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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2008 Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1 Cadernos PDE VOLUME I

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-039-1Cadernos PDE

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ARTIGO

Leitura de charges: uma análise interpretativa

Ivete Cecere Gueno

Professora PDE 2008

Resumo

O projeto Leitura e interpretação de charges, desenvolvido para o PDE 2008,

teve como objetivo orientar o professor na ação e interação com o aluno a fim

de torná-lo habilitado a compreender, analisar e interpretar charges. A forma

como os alunos são orientados e avaliados pelos professores em suas

análises pode ser otimizada por meio de ações que incentivem a

sistematização dessa prática. A partir do levantamento de dados acerca da

apresentação de charges nos livros didáticos e da investigação sobre como os

professores desenvolvem essa atividade, buscamos, por meio do projeto,

desenvolver a capacidade de interpretação de charges por alunos do Ensino

Médio. Especificamente, propusemos uma metodologia de orientação e uma

metodologia de avaliação das análises com atividades práticas, enfocando as

inferências que os alunos fazem, levando em conta seu conhecimento de

mundo. Como implementação do projeto, essa metodologia foi apresentada

aos alunos de 2º ano do Ensino Médio do Colégio Estadual Luiz Sebastião

Baldo, em Colombo - PR, que realizaram atividades de compreensão e análise

de charges. Todo o processo foi acompanhado pela professora pesquisadora

do PDE, que avaliou os alunos, assim como as atividades propostas. Todos os

dados, após aplicação, foram elencados em uma produção científica na forma

de Artigo Final que discute a pertinência da proposta, contribuindo assim para

o aperfeiçoamento da capacidade de compreensão de charges em Língua

Portuguesa.

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Palavras – chave: Charge. Educação. Escola pública. Interpretação.

Abstract

The project Reading and interpretation of the cartoon developed for the PDE in

2008, had to show how objective the way the teachers in the action and

interaction with the student purpose make him able to understand, to analyze

and to interpret cartoons. The way students are guided and evaluated by

teachers in their analysis can be optimized through actions that encourage

systematization of this practice. From the survey data on the presentation of

cartoons in textbooks and research on how teachers develop this activity, we

sought, through the project, develop the ability to interpret cartoons by high

school students. Specifically, we proposed a methodology to guide and an

evaluation methodology of the analysis with practical activities, focusing on the

inferences that students make, taking into account their knowledge of the

world. As project implementation, this methodology was presented to the

students of 2nd year of High School State College Luiz Sebastião Baldo,

Colombo - PR, who carried out activities of understanding and analysis of

charges. The whole process was accompanied by the teacher researcher PDE,

which assessed the students, as well as the proposed activities. All data, after

application, were listed in a scientific way to the final article that discusses the

relevance of the proposal, thus contributing to improving the ability to

understand charges in Portuguese.

Key words: Cartoon. Education. Public school. Interpretation.

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Introdução

Ao observar a dificuldade dos alunos em analisarem charges no Ensino

Médio, procurou-se em livros de Ensino Fundamental algumas charges e o

trabalho proposto pelos seus autores para análise. Percebeu-se que o humor e

a comicidade da charge são raramente abordados na interpretação, as

questões mais corriqueiras são as de cunho ilustrativo e gramatical, não

levando o aluno a fazerem uma análise mais profunda da charge.

Os textos imagéticos estão sendo cada vez mais solicitados em testes e

concursos, o que reforça a intenção de se orientar os alunos do Ensino Médio

da Escola Pública a se habituarem a este tipo de leitura, e levá-los a

compreender, analisar e interpretar outras linguagens que não estritamente

verbal. Objetiva-se, então, preparar os alunos de Ensino Médio para que

analisem charges e realizem as inferências necessárias para sua

compreensão, partindo de seu conhecimento de mundo, suas leituras e pré-

conceitos.

Para tal análise, o aluno deve observar detalhes da charge para que ela

possa ser compreendida e para que a interpretação se realize. “Cada elemento

do texto deve ser interpretado em razão do todo.” (JOUVE, 2002, p. 93).

A charge é um tipo de texto atraente para os jovens e adolescentes,

mas se faz necessário um trabalho de compreensão para que sua curiosidade

a respeito de textos imagéticos seja sanada, e eles possam interpretá-las.

Percebemos que os jovens e os adolescentes são costumeiramente rotulados

de não-leitores, a respeito disso Chartier (1945, p.104) afirma que “eles leem

coisas diferentes daquilo que o cânone escolar define como uma leitura

legítima.”.

