Da Desconstrucao Reconstrucao

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DPSedes – Departamento de Psicodrama – Instituto Sedes Sapientiae - Março 2008 Da des-construção à re-construção de sentidos e funções: apresentação e análise de recortes do processo de terapia familiar numa família com paciente identificado com funcionamento psicótico 1 Mariângela Pinto da Fonseca Wechsler 2 I-INTRODUÇÃO: Meu interesse em estudar a construção, a des-construção e a re-construção dos processos de desenvolvimento, quer de um indivíduo, quer de um grupo já é de longa data, uma vez que minha formação continuada foi trilhada pela Especialização em Psicodrama, a qual me deu a possibilidade de leitura da estrutura de um grupo, da sua dinâmica e das possibilidades de cura; pelo Mestrado e Doutorado em Psicologia, área de concentração Psicologia escolar, onde pude estudar e criar uma espiral de desenvolvimento que correlaciona os níveis de desenvolvimento sócio-afetivo-cognitivo, assim como propor pesquisas com crianças e adolescentes que pudesse corroborar minhas hipóteses, as quais afirmavam que as estruturas individuais (cognição) e os padrões de relação sócio-afetivo são construídos ao mesmo tempo e que, portanto, num determinado contexto, podemos ajudar quer na construção propriamente dita das estruturas e modos de relação, quer na des-construção de sentidos não funcionais e quer na re-construção de novas Formas e Conteúdos que apontem para a funcionalidade do sistema 3 . Faltava, na minha trajetória a compreensão mais apurada sobre pensadores sistêmicos e construtivistas que trabalhavam com um grupo específico – a Família e que alargassem meu universo de visão, até então, com influências prioritárias do enfoque Socionômico (Psicodramático) e Piagetiano (Construtivismo). Me apropriando da palavras de Nichols&Schwartz (1998) “ a terapia familiar pode ser vista como um desenvolvimento inevitável na evolução da psicoterapia” (p. 75) Foi, então, que busquei o Curso de Formação de Terapia Familiar em Hospital da UNIFESP, o qual culmina com a escrita desta monografia (2004), aqui apresentada como um artigo. Para tanto, quero apresentar e refletir sobre o processo de atendimento de uma família com núcleos psicóticos, mostrando as formas e padrões de relação sócio-afetiva e cognitiva, a estrutura da família (dos vínculos ) e seus valores e crenças, assim como pontuar as des-construções dos padrões ditos disfuncionais, pois apontavam para a doença (núcleos psicóticos) e as re-construções alcançadas, apontando para uma nova Forma de Pensar, Sentir e Agir no sistema. Desta maneira, temos por objetivo geral, neste artigo, a apresentação e a análise de recortes do processo familiar numa visão sistêmica construtivista e por objetivos específicos situar a parte psicótica da personalidade, da perspectiva Bioniana, e utilizá-la numa compreensão sistêmica construtivista, discutindo, até onde pudermos, os sentidos destas aproximações, que apontarão para a discussão sobre o campo de pesquisa que põe em jogo as relações entre os aspectos intra-psíquicos (parte psicótica) e os inter-psíquicos (jogos relacionais). 1 Trabalho apresentado na III Conferência do Mediterrâneo, Barcelona Espanha, 2008. 2 Psicodramatista-Didata-Supervisora pela FEBRAP; Profa. Departamento de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae e do Convênio entre SOPSP-PUCSP; Dra. em Psicologia Escolar pela USP; Especialista em Terapia Familiar em Hospital pela UNIFESP; Coord. Núcleo de Pesquisa da Diretoria de Ensino e Ciência da FEBRAP (gestões 2003-4; 2005-6). E-mail: [email protected] 3 Aqui estamos usando o termo funcionalidade da perspectiva Construtivista formulada por Piaget, onde o recorte funcional não apenas “ re-alimenta” a estrutura mas, sobretudo, promove sua modificação, apontando para a idéia que Estrutura e Função são indissociáveis, construídas e re-construídas ao longo do desenvolvimento (Wechsler, 1999)

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Da construção a descontrução, Piaget e Moreno

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  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 Da des-construo re-construo de sentidos e funes: apresentao e anlise de recortes do processo de terapia familiar numa famlia com paciente identificado com funcionamento psictico1

    Maringela Pinto da Fonseca Wechsler2 I-INTRODUO: Meu interesse em estudar a construo, a des-construo e a re-construo dos processos de desenvolvimento, quer de um indivduo, quer de um grupo j de longa data, uma vez que minha formao continuada foi trilhada pela Especializao em Psicodrama, a qual me deu a possibilidade de leitura da estrutura de um grupo, da sua dinmica e das possibilidades de cura; pelo Mestrado e Doutorado em Psicologia, rea de concentrao Psicologia escolar, onde pude estudar e criar uma espiral de desenvolvimento que correlaciona os nveis de desenvolvimento scio-afetivo-cognitivo, assim como propor pesquisas com crianas e adolescentes que pudesse corroborar minhas hipteses, as quais afirmavam que as estruturas individuais (cognio) e os padres de relao scio-afetivo so construdos ao mesmo tempo e que, portanto, num determinado contexto, podemos ajudar quer na construo propriamente dita das estruturas e modos de relao, quer na des-construo de sentidos no funcionais e quer na re-construo de novas Formas e Contedos que apontem para a funcionalidade do sistema3. Faltava, na minha trajetria a compreenso mais apurada sobre pensadores sistmicos e construtivistas que trabalhavam com um grupo especfico a Famlia e que alargassem meu universo de viso, at ento, com influncias prioritrias do enfoque Socionmico (Psicodramtico) e Piagetiano (Construtivismo). Me apropriando da palavras de Nichols&Schwartz (1998) a terapia familiar pode ser vista como um desenvolvimento inevitvel na evoluo da psicoterapia (p. 75) Foi, ento, que busquei o Curso de Formao de Terapia Familiar em Hospital da UNIFESP, o qual culmina com a escrita desta monografia (2004), aqui apresentada como um artigo. Para tanto, quero apresentar e refletir sobre o processo de atendimento de uma famlia com ncleos psicticos, mostrando as formas e padres de relao scio-afetiva e cognitiva, a estrutura da famlia (dos vnculos ) e seus valores e crenas, assim como pontuar as des-construes dos padres ditos disfuncionais, pois apontavam para a doena (ncleos psicticos) e as re-construes alcanadas, apontando para uma nova Forma de Pensar, Sentir e Agir no sistema. Desta maneira, temos por objetivo geral, neste artigo, a apresentao e a anlise de recortes do processo familiar numa viso sistmica construtivista e por objetivos especficos situar a parte psictica da personalidade, da perspectiva Bioniana, e utiliz-la numa compreenso sistmica construtivista, discutindo, at onde pudermos, os sentidos destas aproximaes, que apontaro para a discusso sobre o campo de pesquisa que pe em jogo as relaes entre os aspectos intra-psquicos (parte psictica) e os inter-psquicos (jogos relacionais).

    1 Trabalho apresentado na III Conferncia do Mediterrneo, Barcelona Espanha, 2008. 2 Psicodramatista-Didata-Supervisora pela FEBRAP; Profa. Departamento de Psicodrama do Instituto Sedes Sapientiae e do Convnio entre SOPSP-PUCSP; Dra. em Psicologia Escolar pela USP; Especialista em Terapia Familiar em Hospital pela UNIFESP; Coord. Ncleo de Pesquisa da Diretoria de Ensino e Cincia da FEBRAP (gestes 2003-4; 2005-6). E-mail: [email protected] 3 Aqui estamos usando o termo funcionalidade da perspectiva Construtivista formulada por Piaget, onde o recorte funcional no apenas re-alimenta a estrutura mas, sobretudo, promove sua modificao, apontando para a idia que Estrutura e Funo so indissociveis, construdas e re-construdas ao longo do desenvolvimento (Wechsler, 1999)

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 Como finalidade ltima, teceremos comentrios sobre quando se consegue ler o sistema sob o foco dos jogos relacionais, co-construindo um padro de relao familiar que permita conexes entre a organizao intra-psquica de seus membros e a inter-psquica, existe a tendncia de se re-colocar o sistema para funcionar de modos mais adaptativos, atualizando a Teleologia e a Teleonomia que garantem a Vida. Da perspectiva de pesquisa, teceremos alguns comentrios entre a pesquisa aqui apresentada e a modalidade de Pesquisa-Ao. II- FUNDAMENTAO TERICA: 1. A Concepo Sistmica da Vida

    Termos uma Viso Sistmica da vida , sobretudo, abandonarmos a idia linear de compreenso de um fenmeno, ou seja a premissa causa e efeito, to referendada pelo pensamento positivista, cujo expoente principal, na filosofia, Descartes, precursor da lgica dedutiva, base da filosofia cartesiana. Ao mesmo tempo, abandonar a idia de uma compreenso somente objetiva dos fenmenos e, nessa perspectiva, a crena de que possvel sermos observadores no participantes, isentos, das situaes. Segundo as palavras de Capra (1982):

    O paradigma ora em transformao dominou nossa cultura durante muitas centenas de anos, ao longo dos quais modelou nossa moderna sociedade ocidental e influenciou significativamente o resto do mundo. Esse paradigma compreende um certo nmero de idias e valores que diferem nitidamente dos da Idade Mdia; valores que estiveram associados a vrias correntes da cultura ocidental, entre elas a revoluo cientfica, o Iluminismo e a Revoluo Industrial. Incluem a crena de que o mtodo cientfico a nica abordagem vlida do conhecimento; a concepo do universo como um sistema mecnico composto de unidades materiais elementares; a concepo da vida em sociedade como uma luta competitiva pela existncia; e a crena do progresso material ilimitado, a ser alcanado atravs do crescimento econmico e tecnolgico. Nas dcadas mais recentes, concluiu-se que todas essas idias e esses valores esto seriamente limitados e necessitam de uma reviso radical. (p.28) .

    Esta mudana de paradigma, norteada, a partir da fsica moderna, alm de se definir pela diferena da premissa que o todo no igual a soma das partes, tal qual o pensamento mecanicista, cartesiano definiria, tm outras peculiaridades: Segundo Capra(1982) orgnico, holstico e ecolgico, onde o todo indivisvel e dinmico, compreendido pela interdependncia das partes, as quais tendem a formar algo que vai para alm das partes, tal qual a unio entre dois elementos gasosos- H2 e O, precipitando-se na formao de um lquido, a gua (H2O). Seg. o autor, a maneira como as vrias partes esto integradas no todo mais importante do que as prprias partes. As interconexes e interdependncias entre os numerosos conceitos representam a essncia de minha prpria contribuio. (p. 15). Assim, um Sistema Vivo poderia ser definido como a Teia de relaes, a Teia da Vida, entendendo a vida como a busca de auto-organizao, de padres de organizao contnua. Desta maneira, compreender a interdependncia das partes de um sistema que plstico e flexvel, tentar identificar o padro que as conecta, os princpios bsicos de organizao, dentro de um processo dinmico. As qualidades dos Sistemas Vivos, para o autor, ento, seriam:

    Auto-organizao determinada pela espcie gentipo, onde sua ordem de Estrutura e Funo no imposta pelo meio ambiente e, sim, guiada pelos princpios internos de organizao. Os principais fenmenos dinmicos da auto-organizao so a auto-renovao, que significa a capacidade de reciclar continuamente seus componentes, sem perder a noo de identidade do sitema; a auto-transcendncia, a capacidade de criao de Novas Formas a partir das combinaes possveis que transcendem as prprias fronteiras fsicas e mentais; a estabilidade dinmica, caracterstica de sistemas abertos, sendo a capacidade de manter a globalizao do sistema em constante modificao, movimento contnuo entre equilbrios e desequilbrios. Tal estado de contnua flutuao chamado de

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 homeostase, estado de equilbrio dinmico. Em Sistemas Vivos, existem mecanismos reguladores que permitem esta homeostase, os quais se do por realimentao negativa (negative feedback), onde o organismo tende a voltar ao seu estado original frente uma dada perturbao, reduzindo qualquer desvio do estado de equilbrio e realimentao positiva (positive feedback), que consiste na ampliao de certos desvios, em vez de os amortecer. Esses mecanismos tem um papel importantssimo nos processos de desenvolvimento, aprendizagem e evoluo. Desta maneira, a capacidade de adaptao a um meio ambiente varivel uma caracterstica essencial dos organismos vivos e dos sistemas sociais (Capra,1982, p.266).

