DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · crítico, sabe o que pode fazer criar e ... Isto requer um...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
OFICINAS PEDAGÓGICAS: CONSTRUINDO ESTRATÉGIA PARA AÇÃO INTERDISCIPLINAR
Rosmari Gatto 1 Solânia Durman 2
Resumo
O enfoque deste artigo é educação, saúde no contexto escolar e suas repercussões na comunidade. Abordar educação em saúde como projeto educativo, requer o desenvolvimento do pensar crítico/reflexivo, permitindo desvelar a realidade enquanto sujeito histórico e social capaz de opinar nas decisões de saúde para o autocuidado. Têm como objetivo investigar os conteúdos do Projeto Político Pedagógico, nas disciplinas curriculares, referentes à saúde e favorecer a troca de conhecimentos entre os docentes do ensino médio e profissional, buscando elementos que subsidiem a prevenção da gravidez na adolescência. Teve como palco o Colégio Estadual Dario Vellozo Ensino Fundamental, Médio e Profissional do município de Toledo, durante o ano de 2010. O procedimento metodológico adotado foi às oficinas pedagógicas com dinâmicas de interação social, fundamentada nos conceitos de Freire (1996). Como resultados, obtiveramse os relatos dos participantes das oficinas (docentes); as discussões produzidas nos encontros com o grupo de apoio (docentes e profissionais da escola) que emergiram propostas de mudanças no PPP (Projeto Político Pedagógico), nas Propostas Curriculares dos Cursos Técnicos e no Plano de Trabalho Docente. Além do convite da pesquisadora em participar na (re) elaboração do PPGA (Projeto de Prevenção de Gravidez na Adolescência), formando jovens facilitadores em informações, do Município de Toledo.
Palavraschave: Adolescentes; Escola; Educação em Saúde.
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1 Enfermeira. Especialista em Administração dos Serviços de Saúde. Professora da Rede Estadual de Educação do Paraná – Área PDE: Disciplinas Técnicas. Coordenadora do Curso Técnico em Enfermagem do Colégio Estadual Dario Vellozo, NRE: Toledo.2 Enfermeira. Docente. Mestre em Assistência de Enfermagem pela UFSC/UFPR, docente do Colegiado de Curso de Enfermagem da Unioeste/Cascavel/PR.ABSTRACT
This article focus is the education, the health in the school context and its impact on the community. To deal with health education as an educational project, requires the development of critical thinking / reflective, allowing to reveal reality as historical and social subject able to think in the health decisions for selfcare. Their objective is to investigate the contents of the Educational Policy Project, in curricular subjects, relating to health and to promote exchange of knowledge among high school teachers and professional searching elements that contribute to the prevention of teenage pregnancy. It was staged at the State College Dario Vellozo Elementary School, Middle and Professional in Toledo during the year 2010. The methodological approach followed were as dynamic educational workshops with social interaction, based on the concepts of Freire (1996). As results we obtained the reports of the workshop participants (teachers), the discussions produced in the encounters with the support group (teachers and school personnel) that emerged from proposed changes in the PPP (Educational Policy Project), the Technical Proposals Curriculum Courses and Plan of Teaching Work. In addition to the invitation for the researcher's to participate in the redesigning of the PPGA (Project for the Prevention of Teenage Pregnancy), forming youth facilitators of information, the City of Toledo.
Keywords: Adolescents; School, Health Education.
1 Introdução
As transformações sociais, políticas e econômicas desencadeadas a partir
da globalização exigem hoje um indivíduo participativo, consciente, capaz de intervir
na sociedade de forma crítica, criativa, cabe a educação, preparálo para este
desafio.
As mudanças sociais que buscamos são possíveis, se forem garantidas pelo
Estado, por meio das leis onde os serviços de saúde e educação se destacam como
conquistas organizadas das Políticas Públicas.
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Com o intuito de implementar mudanças se faz necessário desenvolver
ações de prevenção com caráter educativo, que promova e previna doenças,
mantenha a saúde, que o indivíduo tenha conhecimento e autonomia para garantir
vida saudável. A proposta de uma educação participante e formadora tem sido
apontada como fundamental para se obter mudanças de comportamento (FREIRE,
1996).
Este é o diferencial que possibilita tanto educadores quanto adolescentes
estabelecerem uma relação em que o conhecimento seja um construtor de ambos.
O jovem que constrói sua relação com o mundo pelo diálogo é um jovem
crítico, sabe o que pode fazer criar e transformar (FREIRE, 1996).
Cabe a educação instrumentalizar os educandos com conhecimento,
habilidades tecnológicas, capacidade de fazer escolhas e de se autodesenvolver.
Neste sentido, quando encontramse escolas, educadores e adolescentes que
buscam na participação das diversas atividades pedagógicas ou extraclasse a
possibilidade de exercício da cidadania, acreditase que neste momento estáse
contribuindo para a construção de uma relação de homens livres, criativos e
preparados para o exercício de escolhas mais conscientes. Para Freire (2000), o ser
humano é histórico, está submerso em condições espaçostemporais, e quanto mais
refletir de maneira crítica sobre sua existência, mais poderá influenciarse e tornar
se mais livre.
A metodologia utilizada nesse trabalho, baseiase nos conceitos deste autor,
anteriormente citado, sendo: problematização supõe ação transformadora, é
inseparável do ato cognoscente e de situações concretas e conteúdo elaborado
referese ao contexto, às situações vividas e possibilita que o educador chame o
educando a refletir sobre a realidade de forma crítica diálogo é conteúdo da forma
de ser próprio à existência humana. A educação e comunicação, visto que não
significa transferir saber e conhecimento e, sim, encontro de sujeitos interlocutores
que buscam a significação dos significados; liberdade pode ser definida como uma
conquista e exige busca permanente, existindo apenas no ato responsável de quem
a faz; conscientização é uma inserção crítica na história, na qual o homem assume
uma posição de sujeito capaz de transformar o mundo (FREIRE, 2000).
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Neste contexto, o enfoque na educação em saúde, na doença, leva ao
fortalecimento do conhecimento para adoção de atitudes que beneficiam a saúde, à
dependência e a cronicidade das doenças que reforçam a subordinação do sujeito
aos serviços.
Atualmente, a preocupação de pais e educadores, diante do número de
gestações na adolescência, a que se aliou um aumento do risco de contaminação
pelo vírus da AIDS, mobilizouse e estimulou o avanço das iniciativas de orientação
na área da sexualidade. A mais recente proposta do Governo Federal propõe a
Orientação Sexual nas escolas.
A gravidez na adolescência vem sendo identificada como um dos grandes
problemas de saúde pública, com conseqüente impacto na vida do adolescente e da
sociedade. A problemática da gravidez vem se agravando no Brasil assim como em
outros países. Para Vitiello (1993), este fato acentuouse, a partir dos anos de 1960,
em razão da liberação de costumes e a substituição de valores morais vigentes na
época.
No entanto, diversos estudos sobre o impacto de programas de saúde aos
adolescentes, vêm demonstrando que as estratégias de prevenção não estão
surtindo efeito, visto que estas não retardam a iniciação sexual, não aumentam o
uso de preservativos (masculino e feminino) e métodos contraceptivos, nem
reduzem a gravidez na adolescência. Diante desta situação, perguntase: as práticas
pedagógicas aplicadas de educação em saúde que permeiam os currículos, as
disciplinas, os conteúdos e projetos no ensino médio/profissional realizam com
efetividade ações de prevenção e promoção da saúde no ambiente escolar?
O presente projeto teve por finalidade instrumentalizar os professores em
relação à abordagem de educação em saúde/sexualidade, por meio de oficinas
pedagógicas. Este foi idealizado a partir de relatos realizados pelos
professores/alunos, após estágios curriculares nas disciplinas de Saúde Coletiva,
Assistência de Enfermagem à saúde da mulher; da criança e do adolescente, do
Curso Técnico em Enfermagem, deparase com um número expressivo de
adolescentes grávidas e bebês prematuros, em determinado bairro, do município de
Toledo, o índice de gestantes adolescentes chegou a 30% no ano de 2006.
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Pensouse num projeto que busque primeiro conhecer as necessidades do
cotidiano, onde os adolescentes estão inseridos. Esta busca pelo saber, despertada
pela curiosidade e pelo desafio de transformar a realidade, gera mudanças na
organização dos conhecimentos escolares. Para que o projeto tenha viabilidade e
adesão de toda a comunidade escolar, foi construído de forma coletiva, professores,
equipe pedagógica, direção, colaboradores e principalmente dos alunos.
