DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009...Síndrome de Asperger esteja na faixa de 20 a 25 a cada 10.000,...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
Transtornos Globais do Desenvolvimento: Síndrome de Asperger
Autora: Pavezzi, Leila Regina¹
Orientadora: Meletti, Silvia Márcia Ferreira²
Resumo:
Este artigo apresenta informações sobre a Síndrome de Asperger e as
características apresentadas pela mesma. A necessidade de um diagnóstico claro
e preciso que permita a intervenção adequada que leve à pessoa com esta
Síndrome a um melhor desenvolvimento. Bem como a inclusão responsável que
garanta a socialização, a interação e o aprendizado para uma vida mais
estruturada, abordando a importância das ações da escola e equipe que atuarão
na formação do aluno com Síndrome de Asperger na escola pública.
Palavras chave: Educação Especial; Síndrome de Asperger; Inclusão.
Abstract:
This article presents information on Asperger’s Syndrome and the
characteristics presented by it. The need for a clear and accurate diagnosis that
allows appropriate intervention leading up the person with this syndrome to a
better development. As well as the responsible inclusion to ensure socialization,
interaction and learning for a more structured life, treating the importance of the
actions of the school and team that will act in the formation of student with
Asperger’s Syndrome in the public school.
Keywords: Special Education, Asperger’s Syndrome; Inclusion
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Transtornos Globais do Desenvolvimento: Síndrome de Asperger
Autora: Pavezzi, Leila Regina¹
Orientadora: Meletti, Silvia Márcia Ferreira²
O presente artigo tem como objetivo informar sobre a Síndrome de
Asperger descrita em 1944 pelo médico psiquiatra e pediatra austríaco Hans
Asperger, que teve seu trabalho reconhecido somente em 1981, quando em um
jornal médico, Lorna Wing publica uma homenagem a ele, o que permitiu que em
1990 tivesse reconhecimento internacional e em 1994 a Síndrome entrasse
oficialmente para o Manual Diagnóstico e Estatístico de Desordens Mentais
(DSM-IV), na quarta edição em 1994.
Como resultado da demora do reconhecimento da Síndrome, muitas
crianças sofreram e sofrem com diagnósticos errôneos. A falta de informação
sobre as características e as intervenções adequadas, causa muito estresse entre
familiares e educadores que desconhecem o que acontece com o aluno, sendo
muitas vezes visto como o não sociável, o chato, aquele que se recusa a
aprender.
O processo de inclusão vem acontecendo, em alguns momentos de forma
correta, mas ainda distante do ideal e no caso das crianças com aspectro autista
muito há que caminhar, principalmente no aprofundamento de estudos que
permitam maior conhecimento para que os mesmo tenham vida mais sadia e
sejam reconhecidos como meninos e meninas que podem viver socialmente.
Uma escola inclusiva se prepara para receber qualquer aluno e busca
alternativas pedagógicas e didáticas que surtam resultados positivos e adequados
para todos os alunos. Portanto, diante da angústia que pais e educadores passam
quando recebem um diagnóstico de Transtorno Global do Desenvolvimento, neste
____________________________________________________
¹ Professora de Língua Portuguesa da rede estadual do estado do Paraná com formação em
Letras Anglo-Portuguesas e Pedagogia, curso de especialização em Língua Portuguesa, aluna do
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, Universidade Estadual de Londrina – UEL
² Doutora em Psicologia pelo Instituto de Psicologia da USP (2006).
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caso a Síndrome de Asperger, procura-se com este artigo informar sobre a
constituição desta
Síndrome, suas peculiaridades, déficits, potencialidades e principalmente
possibilidades que este aluno tem de frequentar o ensino regular público e
aprender. Na escola pública, através do contato com os demais alunos, quando
encaminhado com responsabilidade, estes alunos têm muito a ganhar e se
desenvolver, pois é na escola que as maiores possibilidades de contato social
acontecem e junto com elas, vem à socialização, interação, pontos de maiores
défices destes alunos.
Aspectos Históricos:
O processo histórico feito para se chegar a Síndrome de Asperger é
longo. Tem início com o jovem médico francês Itard, discípulo do médico Pinel no
ano de 1800.
Diferente do mestre Pinel, Itard tem visão voltada para o processo de
reabilitação e reintegração através de uma educação participativa e humana. Este
processo é aplicado em Vitor, o caracterizado Selvagem de Aveyron que permite
pela primeira vez um trabalho sistematizado, organizado e descritivo para o que
intitulavam “comportamento bizarro”, ou seja, para alguém com Transtorno Global
do Desenvolvimento.
Os estudos continuam com Emil Kraepelim (1856 – 1926), psiquiatra
alemão, criador da moderna psiquiatria, psicofarmacologia e genética psiquiátrica
que classifica este transtorno em Psicose maníaco-depressiva e Dementia praecox
(Demência precoce), hoje esquizofrenia. Em 1911Eugen Bleuler (1857-1939)
observa que nem todos os casos se encaixam na demência, então propôs o
termo esquizofrenia; (esquizofrenia é uma palavra composta pelo verbo grego
schizo, que significa separar, clivar) e pelo substantivo grego phrén, (espírito,
inteligência). Este isolou sintomas que determinou como “fundamentais” para o
diagnóstico que são: distúrbios das associações do pensamento autismo,
ambivalência, embotamento afetivo, distúrbios da atenção e da vontade, além dos
considerados “acessórios” (sintomas como delírios, alucinações, distúrbios do
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humor ou catatonia). Seus estudos revelaram que na esquizofrenia era possível
encontrar intactas a memória e a consciência, porém as alterações das funções
de associação e afeto acabariam alterando a relação do esquizofrênico com o
mundo, que por dificuldades na sintonização afetiva se tornaria apático e distante.
