DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 · resistência, aos países defensores do capitalismo. O fim do...

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

.SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSuperintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas EducacionaisPrograma de Desenvolvimento Educacional

PRODUÇÃO DIDÁTICO-PEDAGÓGICA CADERNO PEDAGÓGICO

Juventude, Trabalho e Escola

Professora PDE: Marlene Marques

Orientadora:Profª Drª Aparecida Darc de Souza.

Proposta Didática Pedagógica apresentado à Coordenação do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) como exigência parcial para a participação no programa, sob a orientação da Professora Drª Aparecida Dar’c de Souza Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Campus de Marechal Cândido Rondon.

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SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃOSuperintendência da Educação

Diretoria de Políticas e Programas EducacionaisPrograma de Desenvolvimento Educacional

PRODUÇÃO DIDATICO-PEDAGÓGICA - CADERNO TEMÁTICO

Professor PDE: Marlene Marques

Professor orientador IES:

IES vinculada: UNIOESTE – Campus: Marechal Cândido Rondon

ÁREA: História

NRE: Toledo

implementação: Colégio Estadual Novo Horizonte Toledo Paraná

PDE – 2009/2010

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Sumário1. Juventude Trabalho e escola .............................................................................................5

1.1 O desmonte neoliberal no final do século XX: a classe trabalhadora e as relações de trabalho..........................................................................................................................6

1.2 O desmonte neoliberal a informalidade e a perda de direitos....................................11

1.3 A música e a arte refletindo a situação dos trabalhadores na década de 1990........13

2. Os impactos do neoliberalismo na educação do trabalhador .........................................15

2.1 O paradoxo entre a “escola do trabalho” e a “educação para a vida”........................17

3. Histórias de vida: jovens trabalhadores: vivências, experiências e sonhos ...................20

4.REFERÊNCIAS..................................................................................................................22

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1. Juventude Trabalho e escola

Apresentação

Caros Alunos

Este caderno pedagógico apresenta uma breve discussão sobre os impactos

das políticas neoliberais sobre a vida dos trabalhadores e em especial sobre os juvens.

Analisa como tais políticas impactaram a vida dos jovens na sua relação com o “mundo do

trabalho e da escola” e sobre a experiência dos jovens trabalhadores, cuja, história é

praticamente desconhecida nos manuais didáticos e pouco tratada pelos professores em

suas aulas.

O conteúdo e as atividades propostas, sugerem, a análise, reflexão e o diálogo

entre professor e alunos, sobre a realidade atual, tendo em vista os processos sociais e

econômicos, mais amplos, que engendram os dramas vividos pelo jovens que trabalham e

estudam em nossas escolas.

O material está dividido em três partes. Na primeira à luz do conteúdo e das

reflexões propostas, busca-se estudar e compreender a situação vivenciada pelos jovens

no “mundo do trabalho” em face dos impactos das transformações econômicas do

neoliberalismo. Na segunda parte serão discutidos os impacto das políticas neoliberais

sobre a escola, destacando os problemas do descaso do Estado com a escola e a

educação pública e as conseqüências desse descaso sobre a vida do estudantes. Na

terceira parte, serão estudados alguns depoimentos que refletem a situação da juventude

trabalhadora no Brasil contemporâneo, bem como suas percepções e reflexões sobre o

trabalho e a escola.

Portanto, caros alunos este material é um subsídio que fundamenta nosso

trabalho em duas direções. A primeira nos leva a uma discussão sobre a sociedade em

que estamos inseridos, especialmente no que tange ao trabalho e a escola e a segunda

nos impõe refletir sobre o presente, através da análise das percepções dos jovens sobre

o mundo que o cerca.

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1.1 O desmonte neoliberal no final do século XX: a classe trabalhadora e as relações de trabalho

A forma atual de gestão do capitalismo - o neoliberalismo - por meio de políticas

especificas, implantou, no Brasil nas últimas décadas do século XX, modos de exploração

que acentuou a exclusão social, concentrou a riqueza nas mãos de poucos, e aumentou

o desemprego e os empregos precários. Nessa etapa do capitalismo todo o

conhecimento produzido em pesquisas foi aplicado simultaneamente no desenvolvimento

industrial, na melhoria da qualidade e na diversificação dos produtos e nos processos

produtivos. A lógica do capitalismo atual é “produzir cada vez mais com um número cada

vez menor de trabalhadores”.

No nível político, a queda do socialismo (1989/1991), representou o fim da

resistência, aos países defensores do capitalismo. O fim do socialismo, vigentes a mais

de 70 anos e fortaleceu em nível mundial a corrente neoliberal, defensora da

superemacia absoluta do mercado sobre o Estado. Seus defensores através da presença

nos quatro cantos do planeta, determinaram, através da globalização, a expansão

máxima do capital e propuseram a redução a ação do Estado ao mínimo.

A reorganização econômica em curso assumiu o papel que um dia foi da terra e

mais tarde do equipamento industrial e tornou-se o fator dinâmico da produção de um

lado a posse da informação e de como produzir, usar a ciência e a técnica, e de outro, a

veiculação da informação - a comunicação - .Tal processo concentrou o poder econômico

nas mãos do grande capital financeiro internacional, ou de uma tecnoburocracia

administrativa e financeira, que tem acesso as “novas tecnologias” e controla a

informação nos dois sentidos, tanto no âmbito da produção, quanto da circulação.