Assim, compreender as correlações éticas, políticas e científicas da
sexualidade, colaborar para que outros educadores e cidadãos também alcancem
para tratar pedagogicamente da abordagem da sexualidade.
Neste sentido, as exigências educacionais contemporâneas demandam
novas trajetórias de docentes, de profissionais da educação e da saúde, como
também da família quanto à maneira de compreenderem a educação sexual como
processo educacional.
Constatouse que ao incentivar o trabalho interdisciplinar e estabelecer a
necessidade da criação de espaços coletivos para “trocas” de experiências entre os
professores e construção de saberes, resultou na (re) elaboração da práxis
pedagógica.
2 Educação em Saúde: prática pedagógica interagindo na escola
Saúde e Educação são direito de todos e dever do Estado, mas a realidade
continua mostrando que nem todos têm acesso da mesma forma a esses serviços
de má qualidade, pois não visualizada um produto final de qualidade, nem tampouco
um olhar responsável nesse resultado indesejado. O sujeito esta dividido em partes:
ao buscar assistência médica, é tratado a dor, os sintomas, o sujeito não é
percebido, na educação o que importa é seu entendimento na disciplina, não há
interação entre a sua historia de vida, sua realidade que lhe permita compreender e
situarse no mundo.
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Quando se fala em educação e saúde, se fala em qualidade, para Pimenta a
escola de qualidade será aquela na qual:
[...] os alunos consigam compreender o quanto e como a apropriação do conhecimento científico temse dado contra os interesses da humanidade como um todo e o quanto o conhecimento tem sido apropriado como condição dos privilégios dominantes [...]. O que deixa saltar isso aos nossos olhos é um exemplo bem simples. O avanço que podemos indicar hoje na Medicina é um avanço de conhecimento gigantesco, a ponto de realizar um transplante de órgãos, por exemplo. Isto requer um conhecimento altamente sofisticado e elaborado. No entanto, ao lado deste avanço do conhecimento cientifico da área da medicina, temos a maioria das crianças e da população brasileira morrendo de doenças para as quais essa ciência já encontrou remédio há muito tempo. Este exemplo mostra claramente o uso do conhecimento em favor de interesses dominantes (SANTOS, 2000, p.5455).
Educar o indivíduo é deixálo apto a participar da sociedade, com condições,
com autonomia de buscar realizarse como profissional, indivíduo e cidadão que
busca sua integralidade e que exige também uma assistência que veja como um
todo, um conjunto de experiências e vivencias que se moldam como pessoas.
É o processo educativo de construção de conhecimento em Saúde que visa
à apropriação do tema pelos indivíduos em geral. É também o conjunto de práticas
do setor que contribui para aumentar a autonomia das pessoas no seu cuidado. A
Educação em Saúde potencializa o exercício da participação popular e do controle
social sobre as políticas e serviços de saúde, no sentido de que respondam às
necessidades da população. A Educação em Saúde deve contribuir para incentivo à
gestão social da saúde. A Educação Popular em Saúde tem como objetivo
promover, na sociedade civil, a educação em saúde, abrangendo a formação e a
produção de conhecimentos sobre a gestão social das políticas públicas de saúde, o
direito à saúde, a organização do sistema e os deveres das três esferas de gestão
do SUS.
E neste aspecto que a Saúde deve romper os estreitos limites da assistência
curativa em busca do equilíbrio com o meio, o que pode ser alcançado educandose
o indivíduo, e principalmente a mulher, a qual pesquisas apontam que quando a mãe
tem instrução maior os efeitos nos indicadores de saúde. Em um levantamento do
Banco Mundial em 25 países, chegou à conclusão que a mãe que tenha freqüentado
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a escola por um período de três anos assegurou por si só uma redução de 15% na
mortalidade infantil.
Esta relação saúde/educação/comunidade que buscamos perceber e
entender. Como os educadores trabalham com educação em saúde, portanto, no
processo de aprendizagem que se quer incorporado na comunidade, a qual possui
uma experiência de vida que deve ser valorizada e transformada em conhecimento
útil à qualidade de vida.
É este saber popular, que o sujeito tem do funcionamento do corpo, de como
e porque as doenças acontecem e suas formas de prevenção fazem parte do
universo ou da idéia de construção social.
Só iremos superar essa postura de querer libertar dominando, quando
entendermos que não estamos sozinhos no mundo e que o processo de libertação
não é obra de uma só pessoa ou grupo, mas sim de todos nós. Para isso é preciso
saber ler a nossa vida, isto é, procurar agir e refletir sobre a ação (FREIRE, 1983).
Esse é o ganho social que Paulo Freire chama de unir teoria com a prática,
pois somente quando profissionais de saúde, que atuamos no ensino
profissionalizante, pensar às próprias ações, é que estarão auto reconhecendose
como sujeitos da história e assim mobilizando, compartilhando saberes, tornando o
espaço que atuam como o de uma escola, onde existe busca do aprendizado.
De acordo com Morin (2005), a inadequação entre saberes fragmentados e
delimitados em disciplinas enquanto os problemas são multidimensionais, globais, e
que necessário se faz uma nova forma de educação, que permita a organização dos
saberes dispersos e lhes de sentido.
Nesta cumplicidade, a comunicação e os educadores têm papel
preponderante para o sucesso da educação. Educar para a compreensão humana, é
missão espiritual da educação, condição e garantia da solidariedade intelectual e
moral da humanidade (MORIN, 2005). Como também a comunicação não garante a
compreensão e informação, se for transmitida e compreendida, traz inteligibilidade,
condição necessária, mas não suficiente para a compreensão. Para o autor há duas
formas de compreensão: a intelectual ou objetiva, que significa apreender em
conjunto, abraçar junto. E a compreensão humana ou intersubjetiva, que é o
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conhecimento de sujeito a sujeito. O outro é um sujeito com o qual nos
identificamos, é um processo de empatia, de projeção que pede abertura, simpatia e
generosidade.
Este deve ser um dos objetivos dos profissionais de saúde e da comunidade
escolar, compromisso mútuo em prol da luta por melhores condições de vida,
saneamento, assistência médica, medicamentos, orientações para prevenção de
doenças, acompanhamento voltado às particularidades que cada indivíduo necessita
quando debilitado.
Pensouse num projeto que busque primeiro conhecer as necessidades
onde estamos inseridos, esta busca pelo saber, despertada pela curiosidade e pelo
desafio de transformar a realidade, gera mudanças até na organização dos
conhecimentos escolares. Para que o projeto tenha viabilidade e adesão de toda a
comunidade escolar, deverá ser construído de forma coletiva, professores, equipe
pedagógica, direção, colaboradores e principalmente dos alunos.
O presente trabalho é o relato de experiência junto à comunidade escolar na
implementação do Projeto “Educação em Saúde: Prática pedagógica interagindo na
Escola” deuse por meio de vivências: 1 Oficinas Pedagógicas com docentes do
ensino médio e profissional; 2 Grupo de Suporte Pedagógico envolvendo
(profissionais da educação, funcionários do quadro administrativo e de apoio).
Partiuse do pressuposto que a prevenção e promoção da saúde do
adolescente, não se limita a área da saúde, mas envolve a integração das ações
desenvolvidas por diferentes programas e projetos, criando uma cultura de
promoção a saúde entre os adolescentes e suas famílias. Temse a convicção que
Escola e o Sistema de Saúde precisam trabalhar juntas, como parceiras para
enfrentar os desafios educacionais contemporâneos (drogas e violência; gênero e
diversidade sexual; educação sexual e sexualidade).
Nesse contexto, o Ministério da Saúde e o Ministério da Educação, na
perspectiva de ampliar as ações de saúde aos alunos da Rede Pública de Ensino
Instituem, em âmbito nacional, o Programa Saúde na Escola (PSE), por meio do
decreto presidencial Nº. 6.286, de 05 de dezembro de 2007. Esta proposta pretende
contribuir para o fortalecimento de ações que vinculem saúde e educação,
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facilitando o enfrentamento das vulnerabilidades que comprometem o pleno
desenvolvimento de crianças e jovens brasileiros. Cada uma das ações previstas
no PSE deve ser desenvolvida na escola de modo articulado possível, aproximando
e integrando os profissionais entre si, com os educandos e a comunidade.
Segundo as definições da literatura de promoção da saúde, a Escola
Promotora de Saúde é aquela na qual alunos, professores, funcionários, pais e
familiares atuam em conjunto para melhorar a qualidade de vida da comunidade
escolar, com estímulo à ações locais, relações harmônicas e solidárias para a
construção de um meio ambiente saudável (SILVA, 2003).
As ações voltadas para a implantação da Escola Promotora de Saúde devem
garantir a participação da comunidade escolar: desde o levantamento das principais
necessidades, identificação das prioridades e a elaboração de estratégias para
desenvolver ações local e participativa na comunidade escolar.
