Direitos Humanos e Interculturalidades -...

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DIREITOS HUMANOS E INTERCULTU RALIDADES PROFA. ME. ÉRICA RIOS [email protected]

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DIREITOS HUMANOS E INTERCULTURALIDADES

PROFA. ME. ÉRICA RIOS

[email protected]

REFLEXÕES SOBRE OS TEXTOS DE

BOAVENTURA DE S. SANTOS

DH = emancipação social?

Complacência com ditadores amigos

Relativização de DH em nome de “desenvolvimento”

Vazio deixado pela “alternativa perdida” com a queda

do muro de Berlim

3 TENSÕES DIALÉTICAS INFORMAM A

MODERNIDADE OCIDENTAL

Regulação Social x Emancipação Social

Estado x Sociedade Civil

Estado Nacional x Globalização

QUE GLOBALIZAÇÃO?

“A globalização é o processo pelo qual determinada condição ou entidade local

estende a sua influência a todo o globo e, ao fazê-lo, desenvolve a capacidade de

designar como local outra condição social ou entidade rival.” (SANTOS, 2009, p. 12)

1) Localismo globalizado: processo pelo qual determinado fenômeno local é globalizado com

sucesso. Ex: inglês como língua franca.

2) Globalismo localizado: impacto específico de práticas e imperativos transnacionais nas

condições locais. Ex: desflorestamento e destruição maciça dos recursos naturais para

pagamento da dívida externa.

3) Cosmopolitismo: solidariedade transnacional entre grupos explorados, oprimidos ou

excluídos pela globalização hegemônica. Conjunto variado e heterogêneo de práticas dos

subalternos face aos hegemônicos.

4) Patrimônio comum da humanidade: temas como a sustentabilidade da vida humana na

Terra.

PREMISSAS DA TRANSFORMAÇÃO

EMANCIPATÓRIA (P. 14)

Superar o debate falacioso sobre universalismo e relativismo

cultural. Todas as culturas são relativas, mas o relativismo cultural, como

posição filosófica, é incorreto. Por outro lado, todas as culturas aspiram a

preocupações e valores válidos independentemente do contexto de seu

enunciado, mas o universalismo cultural, como posição filosófica, é incorreto.

Todas as culturas possuem concepções de dignidade humana, mas

nem todas elas a concebem em termos de Direitos Humanos.

Todas as culturas são incompletas e problemáticas nas suas

concepções de dignidade humana.

“Uma política emancipatória dos Direitos Humanos deve saber distinguir entre a luta pela igualdade e a luta pelo

reconhecimento igualitário das diferenças, a fim de poder travar ambas as lutas eficazmente.” (p. 15)

HERMENÊUTICA DIATÓPICA

Baseia-se na ideia de que os topoi de uma dada cultura, por mais fortes que

sejam, são tão incompletos quanto a própria cultura a que pertencem.

Topoi = lugares comuns retóricos mais abrangentes de determinada cultura,

que funcionam como premissas de argumentação que, por sua evidência, não

se discutem e tornam possíveis a produção e a troca de argumentos.

Exemplo: “a fraqueza fundamental da cultura ocidental consiste em estabelecer

dicotomias demasiadamente rígidas entre o indivíduo e a sociedade, tornando-

se, assim, vulnerável ao individualismo possessivo, ao narcisismo, à alienação e à

anomia.” (p. 16)

Falar em DH e dignidade humana hoje,como construídas pelo ocidentejudaico-cristão, é falar de projetopolítico emancipatório edesenvolvimento ou meramentereforço de uma subordinação histórica?

“Temos o direito a ser iguais quando adiferença nos inferioriza; temos odireito a ser diferentes quando aigualdade nos descaracteriza.” (p. 18)

A ausência ou a deficiente explicitaçãode regras para o diálogo interculturalpodem transformá-lo na fachadabenevolente sob a qual se escondemtrocas culturais muito desiguais.

CHARLEAUX, P. COMO O MEDO MOLDA O MUNDO, DE ACORDO COM A HUMAN RIGHTS

WATCH. DISPONÍVEL EM: <HTTPS://WWW.NEXOJORNAL.COM.BR/EXPRESSO/2016/01/28/COMO-O-MEDO-

MOLDA-O-MUNDO-DE-ACORDO-COM-A-HUMAN-RIGHTS-WATCH>.

Relatório 2015 da Human Rights Watch sobre violações de direitos

humanos em mais de 90 países mostra que, do medo da guerra ao medo

da onda de refugiados, governos reduzem direitos, reprimem dissidentes e

se fecham sob pretexto de buscar proteção.

