DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · 2013-06-14 · projeto “Eu e minha Rua: uma visão do...

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PDE – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

DEISE APARECIDA DAL BÓ

EU E MINHA RUA: UMA VISÃO DO COTIDIANO PELOS ALUNOS DA 5ª SÉRIE

B, DO ENSINO FUNDAMENTAL.

RESERVA/PR

2009

DEISE APARECIDA DAL BÓ

EU E MINHA RUA: UMA VISÃO DO COTIDIANO PELOS ALUNOS DA 5ª SÉRIE

DO ENSINO FUNDAMENTAL

Artigo requisitado pela SEED – Secretaria Estadual de Educação sobre a implementação do projeto, na Escola Estadual Gregório Szeremeta para obtenção da conclusão do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE.

Orientadora: Profª. Mª. Ligia Cassol Pinto

RESERVA/PR

2009

RESUMO

O objetivo deste artigo é apresentar os resultados obtidos com a implementação do projeto “Eu e minha Rua: uma visão do cotidiano pelos alunos da 5ª série do ensino fundamental da Escola Estadual Gregório Szeremeta, Reserva – PR”. Este projeto foi desenvolvido no período de setembro a novembro de 2010, durante a realização do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) 2009-2011. A proposta foi desafiar os alunos a perceberem-se como integrantes do espaço em que vivem: a partir da sua rua, bairro e cidade. A opção pela temática - a percepção do espaço de vivência pela representação gráfica, decorre do fato de acompanhar, de longa data, certa dificuldade dos alunos em se localizarem e de não se sentirem co-participe na construção do espaço local. Assim, considerando-se que é na 5ª série que são trabalhados os conteúdos relativos à noção de espacialidade, foram propostas situações de ensino para que pudessem fazer uma adequada leitura dos espaços vividos. E, com práticas de campo, oportunizou-se a compreensão da função simbólica das representações gráficas, incorporando a linguagem da cartografia pela observação do mapa da cidade. Essa proposta foi realizada em três grandes grupos de atividades: em sala de aula: pelo levantamento de dados e informações locais e depois pela representação de sua rua e bairro; em campo: com exercícios práticos de reconhecimento de tais informações. Os esboços gráficos foram construídos respeitando as normas cartográficas. Como atividade de encerramento cada aluno representou a sua rua da forma como gostaria que ela fosse. Permitindo maior compreensão das noções básicas de orientação, localização e conhecimento do espaço de seu dia-a-dia, fato confirmado pelos textos produzidos a partir das atividades realizadas em sala. Foi importante trabalhar esses conteúdos utilizando a prática de observação do seu espaço e seu dia-a-dia, pois permitiu que cada aluno se percebesse como co-participe de sua história de vida.

PALAVRAS-CHAVE: geografia, representação gráfica; escala cartográfica;

percepção; espaço de vivência.

INTRODUÇÃO

O lugar deve ser a referência do homem, pois é nele (lugar) que se identifica

como cidadão ao reconhecer o seu cotidiano. Esse reconhecimento permitirá que

todo o homem sinta-se cidadão e valorize-se em seu lugar-espaço. Ao identificar-se

no seu lugar-espaço, reconhece o contexto em que vive e constrói a sua história,

formando a sua personalidade. História vivida de cada um dá forma e identidade a

esse lugar que se faz diferente dos demais.

Nessa proposta, o lugar estudado corresponde ao Bairro Lourdes,

localizado na periferia da cidade de Reserva, Paraná, onde se localiza a Escola

Gregório Szeremeta Este é (deve ser) o lugar referência para os alunos da 5ª série

do ensino fundamental. Para eles, o “bairro é como um fragmento do espaço que

manifesta a ação do movimento global” (Silva & Morais, 2009).

É nessa perspectiva que se elaborou essa proposta de estudar o lugar-

espaço dos alunos da 5ª série, tendo-se como meta que esse trabalho venha

despertar-lhes o interesse em conhecer melhor o seu espaço de vivência. Iniciamos

o trabalho pelo lugar espaço que ocupam na sala de aula, criando situações que os

façam pensar sobre o porquê da escolhe daquele lugar. O que significa para cada

um “estar ali e não lá”. Aproveitando este momento, foram inseridos outros conceitos

geográficos como: noções de orientação e de lateralidade.

Nesse sentido e concepção, trabalhamos com atividades voltadas à

realidade concreta dos alunos, fazendo-os sentirem-se integrante do espaço que

estudam. Criando situações de aprendizagem que despertou nesses alunos o

sentimento de pertencimento e mudanças de atitude frente às questões sociais e

ambientais de seu tempo.

Esses momentos de vivência e aprendizado foram decisivos para levá-los a

entender, que a Geografia é uma ciência social e viva, que o seu objeto de estudo

está presente na sua vida e também na vida da comunidade da qual faz parte, como

algo concreto e não apenas como conteúdos estranhos e distantes da sua realidade.

Portanto, o desafio foi fazer os alunos da 5ª série B perceberam-se como

parte integrante do espaço urbano em que vivem (o bairro – a sua rua), partindo das

experiências vivenciadas no seu cotidiano. A necessidade de resgatar, na maior

parte dos alunos, uma possível relação de afeto que existe entre eles e o seu

espaço de vivência foi a base de sustentação desse trabalho.