O Estado deixou de regular as atividades econômicas, privatizou as empresas

estatais e só investiria em situações emergenciais para atender, os mais pobres, entre os

pobres. Além disso passou gradativamente a reduzir os investimentos em saúde,

educação, moradia, transporte e emprego, com o objetivo de sanar as contas públicas.

Além disso, diminuiu as regras de controle e circulação do capital, reduzindo as barreiras

comerciais entre os países – abertura de mercado – de modo que o capital e os produtos

passassem a circular livremente.

6 A desregulamentação foi adotada por países desenvolvidos desde o início da

década de 1970 e se intensificou a partir do governo da Margaret Tatcher, na Inglaterra

em (1979) e de Ronald Regan, nos Estados Unidos em (1980). O objetivo foi garantir aos

países mais ricos a queda das barreiras que os impediam de entrar com empresas e

capitais financeiros, em todo o mundo. Assegurar, assim a livre circulação de mercadorias

e reduzir o poder de controle dos Estados nacionais sobre a entrada de capitais em seus

países. Com essas medidas, o capitalismo fortaleceu a produção industrial dos países

mais desenvolvidos.

Nos anos 1990, acentuou a competitividade entre as empresas, condição

número um para a sobrevivência das mesmas no mercado. As empresas se tornaram

competitivas, recorreram as tecnologias de ponta e enxugaram seus quadros. Demitiram

operários e substituiriam trabalhadores por robôs , automatizando assim grande parte da

produção. Como resultado das transformações profundas no centro do capitalismo em

curso, essas medidas foram o resultado das transformações do capitalismo com

exigência de lucros cada vez maiores com menor número de trabalhadores.

Durante toda a década de 1990, tanto a remuneração dos trabalhadores

ocupados em atividades temporárias, quanto a remuneração, dos trabalhadores com

registro em carteira sofreu quedas continuas. Entre os anos de 1996 e 1997 a queda foi

de aproximadamente 7,4%, fato que determinou no aumento das atividades ilegais e

criminosas, que se utilizam da violência, para obter dinheiro. Além disso, durante os

governos Collor(1991-1993), Itamar Franco e FHC (1996 - 2003), observou-se um

decréscimo de investimentos nas áreas prioritárias da sociedade, entre elas a saúde, o

emprego,a educação, a moradia e a segurança.

Dada essa política macroeconômica que se materializou por imposição dos

países centrais, o Brasil, mais uma vez, nela se inseriu de maneira periférica no sistema

capitalista, por meio do encaminhamento de medidas de eliminação de regimes especiais

de importação, por meio da simplificação da burocracia de importação (licenciamentos), a

redução de alíquotas alfandegárias, o que significa “perda” da capacidade de investimento

do setor público. Este incorreu numa política de desregulamentação dos mercados, no

encolhimento do Estado quanto às políticas sociais e no saneamento das finanças

públicas, e isso levou a um lento crescimento da economia brasileira, e revelou-se como o

principal responsável pela escassa geração de empregos e, portanto, da tendência ao

desemprego estrutural.

7 O conjunto desses fatores revela que a ampliação dos níveis de dependência de nossa

empresa à economia externa, ocorreu nos limites impostos pelo capitalismo mundial,

pela decisão da burguesia aliada ao Estado, responsáveis, pelo acirramento do

subdesenvolvimento brasileiro e pela forma de inserção e/ou de exclusão que os

trabalhadores brasileiros estão expostos ao “mundo do trabalho”.

A limitação do acesso ao mundo do trabalho em permanente mutação colabora

para um processo lento e dinâmico de precarização das relações e condições de

trabalho, e expõe determinados segmentos da força de trabalho a situações ainda mais

complexas. Foi nesse cenário de colapso econômico que se agravou sobremaneira a

inserção do jovem ao mercado de trabalho.

Esta realidade vem mostrando que o capitalismo encontra-se em crise tanto pela

constatação dos altos índices de desemprego estrutural, onde os trabalhadores são

substituídos por máquinas, quanto pelas altas taxas de exclusão e desigualdade social .

Essas verificações são ainda mais visíveis entre os jovens, parcela da população mais

duramente atingida, pelo desemprego e pelas condições precárias de inserção social a

que estão submetidos.

A situação de desemprego e de empregos temporários e a ausência de

condições dignas de trabalho digno aparece na precarização dos contratos de trabalho.

Há contratos temporários por alguns meses do ano – com, remuneração, também, em

apenas alguns meses, e ainda contratos parecias com remuneração, também, parcial.

Na desregulamentação dos contratos de trabalho, o trabalhador vive a mercê das

condições impostas pelas regras do mercado, que o utiliza, quando necessita, deixando-

os livre para ser novamente inseridos temporariamente, em outra ou na mesma

atividade/trabalho.

A forma inserção do jovem trabalhador brasileiro no mercado de trabalho

demonstra a incapacidade do sistema econômico em alterar a situação dos trabalhadores

frente ao quadro de redução dos postos de trabalho e precarização das relações

contratuais que os trabalhadores estão expostos, como também das condições, dos

postos de trabalho existentes.

O que estamos apontando é a limitada capacidade, de esse sistema

econômico - de lógica neoliberal - implementar políticas de geração de emprego e renda

decente para o conjunto da classe trabalhadora, sobretudo, para aquela inserida em

condições/relações de trabalho degradantes. Uma tendência do processo de pauperização

da classe trabalhadora que se intensifica mais duramente para a juventude, de baixa

8 renda e pouco escolarizada. Vejamos no quadro abaixo, o agravamento das condições de

trabalho e remuneração e de trabalho x escola, desde a desestruturação do mercado.

