Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

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DA SECA A CARIÚS/CE: Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo Trajetória histórica e estudo das construções Isabela Sales Bridi 2010

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D A S E C A A C A R I Ú S / C E :

Trabalho Final de Graduação em Arquitetura e Urbanismo

Trajetória histórica e estudo das construções

I s a b e l a S a l e s B r i d i2 0 1 0

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ISABELA SALES BRIDI

DA SECA A CARIÚS/CE:

TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Trabalho Final de Graduação de Curso apresentado ao Curso de Arquitetura e Urbanismo da Faculdade Brasileira – UNIVIX de Vitória/ES, como requisito parcial para obtenção do título de Arquiteta e Urbanista.

Orientadora: Viviane Pimentel.

VITÓRIA - ES

2010

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FACULDADE BRASILEIRA Credenciada pela Portaria/MEC N

o 259 de 11.02.1999 – D.O.U. de 17.02.1999

Rua José Alves, 301, Goiabeiras – Vitória, ES - CEP: 29075-080 – Tel: (0xx27) 3327-1500. CGC: 01.936.248/0001-21 - E-mail: [email protected] – www.univix.br

ATA DE APRESENTAÇÃO DE TFG – CURSO DE ARQUITETURA E URBANISMO

O(A) aluno(a)

_________________________________________________

__ do ____º período do curso de Arquitetura e Urbanismo,

apresentou e defendeu o Projeto Final de Graduação, como

elemento curricular indispensável à colação de grau de

Arquiteto e Urbanista, tendo como título do Trabalho:

_________________________________________________

______________________ .

A Banca Examinadora, reunida em sessão reservada,

deliberou e decidiu pelo resultado

1_________________________________________

2_________________________________________

3_________________________________________

Média Final Banca: _______________________________

Nota da Pré Banca:_______________________________

Média Final TFG: (Nota Pré Banca + Nota

Banca):______________

Ora formalmente divulgado ao(à) aluno (a) e aos demais

participantes, e eu

______________________________________________, na

qualidade de Presidente da Banca, lavrei a presente Ata que

será assinada por mim, pelos demais membros e pelo (a)

aluno (a) apresentadora do trabalho.

Vitória, ____ de _____________ de 2010

___________________________________ Profª. Arq.

___________________________________ Convidado (a)

___________________________________ Convidado (a)

1. Observações:

__________________________________________

__________________________________________

__________________________________________

__________________________________________

__________________________________________

__________________________________________

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AGRADECIMENTOS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

A minha mãe companheira de viagem, que se não fosse pelas suas raízes,

não teria dado inicio a este trabalho.

Ao meu pai pelo incentivo em sempre dar o máximo de si e “paitrocinio” às

longas viagens ao Ceará.

Aos meus irmãos e a toda minha família, que compartilharam os prazeres e

dificuldades proporcionadas por este trabalho.

A todos que colaboraram com entrevistas e pesquisas de campo realizadas.

Aos moradores de Cariús e seus conterrâneos, por simplesmente serem

desta terra acolhedora.

A minha orientadora Viviane, por transmitir seus valiosos conhecimentos e

pela paciência quando me deparei com obstáculos.

E principalmente à minha tia Angélica, que abriu suas portas e colaborou de

forma significativa, pois sem sua ajuda não teria atingido meus objetivos.

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LISTA DE FIGURAS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 001 – Seca na Paraíba ............................................. 021

Figura 002 – Localização de Icó, Sobral e Aracati no Ceará e

trajetória de fuga dos índios ................................................ 023

Figura 003 – Fotografia de uma família de flagelados em uma

estação ferroviária do Ceará ............................................... 024

Figura 004 – Açude do Cedro em 1906 e ao Fundo a pedra

Galinha Choca, Quixadá/CE ................................................ 025

Figura 005 – Açude do Cedro hoje (2010), Quixadá/CE ..... 026

Figura 006 – Localização do Açude do Cedro e a sede de

Quixadá/CE ......................................................................... 026

Figura 007 – Condições atuais das construções elevadas no

acampamento em Quixadá/CE ............................................ 027

Figura 008 – Edificação estruturada em alvenaria

maciça ................................................................................. 027

Figura 009 – Um dos galpões onde eram guardados os

materiais de construção....................................................... 028

Figura 010 – Interior do imóvel atualmente, localizado no

antigo acampamento de Quixadá/CE .................................. 028

Figura 011 – Casarão construído em 1923, sede do campo de

concentração em Senador Pompeu/CE .............................. 033

Figura 012 – Detalhe no oitão que relata o ano de sua

construção .......................................................................... 033

Figura 013 – Cena do filme “Lágrimas de Vela” que relata a

história dos sobreviventes do “curral” em Senador

Pompeu ............................................................................... 033

Figura 014 – Face longitudinal do casarão ......................... 033

Figura 015 e 016 – Observa-se as características do interior

da construção e a má condição do patrimônio .................... 024

Figura 017 – Retirantes, Candido Portinari, 1944 ............... 034

Figura 018 – Estados que abrigam o Polígono das

Secas .................................................................................. 035

Figura 019 – Localização do rio Cariús e Jaguaribe em

Cariús/CE ............................................................................ 037

Figura 020 – Ponte pênsil estruturada com cabos de aço e

ripas de madeira. Com vista para o Bairro Acampamento e ao

fundo pela esquerda a casa do engenheiro mestre ............ 038

Figura 021 – Rio Cariús hoje, parcialmente seco. Estrada

onde estava localizada a ponte pênsil, ao fundo o antigo

Bairro Acampamento, 2010 ................................................ 039

Figura 022 – Resquícios das casas dos engenheiros no Bairro

Acampamento no início do século XXI ................................ 039

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LISTA DE FIGURAS

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Figura 023 – Hospital do IFOCS. Atualmente residência da

Drª Luisa Angélica Sales, 2010 ........................................... 039

Figura 024 – Antiga Gerência do IFOCS. Atualmente

residência, [20--] .................................................................. 040

Figura 025 – Antiga casa do médico sediando a Agência

Postal-telegráfica, [195-] ...................................................... 040

Figura 026 – Vila do Prado com o antigo Hospital à direita e

ao final da rua, na mesma calçada, a casa do médico atuando

como a Agência Postal-telegráfica. Meados do

século XX ............................................................................ 040

Figura 027 – À esquerda, Praça República atualmente. À

direita, antiga Gerência do IFOCS seguida do antigo Hospital

e da casa do médico, 2010 .................................................. 040

Figura 028 – Rua da Vila atualmente com as antigas casas

dos operários, 2010 ............................................................. 041

Figura 029 – Antiga Rua Barbadiana com algumas

residências da época, 2010 ................................................. 041

Figura 030 – Almoxarifado do IFOCS, atualmente residência,

2010..................................................................................... 041

Figura 031 – Foto panorâmica de Poço dos Paus. Ao fundo o

Bairro Acampamento com o casarão do chefe e as

residências dos engenheiros e topógrafos. Mais a frente o

Almoxarifado/Escritório e ao lado a Rua da Vila com as casas

dos operários, [19--] ............................................................ 042

Figura 032 – Estação de trem em meados do século XX ... 043

Figura 033 – Estação de trem hoje como Hospital Municipal,

2010 .................................................................................... 043

Figura 034 – Área da firma Montenegro. Ao fundo a estação

de trem ................................................................................ 044

Figura 035 – Proximidade dos galpões da firma com o ramal

de trem, década 1930 ......................................................... 044

Figura 036 – Estocagem da produção algodoeira, década

1930 .................................................................................... 044

Figura 037 – Galpões atualmente, parcialmente deteriorados,

2010 .................................................................................... 045

Figura 038 – Primeira bandeira do município Cariús em

1968 .................................................................................... 045

Figura 039 – Rua coberta pelas águas do rio em 1974 ...... 046

Figura 040 – Manchas nas paredes dos edifícios que indicam

até onde a água subiu dentro da cidade, 1974 ................... 046

Figura 041 – Trágica conseqüência na zona rural do

município em 1974 .............................................................. 046

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LISTA DE FIGURAS

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Figura 042 – Foto aérea indicando os rios Jaguaribe e Cariús.

À esquerda a cidade de Jucás banhada pelo rio Jaguaribe e a

sede da cidade de Cariús (à direita) banhada pelo rio Cariús,

que deságua no rio Jaguaribe ao norte de Cariús, 2010. Sem

escala .................................................................................. 047

Figura 043 e 044 – Aproximação das fotos aéreas de Jucás (à

esquerda) e Cariús (à direita), 2010. Sem escala ............... 048

Figura 045 – Mapa básico de Cariús, 2010 ......................... 049

Figura 046 – Alunos reunidos em frente ao Casarão que

sediava o Grupo Escola Adahil Barreto. Meados do

século XX ............................................................................ 052

Figura 047 – Atual sede da Escola Adahil Barreto,

2010..................................................................................... 052

Figura 048 – Casarão quando sediou a Câmara Municipal de

Cariús no início da década de 1970 .................................... 053

Figura 049 – Câmara Municipal de Cariús no início da década

de 1970, vizinha ao Casarão ............................................... 053

Figura 050 – Câmara Municipal atualmente, sem muitas

alterações, 2010 .................................................................. 053

Figura 051 – Projeto Linhas e Rendas no grande salão do

Casarão, 2006 ..................................................................... 054

Figura 052 – Apresentação do coral “Pequenos Cantores de

Deus” na varanda do Casarão em 2007 ............................. 054

Figura 053 – Cena da via Sacra de 2009 em frente ao

Casarão .............................................................................. 055

Figura 054 – Funcionária francesa da TAM entregando

presentes para as crianças de Cariús em 2008 .................. 055

Figura 055 – Árvore de natal feita com garrafas pet inteiras,

no centro da Praça República em Cariús, 2009 .................. 056

Figura 056 e 057 – Bonecos de neve e Papai Noel feitos de

rosas com garrafa pet, 2009] .............................................. 056

Figura 058 – Logotipo do Instituto Mandacaru .................... 056

Figura 059 – Cronologia do Casarão .................................. 057

Figura 060 – Rio Jaguaribe em Orós com os imóveis do

hospital e residência médica as margens do mesmo,

[19--] .................................................................................... 059

Figura 061 – Vista parcial do Acampamento, [19--] ............ 059

Figura 062 – Caminho percorrido em busca das construções

do DNOCS .......................................................................... 060

Figura 063 – Implantação das construções do IFOCS em

Poço dos Paus, 2010 .......................................................... 061

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LISTA DE FIGURAS

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Figura 064 – Implantação das construções do IFOCS em

Lima Campos, 2010............................................................. 062

Figura 065 – Edificação utilizada pelo engenheiro mestre,

[19--] .................................................................................... 063

Figura 066 – Fachada frontal do engenheiro mestre no Bairro

Acampamento de Poço dos Paus ....................................... 063

Figura 067 – Detalhe da parede em tijolo maciço deitado de

uma das residências dos engenheiros no Bairro

Acampamento de Poço dos Paus, [200-] ............................ 064

Figura 068 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros

disposto com somente a varanda frontal, [200-] .................. 065

Figura 069 – Fachada principal da residência menor dos

engenheiros no Bairro Acampamento de Poço dos

Paus .................................................................................... 065

Figura 070 – Outro imóvel dos engenheiros composto por

varandas lateral e frontal, [200-] .......................................... 065

Figura 071 – Fachada frontal da residência dos engenheiros

no Bairro Acampamento de Poço dos Paus ........................ 065

Figura 072 – Disposição dos imóveis utilizados pelos

prováveis engenheiros no aclive em Lima Campos,

2010..................................................................................... 066

Figura 073 – Detalhe da elevação da residência dos

engenheiros, 2010 .............................................................. 066

Figura 074 – Recuo da entrada principal da residência

proporcionando uma varanda lateral, 2010 ......................... 067

Figura 075 – Pequeno muro que divide a residência,

2010 .................................................................................... 067

Figura 076 – Detalhe das janelas, 2010 .............................. 067

Figura 077 – Residência geminada dos engenheiros

atualmente em Lima Campos, 2010 ................................... 068

Figura 078 – Fachada frontal da residência geminada dos

engenheiros de Lima Campos ............................................ 068

Figura 079 – Imóveis onde moravam os operários brancos na

Rua da Vila em Poço dos Paus, [200-] ............................... 068

Figura 080 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros

disposto com somente a varanda frontal, 2010................... 069

Figura 081 – Residência dos operários brancos na Rua da

Vila com um novo anexo criado à esquerda descaracterizando

o imóvel, 2010 ..................................................................... 069

Figura 082 – Fachada frontal da residência geminada dos

operários de Poço dos Paus ............................................... 069

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LISTA DE FIGURAS

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DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 083 – Rua Barbadiana atualmente com espaço em

comum das antigas residências dos operários, 2010 .......... 070

Figura 084 – Outro espaço em comum das residências dos

operários barbadianos, 2010 ............................................... 070

Figura 085 – Residência dos operários negros na Rua

Barbadiana já descaracterizadas, somente com a estrutura

original (mantendo a volumetria), 2010 ............................... 071

Figura 086 – Outra residência dos operários negros

observada na Rua Barbadiana, 2010 .................................. 071

Figura 087 – Rua em aclive na Vila Operária, atualmente

chamada de Vila DNOCS em Orós, com algumas residências

descaracterizadas, 2010...................................................... 071

Figura 088 – Residências dos antigos operários localizadas

em terreno plano, [19--] ....................................................... 072

Figura 089 – Presença de afastamento frontal e a elevação da

construção com uma pequena escada não original,

2010..................................................................................... 072

Figura 090 – Afastamento frontal evidenciando a mureta,

2010..................................................................................... 073

Figura 091 – Uma das residências na antiga Vila Operária,

com descaracterização somente dos tipos de esquadrias,

2010..................................................................................... 073

Figura 092 – Fachada frontal da residência dos operários no

aclive ................................................................................... 073

Figura 093 – Fachada frontal da residência dos operários em

terreno plano ....................................................................... 073

Figura 094 – Disposição das residências da Vila Modelo em

Orós, 19[--] .......................................................................... 074

Figura 095 – Disposição das residências atualmente na Vila

Modelo em Orós, 2010 ........................................................ 074

Figuras 096 e 097 – Uma das residências com poucas

descaracterizações, ainda presente os afastamentos laterais

e um dos acessos em 2010 ................................................ 075

Figura 098 – Fachada frontal da Vila Modelo de Orós ........ 075

Figura 099 – Estado atual da antiga residência do médico

com algumas descaracterizações, 2010 ............................. 075

Figura 100 – Estado atual da antiga residência do médico,

2010 .................................................................................... 076

Figura 101 e 102 – Placa de identificação do DNOCS

atualmente na residência e pedra da alvenaria original

retirada da edificação .......................................................... 076

Figura 103 – Residência do médico ainda original.............. 076

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LISTA DE FIGURAS

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Figura 104 – Fachada frontal da residência médica de Poço

dos Paus .............................................................................. 076

Figura 105 – Implantação do Almoxarifado/Escritório com uma

grande área livre a frente..................................................... 077

Figura 106 – Detalhe do coroamento da edificação. Vergas

modificadas, 2010 ............................................................... 077

Figura 107 e 108 – Detalhe das portas na fachada principal

com arcos abatidos a esquerda e a via à direita do

Almoxarifado/Escritório que segue até o rio Cariús,

2010..................................................................................... 078

Figura 109 e 110 – Placas de identificação do DNOCS no

antigo Almoxarifado/Escritório ............................................. 078

Figura 111 – Almoxarifado/Escritório atualmente, 2010 ...... 078

Figura 112 – Fachada frontal do Almoxarifado/Escritório de

Poço dos Paus .................................................................... 078

Figura 113 – Antiga Gerência do IFOC S mais a frente com

o antigo Hospital ao fundo, 2010 ......................................... 079

Figura 114 – Antiga Gerência do IFOCS, 2010 ................... 079

Figura 115 e 116 – À esquerda o detalhe da escada em forma

de trapézio, [200-]. À direita o recuo na entrada, 2010 ........ 080

Figura 117 – Gerência do IFOCS atualmente como

residência, 2010 .................................................................. 080

Figura 118 – Fachada frontal da Gerência do IFOCS em Poço

dos Paus ............................................................................. 080

Figura 119 – Administração americana em Orós, [19--] ...... 081

Figura 120 – Fachada frontal da Administração americana de

Orós .................................................................................... 081

Figura 121 – Alinhamento das construções. A antiga

residência do médico à frente, seguida do antigo Hospital

e Gerência do IFOCS, 2010 ................................................ 082

Figura 122 – Perfil do antigo Hospital atualmente, 2010 ..... 082

Figura 123 – Detalhes da janela com postigo liso, original do

imóvel, 2010 ........................................................................ 083

Figuras 124 e 125 – Placas de identificação do DNOCS no

antigo Hospital .................................................................... 083

Figura 126 – Antigo Hospital em Poço dos Paus no ano de

2010 como residência ......................................................... 083

Figura 127 – Fachada frontal do Hospital de Poço dos

Paus .................................................................................... 083

Figura 128 – Antigo Hospital de Lima Campos atualmente

abandonado, 2010 .............................................................. 084

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LISTA DE FIGURAS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 129 – Detalhe da elevação da construção e inclinação

do terreno, 2010 .................................................................. 084

Figura 130 – Presença da base de pedras na escada,

2010..................................................................................... 084

Figura 131 – Varanda frontal com disposição das jardineiras

no guarda-corpo, 2010 ........................................................ 085

Figura 132 – Palco nos fundos do interior do imóvel,

2010..................................................................................... 085

Figura 133 – Cabine de projeção acima da entrada principal

no interior do imóvel, 2010 .................................................. 085

Figura 134 – Antigo Hospital e Cineclube de Lima

Campos ............................................................................... 086

Figura 135 – Fachada frontal do Hospital de Lima

Campos ............................................................................... 086

Figura 136 – Bangalô de 1916 construído em Sacramento,

Califórnia/EUA ..................................................................... 089

Figura 137 – Vegetação no afastamento frontal. Bangalô

californiano de 1914 construído em Victoria/Canadá

importado de Califórnia/EUA ............................................... 090

Figura 138 – Detalhe da elevação da edificação. Bangalô

construído em Sacramento, Califórnia/EUA ........................ 090

Figura 139 – O Hospital alguns anos depois de sua

construção no ano de 1922. Ainda sem o anexo que fora

construído a esquerda do edifício na década de 1930........ 091

Figura 140 e 141 – À esquerda o alto pé direito ainda mantido

na atual residência da Dra Luisa Angélica Sales. À direita a

presença de varanda disposta por colunas, fachada por onde

era feito o acesso ................................................................ 092

Figura 142 – Antigo Hotel Pilão em chamas em 2003 ........ 097

Figura 143 – O casarão reconstruído, [200-] ...................... 097

Figura 144 – Castelo de Garcia D’Ávila atualmente ............ 098

Figura 145 – Vista aera do Castelo de Garcia D’Ávila ........ 098

Figura 146 – Capela conservada e a ruína do castelo ........ 098

Figura 147 – Exemplo de restaurações em uma edificação

com estrutura bem conservada, utilizando a Instância Estética

e Histórica ........................................................................... 099

Figura 148 – Exemplo de restaurações com uma edificação

em ruína, utilizando a Instância Estética e Histórica ........... 099

Figura 149 – Cartaz do CIAM.............................................. 102

Figura 150 – Local original dos templos .............................. 103

Figura 151 – Templos de Templo de Ramsés II e sua esposa

preferida Neferetari ............................................................. 104

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LISTA DE FIGURAS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 152 e 153 – Imagens representativas em 3D

demonstrando a volumetria original da edificação ............... 110

Figura 154 – Casarão recém reformado, em destaque sua

forma em “L” em 2002 ......................................................... 110

Figura 155 e 156 – Fachada posterior do Casarão antes (ano

de 2001) e depois da intervenção [ca. 2002/2003] .............. 111

Figura 157 - Capinação antes da intervenção em 2001 ...... 111

Figura 158 – Lavanderia acrescentada na fachada posterior

do imóvel, 2010 ................................................................... 112

Figura 159 – Edificações interligadas, 2010 ........................ 112

Figura 160 – Pequena residência interligada ao Casarão

pelas varandas, 2010 .......................................................... 112 6

Figura 161 – Piscina e deck coberto acrescentado alguns

anos após a intervenção, na área posterior do terreno do

Casarão, 2010 ..................................................................... 113

Figura 162 – Salão de eventos, localizado ao lado da piscina,

2010..................................................................................... 113

Figura 163 – Parte do salão de eventos e garagem coberta

com duas vagas em 2006 .................................................... 113

Figura 164 – Localização das edificações

acrescentadas ..................................................................... 114

Figura 165 – Pequeno depósito, 2010 ................................ 115

Figura 166 – Parede elevada no final do antigo corredor de

acesso principal, 2010 ........................................................ 115

Figura 167 – Banheiro da suíte master. A porta principal

originalmente estava localizada onde está a atual báscula,

2010 .................................................................................... 115

Figura 168 – Adições de paredes ....................................... 116

Figura 169 – Antigo pequeno banheiro no corpo original no

ano de 2001 ........................................................................ 117

Figura 170 – Antigo banheiro, hoje como depósito,

2010 .................................................................................... 117

Figura 171 – Banheiro maior antes da reforma em 2001 .... 118

Figura 172 – Banheiro maior depois da reforma, 2006 ....... 118

Figura 173 – Modificações nos antigos banheiros

existentes ............................................................................ 118

Figura 174 – Detalhe da coluna de concreto em forma de “U”,

2010 .................................................................................... 119

Figura 175 e 176 – Colunas construídas na reforma em 2006

e à direita como estão atualmente, 2010 ............................ 119

Figura 177 – Colunas de concreto com adaptação de um

pequeno depósito, 2010 ...................................................... 120

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LISTA DE FIGURAS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 178 – Três colunas suportando duas tesouras na suíte

master construídas em 2006 ............................................... 120

Figura 179 e 180 – Barra de ferro presa por anéis na tesoura,

2010..................................................................................... 121

Figura 181 – Paredes de alvenaria escondendo as colunas de

concreto, 2010 ..................................................................... 121

Figura 182 – Sala íntima criada pelas paredes que escondem

as colunas, 2010 ................................................................. 121

Figura 183 – Viga em diagonal, 2010 .................................. 122

Figura 184 – Adições de viga e colunas de sustentação ..... 123

Figura 185 – Antigo fogão à lenha encontrado em 2001 no

interior da edificação............................................................ 124

Figura 186 – Antiga cozinha e atualmente como sala de estar,

2010..................................................................................... 124

Figura 187 – Tijolo da alvenaria aparente, 2001 ................. 125

Figura 188 – Piso de madeira aroeira encontrado na suíte

master, antigo grande salão em 2001 ................................. 125

Figura 189 – Detalhe dos barrotes na suíte master,

2003..................................................................................... 126

Figura 190 – Detalhe dos barrotes no piso do corredor no ano

de 2003................................................................................ 126

Figura 191 – Piso atualmente revestido com cerâmica e

portas com soleira, 2010 ..................................................... 126

Figura 192 – Árvore frondosa na área frontal do terreno em

200 ...................................................................................... 127

Figura 193 – Parte do muro que divide o Casarão da Câmara

Municipal parcialmente destruído pela árvore, 2001 ........... 127

Figura 194 – Jardim atualmente, 2010 ................................ 128

Figura 195 e 196 – Muro frontal do imóvel durante sua

construção em 2001 e depois de pronto, 2003 ................... 128

Figura 197 – Portão de ferro para passagem de veículos,

[200-] ................................................................................... 129

Figura 198 – Fachada lateral por onde estava localizada a

antiga escada de acesso principal. Atualmente para acesso

de veículos, 2006 ................................................................ 129

Figura 199 – Guarda-corpo parcialmente elevado, com a

escada prestes a ser retirada em 2001 ............................... 130

Figura 200 – Drª Angélica e sua família na antiga escada

localizada entre o copo original e o anexo acrescentado,

2001 .................................................................................... 130

Figura 201 – Escada atual com adição de guarda-copos.