Esse desapego à realidade foi denominado por Bleuler de autismo.
Em 1943, Leo Kanner, médico austríaco, descreve suas primeiras
experiências em seu artigo “Distúrbio Autístico do Contato Afetivo” (1943), na
revista “Nervous Child”, vol. 2, p. 217-250. Observou 11 casos que diagnosticou
como esquizofrênicos, embora a característica predominante fosse de autismo, o
que o levou a denominá-los de Distúrbio Autístico do Contato Afetivo (1943).
Observou a inabilidade no relacionamento interpessoal que era distinto da
esquizofrenia, um fechamento autístico que levava a criança a não atender,
ignorar ou recusar tudo o que vinha de fora, também observou o atraso na
aquisição da fala (embora não em todas) e da não comunicação, isto é, a
linguagem não era utilizada enquanto instrumento para receber e transmitir
mensagens aos outros, dotadas de sentido. A ecolalia era imediata ou posterior e
o uso do pronome era feito de forma reversa. A entonação também nem sempre
combinava com o contexto linguístico (ex.: uma resposta dada com entonação
interrogativa). A memória era tida como excelente, principalmente na capacidade
de recordar acontecimentos ocorridos. Necessidade de rotina, inabilidade no
relacionamento interpessoal, medos, movimentos esteriotipados, pouca
criatividade e espontaneidade. Para ele, o autismo originava-se de uma
incapacidade inata de estabelecer o contato afetivo habitual e biologicamente
previsto com as pessoas.
De acordo com Orrú 2009, o autismo é uma palavra de origem grega
(autos), que significa “por si mesmo”. É um termo usado, dentro da Psiquiatria,
para denominar comportamentos humanos que se centralizam em si mesmos,
voltados para o próprio indivíduo.
Também descrito no CID-10 (Código de Identificação de Doenças - 1993),
com a classificação F84-0, é definido pela presença de desenvolvimento atípico,
comprometimento severo e invasivo que se manifesta antes dos três anos de
idade, deficitando o funcionamento global em três áreas: habilidades de interação
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social recíproca, habilidades de comunicação e presença de comportamento,
interesses e atividades restrito e repetitivo, ocorrendo três a quatro vezes mais
frequentemente em meninos do que em meninas. Nessa classificação estão
inclusas cinco categorias diagnósticas sendo o autismo o transtorno prototípico
desta categoria:F84.0 -Autismo Infantil;F84.2 -Síndrome de Rett;F84.3 -
Transtorno Desintegrativo da Infância;F84.5 -Síndrome de Asperger;F89 -
Transtorno Invasivo do Desenvolvimento sem outra especificação.
De forma quase simultânea as observações de Kanner, o jovem médico
psiquiatra e pediatra austríaco Hans Asperger, publicou o artigo “Die’Autistischen
Psychopathen’ im Kindesalter” (A Psicopatia Autista na Infância - 1943).
Descreveu um grupo de crianças com características semelhantes às de Kanner,
embora um não conhecesse a obra do outro, Asperger observou picos de
inteligência e linguagem desenvolvida, o que diferenciava da análise de Kanner.
No autismo clássico existe um atraso de desenvolvimento acentuado, na
SA encontramos semelhantes dificuldades de interação e socialização, embora
tenham uma excepcional capacidade em determinadas áreas de interesse e
memorização. Esta questão de destaque em certas áreas não é comum a todos
os asperger, assim como cada um tem níveis diferentes de desenvolvimento.
Por ter seu artigo escrito em alemão e ser um período de Guerra,
somente em 1991 foi publicado em inglês, ficando um longo tempo sem
reconhecimento. Em 1981, num jornal médico, Lorna Wing utilizou pela primeira
vez o termo “Síndrome de Asperger, pretendendo assim homenagear “Hans
Asperger” e somente em 1994 foi oficialmente reconhecido no DSM-IV, o que
dificultou o diagnóstico de muitas crianças.
Caracterização da Síndrome de Asperguer:
A Síndrome de Asperger está descrita no CID 10 (1994) pelo código
F84.5, integrando-se aos Transtornos Globais do Desenvolvimento. Diferencia-se
do autismo porque não há retardo mental ou deficiência de linguagem, com
desenvolvimento cognitivo preservado.Muitos foram os termos utilizados para
definir esta Síndrome, o que gerou confusão entre pais e educadores. É o termo
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aplicado aomais suave e de alta funcionalidade daquilo que é conhecido como o
aspectro dedesordens pervasivas (presentes e perceptíveis a todo o tempo) de
desenvolvimento(aspectro do Autismo), (Teixeira – 2009).
Encontrada em maior proporção que o chamado autismo clássico, que
segundo estudos, está numa faixa de 4 por 10.000 crianças, estima-se que
Síndrome de Asperger esteja na faixa de 20 a 25 a cada 10.000, prevalecendo
mais em meninos (Teixeira – 2009).
