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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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GÊNERO TEXTUAL: MÚSICAS/POEMAS

DE AFRODESCENDENTES – “RAP”

Disponível em: papodepobre.wordpress.com/.../05/som-do-gueto/ Acesso em: 22/04/2010

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL – PDE UNIVERSIDADE ESTADUAL DE LONDRINA – UEL

AUTORA: MARIA IVETE DOS SANTOS LUZ

PDE- LÍNGUA PORTUGUESA NRE-APUCARANA

ORIENTADOR: Prof. Dr. SÉRGIO PAULO ADOLFO

LONDRINA 2009/2010

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SOU AFRO Sou afro com certeza! Com muito orgulho Apesar da dor Sou do cabelo enrolado Do nariz achatado Da reza rezada Da lenda contada Da capoeira gingada Do explorado suor Sou afro com certeza! Da galinha d´Angola Do passado e de agora Do tambor e da história Sou afro com certeza! Do Brasil construído Do sorriso bonito Da raça assumida Da cor valorizada Pelo sangue rasgado Pela palavra calada Que num grito de glória Conheceu a vitória Conheceu o sentido Na conquista da luta Da liberdade alcançada Nos dias vividos Nas faces da sociedade Sou afro com certeza! E não importa a minha idade Nem quem está ao lado Sou afro com certeza! Nas peles coloridas Na mistura das vidas Na terra onde fui plantado Maria Ivete dos Santos Luz

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APRESENTAÇÃO

PROFESSOR(A),

Vivemos numa sociedade onde a pressa, o relógio e a net nos controlam o

tempo todo deixando-nos muitas vezes quase máquinas, mesmo que, atualmente,

tudo isso já tenha se tornado um amálgama e dele precisemos e façamos parte.

Quase máquinas sim, porque há educadores e educadoras, como você e eu, que

acreditam que sonhar é possível e realizar coisas boas na sociedade é mais

possível ainda, principalmente, na área da comunicação e na disciplina de Língua

Portuguesa.

Para a interpretação do conteúdo exposto nas músicas/poemas de RAP

fundamentaremos no dialogismo de Bakhtin (2007, p. 105) uma vez que consiste

nos diferentes discursos representados por uma sociedade, por uma comunidade,

por uma cultura onde há a expressão das diferentes vozes.

Optamos pelo trabalho com o RAP primeiramente por haver uma grande

identificação com a música e com a cultura africana e afrodescendente que há no

Brasil, segundo por perceber neste estilo uma oportunidade de trabalhar o lado

poético, cultural, crítico e prazeroso.

Ao proporcionar ao aluno tal oportunidade, aprimoram-se as práticas

discursivas da oralidade, leitura e escrita, bem como o contato com a literatura. O

jovem se identifica e se apropria do conhecimento científico, bem como partilha com

o outro o seu conhecimento construído e vivido.

Para isto, este material foi organizado a partir de uma sequência didática

com o objetivo de definir um procedimento encadeado de passos, ou etapas, para

tornar mais eficiente o processo de aprendizagem.

A Autora.

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AÍ GALERA,

Aluno(a) Vivo(a) Aqui estou eu passando informação

O rap é fala, cara, sem aquela discriminação

A sala de aula é vida, falô, de cada adolescente

Tô aqui mano pra mostrar pra essa gente

Ler, falô, vendo de cara nova a vida futura

No nosso negro na nossa cultura

Rap é poesia deixa tudo evidente, mandei

Povo brasileiro é afrodescendente, mandei

Olha aqui meu irmão nessa não cabe o preconceito

Vê se entende meu verdadeiro jeito

Se não posso mudar toda sociedade

Posso fazer muito na minha cidade

Vem pra cá, minha mina

Vamos melhorar a nossa rima

Chega do que discrimina

O negro, o pobre, o diferente

O coração, meu, deve ser consciente

Nota dez pro Brasil africano

Nota dez aqui pra todo mano

Que sabe rimar e remar a vida

E cuida da comunidade ferida, falei

Que cuida da saúde e da educação, falei

Que canta feliz na sala fazendo sua nova canção

A Autora.

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SUMÁRIO

SEQUÊNCIA DIDÁTICA...................................................................................07

1. Apresentação da Situação...........................................................................10

2. Reconhecimento do gênero.........................................................................11

2.1 Pesquisa sobre o gênero..........................................................................13

2.2 Leitura de textos do gênero......................................................................14

2.3 Seleção de um texto do gênero................................................................27

3. Produção e reescrita de texto......................................................................31

4. Circulação do gênero...................................................................................32

REFERÊNCIAS.................................................................................................33

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SEQUÊNCIA DIDÁTICA

GÊNERO TEXTUAL (híbrido): “MÚSICAS/POEMAS DE AFRODESCENDENTES”

Autora: Profª Maria Ivete dos Santos Luz

CONVERSA COM O (A) PROFESSOR (A)

Professor (a):

Antes de iniciar esta SD, é importante que você saiba um pouco mais sobre a Cultura Afro-Brasileira.

Negros jogando capoeria no Brasil (Rugendas, c. 1830)

Denomina-se Cultura afro-brasileira o conjunto de manifestações culturais do Brasil que sofreram algum grau de influência da cultura africana desde os tempos do Brasil colônia até a atualidade. A cultura da África chegou ao Brasil, em sua maior parte, trazida pelos escravos negros na época do tráfico transatlântico de escravos. No Brasil a cultura africana sofreu também a influência das culturas européia (principalmente portuguesa) e indígena, de forma que características de origem africana na cultura brasileira encontram-se em geral mescladas a outras referências culturais.

Traços fortes da cultura africana podem ser encontrados hoje em variados aspectos da cultura brasileira, como a música popular, a religião, a culinária, o folclore e as festividades populares. Os estados do Maranhão, Pernambuco, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul foram os mais influenciados pela cultura de origem africana, tanto pela quantidade de escravos recebidos durante a época do tráfico como pela migração interna dos escravos após o fim do ciclo da cana-de-açúcar na região Nordeste.

Ainda que tradicionalmente desvalorizados na época colonial e no século XIX, os aspectos da cultura brasileira de origem africana passaram por um processo de revalorização a partir do século XX que continua até os dias de

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hoje.

Evolução histórica

Escravos africanos no Brasil, oriundos de várias nações (Rugendas, c. 1830).

De maneira geral, tanto na época colonial como durante o século XIX a matriz cultural de origem européia foi a mais valorizada no Brasil, enquanto que as manifestações culturais afro-brasileiras foram muitas vezes desprezadas, desestimuladas e até proibidas. Assim, as religiões afro-brasileiras e a arte marcial da capoeira foram frequentemente perseguidas pelas autoridades. Por outro lado, algumas manifestações de origem folclórica, como as congadas, assim como expressões musicais como o lundu, foram toleradas e até estimuladas.

Entretanto, a partir de meados do século XX, as expressões culturais afro-brasileiras começaram a ser gradualmente mais aceitas e admiradas pelas elites brasileiras como expressões artísticas genuinamente nacionais. Nem todas as manifestações culturais foram aceitas ao mesmo tempo. O samba foi uma das primeiras expressões da cultura afro-brasileira a ser admirada quando ocupou posição de destaque na música popular, no início do século XX.

