos eles, ficavam em valores superiores a 10%, chegando, até mesmo, a quase 20%, no caso da S-10 e do Golf, do seu valor de mercado. Sendo assim, decidimos que, ao invés da aquisição da apólice de seguro para cada veículo, investiríamos, mês a mês, os valores referentes as parcelas em um fundo de investimento em nome de nosso pai, que seria utilizado para o pagamento de qualquer sinistro envolvendo os carros de nossa família. Nós poupávamos o equivalente ao valor de um dos carros a cada dois anos, ou seja, o investimento cobria o risco de perder metade de um carro por ano. O acordo durou dois anos, um dos carros sofreu um pequeno acidente, e juntamos uma boa reserva, que foi dividida, pois meus irmãos decidiram se mudar para o Japão. Atualmente, não faço nenhum tipo de seguro, seja de automóveis, residencial ou de saúde, pois estou conseguindo construir as reservas que planejei para serem utilizadas, em caso de imprevistos, e decidi correr os riscos que possam acontecer em troca de possuir mais dinheiro. É uma opção. É a melhor? Por enquanto tem demonstrado ser a mais acertada. Não concorda comigo? Pois vou lhe dar outro exemplo, desta vez com um plano de saúde. Novamente vou utilizar minha família, mas você pode adaptá-lo a sua realidade sem nenhum problema. Meu pai está, atualmente, com sessenta e sete anos, minha mãe com cinqüenta e dois, eu tenho trinta e três e minha filha treze. Durante muitos anos nenhum de nós apresentou qualquer problema de saúde, até que, no ano passado, minha mãe começou a não se sentir bem, e teve que procurar diversos especialistas, realizando exames para o coração, pulmões e rins, todos pagos em dinheiro, pois não possuímos nenhum plano de saúde. Depois disso, procurei uma cooperativa de saúde, talvez a mais conhecida do Brasil, para fazer um orçamento e verificar a viabilidade de contratar um plano para nossa família, veja os preços que consegui:

Modalidade Preço

Homem de 33 e filha de 13 anos R$ 150,00

Homem de 33, filha de 13 e mãe de 52 anos R$ 270,00

Homem de 33, filha de 13, mãe de 52 e pai de 67 anos R$ 410,00

Figura....: Orçamento para aquisição de um plano de saúde É preciso salientar que, para a contratação do plano para meus pais, eles deveriam se submeter a uma bateria de exames, sendo que, qualquer problema pré-existente, estaria isento de cobertura pelo plano. Os preços acima referem-se a acomodações em enfermaria, sendo que em apartamento o valor a ser cobrado é maior. Sabemos que as empresas que oferecem planos de saúde precisam de resultados positivos para sobreviver, ou seja, se todos os participantes de seus planos necessitarem de atendimento médico, em pouco tempo elas não possuirão recursos, e falirão.

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Como tenho o hábito de fazer contas, construí os seguintes cenários, imaginando aplicações com taxa de juros mensais de 1%:

Parcela 5 anos 10 anos 20 anos

R$ 150,00 R$ 12.250,45 R$ 34.505,80 R$ 148.388,30

R$ 270,00 R$ 22.050,81 R$ 62.110,45 R$ 267.098,95

R$ 410,00 R$ 33.484,56 R$ 94.315,86 R$ 405.594,70

Figura ....: Aplicação mensal da parcela de um plano de saúde Todo o tratamento de minha mãe ficou em, aproximadamente, R$ 10.000,00 (dez mil reais). Verifique que, se aplicar o valor da mensalidade do plano, para toda minha família, durante cinco anos, obterei um montante de R$ 33.484,56 (trinta e três mil, quatrocentos e oitenta e quatro reais e cinqüenta e seis centavos), quantia mais do que suficiente para bancar a maioria dos procedimentos médicos necessários em nossa vida. Mas o que é verdadeiramente impressionante é o valor obtido após 20 anos de aplicações, de R$ 405.594,70 (quatrocentos e cinco mil, quinhentos e noventa e quatro reais e setenta centavos), que cobre, até mesmo, desembolsos a serem realizados para transplantes de órgãos, que custam, normalmente, valores inferiores a R$ 100.000,00 (cem mil reais). Você é adepto de planos de saúde? Está em dúvida do que fazer? Vou lhe dar o meu conselho, segui-lo, é escolha sua. Enquanto não possuir uma reserva substancial de recursos investidos, equivalentes a, pelo menos, vinte meses de salário, que garantam uma certa tranqüilidade em momentos de imprevistos, continue usuário desses produtos. A partir daí, já não considero vantajoso, e prefiro correr o risco a desembolsar um recurso que não volta mais. Tive o privilégio de ser convidado a realizar o módulo de finanças de um curso de pós-graduação oferecido a participantes de cooperativas de saúde de meu estado. É claro que opiniões como essa não são aceitas facilmente, principalmente por quem vende esses produtos, e fui confrontado com um argumento bastante desafiador, quando uma aluna me informou que, há pouco tempo, o caso de uma garota, portadora de um problema seríssimo, havia custado mais de R$ 1.000.000,00 (um milhão de reais) aos cofres da cooperativa, valor proibitivo a quase totalidade da população brasileira. Confesso que, em um primeiro momento, fiquei bastante chocado, pois imaginei-me vivendo essa situação. Mas minha racionalidade se impôs, e perguntei há quantos anos minha aluna trabalhava na cooperativa, sendo que a resposta foi de que era a mais de dez. E quantos casos igual a esse havia visto? Somente esse. Existe alguma genialidade nisso? É claro que não! Somente a teoria das probabilidades, pois, se existem, aproximadamente, 200.000 usuários, e um percentual superior a 0,0005% deles, ou seja, dois, apresentarem problemas como esse anualmente, provavelmente a cooperativa irá a falência, e, se isso ainda não aconteceu, é porque casos como esse são raríssimos, mas servem como ótimos argumentos de venda. Lembro de uma cena do filme Débi e Lóide, onde o personagem Débi, interpretado por Jim Carrey, está apaixonado por uma garota, que não dá a

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mínima para ele, e lhe pergunta se existe alguma chance de ser correspondido, e a resposta é não. Em seguida, refaz a pergunta, desta vez diminuindo a probabilidade, de uma para mil, e a resposta continua negativa. Nova tentativa, de uma para cem mil, e outra resposta negativa. Finalmente, pergunta se existe uma chance em um milhão, a garota pensa um pouco e responde que, nesse caso, existe uma chance. Ele sai dando pulos de alegria, pois existe uma probabilidade, mesmo que remotíssima, de ser correspondido. A mesma coisa vale para a aquisição de planos de saúde, a probabilidade de acontecer um problema seríssimo comigo, ou com algum membro de minha família, existe, do mesmo modo que ganhar na mega-sena, ser um cantor de sucesso, casar com a miss Brasil ou ser eleito presidente da república. Isso pode, ou não, acontecer, e a essa probabilidade damos o nome de risco. Este risco pode ser maior ou menor. Ao contratar um plano de saúde, você está tentando anulá-lo, mesmo sabendo que podem acontecer dissabores, como estamos cansados de ouvir falar, da empresa negar-se a efetuar o pagamento do tratamento, com uma série de alegações. Isso é um risco. Por outro lado, ao construir uma reserva de recursos, investidos não para esse fim, mas podendo ser utilizados, em caso de necessidade, é também uma tentativa de diminuir esse risco. A única coisa que não podemos fazer é ficarmos na chuva, sem plano e sem recursos, pois aí seremos uma presa fácil da vida e dos imprevistos que ela nos reserva.

6.1.9 Contratos de aquisição de animais

Nas minhas últimas férias, conclui a leitura de um livro bastante interessante, principalmente para quem investe no mercado financeiro, chamado Salve-se quem puder – uma história da especulação financeira, onde o autor mostra diversas ocasiões, através dos séculos, em que a ganância dos homens cegou completamente a sua racionalidade, construindo e destruindo fortunas em um piscar de olhos. A promessa de ganhos altos e fáceis seduz as pessoas, hipnotizando-as como um canto de sereia, até o momento em que se encontram afogados no fundo do mar. Essas situações apresentam, como em quase todas, perigos para todos os investidores. Os inocentes, que em sua ignorância se tornam vítimas perfeitas para as raposas do mercado, e as próprias raposas, que do alto de sua arrogância imaginam conhecer, e controlar, a situação, dominando todas as técnicas e os momentos para realizarem os seus negócios. Doce ilusão! Quantos especuladores suicidaram-se após o crack da bolsa de Nova Iorque em 1929, ou que continuam quebrando, ano após ano, com as mudanças que acontecem na economia mundial. A ambição humana, característica entendida por alguns como virtude, e, para muitos, como defeito, é conhecida e narrada em diversas estórias. O rei Midas, que transformava em ouro tudo em que tocava, ou, até mesmo, a busca pela pedra filosofal, capaz de transmutar qualquer metal em ouro, refletem bem essa característica.

