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DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 - … · oportunidade de sair do âmbito do lar. ... regiões...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE PONTA GROSSA
SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO
SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE
NAJLA CLIMANE NERY
ARTIGO: O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE BRASILEIRA:
A CONTRIBUIÇÃO DAS EDUCADORAS NO MUNICÍPIO DE WENCESLAU BRAZ
Wenceslau Braz A contribuição das educadoras do município de Wenceslau Braz
O PAPEL DA MULHER NA SOCIEDADE BRASILEIRAA CONTRIBUIÇÃO DAS EDUCADORAS DO MUNICÍPIO DE WENCESLAU BRAZ
Najla Climane Nery1
Dr. Edson Armando Silva 2
RESUMO
O presente artigo busca analisar a história de mulheres que escreveram a história da educação no município de Wenceslau Braz. O trabalho consta de parte teórica que trata de assuntos relacionados ao magistério e à mulher como peça chave dessa modalidade, através de ideia de autores que descrevem com sabedoria um período da educação onde ser professor era exercer um sacerdócio. Outra parte consta de entrevista a professores que iniciaram a sua carreira de educadoras a partir do ano de 1936, ano em que fundou a primeira escola do município. Foi, sem dúvida, um trabalho muito gratificante falar com pessoas que já cumpriram a sua meta, ensinando e formando cidadãos conscientes de seus direitos e deveres. Entrevistar professoras, já aposentadas, que atuaram em épocas distantes, foi como se fosse possível voltar no tempo e perceber que desde o início a função de educador já era considerada fator primordial para a construção da sociedade.
Palavras-chave: Educação. História. Magistério. Mulher. Professora.
1 Introdução
A participação e o lugar da mulher no tempo e na história foram
negligenciados pelos historiadores por muito tempo, tendo permanecido à sombra
de um mundo dominado pelo gênero masculino. Por muito tempo a mulher como
objeto de pesquisa foi erroneamente considerado exclusivo da sociologia. Se
sociólogos tiveram na mulher um campo sempre privilegiado de discussões, o
1 Professora de História da Rede Pública do Estado do Paraná. Professora do Programa de Desenvo-lvimento Educacional (PDE) do Estado do Paraná. E-mail: [email protected]
2 Orientador: Professor Dr. Edson Armando da Silva - UEPG
mesmo não se deu com os historiadores. A historiografia manteve, inicialmente,
certa resistência ao tema e isso ocorreu porque a História sempre esteve restrita ao
estudo da vida pública deixando a análise acerca do aspecto da educação que estas
mulheres receberam quando as mesmas obtiveram oportunidade no campo
profissional para exercer uma profissão liberal.
Trata-se de desvendar as intricadas relações entre a mulher, o grupo e o
fato, mostrando como o ser social, que ela é, articula-se com o fato social que ela
também fabrica e do fazer parte integrante das transformações da cultura e as
mudanças nas ideias nascem das dificuldades que são simultaneamente aquelas de
uma época e as de cada indivíduo histórico.
A maioria as mulheres são educadoras por natureza, evidentemente vários
fatores podem intervir e um deles é o meio no qual ela está inserida (cultura), uns
utilizam o termo mediar, orientar, conduzir, certo é que diretamente ou indiretamente
em um estabelecimento educacional, ou não, irá utilizar o conhecimento adquirido
nos bancos escolares conforme sua especialização ou vivência. Em seus lares com
seus filhos ou em outras funções na qual elas tenham feito à opção de exercer.
O universo desta pesquisa é o Município de Wenceslau Braz, situado no
Norte Pioneiro do Estado do Paraná, a 270 km da capital Curitiba e que de acordo
com o IBGE (2010),
conta com uma população de aproximadamente 19 mil habitantes, distribuídos entre a zona rural e urbana. Tem sua atividade econômica voltada para a área agropecuária, especificamente a produção de feijão, soja, horti-fruti-granjeiros e a criação de gado.
Com um número razoável de escolas da Educação Básica, Wenceslau Braz,
apresenta-se como um município pequeno que comporta um elevado índice de
alunos pelo fluxo de educandos oriundos de municípios circunvizinhos que buscam a
oferta de cursos profissionalizantes, como é o caso específico do Colégio Estadual
Dr. Sebastião Paraná – EMNP onde é ofertado o Curso de Formação de Docentes e
onde lecionaram as pioneiras na educação da localidade, objetos desse estudo.
Diante deste cenário heterogêneo e da necessidade de delimitação do
objeto, selecionar-se-ou uma parcela da população que participou e participa da
educação formal, com capacidade de opinar sobre a atuação da direção da
instituição em estudo, além de manter um relacionamento direto com os diversos
segmentos da sociedade.
As mulheres professoras, personagens que se fixaram na condição natural
de esposa e mãe, optaram pelo Magistério como uma oportunidade de conciliar
esses papéis que muitas vezes são questionados. Entenderam que o Magistério
configurou-se como uma opção de trabalho, meio da qual elas tiveram a
oportunidade de sair do âmbito do lar.
O magistério foi uma atividade profissional predominantemente feminina.
Tem-se destacado entre as profissões em que mais se consolidou como carreira
feminina nos últimos trinta anos.
A questão que nortearam esse estudo foi o fato de conviver com algumas
professoras, que embora aposentadas, ainda relembram os tempos vividos dentro
das salas de aula. Essas professoras fizeram história na educação do município de
Wenceslau Braz, quer como alfabetizadoras, quer como professoras de 1ª a 4ª série.
E a pergunta que por muitos anos foi feita: De que maneira as mudanças de valores
na sociedade brasileira abriram espaço para a participação feminina no Ensino
Médio na cidade de Wenceslau Braz? De que forma essas mulheres contribuíram
para a educação brasileira e especificamente para a educação da população
brazense?
O papel social da mulher é uma construção de identidade constituída através
dos tempos em toda a sociedade, e que não envolve somente ela como único
elemento, existindo uma pluralidade entre homens, mulheres e crianças no decorrer
do processo histórico dos quais fizeram parte no desenrolar dessa grande trama que
é a “História da Sociedade” onde se inicia nos grandes centros e vai refletindo nas
regiões menores. A partir desses fundamentos teóricos é que foi possível focar a
pesquisa envolvendo as mulheres docentes residentes em Wenceslau Braz.
Segundo Gil (1998, p. 56), “foi em 1936 que fundou a primeira escola
elementar da cidade com o nome de Grupo Escolar Centenário”, hoje, Colégio
Estadual Doutor Sebastião Paraná – EMPN, sendo suas primeiras professoras
algumas moças recém formadas no curso Normal em Curitiba e que vieram
tencionadas a buscar a realização profissional e acabaram por fixar residência no
município. Na época, as moças ficavam hospedadas como pensionistas em um hotel
da cidade. Logo que chegaram passaram a lecionar no ensino elementar, na época
a escola primária, atraindo inúmeros alunos por ser a primeira e única escola do
município.
A mulher tem como atividade educar seus filhos, cuidar de seus familiares e
quando adquire conhecimento e oportunidade para laborar vai para o mercado de
trabalho naquele que tem mais familiaridade, que seria a educação e saúde, já que
estas atividades eram executadas em menor escala em suas atividades diárias.
Esse reflexo ocorreu no final do século XIX, logo após terem concluído o
curso do magistério e assumindo salas de aulas numerosas, sem apoio algum da
família que deixaram para trás em busca da realização de seus ideais. Esse assunto
graças a sua importância vê-se a necessidade de ser aprofundado.
Adendo dessa problemática buscou-se construir um acervo documental a
partir da coleta de materiais diversos, como fotos e entrevistas com algumas
professoras aposentadas (as pioneiras) com o intuito de saber um pouco mais sobre
a educação no passado e ao mesmo tempo prestar a elas a nossa homenagem.
Assim sendo, no ano de 2010 foi realizada o projeto de implementação,
parte da proposta do Programa de Desenvolvimento Educacional. O projeto
envolveu alunos da alunos da 1ª, 2ª e 3ª série do Ensino Médio. Já na semana
pedagógica foi transmitido o projeto em questão para a equipe pedagógica para
verificação de como seria executada o projeto com os discentes.
Assim que o tema foi conhecido e explorado teoricamente, a turma foi
dividida em grupos pequenos para a realização da pesquisa em campo.
Para a realização da pesquisa utilizou-se de entrevista semi-estruturada com
perguntas abertas (que poderiam ser justificadas) que permitiram averiguar o nível
de entendimento que os entrevistados apresentaram sobre o assunto. “Em
entrevistas semi-estruturadas utilizam-se questões abertas, que permitem ao
entrevistador entender e captar a perspectiva dos participantes da pesquisa”
(ROESCH, 1999, p. 159).