Como a leitura é procedimento básico indispensável à aprendizagem,

em todas as disciplinas e níveis de escolaridade, percebemos a importância de

que esta seja concebida como um processo de interação, no qual sujeito, texto

e leitor estabelecem um diálogo, em que, especialmente, entram em jogo os

conhecimentos de mundo que o leitor já possui. Considerando-se que no

âmbito escolar a leitura tem sido trabalhada como simples decodificação, vê-se

a necessidade de tratá-la como prática significativa no processo de

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aprendizagem, bem como a leitura interpretativa de charge, objeto desta

pesquisa.

Os alunos de Ensino Médio demonstram dificuldade em interpretar as

charges E observamos que na grande maioria dos concursos públicos e

vestibulares essa leitura e análise é solicitada, o que justifica parte do

interesse por este de trabalho. Conforme afirma Rojo (2004, p. 31):

“Compreender e produzir textos não se restringe ao

trato do verbal (oral ou escrito), mas à capacidade

de colocar-se em relação às diversas modalidades

de linguagem – oral, escrita, imagem, imagem em

movimento, gráficos, infográficos – para delas tirar

sentido. Esta é uma das principais dificuldade dos

alunos[...] apontada nos diversos exames e

avaliações.” (apud PARANÁ, 2006, p.22).

Outro motivo que vem à tona é a grande quantidade de textos

imagéticos presentes no dia-a-dia (na Internet, em jornais e revistas), que

fazem com que o adolescente necessite interpretá-los adequadamente para

que sejam entendidos.

Desenvolvimento

A dificuldade que os alunos demonstram em analisar charges foi o

motivo inicial para a elaboração deste projeto. Analisamos alguns livros do

Ensino Fundamental - EF e percebemos que as charges apresentadas nada

tinham de análise sobre seu humor, ela era utilizada para trabalhar a gramática

e/ou para ilustrar algum texto. Com isso a maioria dos alunos chega a

frequentar o Ensino Médio - EM e não conseguem analisar charges como

material cômico. Consideramos também que este aluno prestará concursos

(vestibulares e outros), onde este tipo de texto é bastante presente.

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Outro motivo que vem à tona é a grande quantidade de textos

imagéticos presentes no dia-a-dia (na Internet, em jornais e revistas), que

fazem com que o adolescente necessite interpretá-los adequadamente para

que sejam entendidos.

Objetivamos com o projeto, preparar os alunos de Ensino Médio para

que analisem charges e realizem as inferências necessárias para sua

compreensão, partindo de seu conhecimento de mundo, suas leituras e pré-

conceitos.

Centramos nosso interesse na possibilidade de interpretar o

efeito humorístico das charges a partir da ambiguidade na/da língua, pois é

através da ambiguidade que se instaura a imprevisibilidade do sentido e a

possibilidade de subvertermos o sentido instituído. Desse modo observamos

na cadeia do significante como se dá o jogo com as palavras, como irrompe o

real dos sentidos nesse tipo de discurso.

Acreditamos ser o discurso humorístico um meio através do qual os

sentidos - que não podem ou não devem ser ditos - são burlados. A linguagem

é vista aqui não em sua evidência, mas em sua opacidade. Isso implica

dizermos que estratégias discursivas presentes nas charges podem colocar

em cena deslocamentos de sentidos e podem fazer emergir sentidos outros,

servindo-se das possibilidades já inscritas na própria língua.

Para compreender uma charge, é preciso que o leitor “mova-se” de

certa forma no texto, já que as charges operam com sentidos indiretos,

algumas vezes implícitos.

Segundo Jouve, “A leitura é uma atividade complexa, plural, que se

desenvolve em várias direções.” (2002, p.17). Esta afirmação nos traz um

elemento bastante relevante: o conhecimento de mundo do leitor: deve-se

levar em consideração que o leitor, no ato da leitura, utiliza o raciocínio, faz

inferências, recorre a emoções na compreensão do texto lido. Ainda conforme

o autor: “Mais do que um modo de leitura peculiar, parece que o engajamento

afetivo é de fato um componente essencial da leitura em geral”. (p. 21).

As primeiras ações realizadas para este projeto se deram com a

observação das charges (e cartuns) nos livros didáticos de Ensino

Fundamental de 5ª a 8ª série. Foram tomados como exemplos: coleção “Novo

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Diálogo”, FTD, 2006; coleção “Português: linguagens”, Atual, 2006; “Projeto

Araribá”, Moderna, 2006; Coleção “Português, ideias e linguagens”, Saraiva,

2007; coleção “Entre palavras”, FTD, 2002. Os livros observados nos

apresentam charges somente como ilustração, sem uma análise que leve o

aluno à sua interpretação.