Quadro 1 – A inserção precária dos jovens nomercado de trabalho brasileiro, indicadores preliminares

Com relação ao trabalho e a escola: a terça parte dos jovens brasileiros não vivencia tal conflito, visto que este contingente esta excluindo tanto das oportunidades educacionais, quantos pela ausência simultânea de oportunidades educacionais e de trabalho. Ou seja: 13% dos jovens brasileiros não enfrentam o conflito trabalho x escola, uma vez que não têm acesso a nenhuma das duas oportunidades, aproximadamente 21% dos jovens brasileiros trabalham porque não têm oportunidades educacionais adequadas.Trabalhadores Jovens x demais trabalhadores x remuneração: a média salarial do conjunto dos trabalhadores é (cerca de R$ 620). A remuneração média dos jovens brasileiros é (de aproximadamente R$ 300), salário menor que os demais trabalhadores. Ou seja: 70% dos jovens com mais de 18 anos de idade recebem menos que o salário mínimo e fazem parte do grupo de trabalhadores com pior remuneração. Apenas 6%,dos jovens encontram-se entre os 20% melhor remunerados

Trabalhadores jovens x conjunto de trabalhadores x tempo(anos) no emprego: enquanto 10% do conjunto dos trabalhadores trocaram, uma vez, de trabalho no último ano,entre os jovens este percentual chegou a 17%. A duração do emprego de um trabalhador, adulto é oito anos, em média, para o jovem, a duração do emprego é inferior a três anos. A duração média de permanência de um jovem de 24 anos em um trabalho é menos que um ano. Tempo maior do que o tempo de trabalho entre os jovens de 15 anos.

jovens x postos de trabalho X remuneração: Mais de 50% dos jovens de até 17 anos ocupa-se em atividades familiares não-remuneradas. Os trabalhadores jovens estão entre os não-remunerados e com baixa representação tanto no setor público, quanto entre os que trabalham por conta-própria. Há uma grande participação de jovens entre os empregados sem carteira no setor privado. As pequenas empresas e a agricultura são as mais relevantes portas de entrada no mercado de trabalho para a população jovem.Adaptado de: (MORREIRA, 2007, p. 14).

TEXTO 1: “O mundo do trabalho está novamente em crise, com empresas falidas(...).O aperto do desemprego é sentido não somente por aqueles que perdem seus postos de trabalho, mas também por aqueles que conseguem, mesmo temporariamente, manter seu vínculo empregatício, sendo submetidos a pressões e exigências de trabalhar horas extras, sem remuneração adicional. Se o desemprego é uma praga, ele traz em seu bojo outra maldição: o excesso de trabalho. Pesquisas do Corporate Leadership Council, nos Estados Unidos, relatam que a carga de trabalho tem aumentado em um terço, desde o início da recessão, em 2007. (...) Pesquisa menciona que 63% dos trabalhadores afirmam que seus empregadores não apreciam esses esforços adicionais e 57% dizem que se sentem tratados como uma mercadoria dispensável por seus patrões. Pelo menos metade dos empregados se queixa que o nível atual de trabalho estaria insustentável. O pessoal está cansado das “reorganizações” freqüentes seguidas de exigência de trabalho adicional, enxurradas de memorandos e reuniões intermináveis, acompanhados de exortações de “produzir mais com menos”.( RATTANHER, 2010,121).

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ATIVIDADES1. Após a leitura do texto aponte as consequências da reorganização do capitalismo, tendo em vista a maximização do lucro, tanto para as empresas quanto para os trabalhadores.

2. Pesquisar em livros didáticos, periódicos e na internet (livro didático, da biblioteca previamente selecionados e saites da intenet),o significado dos termos neoliberalismo, reestruturação produtiva, flexibilização, precarização, privatização, trabalho formal, trabalho informal.

3.Leia as informações do quadro um (1) e responda as questões abaixo: a) Que indíces do quadro informam que os jovens são excluídos tanto do trabalho quanto da escola?b) Que índices que denunciam ser, os jovens, os trabalhadores piores remunerados, ou os que trabalham sem carteira assinada?c) Quais os postos de trabalho onde os jovens estão pior representados? d) Que trabalhos são a porta de entrada de trabalho para o jovem?Por que? 4.Oficina: produzindo e pensando.a) Em grupo (dois ou três alunos), com meterias diversos representar o universo de trabalho em que estão inseridos e produzir – objetos, espaços, relações e situações de trabalho - enquanto dialogam sobre sua condição de trabalhador e sobre o conteúdo discutido nas aulas. b) Exposição dos objetos produzidos, apresentação das conclusões que o grupo chegou destacando:c) O conteúdo discutido nas aulas (os impactos do desmonte neoliberal sobre o mundo do trabalho)d) a situação dos jovens, mostrados nos textos lidos, frente a realidade do mundo do trabalho). e) a situação de empregados/desempregados, que estão vivenciando.5. Segundo o texto 1 (um), quais os males que atingem os trabalhadores hoje?

OBS: A oficina é o espaço facilitador do diálogo, sobre o conteúdo estudado e sobre o trabalho que realizam. Trazendo a baila situações que enfrentam no cotidiano: como empregado(a), desempregado(a) e outros. Os objetos representam a mediação entre o conteúdo das aulas e do texto estudado a a realidade que dos jovens vivenciam nos postos de trabalho.