Ao término os trabalhos solicitou-se a presença da comunidade escolar e as
entrevistadas. Foi uma experiência gratificante encontrar essas professoras que
comentaram sobre a escola contemporânea.
De acordo com as informações descobriu-se que algumas das entrevistadas
tiveram a oportunidade de cursar a faculdade e uma grande tristeza foi, durante o
período de entrevistas, o falecimento professoras (estavam agendadas para receber
a visita dos entrevistadores) Maria Souza e Maria Rita Teixeira Reis, deixaram o seu
legado de firmes e leais educadoras durante muitos anos.
Diante de todas essas colocações é preciso falar um pouco sobre o papel da
mulher na sociedade.
2 O Papel da Mulher na Sociedade
A condição feminina na história é um tema que tem sido muito discutido, seja
em relação às mulheres profissionais, às mulheres chefe de família ou ao número de
mulheres nas escolas, entre outras problemáticas de estudo no campo da história
das mulheres. Diante da diluição das exigências absolutas de objetividade nas
discussões epistemológicas das Ciências Humanas ao longo do século XX, a
historiografia sobre as mulheres acaba contribuindo e servindo de sustentação
teórica para determinadas discussões, reivindicações e posicionamentos, num
processo de interação, nem sempre pacífico, entre a existência social e o campo do
seu conhecimento.
A história das mulheres é relacional, inclui tudo que envolve o ser humano, suas aspirações e realizações, seus parceiros e contemporâneos, suas construções e derrotas. Nessa perspectiva, a história das mulheres é funda-mental para se compreender a história geral: a do Brasil ou mesmo aquela do Ocidente cristão (DEL PRIORE, 1997, p. 08).
Qualquer que seja a origem da mulher, para conhecê-la é preciso desvendá-
la através de historiadores, principalmente a brasileira que se refere à sua vivência
na atualidade. Dentro das bibliografias sobre o seu passado destacam-se de inicio,
os trabalhos sobre nossa formação histórica no qual o papel feminino se faz
destaque em várias obras de renome.
Com a Nova História e influências do marxismo, pesquisas sobre temas e
objetos que dificilmente eram alvos da historiografia tradicional, principalmente
história das mulheres, tem ganhado visibilidade na História nas últimas décadas,
inclusive com financiamento para pesquisa, evidenciando a importância não apenas
acadêmico, mas também social. Os objetos de investigação histórica pluralizam-se
e, junto a isso, as mulheres são alçadas à condição de objetos e sujeitos históricos.
É muito interessante para o objeto em estudo, a relação das mulheres com o saber, nota-se que Berger e Luckmann sempre dão exemplos ligados á divisão social do trabalho. Embora os autores não consideram a divisão sexual do trabalho que, ao determinar tarefas e papéis diferentes para os homens e as mulheres, define também domínios de competência e conhecimento diferentes segundo os sexos (KOVALESKI; PILATTI, 2004, p. 88).
No entanto, hoje, as mulheres estão em todos os lugares e
desempenham variados papéis, como os homens elas trabalham no campo, nas
fábricas, nas escolas, nos hospitais, em escritórios, órgãos públicos, são
comerciantes, industriais, empregadas ou empresárias. Além disso, fazem o trabalho
da casa, são esposas e mães, assumindo muitas vezes uma parte maior na
responsabilidade de educação dos filhos.
Se os objetivos femininos começaram a ser atingidos, foi porque as próprias
mulheres conquistaram seu espaço ao longo da história. Desde a metade do século
XX, senhoras aristocratas ou mulheres aristocratas, bem esclarecidas, fundaram
grupos femininos, denunciando a desigualdade e exigindo emancipação da
autoridade patriarcal.
Quanto aos conteúdos da evocação histórica pode-se afirmar que a
historiografia contemporânea assume a defesa das vítimas da modernização,
sobretudo das camadas sociais inferiores bem como, o que não deve ser esquecido,
a defesa das mulheres, cuja história liga-se estreitamente em grande parte à
concepção pós moderna da história. Dentre as principais concepções da experiência
histórica a historiografia pós moderna extrai sua inspiração da antropologia cultural e
da etnologia.
Os avanços da mulher no mercado de trabalho, nas famílias e nos padrões
de comportamento surgem de demandas coletivas e pessoais, que, em algum
momento, buscam sustentação em discursos referentes à identidade dos grupos e
sociedades no tempo, entre eles o discurso histórico acadêmico. Esse complexo de
narrativas e ideias que justificam ou explicam as posições dos sujeitos agindo no
tempo, afeta, entre os vários espaços da existência social, a Educação.
Por exemplo, as concepções de História presentes nos Parâmetros
Curriculares Nacionais (PCN) filiam-se genericamente às propostas de uma “nova
História”, absorvendo, inclusive, a temática das mulheres.
Para formar um cidadão, um indivíduo com plena consciência histórica e
social, que entenda e perceba a si próprio como sujeito histórico é imperativo, além
de um ensino de História que inclua todas as pessoas como sujeitos históricos
(portanto intrinsecamente democrático), que se faça também uma reflexão sobre
como, historicamente, essas subjetividades se constituíram (portanto, aberto à
mudança e compreensivo da historicidade e transitoriedade de todas as coisas e
pessoas).
Em seu estudo sociológico sobre a formação da família, Souza (1989, p. 6),
comenta que:
O século XIX com base em dados sobre regiões centro e sul do país, refere-se também a condição feminina dizendo ser provável o exagero, em geral, de autores que admitem a completa submissão da mulher a ponto de quase não ser uma pessoa autônoma em face do domínio marital. Em seu campo específico, a direção da casa, exigia-se capacidade de liderança no trabalho e a dominação marido não poderia ser tão absoluta assim.
O autor levanta a hipótese de que o regime patriarcal teria criado até mesmo
condições para a mulher brasileira desabrochar aspectos de sua personalidade,
permitindo a alguns, pelo menos, uma realização pessoal fora dos padrões em que
habitualmente eram consideradas.
Numa outra perspectiva sobre a mulher brasileira em nosso sistema
capitalista, Saffioti (1978, p. 197), apresenta uma retrospectiva sobre a condição
feminina no Brasil:
Com relação ao século XIX a autora admite um grande alheamento da mulher em meio as transformações que ocorriam na sociedade da época, a ponto de permanecer completamente à margem da campanha abolicionista e perder, assim, uma oportunidade histórica de afirmação pessoal.
Embora a pesquisa de Saffioti não esteja inteiramente voltada para a
condição social da mulher no Brasil, durante o século XIX, contém afirmações
categóricas em relação ao papel feminino nas camadas sociais elevadas em meio
às transformações gerais do final do século.
E assim, a imagem das mulheres do sul mais sociáveis que as mulheres de
outros lugares do país, é recorrente nos relatos dos viajantes, provavelmente
vinculada à composição racial do sul do Brasil, aos preconceitos raciais dos ditos
viajantes, à cultura específica da população que aí alojou-se, bem como uma
formação social e cultural que propiciava um modo de vida diferente dos existentes
na economia escravista de exportação.
Muitas vezes ao falarem das mulheres brasileiras, os viajantes referiam
exclusivamente às brancas da família abastada. Alguns ignoravam a existência de
filhas de imigrantes pobres, de mulatas e negras livres, entretanto outros sequer as
classificam como mulheres, pois nem sempre eram capazes de levar em conta as
contradições da vida paralela das diferentes camadas sociais.
Os historiadores da educação brasileira que abordaram o tema da educação feminina demonstram que a educação escolarizada para as mulheres não tinha sido uma preocupação da sociedade patriarcal brasileira até meados do século XIX. De fato, o patriarcalismo brasileiro caracterizou-se por uma severa clausura doméstica das mulheres, costume herdado da Península Ibérica e, consequentemente, dos árabes. Depoimentos de viajantes estrangeiros que percorreram o Brasil no século XIX, como Saint-Hilaire e Max Leclerc, informam-nos das mulheres analfabetas, ignorantes, arredias, que se ocultavam atrás das portas e evitavam contato com estranhos, voltadas para a criação dos filhos, a direção da casa e dos escravos domésticos (MAURO, 1980, p. 136).
Na década de 30, século XIX em São Paulo, época em que várias casas
eram comandadas por mulheres sós. É recorrente a representação destas
comandando estâncias, fazendas, negócios, em vista da constante ausência dos
homens.
Os jornais sulistas do final do século XIX e início do século XX não criaram
os modelos ideais de mulheres como boas mães, virtuosas esposas e dedicadas
filhas. Esses modelos já faziam parte do imaginário ocidental, podiam ser
encontrados na literatura, no sermão das missas, nos textos escolares, nas
tradições locais.
A existência de inúmeros conflitos e batalhas neste território deu aos
homens destaque nas atividades políticas e nas guerras. Entretanto, a ausência
masculina no lar exigiu que as mulheres assumissem a direção dos
empreendimentos e mantivessem a sobrevivência familiar, transpondo limites
usualmente para a sua condição.