Baseando-se nas descrições originais de Hans Asperger, Gillberg &
Gillberg (1989 e 1991), descreve as características desta Síndrome:
comprometimento social - egocentrismo extremo; peculiaridades de discurso e
linguagem; problemas na comunicação não verbal; desajeitamento motor (Falta
de coordenação motora – pessoa desengonçada).
Na questão da área social a criança apresenta ausência de amigos,
pouca preocupação em tê-los durante a infância, com o tempo passa a querer
fazer amizades, pois sente necessidade de ter contato social e amigos. Sofre
porque não consegue interagir, se acha chata e que os outros o veem como
estranho, não sociável. Com intervenção adequada e no tempo certo muitas
conseguem superar ou enfrentar esta inadequação social e emocional, permitindo
a empatia. Descritas por pais e professores como alguém que vive em seu próprio
mundo, raramente elas são distantes como as crianças com autismo clássico.
Ouvem, percebem as ações, mas pela dificuldade social, sentem-se
desapontadas porque não conseguem efetividade nas interações, interpretando
de forma errada as situações sociais, respondendo-as muitas vezes de forma
estranha, inadequada.
Na área de interesses, utiliza a exclusividade por uma ou poucas coisas,
podendo mudar com o tempo, mas quando apresenta interesse, este se torna
intenso, pois quer saber tudo sobre o assunto desejado, alguns mudam
rapidamente de foco e querem algo diferente. Neste processo faz maior uso da
memorização mecânica do que compreensão no aprendizado. A família e a
escola devem tirar proveito deste interesse, buscando interagir com a criança,
deixando que ela fale, mostre, mas sem excessos.
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As rotinas são necessárias para que a criança com Síndrome de Asperger
mantenha o equilíbrio emocional, tenha confiança e controle de suas ações, pois
não consegue lidar naturalmente com surpresas, por isso precisa ser preparada
com antecedência para que compreenda o que vai acontecer. Deve-se observar
que estas não devem ser rigorosas. Regras também devem ser observadas com
cautela, primeiro porque não entendem as regras se não houver explicação clara,
segundo porque após entendê-las são rigorosos, seguem-nas literalmente.
A fala e linguagem da criança com Síndrome de Asperger sofrem
peculiaridades como o desenvolvimento tardio, o tom é pedante, monótono ou
anormal, muitas vezes o receptor tem dificuldades em compreender o que a
criança quer expressar, ao mesmo tempo em que a criança tem dificuldades em
compreender a fala do outro quando esta não é expressa com clareza. Algumas
aprendem a ler antes de falar. Não costumam fazer uso de expressões
idiomáticas ou gírias e quando o fazem, empregam de forma errada, pois
interpretam de forma literal. Quanto mais concreto for o emprego da linguagem, a
compreensão será maior. As dificuldades aumentam com a necessidade de
abstração. A efetividade na comunicação é dificultada porque os discursos são
unidirecionais focalizando sempre a área de interesse, resultando às vezes eu um
monólogo. O humor também é uma dificuldade, principalmente nos trocadilhos ou
jogos de palavras. Há a possibilidade de serem hiperverbais. Usam pronomes de
forma inadequada, havendo troca entre o eu e o tu. Algumas atingem os padrões
da linguagem normalmente, outras prematuramente, enquanto outras mostram
claros atrasos na fala com rápida recuperação quando começa a fase escolar.
A comunicação não verbal foi descrita por Hans Asperger que observou
olhar anormal na maneira de fixar os olhos no rosto do interlocutor, buscando a
porção inferior da face. Não conseguem expressar o que estão sentindo
nãodemonstrando se gostam ou não. Alguns sorriem o tempo todo parecendo que
estãofelizes, mas na verdade é uma estereotipia, outros parecem deprimidos, isto
dificulta o diagnóstico porquemostram o que não estão sentindo. Por não usarem
as expressões faciais, seus rostos são conservados aparentando menos idade.
Podem também ter um olhar arregaladoporque assim foi treinado para olhar no
interlocutor.
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Costumam responder com interesse aos estímulos visuais como
esquemas, mapas, listas, figuras, etc. É um recurso interessante, pois geralmente
toda a turma tende a gostar e prestar mais atenção. Outro ponto é buscar ensinar
no concreto, evitando a linguagem que dificulta o entendimento. Sarcasmo,
linguagem figurada, confusa, figuras de linguagem para eles é linguagem
abstrata e extremamente difícil de ser entendida, isto porque costumam entender
os fatos literalmente.
A dificuldade motora está presente praticamente em todas as crianças
com Síndrome de Asperger. Podem ser excelentes em algum aspecto motor, mas
globalmente falham em alguma função. Muitas são desajeitadas no andar. As
dificuldades na coordenação motora grossa e fina são claramente percebidas no
inicio do processo escolar, principalmente na organização da escrita. Por isso é
necessário o trabalho da Educação Infantil, que além de trabalhar a socialização,
trabalha com atividades diversificadas que aprimoram a coordenação motora,
contribuindo com o desenvolvimento cognitivo.
Há estudiosos que analisam a Síndrome de Asperger como autismo de
alto funcionamento, mas estudos tem marcado a diferença no que diz respeito a
um melhor prognóstico e preservação de habilidades. A inteligência é considerada
normal, ou perto do normal, com desenvolvimento de habilidades específicas,
interesses especiais e circunscritos, que podem permanecer durante anos, de
forma repetitiva ou estereotipada ou desaparecer.