1. O desmonte neoliberal a informalidade e a perda de direto

Se compararmos o Brasil com os países de economia industrial avançada, logo

perceberemos que o mercado de trabalho, apresenta certas estranhezas e peculiaridades

próprias do nosso gigantismo e do grau de desigualdade social existente. Um traço

relevante do nosso mercado de trabalho é a sua capacidade de absorção de mão - de -

obra, através de formas precárias de ocupação. Nessa modalidade, o trabalhador, não é

amparado pelos benefícios da (Consolidação das Leis trabalhistas) – CLT. Excluídos do

10 mercado formal passam a engrossar as fileiras da informalidade, que é hoje a responsável

número um da desigualdade social.

O trabalho informal, na maioria dos casos, não garante remuneração suficiente

e necessária aos padrões de consumo acima de uma linha mínima das necessidades

básicas. Essa foi a condição imposta a população trabalhadora no país, na década de

1990, período da implantação do neoliberalismo. Na época, 20% da população ocupada

vivia com um remuneração equivalente a um salário mínimo e somente 82% dos

trabalhadores do setor industrial possuíam carteira assinada. Em 1996, apenas 69%

desses trabalhadores continuavam trabalhando abrigados pela CLT.

Pesquisas realizadas, em 2006, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE) e pelo Institutos de Pesquisa Econômico Social (IPEA) órgãos públicos

do país, revelaram que o número de trabalhadores sem carteira assinada era alto,

chegando no início da década de 1990 a 35% de todos os trabalhadores. Isso quer dizer

que a cada 100 trabalhadores, 32 não tinham carteira assinada. Nessa linha de análise

importa questionar como ficou a situação dos trabalhadores jovens, neste contexto e como

os mesmos estão inseridos no atual “mundo do trabalho”?

Os trabalhadores da educação foram os mais atingidos pelo desmonte,

neoliberal, estes entre os meses de janeiro e setembro de 1996, sofreram um desfalque

de aproximadamente cinco mil professores universitários, com experiência e mais tempo

de formação.Esses docentes recearam perder os direitos legais, por causa das propostas

de reforma neoliberal sugeridas pelos respectivos governos e pediram aposentadoria.

A situação dos trabalhadores do campo foi ainda mais grave. 41% desses

trabalhadores recebia menos de um salário mínimo como fora o caso dos trabalhadores do

Ceará. Nos estados da Região Nordeste (Rio Grande do Norte e Paraíba), o percentual é

ainda maior, 70% dos trabalhadores não são registrados e nem gozam dos direito da CLT.

Geralmente, recebem salários menores que o mínimo nacional, e isso revela ao mesmo

tempo, o aumento da informalidade. Esse índices em períodos de calamidade (seca entre

outros fenômenos) torna a situação ainda mais mais assustadora.

A desregulamentação da seguridade social, o desmonte do aparato político e o

enfraquecimento dos sindicatos, limitaram ao mínimo o poder de negociação, conquistada

no pós-guerra e mantida até a década de 1970, período de crescimento industrial e de

poderio sindical.

Em países periféricos como o Brasil, e mesmo como em países de capitalismo

avançado, verifica-se a questão da precarização das garantias trabalhistas e da

11 informalidade nas condições de trabalho e essa prova o desemprego e tem repercussões

em outras esferas da sociedade. O desemprego aparece como um fenômeno

generalizado, pois, “a questão não é se o desemprego ou a " “precarização flexível", que

modificaram as relações de trabalho, afeta os trabalhadores. O problema, mais grave é a

ameaça permanente que sofre o trabalhador empregado, em face da insegurança

permanente, já que vive a ameaça constante, da informalidade e a incerteza da

precarização forçada.

Texto 3“Assim, em suma, queremos sustentar aqui é que o neoliberalismo foi uma forma do capitalismo coagir - através de inúmeras formas (ex.: marketing, políticas de investimentos, modismos, etc, etc) - as pessoas passaram a adotarem um comportamento que seja mais conveniente ao capital. Embora sendo cômodo ao capitalismo, o neoliberalismo quando absorvido pela sociedade, política ou civil, cria uma representação em quem o absorve cujo efeito principal é a crença de que os interesses neoliberais fincam-se na aspiração de modernização. Ademais, a drasticidade das medidas comumente identificadas como neoliberais são compensadas através da execução de programas sociais localizados e de uma tendência a um equilíbrio monetário, cujo mérito foi o controle da inflação” (SILVA, 1998,p.435-440) )

TEXTO 2“A área social passou paulatinamente para a instância privada e o Estado só deveria investir quando houvesse necessidade de alívio a pobreza absoluta, - atender entre os pobres, os mais pobres, e, produzir aqueles serviços que o setor privado não pode ou não quer fazer. Colocou-se portanto, um Estado de beneficência pública ou assistencialista, em lugar do “Estado de Bem Estar Social”. Os direitos sociais e a obrigação de garanti-los por meio da ação estatal, bem como a universalidade, igualdade e gratuidade dos dos serviços sociais, foram gradativamente abolidos”. (TAVARES, 1995).