No passado, as mulheres raramente se viram como sujeito na História
ensinada; já dizia Beauvoir (1987, p. 143), numa frase da década de 1950, bastante
citada nos estudos sobre esse tema, “que a mulher não nasce mulher, mas se torna
mulher conhecendo a sua história”.
Diante disso é imperativo incluir a mulher na História ensinada, tratar dos
papéis vividos pelas mulheres no decorrer da história do Brasil. Esses papéis só
parecem secundários, porque o foco narrativo da História está fechado em aspectos
restritos da vida da sociedade como a política, a guerra, a vida pública, etc., espaços
esses pouco ocupados por mulheres. Entretanto, a construção das condições para
esses eventos registrados pelo foco da historiografia tradicional tem a participação
expressiva das mulheres.
Por isso, não é possível desvincular uma história que considere o papel das
mulheres se não houver foco também no cotidiano e nas relações entre os gêneros,
pois é aí que a importância das mulheres será retomada.
Se a primeira Lei de Ensino (1827) representou um marco para a mulher na medida em que ratificou seu direito à instrução, significou, também, um instrumento que acentuou a discriminação sexual, pois só admitia o ingresso de meninas na escola primária, não aceitava a coeducação nas escolas e reforçava as diferenças nos conteúdos curriculares, com visíveis consequências sobre os níveis salariais (SAFFIOTI, 1969, p. 184).
Assim, sob a influência de correntes de pensamento que consideram a
mulher, e somente ela, toda biologicamente pela natureza com capacidade de
socializar as crianças na escola elementar, o magistério primário passou a ser
considerada profissão feminina por excelência.
Somente a partir de 1970, alterações significativas no perfil na força de
trabalho feminino afetam a situação do magistério. De um lado a mulher amplia sua
presença nos níveis mais elevados de ensino, como produto de seu ingresso nas
universidades, embora persista a preponderância feminina maciça no nível
elementar, de outro, acentuam-se a presença feminina em outras ocupações da
força de trabalho, diminuindo relativamente à importância do magistério, que passa a
ser suplantado, como ocupação de nível médio, pelas atividades burocráticas.
A partir de 70, alterações significativas no perfil na força de trabalho feminino afetam a situação do magistério. De um lado a mulher amplia sua presença nos níveis mais elevados de ensino, como produto de seu ingresso nas universidades, embora a preponderância feminina maciça no nível elementar. De outra parte, acentuam-se presença feminina em outras ocupações da força de trabalho, diminuindo relativamente a importância do magistério, que passa a ser suplantado, como ocupação de nível médio pelas atividades burocráticas (BRUSCHINI; AMADO, 1984, p. 1).
A mulher passou de uma educação do lar para o lar para uma participação
tímida nas escolas públicas, mistas no século XIX e posteriormente para uma
significativa presença na docência do ensino primário.
Escrever a história dos gêneros a partir da visão dos excluídos da história
significa escrever uma história de resistências, lutas, fracassos e problemas
cotidianos. No Brasil foram pesquisadas histórias tanto de mulheres e homens
pobres e excluídos como de indivíduos que não se curvaram a essa exclusão e
partiram para a luta por uma nova forma de vida, de valores e de costumes. Del
Priore (2001, p. 225) comenta que “as pesquisas realizadas sobre as mulheres
brasileiras, já são bastante variadas, podendo ser encontrados trabalhos em todo o
período da história do país, como sintetiza a obra História das mulheres no Brasil”.
Sob a influência de correntes de pensamento que consideravam a mulher, e
somente ela, dotada biologicamente pela natureza como capacidade de socializar as
crianças na escola elementar, era visto como extensão dessas atividades, o
magistério primário desde o século XIX, começou a ser considerado profissão
feminina por excelência. Até a década de trinta, o magistério foi uma das profissões
respeitáveis e a única forma institucionalizada de emprego para a mulher de classe
média.
Também se observa que, com raras exceções, a mulher prioriza a sua vida
doméstica, mesmo tendo conseguido obter um diploma (universitário) e um
emprego, deixando tudo de lado quando se casa ou chegam os filhos, o que
evidencia o papel do homem dentro da família, muitas vezes sendo único a prover
as necessidades materiais. Este comportamento ‘de renúncia’ por parte da mulher é
valorizado; sendo uma opção dela ‘se dedicar aos seus’.
3 Análise das Entrevistas
O primeiro passo para o projeto foi colher informações sobre as educadoras
que se destacaram na educação de Wenceslau Braz, a professora de história
buscou as informações das docentes junto às educadoras que possui um padrão na
ativa e outro inativo há mais de quinze anos, pesquisou com alguns funcionários do
Colégio Estadual Professor Milton Benner e o Colégio Estadual Doutor Sebastião
Paraná, os dois maiores colégios do município. Após o levantamento de dados
apresentaram-se outros quesitos a serem descobertos, o endereço das docentes
pioneiras e como as mesmas se encontravam fisicamente e se as mesmas poderiam
receber o grupo para as entrevistas, com dia e hora previamente agendados.
Novamente a professora responsável pela coleta de dados faz uma busca
com os professores que atuam nos estabelecimentos escolares e que estão na
educação a mais de trinta anos e tinham conhecimento sobre as docentes. Como o
município é de pequeno porte acaba ficando mais fácil coletar nomes e números de
telefones e endereços e saber qual a situação em que se encontram as pioneiras
indicadas.
Pelo contato com os educandos, em pesquisas ao laboratório, buscou-se
saber o porquê das “mulheres” serem homenageadas anualmente, com um dia
especifico para congratulações e por que comemorar nesta data, em memória a
que? E a quem? Por que o mundo comemora o dia 08 de março como dia da
“mulher”?
Descobriu-se que essa data foi marcada com fatos ocorridos que
compreenderam a necessidade de exaltar em consideração a tragédia ocorrida.
Fatos que a maioria das pessoas não sabe o porquê se comemoram mundialmente
o dia oito de março como Dia Internacional da Mulher. Tem significado de muita luta,
muito sofrimento e de reconhecimento da importância da mulher que, junto com o
homem e todo o povo, busca uma vida melhor e condições decentes de trabalho.
Assim, no dia 08 de março de 1908, as operárias de uma fábrica dos
Estados Unidos conhecida por “Cotton” entraram em greve, isto é, pararam de
trabalhar até que diminuíssem as horas de trabalho que eram de 14 a 16 horas
diárias, e aumentassem os salários baixíssimos que mal davam para comer.
Estas mulheres queriam na verdade eram 10 horas de trabalho diário um
melhor salário e condições saudáveis de trabalho. Depois da empresa se negar a
atender suas exigências, elas entraram na fábrica e, sem trabalhar, diziam “nós só
sairemos daqui ou começaremos a trabalhar quando formos tratadas como gente”.
Então o patrão chamou a policia, fechou as portas das fábricas e ateou fogo em
seguida. As cento e vinte mulheres que lá estavam morreram todas queimadas.
Somente dois anos após esse massacre, em 1910 realizou-se na Dinamarca
o primeiro Congresso Internacional da Mulher, e em homenagem àquelas operárias
assassinadas, institui-se o dia 08 de março como o dia Internacional da Mulher.
Assim os educandos foram percebendo como ocorreu esse processo
histórico onde as mulheres conquistaram, gradativamente, serem inseridas no
mercado de trabalho.
Mulheres que se destacaram como enfermeiras que cuidavam de seus
familiares no lar, já nas guerras começaram a auxiliar nos cuidados dos feridos.
No Brasil pesquisou-se sobre Ana Neri (13/12/1814 - 20/05/1880) uma
enfermeira que exerceu um dos papeis de destaque na área da saúde. Os alunos
descobriram que a primeira escola de enfermagem da Brasil foi batizada com seu
nome e que foi voluntária na Guerra do Paraguai, onde trabalhou arduamente
montando uma enfermaria limpa e moderna, recebeu muitas homenagens por seus
feitos.
Após iniciou-se a pesquisa sobre a educadora que se destacou no Brasil.
Dionísia Gonçalves Pinto 12/10/1810, nascida no Rio Grande do Norte e construiu
sua carreira com o pseudônimo de Nísia Floresta Brasileira Augusta. O nome
Floresta e o nome do sitio onde nasceu. Brasileira é o símbolo do seu ufanismo, um
desejo de ressaltar seus ideais, visto que viveu cerca de trinta anos na Europa. Já
Augusta foi uma homenagem a seu segundo marido, o qual amou muito, foi uma
verdadeira revolucionária no século XIX, uma voz que denunciava a condição de
submissão em que viviam algumas mulheres do país, solicitando e reivindicando a
emancipação feminina e delegando a educação como um meio do qual esse objetivo
seria alçado.