A proposta foi procurar, com a execução do projeto, chamar a atenção dos

alunos para a importância dessas relações de afeto e identidade com a sua rua,

palco onde boa parte dos acontecimentos relacionados com as suas vidas acontece

no dia-a-dia.

Os procedimentos metodológicos deste trabalho se fundamentaram na percepção

do espaço de vivência dos alunos, aproveitando-se da temática e conteúdos

específicos da 5ª série do ensino fundamental.

Os alunos foram motivados e orientados por atividades em sala de aula e

em trabalhos de campo, onde observaram coisas e fatos do seu cotidiano. De volta

à sala de aula representaram através de desenho, os elementos do espaço que

mais chamaram a sua atenção.

Para finalizar este trabalho fizemos uma visita a várias ruas do Bairro

Lourdes e pudemos observar a falta de infra-estrutura existente no bairro, como o

calçamento de ruas, rede de esgoto e a poluição visual provocada por carros velhos

estacionados nas ruas que deveriam estar num “Ferro Velho”. Na sala de aula os

alunos fizeram um texto destacando os pontos positivos e negativos que chamaram

a sua atenção nessa atividade. Depois de ouvirem a música “se esta rua fosse

minha”, cada um desenhou a sua rua como gostariam que ela fosse.

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. Acerca do Ensino da Geografia.

O ensino de Geografia em pleno processo de globalização não pode

descuidar do estudo do lugar de vivência do educando e necessita realizar

raciocínios geográficos que permitem entender a dinâmica da natureza e a

expressão social do espaço em escala global e local. (BRAUN, 2007. p. 256).

Nesta perspectiva, fica evidente a importância de estudar o espaço

geográfico, mas partindo-se do espaço cotidiano do aluno, pois é nesse contexto

que cada indivíduo vive e constrói a sua história.

O conjunto do todo local (a dinâmica da paisagem em si) é que contribui para

formar a identidade de cada lugar, tornando-o assim, diferente dos outros lugares da

Terra. Nesse sentido, de acordo com Ferreira (2000, p. 68): “O lugar seria um centro

de significações insubstituível para a fundação de nossa identidade como

indivíduos”.

Nesse sentido podemos interpretar que o lugar de vivencia das pessoas

pode ser considerado como “laboratório” que lhes permite uma compreensão do

mundo e também de todos os fatos e acontecimentos que ocorrem na vida. (Callai,

2003). Por isso, importa que se valorizem os lugares onde os alunos vivem, pois

eles apresentam significados para suas vidas, tornando mais fácil o estabelecimento

das relações que são úteis para a compreensão da dinâmica social do espaço.

No caso da cidade, ela é o espaço adequado para que os alunos percebam

que não se trata apenas de uma forma física, constituída de ruas, casas e

monumentos, mas da materialização de modos de vida. Cada cidade e cada ponto

ou lugar da mesma cidade contém suas particularidades, o que permite ao aluno a

compreender o modo de vida da sociedade inserida nesse espaço e, em particular,

de seu cotidiano. Perceber, de forma gradual, que o espaço é construído ao longo

do tempo de vida das pessoas que ali vivem levando-se em consideração como

vivem e qual o tipo de relacionamento com o seu meio. Assim, conforme diz Callai

(2004), „entende-se que cada lugar de vivência termina por registrar, pela maneira

como foi construído, um pouco da história de vida daqueles que ali vivem‟.

Observar essas peculiaridades, a partir do seu cotidiano, contribui para que

os alunos desenvolvam habilidades de deslocamentos nos espaços mais imediatos

como a sua rua ou nos mais complexos como a cidade. Porque, a Geografia estuda

o espaço na sua manifestação global e local.

Que segundo os PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCN‟s):

Pode-se aprofundar a compreensão desses aspectos a partir da forma como percebem a paisagem local em que vivem e procurar estabelecer relações entre o modo como cada um vê seu lugar e como cada lugar compõe a paisagem. Outro ponto a ser discutido são as normas dos lugares: como é que se deve agir na rua, na escola, na casa; como essas regras são expressas de forma implícita ou explícita nas relações sociais e na própria paisagem local; como as crianças percebem e lidam com as regras dos diferentes lugares. É importante discutir tentando encontrar as razões pelas quais elas são estabelecidas dessa forma e não de outra, sua utilidade, legitimidade e como alteram e determinam à configuração dos lugares. (PCN, 1997, p.134).

A partir dessa reflexão sobre os diferentes aspectos presentes no espaço de

vivência, ou seja, onde as coisas que envolvem a sua vida acontecem, torna-se mais

fácil perceber que esse lugar é especial, é um espaço, onde as experiências

cotidianas se renovam. Um lugar ao qual cada um deve sentir-se pertencente.

Entende-se assim, ser espaço geográfico aquele que é historicamente

produzido pelo homem, enquanto se organiza em sociedade (DOLLFUS, 1973).