    Para corroborar esta idia, Piaget, bilogo como primeira formao (1896-1980), segundo Wechsler (1998) j afirmava que a inteligncia a forma mais evoluda que a adaptao biolgica assumiu no desenvolvimento das espcies e que ela a inteligncia- pode ser compreendida pelo duplo vrtice, quer de adaptao, quando se olha da perspectiva externa, quer da organizao auto-organizao quando se toma a perspectiva interna. Estes aspectos indissociveis acompanham a aquisio do conhecimento, a qual garantida por um processo denominado de equilibrao majorante (p.58), um sistema de auto-regulaes, por feedbacks positivos e negativos, tal qual Capra nos coloca, integrando, seg. Piaget, a maturao nervosa, a experincia com os objetos e a experincia social.

    Aqui cabe citar Bateson (1904-1980), que segundo Capra (1982), traz uma concepo de mente que aponta para uma conseqncia necessria e inevitvel de uma certa complexidade que se inicia muito antes dos organismos desenvolverem um crebro ou sistema nervoso superior. Parece muito similar ao que falvamos sobre a concepo de inteligncia que Piaget nos deixou. Bateson tambm foi bilogo, alm de antroplogo , e nos brindou com a concepo de que a mente, sendo um sistema auto-organizador, caracterstica de organismos vivos e o fato do mundo vivo estar organizado em estruturas de mltiplos nveis, significa que existam diferentes nveis de mente. Deus no criador, mas a mente do universo...representa a dinmica auto-organizadora do cosmo inteiro (p. 285). Bateson (1986) ainda acrescenta que o mundo ligado em seus aspectos mentais e que para apreend-lo necessrio identificar o padro que conecta, ou melhor o Metapadro o padro dos padres, o qual somente ganha sentido dentro de um contexto, desenhando, ento, significados: temporal define a funo que ocupa e espacial, o lugar ocupado. Parece que o que Bateson tem por finalidade o resgate do senso de Unidade da Biosfera e da Humanidade, a qual aponta para a afirmao da importncia do exerccio esttico, aqui entendido como a sensibilidade para capturar o metapadro.

    Mas, retornando para o nosso tema em questo a viso sistmica da vida - importante salientar que a integrao entre viso orgnica, holstica e ecolgica que caracteriza o novo paradigma, implica em poder olhar o fenmeno segundo suas conexes intra e inter campos e a, novamente uma diferena bsica entre o pensamento cartesiano, o qual desmembrava o Ser Humano em matria e razo e, deixava, ainda, de lado o mote espiritual, to caracterizador do pensamento da Idade Mdia, o qual dominava e aprisionava a cincia, naquele contexto. Desta maneira, se voltarmos para o Ser Humano, portador de conscincia e compreendermos o significado de com-cincia, dessa perspectiva sistmica, poderemos integrar, novamente, mente, corpo e espiritualidade:

    a maioria da teorias acerca da natureza da conscincia parecem ser variaes em torno de duas concepes opostas que podem, no obstante, ser complementares e se reconciliar na abordagem sistmica. Uma dessas concepes pode ser chamada de concepo cientfica ocidental. Considera a matria primria e a conscincia uma propriedade de complexos modelos materiais que surge num certo estgio da evoluo biolgica. A maioria dos neurocientistas subscreve hoje esse ponto de vista. A outra concepo da conscincia pode ser chamada de viso mstica, uma vez que est geralmente assentada em tradies msticas. Considera a conscincia a realidade primria e a base de todo o ser. Em sua mais pura forma, a conscincia, de acordo com essa viso, imaterial, informe e vazia de

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 contedo; freqentemente ela descrita como conscincia pura , realidade ltima, ....estas manifestaes de conscincia pura est associada ao Divino em muitas tradies espirituais. Afirma-se que a essncia do universo e que se manifesta em todas as coisas; todas as formas de matria e todos os seres vivos so vistos como modelos da conscincia divina.....so alcanadas atravs da meditao, podem ocorrer espontaneamente no processo de criao artstica e em vrios outros contextos Os modernos psiclogos passaram a chamar de transpessoais as experincias incomuns dessa espcie porque parecem permitir mente individual estabelecer contato com modelos mentais coletivos e at csmicos...no obstante a concepo sistmica de mente parece perfeitamente compatvel com as concepes cientfica da mente e mstica da conscincia e fornece, portanto, a estrutura ideal para unificar as duas. (Capra, 1982 p. 290-291) Segundo Kuhn (1977), apud Nichols & Schawartz (1998) a Histria da Cincia ilustra a evoluo dos diversos paradigmas norteadores utilizados nas diversas reas, iniciando com o que ele denominou como perodo pr-paradigmtico, durante o qual os profissionais ainda so divididos entre as diversas escolas rivais e finalizando com o perodo ps-paradigmtico, onde h a dominao de uma escola numa determinada disciplina. Nichols & Schwartz (1998) afirmam que a rea da psicoterapia, ainda no uma rea que alcanou um consenso no que diz respeito aos diversos paradigmas que as norteiam, estando, ainda na fase pr-paradigmtica ou pr-consensual, quer por ser um campo de pesquisa ainda novo, quer pela complexidade dos fenmenos com os quais as teorias da psicoterapia tentam lidar.

    De qualquer maneira, em torno dessa viso sistmica da vida, muitos autores vem se reunindo para desenhar modos de tratamento para indivduos, famlias e outros grupos e, nesse sentido, re-criam a teoria, direcionando-a para finalidades especficas. Nosso mote, a seguir, ser resumir a trajetria da terapia familiar sistmica, at chegar numa viso construtivista.

    2. Terapia Familiar Sistmica -- da Ciberntica de 1a. Ordem ao Construtivismo: alargamento no campo de viso e atuao do terapeuta familiar:

    Contar a trajetria da terapia familiar sistmica , de alguma forma, pontuar que as idias sobre a viso sistmica da vida no conseguiram influenciar a terapia familiar do mesmo modo, linearmente, durante os diversos anos, desde a dcada de 50, quando os primeiros terapeutas familiares representaram o movimento contra os princpios estabelecidos no campo da sade mental, concentrando-se, principalmente, nos contextos externos em detrimento exclusividade da nfase nos fenmenos intra-psquicos e das explicaes histricas, caracterizada por fase essencialista, seg. Schwartz et allii (2000). A segunda fase denominada por estgio transicional, onde as idias passam a se sedimentar, ampliando seu corpo terico e questionamentos do modelo anterior, existindo, assim, a polarizao entre os diferentes modelos constitudos; por ltimo a fase ecolgica, onde a tendncia de uma integrao, uma criao de uma nova forma que d conta de incorporar abordagens divergentes, criando, assim , um metamodelo, um metapadro.

    A criao da Terapia Familiar orientada pela Ciberntica de 1a. ordem teve dois momentos: o primeiro, denominado por 1 Ciberntica, foi o incio da influncia da viso sistmica da vida e seus expoentes foram o grupo de Palo Alto (Califrnia, EUA): Virgnia Satir, Wadislavsky entre outros. A nfase no comunicacional inaugurava a importncia de se observar o sistema de comunicao entre os elementos da famlia e a correo dos erros detectados apoiava-se no princpio da transformao por feedbacksnegativos4. O terapeuta fazia o papel de observador participante. O segundo momento foi a 2 Ciberntica, onde a nfase estava na transformao estrutural do sistema e, portanto, na correo

    4 A correo do erro por feedback negativo implica em se absorver o erro ao sistema, sem transformar a forma, a organizao do sistema; j por feedback positivo implica em transformao da organizao disfuncional, da estrutura antiga do sistema.

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 do erro por feedbacks positivos e negativos. Os expoentes foram: Minuchin, Ackerman, Jay Haley e sua escola estratgica. O terapeuta ainda fazia o papel de observador participante do sistema. Desta maneira, a postura do terapeuta, nestes dois momentos da Ciberntica de 1a. Ordem, era mais diretiva, atualizando a existncia de uma verdade priori.

    A passagem da Ciberntica de 1a. Ordem para a Ciberntica de 2A. Ordem implicou numa mudana de paradigma e a transio foi representada pelo grupo de terapeutas que compunham a denominada Escola de Milo ou Escola Sistmica, influenciada pela escola estratgica de Jay Haley. Os seus expoentes foram: Mara Selvini Palazzoli; Juliana Prata; Ceccim;Bscolo entre outros. Esta Escola foi considerada uma transio na mudana de paradigma pois, embora o terapeuta ainda fosse um observador participante, ele, ao trabalhar com paradoxos e contraparadoxos, iniciou questionamentos a respeito das verdades que orientavam o sistema.

    A mudana de paradigma que sustentou esta passagem inaugura um alargamento no campo de viso da realidade, visto que a crena se desloca de uma realidade apreendida pelo terapeuta e os erros detectados por ele para uma realidade a ser co-construda, assim uma multi-realidade. Na medida em que o terapeuta faz parte da circularidade do sistema no pode existir uma verdade objetiva e o sistema no definido pelo problema, mas sim o problema que define o sistema, ou seja o problema a prpria histria contada e, neste sentido, as relaes constitutivas so construdas atravs da linguagem. O papel do terapeuta muda de observador participante que detecta o sintoma e corrigi o erro para aquele que pode ser facilitador e co-responsvel na construo de uma realidade que compreende o sintoma como uma disfuno que todos os participantes do sistema tem uma co-responsabilidade, uma vez que o importante como os elementos do sistema se relacionam com o problema via a linguagem, expresso do pensamento, portanto dos smbolos, dos signos, das crenas, das prioridades. Este so os princpios gerais do Construtivismo, outra denominao para Ciberntica de 2a.Ordem, onde o que norteia o fenmeno do conhecer a interdependncia entre sujeito do conhecimento e realidade a ser construda, apontando para uma co-construo da realidade pelos sujeitos. Seus expoentes foram: Michel White; Gulhieham; Tom Andersen; Karl Tomm; Andolph; Carlos Slusky, entre outros.