TEXTO 1 “Os únicos setores que contam hoje são os empresários, os banqueiros, os grandes proprietários de terra e os políticos passíveis de votar favoravelmente no governo(...). Os trabalhadores são tratados sempre como possíveis empecilhos ao plano de estabilização: desde as reivindicações de aumento de salarial até a defesa dos direitos trabalhistas são mal vistos”. (LESBAUPIN e ABREU, 1997, p.11).

12 ATIVIDADE 55.1. Pesquise junto as pessoas de sua família, da escola e do bairro o que ocorreu com os trabalhadores do campo e da cidade na década de 1990, na região. Anote as informações em um painel e apresente aos colegas.5.2 Compare as informações dos textos, 1,2,e 3 e construa uma explicação que demonstre como as informações dos mesmos estão presentes na realidade dos trabalhadores hoje.5.3. Compare as informações dos textos, 1,2,e 3 e construa uma explicação que demonstre como as informações dos mesmos estão presentes na realidade dos trabalhadores hoje.5.4 Pesquisa junto aos colegas de sala, quantos estão inseridos no mercado de trabalho formal e quantos atuam no mercado informal e como é a relação de trabalho, nos dois casos.

1.3 A música e a arte refletindo a situação dos trabalhadores na década de 1990

TEXTO 1Fragmento: Música de TrabalhoComposição: Renato Russo (1996)Interpretação: Legião Urbana

Sem trabalho eu não sou nadaNão tenho dignidadeNão sinto o meu valor Não tenho identidadeMas o que eu tenho É só um empregoE um salário miserável (...)E nem podemos reclamar Sei que existe injustiçaEu sei o que aconteceTenho medo da políciaEu sei o que aconteceSe você não segue as ordensSe você não obedeceE não suporta o sofrimentoEstá destinado a miséria(....) Disponivel em: http://letras.terra.com.br/legiao-urbana/46956/ Ilustração 1:

http://www.diaadia.pr.gov.br/tvpendrive/modules/mylinks/viewcat.php?cid-17

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ATIVIDADE 6

6.1.Pesquise, em livros, sites da internet e periódicos o que estava acontecendo, com a sociedade brasileira na época que a música foi composta?a) Você acha mesmo que o trabalho é requisito para a dignidade e para garantir a “identidade” ao ser humano? Explique?b) Qual a diferença entre trabalho e emprego apresentada na canção? c) Quais os elementos de coerção social que aparecem na canção e por que ele afirma ter medo da polícia? d) Quais os dilemas do trabalhador presentes na canção? Os mesmos são atuais? 6.2. A partir das informações dos textos acima,(2,3,) aponte a situação do jovem no mercado de trabalho e as possíveis causas da queda de empregos estáveis, da elevação em ocupações consideradas instáveis em termos contratuais, baixa remuneração e maior precariedade.a) Explique de onde vem a capacidade das empresas em produzir muito, com pouca mão-de-obra, com baixa qualificação. b) Após a leitura dos texto 1(um) pesquise em seu grupo/bairro quais as formas de desemprego, que mais os atinge, e suas possíveis causas.c). Após a leitura do texto 3(três), liste as mudanças necessárias para que os jovens permaneçam mais tempo na escola.

Texto 3“Com a escassez de postos de trabalho, ocorreu o fenômeno de desassalariamento, ou seja, um processo que decorre tanto da destruição dos empregos assalariados quanto da expansão dos postos de trabalho não assalariados dos jovens. A ocupação dos jovens em empregos regulares tem se mostrado suscetível a um movimento de queda, e, ao mesmo tempo, ocorreu a elevação em ocupações consideradas instáveis em termos contratuais, de baixa remuneração e maior precariedade”. (Pochmann, 1998). (...) “a crescente quantidade de jovens sem emprego pode ser distinguida por intermédio de quatro categorias novas de desemprego: desemprego de inserção, ou seja, do jovem que está na condição de procura, por um longo tempo, de seu primeiro emprego; desemprego recorrente, que se refere à situação de jovens que, na ausência de emprego estável, encontram uma ocupação temporária, parcial e provisória; desemprego de reestruturação, decorrente do forte ajuste estrutural promovido pelas empresas; desemprego de exclusão, onde o jovem permanece na condição de sem-emprego por um longo período”. (Pochmann, 2001).

TEXTO 2 “Países prósperos e possuidores de economias modernas e mão-de-obra qualificada não têm como empregar a sua gente, em especial, a juventude. A sociedade pós-capitalista tornou-se capaz de produzir muito, com pouca mão-de-obra. As novas tecnologias permitem melhorar a qualidade de diferenciar os produtos com pequena participação trabalhadores de baixa qualificação. O futuro aponta para um mundo que busca produtividade com pouco trabalho.(Pastore, 1994, p.12, apud. SILVA, 2008 p. 7).

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2. Os impactos do neoliberalismo na educação do trabalhador

O sistema de educação e de formação dos trabalhadores, no Brasil, é

contraditório, inclui todos os alunos ao matriculá-los, em face a demanda de “inclusão e

educação para todos”. Porém, ao longo do processo pedagógico, os exclui, seja pela

expulsão ou pela precarização do processo pedagógico que conduz a uma “certificação

desqualificada” frente as novas exigências do “mundo do trabalho” e da “educação para a

vida”.

O modelo de escola implantado excluiu grande parcela de crianças e jovens

brasileiros do direito a formação. No inicio deste processo somente os jovens da elite

podiam estudar. Os filhos dos trabalhadores escravos e mesmo os filhos de homens livres,

encontraram, dificuldade de acesso a escola, tanto pela escassez das mesmas quanto

pela necessidade de trabalhar desde, muito cedo.