A percepção espacial de cada indivíduo ou sociedade é marcada por laços

afetivos que estão relacionados com os elementos socioculturais. Dentro dessa

perspectiva, o homem aparece como sujeito construtor do espaço geográfico, pois

imprime seus valores no processo de construção de seu espaço. “A compreensão

disto necessariamente resgata os sentimentos de identidade e de pertencimento”.

(CALLAI, 2004: p.1).

Para melhor compreender essa dinâmica da produção do espaço, as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná, afirmam que:

Para a Geografia Humanística, o lugar é conceito chave, entendido como o espaço vivido, dotado de valor pelo sujeito que nele vive. Enquanto o espaço se caracteriza pelo indiferenciado, abstrato e amplo, o lugar é onde a vida se realiza, é familiar, carregado de afetividade, o que o torna subjetivo em extensão e conteúdo, bem como em forma e significado. (DCE, 2008, p.60).

Ainda dentro dessa proposta, o aluno deverá compreender a realidade em

que vive; perceber que esse espaço pode e deve ser construído por ele, com o

objetivo de atender as necessidades de subsistência dos grupos sociais ali

residentes. É preciso que o aluno compreenda a sociedade em que vive,

reconheça a sua história e saiba que deve se sentir parte integrante dessa

sociedade. Ainda, que, aquilo que está estudando é a sua realidade concreta, vivida

todos os dias no seu cotidiano, e não coisas distantes e abstratas.

Assim, é a partir dessas informações que se pretende conseguir estudar

algumas das principais questões espaciais (espaços mais distantes), aproveitando

esses conteúdos de Geografia para a sua formação, enquanto cidadão consciente

de sua responsabilidade frente às questões sociais e ambientais de seu tempo.

E, para explicar essa dinâmica da produção do espaço, a Geografia conta

com a cartografia para auxiliar o aluno, que além de observar a realidade que o

cerca, também pode representá-la através de desenho, utilizando uma escala

intuitiva, criando símbolos para identificar os objetos presentes no espaço.

Para tanto, o trabalho com mapas deve ser iniciado com as representações

dos alunos, da sala de aula, da escola, da casa, do caminho de casa até a escola,

por meio de símbolos (cores, figuras, formas, entre outros), que os aproximam da

linguagem cartográfica.

Lembrando-se que, os mapas e seus conteúdos devem ser lidos pelos alunos

como se fossem textos, passíveis de interpretação, problematização e análise

crítica. E, para formular conceitos sobre o espaço devem-se trabalhar as noções

básicas da cartografia, localização e orientação, facilitando a compreensão do

espaço pelo aluno. A partir dessa abordagem, construir conceitos significa ir além de

uma simples memorização de uma realidade concreta, mas a partir de uma análise

sobre ela, construir o seu próprio conhecimento.

Como afirma as Diretrizes Curriculares de Educação (2008, p, 83 ):”Ao

apropriar-se da linguagem cartográfica, o aluno estará apto a reconhecer

representações de realidades mais complexas, que exigem maior nível de

abstração.”

Considerando-se essa realidade, pretende-se iniciar o estudo do espaço

local com uma leitura geográfica das ruas nas quais moram os alunos, conduzindo-

os a uma reflexão no sentido de entenderem que suas ruas, juntamente com outras

formam o bairro e, que vários bairros constituem a malha da estrutura urbana do

município. Por fim, que o município é a junção da zona urbana com a zona rural,

desta forma.

Estudar o município tem pelo menos duas vantagens: o aluno tem condições de reconhecer-se como cidadão em uma realidade de que é a da sua vida concreta, apropriando-se das informações e compreendendo como se dão as relações sociais e a construção do espaço. A outra vantagem é pedagógica, pois, ao estudar algo que é vivenciado pelo aluno, são muito maiores as chances de sucesso, de se tornar um aprendizado mais conseqüente. (CALLAI, 1996, p.81,82).

A Geografia, como uma ciência social, não pode ser estudada desvinculada

da realidade do aluno e do lugar em que vive. Sendo assim, não pode ser alheia aos

acontecimentos ligados a essa sociedade.

Nesse contexto, a Geografia que se deve ensinar na escola deve permitir ao

aluno que se ele sinta parte integrante do espaço que estuda e que tudo o que

acontece ali é resultado do trabalho dos homens, determinando o tipo de ocupação

desse espaço, que tem como fator determinante a cultura e a história desse grupo

social. Por isso, é importante que se ensine a Geografia sempre colocando o aluno

dentro daquilo que se estuda.

Este é o desafio, tornar a Geografia uma disciplina atrativa para o educando,

mostrando uma proposta de trabalho que tenha a ver com a sua vida e não um

amontoado de informações que na maioria das vezes não dão nenhum suporte

prático para que possa compreender a dinâmica do seu espaço de vivência. É

importante a valorização dos lugares onde os alunos vivem, pois esses espaços

apresentam significados para suas vidas, tornando mais fácil estabelecer relações

que possam ser úteis para compreenderem a dinâmica social do espaço. Que,

segundo Callai (2003), “os lugares do cotidiano de nossas vidas são como

laboratórios para compreender o mundo e as diferentes formas de vida do homem”.