O tempo passou e o Brasil caminha rumo ao século XX e nas metrópoles
como no campo grande parte da população continuava sem o domínio do
conhecimento erudito básico.
Por volta de 1827, se estabeleceram “as escolas de primeiras letras”. Porém
para ministrar aulas estas instituições estipularam alguns critérios, o professor tinha
que ter moral e princípios inquestionáveis para os dogmas apresentados neste
contexto histórico.
Os educandários em sua maioria das vezes eram dirigidos por religiosos e
estes mantidos por leigos, docentes com uma moral dogmática e seus lares
deveriam ser ambientes decentes uma vez que os pais confiavam aos educadores à
formação educacional de seus filhos.
Nos últimos 40 anos o magistério tem se destacado e consolidado, como
uma carreira com um número aproximado de 50% feminino.
No Colégio Estadual Doutor Sebastião Paraná do município de Wenceslau
Braz, o curso de Formação Docente tem atraído em sua grande maioria meninas,
cerca de 98%, dentro de três décadas tem permanecido com esse índice de
integrantes. A maior parte dos jovens do sexo masculino prefere curso como
contabilidade, administração e atualmente informática.
Os jovens que buscam informações sobre o destaque dessas profissionais,
observam que atualmente a mulher já se encontra nas mais diversas áreas
profissionais, e citam algumas carreiras que no dia-a-dia tem conhecimento como:
política, empresárias, juízas entre outras. E fazem uma observação que elas
trabalham e conciliam suas atividades profissionais aos afazeres domésticos em seu
lar.
Na conclusão da pesquisa on-line, foi dialogado com os alunos sobre suas
descobertas e relacionado fatos e conhecimentos pessoais, diferenças e
desenvolvimento ocorrido até a atualidade. Essas pesquisas e troca de
conhecimentos dos alunos ocorrem em dois momentos no turno vespertino, onde
também se agendava um novo encontro.
Em outro momento alunos e professora assistiram o filme ‘Narradores de
Javé’, onde os discentes observaram como é o procedimento da pesquisa de
campo, e como poderia ser o encontro com as entrevistadas. No próximo encontro
foram elaboradas as questões, discutiram algumas dúvidas, visto as dificuldades
encontradas, conheceram a relação de nomes pautados previamente das pioneiras
com disponibilidade de recebê-los.
Os encontros com os alunos ocorreram sempre no Colégio Estadual
Professor Milton Benner – Ensino Fundamental e Médio.
Das docentes entrevistadas pelo menos quatro estão com vários problemas
sérios de saúde, mas isso não impossibilitou de receber os entrevistadores com
satisfação e prazer. A maioria delas declarou que seus alunos eram em grande parte
obedientes e comprometidos com a educação. Disseram também que os pais não
compareciam com frequência na escola, mas nas reuniões que ocorriam
demonstravam interesse pelas atividades curriculares de seus filhos e que seus
alunos, todos, sem exceção, possuíam uma indumentária própria para frequentar à
escola.
Relataram que as avaliações eram realizadas uma no bimestre e a
recuperação era no fim do ano letivo, quando o discente teria que estudar grande
parte do conteúdo ministrado durante todo o ano letivo.
Todas disseram que possuíam o apoio e incentivo de seus pais ou
companheiros, relatando que os problemas e dificuldades encontrados por elas
eram mínimos e que raras vezes, algum aluno apresentava dificuldade de
aprendizagem ou falta de interesse, mas sabiam que no transcorrer do ano
superariam essas dificuldades.
Somente uma professora relatou sobre os castigos que ela impunha aos
alunos alegando que sempre foi muito exigente, declarou que foi muito brava e
algumas pessoas não possuem muito apreço por ela até hoje.
Cinquenta por cento das professoras entrevistadas permaneceram somente
com a educação básica. Somente algumas, ou seja, cinco delas conseguiram a
oportunidade de frequentar uma faculdade, que eram ofertadas somente em
municípios vizinhos, sendo assim estas tiveram a possibilidade de ministrar aulas
para o ensino fundamental e médio.
Quando foram questionadas sobre ‘namoro nas escolas’ declararam que
sempre houve a paquera nas escolas, só que era diferente, pois o namoro era troca
de olhares e bilhetes entre os jovens. Uma das professoras disse que foi em um
destes momentos que conheceu seu esposo, com troca de olhares e de bilhetes,
namoraram, noivaram e casaram-se, viveram mais de trinta anos juntos, até o óbito
de seu cônjuge.
Nas festas realizadas no município enviavam-se recadinhos do correio
elegante, brincadeira que consistia na troca de bilhetes, de amizade e/ou
enamorados, decorados e com mensagens já escritas.
A LDB (Lei de Diretrizes e Bases) pela qual trabalharam foi a 4024/61 e no
final da carreira trabalharam com a lei 5692/71.
Entre três ou quatro das professoras questionadas adentraram na Educação
Básica através de convites para lecionar, e não através de concursos. O convite
ocorria devido ao desempenho que tiveram quando eram estudantes e pelo mando
político na década de 60 do século XX.
A educadora que veio morar aqui advinda de Curitiba, Ruth Dabul, ministrou
aula para o ex-governador José Richa, na quinta série do ginásio.
A maioria das professoras entrevistadas, hoje aposentadas, acompanham a
educação atual e como o município é pequeno sabem da realidade mantendo um
diálogo com pessoas envolvidas com a educação nas mais diversas etapas. Em sua
totalidade, afirmam que, atualmente há muita indisciplina e dificuldades maiores, que
os educadores que estão na ativa comentam que os jovens de hoje não possuem
limites, não respeitam a si mesmos e nem aos outros. Elogiam a educação de quatro
a cinco décadas passadas, quando o aluno conluia a 4ª série sabendo as quatro
operações com segurança, lendo e interpretando com facilidade, justificando que
somente as séries iniciais já lhes davam embasamento para os jovens adentrar na
avaliação que precisava ser feita para frequentar o antigo ginásio (séries finais) e o
antigo segundo grau (ensino médio). Hoje, disse uma delas, aumentaram os dias
letivos, mas a qualidade de ensino diminuiu.
Entrevistar essas professoras foi uma ação gratificante, pois através do
contato com essas pioneiras foi possível adquirir novas experiências em relação à
Educação.
4 Considerações Finais
A condição feminina na história é um tema que tem sido muito discutido, seja
em relação às mulheres profissionais, às mulheres chefes de família ou ao número
de mulheres nas escolas. Nessa perspectiva, a história das mulheres é fundamental
para se compreender a história geral: a do Brasil ou mesmo aquela do ocidente
cristão.
Hoje as mulheres representam à maioria da população brasileira, estando
em todos os lugares e desempenhando variados papéis, como os homens elas
trabalham no campo, nas fábricas, nas escolas, nos hospitais, em escritórios, são
comerciantes, industriais, empregadas ou empresárias. Além de tudo ainda são
donas de casa, esposas, mães e muitas vezes assumindo uma parte maior na
educação dos filhos.
Se os direitos femininos começaram a ser respeitados, foi porque as
próprias mulheres conquistaram seus direitos ao longo da história.
Falar e ler sobre as mulheres pioneiras na sociedade é um assunto que trás
muitas alegrias para o leitor, tendo em vista a contribuição permanente e importante
que a figura feminina tem representado em todas as partes do mundo.
Inseridos em uma pesquisa sobre leitura e escrita de professores,
trabalhamos numa etapa inicial com histórias de vida de professoras, deslocamos
nosso eixo de análise para outro objeto: professoras aposentadas.
Através de seus relatos, desvendou-se uma parte do contexto em que
viveram. Portanto, ao entrevistarmos professoras aposentadas, pudemos
surpreender uma história pessoal se entrecruzando com a coletiva, deixando aflorar
importantes questões que ajudaram a melhor compreender a história da educação
do município de Wenceslau Braz, através da memória destas professoras,
possibilitando entrever a escola de sua infância, recuperar dados históricos do início
do século. Acredita-se que este mergulho no passado deu condições de olhar para o
presente com uma nova perspectiva.
Ao trabalhar com a memória de um tempo vivido por professoras
aposentadas, reflete-se sobre o presente, pensando um outro futuro. As entrevistas,
desenvolvidas de forma dialógica, foram transcritas. Na maioria das vezes, foram
necessários dois ou três encontros com cada entrevistada.
As entrevistadas falam de dois lugares, enquanto alunas que foram, e como
professoras que se tornaram, da prática pedagógica enquanto professoras,
resgatando histórias de vida, fala do processo de ingresso no magistério e
acompanham o percurso de 25 anos de atuação das professoras aposentadas e
suas interações vividas num ambiente onde se mesclam autoritarismo e afetividade.