Importância de um Diagnóstico Correto:
O diagnóstico para Síndrome de Asperger requer muita atenção dos
profissionais, isto porque vários fatores dificultam a precisão do mesmo. É preciso
ter clareza, conhecimento das características e dos critérios diagnósticos que
diferem entre si. Por ser um diagnóstico totalmente clínico, é decisiva a avaliação
de médicos especializados e experientes no que diz respeito a questões de
comportamento, que conheçam o histórico da Síndrome e considerem a história
da criança. Uma equipe multidisciplinar, composta por psicólogos, neurologistas,
psiquiatras, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros profissionais com
experiência, observarão com precisão as características clínicas do caso e
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assegurarão um diagnóstico com abrangência neurológica, testes cognitivos
precisos, análise da função psicomotora, da linguagem verbal e não-verbal, estilo
de aprendizagem e habilidades para a vida independente. Exames de audição
também devem ser feitos para excluir a deficiência auditiva.
O diagnóstico da Síndrome de Asperger pode levar a associações com
outras síndromes, desordens, problemas de humor, depressão e ansiedade. A
questão genética também deve ser observada, isto quando um dos pais mostra o
quadro da Síndrome ou associações com o mesmo. Deve ser incluído na
pesquisa o histórico familiar de condições do espectro autista, pois a
hereditariedade conta muito, conforme analisa Gillberg (2005) a taxa entre irmãos
é alta, um irmão ou irmã de uma pessoa com autismo, tem risco de 4 a 5% de ter
autismo ou a 15 a 20% de ter um transtorno do aspectro autístico.
Estudos indicam alta taxa de depressão, uni e bipolar, em parentes de
crianças com Síndrome de Asperger, o que sugere relação genética em alguns
casos, demonstrando que não há uma causa única identificável na maioria dos
casos.
No Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-IV-
TR/1994), a SA é definida como um transtorno invasivo do desenvolvimento que
se distingue por um padrão de sintomas ao invés de um único sintoma, sendo
caracterizada por comprometimento na interação social, por esteriotipados e
restritos padrões de comportamento, interesses e atividades e por qualquer atraso
clinicamente significativo no desenvolvimento cognitivo ou atraso geral na
linguagem, estes prejuízos devem ser significativos e devem afetar áreas
importantes da função, caso contrário excluí-se o diagnóstico de SA se os
critérios são igualmente satisfatórios para o autismo ou esquizofrenia. A intensa
preocupação com um assunto restrito é típica da condição, mas não é necessário
para o diagnóstico.
Os critérios encontrados no CID-10 (1993) são quase idênticos aos do
DSM-IV (1994), acrescentado a questão do desajeitamento motor, mas se isolado
das demais características, não é critério para o diagnóstico.
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Muitas vezes o diagnóstico da SA é feito de forma errada ou
indiscriminada, o que faz com que a mesma criança receba diferentes
diagnósticos dependendo dos critérios seguidos. Isto atrasa o processo de
intervenção e afeta a confiança dos pais em relação aos profissionais envolvidos.
É nítido o desconhecimento dos profissionais médicos em relação a AS.
Preocupados e não entendendo o que passa com a criança, os pais costumam
procurar um clínico geral ou um pediatra para que a examinem. Estes,
desconhecendo as características da Síndrome analisam de forma errada,
podendo até sugerir o uso de medicamentos não necessários. Caso tenham
conhecimento da mesma, encaminharão esta criança para uma investigação mais
criteriosa.
Os critérios atualmente utilizados para diagnosticar autismo são
osdescritos no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais da
Associação Americana de Psiquiatria, o DSM– IV – 1994, que leva em
consideração a tríade criada pela psiquiatra inglesa Lorna Wing que propôs a
noção de “aspectro autista” que é adotada pela National Autistic Society britânica
para designar défcits qualitativos na denominada tríade de comprometimentos
que são: linguagem/comunicação, socialização e imaginação (Wing e Gould, 1970
– citado por Baptista e Bosa, 2002).
Quanto mais cedo acontecer o diagnóstico, melhor para a criança, pois o
processo de intervenção acontece com maior precisão, sem traumas para ela e
para a família. Os pais precisam de informações claras queos direcione.
Diagnóstico tardio ou feito por um único profissional, baseado na questão
neurológica, de fala e linguagem, ou em nível de escolaridade, pode gerar um
diagnóstico parcial que não vai permitir uma intervenção que ajude a
superarobstáculos e permitir desenvolvimento.
Na questão dos desvios qualitativos da comunicação, observou a
dificuldade em utilizar com sentido os aspectos da comunicação verbal e não
verbal (gestos, expressões faciais, linguagem corporal, ritmo e modulação na
linguagem verbal).
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Problemas de comunicação surgem desde cedo, a criança não é capaz
de pedir um objeto, o faz apontando com o dedo, ou levando a pessoa até ele.
Raramente chega a partilhar interesses com os outros, ou seja, não há
intencionalidade comunicativa podendo dizer-se que estabelece um tipo de
linguagem não produtiva. Manifestam-se de várias formas, tais como: ecolalia,
inversão de pronomes, linguagem rebuscada, o que limita a possibilidade de uma
comunicação efetiva.