Acesso principal a residência, 2001 .................................... 131

Page 14: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

LISTA DE FIGURAS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 202 – Marcação no piso para registro da antiga

escada, 2001 ....................................................................... 131

Figura 203 e 204 – Original fogão a lenha restaurado,

2010..................................................................................... 132

Figura 205 – Detalhe da chaminé do fogão a lenha,

2010..................................................................................... 132

Figura 206 – Caixa d’água durante sua restauração. Nota-se

o aumento de meio metro ainda visível,

[ca. 2001/2002] .................................................................... 132

Figura 207 – Caixa d’água depois da restauração,

2010..................................................................................... 133

Figura 208 – Localização da caixa d’água e fogão a

lenha .................................................................................... 133 6

Figura 209 e 210 – Elemento encontrado nas

escavações .......................................................................... 134

Figura 211 – Fachada posterior, quase sem resquícios de

telhas na cobertura. Condições em que a edificação foi

encontrada em 2001 ............................................................ 134

Figura 212 – Outro perfil da fachada posterior com somente

algumas telhas restantes, 2001 ........................................... 135

Figura 213 – Telhas coloniais antigas postas como capa na

cobertura, 2010 ................................................................... 136

Figura 214 – Detalhe das novas telhas postas como canal,

para substituir as faltantes, 2010 ........................................ 136

Figura 215 – Detalhe das novas telhas, 2010 ..................... 136

Figura 216 – Iluminação natural durante o dia na suíte master,

2010 .................................................................................... 137

Figura 217 – Detalhes do antigo forro na atual suíte master

em 2001 .............................................................................. 137

Figura 218 – Detalhes do antigo forro no atual quarto de

visitas, 2001 ........................................................................ 137

Figura 219 – Estrutura de madeira o qual o forro era preso na

atual suíte master, e acima a cobertura da edificação com as

telhas sendo retiradas em 2001 .......................................... 138

Figura 220 – Armário da copa feito com o reaproveitamento

das madeiras da cobertura, [200-] ...................................... 138

Figura 221 e 222 – Porta antes da limpeza com ninho de

cupins (ano de 2001) e depois restaurada e pintada com tinta

a óleo em 2010 ................................................................... 139

Figura 223 e 224 – Janela do banheiro social com teias de

aranha (em 2001) e após a limpeza pintada com tinta a óleo,

2010 .................................................................................... 139

Page 15: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

LISTA DE FIGURAS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 225 e 226 – Semelhanças das janelas, à esquerda

Janelas da copa situada no anexo, e à direita imagem

da janela do corpo original, 2010 ......................................... 140

Figura 227 e 228 – Recuo da janela antes da intervenção em

2001 e o mesmo mantido após a mesma em 2006 ............. 140

Figura 229 – Preenchimento do peitoril das janelas,

2010..................................................................................... 141

Figura 230 – Recuo do peitoril mantido somente nas janelas

da copa, 2010 ...................................................................... 141

Figura 231 – Fachada frontal ainda com todas as janelas

originais, [19--] ..................................................................... 141

Figura 232 – Alterações nas esquadrias da fachada principal,

2001..................................................................................... 141

Figura 233 e 234 – Janela da fachada frontal do corpo original

adaptada para se transformar em uma porta, 2001 ............ 142

Figura 235 – Janela retomada ao seu estado original,

2010..................................................................................... 142

Figura 236 e 237 – À esquerda a antiga porta acrescentada

em alguma época do imóvel (2001), à direita a nova porta

substituída pela antiga, 2010 ............................................... 143

Figura 238 – Uma das antigas portas de acesso lateral, anos

antes da intervenção no imóvel na década de 1970 ........... 143

Figura 239 – À esquerda a porta original de acesso lateral

(vista pelo interior do imóvel, 2001), e à direita a atual porta

que foi substituída pela antiga (vista pelo exterior),

2010 .................................................................................... 144

Figura 240 e 241 – À esquerda a antiga porta do anexo [197-],

à direita o vão interno deixado ao retirar o elemento,

2006 .................................................................................... 144

Figura 242 – Vão das janelas removidas na suíte de visitas,

2010 .................................................................................... 145

Figura 243 e 244 – À esquerda a janela original do antigo

lavabo (2001), e à direita a atual báscula fixa substituída pela

antiga janela, 2010 .............................................................. 145

Figura 245 – Janela da sala íntima mantida no exterior do

imóvel, 2010 ........................................................................ 146

Figura 246 – Janela da sala íntima fechada por dentro,

2010 .................................................................................... 146

Figura 247 – Duas janelas do quarto de visitas mantidas no

exterior do imóvel, 2010 ...................................................... 146

Figura 248 – Duas janelas do quarto de visitas fechadas por

dentro .................................................................................. 146

Page 16: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

RESUMO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Este trabalho de graduação trata da análise de intervenção

realizada em um imóvel aqui denominado de Casarão, em

Cariús (antigamente conhecido como Poço dos Paus), uma

cidadezinha no interior do Ceará na década de 1920.

Tal edificação foi construída pelo governo, através do DNOCS

(Departamento Nacional de Obras Contra as Secas) que

contratou empresas estrangeiras para empreitar açudes no

interior dos estados nordestinos onde a seca era mais

intensa.

Para chegar a este assunto, foi feito uma busca sobre a

cronologia das secas no sertão, o que levou ao

desenvolvimento de planos e metas e à criação do DNOCS.

Devido à necessidade de moradia e infra-estrutura dos

funcionários das empresas, foram criadas pequenas vilas no

perímetro dos rios onde eram construídas tais barragens,

entre elas a vila Poço dos Paus. Nela o Casarão era uma

edificação de destaque, inicialmente sendo o antigo Hospital,

e ao longo dos anos passou a abrigar inúmeras funções.

Após argumentar sobre a trajetória histórica da seca, a origem

da cidade Cariús e introduzir o Casarão através de uma

cronologia feita por entrevistas aos moradores locais, foram

apresentadas pesquisas sobre os aspectos das edificações

na mesma região de Cariús que conformam um conjunto com

unidade tipológica formal e construtiva.

Tal levantamento admitiu a criação de uma tipologia própria

para as construções do DNOCS da mesma época, além do

reconhecimento de suas origens americanas nos bangalôs,

devido aos operários estrangeiros que trabalharam no açude.

Esta metodologia favoreceu na análise dos procedimentos

executados pela atual moradora, Drª Angélica Sales. As

intervenções foram examinadas através de fundamentações

teóricas e Cartas Patrimoniais, após o que foi avaliada a

pertinência dos procedimentos adotados.

Palavras-chave: Seca, açude, DNOCS, Cariús/CE,

intervenção, patrimônio.

Page 17: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

SUMÁRIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

1. INTRODUÇÃO ..............................................................18

2. DA SECA A CARIÚS ....................................................20

2.2 SECA NO BRASIL ........................................................21

2.2. CARIÚS (TRAJETÓRIA) ..............................................36

3. O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS...........50

3.1 TRAJETÓRIA DO CASARÃO........................................51

3.2 ANÁLISE TIPOLÓGICA DAS CONSTRUÇÕES DO

DNOCS..................................................................................58

A. IMPLANTAÇÃO.............................................................58

B. RESIDÊNCIA DOS ENGENHEIROS ............................63

C. RESIDÊNCIA DOS OPERÁRIOS E DEMAIS

FUNCIONÁRIOS ...................................................................68

D. EDIFICAÇÕES DE SERVIÇO ........................................77

3.3. O CASARÃO (ANÁLISE TIPOLÓGICA) ........................86

A. CARACTERÍSTICAS DOS BANGALÔS ........................89

B. SEMELHANÇAS E DIFERENÇAS ENTRE OS

BANGALÔS E O ANTIGO HOSPITAL DE POÇO DOS

PAUS .................................................................................... 91

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA ...................................... 93

4.1 CESARE BRANDI ......................................................... 94

4.2 CARTAS PATRIMONIAIS ........................................... 100

5. ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFICIO ............ 108

A. ADIÇÕES.................................................................... 109

B. INTERIOR................................................................... 115

C. ÁREA EXTERNA ........................................................ 127

D. COBERTURA ............................................................. 134

E. ESQUADRIAS ............................................................ 139

6. CONCLUSÃO ............................................................. 148

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................... 150

Page 18: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

SUMÁRIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

8. ANEXOS ..................................................................... 156

A. PLANTA BAIXA ORIGINAL 1922 ................................ 157

B. PLANTA BAIXA PRÉ INTERVENÇÃO ........................ 158

C. PLANTA BAIXA ATUAL .............................................. 159

Page 19: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

INTRODUÇÃO 18

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Restaurar uma edificação não é somente preencher os vazios

e reparar os bens danificados, e sim preservar tanto seu

passado e sua história quanto a construção (estrutura) em si,

revelando os valores estéticos e históricos levando em

consideração o material original e os registros documentados.

Também se deve levar em conta a integração das novas

partes com as antigas de forma harmônica. Tais

incorporações devem possuir linguagem da arquitetura atual

de maneira que não falsifiquem a edificação. Isso tudo só é

possível se antes tivermos conhecimento da sua história e do

local onde está localizada.

Com os argumentos citados acima o tema deste trabalho será

baseado na restauração do Casarão localizado no município

de Cariús, interior do Ceará, conhecida como uma edificação

de grande valor histórico, educacional, político e cultural para

o município pela comunidade da região.

Para abordar este assunto, o restauro, foi necessário seguir

uma linha de raciocínio, contando seu passado, para poder

entender como chegou ao seu estado atual, podendo assim,

trabalhar com uma base de informações sólida.

Inicialmente, no 2º capítulo foi abordada a cronologia das

secas no nordeste, principalmente no Ceará, que levou ao

desenvolvimento de planos contra a seca, sendo uma delas o

atual DNOCS (Departamento Nacional de Obras Contra as

Secas), o que levou ao surgimento e trajetória histórica de

Cariús contada através de entrevistas com os moradores

mais antigos, além das pesquisas bibliográficas.

Em seguida, o 3º capítulo apresenta o Casarão, contando sua

cronologia. Devido à falta de documentos, a história do imóvel

é contada baseada apenas em entrevista com habitantes

locais e funcionários que trabalharam no Casarão nas

diversas funções abrigadas pelo edifício ao longo dos anos.

Entre eles o Sr. José Ferreira, ex-presidente da Câmara

Municipal de Cariús, a professora Diva Targino, a Sra. Joniza

Sales, Drª Luisa Angélica Sales, entre outros.

Esta trajetória histórica do imóvel será essencial para poder

desenvolver uma análise tipológica das construções do

DNOCS. Isto é possível através de pesquisa de campo na

região onde se encontra o Casarão, a região Centro Sul (Vale

do Salgado) do Ceará, em busca de informações não

somente em Cariús, mas também em outras duas cidades

(Icó e Orós) e um distrito (Lima Campos da cidade de Orós).

Esta pesquisa se baseou na procura de edificações

construídas pelo DNOCS, através de firmas estrangeiras, na

época da construção dos açudes nas cidades, para que fosse

possível desenvolver um parâmetro arquitetônico entre essas

construções do DNOCS.

No entanto, não foi possível trabalhar com os dados colhidos

da cidade de Icó devido às construções elevadas pelo

Page 20: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

INTRODUÇÃO 19

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

DNOCS serem mais recentes (ano de 1973) e construídas por

uma empresa brasileira. Já a cidade de Orós e seu distrito

Lima Campos* têm origem na década de 1920 e 1930 e foram

edificadas por empresas estrangeiras, assim como em Cariús.

Todavia, através das informações colidas, é feita uma

busca da origem deste parâmetro, encontrados nos bangalôs

californianos com alguns traços semelhantes, podendo assim,

comparar as características arquitetônicas.

As bases utilizadas para analisar as feitorias no imóvel

aplicadas pela Drª. Angélica foram explicadas no 4º capítulo.

Entre eles está o teórico Cesare Brandi, e documentos como

a Carta Patrimonial de Burra e de Veneza.

No capítulo seguinte a analise é incrementada com o material

didático “Técnicas Básicas de Conservação e Restauração”

ensinadas na disciplina de Técnicas e Retrospectivas II pela

professora Viviane Pimentel.

___________

* Em pesquisas feitas nos Diários Oficiais da União da época, foi possível

encontrar a construtora americana, a Dwight P. Robinson & Co. Inc.,

responsável pelo açude de Orós – mesma de Cariús. Porém, não foram

descobertos registros históricos sobre Lima Campos. Neste caso, levando

em conta que as construções de Lima Campos são semelhantes às de

Orós e Cariús, pode-se supor que, as edificações deste distrito devem ter

sido originadas pela mesma firma americana.

Por intermédio destes elementos serão levantados

argumentos sobre as compatibilidades, incompatibilidades e

questões alternativas em relação aos procedimentos

tomados, além de apresentar o que poderia ser melhorado ou

feito de outro modo.

O objetivo principal e essencial deste trabalho consiste em

relembrar e trazer a vida novamente à história quase

esquecida de Cariús. Ao apresentar a cidade e o projeto de

restauração, tende-se a abrir caminhos para que pessoas

leigas ao assunto tenham mais interesse sobre a história de

sua cidade ou outra de referências marcantes.

A meta é despertar o estudo de centros históricos, edificações

antigas que possuem uma vasta e rica trajetória, abrangendo

diferentes métodos de pesquisa e estudos, podendo assim,

apresentar soluções tomadas em cada caso. Esta

competência enriquece o status do local analisado e também

impem que a história seja esquecida e patrimônios sejam

destruídos, prejudicados ou desfigurados.

Page 21: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

20

DDDAAA SSSEEECCCAAA AAA CCCAAARRRIIIÚÚÚSSS 222

Page 22: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 21 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Hoje, a seca é um cenário constante na vida dos nordestinos

tendo seus primeiros registros antes do império português.

No século XVI estes colonizadores foram atraídos pelas belas

planícies e ótima vegetação rasteira das caatingas no

nordeste, propícias a pastagem mantendo uma visão no

desenvolvimento da pecuária e também na agropecuária com

a plantação de cana e algodão em altitudes que somente a

chuva poderia regar. Devido a tais características favoráveis

ao desenvolvimento da zona rural, não era de se esperar por

uma catástrofe natural, a seca (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,

1922, p. 57).

A primeira estiagem a ser documentada chegou ao sertão do

nordeste entre Bahia a Pernambuco em 1583 durante a fase

do açúcar - onde o plantio era em larga escala, pois a cana-

de-açúcar se adaptou-se ao clima e ao solo nordestino -

devastando a produção canavieira além das plantações de

mandioca. Os engenhos que eram a base da economia

colonial foram obrigados a parar seu funcionamento, deixando

as fazendas sem água. Cerca de 5 mil índios que habitavam

as redondezas, mortos de fome e sede, desceram o sertão

em busca de alimento, segundo relatos do missionário Fernão

Cardin que tratavam sobre o clima e a terra do Brasil e as

origens e costumes os índios brasileiros (AMIGOS DO BEM,

[20--]).

Já no século XVII e início do século XVIII a seca abrange todo

o território nordestino, com alguns episódios em destaque

como no caso da capitania de Pernambuco em 1692 onde,

segundo relatos de Frei Vicente do Salvador, índios foragidos

se reuniram em grandes grupos para avançar sobre as

fazendas situadas as margens dos rios a procura de

alimentos (AMIGOS DO BEM, [20--]).

Figura 001 – Seca na Paraíba.

Disponível em: http://www.portalmidia.net/noticia/instituto-nacional-de-

pesquisas-espaciais-preve-grande-seca-na-paraiba/. Acesso em: 25 jul.

2010.

Page 23: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 22 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

2.1. Seca no Ceará

A dolorosa experiência da seca deixou rastros e cicatrizes

pela história da região nordeste. São grandes os relatos de

fome, sede, perda de produção agrícola e pecuária que

conseqüentemente causaram uma destruição massiva na

população.

Pode-se considerar que o estado que mais sofreu com esses

acontecimentos foi o Ceará, devido ao seu vasto histórico de

episódios de secas com no mínimo oito1 casos registrados de

estiagem entre o século XVIII até os dias atuais. Seu início

significativo na década de 1720 atingiu não só a província do

Ceará como também seu vizinho, o Rio Grande do Norte.

Poucos anos depois, ocorreu outra seca, porém em escala

maior, devastando engenhos e matando de fome não apenas

o gado e animais domésticos, mas também quase todos os

escravos da região nordeste. Segundo relatos do historiador

Irineu Pinto, os fiscais da Câmara pediram ao rei de Portugal

que mandasse mais escravos para trabalharem nos

engenhos, pois os que habitavam a região, por um triz, não

pereceram por completo (AMIGOS DO BEM, [20--]).

____________

1 Pesquisa/conclusão da autora, mediante observações dos registros

constantes nos sites da internet.

Após a crise nos engenhos, os sertanejos começam a obter

esperanças no intervalo de aproximadamente meio século

sem registros alarmantes de secas no sertão, quando um

surto de varíola em 1776 devastou quase todo o perímetro

nordestino, seguido de outra seca em 1777 conhecida como

“a seca dos três setes”. Coincidentemente, com a falta de

chuva a epidemia de varíola se alastra até 1778. Como

conseqüência a Corte Portuguesa ordenou que os flagelados

fossem reunidos nas margens dos rios repartindo, entre si, as

terras adjacentes (AMIGOS DO BEM, [20--]). De acordo com

os registros no acervo do DNOCS2 citados por Jaqueline

Cordeiro (2010), cerca de 7/8 do rebanho bovino foi perdido e

morrendo mais da metade da população nordestina.

Contudo, era de se esperar que a seca não desse trégua aos

nordestinos. Em 1791, pouco mais de uma década após a

seca dos três setes, a denominada Grande Seca tornou a vida

no sertão mais difícil. Transformou a população cearense em

pedintes, desde os homens às crianças (CORDEIRO, 2010).

No litoral nordeste do Ceará, em Aracati, ocorreu um

alastramento da peste de varíola e, devido à grande

aglomeração de famintos dos sertões, cerca de 600 pessoas

foram a óbito. Os índios que ali residiam, e não pereceram,

____________

2 DNOCS – Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.

Page 24: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 23 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

fugiram para os estados ao oeste do Ceará, movendo-se em

direção ao interior do Piauí e Maranhão, restando apenas

uma pequena população indígena (CORDEIRO, 2010).

Segundo o professor Vieira Junior ([20--], p. 04), não somente

o litoral cearense sofreu com essa seca, mas também vilas

em extremos opostos da capitania, como Icó e Sobral ficaram

a mercê deste pesadelo. Ambas em área economicamente

desenvolvidas pelo agro-pastoril e banhadas pelos rios,

Jaguaribe e Acaraú, sentiram igualmente a dimensão em que

a grande seca seguiu seu rumo no Ceará. Até sete anos após

a lástima dominar os sertanejos, o assunto ainda era

queixado pela Câmara de Vereadores de Icó através da carta

enviada ao príncipe regente D. João no início do ano de 1801,

narrando a miséria em que seguia a vila durante os dois anos

de estiagem:

Daquelle ainda não visto castigo, os brados da pobreza, os gemidos dos que tinhão o impróprio nome de ricos, a dissolução dos Povos, e dos animaes, a consternação dos racionaes viventes (...) se arojam a comer toda, e qualquer (...) ave immunda que fose a carne dos mesmos, as raixes das arvores, com que se intranhão em grandes males [SIC]. (VIEIRA JUNIOR, [20--], p.04)

Figura 002 – Localização de Icó, Sobral e Aracati no Ceará e trajetória de

fuga dos índios.

Fonte: Acervo pessoal.

Após grandes incidentes de secas durante três séculos desde

seus primeiros registros, é somente no início do século XIX

que surgiram as primeiras iniciativas do governo para apoio

aos flagelados, com a criação de organizações, instituições e

comissões de caráter administrativo.

PIAUÍ

MARANHÃO

RIO GRANDE DO NORTE

Fortaleza

Aracati Sobral

Icó

PARAÍBA

PERNAMBUCO

ALAGOAS

SERGIPE

PARAÍBA

PARÁ

TOCANTINS

1

2

Vilas mais afetadas pela seca

1 – Trecho do Rio Acaraú

2 – Trecho do Rio Jaguaribe

Trajetória dos índios

Legenda

Page 25: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 24 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

A primeira organização com intuito de dar assistências às

vítimas da seca e socorrer a pobreza incentivando o cultivo da

mandioca no país foi a Pia Sociedade Agrícola estabelecida

pelo governador da Paraíba, Luis da Mota Fêo em 24 de

outubro de 1802 - devido à sensibilidade da capitania (PB) à

última grande seca. Foi ordenada então a plantação de

duzentas mil covas de mandioca alcançando lucros até 1804

(NASCIMENTO FILHO, 2008).

Porém em períodos de dificuldades econômicas no preço da

farinha de mandioca, Luiz da Mota Fêo recorreu ao apoio do

governador da Bahia para importar a farinha e remediar a

situação dos fazendeiros que, com o ganho líquido, Fêo

alimentava o gado faminto, os escravos e repulham os furtos

feitos pelos flagelados da região (NASCIMENTO FILHO, 2008).

Mas em julho de 1805 a Pia Sociedade Agrícola foi abolida

devido à chuva que caía sobre a terra paraibana tornando o

solo inapropriado para a mandioca. Então tudo que estava

sobre sua posse como lavouras, fundos, propriedades, entre

outros, foi doado ao hospital Santa Casa de Misericórdia

(NASCIMENTO FILHO, 2008).

Agora não somente a Paraíba, mas toda a região nordeste e

principalmente o Ceará, foram devastados por uma das secas

com maior índice de mortalidade registrado até a atualidade

(AMIGOS DO BEM, [20--]).

A seca de 1877 a 1879 devastou vilas inteiras, carregando

consigo gado, crianças, mulheres, idosos e plantações,

deixando um rastro de 500 mil mortes na região, sendo 200

mil delas só no Ceará. Dos 800 mil habitantes cearenses 15%

migraram para Amazonas e 8,5% foram para outros estados,

alguns se deslocavam para lugares distantes. Fortaleza foi

extremamente devastada e cerca da metade da população

morreu (AMIGOS DO BEM, [20--]).

Figura 003 – Fotografia de uma família de flagelados em uma estação

ferroviária do Ceará.

Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Seca_no_Brasil. Acesso em: 7

jun. 2010.

Em conseqüência da grande seca que devastou o Ceará, o

Governo Imperial adotou metas para abastecimento de água

Page 26: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 25 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

para a população e implantação de sistemas de irrigação para

a agricultura no interior da província. Com esse objetivo foi

criada uma das primeiras comissões formada por engenheiros

e cientistas, que baseados em iniciativas de estudos e

pesquisas, propuseram a construção de açudes para

retenção de águas pluviais e canal de ligação para os campos

próximos. Chefiada pelo engenheiro austríaco Julius Pinkas, a

coletiva da comissão desembarcou em Fortaleza no dia 12 de

janeiro de 1878. Após analises do território, foram

determinados a construção de 30 açudes e de sistemas de

irrigação nas províncias do Ceará (COSTA, 2001, p. 173).

Contudo, a única construção iniciada pela Comissão de

Açudes e Irrigação (mais tarde, o atual DNOCS) foi o Açude

do Cedro localizado em Quixadá, interior do Ceará, local

indicado pelo engenheiro Ernesto Antônio Lassance Cunha e

confirmado pelo engenheiro britânico Jules Jean Revy, sendo

este encarregado de executar o projeto original em 1882

(WIKIPÉDIA, 2010).

Entretanto, por questões de desacordos, a comissão foi

dissolvida em 1886. Devido a este acontecimento e à outra

seca que abateu não somente o Ceará, mas como

Pernambuco e Paraíba, motivou o abandono das vilas destes

estados e, conseqüentemente, a elaboração do projeto do

Açude do Cedro foi paralisado até 1888 (COSTA, 2001, p.

173).

Todavia, a comissão foi reestruturada novamente e, em 1889,

foram feitas algumas modificações no projeto original do

açude, elaboradas pelo engenheiro Ulrico Mursa da Comissão

de Açudes e Irrigação. As obras então foram iniciadas em 15

de novembro de 1890, sob a nova direção do engenheiro

Bernardo Piquet Carneiro e após várias suspensões da

construção, a barragem pode ser finalmente finalizada em

1906 (WIKIPÉDIA, 2010).

Hoje o Açude do Cedro, além de ser encarregado de prover

as redes de irrigação, propõe locais para pesca, prática de

esportes e banho.

Figura 004 – Açude do Cedro em 1906 e ao Fundo a pedra Galinha

Choca, Quixadá/CE.

Fonte: COSTA, Cacilda Teixeira. O sonho e a técnica: a arquitetura de

ferro no Brasil. Editora EDUSP. pg. 172, 2001.

Page 27: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 26 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 005 – Açude do Cedro hoje (2010), Quixadá/CE.

Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/A%C3%A7ude_do_Cedro>

Acesso em: 7 jul. 2010.

Durante a construção da barragem, os operários e

engenheiros montaram acampamento nas proximidades da

obra para servir de apoio e moradia. Os resquícios

constituídos dos casarões ainda estão presentes a seis

quilômetros da sede do município de Quixadá, como se pode

observar nas figuras 007 a 009. Porém, vale ressaltar que

algumas edificações eram direcionadas para hospedagem, e

outros casarões servia como galpões para o

acondicionamento dos materiais e equipamentos de

construção do Açude do Cedro.

SEDE QUIXADÁ

CEARÁ

QUIXADÁ

AÇUDE CEDRO

Figura 006 – Localização do Açude do Cedro e a

sede de Quixadá/CE.

Fonte: Intervenções no mapa: Acervo Pessoal.

QUIXADÁ

Page 28: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 27 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 007 – Condições atuais das construções elevadas no

acampamento em Quixadá/CE.

Disponível em:

<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar

ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-

abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16

jun. 2010.

Figura 008 – Edificação estruturada em alvenaria maciça.

Disponível em:

<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar

ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-

abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16

jun. 2010.

Page 29: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 28 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 009 – Um dos galpões onde eram guardados os materiais de

construção.

Disponível em:

<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar

ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-

abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16

jun. 2010.

Figura 010 – Interior do imóvel atualmente, localizado no antigo

acampamento de Quixadá/CE.

Disponível em:

<http://www.revistacentral.com.br/index.php?option=com_content&view=ar

ticle&id=1585:casaroes-do-acude-cedro-cenas-de-um-patrimonio-

abandonado-&catid=59:direito-e-cidadania&Itemid=277>. Acesso em: 16

jun. 2010.

A formação da Comissão de Açudes e Irrigação desencadeou

o interesse do governo federal em ampliar a organização em

uma Inspetoria de Obras Contra as Secas - IOCS3,

____________

3 IOCS – Criada através do Decreto Nº 7.619 em 21 de outubro de 1909.

Page 30: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 29 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

promulgada em 1909 pelo Presidente da República, Nilo

Peçanha. Segundo Fritsch (1990), citado por Pomponet

(2009, p. 59) a inspetoria foi criada na “era de ouro” da

Primeira República, quando o país estava proporcionando

grandes obras de infraestrutura, tais como portos e ferrovias.

Com sede em Fortaleza, o IOCS proporcionava estudos,

planejamentos e obras contra as conseqüências das secas na

região nordeste do Brasil. Seus serviços eram executados de

acordo com a urgência da área, sendo dos mais variados

possíveis, promovendo infraestrutura de todos os efeitos:

estradas de ferro; vias de comunicação entre flagelados,

mercados e centro de produtores; açudes de pequeno, médio

e grande porte; poços tubulares e artesianos; canais de

irrigação; barragens transversais e submersas; drenagem de

vales; estações pluviométricas, estudos das condições

meteorológicas, geológicas e topográficas das zonas

assoladas; conservação das florestas; além de outros contra

os efeitos das secas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1909, p.

02).