Foi realizada, também, uma investigação em sala de 2º ano do Ensino

Médio para se verificar o nível de entendimento de charges por parte dos

alunos. Observamos que realmente há, por parte deles, dificuldade em fazer

análise interpretativa. Esta investigação foi realizada em forma de questionário

escrito.

Conforme as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para Língua

Portuguesa,

Ler é familiarizar-se com diferentes textos

produzidos em diferentes práticas sociais – notícias,

crônicas, piadas, poemas, artigos científicos,

ensaios, reportagens, propagandas, informações,

charges, romances, contos etc. – percebendo em

cada texto a presença de um sujeito, de um

interesse (PARANÁ, 2006, p. 31) (grifo nosso).

Segundo as mesmas Diretrizes, o professor dever propor textos

variados para leitura, não se deter somente ao livro didático, a fim de

desenvolver a subjetividade dos alunos.

No processo de leitura, a escola não pode deixar de lado as linguagens não-

verbais. A leitura de imagens, [...] figuras que povoam com intensidade

crescente nosso universo cotidiano, deve contemplar o multiletramento

mencionado na fundamentação teórica destas Diretrizes. (idem, p. 32).

Estudando o funcionamento das charges, considerando o real da língua,

permitimos ao aluno trabalhar com uma concepção de sujeito, discurso e

língua. Uma imagem pode ser lida e interpretada e o autor desse texto

imagético sugere (e muitas vezes revela) uma intenção específica. “Quando

falamos de texto, identificamos um uso da linguagem (verbal ou não-verbal)

que tem significado, unidade e intenção”. (ABAURRE, 2003, p.282).

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Comicidade

Para fundamentar o presente projeto devemos, antes de tudo, observar

que a percepção da comicidade e do humor é ponto principal para a

compreensão de uma charge, já que a mesma tem o objetivo de provocar o

riso por meio de uma crítica mordaz, irônica, satírica e, principalmente,

humorística de um fato ou acontecimento específico, em geral de natureza

política. Somente os que conhecem esses fatos ou acontecimentos específicos

entendem a charge.

Bergson (2001, p. 97) nos revela que “A linguagem só obtém efeitos

risíveis porque é uma obra humana, modelada com a máxima exatidão

possível pelas formas do espírito humano.” A partir desta observação levamos

em conta que somente o ser humano é capaz de rir e de fazer rir. Os objetos,

os animais, as paisagens nos causam riso porque foram modificados pela

ação do homem (idem). A análise de charges é um trabalho atraente porque

nos leva a analisar também a alma humana; a capacidade de criar/recriar, em

imagens e letras, episódios que nos fazem rir, (episódios vividos por

personagens reais da sociedade). “Para compreender o riso, é preciso colocá-

lo em seu meio natural, que é a sociedade; é preciso, sobretudo, determinar

sua função útil, que é uma função social.” (op.cit. p. 6).

Na linguagem percebemos frases prontas e estereotipadas que levam

ao humor, essas frases utilizadas conjuntamente com imagens cômicas dá

origem à charge. A charge é uma forma de comunicação condensada com

muitas informações, cujo entendimento depende de um conjunto de dados e

fatos contemporâneos ao momento específico em que estabelece a relação

discursiva entre o produtor e o receptor. A comédia está mais perto da vida

real que o drama, se compararmos a uma peça de teatro. Os vícios de caráter

humano são risíveis; a partir destes vícios tira-se a comicidade. Por isso, nas

charges, são destacados os vícios de caráter das personagens. E aí reside o

humor.

Ainda em Bergson (p. 109) vemos que é preciso estar sempre atento

porque a distração é motivo de riso. A humilhação é muito temida e o riso é

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sempre um pouco humilhante para quem é seu objeto. Assim, segundo o

autor, a comicidade:

Deverá ser profunda, para fornecer à comédia um

alimento duradouro, mas também superficial, para

permanecer o tom de comédia, invisível para

quem a possui, pois a comicidade é inconsciente,

visível para o restante do mundo a fim de

provocar o riso universal, cheia de indulgência

para consigo mesma a fim de ostentar-se sem

escrúpulo, constrangedora para os outros a fim de

que eles a reprimam sem piedade... (idem. p.

128).

Leitura e Interpretação

Não podemos nos esquecer de que analisar charge é fazer leitura e,

para o senso comum, realizar a leitura é somente entender um texto escrito.

De acordo com essa ótica, a escola, por muito tempo, opera com a concepção

de que ‘ler é decodificar a escrita’, e essa concepção ainda se faz presente em

vários métodos escolares de ensino da leitura. “Se o ato de ler não é mera

decodificação de um sistema de sinais (escrito, desenhado, esculpido em

pedra, imagem e movimento), não basta uma análise formal do código em que

foi cifrado para torná-lo legível.” (YUNES, 2002, p. 20). Se o aluno faz uma

interpretação do que leu, compreende o texto, então ele é um leitor, e não um

ledor.