A expressão aparece no documento tanto pressionando as vítimas na direção de

alguma saída, como no caso dos refugiados de guerra, quanto como argumento de

regimes que usam o medo da ameaça externa e do inimigo interno como justificativa

para repressão.

A Human Rights Watch acusa os países da União Europeia de “retardar [a oferta] de

proteção e abrigo a pessoas vulneráveis levantando dúvidas sobre os propósitos e os

limites do bloco” europeu, diante da crise de refugiados.

Além da União Europeia e dos EUA, também a China e a Rússia - membros

do seleto Conselho de Segurança da ONU - são criticados por atentar

contra ativistas e defensores de direitos humanos, impedindo o fluxo de

doações internacionais para esses grupos e perseguindo dissidentes.

Tanto democracias frágeis quanto ditaduras totais do Oriente Médio

endurecem a perseguição a dissidentes com medo de novas “primaveras

árabes”. A onda de protestos que varreu a região há 5 anos permanece

como uma ameaça aos líderes que temem abertura e contestação.

Além disso, a Síria se destaca como um dos principais focos de instabilidade

do mundo. A guerra iniciada em 2011 já obrigou mais de 4 milhões de

pessoas a abandonarem as suas casas. Apesar da pressão interna e externa,

o presidente Bashar al-Assad permanece no poder, alheio às inúmeras

acusações de crimes contra a humanidade que incluem até mesmo o uso de

armas químicas contra a população civil.

CONFLITOS INVISIBILIZADOS

Descrito comumente como um “estado falido”, a Somália luta para recompôr sua

ordem política em torno de um pacto federativo, enquanto tenta debelar a ação do

grupo extremista islâmico Al-Shabaab, que impõe o respeito à sharia - interpretação

radical do Alcorão - como legislação incontestável dos locais sob seu controle. Três

governos se sucederam em três anos no país, mas as violações não mudaram ao

longo dos anos. O relatório menciona especificamente a morte de civis, os

deslocamentos populacionais forçados e o impedimento de acesso de equipes

médicas e de ajuda humanitária.

No Sudão do Sul, uma longa guerra civil que se manteve mesmo após a separação

do território entre o sul e o norte, em 2011, leva a denúncias de “estupro,

assassinatos e destruição e pilhagens de bens civis”. A organização fala em “crimes de

guerra” cometidos tanto pelos grupos leais ao presidente, Salva Kiir, quanto pelos

rebeldes que seguem o vice-presidente, Riek Machar

TEMAS TRANSVERSAIS:

TRANSGÊNEROS E CRIANÇAS

Em relação ao primeiro grupo, o documento cita a realização de um

estudo conduzido entre 2007 e 2014 a partir do registro de 1.731

assassinatos de transgêneros, para concluir que esta população está

particularmente exposta aos efeitos da intolerância e da perseguição,

muitas vezes na forma de tortura e mutilação.

Sobre as crianças, a organização chama a atenção para os casamentos de

meninas menores de 18 anos, que são uma realidade para uma média de

“uma em três meninas nos países em desenvolvimento”. Os casamentos

envolvendo meninas menores de 15 anos acontecem para “uma em cada

nove”, segundo a organização.

Segundo uma pesquisa da organização não

governamental ‘Transgender Europe’ (TGEU),

rede europeia de organizações que apoiam os

direitos da população transgênero, o Brasil é o

país onde mais se mata travestis e transexuais

no mundo. Entre janeiro de 2008 e março de

2014, foram registradas 604 mortes no país.

Um relatório sobre violência homofóbica no

Brasil, publicado em 2012 pela Secretaria de

Direitos Humanos apontou o recebimento,

pelo Disque 100, de 3.084 denúncias de

violações relacionadas à população LGBT,

envolvendo 4.851 vítimas. Em relação ao ano

anterior, houve um aumento de 166% no

número de denúncias – em 2011, foram

contabilizadas 1.159 denúncias envolvendo

1.713 vítimas.

(ONU, 2015)

Segundo o banco de dados do Grupo Gay da

Bahia (GGB), atualizados diariamente no site

QUEM A HOMOTRANSFOBIA MATOU HOJE,

318 LGBT foram assassinados no Brasil em

2015: um crime de ódio a cada 27 horas: 52%

gays, 37% travestis, 16% lésbicas, 10% bissexuais.

A homofobia mata inclusive pessoas não LGBT:

7% de heterossexuais confundidos com gays e

1% de amantes de travestis. (GGB, 2016)

A violência anti-LGBT atinge todas as cores, idades, classes sociais e profissões.