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No decorrer dos séculos, sempre surgem momentos em que alguma mudança tecnológica, política, demográfica ou econômica, faz a riqueza de alguns, e a pobreza de muitos. As navegações, a exploração de ouro nas Américas, a revolução industrial, as bolsas de valores, a revolução da Internet, são alguns exemplos que a maioria das pessoas conhecem. No Brasil, especificamente, tivemos a oportunidade de presenciar uma oportunidade de investimento, na década de 90, que deixou um rastro de prejuízos a maioria das pessoas que nele embarcaram. Trata-se da aquisição de bovinos, na forma de arrobas, através de contratos de compra e venda de animais, realizados, principalmente, através das empresas Gallus e Fazendas Reunidas Boi Gordo. O negócio era relativamente simples. Você adquiria uma quantidade de arrobas de gado a determinado valor e data, e após um certo período, as arrobas seriam vendidas e o dinheiro retornaria, provavelmente acrescido de um bom lucro, demonstrado através de planilhas e históricos de cotações de mercado e outros negócios realizados, para o investidor. Fica uma pergunta muito importante: o que a empresa ganha com isso? Uma taxa de administração cobrada de todos os aplicadores, que deveria garantir o pagamento das despesas operacionais e gerar o lucro. Essas duas empresas quebraram, deixando investidores no prejuízo, até mesmo total, dos recursos investidos. As causas, citadas em reportagens de revistas, vão desde o desvio do dinheiro dos investidores, utilizado para outros fins que não a criação de gado bovino, até mesmo investimentos mal-sucedidos, como a construção de frigoríficos e aplicação em outros negócios. Para muitos ficou a perda, para alguns, a lição. Tenho acompanhado, ultimamente, um novo modismo entre os aplicadores dessa modalidade de investimento, que surgiu com toda força em meu estado, o avestruz. Mesmo com todo o esforço dispendido pelas empresas que atuam no ramo, a imagem da Boi Gordo, principalmente, ainda está viva na memória das pessoas, ficando muito difícil dissociá-la nesta modalidade de investimento rural. Mesmo assim, a promessa de grandes lucros é muito atrativa, fazendo os aplicadores comportarem-se como moscas em busca do mel, convencidos por argumentos de venda que soam como música a seus ouvidos, mas, em sua maioria, sem nenhuma base que resista a uma análise mais profunda. Como professor universitário de finanças, fui perguntado várias vezes se conhecia essa modalidade de investimento, seus riscos e possibilidades de lucros, sendo impelido a buscar maiores informações para conseguir responder a estes questionamentos, quando surgissem. Assim, visitei a uma dessas empresas em minha cidade, como um investidor comum, procurando entender a dinâmica de funcionamento do negócio, bem como as variáveis envolvidas.

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Como já disse neste livro, a perda da inocência, muitas vezes, não é uma coisa boa. Passamos a desconfiar de tudo e de todos, imaginando se não seremos vítimas de uma nova situação que traga-nos resultados desagradáveis. Em meu caso, os problemas financeiros que atravessei mostraram-me, da maneira mais clara possível, que o tratamento das pessoas quando você tem dinheiro é um, e quando está quebrado, é outro, portanto, não existe mágica, é tudo uma questão de receita e despesa, lucro ou prejuízo, déficit ou superávit, o resto é conversa para boi dormir. A mesma coisa acontece com qualquer organização. Todas precisam de recursos para custear suas despesas, até mesmo o governo. A necessidade de dinheiro é uma verdade universal no mundo em que vivemos, independente se em um sistema capitalista, socialista ou comunista, pois é através dele que nosso trabalho é remunerado, permitindo a aquisição dos produtos que necessitamos para nossa sobrevivência. Uma empresa nada mais é do que uma organização que procura oferecer alguma coisa por um preço maior do que seu custo, buscando lucro com esta operação. Assim, a primeira pergunta que precisamos responder antes de aplicarmos nosso dinheiro em qualquer oportunidade de investimento, em minha opinião, é a de como esses recursos serão remunerados, ou, traduzindo para um português mais claro: quem vai pagar a conta? Estou dizendo isso para que possamos entender a lógica dos negócios em que investimos. Qual era a lógica do investimento da empresa Boi Gordo? Você colocava seus recursos em dinheiro, que eram transformados em arrobas de gado bovino, após certo tempo, equivalente ao período de crescimento e engorda dos animais, a quantidade de arrobas aumentava, sendo vendidas a preço de mercado, proporcionando ganhos aos investidores. Na verdade, a sua idéia é muita parecida com um fundo de investimentos, só que os ativos, neste caso, eram os bois. Isso nos leva a pensar. Se a empresa não se responsabilizava e nem se comprometia a oferecer um ganho fixo aos investidores, era só comprar o bezerro, colocar no pasto, esperar crescer, vender, devolver os recursos com os ganhos e cobrar as taxas de administração. Relativamente fácil e lucrativo. Então vem a pergunta: como ela conseguiu quebrar? Vou tentar responder com uma boa dose de especulação, à luz dos meus conhecimentos e experiência profissional, bem como das informações que obtive a respeito dos acontecimentos desta empresa. Trabalhei, durante vários anos, com o transporte de bovinos para o abate em frigoríficos, presenciando todo o processo comercial e industrial de algumas empresas deste segmento. Em algumas conversas, os diretores nos diziam que, do boi, a única coisa que não se aproveitava era o berro, pois, do restante, até mesmo o esterco, que ainda estava nos intestinos do animal, possuíam valor comercial. Cascos, chifre, couro, cálculos biliares (utilizados como remédio no oriente e vendido a preço de ouro), pêlos, ossos, sebo, carne, só para citar alguns exemplos. Eu achava tudo fascinante, mas o que mais me chamava a atenção era presenciar o fazendeiro conferindo, no final do

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processo, a pesagem das carcaças dos animais, chamados de traseiros e dianteiros, para posterior recebimento. Ao perguntar o porque de tanto trabalho, um deles me respondeu que o valor que ele recebia era o peso da carcaça limpa, em arrobas, sendo que uma arroba equivale a quinze quilos, multiplicado pelo valor combinado com o frigorífico, que variava de acordo com a qualidade dos animais, sua idade, peso e sexo. Tudo que era extraído do gado, à exceção da carne da carcaça, chamado de ¨subprodutos¨, era de propriedade do abatedouro, e que, se ele não ficasse de olho, os funcionários eram orientados a caprichar na ¨limpeza¨ da carcaça, diminuindo o peso final, que seria utilizado para o pagamento do animal. Alguns pecuaristas levavam pesos de metal, para conferir se a balança estava, realmente, devidamente regulada, pois do contrário, diminuiria, ainda mais, os seus ganhos. Existem, também, profissionais autônomos, contratados pelos fazendeiros, e especialistas em acompanhar o processo de abate dos animais, que cobram por cabeça e conferem todo o processo. Vamos dar um exemplo. Suponha-se um animal que, pesado vivo, tenha um peso de trezentos e trinta quilos, ou vinte e duas arrobas. Após o abate, extraindo a cabeça, o couro, as entranhas, as patas e o sangue, tenha uma diminuição de 30% do seu peso inicial, caindo para, aproximadamente, duzentos e trinta quilos, ou quinze arrobas. Se o preço combinado for de R$ 58,00 (cinqüenta e oito reais) por arroba, o fazendeiro receberá R$ 870,00 (oitocentos e setenta reais) por este animal. Se em cada um, na hora da limpeza, o pecuarista perder uma arroba, em um abate de duzentas cabeças, o prejuízo será de R$ 11.600,00 (onze mil e seiscentos reais), uma quantia considerável, não é mesmo? Imagine-se, então, no lugar dos proprietários das Fazendas Reunidas Boi Gordo, criando milhares de animais e entregando-os para frigoríficos, de outros proprietários, abaterem, obtendo todo o lucro desta etapa da cadeia produtiva. Para que deixar outras pessoas ganharem dinheiro com os recursos que estão a sua disposição? Isso precisa mudar! Qual a solução? Agregar, também, este elo do ciclo produtivo a empresa, através da aquisição ou construção de um abatedouro. Só que, para isso, são necessários recursos, que serão utilizados na construção, ou aquisição de um abatedouro, mais o capital de giro, para a operacionalização do negócio. Qual o jeito mais fácil de obter esse dinheiro? Pegando as aplicações dos investidores da empresa, que deveriam ser direcionadas na criação de bovinos, e investindo em outras etapas da cadeia produtiva, como o transporte, abate e venda. Uma solução genial! Se as coisas fossem fáceis assim, o número de pessoas ricas seria muito maior. Ao expandir os seus negócios, a empresa aumenta, também, os seus riscos. Vamos falar de alguns:

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1. Risco financeiro: enquanto os investidores confiam na instituição, colocam seu dinheiro e recomendam a outras pessoas que façam o mesmo, existe um círculo virtuoso que garante um fluxo de caixa robusto para a empresa, permitindo que a saída de alguns seja garantida pela entrada de outros, sem maiores problemas financeiros. A partir do momento que a organização utilizou recursos em outros investimentos de menor liquidez, em comparação com o gado bovino, como frigoríficos, e a situação econômica muda, fazendo com que os aplicadores não renovem seus investimentos, a empresa corre o risco de não possuir capacidade financeira para liquidar seus compromissos, caminhando para a insolvência, como realmente aconteceu.

2. Risco de mercado: existe um ditado popular, muito conhecido, que diz ¨cada macaco no seu galho¨, ou seja, cada um deve fazer aquilo que entende. Isso quer dizer que cada negócio possui uma dinâmica própria, expressada pelos seus fornecedores, credores e clientes, que reagem de modo diferente a cada mudança do mercado. Se a cotação da carne caísse, o prejuízo seria do investidor, e a empresa continuaria recebendo sua taxa de administração normalmente, já se as taxas de inadimplência do frigorífico aumentassem, a venda da carne caísse, ou qualquer outro fator que o empurrasse ao prejuízo, este resultado seria bancado pela empresa, além dessas notícias influenciarem a opinião dos investidores a respeito dos outros negócios da organização.

3. Risco operacional: ao vender seu gado para o abate em suas próprias unidades, a empresa pode ceder a tentação de ¨caprichar¨ um pouco mais na limpeza do animal, diminuindo seu peso e, conseqüentemente, a remuneração do investidor, prejudicando seu negócio principal.

Tenho que deixar claro que administrar empresas no Brasil é uma tarefa sobre-humana, que exige, além de competência e conhecimento, um pouco de sorte. Nos últimos nove anos, fomos submetidos a uma série de crises, como as do México, Ásia, Rússia, ataque especulativo contra o Real e sua posterior desvalorização, racionamento de energia, quebra da Argentina, atentados terroristas nos Estados Unidos e eleição presidencial de 2002, para citar as mais famosas, e que afetaram profundamente a nossa economia. Em cada ocasião dessa, o governo adotou medidas de controle da inflação que impactaram o consumo e o crédito, através da administração das taxas de juros que remuneram os empréstimos públicos, diminuindo a liquidez, ou seja, a disponibilidade de dinheiro no mercado. Isso diminuiu o consumo, aumentou o desemprego e a inadimplência, com resultados horríveis para a maioria das empresas, menos os bancos, é claro! Se o governo paga taxas baixas de juros, eles ganham dinheiro emprestando para as empresas, do contrário, lucram emprestando para o governo, ou seja, eles sempre lucram. Muitas empresas não sobreviveram, principalmente aquelas que investiram confiando em um ambiente de estabilidade econômica a médio e longo prazo. Um dos reflexos imediatos da crise é a capacidade do investidor de procurar refúgio em oportunidades de aplicação mais seguras, como poupança e imóveis, por exemplo. Assim, uma grande quantidade de clientes dessas empresas decidiram sacar suas aplicações, comprometendo a sua capacidade

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de pagamento. A partir do momento que atrasa o primeiro, a notícia corre como um rastilho de pólvora, ocorrendo o chamado ¨efeito manada¨, ou seja, cada um querendo salvar o puder, antes que a empresa quebre, acelerando, ainda mais, esse processo. O restante é história, e todo mundo conhece. Contei tudo isso para que possamos voltar ao exemplo das avestruzes. A empresa oferece um negócio, como meu pai dizia, da China, comprovado por diversas informações, como a figura abaixo:

Avestruz Boi

Vida reprodutiva 40 anos 12 anos

Incubação/gestação 42 dias 270 dias

Tempo de engorda 12 meses 24 a 36 meses

Carne Um casal de avestruzes vai produzir 30 avestruzes x 45 kg de carne

1.350 Kg/ano 240 Kg/2 anos Regime de pasto

Couro – 30 avestruzes 30,9 m²/ano 3 m² ano

Plumas – 30 avestruzes 30 kg/ano -

Espaço para criação 2.000 m² p/ 25 cabeças 1 hectare/cabeça

Figura .....: Características dos animais O marketing é uma ferramenta poderosíssima para as empresas, e deve ser utilizado de maneira profissional e competente. Não possuo conhecimento, pois não sou da área, de que todas as informações acima são verdadeiras, mas como acredito na sinceridade humana, vou supor que são verídicas. Se comprar um casal de avestruzes, eles proporcionarão 30 filhotes por ano, ou seja, quinze vezes, ou 1500%, qual negócio produz essa rentabilidade? Mas isso não é tudo, o material promocional diz, ainda, que o quilo da carne é comercializado, no Brasil, por preços que variam de R$ 60,00 (sessenta reais) a R$ 80,00 (oitenta reais). Se um casal produz 30 avestruzes, que geram 45 quilos de carne cada, vendidos a esse preço, receberei R$ 94.500,00 (noventa e quatro mil e quinhentos reais) no período de um ano, se o casal custa R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil reais), terei obtido um lucro de R$ 70.500,00 (setenta mil e quinhentos reais), ou 294%, não é incrível? E ainda não contamos o couro, as plumas, e os ovos, que não eclodiram, e que podem ser utilizados para artesanato! Fala sério! A empresa oferece diversas modalidades de aplicação, sempre em avestruzes, de acordo com as características de cada investidor, de acordo com os exemplos abaixo:

Compra Venda Lucro Lucro %

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Filhotes de 90 dias, com recompra em 90 dias

R$ 1.680,00 R$ 2.146,70 R$ 466,70 27,78% em três meses, ou 9,26% ao mês

Filhote de 90 dias, com recompra em 60 dias

R$ 1.680,00 R$ 1.952,83 R$ 272,83

16,24% em dois meses, ou 8,12% ao mês

Casal 1ª. postura, recompra em 7 meses

R$14.100,00 R$ 22.800,00 R$ 8.700,00

61,7% em sete meses, ou 8,81% ao mês

Trio 1ª. postura, recompra em 7 meses

R$ 23.150,00 R$ 36.100,00 R$ 12.950,00

55,94% em sete meses, ou 7,99% ao mês

Figura ...: Alternativas para aquisição de avestruzes A alternativa mais lucrativa, da compra de filhotes de 90 dias, com o compromisso de recompra após 90 dias do negócio, proporciona um aumento de 27,78% em três meses, ou 9,26% ao mês. Observe que, mesmo a oportunidade menos lucrativa, da aquisição de um trio adulto, com recompra programada para 7 meses, proporciona uma lucratividade de 55,94% no período, ou 7,99% ao mês. Confesso que, ao me defrontar com esses números, senti vontade de investir todo meu dinheiro nessas aves, mas novamente a minha racionalidade se impôs, e comecei a fazer algumas perguntas a senhorita que estava me atendendo. Meu pensamento me pedia para ir direto na principal, ou seja, descobrir como a empresa ganhava dinheiro, para poder me remunerar dessa maneira, pois, afinal de contas, não existe mágica, mas somente receitas, despesas, e lucro ou prejuízo. Comecei com o raciocínio próximo ao negócio das Fazendas Reunidas Boi Gordo, ou seja, engordar o animal, abatê-lo e remunerar o cotista e a empresa. Perguntei se já existiam investidores, ou a própria empresa, abatendo animais, e a cotação de mercado do quilo da carne do produtor para o frigorífico, pois o preço do folder era para o consumidor final, e eu não conheço nenhum fazendeiro que consiga vender seu gado com seu peso multiplicado pelo preço do contra filé, por exemplo. Ela me informou que a preocupação principal da empresa, naquele momento, era com a formação de um plantel, ou seja, de uma quantidade de animais que pudessem procriar, e que ainda não havia previsão de abate de animais de investidores ou da empresa, voltando a falar do couro, das plumas, dos ovos. Perguntei novamente sobre a cotação do mercado, ou se era negociado na bolsa de mercadorias e futuros, pois, assim, poderia olhar na Internet, ou, ainda, o telefone de algum abatedouro. A resposta foi de que existia apenas um frigorífico no Brasil, em São Paulo, mas a empresa pretendia construir um nos próximos dois anos, não tive como pensar se não tinha visto esta história antes. Mesmo assim, a idéia de vender meus animais para apenas um