Segundo a OMS (1979), (Organização Mundial da Saúde) as escolas que
fazem diferença e contribuem para a promoção da saúde, são aquelas que
conseguem assegurar as seguintes condições:
Reconhecem que os conteúdos de saúde devem ser incluídos nas diferentes áreas curriculares; Valorizam a promoção da saúde na escola para todos que estudam e nela trabalham; Têm uma visão ampla dos serviços de saúde voltados para o escola Reforçam o desenvolvimento de estilos saudáveis de vida; Favorecem a participação ativa dos educadores na elaboração do projeto pedagógico da educação para a saúde (BRASIL, 1998, p.260).
Desenvolveuse inicialmente avaliação diagnóstica no sentido de identificar
os questionamentos dos profissionais da educação. Para tal, realizamos entrevistas
com profissionais da educação na temática de saúde e sexualidade. A partir daí
surgiram temas básicos para iniciarmos as discussões e elegermos caminhos que
reforçam a promoção e prevenção da saúde escolar.
Com os adolescentes utilizouse uma caixa lacrada, que permaneceu na
biblioteca por um mês, na qual os adolescentes deixaram por escrito, sem a
necessidade de se identificarem, questionamentos e sugestões de trabalho para o
projeto Educação em Saúde: prática pedagógica interagindo na escola. As dúvidas
identificadas estavam relacionadas às questões de gênero, corpo, atração e
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relacionamento sexual, DST, AIDS, direitos e deveres ligados à sexualidade. Estes
questionamentos foram repassados para o Grupo de Apoio pedagógico, o qual
respondeu os questionamentos e com a colaboração de jovens facilitadores,
divulgaramse as respostas aos educandos da escola, de forma a contribuir com sua
saúde sexual e reprodutiva.
2.1 Oficinas pedagógicas: motivando a equipe docente
No cotidiano da escola, os profissionais das mais diversas áreas do ensino,
vivem situações embaraçosas, frente ao adolescente e sua sexualidade. Um dos
desafios educacionais está na formação de agentes de prevenção/educador sexual,
para atuarem na escola/comunidade com um tema que é ainda polêmico na
sociedade: a sexualidade.
Diante destas circunstâncias, foi proposto a constituição de um grupo de
professores do ensino médio e profissional, os quais discutiram as múltiplas facetas
que correspondem a diversos modos de abordarem a educação em saúde/educação
sexual, onde, com a participação nas diversas oficinas planejadas, as quais foram
úteis para o planejamento e realização de ações pedagógicas.
Oficinas aplicado à educação, referese ao lugar onde se aprende fazendo junto com os outros, [...] a oficina é um âmbito de reflexão e ação no qual se pretende superar a separação que existe entre teoria e prática, entre conhecimento e trabalho e entre a educação e a vida (OMISTE et al, 2000, p.177).
As oficinas para o professor/educador, foi espaço propício para discussão
das práticas, para reelaboração de situações e para a construção de novas
estratégias de ação na abordagem da Educação em saúde/ educação sexual com
os alunos.
A realização de ações pedagógicas efetivouse por meio da estratégia
didáticopedagógica de dinâmicas de grupo, aulas interativodialógicas e oficinas
pedagógicas, projeção de filmes, dramatizações, dinâmicas lúdicas, entre outras,
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com o intuito de suscitar discussões sobre educação em saúde, sexualidade e suas
implicações na escola.
Para fins didáticos apresentase uma seqüência de cinco unidades, as quais
contemplam várias oficinas, organizadas em torno de situações e temas
relacionados à educação em saúde, especificamente para trabalhar com os
adolescentes/jovens na educação sexual.
UNIDADES OFICINAS PARA EDUCADORESI Práticas Educativas: Educação em Saúde na Escola (8 horas)
Trabalho Coletivo “fio condutor”Processo de Construção da SaúdeA promoção à saúde e a interdisciplinaridade.Qual educação para qual Saúde?
II A adolescência como uma das etapas da vida do ser humano(8 horas)
Saúde do adolescenteIdentidade e estimaVulnerabilidades na fase da adolescênciaEducação em Saúde da (o) adolescente
III Saúde sexual e saúde reprodutiva (12 horas)
Educar para a sexualidadeDoenças sexualmente transmissíveis e AIDSA construção social dos gênerosDiversidade sexual
IV Planejamento de AçõesPedagógicas na escola (8 horas)
Redefinindo a prática pedagógicaConstruindo a prática educativaDemocratização da informação/educação em Saúde
Tabela 1 – Unidades complementares para atividades com adolescentes.
As oficinas aconteceram às quintasfeira das 19:30h às 21:30h, durante o
segundo semestre do ano de 2010, com média de 12 professores presentes em
cada uma delas. Porém contouse com 23 professores estiveram participando das
oficinas, significando 80% dos docentes do ensino médio e profissional. Foram
abordados temas referentes à prevenção e à promoção da saúde sexual e
reprodutiva de jovens e adolescentes, prevenção à gravidez na adolescência, às
DST/Aids, e também as relações entre os gêneros e a diversidade sexual no espaço
escolar.
Dentre as inúmeras estratégias de ensino, consideramos essenciais àquelas
que estimulam os alunos em grupo, permitirem a troca de experiências e a livre
expressão de sentimentos, aquelas que garantem oportunidades da práxis e
aquisição de habilidades. Destacase a seguinte oficina.
Oficina 1 Saúde do Adolescente
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Objetivo: Identificar as características físicas, psicossociais do adolescente;
Analisar os fatores que colaboram e prejudicam a qualidade de vida do adolescente;
Reconhecer os agravos à saúde dos adolescentes, com vistas à promoção e
proteção da sua saúde, bem como seu acompanhamento na escola. Apresentar a
Caderneta de saúde do adolescente.
Tempo de duração: + 2 horas
Sugestão para o encaminhamento da oficina
1º Passo: O facilitador apresenta o tema da oficina e solicita aos
participantes que individualmente, reflitam: Quais as necessidades dos adolescentes
de hoje? Como são interpretadas as necessidade oriundas dos adolescentes? O que
a escola pode lhes oferecer? Perguntar aos participantes (professores/alunos). Que
mudanças físicas e emocionais fazem parte da adolescência?Como estas mudanças
interferem na qualidade de vida do adolescente? Qual a faixa etária da pré
adolescência e adolescência propriamente dita? Fazer a relação do estirão pondo
estatural e o aumento considerável das necessidades de energia e de diversos
nutrientes; discutir alimentação e obesidade na adolescência.
Sintetizar as discussões, considerando esta fase do desenvolvimento
humano, como transição entre a infância e vida adulta, marcada pelas
transformações biológicas da puberdade e relacionada à maturidade biopsicossocial,
que são apresentadas como cruciais na vida dos indivíduos. Isto leva a identificar a
adolescência como um período “crítico”, momento de definição sexual, profissional,
de valores e sujeito a crises, muitas vezes tratadas como doenças. Lembrar que no
desejo de um referencial que dê sentido a seu existir, se tornam disponíveis e que
esta disponibilidade deve ser utilizada na promoção de ações comprometidas com a
qualidade de vida das comunidades.
2º Passo Refletir acerca da saúde do adolescente, compreendendo que
neste período da vida, as questões clínicas não se apresentam em quantidade
expressiva como ocorre com as crianças e os idosos.
As questões que afligem a saúde do adolescente apontam para a violência,
homicídios, depressão, acidentes de trânsito, violência doméstica, doenças
sexualmente transmissíveis e o uso de drogas (cigarro, álcool, substâncias
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psicoativas). Estes problemas de saúde culminam muitas vezes com uma gravidez
não planejada.
3º Passo: Reconhecer a importância do acompanhamento do adolescente
na escola e perguntar aos participantes se na sua área de atuação, conhecem o
índice de evasão escolar, se percebem a existência de adolescentes nas ruas da
cidade e no mercado de trabalho.
Refletir com o grupo, que as questões relativas ao contexto social de nosso
país afetam a saúde do adolescente: os altos índices de evasão escolar e a precoce
presença no mundo do trabalho, principalmente informal, que não respeita as
cláusulas de proteção ao desenvolvimento físico e intelectual dos adolescentes,
previstas em lei.
Considerar ainda, que o crescente índice de violência e pobreza na
sociedade, faz com que muitos adolescentes fiquem abandonados nos espaços
público das ruas. Na tabela 2 podese visualizar a freqüência de nascimentos no
período de 2006 a 2010 no município de Toledo.
