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1 Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13 th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos), Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X DA MARGEM PARA O CENTRO: IMPORTÂNCIA DA PESQUISA COM O SEGMENTO DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS FORA DO CIRCUITO Tamires Barbosa Rossi Silva 1 Resumo: Este trabalho explora a importância de pesquisas sobre a promoção de direitos das travestis e transexuais e a militância em cidades de médio porte. Comumente as pesquisas tendem a se centrar em cidades de grande porte, o que está relacionado com questões conjunturais destes espaços, prioridade dos pesquisadores, e também com a localidade de algumas universidades. Além disso, a origem de determinados movimentos, como o LGBT, é sempre contada a partir do eixo Rio-São Paulo, o que impede uma percepção diversa sobre o movimento e as experiências da militância; como é o caso dos cursinhos pré-enem voltado para travestis e transexuais realizados em cidades de médio porte. Pensar a promoção de direitos das travestis e transexuais em outras localidades, aporta dados novos e produz resultados originais que podem somar ás escassas pesquisas do segmento. Especificamente, essa comunicação traz dados de pesquisas que não foram centradas no eixo Rio-São Paulo; aponta como as pesquisas sobre o segmento de travestis e transexuais do eixo Rio-São Paulo acabam criando “margens em relação a margens” (Bento, 2011); e por fim, destaca a importância de pesquisas que não se dediquem apenas a explorar esses espaços descentralizados, mas que construam objetos analíticos a partir de várias escalas, numa perspectiva multissituada (Marcus, 2001). Palavras-chave: pesquisa, travestis e transexuais, cidadania, militância. Precisamos do poder das teorias críticas modernas sobre como significados e corpos são construídos, não para negar significados e corpos, mas para viver em significados e corpos que tenham a possibilidade de um futuro. (Haraway, p. 16, 1995) Introdução Este trabalho é fruto de reflexões que surgiram durante a pesquisa que desenvolvi no mestrado ao pesquisar a partir de cidades interioranas de Minas Gerais a construção de espaços políticos nestas localidades e as políticas educacionais voltadas para as pessoas trans 2 . Através da etnografia multissituada (Marcus, 2001) fui tomando contato com este universo e problematizando algumas pesquisas já realizadas sobre tais temáticas. 1 Mestranda em ciências sociais pela Unesp-Marília, docente da rede pública do estado de Minas Gerai. 2 Termo guarda-chuva que busca abarcar travestis, mulheres e homens transexuais, a discussão conceitual da terminologia será realizada posteriormente. Quando for utilizado a terminologia pessoas trans, estarei me referindo as identidades que termo abarca. Já para me referir as experiências específicas utilizarei a terminologia própria.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X

DA MARGEM PARA O CENTRO: IMPORTÂNCIA DA PESQUISA COM O SEGMENTO

DE TRAVESTIS E TRANSEXUAIS FORA DO CIRCUITO

Tamires Barbosa Rossi Silva1

Resumo: Este trabalho explora a importância de pesquisas sobre a promoção de direitos das

travestis e transexuais e a militância em cidades de médio porte. Comumente as pesquisas tendem a

se centrar em cidades de grande porte, o que está relacionado com questões conjunturais destes

espaços, prioridade dos pesquisadores, e também com a localidade de algumas universidades. Além

disso, a origem de determinados movimentos, como o LGBT, é sempre contada a partir do eixo

Rio-São Paulo, o que impede uma percepção diversa sobre o movimento e as experiências da

militância; como é o caso dos cursinhos pré-enem voltado para travestis e transexuais realizados em

cidades de médio porte. Pensar a promoção de direitos das travestis e transexuais em outras

localidades, aporta dados novos e produz resultados originais que podem somar ás escassas

pesquisas do segmento. Especificamente, essa comunicação traz dados de pesquisas que não foram

centradas no eixo Rio-São Paulo; aponta como as pesquisas sobre o segmento de travestis e

transexuais do eixo Rio-São Paulo acabam criando “margens em relação a margens” (Bento, 2011);

e por fim, destaca a importância de pesquisas que não se dediquem apenas a explorar esses espaços

descentralizados, mas que construam objetos analíticos a partir de várias escalas, numa perspectiva

multissituada (Marcus, 2001).