Posteriormente, o governo da ditadura do Estado Novo de Getúlio Vargas desenvolveu políticas de incentivo do nacionalismo nas quais a cultura afro-brasileira encontrou caminhos de aceitação oficial. Por exemplo, os desfiles de escolas de samba ganharam nesta época aprovação governamental através da União Geral das Escolas de Samba do Brasil, fundada em 1934.

Outras expressões culturais seguiram o mesmo caminho. A capoeira, que era considerada própria de bandidos e marginais, foi apresentada, em 1953, por mestre Bimba ao presidente Vargas, que então a chamou de "único esporte verdadeiramente nacional".

A partir da década de 1950 as perseguições às religiões afro-brasileiras diminuíram e a Umbanda passou a ser seguida por parte da classe média

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carioca[1]. Na década seguinte, as religiões afro-brasileiras passaram a ser celebradas pela elite intelectual branca.

Em 2003, foi promulgada a lei nº 10.639 que alterou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), passando-se a exigir que as escolas brasileiras de ensino fundamental e médio incluam no currículo o ensino da história e cultura afro-brasileira.

Música e dança

Bloco carnavalesco Olodum na Bahia Bloco carnavalesco de Maracatu no Recife A música criada pelos afro-brasileiros é uma mistura de influências de toda a África subsaariana com elementos da música portuguesa e, em menor grau, ameríndia, que produziu uma grande variedade de estilos.

A música popular brasileira é fortemente influenciada pelos ritmos africanos. As expressões de música afro-brasileiras mais conhecidas são o samba, maracatu, ijexá, coco, jongo, carimbó, lambada e o maxixe.

Como aconteceu em toda parte do continente americano onde houve escravos africanos, a música feita pelos afro-descendentes foi inicialmente desprezada e mantida na marginalidade, até que ganhou notoriedade no início do século XX e se tornou a mais popular nos dias atuais.

Instrumentos afro-brasileiros

Afoxé Agogô Atabaque Berimbau Tambor Xequerê

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura_afro-brasileira Acesso em: 22/03/2010

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1 APRESENTAÇÃO DA SITUAÇÃO

Professor(a):

Ao elaborar esta sequência didática (SD), nosso objetivo foi o de propiciar

o estudo da música/poema (gênero híbrido), levando os alunos a interpretar os

textos poéticos do RAP, fazendo-os construir o sentido dos mesmos, pois a escola

como espaço humano e institucional é perpassada pela linguagem e, portanto, pelas

ideologias subjacentes na sociedade revelando em seus discursos didáticos formas

de poder que manipulam identidades.

Para maior envolvimento dos alunos no estudo das músicas/poemas

(gênero híbrido), sugiro que parta do seguinte princípio:

Motive os alunos para a realização de uma atividade interativa com

as demais turmas do Colégio. A turma do 1º ano, do Ensino Médio

vai estudar pesquisar e produzir várias músicas/poemas durante o

ano letivo e, depois, apresentá-las para as demais turmas do

Colégio. Para isso, o grupo irá combinar com a Direção e Equipe

Pedagógica o dia em que a atividade vai acontecer. Sugestão de

dia para apresentação: 20 de Novembro - Dia Nacional da Consciência Negra.

20 de Novembro - Dia Nacional da Consciência Negra

A Lei n.º 10.639, de 9 de janeiro de 2003, incluiu o dia 20 de novembro no calendário escolar, data em que comemoramos o Dia Nacional da Consciência Negra. A mesma lei também tornou obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. Com isso, professores devem inserir em seus programas aulas sobre os seguintes temas: História da África e dos africanos, luta dos negros no Brasil, cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional.

Com a implementação dessa lei, o governo brasileiro espera contribuir para o resgate das contribuições dos povos negros nas áreas social, econômica e política ao longo da história do país.

A escolha dessa data não foi por acaso: em 20 de novembro de 1695, Zumbi - líder do Quilombo dos Palmares- foi morto em uma emboscada na Serra Dois Irmãos, em Pernambuco, após liderar uma resistência que

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culminou com o início da destruição do quilombo Palmares.

Então, comemorar o Dia Nacional da Consciência Negra nessa data é uma forma de homenagear e manter viva em nossa memória essa figura histórica. Não somente a imagem do líder, como também sua importância na luta pela libertação dos escravos, concretizada em 1888.

Porém, hoje as estatísticas sobre os brasileiros ainda espelham desigualdades entre a população de brancos e a de pretos e pardos. Por isso, é importante conhecermos algumas informações sobre o assunto.

Disponível em: http://www.ibge.gov.br/ibgeteen/datas/consciencianegra/home.htm Acesso em: 22/04/2010

2 RECONHECIMENTO DO GÊNERO

O poema/música na sala de aula será analisado sob dois pontos de

vista: o gênero como suporte de uma atividade de linguagem dos sujeitos que dele

fazem uso como instrumento de comunicação e o gênero como uma referência para

a aprendizagem.

O trabalho com o gênero promove a articulação entre produção

escrita e leitura compreensiva (ao contrário da leitura para decodificação das

informações superficiais do texto) e entre a oralidade e a escrita.

Conversa com o (a) professor (a)

“Quanto à música e poesia, reza a tradição que ambas nasceram juntas. De fato, a palavra lírica, de onde vem a expressão “poema lírico”, significava originariamente certo tipo de composição literária feita para ser cantada fazendo-se acompanhar por instrumento de corda, de preferência a lira. Durante muito tempo a poesia foi destinada à voz e ao ouvido”. Complementa: “foi necessário esperar pela Idade Moderna para que a invenção da imprensa (...) acentuasse a distinção entre música e poesia” e então, a “partir do século XVI a lírica foi abandonando o canto para se destinar (...) mais à leitura silenciosa”.

Entretanto, “o poema continuou preservando traços daquela antiga união. Formas poéticas como o Madrigal, o Rondó, a Balada e a Cantiga aludem francamente à formas musicais”. Além disso, pode-se estudar o “andamento” de uma passagem poética ou referir-se à “harmonia” de um verso ou ”melodia” de um refrão do poema. Para Aguiar (1993, p.11):

“Se a separação de poetas e músicos dividiu a história de um gênero

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e outro, a poesia não abandonou de vez a música tanto quanto a música não abandonou de vez a poesia. Uma das características da canção foi a de ser música produzida no meio popular e para ele especialmente dirigida. No entanto, com a evolução da comunicação e da tecnologia, foi abandonada sua espontaneidade de arte popular, deixando de ser apenas expressão cultural de uma comunidade para atingir públicos cada vez maiores, sendo inserida nos esquemas comerciais”.

Quando pensamos em música popular, logo nos vem à mente

a imagem de um cantor. A maioria sintoniza uma rádio e compra CD para ouvir e aprender as canções que o intérprete ensina. As palavras da letra servem para fixar a melodia na memória. Saber cantar as canções é um dos prazeres do ouvinte, e isto só é possível graças à presença da letra combinada à música.