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comprador não me pareceu bastante agradável, pois o poder está todo em suas mãos. Expus essa preocupação, pois na minha visão limitada, eu só ganharia dinheiro quando o animal fosse abatido, gerando, então, o meu lucro. Novamente, ela pediu que me tranqüilizasse, pois a empresa oferecia diversas modalidades de aplicação, garantindo, na maioria deles, a recompra dos animais depois de um período estipulado em contrato. Neste momento, outra curiosidade tomou forma, e quis saber como, não sendo proprietário de terras, e não conhecendo nada do manejo de avestruzes, poderia tomar conta das aves. A empresa já havia pensado nisso também, e oferecia a hotelaria dos animais, cujo valor poderia estar incluso nos valores a serem negociados. Sentia-me como em uma catarse, meus sentidos me traiam, e os olhos piscavam antevendo os lucros fabulosos que acumularia. Felizmente, a experiência me fez efetuar uma última pergunta, exatamente assim: vocês são fiscalizados por alguma autoridade do sistema financeiro nacional? A moça retrucou: Como assim? Pela Comissão de Valores Mobiliários, o Banco Central, a Superintendência de Seguros Privados, ou seja, quem confere as suas contas e a segurança de sua empresa? A resposta negativa veio acompanhada de uma série de observações sobre o patrimônio dos proprietários e da própria organização, constituída por algumas fazendas, onde já haviam sido investidos vários milhões de reais, e crescimento do número de clientes, e o convite para conhecer pessoalmente o laboratório e o criatório em uma cidade próxima a Goiânia. Não pude deixar de pensar que, em um país onde as instituições que são fiscalizadas, como consórcios, por exemplo, vivem dando prejuízo aos investidores, imagine as que são baseadas, apenas, na honestidade de seus donos. Tem que possuir muita fé no ser humano e nas pessoas para colocar seu dinheiro ali, ou muita ambição, que também serve como motivação. Levantei, agradeci e fui embora. Estava um pouco constrangido, afinal, não consegui descobrir a resposta para aquilo que era, na minha opinião, a questão mais importante: qual o negócio da empresa? Como ela ganha dinheiro? Me lembrava que a organização patrocinava o jornal televisivo da principal emissora local, e investia pesadamente em propaganda, possuindo, com certeza, um custo bastante alto de comunicação. Qual era a mágica? Chamem o Mister M! Como dizemos em minha terra, matutei por alguns dias e, finalmente, acredito que encontrei a resposta. O negócio, por enquanto, não era a criação, a engorda e o abate dos animais, mas, simplesmente, a sua venda. Uma pessoa comum não sabe qual o custo de aquisição das avestruzes, somente o preço que a empresa vendia. Por exemplo, enquanto o investidor adquire um casal de avestruzes, com idade entre 30 a 36 meses, por R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil reais), a organização poderia tê-los importado pela metade desse valor, obtendo o seu lucro com essa operação.

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Mas tem um problema. Com o compromisso de recompra, o dinheiro do lucro do investidor tem que vir de algum lugar. Como as aves ainda não são abatidas, esses recursos tem que vir do lucro que foi obtido com a venda dos animais, pois não existe outra fonte de receita, não é mesmo? Além disso, esses sobra, se realmente existe, precisa custear os custos, as despesas e os investimentos que a empresa está efetuando, além dos aplicadores. Outra fonte de receita seriam os filhotes das aves da empresa, vendidos, com noventa dias, ao valor de R$ 1.500,00 (um mil e quinhentos reais) cada, mas, mesmo nesse caso, existe o compromisso de recompra, caracterizando a mesma situação de origem dos recursos para o pagamento dos lucros dos investidores. Finalmente, comparei o negócio com uma corrente. Aquele modalidade de investimento que aparece de vez em quando, onde cada pessoa convida uma quantidade pré-determinada de aplicadores, recebendo dinheiro de cada um, e eles deverão fazer a mesma coisa, sem quebrar a corrente, sob o risco de dar e levar prejuízo. Digo isso pois, enquanto investidores colocarem o seu dinheiro em avestruzes, o fluxo de caixa da empresa estará garantido, o problema será quando a saída for maior que a entrada, espero que, até lá, já estejam abatendo as avestruzes, que a cotação do quilo seja atraente, que o produtor consiga vender o couro, a carne e as plumas separadamente (o que eu duvido muito), que não aconteça nenhuma crise econômica, e assim sucessivamente. Quero deixar claro que não tenho nada contra os empreendedores deste negócio, e que espero que ganhem muito dinheiro, fiquem ricos juntos com seus clientes, gerem emprego, renda, tributos, e todos os benefícios vinculados a qualquer empresa de sucesso. Simplesmente não concordo em colocar meu dinheiro em um investimento que considero com um risco maior do que posso suportar, mesmo com taxas de retorno extremamente atrativas. Hoje, quando me perguntam sobre o negócio das avestruzes, respondo simplesmente que não coloco meu dinheiro nesta modalidade de investimento, e aviso: com certeza alguns vão ganhar muito dinheiro, espero que ninguém perca, como não tenho bola de cristal, para adivinhar a hora de entrar e sair, prefiro não correr o risco, se você quer, vá em frente, e boa sorte!

6.1.10 Imóveis

Lembro-me de que, quando era criança, morávamos de aluguel em uma casa simples, num bairro de classe média de Goiânia. O piso era de vermelhão, nenhum quarto era suíte, e o teto não possuía forro, com exceção da sala, que era de madeira, e, quando chovia, minha mãe saia correndo colocando baldes em alguns lugares, para colher a água das goteiras que insistiam em cair. No outro dia, ligava para o locador e reclamava da situação, solicitando o reparo do telhado, visto que o aluguel estava sempre quitado. Ele vinha, fazia um reparo simples, que na verdade não adiantava muita coisa, acabava a época das chuvas e começava a seca, esquecendo-se o problema, que só apareceria de novo no próximo ano, e assim levávamos a vida.