Palavras-chave: pesquisa, travestis e transexuais, cidadania, militância.

Precisamos do poder das teorias críticas modernas sobre como significados e corpos são

construídos, não para negar significados e corpos, mas para viver em significados e corpos

que tenham a possibilidade de um futuro.

(Haraway, p. 16, 1995)

Introdução

Este trabalho é fruto de reflexões que surgiram durante a pesquisa que desenvolvi no

mestrado ao pesquisar a partir de cidades interioranas de Minas Gerais a construção de espaços

políticos nestas localidades e as políticas educacionais voltadas para as pessoas trans2. Através da

etnografia multissituada (Marcus, 2001) fui tomando contato com este universo e problematizando

algumas pesquisas já realizadas sobre tais temáticas.

1 Mestranda em ciências sociais pela Unesp-Marília, docente da rede pública do estado de Minas Gerai. 2 Termo guarda-chuva que busca abarcar travestis, mulheres e homens transexuais, a discussão conceitual da

terminologia será realizada posteriormente. Quando for utilizado a terminologia pessoas trans, estarei me referindo as

identidades que termo abarca. Já para me referir as experiências específicas utilizarei a terminologia própria.

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Comumente as pesquisas tendem a se centrar em cidades de grande porte, o que está

relacionado com questões conjunturais destes espaços, prioridade dos pesquisadores, e também com

a localidade de algumas universidades. Além disso, a origem de determinados movimentos, como o

LGBT, é sempre contada a partir do eixo Rio-São Paulo, o que impede uma percepção diversa sobre

o movimento e as suas experiências políticas.

Este artigo explora a importância de pesquisas sobre a promoção de direitos das pessoas

trans em cidades de médio porte. Pensar a promoção de direitos das pessoas trans em outras

localidades, aporta dados novos e produz resultados originais que podem somar ás pesquisas já

realizadas.

Assim, através de uma busca no banco de dados da Scielo, Google Acadêmico e o Portal

periódicos da Capes utilizando as palavras chaves travesti e interior, mapeei algumas pesquisas

sobre a vida de travestis que residem no interior e a característica destes trabalhos. Abordo tais

dados e aponto como as pesquisas sobre o segmento de travestis do eixo Rio-São Paulo acabam

criando margens em relação a outros espaços geográficos, no que se concerne à cidadania e outras

temáticas relevantes para as pessoas trans e por fim destaco a importância de pesquisas que se

dediquem a explorar esses espaços não investigados, mas que também analisem os dados

trabalhando com várias escalas analíticas, tal como numa perspectiva multissituada (Marcus, 2001).

O que se tem falado sobre o interior?

Quando iniciei minha incursão de campo no interior de Minas Gerais conheci Jacqueline, ao

me apresentar tentei deixar claro ao que se devia minha aproximação e o real interesse do meu

contato, ou seja, o que queria pesquisar e as motivações que me levaram a me interessar pela vida

de pessoas trans. Terminado o campo, repenso todos estes momentos de apresentação inicial as

minhas interlocutoras, vejo que naquele momento estava tão munida e armada de leituras de outras

experiências etnográficas que não me atinei a alguns detalhes importantes. Tais trabalhos falam de

lugares e momentos históricos específicos, assim discuto nessa seção, algumas características das

produções acadêmicas sobre questões trans realizadas nas últimas décadas, também aponto algumas

características de pesquisas que não foram centradas em cidades de grande porte e/ou centros

universitários.

Ao longo das últimas quatro décadas muitas pesquisas foram desenvolvidas em torno das

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questões trans,3 tais trabalhos foram importantes para retirar da marginalidade os referidos assuntos.