Sob este mesmo ponto de vista, vemos em Jouve (2002, p. 17) que:

A leitura é antes de mais nada um ato concreto,

observável, que recorre faculdades definidas do

ser humano. (...) Ler é, anteriormente a qualquer

análise do conteúdo, uma operação de

percepção, de identificação e de memorização

dos signos.

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Então, realizar a leitura é um ato de raciocínio. “A leitura solicita uma

competência. O texto coloca em jogo um saber mínimo que o leitor deve

possuir se quiser prosseguir a leitura” (JOUVE, 2002, p.19). Com estes

saberes mínimos (como conhecimento do alfabeto, da gramática, das

estruturas lexicais), o leitor faz suas inferências, tirando sentido da leitura de

acordo com seu contexto cultural, seu meio e sua época. (idem, p. 22). “Sob

este aspecto, o leitor desempenha papel relevante no conjunto de suas idéias,

pertencendo de direito ao campo intelectual...”. (ZILBERMAN, 1989, p.18).

Segundo Jouve, “A leitura é uma atividade complexa, plural, que se

desenvolve em várias direções.” (2002, p.17). Esta afirmação nos traz um

elemento bastante relevante: o conhecimento de mundo do leitor: deve-se

levar em consideração que o leitor, no ato da leitura, utiliza o raciocínio, faz

inferências, recorre a emoções na compreensão do texto lido. Ainda conforme

o autor: “Mais do que um modo de leitura peculiar, parece que o engajamento

afetivo é de fato um componente essencial da leitura em geral”. (p. 21).

Citando Hans Robert Jauss, Zilberman (1989, p. 38) afirma que “a literatura

pré-forma a compreensão de mundo do leitor, repercutindo então em seu

comportamento social.”. Este comportamento social é refletido pelas leituras

que faz. A leitura amplia os horizontes, aguça a sensibilidade, ativa o cérebro,

faz o sujeito tomar partido, fazer escolhas. O aluno que trabalha com a

literatura é mais ágil e “constrói mundos com as referências que cria.

Descobrindo, portanto, que com a linguagem podemos fazer muitas coisas,

afetar, de modo efetivo, muitos sujeitos e a história.” (YUNES, 2002, p. 26).

A compreensão de charges faz com que o aluno se torne crítico e

“construa mundos”. “Sem a linguagem, não nos constituímos sujeitos [...]. Estar

na linguagem é estar significando e sendo significado.”. (YUNES, 2002, p.

107).

Os sistemas de educação sabem da dificuldade de se interpretar um

texto, por isso torna-se necessário incentivar um método de leitura e análise

que leve o aluno a essa interpretação.

Desde a Antiguidade, o ensino, consciente das dificuldades colocadas

pela interpretação dos textos, afirma a necessidade de se fundamentar num

método de leitura. (JOUVE, 2002, p. 89).

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O aluno deve observar detalhes da charge para que ela possa ser

compreendida e para que a interpretação se realize. “Cada elemento do texto

deve ser interpretado em razão do todo.” (idem, p.93).

Estética da Recepção

O conhecimento de mundo e as experiências do leitor influenciam na

compreensão de um texto. “Kleiman (2000) destaca a importância, na leitura,

das experiências, dos conhecimentos prévios do leitor, que lhe permite fazer

previsões e inferências sobre o texto.” (PARANÁ, 2006, p. 25). O leitor constrói

o significado do texto, partindo de seu conhecimento de mundo. “É o

recebedor que transforma a obra, até então mero artefato, em objeto estético,

ao decodificar os significados transmitidos por ela.”. (ZILBERMAN, 1989, p.21).

Assim a obra se concretiza, segundo as palavras de L. Vodicka: a

concretização depende antes do código introjetado pelo recebedor, sendo,

pois, uma categoria semiótica e estando sujeita a mudanças, por variar entre

épocas, classes, situações diferentes. (apud Zilberman, 1989, p. 23)

Com o conhecimento prévio, o leitor faz suas inferências para

compreender o texto e interpretá-lo: Todas as vezes que o leitor se defrontar

com trechos que lhe apresentem indefinições e o instiguem ao confronto com

suas certezas, todas as vezes em que o leitor se deparar com fatos obscuros à

sua compreensão ou inalcançáveis à sua lembrança, todas as vezes em que o

leitor se perturbar com informações que o remetam ao mal-estar do

desconhecimento, certamente ele procurará dinamizar o seu acervo pessoal,

institucional ou social, acionando seu próprio repertório para que este possa

interagir com o repertório do texto e assim seja capaz de decidir sobre a

validade das convenções e formular suas respostas. (LIMA, apud YUNES

2002, p. 77)

Para poder fazer essas inferências e acionar seu repertório pessoal na

compreensão de um texto, o leitor tem o papel de receptor. Sobre a estética da

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recepção Jauss afirma que “cada leitor pode reagir individualmente a um texto,

mas a recepção é um fato social – uma medida comum localizada entre essas

reações particulares.” (ZILBERMAN, 1989, p.34).