Assim ao contarem suas histórias, um novo sentido vai se descobrindo nas
ruas, nos edifícios, nas grades das janelas, nas fachadas das escolas. É um sentido
impregnado por fatos, acontecimentos, histórias, vidas. Eles vão deixando de ser
apenas cimento, tijolo e concreto, cenários mudos para começarem a falar através
de vozes que se multiplicam a partir das narrativas que vão encontrando em suas
recordações, outras pessoas que transitaram nestes cenários, conferindo-lhes novos
significados.
É interessante ouvir as professoras aposentadas. São pessoas diferentes,
que viveram em épocas diversas, mas tem em comum o fato de serem professoras
que atuaram na rede pública do estado e do município. São mulheres cuja idade
varia dos 55 anos aos 85 anos.
Ao falarem de sua infância, escolaridade e prática profissional, suas leituras
e escritas, elas vão desfiando sabedoria, fazendo sugestões para a continuação da
história. Enfrentaram as autoridades educacionais reivindicando melhorias para sua
categoria, através da participação ativa nos movimentos sindicais dos professores.
Avós, mães e tias, e, sobretudo professoras, essas mulheres educadoras
têm muito a contar. As narrativas, os contos revestiram-se de um universo humano
mais amplo, onde a harmonia conjugou-se com tensões e conflitos. Das falas destas
professoras aposentadas pinçamos em suas memórias, um passado que revelou a
história da educação de nossa cidade.
Nós, pesquisadores, interessados em investigar a questão da leitura e da
escrita na história de vida de nossos professores aposentados, adentramos na
privacidade de seus lares, interferimos no cotidiano de suas vidas, modificamos o
roteiro de seus afazeres, invadindo o espaço alheio. Um espaço e um tempo que
nos foram gentilmente cedidos e reservados por pessoas que acreditaram na
educação neste/deste país, se dedicaram a ela e continuam comprometidas e
envolvidas com ela. Demonstraram isso claramente ao conceder seu precioso
tempo, ao possibilitar conhecer suas ricas histórias, ao receber os entrevistadores
com tamanha cordialidade.
Elas se lembram até hoje, apesar da idade, da primeira professora e do
método de alfabetização. Em seus relatos aparecem a velha cartilha, o método
fônico, o analítico e o global. Vão sendo trazidas para o presente, frases das
cartilhas, histórias dos cartazes do método global. No tempo que viveu a sua
infância, as solicitações do ambiente eram bem menores, a televisão ainda não
existia, o cinema estava nos seus primórdios, as informações eram mais lentas e
demoradas, a comunicação entre os diversos lugares muito restrita. Assim, o livro
era o veículo dessa informação, o estímulo à imaginação, ocupando um lugar de
mais destaque.
Numa época, em que não havia uma indústria de brinquedos forte, um
mercado que oferecesse uma oportunidade de escolha de muitos jogos infantis, em
que nem o videogame estava presente, nem o computador com seus jogos, as
crianças conseguiam imaginar, transformar um dicionário em brincadeira, em jogo
competitivo.
É interessante como havia certa preocupação das famílias com o que podia
ser lido. Os livros de formação eram os aconselhados, enquanto os romances
passavam quase por uma censura prévia dos pais, o que não impedia, no entanto, a
burla, a luta pelo proibido que despertava um gosto maior. No entanto, o acesso aos
livros era privilégio de pouquíssimas famílias que procuravam, zelosamente,
transmitir aos filhos o hábito da leitura, muitas vezes, criando em casa uma pequena
biblioteca. Apesar das dificuldades de acesso ao livro, a necessidade da instalação
de bibliotecas escolares era sentida também pelas autoridades escolares.
Tendo traçado o panorama sócio-econômico cultural no qual se desenvolveu
o magistério feminino em nossa cidade e região, foi possível compreender a partir do
trabalho investigativo que a escolha do magistério pela mulher brasileira teve
determinantes sócio-históricos pertinentes à historicidade da constituição da mulher
que se deu à sombra da tradição patriarcal de nossa sociedade, com suas
concepções e ideologias pertinentes às relações econômicas de produção
capitalista.
Quais os entraves, os desgastes e esperanças destas professoras durante
todo o tempo em que atuaram? Quais as características da sua prática pedagógica?
O que leram para se fundamentarem teoricamente?
Partindo da concepção de que a professora é um sujeito, histórico, ativo,
produto e produtor de cultura, na qual age, reage e interage, se constituindo na e
com a dinâmica social, em cuja complexidade estão presentes contradições e
antagonismos, torna-se necessário um mergulho na macro-história.
A criação dos grupos escolares pelo Estado se encontrava vinculada ao
processo político-econômico e coincide com um período em que o País arranca em
direção ao investimento na economia urbano-industrial. A meta básica de tais teorias
é o controle total de todos os setores de uma empresa através de um gerenciamento
com mão de ferro.
É interessante tratar também do processo de escolha profissional e da
entrada das entrevistadas para o magistério entre as décadas de 30 a 60, momento
em que, ao mesmo tempo em que, certamente, sofrem o drama do controle
burocrático do gerenciamento cientifico em seus trabalhos, as mulheres brasileiras
conseguem algumas conquistas e reivindicam para si o direito de serem sujeitos
construtores da História. O exercício do magistério, por si mesmo, explicita isso. Mas
a opção por esta profissão parece se definir já no momento do nascimento: se for
menina, o cargo máximo de ocupação profissional a ocupar é o de professora.
Mesmo assim, nossas mulheres-professoras buscam, em seu papel de educadoras,
a realização de si mesmas, a humanização.
Mulheres-professoras, graças à ativação da memória, puderam resgatar e
imitar secretamente suas ex-professoras. Mas a prática delas não é também
imitada? Certamente, muitas de suas ex-alunas que se tornaram professoras, as
imitam.
A voz da educadora levanta uma calorosa discussão em torno de palavras
tais como antigo e novo, clássico e tradicional. De sua voz, ecoa a ideia de que é
perigoso perder de vista a finalidade da ação pedagógica em função de métodos e
técnicas modernos, aparentemente neutros e inofensivos.
Algumas de nossas mulheres-professoras se revelam leitoras não só da
palavra, mas também da realidade vivenciada. São mulheres contemporâneas de
seu tempo histórico, pioneiras que fizeram/escreveram a história. Mulheres que
anunciam e denunciam. Anunciam implicitamente que o papel do educador reside na
transformação da pessoa em cidadão, na formação do leitor da palavra alcançada
através da leitura do mundo.
ANEXOS
Anexo I: Entrevistas Realizadas Junto às Professoras/Pioneiras que
Ministraram o Ensino Primário e Ginasial no Município de Wenceslau Braz
PROFESSORA: ALDA PETLA MENDES
01) Qual o seu nome e sua escolaridade?
R: Chamo-me Alda Petla Mendes e estudei no Grupo Escolar Dr. Sebastião Paraná,
cursei o Normal e me formei na Faculdade de Letras.
02) Qual foi o período que trabalhou como professora?
R: Iniciei no ano de 1945 e me aposentei no ano de 1973.
03) Quais foram às séries que a senhora ministrou suas aulas?
R: Lecionei no primário, Ensino Fundamental e Magistério.
04) A senhora quando decidiu ser professora teve algum tipo de motivação? De
quem?
R: Antigamente faltavam professores para lecionar. Eu fui convidada pela Srª. Maria
Rita Reis que era diretora da escola para dar uma ajuda nesse sentido e assim fui
ficando até me aposentar. Iniciei dando aulas de Habilitação.
05) Naquela época quais eram as dificuldades enfrentadas pelos professores?
R: Havia falta de material, usávamos apenas coisas comuns como a lousa, giz,
apagador; hoje em dia existem os computadores, DVDs, televisão, pendrive, etc.
06) Quais as leis que regiam nesse período?
R: A Lei era feita entre eles, diretora, professora, já existia a secretaria. A professora
Terezinha Proença era a inspetora. Só a diretora administrava a escola que era
composta somente por mulheres.
07) Como os professores agiam no caso de ser desrespeitado pelo aluno:
R: Geralmente não podia agir severamente, tinha algumas professores que assim o
faziam. No caso de agressão tínhamos que reclamar na Delegacia de Polícia.
Antigamente os alunos tinham mais respeito com o professor.
08) Com qual idade uma pessoa poderia começar a lecionar?
R: Na época de 1945 as professoras já podiam lecionar após o término da 5ª série,
desde que já tivesse 18 anos de idade.
09) Qual era a visão de ensino da época?
R: O ensino era mais puxado, pois a 1ª prova era a leitura. Os professores
elaboravam as provas e depois tinham que ser aprovadas pela Direção da escola. A
média normal era 100 ao contrário de hoje em dia.