    Falar em mudana de paradigma , nesta passagem da Ciberntica de 1a. Ordem para a de 2a. Ordem ou Construtivismo tambm poder pensar nas contribuies de Maturana e Morin que tambm fundamentam este novo modo de concepo de construo da realidade, alm de Piaget, que j falava sobre isto em seus escritos datados em 19775. Maturana, doutor em biologia, chileno (1928- hoje) traduz uma epistemologia que aponta para as questes sobre as bases biolgicas do conhecimento e a importncia da linguagem como tradutora dos smbolos e signos da famlia. Para abordar a questo das bases biolgicas do conhecimento, segundo Maturana, recortarei dois conceitos que me parecem fundantes: o de estrutura e o de organizao. Seg. o autor (1998) a realidade no cpia fiel do exterior pois tem elementos prprios do sujeito, seus componentes constitutivos. Desta maneira, da perspectiva do sujeito, a estrutura so os componentes e suas relaes ( dinmica) e a organizao a maneira particular, o arranjo singular entre os componentes constituivos do sistema, ou seja o padro, a forma que se repete e que d identidade ao sistema (indivduo). A pesquisa e compreenso dos universos intra-psquico, expresso maior do indivduo e inter-psquico, foco maior no relacional, so de fundamental importncia para o terapeuta Familiar Sistmico que, numa abordagem construtivista, tem a linguagem em estreita conexo com o pensamento, os smbolos, signos e valores. Poderamos dizer que Maturana referendaria a idia da linguagem ser a expresso da organizao interna do sistema e tambm reveladora da estrutura que o sustenta. Concepo parecida com a idia de Piaget, uma vez que para ele (Piaget) a linguagem filha do pensamento e, neste sentido, traduz o nvel de

    5 Recherches Sur Labstraction Rflchissante Labstraction des relations lgico-arithmtiques et Labstraction de lordre des relations spatiales. Presses |Universitaires de France, 1977

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 organizao interna do mesmo, ou seja, o nvel estrutural e a sua funo. No entanto, outros autores, Vigotsky, por exemplo, dizem que o pensamento filho da linguagem, o que nos conduz pesquisa sobre a importncia da linguagem (sistema social) na construo das estruturas e organizao (Ren Van Der Veer & Jaan Valsiner,1996). De qualquer forma, existe um paralelismo entre a linguagem e a estrutura que sustenta o nvel de organizao particular do sistema: ao falar se conhece o que se pensa e como se pensa e somente assim que possvel fazer outras conexes e novos significados. O verbo o princpio organizador da natureza.

    Morin (1921 at hoje), nasceu em Paris, e considerado um dos maiores representantes do paradigma da complexidade, onde a questo norteadora a possibilidade de compreenso da realidade sem fragmentaes, religando o que o pensamento cartesiano separou, uma vez que complexus significa o que tecido junto . O pensamento complexo aquele que se esfora para unir, no na confuso, mas operando diferenciaes. Morin partiu da Teoria Geral dos Sistemas de autoria de Bertalanffy, o qual introduziu o princpio do holismo, da totalidade, em oposio ao paradigma reducionista que procurava explicao ao nvel dos elementos ou partes; define sistema como um conjunto de inter-relaes mtuas (Bertalanffy, 1956). Morin amplia o conceito de Sistema partindo das idias de Pascal, o qual considerava impossvel conhecer as partes sem conhecer o todo e vice-versa; e das idias de Saussure, o qual conceituava sistema como uma totalidade organizada, constituda de elementos que se definem em funo do lugar que ocupam dentro da totalidade. Desta maneira, a ampliao que Morin fez na conceituao de sistema pode ser assim definida: unidade global organizada de inter-relaes entre elementos . Para Morin, o Sistema uma unidade complexa, onde o conjunto , ao mesmo tempo, uno e homogneo, sob o ngulo do todo; diverso e heterogneo, sob o ngulo das partes; complementar e antagnico. O pensamento complexo nasce da Teoria geral dos Sistemas, teoria do Caos, Termodinmica e Ciberntica. Os princpios da complexidade podem ser assim descritos: 1- Princpio dialgico, o qual permite-nos manter a dualidade no seio da unidade, associando dois termos complementares e antagnicos; 2-Princpio Recursivo: um processo em que os produtos e efeitos so, ao mesmo tempo, causas e produtores daquilo que os produziu; 3- Princpio hologramtico: a parte est no todo e o todo est na parte, como os hologramas. 4- Princpio da auto-eco-organizao, que integra a autonomia e a dependncia, a autopoiese (auto-criao) e a influncia do ambiente na transformao (Morin, 1982, 1999).

    Desta maneira, a postura construtivista de um terapeuta familiar est embasada por este paradigma da complexidade e junto famlia ele vai co-construindo os diversos sentidos que as relaes intra e inter psquicas vo tecendo, facilitando a re-construo dos significados e, desta maneira, co-criando novas formas de relao e funcionamento familiar.

    As contribuies importantes de Michel White, Karl Tomm e Tom Andersen parece-nos filiadas a esta linha de raciocnio. De Michel White, a idia da externalizao do problema, a qual nos ajuda no mapeamento sobre como o problema influencia as pessoas e suas relaes, facilitando o desenho da estrutura e a organizao particular do sistema, por meio de perguntas; de Karl Tomm, as questes lineares, circulares, estratgicas e reflexivas, que nos orientam sobre a referida estrutura do sistema e sua organizao particular; de Tom Andersen, a idia da Equipe Reflexiva, a qual abre perspectivas para o sistema sobre o reconhecimento do seu prprio modo de funcionamento e outras possibilidades. Grandesso (2000) nos brinda com uma brilhante obra, na qual faz uma anlise epistemolgica e hermenutica da prtica clnica, enfocando a re-construo do significado. Nos coloca as diferenas entre Construtivismo e Construcionismo Social, nomeando-os como epistemologias ps-modernas, no entanto, tambm em busca da complexidade, tal qual Morin, admite a complementariedade das nfases: no individual construtivismo; no social construcionismo.

    3. Teoria Socionmica: as contribuies de Moreno (1889-1974) para o Pensamento Sistmico

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    Socionomia tem em sua etmologia os radicais nomia- que vem do grego e que significa regra, lei e o radical socius, emprestado do latim, siginificando grupo, companheiro. Dessa maneira, a finalidade da cincia socionmica, criao de Jacob Levy Moreno seria poder ler as regras, as leis que atravessam as relaes inter-pessoais num determinado grupo social. Criou, ento, trs vertentes para dar conta desse projeto: a Sociodinmica, cincia que se ocupa em explicitar a dinmica das relaes interpessoais, cujo mtodo, por excelncia o Role-Playing, ou jogos de papis; a Sociometria, cincia que tem a finalidade de desenhar a estrutura dos grupos, atravs da medida dos vnculos, cujo mtodo o Teste Socimtrico e/ou leitura sociomtrica dos vnculos; e a Sociatria que se ocupa das transformaes, ou seja das possibilidades de cura do grupo e/ou do indivduo, cujos mtodos so Psicodrama, Sociodrama , Psicoterapia de Grupo, Axiodrama e outros mtodos contemporneos. na interdependncia destas trs ramificaes que o socionomista pode apreender a estrutura, a dinmica e propor a cura de um grupo e/ou indivduo, cujo lugar de um observador participante, envolvido na teia de relaes desenhadas pelo grupo. Cabe ainda ressaltar que a teoria socionmica tem sua raiz no teatro, na sociologia e na psicologia. Do teatro, Moreno empresta o termo Papel e a idia de drama que pode ser representado, no entanto, o drama e a trama constituda, da perspectiva moreniana se diferenciam do teatro formal, pois so construdos no momento, no encontro entre a platia e os atores que, espontaneamente, criam e re-criam os textos e as performances, traduzindo sentidos coletivos e individuais. Do Teatro da Espontaneidade (Moreno, 1923), nasce a possibilidade do Teatro Teraputico e o famoso caso Brbara-Jorge, poderia ser considerado o embrio do trabalho de casal e famlia.

    Seixas (1992), ao citar Moreno, pontua que o autor identifica trs tendncias ou dimenses no universo social, denominada por Tricotomia Social, que o aproxima do pensamento sistmico a sociedade externa, a matriz sociomtrica e a realidade social:

    Por sociedade externa, entendo todos os grupos visveis e tangveis, grandes ou pequenos, oficiais ou no, de que compe uma sociedade humana. A matriz sociomtrica compreende todas as estruturas sociomtricas invisveis observao macroscpia, mas suscetveis de descobrir-se mediante a anlise sociomtrica. Enfim, entendo por realidade social, a sntese e a interprestao dinmica das duas dimenses precedentes (p.31). Para Moreno (1972), ainda citado por Seixas (1992) o conflito resultante das duas primeiras dimenses jamais se resolve por completo, pois existe a luta dinmica entre as foras subterrneas dos vnculos que formam as estruturas sociomtricas invisveis e a realidade externa que se ope a qualquer transformao. Essas estruturas sociomtricas podem ser assim classificadas por: tomo social, a molcula, o sociide, o classide e as redes sociais6. Esta leitura da realidade em nveis e em eterno dinamismo se aproxima da viso sistmica de vida e as redes sociais um conceito que agora comea a ser veiculado entre os terapeutas familiares.

    Dos princpios descritos sobre o pensamento sistmico o que poderamos recortar aqui para pontuarmos suas similaridades com as contribuies Morenianas seria a tendncia de se viver o fenmeno segundo as mltiplas perspectivas, uma vez que para Moreno o desenvolvimento do indivduo ou grupo aponta para a possibilidade de Inverso de Papis, que seria a possibilidade recproca de se colocar no lugar do outro, num determinado contexto, num determinado momento (Moreno, 1946). Esta possibilidade se funda, ainda, na concepo moreniana de Homem em relao, com seus conceitos fundantes de espontaneidade/criatividade e tele; na concepo de sua Teoria de Desenvolvimento (Matriz de identidade) e de sua Teoria de Personalidade (Teoria de Papis).

    6 Por tomo Social entendemos a menor unidade social que se forma ao redor do indivduo, portanto os vnculos mais significativos, num determinado momento; Por molcula compreendemos um conjunto de tomos sociais; Por sociide , entendemos uma aglomerao de molculas ligadas outras aglomeraes, por meio de redes; Por classides, compreendemos a interpenetrao de diversos sociides. As redes sociais fazem a interligao dos sociides e classides (Seixas, 1992).

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 Optamos por no explicitar os referidos conceitos aqui por acreditarmos que estes j esto plenamente apreendidos entre ns psicodramatistas.

    O que vale pontuar que o Homem em relao vai construindo sua sade e ou doena num grupo, sendo o primeiro grupo que o recebe a famlia, com suas formas e padres de relaes constitutivos, suas crenas e valores. Ao entrar nesta famlia, o beb tambm a transforma e juntos vo construindo novas formas de relaes e/ou repetindo as velhas. Moreno (1946) chama esta primeira aprendizagem emocional de Matriz de Identidade, a placenta social que recebe a criana. Esta Matriz tem a finalidade de ajudar com que a criana consiga Inverter Papis, ou seja sair do seu egocentrismo intelectual, afetivo e social, descentrando-se, para poder experimentar a perspectiva do Outro, deixando com que este outro tambm viva a sua perspectiva.