Fonte: AGUIAR, Joaquim. A poesia da canção. São Paulo, Editora Scipione,

1993.

Para conduzir seus alunos à pesquisa sobre o gênero, sugerimos o

seguinte questionamento:

Vocês já ouviram falar sobre músicas/poemas?

Sabem o que são?

Que músicas/poemas vocês conhecem?

Você já ouviu alguma música/ poema de afrodescendentes,

chamada RAP?

Qual é sua música/poema RAP preferida?

Depois desse bate-papo, é importante explicitar, se necessário, o que é

uma música/poema RAP, ou seja, as características peculiares desse gênero.

POEMA

Um poema é uma obra literária apresentada geralmente em verso e estrofes (ainda que possa existir prosa poética, assim designada pelo uso de temas específicos e de figuras de estilo próprias da poesia). Efetivamente, existe uma diferença entre poesia e poema. Este último, segundo vários autores, é uma obra em verso com características poéticas. Ou seja, enquanto o poema é um objeto literário com existência material concreta, a poesia tem um carácter imaterial e transcendente.

Fortemente relacionado com a música, a poesia tem as suas raízes históricas nas letras de acompanhamento de peças musicais. Até a Idade Média, a poesia era cantada. Só depois o texto foi separado do

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acompanhamento musical. Tal como na música, o ritmo tem uma importância fulcral.

Um poema possui os seguintes elementos: Versos: Cada linha que compõe o poema é um verso. Estrofe: É a reunião dos versos, em blocos. Ritmo: É o real conteúdo da poesia dado pela repetição mais

ou menos regular da intensidade poesia. Metro: É a divisão das sílabas. A medida vazia do sentido

reproduzida pelo número regular de sílabas. Rima: É a regularidade sonora que pode estar tanto no meio

como no final do verso, quando não há rima, chama-se verso branco.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Poema Acesso em: 22/04/2010

MÚSICA RAP O RAP tem como característica a poesia sobre uma base rítmica

composta de dois compassos quaternários, em que a frase geralmente é exposta no primeiro compasso, terminando com a rima no segundo compasso. A base rítmica, seguindo o exemplo do funk, tem no primeiro tempo forte o bumbo, o segundo e quarto tempo com a caixa e o terceiro tempo com o bumbo.

A poesia recebe uma melodia com extensão próxima da fala e faz seus desenhos rítmicos respeitando o compasso quaternário. A poesia do RAP tem a intenção de passar uma mensagem seja de maneira discursiva ou narrativa. Portanto, é importante que sua letra seja entendida pelos ouvintes, o que faz com que o RAP quase sempre seja composto na língua local. O refrão no RAP, por vezes, tem uma extensão melódica maior e possui como função marcar o tema geral da música.

São também características do rap a utilização de ruídos produzidos pelos scratchs (criação de frases rítmicas a partir de sons produzidos ao tocar o disco em sentido contrário, como "arranhar" o disco), e colagens de sons e de trechos de músicas (sampling). O RAP utiliza como material sonoro, sons e trechos de música gravados criando uma textura sonora que reforça o tema da música, o que exige do DJ um vasto conhecimento da tradição musical em seu processo de experimentação e criação a partir de registros do passado. Disponível em: www.anppom.com.br/anais/.../02COM_Etno_0202-092.pdf - Acesso em: 22/04/2010

2.1 Pesquisa sobre o Gênero

Solicitar aos alunos que tragam modelos de músicas/poemas RAP para

comparar se contemplam todos os aspectos estruturais discutidos anteriormente.

Depois dessa análise, deverá ser organizado um mural com os modelos

de músicas/poemas RAP trazidos pelos alunos.

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2.2 Leitura de textos do gênero

Segundo o site da Wikipédia, o RAP é um estilo musical raro em que o

texto é mais importante que a linha melódica ou a parte harmônica.

A sigla RAP é, “pelo inglês, originária das iniciais Rhytm And Poetry-

Ritmo e Poesia e significa “bater” (batidas de tambores africanos, sendo nos anos

70 simplesmente declamação de um texto onde a negritude era o tema predileto). É

usada no inglês britânico desde o século XVI, e especificamente significando “say”

(“dizer”, ou “falar”, “contar o conto”), desde o século XVIII. Fazia parte do inglês

vernáculo afro-americano nos anos 1960, significando “conversar”, e logo depois

disto, no seu uso atual, denota o estilo musical, com a “ideia que alguém quer lhe

vender”, a “explicação”, em si; o “papo”.

Como o RAP origina-se das comunidades negras nos Estados Unidos, no

final do séc. XX, antes de iniciar a leitura de alguns textos do gênero, parece-nos

importante informar aos alunos quais são as condições de produção de um texto

desse gênero, destacando a necessidade de:

Conhecer a sua origem para construir os sentidos das

músicas/poemas;

Investigar como a linguagem em relação ao negro é trabalhada na

escola;

Integrar o (a) aluno (a) negro (a) de forma que haja formação de

identidade positiva, por meio de RAPs que desconstroem a

inferioridade dos negros;

Observar a estrutura escrita e oral do RAP enquanto gênero poesia.

Para favorecer a compreensão do gênero, apresentamos, a seguir, um

texto sobre o início do RAP, no intuito de conduzir os alunos a reflexão sobre a

cultura afro-brasileira.

RAP

Rap (em inglês conhecido como emceeing) é um discurso rítmico com rimas e poesias, que surgiu no final do século XX entre as comunidades negras dos Estados Unidos. É um dos cinco pilares fundamentais da cultura hip hop, de modo que se chame metonimicamente (e de forma imprecisa) hip hop.

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Pode ser interpretado a capella bem como com um som musical de fundo, chamado beatbox. Os cantores de rap são conhecidos como rappers ou MCs, abreviatura para mestre de cerimônias.

Início

O rap, comercializado nos EUA, desenvolveu-se tanto por dentro como por fora da cultura hip hop, e começou com as festas nas ruas, nos anos 1970 por jamaicanos e outros. Eles introduziam as grandes festas populares em grandes galpões, com a prática de ter um MC, que subia no palco junto ao DJ e animava a multidão, gritando e encorajando com as palavras de rimas, até que foi se formando o rap. A origem do Rap veio da Jamaica, mais ou menos na década de 1960 quando surgiram os sistemas de som, que eram colocados nas ruas dos guetos jamaicanos para animar bailes. Esses bailes serviam de fundo para o discurso dos "toasters", autênticos mestres de cerimônia que comentavam, nas suas intervenções, assuntos como a violência das favelas de Kingston e a situação política da Ilha, sem deixar de falar, é claro, de temas mais polêmicos, como sexo e drogas. No início da década de 1970 muitos jovens jamaicanos foram obrigados a emigrar para os Estados Unidos da América, devido a uma crise econômica e social que se abateu sobre a ilha. E um em especial, o DJ jamaicano Kool Herc, introduziu em Nova Iorque a tradição dos sistemas de som e do canto falado e foi se espalhando e popularizando entre as classes mais pobres até chegar a atingir a alta sociedade. No Brasil o rap passou a ser uma linguagem que expressa questionamentos sociais, econômicos e políticos, é a voz e da periferia através do poema/ música expressando a arte dos afrodescendentes e sentimentos vividos por eles, bem como a discriminação racial existente.