Pesquisas como as de Hélio Silva (2007) e de Don Kulick (2008) realizadas na década de 1990

foram significativas para a construção de tais temáticas enquanto objeto de estudo acadêmico. Um

fator que contribuiu para o aumento dos estudos de gênero e sexualidade foi a epidemia de aids nos

anos 90, surgiram diferentes pesquisas a respeito da questão da sexualidade, incluindo travestis,

lésbicas e gays. Inicialmente poucos trabalhos trouxeram a questão das travestis e suas

especificidades de gênero em relação às dinâmicas sociais ou com a epidemia. No entanto esses

estudos tiveram um papel “político” junto à academia: colocando as temáticas do corpo, do gênero e

da sexualidade em pauta. (Benedetti, 2005) O lugar de direitos alcançado pelas travestis e

transexuais na esfera pública esteve, nas últimas três décadas pelo mesmo, associado ao âmbito da

saúde, inicialmente centrada exclusivamente nas questões relativas às doenças sexualmente

transmissíveis e à aids e, mais recentemente têm se voltado, para a atenção ao processo de

feminilização. A saúde também tem se ocupado em discutir temas como violência policial,

hormonioterapia, articulação e manutenção de organizações políticas representativas, mercado de

trabalho, que, dada a abrangência não puderam ser tratados em toda sua profundidade por um único

setor. (Pelúcio, 2009) Tal característica também tem predominado no campo de pesquisa, no

entanto as várias pesquisas realizadas nas últimas décadas no campo do gênero e da sexualidade

contribuíram para potencializar um deslocamento do debate que estava centralizado no âmbito

biomédico para a linguagem dos direitos.(Carrara, Sérgio apud Piscitelli, 2014, p.7). Assim as

abordagens, que eram guiadas prioritariamente por conceitos das áreas médicas e psicológicas,

deram lugar a formulações teóricas que questionam a marginalidade das populações que vivem em

desacordo com normas hegemônicas de gênero e sexualidade. Diversas pesquisas se dedicaram a

constatar a exclusão de direitos sociais e civis que os sujeitos tidos como desviantes das normas de

gênero e sexualidade4 sofrem, as pesquisas de Marcos Benedeti (2005) William Peres (2005),

Marcos Roberto Vieira Garcia (2007) e Larissa Pelúcio (2009) são exemplos deste marco analítico.

Estas pesquisas possuem uma característica, se dedicam a explorar a questões concernentes

a vida de travestis e transexuais que residem em cidades de grande porte ou centros universitários. É

3 As pesquisas desenvolvidas em relação a travestilidade e transexualidade abordaram violência, as DST´s, AIDS, a

prostituição, a construção do corpo, transmigração, processo transexualizador, dentre outros. 4 Judith Butler (2000) (2008) mostra que a formação dos sujeitos exige uma identificação com a normativa do sexo, no

qual o imperativo heterossexual possibilita e nega algumas identificações sexuais. Essa normativa produz os gêneros

tido como “inteligíveis”, que são os que mantém uma relação de coerência e continuidade entre sexo, gênero, prática

sexual e desejo. Os sujeitos tidos como desviantes das normas de gênero e sexualidade são aqueles que não são

inteligíveis.

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esta característica de pesquisas que me preocupa neste artigo. Não quero ser anacrônica, nem

desconsiderar a localidade de grandes centros universitários, e a importância de tais análises, muitos

acadêmicos de diversas áreas de pesquisa saem de suas localidades para grandes centros

universitários e são compelidos a centrarem seus campos de estudo nestas localidades e seus

arredores, o que acaba produzindo uma extensa bibliografia de determinados espaços e uma

escassez de outros.

Através de um breve levantamento bibliográfico no banco de dados da Scielo, Google

Acadêmico e o Portal periódicos da Capes utilizando as palavras chaves travesti e interior,

identifico algumas pesquisas que se centraram em pesquisar em cidades do interior do país e

algumas de suas características para pensar as relações de poder que perpassam o ato de pesquisar e

questões que considero importante de serem analisadas.