Com intuito de acelerar o processo de construção de açudes

e poços nas regiões mais condenadas pelas secas, no dia 18

de outubro de 1912, é aprovado pelo Presidente da

República, Hermes da Fonseca, o projeto e orçamento

propostos pelo IOCS para construção do açude na Vila Poço

dos Paus - Ceará, antigo distrito do município de São Mateus,

atual Jucás. Com o passar do tempo a vila passou a ser

denominada Cariús, localidade que abriga o objeto de estudo

deste trabalho (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1912a, p. 06).

Para que os projetos de caráter público fossem executados,

foi necessária uma concorrência pública entre as empresas

interessadas visando o menor custo. A sessão para o açude

do Poço dos Paus foi aberta na sede do IOCS, em Fortaleza,

com duração de um mês, tendo início dez dias após a

aprovação inicial do Presidente (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO,

1912b, p. 29).

Grande parte das concorrências foi feita da mesma maneira,

como no caso do açude do Caio Prado, hoje sendo município

do Ceará, com a concorrência finalizada juntamente com o

açude do Poço dos Paus. Tal fato também pode ser verificado

em outras partes da região nordeste. O açude da Serrinha

pertencente ao município Serra Talhada, finalizado no mesmo

ano, é um exemplo (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1912c p.

26).

Porém a prosperidade do IOCS, sob os decretos do

presidente Venceslau Brás, não foi muito além,

supostamente, devido ao alto custo na execução dos açudes.

No ano de 1914 somente 42 poços haviam sido escavados,

sendo que 33 deles eram privados e apenas 9 públicos

(VILLA, 2000, apud POMPONET, 2009, p. 59). Mas o

principal vilão foi a seca de 1915 que novamente arrasou a

Page 31: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 30 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

região nordeste. Junto à estiagem foi introduzido o primeiro

campo de concentração no Ceará, situado em Alagadiço a

oeste de Fortaleza (CORDEIRO, 2010).

Devido à massiva miséria em que os flagelados se

encontravam, era de se esperar que vítimas encurraladas

pela seca se alastrassem por todo o estado cearense. Para

evitar um reprise da seca de 1877, onde mais de 110 mil

sertanejos famintos tomaram conta das ruas de Fortaleza, as

autoridades tomaram providencias para que os "mulambudos”

do sertão, assim chamados, não chegassem à capital do

estado, aterrorizando, saqueando trazendo moléstia e sujeira

como davam parecer nos boletins do poder público da época

(SÁ, [20--]).

Com essa meta, foi criado pelos governos estadual e federal,

o campo de concentração, onde as famílias eram isoladas

das cidades e sob vigilância de soldados foram mantidas

neste recinto com um pouco de água e comida. Todavia a

média de mortalidade dos flagelados chegava a 150 por dia e

a acumulação dos famintos e a putrefação dos mesmos era

absurdamente grande, tanto que o governo estadual foi

obrigado a dispersar os prisioneiros em 18 de dezembro do

mesmo ano (SÁ, [20--]).

A “seca de quinze” foi um trágico marco que até os romances

deram vida aos relatos desse episódio, um deles é “O Quinze”

de Rachel de Queiroz. O livro narra o cenário da seca de

1915 onde a própria família de Rachel foi obrigada a fugir do

Ceará. Em trechos do livro, dois dos personagens principais,

Conceição e Vicente, dialogam sobre o campo de

concentração erguido nesta época. Em seu conto, a escritora

Rachel relembra que o curral chegou a aglomerar cerca de 8

mil flagelados da seca (SÁ, [20--]).

Em 1919, quando Epitácio Pessoa ascende à presidência da

República, a seca na região nordeste é administrada em

maior escala, visando propostas de açudes, barragens e

escavação de poços com a finalidade de reservar água pluvial

para épocas de grandes estiagens. A grande quantidade de

máquinas e equipamentos importados de Nova York e

desembarcados em Fortaleza era prova de que finalmente os

nordestinos iriam ter um mecanismo de defesa contra os

efeitos das secas (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1922, p. 60).

Em meados do mesmo ano, a Inspetoria de Obras Contra as

Seca - IOCS recebe o nome de Inspetoria Federal de Obras

Contra as Seca – IFOCS4 através do decreto promulgado por

Epitácio Pessoa (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1919, p. 101-

109), seguido da lei que instituiu a Caixa Especial das Obras

____________

4 IFOCS – Aprovada pelo Decreto Nº 13.687 em 9 de julho de 1919.

Page 32: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 31 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

de Irrigação no Nordeste5 garantindo o financiamento

necessário para início das obras (DIÁRIO OFICIAL DA

UNIÃO, 1923, p. 51).

Após garantir a verba, Epitácio aprovou as cláusulas, em

1920, que autorizaram o IFOCS a contratar empresas

estrangeiras para as grandes construções de barragens e

canais de irrigação no nordeste, iniciadas em: Gargalheira e

Parelhas no Rio Grande do Norte pela empresa inglesa (com

sede em Londres) C. H. Walker & Co. Ltd.6 (DIÁRIO OFICIAL

DA UNIÃO, 1920, p. 02); Orós e Poço dos Paus no Ceará e

São Gonçalo e Piranhas na Paraíba designando a empresa

americana Dwight P. Robinson & Co. Inc.7 (DIÁRIO OFICIAL

DA UNIÃO, 1920, p. 04); Acarape (iniciada em 1910, mas

quase concluída), Quixeramobim e Patú no Ceará pela

empresa inglesa Norton Griffiths& Co. Ltd.8 (DIÁRIO OFICIAL

DA UNIÃO, 1920, p. 06).

____________

5 A Caixa Especial autorizava o Governo Federal a adquirir empréstimos

no exterior com um certo limite. Regulamentada pela Lei 3.965 em 25 de

dezembro em 1919.

6 Aprovada pelo Decreto Nº 14.433 em 22 de outubro de 1920.

7 Aprovada pelo Decreto Nº 14.434 em 22 de outubro de 1920.

8 Aprovada pelo Decreto Nº 14.435 em 22 de outubro de 1920.

Porém o insucesso foi inevitável. A execução dos serviços

pedia um orçamento muito superior ao que foi inicialmente

estipulado, e em 1923 algumas obras foram paralisadas,

outras tiveram que restringir suas atividades. Em outros

casos, as que já estavam quase concluídas, foram finalizadas

(DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1924, p. 63).

Em relação às construções no estado do Ceará, as obras que

tiveram os trabalhos suspensos foram as de Poço dos Paus,

Patú e Quixeramobim (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1924, p.

63), entretanto foi concluída quase toda a infraestrutura para

a implantação dos acampamentos, tais como a construção de

casas para os trabalhadores, administradores e homens de

“categoria”, casas de oficinas e depósito de materiais.

Além da infraestrutura, em Poço dos Paus e Quixeramobim

foram concluídas as casas que abrigam os geradores de força

e somente em Poço dos Paus é garantido o registro de

abastecimento de água no acampamento (DIÁRIO OFICIAL

DA UNIÃO, 1922, p. 60, 61).

Já em Acarape as construções foram prosseguidas e

finalizadas somente em 19249 (DNOCS, [20--]a) e em Orós

foram concluídas em 196110 (DNOCS, [20--]b).

A desmotivação das famílias locais proporcionada pelas

estiagens, também ajudou na redução de verba para as obras

contra as secas. Contudo em 1925, segundo Fritsch (1990),

Page 33: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 32 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

citado por Pomponet (2009, p. 60) o sucessor de Epitácio

Pessoa, Artur Bernardes, propôs uma redução de despesas,

desamparando os investimentos na região nordeste.

Então novamente a estiagem assola o Nordeste em 1932 e o

movimento dos sertanejos foi feito em direção às grandes

cidades. Com função de bloquear os flagelados até a capital,

os campos de concentração, os chamados “Currais do

Governo”9, são reutilizados, porém neste caso o campo não

foi só implantado em Alagadiço (Fortaleza), mas também em

outras cidades com estrutura básica e estação de trem, sendo

alastrados Ppor todo estado do Ceará: Pirambu (em

Fortaleza, conhecido como Campo do Urubu), Senador

Pompeu, Quixadá, Quixeramobim, Cariús, Ipu e Crato. Os

flagelados recebiam comida, cuidados e podiam trabalhar em

obras sob vigia dos soldados, porém não evitou a mortalidade

dos sertanejos devido às condições desumanas nos “currais”

(CORDEIRO, 2010).

Entretanto, no livro Campos de Concentração no Ceará:

Isolamento e Poder na Seca de 1932, da historiadora Kênia

Souza Rios (2001), citados por Sá ([20--]) são encontrados

____________

9 Currais do Governo – Nome dado vulgarmente aos campos de

concentração, devido às condições precárias e o modo como os humanos

eram tratados pelos soldados do governo, feito animais encurralados.

relatos que afirmam a promessa não cumprida de água e

comida para os flagelados no campo de concentração do

Crato, onde o a quantidade de mortos por dia chegou a cerca

de 200 pessoas devido à fome e doenças. Segundo

estatísticas oficiais, dos 73918 flagelados aprisionados nos

“currais”, 16200 foram confinados em Crato, 28648 em

Cariús, 16221 em Senador Pompeu, 6507 em Ipu, 4542 em

Quixeramobim, 1800 em Fortaleza Sá ([20--]) .

Nesta época algumas construções feitas para apoio dos

operários dos açudes, serviram como sedes dos campos de

concentração no Ceará, tal como a antiga vila em Senador

Pompeu. Os casarões do antigo acampamento foram

construídos em 1919 pelos trabalhadores ingleses que

operavam na construção do açude na região (ROCHA, 2008).

Embora não sejam encontrados documentos oficiais que

afirmam quais imóveis foram utilizados para tal propósito,

ainda se podem observar as ruínas destas construções no

município, como no caso do resquício de um casarão

construído em 1923 representado nas figuras 011 a 016.

Page 34: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 33 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 011 – Casarão construído em 1923, sede do campo de

concentração em Senador Pompeu/CE.

Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817432>. Acesso

em: 9 jul. 2010.

Figura 012 – Detalhe no oitão que relata o ano de sua construção.

Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82823198>. Acesso

em: 9 jul. 2010.

Figura 013 – Cena do filme “Lágrimas de Vela” que relata a história dos

sobreviventes do “curral” em Senador Pompeu.

Disponível em:

<http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=515480>. Acesso

em: 16 jun. 2010.

Figura 014 – Face longitudinal do casarão.

Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82823197>. Acesso

em: 9 jul. 2010.

Page 35: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 34 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 015 e 016 – Observa-se as características do interior da construção

e a má condição do patrimônio.

Disponível em: <http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817433>;

<http://www.flickr.com/photos/kallyl/82817434>. Acesso em: 9 jul. 2010.

Cerca de uma década depois, tropas revolucionárias contra o

exército brasileiro se erguiam em São Paulo com objetivo de

derrubar o Governo de Getúlio Vargas que assumiu a

presidência em1930, dando origem a Revolução de 32. E

para aumentar o volume de soldados, o governo federal e

estadual convocou cerca de 1200 dos flagelados cearenses,

inclusive idosos e crianças, que habitavam os campos de

concentração, para servir ao Exército brasileiro contra as

tropas revolucionárias em São Paulo. Em conseqüência a

falta de treinamento e experiência militar, a tropa composta

pelos cearenses sofreu com o frio devido às fardas

inadequadas. Em estimativa, menos da metade dos soldados

improvisados voltaram vivos para o Ceará (SÁ, [20--]).

As condições dos nordestinos também foram representadas

nas Artes Plásticas, como retratado na obra de Portinari que

enfatiza a miséria e sofrimento do povo nordestino, realçando

a tristeza e dramatização dos personagens bastante realistas

(fig. 017).

Figura 017 – Retirantes, Candido Portinari, 1944.

Disponível em:

<http://www.proa.org/exhibiciones/pasadas/portinari/salas/portinari_retirant

es.html>. Acesso em: 8 jul. 2010.

Page 36: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 35 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Devido a repetidas e prolongadas crises de estiagem durante

séculos em praticamente todos os municípios dos estados do

nordeste, incluindo o norte de Minas Gerais, esta área ficou

conhecida como Polígono das Secas em 1936, sendo foco de

atenção especial pelo Poder Público em 1.877 municípios

(SUDENE).

Figura 018 – Estados que abrigam o Polígono das Secas.

Disponível em:

<http://www.dnocs.gov.br/~dnocs/var/images/galeria/_piscicultura/penteco

ste/PoligonoSecas.jpg>. Acesso em: 9 jul. 2010.

Para uma nova reformulação do IFOCS, o Presidente da

República José Linhares em dezembro de 1945, adota um

novo nome para a Inspetoria, tornando-se finalmente em

Departamento Nacional de Obras Contra as Secas –

DNOCS10, hoje sendo o atual nome, administrando uma nova

estrutura para o Departamento que mais tarde, em 1963, se

transforma em uma autarquia federal independente do poder

central (DNOCS, [20--]c).

Novamente outra grande seca em 1958 se alastrou pelo

nordeste. As conseqüências foram ainda mais alarmantes

devido à exclusão da região no Plano de Metas "crescer

cinqüenta anos em cinco” do governo do Presidente da

República, Juscelino Kubitschek. Com a seca, o governo

federal foi obrigado a encaminhar obras de emergência para

mais de 500 mil habitantes do nordeste (CORDEIRO, 2010).

A partir de então, Kubitschek implementa o plano de “Uma

política de desenvolvimento para o Nordeste”, que leva à

fundação da SUDENE (Superintendência do Desenvolvimento

do Nordeste) em 1959 que atua na região do Polígono das

Secas promovendo o desenvolvimento dos municípios desta

área (CORDEIRO, 2010).

____________

10 DNOCS – Conferido pelo Decreto-Lei Nº 8.846 em 28 de dezembro de

1945.

Page 37: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 36 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Somente uma década depois a taxa de mortalidade, devido à

estiagem no nordeste brasileiro, foi reduzida drasticamente.

Contudo 11% da população migrou procurando uma

qualidade de vida melhor. Tentando fugir da miséria, fome,

sede e principalmente das crises provocadas pelas secas que

assolavam qualquer flagelado do sertão nordestino fossem

homens, mulheres, crianças ou idosos (CORDEIRO, 2010).

2.2. Cariús – Trajetória

(...) para construirmos o futuro precisamos conhecer o passado. (...) Registrar fatos do presente para que mais adiante os ávidos neo-cariuenses tenham fontes de informações sobre tópicos de uma civilização passada, incrementando desta forma, a cultural, a alta estima e a cidadania. (...) sempre que possível editaremos fatos atinentes a personalidades que glorificaram nossa terra, buscando restabelecer a nossa história, para que estranhos que não conhecem nosso passado, nem o nosso povo, possam compreender que a nossa gente tem orgulho de pertencer a essa terra. (JORNAL FOLHA DO MUQUÉM, 2000, p. 01)

Este é o pensamento dos habitantes de Cariús11, que

transmitem o orgulho da terra natal onde ao longo dos

séculos se desenvolveu lutando contra secas e enchentes,

deixando de ser apenas um deserto no sertão para conquistar

sua emancipação como município do Ceará.

____________

11 Cariús – Nome indígena tupi que significa “Rio de Cari”, ou seja, peixe

de água doce. Mas segundo relatos de Tomaz Pompeu Sobrinho, possui

sentido de “água saindo do mato”.

Page 38: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 37 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

O povoamento desse território foi feito pelas primeiras tribos

indígenas que habitavam nas áreas das proximidades do rio

Jaguaribe, os quixelôs, naturais dos povoados de Telha, hoje

a atual cidade Iguatu. Entretanto, devido às missões jesuíticas

em meados do século XVIII, os nativos viviam em

aldeamentos na área de Poço dos Paus12 (atual Cariús)

sendo pacificados através dos métodos de catequese na

quadra colonial da ordem religiosa (IBGE, 1959).

De acordo com os conhecimentos sobre a colonização do

Brasil, após a desocupação dos índios na região, seu

povoamento foi atribuído no governo de D. João III, a partir da

concessão em sesmarias, onde os colonos tinham o direito de

ocupar a área com a produção que demarcaria seu território.

Supostamente por questões de necessidade, com a

proximidade da água para o próprio fornecimento e dos

animais, se localizaram às margens do rio Cariús, onde o

mesmo deságua no rio Jaguaribe, desenvolvendo a produção

de pecuária, e ali estabeleceram suas casas originando as

fazendas.

____________

12 Poço dos Paus – Segundo moradores locais, o nome foi dado devido a

formação dos vários poços nos perímetros dos morros com vegetação da

região. Não foram encontrados registros de quando o nome foi adquirido

pela vila.

SEDE CARIÚS

CEARÁ

CARIÚS

JUCÁS IGUATU

CARIÚS

Rio Cariús

Rio Jaguaribe

Legenda

Figura 0019 - Localização do rio Cariús e

Jaguaribe em Cariús/CE

Fonte: Intervenções no mapa: Acervo Pessoal.

Page 39: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 38 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Todavia, o território não passava de um deserto. Devido a

essas condições que obrigavam o homem a migrar de sua

terra, tocado pela necessidade, cansado de ver seu gado

morrer e sua plantação esvaecer, em 1920 o Presidente da

República, Epitácio Pessoa, aprova o decreto que permite a

autorização do IFOCS na contratação da empresa americana

Dwight P. Robinson & Co. In. para a construção da barragem

de alvenaria em Poço dos Paus com objetivo de conter as

águas do rio Cariús (DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO, 1920, p. 4).

Com a vinda dos americanos para as margens do rio, foi

necessária a implantação de acampamentos compostos de

várias edificações e construções necessárias para a fixação

de moradias dos operantes. Entre elas, foi construída a ponte

pênsil (fig. 020), o único acesso que ligava o território de Poço

dos Paus divido pelo rio Cariús. Em um lado do rio (entre o rio

Cariús e o rio Jaguaribe) foi construído o casarão do

engenheiro mestre em um nível mais alto (demolido

recentemente sem motivos), as residências para o alto

escalão, como os engenheiros e topógrafos (fig. 022) e a

Casa de Gelo – que através de rumores dos moradores

locais, servia para produzir gelo que era colocado nas

bebidas dos americanos – no Bairro Acampamento.

Figura 020 – Ponte pênsil estruturada com cabos de aço e ripas de

madeira. Com vista para o Bairro Acampamento e ao fundo pela esquerda

a casa do engenheiro mestre.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Casarão do engenheiro mestre Residências dos

engenheiros e topógrafos

Page 40: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 39 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 021 – Rio Cariús hoje, parcialmente seco. Estrada onde estava

localizada a ponte pênsil, ao fundo o antigo Bairro Acampamento, 2010.

Fonte: Acervo.

Figura 022 – Resquícios das casas dos engenheiros no Bairro

Acampamento no início do século XXI.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Na outra margem do rio Cariús estava crescendo a vila do

Poço dos Paus, formada também pelos americanos, onde foi

edificado um Hospital (fig. 023), hoje atual residência da Drª

Luisa Angélica Sales fundadora do Instituto Mandacaru13, a

Gerência do IFOCS (fig. 024) que também abrigou os

funcionários e a casa do médico (fig. 025) – após alguns anos

foi a sede da Agência Postal-telegráfica e mais tarde se

tornou em uma residência – na Vila do Prado atual Praça da

República.

Figura 023 – Hospital do IFOCS. Atualmente residência da Drª Luisa

Angélica Sales, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

____________

13 Instituto Mandacaru – ONG (Órgão Não Governamental) criada em

novembro de 2003 com objetivo de combater a exclusão social.

Page 41: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 40 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 024 – Antiga Gerência do IFOCS. Atualmente residência, [20--].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 025 – Antiga casa do médico sediando a Agência Postal-

telegráfica, [195-].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 026 – Vila do Prado com o antigo Hospital à direita e ao final da

rua, na mesma calçada, a casa do médico atuando como a Agência

Postal-telegráfica. Meados do século XX.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 027 – À esquerda, Praça República atualmente. À direita, antiga

Gerência do IFOCS seguida do antigo Hospital e da casa do médico,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 42: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 41 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Também foram construídos 18 casas modestas, 9 em cada

lado da rua, para os operários brancos na Rua da Vila (fig.

028), hoje Rua 7 de Setembro; na Rua Barbadiana – assim

chamada pela aparências robustas e pele negra dos

moradores - foram erguidas casas para os negros

estrangeiros que vieram do Caribe para trabalhar na

construção do açude (fig. 029); o Almoxarifado/Escritório (fig.

030) – que segundo moradores locais possuía um sino que

tocava para chamar os operários ao trabalho, além da

implantação da Casa de Força e Luz para o suprimento de

energia do acampamento.

Figura 028 – Rua da Vila atualmente com as antigas casas dos operários,

2010.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 029 – Antiga Rua Barbadiana com algumas residências da época,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 030 – Almoxarifado do IFOCS, atualmente residência, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 43: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 42 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 031 – Foto panorâmica de Poço dos Paus. Ao fundo o Bairro Acampamento com o casarão do chefe e as residências dos engenheiros e topógrafos.

Mais a frente o Almoxarifado/Escritório e ao lado a Rua da Vila com as casas dos operários, [19--].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Almoxarifado/Escritório

Casarão do engenheiro Chefe

Residências dos engenheiros e topógrafos.

Rua da Vila – Casas dos operários

Page 44: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 43 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

No mesmo ano, 1920, foi iniciada a construção da estação de

trem que levaria todo material de construção da barragem

para Poço dos Paus (fig. 032). Entretanto, durante sua

execução, as obras do reservatório de Poço dos Paus foram

paralisadas devido à racionalização de verba do governo. Em

virtude deste acontecimento, após a inauguração da estação

em 1922, o ramal ficou à disposição do tráfego de pessoas e

da produção algodoeira, trazendo homens à procura de

empregos que ao se depararem com uma infraestrutura

básica proporcionada pelos americanos, estabeleceram-se no

local, o que resultou em um pequeno núcleo de comércio

visando o desenvolvimento de um povoado.

Segundo moradores, em 1978 o trem já não estava mais em

funcionamento e em seu edifício está localizado o atual

Hospital Municipal Dr. Thadeu de Paula Brito (fig. 033). Tais

que vivenciaram a época em que o ramal ainda estava em

ativa, afirmam que a utilização do mesmo não era mais viável

por questões econômicas, devido à abertura de novas

estradas adentro do estado evidenciando e facilitando acesso

dos automóveis individuais e coletivos.

Com o adensamento de habitantes e o crescimento

econômico, o acampamento foi elevado à categoria de Vila

em 1938 pelo Decreto Lei 169, pertencendo ao Município de

São Mateus, hoje denominada de Jucás (IBGE, 1956).

Figura 032 – Estação de trem em meados do século XX.

Fonte: IBGE. Enciclopédia dos Municípios, vol. XVI, 1959.

Figura 033 – Estação de trem hoje como Hospital Municipal, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 45: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 44 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Além do comércio, a riqueza econômica da vila estava em

crescimento devido à alta produtividade de algodão através

de firmas como Montenegro (figs. 034 - 037), Mifrota e Cortez.

Foi então que, em abril de 1938, o Padre José Sobreira

chegou a Vila e escolheu o dia 8 de setembro, mesmo

período da colheita do algodão, para celebrar a festa da

padroeira Nossa Senhora Auxiliadora de Poço dos Paus

nesta época, dando ênfase ao dia da fartura do algodão.

Figura 034 – Área da firma Montenegro. Ao fundo a estação de trem,

década 1930.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 035 – Proximidade dos galpões da firma com o ramal de trem,

década 1930.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 036 – Estocagem da produção algodoeira, década 1930.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Page 46: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 45 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 037 – Galpões atualmente, parcialmente deteriorados, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Segundo o morador José Ferreira, ex-presidente da Câmara

Municipal, durante anos a população da cidade lutou pela

emancipação do distrito através de comitês para elevar a vila

em município do Ceará.

Em 22 de Novembro de 1951, através da Lei 1153/51, Poço

dos Paus é desmembrada da cidade de São Mateus, se

erguendo à categoria de município. Mas é somente em 25 de

março de 1955 que a formação oficial da Câmara Municipal é

instalada já com o novo nome de Cariús, elegendo como

primeiro prefeito o Sr. Silvestre Almeida Duarte (IBGE, 1959).

Figura 038 – Primeira bandeira do município Cariús em 1968.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Embora Cariús esteja localizada no Polígono das Secas

sendo vítima de várias crises de estiagens durantes séculos,

os efeitos também podem ser o inverso. Como ocorreu em

1974, um dos maiores casos de enchentes no município.

Relatos de moradores que vivenciaram o acontecimento

alegam que as elevações das águas dos rios Jaguaribe e

Cariús foram tão violentas que balançaram a ponte pênsil,

feita de cabos de aço, até carregá-la correnteza a fora.

Page 47: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 46 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Destruiu grande parte da área baixa localizada na zona rural

da cidade, principalmente as casas feitas de taipa14, forçando

os moradores a se abrigarem na parte mais alta ou em

residências elevadas como o Casarão, antigo hospital do

acampamento dos americanos, instalando os flagelados da

enchente no grande salão da edificação.

Figura 039 – Rua coberta pelas águas do rio em 1974.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

____________

14 Taipa - Antiga técnica construtiva em que a paredes eram constituídas

de entrelaçamento de madeiras verticais e horizontais amarradas umas as

outras com cipó e preenchidas com barro.

Figura 040 – Manchas nas paredes dos edifícios que indicam até onde a

água subiu dentro da cidade, 1974.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 041 – Trágica conseqüência na zona rural do município em 1974.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Page 48: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 47 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 042 – Foto aérea indicando os rios Jaguaribe e Cariús. À esquerda a cidade de Jucás banhada pelo rio Jaguaribe e a sede da cidade de Cariús (à

direita) banhada pelo rio Cariús, que deságua no rio Jaguaribe ao norte de Cariús, 2010. Sem escala.

Fonte: Google Earth. Acesso em: 25 de jun. de 2010.

Page 49: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 48 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 043 e 044 – Aproximação das fotos aéreas de Jucás (à esquerda) e Cariús (à direita), 2010. Sem escala.

Fonte: Google Earth. Acesso em: 25 de jun. de 2010.