Dessa forma percebe-se que o espaço é construído ao longo do tempo de vida das

pessoas, levando em consideração como vivem e o seu relacionamento com a

natureza. O lugar, através da forma como está organizado, revela a história da

população que ali vivem.

Dentro do que apresenta os Parâmetros Curriculares Nacionais (1997)

Pode-se aprofundar a compreensão desses aspectos a partir da forma como percebem a paisagem local em que vivem e procurar estabelecer relações entre o modo como cada um percebe seu lugar e como cada lugar compõe a paisagem. Outro ponto a ser discutido são as normas dos lugares: como é que se deve agir na rua, na escola, na casa; como essas regras são expressas de forma implícita ou explícita nas relações sociais e na própria paisagem local; como as crianças percebem e lidam com as regras dos diferentes lugares. É importante discutir tentando encontrar as razões pelas quais elas são estabelecidas dessa forma e não de outra, sua utilidade, legitimidade e como alteram e determinam a configuração dos lugares. (PCN, 1997, p.134).

A partir dessa reflexão sobre os diferentes aspectos presentes no seu

espaço de vivência, onde as coisas que envolvem a sua vida acontecem, torna-se

mais fácil perceber que esse lugar é especial. Isto porque é um espaço onde as

experiências cotidianas se renovam. Dentro deste contexto, o PCN (1997) afirma

que:

O espaço geográfico é historicamente produzido pelo homem enquanto organiza econômica e socialmente sua sociedade. A percepção espacial de cada indivíduo ou sociedade é também marcada por laços afetivos e referências socioculturais. Nessa perspectiva, a historicidade enfoca o homem como sujeito construtor do espaço geográfico, um homem social e cultural, situado para além e através da perspectiva econômica e política,

que imprime seus valores no processo de construção de seu espaço. (PCN, 1997, p.109,110).

O que é reforçado com a expressão usada por Callai que diz: “A

compreensão disto necessariamente resgata os sentimentos de identidade e de

pertencimento”. (2004).

Ainda no tocante à contribuição da ciência geográfica no sentido de contribuir

com o sentimento de pertencimento de cada um e, nesse caso em especial, dos

alunos do ensino fundamental, cabe destacar que: a Geografia por ser uma ciência

social oferece um vasto campo de possibilidades para trabalhar com os alunos fora

da sala de aula com atividades de campo, explorando lugares significativos para

suas vidas. Nesse sentido,

Sair da sala de aula, aprender fora dos muros da escola permite o estudo da questão pedagógica e a valorização do processo na aprendizagem de Geografia para que, na complexidade do mundo de hoje, o educando possa realizar a análise do espaço geográfico, formar raciocínios geográficos e relacionar as vivências do seu cotidiano com os conceitos científicos adquiridos sistematicamente nas interações escolares e, assim, construir o seu próprio conhecimento. (BRAUN, 2007: 253).

O trabalho do professor, então, deve se fundamentar na percepção do aluno

em relação ao seu espaço de vivência e sua capacidade de representá-lo no papel.

A partir desse momento, estarão trabalhando de forma intuitiva as noções de escala

gráfica, pois os elementos do espaço real terão que ser reduzidos ao tamanho do

desejado, p.exemplo, uma folha de papel A4 ou uma folha de cartolina.

É no encontro/confronto da Geografia cotidiana, da dimensão do espaço vivido pelos alunos, com a dimensão da Geografia científica, do espaço concebido por essa ciência, que pressupõe a formação de certos conceitos científicos, que se tem a possibilidade de re-elaboração e maior compreensão do vivido, pela internalização consciente do concebido. Esse entendimento implica ter como dimensão do conhecimento geográfico o espaço vivido, ou a geografia vivenciada cotidianamente na prática social dos alunos. (CAVALCANTI, 2005:200-201)

Complementando essa afirmativa, Almeida e Passini (2008) explicam que “a

representação do espaço através de mapas permite ao aluno atingir uma nova

organização estrutural de sua atividade prática e da concepção do espaço”. (p.13).

E, ainda conforme as Diretrizes Curriculares de Geografia da Educação Básica do

Paraná.

O domínio da leitura de mapas é um processo de diversas etapas porque primeiro é acolhida a compreensão que o aluno tem da realidade em exercícios de observar e representar o espaço vivido, com o uso da escala

intuitiva e criação de símbolos que identifiquem os objetos. (SEED, 2008, p.83).

A Geografia não se resume em conteúdos vazios, mas trabalha idéias,

conceitos e categorias socioespaciais capazes de transformar o pensamento do

aluno. Esses conceitos são carregados de significados que, quando incorporados às

experiências e vivências do aluno, permitirão a ultrapassagem da generalização e da

simples memorização dos conhecimentos. Ou seja, tais conhecimentos deverão

ganhar sentido na formação do aluno-cidadão, mais integrado ao seu tempo e ao

seu lugar-espaço (TEIXEIRA E NOGUEIRA, 2002; CALLAI, 2004; CAVALCANTI,

2005);

De acordo com Teixeira e Nogueira (2002), o professor poderá inserir o

aluno na discussão espacial, a partir do momento que valoriza o conhecimento local

do espaço para o entendimento deste como um todo. Valorizar as experiências de

vida do aluno com o espaço, pode ser uma forma alternativa de fazer da Geografia

uma disciplina menos “inútil” nos currículos escolares atribuindo uma importância

maior para o conhecimento do mundo. Os mapas mentais são expressões gráficas

que permitem ao professor atento, perceber como os alunos estão entendendo o

seu mundo.