Privilegiei neste levantamento trabalhos de mestrado e/ou doutorado sobre tais temáticas, no

entanto minha preocupação não é sobre acumular citações de trabalhos para defender minha

hipótese, pois o argumento e o questionamento que proponho tem sua importância independente da

quantidade de citações; o significativo é jogar luzes sobre o problema norteador deste artigo, que é

o quanto pesquisas que se centram em uma única escala podem produzir um discurso normativo.

A dissertação de Luiz Henrique Miguel (2015) “Gerações travestis: Corpo, subjetividade e

geracionalidade entre travestis do interior de São Paulo” que busca compreender como a diferentes

gerações de travestis que se prostituem no interior de São Paulo, especificamente São Carlos e

Ribeirão Preto, constroem seus corpos e subjetividades, a sua escolha destes lócus de pesquisa se

deu através de fatores econômicos, pois tais cidades possuem um fluxo migratório e econômico

importante, além da proximidade da universidade na qual a pesquisa foi desenvolvida. Já o artigo

“O sexo sem lei, o poder sem rei: sexualidade, gênero e identidade no cotidiano travesti de Luciene

Jimenez e Rubens C. F. Adorno (2009) aborda a história de vida de três irmãos homossexuais

nascidos no interior do nordeste brasileiro, mas que migraram para São Paulo onde tornaram

travestis e profissionais do sexo. Assim, os autores abordam como se deu a construção identitária

destes sujeitos. Enquanto a dissertação de Thiago Teixeira Sabatine (2013) “Travestis, territórios e

prevenção de AIDS numa cidade do interior de São Paulo” procurou compreender as ações de

promoção para saúde e qualidade de vida de travestis prostitutas. Neste contexto afim de abordar de

modo mais detalhado a cidade, o autor atribuiu um nome fantasia para a cidade. O artigo de

Martinho Tota (2015) “Cinco vidas: Travestilidades, gênero, sexualidades e etnicidades no interior

da Paraíba”, que é fruto de sua tese de doutorado, também promove o deslocamento dos grandes

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centros, a partir das histórias de vida de cinco travestis indígenas, habitantes de cidades do interior

do estado da Paraíba. Por fim a dissertação de “Localidade ou metrópole?: demonstrando a

capacidade de atuação política das travestis no mundo-comunidade” de Luana Mirella (2010) trata

de casos de travestis que atuam politicamente no interior do Piauí, mostrando que mesmo em uma

cena aparentemente atrasada e resistente à modernidade, podemos encontrar um maior pluralismo

sexual, Mirella questiona as relações de poder que configuram o eixo Sul-São Paulo superior do

ponto de vista econômico e cultural em relação aos outros estados.

Destes cinco trabalhos encontrados, todos se propõem a pensar questões trans a partir de

lugares, experiências não centralizadas. Há ainda nestes trabalhos uma preocupação com a questão

da prostituição e a saúde, embora este binômio ainda seja importante para pensar as questões trans,

há de se questionar a centralidade que estes possuem. Além disso, o espaço da prostituição não é

mais o único espaço importante para a constituição da travestilidade. Késia Melo (2016)

acompanhou em sua pesquisa que os contatos de técnicas de modificação corporal de algumas de

suas interlocutoras que ocorreram através de grupos no Facebook. Isto não significa que o espaço

da prostituição perdeu a sua importância, mas não é mais o único espaço de constituição de

sociabilidade trans. Há nestas pesquisas rastros da epidemia de aids dos anos 90, assim como a

manutenção das temáticas da prostituição e questões identitárias, embora tais temáticas sejam

relevantes é importante pensar outros temas balizadores no interior, tais como o acesso a política e a

militância.