Predominam as execuções com armas brancas 37%, seguidas de armas de fogo 32%,

incluindo espancamento, pauladas, apedrejamento, envenenamento. Via de regra

travestis são executadas nas vias públicas (56%), vítimas de armas de fogo, enquanto

gays e lésbicas são assassinadas dentro da residência (36%), com facas e objetos

domésticos, ou em estabelecimentos públicos (8%). Típicos crimes de ódio, muitos

com tortura prévia, uso de múltiplos instrumentos, excessivo número de golpes.

Crimes contra minorias sexuais geralmente são cometidos de noite ou madrugada,

em lugares ermos ou dentro de casa, dificultando a identificação dos autores.

Quando há testemunhas, muitas vezes estas se recusam a depor, devido ao

preconceito anti-LGBT. Policiais manifestam sua homotransfobia ignorando tais

crimes, negando sem justificativa sua conotação homofóbica.

Somente em 1/4 desses homicídios o criminoso foi identificado (94 de 318), e

menos de 10% das ocorrências redundou em abertura de processo e punição dos

assassinos.A impunidade estimula novos ataques.

(GGB, 2016)

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DIREITOS DAS CRIANÇAS

Mais de 700 milhões de meninas foram forçadas a casar.

Relatório revela que mais de 1/3 das mulheres do

mundo se casaram forçadamente com menos de 15

anos. (UNICEF, 2014)

De acordo com o Censo 2010, pelo menos 88 mil

meninos e meninas com idades de 10 a 14 anos

estavam casados em todo o Brasil. Na faixa etária de 15

a 17 anos, são 567 mil.

Sobre as mutilações genitais, praticadas especialmente

em 29 países da África e do Oriente Médio, a Unicef

aponta uma melhora da situação, afirmando que o risco

para uma adolescente sofrer mutilação genital diminuiu

um terço em 30 anos.

Os pesquisadores descobriram que, no

Brasil, o casamento de crianças e

adolescentes é bem diferente dos arranjos

ritualísticos existentes em países africanos

e asiáticos, com jovens noivas prometidas

pelas famílias em casamentos arranjados

pelos parentes ou até mesmo forçados. O

que acontece no Brasil, por outro lado, é

um fenômeno marcado pela informalidade,

pela pobreza e pela repressão da

sexualidade e da vontade femininas.

Entre os motivos para os casamentos,

destaca-se a falta de perspectiva das

jovens e o desejo de deixar a casa dos pais

como forma de encontrar uma vida

melhor. Muitas fogem de abusos, escapam

de ter de se prostituir e convivem de

perto com a miséria e o uso de drogas.

De acordo com as entrevistas e a análise dos

pesquisadores, o que acontece, na maioria

das vezes, é que, em vez de serem

controladas pelos pais, as garotas passam a

ser controladas pelos maridos. Qualquer

sonho de escola ou trabalho envelhece cedo,

na rotina de criar os filhos e se adequar às

exigências do cônjuge.

A gravidez ainda é a grande motivadora do

casamento na adolescência, e a união é vista

como uma forma de controlar a sexualidade

das meninas.

"A lógica é: 'melhor ser de só um do que de

vários'. O casamento também aparece como

forma de escapar de uma vida de limitações,

seja econômica ou de liberdade.”

Fonte: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/09/150908_casamento_infantil_brasil_fe_cc

A lei no Líbano permite esse tipo de

relação – a idade limite para o casamento,

com o consentimento dos pais, é de 9 anos

para as meninas – mas essa não é uma

realidade exclusiva do país, sendo meio de se

atenuar a miséria em grande parte dos

países pobres do mundo.

A ONG advoga para que a Líbano adote o

artigo 16 da Convenção das Nações Unidas

para Eliminação de todas as Formas de

Descriminação contra as Mulheres, que

protege às garotas e mulheres o direito de

escolher como, quando e com quem se

casarão. O mesmo cenário é visto

massivamente entre refugiadas sírias, e em

regiões mais pobres de países diversos –

inclusive o Brasil.

Campanha da ONG KAFA: “Say #Idont to child

marriage (2015)

https://www.youtube.com/watch?v=F-OYqm7n0WE

Uma noiva iemenita de 8 anos de

idade morreu recentemente na sua

noite de núpcias por causa de um

hemorragia interna.

Em 2010, uma menina de 12 anos

morreu depois de lutar pela vida

durante três dias de parto,

tentando dar a luz ao seu bebê.

Mais de 1/4 da população feminina

do país casa-se antes dos 15 anos.

Fonte: http://www.letradavida.com.br/esta-menina-de-apenas-

8-anos-de-idade-morreu-de-ferimentos-internos-sofridos-na-

sua-noite-de-nupcias-e-chocante/