10) Quem eram as professoras daquela época:
R: Iolanda Abrão, Alzira Salgado e outras mais.
11) Em relação a sua vida familiar seu marido se incomodava em vê-la trabalhando
fora de casa?
R: Penso que sim, pois tinha que cuidar dos filhos para que eu pudesse trabalhar.
Cheguei quase a desistir da profissão só não o fiz por tive muita garra e força de
vontade própria.
PROFESSORA: RUTH RICHTER DABUL
01) Qual o seu nome e sua escolaridade?
R: Chamo-me Ruth Richter Dabul e estudei no Grupo Escolar Dr. Sebastião Paraná,
Ginásio Paranaense de Curitiba e Escola Normal de Curitiba.
02) Em que ano iniciou seu trabalhou como professora?
R: Iniciei no dia 22 de fevereiro de 1945, com 18 anos de idade.
03) Quais foram as séries que a senhora ministrou suas aulas?
R: Todas as séries. Inclusive lecionei na Escola Normal e também fui Diretora do
Grupo Escolar Dr. Sebastião Paraná.
04) A senhora quando decidiu ser professora teve algum tipo de motivação? De
quem?
R: Era meu ideal, pois desde pequena já dava aula para os vizinhos.
05) Naquela época quais eram as dificuldades enfrentadas pelos professores?
R: Para mim não tive nenhum tipo de dificuldade.
06) Quais as leis que regiam nesse período?
R: O Regimento Interno das escolas com autonomia.
07) Como os professores agiam no caso de ser desrespeitado pelo aluno?
R: Encaminhava o aluno ao Gabinete do Diretor para que lá o problema fosse
resolvido por ele.
08) Qual era a visão de ensino da época?
R: Ótimo porque os alunos eram obedientes, tínhamos trabalhos manuais, acredito
que era melhor que atualmente.
09) Em relação a sua vida familiar seu marido se incomodava em vê-la trabalhando
fora de casa?
R: De forma alguma, sempre me apoiou na minha escolha.
10) Com qual idade as professoras podiam começar a lecionar?
R: Com 18 anos completo.
11) Os alunos daquela respeitavam mais os professores?
R: Sim. Muito mais que hoje.
PROFESSORA: LEONILDA VIEIRA DOS SANTOS
01) Qual o seu nome e sua formação?
R: Chamo-me Leonilda Vieira dos Santos e era professora leiga.
02) Quais os colégios que se formou?
R: Grupo Escolar Centenário e Escola Dr. Sebastião Paraná.
03) Qual seu nível de escolaridade?
R: Ensino Fundamental.
04) Em que ano começou a lecionar? E que ano se aposentou?
R: Comecei a lecionar no ano de 1947 e me aposentei no ano de 1972.
05) Em que série começou a trabalhar?
R: Iniciei na 1ª série.
06) Seu pai se importava ou não que a senhora trabalhasse fora?
R: Não.
07) Qual era a visão de ensino da época?
R: O estudo era melhor e o aluno aprendia mais.
08) Qual a Lei que regia neste período? Como eram feitas as provas?
R: A Lei que regia na época era a de nº. 4024, as provas eram copiadas e realizadas
mensalmente com a média 06.
09) Quais as dificuldades enfrentadas para lecionar naquela época?
R: Para mim era a falta de experiência, pois não tinha nenhum curso
profissionalizante.
10) O que os professores precisavam para começarem a lecionar? E a partir de
quantos anos de idade poderiam lecionar?
R: Naquela época não era exigido que o professor tivesse muito estudo e havia o
Diário para a diretora. A idade mínima necessária era ter 18 anos de idade.
11) Quando o professor daquela época era desrespeitado por algum aluno qual era
a atitude que adotava?
R: As professoras da época eram muita bravas e com isso o aluno tinha medo só do
olhar da professora.
12) Como era o uniforme usado pelos professores e alunos daquela época?
R: Os professores usavam guarda pó na cor branca e os alunos também usavam
guarda pó branco.
13) Antigamente como era a relação existente entre os professores e pais de
alunos?
R: Bom os pais estavam sempre presentes.
14) Era normal naquela época namorar na escola?
R: Não era permitido namorar na escola naquela época.
14) O que foi que mudou da escola de antigamente para a de hoje?
R: Houve uma mudança na maneira de ensinar e no comportamento dos alunos.
15) Quanto a sua vida particular, seu marido se importava ou não de vê-la
trabalhando fora de casa?
R: Não; Meu marido sempre me apoiou nesta escolha que fiz para minha vida.
16) Há respeito da reprovação como era nesse período?
R: Havia pouca reprovação.
PROFESSORA: ALZIRA SALGADO
01) Qual o seu nome e sua escolaridade?
R: Me chamo Alzira Salgado e estudei o Ginásio, fiz o Magistério em Jacarezinho e
me formei no curso de Letras pela Faculdade de Jacarezinho.
02) Em que ano iniciou seu trabalhou como professora?
R: Iniciei no ano de 1955 e me aposentei no ano de 1984.
03) Quais foram as séries que a senhora ministrou suas aulas?
R: Lecionei no antigo Ginásio, no antigo 2º Grau e também fui Diretora da Escola
Regional Normal Joaquim Maria Machado de Assis.
04) A senhora quando decidiu ser professora teve algum tipo de motivação? De
quem?
R: Não tive motivação de ninguém porque desde criança quis ser professora.
05) Naquela época quais eram as dificuldades enfrentadas pelos professores?
R: Muito raramente algum aluno dava trabalho na sala de aula.
06) Quais as leis que regiam nesse período?
R: Os professores precisavam passar pelo Exame de Admissão para entrar no
Ginásio.
07) Como os professores agiam no caso de ser desrespeitado pelo aluno?
R: Apenas repreendiam o aluno e os aconselhava.
08) Qual era a visão de ensino da época?
R: Nós tínhamos a visão de comportamento dos alunos.
09) Em relação a sua vida familiar seu marido se incomodava em vê-la trabalhando
fora de casa?
R: Como sou solteira o meu pai sempre me incentivou para que fosse uma boa
professora.
10) Com qual idade as professoras podiam começar a lecionar?
R: Com 18 anos completo.
11) Os alunos daquela respeitavam mais os professores?
R: Sim. Muito pouco desrespeitava-nos.
PROFESSORA: YOLETE JORGE ABRAÃO
01) Qual é o seu nome e sua formação?
R: Eu me chamo Yolete Jorge Abraão e sou formada na Escola Normal Secundária.
02) Quais os colégios em que a senhora estudou?
R: Estudei o Normal no Colégio Joaquim Maria Machado de Assis.
03) Qual o seu nível de escolaridade?
R: Cursei até o Ensino Médio. Na época era a Escola Normal que formava para ser
professora.
04) Qual foi o ano que começou a lecionar e quando foi que se aposentou?
R: Comecei a lecionar em agosto de 1955 e me aposentei no mês de julho de 1979.
05) Em que série iniciou seu trabalho?
R: Iniciei dando aula de 1ª a 4ª série, trabalhei também como inspetora de ensino no
período de 1961 a 1965.
06) Qual era a visão de ensino naquela época?
R: O estudo era considerado a melhor coisa que existia.
07) Qual a Lei que regia naquele período? E como eram realizadas as provas?
R: A Lei que regia a educação naquela época era 4.024/61 e as provas eram
copiadas sendo realizadas mensalmente e tinha no término do ano a prova oral com
média 5.
08) Quais as dificuldades encontradas naquela época?
R: A falta de professores para lecionar.
09) Seu pai se importava ou importou quando a senhora disse que queria estudar e
ser professora?
R: Não se importava sendo que minha mãe sempre foi a maior fã dos professores.
10) Seu marido tinha algum preconceito em vê-la trabalhando fora?
R: Não por que quando me casei já tinha 10 anos de magistério não tinha motivo
para ele ter algum preconceito.
11) Qual era sua reação ao ser desrespeitada pelos alunos?
R: Nunca fui desrespeitada mesmo porque sempre tive muita autoridade em sala de
aula e os alunos tinham medo de alguma reação minha.
12) O que os professores precisavam para começarem a dar aula? E a partir de que
idade podia começar a lecionar?
R: Tinham que ter concluído a Escola Normal e ter 18 anos de idade.
11) O que mudou na escola de antigamente com a de hoje?
R: Os alunos daquele tempo aprendiam melhor os de hoje em dia não querem saber
de estudar só de passar de ano não se importando se aprenderam ou não alguma
coisa.
13) Qual era o uniforme usado pelos alunos e professores daquela época?
R: Os alunos não tinham uniformes, somente os professores usavam guarda pó
branco.
14) Como era a relação entre professores e pais de alunos nesta época?
R: Os pais somente compareciam na escola quando eram chamados pela direção
para participarem da reunião.
15) Naquela época era permitido namoro na escola?