RAP na Música

Rap, na música, é extremamente fidedigna à improvisação poética sobre uma batida no tempo rápido e freqüentemente só é acompanhada pelo som do baixo, ou sem acompanhamento. Rap é um estilo musical raro em que o texto é mais importante que a linha melódica ou a parte harmônica; sendo um dos dois únicos estilos musicais da história da música ocidental em que o texto é mais importante que a música---o outro sendo o canto gregoriano, em que a música era uma monodia, homofônica, marcada pelo ritmo, e a melodia religiosamente não podia nunca sobressair o texto litúrgico. O rap não usa melodias e motivos decorativos e harmônicos com arranjos elaborados dos instrumentos, mas vale-se somente em quão rápido o cantor narra a sua "fala" com muito pouca musicalidade adicionada a sua poesia. A música rap também tem uma similaridade distinta com a música celta em que forma-se uma brincadeira na qual os cantores tentam duelar suas frases com rimas, rapidamente improvisadas e humorísticas; alternadamente, um desafiando o outro nas rápidas frases inteligentes; quem ganha---deixando o outro esgotado sem idéias---não paga pelas bebidas. Esta influência indireta e não intencional veio da música de raiz, de folclore, importada pelos imigrantes escoceses e irlandeses que migraram para o sul dos EUA, das fazendas de plantação, como a música afro-americana, que pelo povo do sul, com a música de

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improvisação, no Jazz de raiz, surge nos duelos de banjo (country) depois, e desses "duelos" aparece também, bem mais tarde, o rap.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rap Acesso em: 19/09/2009

Eis algumas sugestões de músicas/poemas RAP para análise:

TEXTO 1 O Incentivo Ativa!

Composição: Rafael Ferreira Vieira O nosso país está sujo, sujou É preciso varrer os políticos corruptos O nosso país está sujo, sujou! É preciso eliminar cada entulho, Então demorou desenvolver, Demorou de se conscientizar... É preciso criar crianças educadas e inteligentes, é necessário formar cidadãos conscientes e não dementes, com as mentes doentes, atrofiados e alienados em alguns falsos fatos que ocorrem, isso é a mídia sensacionalista reproduzida na televisão. Alienação, poluição visual, sonora, poluição no ar e não temos como enxergar, ouvir e respirar direito, esse é um direito meu! Esse é um direito nosso! O nosso país está sujo, sujou! É preciso varrer os políticos corruptos; O nosso país está sujo, sujou! É preciso eliminar cada entulho, então demorou desenvolver, demorou de se conscientizar...

Não concorra ao espaço que inibe, mas percorra todo o universo que define, sua capacidade de vencer ... É preciso criar crianças educadas e inteligentes, é necessário formar cidadãos conscientes e não dementes, com as mentes doentes, atrofiados e alienados em alguns falsos fatos que ocorrem, isso é a mídia sensacionalista reproduzida na televisão. Alienação, poluição visual, sonora, poluição no ar e não temos como enxergar, ouvir e respirar direito, esse é um direito meu! Esse é um direito nosso! O nosso país está sujo, sujou! É preciso varrer os políticos corruptos; O nosso país está sujo, sujou É preciso eliminar cada entulho, então demorou desenvolver, demorou de se conscientizar...

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TEXTO 2 Morena Show

Composição: Rafael Ferreira Vieira Produção Musical: Ariano (JS)

Foto: Acervo Particular

Show, minha morena show, o sol raiou, acabou e você me queimou , até a última "ponta" , até a última "ponta"... Show, minha morena show, o sol raiou, acabou e você me queimou, até a última "ponta", até a última "ponta"... E mesmo assim os meus olhos estão tão famintos pra te ver, somente eu me sinto assim por você e aqui do lado esquerdo, há tanto, há quanto tempo o que sinto por você ? O que sinto por você...? Show, minha morena show, o sol raiou, acabou e você me queimou, até a última "ponta" , até a última "ponta"... Show, minha morena show, o sol raiou, acabou e você me queimou, até a última “ponta”, até a última “ponta”...

E mesmo assim os meus olhos estão tão famintos pra te ver, somente eu me sinto assim por você e aqui do lado esquerdo, há tanto, há quanto tempo me apaixonei pelo seu jeito! Maravilhosamente de menina à mulher e você sabe bem como é, sinceramente eu lhe desejo muito axé, em pé, com fé nesse desatino em que estou vivendo e sofrendo... Pare com isso!!! Ou esse sentimento me corrói e acabará destruindo de vez o que sinto por você , o que sinto por você... Show, minha morena show, o sol raiou, acabou e você me queimou, até a última "ponta”.... até a última "ponta". Show, minha morena show , o sol raiou, acabou e você me queimou , até a última "ponta"... Você me queimou...

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TEXTO 3 Maré sobre maré

Composição: Rafael Ferreira Vieira Produção Musical: Ariano (JS) O sol queima a pele, o suor desce e as lágrimas escorrem no rosto do povo que sofre, sobe e desce, desce e sobe sempre a mesma ladeira , sem ter o que comer, o sol queima a pele o suor desce e as lágrimas escorrem no rosto do povo que sofre, sobe e desce, desce e sobe sempre a mesma ladeira.... Que o mar me engula na gula de suas ondas e lance-me em terra firme sem a bússola do tempo , se eu estiver mentindo; E que o sol me torre até que eu me torne cinzas e então renasça, como renasceu das cinzas, a fênix na mitologia grega... Que o mar me engula na gula de suas ondas e lance-me em terra firme, sem a bússola do tempo se eu estiver mentindo... E que o sol me torre até que eu me torne cinzas e então renasça, como renasceu das cinzas, a fênix na mitologia grega.

Ah, demorou desenvolver, Ah, demorou desenvolver e saber que os pensamentos movem o cérebro e o cérebro move você; Minha visão cosmológica é muito diferente, nela percebo inabitados seres, inóspitos a sentimentos bons, infelizmente ainda percebo a falta de respeito , amor e paz no coração... O sol queima a pele o suor desce e as lágrimas escorrem no rosto do povo que sofre, sobe e desce, desce e sobe sempre a mesma ladeira, sem ter o que comer, o sol queima a pele, o suor desce e as lágrimas escorrem no rosto do povo que sofre, sobe e desce, desce e sobe sempre a mesma ladeira, sem ter o que comer... O sol queima a pele...