A charge é um tipo de texto atraente para os jovens e adolescentes,

mas se faz necessário um trabalho de compreensão para que sua curiosidade

a respeito de textos imagéticos seja sanada, e eles possam interpretá-las.

Percebemos que os jovens e os adolescentes são costumeiramente rotulados

de não-leitores, a respeito disso Chartier (1945, p.104) afirma que “eles leem

coisas diferentes daquilo que o cânone escolar define como uma leitura

legítima.”.

Jouve declara que:

“Nem todas as leituras, portanto, são legítimas.

Existe de fato, como nota Eco, uma diferença

essencial entre ‘utilizar’ um texto (desnaturá-lo) e

‘interpretar’ um texto (aceitar o tipo de leitura que ele

programa)”. (2002, p. 27).

Sob este mesmo prisma Jouve nos fala sobre a leitura “inocente”, que é

a primeira leitura, despreocupada, onde o leitor acompanha o desenvolvimento

do livro com algumas suposições sobre seu enredo. O trabalho com charges

revela esse aspecto da leitura inocente. “A dimensão lúdica do texto deve

muito à leitura inocente.” (JOUVE, 2002, p.29).

Estes mesmos jovens e adolescentes rotulados de não-leitores são

postos à margem da alfabetização, conforme Yunes: Assim é que os

marginalizados da alfabetização se sentem não-leitores quando, em verdade,

sua potencialidade de leitura é exercida (ou não) de acordo com o imaginário

instituído em que se sentem inseridos. Dizendo de outro modo: resgatar a

capacidade leitora dos indivíduos significa restituir-lhes a capacidade de

pensar e de se expressar cada vez mais adequadamente em sua relação

social, desobstruindo o processo de construção de sua cidadania que se dá

pela constituição do sujeito, isto é, fortalecendo o espírito crítico. (2002, p. 54).

É interessante observar que cada texto tem seu público específico,

pelos temas que aborda e pela linguagem que usa – uma obra de crítica

literária não será destinada a um público infantil. Se é interessante considerar

esses públicos reconhecidos é porque toda leitura de um texto é

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disfarçadamente atravessada por leituras anteriores que foram feitas dele.

(JOUVE, 2002, p. 37).

Isso significa que todo texto que já foi interpretado por alguém recebe

influências dessa interpretação posteriormente, quando será lido por outra

pessoa. O leitor deve se colocar no mundo da história lida, participar desse

contexto. Regina Zilberman (1989, p. 66 – 69) nos esclarece que, para se fazer

uma leitura nos moldes da Estética da Recepção, existem três passos

fundamentais: compreensão, interpretação e aplicação. A compreensão é o

ponto de partida da leitura. O primeiro passo é fazer uma leitura compreensiva,

onde se responde às perguntas sobre o texto. O segundo momento é uma

leitura retrospectiva – aí se dá a interpretação. Na leitura retrospectiva volta-se

do fim para o começo ou do todo ao particular. O terceiro momento é o da

leitura histórica. Nesta leitura remete-se à época em que a obra foi produzida e

a recepção de que foi alvo. “A etapa da aplicação é indispensável, porque

durante a leitura reconstrutiva o intérprete verifica seu lugar na cadeia

temporal.” (ZILBERMAN, 1989, p. 69).

O que é charge:

Devemos, antes de qualquer coisa, definir (ou tentar definir) o que é

charge:

O dicionário Aurélio apresenta a seguinte definição: “Charge –

representação pictórica de caráter burlesco e caricatural em que se satiriza um

fato específico, em geral de caráter político e que é do conhecimento público.”.

Porém, há certa confusão entre charge e caricatura. Nós chegamos a

estas definições:

• Charge (do francês Charge): desenho humorístico, com ou sem

legenda e balões, geralmente veiculado pela imprensa e tendo por tema

algum acontecimento atual que critica, por meio de caricatura, uma ou

mais personagens envolvidas. (Dicionário eletrônico de Língua

Portuguesa).

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• Caricatura: desenho de pessoa ou de fato que, pelas deformações

obtidas por um traço cheio de exageros, se apresenta como forma de

expressão grotesca e cômica.