Page 50: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 02 49 DA SECA A CARIÚS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Cariús hoje possui uma área distribuída em cinco distritos:

Cariús (sede), Bela Vista, Caipu, São Bartolomeu e São

Sebastião. A educação no município é bem centrada,

contando com trinta e nove escolas: uma estadual de ensino

médio, uma particular de ensino fundamental e trinta e sete

municipais de ensino fundamental. Levando em consideração

o colégio Adahil Barreto, a primeira escola da cidade fundada

em 1938 pela professora Luiza Alencar Guimarães

denominada primeiramente como Escola Reunida, que será

tratada mais detalhadamente no capítulo seguinte.

Figura 045 – Mapa básico de Cariús, 2010.

Fonte: SEPLAG; IPECE. Perfil Básico: Cariús. Fortaleza, 2010.

Page 51: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

50

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Page 52: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 51 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

3.1. Trajetória do Casarão

Através de pesquisas de campo e entrevistas realizadas com

moradores de Cariús que conhecem o passado do município

– como o Sr. José Ferreira, Sra. Diva Targino, Sra. Jonisa

Sales e a atual moradora Dra. Luisa Angélica Sales – pode-se

desenvolver a trajetória histórica. Sendo assim, observou-se

que o Casarão (antigo Hospital) foi uma das construções

locais mais notáveis e de grande prestígio, desde sua

implantação até os dias atuais.

No ano de 1920, quando foi autorizada a construção da

grande barragem no rio Cariús em Poço dos Paus, os

americanos determinaram a necessidade de montar um

acampamento neste território para fixar suas moradias e

edifícios de serviço, saúde e administração. Entre esses

imóveis, havia um de suma importância e destaque, o

Hospital, que dava auxílio aos habitantes desse

acampamento.

Construído em 1922 pela firma americana Dwinght P.

Robinson & Co. Inc. e conduzida pelo IFOCS. Está

implantada nas margens do rio Cariús, perto da entrada

principal da cidade, na antiga Vila do Prado, que segundo

relatos, nada mais era que um grande pasto de animais. Hoje

sendo a praça mais importante da sede de Cariús, a Praça

República.

Após a paralisação da construção da barragem em Poço dos

Paus, o Hospital manteve seu funcionamento por poucos

anos na década de 1920. Já em meados da mesma época

até início da década de 1930 não se tem registro das

atividades no edifício. Porém, a partir desta data, o Sr. José

Ferreira afirma que o interventor de São Mateus (atual Jucás),

Maximinio, residiu no imóvel quando Poço dos Paus ainda era

distrito de São Mateus.

Durante a permanência do interventor no local, a professora

Luiza de Alencar Guimarães desejou uma nova função para o

imóvel, sediar sua escola. Nascida em 02 de dezembro de

1903, Dona Luizinha (assim chamada) começou a lecionar

em Araripe e Saboeiro logo após alguns anos de diplomada

em Fortaleza. Em 1936 fixou residência em Poço dos Paus,

na Rua da Vila (atual Rua 7 de Setembro) onde também

funcionava sua escola, Escola Isolada.

Com necessidade de formar uma escola maior, D. Luizinha

escreveu uma carta para o Presidente da República Getúlio

Vargas solicitando o imóvel pertencente ao IFOCS para fixar

residência e sediar sua escola. Como resposta o presidente

escreveu na mesma carta “Cumpra-se”. No entanto, diante da

dificuldade na desocupação do interventor, D. Luizinha

esperou dois anos até que a ordem fosse atendida. Então, em

Page 53: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 52 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

1938 mudou-se para o Casarão, convidando a amiga Diva

Targino para lecionar juntamente na futura sede da escola

que passou a se chamar Escola Reunida.

Em 1954 foi criado o Grupo Escola Adahil Barreto, nome pelo

qual a escola passou a ser chamada após vários debates

entre Luiza de Alencar Guimarães e líderes políticos, que

preferiam outro nome para a escola. Todavia, o nome

indicado por D. Luizinha em homenagem ao amigo deputado

Adahil Barreto, considerado um benfeitor de Cariús,

especialmente no setor da Educação, permaneceu (fig.45).

Figura 046 – Alunos reunidos em frente ao Casarão que sediava o Grupo

Escola Adahil Barreto. Meados do século XX.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Posteriormente, o Grupo Escola Adahil Barreto foi instalado

em uma nova sede próximo ao Casarão, onde mantém suas

atividade até os dias atuais (fig. 047).

Figura 047 – Atual sede da Escola Adahil Barreto, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Já em toda a década de 1960 não se tem registros ou

lembranças dos moradores locais sobre acontecimentos

relacionados ao Casarão ou sua ocupação. Mas foi no início

da década de 1970 que a Câmara Municipal de Cariús passa

a ser administrada no imóvel (fig. 048). Há relatos de que

festas e eventos culturais, políticos e educacionais teriam

acontecido no Casarão, entretanto a falta de arquivamento e

conservação dos registros da Câmara deixa a desejar por

mais informações sobre fatos e acontecimentos no imóvel.

Alguns anos depois passou a ser ministrada na edificação

vizinha ao Casarão.

Page 54: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 53 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 048 – Casarão quando sediou a Câmara Municipal de Cariús no

início da década de 1970.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 049 – Câmara Municipal de Cariús no início da década de 1970,

vizinha ao Casarão.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 050 – Câmara Municipal atualmente, sem muitas alterações, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

O ano de 1974 foi marcado pela grande enchente em Cariús,

quando transbordaram o rio Cariús e o rio Jaguaribe,

deixando as famílias das regiões mais baixas desabrigadas.

Entretanto, pelo Casarão ser uma construção elevada e das

mais altas da cidade, o imóvel foi uma das edificações que

serviu de abrigo para os flagelados durante março a começo

de maio daquele ano.

Após as águas da enchente baixarem, o Casarão se tornou

residência de habitantes locais como D. Cotinha, D. Sônia, D.

Jesuína e D. Maria Pequena durante 8 anos até se tornar, em

1983, sede do MOBRAL15 e residência do presidente da

comissão, o Sr. José Antonio, sua esposa Profª Maria Alcides

da Silva e seus filhos.

____________

15 MOBRAL – Movimento Brasileiro de Alfabetização.

Page 55: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 54 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Já de 1998 a 2001, o imóvel foi mantido como residência

somente dos filhos de José Antonio e Maria Alcides. Após a

desocupação, o Casarão foi deixado em péssimo estado de

conservação com rachaduras, deterioramento da cobertura e

vários danos no interior da edificação. Contudo, em julho

2001 é iniciada a restauração realizada pela Dra. Luisa

Angélica Sales que veio a residir no imóvel em março de

2003, após a conclusão das obras juntamente com seu irmão,

Dr. Lourenço Oliver Sales.

Em novembro do mesmo ano, fundaram o Instituto

Mandacaru, uma instituição não-governamental com o

objetivo de combater a exclusão social, cuja sede foi instalada

no imóvel. O instituto promoveu várias ações ao longo dos

anos como, por exemplo, o projeto Linhas e Renda em 2006,

que buscou capacitar jovens e adultos em corte e costura

para geração de emprego e renda para o mercado regional,

transformando o Casarão em um ateliê de costura e divulgado

na TV Verdes Mares do Ceará (fig. 051).

No ano seguinte, a ONG realizou a apresentação cultural do

Auto de Natal com o coral natalino “Pequenos Cantores de

Deus” da Associação Beneficente Otacílio Correia de Várzea

Alegre (CE) na varanda do Casarão (fig. 052). Já no ano de

2009 o instituto promoveu o evento da encenação da Via

Sacra que acontece todos os anos no feriado da Paixão de

Cristo, onde o Casarão foi utilizado como camarim para o

elenco da peça (fig. 053).

Figura 051 – Projeto Linhas e Rendas no grande salão do Casarão, 2006.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 052 – Apresentação do coral “Pequenos Cantores de Deus” na

varanda do Casarão em 2007.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Page 56: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 55 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 053 – Cena da via Sacra de 2009 em frente ao Casarão.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Os atos beneficentes continuam ao longo dos anos.

Funcionários da Companhia aérea TAM de Paris, há três

anos, se hospedam no Casarão para os preparativos da

campanha Natal Feliz que, promovida pelo Instituto

Mandacaru, pela fundação Otacílio Correia e pela Brazilian

Mission16, distribuem presentes para crianças carentes em

Cariús e em outros municípios da região do Cariri (fig. 054).

____________

16 Brazilian Mission – Organização não-governamental fundada por

cearenses que residem em Miami, Estados Unidos da América.

Figura 054 – Funcionária francesa da TAM entregando presentes para as

crianças de Cariús em 2008.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Neste último natal (2009) ocorreu o Sonho de Natal, onde o

instituto proporcionou um projeto inovador utilizando cerca de

10.000 garrafas pet para ambientar a Praça República criando

uma grande árvore, um Papai Noel, quatro bonecos de neve,

quatrocentas luminárias e três velas (fig. 055 a 057). Não

somente os moradores de Cariús apreciaram a decoração,

mas também as cidades vizinhas como Jucás, Iguatu,

Saboeiro e Varzea Alegre.

Page 57: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 56 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 055 – Árvore de natal feita com garrafas pet inteiras, no centro da

Praça República em Cariús, 2009.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 056 e 057 – Bonecos de neve e Papai Noel feitos de rosas com

garrafa pet, 2009].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Além de ter sido a sede do Instituto Mandacaru, o imóvel

mantém uma exposição permanente de fotografias chamada

de “NOSSA TERRA, NOSSA GENTE”, onde anualmente, na

semana de aniversário do município e na festa da padroeira,

professores e estudantes de escolas públicas da cidade

visitam o Casarão para apreciar um pouco da história do

município Cariús através de fotos antigas dos prédios, povo e

eventos culturais, políticos, educacionais, esportivos e

religiosos.

No início de agosto deste ano, a Drª Angélica hospedou no

Casarão 20 estudantes cubanas de medicina vindas para

fazer estudo de campo sobre o nível de satisfação do Sistema

Único de Saúde (SUS), como Cariús não possui hotel nem

pousada, Angélica ofereceu sua residência para alojar as

estudantes.

Figura 058 – Logotipo do Instituto Mandacaru.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Page 58: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 57 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 059 – Cronologia do Casarão.

Hospital construído pelo atual DNOCS, funcionando até 1924

1922 a 1924

Residência de Maximinio, interventor de Jucás, quando Cariús ainda era distrito de Jucás

Escolas Reunidas de Cariús e residência de D. Luizinha (escreveu para Getúlio Vargas solicitando o casarão para a Escola e sua residência)

A Escolas Reunidas passou a se chamar Grupo Escolar, depois em Grupo Escolar Adahil Barreto dando continuidade a residência de D. Luizinha

Câmara Municipal de Cariús

Abrigou flagelados da enchente que transbordou os rios Jaguaribe e Cariús

1938

Início década de 1930 a 1937

1954 a Fins década de 1950

Início década de 1970

1974

Residência de D. Cotinha, D. Sônia, D. Jesuína e D. Maria Pequena

Sede do MOBRAL e residência do presidente da comissão do projeto, o Sr. José Antonio, sua esposa Profª Maria Alcides da Silva e seus filhos

1974 a 1982

1983 a 1998

Residência dos filhos de José Antonio e Maria Alcides

Início da restauração feita pela Dra. Luisa Angélica Sales

1998 a 2001

Julho 2001

Março: Residência da Dra. Luisa Angélica Sales e Dr. Lourenço Oliver Sales.

Novembro: Fundação e sede do Instituto Mandacaru

2003

Page 59: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 58 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

3.2. Análise tipológica das construções do DNOCS

Ao longo deste trabalho é ressaltado que os imóveis do

DNOCS (atualmente) pertinentes a construção das barragens

foram aplicadas pelas empresas contratadas, sendo assim,

coube a elas implantar de acordo com a necessidade do

próprio uso.

Estas edificações já foram citadas no capítulo 02, porém

agora é válido destacar novamente as construções – que a

firma americana construiu em Poço dos Paus – neste subitem

para analisar e comparar a tipologia da implantação e a

arquitetura desta vila com as demais erguidas pelas

proximidades dentro do estado Ceará.

A. Implantação

Em Poço dos Paus é nítida a implantação hierárquica das

edificações, separada pelo escalão e etnia dos funcionários,

além dos serviços promovidos para a vila em geral. Observa-

se (fig. 063), o agrupamento das construções através de suas

semelhanças, como no caso da Vila do Prado com

edificações de serviço e administrativa próxima ao rio e

também da massiva quantidade de casas para operários

agrupados na Rua da Vila com os funcionários brancos e a

Rua Barbadiana para os negros.

Os operários negros estavam localizados mais afastados dos

demais imóveis, deixando clara a idéia de superioridade de

uma etnia sobre a outra. O almoxarifado implantado na

proximidade do rio e junto às propriedades dos operários

evidencia a necessidade de facilitar o contato destes com o

setor. Do outro lado do rio ocorre a ocupação da classe

superior, os engenheiros, topógrafos e mestre no Bairro

Acampamento, visando o status destes funcionários.

Tais medidas também podem ser vistas nas vilas de Lima

Campos e Orós que, através de pesquisas em campo e

entrevistas com alguns habitantes locais pode-se analisar

algumas edificações elevadas na época do início das

construções de suas barragens.

Através da visita à Associação de Preservação Histórico-

Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”, foram encontrados

dados sobre as obras do açude procedidas em 1922, no

mesmo ano e pela mesma empresa americana do Poço dos

Paus, a Dwinght P. Robinson & Co. Inc.

Na cidade de Orós, foi possível comprovar a presença de

alguns imóveis às margens do rio Jaguaribe (fig. 060)

semelhantes aqueles de Poço dos Paus, como a

administração do IFOCS, a Casa de Hóspedes dos

Page 60: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 59 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

engenheiros e o agrupamento do hospital com a residência

médica, além das residências do acampamento (fig. 061).

Entretanto, na pesquisa de campo pela cidade de Orós, não

foi possível obter informações atuais sobre a existência

dessas construções na cidade, somente que, a Casa de

Hóspedes ainda está em funcionamento.

Figura 060 – Rio Jaguaribe em Orós com os imóveis do hospital e

residência médica as margens do mesmo, [19--].

Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-

Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.

Todavia, próximas a estas construções, separadas pelo

terreno acidentado, ainda estão presentes a vila dos

operários, hoje chamada de Vila DNOCS. Outro grupo de

pequenas casas denominada de Vila Modelo também foi

erguido na redondeza, mas não se sabe ao certo se foram

construídas para os operários, funcionários da construtora ou

apenas habitantes da região. Este método de implantação

também visou distinguir a hierarquia dos envolvidos no

ordenamento da vila, porém não foi possível situar a

implantação das construções nesta cidade para este trabalho,

devido a falta de informação na localização dos imóveis.

Figura 061 – Vista parcial do Acampamento, [19--].

Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-

Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.

Já em Lima Campos distrito da cidade Icó (CE), segundo o

atual administrador do açude e morador de uma das

residências do DNOCS, José Gomes de Loiola, a construção

do açude foi iniciada em 1932 levando menos de um ano para

ser concluída. Entretanto, não foram encontradas informações

sobre a firma que empreitou a barragem, mas foi possível

encontrar no local o conjunto das possíveis casas dos

engenheiros e o antigo hospital da vila (fig. 064) que mais a

frente será analisado juntamente com a vila Poço dos Paus.

Page 61: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 60 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 062 – Caminho percorrido em busca das construções do DNOCS.

Fonte: Google Mapas.

Page 62: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 61 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Acampamento:

Engenheiros, topógrafos

Ponte pênsil

Vila do Prado

Residência médica

Hospital

Administração IFOCS

Rua da Vila

Almoxarifado/ Escritório

IFOCS

Rua Barbadiana

Figura 063 – Implantação das

construções do IFOCS em Poço

dos Paus, 2010.

Fonte: Google Earth e acervo

pessoal.

LEGENDA

Page 63: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 62 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 064 – Implantação das construções do IFOCS em Lima Campos, 2010.

Fonte: Google Earth e acervo pessoal.

Hospital

Rua dos engenheiros

Barragem do Açude Lima

Campos

LEGENDA

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CAPITULO 03 63 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

B. Residência dos engenheiros

Feita a análise sobre a implantação das construções, agora

será possível fazer o estudo das tipologias arquitetônicas

destas edificações observadas. Tal estudo seguirá uma linha

de raciocínio baseada na classificação pela função dos

imóveis, separando por grupos de funcionários e serviços,

permitindo a comparação das construções de Poço dos Paus

com as vilas de Orós e Lima Campos sempre que possível.

Este planejamento será feito com a finalidade de descobrir

uma tipologia arquitetônica em comum entre estes imóveis

que classifique o Hospital de Poço dos Paus, para que mais a

frente possa ser feita uma análise mais profunda sobre seus

aspectos estéticos e construtivos. Todavia, não será possível

analisas os aspectos funcionais, pois a falta de dados de

grande parte dos imóveis pesquisados.

Vale ressaltar que ao longo dos anos os imóveis sofreram

alterações pelos inquilinos e que as análises aqui

apresentadas serão baseadas primeiramente em fotos

antigas e relatos de moradores locais. Quando não for

possível obter informações através destas fontes, será

possível recorrer ao estado atual dos imóveis.

Iniciando pelas construções dos funcionários da vila de Poço

dos Paus, foi encontrado o Bairro Acampamento pertencente

aos engenheiros. Neste local foram encontrados três tipos de

residências, duas referentes às casas dos engenheiros e

topógrafos e outra do engenheiro mestre.

As edificações dos engenheiros e topógrafos foram

implantadas na margem oposta ao Rio Cariús e enfileiradas

ao longo de uma estrada. Já a edificação do engenheiro

mestre estava situada em um terreno de nível mais elevado,

acidentado e isolado, porém voltada as outras edificações.

Devido a sua localização, esta construção foi provida de uma

escada centralizada com um patamar, enfatizando seu status

(figs. 065 e 066).

Figura 066 – Fachada frontal do engenheiro mestre no Bairro

Acampamento de Poço dos Paus.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 065 – Edificação utilizada pelo

engenheiro mestre, [19--].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª

Luisa Angélica Sales.

Page 65: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 64 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Todos estes imóveis possuíam forma retangular com as

fachadas longitudinais maiores que a fachada frontal e

posterior, disposta em somente um pavimento térreo

proporcionando afastamentos laterais onde a cobertura de

duas águas do corpo principal da casa era direcionada. Tais

edifícios eram dispostos no terreno sem lote definido.

O alto pé direito é levado em consideração, devido à notável

inclinação das coberturas do corpo central. Além desta, as

residências dispunham de uma cobertura frontal que

proporcionou uma varanda, suportada por colunas. Nas

residências menores dos engenheiros e topógrafos, as

varandas eram ordenadas com 4 colunas (fig. 068 e 069), já

nos imóveis maiores e do engenheiro mestre, além de

possuírem de 5 a 6 colunas na fachada principal, também

eram dotadas de varandas laterais cobertas (fig. 070 e 071).

Tais residências eram dispostas de uma quantidade notável

de janelas em todo o entorno, com esquema de abertura para

fora em duas folhas. Em relação à porta principal, esta era

localizada na fachada principal, porém somente no imóvel

pertencente ao engenheiro mestre que a entrada estava

centralizada na fachada juntamente com a escada, já nas

edificações dos outros engenheiros, a porta estava localizada

ao lado esquerdo em relação ao centro da fachada.

O material construtivo das edificações desta época era

basicamente a alvenaria. As paredes eram duplas, e tanto

elas quanto as colunas das varandas possuíam

aproximadamente 40 centímetros de espessura feitas com

tijolos maciços deitados, transformando a edificação em auto-

portantes (fig. 067). Segundo a Dra Angélica Sales, as

coberturas eram compostas de telhas artesanais de barro

modeladas nas coxas17, no caso das esquadrias, as portas e

janelas eram feitas em ripas verticais de madeira maciça.

Figura 067 – Detalhe da parede em tijolo maciço deitado de uma das

residências dos engenheiros no Bairro Acampamento de Poço dos Paus,

[200-].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

____________

17 Vistas de perto, pode-se observar que as telhas de barro dos imóveis

possuem tamanhos diferentes entre si, o que realça o fato de serem

artesanais.

Page 66: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 65 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 068 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros disposto com

somente a varanda frontal, [200-].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 069 – Fachada principal da residência menor dos engenheiros no

Bairro Acampamento de Poço dos Paus.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 070 – Outro imóvel dos engenheiros composto por varandas lateral

e frontal, [200-].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 071 – Fachada frontal da residência dos engenheiros no Bairro

Acampamento de Poço dos Paus.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 67: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 66 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Em busca de edificações do IFOCS em Lima Campos,

também foram encontrados imóveis que provavelmente

pertenciam aos engenheiros e outros funcionários de cargo

superior da construção do açude na vila. A semelhança

destas residências ao analisá-las com Poço dos Paus é

notável. Sua implantação lado a lado ao longo de uma via

com afastamentos laterais, forma retangular e a presença de

varanda lateral e frontal mantida por colunas de alvenaria

realçam as tipologias destas construções (fig. 072).

Entretanto, tais imóveis não estão à margem do rio, porém

estão próximas a água. Além de terem sido edificadas em um

aclive, foram elevadas aproximadamente 30 centímetros do

solo para que a base da residência fosse niveladas (fig. 073).

Figura 072 – Disposição dos imóveis utilizados pelos prováveis

engenheiros no aclive em Lima Campos, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Já a cobertura construída em quatro águas com beiral maior

nas laterais e na fachada principal proporcionando as

varandas dispostas com 5 colunas, as duas em cada extremo

evidenciavam as entradas da residência, que era geminada

para duas famílias diferentes. Estas entradas eram recuadas

em relação à fachada frontal até aproximadamente a metade

da fachada lateral (fig. 073 e 074).

Figura 073 – Detalhe da elevação da residência dos engenheiros, 2010.

Fonte: Acervo pessoal, 2010.

Colunas evidenciando a entrada

Porta de entrada principal

Recuo da entrada

LEGENDA

Page 68: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 67 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 074 – Recuo da entrada principal da residência proporcionando

uma varanda lateral, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Com a presença de um afastamento frontal, nota-se a

determinação de um muro entre a residência e a rua. Por

serem imóveis geminados, nota-se a presença de uma

mureta no jardim frontal para a divisão do imóvel e

privacidade das famílias que compartilham da mesma

edificação (fig. 075).

As esquadrias eram semelhantes aos imóveis de Poço dos

Paus, com abertura para fora em duas folhas, tanto as janelas

como as portas, o único diferencial era um tipo de bandeira

nas esquadrias de Lima Campos com seqüência de

quadrados vazados (fig. 076).

Figura 075 – Pequeno muro que divide a residência, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 076 – Detalhe das janelas, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 69: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 68 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Em relação aos materiais construtivos, a utilização de

alvenaria em tijolo maciço, a cobertura em telha de barro

artesanais e as janelas e portas em madeira maciça não

mudaram nos dez anos de diferença entre as construções de

Poço dos Paus e Lima Campos.

Figura 078 – Fachada frontal da residência geminada dos engenheiros de

Lima Campos.

Fonte: Acervo pessoal.

Já na pesquisa de campo em Orós não foi possível encontrar

informações referentes às residências dos engenheiros e

topógrafos na época da vila.

C. Residência dos operários e demais funcionários

Assim como as residências dos engenheiros de Lima

Campos, as pequenas casas dos operários de Poço dos Paus

também eram geminadas. Situadas perto do rio Cariús para o

contato direto dos funcionários à área de trabalho, foram

distribuídas em um terreno plano, lado a lado ao longo dos

dois lados de uma via, chamada Rua da Vila (fig. 079).

Figura 079 – Imóveis onde moravam os operários brancos na Rua da Vila

em Poço dos Paus, [200-].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Sua forma simples e longitudinal em relação às laterais

proporcionou afastamentos para os quais a cobertura de duas

Figura 077 – Residência geminada

dos engenheiros atualmente em Lima

Campos, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 70: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 69 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

águas é inclinada, sendo desprovidas de varanda ladeando a

edificação. Todavia, vale ressaltar a presença do afastamento

frontal que permitiu a existência de um muro com

aproximadamente 80 centímetros de altura, e outro para

limitar esta área de cada família do imóvel (fig. 080),

necessitando assim de duas entradas que evidenciou as

portas principais na fachada frontal, localizadas em extremos

e separadas por duas janelas, uma para cada inquilino.

Figura 080 – Um dos imóveis pertencente aos engenheiros disposto com

somente a varanda frontal, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Assim como nas outras construções já apresentadas, o

material construtivo foi a alvenaria auto-portante em tijolo

maciço, a cobertura em telha de barro e tanto as portas como

as janelas, eram em duas folhas com ripas de madeira

maciças na vertical.

Figura 082 – Fachada frontal da residência geminada dos operários de

Poço dos Paus.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 081 – Residência dos

operários brancos na Rua da

Vila com um novo anexo criado

à esquerda descaracterizando

o imóvel, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 71: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 70 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Além dos operários brancos em Poço dos Paus, estavam

presentes os operários negros, estes estavam localizados na

Rua Barbadiana, afastados dos demais moradores e serviços

da vila. Suas residências eram dispostas em torno de uma

área em comum (fig. 083 e 084), e de acordo com as

informações obtidas pelos moradores foi possível encontrar

duas destas áreas onde foram identificadas quatro

edificações que ainda restam.

Figura 083 – Rua Barbadiana atualmente com espaço em comum das

antigas residências dos operários, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 084 – Outro espaço em comum das residências dos operários

barbadianos, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Todas as tipologias arquitetônicas desta construção se

assemelham aos imóveis dos operários brancos, porém o

diferencial é encontrado no telhado – onde a água esquerda

da cobertura é menor que a da direita – e na ausência da

mureta que viria a evidenciar um afastamento frontal,

entretanto é possível levar em consideração que esta falta

seja decorrente do espaço em comum à frente as construções

(fig. 84 e 85).