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Meu pai sempre afirmava que, na primeira oportunidade, construiria nossa casa, do jeito que ele sempre sonhara. Para mim, na verdade, não fazia muita diferença, pois não possuía, ainda, o entendimento necessário para diferenciar uma casa própria de uma alugada, o que importava era ter um lugar para chamar de lar. Passaram-se os anos e meu pai conseguiu, realmente, construir a casa que ele desejava, com três quartos, sendo uma suíte, banheiros, sala, copa, cozinha, garagem e uma área de lazer para os filhos, em um bairro próximo onde já morávamos anteriormente, dava para ver que ele sentia-se realizado. Estou dando esse exemplo porque acredito que se encaixa com a maioria das famílias brasileiras, que é o sonho de possuir a casa própria. Note que isso é um ¨sonho¨, e que algumas vezes transforma-se em um pesadelo. Não é por outro motivo que o Sílvio Santos, em seus programas, sempre oferece, entre os prêmios, casas para os participantes, ou várias empresas, quando querem aumentar ou promover suas vendas, façam o mesmo. O único problema é que, pelo fato de ser sonho, ele associa-se ao nosso lado emocional, impedindo que a racionalidade ajude a, algumas vezes, tomar a melhor decisão. Nós presenciamos, em vários telejornais, associações de mutuários contestando judicialmente as prestações que pagam de sua casa, bem como os editais de leilões de imóveis em processo de execução da Caixa Econômica Federal, que muitas vezes continuam ocupados, sendo leiloados assim mesmo. Conheço pessoas que deram uma entrada, pagaram vários anos de prestação e o saldo devedor é superior ao valor de mercado do imóvel, como conseguir um comprador nessa situação? O que foi que aconteceu? A explicação, apesar de simples, não é fácil. O problema é que, durante os anos de inflação galopante, o reajuste da prestação não era suficiente para diminuir o saldo devedor, fazendo com que, mesmo o pagamento estando rigorosamente em dia, ele fosse aumentando. A única solução para o mutuário era que, após determinado número de anos, 20 ou 25, o contrato era automaticamente quitado, eliminando a dívida. Só que, neste período, muita coisa pode acontecer na minha vida, posso perder o emprego, adoecer, ir trabalhar em outra cidade, divorciar-me, ou seja, um monte de imprevistos que me obriguem a vender o imóvel. Ao constatar a situação do saldo devedor, muitos mutuários preferiam, então, deixar de pagar a prestação, na tentativa de recuperar, pelo menos em parte, o investimento que já haviam feito. Em minha opinião nós somos, na verdade, enganados pela idéia de que os juros do Sistema Financeiro da Habitação, ou SFH, são ¨baratos¨, pois custam, atualmente, próximo a 12% ao ano, mais o indexador que fará a correção monetária. Lembra-se de quando falamos da caderneta de poupança, que oferece juros de 6% ao ano, essa taxa é simplesmente o dobro, ou seja, de barato ela não tem nada. Eu, normalmente, recomendo as pessoas que façam uma conta simples, comparando o financiamento de um imóvel com o seu aluguel. Utilizarei a taxa

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de 1,5% ao mês, em 20 anos, para o financiamento, e o aluguel com várias taxas sobre seu valor de mercado, considerando um imóvel de R$ 70.000,00 (setenta mil reais).

Parcela financiamento

Taxa sobre o valor do imóvel

Aluguel Diferença

R$ 1.080,00 0,6% R$ 420,00 R$ 660,00

R$ 1.080,00 0,8% R$ 560,00 R$ 520,00

R$ 1.080,00 1,0% R$ 700,00 R$ 380,00

Figura ...: Diferença entre aquisição e aluguel de um imóvel Normalmente, são oferecidas diversas modalidades de cálculos de financiamento de imóveis, por isso, utilizei o método Price, em que a maioria deles é baseada, porque o que quero mostrar, na verdade, é o raciocínio para a aquisição do imóvel. Observe que, com uma taxa de 1,5% ao mês, para um financiamento de 20 anos, a prestação será de, aproximadamente, R$ 1.080,00 (um mil e oitenta reais). Vale ressaltar que, em caso de mudanças na economia, principalmente na inflação, este valor poderá sofrer um reajuste para cima, mas o imóvel também se valoriza, e o aluguel aumenta, por isso, vamos fazer uma análise linear, ou seja, como se a situação não se alterasse, porque, na verdade, ela só pode mudar para pior. Por outro lado, o aluguel de um imóvel, no mesmo valor financiado, variando de 0,6% a 1,0% do seu valor de mercado, proporciona uma diferença mensal que deve ser analisada mais cuidadosamente, se aplicada a uma taxa de 1,0% ao mês, em títulos públicos federais, CDB ou fundos de investimento, conforme a figura abaixo:

Diferença 5 anos 10 anos 20 anos

R$ 660,00 R$ 53.902,98 R$ 151.825,53 R$ 652.908,54

R$ 520,00 R$ 42.468,22 R$ 119.620,12 R$ 514.412,79

R$ 380,00 R$ 31.034,47 R$ 87.414,70 R$ 375.917,04

Figura ...: Aplicação da diferença entre aquisição e aluguel de imóvel Se ao invés de financiar um imóvel de R$ 70.000,00 (setenta mil reais), à taxa de 1,5% ao mês, durante vinte anos, você conseguir pagar um aluguel de 0,6% sobre este valor, aplicando a diferença da prestação do financiamento em uma das diversas modalidades de investimento citadas neste livro, ao final de 5 anos você terá R$ 53.902,98 (cinqüenta e três mil, novecentos e dois reais e noventa e oito centavos), se conseguir segurar mais um pouco, completando os dez anos, possuirá R$ 151.825,53 (cento e cinqüenta e um mil, oitocentos e vinte e cinco reais e cinqüenta e três centavos), e, provavelmente, já conseguirá comprar o imóvel a vista. Mas, o melhor de tudo, é aguardar vinte anos e ser o feliz proprietário da bolada de R$ 652.908,54 (seiscentos e cinqüenta e dois mil, novecentos e oito reais e cinqüenta e quatro centavos). Os outros cenários mostram os resultados para aluguéis de 0,8% e 1,0% sobre o valor do imóvel, respectivamente. Você pode me questionar se conseguirá alugar um imóvel por 0,6% do seu valor, mas vou lhe dar um exemplo. Há alguns meses, várias instituições financeiras foram autorizadas, pelo Banco Central, a desfazerem-se de agência próprias, para utilizar os recursos em seu capital de giro, ou seja, emprestando

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para seus clientes. Foram realizados diversos leilões, em que os bancos garantiam aos investidores contratos de aluguel de 10 anos, renováveis por mais 10, com uma taxa próxima a 0,5% ao mês. Por exemplo, por um imóvel de R$ 600.000,00 (seiscentos mil reais), a instituição pagaria R$ 3.000,00 (três mil reais) por mês de aluguel, uma mixaria, não é mesmo? Será que alguém se interessaria por um negócio assim? Pois houveram imóveis que foram vendidos até por, aproximadamente, 80% do lance mínimo inicial, sendo que o valor do aluguel continuava o mesmo, diminuindo, ainda mais, a rentabilidade do investimento. A única resposta para uma aplicação como esta é que o investidor espera, além do aluguel, uma valorização do imóvel, principalmente por se tratar de um estabelecimento comercial. Muitas pessoas afirmam que, a diferença básica entre um financiamento e o aluguel de um imóvel é a de que, no primeiro caso, estamos pagando uma parcela de uma coisa que é sua, enquanto que o aluguel é um dinheiro que não volta nunca mais, indo para o bolso do locatário. Santa ingenuidade! Você se lembra como se chama o aluguel do dinheiro? Isso mesmo! O nome é juros, e se eu não possuo o dinheiro para comprar um imóvel, e faço um empréstimo, estou pagando pela sua utilização. Então, do ponto de vista do investimento, a conta é simples, o negócio é bom se a taxa do aluguel for maior que a taxa de juros, do contrário, invista o dinheiro, faça o sacrifício em um imóvel mais barato por alguns anos e realize seu sonho, através do pagamento à vista, de sua casa própria. O que estou dizendo é que, se a taxa de aluguel é de 0,7% do valor do imóvel, e a de juros de 1%, continue no aluguel, que é melhor negócio. Mas lembre-se, morar de aluguel e não poupar a diferença da prestação é a pior de todas as opções, pois no final você não terá o imóvel, e nem o investimento. Vamos falar, agora, de imóveis como opção de investimento, e não como o sonho da casa própria, ou seja, como forma de aumentar a riqueza do aplicador, através da realização de bons negócios. Fui convidado, por um amigo, a acompanhá-lo na aquisição de um apartamento na planta, ou seja, no momento do lançamento do empreendimento, que seria entregue dentro de dois anos. Ele possuía recursos para fazer a aquisição à vista, mas estava disposto a ouvir alternativas de financiamento que fossem interessantes na realização do negócio. O valor do imóvel era de R$ 74.000,00 (setenta e quatro mil reais), a negociação partiu desse ponto. Perguntamos qual seria o desconto para o pagamento à vista, e, antes de responder, o vendedor argumentou que o preço do metro quadrado já estava muito bom, inferior a vários concorrentes com padrão semelhante, e que não poderia oferecer nenhum desconto muito alto. Insistimos em um valor, sendo que a resposta foi de R$ 72.000,00 (setenta e dois mil reais), ou 2,7% do valor total. Argumentamos que o desconto estava muito pequeno para o pagamento a vista, mas o vendedor bateu o pé e negou-se a qualquer redução maior do que