Faixa etária 2006 2007 2008 2009 2010
1014 anos 13 10 10 07 101519 anos 262 230 252 264 248
2029 anos 778 704 813 769 8563039 anos 380 338 381 430 4644049 anos 40 33 35 34 3350 e + anos 00 00 00 01 00
Total 1.463 1.365 1.491 1.505 1.611
Tabela 2 Freqüência por Ano de Nascidos Vivos por Faixa Etária da Mãe ToledoFonte: SISNAC, 2011 – Vigilância Epidemiológica.
Ainda é importante lembrar que para atingilos em seus espaços de
convivência e inserção, significa atingir o meio social em que vivem, como por
exemplo, a família em seu caráter de formação, a escola como espaço de formação
e preparação profissional e até mesmo a rua, como espaço de lazer e moradia.
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É importante a implementação de ações em um contexto de exclusão social
e a necessidade de promoção da cidadania.
Refletir sobre o convívio familiar saudável: relações familiares, resolução não
violenta de conflitos, dentre outros.
Parte B
O facilitador apresenta e distribui aos participantes as Cadernetas de saúde
do (a) adolescente, BRASIL (2009).
Uma das ações desenvolvidas na escola, após realizarmos as oficinas e
discussões no grupo de apoio, foi a implantação da caderneta de saúde do (a)
adolescente, aos alunos das as 5ª, 6ª e 7ª séries num total de 245 alunos(as),
receberam esclarecimentos a respeito de seu crescimento físico e desenvolvimento
psicossocial e sexual. Onde enfatizouse a importância de se tornarem ativamente
participantes nas decisões pertinentes aos cuidados de sua saúde, contribuindo para
sua autonomia. Como proposta obtevese a implementação do PPGA, alunos
multiplicadores de informações em prevenção de gravidez na adolescência,
adequação do laboratório de enfermagem, transformandoo em uma unidade
permanente de educação em saúde na escola, proposta contemplada no Projeto
Político Pedagógico.
As atividades foram construídas coletivamente a partir da realidade concreta
da escola, da situação real vivida no seu cotidiano. A filosofia pedagógica que
respaldou as ações foi aquela proposta por Paulo Freire, que valoriza a organização
de experiências pedagógicas em formas e práticas sociais que dialogam para
desenvolver modos de aprendizagem e de luta mais críticos, questionadores e
coletivos. Os professores vivenciam momentos de síntese do processo de
aprendizagem, e relatam:
“Foi uma capacitação aberta, excelente oportunidade para novos conhecimentos, integração e trabalho em equipe. A metodologia favoreceu o envolvimento, crescimento e mudanças na prática pedagógica” (A1)“Oportunidade de formação continuada, quanto às estratégias de ação no relacionamento com os alunos, onde nós educadores desenvolvemos postura para defender o adolescente no atendimento de suas necessidades básicas de educação, saúde e proteção familiar” (A2).
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A Educação em Saúde constitui estratégia fundamental às transformações
do trabalho no setor escolar para que venha a ser lugar de atuação crítica, reflexiva,
propositiva, compromissada e tecnicamente competente.
Parte C
Grupo de apoio à implementação do projeto “Educação em Saúde: prática
pedagógica interagindo na escola”, composto por vinte participantes (professores,
equipe pedagógica, profissionais da educação e alunos do quarto período do Curso
Técnico em Enfermagem), do Colégio Estadual Dario Vellozo do município de
ToledoPR. O conteúdo programático está elencado a seguir, com as referidas datas
e atividades
As atividades foram desenvolvidas por meio de dinâmicas de grupo, relatos
de experiências, estudo dirigido, leituras, filmes e dramatizações. Como referencial
teórico – Caderno Sexualidade SEED (2008).
Etapa Data Atividades1ª Etapa 11/09/2010 A busca de novos caminhos para uma vida feliz Felicidade Interna
Bruta (FIB).2ª Etapa 25/09/2010 Políticas Públicas de educação e Saúde; Determinantes do Processo
SaúdeDoença.3ª Etapa 02/10/2010 Educação em Saúde no contexto escolar O Programa Saúde na Escola
(PSE).4ª Etapa 09/10/2010 Atenção Integral à Saúde de adolescentes e jovens.
5ª Etapa 16/10/2010 Educação Sexual no cotidiano escolar. Sexualidade Humana, Interdisciplinaridade e Saúde Sexual.
6ª Etapa 30/10/2010 Trabalho Pedagógico, planejando atividades de promoção e prevenção para Semana Cultural Dario – Estação Saúde.
7ª Etapa 20/11/2010 O impacto da gravidez na realização do sonho de vida da (o) adolescente.
8ª Etapa 27/11/2010 Os profissionais da educação como atores e suas trajetórias como agentes de prevenção.
Tabela 3 Educação em Saúde: Prática Pedagógica Interagindo na Escola
Constatouse uma boa receptividade por parte dos docentes e profissionais
da educação no planejamento de ações e atividades, destacando a 6ª etapa.
Realizaram a programação de oficinas e vivências para o evento, Estação Saúde.
Este evento oportunizou aos profissionais da educação, os educandos (do ensino
médio e profissional) da escola, a desenvolverem diferentes atividades pedagógicas
no estabelecimento de ensino no qual estão vinculados, além do turno escolar; como
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também viabilizar o acesso, permanência e participação dos educandos em
atividades pedagógicas de seu interesse.
Na busca pela construção do conhecimento escolar, professores/alunos do
ensino médio (disciplinas de educação física e artes) do ensino profissional através
dos professores/alunos dos cursos técnicos de: Enfermagem, Segurança no
Trabalho, Agentes Comunitários de Saúde e Cuidados com a Pessoa Idosa e dos
profissionais de educação integrantes deste grupo, efetivaram com sucesso o
evento estação saúde. Uma proposta de construção coletiva, com atividades ao ar
livre, com atividades lúdicas como: jogos educativos, painéis, desenhos,
dramatizações, danças circulares, oficinas, simulações, músicas e trabalhos. Para a
adoção de valores que integram a relação ‘ser Humano Natureza’, de maneira
saudável e responsável.
Dentre as ações previstas destacaramse: Oficinas: Qualidade de Vida,
Virando do Avesso, Cinco sentidos (DST/AIDS), Adolescência: vida e consciência
(Saúde Reprodutiva), Plantas Medicinais e Germinação e Cultivo de Brotos;
Atividades/tendas: Educação em Saúde Vida Saudável Alimentação Saudável,
verificação do IMC (índice de massa corporal), Saúde Bucal, Prevenção de
Acidentes Domésticos e Infantis, Primeiros Socorros, Educação no Trânsito,
Higienização das mãos, Plantas Medicinais Condimentares e Aromáticas, Saúde do
Homem Combate ao tabagismo e ao álcool e Educação Ambiental.
Observouse o engajamento dos professores nas ações de promoção da
saúde escolar, as quais foram pautadas na integralidade do cuidado e na educação
em saúde, promovendo assim, adoção de hábitos e atitudes de vida mais saudáveis.
Definiuse que esta experiência de Educação em Saúde no contexto escolar, deverá
manterse na modalidade de educação permanente, sob a coordenação desta
professora PDE com apoio dos profissionais que fazem parte deste grupo de
estudos e com a colaboração dos alunos do curso técnico em Enfermagem.
2.2 A interrelação entre educação e educação para a saúde
16
Na educação para a saúde o papel mais importante do professor é o de
motivador que introduz os problemas presentes, busca informação e materiais de
apoio, problematiza e facilita as discussões por meio da formulação de estratégias
para o trabalho escolar.
Nesse processo, esperase que os alunos reflitam sobre as situações, levantem hipóteses, desenvolvam soluções comprometidas com a promoção e a proteção da saúde pessoal e coletiva, que possam estruturar e fortalecer comportamentos e hábitos saudáveis, tornandose sujeitos capazes de influenciar mudanças que tenham repercussão em sua vida pessoal e na qualidade de vida da coletividade (BRASIL, 1998, p. 261).
A tarefa da escola então é de reelaborar o saber que está fragmentado em
saber progressivo, integral, que dê subsídios para que o aluno faça uma leitura
crítica da realidade, a educação como prática de libertação, é um ato de
conhecimento, de reflexão sobre o mundo que leva a tomada de decisão e a ação
(FREIRE, 1970).
A partir da adolescência, o jovem busca sua identificação no grupo, muitas
vezes expondose a riscos só para ser aceito, nega seus valores em busca de
modelos exteriores, fora da família, mas ao amadurecer, retomaos e identifica
novos modelos de referência, muitos construídos durante a infância, como os de
familiares e professores.