Não se sabe ao certo se estas edificações eram geminadas,

pois não foram encontrados registros de como era a

Page 72: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 71 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

distribuição dos ambientes internos e das esquadrias na

fachada principal.

Figura 085 – Residência dos operários negros na Rua Barbadiana já

descaracterizadas, somente com a estrutura original (mantendo a

volumetria), 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 086 – Outra residência dos operários negros observada na Rua

Barbadiana, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Em Lima Campos não foi possível encontrar informações

sobre as construções dos operários, contudo em Orós as

edificações foram localizadas em um terreno acidentado,

onde os imóveis foram alinhados e dispostos em uma quadra.

Parte das residências era direcionada para uma via em aclive,

já as demais, posteriores a estas, estavam situadas no ponto

mais alto, em um terreno plano.

Figura 087 – Rua em aclive na Vila Operária, atualmente chamada de Vila

DNOCS em Orós, com algumas residências descaracterizadas, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 73: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 72 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Devido ao desnível do terreno, os imóveis foram elevados

para manter o alinhamento da base, entretanto não se sabe

ao certo quanto a existência de escadas nos imóveis situadas

na via em aclive na época de sua construção – as que estão

presente não são originais (fig. 089), porém é possível afirmar

a presença dos mesmos nas edificações situadas no terreno

plano, devido à notável altura a ser vencida (fig. 088).

Figura 088 – Residências dos antigos operários localizadas em terreno

plano, [19--].

Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-

Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.

Como um modelo simplificado, o imóvel apresentada uma

forma retangular, ausência de varanda e afastamentos

laterais, sendo assim, a cobertura em duas águas foi obrigada

a ser direcionada para a fachada frontal e posterior. Todavia,

é somente nas edificações determinadas em terreno íngreme

que ocorreu a presença de um pequeno afastamento frontal

de aproximadamente 1,50 metros proporcionando uma

pequena mureta (fig. 089).

Figura 089 – Presença de afastamento frontal e a elevação da construção

com uma pequena escada não original, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

A edificação é provida somente de um acesso através da

porta e apenas uma janela, localizadas na fachada frontal.

Entretanto é possível ressaltar um diferencial entre as

edificações situadas no aclive e no terreno plano, que está no

espelhamento de sua face principal, onde a entrada do imóvel

na área íngreme é feita pela esquerda e nas edificações

Page 74: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 73 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

posteriores é feita pela direita. O material construtivo

permanece o mesmo para todos os imóveis do DNOCS

direcionados aos operários desta época da década de 1920 e

1930.

Figura 090 – Afastamento frontal evidenciando a mureta, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 092 – Fachada frontal da residência dos operários no aclive.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 093 – Fachada frontal da residência dos operários em terreno

plano.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 091 – Uma das residências na

antiga Vila Operária, com

descaracterização somente dos tipos

de esquadrias, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 75: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 74 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Ainda em Orós, foram encontradas outras pequenas

residências pertencentes a Vila Modelo, mas pela falta de

identificação do DNOCS nos imóveis, não é possível afirmar

se estas construções foram elevadas pela firma contratada

pelo departamento e para quem foram construídas, porém

são dignos de um breve estudo.

Estas edificações estão situadas em uma área mais elevada

em relação ao restante da cidade. Suas disposições se

assemelham as construções da Rua da Vila em Poço dos

Paus, possuem o mesmo material construtivo e tipos de

esquadrias, são geminadas e implantadas nos dois lados ao

longo de uma via, com o corpo da edificação em forma

retangular, simples e com cobertura em duas águas

direcionadas para o afastamento lateral das edificações.

Figura 094 – Disposição das residências da Vila Modelo em Orós, 19[--].

Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-

Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.

Figura 095 – Disposição das residências atualmente na Vila Modelo em

Orós, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Entretanto, tais edificações possuem algumas características

diferentes de Poço dos Paus, como a elevação de

aproximadamente 40 centímetros do solo devido à inclinação

do terreno, a presença de área em comum para duas famílias

nos afastamentos laterais, por onde é feito o acesso principal

às residências, mantendo uma simetria na fachada principal

com apenas janelas, duas para cada inquilino do imóvel.

Também se pode observar a inexistência de afastamento

frontal diferente da Rua da Vila (fig. 096 e 097).

Page 76: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 75 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figuras 096 e 097 – Uma das residências com poucas

descaracterizações, ainda presente os afastamentos laterais e um dos

acessos em 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 098 – Fachada frontal da Vila Modelo de Orós.

Fonte: Acervo pessoal.

Entre outras construções direcionadas à moradia dos

funcionários em Poço dos Paus, encontrou-se apenas uma

residência do médico do antigo Hospital, implantada na Vila

do Prado posterior à margem do Rio Cariús. Assim como as

casas da Vila Modelo em Orós, a tipologia desta edificação

também se assemelha às casas dos operários na Rua da

Vila, tal como a geometria simples e retangular que

proporcionou uma cobertura em duas águas direcionada para

as laterais, além da disposição de duas janelas ao centro e

duas portas nos extremos da fachada principal, todas em

duas folhas (fig. 099).

Figura 099 – Estado atual da antiga residência do médico com algumas

descaracterizações, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Anos depois, o imóvel aderiu à finalidade de Agência Postal-

telegráfica e moradia da família do funcionário, motivo da

existência de dois acessos na fachada principal, igualmente

as casas geminadas da Rua da Vila. Todavia, não se sabe ao

Afastamento lateral (área em comum)

Page 77: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 76 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

certo se antes desta função a residência era originalmente

dividida para duas famílias.

Entretanto é possível notar alguns diferenciais como a falta do

afastamento frontal excluindo a possibilidade de um pequeno

muro, a presença de ornamentos em forma de molduras nos

contornos das esquadrias evidenciando as aberturas na

fachada principal, ornamentos de frisos acima das portas e

janelas e detalhes no frontispício que se assemelham a figura

de um frontão com oitão e fisos demarcando o tímpano(fig.

100).

Figura 100 – Estado atual da antiga residência do médico, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 101 e 102 – Placa de identificação do DNOCS atualmente na

residência e pedra da alvenaria original retirada da edificação.

Fonte: Acervo pessoal.

Nos imóveis mais simples não foi possível encontrar a

presença de varandas ladeando a construção, porém nesta

residência a cobertura foi estendida proporcionando um tipo

de varanda fechada nas laterais, com um pequeno guarda-

corpo alinhado a fachada principal (fig. 102 e 103).

As técnicas construtivas desta edificação são as mesmas que

as demais, com apenas uma diversidade. As paredes foram

construídas em pedras, com o mesmo tamanho que os tijolos

maciços e da mesma forma, com dois tijolos deitados

formando uma parede dupla.

Figura 104 – Fachada frontal da residência médica de Poço dos Paus.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 103 – Residência do

médico ainda original.

Fonte: Acervo pessoal fornecido

pela Drª Luisa Angélica Sales.

Page 78: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 77 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

D. Edificações de serviço

Além dos imóveis direcionados a moradia dos funcionários

das firmas contratadas pelo IFOCS, foi encontrado outro

grupo de construções que será analisado, os quais possuíam

a função de serviço aos habitantes das vilas. Iniciando pelo

Almoxarifado/Escritório de Poço dos Paus, sua implantação

está localizada próxima a margem do rio Cariús e ladeado

pelos conjuntos de residências dos operários. Seu terreno é

basicamente plano onde possuía uma vasta área livre a frente

da construção, possivelmente para reunião dos funcionários.

Figura 105 – Implantação do Almoxarifado/Escritório com uma grande

área livre a frente.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Com dimensões aproximadas de 17 metros de fachada

principal e 20 metros de lateral, formando uma geometria

retangular, foi uma construção diferenciada das demais

apresentadas até o momento, possuindo características do

ecletismo, como a presença de uma base determinada pela

elevação em relação ao solo, o corpo da edificação com a

presença de cinco entradas na fachada principal com portas

em formas de arcos abatidos (fig. 107), destacando a entrada

principal centralizada pelo seu tamanho maior que as demais,

além da notável distribuição de janelas pelas fachadas

laterais. Por último o coroamento do edifício foi marcado pela

presença de uma platibanda no entorno da construção com

frontão em formato de arco de volta perfeita na fachada

principal e detalhes de frisos ao longo da edificação.

Figura 106 – Detalhe do coroamento da edificação. Vergas modificadas,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 79: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 78 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Em relação à cobertura do imóvel, não foi possível descobrir

sua tipologia, mas acredita-se que também foi construída com

telhas de barro, porém com uma pequena inclinação que não

pode ser visualizada graças à platibanda do coroamento.

Também não foi possível a descrição dos tipos e materiais

das esquadrias do Almoxarifado/Escritório, por não restar tais

materiais autênticos na construção. Entretanto sabe-se que a

estrutura da edificação ainda é a alvenaria com tijolos

maciços deitados.

Figura 107 e 108 – Detalhe das portas na fachada principal com arcos

abatidos a esquerda e a via à direita do Almoxarifado/Escritório que segue

até o rio Cariús, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 109 e 110 – Placas de identificação do DNOCS no antigo

Almoxarifado/Escritório.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 112 – Fachada frontal do Almoxarifado/Escritório de Poço dos

Paus.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 111 – Almoxarifado/Escritório

atualmente, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 80: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 79 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

A cada construção de açude pelas empresas do IFOCS, era

implantada uma administração, seja da Inspetoria ou das

firmas construtoras. Em Poço dos Paus foi descoberta a

Gerência do IFOCS situada na Vila do Prado, alinhada à

residência do médico e ao Hospital da vila, também localizada

à margem do Rio Cariús. Sua edificação é semelhante ao

imóvel do engenheiro mestre e aos demais engenheiros e

topógrafos do Bairro Acampamento e da vila de Lima

Campos.

Figura 113 – Antiga Gerência do IFOCS mais a frente com o antigo

Hospital ao fundo, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

As características mais aproximadas com a edificação do

engenheiro mestre estão na sua forma retangular

proporcionando uma cobertura no corpo central em duas

águas, afastamentos nas laterais facilitando a disposição de

varanda que ladeiam toda a edificação que para abrigá-las foi

criada outra cobertura em quadro águas separada da

principal, sustentadas por colunas ao longo de toda a varanda

(fig. 114).

Figura 114 – Antiga Gerência do IFOCS, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Antigo Hospital

Antiga Gerência do IFOCS

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CAPITULO 03 80 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Observa-se que a construção foi elevada do solo, tal

característica pode ser considerada devido à importância de

seu destino para a vila. Como resultado, vale notar a

presença de uma escada centralizada na edificação baseada

no desenho de um trapézio onde a base é mais larga que o

topo com um guarda-corpo dando continuidade aos

balaustres do corrimão (fig. 115), além do recuo centralizado

na fachada principal (fig. 116), são aspectos que frisam a

imponência da construção.

Figura 115 e 116 – À esquerda o detalhe da escada em forma de trapézio,

[200-]. À direita o recuo na entrada, 2010.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales e acervo

pessoal da aluna.

Em relação às esquadrias, a fachada principal possui três

portas, uma principal centralizada e duas nos extremos,

sendo circundada por altas janelas. Tanto estas como as

portas possuem duas folhas duplas, as frontais possuem

detalhes de venezianas na parte inferior e retângulos vazados

na parte superior, já as folhas posteriores são lisas para efeito

de proteção. Assim como todas as outras construções, esta

gerência ainda possui as esquadrias em madeira maciça,

estrutura em alvenaria auto-portante com tijolos maciços

deitados e cobertura com telhas de barro artesanais.

Figura 118 – Fachada frontal da Gerência do IFOCS em Poço dos Paus.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 117 – Gerência do

IFOCS atualmente como

residência, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 03 81 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

A falta de informações sobre algumas construções em Lima

Campos não permitiu que fosse encontrada a gerência da

construção do açude no local. Contudo, através do acervo de

imagens obtidos na Associação de Preservação Histórico-

Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”, foi possível analisar a

Administração americana de Orós, porém tal estudo foi

limitado em somente uma foto antiga (fig. 119).

As principais características desta construção são

basicamente as mesmas da gerência do Poço dos Paus,

entretanto, como imóvel estava implantado em um terreno

íngreme, sua elevação foi maior e com algum tipo de técnica

construtiva, pode-se observar na fachada principal pequenas

estruturas para dar estabilidade a construção neste tipo de

terreno (fig. 120). Os vãos formados pelas colunas nas

varandas possuem um estilo diferenciado, com arcos abatidos

e a presença de guarda-corpo ao longo deste espaço.

Resultante a ausência de dados sobre a edificação, não foi

possível analisar e localizar as esquadrias nas fachadas, nem

mesmo os materiais construtivos utilizados. Entretanto como

as demais construções da época e no mesmo local, é

provável que tenha sido construída igualmente ou semelhante

aos outros imóveis.

Figura119 – Administração americana em Orós, [19--].

Fonte: Acervo fornecido pela Associação de Preservação Histórico-

Cultural de Orós “Pedro Augusto Netto”.

Figura 120 – Fachada frontal da Administração americana de Orós.

Fonte: Acervo pessoal.

Estruturas de estabilidade

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CAPITULO 03 82 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Entre outras construções relacionadas aos serviços

proporcionados em Poço dos Paus, encontrou-se o Hospital.

Por este ser o imóvel foco de estudo para este trabalho, sua

tipologia será analisada superficialmente neste capítulo junto

à outra construção hospitalar encontrada no Ceará para que

mais a frente o assunto seja abordado em detalhe.

Tal edificação está situada com os fundos do terreno para a

margem do rio Cariús, na antiga Vila do Prado, juntamente

com a Gerência do IFOCS e a residência do médico. Suas

características são familiares a algumas construções

apresentadas até o momento como, por exemplo, as

residências dos engenheiros e as gerências tanto de Poço

dos Paus quanto de Orós. Até então pode-se dizer que as

edificações de maior status possuem um estilo em comum.

Figura 121 – Alinhamento das construções. A antiga residência do médico

à frente, seguida do antigo Hospital e Gerência do IFOCS, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

O Hospital assim como algumas edificações citadas, é uma

construção elevada, realçando a imponência da mesma.

Possui a forma retangular, com a face frontal menor que as

laterais, proporcionando um afastamento nas fachadas

longitudinais, que através da extensão da cobertura central de

duas águas para estas direções permitiu a presença de uma

varanda, que para ser ladeada em toda a construção, foram

adicionadas coberturas frontal e lateral. Igualmente às demais

construções semelhantes a esta, ao longo da varanda foram

distribuídas colunas para dar suporte às coberturas seguindo

uma simetria.

Figura 122 – Perfil do antigo Hospital atualmente, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Antigo Hospital Antiga Gerência

do IFOCS

Antiga residência médica

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CAPITULO 03 83 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Originalmente as fachadas do imóvel eram dispostas de uma

notável quantidade de janelas. Na fachada principal estavam

presentes somente janelas, sendo o único imóvel elevado que

não foi encontrado registro de uma escadaria frontal

centralizada – vale ressaltar que este tipo de escada fora

construída alguns anos depois da desativação do Hospital.

Entretanto o único acesso conhecido era feito à direita do

imóvel por uma pequena escada. O restante das faces do

Hospital eram providas de grandes janelas com duas folhas

em venezianas e com postigo liso, tipologias e estética

semelhante à Gerência do IFOCS.

Figura 123 – Detalhes da janela com postigo liso, original do imóvel, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

As técnicas e materiais construtivos são iguais aos demais

imóveis. Feitas em alvenaria, tanto as paredes quanto as

colunas, com tijolo maciço deitado, cobertura em telha de

barro moldadas nas coxas e esquadrias em madeira maciça.

Figuras 124 e 125 – Placas de identificação do DNOCS no antigo

Hospital.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 127 – Fachada frontal do Hospital de Poço dos Paus.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 126 – Antigo Hospital em Poço

dos Paus no ano de 2010 como

residência.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 03 84 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Outra edificação encontrada foi o Hospital de Lima Campos,

situado próximo às residências dos engenheiros. Este imóvel

se assemelha esteticamente a administração de Orós devido

a sua forma retangular e localização em um terreno alteado e

inclinado (fig. 128 e 129), que proporcionou a elevação da

construção aderindo a uma escadaria centralizada na fachada

em forma de trapézio - um diferencial nesta construção foi à

presença de uma base para a escada feita em pedras (fig.

130). As demais características semelhantes estão presentes

na tipologia da cobertura, sendo em quatro águas no corpo

central com adição de outra cobertura também em quatro

águas no entorno de toda a construção para abrigar a

varanda. Assim como os outros imóveis, foram dispostas

colunas ao longo de toda a varanda para sua sustentação da

cobertura.

Figura 128 – Antigo Hospital de Lima Campos atualmente abandonado,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 129 – Detalhe da elevação da construção e inclinação do terreno,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 130 – Presença da

base de pedras na

escada, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 86: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 85 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Ainda na varanda é possível notar a presença de guarda-

corpos vazados com jardineiras entre as colunas, dispostas

ao longo de toda a varanda. Este guarda-corpo possui a

função de proteção devido à elevação da construção (fig.

131).

Figura 131 – Varanda frontal com disposição das jardineiras no guarda-

corpo, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Devido à grande deterioração da construção, não foi possível

identificar os tipos de esquadrias presentes nas fachadas,

mas vale notar a grande presença de vãos de janelas ao

longo das faces laterais da edificação e a possível disposição

de três acessos na fachada principal. È importante mencionar

que após a desativação do Hospital na vila, este imóvel

passou a se chamar Cineclub, onde eram projetados filmes e

feitas apresentações no local, alterando a disposição original

e fazendo agregações em seu interior, como um palco e uma

cabine de projeção acima da entrada principal da edificação

(fig. 132 e 133).

Figura 132 – Palco nos

fundos do interior do

imóvel, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 133 – Cabine de

projeção acima da

entrada principal no

interior do imóvel, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 87: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 86 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Para finalizar vale ressaltar que as técnicas construtivas deste

imóvel permanecem as mesmas que as demais, alvenaria de

tijolo maciço em toda a construção, cobertura em telha de

barro, além do diferencial, a inclusão da base em pedra da

escadaria.

Figura 135 – Fachada frontal do Hospital de Lima Campos.

Fonte: Acervo pessoal.

3.3. O Casarão (Análise tipológica)

Portadoras de mensagem espiritual do passado, as obras monumentais de cada povo perduram no presente como o testemunho vivo de suas tradições seculares. A humanidade (...) as considera um patrimônio comum e, perante as gerações futuras, se reconhece solidariamente responsável por preservá-las (...) (Carta de Veneza, 1964)

Analisando as tipologias das edificações do DNOCS, pode-se

observar algumas características comuns entre si. Tal

equivalência estava presente nas construções que

proporcionavam maior status em cada vila estudada, sendo

elas: as residências dos engenheiros e os Hospitais de Poço

dos Paus e Lima Campos, as administrações de Poço dos

Paus e Orós.

Como suas características já foram citadas, vale à pena

assinalar agora as semelhanças entre elas. De acordo com a

tabela 01 abaixo podemos classificar suas características em

uma tipologia em comum, para que em seguida seja possível

pesquisar sobre a origem destas características associando-

as com o antigo Hospital de Poço dos Paus, atual Casarão.

Figura 134 – Antigo Hospital e

Cineclube de Lima Campos.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 88: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 87 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Tabela 01 – Características em comum das edificações de maior status do DNOCS.

TIPOLOGIAS

ASPECTOS

FORMAIS

HOSPITAL ADMINISTRAÇÃO RESIDÊNCIA

Hospital de

Poço dos Paus

Hospital de Lima

Campos

Administração de

Poço dos Paus

Administração de

Orós

Residência do

engenheiro mestre

de Poço dos Paus

Residência dos

engenheiros e

topógrafos de Poço

dos Paus

Residência dos

engenheiros e

topógrafos de

Lima Campos

Forma retangular

com fachada principal

menor que as laterais

X

X

X

X

X

X

X

Edificação elevada do

solo X X X X X X

Varanda coberta

ladeando a edificação X X X X X X X

Presença de colunas

na varanda X X X X X X X

Cobertura do corpo

central em duas

águas com telhas de

barro

X

X

X

Cobertura do corpo

central em quatro

águas com telhas de

barro

X

X

X

X

Page 89: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 88 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

TIPOLOGIAS

ASPECTOS

FORMAIS

HOSPITAL ADMINISTRAÇÃO RESIDÊNCIA

Hospital de

Poço dos Paus

Hospital de Lima

Campos

Administração

de Poço dos

Paus

Administração

de Orós

Residência do

engenheiro mestre

de Poço dos Paus

Residência dos

engenheiros e

topógrafos de

Poço dos Paus

Residência dos

engenheiros e

topógrafos de

Lima Campos

Edificação

autoportante com

alvenaria dupla em

tijolos maciços

X

X

X

X

X

X

X

Escada centralizada

em forma de

trapézio

X X X X

(não possui forma

em trapézio)

Disposição de

grande quantidade

de janelas ao longo

das fachadas

X

X

X

X

X

X

X

Janelas e portas em

duas folhas X X X X X X X

Fonte: Acervo Pessoal.

Page 90: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 89 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Percebe-se que o antigo Hospital de Poço dos Paus possuía

a maior parte das características em comum com as demais

edificações, podendo dizer que está construção se encaixa na

tipologia definido para os imóveis do DNOCS.

Após pesquisas e analogia do Hospital com outras

edificações para definir sua origem, foi encontrada a

conformidade do imóvel com as residências nos Estados

Unidos da América deste período. O “Bungalow”18 é o que

mais se aproxima das características do antigo Hospital.

Segundo a revista virtual americana “American Bungalow”19,

os bangalôs foram construções mais comuns de 1880 a 1930

nos EUA, originalmente de Bengal na Índia – de onde

recebeu seu nome. São construções econômicas, simples e

horizontalizadas com objetivo de proporcionar toda a área de

moradia em somente um andar.

____________

18 Bungalow – No Brasil chamada de “bangalô”, são casas populares do

Estados Unidos da América, principalmente na Califórnia, que estiveram

no ápice da construção em final do século XIX até meados do século XX.

19 American Bungalow Magazine – Uma revista virtual americana que

disponibiliza informações e novidades sobre os bangalôs. Disponível em:

<http://www.americanbungalow.com/all-about-bungalows/what-is-a-

bungalow/>. Acesso em: 27 de junho de 2010.

Figura 136 – Bangalô de 1916 construído em Sacramento, Califórnia/EUA.

Disponível em: <http://architecture.about.com/od/housestyles/ig/Bungalow-

Pictures/ Curtis-Park-Bungalow.htm>. Acesso em: 27 jun. 2010.

A. Características dos Bangalôs

Para a análise tipológica formal, construtiva e do imóvel em

Poço dos Paus, inicialmente foram examinadas as

características marcantes dos bangalôs mais conhecidos, os

californianos. Em relação a essas características é possível

destacar alguns elementos como a implantação da edificação

em terreno plano, com afastamento frontal valorizando a

presença de jardins e vegetações à frente do imóvel (fig. 137).

A forma retangular possuía um pé direito não muito elevado –

quando elevado era para a disposição de um sótão – a face

Page 91: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 90 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

principal e posterior menor que as demais, proporcionaram

afastamentos laterais no terreno por onde a cobertura em

duas águas do corpo central é direcionada.

Figura 137 – Vegetação no afastamento frontal. Bangalô californiano de

1914 construído em Victoria/Canadá importado de Califórnia/EUA.

Disponível em:

<http://www.maltwood.uvic.ca/cura/projects/hallmark/images.html>.

Acesso em: 14 ago. 2010.

Com o recuo parcial da fachada principal, foi possível a

disposição de uma varanda frontal – com a presença de

guarda-corpos em madeira – para reduzir o barulho da rua no

interior da residência e também para sombreamento, sendo

assim, foram propostos colunas ao longo desta varanda para

dar sustentabilidade à cobertura.

Devido à elevação da edificação ao solo, determinou-se uma

escadaria frontal, e como sinônimo de simetria foi centralizada

na edificação juntamente ao acesso principal. Tal elevação

também causou a ausência de garagem interna.

Figura 138 – Detalhe da elevação da edificação. Bangalô construído em

Sacramento, Califórnia/EUA.

Disponível em: <http://architecture.about.com/od/housestyles/ig/Bungalow-

Pictures/Sacramento-Bungalow.-0a-.htm>. Acesso em: 14 ago. 2010.

Nas esquadrias dos bangalôs, as janelas eram largas em

média de três folhas. O material utilizado, tanto as janelas

quanto as portas eram freqüentemente feitas com vidros e

madeiras. Assim como as esquadrias, as paredes da

edificação eram também em madeira.

Page 92: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 91 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

B. Semelhanças e diferenças entre o Bangalô e o antigo

Hospital de Poço dos Paus

Em meio a essas informações, o Hospital possui algumas

características de mesma natureza que os bangalôs

americanos, entretanto com adaptações para o local em que

foi inserida.

Esta construção foi implantada em um terreno plano com

estilo simplificado, geometria retangular e horizontalizada

formada por apenas um andar, características formais

semelhantes às residências americanas. Todavia, outras

características equivalentes podem ser aderidas pelo imóvel.

Assim como os bangalôs, o corpo retangular do antigo

Hospital situado livre no terreno favoreceu afastamentos para

que a cobertura com forma de duas águas fosse direcionada

para as laterais.

Devido à alta temperatura constante na região quase todo o

ano, foram adaptadas varandas dispostas com colunas que

dão sustentação a cobertura em todo o entorno imóvel,

oferecendo proteção da insolação direta nas fachadas. As

questões de higiene e salubridade, também são levadas em

consideração na tipologia do edifício, sendo elevado do solo

para evitar o contato direto com o pasto de animais que se

encontrava a frente da edificação, seguindo o modelo

americano.

Figura 139 – O Hospital alguns anos depois de sua construção no ano de

1922. Ainda sem o anexo que fora construído a esquerda do edifício na

década de 1930.

Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Nesta construção também estavam presentes algumas

características que se diferem das moradias californianas.