TEXTO 4 O Bagulho é Doido

Composição: MV Bill Sem cortes Liga a filmadora e desliga o holofote

Se quer me ouvir, permaneça no lugar Verdades e mentiras, tenho muitas

Com bala na agulha Cada um na sua O meu dinheiro vem da rua Um bom soldado nunca recua

A droga que você usa é batizada com

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pra contar

Doideira Fogueira à cada noite pra aquecer O escuro da madruga que envolve o meu viver

Não sou você... Também não sei se gostaria ser

Ficar trepado no muro Se escondendo do furo

Não me falta orgulho Papo de futuro É nós

Que domina a cena Bagulho de cinema A feira tá montada, pode vir comprar

Eu vendo uma tragédia Cobro dos comédias

16 é a média Deus tá vendo, eu acredito Sou detrito Que tira o sono do doutor

Seria o Jason, se fosse um filme de terror Desembaça Saia na fumaça

O bonde tá pesado e você tá achando graça

Tipo peste Tá no sudeste, tá no nordeste, no centro-oeste

Teu pai te dá dinheiro Você vem e investe No futuro da nação Compra pó na minha mão Depois me xinga na televisão

Na seqüencia vai pra passeata levantar cartaz Chorando e com as mãos sinalizando

sangue É mais financiamento Mais armas Bang-bang

Corre igual um porco Para não ficar 'sós'

Fica todo arrepiado quando ouve alguém falar que É NÓS

"É muito esculacho nessa vida..."

----> REFRÃO: Já vou ficar no lucro se passar de 18 Depois que escurece o bagulho é doido

O mesmo dinheiro que salva também mata Jovem com ódio na cara Terror que fica na esquina Esperando você chegar

Se passa de 18 Depois que escurece o bagulho é doido

O mesmo dinheiro que salva também mata Já vem com um monte na cara Terror que fica na esquina Esperando você... ----

Aos 47 você vem falar de paz Tem um maluco que falava disso há 15 anos atrás

A bola do mundo me deixou na mira dos policiais Sou notícia sem ibope na maior parte dos jornais

Quem sou eu Eu não sei Já morri Já matei

Várias vezes eu rodei

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o símbolo da paz

O bagulho é doido Não tenta levar uma Não vem pagar de pã, se não for porra nenhuma

Deus ajuda Que eu fique de pé no sol e na chuva A pista tá uma uva Pretendo ser feliz Com um rádio transmissor E uma glock numa Honda Bizz

Um trago no cigarro Um gole na cerveja E sou destaque no outdoor que anuncia a revista 'VEJA!'

"Se eu morrer.. nasci outro que nem eu ou pior, ou melhor..." "Se eu morrer eu vou descansar.." "Ah, sonhar! Nessa vida não dá pra sonhar não..." "Amanhã não sei nem se eu vou tá aí"

veja que ironia Que contradição

O rico me odeia e financia minha munição

Que faz faculdade Trabalha no escritório Me olha como se eu fosse um rato de laboratório

Vem de sheroki* Vem de kawazaki Deslumbrado com a favela Como se estivesse vendo um parque De diversões

Se junta com os vilões Se sente por um instante Ali Cuzão e os 40 ladrões

Se os homi chegasse E nós dois rodasse Somente o dinheiro iria fazer com que

Tive chance e escapei

E o que vem? Eu não sei Talvez, ninguém saiba

Eu penso no amanhã e sinto muita raiva RELAXA.. Não tenta levar uma Se não vou ter que dar baixa

É o certo pelo certo O errado não se encaixa

Não usa faixa Idade certa Cidade Alerta

O alvo certo, a isca predileta Tipo atleta Correndo pela esquina

Assuta o senhor Mas, impressiona a mina

Se liga Que legal Meu território é demarcado Eu não atravesso a rua principal

Bacana sem moral Liga pro jornal e fala mal Viu a foto do filhinho na página principal

Não Como vitima Como marginal Fornecia pros playboys e vendia Parafal

Mesmo assim eu continuo sendo o foco da história Momentos de lazer eu carrego na memória

Se a chapa esquentar O fogos Detonar Depois que amenizar

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eu não assinasse

Pra você? Tá tranqüilo Nem preocupa

Sabe que vai recair Sobre mim a culpa

Me levam pra cadeia Me transformam em detento Você vai para uma clínica tomar medicamento

Imagine vocês Se eu fizesse as leis

O jogo era invertido Você que era o bandido Seria o viciado, aliciador de menor Meu sonho se desfaz igual o vento leva o pó

Big Brother Da vida de ilusão

Não se ama Se odeia Se precisar, mandamos pro paredão

Alguém vem pra me cobrar

Você sabe o que isso representa Seu vicio é que me mata Seu vicio me sustenta

Antes de abrir a boca pra falar demais Não esqueça Meu mundo você é quem faz..

"Tenho uma irmã de 5 anos.. de 6 anos.. fico pensando se eu morrer assim, mané.. minha irmãzinha vai ficar como... triste!"

(...)

Disponível em: http://letras.terra.com.br/ Acesso em: 22/04/2010

TEXTO 5 A Brisa que vem do Mar

Cone Crew Diretoria Composição: Nicole Cyrne, Maomé, Rany Money, Sheep

Folder de Divulgação

Folder de Divulgação

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A brisa que vem do mar já não pode me alcançar Só peço ao pai que me devolva o bem estar Pois tenho fé em cristo que a luz me guiará E assim quem sabe ao disfrutar desse luar A lua que me fascina, hoje ela pode me mostrar Que o ódio mata só o amor que pode nos salvar Mantendo minha fé eu sei que um dia eu chego lá E a brisa que vem do mar, e a brisa que vem do mar

[maomé] Imaginava liberdade, aclamava por harmonia Voz do povo retumbante implorava, pedia, queria, dizia Chega de hipocrisia, mentira, mania de viver e fazer de sua vida fantasia Achar que tudo já conhece, achar que tudo sabe, Achar que é o dono do céu, da terra e também dos sete mares Seu tempo é valioso mas por dentro nada vale Carniceiro, ignorante, autoridade, falsidade

[rany money] Bata palma, por quanto vocês vão vender sua alma Nossa fauna não é salva da jaula causando um trauma Suas aula não são eficaz, cês fazem guerra atrás de paz Nos viciam no temor do antraz e em ataques bilaterais Multidões um dia entenderão minhas previsões Ofuscaram a luz do fim do túnel e cegaram suas visões Ilusões, igual mágica alteram suas noções Quero novas opções que dêem fim as

[maomé] Pensamento detido, algo do seu convívio, Excesso de simpatia não cola, gera o início de um conflito, Depois só se encontra a resposta subjulgado no infinitivo Presente pretérito quase mais que perfeito se apresentam no diminutivo, Fez permanecer arrogância, prevalecendo a lei do inimigo do porco bandido do falso rabino sistema abusivo Que imposta taxas, valores em cifras, que gera miséria, gerando mendigo

A brisa que vem do mar já não pode me alcançar Só peço ao pai que me devolva o bem estar Pois tenho fé em cristo que a luz me guiará E assim quem sabe ao disfrutar desse luar A lua que me fascina, hoje ela pode me mostrar Que o ódio mata só o amor que pode nos salvar Mantendo minha fé eu sei que um dia eu chego lá E a brisa que vem do mar, a brisa que vem do mar

[rany money] Se liga maluco na fita o bagulho tá doido se tu não acredita O meu caminho ninguém dita na vida se é rap é ginga Igual aos ninja na humilde só vamo atrás do que é certo E o que peço nao é dinheiro e sim felicidade e os amigo por perto Eu so sincero quando eu verso, me elevo a otro plano astral Amigo é no espiritual, ritual no litoral Tu sente a brisa esquece as briga, mentira me tira a calma Loucuras insancedecidas e o mundo vira uma sauna