Para Bailly (1989) citado por Teixeira e Nogueira (2002, p.90),

Um dos objetivos das cartas mentais consiste em: conhecer o nível de especialização dos alunos. Para melhor encaminhar os debates em sala de aula o professor precisa entender como os alunos vêem o lugar que habitam, como eles o percebem, aproveitando o máximo o conhecimento de seu lugar. Depois disso prossegue-se uma discussão inserindo o “espaço mundo”.

Diante disso, os mesmos autores afirmam que os “tais mapas são

construções mentais de um mundo real, concreto, vivido por pessoas concretas que

os produzem” (p.91-92). Assim, quando no trabalho em sala de aula, o professor de

geografia, se preocupado com a formação de seus alunos, buscará introduzir o

conceito de mapa, mostrando que essas construções mentais partem dos mundos

vividos e conhecidos por cada um e que contêm informações relativas e subjetivas.

Quando trabalha com mapas mentais também se está trabalhando com a

capacidade perceptiva do aluno, pois ele estará exercitando sua capacidade de

observação ao verificar “que a diferença entre o seu mapa e um mapa oficial está

apenas na precisão das informações neles contidas” (Teixeira e Nogueira, 2002).

Através dos mapas mentais dos percursos desenhados pelos alunos podemos começar a discutir com eles como este percurso é representado tecnicamente, o que está no desenho que ele construiu também estará nos mapas tecnicamente elaborados. A partir daí podemos trabalhar com os símbolos que apareceram nos mapas oficiais, fazendo com que o aluno tente substituir o que está no seu desenho por esses símbolos. Outra noção cartográfica que poderá ser introduzida é a de proporcionalidade, visto que os mapas mentais não obedecem esta noção. (p.92).

É importante destacar que nesse tipo de mapa as informações neles contidas,

são na maioria das vezes do interesse de quem os fez, captando da realidade o que

mais lhe chama a atenção ou o que é mais comum no seu dia a dia. Já nos mapas

oficiais não existe esse tipo de problema na sua elaboração.

Portanto, ao iniciar as primeiras noções de cartografia, com os alunos,

pode-se utilizar dos mapas mentais e demonstrar-lhes que estes não estão assim

distantes de nós, pois eles são partes integrantes de nosso cotidiano.

METODOLOGIA

1. Acerca da Área de Estudo.

A escola situa-se no Bairro Lourdes, que ocupa a porção sul da cidade de

Reserva. (FIGURA 1) Bairro e Escola apresentam características socioeconômicas e

espaciais semelhantes. No caso do Bairro, pode-se dizer que ele tem um perfil

bastante diversificado, seja quanto ao poder aquisitivo de sua população ou quanto

à infra-estrutura instalada. Além de estar situado na periferia da Reserva, também

vem sendo considerado como “periférico” em relação às condições

socioeconômicas. Isto é mais perceptível à medida que se adentra no bairro, onde é

se observa uma outra organização espacial e uma população desprovida de

recursos. Um bairro segmentado em dois setores socioeconômico.

Figura 1 –,Localização do Município de Reserva. Fonte: Mapa do Estado do Paraná

Org. J.C.Flugel

Apresenta um setor bem organizado, aquele situado junto às ruas (quadras)

mais próximas da área central, pois é dotado de adequada infra-estrutura básica e

seus moradores, uma minoria, conta com um poder aquisitivo considerado,

localmente bom (> que três salários mínimos).

De outro lado, a maior porção da área do Bairro carece dessa infra-estrutura

básica, inclusive de itens de saneamento básico (esgotamento sanitário e coleta,

transporte regular de resíduos sólidos). A população aí residente, de acordo com os

dados e informações obtidas Centro de Referência Assistência Social do Bairro

Lourdes (no CRAS) é de aproximadamente 6.000 habitantes, mas apenas 20% dela

têm acesso e desfruta da infra-estrutura que garante “qualidade de vida”.

Por ser um bairro extenso e populoso, e contar apenas com uma escola

pública, ela recebe poucos alunos oriundos de outros pontos ou bairros da cidade,

ou mesmo do interior do município. Isto explica a presença de uma parcela muito

pequena de alunos da 5ª série que residem em outros lugares que não o bairro

Lourdes. De acordo com informações obtidas a partir das fichas cadastrais da escola,

dos 833 alunos devidamente matriculados, apenas 24% são oriundos de outros

bairros ou do interior do município. Ainda, conforme levantamento nas referidas

fichas cadastrais, por amostragem, os pais dos alunos têm uma média salarial de um

salário mínimo.