Esse modelo no início do século XX, e durante o desenvolvimento industrial, foi

retomado como forma necessária para multidisciplinaridade precoce mente os

trabalhadores. Em detrimento da incorporação de valores, conhecimento e do

amadurecimento para a vida adulta, preparou a mão de obra trabalhadora.

Nesta direção pensar a educação, referida ao conjunto de relações existentes no interior

do processo produtivo, reordenado pelo desmonte neoliberal, coloca para a Sociedade

Civil, o desafio, de ultrapassar a tradicional relação escola-qualificação profissional, em

proveito de uma abordagem diretamente política, que englobe o problema da organização

produtiva, do desenvolvimento industrial e do emprego.

Perceber, portanto que a neutralidade e a ineficiência do sistema educacional,

vai além da aspiração da classe trabalhadora em requentar cursos noturnos, e , que

essas tentativas quase sempre acabaram em fracasso, visto que não há vinculos entre a

escola e a fábrica, entre a necessidade de mudar a natureza e a organização do trabalho e

o que a escola ensina.

Explicar a crise do sistema educacional e o “fracasso escolar” no ensino público

recorrendo as afirmações que entre as família dos setores populares,(a classe

trabalhadora) não há valorização da escolaridade, como capital cultural adquirido, e,

afirmar que o jovens dessa camada social não valoriza a escola e, por isso a abandona é

15 negar a crise social existente que obriga o jovem procurar cada vez mais cedo, algum

trabalho que garanta sobrevivência, fator determinante que o distancia da escola.

Diante disso não negamos que a condições de vida e os problemas sócio-

culturais enfrentados pela classe trabalhadora interfere no desempenho escolar do jovem,

principalmente aqueles oriundos das classes populares, porém. esses elementos não

explicam o fracasso do sistema de ensino público no Brasil, que encontra-se no interior da

própria escola pública.

Se os estudantes apresentam problemas externos oriundas da situação sócio-econômica e

cultural da família, cabe às Política Públicas do Estado e a escola ações para revertes

esses problemas. A escola a luz das necessidades imediatas dos jovens estudantes rever

a proposta pedagógica pouco atraente e desconectada dos problemas que os

trabalhadores vivenciam hoje e que se constitui em um dos fatores do abandono. A antiga

idéia, de uma escola que forme para o trabalho, presente na escola pública requentada por

crianças e jovens empobrecidos, não atrai a juventude e se constitui no principal fator da

evasão escolar no Brasil.

A situação descrita acima, tanto por sociólogos quanto por pedagogos

concluem que os jovens ao mesmo tempo que depositam confiança na escola, em relação

ao projeto futuro, confirmam que as relações são mais difíceis e tensas no presente,

diante da crise de mobilidade social, via escola. Desse modo torna-se visível, a

contradição caracterizada pela valorização do estudo como uma promessa futura e uma

possível falta de sentido frente ao presente. Isso aponta a precariedade e baixa.

A educação pública se tornou desinteressaste por insistir apenas na idéia da

“educação para o trabalho”. Ao não existir trabalho para os jovens, não há também

interesse na escola. Nesse sentido, a dificuldade da ascensão social e até mesmo de

inclusão profissional via instituição educacional apresenta-se como uns dos pilares da falta

de perspectiva de futuro, para os jovens.

2.1 O paradoxo entre a “escola do trabalho” e a “educação para a vida”

No século XXI, 90% dos postos de trabalho no mundo, e, 70% no Brasil estão

concentrados no setor de serviços. Porém, a classe dirigente continua incentivando

práticas aligeiradas de escolarização para crianças e jovens das classes populares. Para

os capitalistas, os filhos dessa classe, pelas atividades que supostamente irão

16 desenvolver, necessitam de uma escolaridade, mais rápida e profissionalizante, com

finalidade restrita ao treinamento. Esta crença mostra a visão utilitarista da classe dirigente

preocupada em formar para o mundo da indústria do final do século passado, que já não

existe.

O grupo dirigente sempre defendeu seus direitos e, entre eles, o de seus filhos

de freqüentar escolas de boa qualidade, postergando a entrada ao mercado de trabalho,

após uma graduação, o que geralmente ocorria entre os 20 e 25 anos. Hoje, a exigência

ainda maior de formação, tem levado os filhos da classe média, entram para o mercado de

trabalho - os que conseguem, somente após os 25 ou 30 anos, depois da graduação e

pós – graduação. Enquanto isso, os filhos da classe trabalhadora, aos 14 anos, por

necessidade de auxiliar a família ou de atender os apelos do consumo, passam a procurar

trabalho e a freqüentar a escola noturna.

Formar para postos de trabalhos extintos ou secularizados é no mínimo

paradoxal, em um mundo que caminha para a produção cada vez mais intensa, com um

número cada vez menor, de mão de obra, com formação mínima. Qual a finalidade de se

ensinar para postos de trabalho que não existem? Qual a finalidade de uma formação

rápida para viver em um mundo cada vez mais complexo e interligado? Será que o

mercado necessita mesmo de mão de obra pouco qualificada? Ou será que o custo baixo

desta mão de obra é lucrativa ao capitalismo?