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corrupções

A brisa que vem do mar já não pode me alcançar Só peço ao pai que me devolva o bem estar Pois tenho fé em cristo que a luz me guiará E assim quem sabe ao disfrutar desse luar A lua que me fascina, hoje ela pode me mostrar Que o ódio mata só o amor que pode nos salvar Mantendo minha fé eu sei que um dia eu chego lá E a brisa que vem do mar, e a brisa que vem do mar

[sheep] A brisa do mar que me inspirou, parei pra fazer um som Toda minha vida se passa na aleda num momento de reflexão, divi... Vida banida por causa de confusão Mas to nessa justamente pela paz e a união Pras pessoas que falam mal da minha letra ou do improviso Foda-se escrevo o que vivo não digo o que lí no livro Tá indeciso? é lula e eu arranco os seus tentáculos É a mãe vida que me ensina a passar por cima dos obstáculos

[batoré] Seu pensamento nada construtivo cultural no livro Brisa que vem do mar só me deixa vivo De falsos me esquivos de tatin com birro tudo tão tranquilo Como se queimasse um kilo no sigilo Bombas transparentes pilo com problemas que aniquilo Junto com os amigos até o fim, continuo assim Rany money, papatin, sheep, maomé, nissin, O que tu traz pra mim? "de niteroi, brisa com cheirin de green"

[nissin] Tc, cv, psdb, pt Esse é o crime organizado no estilo pinochet Enquanto freud cheirava, enquanto bob fumava Enquanto a igreja matava, enquanto einstein inventava Eu só admirava a brisa do mar Dando boa noite pra lua poder se mostrar Nem sempre ágil, o titanic Como uma bic quebrou de modo frágil Naufrágio...

Disponível em: http://letras.terra.com.br/ Acesso em: 22/04/2010

TEXTO 6 Qual é?

Composição: Marcelo D2 Hiemolai Hiemolai! Hiemolai Iê!...(7x) Laiê! Laiê! Laiê! Ih! Eu tenho algo a dizer Explicar prá você Mas não garanto porém Que engraçado Eu serei dessa vez

Na hora que o coro come É melhor tá preparado E lembrando de Chico Comecei a pensar Que eu me organizando Posso desorganizar... Essa onda que tu tira Qual é?

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Para os parceiros daqui Para os parceiros de lá Se você se porta Como um homem, um homem... Será? Que você mantém a conduta Será? Que segue firme e forte na luta Onde os caminhos da vida Vão te levar Se você agüenta ou não O que será, será Mas sem esse caô De que tá ruim, não dá Isso eu já ouvi, vi, venci Deixa prá lá... Tá ruim pra você Também ta ruim pra mim Tá ruim pra todo mundo O jogo é assim Sem sorte no jogo Feliz no amor Quem nasceu prá malandragem Não quer ser doutor Há 500 anos Essa banca manda a vera Abaixou a cabeça já era... Então diz! Essa onda que tu tira Qual é? Essa marra que tu tem Qual é? Tira onda com ninguém Qual é? Qual é neguinho? Qual é?... Então vem! Devagar no miudinho Então vem! Chega devagar no sapatinho Malandro que sou Não vou vacilar Sou o que sou E ninguém vai me mudar Porque eu tenho um escudo Contra o vacilão Papel e caneta E um mic na minha mão E é isso que é preciso Coragem e humildade

Essa marra que tu tem Qual é? Tira onda com ninguém Qual é? Qual é neguinho? Qual é? Me diz! Essa onda que tu tira Qual é? Essa marra que tu tem Qual é? Tira onda com ninguém Qual é? Qual é neguinho? Qual é?... Amar como ama um black Brother! Falar como fala um black Brother! Andar como anda um black Brother! Usar sempre o cumprimento black Brother!... Quantas vezes Já cheguei no fim da festa Quantas vezes O bagaço da laranja É o que resta Não me dou por vencido Vejo a luz no fim do túnel A corrente tá cerrada Com os meus punhos Vai dizer que você É um perdedor? Daqueles que quando Sua família precisa Cê dá no pé? Vai dizer que você prefere O ódio ou amor? Então me diz neguinho Qual é?... Essa onda que tu tira Qual é? Essa marra que tu tem Qual é? Tira onda com ninguém Qual é? Qual é neguinho? Qual é? Essa onda que tu tira

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Atitude certa Na hora da verdade... E o que você precisa Prá evoluir? Me diz o que você precisa Prá sair daí? O samba é o som O Brasil é o lugar O incomodado que se mude Eu tô aqui prá incomodar Ôh! De que lado você samba? Você samba de que lado?

Qual é? (...)

Disponível em: http://letras.terra.com.br/ Acesso em: 22/04/2010

TEXTO 7 Vai Vendo

Composição: Marcelo D2 Vocês tão pronto para um rolé Vocês tão pronto pronto mesmo Para rolé por qualquer banda Do Hip Hop ao Samba Versos à procura da batida perfeita Eu Sei que pau que nasce torto se endireita E eu exemplo vivo continuo na luta Graças ao Stephan, Lurdes e Luca. Eu Tô ligado na parada e sem crocodilagem Safado é safado de humilde á malandragem Nem Mané Galinha e nem Zé Pequeno Eu sou aquele que cê sabe o nome Vai vendo Marcelo D2, boné, ou cabelo black, não sei se o beck me fuma ou sou eu é que fumo o beck MD2 é a sigla que vem no tag Não sei se sigo o Rap ou é o Rap é que me serve Fruto do andara criado na Lapa Do Seu Jorge á Candeias de Mos Def a Bambaataa Declaro meu respeito a todos os rimadores Partideiros, Repentistas e claro os versadores Porque quem versa versa não fica de conversa

E se tem pressa rima melhor porque se expressa E a minha pressa saca só saca só Falei que eu vivo o pesadelo do Pop Eu sei que no Samba eu represento o Hip Hop O Bom partideiro só chora versando Vai da água para o vinho e não fica se lamentando Á procura da batida eu continuo rimando Burn Baby Burn Eu continuo queimando Saca só todo mundo que eu não vou repetir Intelecto da rua pronto prá se divertir E aproveito cada instante como o ar que eu respiro Sagacidade sem precisar resolver no tiro Da Central do Brasil a Plane Station Os mandamentos que eu sigo são da Zulu Nation E mesmo que não deixem E ainda que se queixem As portas que se abrem compadre Nunca mais fecham No samba de raiz onde eu me inspiro e posso buscar Minha rima e até mesmo meu laiá laiá Não tem parada que não pode Então saca só cumpadre

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Falei que eu vivo o pesadelo do Pop Eu sei que o samba representa o Hip Hop (...)