    Para tal desenvolvimento, Wechsler (1997, 1998, 1999) nos brinda com o conceito Matriz de Identidade numa perspectiva Construtivista - locus de construo de conhecimento, onde nos coloca que tudo que se constri num determinado nvel de desenvolvimento re-construdo num nvel posterior, alargando-se as formas e re-organizando-se os contedos. Assim, o nvel do sensrio motor (0-2 anos) onde as formas e padres de relaes possveis so a indiferenciao, simbiose e reconhecimento do eu e do tu, da perspectiva sensria, ou seja corpo, casa das emoes podendo ser expressas pelos papis psicossomticos (Matriz de Identidade Indiferenciada e Diferenciada para Moreno), reconstitudo num nvel simblico, vias os papis psicodramticos (papis imaginrios, o faz de conta) e papis sociais (apreendidos culturalmente), momento nomeado, por Moreno de Matriz da Brecha Fantasia e Realidade. Este momento a partir dos 2 anos e marcado por perodos especficos: de 2+-6 anos, a criana, no auge da fantasia, lana mo, portanto, dos papis imaginrios, se re-constri e, ao mesmo tempo, o universo que a cerca atualizando relaes de corredor, triangulao, pr-inverso, a servio de sua primeira descentrao do pensamento e afeto ao nvel do simblico, que culminar no momento seguinte. A partir dos 7 at os 11 anos, esta criana j consegue Inverter Papis propriamente ditos, pois alcanou seu primeiro equilbrio ao nvel do pensamento e sua primeira forma de identidade estvel, com a atualizao da necessidade lgica, por um lado e da socializao, por outro, construindo, para tal a estrutura de reversibilidade que ancora tais transformaes.7 No entanto, ainda o virtual est subordinado ao real, que se expressa pela primeira articulao entre papis psicossomticos, imaginrios e sociais. Dos 11 aos 15 anos, poca do incio da puberdade e adolescncia, outra re-construo realizada, possibilitando ao adolescente se firmar no mundo das possibilidades virtuais, onde o real se subordina ao virtual, alargando a complexidade estrutural, inaugurando a fuso das lgicas das Classes (Inverso) e Relaes (Recproca), at ento separadas pelo pensamento concreto, e re-organizando os contedos. Esta re-organizao estrutural a ltima que o desenvolvimento desenha, no entanto os contedos se re-organizaro a vida inteira, permitindo novos arranjos e novos sentidos, expressados por novas articulaes entre os papis psicossomticos, imaginrios e sociais.

    Assim, conceber um grupo e/ou um indivduo como um sistema vivo, que se auto-regula, viver com ele(s) as especificidades de suas prprias regulaes, identificando padres que conectam os indivduos (intra e inter-psquicos), um metapadro que leve em conta o contexto e, sobretudo, facilitando a co-criao de outras possibilidades de existncia, de relao. Cunhar novos registros, diferentemente daqueles primeiros vivenciados na Matriz de Identidade. Ora, poder atualizar, pela experincia, a leitura sociodinmica, sociomtrica e socitrica. Moreno, embora no identificado com os autores sistmicos, mesmo porque seu pensamento anterior ao nascimento da teoria sistmica, j 7 Para Piaget , seg. Wechsler (1998), nesse momento qualquer ao mental da criana traduz uma operao, porque a criana j tem capacidade de anular em pensamento uma transformao percebida no mundo fsico e inter-individual por meio de uma ao orientada no sentido inverso (A-A=0) ou compensada por uma ao recproca(A corresponde a B e reciprocamente)...qualquer transformao operatria necessita de uma invariante, denominada esquema de conservao (p. 72).

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 tinha em seu corpo terico-metodolgico e, sobretudo, em seu pressuposto de Homem homem em relao o germe do pensamento sistmico. 4. Os Jogos Psicticos na Famlia, seu lugar na Teoria Sistmica e Parte Psictica da

    Personalidade segundo Bion: Mara Selvini Palazzoli, Stefano Cirillo, Matteo Selvini e Anna Maria Sorrentino contribuiram

    muito para o estudo dos Jogos Psicticos na Famlia, nos brindando com a publicao de seu livro do mesmo nome, em 1998. A trajetria de Mara Selvini nos conta o desenvolvimento de seus trabalhos e idias neste campo, uma vez que j era expoente da passagem da Ciberntica da 1a. Ordem para a de 2a. Ordem, pertencente ao grupo da Escola de Milo ou Escola Sistmica, a qual atualizou a mudana de paradigma, j influenciada pela Escola estratgica de Jay Haley.

    J em 1972, querendo deixar para trs o modo de pensar psicanaltico para aprender a pensar de modo sistmico, tivemos de recorrer a artifcios...para aprender a desviar a nossa ateno das causas de um fenmeno para seus efeitos pragmticos....Depois de alguns anos, porm, percebemos termos trocado um reducionismo pelo outro. Samos de um reducionismo psicanaltico, que desligava o indivduo das suas interaes, para cair no holstico, que desligava o sistema(famlia) de seus membros individuais componentes (Palazzoli et alii, 1998, p. 304)

    Dessa maneira, a idia que nascera precisava compor as articulaes entre a dimenso do sujeito, as diferentes reaes dos indivduos frente a uma mesma srie de prescries e a dimenso tempo, a qual est na base de fenmenos como a seqncia, o processo. Da nasceu a necessidade de se dar uma justificativa epistemolgica para este pensar e operar, a qual se fundamentou em Edgar Morin, com suas idias de um pensar complexo pensamento multidimensional. Dessa perspectiva, os novos princpios norteadores:

    Insuficincia do princpio da universalidade. Necessidade do princpio complementar inteligibilidade, a partir do particular e do singular: ao invz do verbo compreender, a expresso tornar inteligvel.... O que nos permite concluir como a natureza e os limites de nossa inteligncia nos obrigam a seguir o progresso do conhecimento com um percurso em espiral que faa continuamente dialogar aquilo que parece vlido de forma geral com aquilo que tpico e peculiar. (Palazzoli et alii, 1998, p. 306);

    Necessidade de se visualizar o percurso histrico do processo, fazendo intervir nas descries e explicaes tanto a histria como os acontecimentos aleatrios;

    Necessidade de articular, de linkar o conhecimento dos elementos, da partes, ao todo - ao dos conjuntos que estes constituem: Trata-se de ver as relaes (o jogo familiar) como reguladoras das estruturas intrapsquicas individuais, no sentido de que elas selecionam o aparecimento de determinadas qualidades (por ex. psicticas), em detrimento de outras qualidades que permanecem em estado potencial (submerso). Nossa esquematizao deseja partir do jogo para chegar ao indivduo e, em seguida, retornar ao jogo...o essencial do jogo (alm das intenes dos jogadores) est nas inter-retroaes... (p. 308);

    Premncia de se levar em conta a questo da auto-organizao sistmica, quer da perspectiva da cooperao ou no entre os elementos do sistema, quer da perspectiva dos acontecimentos que podem mudar o curso desta auto-organizao do sistema.

    Palazzoli et alii (1998) ainda acrescentam a necessidade de se pensar em Zigue Zague, o que significa poder abandonar o pensamento disjuntivo, mas poder transitar entre a lgica aristotlica - causalidade linear e a causalidade complexa, levando em conta a importncia da equipe teraputica

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 poder sempre refletir sobre possveis erros de manejo e encaminhamento das sesses. Mostram a importncia do Princpio de Distino e no de Disjuno entre o sujeito e seu ambiente.

    Dessa maneira, a importncia de tecer articulaes entre o singular, o universal, o processo, o impondervel, a auto-organizao sistmica, faz nascer a idia da interdependncia entre o intra-psquico e o interpsquico - jogos relacionais e, mais particularmente, a idia de jogos psicticos, quando se trata de articulaes de ordem primitiva em termos de desenvolvimento psquico. Para nosso atual trabalho cabe-nos conceituar o que entendemos por Psicose. Segundo a Classificao de Transtornos Mentais e de Comportamento da CID-10 (1993), Transtornos Psicticos Agudos e Transitrios (F23) esto classificados no Bloco F20-F29, denominado de Esquizofrenia, transtornos esquizotpico e delirantes. So transtornos que por ainda no se ter uma informao clnica sistemtica, no se conseguiu uma orientao definitiva na classificao. Desta maneira, a ordem de prioridade dada aos aspectos-chave selecionados do transtorno o que pode ajudar no diagnstico. So eles: incio agudo; a presena de sndromes tpica; a presena de estresse agudo associado. No entanto, para ns o importante conceituarmos parte psictica da personalidade, ao invs de transtornos psicticos, uma vez que pudemos perceber no processo de terapia familiar aqui apresentado, a atualizao das mesmas e no da Psicose propriamente dita. Para tal, lanaremos mo do referencial da teoria Bioniana de Personalidade e do como Moreno tambm compreendia esta temtica. Para Bion (1967) existe diferena entre psictico em si e funcionamento psictico: ...personalidade psictica, expresso que nomeia e ressalta uma determinada modalidade de funcionamento mental e equivalente, em Bion, a parte psictica da personalidade ...analogamente, beb psictico pode ser ou no um beb diagnosticvel como psictico; o termo designa um determinado aspecto funcional da psique de um beb...o termo sinnimo de parte psictica do beb (p. 60 - N.T.) Assim, cabe-nos, conceituar que o aparelho do pensar constitudo pela possibilidade de simbolizar as emoes - nomear o que h de comum, de singular, etc...E que o funcionamento mental primitivo psictico aquele onde estas emoes no podem ser simbolizadas, uma vez que os mecanismos de defesa que imperam so os de ciso do objeto, atravs da identificao projetiva e, no os da represso, via a projeo e introjeo. Dessa maneira, Bion se preocupou em estudar a gnese da construo do conhecimento, a articulao entre a gnese do pensamento e a das emoes, e, para tal, identifica fatores e funes. A Funo alfa, que seria a capacidade de revrie materna, ou seja, a capacidade da me de sintonizar com as necessidades do beb (a tele do ego auxiliar me- para Moreno, no momento da indiferenciao e simbiose na Matriz de Identidade), a que possibilita a passagem do modo de funcionamento cindido para a integrao, alm do prprio material gentico singular. Com esta revrie materna, o beb conseguir simbolizar as emoes, ou seja os elementos beta das experincias emocionais se transformaro em elementos alfa e, ento, passveis de serem simbolizados. Assim, O aparelho mental auto-poitico, ou seja auto-criador, pois pensar os pensamentos forma a estrutura do aparelho de pensar e esta que ancora os prprios pensamentos (recursividade). O pensamento complexo aquele que permite a construo de sentidos pela experincia emocional e fruto de fatores e funes:

    Funo o nome da atividade mental peculiar a certos fatores que atuam em conjunto. Fator o nome da atividade mental que atua em conjunto com outras atividades mentais para constiturem a funo. Os fatores se deduzem da observao das funes de que eles em conjunto so parte(Bion, 1962, p.18/19).

    Desta forma, o fator pode se assemelhar estrutura de conjunto e a funo prpria organizao singular. Isto nos remete Organizao do ser vivo para Maturana (1926), o qual j nos anunciava a sua organizao auto-poitica, pontuando que a Organizao a configurao de relaes

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 dentro do sistema, o que constitui a identidade, o que invariante, o padro que conecta, o que pode ser observvel; e a Estrutura os componentes do sistema e sua relaes.

    Parece-nos evidente que a parte psictica da personalidade, inerente a qualquer Ser Humano, necessita de um continente fora , portanto um jogo relacional apropriado para ser elaborada, pensada e, ento, seus contedos integrados. Poderamos acrescentar que um lcus frtil de relaes interpessoais que engendre tele, uma matriz de construo de conhecimento que d conta da integrao da parte psictica personalidade, de fundamental importncia para se construir sujeitos saudveis. Seria tendencioso, priori diagnosticar um paciente identificado de psictico sem conhecer os jogos relacionais constituintes das redes familiares. No entanto, a articulao entre as configuraes intrapsquicas e inter-psquicas devem ser cuidadosamente estudadas. III-METODOLOGIA: 1. Procedimento do trabalho:

    1.1.Dos sujeitos: A famlia se constitua por: me, aqui denominada NEL, de 37 anos, separada, formada no ensino

    mdio e cursando tcnico em Podologia, no SENAC; pelo filho mais velho, paciente identificado, aqui denominado LUI, de 21 anos, formado no ensino mdio; pela filha do meio, aqui denominada FLA, de 20 anos, cursando o 3o. ano do ensino mdio e pelo filho mais novo, aqui denominado FER, de 17 anos, cursando o 1o. ano do ensino mdio. A me casou-se com 16 anos, grvida de LUI, tinha um padrasto alcolatra que batia na sua me que j era separada do seu pai. Vieram da Bahia. Teve que esconder a gravidez da me, quando teve seu filho LUI a qual demorou para ir v-los, demonstrando o descontentamento com a situao. NEL, a me de LUI, separou-se do seu marido tambm por motivos dele ser alcolatra e violento. NEL ainda conta que tem um namorado WAL- e que este tambm bebe, formado em tcnico de oftalmologia, profisso ainda no regulamentada.