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já estava oferecendo, propondo o parcelamento do pagamento. A primeira proposta foi de uma entrada de 20% do valor do imóvel, mais vinte e quatro parcelas, com juros de 1% ao mês, mais INCC, ou índice nacional da construção civil, calculado pela Fundação Getúlio Vargas e que mede a variação nos preços dos insumos deste mercado. Avisamos que não estávamos dispostos a pagar nenhum centavo de juros, pois o comprador possuía recursos para efetuar o pagamento no ato da compra, e solicitamos propostas de parcelamento do valor de R$ 74.000,00 (setenta e quatro mil reais). A construtora propôs, então, uma entrada de 30%, ou R$ 22.200,00 (vinte e dois mil e duzentos reais), mais seis parcelas fixas de R$ 8.633,33 (oito mil, seiscentos e trinta e três reais e trinta e três centavos). Foi nossa vez, e fizemos a contra-proposta em que o negócio foi fechado, com uma entrada de R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil), e dez parcelas de R$ 5.000,00 (cinco mil reais). Vamos ver se foi um bom negócio? Na época que realizou a compra, no mês de junho de 2003, a remuneração dos títulos públicos federais, estava próxima a 24% ao ano, ou 2% ao mês, descontando-se o imposto de renda, de 20% sobre o ganho de capital, ou juros, obtêm-se um rendimento de 1,6% ao mês. Observe, na figura abaixo, o resultado da aplicação dos recursos que seriam utilizados no pagamento a vista do apartamento.

Data Capital Juros Parcela Saldo

22/06/03 R$ 50.000,00 R$ - R$ - R$ 50.000,00

22/07/03 R$ 50.000,00 R$ 800,00 R$ 5.000,00 R$ 45.800,00

22/08/03 R$ 45.800,00 R$ 732,80 R$ 5.000,00 R$ 41.532,80

22/09/03 R$ 41.532,80 R$ 664,52 R$ 5.000,00 R$ 37.197,32

22/10/03 R$ 37.197,32 R$ 595,16 R$ 5.000,00 R$ 32.792,48

22/11/03 R$ 32.792,48 R$ 524,68 R$ 5.000,00 R$ 28.317,16

22/12/03 R$ 28.317,16 R$ 453,07 R$ 5.000,00 R$ 23.770,24

22/01/04 R$ 23.770,24 R$ 380,32 R$ 5.000,00 R$ 19.150,56

22/02/04 R$ 19.150,56 R$ 306,41 R$ 5.000,00 R$ 14.456,97

22/03/04 R$ 14.456,97 R$ 231,31 R$ 5.000,00 R$ 9.688,28

22/04/04 R$ 9.688,28 R$ 155,01 R$ 5.000,00 R$ 4.843,29

R$ 4.843,29 R$ 50.000,00

Figura ....: Rendimento da aplicação do valor parcelado Observe que, investindo R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais) em títulos públicos federais, e efetuando os pagamentos mensais combinados com a construtora, ele terá, ao final de 10 meses, um ganho de R$ 4.843,29 (quatro mil, oitocentos e quarenta e três reais e vinte e nove centavos) que, se comparados ao desconto de R$ 2.000,00 (dois mil reais) oferecidos pela empresa para o pagamento a vista, proporcionam um ganho de R$ 2.843,29 (dois mil, oitocentos e quarenta e três reais e vinte e nove centavos). O funcionário da construtora, responsável pela negociação, informou que a projeção de valor de mercado do apartamento, na entrega de suas chaves, que acontecerá, no máximo, em dois anos, será de, aproximadamente, R$

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90.000,00 (noventa mil reais). Utilizando este valor como base, vamos analisar a rentabilidade do investimento com o pagamento à vista e parcelado. Digite 72000 (valor a vista) e tecle CHS e PV Insira 24 (número de meses) e aperte ¨n¨ Digite 90000 (valor futuro do imóvel) e tecle FV Aperte ¨i¨ (taxa de retorno) Resultado 0,93

Verificamos que, optando pelo pagamento a vista do imóvel, a rentabilidade do investimento será de 0,93% ao mês, melhor do que a caderneta de poupança, mas inferior aos títulos públicos federais, CDB, fundos de investimento e previdência privada nos últimos anos, além de possuir um menor grau de liquidez, ou seja, você não consegue transformá-lo em dinheiro na mesma velocidade que outros investimentos financeiros. Considerando a negociação efetuada, de uma entrada de R$ 24.000,00 (vinte e quatro mil reais), mais dez pagamentos de R$ 5.000,00 (cinco mil reais), temos um total de R$ 74.000,00 (setenta e quatro mil reais), que devem ser diminuídos dos juros obtidos pelo investimento dos R$ 50.000,00 (cinqüenta mil reais), que foram utilizados para o pagamento das parcelas, que foram de R$ 4.843,29 (quatro mil, oitocentos e quarenta e três reais, e vinte e nove centavos), totalizando um desembolso de R$ 69.156,71 (sessenta e nove mil, cento e cinqüenta e seis reais, setenta e um centavos). Observe as contas: Digite 69.156,71 (valor desembolsado) tecle CHS e PV Insira 24 (número de meses) e aperte ¨n¨ Digite 90.000 (valor futuro do imóvel) e tecle FV Aperte ¨i¨ (retorno do investimento) Resultado 1,10

Observamos que, após a negociação, a rentabilidade do investimento melhorou consideravelmente. Anteriormente, era de 0,93% ao mês, sofrendo um aumento de 18,3%, para 1,10% ao mês. Qual a lição que tiramos deste exemplo? Que não basta possuir o crédito para financiar a aquisição de um imóvel, ou o dinheiro para pagá-lo a vista, o importante é negociar sabendo as oportunidades de investimento que existem no mercado, para que possamos lucrar na maioria das transações que realizamos. De qualquer maneira, posso considerar que, se acontecer tudo como descrevemos acima, foi um bom negócio? Na minha opinião ele foi, no máximo, razoável. Quer saber porquê? Acompanhe as contas abaixo: Digite 72000 (valor disponível para investimento) e tecle CHS e PV Tecle 1,6 (remuneração líquida dos títulos públicos naquela data) e

aperte ¨i¨ Digite 24 (número de meses) e tecle ¨n¨ Aperte FV Resultado 105.385,65

Se ao invés de comprar o imóvel, que ainda terá despesas de escritura, IPTU e condomínio, até que realize a sua venda, tivéssemos adquirido o seu valor em

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títulos públicos, que naquela época proporcionava um rendimento líquido de 1,6% ao mês, o resultado, após dois anos, seria de um montante de R$ 105.385,65 (cento e cinco mil, trezentos e oitenta e cinco reais, e sessenta e cinco centavos), sem contar que o resgate dos títulos pode ser efetuado todas as quartas-feiras, com excelente liquidez. A diferença de quem faz um bom negócio eventual, para uma pessoa que fica realmente rica, é conseguir maximizar a rentabilidade que obtêm dos investimentos que faz. Não podemos deixar de mostrar que, em janeiro de 2003, a rentabilidade dos títulos caiu para 1,13% ao mês, com tendência de diminuir ainda mais. Mas a análise ainda é simples. Compare a retorno mensal líquido dos investimentos do mercado financeiro com a aquisição do imóvel, conforme fizemos acima, e tome sua decisão. Outra boa oportunidade para aquisição de imóveis são os leilões realizados pela Caixa Econômica Federal, provenientes da retomada de mutuários inadimplentes. O maiores cuidados que devemos ter são o de conferir, primeiramente, e se ele está desocupado, e posteriormente, em uma visita, o seu estado de conservação. Em 1998, ajudei a uma amiga a adquirir um apartamento através deste procedimento, pois ela recebeu uma herança e desejava realizar o sonho da casa própria. Confesso que deu bastante trabalho, mas ela ficou muito satisfeita com o negócio que conseguiu. Começamos indo a uma agência da CEF, solicitando um edital do próximo leilão de imóveis a ser realizado. Selecionamos os que a interessavam e começamos nossa peregrinação. Visitamos, aproximadamente, de quinze a vinte apartamentos, nos mais diversos bairros de Goiânia, que propiciou-nos um grande aprendizado. Verificamos que, em imóveis ocupados, os porteiros eram orientados, provavelmente pelos moradores, a não permitir a visita de interessados em comprá-lo, sendo que, algumas vezes, conseguimos que ele interfonasse, mas não éramos autorizados a subir. Pensando bem, deve ser uma experiência bastante desagradável visitar um apartamento com a pessoa que se considera proprietária, e muitas vezes lesada, lá dentro. É importante salientar que a CEF não se responsabiliza pela retirada dos moradores, ficando esse problema totalmente nas mãos do comprador. Comprovamos, ainda, uma variação muita grande na conservação dos imóveis, variando de regular, em alguns casos, para muito ruim, em outros. Concluímos que, ao perceber que perderia o apartamento, os moradores descuidavam de sua manutenção, que ia desde lâmpadas, piso, chuveiro, armários, torneiras, pintura, portas, fechaduras, a forro dos banheiros. Em alguns casos, parecia existir, até mesmo, uma depredação proposital, como forma de prejudicar o credor. Finalmente, sobraram dois imóveis, que preenchiam as expectativas da minha amiga, referentes a localização, preço e conservação. O problema é que, provavelmente, eles também serviriam a outros compradores, sendo necessário, então, uma estratégia de compra. O maior obstáculo era o depósito inicial exigido pela CEF para oferecer um lance pelo apartamento, fizemos as contas e vimos que ela só possuía recursos suficientes para participar de somente um leilão. Nova seleção, optando por oferecer um lance de R$