Disponível em: http://letras.terra.com.br/ Acesso em: 22/04/2010

ATIVIDADES PARA O ALUNO

1- Explore as características discursivas do gênero com os seguintes questionamentos:

Quem escreve (em geral) esse gênero? Com que propósito? Onde? Quando? Quais as temáticas exploradas nos textos que lemos? Quem escreveu cada texto? Você conhece esses autores? Quem lê esse gênero? Por que o lê? Onde encontramos esse gênero? Que tipo de sentimento um leitor pode ter ao ler esse gênero? Que influência um leitor pode sofrer devido à leitura desse gênero? Em que condições esse gênero pode ser produzido e pode circular em

nossa sociedade? Você gosta de ler textos desse gênero? Por quê? De qual texto você mais gostou? Por quê? Você já escreveu algum texto desse gênero? Se já escreveu, compartilhe-

o com seus colegas.

2- Explore, também, a estrutura do gênero, pedindo aos alunos que observem

os seguintes elementos:

Estrutura Versos Estrofe Título Tema Disposição das palavras no papel Ritmo Rima Jogo de palavras Conotações

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2.3 Seleção de um texto do gênero

Para garantir maior compreensão do gênero (híbrido) música/poema RAP,

selecionamos, um para que seja explorado quanto às suas possibilidades de

sentido, às suas marcas linguísticas e à sua estrutura formal.

Segue a nossa sugestão para análise:

Chega de pré-conceitos! Composição: Rafael Ferreira Vieira Produção Musical: Ariano (JS)

Foto: Acervo Particular

É! Nossa família vem na fé, sempre de cabeça em pé e nunca de cabeça baixa , para a rapaziada que "pira”, aquele salve, do microfone ao som da caixa ou então mais ou menos nessa faixa, quebradas. Além do desemprego, o preconceito e a falta de respeito que aumenta nossa raiva, a repressão policial atrai "tretas" em massa, a corrompida política traz miséria, pobreza, cobiça, falhas, tudo que vejo na rua, são pilantras, putas e canalhas, manos e minas em situações precárias, com atitudes e pensamentos que não os levam a nada. Enquanto isso se passa, os ricos, os "bacanas", jogam nosso povo pobre na lama, cara!

Ah ! Os políticos prometem e o vento só que leva as falsas promessas, palavras de eleições são por mil razões que a ira é provocada, mas do lado de cá e de lá das vilas, dentro do coração há considerações. Jardim Independência corre em nossas veias, somos independentes e sobreviventes desse meio.... Um salve pra quem cria "anticorpos" contra o sistema, mas agora me dê licença para falar mal dos ladrões que usam terno e caneta de ouro, "Zé" da agenda cheia e de gravata, dólares na meia e na cueca, canalhas que roubam do povo pobre e o Meritíssimo pensando que não pega nada, "tá de chapéu atolado”,

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E ganham fama, grana e boa casa, mas aqui dois meninos que sonhavam com uma lisa área e rodavam e dançavam na grama de um campinho, sem o incentivo de alguém, somente aquela força de aprender, muita fé e mais nada, ah ! que falha , são falhas na prefeitura , vai vendo! pois logo se vê que muitos aqui, não querem saber de nada disso. São falhas mendigos passando fome não são "fajutas" de miúdos, pois eu já vi à noite , "pode crê" que no “rolê", pode até ser trabalhador, apanhando da MILITAR , a ZÉ POVO e a RONE, crianças passando fome e frio mas ninguém faz nada .... Enquanto isso se passa, somos nós que protestamos desse jeito , chega de preconceitos! Chega de desordem, sofrimentos e lamentos!

Chega de desemprego e pré-conceitos!

tudo isso tá errado, mas para eles há quem "passa pano", né, meu?! Só que um dia o pano rasga e para que isso aconteça, você acomodado que está sentado de braços cruzados, deve sair dessa, chega dessas atitudes submissas e fique nessas "tipo" sabendo que o engravatado é que está enganado que é bom ficar ligado, ligeiro . Pois esse é só um exemplo dos motivos de minha raiva, por essa matilha de lobos que vão pro esgoto como ratos sujos de lodo, vão pagar caro pelas mancadas e assim seremos nós, na fé , axé! Só quem "é" não será fã de canalhas, chega de pré-conceitos, né! Chega de tantas falhas. Pra todas as raças, salve, salve!!! Quebradas... Chega de desordem, sofrimentos e lamentos! Chega de desemprego e pré-conceitos!

CONVERSA COM O PROFESSOR (A)

Os sete primeiros versos, que introduzem este RAP, funcionam como uma rubrica, ou seja, é a identificação do sujeito enquanto uma voz que se anuncia para expor suas contestações, enquanto morador da comunidade do Jardim Independência, localizado na zona leste da cidade de Apucarana, o rapper denuncia os problemas lá existentes.

Neste sentido, acontece o processo de construção da linguagem artística, que junto ao ritmo, dará uma ressignificação para a descrição do universo em que o mesmo está inserido. Daí que, ao entrarmos em contato com a música, podemos refletir sobre as tensões e conflitos que estão implícitos, mas que percebemos pela própria descrição do lugar.

Outra importante questão presente neste rap é a forte crítica à instituição policial. Ocorre um enfrentamento com a polícia evidenciado pela

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denúncia da forma de tratamento dispensada aos moradores da periferia: o descaso. A opressão, como o exposto em “pode ser até trabalhador apanhando da MILITAR...”. A antropóloga Alba Maria Zaluar, coordenadora do Núcleo de Pesquisa da Violência (UFRJ), em entrevista à Folha de São Paulo (12/07/04), comenta que, no período da ditadura, a polícia ganhou uma abertura muito grande: “tudo era permitido e ninguém podia denunciar abusos”. Zaluar acredita que até hoje ainda haja abuso de autoridade por parte de alguns policiais e para que isso não continue “é preciso ter mecanismos por meio dos quais as pessoas atingidas pela violência policial possam fazer reclamações sem temer pela própria vida” (GOIS, 2004, p.12). A voz que se expressa é a de alguém que conhece tudo aquilo que fala, que enxerga uma realidade cruel e consegue extrair dessa realidade elementos poéticos que o permitem dialogar com a comunidade local.

A periferia torna-se, dessa maneira, um espaço que não pode ser compreendido como local geográfico em contraposição a um local central, mas deve ser compreendida na contradição discursiva que a marginaliza e ao mesmo tempo a torna “centro”. Aqui, o espaço discursivo do rapper já não se encontra mais nas bordas da cidade, pois o seu discurso de inclusão o torna o centro da discussão na sociedade como um todo.

O rap traz um novo sentido a sua vida e convoca a todo o momento a uma conscientização e mudança de atitude, fazendo referência implícita a sua condição de afrodescendente, pobre, desempregado, sem oportunidade na vida , contando somente com a “família” e a “vontade de aprender”. O uso de gírias é constante no texto, refletindo uma condição do adolescente das cidades de médio e grande porte. “Condição essa que fica evidente em algumas citações, como: “pira”, “tretas”, rolê”, “minas”, “tá de chapéu atolado”.