Uma delas é a adaptação do material construtivo ao local em

que foi inserido. O Hospital é uma edificação autoportante

devido à espessura das paredes – formadas por dois tijolos

maciços deitados – determinadas para proteção ao calor.

Page 93: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 03 92 O CASARÃO E A ARQUITETURA DO DNOCS

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Diferente dos bangalôs que são construídos com paredes de

madeira e fundações rasas, raramente feitas em tijolos

(AMERICAN BUNGALOW MAGAZINE, 2010).

Outra característica que se diverge, é o acesso principal feito

pela lateral direita do edifício. No caso dos bangalôs, a

escadaria é construída à frente das residências, centralizada

na fachada frontal. Já as esquadrias da construção de Poço

dos Paus foram feitas todas em madeiras maciças, em duas

folhas e janelas com postigo, estreitas e altas (devido à alta

insolação), ao contrário dos bangalôs.

O alto pé direito desta construção foi proporcionado pelo tipo

de telha utilizada, colaborando no aumento do oitão devido à

inclinação, sendo assim, esta altura possui a finalidade de

proporcionar que calor suba e o ar frio desça, mantendo o

interior do imóvel sempre fresco.

Entretanto, também está presente outro diferencial no

Hospital, a inexistência de guarda-corpo ao longo de toda a

varanda do imóvel, essa carência ocorre possivelmente

devido a uma elevação não valorizada ao perigo.

Com esta analise comparativa dos bangalôs com o antigo

Hospital, é possível perceber que as semelhanças entre suas

tipologias são mais predominantes nas formais que

construtivas. Todavia vale ressaltar que grande parte de suas

diferenças são conseqüentes do clima em que estão situadas.

Figura 140 e 141 – À esquerda o alto pé direito ainda mantido na atual

residência da Dra Luisa Angélica Sales. À direita a presença de varanda

disposta por colunas, fachada por onde era feito o acesso.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 94: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

93

444

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Page 95: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 94 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

“Em geral, entende-se por restauração qualquer intervenção voltada a dar novamente eficiência a um produto da atividade humana.” (BRANDI, 2004, p.25)

Este é o princípio do conceito de restauração idealizado por

Cesare Brandi20 em seu livro Teoria da Restauração na

década de 1960. Nele iremos analisar a fundamentação

teórica da restauração e conservação arquitetônica

juntamente com as Cartas Patrimoniais21 de Veneza e Burra

que possa seguir de base para o estudo da restauração feita

no antigo Hospital, atual Casarão em Cariús, objeto de estudo

deste trabalho.

4.1. Cesare Brandi

Em primeiro lugar devemos analisar a construção como um

todo, ou seja, como uma obra de arte. Para isso Brandi expõe

duas instâncias: a instância histórica e a instância estética,

____________

20 Cesare Brandi – Nascido em 1906 e falecido em 1988, formado em

letras e direito, entretanto possuiu grande presença na história da arte

direcionado a restauração.

21 Cartas Patrimoniais – Documentos onde são encontrados os principais

conceitos adotados para o gerenciamento de bens patrimoniais.

em que a obra deve ser representada sem exprimir falsidade

da mesma. Caso ocorram integrações, estas não devem

realçar mais que a obra original, sendo reconhecidas de

imediato. E o mais importante:

“(...) qualquer intervenção de restauro não torne impossível mas, antes, facilite as eventuais intervenções.” (BRANDI, 2004, p. 48)

Cada obra de arte, quando restaurada, será sempre analisada

como um caso a parte. O estudo preliminar que antecede as

aplicações das cartas patrimoniais e técnicas de restauração

e conservação é essencial e único em cada monumento, pois

os métodos utilizados em uma obra podem não ser

adequados a outra, tornando-os singulares.

A restauração segundo a instância histórica implica na

qualificação da obra de acordo com o valor histórico da

mesma, ou seja, ligar a edificação ao passado, presente e

futuro certificando-se da presença de rastros humanos neste

monumento. Caso esses vestígios não sejam conservados no

passado e nem para o futuro, ocorrerá uma falha na

comunicação dos testemunhos, não sendo possível classificá-

la como uma instância história.

Por este lado a repristinação – ato que trás a obra em seu

estado inicial, de volta aos seus primeiros tempos - é abolida,

pois faz com que a história e os intervalos pela qual a

Page 96: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 95 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

construção passou seja anulada, esquecida. “Causando a

impressão de que o tempo nunca agiu sobre a obra, que se

mostra sempre acabada e nova” (ARAÚJO, 2006, p. 5).

A conservação de acordo com esta instância implica em

manter a obra da maneira em que foi encontrada, em poucas

palavras, uma restauração preventiva eliminando uma

intervenção direta, somente condicioná-la a técnicas de

preservação do seu estado atual, tornando-a legítima e

fazendo jus ao seu histórico, um testemunho, mesmo que

mutilado, reconhecido como uma obra de arte da passagem

do ser humano. Caberia, portanto, apenas a consolidação do

monumento.

O entorno da edificação também é levado em consideração

na conservação da obra de arte. É necessário fazer um

levantamento das belezas naturais no perímetro, pois as

mesmas podem estar integradas ao bem cultural. Todavia, os

aspectos naturais podem também não obter presença em sua

passagem histórica ou valor em determinadas culturas, neste

caso levamos em conta a predominância do panorama, em

que a vista da obra de arte não seja prejudicada pelo entorno.

Já no caso das adições, refazimentos e remoções da obra, é

necessário pesar o que é mais válido, a razão histórica ou a

razão estética. Uma obra que já suportou refazimentos e

remoções repetidamente, não será possível mantê-la apenas

pela instância histórica, pois se seu conceito está apenas nos

refazimentos das partes, sendo assim, estes atos

proporcionaram apenas o realce estético da obra.

Ao ver da instância histórica, todas as adições admitidas ao

longo dos anos, décadas e séculos na obra de arte é um

“testemunho do fazer humano” (BRANDI, 2004, p. 71). Tais

adições possuem a função de complementar, sendo

conseqüência de um desenvolvimento tornando-se uma

introdução na obra, um enxerto. Neste caso deve ser

conservada. Em vista a este argumento, Brandi afirma que a

remoção implicará na redução a nada de um documento,

“donde levaria à negação e destruição de uma passagem

histórica e à falsificação do dado. (...) do ponto de vista

histórico, é apenas incondicionalmente legítima a

conservação da adição” (idem, p. 71).

O refazimento se difere da adição, nesta situação se pretende

ligar o passado com o presente, apresentando o processo

original ao qual a obra se desenvolveu. Ligando o antigo com

o atual “de modo a não distingui-los e a abolir ou reduzir ao

mínimo o intervalo de tempos que aparta os dois momentos”

(idem, p. 73). Então a idéia principal do refazimento é expor a

época em que a obra surgiu. Este ato pode ser consentido à

instância história, pois mesmo sendo um feito do presente,

marca o fazer do humano e no momento em que o futuro for

olhar pelo passado, verá esta assinatura do humano neste

refazimento.

Page 97: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 96 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Contudo, no caso da remoção, esta deverá ser questionada e

concedida uma razão plausível para o ato, e mesmo que seja

feita, deverá consentir traços de sua presença na obra em

que estava situada.

“a instância artística (...) corresponde ao fato basilar da artisticidade pela qual a obra de arte é obra de arte.” (BRANDI, 2004, p. 29)

Nesta definição acima, Brandi expõe de forma simples que a

instância estética nem sempre utiliza os mesmo critérios que

a instância histórica, pois uma edificação bem condicionada

não seguirá as mesmas regras que uma ruína.

“(...) do ponto de vista estético não somos constrangidos a definir a área conceitual da ruína com o mesmo critério do ponto de vista histórico.” (BRANDI, 2004, p. 78)

Neste pensamento citado por Brandi, caso a ruína fosse

considerada pelo seu valor estético, com objetivo de levá-la à

unidade potencial, seria através da cópia, um falso das

características originais. Portanto, a ruína que não pode ser

integrada, será conservada, ponderando o valor histórico,

conservando seu estado atual como uma passagem do tempo

e história humana. (idem, p. 78).

Em oposição a estes fatos, conceituar a ruína com referências

a instância estética implica em complexos enredos. Pois a

mesma pode estar integrada a monumentos, paisagens ou

até ser um caráter de uma determinada zona. Devido à

“delimitação negativa do conceito de ruína” como resquício de

uma obra de arte, “[a ruína] não pode ser reconduzida à

unidade potencial”. (idem, p. 79).

Com relação à remoção das adições, o valor artístico se

contradiz com o histórico, se manifestando contra a

conservação dos acréscimos. Em conseqüência remove a

“recordação da passagem histórica”. Esta ação deverá ser

efetuada com a devida atenção a documentação.

“Para a instância que nasce da artisticidade da obra de arte, o acréscimo reclama a remoção. (...) E como a essência da obra de arte (...) é claro que a adição deturpa, desnatura, ofusca, subtrai parcialmente à vista da obra de arte, [então] essa adição deve ser removida” (BRANDI, 2004, p. 83-84)

Para estes casos, se deve sempre analisar a importância dos

elementos. Determinar qual valor prevalece mais, se vale

remover as adições “além do valor intrínseco dos objetos

acrescentado”, ao ponto de destruir marcos e passagens

históricas. (idem, p. 85).

Page 98: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 97 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Outro caso em que a instância estética se opõe à histórica é a

pátina, pois a mesma documenta uma passagem que o tempo

causou na obra de arte e deve ser mantida. Todavia a

artisticidade propõe a remoção desta ação, por ser

considerada uma adição. (idem, p. 85-86).

Todavia, é notório ressaltar que, assim como a instância

histórica, a instância estética também é fruto da ação

humana, porém “se aqueles vestígios estão de fatos perdidos,

não pode mais tratar-se de artisticidade, mas apenas de

historicidade.” (idem, p. 78).

Sendo assim, a restauração da edificação como uma obra de

arte dependerá do peso dos valores que o imóvel carrega em

si. Seja pelos materiais nela contida, as técnicas construtivas

utilizadas ou pelos traços do autor, tornando o ato da

restauração dependente destas condições. Portanto, cada

bem requer uma análise específica e individualizada acerca

da instância a ser privilegiada.

Existem várias maneiras de abordar uma ruína que está

prestes a ser restaurada. Para entender melhor as instâncias

será mostrado dois casos de intervenção. O primeiro será o

antigo Hotel Pilão, situado na Praça de Tiradentes em Ouro

Preto, MG.

O conjunto urbano deste local é considerado um patrimônio

da humanidade, segundo a Listagem de bens protegidos em

Minas Gerais apresentados ao ICMS Patrimônio Cultural

(2010, p. 12).

Porém devido a um incêndio ocorrido no ano de 2003, tornou

o antigo imóvel em ruína, descaracterizando o conjunto

arquitetônico. Então como ação punitiva ao agente causador

do incidente, os resquícios do imóvel foram consolidados a

uma cópia do casarão original. Esta ação foi proporcionada

devido ao grande valor estético que o edifício tinha, e ainda

tem, em relação à paisagem em que está situada.

Portanto, foi considerado não só o valor do bem em si, mas

principalmente seu valor extrínseco. O papel do bem

danificado na composição da paisagem envolvente perderia

valor com a ausência do mesmo. Por este motivo, a

reconstrução foi realizada, considerando a reintegração do

valor estético da paisagem urbana como um todo.

Figura 143 – O casarão reconstruído,

[200-].

Disponível em: <http://www.ouropreto-

ourtoworld.jor.br/pilao2.htm>. Acesso em:

04 out. 2010.

Figura 142 – Antigo Hotel Pilão em chamas

em 2003.

Disponível em: <http://www.ouropreto-

ourtoworld.jor.br/FogoPilao.htm>. Acesso

em: 04 out. 2010.

Page 99: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 98 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Outro exemplo de patrimônio em ruína é o Castelo de Garcia

D’Ávila, situado no litoral da Bahia é uma das primeiras

edificações portuguesa construída no Brasil. Um conjunto

residencial-militar dos séculos XVI e XVII, considerado como

um monumento nacional desde 1938. (A CASA DA TORRE

[...],1989-2008)

A intervenção no complexo foi baseada predominantemente

na instância histórica, sua ruína foi mantida no estado em que

foi encontrada, devido ao significado como um testemunho da

história humana. Já a capela nela situada foi conservada ao

longo do tempo devido ao seu uso contínuo, restando apenas

pequenas intervenções sem alterar seu sentido.

A consolidação da ruína pressupõe a valorização da instância

histórica na medida em que, por exemplo, manteve expostas

as técnicas construtivas empregadas nos primórdios da

ocupação do Brasil Colônia, ao invés de reconstruir o bem.

Figura 144 – Castelo de Garcia D’Ávila atualmente.

Disponível em: < http://shw.rafaelpires.fotopages.com/14234491/Castelo-

Garcia-dAvila.html >. Acesso em: 04 out. 2010.

Agora para exemplificar, seguem nas figuras 147 e 148 dois

exemplos de intervenções baseadas, uma em uma edificação

em ruína e outra estruturalmente conservada.

Figura 145 – Vista

aera do Castelo de

Garcia D’Ávila.

Disponível em:

<http://www.flickr.co

m/photos/ulyssesde

castro/4371102673/

sizes/z/>. Acesso

em: 04 out. 2010.

Figura 146 – Capela

conservada e a ruína do

castelo.

Disponível em:

<http://mundoposto.com.

br/blog/?tag=praia-do-

forte>. Acesso em: 04

out. 2010.

Page 100: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 99 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 147 – Exemplo de restaurações em uma edificação com estrutura bem conservada, utilizando a Instância Estética e Histórica.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 148 – Exemplo de restaurações com uma

edificação em ruína, utilizando a Instância Estética e

Histórica.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 101: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 100 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

4.2. Cartas Patrimoniais

Inicialmente a salvaguarda do monumento histórico não foi

baseada na conservação e preservação do bem com a

essência de transmitir uma emoção ou memória viva, a fim de

relembrar uma geração passada, crenças e acontecimentos,

de forma “a preservar a identidade de uma comunidade étnica

ou religiosa, nacional, tribal ou familiar” constituindo “uma

garantia das origens” (CHOAY, 2001, p.18).

Naquele momento, a salvaguarda havia como intenção, a

recuperação dos monumentos para a reutilização, devido à

perda de “seu sentido e seu uso, a insegurança e a miséria”.

Os primeiros acontecimentos neste sentido podem ser

apresentados em Roma no século V, onde um decreto

autoriza a desapropriação dos edifícios “cujo estado não

permite conserto” para serem transformados em pedreiras.

(idem, p.35).

No século seguinte o papa Gregório I, em época onde a

construção implicava com altos gastos, adota uma política de

reutilização, onde seu sucessor, Honório, transforma grandes

residências patrícias em monastérios e as salas de recepção

em igrejas (idem, p.36).

A partir deste mesmo século, Roma é vista como “a maior

fonte de materiais prestigiosos para os novos santuários”,

além da reutilização dos espaços, os antigos monumentos

também são vítimas de recortes em pedaços para serem

adaptados e embelezar novas construções, onde “colunas,

capitéis, estátuas, frisos esculpidos são, desse modo,

retirados dos edifícios que faziam a glória das cidades

antigas” afim de serem reaproveitados. (idem, p.40-41).

Segundo Choay (2001, p.35), tais ações ocorrem até ao

século XI. Ainda em Roma o Coliseu sofre grandes

mudanças, seus arcos são fechados e reutilizados para

habitações, depósitos e oficinas, e no lugar da arena é

elevada uma igreja e uma fortaleza da família Frangipani.

O sinal de interesse pelo passado referente aos antigos

edifícios é despertado entre o século XIV e XV, através de

“abordagem literária” pelos humanistas, negligenciando o

conhecimento visual, onde seus interesses não estão

focalizados no monumento, e sim no “testemunho do texto

sobre o passado” acima de todos os demais. Nesta mesma

passagem são encontrados os artistas, que pela filosofia

semelhante, simpatizam pelas formas e descobrem novos

conceitos construtivos referentes às esculturas e antigos

edifícios. (idem, p.46-47,49).

Entretanto, cabe aos papas dar início à proteção dos edifícios,

com medidas modernas, a fim de preservar e/ou restaurá-las.

Através de bulas pontificais, em meados do século XV, o

papa Pio II Piccolomini, a favor de sua apreciação aos

edifícios antigos, aclama a abolição da depredação e

Page 102: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 101 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

demolição dos mesmos, punindo a todos que danificarem tais

imóveis. Entretanto, os papas não satisfeitos somente “com

medidas preventivas”, “retiram o entulhos, desobstruem,

restauram as antigüidades”. Como no caso do papa Eugênio

IV que além de manter limpo os arredores, restaura a

cobertura do Panteão. Já Nicolau V aconselhado por Leon

Battista Alberti, arquiteto italiano, faz um grande levantamento

topográfico de Roma, para um promissor plano de

restauração da cidade, além “de conservar e colocar em

destaque os grandes monumentos da Antigüidade”. (idem,

p.53-55).

Neste raciocínio, Pio II Piccolomini almeja não somente a

idéia de preservar e conceder manutenções nos “lugares

santos da cidade” no momento, mas sim “para que as

gerações futuras encontrem intactos os edifícios da

Antigüidade e seus vestígios”. (idem, p.53).

Seguindo o caminho da restauração, vale ressaltar algumas

teorias de restauro que foram vivenciadas ao longo do século

XVII até XX. Podendo-se iniciar pelo Restauro Arqueológico

(ou Empírico) exposta pelo Papa Leão XIII, surgem os

primeiros antiquários, onde os testemunhos dos objetos são

mais confiáveis que a escrita, ao contrário do que ocorria

entre o século XIV e XV. Tal teoria era meramente substancial

e não aprofundada em relação aos teóricos que estavam por

vir.

Já Viollet-le-Duc, propiciou o início efetivo da teorização do

restauro através do Restauro Estilístico. Neste caso o teórico

utiliza a analogia dos edifícios similares através de

arqueologia e da história de sua arte, a fim de alterar o

edifício chegando ao ponto de sua perfeição.

Entre outras teorias de restauro, estão presentes o Restauro

Romântico conhecido como Anti-restauro por John Ruskin; o

Restauro Histórico de Luca Beltrami utilizando critérios

específicos para cada restauração; Camilo Boito apresentou o

Restauro Moderno através da recuperação de um edifício

morto para suprimir uma necessidade contemporânea; o

Restauro Científico por Gustavo Giovannoni influencia a

preservação do monumento no contexto urbano que está

inserido; e por último o Restauro Crítico defendido por

Cesare Brandi, já caracterizado no tópico anterior.

(PIMENTEL, 2009/2010).

É válido concluir que tais teóricos contribuíram para o

desenvolvimento dos procedimentos e ações preservativas

nos bens, independentemente de suas variantes. Pois cada

especialista legitimou suas teorias de acordo com período em

que estava sendo vivenciado.

Para que o ato de salvaguarda de bens de interesse à

sociedade fosse adotado até os dias atuais, profissionais

envolvidos com o ramo da arquitetura, arqueologia, artes

plásticas, entre outros, conceberam encontros mundiais para

Page 103: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 102 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

discutir e formular parâmetros de abordagem ao patrimônio,

devido à carência de metodologias com base científicas. Afim

de orientar os procedimentos entre os profissionais.

Em favor deste conceito, foram desenvolvidas Cartas

Patrimoniais que recomendam aos órgãos responsáveis e

protetores dos bens culturais, políticas de preservação e

salvaguarda, reverenciando “os valores patrimoniais quanto a

amplos aspectos sócio-culturais”. (CÉSAR; STIGLIANO,

2010).

Um dos encontros que obteve o pontapé inicial para a

elaboração do primeiro documento internacional digno da

conservação e preservação do bem cultural, foi o I Congresso

Internacional de Arquitetos e Técnicos em Monumento –

CIAM, em Atenas no ano de 1931, que incentivou a

realização da Carta de Atenas. Neste documento é exposta a

importância do patrimônio na cidade, transpondo cuidados

especiais em relação ao entorno dos monumentos,

preservando sempre a perspectiva e vistas do imóvel além

das paisagens pelo qual ele oferece. Também leva em

consideração o todo como um conjunto arquitetônico. Já na

assembléia de 1933, é levantada a questão que diz respeito

aos conjuntos urbanos com repetição de imóveis, onde é

necessária a documentação e conservação de alguns, sendo

os demais demolidos, ou ao ponto de conservar uma parte

em que remete uma lembrança e modificar o restante de

forma vantajosa. (CARTA DE ATENAS, 1933).

Afora a valorização visual do monumento, cabe a Carta de

Atenas fortificar o respeito pelo patrimônio, onde as técnicas

utilizadas não causem danos aos elementos do mesmo

favorecendo também a utilização da anastilose22 – quando for

possível – diferenciando o novo material utilizado na técnica.

Para que isso ocorra o documento impõe a responsabilidade

pela conservação dos monumentos aos Estados. Entretanto

não somente os órgãos governamentais, mas também a

população deverá respeitar e participar dos acontecimentos

culturais e históricos da comunidade elevando importância do

___________

22 Anastilose – Recolocação de elementos do monumento em seus locais

originais.

Figura 149 – Cartaz do CIAM.

Disponível em:

<http://www.uesc.br/revistas/culturaeturismo/edic

ao7/artigo_6.pdf>. Acesso em: 26 set. 2010.

Page 104: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 103 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

interesse educacional e trazendo em conseqüência, a

redução dos danos devido ao esquecimento dos

monumentos. (CARTA DE ATENAS, 1931).

Em novembro de 1945 é criada a UNESCO23, uma

organização internacional que visa à promoção de várias

atividades, sendo uma delas cultural, onde focaliza, dentre

outras questões, a salvaguarda do patrimônio cultural

estimulando sua preservação através de assistências técnicas

e divulgação de informações. (UNESCO, 2007).

De acordo com CÉSAR e STIGLIANO (2010), após

aproximadamente uma década, no ano de 1956, a UNESCO

promoveu uma Conferência Geral em Nova Delhi, Índia, onde

foram discutidos assuntos referidos à arqueologia.

Todavia vale ressaltar que também foram firmados os

cuidados dos bens históricos ao Estado e a importância da

comunicação e propagação de informações do mesmo com a

comunidade tanto local como internacional. (CÉSAR;

STIGLIANO, 2010).

Graças à UNESCO, também foi possível preservar grandes

monumentos, como no caso do complexo arqueológico Abu

___________

23 UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência

e Cultura.

Simbel construído no século XIII a.C (SABONGI, [20--]), salvo

pela organização na década de 1960:

“Início da Campanha da Núbia, no Egito, para deslocar o Grande Templo de Abu Simbel de modo a evitar que fosse submerso pelo Nilo depois da construção da represa de Assuan. Durante essa Campanha, ao longo de 20 anos, 22 monumentos e complexos arquitetônicos foram relocados. Esta foi a primeira e a maior de uma série de campanhas.” (UNESCO, 2007, p. 26)

Figura 150 – Local original dos templos.

Disponível em: <http://www.khanelkhalili.com.br/mapasEgito9.htm>.

Acesso em: 26 set. 2010.

Page 105: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 104 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 151 – Templos de Templo de Ramsés II e sua esposa preferida

Neferetari.

Disponível em: <http://www.khanelkhalili.com.br/mapasEgito9.htm>.

Acesso em: 26 set. 2010.

Em suas grandes realizações, no ano de 1972 em Paris, a

Conferência Geral da UNESCO promoveu uma convenção a

favor da Proteção do Patrimônio Mundial Cultural e Natural,

criando em 1976 a Comissão do Patrimônio Mundial. Neste

ato a organização distribui informações e promove

mecanismos para iniciar a conservação e proteção do

patrimônio universal, incluindo convenções internacionais

para aqueles interessados na salvaguarda do mesmo.

(UNESCO, 1972).

Já em 1964 ocorre o II Congresso Internacional de Arquitetos

e Técnicos em Monumento - CIAM em Veneza, dando origem

a um novo documento, a Carta de Veneza, o qual servirá de

referência para a análise do Casarão no capítulo seguinte.

Sua utilização será de suma importância, pois as formas de

aplicação da mesma estão dentro dos parâmetros de como o

monumento histórico está situado na atualidade. Ou seja, a

Carta de Veneza se refere não apenas aos grandes edifícios

da Antiguidade, mas também valoriza “as obras modestas,

que tenham adquirido, com o tempo, uma significação

cultural”. (CARTA DE VENEZA, 1964, p.02).

Como no caso da edificação foco de estudo deste trabalho, tal

imóvel pode não possuir um significado em grande escala,

mas é de um testemunho, um acontecimento histórico, da

comunidade local. Segundo a Carta de Veneza, para manter

o monumento como uma obra de arte classificada como

testemunho histórico, é necessário visar sua salvaguarda

através de dois métodos: a conservação e a restauração.

A conservação se baseia primeiramente na manutenção

constante da edificação, para isso o documento permite que o

bem possua uma nova função, desde que não ocasione em

mudanças e alterações “na disposição ou decoração dos

edifícios”. Em conseqüência, tal feito poderá “alterar as

relações de volumes e de cores”, devido à importância da

preservação volumétrica e de sua escala. (idem, p.02).

Todavia, não somente o exterior, mas também o interior é

digno de conservação. Os elementos internos, sejam

esculturas ou decorações, fazem parte da edificação, sendo

Page 106: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 105 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

assim não podem ser removidos de seus locais de origem,

somente no caso em que tal ação seja o último recurso a

favor da integridade do objeto.

Portanto, não há como separar os registros materiais da

edificação, pois “o monumento é inseparável da história de

que é testemunho e do meio em que se situa. [...] o

deslocamento de todo o monumento ou de parte dele não

pode ser tolerado”. Ocorrendo exceções apenas para os

casos extremos, quando o mesmo é exigido para a própria

salvaguarda ou for justificado por “razões de grande interesse

nacional ou internacional”. (idem, p.02).

Já a restauração tem a finalidade de manter o valor histórico e

estético do monumento, com o objetivo de manter os rastos

deixados pelas épocas em que a edificação vivenciou,

ostentando o material nelas contidas. Para que isso ocorra, é

necessário utilizar as técnicas tradicionais da época, porém

quando não for possível, pode-se optar pelas técnicas

modernas que comprovem o resultado pretendido, sem danos

ao monumento.