Os desvios qualitativos na socialização é ponto crucial e que pode gerar
falsas interpretações, pois é a dificuldade de relacionar-se com os outros, a
incapacidade de compartilhar sentimentos, gostos e emoções e a dificuldade na
discriminação entre diferentes pessoas. Isto leva a diminuição da capacidade de
imitar, de colocar-se no lugar do outro e compreender os fatos a partir da
perspectiva do outro.
Caracterizando-se por rigidez e inflexibilidade, os desvios qualitativos na
imaginação, se estende às várias áreas do pensamento, linguagem e
comportamento da pessoa. Isto pode ser exemplificado por comportamentos
obsessivos e ritualísticos, compreensão literal da linguagem, falta de aceitação
das mudanças e dificuldades em processos criativos.
Esta dificuldade pode ser percebida por uma forma de brincar desprovida
de criatividade e pela exploração peculiar de objetos e brinquedos. Uma criança
que tem autismo pode passar horas explorando a textura de um brinquedo, já em
crianças com tem autismo e inteligência preservada, pode-se perceber a fixação
em determinados assuntos, na maioria dos casos incomuns em crianças da
mesma idade, como calendários ou animais pré-históricos, o que é confundido às
vezes com nível de inteligência superior.
A Inclusão do Aluno com Síndrome de Asperger:
Meninos e meninas com SA estão em nossas escolas, sempre existiram,
mas na maioria das vezes não são reconhecidos, isto devido a falta de
conhecimento sobre esta Síndrome, assim são taxados de chatos, não sociáveis,
distantes. É uma inclusão que requer um olhar diferenciado, pois este aluno não
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trás em si marcas visíveis que o diferencie, a primeira vista incorporam-se com os
demais, mas as atitudes revelam as características que os diferenciam dos
demais e ao mesmo tempo mostram a dificuldade de aceitação, principalmente na
adolescência, conforme enfatizam:
Omote (1996),"as diferenças, especialmente as incomuns, inesperadas e bizarras,
sempre atraíram a atenção das pessoas, despertando, por vezes, temor e desconfiança" (Suplino,
2005). É o estranho que se torna assustador porque desestabiliza os nossos saberes (Freud,
1919).
A inserção destes alunos no processo de escolarização da Educação
Básica, seja pública ou privada, tende a causar desequilíbrio, isto porque o
professor está preparado para trabalhar com a “homogeneidade”, embora esta
não exista em nenhuma escola e sim alunos que se encaixam em um padrão
determinado pelo que a sociedade chama de capazes e a escola se escora para
cumprir seu papel. As diferenças, principalmente no caso da SA com seus
comportamentos estereotipados, chamam a atenção e muitas vezes causam
medo, representando um problema significativo para que o aluno estabeleça
relação entre os demais alunos e o ambiente que o cerca.
Para que a inclusão da pessoa com deficiência, passe da teoria para a
prática, é preciso investir na formação de todos os professores e demais
funcionários que atuarão na educação deste aluno. Não é mais possível que
somente o professor que possua interesse pela Educação Especial aprimore seus
conhecimentos neste sentido. A demanda da inclusão chegou às escolas e
infelizmente os profissionais não foram preparados adequadamente. Somente
formação em Programas de Formação Continuada não é suficiente. Para que os
encaminhamentos pedagógicos e metodológicos sejam apropriados, o professor
precisa receber o referencial teórico e a assessoria pedagógica adequados.
Não basta que só o professor seja preparado, mas toda a equipe
pedagógica e administrativa, para que saibam trabalhar com o aluno e orientar as
famílias. Geralmente quando a família mergulha no conhecimento sobre a
Síndrome e na intervenção que esta deve fazer na educação do filho, muitas
vezes, cabe a ela também, fazer os primeiros encaminhamentos para que a
escola receba o aluno, ou tem que lutar arduamente para que os direitos
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adquiridos sejam respeitados e efetivados, o que já leva a um estresse
demasiado e perda da confiança no trabalho da escola em relação à
aprendizagem do filho.
Para que um aluno com SA consiga obter sucesso no processo de
inclusão, a escola, além da formação de seus profissionais, precisa ter espaço
físico adequado, criar um ambiente de aconchego e respeito que se adapte as
características do mesmo, para que o processo não se torne mais excludente. A
identidade da criança, sua história de vida, tudo o que já foi feito de intervenção é
crucial para o sucesso do trabalho pedagógico. Assim procedendo, a escola
poderá fazer a adaptação curricular necessária.
Outro grande entrave que acontece nas escolas é a questão diagnóstica.
Muitas vezes, entre a desconfiança da família ou do professor, até a confirmação
do diagnóstico, leva-se um tempo grande e que muitas vezes não há como
recuperar. Depois vem o planejamento das estratégias de trabalho, conseguir o
professor de apoio permanente, o estudo da Síndrome, a aceitação, o
conhecimento das teorias comportamentais, por isso a inclusão de alunos com
aspectro autista merece maior reflexão, conhecimento. Plaisance (2004) afirma
que inclusão é uma questão ética que envolve valores fundamentais, pois a
obsessão pela inclusão pode representar uma forma de tornar invisível as
diferenças, e portanto, um profundo desrespeito à identidade.