O aluno deve ser capaz de entender a história natural das doenças e os
determinantes econômicos, culturais, ecológicos, biológicos, psicossociais e seus
efeitos sobre o organismo humano, principalmente compreender as interrelações
entre o agente/sujeito/ambiente, e que são passíveis de interferência e fundamentais
para as ações de prevenção e proteção do indivíduo.
O valor dado à vida, à saúde deve ser destaque na formação do indivíduo,
onde aprende a ser responsável pela manutenção de sua saúde, é sujeito ativo,
participativo que sabe exigir seus direitos e da comunidade.
Mas não podemos esquecer que a escola que tem o compromisso de
formar o cidadão consciente, participativo é parte de um sistema público, político que
determina as prioridades de seu governo, baseado nos interesses que defende. E
17
os profissionais que ali atuam, apesar destas influências, têm o compromisso de
educar crianças e jovens possibilitando a leitura crítica da realidade.
Na visão de Gramsci a escola por seu caráter contraditório (reprodução do
aparelho ideológico dominante e de transformação das desigualdades sociais), pode
assumir o desfio de possibilitar acesso ao saber cientifico e leitura critica da
realidade, elementos importantes de organização da pratica social. A escola é um
aparelho privado de hegemonia, responsável pela formação intelectual e moral, para
a construção de uma práxis transformadora e libertadora.
O proletariado necessita de uma escola desinteressada. Uma escola em que seja dada à criança a possibilidade de se formar, de se fazer homem, de adquirir os critérios gerais que servem para o desenvolvimento do caráter [...] uma escola que não hipoteque o futuro da criança e constranja a sua vontade, a sua inteligência, a sua consciência em formação á movimentarse sobre dois trilhos com estação préestabelecida. Uma escola de liberdade e de livre iniciativa e não uma escola de escravidão e de mecanicidade. Os filhos do proletariado devem ter também à sua frente todas as possibilidades, todos os campos livres para poderem realizar a sua individualidade da melhor maneira, e, por conseguinte, de maneira mais produtiva para eles e para a coletividade. A escola profissional não deve se transformar em uma incubadora de pequenos monstros aridamente instruídos em função dum oficio, sem idéias gerais, sem cultura geral, sem alma, tão somente como olho infalível e mão firme [...] É um problema de direito e força (GRAMSCI, 1989, p. 68).
No entendimento de Paulo Freire a função da escola e dos professores, que
representam à ideologia dominante, percebendose ou não como representante
deste poder dominante, deve mostrar visibilidade do real à sociedade.
A tarefa fundamental da escola não pode ser outra senão a reprodução da sua ideologia, o de preservar o status quo, esta tarefa não esgota o que fazer da escola. É que há outra a ser cumprida pelos educadores cujo sonho é a transformação da sociedade burguesa: a de desocultar o real (FREIRE, GADOTTI e GUIMARÃES, 1986, p. 37).
Os mesmos autores ainda citam que o problema é mostrar essa relação
dialética entre o subsistema educacional em qualquer sociedade e o sistema global,
que gera esse subsistema.
Para mostrar que ele não é apenas a reprodução da ideologia dominante, mas que também possibilita, ou melhor, que dentro dele é possível uma contraposição. Se o que a classe dominante espera da escola é a preservação do status quo [...], a escola se dá também, independentemente
18
do querer dominante, a outra tarefa que contradiz aquela. Tarefa do desvelamento do real (FREIRE, GADOTTI e GUIMARÃES, 1986, p. 78).
De acordo com Gramsci (1989), a escola tenha a função de converter a
guerra de classes em luta de classes, por meio da relação entre pedagogia e
política, isto é, a escola prepara o individuo para conhecer a realidade e para
interferir nela e o educador tem papel essencial na superação existente entre o fazer
(trabalho) e o pensar (teoria).
A escola é reprodutora dos valores dominantes, e só se transformará em
novos valores [...] “a partir do momento em que seus educadores assumirem a sua
tarefa política com clareza de princípios e de organicidade em torno dos interesses
políticos” (SANTOS, 2000, p. 41).
Para Gramsci é papel do educador ser facilitador na construção entre o
saber científico e o saber popular.
Sua transformação de “peça de engrenagem” ideológica mantenedora dos interesses antipopulares em intelectuais comprometidos com a sociedade democrática é fundamental, pelo fato de ser ele um elemento do Estado junto a sociedade. É sua mudança de postura que confere o caráter de dialeticidade à relação Estado [...]e escola. Até mesmo pelo domínio do saber e pela possibilidade de reconstruir este mesmo saber a partir da ótica popular (SANTOS, 2000, p. 41).
Segundo a Pedagogia Libertadora, de Freire, a educação e a escola
“colaboravam com a situação de mutismo do povo. A escola oficial, além de
autoritária, estaria a serviço de uma estrutura burocrática e anacrônica, incapaz de
colocarse ao lado dos oprimidos” (GHIRALDELLI JR., 1990, p.69).
Gramsci (1989), já dizia que é responsabilidade do Estado garantir o acesso
de todos à educação, garantindo a qualidade do ensino e provendo as condições
(matérias, equipamentos, estrutura física e professores qualificados) necessárias ao
aprendizado, a fim de garantir o desenvolvimento da sociedade.
A escola é o instrumento para elaborar os intelectuais de diversos níveis. A complexidade da função intelectual nos vários Estados pode ser objetivamente medida pela qualidade de escolas especializadas e pela sua hierarquização: quanto mais extensa for à área escolar e quanto mais numerosos forem os “graus verticais” da escola, tão mais complexo será o mundo cultural, a civilização, de um determinado Estado. Podese ter um termo de comparação na esfera técnica industrial: a industrialização de um
19
país se mede pela sua capacidade de construir maquinas e instrumentos que construam máquinas, etc. O país pode possuir a melhor capacitação para construir instrumentos para os laboratórios dos cientistas e para construir instrumentos que fabriquem estes instrumentos, este país pode ser considerado o mais complexo no campo técnicoindustrial, o mais civilizado. Do mesmo modo ocorre na preparação dos intelectuais e nas escolas destinadas a tal preparação; escolas e instituições de alta cultura são similares. Neste campo igualmente, a quantidade não pode ser destacada da qualidade. À mais refinada especialização técnicoindustrial não pode deixar de corresponder a maior ampliação possível da difusão da instrução primaria e a maior solicitude no favorecimento dos graus intermediários ao maior numero (GRAMSCI, 1989, p.10).
A escola tem o papel fundamental de por meio da integração áreas do
saber, abordarem dentro das varias disciplinas as questões de promoção e
preservação da vida, promovendo ações conscientes, desenvolvimento do ser
integral, que faz uma analise critica do momento, que transforma comportamentos e
atitudes e cria uns novos ‘SER’ íntegros, éticos, critico e espiritualizado.
A dogmatização do conhecimento, a distancia, a relação inexistente entre sujeito e objeto, a quantificação e a racionalidade que só servem para afastar ainda mais as classes populares deste conhecimento dito detentor da verdade, deste conhecimento que se diz o único capaz de compreender e explicar os fenômenos naturais. Por exemplo, o ensino do corpo humano é trabalhado linearmente, numa complexificação crescente – porém segmentada que vai do estudo das células e tecidos até os sistemas. Mas não vemos quase nunca uma relação entre estes assuntos e a vida dos alunos e até mesmo as nossas vidas, já que cada parte do corpo é trabalhada isoladamente, sem ser relacionada nem contextualizada.Outro exemplo é a saúde, tratada de um ponto de vista totalmente higienista, dissociada de uma visão mais ampla que leve em conta outros aspectos da vida – culturais, sociais, econômicos, ambientais. A interdependência do corpo é posta de lado em nome da especialização cientifica. A mente (ou alma, espírito) não é, em nenhum momento, mencionada como parte integrante deste conjunto o qual chamamos de corpo.O conhecimento científico é um elemento que passa por suas vidas [...]gerando um outro conhecimento misto do cientifico e do popular. O ideal seria que pudéssemos organizar um conhecimento válido para as camadas populares. Mas a realidade que vemos é um sistema de ensino que não leva em conta o saber dos alunos [...] nem professoras [...], e que reafirma o discurso cientifico como único conhecimento válido e verdadeiro (VALLA, 2000, p. 9899).
Não só na educação a valorização do biológico e do cientifico predominam,
a saúde também valoriza o conhecimento cientifico como forma de educar a
20
população, como se o individuo tendo conhecimento da ação dos microorganismos,
bastaria para evitar a doença, entendido como a capacidade do sistema imunológico
resistir ao ataque destes, quando o detrimento da saúde dependem de vários fatores
externos e internos, incluindose o acesso ao emprego, alimentação, saneamento e
lazer.