Em casos de substituição de partes faltantes, a Carta de

Veneza favorece a concepção de um novo elemento, de

modo em que o novo não sobressaia mais que o antigo, esta

integração deve ser feita através de materiais diferenciados

dos originais para que não ocorra a falsificação de partes do

monumento.

Neste caso, vale ressaltar que a restauração do monumento é

fundamentada “no respeito ao material original e aos

documentos autênticos. Termina onde começa a hipótese”, ou

seja, em casos onde os documentos não sejam suficientes

para restaurar a edificação ou parte dela, não se deve

reconstruir onde ocorre a ausência de informação, para

indicio de complemento, evitando um falso na composição

arquitetônica. (idem, p.02).

Já os acréscimos serão aceitos somente em casos onde “o

equilíbrio e suas relações com o meio ambiente” não forem

abalados. (idem, p.03).

Outro testemunho escrito analisado juntamente com a Carta

de Veneza, foi a Carta de Burra, sendo ela um complemento

deste documento anterior. Elaborada em 1980 pelo Conselho

Internacional de Monumentos e sítios – ICOMOS na Austrália,

aprimorou os procedimentos de conservação e restauração

além de colaborar com as recomendações de preservação,

reconstrução do monumento edificado e de seus elementos.

Assim como a Carta de Veneza, a carta de Burra defende a

conservação com respeito ao “testemunho nela presente”,

designando o bem como “um local, [...] um edifício ou outra

obra construída, [...] que possuam uma significação cultural,

compreendidos [...] para as gerações passadas, presentes ou

futuras”. (CARTA DE BURRA, 1980, p.01-02).

Page 107: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 106 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Entretanto, a mesma carta aceita “obras mínimas de

reconstrução”, mas apenas para atender as necessidades e

exigências do edifício em si (idem, p.01). Diferente da Carta

de Veneza, onde não denunciava alguma forma de

reconstrução do imóvel.

Ao esclarecer os procedimentos quanto à reconstrução, a

Carta de Burra (1980, p.04) cita que, o objetivo maior é

permitir uma “leitura” completa do monumento, trazendo o

significado cultural que foi perdido, onde deve “se limitar à

reprodução de substâncias cujas características são

conhecidas graças aos testemunhos materiais e/ou

documentais”.

Todavia, tais partes devem ser diferenciadas quando vistas

de perto e não sobressaírem mais que o entorno em que está

situada, limitando-se a “completar uma entidade desfalcada e

não [...] a construção da maior parte da substância de um

bem” (idem, p.04).

Seguindo a mesma linha da Carta de Veneza (1964, p.02), a

Carta de Burra (1980, p.03), afirma que quando for necessária

a remoção de elementos que forem pertencentes ao

monumento, só será permitido meramente para manter a

sobrevivência dos mesmos.

A preservação não é citada na Carta de Veneza, todavia,

segundo a Carta de Burra (1980, p.01 e 03) este ato será

admitido apenas para a manutenção da substância dos

edifícios, a fim de desacelerar o “processo pelo qual ela se

degrada, limitando-se “à preservação, à manutenção, e à

eventual estabilização da substância existente”. Deixando

claro que métodos onde depredam o significado do bem não

serão tolerados.

Paralelo a estas técnicas temos a restauração, onde envolve

a reposição dos elementos, porém a “um estado anterior

conhecido”, viabilizando a recolocação de materiais

desconjuntados, ou em outras condições subtrair acréscimos

de elementos. (idem, p.01 e 03).

Nestes casos, de acordo com a Carta de Burra (1980, p.03) a

restauração só é possível se for obtida a quantidade de dados

que suprem o testemunho de suas características anteriores,

assim como é mencionado simultaneamente na Carta de

Veneza (1964, p.02). Devendo equilibrar, qual época deve ser

privilegiada, já que “todas as épocas deverão ser

respeitadas”. (CARTA DE BURRA, 1980, p.03).

Um procedimento considerável nos processos de salvaguarda

de um edifício histórico é o estudo, não apenas na

construção, mas também de seu entorno. Na Carta de

Veneza (1964, p.03) o ato de escavação é levemente

mencionado, mas é na Carta de Burra (1980, p.04) onde é

declarada que a escavação em casos o qual é permitido o tal

ato, se torna “necessária para a obtenção de dos

Page 108: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 04 107 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRIA

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

indispensáveis à tomada de decisões relativas à

conservação”.

Para finalizar, tanto a teoria de Cesare Brandi, quanto os

procedimentos das Cartas Patrimoniais, realçam a proteção

do monumento edificado por ser um patrimônio importante

para a humanidade ou para uma coletividade. Deste ato surge

a necessidade de respeito aos bens materiais que circundam

a comunidade local podendo se expandir de forma nacional

até um ponto global.

Para isso deve-se relacionar o patrimônio com o cotidiano da

população, não excluí-la, mas tornar parte do dia-a-dia desta

comunidade. Difundindo a idéia de um pequeno projeto de

salvaguarda em grandes planejamentos e planos de

revitalização local para regional à nacional.

Page 109: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

108

555 AAANNNÁÁÁLLLIIISSSEEE DDDAAA IIINNNTTTEEERRRVVVEEENNNÇÇÇÃÃÃOOO

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Page 110: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 109 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

O ato de intervir em um patrimônio está ligado em manter as

condições do objeto, prolongando ao máximo sua vida e de

seus elementos, levando em consideração que, nem sempre

é possível obter um parecer conclusivo, sendo necessária

uma constância nas ações de conservação do bem edificado.

“Contudo, não podemos perder de vista a percepção de que muitas vezes é impossível reconstituir o objeto em sua materialidade original, sabendo, porém, que é necessário estabilizar os processos de alteração/degradação da obra/objeto/ artefato, por meio de ações que não comprometam as características de seus materiais constitutivos. Ao perceber a imensa dificuldade que é a prática de um respeito rigoroso à integridade do objeto – tanto na sua preservação material quanto em relação ao seu significado –, compreendemos a necessidade de ações conscientes, realizadas por profissionais qualificados, que devem reciclar seus conhecimentos continuamente.” (FRONER; SOUZA. 2008. p.03-04).

Segundo Froner e Souza (2008) é necessário que um

profissional com especialização em restauro, preservação e

conservação atue nesta área. Porém um leigo com

consciência de preservação com objetivo em manter um

imóvel em sua forma original também pode aplicar técnicas

básicas sem mesmo obter conhecimento sobre o tema.

È a partir deste ponto que iremos avaliar e analisar os

procedimentos utilizados na intervenção feita pela Dra Luisa

Angélica Sales – atual moradora do imóvel – de acordo com

os princípios fundamentais citados no capítulo anterior e os

materiais didáticos sobre “Técnicas básicas de conservação e

restauração”24. E quando possível, indicar técnicas

alternativas que podem melhorar as condições físicas do

patrimônio.

A. Adições

Em relação à volumetria do Casarão, sua forma inicialmente

era retangular, quando foi construída em 1922. Entretanto

podemos observar a adição de um volume em forma de “L”,

para ampliação do imóvel, logo após a desabilitação do

Hospital, no começo do século 1930 – eventualmente durante

a moradia do interventor Maximinio, possivelmente feita pelo

mesmo – sendo mantida até os dias atuais.

___________

24 Material obtido na disciplina de Técnicas Retrospectivas II da professora

Viviane Pimentel. Faculdade Brasileira – UNIVIX.

Page 111: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 110 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Devido ao enredo histórico nela contida, optou-se manter tal

adição e considerar o patrimônio como uma instância

histórica, pois segundo Brandi, é por obrigação em manter um

testemunho do ser humano que se deve conservar as

adições, para assim, torná-la legítima. (BRANDI, 2004, p. 71).

Figura 152 e 153 – Imagens representativas em 3D demonstrando a

volumetria original da edificação.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 154 – Casarão recém reformado, em destaque sua forma em “L”

em 2002.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Segundo o artigo 13º da Carta de Veneza (1964, p.03) e o

artigo 8º Carta de Burra (1980, p.02-03) os acrescimentos e

adições de novas construções só poderão ser permitidos caso

não prejudique sua composição e visualização em relação ao

entorno.

A partir desta afirmação, pôde-se justificar as demais adições

inseridas, localizada na área posterior do imóvel durante sua

intervenção. Antes de serem inseridas, o estado em que este

terreno foi encontrado era desastroso. O suposto quintal do

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CAPITULO 05 111 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

imóvel estava coberto de mato, ervas daninhas, e vegetações

que se alastraram para todos os lados.

Figura 155 e 156 – Fachada posterior do Casarão antes (ano de 2001) e

depois da intervenção [ca. 2002/2003].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 157 - Capinação antes da intervenção em 2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Após a capinação e limpeza do terreno que cercava o

Casarão, foi possível acrescentar outras edificações, como no

caso da lavanderia ao nível do terreno. Sua presença não

realça mais que a imagem do Casarão, apenas foi adaptada à

área externa, próxima ao imóvel de forma que não fosse

necessário alterar o interior para adequar o ambiente.

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CAPITULO 05 112 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 158 – Lavanderia acrescentada na fachada posterior do imóvel,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Outra volumetria acrescentada foi uma pequena residência

interligada ao Casarão somente pelas varandas, sem

necessariamente ser adicionada estruturalmente ao imóvel,

constituindo um volume independente. Já este acréscimo foi

motivado devido à necessidade de uma moradia direcionada

aos pais da Dra Angélica que fosse localizada próxima da

mesma.

Figura 159 – Edificações interligadas, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 160 – Pequena residência interligada ao Casarão pelas varandas,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Cobertura da

Lavanderia

Varanda do

Casarão

Residência

acrescentada

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CAPITULO 05 113 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Há também outras construções agregadas ao terreno,

próximas ao Casarão que são: a piscina, a garagem, o salão

de eventos e um deck coberto (fig. 161, 162 e 163). Estas

edificações foram aplicadas corretamente no terreno, pois não

estão anexadas ao imóvel analisado, não interferindo na

composição visual do mesmo.

Nestes casos, assim como a pequena residência, podem ser

justificados pela teoria de Brandi já citada anteriormente, onde

as adições feitas atualmente servirão de um testemunho do

fazer humano para o futuro. (BRANDI, 2008, p. 71).

Figura 161 – Piscina e deck coberto acrescentado alguns anos após a

intervenção, na área posterior do terreno do Casarão, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 162 – Salão de eventos, localizado ao lado da piscina, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 163 – Parte do salão de eventos e garagem coberta com duas

vagas em 2006.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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CAPITULO 05 114 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 164 – Localização das edificações acrescentadas.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 115 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

B. Interior

Outro exemplo de adições, agora na parte interior do

Casarão, são as paredes que foram construídas para adaptar

o imóvel a uma residência atual. Para esta situação foram

elevadas paredes para acrescentar um banheiro à suíte de

visitas. Próximo a este banheiro, na mesma suíte, foi

adaptado um pequeno depósito com acesso pelo banheiro da

suíte master.

Este último ambiente está situado onde era o antigo corredor

do primeiro acesso principal ao imóvel, a porta principal fora

substituída por uma báscula e o final do corredor fechado.

Tais adaptações foram decorrentes da necessidade e

privacidade tanto das visitas quanto da moradora.

Estas aplicações procuraram proporcionar uma melhor

adequação para o imóvel, pois foram construídas em áreas

ociosas, que não possuíam mais utilidade, como no caso do

corredor - já que este acesso não era mais conveniente,

devido ao quarto já possuir uma porta de acesso pela varanda

frontal.

Figura 165 – Pequeno depósito, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 166 – Parede elevada no

final do antigo corredor de acesso

principal, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 167 – Banheiro da suíte

master. A porta principal

originalmente estava localizada

onde está a atual báscula, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 116 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 168 – Adições de paredes.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 117 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Além destes banheiros, a edificação foi encontrada com dois

banheiros adaptados. Um deles estava localizado no corpo

original, um pequeno ambiente – suposto lavabo - somente

para uma cuba e uma bacia sanitária. E outro banheiro no

anexo, consideravelmente grande comparado ao anterior.

Os dois ambientes estavam em péssimas condições

sanitárias, completamente sujos e com acúmulo de lixo. Neste

caso a Drª Angélica transformou o pequeno banheiro do

corpo original em um depósito, retirando os equipamentos

sanitários.

Figura 169 – Antigo pequeno banheiro no corpo original no ano de 2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

O outro banheiro foi reformado, relocando a bacia sanitária no

lugar chuveiro, e separando por uma pequena parede a cuba

e a bacia sanitária da área molhada. Todas as paredes deste

ambiente foram revestidas com cerâmicas até o nível do

chuveiro, uma ótima proposta para melhor limpeza e higiene

do banheiro.

Essas mudanças foram um ponto positivo para o imóvel, pois

o lavabo, por ser um ambiente muito pequeno, não era viável

ergonomicamente para uma residência com idosos. Já a

Figura 170 – Antigo banheiro, hoje

como depósito, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 118 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

reforma do banheiro maior proporcionou uma melhor

ambientação, aproveitando os espaços de forma útil.

Esta conduta é pertinente às disposições da Carta de Burra,

especificadas no art. 1 (1980, p. 1) que dispõe sobre a

possibilidade de intervir no bem para que seja adaptado para

atender às necessidades e exigências do imóvel ao contexto

atual. Entretanto, essas modificações podem ser facilmente

reversíveis, de acordo com sua destinação (idem, p.2).

Figura 173 – Modificações nos antigos banheiros existentes.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 171 – Banheiro maior antes da

reforma em 2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela

Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 172 – Banheiro maior

depois da reforma, 2006.

Fonte: Acervo pessoal fornecido

pela Drª Luisa Angélica Sales.

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CAPITULO 05 119 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Dando continuidade às adições no interior da edificação,

temos presente algumas colunas de concreto acrescentadas

para dar sustentabilidade às tesouras da cobertura que

estavam cedendo. Estas colunas foram postas de forma que

“abraçassem” a linha da tesoura, através de encaixes em

forma de “U” na parte superior da mesma, para evitar que não

apenas fossem apoiadas e sim, presas às colunas.

Duas dessas colunas estão localizadas na suíte de visitas.

Estas suportam uma das três tesouras do corpo original, a

qual não evidência grande deterioração, porém tais métodos

foram utilizados como modo de prevenção.

Atualmente, para aproveitar o pequeno espaço criado entre

as duas colunas e a parede, foi adaptado para um pequeno

depósito.

Figura 174 – Detalhe

da coluna de

concreto em forma

de “U”, 2010.

Fonte: Acervo

pessoal.

Figura 175 e 176 – Colunas

construídas na reforma em 2006 e

à direita como estão atualmente,

2010.

Fonte: Acervo pessoal fornecido

pela Drª Luisa Angélica Sales.

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CAPITULO 05 120 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Outro ambiente em que foram aplicadas mais três colunas de

concreto é a suíte master, o antigo grande salão. Em uma das

tesouras foram aplicadas duas colunas com o sistema de

encaixe em forma de “U”, assim como no caso da suíte de

visitas. Já na outra tesoura, foi aplicada somente uma coluna

de concreto com o mesmo sistema.

Entretanto, para maior reforço, foi necessário aplicar uma

barra de ferro na parte inferior da linha da tesoura, presa à

mesma por dois anéis de aço.

Um procedimento correto segundo a professora Viviane

Pimentel (2009/20010, p.08) em seu material didático afirma

que quando necessário, as peças de madeiras deterioradas

podem ser niveladas “aumentando sua seção com reforços de

madeira ou metálicos, fixados com cintas ou parafusos

passantes de aço inox”.

Esta intervenção é relevante na medida em que as barras de

reforço não se destacam em relação à peça de madeira. No

entanto, o mesmo não acontece com os anéis, que foram

mantidas na cor prata, sobressaindo em relação à madeira.

Neste caso seria necessário a pintura deste elemento à uma

cor semelhante a madeira.

Figura 178 – Três colunas suportando duas tesouras na suíte master

construídas em 2006.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 177 – Colunas de

concreto com adaptação de um

pequeno depósito, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 121 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Atualmente, estas colunas estão embutidas nas paredes de

alvenaria. Tal solução promoveu mais segurança às tesouras

para evitar uma possível flambagem. Este local hoje é

ambientado por uma sala íntima na suíte.

Figura 179 e 180 – Barra de ferro presa por anéis na tesoura, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 181 – Paredes de alvenaria escondendo as colunas de concreto,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 182 – Sala íntima criada pelas paredes que escondem as colunas,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 122 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Além das duas colunas que suportam a tesoura na suíte

master, foi acrescentada uma viga de concreto em diagonal

no ambiente ao lado a suíte para dar apoio à mesma tesoura.

Não foi possível utilizar coluna de concreto nesta situação,

pois a tesoura não está alinhada com a parede, podendo ficar

um volume excedente em relação à mesma. Todavia, neste

caso seria necessário demolir parte da parede para construir

uma nova estrutura, o que não era justificável para esta

intervenção.

Figura 183 – Viga em diagonal, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Tais procedimentos interferem no valor estético em relação ao

interior do edifício, neste caso poderia ter sido aplicado

técnicas mais aprimoradas, que não interferissem nos

espaços.

Entretanto, são plausíveis se forem analisados juntamente

com as Cartas Patrimoniais e a teoria de Brandi, pois

segundo estes fundamentos, em caso de adições devem-se

sempre diferenciar o novo do velho. Nesta situação foram

utilizados métodos e materiais modernos na intervenção da

edificação, como o concreto, ferro e aço.

Estes métodos utilizados também estão corretos segundo a

instância histórica de Brandi, pois é importante mostrar cada

fase em que a edificação passou ao longo dos anos desde

sua construção até os dias atuais, para isso Brandi (2004, p.

73) afirma que “refundir o velho e o novo de modo a não

distingui-los”, é “abolir ou reduzir ao mínimo o intervalo de

tempo que aparta os dois momentos.” Por isso foi necessário

a diferenciação dos materiais aplicados na intervenção dos

originais, para que mostrasse a passagem de tempo entre o

velho e o novo acrescentado.

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CAPITULO 05 123 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 184 – Adições de viga e colunas de sustentação.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 124 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Assim como em várias casas em cidades do interior, em

Cariús é comum encontrar fogões à lenha feitos de tijolos.

Atualmente, na cidade ainda é muito utilizado este tipo de

fogão entre as famílias de baixa renda.

No Casarão não foi diferente, fora encontrado um fogão à

lenha feita em tijolos maciços – os mesmos da alvenaria da

edificação – onde estava situada na original cozinha,

atualmente sendo ocupada pelo lugar da sala de estar. Na

reforma, a cozinha passou a estar localizada no anexo

mencionado anteriormente.

Devido a essas mudanças o fogão ficou desabilitado não

sendo necessário manter este elemento histórico. Em todo

caso, Brandi (2004, p.71) afirma que “a remoção deve ser

sempre justificada e (...) deve ser feita de modo a deixar

traços de si mesma e na própria obra.” Infelizmente não foi

possível manter traços de sua existência no imóvel devido à

colocação do revestimento cerâmico no piso.

Entretanto, foi importante o registro em fotografia deste

elemento feito pela Drª Angélica, pois desta maneira é

confirmada sua existência e passagem pelo imóvel mantendo

um testemunho histórico.

Figura 185 – Antigo fogão à lenha

encontrado em 2001 no interior da

edificação.

Fonte: Acervo pessoal fornecido

pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 186 – Antiga cozinha e

atualmente como sala de estar,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 125 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Na maioria dos casos em que a edificação sofre uma

intervenção, é comum a reconstrução de pequenas partes da

alvenaria ou dos seus elementos.

Neste caso foi necessário o preenchimento do reboco em

algumas paredes no interior do Casarão, devido à presença

de fissuras e tijolos aparentes. Este procedimento foi utilizado

não somente no interior, mas também nas fachadas externas

da edificação.

Um ato devidamente correto, pois proporciona a reconstrução

de pequenas partes do imóvel e não em grandes alterações

que poderiam constituir em um falso restabelecimento da

obra. Este procedimento é comprovado pelo art. 18º da Carta

de Burra (1980, p. 04) onde afirma que “a reconstrução deve

se limitar à colocação de elementos destinados a completar

uma entidade desfalcada e não deve significar da maior parte

da substância de um bem”.

Em relação ao piso do imóvel, sabe-se que os pisos da suíte

master e de visitas eram originalmente em frisos de madeira

aroeira sobre barrotes25.

Os demais cômodos nãos apresentavam os revestimentos

originais. No entanto os antigos registros indicam a existência

de antigo barroteamento, demonstrando que provavelmente

em outros cômodos tinham o mesmo acabamento.

___________

25 Barrotes - O método de aplicação é chamado de barroteamento, que

são barrotes (vigas de madeiras) – apoiados em estruturas – que

suportam o piso.

Figura 187 – Tijolo da alvenaria aparente,

2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª

Luisa Angélica Sales.

Figura 188 – Piso de madeira aroeira

encontrado na suíte master, antigo

grande salão em 2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela

Drª Luisa Angélica Sales.

Page 127: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 126 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Devido ao precário estado de conservação do piso de

madeira, o mesmo foi retirado e, além das suítes, todo o

interior do Casarão foi revestido com piso cerâmico e

acrescentado soleiras em quase todos os vãos e portas.

Neste caso, talvez fosse possível restaurar o revestimento de

madeira, uma vez que os barrotes ainda estavam em bom

estado. Porém à falta de recursos e profissionais

especializados na região, não permitiu esta intervenção.

Entretanto, a justificativa teórica para este caso é equivalente

ao fogão à lenha. Antes da colocação do piso cerâmico foi

possível registrar os traços e a existência dos barrotes. Tais

elementos não foram retirados dos seus locais de origem, sua

existência ainda permanece abaixo do revestimento cerâmico.

Figura 190 – Detalhe dos barrotes

no piso do corredor no ano de

2003.

Fonte: Acervo pessoal fornecido

pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 189 – Detalhe dos barrotes na

suíte master, 2003.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela

Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 191 – Piso atualmente

revestido com cerâmica e portas

com soleira, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 128: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 127 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

C. Área Externa

A intervenção no imóvel começou pelo seu entorno. Devido

aos descuidos dos antigos proprietários ao longo dos anos,

tudo o que havia no terreno onde está situado o Casarão era

formigueiros, mato, lixo e uma enorme árvore frondosa

localizada na área frontal entre o Casarão e o imóvel vizinho,

a atual Câmara Municipal.

As raízes desta árvore estavam prejudicando os alicerces dos

dois imóveis, em conseqüência foi necessária a derrubada da

mesma. Segundo a Drª Angélica, para isso “foi solicitada e

concedida autorização do Ibama para derrubar a árvore. O

corpo de bombeiros de Iguatú [cidade vizinha a Cariús]

efetuou a operação de derrubada, e a Prefeitura Municipal de

Cariús transportou a madeira cortada.”

Figura 193 – Parte do muro que divide o Casarão da Câmara Municipal

parcialmente destruído pela árvore, 2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Hoje, no local onde estava situada a árvore frondosa está

presente um jardim florido com bouganvilles, pequenos

arbustos e um coqueiro.

Figura 192 – Árvore frondosa

na área frontal do terreno em

2001.

Fonte: Acervo pessoal

fornecido pela Drª Luisa

Angélica Sales.

Page 129: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 128 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 194 – Jardim atualmente, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

A retirada desta árvore foi um ato correto, e pode ser

justificada através do artigo 8 da Carta de Burra (1980, p. 02-

03) que declara “a introdução de elementos estranhos ao

meio circundante, que prejudique a apreciação ou fruição do

bem, deve ser proibida”. Ou seja, este elemento além de

prejudicar estruturalmente o imóvel, estava deturpando a

contemplação do mesmo.

Além da criação do jardim, foi elevado um pequeno muro e

acrescentados portões na área frontal do imóvel para

proteção e evitar intrusos. À frente do jardim está localizado o

muro feito de tijolos furados com detalhes em madeira e um

portão de ferro.

Figura 195 e 196 – Muro frontal do imóvel durante sua construção em

2001 e depois de pronto, 2003.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Page 130: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 129 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Para proteger a passagem no afastamento lateral da

edificação, foi proposto um portão vazado de duas folhas para

passagem de veículos para a garagem do terreno.

Figura 197 – Portão de ferro para passagem de veículos, [200-].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Devido à passagem de carros por este afastamento, foi

necessário remover uma pequena escada por onde era feito o

acesso principal ao imóvel original. Todavia não foi possível

obter registros documentados deste elemento.

Figura 198 – Fachada lateral por onde estava localizada a antiga escada

de acesso principal. Atualmente para acesso de veículos, 2006.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Assim como o muro, os portões e a retirada da escada lateral

são compreendidos como “obras mínimas de (...) adaptação

que atendam às necessidades e exigências práticas” (CARTA

DE BURRA, 1980, p. 1). Enquadrando o imóvel a uma

residência atual para veículos e com o mínimo de proteção.

Ainda por motivos de segurança, foram criados guarda-corpos

em volta de toda a edificação para a proteção dos idosos e

Page 131: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 130 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

crianças que circulam pelas varandas e residem no Casarão e

na residência acrescentada a este imóvel.

Devido à adição deste elemento, foi necessário remover outra

escada que estava situada na fachada frontal da edificação.

Por estar situada neste local, também trazia outra

conseqüência, a obstrução da passagem de pedestres na

calçada.

Figura 199 – Guarda-corpo parcialmente elevado, com a escada prestes a

ser retirada em 2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Esta escada na fachada principal foi inserida anos após a

construção deste imóvel, não sendo original. Todavia este

elemento é um marco, um testemunho histórico na edificação.

Entretanto, para justificar sua remoção foi necessário

reivindicar a instância estética segundo a teoria de Brandi

(2004, p. 83-84), onde afirma que “a instância que nasce da

artiscidade da obra de arte, o acréscimo reclama a remoção”

para que seja retomando a forma original do imóvel. Neste

caso, é retirado o corpo estranho da obra.