A pesquisa de Sabatine (2013) exigiu que não se nomeasse a localidade pesquisada, tal

técnica é uma saída estratégica para tratar temas específicos, quando pensamos a questão do acesso

a direitos e os movimentos sociais tais temáticas podem esbarrar em problemas éticos com muito

mais facilidade do que em outras temáticas podendo ocorrer negações de entrevistas e/ou de uso de

dados, assim tais demandas éticas exigem que o pesquisador utilize tal saída para constituição do

texto e abordagem das problemáticas. Cada trabalho etnográfico lida com seus problemas de forma

específica, ou o próprio campo se organiza de forma que o pesquisador lide com os dados que o

campo oferece, o campo de pesquisa nas ciências humanas não é um todo organizado e metódico,

ele por vezes surpreende o pesquisador com temáticas que não estavam elencadas inicialmente.

O trabalho de Tota (2015) e de Mirella (2010) se preocupam com o deslocamento centro-

periferia, apontando a importância de pesquisas que se centrem em questões relativas a pessoas

trans fora dos grandes centros e do que já tem sido repetidamente produzido no campo acadêmico

nos últimos anos; os demais embora tenham se centrado em compreender lugares não centrais e as

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questões trans nestes contextos, não tem como preocupação esse deslocamento. Tais pesquisas,

mesmo que não possuam a preocupação do deslocamento, são um importante acervo de como a

vida de pessoas trans tem significado em contextos fora dos grandes centros. Acervo este que pode

ser consultado e seus dados relacionados e analisados. Narrativas etnográficas partindo de lugares

específicos, é importante, falar sobre vidas que não se apoiam em marcos normativos é um ato

político. Existem temáticas, que ainda são caras as pessoas trans, pois ocupam um lugar marginal

nas interações e no imaginário social. Investigar o acesso à saúde, a educação, segurança pública e

moradia, ainda é relevante; pois este acesso ainda é precário, tais temáticas são ainda

marginalizadas, embora sejam objetos de questionamento em algumas pesquisas. Com exceção do

trabalho de Mirella (2010), não há uma preocupação em discutir as relações de poder e a relação da

escala micro com as questões macro. O interior, as margens ainda carecem de fotografias.

Margem da margem? É possível?

Berenice Bento (2011) ao fazer uma breve revisão bibliográfica sobre pesquisas

relacionadas a sexualidade, homossexualidade, transexualidade, indicou mecanismos de

funcionamento das margens, donde é possível perceber que mesmo entre os sujeitos que não se

identificam com a heterossexualidade compulsória há uma produção de normatizações, assim:

Para além de pensar o feminino como uma estrutura que se desloca entre os corpos, essas

pesquisas também nos revelam as margens produzidas dentro das margens e como a

binariedade margem versus centro é mais uma das dicotomias enganosas. No entanto, essa

afirmação não pode ser diluída em uma despolitização e o apagamento das violências

contra gays, lésbicas, travestis, transexuais, os meninos femininos e os intersexos. (p.98)

Este mesmo mecanismo de produção de “margem entre as margens” identificado dentro das

revisões bibliográficas feitas por Bento (2011), também opera nas produções acadêmicas. Pesquisas

que tratem a respeito de condições de vida de pessoas trans, constituição de identidade, as

violências que estes sujeitos são submetidos, se configuram como análises que abordam temáticas

marginais, são trabalhos que olham para a fronteira, mas nem sempre feitos na fronteira. Assim,

como a travestilidade não pode ser tomada como única, os resultados das pesquisas devem ser

vistos como processos analíticos que estão em constante produção e modificação, sendo resultados

heterogêneos, diversificados, que possuem temporalidades e localidades.

Edward Said (2007) aborda a relação entre Oriente versus Ocidente, apontando como é

“uma relação de poder, de dominação, de graus variáveis de uma hegemonia complexa, (...)” (p.

32) Entendo que relação de poder semelhante existe na relação entre as cidades brasileiras de

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grande porte que abarcam renomadas universidades em relação a cidades interioranas que não

possuem uma rede de ensino e pesquisa já consolidada. Said propõe que se repense a complexidade

da relação entre o conhecimento e o poder, para que se possa a estudar e compreender outras

culturas de modo libertário, não repressivo e não manipulador.