Pesquisas realizadas comprovam, que os profissionais de saúde e os
professores que conseguem entender a realidade vivenciada pelos alunos e
população, que valoriza seus saberes, tem maior facilidade para ensinar, sua “fala”
tem maior impacto e uma maior aceitação do profissional como orientador,
mediador.
Verificase que os encaminhamentos realizados pelas escolas aos serviços
de saúde, encontrase crianças rotuladas como excepcionais, muitas vezes
encaminhadas à psicólogos e psiquiatras, são na realidade crianças que fogem aos
padrões considerados normais na sociedade, mais atenção ou aulas mais
dinâmicas, pois não se ajustam aos padrões usados .Isto se reflete nas estatísticas
da saúde, criando demanda e espera para atendimento de seis à doze meses, para
estes especialistas. Enquanto isso as crianças permanecem na escola, sendo
rotuladas, discriminadas por colegas e professores.
Educar para a saúde é ajudar na busca da compreensão das raízes dos problemas e de suas soluções. Percebemos como que o saber popular, antes de ser um saber atrasado, é um saber bastante elaborado, com ricas estratégias de sobrevivência e com grande capacidade de explicar parte da realidade. Ao mesmo tempo esta cada vez mais claro que o saber dos cientistas e dos técnicos; esta encharcado dos interesses das classes dominantes, e ainda muito limitado para explicar toda a realidade. Assim, só cabe entender educação em saúde como uma educação baseada no dialogo, ou seja, na troca de saberes. Um intercambio entre o saber cientifico e o popular em que cada um tem muito a ensinar e a aprender. (VASCONCELOS, 1989, p.20).
O diálogo é o método ou ainda, a consciência que se manifesta pela voz e
reproduz sua intencionalidade.
Este diálogo deve ser critico libertador e transformador, tem que ser feito para e com os oprimidos, para que seja possível libertálos. Assim eles iam tomando consciência de como a boca é um órgão de expressão muito maior
21
do que pensamos e que em geral, temos pudor, preguiça de usar (FREIRE, 1996, p.45).
Disseminar verdades e regras de como viver bem são práticas comuns aos
profissionais de saúde e professores, que assim cumprem seu papel de reproduzir
/reafirmar o discurso político reforçando as injustiças e diminuído as possibilidades
de mudanças e de indignação da comunidade.
Peregrino citado por Valla (2000), buscando desvendar as dificuldades da
escola em descrever os saberes escolares questiona: a) porque o conhecimento
escolar esta sempre tão desconectado da realidade? b) Porque os conteúdos
presentes nos currículos tendem para a neutralidade e abstração? c) Qual o sentido
político dos currículos escolares?
Ao responder estas indagações, retrocede na história da humanidade,
destacando o surgimento das escolas como instituições voltadas ao ensinamento da
disciplina. As descobertas científicas, o avanço da economia capitalista, dos modos
de produção, da conquista por novos espaços e novos saberes, legitimamse no
período do Renascimento.
A escola e o professor devem ser instrumentos facilitadores, que auxiliam o
aluno a construir o conhecimento, que não seja um ouvinte sem historia, mas com
saberes significativos, que interferem na valorização da aprendizagem e, portanto,
buscando legitimar o conhecimento através desta instituição.
“Se a escola se configura como instituição de prescrição de saberes
moralizantes para a formação dos “novos homens” a ciência se institui como o
discurso e o instrumento desta produção” (VALLA, 2000, p.74).
Minayo (1989), refere que as instituições de saúde e de educação continuam
disseminando a proposta higienista, de valorização de hábitos saudáveis, de regras
e normas a serem observadas para a manutenção da saúde. Por meio desta
prescrição de normas acreditam estar cumprindo seu papel e realizando o processo
de educação em saúde. Aborda também as dificuldades que estas instituições tem
para apreender qual é a definição de saúde das populações que pretendem educar;
e que não se pode entender a saúde fora do contexto social em que foi construída.
22
Se a educação existe, é como um conjunto de condições partilhadas, como
pratica coletiva de decisões discutidas, como possibilidade de construção e
reconstrução continua da sociedade por seus membros, como vida comum que
avança, que não é contida, estancada, reprimida. Estas condições supõem não
somente novas propostas de educação para saúde, mas novas instituições de
educação e novas instituições de saúde, que partam de uma visão positiva de
saúde.
A conscientização dos profissionais é a base para a ação reflexiva, como diz
Freire, capazes de atuar e perceber, de saber e recriar o conhecimento e assim
inverter o que as instituições tem em sua prática, assim descrita abaixo:
Nós decidimos por eles aqueles conteúdos que eles devem saber. Ocorre ai que nós impedimos suas (deles) práticas de conhecimento. Roubamos autonomia ao processo deles de saber e aprender. E receitamos conteúdos que serão colocados sobre os corpos deles. Quando isto ocorre estamos reproduzindo a dominação sobre eles. Estaremos impondo nosso método de conhecimento por cima da inteligência deles. E fazemos pacotes. Transposição de ideologias; (FREIRE; NOGUEIRA,1983, p.26).
Ao se referir as instituições disciplinadoras dos saberes Valla (2000), se
refere à normatização e hierarquização dos saberes como caminho para atingirem a
legitimidade científica, que resultará no saber escolar, neutro, ascético, e sem
história, gerando na escola dificuldades de relacionar teoria e prática, saberes
científicos e processos sociais; ou a resistência de reconhecer e experimentar as
formas culturais da população, exijam primeiro da comunidade escolar descobrirse
cidadã.
Freire (1970), sustentou sua luta por uma educação libertadora, política, na
qual a constate troca de saberes entre educadoreducandos, possibilitasse a
libertação do primeiro e a atuação democrática do segundo, a fim de que os dois se
tornem agentes de mudanças na construção de uma sociedade mais justa e
democrática. No dia a dia da escola podemos observar que a formação de uma
população crítica, consciente da dominação e da necessidade de buscar novas
maneiras de aprender e ensinar na faz parte das discussões da comunidade escolar.
23
Segundo Freire (1996, p.19), “é muito importante quando se fala em
dominação pensarmos em três níveis: ideológicos, o societário, o político” o que
possibilita perceber a reprodução da sociedade de classes não apenas na
educação, mas também em outras instancias da sociedade civil. A disseminação do
poder entre as instancias da sociedade classista (especificamente a instancia
educacional), acentua a dissonância entre o que é proposto pela escola e o que é
vivido pela classe trabalhadora. Nesse embate a escola, justamente por ser palco
dessas lutas, que são de classes, apresentase conflituosa e contraditória, podendo
desempenhar um importante papel político na formação das camadas populares.
Acreditamos que uma proposta de educação publica voltada para os interesses da maioria da população brasileira não poderá ser construída por iniciativa desse Estado, cujas medidas governamentais, contrárias aos interesses e necessidades populares, denunciam o alto grau de comprometimento com a classe dominante do país. [...] Daí a importância de resgatar historicamente o processo de organização política de alguns segmentos, como a caminhada dos educadores e sua luta pela expansão e melhoria da educação pública (FREIRE; NOGUEIRA,1983, p.20).
A escola tem os elementos necessários para provocar as mudanças e
superar os limites externos e internos, das normas e dos pareceres, pois tem em
suas mãos o elemento principal para que estas modificações se realizem, o aluno. A
coragem de eliminar a neutralidade dos conteúdos, discutindo a realidade, os
problemas sociais, as formas de produção de saber popular, permitirão uma maior
aproximação com comunidade, com suas experiências, necessidades, possibilitando
maior clareza do caminho a ser percorrido pela escola para tornarse um local
significativo para a sociedade, espaço necessário para que as mudanças sociais que
se fazem urgentes realmente aconteçam e no qual os professores são a essência na
condução deste processo.
2.3 Projeto Político Pedagógico e Proposta Pedagógica Curricular
Muitas críticas são feitas à escola tradicional, considerada mera
transmissora de conteúdos prontos, acabados, estáticos e desconectados de suas
finalidades sociais. Porém, é importante lembrar que esta mesma escola é fruto do
24
momento histórico vivido. Ela participa de um contexto social e por sua vez reflete
este meio em que se encontra. Se por muito tempo a aprendizagem dos conteúdos
era requisito para tirar uma boa nota e ser promovido, hoje surge uma nova
dimensão a ser considerada: qual a finalidade social dos conteúdos escolares?
O Colégio Estadual Dario Vellozo ensino Fundamental Médio e Profissional,
quer fomentar identidade de trabalho integrado no qual professor e alunos são co
autores do processo de aprendizagem. Desafio para o mestre e ao mesmo tempo
para os discentes. Juntos terão que descobrir a finalidade social dos conteúdos
científicos culturais propostos pela escola.