A escola é um espaço em que a aprendizagem deve acontecer de forma
significativa para qualquer criança, pois estas são cidadãs que merecem respeito,
devem ser educadas e não normatizadas. A sociedade não pode continuar
tratando a inclusão de forma excludente, mostrando quem leva vantagem ou
desvantagem. A escola pública é direito de todos, portanto cabe a quem tem seu
comando, fazer dela a melhor escola para o cidadão independente de suas
características.
Para que o processo de inclusão de alunos com autismo seja
operacionalizado Cutler (2000) apresenta como critérios que a escola deve
conhecer as características da criança e adequar tanto o currículo como o espaço
físico; constante aperfeiçoamento dos profissionais; avaliações diagnósticas
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precisas sem burocracia; adequação dos programas e avaliações para atender
perfis diversificados; ciência de que conhecimento e habilidades no caso dos
autistas tem definições diferentes; suporte físico e acadêmico que garanta a
aprendizagem; atividades físicas e artísticas regulares para o desenvolvimento
motor; apoio psicológico, fonoaudiólogo e terapêutico; permitir ao aluno a
participação no maior número possível de atividades socializadoras.
Com todo processo de discussão junto à inclusão de alunos com
deficiência ou necessidades especiais, surgem mecanismos para regulamentação
do processo de inclusão que passam a garantir direitos destes cidadãos. A
começar pela Declaração de Salamanca (BRASIL, 1994) e, mais recentemente, a
Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU, 2006).
O artigo 205 da Constituição Federal (1988), fala sobre quem tem direito à
educação:
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a
colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”.(Constituição Federal, 1988).
Cita no artigo 208, inciso III o direito específico da pessoa com
deficiência, garantindo: “III – atendimento educacional especializado aos
portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;”
(Constituição Federal, 1988).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN), Lei nº. 9394
de 20 de dezembro de 1996 (BRASIL, 1996), é o principal mecanismo de luta pela
inclusão, tanto na escola pública como privada. Define no capítulo V, artigo 58,
que a educação de alunos com deficiência deve ser preferencialmente oferecida
na rede regular de ensino, dando seguridade sobre adaptação curricular,
métodos, técnicas, recursos educativos específicos que atendam deficiências
diversas. Também neste artigo, no parágrafo § 1º salienta que “haverá, quando
necessário, serviços de apoioespecializado, na escola regular, para atender
àspeculiaridades da clientela de educação especial”. E no parágrafo § 3º que “a
oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa
etária de zero a seis anos, durante a educação infantil”. (LDBEN- Lei nº 9394/96).
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As Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica (
2001), estabelece que os serviços de educação especial, aconteçam em todas as
instituições escolares, níveis, etapas e modalidades previstas na LDBEN,
propiciando o desenvolvimento das potencialidades sensoriais, afetivas e
intelectuais do aluno, cuidando para que o projeto pedagógico contemple todas as
necessidades do educando.
O processo de inclusão dos alunos com SA requer conhecimento para a
efetivação dos direitos do aluno, a escola deve preparar o ambiente e os
profissionais para que recebam o aluno com respeito, demonstrando sensibilidade
às necessidades de cada indivíduo e habilidade para planejar com a família o que
deve ser feito. Quando este chega à escola com o diagnóstico previsto de SA, isto
facilita o trabalho da equipe pedagógica que vai atuar com o aluno,
proporcionando o planejamento de acordo com as necessidades de intervenção.
Quando este aluno muda de escola, para facilitar a adaptação na nova escola, a
equipe pedagógica deverá passar o maior número possível de informações do
processo pedagógico, assim como a nova escola deve procurar informações que
facilitem a adaptação do aluno e do professor.
A efetivação das leis ainda exige cobrança por parte da escola e dos pais
e para que isto aconteça, o conhecimento das mesmas se faz necessário. Se a
sociedade se coloca como inclusiva e diz que suas escolas são inclusivas, deve
ter ciência de que não é o aluno que se amolda ou se adapta à escola, mas sim a
escola, que consciente de sua função, coloca-se a disposição do aluno.
O Processo de Escolarização do Aluno com Síndrome d e Asperger:
Esse grupo de alunos tem direitos legalmente garantidos. Tem direito à
educação e à inclusão, por meio de suporte especializado na Educação Básica
(BRASIL, 2002).
As diferentes propostas educacionais que se apresentam hoje no
cotidiano escolar devem ter como proposta fundamental o aluno, seja qual for à
filosofia, o programa escolhido. Estes devem ter como ponto de partida, a análise
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da pessoa, do ambiente, da família do aluno, a cultura, para que as práticas
envolvidas levem a aprendizagem no todo.
Não há inclusão se não houver aprendizagem, portanto é necessário
rever os conceitos sobre currículo e programas educacionais. No caso do aluno
com Síndrome de Asperger, as experiências acadêmicas por si só não bastam
para que aconteça o aprendizado. É preciso ir além, ampliar para que todas as
experiências favoreçam o desenvolvimento destes alunos. Encontrar meios que
os levem a interessar-se pelo processo e fazer parte dele. Assim, a metodologia
precisa ser constantemente revista e melhorada. A escola, quando recebe um
aluno com SA, ou com outra deficiência, deve ter claro que para que a inclusão
tenha qualidade, são necessárias alterações, começando pelas arquitetônicas até
chegar às comportamentais, tais como adaptações curriculares, metodológicas e
dos recursos tecnológicos, capacitação de profissionais para que saibam atuar
com o aluno e os programas educacionais existentes para o desenvolvimento
destes.