É perceptível a presença de alguns versos sem uma aparente ordem de raciocínio, o que demonstra a ênfase dada ao ritmo e à rima, bem como à questão político-social, no tocante à corrupção, falcatruas e discriminação ao morador da periferia da cidade.Tais contestações são expressas através dos sentimento de”raiva” pelo que o rapper vê no seu cotidiano, refletindo na poesia oral, representada pelo Freestyle. Para que se possa entender essa referência que ele faz às suas origens, é necessário não só estudar e conhecer a cultura hip hop, mas perceber que esse sujeito tem voz, tem anseios e que busca mostrar através dessa poesia, o real significado do que é ser cidadão e qual é o papel de cada um na sociedade, conforme Bakhtin (2003) “o caráter primordial do social: a linguagem e o pensamento, constitutivos do homem, são necessariamente inter-subjetivos.”

ATIVIDADES PARA O ALUNO

1- Leia atentamente o RAP “Chega de pré-conceitos!” e proceda à

seguinte análise:

a) Qual é o tema deste poema/música?

b) Em quantos versos ele foi escrito?

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c) Quantas estrofes existem no poema/música? E qual é o refrão?

d) Do que o ritmo do poema/música nos faz lembrar?

e) Quais os pares de rimas encontrados no poema/música?

f) Observe os seguintes versos: “É! Nossa família vem na fé, sempre de cabeça em pé e nunca de cabeça baixa , para a rapaziada que "pira”, aquele salve, do microfone ao som da caixa ou então mais ou menos nessa faixa, quebradas”.

Qual a função desses versos que introduzem o RAP?

g) O poema/música apresenta tensões e conflitos vivenciados pelo rapper

de forma implícita. Copie do texto versos que mostram os problemas da

comunidade.

h) A intenção do autor foi chamar a atenção para um dos grandes

problemas que afligem a sociedade. Que problema é esse? Você já vivenciou ou

presenciou esse problema? Justifique.

i) Nos versos: “Enquanto isso se passa, os ricos, os "bacanas", jogam nosso povo pobre na lama, cara! E ganham fama, grana e boa casa, mas aqui dois meninos que sonhavam com uma lisa área e rodavam e dançavam na grama de um campinho, sem o incentivo de alguém, somente aquela força de aprender, muita fé e mais nada, ah ! que falha , são falhas na prefeitura , vai vendo! pois logo se vê que muitos aqui, não querem saber de nada disso. São falhas mendigos passando fome não são "fajutas" de miúdos, pois eu já vi à noite , "pode crê" que no “rolê", pode até ser trabalhador, apanhando da MILITAR , a ZÉ POVO e a RONE, crianças passando fome e frio mas ninguém faz nada ....”

Que críticas você observa no poema/música? Existe relação entre essas

críticas e a comunidade onde você vive? Quais?

j) A linguagem empregada neste poema/música apresenta traços mais

da linguagem culta ou coloquial? Exemplifique.

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k) Qual a significação das gírias “pira”, “bacanas”, “tá de chapéu

atolado”, ”tretas”, “rolê”, “minas” dentro do poema/música? Esta linguagem é

característica de qual grupo social?

l) Qual a intencionalidade do autor ao escrever esse RAP?

m) Existem preconceitos de diversas formas, uma delas é o “racismo”.

Que palavra no texto nos remete à cultura afro-brasileira e africana?

n) Que outras palavras de origem africana estão presentes em nosso dia

a dia?

3 PRODUÇÃO E REESCRITA DE TEXTO

Depois de todo esse estudo sobre a Cultura Afro-Brasileira e Africana e a

exploração do gênero (híbrido) música/poema, chegou o momento do aluno (a)

produzir o seu próprio RAP.

Para isso, relembramos que os RAP produzidos serão apresentados para

as demais turmas do Colégio, no dia 20 de Novembro: Dia Nacional da

Consciência Negra, culminando os estudos propostos.

Pense bem na música/poema RAP que irá produzir:

Que título terá;

Para quem é dirigido;

Qual será a temática;

Com que objetivo;

Quem serão os interlocutores;

Como será organizada a sua apresentação para os interlocutores;

Que ideologias serão trabalhadas e/ou problemas sociais;

A letra valoriza a identidade do povo negro;

Entre outros.

Na primeira etapa você irá pôr no papel o que foi planejado, escrever o

texto, depois irá ler o que produziu, no intuito de confirmar se os objetivos foram

alcançados, se houve continuidade temática, clareza nas idéias, adequação das

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idéias as condições de produção, o refrão, rever a pontuação, a ortografia (licenças

poéticas), a concordância verbal e nominal, etc.

Na segunda etapa você irá reescrever o texto fazendo as adequações

necessárias, após a leitura. Depois de reescrito o texto, o professor (a) irá junto com

o aluno (a), na medida do possível, avaliar e apontar o que ainda precisam melhorar,

solicitando as devidas correções.

Agora é só se preparar para o grande dia da apresentação no Colégio.

4 CIRCULAÇÃO DO GÊNERO

É o momento de tornar público os RAPs produzidos. Os alunos (as) além

de se apresentarem cantando poderão, também, distribuir a letra das músicas para

os demais colegas do Colégio.

Foto: Acervo Particular

BONDADE

Ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele,

ou por sua origem, ou sua religião. Para odiar, as pessoas precisam aprender,

e se elas aprendem a odiar, podem ser ensinadas a amar,

pois o amor chega mais naturalmente ao coração humano do que o seu oposto.

A bondade humana é uma chama que pode ser oculta,

jamais extinta.

Nelson Mandela

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REFERÊNCIAS

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AMOP – Associação dos Municípios do Oeste do Paraná. Depto de Educação.

Sequência didática: uma proposta para o ensino da língua portuguesa nas

séries iniciais. – org. Carmem Teresinha Baumgartner, Terezinha da Conceição

Costa-Hübes. – Cascavel: Assoeste, 2006. (Caderno Pedagógico 01).

CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. Vol. 1, 9 ed, São Paulo: Itatiaia, 1975. ________________. Literatura e Sociedade. 7 ed, S. Paulo: Cia Ed. Nacional,

1985.

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo, Martins Fontes, 2003.

_______________. Ético e estético Na vida, na arte e na pesquisa em Ciências

Humanas. In: Brait Beth. Bakhtin Conceitos-Chave. São Paulo: Contexto, 2007,

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________________. Marxismo e filosofia da linguagem. Trad. Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira, colab. de Lúcia Teixeira Wisnik e Carlos Henrique D.

Chagas, 1999.

CASTRO, H.M. Mattos. Laços de Família e Direitos no Final da Escravidão. In:

ALENCASTRO, Luiz Felipe. História da Vida Privada no Brasil. São Paulo:

Companhia das Letras, 1977.

DIONÍSIO, Dejair. É pra rimar mano: A poética do rap londrinense. Programa de

iniciação científica SISPAG/UEL. Londrina: UEL, 2005. (mimeogr.).

DOLZ, J.; SCHNEUWLY, B. Pour un enseignement de l’oral. Initiation aux

genres formels à l’école. Paris, EFS Éditeur, 1998.

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_________________________. Gêneros e progressão em expressão oral e

escrita – elementos para reflexão sobre uma experiência suíça (francófona). In:____

(Orgs.). Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e Org. Roxane Rojo e Glaís Sales

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