Em decorrência dessa realidade, a maioria dos alunos (60% das famílias

desses alunos da Escola) recebe o Bolsa-Família. Esse fato tem sido usado como

motivo para explicar a existência de certo preconceito social, por parte da minoria

economicamente mais privilegiada. O preconceito também é percebido quando da

referencia a que as condições socioeconômicas locais possam interferir na perda de

qualidade do ensino oferecido pela Escola Estadual Gregório Szeremeta Ensino

Fundamental. Visão essa que se mostra totalmente distorcida da realidade, pois leva

em consideração o fator de localização espacial da Escola e, que segundo Ferreira,

(2000),

“Os lugares devem ser diferenciados não somente por seu ambiente físico,

mas também pelas diferentes respostas humanas às oportunidades e limitações apresentadas pelos ambientes” (p.72).

A observação dessas “situações preconceituosas” reforçou ao professor a

necessidade de investir numa prática pedagógica que levassem seus educandos a

perceberem/desenvolverem o quanto mais cedo possível, um sentimento de

pertencimento ao local vivido e vivenciado. Isto tem respaldo legal nas Diretrizes

Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do Estado do Paraná que

prevêem a formação de um aluno consciente das relações socioespaciais de seu

tempo, tendo como objeto de estudo o espaço geográfico. Esse espaço que é

produzido e apropriado pela sociedade, e “transforma-se em lugar à medida que o

conhecemos melhor e o dotamos de valor adquirindo definição e significado”.

(TUAN, 1983:6 - p.67).

Assim, partindo-se desses pressupostos, pretendeu-se despertar no aluno

dessa escola, localizada neste Bairro, desta Cidade, o interesse de conhecer melhor

o seu espaço de vivência.

2. Acerca dos procedimentos metodológicos

Os procedimentos metodológicos utilizados foram respectivamente: análise

de documentos cartográficos1; saídas a campo, elaboração de mapas e atividades

em sala de aula. Realizamos este trabalho entre os meses de setembro a novembro

de 2010, com a turma da 5ª série B do Ensino Fundamental da Escola Estadual

Gregório Szeremeta, na cidade de Reserva, nas aulas de Geografia, no turno da

manhã e à tarde no contra turno.

A implementação do projeto foi dividida em sete encontros, compreendidos

entre atividades em sala de aula e em campo. Em cada um desses encontros foram

propostas atividades que levassem os alunos a estabelecerem relação entre o

espaço geográfico e o espaço vivido e percebido por eles.

3. Sobre os Encontros de Trabalho.

Durante todo o processo de implementação, em cada encontro de trabalho,

os alunos foram motivados e orientados por atividades tanto em sala de aula, como

os trabalhos de campo a observarem coisas e fatos do seu cotidiano, que

normalmente não são percebidas durante as suas andanças pelo bairro. Chamando

a atenção para a importância de se compreender o que está ao seu redor. E que a

1 o mapa da área urbana, destacando os vários bairros da cidade

partir dessa experiência consigam perceber a aproximação do conteúdo que

aprendem em sala de aula com a realidade de suas vidas.

I - ENCONTRO – Confeccionando a caderneta de campo

O projeto de implementação na Escola Estadual Gregório Szeremeta teve

início com uma reflexão sobre o uso consciente dos recursos naturais, de modo

especial o papel (FIGURA 2). Em seguida, o professor motivou os alunos para

atingir o principal objetivo da proposta: a confecção de uma caderneta de campo a

partir da reutilização de folhas dos cadernos do ano anterior, a capa cada um fez a

sua, utilizando material reciclado .

Com a caderneta pronta, cada aluno escreveu um texto explicando a sua

importância para as saídas de campo, onde poderão fazer as anotações dos

elementos que acharem interessantes do trajeto.

Figura 2 – Os alunos da 5ª série construindo sua caderneta de campo,

Fonte: Deise Aparecida Dal Bó, setembro de 2010.

II - ENCONTRO – A posição dos alunos na sala de aula

O tema abordado para subsidiar esta atividade foram as noções de escala e

percepção espacial. Nesse momento os alunos foram convidados a pensar sobre a

questão da posição que ocupam em sala de aula (FIGURA 3). Para tanto, o

professor retomou os conceitos de orientação com os alunos, onde são chamados a

perceberem a posição da porta, da janela e de outros objetos da sala de aula em

relação aos pontos cardeais.

Foram simulados também vários deslocamentos dos alunos dentro da sala

de aula, utilizando as direções cardeais para que pudessem entender a posição

desses movimentos, ressaltando que toda orientação parte de dois eixos: Norte-Sul

e Leste-Oeste.

Figura 3 – Os alunos da 5ª série respondendo questões relacionadas à sua posição na sala de aula

Fonte: Deise Aparecida Dal Bó, Setembro de 2010.

Para encerrar esta atividade os alunos responderam algumas questões

pertinentes ao assunto abordado.

III - ENCONTRO: Representação da sala de aula

Nessa atividade foi observado o grau de percepção dos alunos em relação

ao espaço da sala de aula, já que o primeiro passo para a realização dessa

atividade era medir a sala e depois reduzir essas medidas para que pudessem

representá-la no papel. Só que na mesma proporção que reduziram a sala de aula

tiveram que reduzir também todos os objetos existentes na sala, como por exemplo:

as carteiras, cadeiras, mesa do professor, quadro-de-giz, etc.