R: O namoro dentro do ambiente escolar era proibido.
16) Em relação a reprovação como eram nesse período?
R: O índice de reprovação era grande, principalmente na disciplina de matemática.
17) Como era a merenda nessa época?
R: O Governo não mandava merenda para escola, somente os livros.
PROFESSORA: CAROLINA BATISTÃO DE SOUZA
1) Qual seu nome e sua formação?
R: Meu nome é Carolina Batistão de Souza sou formada no Magistério, na Escola
Regional e na Faculdade de Pedagogia.
2) Quais as dificuldades que a educação apresentava naquela época?
R: Falta de material, falta de espaço físico e também a falta de interesse dos pais
em deixar seus filhos estudarem.
2) O que os professores precisavam para começarem a lecionar? E a partir de
quantos anos de idade poderiam lecionar?
R: Antes de tudo o ser humano. Por não haver pessoas com idade o exigido por Lei
era 14 anos.
3) Qual era a sua reação no caso de ser desrespeitada pelo aluno?
R: Nunca ocorreu tal fato porque antecipadamente negociava com os alunos como
se comportar na sala de aula.
4) Como era o uniforme usado pelos professores e alunos daquela época?
R: Eram usados guarda pó branco tipo “jaleco”, porque dava um visual de um mundo
comunitário escolar de igualdade econômica.
5) Antigamente como era a relação existente entre os professores e pais de alunos?
R: Era uma relação humanitária com respeito primeiro a Deus, a família e o
professor era o símbolo do viver e aprender e dar a cada criança.
6) Naquela época era permitido o namoro na escola?
R: Quanto à parte social as brincadeiras, os cantos faziam nascer uma grande
amizade com o crescimento de cada um trocavam olhares, um namoro, um noivado
e um casamento.
7) O que foi que mudou da escola de antigamente para a de hoje?
R: Antigamente e a atual há uma diferença implacável entre o entendimento da
educação familiar, escolar e social, uma falta de religião seja ela qual for.
8) Seu marido se importava de trabalhar fora?
R: Faz parte, pois interfere na união dos dois corpos, quer na vida social e
econômica.
9) A respeito da reprovação como era nesse período?
R: A reprovação era tida como um castigo para o aluno, para a família e mais para o
professor e ele não tinha o direito de recuperação e não tinha o direito de justificar
nada.
10) Em que ano começou a trabalhar?
R: Comecei a trabalhar no ano de 1958.
11) Em que série começou a lecionar?
R: Iniciei a lecionar no 1ª série a 8ª série, que equivale ao ginásio zona rural.
12) Qual a visão de ensino da época?
R: Uma visão plena de ordem, educação do lar, que tinha sua continuidade na
escola com hábitos e atitudes.
13) Qual a lei que regia neste período a educação?
R: Era a Lei nº. 4.024/61
PROFESSORA: TEREZINHA DA SILVA CAVALAR
01) Qual o seu nome e sua formação?
R: Me chamo Terezinha da Silva Cavalar e possuo o nível superior como formação.
02) Quais os colégios que se formou?
R: Escola Normal (Secundária).
03) Qual seu nível de escolaridade?
R: Todos os quatro níveis.
04) Em que ano começou a lecionar?
R: Iniciei minha vida profissional como professora no ano de 1960.
05) Em que série começou a trabalhar?
R: Iniciei na 3ª série em um colégio no município de Santana do Itararé.
06) Qual era a visão de ensino da época?
R: Tinha exames, provas escrita e oral.
07) Qual a Lei que regia neste período? Como era feito às provas?
R: A Lei que regia na época era a de nº. 4.024/61 e já na primeira série o aluno tinha
que saber ler e interpretar.
08) Quais as dificuldades que a educação apresentava naquela época?
R: Imagina que antigamente era bem mais fácil do que hoje em dia. Os recursos
didáticos eram mais resistentes.
09) O que os professores precisavam para começarem a lecionar? E a partir de
quantos anos de idade poderiam lecionar?
R: Naquela época não era exigido que o professor tivesse muito estudo bastava ter
cursado o primeiro ciclo que valia. A idade mínima necessária era ter 18 anos de
idade.
10) Quando o professor daquela época era desrespeitado por algum aluno qual era
a atitude que adotava?
R: Quando o aluno fazia alguma coisa que não fosse admitida pelo professor bem
como com os demais colegas de sala era encaminhado a Direção da escola para
que a mesma solucionasse o problema.
11) Como era o uniforme usado pelos professores e alunos daquela época?
R: Os professores usavam guarda pó na cor branca e os alunos também usavam
guarda pó branco estilo avental com manga comprida.
12) Antigamente como era a relação existente entre os professores e pais de
alunos?
R: Naquele tempo quase não existia um contato direto entre professores e pais de
alunos como há hoje em dia.
13) Era normal naquela época namorar na escola? Caso vocês encontrassem
alguns alunos se agarrando às escondidas o que faziam? Havia algum tipo de
punição para este ato?
R: Os namoros às escondidas eram comuns só que eram através da troca de
bilhetes entre si.
14) O que foi que mudou da escola de antigamente para a de hoje?
R: Houve uma mudança na maneira de estudar, no comportamento dos alunos e o
ensino era bem mais cobrado do que o de hoje em dia.
15) Quanto a sua vida particular, seu marido se importava ou não de vê-la
trabalhando fora de casa?
R: Não; Meu marido sempre me apoiou nesta escolha que fiz para minha vida.
PROFESSORA: OLIVETE GIL TOMAZ
01) Qual é o seu nome e sua formação?
R: Eu me chamo Olivete Gil Tomaz e sou formada pela Faculdade de Filosofia de
Jacarezinho tendo cursado também até o 3º ano da faculdade de Direito.
02) Qual foi o ano que começou a lecionar e quando foi que se aposentou?
R: Comecei a lecionar no ano de 1960 e me aposentei no ano de 1992.
03) Qual foi a série que iniciou seu trabalho?
R: Iniciei dando aula de 1ª a 4ª série, depois lecionei no antigo 2º grau e no Ensino
Fundamental.
04) Qual era a visão de ensino naquela época?
R: Era razoável, bem melhor que hoje, pois os alunos respeitavam mais os
professores.
05) Qual a Lei que regia naquele período? E como eram realizadas as provas?
R: Eram realizadas provas escritas bimestrais com média 5.
06) Quais as dificuldades encontradas naquela época?
R: A falta de experiência para lecionar.
07) Seu pai se importava ou importou quando a senhora disse que queria estudar e
ser professora?
R: Não; ninguém da família se importava.
08) Seu marido tinha algum preconceito em vê-la trabalhando fora?
R: Não; Dava graças a Deus.
09) Qual era sua reação ao ser desrespeitada pelos alunos?
R: Nunca fui desrespeitada.
10) O que os professores precisavam para começarem a dar aula? E a partir de que
idade podia começar a lecionar?
R: Nada, dependia de cada um, só tinha que ter 18 anos de idade.
11) O que mudou na escola de antigamente com a de hoje?
R: O professor tinha mais autoridade e havia mais respeito por parte do aluno.
12) Qual era o uniforme usado pelos alunos e professores daquela época?
R: Os alunos usavam calça jeans e camiseta branca e os professores não
precisavam usar uniforme.
13) Como era a relação entre professores e pais de alunos nesta época?
R: Os pais não eram de ir à escola e depois tinha reuniões de pais e mestres que
não eram muitas.
14) Naquela época era permitido namoro na escola?
R: O namoro dentro do ambiente escolar era proibido.
15) Em relação à reprovação como eram nesse período?
R: Os pais ficavam sabendo com antecedência da reprovação de seus filhos.
PROFESSORA: ALICE RIBEIRO DE CARVALHO
01) Qual o seu nome e sua formação?
R: Meu nome é Alice Ribeiro de Carvalho e não possuo nenhuma formação
profissional, somente o primário.
02) Quais os colégios que se formou?
R: Estudei no Colégio Santana na cidade de Ponta Grossa.
03) Qual seu nível de escolaridade?
R: Somente o primário de 1ª a 4ª série.
04) Em que ano começou a lecionar? Em quando foi que se aposentou?
R: Iniciei no ano de 1960 e me aposentei no ano de 1985.
05) Em que série começou a trabalhar?
R: Iniciei na 1ª série.
06) Qual era a visão de ensino da época?
R: O ensino da época era na base da Cartilha Bitu e Caminho Suave.
07) Qual a Lei que regia neste período? Como eram feitas as provas?
R: A Lei que regia na época era a de nº. 4.024/61 e havia provas bimestrais escritas
e provas orais todas com média 07.
08) O que os professores precisavam para começarem a lecionar? E a partir de
quantos anos de idade poderiam lecionar?