Economistas e sociólogos afirmam que diante da atualidade do “mundo do

trabalho”, que caminha cada vez mais para uma produção com cada vez menos mão de

obra, o conhecimento terá que ser o principal ativo, na formação do jovem, pois o mínimo,

que a sociedade da informação exige é a graduação. E nesta realidade “a escola terá que

ser para a vida, toda”. Terá, que ensinar para a vida, não para o trabalho. Segundo os

estudiosos a postergação da entrada dos jovens ao mundo do trabalho para depois dos 18

anos poderá garantir a permanência dos jovem na escola o que poderá a longo prazo lhes

garantir uma vida melhor.

Na escola atual o processo de inclusão-exclusão se consolidou com a ampliação

da demanda, por educação, expressa, na Constituição de 1988, e na, LDB (Lei de

Diretrizes e Bases para a Educação Nacional). A ei 9394/96. A demanda por inclusão de

todos os alunos por educação firmou-se desde então, porém, a escola em seus processos

pedagógicos e diante da negligência do estado frente a demanda por

ampliação,manutenção e formação permanente dos quadros dirigentes e dos professores,

em suas práticas, a escola exclui, durante o processo, reprovando-os ano após ano. Essa

17 prática apenas garante aos filhos das classes trabalhadoras, uma certificação, que não os

emancipa para viver em um mundo em permanente transformação.

Nessa, direção percebe-se que os problemas enfrentados pela juventude

trabalhadora, se tornaram visíveis, juntamente com a expansão do capitalismo e que o

mesmo acentuaram-se em época de neoliberalismo, quando o Estado deixou de investir

em escolas apropriadas ao jovens que a partir dos 15 anos abandonam o ensino diurno

para trabalhar. Estes jovens, no noturno, não encontram um ensino adequado ao seu

perfil, e em muitos casos nem professores desqualificados para atende-los.

Dados recentes do IBGE - (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística)

mostraram que embora esteja ocorrendo um pequeno aumento na criação de postos de

empregos formais, a situação ainda é preocupante, diante do número de jovens que não

trabalham e nem estudam, e que portanto permanecem ociosos. A falta de orientações

desses jovens, de suas famílias e da sociedade, quanto às transformações globais da

sociedade capitalista que é - via de regra - considerada irrelevante politicamente. E, vista

como ações marginalmente suportadas por um sistema que estrutura todas as relações na

sociedade.

Enfrentar o problema da inserção precoce dos jovens no mundo do trabalho, na

contemporaneidade exige medidas urgentes, visto que a parcela mais elementar da

infância e da juventude esta sendo mutilada em seus direitos mais elementares, entre eles

o direito a educação para a vida.

TEXTO 1 “A quase totalidade dos alunos das escolas públicas, em todos os níveis, têm desempenho inferior ao prescrito pelas respectivas séries, e muitos permanecem como analfabetos funcionais através dos anos. A tradição brasileira de reprovar os estudantes que não aprendem, em geral, não faz com que eles aprendam mais, mas que fiquem segregados em turmas consideradas, na prática, como irrecuperáveis, e terminem por abandonar a escola. As experiências de progressão automática, ou social, não resolvem o problema, por não estarem associadas a políticas pedagógicas adequadas para recuperar e reintegrar os estudantes. Existe um consenso crescente de que, embora as condições macroeconômicas e culturais das famílias tenham um grande peso no desempenho escolar de seus filhos, é possível, pela adoção de métodos pedagógicos adequados e pelo gerenciamento competente dos recursos humanos e materiais disponíveis, obter resultados significativos. É necessário, além disto, investir recursos para aumentar o tempo de permanência dos alunos na escola, hoje limitado a 3 ou 4 horas diárias; reduzir o ensino público noturno, que hoje absorve a metade da matrícula pública no nível médio, geralmente por falta de espaços próprios para escolas deste nível nas redes escolares. E é necessário, finalmente, investir na qualidade e na carreira dos professores, tornando-a mais atrativa e competente”.(SCHWARTZMAN, e COSSÍO, 2007, p.12-3)

18

ATIVIDADE 7

7.1. Após a leitura do texto “Os impactos do neoliberalismo sobre a escola” explicar as causas do desinteresse dos jovens pela escola. a) Traçar um paralelo ente o tempo de escolarização dos filhos da classe média e o tempo de formação dos trabalhadores e explica por que isto acontece. 7.2. Após a leitura do texto 1 e caracterize os principais problemas decorrentes das medidas neoliberais sobre a formação dos alunos das escolas públicas.

3. Histórias de vida: jovens trabalhadores: vivências, experiências e sonhos

Instituições nacionais e internacionais, centos de pesquisas apontam que a

situação da juventude brasileira, em relação ao desemprego, à informalidade e à

inatividade é grave. Apontam também que, no Brasil, 4,5 milhões de jovens entre 15 e 29

anos não trabalham, não estudam e não possuem o ensino fundamental completo. De

acordo com as pesquisa, os dados da realidade dos adolescentes e jovens justificam os

programas sociais voltados à manutenção e ampliação do tempo escolar, e, por

conseguinte, à escolarização desses jovens que se encontram à margem da sociedade,

muitos sem trabalho e outros sem trabalho e sem escola .