Feito isso, numa cartolina, começaram a desenhar e no momento de

representar os objetos da sala, percebeu-se certa dificuldade dos alunos em reduzir

esses objetos na mesma proporção que a sala de aula (FIGURA 4), exigindo maior

concentração. Superada essa dificuldade, cada um localizou a sua carteira e dos

colegas que sentam na frente, no lado direito, no lado esquerdo e atrás de sua

carteira, relembrando as noções de lateralidade.

Figura 4 – Os alunos da 5ª série fazendo a planta da sala de aula no contra turno (tarde)

Fonte: Deise Aparecida Dal Bó, outubro 2010

IV – ENCONTRO: Minha Escola Gregório Szeremeta

Num primeiro momento os alunos foram orientados a observarem, com

atenção, todos os elementos e dependências da Escola. Em seguida, fizeram a

atividade extraclasse de exploração do espaço escolar, (FIGURA 5) visitando todas

as suas dependências. De volta à sala de aula, e utilizando-se da planta, os alunos

foram orientados a criarem códigos para representar e identificar as diversas

dependências da escola e a partir dessas informações eles construíram a legenda.

Na seqüência, eles identificaram, na planta da escola, o espaço que

percorrem todos os dias no cotidiano escolar. Para a resolução desta atividade

foram feitas para cada aluno uma cópia da planta da escola.

Portanto, cada um pode sinalizar todos os seus deslocamentos durante todo

tempo que permanecem na escola. Finalizaram os trabalhos colocando-os num

mural na sala de aula. O entusiasmo com que os alunos desenvolveram essa

atividade serviu para comprovar, o que não é surpresa para nenhum professor de

Geografia o quanto os alunos gostam de trabalhar com mapas.

Figura 5 – A lunos andando no pátio da Escola Fonte: Deise Aparecida Dal Bó, outubro 2010

V – ENCONTRO: Rua da Escola, Benjamim Branco.

Antes de sair ao campo, os alunos foram orientados sobre como se

comportar durante a atividade extraclasse, e a importância de se observar todos os

elementos existentes no trajeto. Também foram retomados os assuntos sobre

orientação, localização e lateralidade, visto que a saída de campo teve início na

frente da escola, seguindo a direção leste até o final da rua. Nesse momento os

elementos observados estavam localizados na margem direita da rua.

Um fato que chamou a atenção dos alunos nesse trajeto foi o de uma casa

que tinha sido demolida e que apenas restava o piso e um vaso sanitário no local.

Aproveitando a observação dos alunos, o professor conduziu uma reflexão sobre as

constantes transformações que ocorrem no espaço e que podem ser provocadas

pelas forças da natureza ou pela ação do homem, como é o caso do fato em

questão.

Tendo chegado ao final da rua, momento de retornar no sentido da escola e

na direção oeste, mesmo procedimento, os elementos que observaram eram os da

margem esquerda da rua, passando em frente da escola, indo até o final, onde está

localizada a SANEPAR.

O retorno à Escola novamente sentido leste (FIGURA 6). De volta à sala de

aula, os alunos tiveram um tempo para comentar sobre as observações feitas sobre

a rua. E todos tinham uma para falar, por exemplo: o aluno A tem um parente que

mora na rua, o aluno B observou que num ponto X da rua funcionava um bar, hoje

está fechado, um outro mencionou a existência de um bosque num lote sem

construções e todos tiveram oportunidade de expor suas observações.

Figura 6 – Observação pelos alunos dos elementos existentes na rua da Escola-sentido leste

Fonte: Deise Aparecida Dal Bó, novembro 2010.

Em seguida, os alunos foram divididos em grupos e cada grupo

representou, através de desenho, as características da rua da Escola: identificaram

alguns pontos de referência, como a quadra onde está localizada a Escola, o

Ginásio de Esportes, Posto de Saúde, Pronto Socorro, SANEPAR, etc.

VI - ENCONTRO-Elaboração do mapa do caminho Casa-Escola

Para realizar esta atividade os alunos foram alertados sobre a importância

da observação dos elementos existentes no caminho para a elaboração do desenho

do trajeto percorrido por eles diariamente. Também foi relevante nesse trabalho a

observação da posição do Sol, pois deu subsídio para que entendessem a partir dos

pontos cardeais a direção da Escola em relação à sua rua e o bairro.

Os alunos colocaram também no desenho, o nome da sua rua e de alguns

pontos de referências mais importantes do trajeto. Feito isso, eles identificaram no

mapa da cidade o local exato de sua casa no bairro.

.Ao concluírem esta atividade constatou-se através dos aspectos dos

desenhos que cada um fez uma forma diferente de perceber o espaço. A partir dos

desenhos que fizeram e os elementos que cada um colocou em evidência. Uns

foram mais cautelosos na maneira de representar, procurando seguir um modelo

mais padronizado. Outros foram mais ousados e livres.

VII- ENCONTRO: O bairro onde moro

Figura 7 – Visita ao Bairro Lourdes Fonte: Deise Aparecida Dal Bó, novembro 2010.