Assim, o objetivo fundamental é que o conteúdo sistematizado, responda às
indagações e anseios dos alunos e do próprio professor, que passa a ser agente de
formação e transformação do meio em que vive.
Nesta nova perspectiva, o conteúdo de todas as áreas deverá ser trabalhado
de forma contextualizada e significativa a partir da realidade vivida pelos alunos e
comunidade. Portanto, cada fragmento do conhecimento só adquire sentido num
todo maior. E, o privilégio será o da contradição, da dúvida, do questionamento e
que se interroguem os “conhecimentos” advindos do senso comum.
Nesta escola encontrase em funcionamento quatro cursos de educação
profissional, sendo: Técnico em Enfermagem, Técnico em Agente Comunitário de
Saúde, Técnico em Cuidados com a Pessoa Idosa e Técnico em Segurança do
Trabalho, neste sentido, realizamos uma discussão na temática Diretrizes da
Educação Profissional: fundamentos políticos e pedagógicos (SEED, 2006).
O documento considera imprescindível, na formação continuada, a
atualização, o aprofundamento, a reflexão sobre a prática educativa, num processo
constante de autoavaliação e construção contínua de competências profissionais,
atendendo as necessidades de atuação. Como resultado, o recorte abaixo, foi
escolhido para integrar o PPP do Colégio.
O projeto de Educação Profissional que se consubstancia no compromisso
com a cidadania dos trabalhadores por meio da garantia da Educação Básica e
Profissional, pública e de qualidade, integrada às políticas de geração de emprego e
renda, que segue as seguintes etapas:
25
a) Como o processo de formação humana, a Educação Profissional se refere ao desenvolvimento da pessoa humana como integralidade, não podendo ficar restrita à dimensão lógicoformal ou às funções ocupacionais do trabalho; ela se dá ao entrecruzamento das competências cognitivas, comportamentais e psicomotoras que se desenvolvem por meio das dimensões pedagógicas das relações sociais e produtivas, com a finalidade de produzir as condições necessárias à existência;b) A Educação Profissional é um processo que se dá ao longo da vida, pela articulação das experiências e conhecimentos que são construídos ao longo das relações sociais e produtivas. A Educação Profissional, como qualificação social, não pode ser tomada como construção teórica acabada ou produto de ações individuais; por conseqüência, deve ser compreendida no âmbito das concepções de trabalhador coletivo e de educação continuada;c) O processo da Educação Profissional não é apenas racional; nele intervêm afetos e valores, percepções e intuições que, embora sejam fruto das experiências, inscrevemse nas emoções, ou seja, no campo do sentido, do irracional. Assim, o ato de conhecer resulta do desejo de conhecer, derivado de amplas e distintas motivações e é profundamente significativo e prazeroso como experiência humana; d) A Educação Profissional deve articular os conhecimentos oriundos da prática social (tácitos e populares) e conhecimento científicos, de modo a relacionar ciência, tecnologia, cultura e sociedade nos processo de construção e difusão do conhecimento;e) A Educação Profissional deve articular conhecimento básico e conhecimento específico a partir dos processos de trabalho e da prática social, concebidos como “lócus” de definição dos conteúdos que devem compor o programa e contemplar as diversas áreas cujos conhecimentos contribuem para a formação profissional e cidadã derivada do perfil profissional;f) A Educação profissional dele articular conhecimentos que permitam a participação no trabalho e nas relações sociais e privilegiar conteúdos demandados pelo exercício da ética e da cidadania, os quais se situam nos terrenos da economia, da política, da história, da filosofia, da ética, e assim por diante;g) A Educação Profissional deve articular conhecimentos do trabalho e conhecimentos das formas de gestão e organização do trabalho, de modo a preparar o aluno para a efetiva participação nas decisões relativas a processos e produtos e para a atuação competente nos espaços político e sindical;h) A Educação profissional deve articular conteúdo e método, de modo a contemplar os processos por meio dos quais o conhecimento a ser apropriado foi construído, promovendo ao mesmo tempo o domínio dos processos metodológicos e de seus produtos;i) A Educação Profissional deve articular os diferentes atores para a construção das propostas pedagógicas: professores, especialistas, empresários, trabalhadores, representantes do poder público e assim por diante (SEED, 2006, p. 3536).
Encontrase, no PPP (projeto político pedagógico) os seguintes projetos que
são desenvolvidos na escola, que em nossa avaliação, favorecem as relações que
se estabelece na vida cotidiana e com a temática de educação em saúde: Anti
26
Tabagismo; Xadrez: Festival de Danças e expressão corporal; Tênis de quadra;
Futsal; Basquetebol; Incentivo a leitura; Anti Furto; Sou Mais Dario: Escola
Iluminada; Ambiental; Resgate histórico do Colégio 40 anos; Incentivo a Leitura e
Concurso Literário; Prevenção de Gravidez na Adolescência (PPGA); Orientação
profissional. Por outro lado, desenvolvemse palestras e ações educativas de
promoção à saúde nos quatro bimestres do ano letivo, com temas variados.
Na tabela 4 podese visualizar os índices de adolescentes grávidas,
registrados na série histórica de gravidez na adolescência, segundo dados da 20ª
Regional de Saúde de Toledo, Estado do Paraná.
MUNICIPIO 2006 2007 2008 2009
NUM. % NUM. % NUM. % NUM %Assis Chat. 89 25,50 91 24 100 25 83 21
Diamante 30 37,90 22 34 19 27 23 28Entre Rios 6 11,50 11 23 11 21 12 22Guaíra 116 26,60 147 30 135 25 92 22Marechal C.R 84 18,40 104 18 109 19 85 15Maripá 8 15,30 7 14 12 21 9 17Mercedes 8 20 11 19 9 13 10 13Nova St. Rosa 26 25,40 12 13 19 20 19 19Ouro Verde 23 32,30 24 29 20 29 17 22Palotina 75 20,32 86 23 75 20 65 17Pato Bragado 9 16,36 9 17 18 22 10 17Quatro Pontes 7 17 6 20 3 8 5 20Santa Helena 93 28,90 64 21 80 23 63 21São José 8 26,60 14 34 18 37 14 27São Pedro 31 39,20 26 32 18 30 23 23Terra Roxa 64 29,90 32 16 56 8 39 18Toledo 374 24,30 309 21 341 22 253 16Tupãssi 32 30,40 23 22 30 26 5 8TOTAL 1082 23,10 999 22 1077 23 828 18
Tabela 4 Série histórica de gravidez na adolescênciaFonte: Setor de Epidemiologia 20a Regional de Saúde, 2009.
A busca de parcerias entre áreas afins é um dos meios utilizados no
município de Toledo no Estado do Paraná, para amenizar algumas expressões da
questão social, como por exemplo, a gravidez na adolescência. Observase que a
taxa de nascidos vivos de mães adolescentes tem tido uma leve redução, porém
com poucas variações ano a ano. Acreditamos que esta redução está relacionada
ao Programa de Prevenção da Gravidez na Adolescência (PPGA), implantado
27
oficialmente a partir de 2002, no município de Toledo. Este programa é desenvolvido
em parceria com o Núcleo Regional de Educação, 20ª Regional de Saúde,
Secretaria Municipal de Saúde e Ecoclube Cidadão Ambiental, onde os
adolescentes são os protagonistas. Esse programa visa o acompanhamento dos
adolescentes em escolas e grupos de convivência, que se tornarão facilitadores em
informação sobre prevenção da gravidez na adolescência, não abordando assuntos
apenas relativos à prevenção da gravidez, mas também sobre conceitos e valores
relativos à vida. Num constante vigiar epidemiológico do planejamento familiar,
saúde reprodutiva e gestação de alto risco. O Projeto de Formação de Facilitadores
em Informação sobre Prevenção da Gravidez na Adolescência tem influenciado a
compreensão entre os alunos facilitadores do programa a intensificar possíveis
dificuldades para o repasse dessas informações (NRE e 20ª REGIONAL DE
SAÚDE, 2009).
Considerase que muitas ações devem ser repensadas, que novas ações
devem ser incluídas, outras excluídas, ou seja, é um processo dinâmico que exige
uma postura de transformar, de experimentar, e principalmente de acreditar que é
possível diferenciar e melhorar a educação em nosso país. As estruturas
pedagógicas referemse, fundamentalmente às interações políticas, às questões do
ensinoaprendizagem e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluemse
todos os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho educacional.