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29.500,00 (vinte e nove mil e quinhentos reais), em um imóvel de preço mínimo de R$ 28.000,00 (vinte e oito mil reais), ou seja, um ágio de 5,36%. Você pode perguntar o porque de não arredondar logo para 5%, mas foi essa pequena diferença que garantiu a vitória para minha amiga, ou seja, a maioria das pessoas que conheço tem o costume de arredondar os números, e essa foi a estratégia vencedora. Com as despesas de escritura, bem como as reformas que eram necessárias, o custo final ficou em, aproximadamente, R$ 36.000,00 (trinta e seis mil reais), mas o imóvel ficou novinho, do jeito que minha amiga sonhava em ter. Hoje, cinco anos e meio depois, podemos fazer uma análise do investimento, ou seja, se foi um bom ou mau negócio. Vamos começar imaginando o aluguel de um apartamento de R$ 29.500,00 (vinte e nove mil e quinhentos reais), por 0,7% do seu valor, e reajustado a 7% ao ano, comparando com o valor atual do imóvel, estimado entre R$ 55.000,00 (cinqüenta e cinco mil reais) e R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), observe as contas. Digite 36000 (investimento total) e tecle CHS e PV Insira 66 (número de meses) e aperte ¨n¨ Informe 60000 (valor atual) e tecle ¨FV ¨ Aperte ¨i¨ (retorno do investimento) Resultado 0,78

Verificamos que, ao final de cinco anos e meio, a rentabilidade do investimento foi de 0,78% ao mês. E se ela tivesse alugado o imóvel, obtendo uma taxa de ocupação de 83% ao ano, equivalentes a dez meses, nas condições acima, qual seria o retorno obtido? Confira o cálculo: Digite 36000 (investimento total) e tecle CHS ¨g¨ e CFO Digite 250 (aluguel no primeiro ano) e tecle ¨g¨ e CFJ Insira 10 (número de meses de aluguel) e tecle ¨g¨ e NJ Digite 267 (aluguel corrigido) e tecle ¨g¨ e CFJ Insira 10 (número de meses) e tecle ¨g¨ e NJ Digite 286 (aluguel corrigido) e tecle ¨g¨ e CFJ Insira 10 (número de meses) e tecle ¨g¨ e NJ Digite 306 (aluguel corrigido) e tecle ¨g¨ e CFJ Insira 10 (número de meses) e tecle ¨g¨ e NJ Digite 327 (aluguel corrigido) e tecle ¨g¨ e CFJ Insira 10 (número de meses) e tecle ¨g¨ e NJ Digite 350 (aluguel corrigido) e tecle ¨g¨ e CFJ Insira 6 (meses restantes) e tecle ¨g¨ e NJ Insira 60000 (valor atual do imóvel) e tecle ¨g¨ e CFJ Aperte ¨f¨ e IRR Resultado 1,53

Ao inserirmos o valor do aluguel no cálculo, a rentabilidade aumenta de 0,78% para 1,5% ao mês, um crescimento de 96%, comparativamente a análise anterior. Observe que, neste cálculo, utilizamos novas funções da calculadora HP 12c. Na verdade, o que acabamos de fazer, foi um fluxo de caixa, que levou em consideração os desembolsos, que é o investimento inicial, e as entradas

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de caixa, constituídas pelo aluguel e a venda do imóvel depois de cinco anos e meio. Algumas teclas da calculadora possuem, até mesmo, três funções, identificadas pelas cores branca, laranja e azul. Ao selecionarmos a tecla ¨f¨, estamos informando que utilizaremos as funções descritas pela cor laranja, e a tecla ¨g¨ é responsável pelas funções azuis, fora isso, são utilizadas as funções brancas, que não precisam ser selecionadas. Vamos, agora, para outra hipótese. E se minha amiga considerasse o valor que ela pagaria de aluguel, quanto esse dinheiro representaria ao final de cinco anos e meio, considerando os mesmos valores utilizados para a rentabilidade do imóvel? Observe o resultado na figura ....

Parcela Meses Taxa de Juros

Valor no final dos meses

Períodos Valor final

R$ 250,00 12 1,6% R$ 3.278,60 54 meses R$ 7.725,89

R$ 267,00 12 1,6% R$ 3.501,54 42 meses R$ 6.820,16

R$ 286,00 12 1,6% R$ 3.750,72 30 meses R$ 6.038,46

R$ 306,00 12 1,6% R$ 4.013,01 18 meses R$ 5.340,19

R$ 327,00 12 1,6% R$ 4.288,41 06 meses R$ 4.716,92

R$ 350,00 6 1,6% R$ 2.184,81 - R$ 2.183,81

Total atualizado R$ 32.825,43

Figura ....: Investimento do aluguel do imóvel Notamos que, considerando os doze meses de aluguel, como se fossem aplicados em parcelas mensais, à taxa de juros de 1,6% ao mês, e depois considerando esse montante, corrigido novamente pelo número de meses para completar os cinco anos e meio do período de aquisição do imóvel, verificamos que o total do aluguel desembolsado corrigido seria de R$ 32.825,43 (trinta e dois mil, oitocentos e vinte e cinco reais, e quarenta e três centavos). Considerando que o imóvel está avaliado, atualmente, entre R$ 55.000,00 (cinqüenta e cinco mil reais) e R$ 60.000,00 (sessenta mil reais), podemos afirmar que, a soma do aluguel atualizado, que ela deixou de pagar em cinco anos e meio, mais o valor máximo que pode ser alcançado pela venda do imóvel, representam R$ 92.825,43 (noventa e dois mil, oitocentos e vinte e cinco reais, e quarenta e três centavos). Mesmo assim, será que foi um bom negócio? Confira as contas abaixo: Digite 36000 (investimento total) CHS e PV Tecle 66 (número de meses equivalentes a cinco anos e meio) e tecle

¨n¨ Insira 1,6 (taxa de juros) e tecle ¨i¨ Aperte FV Resultado 102633,04

Novamente nos deparamos com uma informação bastante interessante. Ao compararmos a aplicação do valor investido na compra e reforma do apartamento, pelo período de cinco anos e meio, igual a R$ 102.633,04 (cento e dois mil, seiscentos e trinta e três reais, e quatro centavos), com o valor obtido com o aluguel corrigido somado ao valor atual do imóvel, encontramos uma diferença de R$ 9.807,62 (nove mil, oitocentos e sete reais, e sessenta e dois centavos). Constatamos que, afora a satisfação de morar em um imóvel