O cartunista Laerte diz que “A precisão desses termos nunca é muito

completa. A melhor definição que já vi é a de que charge é um cartum editorial.

E cartum é um desenho de humor”.

Como a charge retrata um assunto atual, os chargistas devem estar

sempre sintonizados com os acontecimentos para criar suas obras. E o leitor,

por sua vez, também deve estar a par dos acontecimentos históricos, sociais,

políticos para que possa interpretar adequadamente uma charge.

O premiado chargista Angeli avalia: “Fico me desafiando o tempo todo em

como transformar o assunto do dia ou da semana em algo mais elástico no

tempo.”.

A história da charge:

As charges surgiram no Brasil, aproximadamente, em meados do século

XIX com a chegada dos imigrantes europeus – pintores, arquitetos,

desenhistas.

A rigor, os desenhos de humor desses pioneiros não se parecem com

as charges tal como as conhecemos hoje, já que se tornaram produtos

singulares e sua forma e seu conteúdo foram amadurecendo.

No final da Monarquia, o desenvolvimento da charge se caracteriza por

adicionar humor à crítica, por radical oposição à política imperial, tendo como

alvo as crises institucionais da segunda metade do século XIX. De 1865 a

1895 circularam no Rio de Janeiro mais de sessenta revistas ilustradas com

HQ's, que permanecem ignoradas no exterior e esquecidas aqui.

O italiano Ângelo Agostini foi o principal chargista da Monarquia

brasileira. Suas charges confirmam que sua função não é, prioritariamente,

fazer rir, mas produzir reflexão. Ele alinhou a charge com um projeto político

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consistente, transformando-a num veículo de conscientização numa sociedade

que carecia de canais próprios de expressão e representação.

Consideramos que a charge consegue fincar raízes entre nós por dois

motivos principais:

• Elege a política como objeto privilegiado para a expressão de

sua forma e manifestação de seu conteúdo.

• Em consequência, a eficácia de seu discurso está organicamente

ligada à sociedade na qual se insere.

A charge nos jornais:

A charge vem ocupando um espaço cada vez mais significativo na

mídia impressa. Colocada tradicionalmente em página nobre nos principais

jornais, vem ampliando seu campo de atuação.

Enquanto intertexto dialoga com outros textos verbais (artigos,

reportagens) e não-verbais (fotos, outras charges), produzindo sentidos

capazes de enriquecer e/ou subverter o fato evocado. Como apenas evoca o

significado, a compreensão da charge depende da pertinência do autor e do

leitor na construção e reconstrução do significado. Como texto humorístico,

joga com a ambiguidade da linguagem, com o absurdo da situação e até com

a ilogicidade. Obriga o leitor a realizar associações, buscando informações

extra-textuais. Pressupõe um leitor constante que reconheça nas caricaturas

os sujeitos evocados e, no traço sintético, os fatos ocorridos, capaz de

estabelecer relações e realizar inferências para chegar ao sentido.

Nesse ponto o papel do professor de Língua Portuguesa é de

fundamental importância no sentido de auxiliar o aluno a interpretar este tipo

de texto.

Atualmente o chargista encontrou uma maneira original de produzi-las:

temos assistido, cada vez com mais frequência, a transformação da foto-

manchete de primeira página na charge do dia seguinte, o que tem facilitado a

compreensão do leitor. Na análise desse tipo de texto, verificou-se que a

charge dialoga com outros textos veiculados naquela ou em edições passadas,

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geralmente explicita o que já estava implícito na foto, intensificando e até

ridicularizando a cena ilustrada.

Numa das atividades de Implementação foram levados para a sala de

aula exemplares de jornais Folha de S. Paulo e Gazeta do Povo com o intuito

de fazer com que os alunos identificassem as charges presentes, seus autores

e suas abordagens e reconhecessem o assunto / tema dessas. Observamos

que os alunos se interessaram mais pelas charges sobre o esporte que as

sobre política, justamente pelo fato de não acompanharem este assunto na

mídia, ou não terem o hábito de ler (especialmente jornais). A dificuldade dos

alunos foi sendo sanada à medida que a professora os orientava, aplicando a

metodologia desenvolvida no projeto. Com isso os resultados foram

aparecendo: após a análise de algumas charges os jovens tiveram mais

facilidade para observar a comicidade, os detalhes nos traços do desenho, o

fato ou momento social abordado pelos chargistas.

Implementação Atividades

As atividades de implementação deste projeto se deram em forma de

material didático aplicado para alunos do 2º ano do Ensino Médio do Colégio

Luiz Sebastião Baldo, no 1º semestre de 2009.