Em sala de aula com os alunos foram estabelecidas as estratégias e um

roteiro para que os objetivos desse passeio pelo Bairro Lourdes, realmente fossem

atingidos. Esse passeio aconteceu no contra turno, período da tarde.

Nessa atividade extra classe que teve início em frente à escola, que também

está localizada no Bairro Lourdes, foram observados vários aspectos de infra-

estrutura, a começar pela rua da escola, (FIGURA 7) que é uma das principais do

bairro, é uma rua asfaltada e bem iluminada à noite, como é o caso de outras ruas

importantes do bairro, mas que infelizmente essa infra-estrutura não atinge todas as

ruas do bairro.

Também visitaram a região do bairro onde se localizam a Escola Municipal

Frei Thomaz, a igreja Nossa Senhora de Lourdes, a região, um supermercado e

algumas lojas.

Não muito longe desse local, puderam observar ruas sem nenhuma infra-

estrutura, como calçamento, iluminação pública e rede de esgoto, pois o esgoto é

lançado numa vala a céu aberto, apresentando mau cheiro, poluição do meio

ambiente e proliferação de insetos. Apesar desses problemas existem entre s alunos

e esse espaço uma relação muito forte de afetividade, pois suas histórias se

misturam com a desse lugar. Há também certa preocupação por parte dos alunos

em mostrar que apesar desses problemas existe muita coisa boa, como por exemplo

a presença d áreas verdes no bairro. Outro aspecto relevante dessa atividade foi

poder comprovar a questão do pertencimento dos alunos com o espaço como parte

de suas vidas, a ponto de dizerem que não trocariam o seu bairro por nenhum outro

da cidade.

De volta à sala de aula, e com as informações coletadas no passeio, era

momento de promover uma discussão sobre as observações feitas sobre o bairro.

Os alunos então comentaram sobre suas impressões das diversas coisas e fatos

observados no âmbito de seu bairro.

Depois o professor sugeriu que fizessem uma redação destacando o que

mais gostam no bairro e o que mudariam. Teve uma aluna que disse que gosta do

bairro por causa do silêncio, da presença abundante de árvores. Por outro lado tem

pessoas mal educadas que ouvem música no último volume, atrapalhando as outras

pessoas e que a rede de esgoto não fosse privilégio de poucos e que se estendesse

para todo o bairro, evitando a poluição e mau cheiro. É importante destacar que

todos os alunos mencionaram em seus textos os lugares que acham importantes em

seu bairro, como por exemplo, a igreja Nossa Senhora de Lourdes, a escola Frei

Thomaz, as lojas, bancas que vendem doces, enfim, os lugares que fazem parte de

suas vidas, de suas histórias, que é o espaço de vivência de cada um.

Como atividade de encerramento do trabalho, os alunos assistiram a um

clipe de Leandro e Leonardo “Se essa rua fosse minha”. Depois fizeram um desenho

da rua como gostariam que ela fosse.

Foi muito interessante essa atividade, porque cada aluno pôde mostrar sua

capacidade de criação, e foram fantásticos os desenhos que fizeram da rua dos

sonhos.

Uns representaram a rua bem arborizada, outros se preocuparam com um

estilo mais padronizado dos elementos existentes na rua, como mostra o painel de

desenhos que compõe a figura 8. Teve um que representou a rua como se estivesse

chegando ao Sol, podendo haver mais de uma interpretação do desenho.

Figura 8 – Resultado da atividade de representação da “rua como eu gostaria que ela fosse”.

Nov/2010.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A alfabetização cartográfica permite ao aluno, quando em contato direto

com os diversos documentos cartográficos, principalmente os mapas, (ex: o da

cidade) a capacidade de retirar um maior número de informações neles contidas.

Isso significa que o aluno já está em condições de ler o espaço vivido, através da

interpretação dos símbolos cartográficos.

A aplicação dessa proposta está contida na Unidade Didática, dividida em

sete encontros descritos nesse trabalho sobre a forma de relatório.

O desenvolvimento dessas atividades durou aproximadamente três meses

do ano letivo, contando com as saídas à campo e as atividades em sala de aula,

como por exemplo: análise da planta da escola, do mapa da cidade, elaboração de

textos e desenhos relacionados com o espaço de vivência dos alunos.

Podemos então dizer que o resultado obtido com o projeto foi satisfatório,

uma vez que a principal meta a ser atingida foi resgatar na maior parte dos alunos a

relação de afeto que existe entre eles e o seu espaço de vivência. A maior prova

disso foi o interesse de boa parte dos alunos pela continuidade desse trabalho no

retorno às aulas no início deste ano. Diante dos bons resultados obtidos com a 5ª

série B o projeto será implementado este ano de 2011 em todas as turmas de 5ª

série da escola.

Finalmente, todos os trabalhos produzidos, tais como a planta da sala de

aula, cartazes, mapas, desenhos, entre outros, foram expostos num mural na sala

de aula e admirados pelos colegas e demais professores. Além de todo o processo

de elaboração das atividades pelos alunos durante a implementação do projeto na

escola, fizeram como atividade final o desenho de sua rua como gostariam que ela

fosse, conforme as figuras abaixo.

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