    1.2 Das sesses: Foram realizadas 30 sesses com a famlia, iniciando em agosto de 2002, perdurando o processo

    at dezembro de 2003, quinzenalmente, nas dependncias do PRODAE, Departamento de Psiquiatria da UNIFESP Escola Paulista de Medicina, sede do Curso de Terapia Familiar em Hospital. As sesses contaram com uma hora de durao. 2. O trip que embasa a prtica socionmica-sistmica:

    Utilizamos como referencial que embasou o encaminhamento de nossas sesses, o trip que atravessa qualquer mtodo socionmico, aqui entendidos como possibilidades de encaminhamento sistmico. Assim, ele composto, segundo Gonalves et alii (1988) pelos contextos,instrumentos e etapas . No iremos conceitu-lo neste artigo, entendendo que os psicodramatistas leitores j apreenderam estes conceitos, no entanto, iremos enumer-los, acrescentando aos instrumentos comuns que norteiam uma sesso sociopsicodramrica, a Equipe Reflexiva, conceituando-a, por se tratar de um procedimento da teoria sistmica:

    2.1. Dos Contextos: Social; Grupal;Dramtico. 2.2. Dos Instrumentos: Cenrio;Protagonista;Diretor;Ego-Auxiliar;Pblico (platia);Equipe Reflexiva: No um

    instrumento pertencente ao corpo terico-metodolgico socionmico, no entanto, como estamos propondo uma metodologia articulada entre este e o referencial sistmico, uma vez que Moreno, mesmo no sendo referendado como sistmico, continha em seu pensamento o germe dessa forma de apreender os fenmenos, aqui a colocamos como o 6o. instrumento que orientou nossa prtica. Dessa forma, este termo e idia cunhado por Tom Andersen traduz a possibilidade de um conjunto de terapeutas que observam a sesso atrs do espelho, compartilhar, no final da sesso, suas ressonncias, atuando como o coro do teatro grego, do qual originou todo o escopo terico-metodolgico da cincia

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 socionmica (vulgo Psicodrama). No prlogo do livro de Andersen (1994), Lynn Hoffman nos coloca: ...la invitacin a cambiar de roles es algo que modifica de manera drstica la posicin de la familia con respecto los profesionales que han venido consultar...o concepto del grupo refexivo es algo similar. Las familias no slo lo experimentan como algo que les da poder, sino que parecen facinadas por el proceso de escuchar las conversaciones de los profesionales acerca de ellos...Sus comentarios en general ofrecen nuevas opciones y descripciones ms que ideas sobre lo que est mal...equipo reflexivo era extremadamente til para darle a la gente la liberdad de aceptar, o rechazar un pensamiento o una idea, o incluso la liberdad para escucharla...Comienza a surgir la capacidad para la metfora, la poesia y el ingenio, y el grupo se ve a menudo sorprendido por la magnitud de su propria imaginacin.. (p.11-13). No mesmo livro, no prefcio, Jurgen Hargens, nos acrescenta: ...La Idea del grupo reflexivo ha sido a veces interpretada como um mtodo, pero Tom Andersen deja muy en claro que es una forma de pensar que inevitablemente lleva a su tipo de prctica, es decir es slo una manera de poner ideas sistmicas en accin... (p.21) Aqui cabe ressaltarmos que acreditamos que um mtodo, enquanto um caminho, s pode ser uma decorrncia prtica das idias tericas das quais ele faz parte.

    2.3. Das Etapas: Aquecimento;Dramatizao: Compartilhar.

    3. As tcnicas bsicas de Moreno utilizadas: Duplo;Espelho;Tomada de Papel;Inverso de Papel.

    4.As tcnicas de Karl Tomm: O estudo das diferentes concepes que norteiam as perguntas teraputicas nasce da

    constatao que, da perspectiva do observador, as psicoterapias so essencialmente conversaes, no entanto se organizam de forma tal que pretendem aliviar o sofrimento daqueles que as procuram, promovendo a cura (Tomm, 1988). Ainda, segundo o autor, existem conversaes mais fundamentadas em afirmaes, colocaes e outras mais em perguntas. imprescindvel que se conecte s conversaes a intencionalidade do terapeuta e suas suposies. Dessa forma, cria 4 tipos de questes, definindo 4 quadrantes, onde as suposies lineares e as circulares formam uma espcie de contnuo, cada qual num extremo, se visualizarmos um eixo vertical, assim como perguntas orientadoras e influenciadoras, tambm, formam este contnuo no eixo horizontal. Assim: 4.1 Questes Lineares: so feitas para orientar o terapeuta sobre a situao do cliente e so

    baseadas em suposies lineares. A inteno... predominantemente investigatria. O terapeuta comporta-se como um investigador ou detetive tentando deslindar um mistrio complexo. As perguntas bsicas so Quem fez o que? Onde? Quando? Por que?...perguntas lineares sobre problemas tendem a conduzir a atitude de julgamento... comum que evoque vergonha, culpa...na famlia...tendem a ter efeito conservador...conseqentemente, o terapeuta fica mais sujeito a tornar-se ajuizatrio... (p. 5,8, 9);

    4.2 Questes Circulares: tambm so feitas para orientar o terapeuta ...mas so baseadas em suposies circulares sobre a natureza dos fenmenos mentais. A inteno... predominantemente exploratria. O terapeuta comporta-se mais como um explorador, pesquisador ou cientista que est prestes a fazer uma nova descoberta. As pressuposies-guia so interacionais e sistmicas...Perguntas so feitas para aproximar os padresque conectam pessoas, objetos, aes, percepes, idias, eventos, crenas, contextos etc. em circuitos recorrentes ou cibernticos...Como que aconteceu de nos encontrarmos juntos hoje? quem mais se preocupa?quem voc acha que est mais preocupado, seu pai ou seu irmo? o que seu pai faz quando voc e sua me conversam?...tendem a ser caracterizadas por uma curiosidade geral sobre a possvel conectividade dos eventos que incluem o problema, mais do que a necessidade

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    especfica de se saber as origens precisas do problema...tm o potencial de efeitos liberadores na famlia...o efeito de perguntas circulares no terapeuta realar a neutralidade e capacidade de aceitar o cliente e a famlia como eles so... (p.5,8,9)

    4.3 Questes Estratgicas: So feitas para influenciar a famlia de maneira especfica, e so baseadas em suposies lineares sobre a natureza do processo teraputico. A inteno... predominantemente corretiva. assumido que a interao instrutiva seja possvel...Por que voc no fala com ele sobre suas preocupaes ao invs de, com as crianas?O que aconteceria se na prxima semana, todo dia s 8 da manh voc sugerisse que ele tomasse alguma responsabilidade?...elas tendem a ter um efeito constrangedor sobre a famlia...por outro lado perguntas estratgicas ocasionais podem por vezes ser extremamente construtivas no processo teraputico...o efeito das perguntas estratgicas no terapeuta que elas tendem a leva-lo em direo a uma postura oposicionista com a famlia... (p. 6,9)

    4.4.Questes Reflexivas: Pretendem influenciar a famlia de forma indireta ou geral, e so baseadas em suposies circulares sobre a natureza do processo que est ocorrendo no sistema teraputico. A inteno predominantemente facilitadora.. moderada pelo respeito autonomia dos clientes...Se voc tivesse que compartilhar com ele o quanto preocupada tem estado e o quanto isto a derruba, o que voc acha que ele poderia pensar ou fazer?..Se houvesse alguma questo no resolvida entre vocs dois, quem pediria desculpas primeiro?...Se esta depresso subitamente desaparecesse, o quanto suas vidas seriam diferentes?...estas perguntas so mais propensas a ter um efeito generativo sobre a famlia...tendem a guiar o terapeuta em direo de tornar-se mais criativo nas perguntas...(p.6,7,9).

    importante salientarmos que os efeitos prticos acabam sendo imprevisveis,visto que existe uma descontinuidade entre as intenes do terapeuta e os efeitos propriamente dito, uma vez que temos que considerar, da perspectiva do terapeuta, a possvel diferena entre o que se pretende fazer e o que se faz, de fato, e, da perspectiva da famlia, tambm, a possvel clivagem entre o que se pergunta e como isso ouvido. O autor ainda nos coloca que os efeitos prticos tambm dependem da estrutura da famlia: uma pergunta estratgica pode ter um efeito regenerador em vez de constrangedor.Uma pergunta linear pode ter um efeito liberador, e uma pergunta reflexiva pode ser constrangedora(p.10). Disso depreendemos que, embora exista uma tendncia para os efeitos descritos, o contexto no qual surgem as perguntas, a colorao afetiva pela entonao do terapeuta e as caractersticas singulares da famlia e do terapeuta precisam ser levados em conta. Acreditamos que a espontaneidade e a criatividade das aes teraputicas para terem esse estatuto e, portanto serem adequadas, precisam atualizar relaes que engendrem tele. 5.Tcnica da Externalizaco do Problema Michel White

    O pensamento de Michel White foi influenciado, sobretudo, por Bateson, Maturana e construtivistas. Dessa forma, a pessoa e a relao em si no constituem o problema, mas sim a relao das pessoas com a situao problema que se converte no real problema. Assim, a externalizao permite a diferenciao entre as pessoas e o relato dominante, marcando que a existncia dos sujeitos vai alm do problema circunscrito e, dessa maneira, possvel a abertura para novos significados. As perguntas de influncias relativas anima as pessoas a desenharem o mapa de influncia do problema em suas vidas e nas suas relaes, assim como a influncia das aes das prprias pessoas no problema.

    Na nossa sesso do Jogo dos Limites, somente pontuada mas no relatada neste atual trabalho, atualizou o encontro entre jogo dramtico e a tcnica da externalizao do problema, uma vez que a famlia pde conversar sobre o problema dos limites, num setting ldico, mostrando com o corpo as aproximaes e distncias que se encontravam uns dos outros. 6. Mtodo utilizado: Sociodrama Familiar Sistmico

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    Mtodo criado por Seixas (1992) e aqui re-colocado por fazer a ponte entre os pressupostos morenianos e os sistmicos. O sociodrama , por excelncia um dos mtodos da sociatria, vertente curativa da cincia socionmica que trabalha com a possibilidade de subjetivao do objetivo, ao invs de somente objetivar o subjetivo, que seria o fundamento do psicodrama (Naffat , 1979). No entanto sabemos que a questo da subjetivao e da objetivao so dois lados da mesma moeda e na prtica sociodramtica sistmica se persegue quer a subjetivao do objetivo, ou seja a subjetivao da relao que as pessoas tem com a situao problema, quer se objetiva o subjetivo, ou seja se externaliza o subjetivo a influncia do problema em suas vidas e nas suas relaes, assim como a influncia das aes das prprias pessoas no problema. Nesse sentido Seixas (1992) nos alerta:

    o objeto do sociodrama familiar sistmico/ciberntico a famlia considerada um sistema, com uma tele-estrutura prpria , que procura ajuda porque torna-se incapaz, devido a bloqueios, de escapar s conservas culturais. Torna-se rgida e impossibilitada de descobrir novas alternativas, que propiciem as mudanas necessrias para ser mais funcional e adequada a seus membros.