Claudia de Lima Costa (1997) ao pensar o sujeito do feminismo utiliza a obra de Said,

propondo que:

Creio que paralelo semelhante poderia ser traçado em relação as narrativas da teoria

feminista ocidental. As vozes e as lutas daquelas outras, subalternas, (in)apropriadas, que

ficaram do outro lado da divisão do Império, soaram, no contexto pós-colonial, alto o

suficiente para subverter e fragmentar a hegemonia de um tipo de narrativa feminista que,

tal qual o discurso orientalista analisado por Said, construiu imagens universais da “outra”

enquanto legitimava o exercício de “um tipo específico de poder em definir, codificar e

manter conexões existentes entre o primeiro e o terceiro mundo.” Com o pós-colonialismo,

uma heteroglossia de linguagens e uma multiplicidade de representações (e auto –

representações) proliferaram dentro das teorias feministas juntamente com o surgimento, a

nível político, de vários novos movimentos sociais interrogando, entre outras coisas, os

paradigmas epistemológicos ocidentais. Dos fragmentos das metanarrativas surgem outros

conhecimentos (parciais, situados) apoiados nas diversas condições de determinação que

estruturam diferentes experiências (de raça, de gênero, de classe, de orientação sexual, de

geração, de etnia etc.)´para diferentes sujeitos em conjunturas históricas, materiais e

libidinais variadas e díspares. Estes irão, por sua vez, moldar consciências e visões de

mundo, isto é, unidades – na diferença. (p. 134)

Afirmo neste trabalho que a produção cientifica a partir das cidades brasileiras de grande

porte que abarcam renomadas universidades contribui para a afirmação de uma perspectiva analítica

eurocêntrica, tornando determinados espaços analíticos e determinadas teorias, a “nossa europa”. O

eurocentrismo não é uma perspectiva de pensamento exclusiva dos europeus, mas de todos que são

influenciados por tal hegemonia (Quijano, 2014). O eurocentrismo é responsável por produzir a

condição de colonialidade que:

Se funda en la imposición de una clasificación racial / étnica de la población del mundo

como piedra angular de dicho patrón de poder, y opera en cada uno de los planos, ámbitos y

dimensiones, materiales y subjetivas, de la existencia cotidiana y a escala social. (p.287)

Aponto que a centralidade de analítica de algumas pesquisas é uma perspectiva de

colonialidade, pois se cria hierarquizações discursivas e analíticas, o que sustenta a relação de

dominação, que hierarquiza as experiências que se dão em outras localidades.

Assim, como as temáticas trans estão marginalizadas, a produção em determinados espaços

também é marginal e caso procedimento de marginalização da margem não seja identificado se

incorre o risco de moldar concepções de mundo estanques e essencializadas acerca de tais assuntos.

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Afim de fugir do risco da essencialização e de pensar a sobre a importância de

conhecimentos situados, me refiro ao texto de Donna Haraway (1995) “Saberes localizados: a

questão da ciência para o feminismo e o privilégio da perspectiva parcial”. Haraway aborda a

falácia da objetividade e do relativismo, na qual fomos convencidos sobre a importância da busca

da objetividade na ciência, demanda que tem acuado as mulheres, fazendo as conformar com a fala

cínicas de cientistas que “contam fábulas sobre a objetividade e o método científico para

estudantes nos primeiros anos de iniciação, mas nenhum praticante das altas artes científicas

jamais seria apanhado pondo em prática as versões dos manuais.” (p. 9) A proposta de Haraway

(1995) para este campo de poder no qual a ciência se configura, é a construção de uma ciência

feminista que seja capaz de oferecer uma explicação rica e mais adequada do mundo, que possa

proporcionar uma relação crítica e reflexiva sobre as práticas de dominação, privilégio e opressão

que todos sujeitos possuem:

Assim, creio que o meu e o "nosso" problema é como ter, simultaneamente, uma explicação

da contingência histórica radical sobre todo conhecimento postulado e todos os sujeitos

cognoscentes, uma prática crítica de reconhecimento de nossas próprias "tecnologias

semióticas" para a construção de sentido, e um compromisso a sério com explicações fiéis

de um mundo "real", um mundo que possa ser parcialmente compartilhado e amistoso em

relação a projetos terrestres de liberdade finita, abundância material adequada, sofrimento

reduzido e felicidade limitada. (p. 15 e 16)

Tal projeto de ciência feminista que Haraway defende, aponta a constituição de uma

objetividade feminista, que é a condição para a existência dos saberes localizados. Posicionar é a

chave do conhecimento, a partir dessa prática é possível organizar o discurso cientifico e filosófico

ocidental “ Posicionar-se implica em responsabilidade por nossas práticas capacitadoras. Em

consequência, a política e a ética são a base das lutas pela contestação a respeito do que pode ter

vigência como conhecimento racional.” (p. 27)

Desfechos: Qual é a saída para pensar a margem?

As margens não estão numa escala inferior de condições políticas, elas não irão caminhar

numa perspectiva evolutiva para as condições tidas como desenvolvidas. Afinal como explicar a

que primeira vereadora travesti no Brasil, Katia Tapety, é do Piaui ? (Mirella, 2010) Não deveria ser

do Sudeste, já que a localidade se encontra mais “desenvolvida”? Será que a inexistência de

pesquisas sobre saúde, educação, segurança em cidades não centrais se deve a inexistência de

condições de acesso a saúde, educação, segurança? Mas quais estéticas têm sido possíveis neste

espaço de inexistência de direito? Seria tais trabalhos desenvolvidos até agora uma ficção?

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As relações interioranas possuem incongruências com o que é desenvolvido nas regiões

centralizadas. O interior não caminha para o desenvolvimento, claro que existem relações de poder

que podem tornar a vida mais dura nestas localidades, afinal são inúmeros fatores que possibilitam

condições políticas e sociais mais favoráveis, e raramente essas condições são objetos analíticos.

Por vezes essa condição mais favorável pode se constituir uma grande falácia. Mas a única forma de

obter uma fotografia do interior é torna-lo objeto analítico.

É preciso enunciar, deixar claro o lugar que se fala, pensar em como as questões políticas

afetam o fazer cientifico. Haraway (1995) aponta que o conhecimento situado deve estar em tensão

com as estruturações produtivas. É ver como esse saber localizado também toca no campo das

emissões globais:

Estou argumentando a favor de políticas e epistemologias de alocação, posicionamento e

situação nas quais parcialidade e não universalidade é a condição de ser ouvido nas

propostas a fazer de conhecimento racional. São propostas a respeito da vida das pessoas; a

visão desde um corpo, sempre um corpo complexo, contraditório, estruturante e

estruturado, versus a visão de cima, de lugar nenhum, do simplismo. (p. 30)

Ver as conexões as disjunções e interstícios, não é ver o global e o local de forma

dicotômica. O global nem sempre constitui o local e vice-versa, mas estes em alguns momentos

dialogam e se entrecruzam.

A questão do lugar de enunciação, deve levar em conta alguns aspectos para entender o que

é o lugar, o lugar não deve ser entendido a partir de categorias ontológicas, o lugar de enunciação

surge da experiência concreta, e a experiência não possui uma essência. O lugar possui tensões,

fraturas e tensões que não podem ser representadas por um modelo binário de relações de poder. A

fronteira, o lugar precisa de materialidade pois é uma questão política, não poética (Costa, 1997)

A importância de pesquisas que se dediquem a explorar esses espaços não investigados, mas

que também analisem os dados trabalhando com várias escalas analíticas, numa perspectiva

multissituada, o deslocamento de escalas pode oferecer análises mais profícuas. As relações de

poder na antropologia também tem sido objeto de questionamento e de fraturas dentro deste campo

cientifico.