A situação de exclusão do jovem atualmente, moveu, também pedagogos,

sociólogos, psicólogos e pesquisadores de diferentes áreas a voltarem seus estudos a

situação das “juventudes trabalhadoras”, população mais atingida pela desregulamntação

das relações de trabalho e pela precarização dos postos de trabalho existentes. Esses

estudos mostram como - o jovem brasileiro está inserido no mundo do trabalho e na

escola. Mostram também, que os jovens buscam oportunidades de inserção social, visto

serem, os mais afetados pela desigualdade de oportunidades no mercado de trabalho.

Muitas pesquisas procuram trazer a vida dos jovens para dentro da própria

história e isso vem alargando o campo de análise, pois admite heróis vindos não só dentre

os líderes, mas dentre a maioria desconhecida do povo. Estas possibilidades de pesquisa

estão estimulando professores e alunos a se tornarem companheiros de trabalho e além

de ajuda-los a, se fazerem visíveis como classe social. Pois, proporcionam aos grupos

pesquisados um sentimento de pertencer a determinado lugar e a determinada época. Em

suma, contribuem para formar seres humanos mais completos.

19 Seguem abaixo trechos de entrevistas feitas com jovens brasileiros. Nestas

entrevistas os jovens relatam e explicam sua relação com a escola e com o trabalho.

Depoimento 01

“Comecei a trabalhar com 15 anos por que precisava pagar minhas contas, não queria mais depender só do meu pai, ai eu comecei a trabalhar. Assim que comecei achava que os conteúdos que aprendia na escola não servia pra nada. Agora eu sei que ajuda, vou dar um exemplo para a Sra no primeiro ano tinha um amigo meu que ele arrancava mandioca e eu trabalhava de ajudante de pedreiro, ai o professor de matemática ia dar aula pra nois e ensinar raiz quadrada e meu amigo gritava, professor eu vou tirar a raiz quadrada do pé de mandioca? Eu gritava assim professor eu vou tirar a raiz quadrada do tijolo? A gente sempre zoava, pensava que ia ficar sempre arrancando mandioca e sempre mexendo com tijolo, não pensava no futuro, no que podia acontecer não pensava que podia ter uma vida diferente, fazer outra coisa, naquele momento só pensava em zoar com o professor. A gente quando começa o segundo grau, não entende que pode usar o que a gente aprende na escola em outro lugar, no trabalho por exemplo. Agora eu entendo isso, mas antes eu não entendia. Mas quando eu estudava eu gostava, gostava sim e era bom aluno, de matemática principalmente apesar de zoar com o professor”. (Entrevista realizada com P.O.B, 20 anos, por Fiorotti, 2009, p.19).

Depoimento 02

“Quando precisei escolher entre o trabalho e a escola fiquei com o trabalho. Por causa da vida mesmo, da juventude, naquele momento pra mim o importante era aproveitar a vida, não tava ligando pra escola, o que eu queria era festar, eu trabalhava até as 6, tinha que ir pra casa correndo, não tinha tempo pra nada, aquilo me enchia o saco e todo dia era a mesma coisa. Quando eu faltava, tinha matéria pra copiar, prova pra estudar, trabalho pra fazer, tinha que estudar e eu não estudava eu tava cansado e queria dormir porque no outro dia tinha que acordar cedo para trabalhar de novo. Não é que eu era relaxado, chegou uma hora que eu não conseguia estudar e trabalhar. Eu sei que isso não é impossível tem um monte de gente que fais, se eu tivesse me esforçado mais eu tinha conseguido por que eu era bom na escola, o que faltou foi força de vontade. Hoje me arrependo de ter abandonado a escola. Aquele guri que eu falei pra senhora que rancava mandioca, ele chegava na sala com a mão toda preta a gente zoava com ele. As menina nem chegava perto do coitado. Mas ele não desistiu, terminou o segundo grau e tá fazendo matemática, ele gasta todo o salário dele com a mensalidade mas não desiste, daqui a pouco vai tá formado, vai ser professor e nois que ria dele tamo aqui trabaiando no pesado. Eu marquei bobeira, abandonei a escola por causa de mulher, bebida e festa com os amigos. É a juventude, sacou, querer ser livre, não ter compromisso com escola, poder sair todo dia. É muito difícil trabalhá e estudá se a pessoa não tiver muita força de vontade desiste mesmo”. (Entrevista realizada com P.O.B, 20 anos, por Fiorotti, 2009, p. 20-21).

Depoimento 03

"Eu acho que tem que estudar, não é o grau de escolaridade, mas o que você faz com o seu grau de escolaridade. Não é passar na prova, mas é aprender mesmo”.“Na verdade, você tem que estudar, você tem que se cobrar, depende de você. Hoje, tudo é máquina, o raciocínio é a diferença." (Depoimento citado em Andrade, 2000, p. 96).

Depoimento 04

“Eu sou auxiliar administrativa. Eu sempre trabalhei como temporária. Pintou aí uma oportunidade

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de ficar com um trabalho mais sólido e estou muito, muito, muito feliz, com carteira assinada, ticket refeição e plano de saúde. A única coisa que serviu do curso que eu fiz, foi noções de informática. O resto aprendi na prática”.(Depoimento citado em Andrade, 2000, p. 96).

ATIVIDADE 8

8.1. Debater o conteúdo das entrevistas, destacando:a) o sentido do trabalho e da escola para os jovens?Explique.b) as relações que os jovens estabelecem entre a educação que recebem na escola e o mundo do trabalho?Explique.c) confrontar as afirmações visando entender as percepções dos jovens, sobre o trabalho e a escola.

4.REFERÊNCIAS

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