    O trabalho teraputico, consiste em criar um contexto, que facilite o veculo de novas informaes. Estas devem ser trocadas em conjunto, preferencialmente, na dramatizao. A presena de todos os membros da famlia na sesso garante multivises da realidade do sistema, ou seja, facilita a percepo de histrias subjacentes sua histria oficial. Estas multivises devem ser igualmente validadas pelo terapeuta, como possveis vises da realidade(p. 135).

    Cabe ressaltarmos que nem todas as sesses aqui apresentadas atualizaram dramatizaes, no entanto, todas foram orientadas pelos pressupostos que orientam a prtica socionmica-sistmica, j, primeiramente, sistematizada por Seixas.

    IV- RESULTADOS: Para nossa finalidade, vamos apresentar a trajetria desse processo teraputico em trs grandes blocos, de acordo com as temticas e conquistas desenvolvidas ao longo dos trs semestres de trabalho conjunto, dando visibilidade a partir de alguns recortes:

    1 semestre (agosto-dezembro/2002): da 1a sesso a 9a sesso: O Re-enquadramento da queixa e a questo dos limites e fronteiras entre os sub-sistemas fraternal e parental.Podemos dizer que neste incio do processo no existia o sub-sistema parental, visto que a me NEL se comportava como uma irm dos filhos:

    Recortes da 1 sesso -todos presentes:.A queixa inicial foi a agressividade de LUI e sua imobilidade frente ao seu desenvolvimento, visto que no trabalhava, e havia terminado o Ensino Mdio. A diretora pediu para que ele no papel dos componentes da famlia pudesse falar sobre suas qualidades e defeitos e depois no seu prprio papel pudesse falar das qualidades e defeitos dos seus irmos e me:

    LUI no papel de FLA, falando para ele prprio: carinhoso e bagunceiro

    LUI no papel de FER: carinhoso e chato

    LUI no papel de NEL: carinhoso e agressivo

    LUI diz para FLA: carinhosa e pega no p

    LUI diz para NEL: carinhosa, atenciosa e pega no p

    LUI diz para FER: carinhoso e esnobe

    A qualidade da famlia foi ser carinhoso o valor que a famlia expressa, em direo ao desejo, pois o carinho em si entre os membros no pode ser atualizado, de fato, pois no existe contorno dos papis jogados ( todos parecem irmos)

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 Outra temtica trabalhada neste bloco de sesses apontou para a Saga a maldio - da famlia, a qual dizia sobre a repetio de padres geracionais:

    Recortes da 3. Sesso: Dir: qual a cena temida para voc, me, o que te lembra quando chega em casa e v o LUI sozinho deitado no sof com o cachorro no peito assistindo T.V.?

    NEL (me): lembro-me de duas coisas...tenho medo que o LUI se suicide e que fique como meu irmo que agora mora em casa desde que minha me morreu(1997)...ele era alcolatra, no trabalhava e era o queridinho da mame...eu fazia tudo, arrumava a casa, lavava a roupa e ele no fazia nada, mas tinha tudo com a mame...era um parasita...Agora ele est diferente, tem hansenase (lepra)...

    Ego-Auxiliar: Olha que importante esta repetio da sua vida: o seu irmo com a sua me e voc com seu filho; seu pai e seu marido...mas, na realidade LUI trabalha muito mais que seu irmo um dia trabalhou...

    NEL: L em casa...tudo quebra, destrudo, difcil de conservar...

    Dir: Parece uma maldio, uma saga da famlia...todo o clima familiar sempre impregnado de destruio, de tristezas, de um bode expiatrio que um sangue suga e de um outro que precisa trabalhar dobrado...

    Recortes da 7a sesso: Discusso sobre as tarefas de casa re-construo dos limites e dos sub-sistemas fraternal e parental: Todos presentes:

    Dir: Observa os lugares dos membros da famlia, apontando que na sesso anterior estava o FER sentado mais afastado e LUI, me e FLA juntos; hoje LUI est sozinho e do outro lado FER, me e FLA. Assim, por favor, vamos re-colocar estes lugares: coloquem as cadeiras de vocs, LUI, FER e FLA mais prximas e, voc, NEL sente-se mais diferenciada deles, apropriando-se do seu lugar de me...

    NEL: eu tenho dificuldade, sim, de me diferenciar deles...de por limites...

    Recorte da Equipe Reflexiva: no final, houve a entrada dos terapeutas da Equipe Reflexiva:

    1a.Terapeuta: Sabe, a flor na cabea (NEL estava com uma flor natural na cabea) muito bela e me faz pensar como nesta famlia existe desejos de se divertir...sair...ser jovem, ainda!

    2a. terapeuta: Eu fico pensando a importncia do ciclo vital nesta famlia...pertencer importante, mas o tempo transforma a necessidade do peito para o beb num trabalho para um Homem de 40 anos...Qual seria o papel de cada adulto nesta famlia?

    Aps a Equipe Reflexiva, FLA reflete: como eu posso fazer para sair deste papel de me dos meus irmos?

    Todos saem bastante mexidos, sobretudo NEL

    2o. semestre (janeiro- junho/2003): da 10o sesso a 19o sesso: A metfora da Casa, pelos desenhos construdos, explicitando o Jogo Relacional de aprisionamento; a necessidade de se construir pontes entre famlia e mundo, entre mundo interno e externo. O reconhecimento de LUI do lugar que ocupa na famlia e o aparecimento do seu dio; FLA inicia um namoro e NEL termina o seu.

    Recortes da 13a sesso : Presentes: LUI, FLA, NEL:

    Recorte das tematizaes sobre o desenho de NEL :

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 Dir: Agora que vocs fizeram os desenhos de como se vem no mundo...vamos discut-los...Sugiro que se escolha um desenho e que os outros possam falar suas ressonncias, o que sentiram, pensaram, perceberam sobre o desenho escolhido e, depois, o dono do desenho pode acrescentar, corrigir, confirmar...

    O desenho de NEL foi o escolhido primeiramente.

    LUI: um desenho alegre, muitas cores, parece uma fazenda, prazeiroso...tem a casa, ns os filhos..., lugar bem aberto, ensolarado...

    FLA: tem uma estrada...parece que tem algum fechado na casa...

    NEL: como a FLA falou...meu lugar dentro da casa, o lugar deles a busca...o desejo, o caminho colorido, alegre s para eles...estou trancada na casa, fechada...

    Dir: parece muito sofrido...voc aprisionada dentro da casa e imaginando uma vida l fora para os filhos...

    ...

    Dir: Se o seu projeto de vida a morte, o aprisionamento, em contraposio vida que pertence a eles, vejo que no h sada...mas se pudermos construir portas, janelas e pontes ento poder existir outras possibilidades...... Se eu fosse seus filhos eu no ia querer esta vida estragada...este o Jogo...voc morta e eles vivos, ou algum morto para outro algum poder viver... preciso voc ficar forte para poder viver a sua vida e eles fortes para poderem viver a vida deles...

    FLA: isso mesmo...eu vejo voc sempre com esta cara pesada...deprimida...Meu namorado tem uma casa na praia e ele emprestou ela pra mame no sbado e ela foi e voltou no domingo...nem telefonou pra dizer que tinha chegado bem...o FER bebeu sbado noite e eu nem bombardeei a me quando ela chegou...

    ...Recortes do Compartilhar:

    NEL: o LUI fez uma ficha de emprego e est esperando resposta...estamos na expectativa...

    Dir: Puxa, mesmo, LUI? Parabns, mesmo que sua me nos tenha contado...vamos torcer pra voc conseguir...

    Recortes da 16.sesso: Presentes: NEL, LUI e FER:

    Aquecimento inespecfico: falando do outro...as emoes que surgem ao contar do seqestro da FLA:

    LUI: a FLA foi seqestrada, mas nada aconteceu...eu fiquei disponvel pra ela falar porque imaginava que quem passa por isto precisa falar...

    NEL: o amigo da FLA foi busc-la no colgio e 2 moos entraram no carro e queriam $. Eles no tinha $ e a FLA deu o celular...

    FER: se a FLA estivesse com seu ex-namorado policial poderia ter sido pior, pois, geralmente, assaltantes, no gostam de policiais...

    Dir: FER, voc conseguiu expressar afeto para FLA assim como LUI contou que expressou o dele?

    Aquecimento especfico: a carta de LUI...

    Fala da solido, da angstia de no saber qual caminho a seguir, no agenta mais fazer as tarefas do lar; fica preocupado com a FLA, que foi seqestrada; com FER que bebe e fuma; com a me que est

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 enrolada na sua relao com WAL; pede a Deus para ajudar...diz de suas preocupaes com a famlia e de suas raivas tambm...

    Dir: Quais as ressonncias desta carta para vocs?

    NEL: o que mais me di a angstia de LUI...

    FER: todo mundo tem problemas e eu acho que LUI tem capacidade para sair desta, ele j saiu outras vezes...

    Dir: Parece que tanto voc NEL, como voc FER s olham a questo da doena de LUI, como se o que ele escreveu fosse, de fato, algo doente... ser que a angstia sobre a solido, qual caminho a se seguir, sobre as questes familiares no so absolutamente naturais numa fase da vida...as perguntas chaves: quem eu sou?de onde eu vim? Para onde irei? Vocs j se questionaram sobre isto?

    NEL: j...

    FER: quando eu tinha 12 anos...e minha me me mandou para meu pai...

    Dir: ento, a fala de vocs no precisaria colocar o LUI neste lugar de anormal, doente...e eu acho que ele est absolutamente saudvel, emprestando sua percepo e sensibilidade para a famlia...

    NEL: a questo da solido me pega muito...eu no consigo me imaginar caminhando sozinha, pra mim muito difcil... noite, no final de domingo, no consigo nem fazer uma comida sozinha...o WAL...me faz tanta falta..., mas ele no assume nada...

    LUI: pra mim igual...a solido muito grande...a questo da ponte que a gente j falou aqui...

    Dir: parece que muito difcil pensar na individuao, na prpria cor, no prprio contorno. A solido sentida como avassaladora, aniquila...fica difcil construir a ponte entre esta solido do mundo interno e as possibilidades do mundo externo...

    Na dramatizao cada um constri imagens de como experiencia pontes com o mundo externo, colocando suas prioridades: casa, amigos, trabalho...LUI constri uma imagem aglutinada em relao famlia e ao trabalho;cinde os sentimentos bons e maus,sinalizando somente as coisas boas da famlia.

    Recortes da 19a. sesso:todos presentes.:

    Aquecimento inespecfico: a briga entre LUI e NEL

    LUI: Eu, na 6a.feira, estava ajudando a fazer o currculum do meu amigo e a me me pedia para ajudar arrumar a casa...para eu no bater na me, fiquei to nervoso, que bati em mim prprio... e foi na 6a.feira a formatura da me no SENAC...

    Dir: Cada um poderia contar sua verso desta situao?

    LUI: a questo foi da agresso...eu no queria que tivesse acontecido...

    NEL: ...a questo do egosmo de LUI, s pensa nele...

    FER: ...ele poderia fazer o que queria ajudar o amigo mas no dia seguinte, no sbado, ele poderia ter ajudado a famlia na 6a.feira...

    Aquecimento especfico: a explicitao dos sentimentos: o dio de LUI..a raiva de NEL, a continncia de FER e o distanciamento de FLA...

    Dir: o que eu percebo entre as diversas verses so os sentimentos que as atravessam...O dio de LUI por no poder sair do papel aprisionante de ora cuidador da casa, ora beb agressivo..a inveja

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 do amigo que estava mandando um currculum para um possvel trabalho...e da sua me que se formara...., a raiva da NEL de no ter o reconhecimento que queria do LUI no dia da sua formatura, via sua ajuda nos afazeres de casa..a continncia do FER para esta cena de agresso e o distanciamento da FLA das cenas da famlia, parecendo que est podendo cuidar mais de si prprio, deixando para NEL o papel de me... O que acham...?