Sabemos que no ensino regular, trabalhar com alunos com características
autistas é um grande desafio. Muitas são as limitações, salas lotadas, ambiente
físico inadequado, professores sem conhecimento sobre a Síndrome. Não basta a
criança chegar e ser colocada no espaço, tudo precisa ser adequado, preparado,
estimulado. Escolas que acham que ao receber um aluno com deficiência e
matriculá-lo fez o processo de inclusão, engana-se, isto é mais uma forma de
segregação e no caso das crianças com autismo é mais uma afirmação do
despreparo do sistema.
A inclusão escolar é de extrema importância para os alunos com SA, uma
vez que estes têm como maior dificuldade a socialização, a sua inserção em uma
sala com outros alunos e com um professor que saiba conduzir o processo,
favorece a aprendizagem. Embora haja poucas experiências de sucesso na
educação básica, o trabalho com o aluno com características autistas deve ser
ampliado, discutido e implementado (OLIVEIRA, 2002; VASQUES, 2002 apud
BRIDI; FORTES; BRIDI FILHO, 2006).
17
Sabe-se que uma das maiores dificuldades é chegar perto desse aluno e
manter contato com ele, principalmente se não houve intervenção adequada e no
momento certo, a inclinação é não aceitar, pois a dificuldade de socialização faz
com que sinta repulsa pelo contato, toque. Sua presença é um desafio. Isso é
uma resposta clara da necessidade de apoio, afeto, respeito que este necessita.
Para compreender o aluno com SA é necessário observação constante
para perceber como ele aprende e quais os meios necessários para levá-lo a
aprender. O que aprende tem uma extrema significação. É importante conhecer
as limitações nas áreas específicas do conhecimento para aprofundar sua
potencialidade, priorizando objetivos e metodologias flexíveis e adequadas que
partam do interesse que este demonstra, adequando recursos e conteúdos.
É necessário trabalhar a linguagem verbal e não verbal procurando levá-
lo a compreender o significado das mensagens propostas para que haja interação
entre professor, aluno e alunos, elevando a capacidade de simbolizar o mundo
que o cerca, assim desenvolvendo suas funções psicológicas superiores.
A linguagem, dentro da abordagem histórico-cultural, segundo Vygotsky
2000, não é apenas o ato de se comunicar, mas uma ferramenta do pensamento
que encontra sua unidade com o próprio pensamento no significado das palavras.
Portanto trabalhar a significação é permitir a realização do processo de
generalização que leva a reflexão e assim a apropriação dos conhecimentos por
parte do aluno.
Com o aluno com SA, trabalhar dentro desta perspectiva é proporcionar
uma criteriosa relação entre a mediação pedagógica, o dia a dia e a formação de
conceitos, que possibilitarão reação diante das experiências cotidianas se
contextualizadas, permitindo internalização consciente do que se está
vivenciando, explorando a sensibilidade, para assim perceber quais conceitos
foram apropriados e passaram a fazer parte do cotidiano da vida do aluno e como
ele exterioriza essa aprendizagem em relação ao seu interlocutor e as
circunstâncias estabelecidas pelas relações interpessoais.
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Buscar sempre a atenção do aluno, sentá-lo na primeira carteira,
pronunciar seu nome várias vezes, procurando retirar dele o que tem
desenvolvido para vencer novas etapas, partindo do que a criança sabe, ou seja
de sua zona de desenvolvimento real, levando-o através de mecanismos
adequados a zona de desenvolvimento potencial, onde com auxílio do professor,
ou colegas de sala conseguirá atingir etapas de desenvolvimento mais
aprofundados, o que irá garantir, mesmo dentro de suas limitações, atingir etapas
da zona de desenvolvimento proximal, conforme cita Beyer 2002:
[...] e a ampliação das condições cognitivas irá variar conforme o grau do autismo.
Porém, vale recordar o desafio lançado por Vygotsky com o bem conhecido conceito da zona de
desenvolvimento proximal, zona essa que se dimensiona em cada individualidade. Esse conceito
defende a idéia de que ninguém está fora do alcance da ação pedagógica produzidora de
mudanças (BEYER, 2002, p.124 e 125).
Planejando o trabalho na perspectiva de Vygotsky, quanto ao seu
conceito de zonas de desenvolvimento, o aluno é o sujeito ativo de seu processo
de formação e desenvolvimento. O professor partindo desse pressuposto respeita
o que o aluno possui de conhecimento, valorizando sua capacidade de
aprendizagem, buscando na inter-relação trabalhar a intencionalidade do
processo educativo que é o conhecimento, adaptando os conteúdos escolares
através de metodologias que o levem a estabelecer relações e assim aconteça a
aprendizagem.
O aluno com SA não consegue organizar-se com agilidade, como também
não consegue transmitir recado com facilidade, portanto a equipe pedagógica
deverá ensiná-lo nessa organização, bem como manter uma escala de tarefas
que o orientará e não o deixará frustrado. Portanto, fazer com que a sua zona de
desenvolvimento real, alcance progresso e se comunique com sua zona de
desenvolvimento proximal, é uma tarefa que requer atenção, companheirismo e
qualificação. Não é só a escola que tem esta função, mas a família também deve
criar situações de estímulo que privilegiem a comunicação, e o aprendizado,
levando-o a buscar o que precisa e resolvendo problemas que facilitem a sua
vida. Muitas vezes, quando a criança busca isolamento, não é porque o quer, mas
porque não compreendeu o que está sendo exigido.