Propusemos a realização de um Caderno Pedagógico com atividades

distribuídas em três unidades didáticas, como:

Explanação sobre a história das charges; apresentação de charges

históricas do Brasil;

Apresentação de cópias de charges para serem analisadas de autores

como: Henfil, Rodrigo Rosa e Angeli.

Exercícios de interpretação das charges, como:

1. Fazer análise da imagem, observando detalhes do campo visual

para identificar quando e onde se passa a cena, quem a(s)

personagem (ns) representa(m).

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2. Descobrir o que a charge busca comunicar/denunciar/ satirizar,

identificando-se, assim, seu principal objetivo.

3. Conduzir o aluno a perceber a comicidade da charge, partindo de

observações da roupa das personagens, expressões faciais,

elementos do cenário; e fazendo a relação das personagens e

dos fatos com a sociedade real.

4. Verificar como a linguagem não-verbal se apresenta na charge.

Depois de aplicadas estas atividades, pudemos perceber que realmente

os alunos têm dificuldade em interpretar as charges mais elaboradas e,

principalmente, se o assunto é política.

Os alunos gostaram muito da atividade de pesquisa sobre os autores,

porque puderam observar os assuntos preferidos dos autores abordados nas

charges, os veículos onde eles mais publicam seus trabalhos. Esta pesquisa

foi feita no laboratório de informática do Colégio, atividade que agrada aos

alunos. Pesquisaram a biografia dos autores, seus principais trabalhos, seus

temas mais recorrentes e traços marcantes.

Realmente, o trabalho de orientação do professor na sala de aula, no

que diz respeito ao acompanhamento das atividades, é de suma importância,

já que o aluno tem necessidade de sua ajuda para a compreensão de textos

imagéticos. Por isso o docente deve atender a cada aluno, sanando suas

dúvidas. Pudemos comprovar que a metodologia e as atividades

desenvolvidas e aplicadas são pertinentes à educação pública do Estado do

Paraná, uma vez que os alunos tiveram a oportunidade de desenvolver sua

capacidade de leitura e interpretação de charges, visto que é um tipo de texto

atraente para os jovens e também muito solicitado em concursos e / ou

vestibulares.

Observamos, também, que a organização do material didático poderia

ter sido revista, uma vez que cada Unidade trazia uma charge, mais um ou

dois textos de outros gêneros. Foi observado que, se os outros gêneros

textuais estivessem dispostos antes das charges, os alunos teriam mais

facilidade na compreensão, já que o tema dos textos era o mesmo.

A charge que compunha a Unidade 1 era de maior dificuldade de

compreensão por parte dos alunos, ao passo que a Unidade 2 mostrou-se de

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mais fácil entendimento. Sendo assim, quando os alunos trabalharam com a 2ª

unidade, já estavam mais hábeis na interpretação.

Grupo de Trabalho em Rede (GTR)

Toda a produção didática foi disponibilizada aos professores da Rede

Estadual de Educação através de um grupo de trabalho em que os

profissionais interagiam e aplicavam, com seus alunos, as atividades propostas

no material didático. Uma das atividades sugeridas por alguns professores da

rede era a produção de charges pelos alunos. Como este não era objetivo do

Projeto, a atividade de produção de charges não foi aplicada com tanto afinco.

Alguns alunos têm maior habilidade na arte do desenho que outros, então,

aqueles se interessaram mais pela produção que estes.

Os professores da rede participantes do GTR (quarenta (40)

inicialmente, com menos de vinte (20) concluintes) foram bastante generosos

em seus comentários sobre o projeto e o material pedagógico desenvolvido

pela Professora PDE. Segundo o professor Marco Antonio Travello Junior:

“Certamente o traço mais relevante desse GTR foi a

clareza dos materiais apresentados, o que facilitou

bastante a percepção dos cursistas no que diz

respeito aos seus objetivos: formar leitores, ou, pelo

menos, mostrar caminhos possíveis para isso. Não se

pode esquecer também de mencionar a coerência

entre teoria e prática, materializada na unidade de

ensino (caderno pedagógico) que nos foi

disponibilizada e que cumpriu bem o papel de modelo,

pois nos serviu de parâmetro, mostrando quais

procedimentos devemos seguir ao elaborarmos uma

atividade que vise à leitura de textos(charges) que

exigem tanto dos alunos. Outro ponto positivo desse

curso foi ter nos mostrado o quanto os textos não-

verbais são preteridos quando se trabalha com leitura,

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inclusive pelos livros didáticos.” (TRAVELLO JUNIOR,

2009)

Outra professora fez seu comentário a respeito do Projeto –

Professora Maria Cristina Moreno:

“Muito se tem falado a respeito da necessidade

de revisão e de uma reessignificação das

práticas docentes em todas as disciplinas. O

trabalho desenvolvido neste GTR foi muito

oportuno para tal reflexão no ensino da Língua

Portuguesa, pois em nossa disciplina existe uma

certa resistência para pôr em prática ações

inovadoras e atrativas, devido alguns "entulhos"

que ainda "atravancam" o ensino. Dessa forma,

o trabalho propôs, embasado nos PCNs, uma

prática de ensino a partir das perspectiva dos

gêneros textuais. E essa perspectiva pressupõe

mudanças na ação docente, tanto na

metodologia aplicada ao ensino de língua

(linguagem) quanto na abordagem empregada,

pois vê o texto não só a partir de aspectos

linguísticos, mas também, e principalmente, nos

seus aspectos sociais, nos seus propósitos,

forma e função.” (MORENO, 2009)

Segundo a própria professora:

“O professor precisa revisar conceitos e

metodologias, estar predisposto a trabalhar com

textos que façam sentido para o aluno e com

todos os textos que circulam socialmente, como

preconizam os PCNs. Assim o material proposto

subsidiou o trabalho pedagógico, dando início a

um processo que levará nosso aluno a tornar-se

um leitor curioso, pesquisador de outros textos e,

em consequência, capaz de realizar uma leitura

crítica, tornando-se um sujeito ativo e

participante. A partir dele também, abriu-se

espaço para o estudo dos HQ que,como as

charges,são um convite ao maior interesse por

parte dos alunos e, portanto, sucesso tanto em

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aprendizagem quanto em socialização de

conhecimentos.” (MORENO, 2009)

Os professores gostaram do material; a maioria aplicou as atividades

com seus alunos; outros aplicarão ainda no ano seguinte; deram sugestões de

atividades. A troca de experiências e a interação dos professores foi muito

interessante e rica, já que todos saíram ganhando com o trabalho,

principalmente os alunos da escola pública do Estado do Paraná.

Palestra

O Projeto Leitura de Charges: uma análise interpretativa foi também

apreciado por professores de Língua Portuguesa que participaram da Reunião

Técnica da disciplina, que ocorreu na data de 13 de outubro de 2009 no

Núcleo Regional de Educação - Área Metropolitana Norte, em que foram

disponibilizados o projeto e os primeiros resultados de sua aplicação na

escola.

Os professores que assistiram à palestra se mostraram bastante

interessados nas sugestões de atividades para a análise de charge, pois

comungamos do mesmo problema: de que maneira podemos auxiliar o aluno

de Ensino Médio na compreensão e interpretação de charges.

Foi disponibilizado, também, para estes professores o caderno

pedagógico com as atividades que eles puderam visualizar através de material

impresso e apresentação em Power Point. Muitos elogios foram feitos ao

projeto e ao caderno pedagógico, pois os docentes alegavam que não tinham

qualquer outro material de análise de charges como este que os auxilia e

orienta para que possam ajudar seus alunos na interpretação de textos

imagéticos.

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Resultados pretendidos:

Como objetivamos preparar os alunos de Ensino Médio para analisarem

charges, realizarem as inferências e identificar o contexto presente nelas (o

que possibilita a compreensão de seu significado), pretendemos levar estes

alunos a realizarem a compreensão de outros textos que não os

especificamente verbais e fazerem uso dessa capacidade para ajudar na sua

inserção na sociedade letrada.

Conclusão

Os resultados obtidos com o desenvolvimento e a implementação desta

proposta foram bastante positivos: os alunos orientados na leitura, análise e

interpretação de charges puderam observar que, sem inferências e sem uma

leitura de mundo, a compreensão de charges se torna mais difícil. O cidadão

deve estar a par dos acontecimentos de toda ordem: social, política, esportiva,

e artística, para que o entendimento de charges se torne mais fácil.

Apesar de não atingirmos a totalidade dos alunos, verificamos que boa

parte deles passou a reconhecer mais facilmente a ironia e o humor neste tipo

de textos não verbais. Eles conseguiram apurar sua percepção dos detalhes

da imagem para melhor compreensão do todo no texto.

Propomos que outros profissionais da educação realizem pesquisas e

estudos na área de compreensão e interpretação de textos imagéticos, porque,

obviamente esta área tem ainda muito a ser pesquisada e as opções não

acabam aqui.

O presente projeto pode ser adaptado para aplicação em outras séries

do Ensino Médio e ainda do Ensino Fundamental. Os professores participantes

deste projeto no GTR 2008 propuseram e realizaram adaptações para

trabalhares com seus alunos de outras séries, o que foi bastante positivo e

proveitoso, segundo seus relatos.

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