    Todos parecem concordar...expresses de certo alvio...fica um silncio...

    Correlato a dramatizao: lembranas de cenas que viveram e depoimentos para LUI, o irmo e dos filhos para NEL, a me...

    Dir: Parece que isto fez algum sentido para vocs...gostaria, ento, que os irmos pudessem dar depoimentos para LUI sobre situaes que j viveram e sentiram este dio, esta inveja...

    FLA: quando eu tinha 12 anos, eu cuidava da casa...do pai que era alcolatra, de vocs todos porque a me ia trabalhar...e era muito duro...tinha muita raiva daquilo tudo...

    FER: pra mim difcil conseguir me cuidar e, ao mesmo tempo, da famlia...quando aquele sbado eu queria sair pra balada e a FLA ia sair com o namorado e a me pediu pra mim ficar com o LUI porque ele no queria sair, eu havia convidado..., fiquei com muita raiva, dio de todos, principalmente do LUI...mas depois eu pensei que no tinha dinheiro mesmo, eu na balada ia querer beber um pouco...ento foi melhor...eu preciso trabalhar mais e guardar mais dinheiro para poder cuidar melhor de mim...

    Dir: NEL, olhe para estes seus filhos...o que voc v?

    NEL chorando.....estou orgulhosa mas tambm angustiada...dei duro minha vida inteira, consegui fazer este curso no SENAC de podloga, me formei mas no pude receber o diploma, o canudo como todos...porque a escola que eu fiz o curso do 2o. grau era ruim e no me deu o certificado de concluso...na minha vida tudo difcil...

    Dir: penso que seus filhos poderiam dizer para voc o que sentiram vendo voc se formando...

    FLA: queria ser determinada como a me...j vi muitas cenas duras que a me passou a vida toda e ela chegou l...admiro a me...

    Dir: FLA, ela um bom modelo de determinao no trabalho, mas no no vnculo amoroso... voc est fazendo o seu modelo nisto, certo?

    FLA: isso...

    FER: fico orgulhoso da me, quero ter a mesma determinao que ela...

    LUI: tambm fico orgulhoso de voc, me...

    Compartilhar: fechamento do semestre...

    Dir: Peo que todos pensem no que ganharam no processo teraputico at aqui e o que querem para o semestre que vem...

    NEL: ganhei a possibilidade de tirar meus filhos debaixo das asas...preciso olhar mais de perto minha relao afetiva com o WAL e dar um rumo para minha vida...

    LUI: antes eu era mais calado, mais isolado...hoje falo mais, estou mais atento, vejo que fico eufrico ou mais deprimido...quero lidar com isto melhor...

    FLA: aprendi a olhar mais para mim e me cuidar, no s para minha famlia... no quero mais ser me dos meus irmos ...quero continuar a fazer isto e aprender olhar mais para o meu o meu

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 profissional... eu t namorando...quero aprender a amar sem sufocar ou ser sufocada, como minha me sempre fez...

    FLA: FER: eu estou bem no trabalho, quero aprender a ser menos egosta, s olhar para mim...quero continuar olhando para mim e para minha famlia...

    Equipe Reflexiva:

    Famlia guerreira, lutadora...o LUI pode aprender a pertencer mais a esta famlia de guerreiros, podendo encontrar um lugar diferente do de menino birrento ou de cuidador...

    uma famlia muito corajosa...esto aprendendo a sair da posio de risco...NEL querendo re-ver seu vinculo com WAL...FLA querendo dar seu tom e contorno para sua relao afetiva e ser determinada como a me no profissional...LUI querendo sair do lugar de sangue suga ou cuidador e encontrar sua identidade...FER querendo sair da vida de risco que envolve o lcool e sendo mais responsvel consigo e com a famlia...

    3o. semestre (agosto- dezembro/2003): da 20o sesso a 30o sesso: Uma nova re-organizao sendo esboada: LUI arruma um emprego; NEL volta com seu namorado WAL e os dois tentam formar uma nova configurao familiar; estratgias de trabalho com os sub-sistemas: NEL-WAL; LUI-FAV-FER; Todos .

    Recortes da 20 sesso:todos presentes, LUI consegue emprego:

    Dir: ...quando liguei para o seu celular,NEL, para confirmar o retorno...o WAL que atendeu...o que isto significa?

    NEL: aquele celular o WAL deu para mim, mas depois eu devolvi para ele para podermos falar porque o dele, no meu nome, estava com a conta pendurada porque ele no pagou...e eu dei a metade para ele pagar...

    Dir: ...ento vocs voltaram...mas como difcil por limites...se cuidar nos vrios papis...de me, de mulher...

    Os filhos concordam...

    FLA: eu, s vezes, fico com este papel de me do LUI...ele bagunceiro...ando brigando muito com ele...

    LUI: a FLA muito autoritria quando fala, ela manda a toda hora em casa... mais meiga com o FER...

    Dir: parece que voc , FLA, precisa sair deste lugar para NEL poder ocupar...como no incio da sesso...voc estava mais isolada e NEL no meio de LUI e FER...at que mudamos e voc pde ocupar o lugar de irm entre os irmos e NEL de me de todos...

    Todos concordam...

    LUI: sabe...consegui o emprego...vou trabalhar na fbrica de...como operador de mquina...vou revezar os turnos que so 3...

    Dir: Parece que quando os lugares ocupados por vocs dentro da famlia podem ser re-colocados a servio de suas funes originais as novas re-organizaes podem acontecer...a NEL pode experimentar uma relao mais amorosa e comprometida com WAL...voc, LUI pode sair do aprisionamento da casa e arrumar emprego...Voc, FLA pode continuar a namorar, trabalhar e ajudar em casa, sem ser me dos irmos...e voc FER, como est?

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 FER: estou bem..., mas sem namorada...no quero compromisso...

    ....

    Recortes da 22a. sesso: NEL e WAL - novo compromisso:

    Dir: qual as expectativas que vocs, enquanto casal, tem do relacionamento hoje?

    WAL: queremos ter um filho juntos...

    NEL: ...quer dizer que queremos nos assumir de um jeito inteiro e diferente...

    Dir: que jeito esse...?

    WAL: ns j temos 6 filhos, 3 de cada lado...

    NEL: Eu estou conseguindo sair do lugar de filha l em casa e ser me e acho que WAL precisa fazer isto com seu filho mais velho...

    WAL: ... quando eu bebia...meu filho mais velho fazia sanduche e se virava...porque eu no trazia comida para casa...ele quis conversar comigo antes de eu voltar com a NEL, achava que eu estava muito mal...

    Dir: e voc estava..?

    WAL: ... a NEL o meu eixo...

    Dir: parece a uma grande complicao...quando NEL consegue sair da sua priso de morte...e volta a vida ela re-encontra voc que precisa dela para ter a vida...sempre um jogo de misturas mortais...onde um vital seno o outro morre... um representa a vida, enquanto o outro fica com a morte....ser possvel cada um ter seu prprio eixo, se co-responsabilizar com seus prprios projetos, de me, pai e agora de me e pai dos 6 filhos...o que voc pensam sobre isto?

    NEL: ... verdade, no tinha pensado nisso...

    WAL: como assim...?

    Dir: ...como voc escuta isso?

    WAL: ...quando a gente voltou, de verdade, eu disse para ela o quanto ela importante para mim...

    Dir: ...que bom, WAL...mas ser que ser importante igual ao fato dela ser o seu eixo...?

    WAL: ... isso diferente...

    Dir: penso que poderamos combinar de fazermos uns arranjos nas nossas sesses...vocs dois, depois os filhos de NEL, depois todos juntos e ...quem sabe seus filhos, WAL, tambm possam comparecer...

    Eles concordam (mas os filhos de WAL nunca compareceram...)

    Recortes da 29a. sesso: NEL, WAL, FLA, LUI, FER: o meta padro da aglutinao frente ao problema..., da simbiose, o jogo de aprisionamento x vida novamente tematizado...

    Dir: ...finalmente todos juntos...tudo bem com vocs...?

    LUI: eu estou com um furnculo no bumbum e tive que operar...estou com medo de eles me mandarem embora do emprego, pois ainda estou nos 3 meses de experincia...

    Dir: puxa...deve ter sido dodo o furnculo e tambm dodo pensar na possibilidade de perder o emprego.. to sofrido para se conseguir....

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 Dir: como voc est se cuidando...?

    LUI: ...a me faz o curativo...

    Dir: mame faz curativo em beb e em menino...mas num homem...? ser que FER e WAL no poderiam te ajudar?

    WAL: ...eu posso,, s vezes at ajudo mas, NEL faz questo...

    FER: ...eu no posso sempre, pois quando eu volto da escola j bem tarde e o LUI j fez o curativo..., mas eu quero ajud-lo, quando der...

    Dir: o qu voc acha disso, FLA e NEL, da NEL fazer questo de ajudar LUI com seu furnculo no bumbum...?

    NEL: ......se eu no ajudo ningum faz...

    FLA: eu t de saco cheio... (havia terminado o namoro, tinha sado do emprego para estudar mais e tentar uma vaga no SENAC, curso de podlogo, que a me ia ajudar a pagar...)

    Dir: ...ento, voc est mais em casa, est fazendo todas as tarefas, agora, que o LUI, o FER e NEL esto trabalhando...

    FLA: tudo sobra para mim....mas o curativo, pelo menos a me que faz...

    Dir: ...ento parece que algum tem de continuar aprisionado...como no desenho da casa.... para algum viver outro tem de morrer...e agora voc que est escravizada ou, pela sua fala, sua me precisa se escravizar cuidando do bumbum do LUI....

    Ego-Auxiliar: Para se merecer alguma coisa boa na vida preciso se sacrificar...

    Dir: O que cada um poderia dizer para FLA, hoje?

    FER: ...confiar em si e buscar trabalho...

    NEL: caixinha de pacincia...e ter certeza que est fazendo muita coisa...(passa duas mensagens: uma de cobrana e uma de continncia)

    WAL: pacincia e autonomia...

    LUI: compreenso dos acontecimentos e importncia de arrumar trabalho...

    Dir: ...acho que precisamos olhar para o que a FLA est sentindo e ajud-la a no reproduzir o mesmo padro de relao...o mesmo do LUI, o mesmo do FER, em relao ao risco do lcool, e voc NEL, sobretudo, deixar o WAL e o FER cuidarem do bumbum do LUI, quando puderem...

    Dir: Palavras de cada um antes de irem embora...

    NEL: amor...

    WAL: que bom quando h dilogo e esclarecimento...

    FER: me sinto vlido, importante...

    LUI: segurana...

    FLA: impaciente... , preciso sair deste lugar de querer controlar tudo...preciso saber esperar...

    V-DISCUSSO DOS RECORTES DAS SESSES APRESENTADOS:

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008

    Categorizamos o processo de terapia familiar em trs grandes blocos, de acordo com a temporalidade, o funcionamento dos sub-sistemas familiares, os padres de relao e as conquistas co-constudas.

    Em relao estrutura da famlia e seu modo de funcionamento, apreendemos o fato fundante dos aspectos psicticos da personalidade que girava no sistema familiar, habitando ora o paciente identificado LUI, ora sua me NEL e, por vezes, sua irm FLA e, com menos agudeza, mas nem por isso menos preocupante, seu irmo FER. Aqui estamos falando do Jogo psictico que pde ser identificado e trabalhado na famlia, aquele que desenhava um padro relacional de aprisionamento x vida, ou seja para algum viver plenamente o outro precisava morrer, se sacrificar. Este meta padro, o padro que conecta e que d a organizao singular do sistema, ao se tornar mais nomeado e visvel pde nos ajudar a dar inteligibilidade prpria estrutura do sistema os componentes com suas relaes.