Constatouse que os conteúdos de saúde estão presentes nas disciplinas de
Ciências/ Biologia e Educação Física, as demais disciplinas do núcleo comum
abordam o tema esporadicamente. No entanto, nas disciplinas da Educação
Profissional nos cursos técnicos do eixo tecnológico: Ambiente, Saúde e Segurança,
Enfermagem, Cuidados com a Pessoa Idosa, Agente comunitário de Saúde e
Segurança do Trabalho, de acordo com análise das ementas o tema saúde aparece
nas disciplinas específicas. Assim, ações de promoção da saúde ocorrem no
ambiente escolar com os alunos da educação profissional, possibilitando aos
educandos maior integração na comunidade escolar, fazendo a interação com
colegas, professores e comunidade.
28
A disciplina de Ciências aborda mais as questões do meio ambiente, do
universo, somente na 7ª série é que os conteúdos são voltados para o
desenvolvimento e as transformações que estão ocorrendo nesta fase da vida dos
alunos. Na disciplina de educação física é que as questões de saúde são abordadas
com maior freqüência. As demais disciplinas só abordam o tema de forma pontual,
esporádica, faltando à concretização da interdisciplinaridade colocada como o
integrador dos temas transversais.
Atividades Pedagógicas de Complementação Curricular ocorrem como o
projeto FERA e Com Ciência os quais são da SEED, o primeiro voltado as
manifestações regionais de artes, danças e cultura e o segundo para participação
dos alunos em experiências nas áreas de ciências, geografia, química e matemática.
Diante das Diretrizes Curriculares da Educação, e da Organização das
Propostas Pedagógicas; que integram o Sistema Estadual de Ensino, os
estabelecimentos de ensino devem ofertar uma educação integral visando o
desenvolvimento integral do aluno, nos aspectos emocionais, físicos, psicológicos,
intelectuais e sociais, complementada com ações na família e na comunidade,
considerando o adolescente como um ser íntegro em desenvolvimento e levando em
consideração a diversidade social e cultural da sociedade.
Buscase, em especial, a (re) construção dos saberes profissionais a partir
das necessidades de revisão dos currículos, articulados às novas tendências da
formação tecnológica.
29
3 Conclusão
A função docente exige do professor uma série de condutas que o farão
reconhecido como alguém que transforma o seu saber e o seu poder em recursos
para o bem da coletividade com que trabalha, fazendo bem o que lhe compete.
Exige, além disso, determinadas virtudes, qualidades, que poderão auxiliálo no dia
adia, como a humanidade, a curiosidade, a coragem, a capacidade de decidir e de
colocar limites, comprometendose na busca dos objetivos a que se propõe.
Do ponto de vista ético, é fundamental que, ao planejar atividades que serão
trabalhadas com os alunos, os professores selecionem conteúdos que explicitem e
despertem a curiosidade pelas diferentes formas de organização social e cultural
existentes no mundo e pelos diferentes valores que sustentam o convívio, na escola
e fora dela.
O professor e os adultos que convivem com o aluno na escola precisam
estar atentos, especialmente para os aspectos que envolvem as relações pessoais
no interior do processo de ensinoaprendizagem. A atenção, a afeição, a amizade, o
distanciamento e a omissão contribuem para a formação de atitudes desejáveis ou
não. Ao longo de sua vivência na escola, o aluno desenvolve uma série de idéias
sobre o papel dos adultos, posicionandose frente a esse papel de acordo com as
respostas que recebe nas diversas situações. O comportamento dos adultos
funciona, muitas vezes, como modelo, afirmado ou negado pelos alunos. Se o
objetivo do trabalho com o tema transversal Ética é a formação de atitudes de bem
viver em comunidade, é importante que haja uma atenção especial com a qualidade
das relações que se pretende viver na escola.
30
Quando a escola assume o projeto e o inclui na sua proposta pedagógica, a
responsabilidade passa a ser de todos e não apenas de uma pequena equipe que
se dedica ao tema. E aí é possível obter o apoio necessário da direção e do corpo
docente para que a escola fale a mesma linguagem e compartilhe de uma visão
comum sobre a sexualidade humana. Afinal, trabalhar o corpo erótico e reprodutivo
visando ao legítimo direito ao prazer, à busca de relações de gênero com eqüidade,
à prevenção da gravidez na adolescência e à prevenção das doenças sexualmente
transmissíveis/AIDS, tem que ser propostas da escola como um todo, não de um ou
outro professor.
A construção da integração entre escola e a comunidade auxiliam na
descompartimentalização das disciplinas no dia a dia da escola, fomentando nos
alunos o desejo de transformar as informações que recebem em conhecimento
aplicável. Quanto aos professores, à necessidade de resgatar o sentido humano, de
valorização da vida e do saber do outro, de trabalhar os conteúdos de modo
interdisciplinar, auxilia na integração das várias disciplinas e suas interfaces
facilitando a formação de uma visão estratégica para desenvolver este projeto.
Os docentes pouco conseguiram avançar na superação da visão moralista,
repressiva e biologista, o que se consolida pela formação inadequada dos docentes
para abordarem esse tema tão necessário como à educação sexual especialmente
em tempos de globalização, e de avalanche precoce, banal e hedonista do sexo,
especialmente difundida pela internet e pela mídia.
Considerouse também a necessidade de romper a dissociação da
sexualidade apenas aos seus aspectos negativos como as informações referentes
às práticas preventivas de DSTs, gravidez não planejada, ao pecado ou como um
desejo vergonhoso, que precisa ser profundamente controlado, silenciado, pois, ao
silenciar o prazer, a potencialidade afetiva e de realização plena, de relacionamento
com o outro, do encontro, a escola e a sociedade reforçam uma sexualidade
procriativa, utilitarista, banal e consumista. Nesse sentido, a sexualidade é
aprendida em todas as interações da criança, do adolescente e do adulto com a sua
cultura. Não é possível tratar a sexualidade como uma matéria escolar ou uma
disciplina através da qual o sujeito aprende a ser homem, mulher, bissexual ou
31
homossexual; aprende a reproduzir; aprende a amar; ou aprende a relacionarse
com pessoas que lhe complementarão sexualmente.
A educação sexual ocorre desde quando o indivíduo nasce e continua
sofrendo influência de outras instituições, como, por exemplo, a escola. Na escola,
essa educação não se processa somente nas salas de aula. Todos/as os/as
profissionais da escola são educadores/as em suas respectivas funções.
No contexto escolar, o indivíduo sentirseá bem e aberto à aprendizagem,
no momento em que o clima emocional da Escola se manifesta com: boa qualidade,
respeito mútuo, se respirar liberdade, se o relacionamento for marcado pela
amizade/amor, quando se compreender que o ser humano é único. Entendese que
esta intervenção pedagógica pressupõe além de disposição pessoal, um espírito
investigativo que busque chegar até os valores que envolvem a Sexualidade e
Educação Sexual.
Ressaltase que é preciso fazer um trabalho pedagógico nas escolas para
reduzir os índices de gravidez na adolescência e de doenças sexualmente
transmissíveis (DST). “De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde cerca de
20% das crianças nascidas vivas, no Paraná, são filhas/os de mães adolescentes,
em idade escolar. Além disso, o número de casos de Aids tem se concentrado mais
nas mulheres jovens”.
Neste sentido, a educação em saúde é uma estratégia fundamental para a
prevenção e promoção da saúde, visando atuar sobre o conhecimento das pessoas,
para que elas desenvolvam a capacidade de intervenção sobre suas vidas e sobre o
ambiente, criando condições para sua própria existência.
Como docente do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE, a
atuação na formação de educadores na temática educação, Saúde e sexualidade,
utilizandose das oficinas pedagógicas como instrumento de ação/reflexão/ação,
possibilitoume contextualizar o trabalho pedagógico e revitalizar os vínculos de
amizade, respeito e solidariedade entre os profissionais da educação e comunidade
escolar.
Estudos mais especializados devem ser desenvolvidos para acompanhar o
trabalho do professor, bem como repensar estratégias de capacitação profissional,
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no sentido de preparálos técnica e politicamente para a sua função e vislumbrar
novos caminhos para a Educação Sexual que possibilitem ao educando construir
sua identidade em meio à crise de valores éticos que a sociedade globalizada e
tecnológica vem sofrendo.
Referências
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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO
DEPARTAMENTO DE POLÍTICASE PROGRAMAS EDUCACIONAIS
COORDENAÇÃO ESTADUAL PDE – PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL
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OFICINAS PEDAGÓGICAS: CONSTRUINDO ESTRATÉGIA PARA AÇÃO INTERDISCIPLINAR
PROFESSORA PDE: ROSMARI GATTO
ORIENTADORA: IES Msc. SOLÂNIA DURMAN
Cascavel
2011
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