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próprio, do ponto de vista do retorno do investimento, seria melhor pagar aluguel e aplicar o dinheiro em oportunidades no mercado financeiro, neste exemplo da minha amiga. Estou lhe dando estes exemplos para análise, mas na verdade, o que desejo realmente, não é que você aplique-os literalmente nos negócios imobiliários que for realizar, mas que adapte o raciocínio para cada situação que aparecer. O mercado imobiliário oferece, a cada dia, uma gama maior de produtos para investimentos, como flats, apartamentos em hotéis, fundos imobiliários, e condomínios fechados, além dos tradicionais apartamentos, casas, lojas, lotes, áreas, galpões, armazéns, galerias, lojas em shopping e escritórios. Pense sempre no modelo de fluxo de caixa, onde a aquisição, reforma, impostos iniciais, escritura e outros gastos que podem aparecer são os desembolsos, e os aluguéis, juntamente com o valor de venda do imóvel, depois de determinado período, correspondem as entradas de caixa. Conheço várias pessoas que deixam de realizar bons negócios por apego a seus imóveis, tratando-os como membros ¨honorários¨ de sua família. Lembro-me de um ex-patrão, extremamente inteligente, e muito rico, conversando com um amigo em seu escritório, em uma cena que tive a oportunidade de presenciar. Naquela ocasião, ele afirmou que ¨tudo que é seu, eu compro, e tudo que é meu, eu vendo¨, não sei se é ele o autor da frase, mas fiquei pensando sobre o seu significado e aprendi com ele que o importante, em se tratando de negócios, é ganhar dinheiro, e, normalmente, nosso lado afetivo não costuma ser um bom conselheiro em assuntos financeiros. Os imóveis, em sua maioria, apresentam uma característica bastante interessante. Eles sofrem os impactos das mudanças que ocorrem no ambiente ao seu redor. Benefícios como asfalto, água, esgoto, escolas, creches, shoppings, avenidas, ou qualquer outro, afetam positivamente o seu valor, principalmente no momento que começam a ser construídos, pois, posteriormente, essa valorização é diluída com o tempo. Isso quer dizer que os imóveis apresentam uma curva de valorização, que se acentua no momento em que boas notícias são produzidas, sendo este, normalmente, o melhor momento para sua venda, e a realização de seus lucros. Não se aferre a idéia de que ele ainda pode valorizar ainda mais, estabeleça um valor, e quando alcançá-lo, venda sem o menor peso de consciência, não se atormente pensando em quanto poderia ter ganho, mas console-se em saber o quanto ganhou. Atualmente, tenho pensado com carinho a possibilidade de investir em imóveis. Com a tendência de queda dos juros, juntamente com a estabilidade econômica, quem quiser aumentar os seus ganhos deverá tentar investimentos em renda variável, como bolsa de valores, que apresenta um bom nível risco, ou estar atento para oportunidades que surjam em negócios com imóveis. Por isso, vou lhe passar algumas dicas, que aprendi conversando com investidores que colocam seu dinheiro nesta modalidade de aplicação:

1. Ao comprar lotes, prefira bairros que estão em processo de consolidação e que, de preferência, ainda não possuam infra-estrutura

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instalada. Procure as avenidas, e, principalmente, qual será o trajeto da linha de ônibus, que proporcionam uma maior valorização do imóvel;

2. Em caso de apartamentos na planta, verifique se o empreendimento possui seguro de obra, ou seja, se a construtora quebrar, outra assume sem nenhum ônus para o investidor. Em um país que a maior empresa deste segmento quebrou, deixando um monte de gente a ver navios, cuidado nunca é demais;

3. Verifique nos cartórios se os imóveis não estão penhorados ou em litígio judicial, ou se os proprietários possuem as certidões negativas de débito fornecidas pelo cartório local;

4. Visite o órgão responsável pelo planejamento de sua cidade, estude as áreas que sofrerão mudanças drásticas com obras públicas, como saneamento, avenidas, hospitais ou escolas, dentro do prazo que está disposto a investir, e procure imóveis nestas regiões;

5. Fique de olho em leilões de imóveis recebidos como pagamento de dívidas por instituições financeiras, você pode encontrar boas oportunidades de negócios nestes eventos;

6. Acompanhe os editais de leilões da CEF, visite os imóveis, faça uma avaliação e ofereça seu lance, na pior das hipóteses, você vai perder um pouco do seu tempo, mas ganhará o aprendizado com a experiência;

7. Não confie, somente, na avaliação dos corretores. Converse com vizinhos, síndicos, porteiros, pergunte se alguém vendeu algum imóvel naquela região recentemente, quem foi o comprador, quanto pagou, ou qualquer outra informação que possa lhe ajudar na avaliação do investimento que irá realizar.

Essas são apenas algumas dicas. Se você quer saber mais sobre investimentos em imóveis, leia Seu Imóvel, de Mauro Halfeld, onde ele apresenta uma série de observações sobre as vantagens e desvantagens em cada modalidade de investimentos imobiliários, e lembre-se, conhecimento nunca é demais.

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6 Conclusão Não acredito que a quantidade de dinheiro que cada um possui possa influenciar em seu caráter, ou justificar suas atitudes. Cada um constrói a sua história, deixando boas ou más lembranças nas pessoas que tiveram a oportunidade de cruzar em seu caminho. O seu conceito de felicidade, de satisfação, de prazer é individual. Para mim, é impossível ser feliz se esse sentimento for conseguido com a infelicidade dos outros, já para outras pessoas, talvez, isso seja um simples detalhe. De qualquer maneira, não é o fato de ser rico, ou pobre, que determinará se serei uma pessoa melhor. Todos nós conhecemos, ou já ouvimos falar, de alguém que era extremamente rico, e conseguiu falir, ou um pobre que enriqueceu, servindo de exemplo em conselhos para as atitudes que tomamos, ou os caminhos que escolhemos. Não existe fórmula mágica, ou atalho, para quem deseja ser ético, praticar a honestidade e contribuir para o avanço da sociedade. Não há nada de errado em ter dinheiro, mas lembre-se: dinheiro é um meio, não um fim. Devo buscar conquistá-lo para que, através dele, melhore a qualidade de vida de quem amo, e contribua com aqueles que necessitam. Se pensar que dinheiro é um fim, serei capaz de qualquer coisa para tê-lo, e esse é o primeiro passo para a infelicidade. Não se preocupe em ter dinheiro. Trabalhe, poupe, invista, e ele fluirá naturalmente para suas mãos. Se você possui uma ambição acima do normal, o caminho é o mesmo, somente os riscos que correrá é que serão maiores, e te cobrarão um preço por isso. Do mesmo modo, se buscar consegui-lo por outros caminhos, você será rico do mesmo jeito, mas posso te garantir que a satisfação não será a mesma. Finalmente, digo-lhe a palavra final: não enriqueça com a pobreza dos outros. Lute para que todos tenham condições dignas de sobrevivência, ensine, compartilhe seus conhecimentos, socialize suas experiências, pois, somente assim, construiremos um lugar melhor para nós e nossos filhos. Boa sorte!!!

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Contatos: Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp) – (21) 507-3112 –

www.anapp.com.br Associação Nacional dos Bancos de Investimentos (Anbid) – (21) 533-

1130 – www.anbid.com.br Banco Central do Brasil (BACEN) – 0800-992345 – www.bcb.gov.br Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) – (11) 3233-2000 –

www.bovespa.com.br Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) – (11) 3119-2000 –

www.bmf.com.br Breno Xavier de Brito – www.breno.adm.br Comissão de Valores Mobiliários (CVM) – (21) 212-0200 –

www.cvm.gov.br Secretaria da Previdência Complementar (SPC) – (61) 317-5260 –

www.mpas.gov.br Secretaria da Receita Federal – www.receita.fazenda.gov.br

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Leituras Recomendadas FRANKENBERG, Louis. Seu futuro financeiro: você é o maior responsável. São Paulo: Ed. Campus. 2002. ___________________. Guia prático para cuidar de seu orçamento. São Paulo: Ed. Campus. 2002. HALFELD, Mauro. Investimentos: como administrar melhor seu dinheiro. São Paulo: Ed. Fundamento. 2001. ______________. Seu imóvel: como comprar bem. São Paulo: Ed. Fundamento. 2002. KIYOSAKI, Robert T.; LECHTER, Sharon L. Pai rico, pai pobre. São Paulo: Ed. Campus. 2000. ___________________________________. Independência financeira: o guia do pai rico. São Paulo: Ed. Campus. 2001. GITMAN. Lawrence. Fundamentos da administração financeira. São Paulo: Ed. Harbra. 2000. BRAGA. Roberto. Administração financeira e orçamentária. São Paulo: Ed. Atlas. 1996. CARDOSO. Alberto L.; BRITO. Breno X. Administração financeira e orçamentária – livro didático. Goiânia: Ed. UCG. 2001.