A antropologia tem elaborado vários conceitos e paradigmas, abrindo novas áreas de

investigação, mas mantendo a sua preocupação com a diversidade. Nos anos 70, a cidade começou

a fornecer novos temas e objetos para serem estudados pela antropologia (Magnani,1996). Dentre as

temáticas fornecidas, encontramos os estudos de gênero e sexualidade. Durante muito tempo as

pesquisas tinham como característica a centralidade em determinados objetos ou localidades. No

entanto, nos anos 80, o debate etnográfico, é norteado pelo paradigma pós-moderno, a etnografia se

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desdobraria em uma multiplicidade de interpretações, outros modelos de autoridade etnográfica

surgem, assim como uma preocupação com os recursos retóricos presentes no modelo textual das

etnografias clássicas e contemporâneas. A etnografia nessa perspectiva passa a ser uma das

representações culturais possíveis. É nessa perspectiva de prática antropológica que destaco como

metodologia importante para o questionamento situado neste artigo.

A crítica pós-moderna, leva em conta as relações de poder, os seus jogos e como a

antropologia interpretativa tornava a cultura um conceito essencializado. Segundo Patrícia Jordão

(2004) a crítica contemporânea a respeito da etnografia, tem levado em conta o modo em como os

antropólogos têm aparecidos nos trabalhos etnográficos, a relação entre os antropólogos, o texto e

sujeito de pesquisa. Tal critica tem quebrado textos que ainda estão comprometidos com o

positivismo, assim outros métodos e técnicas tem aparecido para se pensar essa nova realidade.

Jordão (2004) faz a divisão da antropologia pós-moderna americana em três perspectivas de

crítica, embora este tipo de divisão não comporte todos os autores possíveis, são elas: 1) Meta-

etnografia ou meta-antropologia, estuda a etnografia como um texto e gênero literário, apontando

outras possibilidades de escrita etnográfica. 2) Etnografia experimental busca redefinir as maneiras

de se fazer a observação participante no trabalho de campo e na sua relação com os sujeitos

pesquisados. 3) A terceira corrente é mais extrema e de vanguarda, está voltada para as questões

referentes à crise da ciência, buscando uma ruptura com o fazer antropológico que foi constituído

até então.

A perspectiva etnográfica, a meta-etnografia, especificamente a etnografia multissituada na

perspectiva de George Marcus (2011) discute como construir uma prática etnográfica que exceda o

espaço pesquisado, não é somente pesquisar na aldeia, mas articular o local com um sistema social

mais abrangente que está envolvido.

Pesquisas que se centram em uma única escala podem produzir um discurso normativo? Não

e sim, pois a produção de normatividade não perpassa apenas pela discussão de falar de vários

pontos de vista é possível realizar uma pesquisa em várias escalas analíticas e produzir

normatividades. A etnografia multissituada é uma ferramenta que pode ser utilizada para pensar tais

relações de poder.

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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),

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FROM THE MARGIN TO THE CENTER: IMPORTANCE OF THE RESEARCH WITH

THE SEGMENT OF TRANSVESTITES AND TRANSSEXUALS OUTSIDE THE CIRCUIT

Astract: This paper explores the importance of research on the promotion of transvestite and

transsexual rights and militancy in medium-sized cities. Usually research tends to focus on large

cities, which is related to the conjunctural issues of these spaces, the priority of the researchers, and

also with the locality of some universities. In addition, the origin of certain movements, such as

LGBT, is always counted from the Rio-São Paulo axis, which prevents a different perception about

the movement and the experiences of militancy; As is the case of the preparatory courses at

transvestites and transsexuals in medium-sized cities. Thinking about the rights of transvestites and

transsexuals in other places, brings new data and produces original results that may add to the

limited research in the segment. Specifically, this communication brings data from surveys that

were not centered on the Rio-São Paulo axis; Points out how research on the segment of

transvestites and transsexuals of the Rio-São Paulo axis end up creating "margins in relation to

margins" (Bento, 2011); Finally, it emphasizes the importance of researches that are not only

dedicated to exploring these decentralized spaces but which construct analytical objects from

several scales in a multisituated perspective (Marcus, 2001).

Keywords: Research, transvestites and transsexuals, citizenship, militancy.