R: Naquela época não era exigido que o professor tivesse muito estudo bastava ter
cursado o primário e passar por uma reciclagem. A idade mínima necessária era ter
18 anos de idade.
09) O aluno daquela época respeitava os professores?
R: Naquela época o aluno respeitava mais os professores do que os de hoje em dia.
10) Como era o uniforme usado pelos professores e alunos daquela época?
R: Os professores usavam guarda pó na cor branca e os alunos também usavam
guarda pó branco.
11) Antigamente como era a relação existente entre os professores e pais de
alunos?
R: Naquele tempo quase não existia um contato direto entre professores e pais de
alunos como há hoje em dia.
12) Os namoros na escola eram permitidos?
R: Permitido não eram, mas os alunos sempre davam um jeitinho para namorar às
escondidas através de bilhetes.
13) O que foi que mudou da escola de antigamente para a de hoje?
R: Os alunos eram mais espertos, hoje é proibido decorar.
14) Quanto a sua vida particular, seu marido se importava ou não de vê-la
trabalhando fora de casa?
R: Não; ele sempre me apoiou.
15) Há respeito da reprovação como era nesse tempo?
R: Não tinha muita reprovação.
PROFESSORA: OLGA PETLA DABUL
01) Qual o seu nome e sua escolaridade?
R: Me chamo Olga Petla Dabul, sou formada no Magistério.
02) Quais os colégios que se formou?
R: Fiz o Colegial no Colégio Joaquim Maria Machado de Assis.
03) Qual seu nível de escolaridade?
R: Aproveitamento de 1º ano de Educação Física.
04) Em que ano iniciou seu trabalhou como professora?
R: Inicie no ano de 1962.
05) Em que série começou a lecionar?
R: Comecei na 1ª série porque assim que terminei o ensino fundamental fui
convidada para dar aula e fui ficando por mais 35 anos lecionando.
06) A senhora quando decidiu ser professora teve algum tipo de motivação? De
quem?
R: Quando decidi ser professora meus pais me deram muita força.
07) Naquela época quais eram as dificuldades enfrentadas pelos professores?
R: Não tinha merenda, todos os alunos e professores tinham que usar uniforme, não
tinha distribuição de material escolar, não existia quadra esportiva além de que as
professoras também faziam o trabalho de zeladora, enfermeira e mãe dos alunos.
08) Quais as leis que regiam nesse período? E como eram as provas?
R: A Lei era de nº. 4.024/61 e naquela época existiam trabalhos manuais, descritiva
e trabalhos de marcenaria.
09) Como os professores agiam no caso de ser desrespeitado pelo aluno?
R: Agia com a maior cautela possível levando ao conhecimento da Direção e quando
o aluno gazeava a aula comunicava os pais.
10) Qual era a visão de ensino da época?
R: Era bem visto a educação era total, havia um respeito grande pelos professores.
11) Em relação a sua vida familiar seu marido se incomodava em vê-la trabalhando
fora de casa?
R: De forma alguma, sempre me apoiou na minha escolha.
12) Como eram os uniformes usados pelos alunos e professores naquela época?
R: Os alunos usavam guarda pó branco estilo avental de mangas compridas e os
professores também usavam guarda pó branco.
13) Naquela época havia namoro dentro do ambiente escolar?
R: Namoro propriamente dito não somente flertes, trocas de bilhetes entre alunos.
14) O que mudou da escola de antigamente para a de hoje?
R: Houve uma mudança em todos os sentido pois hoje em dia os professores são
mais valorizados, têm avanços na carreira, têm mais facilidade para cursar uma
faculdade e fazem cursos de especialização o que não existia antigamente.
PROFESSORA: ANA BUBNA FERREIRA LOPES
01) Qual o seu nome e sua formação?
R: Me chamo Ana Bubna Ferreira Lopes e me formei na Faculdade de Itararé no
curso de Pedagogia.
02) Quais os colégios que se formou?
R: Escola Normal (Secundária) e Técnico em Contabilidade em Joaquim Távora.
03) Qual seu nível de escolaridade?
R: Tenho nível superior.
04) Em que ano começou a lecionar?
R: Iniciei minha vida profissional como professora no ano de 1967.
05) Em que série começou a trabalhar?
R: Iniciei na 4ª série.
06) Seu pai se importava ou não que a senhora trabalhasse fora?
R: Penso que não porque meu pai trabalhava fora também.
07) Qual a Lei que regia neste período?
R: A Lei que regia na época era a de nº. 4.024/61 e posteriormente foi substituída
pela Lei nº. 5.692/71.
08) Quais as dificuldades que a educação apresentava naquela época?
R: O poder aquisitivo era baixo e faltava dinheiro para comprar o material escolar e
instrumentos.
09) O que os professores precisavam para começarem a lecionar? E a partir de
quantos anos de idade poderiam lecionar?
R: Precisava ter cursado a Escola Normal. A idade mínima necessária era ter 18
anos de idade.
10) Quando o professor daquela época era desrespeitado por algum aluno qual era
a atitude que adotava?
R: Somente uma única vez tive problema com um aluno, aí retirei ele da sala de
aula.
11) Como era o uniforme usado pelos professores e alunos daquela época?
R: Os professores usavam guarda pó na cor branca e os alunos também usavam
guarda pó branco.
12) Antigamente como era a relação existente entre os professores e pais de
alunos?
R: Naquele tempo quase não existia um contato direto entre professores e pais de
alunos como há hoje em dia.
13) O que foi que mudou da escola de antigamente para a de hoje?
R: O professor era aquele que ensinava e hoje o professor prepara o aluno para a
vida.
14) Quanto a sua vida particular, seu marido se importava ou não de vê-la
trabalhando fora de casa?
R: Não; Porque fui professora dele.
15) Há respeito da reprovação como era nesse período?
R: Não tinha reprovação.
Anexo II:
BOLETIM DE RECEPÇÃO - Acervo da Professora Maria de Lourdes
1
Fonte: A pesquisadora (2011)
Foto: ESCOLA NORMAL REGIONAL
Fonte: a pesquisadora (2011) – Acervo da Professora Terezinha Cavalar
Foto: GRUPO ESCOLAR DR. SEBASTIAO PARANÁ: Turma do 4º ano
Fonte: a pesquisadora (2011) - Acervo da Professora Terezinha Cavalar
Foto: Professora Alda Petla
Fonte: a pesquisadora (2011) - Acervo pessoal da Professora Alda Petla
Foto: Professora e filho– 1961
Fonte: a pesquisadora (2011) – Acervo pessoal da Professora Terezinha
Cavalar
Foto: Time de voleibol - 1954
Fonte: a pesquisadora (2011) – Acervo pessoal da Professora Terezinha
Cavalar
Foto: Professora - setembro de 1955
Fonte: a pesquisadora (2011) - Acervo pessoal da Professora Terezinha
Cavalar
Foto: Professoras e alunas na escadaria do Ginásio Estadual de Wenceslau
Braz
Fonte: a pesquisadora (2011) - Acervo pessoal da Professora Alda Petla
Foto: Professoras
Fonte: a pesquisadora (2011) – Acervo pessoal da Professora Alda Petla
Foto: Casa Escolar Centenário – Brazópolis
Acervo da Professora Maria de Lourdes Carvalho
Fonte: a pesquisadora (2011) - Acervo pessoal da Professora Maria de Lourdes
Referências
BEAUVOIR, Simone de. O Segundo Sexo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987.
BRUSCHINI, Cristina; AMADO, Tina. Algumas questões sobre o magistério. In Estudos sobre Mulher e Educação - Cadernos de Pesquisas; Fundação Carlos Chagas; S. Paulo, 1984.
DEL PRIORE, Mary (Org.). História das mulheres no Brasil. 5. ed. São Paulo: Contexto, 2001.
GIL, Joaquim. Wenceslau Braz: origens e formação. Governo do Estado do Paraná. Curitiba: Secretaria de Estado da Cultura, 1998.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Populacional 2010. Acesso em 12 mai. 2011.
IBGE. Cidades. Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso em 09 mai. 2011.
KOVALESKI, João Luiz; PILATTI, Luiz Alberto. Henry Ford: A visão inovadora de um homem do século XX. UEPG, Ponta Grossa, 2004.
MAURO, Frédéric. La vie quotidienne au Brésil au temps de Pedro Segundo (1831-1889). Paris: Hachette, 1980.
SAFFIOTI, H. Emprego doméstico e capitalismo. Petrópolis, Vozes, 1978.
_____ . A Mulher na Sociedade de Classes: Mito e Realidade. Petrópolis: Vozes, 1969.
ROESCH, Sylvia Maria Azevedo. Projetos de estágio e de pesquisa em administração: guias para estágios, trabalhos de conclusão, dissertações e estudo de casos. São Paulo: Atlas, 1999.