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Baptista 2002, aponta critérios de organização e gestão que colaboram
com a ação do professor em sala de aula: classes que possuem alunos com
necessidades especiais com limitação numérica de 20 alunos por turma; dois
alunos com necessidades especiais no máximo por classe; professor de apoio
para atuar junto à classe e ao aluno como mediador, favorecendo relações de
colaboração e integração entre o grupo de alunos; estratégia de ação que levem a
atividades em pequenos grupos partindo para o todo; avaliação que seja
compatível com o desenvolvimento do aluno, sendo contínua, coletiva,
observando os avanços; trabalho integrado entre equipe multidisciplinar.
Geralmente o aluno com SA tem a tendência de se isolar ou ficar preso à
rotinas, isto é uma forma de defesa, o faz sentir-se mais seguro em relação ao
mundo que o cerca e exige dele mais inter-relação, mas a escola não pode achar
que isso é bom, pois em excesso, trás prejuízos e cada vez mais ele se fecha. É
preciso trazê-lo para a realidade, desenvolvendo a questão do desapego através
do processo de aprendizagem, de forma que ele adquira confiança e aumente o
autocontrole e autonomia em relação as suas atividades individuais e coletivas.
As regras devem ser explicadas de forma clara, detalhadamente para que
ele compreenda a significação e que elas são construídas com toda a classe, mas
que podem sofrer alterações em determinados momentos e que isto não é motivo
para reações adversas, assim este aluno estará mais próximo da realidade social
da qual vive no coletivo e compreenderá as mudanças quando necessárias sem
perder o autocontrole e responderá de forma equilibrada quando as mesmas
acontecerem.
Explorar a criatividade deste aluno partindo de temas de interesse que ele
possui, é a maneira mais fácil de chegar à interação e ao aprendizado. Permitir
que ele fale para a turma, demonstrará que ele não é insignificante e que tem o
que oferecer. Desta forma, o professor aproveitando estes temas, tem um campo
amplo de exploração para trabalhar as disciplinas que o aluno apresenta
dificuldades. Todo trabalho deve ser organizado e apresentado por meio de uma
linguagem de fácil entendimento e com exemplos claros, de preferência visuais,
atividades concretas. Tudo o que trás duplo sentindo causa estranhamento e
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dificuldade de compreensão para qualquer aluno, com os conceitos abstratos não
é diferente.
Os alunos com SA são inteligentes, sensíveis, parecem estar desligados,
mas estão mais próximos do que pensamos. Necessitam de respeito, atenção,
desdobramento do professor, da equipe pedagógica e da família no que diz
respeito ao conhecimento sobre a Síndrome e as formas de conduzir o ensino
aprendizagem. A intervenção adequada e a mediação prazerosa e de fácil
entendimento, levam este aluno a ter uma vida mais saudável e se sentir um ser
social capaz de participar, compreender e colaborar com o desenvolvimento
próprio.
A escola pública começa a dar os primeiros passos no trabalho
pedagógico em relação a estes alunos que começam a ser diagnosticados e
conduzidos de forma mais digna a inclusão, a socialização, ao aprendizado que
são garantias já estabelecidas em Lei, mas que precisam ser implementadas e
direcionadas de forma que surtam efeitos e não mascarem a inclusão. Muito
temos que caminhar para garantir a autonomia destes alunos e uma formação
escolar que vá além da adequação comportamental. São alunos que possuem
dificuldades, como todos os demais alunos da sociedade, mas não podem ser
vistos só por suas deficiências, possuem capacidade, vontade de estar no meio
social inseridos como pessoas que tem comportamentos diferenciados, mas que
amam, desejam, e podem ser donos de sua própria existência.
Considerações finais
Diante do que foi exposto, fica claro que esta Síndrome é um desafio para
pesquisadores, médicos, psicólogos, neurologistas, psiquiatras, psicopedagogos
etc., mas principalmente para a família e a escola que convivem diariamente com
estas crianças.
É evidente que os profissionais da educação precisam de formação que
os oriente nos trabalhos com a inclusão de alunos com características específicas
da Síndrome de Asperger, como de qualquer outra síndrome. Mudanças
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metodológicas acontecem se houver conhecimento sobre o que se ensina para
quem se ensina e como se ensina.
A dificuldade de socialização que os faz parecer distantes, não é motivo
para que sejam esquecidos num canto e sim para que se busque integrá-los e
assim se sintam parte do ambiente em que vivem. São capazes de amar, externar
sentimentos quando se sentem amados e esta relação acontece quando o aluno
sente que o professor demonstra interesse em ensiná-lo. Isto também acontece
na relação com qualquer profissional no processo de intervenção.
Para que o trabalho da escola seja feito de forma responsável e tenha
êxito, o diagnóstico correto deve acontecer cedo, para que as intervenções
adequadas sejam providenciadas e a interação social aconteça de forma mais
natural, possibilitando que barreiras na comunicação sejam vencidas e assim
possibilite vida mais autônoma. É preciso também que haja investimento por parte
dos poderes públicos evidenciando formação dos profissionais da educação,
materiais pedagógicos adequados que intensifiquem o trabalho do professor e o
cumprimento das Leis existentes que garantem o direito à educação de qualidade.
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