    Como Palazzoli et alii (1998) j nos havia alertado, Trata-se de ver as relaes (o jogo familiar) como reguladoras das estruturas intrapsquicas individuais, no sentido de que elas selecionam o aparecimento de determinadas qualidades (por ex. psicticas), em detrimento de outras qualidades que permanecem em estado potencial (submerso). Nossa esquematizao deseja partir do jogo para chegar ao indivduo e, em seguida, retornar ao jogo...o essencial do jogo (alm das intenes dos jogadores) est nas inter-retroaes... (p. 308); Percebemos que o processo categorizado, longe de acreditarmos que ele tenha se esgotado, nos mostrou, sim, que pudemos iniciar a co-construo de um elenco de inter- retroaes do jogo relacional nomeado, simbolizado, que pde dar conta de algumas transformaes visveis: o namoro de FLA, o emprego de LUI, a responsabilidade sobre a bebida de FER, o compromisso afetivo de NEL e WAL. Sabemos que o jogo psictico mrbido, apontando para a possibilidade de no atualizarmos nosso potencial humano, aquele que nos permite sermos sujeito dentro de um universo de outros mltiplos, com nossa cor, singularidade, criatividade e limites. A Famlia aqui apresentada mostrou sua dificuldade de existir enquanto um sistema funcionante, onde o jogo relacional regulava as estruturas intrapsquicas individuais, selecionando o aparecimento de algumas qualidades, por exemplo, psicticas de LUI. LUI tomava medicao psiquitrica e, mesmo assim, no conseguia deslanchar no seu desenvolvimento. Precisou de um setting que garantisse um acolhimento (revrie materna de Bion e tele de Moreno, viso sistmica da ciberntica de 1a. e 2a. ordem ) tal que desse conta do incio do processo de simbolizao do dio e invejas, o que sempre foi impensvel; assim como NEL tambm precisou deste espao, para poder simbolizar suas questes impensveis durante sua vida, uma delas sua destrutividade frente ao feminino que precisava despontar de sua filha. Assim, como FER, tambm precisou compreender o sentido aditivo do lcool na sua vida e FLA o sentido de desempenhar o papel de me dos irmos. Estas questes intrapsquicas pedem para ser acolhidas pelos jogos relacionais saudveis e, quando estes no do conta do recado, o que surge so as disfunes quer individuais, quer grupais. A possibilidade de termos re-construdo um lcus que permitisse a vivncia, o acolhimento e a nomeao de tais jogos relacionais, pde facilitar a re-construo de significados frente a alguns significantes, liberando a espontaneidade criadora e a tele-relao. Aqui no estamos escamoteando a importncia da singularidade gentica, s que estamos referendando a importncia dos jogos relacionais inter na atualizao das qualidades singulares, mais precisamente na co-construo da identidade dos indivduos. Se refletirmos sobre nossa postura na conduo do trabalho, da perspectiva epistemolgica, diramos que tivemos uma postura enraizada, por vezes, na ciberntica de 1a. ordem, mais diretiva, por vezes, na ciberntica de 2a. ordem, mais construtivista. Isto est de acordo com o pensamento em Zigue Zague proposto por Palazzoli et alii (1998), onde o importante , ao abandonar o pensamento

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 disjuntivo, poder transitar entre a lgica aristotlica - causalidade linear e a causalidade complexa, levando em conta a importncia do Princpio da Distino entre sujeito e ambiente. Morin (1999) tambm j nos alertara sobre essa perspectiva quando nos fala: ...no abrir mo da velha lgica, ao contrrio, integr-la em um jogo complexo (p.30). Esta possibilidade de conduo ora mais diretiva, ora mais soltae, portanto, mais complexa, facilitando a co-criao em vrios sentidos e nveis tambm condiz com nossa crena no desenvolvimento espiralado (Wechsler, 1998).

    Nossa metodologia foi embasada no referencial metodolgico Moreniano, o que nos facilitou na organizao desse setting, que permitiu a re-significao de contedos e construo de novas formas. Assim, poder ser guiado pelas etapas de uma sesso socionmica, aquecimento, dramatizao e compartilhar, onde o foco est na criao de cenas, aliado metodologia fundante de uma sesso sistmica de 2a. ordem, onde o foco est na linguagem, a prpria expresso do problema, nos permitiu transitar entre os dois universos constituintes do ser humano: o universo analgico e lgico.O problema a prpria histria contada e, neste sentido, as relaes constitutivas so construdas atravs da linguagem, que pode ser lgica e analgica., expresso do pensamento, portanto dos smbolos, dos signos, das crenas, das prioridades.

    As tcnicas utilizadas, de duplo, espelho, tomada de papel e inverso de papel, emprestadas do referencial metodolgico moreniano, assim como as questes lineares, circulares, estratgicas e reflexivas, de Karl Tomm, e a tcnica de externalizao do problema de Michel White, nos auxiliaram na trajetria rumo ao reconhecimento dos contedos co-inconscientes que atravessavam o sistema familiar: algumas vezes, o prprio jogo relacional, aqui denominado de jogo psictico, pois traduzia um modo de funcionamento primitivo; outras vezes o reconhecimento de contedos e formas no adaptativas para o sistema, mesmo que j expressassem um modo de funcionamento mais integrado. Das Questes Lineares, Estratgicas, Circulares e Reflexivas poderemos pontuar os exemplos a seguir, para tematiz-los:

    Questes Lineares: Dir: Quais os caminhos que podem transformar a maldio da casa da famlia? FLA: mais alegria, mais festas em casa... LUI: emprego... NEL: transformao nos meus papis de me, mulher e profissional... uma questo linear pois as respostas seguem uma lgica dedutiva, de causa e efeito.

    Questes Estratgicas: Dir: mame faz curativo em beb e em menino...mas num homem...? ser que FER e WAL no poderiam te ajudar? WAL: ...eu posso,, s vezes at ajudo mas, NEL faz questo... FER: ...eu no posso sempre, pois quando eu volto da escola j bem tarde e o LUI j fez o curativo..., mas eu quero ajud-lo, quando der... Acreditamos que os efeitos prticos conservador na famlia e ajuizatrio no terapeuta provenientes das questes lineares, cuja inteno investigatria fundamentada em suposies lineares sobre a natureza dos fenmenos mentais, assim como os efeitos constrangedor na famlia e oposicionista no terapeuta das questes estratgicas, cuja inteno corretiva , tambm, baseada em suposies lineares sobre a natureza do processo teraputico, nesta estrutura de famlia, no foram assim vivenciados. Dessa forma, percebemos que a pergunta linear aqui recortada teve um efeito liberador e a estratgica, um efeito regenerador, pois a estrutura do sistema, com sua organizao singular, pedia uma interveno mais diretiva. Para se trabalhar com famlias com esta organizao modos de funcionamento simbitico enraizado pensamos que faz sentido emprestar-lhes um modelo de diferenciao, a fim de que possam, com o tempo, co-construir seus prprios modelos diferenciados.

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008

    Questes Circulares: Dir: ...ento, voc est mais em casa, est fazendo todas as tarefas, agora, que o LUI, o FER e NEL esto trabalhando... FLA: tudo sobra para mim....mas o curativo, pelo menos a me que faz... Dir: E o que acham sobre a tendncia de que algum tem de continuar aprisionado...como no desenho da casa.... para algum viver outro tem de morrer...e agora voc que est escravizada ou, pela sua fala, sua me precisa se escravizar cuidando do bumbum do LUI...? Ego-Auxiliar: Para se merecer alguma coisa boa na vida preciso se sacrificar... As questes circulares evocam a possibilidade de se pensar no sistema como um todo, seu modo de funcionamento, que mais que a soma das partes. FLA agora faz o papel do aprisionado na famlia, daquele que precisa morrer enquanto os outros podem viver o meta padro se atualizando.

    Questes Reflexivas: Dir: O que cada um poderia dizer para FLA, hoje? FER: ...confiar em si e buscar trabalho... NEL: caixinha de pacincia...e ter certeza que est fazendo muita coisa...(passa duas mensagens: uma de cobrana e uma de continncia) WAL: pacincia e autonomia... LUI: compreenso dos acontecimentos e importncia de arrumar trabalho... Dir: ...acho que precisamos olhar para o que a FLA est sentindo e ajud-la a no reproduzir o mesmo padro de relao...o mesmo do LUI, o mesmo do FER, em relao ao risco do lcool, e voc NEL, sobretudo, deixar o WAL e o FER cuidarem do bumbum do LUI, quando puderem... Dir: Palavras de cada um antes de irem embora... NEL: amor... WAL: que bom quando h dilogo e esclarecimento... FER: me sinto vlido, importante... LUI: segurana... FLA: impaciente... , preciso sair deste lugar de querer controlar tudo...preciso saber esperar... Este recorte mostra a continuao do dilogo anterior, o da pergunta circular, acrescido da pergunta reflexiva, quando o terapeuta ao reforar sua reflexo sobre o funcionamento do sistema, pede palavras que expressem as reflexes de cada um, quer sobre FLA, quer sobre a sesso. A de FLA : impaciente... , preciso sair deste lugar de querer controlar tudo...preciso saber esperar... nos pareceu muito sintnica com o reconhecimento da organizaco singular do sistema, acrescentando outros aspectos mais finos sobre a prpria organizao a necessidade de se querer controlar tudo (onipotncia), de no se saber esperar (no agentar os dados de realidade). Acreditamos que as intenes exploratria e facilitadora da conduo teraputica, caracterstica das perguntas circulares e reflexivas, puderam ajudar o sistema a se re-organizar, apontando para o fato da importncia de se aliar os diversos tipos de questes, quer aquelas que se apiam em suposies lineares, quer aquelas que se fundamentam nos processos circulares e recursivos. Em relaco tcnica da Externalizaco do Problema, de Michel White, efetivamente a usamos na sesso do Jogo dos Limites (5. Sesso), uma vez que este era o problema a ser externalizado. No entanto, optamos por no recortar aquela sesso, somente assinalar que havia acontecido. A idia de Equipe Reflexiva de Tom Andersen, como j comentamos na parte da metodologia, foi mais um instrumento integrado ao trip que orientou nossa prtica, quer seja, os contextos, instrumentos e etapas. Pensamos que esta integrao foi possvel, visto que a idia da equipe reflexiva muito similar idia do coro do teatro grego, onde o coro expressava, veiculava as ressonncias das cenas teatralizadas, pontuando os valores, as idias co-conscientes e co-inconscientes. Como a dupla

  • DPSedes Departamento de Psicodrama Instituto Sedes Sapientiae - Maro 2008 de terapeutas que atendeu esta famlia foi acompanhada pela equipe de outros terapeutas, atrs do espelho, esta formou a equipe reflexiva que, algumas vezes, contribuiu para o desenvolvimento do trabalho no contexto grupal. O mtodo sociodramtico familiar sistmico, tal qual Seixas (1992) articulou pde ser vivenciado, sobretudo na 16a. sesso, com a dramatizao: Imagens da ponte entre mundo interno e externo; entre famlia e mundo, onde teve visibilidade, inteligibilidade a estrutura do sistema, via a configurao relacional esboada por LUI, com sobreposio das reas de trabalho e famlia e com falta de integrao entre os contedos ditos bonse maus referen