Além desta escada, ocorre a presença de uma terceira,

localizada entre o corpo original e o anexo acrescentado

alguns anos após a construção da edificação. Porém este

elemento foi mantido, e acima do mesmo fora construída uma

nova escada adaptada para o atual imóvel, com adição de

guarda-corpos visando sempre à segurança do ser humano.

Figura 200 – Drª Angélica e sua família na antiga escada localizada entre

o copo original e o anexo acrescentado, 2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

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CAPITULO 05 131 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 201 – Escada atual com adição de guarda-copos. Acesso principal

a residência, 2001.

Fonte: Acervo pessoal.

Para manter registros de sua existência e “traços de si

mesma e na própria obra” (BRANDI, 2004, p. 71) a Drª

Angélica evidenciou no piso o local onde a antiga escada

ainda esta situada.

Segundo a Carta de Burra (1980, p. 02), os artigos 1 e 7 da

mesma, afirmam que é permitido pequenas modificações

destinadas a compatibilização para o bom usufruto do imóvel,

contanto “que sejam substancialmente reversíveis ou que

requeiram um impacto mínimo”. Sendo plausível o intuito de

manter o elemento intacto, podendo voltar ao seu primeiro

estado a qualquer momento.

Em relação à área posterior do terreno do Casarão, ainda

encontra-se o antigo fogão a lenha com uma pequena

chaminé inclusa. Foi essencialmente importante manter este

corpo, por possuir um valor histórico ligado ao primeiro

destino deste imóvel ainda como Hospital, pois este elemento

era utilizado pelas enfermeiras que escaldavam e

esterilizavam os lençóis do hospital.

Artigo 7º - O monumento é inseparável da história de que é testemunho e do meio em que se situa. Por isso, o deslocamento de

Figura 202 – Marcação no piso para

registro da antiga escada, 2001.

Fonte: Acervo pessoal.

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CAPITULO 05 132 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

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todo o monumento ou de parte dele não pode ser tolerado (...). (CARTA DE VENEZA, 1964, p. 02).

Outro elemento presente na área posterior do imóvel foi a

caixa d’água também construída na década de 1920. Quando

encontrada, estava desativada e os ambientes molhados do

imóvel não haviam instalações hidráulicas.

Então foi necessário adaptá-la ao Casarão e aos novos

ambientes como a copa, a lavanderia, os novos banheiros, a

piscina, deck, salão de eventos e a pequena residência

acrescentada. Para isso a nova moradora restaurou a caixa

d’água, consertando as rachaduras nela presente, e

acrescentou meio metro na altura para aumentar a pressão

da água.

Juntamente com a instalação hidráulica, também foi feita toda

a instalação elétrica do imóvel, e das edificações

acrescentadas em seu terreno, já citadas anteriormente. Figura 203 e 204 – Original fogão a

lenha restaurado, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 205 – Detalhe da chaminé

do fogão a lenha, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 206 – Caixa d’água durante

sua restauração. Nota-se o aumento

de meio metro ainda visível, [ca.

2001/2002].

Fonte: Acervo pessoal fornecido pela

Drª Luisa Angélica Sales.

Page 134: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 133 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Segundo o artigo 20 e 21 da Carta de Burra (1980, p. 04), as

obras de adaptação, como no caso da caixa d’água, serão

consideradas de modo que seja o “único meio de conservar o

bem” limitando-se ao “mínimo indispensável à destinação do

bem a uma utilização”.

Nesta situação, a restauração foi de suma importância para a

reutilização do bem tratado. Caso contrário o elemento seria

descartado ou demolido para atingir as exigências atuais do

imóvel.

Figura 208 – Localização da caixa d’água e fogão a lenha. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 207 – Caixa d’água depois

da restauração, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Page 135: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 134 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

As escavações no terreno de um imóvel prestes a sofrer uma

intervenção são essenciais para busca de informações e

histórias sobre o passado do local.

Assim como no artigo 15 da Carta de Veneza (1964, p. 03), a

Carta de Burra (1980, p.04) também beneficia, porém

especifica melhor as escavações:

Artigo 24º - Os estudos que implicam qualquer remoção de elementos existentes ou escavações arqueológicas só devem ser efetivados quando forem necessários para a obtenção de dados indispensáveis à tomada de decisões relativas a conservação (...).

Com este intuito a Drª Angélica, fez escavações ao entorno

da edificação em busca de dados informativos sobre o

Casarão e artefatos históricos. Em conseqüência foi achada

uma espécie de algema arcaica. Entretanto, não havia

revestimento de pisos, nem vestígios de construções ou

dados que pudessem interferir na intervenção do imóvel.

Figura 209 e 210 – Elemento encontrado nas escavações.

Fonte: Acervo pessoal.

D. Cobertura

Segundo Drª Angélica, a restauração da cobertura teve início

com a retirada das telhas, caibros e ripas. Estes dois últimos

elementos foram substituídos, pois partes dos mesmos não

podiam ser reaproveitados para o telhado, devido ao

envelhecimento das telhas pela exposição do sol e à chuva

sem manutenção preventiva.

O madeiramento da cobertura também apresentava peças

apodrecidas, além de outras atacadas por insetos xilófagos

(cupins), o que pode ter causado a instabilidade da cobertura,

deslocamento de telhas e problemas de escoamento.

Figura 211 – Fachada posterior,

quase sem resquícios de telhas na

cobertura. Condições em que a

edificação foi encontrada em 2001.

Fonte: Acervo pessoal fornecido

pela Drª Luisa Angélica Sales.

Page 136: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 135 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

A melhor solução encontrada pela moradora para

recompensar parte desta falta, foi comprar 8 mil telhas

coloniais também feitas de modo artesanal – assim como as

originais do Casarão – para repor as que não foram

aproveitadas.

Ainda assim, foi necessária uma maior quantidade de telhas.

Neste caso optou-se por telhas coloniais da atualidade para

complementar.

Mesmo desconhecendo sobre o assunto, a Drª Angélica

adotou técnicas corretas em relação à colocação e limpeza

das telhas. Para distinguir as antigas das novas, foram

separadas as telhas de mesma origem, utilizando “telha nova

como bica (canal) e as telhas originais como capa”.

(PIMENTEL, 2009/2010, P. 04).

Em relação à limpeza, todas as 18 mil telhas antigas foram

lavadas com água, sabão em pó e palha de aço, não

utilizando produtos químicos no procedimento que

desgastassem as peças.

Todos os métodos adotados atendem às orientações técnicas

que tratam sobre o assunto, evitando o uso de produtos que

poderiam danifica as peças originais.

Da mesma maneira, o procedimento relativo à utilização das

telhas antigas nas faces visíveis da cobertura então em

acordo com as determinações de Brandi, quando este orienta

que a unidade potencial da obra de arte deve ser o objetivo

de toda intervenção.

Figura 212 – Outro

perfil da fachada

posterior com

somente algumas

telhas restantes, 2001.

Fonte: Acervo pessoal

fornecido pela Drª

Luisa Angélica Sales.

Page 137: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 136 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 213 – Telhas coloniais antigas postas como capa na cobertura,

2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Figura 214 – Detalhe das novas telhas postas como canal, para substituir

as faltantes, 2010.

Fonte: Acervo pessoal

Figura 215 – Detalhe das novas telhas, 2010.

Fonte: Acervo pessoal

Além das telhas coloniais, a moradora optou por colocar

telhas translúcidas em dois pontos da cobertura, direcionados

para o escritório e a sala íntima situados na suíte master, pois

devido ao alto pé direito, o interior da edificação tende a ficar

escuro, o que leva a ser um ponto positivo. Portanto, além de

absorver iluminação natural de dia, evita a utilizar iluminação

artificial durante este período.

Estas telhas translúcidas não interferem na estética no

exterior do imóvel, pois as mesmas não sãos perceptíveis ao

ponto de vista do observador.

Page 138: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 137 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 216 – Iluminação natural durante o dia na suíte master, 2010.

Fonte: Acervo pessoal.

Em alguns quartos, como na suíte master e no pequeno

quarto de visitas, foram encontrados forros de madeira em

junta seca no teto, nivelados com a parte superior das

paredes internas. Ao encontro destes forros com as paredes,

também foram encontradas sancas de madeiras, na suíte

master trabalhada com ornamentos, já do quarto de visitas

eram simples.

Todavia, não se sabe ao certo se os demais ambientes

também presenciavam forros de madeiras.

Figura 217 –

Detalhes do

antigo forro na

atual suíte

master em

2001.

Fonte: Acervo

pessoal

fornecido pela

Drª Luisa

Angélica Sales.

Figura 218 –

Detalhes do

antigo forro no

atual quarto de

visitas, 2001.

Fonte: Acervo

pessoal

fornecido pela

Drª Luisa

Angélica Sales.

Page 139: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 138 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Contudo, segundo a Drª Angélica “os forros foram retirados

em função do cupim e também para que eu possa observar

melhor qualquer irregularidade nas telhas e tesouras”.

Neste caso, requerer que o forro fosse mantido não era

viável, pois desta maneira obstruiria a visibilidade interna da

estrutura da cobertura, evitando obter diagnósticos sobre as

tesouras que estão sofrendo flambagem.

Para evitar que toda a madeira retirada fosse descartada,

foram reaproveitadas peças dos forros, caibros e ripas que

estivessem em bom estado para confeccionar os armários da

copa e cozinha.

Figura 220 – Armário da copa feito com o reaproveitamento das madeiras da cobertura, [200-]. Fonte: Acervo pessoal fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 219 – Estrutura de

madeira o qual o forro era

preso na atual suíte

master, e acima a

cobertura da edificação

com as telhas sendo

retiradas em 2001.

Fonte: Acervo pessoal

fornecido pela Drª Luisa

Angélica Sales.

Page 140: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 139 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

E. Esquadrias

Certamente as esquadrias também são elementos que fazem

parte da história do patrimônio e devem ser revitalizados

dando uma nova maneira de visualizá-las. Neste caso, não

podem ser desfeitas.

No entanto foram restauradas a partir da limpeza de todas as

janelas e portas do imóvel com a remoção de teias de

aranhas, ninhos de cupins, para posteriormente serem

lavadas. Após a higienização das esquadrias, foi aplicada

tinta a óleo azul - mesma cor de quando foram encontradas –

devido à boa aderência por oferecer impermeabilização.

Figura 221 e 222 – Porta antes da limpeza com ninho de cupins (ano de 2001) e depois restaurada e pintada com tinta a óleo em 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 223 e 224 – Janela do banheiro social com teias de aranha (em 2001) e após a limpeza pintada com tinta a óleo, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

A tinta a óleo não possuir poder de penetração, neste caso,

não irá alterar as características químicas do material. Sendo

assim, o valor estético referente à cor original das esquadrias

é mantido com a pintura azul das mesmas.

Por possuírem uma significação cultural, o modo correto

utilizado pela atual moradora, em tratar todos os elementos

da mesma maneira, é confirmado pelo art. 5º da Carta de

Burra (1980, p. 02), onde “nenhum deles deve ser revestido

de uma importância injustificada em detrimento dos demais”.

Eventualmente a manutenção feita nas substâncias das

esquadrias teve o objetivo de preservar e “desacelerar do

processo pelo qual elas se degradam” (idem, p. 01).

Quando o anexo foi construído, todas as esquadrias

adicionadas a este corpo foram copiadas iguais às originais.

Page 141: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 140 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Entretanto os elementos de cada época em que a edificação

passou devem ser respeitados, por isso, manter as portas e

janelas deste corpo é historicamente convincente.

Tanto Brandi (2004, p.74), quanto as Cartas de Burra e

Veneza passam verossimilhança a este conceito, pois

consideram um “testemunho autêntico do presente de um

fazer humano” (BRANDI, 2004, p. 74) na época em que as

esquadrias foram construídas. No entanto essas contribuições

são validas “visto que a unidade de estilo não é a finalidade a

alcançar no curso” da restauração desta obra (CARTA DE

VENEZA, 1964, p. 03), e sim a historicidade da mesma.

Figura 225 e 226 – Semelhanças das janelas, à esquerda Janelas da copa situada no anexo, e à direita imagem da janela do corpo original, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

As janelas do imóvel e seus peitoris eram recuados em

relação à parede interna. Estes recuos foram mantidos

durante a intervenção, porém alguns anos depois, estes

recuos foram preenchidos com alvenaria somente no peitoril,

pois foram classificados como espaços ociosos em quase

todos os ambientes por não possuírem utilidade, além da

necessidade de obter um apoio do peitoril mais largo.

Figura 227 e 228 – Recuo da janela antes da intervenção em 2001 e o mesmo mantido após a mesma em 2006. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

As adições são aceitas por Brandi (2004, p. 65), na medida

em que tais atos irão possuir um valor e testemunho histórico

no futuro, não se limitando somente aos relatos do passado

Page 142: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 141 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

para o presente. A Carta de Burra também admite adições

como pequenas obras para adaptações do imóvel referente

às necessidades do mesmo.

Este método é plausível, em vista que a Drª Angélica manteve

os recuos nas janelas da copa, pois dessa maneira

evidenciou os aspectos originais de como eram as demais

esquadrias.

.

A fachada principal do corpo original era composta somente

por janelas. Contudo, ao longo dos anos, devido ao uso do

imóvel foram feitas alterações.

Antes da reforma, o imóvel era uma moradia geminada, e

para ter acesso frontal a uma das residências, uma janela

sofreu adaptada para se tornar em uma porta, sendo retirado

o peitoril de alvenaria e trocado por uma pequena porta de

madeira de duas folhas.

Figura 229 – Preenchimento do peitoril das janelas, 2010. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 230 – Recuo do peitoril mantido somente nas janelas da copa, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa

Angélica Sales.

Figura 231 – Fachada frontal ainda com todas as janelas originais, [19--]. Fonte: Acervo fornecido pela

Drª Luisa Angélica Sales.

Figura 232 – Alterações nas esquadrias da fachada principal, 2001. Fonte: Acervo fornecido pela

Drª Luisa Angélica Sales.

Page 143: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 142 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 233 e 234 – Janela da fachada frontal do corpo original adaptada para se transformar em uma porta, 2001. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Para retornar a sua antiga forma, a instância estética “reclama

a remoção” dos acréscimos para “reencontrar a unidade

originária e não apenas aquela potencial, se as adições

fossem, onde possível, removidas” (BRANDI, 2004, p.83).

Nesta situação é correto admitir o retorno de sua antiga

forma, a fim de preservar seu significado e a composição

visual dos elementos, onde o elemento a ser retomada a sua

forma original possui maior interesse que o elemento

excluído.

Esta opinião é validada pela Carta de Veneza (1964, p. 03) no

art. 11º, onde o mesmo afirma que “a exibição de uma etapa

subjacente só se justifica [...] quando o que se elimina é de

pouco interesse e o material que é revelado é de grande valor

histórico, arqueológico, ou estético”.

Já a janela ao lado desta, localizada no grande salão, foi

substituída por uma porta semelhante as demais da

edificação. Todavia durante a restauração do imóvel, esta

porta foi permutada por uma nova – somente a porta foi

trocada, a bandeira fixa da porta foi mantida – devido ao

apodrecimento da madeira causado por xilófagos (cupins).

Figura 235 – Janela retomada ao seu estado original, 2010. Fonte: Acervo pessoal.

Page 144: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 143 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Figura 236 e 237 – À esquerda a antiga porta acrescentada em alguma época do imóvel (2001), à direita a nova porta substituída pela antiga, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Segundo Brandi (2004, p. 47), a integração de novos

elementos é permitida, com a condição de “ser sempre e

facilmente reconhecível”. No que diz respeito a esta

incorporação de novos corpos a obra, o autor alega que não

deveram ser visíveis a distancia, “mas reconhecíveis de

imediato [...] quando se chega a uma visão mais aproximada”.

Por isso, o novo elemento foi empregado da maneira correta.

Pois está situado no conjunto de forma harmoniosa em

relação ao todo, utilizando formas diferenciais, novas

técnicas, não sendo uma cópia das originais.

A porta por onde é feito o acesso principal atualmente

também sofreu substituição, a mesma não pode ser

restaurada pelo mesmo motivo que a esquadria anterior,

devido a falta de conservação e tratamento da madeira, foi

deteriorada pelos cupins.

A justificativa para este caso é semelhante ao conceito de

Brandi sobre a porta do antigo grande salão na fachada

principal. Juntamente com a Carta de Veneza (1964, p. 03), o

artigo 12º diz respeito aos elementos fadados a “substituir as

partes faltantes”. Estes “devem integrar-se harmoniosamente

ao conjunto, distinguindo-se, todavia, das partes originais a

fim de que a restauração não falsifique o documento de arte e

de história”.

Figura 238 – Uma das antigas portas de acesso lateral, anos antes da intervenção no imóvel na década de 1970. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Page 145: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 144 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

No que consiste a troca da porta, é coerente a substituição do

mesmo. Tendo em vista que o novo elemento não se destaca

mais em relação ao entorno onde está situado, mantendo-se

em conformidade com o conjunto.

Figura 239 – À esquerda a porta original de acesso lateral (vista pelo interior do imóvel, 2001), e à direita a atual porta que foi substituída pela antiga (vista pelo exterior), 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

Além destas portas, havia outra situada no anexo, ao lado da

porta citada anteriormente. A remoção deste elemento foi

demandada devido à grande quantidade desnecessária de

acessos, e por questão de segurança. Entretanto, a marcação

do vão na edificação foi mantida, sendo preenchido somente

o espaço onde a porta estava situada.

Figura 240 e 241 – À esquerda a antiga porta do anexo [197-], à direita o vão interno deixado ao retirar o elemento, 2006. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales.

O mesmo caso acontece com as janelas da suíte de visitas.

Este ambiente possui quatro janelas, entretanto como é um

local o qual não possui um uso constante, foram removidas

duas janelas. Suas extrações não foram conseqüente

somente para a devida a segurança, mas sim do

apodrecimento das madeiras também causado por xilófagos

Page 146: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 145 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

(cupins), como não foi possível aproveitá-las, foram

descartadas.

Figura 242 – Vão das janelas removidas na suíte de visitas, 2010. Fonte: Acervo pessoal.

Outra situação de remoção da esquadria original acontece no

antigo lavabo. Por ser atualmente um depósito com estantes,

não teria como abrir a janela de suas folhas, então em vez de

retirar a peça e fechar o espaço do elemento faltante com

alvenaria, foi proposta a substituição da janela por uma

báscula fixa.

O preenchimento de alvenaria seria somente no vazio da

diferença entra as alturas da esquadria, mantendo o recuo da

báscula em relação à parede interna. Esta mudança foi uma

boa opção para iluminação e ventilação do ambiente.

Figura 243 e 244 – À esquerda a janela original do antigo lavabo (2001), e à direita a atual báscula fixa substituída pela antiga janela, 2010. Fonte: Acervo fornecido pela Drª Luisa Angélica Sales

Ou seja, nestes casos as mudanças foram aplicadas pela

necessidade de adaptar o imóvel às condições atuais

propostas. Este ato é pertinente a Carta de Burra (1964, p.

01), no art. 1º, em que diz respeito à liberação de pequenas

obras para enquadrar o imóvel a sua atual destinação.

O que é plausível, pois ao retirar o elemento do corpo ao qual

pertence, foi deixado sinais de sua existência na obra,

tornando as afirmativas de Brandi (2004, p. 71) coerentes

com o enredo. Onde o mesmo pronuncia que a remoção deve

ser questionada, e se a remoção ainda perdurar, devem ser

deixados “traços de si mesma e na própria obra”.

Mas de fato, os elementos estão destinados “a desaparecer e

o próprio monumento, quase reduzido a um resíduo da

Page 147: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 146 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

matéria que foi composto” (BRANDI, 2004, p. 64). Isto é, os

elementos que compõe a obra de arte estão fadados a

perecer, neste caso, pode ocorrer de serem substituídos,

danificados, retirados, entre outros. Em conseqüência o

monumento poderá estar destinado à degradação (caso não

seja restaurado).

A excessiva quantidade de esquadrias no imóvel é uma

questão constante. Relevante a situação, foi proposto em

algumas janelas o fechamento das mesmas somente pelo

interior da edificação com alvenaria e entulhos, preservando-

os no exterior. Este método é adequado na situação em que

foi proposto, como no caso dos ambientes ociosos, ou seja,

que não possuem uma incessante circulação ou estagnação

de pessoas.

Manter os elementos por fora foi um ato pertinente e pode ser

justificado de acordo com a Carta de Burra (1980, p. 02) no

art. 3º, onde evidência que o “respeito à substância existente

não deve deturpar o testemunho nela presente”. Neste caso

as modificações não alteraram seu significado e mantiveram o

valor estético exterior do monumento, não alterando a

disposição e mantendo a integridade visual do conjunto.

Figura 245 – Janela da sala íntima mantida no exterior do imóvel, 2010. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 246 – Janela da sala íntima fechada por dentro, 2010. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 248 – Duas janelas do quarto de visitas fechadas por dentro. Fonte: Acervo pessoal.

Figura 247 – Duas janelas do quarto de visitas mantidas no exterior do imóvel, 2010. Fonte: Acervo pessoal.

Page 148: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CAPITULO 05 147 ANÁLISE DA INTERVENÇÃO NO EDIFÍCIO

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Em suma, a intervenção feita pela atual moradora, Drª Luisa

Angélica Sales, foi em grande parte compatível com as

fundamentações teóricas das cartas patrimoniais e do teórico

Cesare Brandi.

O ato de reciclar uma obra do passado e aplicá-la aos dias

atuais é um trabalho árduo, e pode sofrer algumas

interferências quando for revitalizada, mas demonstra que

nada é imutável e que até as edificações sofrem constantes

de transformações.

A revitalização do Casarão demonstra que qualquer pessoa

com força de vontade, disposição e com a devida orientação,

pode manter um patrimônio conservado. Entretanto, devemos

compreender o passado da obra de arte, não apenas

conhecendo a história, mas também saber como incorporá-la

no presente, com visão no futuro.

Page 149: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

148

666

CCCOOONNNCCCLLLUUUSSSÃÃÃOOO

Page 150: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

CONCLUSÃO 149

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

Para dar inicio ao trabalho final de graduação foi preciso, de

forma sucinta, identificar o assunto principal que foi tratado,

ou seja, procurar o histórico e acontecimentos que deram

origem ao objeto de estudo, o Casarão.

Após traçar esta linha de raciocínio, o assunto foi

desenvolvido ao longo do projeto, de forma detalhada e

objetiva. Porém a abordagem do assunto a ser trabalhado só

foi possível através da busca dos melhores métodos de

pesquisa.

Neste caso, as informações nem sempre eram encontradas

através de referências bibliografias , arquivos ou documentos.

A falta e o descuido com tais documentos também influenciou

a necessidade de buscar dados com entrevistas.

Em relação às entrevistas, o assunto “DNOCS” era muito

delicado, principalmente para os moradores das residências

construídas pelo departamento nas cidades onde foram feitas

as pesquisas de campo, o que dificultou em parte o

recolhimento de dados. Pois o DNOCS tomou a decisão de

vender os imóveis, uma vez que os mesmo foram

abandonados pelo órgão.

Devidos a essas dificuldades e barreiras ao longo dos

estudos, algumas lacunas foram criadas no enredo do

trabalho, não sendo possível preenche-las, como no caso da

trajetória histórica do Casarão. A falta de organização dos

documentos da Câmara Municipal de Cariús impossibilitou

obter a data exata de quando o Casarão foi sede da câmara.

O mesmo acontece com a Escola Adahil Barreto – também

funcionou no Casarão – a ausência de arquivos com os dados

históricos do colégio não permitiu a data de quando o mesmo

mudou de sede.

Já as fundamentações teóricas e a análise das condições

físicas da antiga edificação tiveram um bom fluxo devido ao

contato direto com a atual proprietária que efetuou a

restauração no imóvel, o que facilitou os argumentos

produzidos através das investigações do levantamento de

informações e fatos obtidos.

A seca, o sertão do Ceará e as construções históricas das

cidades do interior deste estado são assuntos interessantes,

mas pouco desfrutados, inclusive pelos habitantes locais –

com exceção de alguns, como no caso da Drª Angélica. A

questão cultural é abordada nestas cidades, porém somente

através de festas para união dos povos. Filmes culturais são

apresentados em praças, mas o desinteresse é grande entre

os moradores locais, principalmente os mais jovens.

Os patrimônios históricos também estão sendo deixados de

lado. A falta de proveito desses bens e a carência de

profissionais especializados em restauração acarretam no

descuido, abandono e descaracterização dos mesmos.

Page 151: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

150

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Page 152: Da Seca a Cariús CE - Trajetória histórica e estudo das construções

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 151

TRABALHO FINAL DE GRADUAÇÃO

DA SECA A CARIÚS/CE: TRAJETÓRIA HISTÓRICA E ESTUDO DAS CONSTRUÇÕES

1. A CASA DA TORRE DE GARCIA D’AVILA.

Monumento. 1989-2008. Disponível em:

<www.casadatorre.org.br/monumento.htm>. Acesso

em: 4 out. 2010.

2. AMIGOS DO BEM. Cronologia da Seca. São Paulo,

[20--]. Disponível em:

<http://www.amigosdobem.org/texto/index.php?texto_id

=253&menu_id=>. Acesso em: 7 jul. 2010.

3. ARAÚJO, Denise. A Importância da definição de

termos na sustentabilidade da “teoria” da

restauração de Cesare Brandi. Campinas (SP), 2006.

Disponível em:

<http://venus.ifch.unicamp.br/pos/hs/anais/2006/posgra

d/(21).pdf>. Acesso em: 3 set. 2010.

4. BRANDI, Cesare. Teoria da Restauração. São Paulo:

Ateliê Editorial, 2004. Tradução: Beatriz Mugayar Kühl.

Apresentação: Giovanni Carbonara.

5. CARTA DE ATENAS. Escritório Internacional dos

Museus Sociedade das Nações. Atenas, out. 1931.

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